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Parte Integrante de A NAÇÃO 285 - 14 de Fevereiro de 2013 - Não pode ser vendido separadamente Arquitectura ao descaso da arte Desorganizada e executada, na generalidade, sem paixão e ao reboque do poder financeiro, a arquitectura projectada e realizada como arte, ainda está longe de ser uma realidade nos grandes centros urbanos de Cabo Verde. O BI ouviu alguns “feras” da arquitectura cabo- verdiana, mas também as novas promessas, sobre o tema, neste debate inédito entre nós. A Nação CADERNO DE CULTURA Bilhete de Identidade Foto: @dmj

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Arquitectura ao descaso da arte

Desorganizada e executada, na generalidade, sem paixão e ao reboque do poder financeiro, a arquitectura projectada e realizada como arte, ainda está longe de ser uma realidade nos

grandes centros urbanos de Cabo Verde. O BI ouviu alguns “feras” da arquitectura cabo-verdiana, mas também as novas promessas, sobre o tema, neste debate inédito entre nós.

A Nação

CADERNO DE CULTURA

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B2A Nação

Reportagem Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Gisela Coelho

A história da arqui-tectura está inti-mamente ligada a grandes obras da história da hu-

manidade e da história da pró-pria arte. Desde o Stonehenge, o mais conhecido monumento pré-histórico do mundo, loca-lizado na Inglaterra, passando pelas pirâmides do Egipto, ou pelos imponentes monumentos da Grécia e Roma antiga, como o famoso Coliseu de Roma.

A arquitectura foi evoluindo ao longo dos tempos, adaptan-do-se a correntes culturais e estéticas e ao próprio mundo. Para a história ficam nomes como a famosa escola alemã de Bauhaus ou a do brasileiro Os-car Niemeyer, um dos maiores vultos da arquitectura moder-na, falecido recentemente, aos 104 anos de idade.

Em Cabo Verde a história da arquitectura remonta, inevita-velmente, ao período colonial. Hoje, em várias cidades, como Nova Sintra (Brava), ou São Fi-lipe (Fogo), mas também na cidade da Praia (Santiago), ou Mindelo (São Vicente) e Vila da Ribeira Brava (São Nicolau),

ainda são visíveis os traços da arquitectura colonial nos grandes sobrados, muitos de-les recuperados.

Traços que, se por um lado, se mantêm, por outro se foram esmorecendo com a indepen-dência e o crescimento e a mi-gração da população do cam-po para as urbes. E se na altura da independência, Pedro Gre-gório Lopes era o primeiro ros-to da arquitectura cabo-ver-diana, hoje a realidade é bem outra. Cabo Verde conta com cerca de 173 arquitectos inscri-tos na Ordem dos Arquitectos (OAC), formados nas mais di-versas escolas do mundo.

Arte e arquitectura

Frederico Hopffer Almada é também um dos arquitectos mais antigos do arquipélago e dos mais críticos em relação ao estado do sector no país. Formado na Roménia, este ar-quitecto já foi presidente e vi-ce-presidente do Conselho In-ternacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa, entre 1991/95, órgão do qual se man-tém conselheiro permanente.

Apaixonado pela arquitec-tura desde muito jovem, é com

Arquitectura ao descaso da arte » Desorganizada e executada,

na generalidade, sem paixão e ao reboque do poder financeiro, a ar-quitectura projectada e realizada como arte, ainda está longe de ser uma realidade nos grandes cen-tros urbanos de Cabo Verde. O BI ouviu os arquitectos Carlos Ha-melberg, Frederico Hopffer Alma-da e João Vieira sobre o assunto, neste debate inédito entre nós.

algum lamento que afirma que “a sociedade em geral não vê ainda a arquitectura como uma arte, mas parte instruída da população, sim”.

Quando se fala em arte e qualidade na arquitectura, o mesmo não hesita em garantir que ambas são definidas pelo conceito, mas também pelas empresas e técnicos da área que executam.

“Eu prefiro que haja um bom conceito na arquitectura e no urbanismo, mesmo que os aca-bamentos na execução não se-jam 100%, porque pode não ha-ver disponibilidade financeira. A arquitectura é uma das artes mais fortes que há, porque ela modifica a paisagem, o mundo. O elemento arquitectónico que surge abrange vários momen-tos num elemento urbano”, ex-plica, no seu ateliê rodeado de desenhos no estirador, alguns projectados ainda à mão.

Pela forma como fala, sem dúvida, que a arquitectura é a arte suprema da vida deste

profissional, que também gos-ta de cantar, tem um CD gra-vado, e confessa que a música é um complemento na sua vida. “Gosto de ouvir música quando estou a fazer um projecto. Ouço desde a morna ao jazz, reggae, soul ou um funaná”, revela.

Para Hopffer Almada, a ar-quitectura é uma arte que está relacionada com as outras ar-tes. “Quem tem sensibilidade para um tipo de arte acaba por ter também sensibilidade para outras formas de arte. É difí-cil, para não dizer impossivél, encontrar um arquitecto que não goste de música, ou que ela lhe seja indiferente. Quem diz a música, diz a escultura, o teatro ou outra forma de arte. Tem tudo a ver com a imagem e a forma, porque tal como a arquitectura, a música tem forma também”.

Arquitectura é cultura

Quem também transmite ser um apaixonado pela arte

de moldar o mundo é Carlos Hamelberg. Formado no Bra-sil, também vê no conceito e nos elementos de composição de um projecto os maiores de-safios da obra arquitectónica.

“A arte na arquitectura é en-tendida como uma forma de linguagem onde se utilizam os elementos de composição de arquitectura. Gosto de traba-lhar a arquitectura em termos poéticos, através da linguagem de comunicação, recorrendo a metáforas”, explica.

Para este profissional, a ar-quitectura assenta-se numa filosofia de conceito “baseada na estética, na cultura de cada povo, buscando temas para que se pratique uma arquitec-tura com intenção plástica”. Na sua opinião, são os elementos de composição “que definem o espaço, para trabalharmos de uma forma mais poética”.

Esta é a linha defendida por Hamelberg, que recentemen-te viu uma das suas mais em-blemáticas obras ser erguida

Frederico Hopffer Almada é um apaixonado pela arte da arquitectura, e não esconde que gosta de ouvir música enquanto projecta um desenho

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ReportagemNº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

Arquitectura ao descaso da arte

na cidade da Praia, o projecto do Praia Shopping, assente em conceitos culturais bem defi-nidos. “Gosto do desafio de tra-balhar o aspecto cultural, as cores das nossas badias, as for-mas da mulher crioula, a sen-sualidade, a música e a textura das nossas rochas, etc.”.

O projecto do Praia Sho-pping foi inspirado precisa-mente nesses aspectos mas também em Salvador da Bahia, onde Carlos Hamelberg estudou, sobretudo na devo-ção a “Iemanjá”, que transpôs para o projecto através da re-criação da espuma do mar e das ondas, que são visíveis no telhado do Praia Shopping, facilmente perceptíveis se avistadas a partir da Cruz de Papa.

“Podemos ver a onda do mar, os elementos marinhos, a navegabilidade da forma de um barco personificado no ho-tel. Depois recorro à utilização da pedra basáltica, que faz re-ferência à desertificação geo-

gráfica”, explica sobre o con-ceito do Praia Shopping.

Estética e sensibilidade em formação

Se, por um lado, os arquitec-tos vêem a arquitectura como arte, a mesma percepção pare-ce ainda não ser assumida pela sociedade. Do ponto de vista de João Vieira, a sociedade ca-bo-verdiana ainda está “esteti-camente e até funcionalmente a formar-se”.

Aquele arquitecto considera que é preciso ter em conta que “há pouco mais de 40 anos as pessoas morriam de fome” e, por isso, “o tempo de cultivar a estética, expressar sentimen-tos e de debater contradições é este, é agora”.

Contudo, com um discur-so positivo e construtivo Viei-ra destaca que “a sensibilidade cultiva-se com acesso à arte, com contacto, com vivência e experimentação” e relembra

É claro, para muitos, que o estado da arquitec-tura em Cabo Verde pode-ria estar melhor. Se por um lado a cidade deveria exi-gir mais e conhecer mais sobre a arquitectura, por outro, os próprios arqui-tectos deveriam primar mais por aquilo que fazem, aqui, em Cabo Verde.

Esta é a opinião gene-ralizada dos nossos en-trevistados e que nos re-mete para um problema que não é novo e que, há vários anos, opõe dese-nhistas e arquitectos e, que segundo Frederico Hopffer Almada e Carlos Hamelberg, nada abona a favor da classe e do desen-volvimento de uma arqui-tectura de qualidade.

Hopffer Almada aler-ta que “muitos dos tra-balhos que se vêem por aí não são trabalhos de arquitectos, mas sim as-sinados por arquitectos. Acabamos por ter cidades feitas por desenhadores, eu não tenho nada con-tra os desenhadores, até porque trabalho com eles

e são peças fundamen-tais para nos ajudarem no nosso trabalho. Mas, che-gamos ao ponto de se di-zer que os desenhadores é que estão a dar trabalho aos arquitectos”.

O mesmo vai mais lon-ge e alega que “pelo boom de obras e construções que temos em Cabo Ver-de não havia razões para termos arquitectos com falta de trabalho”.

Na opinião de Frederi-co Hopffer Almada, as leis não funcionam. “É preci-so trabalhar para termos regulamentos que funcio-nem, adaptados à realida-de do país, e não regula-mentos importados, como o último regulamento de Construção Urbana, que saiu recentemente e que está desvirtuado com a realidade do país”, afirma.

Os dois arquitectos – Hamelberg e Hopffer Al-mada - acreditam que está na hora de a Ordem dos Arquitectos e dos po-deres públicos tomarem uma posição definitiva para resolver o problema.

Desenhadores versus arquitectos

que a arquitectura em Cabo Verde está em transição.

“Depois de um período de indefinições, com contornos de descaracterização daquilo que era a tradição de projectar, construir e habitar no país. De-pois de um período em que se importaram e impuseram es-tilos, modelos e gostos vários, muitas vezes coincidentes num mesmo objecto, estamos, creio, a iniciar um novo ciclo”, alega.

Por isso, acredita que “co-meça a haver uma sensibilida-de diferente, no projectista mas sobretudo do lado de quem en-comenda. Essa conjugação tem favorecido a produção arquitec-tónica e a qualidade estética e funcional da arquitectura actu-al e creio que proximamente te-remos reflexos na qualidade ur-bana”.

Questionado sobre qual a relação que a arquitectura, en-quanto arte, deveria ter com a estética urbana, Vieira é criti-co e directo. “A cidade é o espa-ço de expressão e socialização da arte. Nesse sentido a arqui-tectura deve contribuir para a valorização estética da cidade. Ela enquanto enquadramento e cenário da cidade deve ser ca-paz de proporcionar ambientes e sensações que enriqueçam e qualifiquem a experiência de viver na cidade”. Por isso, con-clui que “é nesse sentido que a arquitectura se deve expressar”.

Carlos Hamelberg, defende que

a arte da arquitectura

está no conceito

João Vieira acredita que Cabo Verde está a despertar para a sensibilidade arquitectónica

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Reportagem Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Gisela Coelho

Frederico Hopffer Almada , que diz adorar profunda-mente a cidade da Praia

e, em especial, o Platô, fala mes-mo de “aberração” e “desordem” arquitectónica na capital. “As pessoas terão, seguramente, lá as suas razões para construir, clandestinamente, porque mui-tas estão à espera, há muitos anos, para ter um terreno e, por sua vez, as autarquias lá terão as suas razões para não terem uma resposta, porque também não tinham e se calhar ainda não têm condições técnicas, hu-manas e financeiras, de satisfa-zer tanta demanda. Para mim, construir nas imediações, ou dentro da zona centro, poderia ser evitado”, refere sobre o ema-ranhado de construções clan-destinas.

Na sua opinião, as políticas de gestão do espaço urbano não têm sido as melhores. “Para mim, nunca fez sentido deixar avançar as construções clan-destinas, transformando-se em bairros degradados e, depois, pedir financiamento de mi-lhões de dólares para depois re-qualificar. Tendo financiamen-to era preferível deitar abaixo e construir tudo de novo”.

Para o nosso entrevistado, tendo acesso a financiamento, era preferível “desalojar esses bairros definitivamente” e “fa-zer novos planos de urbaniza-ção, bem delineados e traba-lhados e enquadrar as pessoas em novos bairros construídos de raiz”, com uma estética ur-bana de qualidade.

Carlos Hamelberg também partilha da opinião de que a ar-quitectura da capital é desequi-librada e que devia partir das autoridades “a sensibilização e o fomento para a prática de uma arquitectura mais equilibrada, harmoniosa e sustentada nos pólos urbanos de Cabo Verde”.

No entanto, ao contrário de Hopffer Almada, Hamelberg defende a requalificação: “A ci-dade da Praia e os seus bairros, deviam ser reabilitados, com uma participação público-pri-vada e, juntamente com os ór-gãos decisores, devia-se traba-lhar a requalificação da cidade porque ela tem uma topogra-

Desordem arquitectónica

» O caos arquitectónico das construções clandestinas que proliferam nas principais urbes nacionais, com destaque para a cidade da Praia, são a maior dor de cabeça para um bom arquitecto. Requalificar ou construir de novo, eis a questão.

Arquitectos falam de desordem e desiquilíbrio

na arquitectura da cidade da capital do país

urbanísticos, que acabam por desaparecer e que são, mui-tas vezes, divididas em lotes e vendidas a privados, interesses económicos e pessoas amigas”.

Já Halmelberg fala de “con-flitos de interesses diversos” que “condicionam o desenvol-vimento da arquitectura” e, de certa forma, alguns técnicos é que não têm “valores cívicos e urbanos decentes” e que “con-seguem cobrar, por exemplo, 10 vezes menos por um projec-to só para sobreviver”.

Aquele profissional vai mais longe e garante que “são os pró-prios profissionais que matam o mercado, por causa da fal-ta de valores de formação. Há muitas pessoas que caem de pára-quedas na arquitectura e que não vão acrescentar nada à cultura arquitectónica”.

Neste sentido, os desafios da arquitectura para Cabo Verde são inúmeros e na opinião de João Vieira passa, sobretudo, por se conseguir “um aprimo-ramento estético e funcional integrado e sustentável”. Ou seja, que ela seja “uma síntese das correntes locais e globais possíveis de realizar em Cabo Verde, com materiais adequa-dos ao nosso ambiente, com so-luções espaciais que interpre-tam e respondam às necessida-des funcionais e aspirações es-téticas, com custos de constru-ção e manutenção compatíveis com as famílias do país”.

fia muito bonita. Tem uma boa baía, tem várias enseadas e co-linas”.

Ausência de espaços verdes

Mas a estética urbanística não se resume a construções, de casas e edifícios, mas tam-bém ao espaço público e aos

espaços verdes. Os dois arqui-tectos lamentam a ausência de espaços verdes e de lazer na ci-dade da Praia e acreditam que isso se reflecte, em parte, nos comportamentos da sociedade.

Frederico Hopffer Almada é crítico e sem rodeios afirma: “Os males da maior parte das coisas que acontecem relacio-nadas com arquitectura e ur-

banismo no país, são muitas vezes, por culpa dos polítcos, que por razões eleitorais e ou-tras, acabam por tomar medi-das que estragam e hipotecam o futuro das cidades”.

Neste sentido, o nosso en-trevistado afirma que “há áre-as reservadas a espaços verdes, jardins, praças e outros equi-pamentos públicos, nos planos

Profissionais falam da ausência de espaços verdes que prejudica a qualidade urbanística das cidades.

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OlharesNº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Odair Varela

Com novos projectistas, um dos maiores ganhos é que o cliente já não

terá um trabalho feito apenas por um desenhador e isto pode ser encarado como uma mais--valia no mercado. Um ganho que é acrescido pelos profis-sionais que se formam no exte-rior, mas também pelos arqui-tectos que estão a formar-se no país. São nestes que Manuel Cansado deposita confiança de que trarão novo fôlego ao sector da arquietctura.

Essa entrada de sangue novo e com formação univer-sitária já se faz sentir nos no-vos edifícios espalhados pela cidade, considera Cansado. “Se reparar, pode-se notar que hoje as construções do Minde-lo são mais lindas do que as de antigamente”, afirma, acres-centando que um dos grandes constrangimentos da arqui-tectura na ilha está relaciona-do com a falta de planeamento.

Preocupações

“A edilidade não tem um Plano Director Municipal rígi-do que define, por exemplo, que uma zona seja destina-da para vivendas e outra para edifícios de três a quatro pi-sos”, expressa Cansado, que fala também na falta de cotas de soleiras das casas que tem provocado a construção de ed-ifícios de várias alturas em re-lação ao passeio. Esta é uma situação que provoca uma fal-ta de harmonia nas zonas com cada pessoa a fazer o seu de-grau para chegar à sua casa.

Uma preocupação que tam-bém se exige ao arquitecto é que este consiga misturar a parte estética com a técnica e funcionalidade. “É por isso que

existem os arquitectos. Se era para preocupar apenas com o funcional, o desenhador di-vidiria os espaços e teríamos uma construção. Mas a esté-tica é fundamental”, declara.

Intervenções infelizes na Morada

Quando se fala do Centro Histórico da Morada é preciso notar que já não será possível demolir, modificar ou alterar certos imóveis sem autoriza-ção do município e decisão fa-vorável do Instituto da Investi-gação e do Património Cultur-al (IIPC). Entretanto, Manuel Cansado considera que “Mo-rada” tem tido algumas “in-tervenções infelizes” com con-struções que brigam com a car-acterização já consolidada do Centro Histórico. “Aparecem mesmo edifícios muito diferen-tes que ficam completamente desenquadrados com a zona”, afirma o arquitecto que apon-ta ser possível fazer uma ar-quitectura nova e enquadrá-la mas falta alguma atenção dos profissionais para tal.

“Quando se mexe para de-molir e fazer nova construção está-se a descaracterizar e a perder a identidade da área. Como consequência as pes-soas podem já não reconhecer a sua cidade após algum tem-po de ausência. É algo que fere o olho”, admite.

Mas, para este arquitecto, o centro do Mindelo até que está muito melhor que a sua perif-eria, apesar de ser mais antiga. Construída com ruas largas e salubres que dão prioridade à incidência do sol, estas opções não estão a ter seguimento nas ruas “super estreitas” de quatro metros nos arredores e sem salubridade pela fraca projecção solar. 

MANUEL CANSADO

“Nova geração de arquitectos deixa Mindelo mais linda”

» Mindelo é uma cidade conhecida pelo traçado que prioriza as linhas rectas das suas estradas e avenidas. Recentemente foi escolhida como Património Nacional e, actualmente, conta com cerca de 30 ar-quitectos, situação considerada por Ma-nuel Cansado como um “impulsionador” desta também forma de arte. Entretanto, a situação “estraga-se” nas periferias.

Manuel Cansado

considera que a nova geração de arquitectos

está a deixar a cidade do

Mindelo mais bonita

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Arquitectura no FemininoB6A Nação

A Nação

•Carla Gonçalves

ASónia Tavares, 31 anos, abriu há dois anos, o seu escritó-rio, a PROFI-T, que já está a trabalhar

em alguns “grandes” projectos em Angola. “Estou com um pro-jecto de um complexo despor-tivo em Luanda, com quadras, edifícios, hadclub, spa, restau-rante. Ao mesmo tempo, traba-lho no projecto de um hotel e centro de convenções”, afirma.

Para esta arquitecta, que dei-xou Cabo Verde há alguns anos para se formar em Arquitec-tura e Urbanismo na Universi-dade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, a ambição é participar em projectos de grande envergadu-ra. “Angola, comparativamente com Cabo Verde, traz maiores desafios, por ser um mercado mais exigente. Não saberia onde encontrar em Cabo Verde um projecto de uma envergadura como a que estou envolvida na-quele país. Isso é bom porque é um desafio”, conta.

Arquitectura reúne sensibilidade

Como profissão de criação e criatividade, Sónia entende que

Sónia Tavares, entre a arquitectura e a moda » Sónia Tavares, arqui-

tecta/urbanista, divide o seu tempo entre a criação de projectos arquitectóni-cos e o design de roupas para modelos e programas televisivos. Hoje, em An-gola, Sónia diz que para o futuro pretende trabalhar em projectos maiores, coi-sas que só consegue fora do país, por enquanto.

Sónia Tavares considera que a arquitectura é uma arte de

criatividade e de muita

sensibilidade

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Arquitectura no Feminino B7Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013

a arquitectura é uma área para pessoas com sensibilidade. Uma profissional que se descreve como eclética, que não se pren-de a um único estilo, pois, só as-sim consegue desenvolver este tipo de trabalho.

A arquitectura e a moda

Com o gosto pelo desenho desde pequena e querendo qua-se que seguir as pisadas do pai, que é engenheiro, Sónia optou pela arquitectura. Hoje, resol-veu unir a moda e a arquitec-tura e sente-se muito à vontade nas duas profissões. Enquanto desenvolve projectos de casas, hotéis, decoração de interio-res, Sónia Tavares também tem tempo para criar novas roupas com estilo próprio. A sua ferra-menta de trabalho preferida é o tecido africano, cheio de dese-nhos e estampas, o que vem tra-zer maior entusiasmo e maiores desafios na hora da criação.

“Já trabalhei nos CVMA, abri o desfile da Elite Model Look, participei no Talentu Strela, sempre explorando esse lado do Pano de Terra”, conta. Só-nia revela ainda que leva mais a arquitectura para a moda do

Sónia Tavares, entre a arquitectura e a moda » Sónia Tavares, arqui-

tecta/urbanista, divide o seu tempo entre a criação de projectos arquitectóni-cos e o design de roupas para modelos e programas televisivos. Hoje, em An-gola, Sónia diz que para o futuro pretende trabalhar em projectos maiores, coi-sas que só consegue fora do país, por enquanto.

que o contrário. “Porque explo-ro as formas, os tecidos para fazer qualquer peça de roupa”, salienta.

Praia, cidade “remediada”

Para esta arquitecta urbanis-ta, que cursou no país de um dos maiores arquitectos do mundo, Óscar Niemeyer, a cidade onde vive, Praia, cresceu quase que espontaneamente, sem um pla-no urbanístico, o que vem pro-vocar a visão que temos da cida-de hoje em dia.

“A cidade da Praia não teve um plano de desenvolvimento, cresceu aleatoriamente, os car-ros foram passando por um lu-gar, foi-se desenhando um risco e nascendo estradas e casas à vol-ta. Por isso, arquitectonicamen-te, é uma cidade remediada”.

E para que o cenário melho-re, esta arquitecta/urbanista acredita na prevenção, uma fis-calização mais eficaz, estar-se sempre de sentinela e novos pla-nos para novas cidades. “Com alguns planos de urbanização, este cenário já começou a me-lhorar, mais para a frente tere-mos uma arquitectura e urba-nismo melhor para termos uma cidade saudável”, conclui.

Vestido DJILA:

criação Sónia Tavares,

execução Nilza Silva

Visi

onca

st P

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B8A Nação

Ensino Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Sozy Brito

“Os alunos de arqui-tectura estão a participar na cria-

ção do novo projecto de cons-trução do Bloco C da UniPia-get. Vão inspirar-se nos dois edifícios já existentes para po-derem seguir o mesmo padrão arquitectónico e darão os seus contributos para este novo es-paço”, diz orgulhoso o serra-le-onês, Saidu Bangura, director da unidade de Ciências Tec-nológicas, onde está inserido o curso de arquitectura. Mas esta não é a primeira colaboração dos referidos alu-nos para a universidade. De acordo com Saidu, que é tam-bém professor de Língua Ingle-sa, a maioria dos trabalhos fei-tos na universidade, que têm a ver com arquitectura, são dos próprios alunos. “Ao longo do curso, vão criando o impulso e a arte de fazer coisas e bem--feitas”, explica.

Criado em 2001, o curso de arquitectura é hoje um dos mais requisitados pelos alunos da Uni-Piaget, tanto na Praia como no Mindelo. Só no pre-sente ano lectivo são 101 alu-nos no Campus da cidade da Praia, sendo 57 de sexo mascu-lino e 44 feminino. Um número que é superado pelo Campus do Mindelo, São Vicente, onde existem 154 alunos (116 mas-culino e 38 feminino).

Este é o número de alunos matriculados desde o primei-ro ao quinto ano, do curso de arquitectura nesta instituição, a única que lecciona este curso em Cabo Verde e a segunda dos países da CEDEAO, a seguir ao Togo.

“É um curso com quase 100 por cento de empregabilida-de, os alunos diplomados têm contribuído muito em termos de planeamento e urbanismo nas câmaras municipais, prin-cipalmente na da Praia, com

UNIVERSIDADE JEAN PIAGET

Alunos de arquitectura participam na projecção do novo Bloco

a qual temos um protocolo e também nas outras empresas que funcionam no país”, afir-ma Saidu.

Grande procura

Segundo o nosso entrevis-tado, a procura do curso tem aumentado de ano para ano e isso deve-se, em parte, às saí-das profissionais e ao seu grau de empregabilidade. Em rela-

ção às desistências, o respon-sável não avançou números, afirmando que elas estão re-lacionadas, entre outros facto-res, com o preço das propinas, que é elevado.

“É normal haver desistência, tendo em conta que o preço da propina mensal é de 19.150 es-cudos. O curso tem ainda uma outra particularidade que o di-ferencia dos demais, ou seja, enquanto os alunos de outros

cursos estão praticamente de férias, os da arquitectura con-tinuam na escola a fazerem trabalhos, a assistirem pales-tras, workshops, porque é um curso muito exigente e que re-quer muita prática”, reforça.

Entrada na Ordem

Saidu Bangura, que resi-de em Cabo Verde há 13 anos, garante que a arquitectura é

um bom investimento para os criativos, porque todos os alu-nos que terminam conseguem entrar no mercado de traba-lho. “A Ordem hoje já reconhe-ce a qualidade do curso, como também a qualidade dos alu-nos e dos professores que te-mos cá, que são na sua maio-ria mestres. Após dois anos de estágios profissionais os alu-nos já estarão inseridos na Or-dem”, garante.

» Cerca de 100 alunos, do primeiro ao quinto ano, do curso de arquitec-tura da Universidade Jean Piaget, na Praia, estão engajados na elaboração de projectos e maquetas do novo blo-co, desta feita o C, que vai ser cons-truído naquela instituição de ensino.

Aluno do quarto ano, na Universidade Jean Pia-get, na Praia, Heydmilson Gomes conta que foi o fas-cínio que tem pelos dese-nhos que o levou a escolher a arquitectura como curso e futura profissão. “A ar-quitectura, enquanto arte, é muito fascinante e atrac-tiva. Foi isso que me atraiu para este curso. Ao ver um desenho, ou um projecto, fico deveras fascinado com

aquilo e prendo-me a apre-ciar os detalhes e os tra-ços”, revela.

O facto de ser um curso de cinco anos tido como di-fícil não intimidou este jo-vem, de objectivos bem de-finidos. “Já desenhava an-tes, só para passar o tempo livre, sem os cuidados que tenho hoje. Mas tracei a meta de que um dia estaria aqui e cá estou no penúlti-mo ano do curso e cada vez

mais ciente de que fiz a es-colha certa”, alega.

Agora, este jovem afir-ma-se ansioso para termi-nar a sua formação e espera que o mercado lhe dê opor-tunidades e não lhe discri-mine pelo facto de “tirar o curso no país e não lá fora”.

Contente com a sua op-ção, Heydmilson desaba-fa que a arquitectura é um curso cansativo e custoso, mas que vale a pena. “To-

dos achamos que a propina é muito cara mas, na minha opinião, se a universidade pratica este preço é porque tem razões para tal”, afir-ma.

Para a monografia, este futuro arquitecto diz já ter tudo pensado e avança que vai trabalhar o tema “Uma Arquitectura Sustentável”, onde quer demonstrar as suas preocupações pelo meio ambiente.

Fascínio pelos desenhos atraiu Heydmilson para arquitectura

Uma das salas especiais para

os alunos de arquitectura da

Uni Piaget

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PerfilNº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Carla Gonçalves

Jennifer Dias, 27 anos, nasceu em França e é filha de pais cabo-ver-dianos. Esta “menina - mulher”,

que iniciou profissionalmente no mundo da música aos 14 anos, con-fessa que foram as “negas” que levava da irmã para entrar para o seu grupo musical que a motivaram a seguir a música. “Cada vez que eu queria par-ticipar no grupo, ela negava dizendo que eu não sabia cantar”, conta.

A partir desse momento, Jennifer disse que queria provar à irmã e às amigas o que valia. Desde então, não poupou esforços para realizar o seu desejo. Em França fez shows e inves-tiu seriamente nos seus videoclips. Aliás, um desses trabalhos, Control, que fez juntamente com outro músi-co cabo-verdiano Elji, valeu-lhe a no-meação na segunda edição dos Cabo Verde Music Awards (CVMA de 2012) na categoria “Melhor Videoclip”.

A cantora franco-cabo-verdiana não conseguiu o galardão de melhor videoclip, mas confessa que se sentiu muito orgulhosa e feliz por ter parti-cipado num evento tão importante da música de Cabo Verde. “Foi uma oportunidade de conhecer outros ar-tistas e de enriquecer o meu conheci-mento sobre música. O que me moti-va a participar em próximas nomea-ções, se for chamada, claro”, afirma.

Percurso artístico

Com uma queda pelos ritmos soul e funk, graças aos discos vinis que o seu pai possuía, Jennifer desenvol-veu desde muito cedo o gosto pela música. Aos oito anos entra para um curso de dança e aos 14 anos inicia as aulas de canto. A junção da músi-ca e da dança valeram-lhe a paixão que sente por estas duas vertentes

artísticas, que tão bem expressa nos videoclips que protagoniza.

Em 2003, Jennifer Dias inscreveu--se numa companhia musical pari-siense como dançarina e cantora de jazz, um estilo que também aprecia. Nela, participou em algumas ac-tuações internacionais, ao mesmo tempo que trabalhava em álbuns de compilação com artistas cabo-ver-dianos.

“Control”, que lhe permitiu juntar R’n’B e Kizomba, deixa transparecer uma mistura exótica, apoiada num ambiente atípico. Mas é nos amigos que encontra todo o apoio para levar o seu trabalho adiante. Consciente dos desafios que a indústria musical exige aos jovens artistas, Jennifer não acredita que apenas o talento seja su-ficiente para se destacar. “O trabalho também é fundamental para o su-cesso, pois, para se chegar ao topo, o talento deve ser obrigatoriamente acompanhado de paixão e de perse-verança”, confessa.

Novo trabalho

Recentemente, Jennifer Dias co-locou no mercado mais dois singles, “Dexam em paz” e “Viens danser” (em 2012), que tiveram grande aceitação em Cabo Verde. Para já, está marcado o lançamento oficial de “Love Passion & Addiction” – que traz quatro com-posições: Louca por ti, Mama África, Je t’aime e Apaixonada. O trabalho sai oficialmente na próxima segun-da-feira, 18. Porém, estas músicas já estão disponíveis no iTunes.

Detentora de uma imagem que lhe vai certamente continuar a abrir portas no mundo da música, Jenni-fer Dias quer continuar a trabalhar para evoluir na carreira e garante que Cabo Verde é uma terra que sempre a vai orgulhar.

Jennifer Dias prepara novo trabalho

» A cantora cabo-verdiana Jennifer Dias, que re-side em França, tem um novo disco a caminho: “Love Passion & Addiction”. Trata-se de um EP (quatro faixas) que sai na próxima segunda-feira, 18, mas o BI levanta-lhe a ponta do véu deste novo trabalho desta crioula de voz doce e sensual.

Jennifer lança oficialmente o EP a 18 de Fevereiro

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Artes Plásticas Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

•Ana Varela

Por tanto gostar de cantar o re-ggae “Kaya”, de Bob Marley, Tony acabou por ganhar a al-

cunha Kaya. Mas foi no grupo mu-sical Abel Djassy, da então Organi-zação dos Pioneiros, que Tony Kaya começou a dar os primeiros passos na música, em 1985, como vocalista.Com esse mesmo grupo percorreu quase todas as ilhas do arquipélago no concurso “Todo Mundo Canta”, uma experiência que hoje considera gratificante.

“No tempo do Abel Djassy o re-ggae estava na moda, mas sempre gostei de cantar e tocar as minhas origens, valorizar a nossa música, o batuque, a morna, coladeira e o fu-naná”, lembra Kaya, a propósito.

Com a mudança política nos anos 90, o “Abel Djassy” acabou por se desfazer, seguindo os seus elemen-tos cada um o seu rumo. Nessa altu-ra, Tony Kaya já tinha conquistado o seu espaço e demonstrado o seu dom pela música, preferindo con-tudo aprofundar outros sentimen-tos artísticos e formas de expressar a arte.

É assim que, em 1996, ruma ao Mali, para estudar Artes Africanas e Reciclagem, em Bamako, aqui per-manecendo por quase quatro anos. Esta foi também outra experiência enriquecedora, regressando dis-posto a criar o seu próprio ateliê, na Achada de Santo António, Praia, o ‘Kayarte’. “Trabalhava a arte de-corativa em publicidade e dedicava boa parte do tempo a ministrar for-mação em artes plásticas”, conta.

Música na tela

Apesar de ter o seu ateliê, Tony Kaya nunca pôs de parte a sua pai-xão pela música, pelo contrário, de-cidiu fazer o “casamento” entre ela e as artes plásticas. Disso resultaram várias obras de arte, isto é, os seus quadros entram numa espécie de “campo musical”, diferente do que é habitual na pintura. “O meu estilo é surrealista e, dentro do surrealismo, pinto a música, que é a minha musa de inspiração, por isso considero--me um pintor musical”, assume.

Tony Kaya não esconde que a mú-sica e a arte são a sua maior compa-nhia, recusando-se a viver sem elas. “Quando estou a cantar o meu impul-so é pegar na tela e reproduzir essa música e isso está patente, por exem-

Tony Kaya, um pintor musical » Tony Kaya (António Carlos dos Reis Barbosa) é um artista mul-

tifacetado. Músico, pintor, cenógrafo e compositor, este “menino do Platô” diz carregar consigo os genes da arte. O pai, pintor da construção civil, fazia grafismo e, da mãe, professora, herdou o gosto pela escrita. Já a música, acredita, é uma clara influência do avô, um marceneiro e escultor de profissão que tocava clarinete.

plo, nas telas Canto das Ilhas, Mulher Vilão, Serenata Minha Mãe, Minha mulher”, explica.

Serenata é, inclusive, um estilo de música que Tony Kaya chegou a can-tar, influenciado pelo grande Pante-ra. “Ele cantou Serenata é ‘sima águ txoku’ e essa música, na altura, me inspirou e motivou a cantar e não deixar morrer a serenata”, recorda.

Hoje, os tempos são outros, e a serenata caiu em desuso. “Antes, as pessoas pediam serenatas mas, ago-ra, se formos cantar numa porta, aparece o vizinho reclamando que está a ser incomodado e manda a pessoa tocar noutro lugar”, lamenta.

Cenografia carnavalesca

E se a música dá vida às telas des-te artista multifacetado, não menos importante tem tido a arte carna-valesca na sua vida. Há vários anos que Tony Kaya faz cenografia para os carros alegóricos de Carnaval, que afirma serem uma espécie de tela gigante, em movimento.

Esta é outra das suas paixões, uma arte que aprendeu com o tio em São Vicente e também com aquele que considera ser seu mestre, Domingos Luísa. Os seus carros ale-góricos já ganharam vários prémios e, este ano, Tony Kaya decidiu colo-car a sua criatividade ao serviço da Associação Acarinhar.

Reactivar Kayart

Senhor de uma vida dedicada às artes, este homem pensa neste mo-mento na sua próxima exposição, que deverá chamar-se “Cores da Mú-sica”, prevista para o próximo Verão. Paralelamente, trabalha na compo-sição de uma morna, que vai contar com a participação do guiatrrista Zequinha Magra. Uma música que espera que venha a ter o mesmo su-cesso da composição “Mar”, da sua autoria e interpretada com “mes-tria” por Princesito.

A par destes projectos, Tony Kaya espera retomar o ateliê Kayart, que, por razões diversas, foi interrompido a meio do percur-so. Na forja está ainda o sonho de reactivar também o projecto “Ta-lentos escondidos”, desenvolvido há amos atrás, juntamente, com outros artistas como Tutu Sousa e Misá, e que tinha como objectivo descobrir jovens talentos na área da pintura. Tony Kaya gosta de trabalhar em cenografia de Carnaval

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Vox PopNº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

Balmer Horta do RosárioPraia, Designer

- Não costumo ler sempre, só às vezes, quando não tenho muita coisa para fazer. Sempre que pos-so, leio os jornais online. Neste momento, por exemplo, o meu li-vro de cabeceira é sobre ciências, “Novas Tecnologias e Tendências do Mercado”. Já em relação à mú-sica, oiço um pouco de tudo, hip--hop, country, etc.

Alana Campos CoelhoPraia, Auxiliar de Escritório

- Gosto muito de ler, mas as mi-nhas preferências recaem sobre os livros espíritas. Neste mo-mento, estou a ler dois, “Tormen-tos da obsessão”, que fala da in-f luência dos espíritos em nossas vidas e o outro, “Aconteceu na casa espírita”, que retrata como é o trabalho nas casas espíritas. Já na música o estilo é variado. Adoro música popular brasilei-ra, reggae, zouk, samba. Sempre

» O Reggae e a Música Popu-lar Brasileira (MPB) figuram en-tre os estilos de eleição dos nos-sos entrevistados deste número de BI. Quanto aos livros, a lista é variada e aparece de tudo um pouco, dos técnicos à literatura voltada para o espiritismo.

O que anda a ler e a ouvir?

estou a ouvir Seu Jorge, Mayra Andrade, Chico Buarque, Raul Seixas e Nelson Freitas.

Liziane MarianoPraia, Assistente de Direcção e Responsável dos RH

- Não tenho muito hábito de leitu-ra mas, neste momento estou a ler “Freakonomics” e “Tristes Trópi-cos” que fala sobre a antropologia. Não tenho preferências, desde que me desperte alguma curiosida-de leio, só não dispenso um livro

de quadradinhos. Já em relação à música, o meu estilo é eclético, um pouco de tudo, desde reggae, jazz, morna. Adoro a música de uma maneira geral, faz parte do meu dia-a-dia. Mas, ultimamente, te-nho escutado muito MPB, samba (Jorge Aragão e Zeca Pagodinho).

Victor CostaSão Vicente, Aposentado

- Neste momento, só leio jornais para me manter informado e sa-ber o que acontece no país. Cos-

tumo ouvir mais mornas, apesar de também apreciar outros géne-ros. Morna ouço a qualquer hora do dia. Ela faz-me viajar no pensa-mento para outras dimensões.

Maria da Luz MirandaSanto Antão, Estudante

- Leio livros escolares, principal-mente de língua portuguesa e in-glesa. Escuto todos os tipos de música, mas prefiro a música ro-mântica, que me faz relaxar e ter inspiração para estudar ou fazer os trabalhos domésticos. Neste momento, estou a ouvir as músi-cas da brasileira Paula Fernandes.

Daniel MascarenhasSão Vicente, Mecânico

- Não sou muito de ler, mas quan-do o faço interesso-me mais por livros de moda, aventuras e má-quinas, que é a área relacionada com o meu trabalho. Ouço todo o tipo de música, do hip-hop ao reggae, passando pela morna. Mas as músicas do grupo de rock Linkin Park são as que me têm fascinado. É só ouví-las, para sentir-me mais motivado.

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Top 5 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 Nº 285 | De 14 a 20 de Fevereiro de 2013 A Nação

“Tito Paris, alma de artista” é uma fotobio-grafia daquele que é um dos mais populares e apreciados músicos ca-bo-verdianos. Esta fo-tobiografia é uma “via-gem” sobre os 30 anos de carreira de Tito, na-tural de São Vicente. As imagens, que dão vida ao livro, são de David Santos, autor e editor

do livro. “Dizer que a música é algo que nas-ce dentro de alguns de nós. Um dom que nos é dado mas que pou-cos conseguem conver-ter em sucesso. Até lá, há todo um percurso cheio de altos e baixos que deixa muitos pelo caminho, destruindo todas as expectativas. Os resistentes, os per-

severantes são aqueles que são completamente apaixonados pela arte. Fazer música com o co-ração e não se deixar levar pela fama. Têm alma de verdadeiros ar-tistas. Estrelas que as-cendem mais longe e que têm um brilho que perdura para além do tempo…”, pode ler-se na contracapa desta livro.

Praia

Livraria Nhô Eugénio

1º - Aristides Pereira – “Minha vida nossa história”, José Vicente Lopes, Spleen

2º - Trilogia “As cinquentas sombras de Grey”, E. L. James, Lua de Papel

3º - Cabo Verde - Um Mundo a Descobrir, Fotografia Nuno Augusto, Textos José Goulão

4º Trilogia “Os homens que odeiam as mulheres”, Stieg Larsson, Oceanos

5º “A Geração da Utopia” - Pepetela, Dom Quinxote

São Vicente

Livraria “Nhô Djunga” no Mindelo

1º - Tito Paris – alma de artista, David Santos (autor e editor)

2º - O fazedor de utopias – uma biografia de Amílcar Cabral, António Tomás, Spleen

3º - Dicionário Caboverdiano-Português, Manuel Veiga, IBNL

4º - O reino do Dragão de Ouro, Isabel Allende, DIFEL

5º - Art Attack – animal art, Disney Junior, Everest

Livraria “Semente”

1º - As Cinquenta Sombras mais negras, EL James, Lua de Papel

2º - A Coroa, Nancy Bilyeau, Presença

3º - Elogio da madrasta, Mário Vargas Llosa, D.Quixote

4º - Mel, Ian McEwan, Gradiva

5º - Empreendedorismo e Planeamento Financeiro, Carlos Duarte e José Esperança, Sílabo

Tito Paris, alma de artista, uma fotobiografia a descobrir

LITE

RATU

RA

LITE

RATU

RA

MUS

ICA

Loja Zé di Sucupira

1º - Best of Grace Évora

2º- Camin di Bedju, Michel Montrond

3º - Último Gota di Sol, Zé Delgado

4º - Sima Nos, Tony Fik

5º - Sta na Moda, Zé Espanhol

Livraria Nhô Djunga (Cd´s)

1º - Original Album Classics, Cesária Évora

2º - Azuris, Vasco Martins

3º - Relembrando os Mestres, Bau e Voginha

4º- Seven Seconds – Best of, Youssou n’Dour

5º - M’bem di fora, Lura

Praia São Vicente