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Page 1: bibliográfica. PUBVET , Londrina, V. 4, N. 37, Ed. 142 ... · da raça Nelore Mocho para o Brasil, bem como a sua história, utilização e números de animais registrados, características

GUIMARÃES, P.H.R. e FARIA, C.U. Caracterização da raça Nelore Mocho no Brasil: Revisão bibliográfica. PUBVET, Londrina, V. 4, N. 37, Ed. 142, Art. 956, 2010.

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Caracterização da raça Nelore Mocho no Brasil: Revisão bibliográfica

Paulo Henrique Rezende Guimarães¹ e Carina Ubirajara de Faria²

¹ Universidade Federal de Uberlândia; Faculdade de Medicina Veterinária;

Graduando do Curso de Medicina Veterinária; Brasil.

² Universidade Federal de Uberlândia; Faculdade de Medicina Veterinária;

Professora Adjunto II; Brasil.

Resumo

A maior parte da carne bovina brasileira é produzida por raças zebuínas.

Dessas raças, a Nelore e Nelore Mocho corresponde a quase 80% do rebanho

zebuíno. As vantagens proporcionadas pelo caráter mocho e as boas

características produtivas, levou a um grande interesse de alguns pecuaristas

pela raça Nelore Mocho. O primeiro animal Nelore Mocho nasceu em 1957, em

Araçatuba, filhos de bovinos da raça Nelore Padrão. Atualmente, a raça Nelore

Mocho possui a segunda posição em número de registros pela Associação

Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Ao avaliar as estimativas de

parâmetros genéticos para características produtivas do Nelore Mocho

observa-se grande variabilidade genética, o que é um bom indicador de

resposta à seleção. No sumário de touros da Associação Nacional de Criadores

e Pesquisadores (ANCP), publicado em 2010, verificou-se o aumento de touros

Nelore Mocho líderes para características de interesse econômico. De acordo

com esta revisão bibliográfica verificou-se que a raça Nelore Mocho é de

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grande importância para a produção de carne bovina e para o agronegócio no

Brasil.

Palavras-chave: zebuínos, pecuária, bovinos de corte

Characterization of Nelore Mocho in Brazil: Bibliographic review

Abstract

Most of the Brazilian beef is produced by zebu breeds. These races, Nellore and

Nellore Mocho is nearly 80% of the Zebu herd. The advantage of a stool

character and good production characteristics, led to great interest by some

ranchers Nelore Mocho. The first animal was born in 1957 in Araçatuba.

Currently, the Nelore Mocho has the second position in number of records

ABCZ. When evaluating the estimates of genetic parameters of Nelore Mocho

observed a high genetic variability, being a good indicator of response to

selection. In the summary of the 2010 race ANCP obtained good results.

Finally, the Nelore Mocho is of great importance to Brazilian beef production

and agribusiness.

Keywords: zebu, cattle, beef cattle

INTRODUÇÃO

O agronegócio brasileiro apresenta hoje forte competitividade

internacional em vários de seus segmentos. Atualmente, a pecuária de corte é

o quarto setor mais importante do agronegócio brasileiro, em relação às

exportações, perdendo somente para grãos, cana e produtos florestais

(GONÇALVES e VICENTE, 2010). A maior parte da carne bovina brasileira é

produzida no bioma Cerrado, onde a pecuária de corte é constituída por raças

zebuínas bem adaptadas às condições de criação nos trópicos.

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A grande expressão das raças zebuínas na pecuária nacional deve-se a

notória resistência a parasitas internos, externos e temperaturas elevadas,

baixa exigência na alimentação e a boa fertilidade que esses animais

apresentam (MACEDO, 2006). Das raças zebuínas, a Nelore e Nelore Mocho

corresponde a quase 80% do rebanho zebuíno no Brasil e representa o maior

patrimônio genético do mundo ocidental (ABCZ, 2007). Contudo, a ausência de

cornos na raça Nelore Mocho proporciona uma maior segurança no manejo,

facilita o transporte, a conteção, o abate e o processamento industrial da

carcaça no frigorífico desses animais. Nisto, existe atualmente um crescente

interesse por parte dos pecuaristas pela raça, com consequente aumento do

rebanho Nelore Mocho no Brasil.

Assim, este artigo de revisão tem por objetivo identificar a importância

da raça Nelore Mocho para o Brasil, bem como a sua história, utilização e

números de animais registrados, características produtivas, dados de sumários

de touros e estimativas de parâmetros genéticos para características de

interesse econômico.

DESENVOLVIMENTO

História da raça Nelore Mocho

Em decorrência da origem e distribuição, os bovinos podem ser

divididos nas categorias de taurinos e zebuínos. Os taurinos são formados por

bovinos de origem européia e os zebuínos são constituídos por animais

conhecidos como gado de “cupim” originado dos continentes asiático e africano

(SANTIAGO, 1960). Acredita-se que a entrada de bovinos em território

brasileiro se deu junto ao período do descobrimento e da colonização

(OLIVEIRA et al., 2002), porém, nas primeiras décadas, foram explorados

apenas animais taurinos vindos de países de clima temperado da Europa

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(LEDIC, 2000). O primeiro rebanho zebuíno do Brasil, possivelmente, foi o da

Fazenda Santa Cruz no Estado do Rio de Janeiro, de posse do Imperador D.

Pedro I. Contudo, somente no ano de 1830, por iniciativas de pecuaristas

baianos e fluminenses, foram iniciadas grandes importações de zebuínos da

Índia que perduraram até o ano de 1962, onde por motivos de segurança

sanitária, o governo brasileiro proibiu as importações (OLIVEIRA, et al., 2002).

Apesar do grande contingente de bovinos vindos da Índia para o Brasil,

não são encontradas referências na literatura sobre zebuínos geneticamente

mochos (SANTIAGO, 1987). Dentre as raças taurinas naturalmente mochas,

acredita-se que tenham surgido da seleção e cruzamentos de gado mocho

nativo originário da Escandinávia de ascendência remota (ROSA, et al. 1992).

Quanto à origem genética do caráter mocho, geneticistas não chegaram a um

acordo, mas a provável explicação seja a ocorrência de uma mutação genética.

É sabido também, que o caráter mocho é dominante sobre a presença de

chifres e que é transmitido hereditariamente às progênies. Confirmando esta

teoria, a ocorrência casual de nascimentos de bovinos mochos em rebanhos

com chifres tem sido relatada, e a utilização destes na reprodução tem levado

ao surgimento de novas variedades e raças (SANTIAGO, 1987). Neste

contexto, citamos a provável origem da raça Nelore Mocho no Brasil.

No ano de 1957, nasceu na Fazenda Santa Marina, situada no município

de Araçatuba no Estado de São Paulo, o bezerro Caburey. Este animal, apesar

de ser filho de pais Nelore Padrão (presença chifres), era mocho, e foi o

primeiro Nelore Mocho a se ter notícia. Foi utilizado na reprodução e acasalado

com diversas vacas Nelore Padrão, onde todos os seus filhos nasceram

mochos. De acordo com SANTIAGO (1987), o uso intenso do touro Caburey

em acasalamentos fixou o caráter mocho e deu origem a um numeroso

rebanho.

Embora não terem sido inscritos, inicialmente, no Registro Genealógico

da Raça Nelore, os animais mochos, devido às suas características tornaram-se

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conhecidos atraindo criadores de todo o país. Com o crescimento no número

de rebanhos e aumento no número de selecionadores, surgiu à necessidade de

uma representação junto à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu

(ABCZ), e em 1969 houve a abertura de um Livro de Registro Genealógico

para a nova raça. O primeiro registro de um animal Nelore Mocho foi o do

touro fundador da raça, Caburey, e teve a vaca Simpatia OB como a primeira

fêmea registrada (SANTIAGO, 1987).

Utilização e número de animais da raça

Com o objetivo de proteger e estabelecer padrões raciais foram criados

os livros de registros genealógicos de bovinos, também chamados de herds

books. A abertura do Herd Book para o Zebu brasileiro ocorreu no ano de 1918

pela Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, que mais tarde se transformara na

Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que atualmente é

responsável pelos registros das raças zebuínas no Brasil (ROSA et al., 1997).

Especificamente para a raça Nelore Mocho, o livro de registros foi

aberto em 1969 e possui atualmente a segunda posição em número de

registros pela ABCZ. No último levantamento realizado, 628.136 animais da

raça Nelore Mocho receberam o Registro Genealógico Definitivo no período

compreendido entre os anos de 1969 a 2009, o que representa 12,85% do

total de zebuínos já registrados pela Associação. O Nelore Mocho somente é

superado pela raça Nelore, com 68,21% de animais registrados no mesmo

período. No ano de 2009 foram registrados 27.302 animais da raça Nelore

Mocho, mas o maior número de registros desta raça ocorreu no ano de 2003,

onde foram registrados 65.548 animais (ABCZ, 2009).

O Nelore Mocho destaca-se também na comercialização de sêmen. De

acordo com relatório da Associação Brasileira de Inseminação Artificial

(ASBIA), dentre as raças de bovinos de corte exploradas comercialmente no

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Brasil, a raça Nelore Mocho ocupa a quarta posição em número de doses de

sêmen vendidas no ano 2009, onde foram comercializadas 245.682 doses. O

mesmo relatório também aponta que 1.426 doses de sêmen da raça Nelore

Mocho foram exportadas para o Canadá e Paraguai em 2009 (ASBIA, 2009).

Caracterização produtiva da raça Nelore Mocho

O crescente aumento do interesse do pecuarista brasileiro pelo gado

geneticamente mocho é devido, em parte, às vantagens que apresenta na

contenção, transporte, segurança dos que trabalham com os animais e aspecto

de uniformidade que a ausência de chifres imprime ao rebanho (SANTIAGO,

1987).

Em relação às características produtivas e reprodutivas,

GOONEWARDENE et al. (1999), por meio da análise de dados, coletados ao

longo de 11 anos no Canadá, não encontraram diferenças significativas ao

compararem as taxas de nascimento, do ganho médio diário no pré-desmame

e peso à desmama dos bezerros, dos escores de distocia da vaca ao

nascimento e do desmame do bezerro e dos pesos das vacas adultas, entre

bovinos de corte geneticamente mochos e de animais com chifres. No Brasil,

também foram realizadas algumas pesquisas para avaliar o desempenho das

características de animais mochos, principalmente do Nelore Mocho.

ALMEIDA et al. (2009), ao comparar 11 bovinos da raça Nelore Mocho

com outros 11 animais da raça Nelore Padrão criados em iguais condições

ambientais, não encontraram diferenças significativas (P≤ 0,05) em relação ao

peso de abate e rendimento de carcaça. No entanto, animais machos da raça

Nelore Mocho apresentaram-se aproximadamente 2% superiores em peso

quando comparados aos machos da raça Nelore Padrão, independentemente

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dos regimes alimentares que foram adotados, ao analisar os pesos de 541.921

animais nascidos de 1975 a 1998 (FREITAS et al., 2000). Entretanto, em

estudo realizado por AZEVÊDO (2005), verificou-se que matrizes Nelore Padrão

apresentaram melhores resultados para a característica Produtividade

Acumulada (PAC), do Programa Nelore Brasil, em relação às matrizes Nelore

Mocho.

Em relação às características de crescimento, pesquisadores

observaram diferentes médias de peso da raça Nelore Mocho em diferentes

regiões do território nacional. SANTOS et al. (2005) encontraram uma média

de 30,76 kg para o peso ao nascer de 1.457 bovinos da raça Nelore Mocho

nascidos entre os anos de 1975 a 2003 no estado da Bahia, enquanto FERRAZ

FILHO et al. (2002) observaram uma média de 29,42 kg de peso ao nascer de

5.924 observações de animais nascidos de 1981 a 1992 no Centro-Oeste,

Nordeste e Sudeste brasileiro. No mesmo trabalho, os autores estimaram para

peso ao desmame (P205), peso aos 365 dias de idade (P365) e peso aos 550

dias de idade (P550), os valores 158,44 kg, 221,38 kg e 287,49 kg,

respectivamente. Também no estado baiano, os trabalhos realizados por

SANTOS et al. (2005) e MALHADO et al. (2005), apresentaram resultados

semelhantes em relação ao P205, onde os primeiros relataram valor médio de

168,93 kg no período compreendido entre os anos de 1975 a 2003, e os

segundos, 170,37 kg de peso médio entre os anos de 1975 a 2001.

GARCIA et al. (2003) e CONCEIÇÃO et al. (2005) obtiveram diferenças

quanto aos resultados dos pesos médios ao P205 dias de idade de animais de

diferentes regiões do estado do Mato Grosso do Sul. Na região de Campo

Grande e Dourados, ao analisar dados de pesos padronizados para os 205 dias

de idade de 2.891 animais no período entre os anos de 1975 a 1996, GARCIA

et al. (2003) encontraram a média de 168,05 kg, enquanto no sudoeste do

Estado do Mato Grosso do Sul, CONCEIÇÃO et al. (2005), avaliaram 21.919

animais no período de 1975 a 2001 e encontraram média de 181,30 kg para

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P205 dias de idade. Em um mesmo trabalho, PAYÁ et al. (2007) na sub região

de Campinas, encontraram médias de peso ajustado de 187,34 kg aos 205

dias, 269,23 kg aos 365 dias e 366,54 kg aos 550 dias de idade e para a sub

região de Ribeirão Preto, e tendo como valores médios de 165,01 kg de P205,

231,48 kg de P365 e 305,33 kg de P550, regiões estas, pertencentes ao

Estado de São Paulo.

Estimativas de parâmetros genéticos para a raça Nelore Mocho

Os parâmetros genéticos apresentam papel relevante nos programas de

melhoramento genético porque fornecem as informações necessárias para

obtenção de índices de seleção, avaliação genética e a posterior seleção dos

animais (GUNSKI et al., 2001). A herdabilidade de uma determinada

característica é um parâmetro genético de grande importância na

determinação do método de melhoramento mais adequado ao rebanho, pois

estima a capacidade de transmissão da característica aos descendentes.

Outro parâmetro genético de grande importância no melhoramento

animal é a correlação genética. Esta nos diz o quanto características distintas

podem ser afetadas por um mesmo conjunto de genes, cuja explicação

genética está no fenômeno pleiotropia ou na teoria da união de genes,

conhecida como “linkage”. A relevância da correlação genética para o

melhoramento genético está no fato de que nos possibilita prever o quanto à

seleção de uma característica qualquer irá influenciar outra característica,

positivamente ou negativamente e em qual intensidade (PEREIRA, 2008).

LIRA et al. (2008) analisaram resultados de 67 trabalhos publicados

referentes a estimação dos parâmetros genéticos das raças zebuínos de corte

no Brasil. Estes autores concluíram que os valores para herdabilidade, de

pesos em diferentes faixas de idade, foram de média a alta magnitude,

independente das populações em que foram analisadas e da metodologia

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aplicada. Para ilustrar tal fato, citam-se os resultados de alguns trabalhos

realizados por ELER et al. (1995), MARCONDES et al. (2002), FERRAZ FILHO et

al. (2004) e LOPES et al. (2008). Ao analisar 27.549 bovinos da raça Nelore

nascidos entre os anos de 1975 e 1984, ELER et al. (1995) encontraram

coeficiente de herdabilidade direta em análise multivariada para peso ao

nascer (PN) de 0,29 e para peso padronizados aos 205 dias de idade (P205) o

valor de 0,14. MARCONDES et al. (2002), também considerando dados de

bovinos raça Nelore, obtiveram estimativas de herdabilidade direta para pesos

padronizados aos 120 dias de idade no valor 0,23, aos 240 dias de 0,19, e aos

365 dias de idade o valor de 0,24. Na raça Tabapuã, FERRAZ FILHO et al.

(2004), utilizando quatro diferentes modelos estatísticos, encontraram

resultados para herdabilidade direta valores que variaram entre 0,16 a 0,27

para P205 e 0,17 a 0,24 para pesos padronizados aos 365 dias de idade. Em

trabalho mais recente, LOPES et al. (2008), com base em dados de pesagens

de 10.874 animais da raça Nelore, estimaram o coeficiente de herdabilidade

direta para PN e P205 em cada um dos três estados da região Sul do Brasil,

onde observaram resultados diferentes para cada estado, mas sempre com

valores de média a alta magnitude. Com relação a bovinos da raça Nelore

Mocho, são poucos os trabalhos que estimaram os parâmetros genéticos para

características de crescimento podemos citar os de SOUZA et al. (2004); LIMA

et al. (2005); MALHADO et al. (2005) e SANTOS et al. (2005).

SOUZA et al. (2004), utilizando dados de bovinos da raça Nelore Mocho,

nascidos entre os anos de 1975 a 1995, pertencentes a rebanhos da região

pecuária Oeste São Paulo e Paraná, estimaram um coeficiente de herdabilidade

direta de 0,16 e para herdabilidade materna de 0,12, para peso à desmama

empregando o método da Máxima Verossimilhança Restrita. Resultados

semelhantes foram encontrados por LIMA et al. (2005), utilizando o mesmo

método estatístico e considerando dados de bovinos nascidos na região

pecuária do estado de Goiás, entre os anos de 1977 e 2000, com estimativas

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para herdabilidade direta e materna para peso à desmama de 0,17 e 0,14,

respectivamente.

MALHADO et al. (2005) utilizaram informações sobre 7.125 bovinos

Nelore Mocho nascidos entre os anos de 1975 e 2001, e estimaram a

herdabilidade de 0,24 para efeito direto para peso ajustado aos 205 dias de

idade. SANTOS et al. (2005) ao fazerem correlações genéticas entre PN e

P205, PN e P365 e P205 e P365, encontrou os valores, 0,08, 0,00 e 0,90

respectivamente, utilizando dados de pesagens de 1.457 animais.

Ao avaliar as estimativas de parâmetros genéticos dos rebanhos

zebuínos brasileiros observamos uma grande variabilidade genética, sendo um

bom indicador da resposta à seleção para atingir o progresso genético que se

objetiva.

Desempenho da raça em sumário de touros

Para início dos trabalhos de seleção em bovinos de corte, um dos

principais requisitos é a avaliação genética dos animais. Em diversos países, os

resultados destas avaliações são publicados em sumários de touros ou

matrizes de fácil acesso aos criadores. No Brasil, um dos sumários de grande

expressão é o do Programa Nelore Brasil da Associação Nacional de Criadores e

Pesquisadores (ANCP), onde são avaliados animais das raças Nelore, Nelore

Mocho, Guzerá, Brahman e Tabapuã. Os resultados deste sumário trazem seus

valores expressos em DEPs (Diferença Esperada nas Progênies) para as

diferentes características avaliadas. As DEPs indicam a diferença na

performance de um produto de determinado touro ou matriz, comparado a

média dos resultados das proles dos animais envolvidos na avaliação genética

e indicando também à metade do valor genético do animal (RESENDE &

PEREZ, 1999).

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O sumário de 2010 da ANCP traz a avaliação de 4.585 touros das raças

Nelore e Nelore Mocho, provenientes de diversos rebanhos brasileiros. Do total

de touros apresentados no sumário, 25,99% são Nelore Mocho (LÔBO et al.,

2010).

Na avaliação da DEP materna para peso aos 120 dias (MP120), dentre

os 0,1% dos touros líderes para esta característica (TOP 0,1%), 31,14% são

Nelore Mocho. Resultado semelhante foi observado para a DEP materna para

peso aos 210 dias, em que os touros da raça Nelore Mocho representaram

27,27% dos 0,5% melhores para esta característica. Entre os 52 touros líderes

em produtividade acumulada (DPAC), característica que prediz o quanto a

fêmea poderá produzir de quilogramas de bezerros desmamados por ano, 20

são da raça Nelore Mocho, o que representa 38,46% dos touros melhores

classificados (LOBÔ et al., 2010).

Com relação ao acabamento de carcaça (DACAB), característica medida

por ultrassonografia que indica a precocidade de acabamento de carcaça, a

raça Nelore Mocho representou 50% dos 0,1% dos touros melhores colocados

para a característica (LOBÔ et al., 2010).

Considerações Finais

As raças zebuínas são à base da produção da carne bovina brasileira,

sendo assim de extrema importância para o agronegócio e,

consequentemente, para a economia nacional.

Dentre essas raças, destaca-se a Nelore Mocho que apresenta um

expressivo crescimento populacional. Neste contexto, torna-se necessário o

conhecimento de alguns elementos básicos, como a história, características

produtivas, parâmetros genéticos, entre outros, por parte dos profissionais

envolvidos na pecuária de corte brasileira.

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GUIMARÃES, P.H.R. e FARIA, C.U. Caracterização da raça Nelore Mocho no Brasil: Revisão bibliográfica. PUBVET, Londrina, V. 4, N. 37, Ed. 142, Art. 956, 2010.

REFERÊNCIAS

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