a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

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UNIR FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA PREVENÇÃO TERAPÊUTICA DA OBESIDADE Ji-Paraná 2007

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Page 1: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

UNIR

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA

PREVENÇÃO TERAPÊUTICA DA OBESIDADE

Ji-Paraná 2007

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EDI CARLOS DA CRUZ

SUEIDE PEREIRA DOS SANTOS

VALDECIR ALBERTO

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA

PREVENÇÃO TERAPÊUTICA DA OBESIDADE

Monografia de Graduação apresentada ao Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia (RO), como requisito parcial para obtenção do grau de LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA.

Ji-Paraná

2007

Page 3: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA

PREVENÇÃO TERAPÊUTICA DA OBESIDADE

COMISSÃO EXAMINADORA

Professor. Ms. Luis Gonzaga de O. Gonçalves - Orientador

Ji-Paraná

2007

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3

Dedicamos primeiramente a Deus, pela

sua luz divina sobre nós, as nossas

famílias pelo apoio, pela compreensão e

por suportar nossas ausências durante

todo este período. E especialmente aos

nossos pais pelo carinho e nos auxiliaram

até aqui.

Page 5: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

4

A Deus onde buscamos força, paciência e

sabedoria para realizar este trabalho.

Aos nossos familiares que nos

estimularam a prosseguir mesmo quando

tudo parecia impossível.

Aos amigos que conquistamos ao longo

desta jornada.

A todos nossos professores e em especial

ao nosso orientador Professor Ms. Luis

Gonzaga de O. Gonçalves

Page 6: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

5

RESUMO

A obesidade vem sendo objeto de estudos com muita freqüência atualmente. Frente

a necessidade de realizar um trabalho de pesquisa para conclusão do curso de

Educação Física, suscitou em nós o desejo de fazer uma investigação qualitativa,

tendo como metodologia pesquisa bibliográfica. É preocupante a presença da

obesidade já na infância. Iniciamos o nosso estudo buscando dados que

justificassem a importância de abordar a obesidade em nosso país. Partimos das

definições sobre o que é obesidade, que é o aumento de gordura corporal em

comparação a massa magra e que deve ser tratada como uma enfermidade crônica

que acompanha muitas complicações para a saúde. Buscamos citar as causas e as

conseqüências da obesidade, dando atenção especial a obesidade infantil, tema de

nossa pesquisa e buscando apoio na literatura utilizada para falarmos sobre a

prevenção e o tratamento da Obesidade Infantil, levando em consideração o

desenvolvimento físico da criança para a utilização da atividade física e seus

benefícios nesta etapa de prevenção e tratamento. Outro ponto que consideramos

importante é a inclusão do profissional de Educação Física na melhoria da qualidade

de vida, visando a saúde.

Page 7: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

6

ABSTRACT

The obesity is being now object of studies with a lot of frequency. Front the need to

accomplish a research work for conclusion of the course of Physical education,

raised in us want him/it of doing a qualitative investigation, tends as methodology

researches bibliographical. It is already preoccupying the presence of the obesity in

the childhood. We began our study looking for data to justify the importance of

approaching the obesity in our country. We left of the definitions on what is obesity,

that is the increase of corporal fat in comparison with thin mass and that it should be

treated as a chronic illness that accompanies a lot of complications for the health. We

looked for to mention the causes and the consequences of the obesity, giving special

attention the infantile obesity, fear of our research and looking for support in the

literature used for us to talk about the prevention and the treatment of the Infantile

Obesity, taking into account the child's physical development for the use of the

physical activity and their benefits in this prevention stage and treatment. Another

point that we considered important it is the professional's of Physical education

inclusion in the improvement of the life quality, seeking the health.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9

1.1 Contextualização do problema ................................................................................... 9

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 11

3. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13

3.1 Geral .............................................................................................................................. 13

3.2 Específicos ................................................................................................................... 13

4. METODOLOGIA ................................................................................................................ 14

5. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 15

5.1 Um país cada vez mais obeso .................................................................................. 15

5.1.1 O que é obesidade? ............................................................................................ 18

5.1.2 As causas da obesidade ..................................................................................... 20

5.1.3 As conseqüências da obesidade ....................................................................... 20

5.1.4 Aspectos epidemiológicos da obesidade ......................................................... 22

5.1.5 Prevenção da obesidade .................................................................................... 24

5.2 Obesidade infantil ....................................................................................................... 25

5.2.1 As causas da obesidade infantil ........................................................................ 28

5.2.2 Conseqüências da obesidade infantil ............................................................... 28

5.2.3 O tratamento da obesidade infantil ................................................................... 30

5.2.4 Prevenção da obesidade infantil ....................................................................... 34

5.3 Desenvolvimento físico da criança ........................................................................... 35

5.3.1 Desenvolvimento fisiológico ............................................................................... 36

5.3.2 Fase pré-escolar .................................................................................................. 36

5.3.3 Fase escolar ......................................................................................................... 37

5.4 Atividade física na infância ........................................................................................ 37

5.5 Objetivos da Educação Física como Educação para a Saúde ............................ 40

5.6 Inserção do professor de Educação Física no programa de saúde da família . 43

5.7 A Educação Física e sua relação histórica com a saúde e a qualidade de vida .............................................................................................................................................. 45

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 48

Page 9: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

8

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 51

Page 10: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

9

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do problema

A obesidade é considerada atualmente como um problema de saúde pública

tanto na população jovem como na adulta. Os dados referentes às crianças

brasileiras, levantados em 1989 pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

(INAN) e pelo Programa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), apontam que cerca

de um milhão e meio de crianças são obesas, com maior prevalência nas meninas e

nas áreas de maior desenvolvimento. No entanto, esse perfil está mudando, e a

obesidade vem aumentando no sexo masculino e nas classes menos favorecidas.

A obesidade pode iniciar em qualquer idade, desencadeada por fatores

como o desmame precoce, a introdução inadequada de alimentos, distúrbios de o

comportamento alimentar e da relação familiar, especialmente nos períodos de

aceleração do crescimento. Rodolfo Giugliano & Elizabeth C. Carneiro (apud

WHITAKER & CUTTING) relatam à necessidade da identificação precoce do

excesso de peso em crianças para diminuir o risco de se tornarem adultos obeso. Os

autores enfatizam dois fatores que podem contribuir para dobrar o risco da

obesidade em adultos jovens: obesidade em um dos pais ou sua presença na

infância. Ambos os fatores não devem ser considerados isoladamente, mas em

interação. Sabendo que o modelo de comportamento tendendo à inatividade e

inadequação da dieta familiar é um fator que pode levar à obesidade precoce.

Page 11: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

10

Nas últimas décadas, as crianças tornaram-se menos ativas, incentivadas

pelos avanços tecnológicos. Uma relação positiva entre a inatividade, como o tempo

gasto assistindo televisão, e o aumento da adiposidade em escolares vem sendo

observada. A atividade física, por outro lado, diminui o risco de obesidade, atuando

na regulação do balanço energético e preservando ou mantendo a massa magra em

detrimento da massa de gordura.

Page 12: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

11

2. JUSTIFICATIVA

O excesso de peso e a obesidade constituem um dos problemas mais sérios

tanto dos países ricos quanto dos países emergentes. Os problemas derivados

direta ou indiretamente da obesidade são responsáveis por uma significativa

percentagem de mortes. Segundo o National Health and Nutrition Survey (NAHAS

III) indicam que cerca de 33% da população adulta dos Estados Unidos apresentam

excesso de peso e as evidências indicam um aumento na prevalência desta (Pollock

e Wilmore, 1993; Heyward e Stolarczyk, 2000).

Na última década o quadro crescente de obesidade também passou a

preocupar países como o Brasil. Dados do IBGE mostram que um em cada dez

adultos é considerado obeso e há tendência em aumentar esta proporção. Inúmeras

pesquisas indicam que muitas doenças da “era moderna” estão associadas ao

excesso de gordura corporal, como por exemplo, as doenças cardiovasculares,

renais, digestivas, diabetes, problemas hepáticos e ortopédicos. A incidência dessas

doenças é duas vezes maior entre os homens obesos e quatro vezes maior entre as

entre as mulheres obesas, quando comparados à população não obesa (NAHAS,

2001; POLLOCK e WILMORE, 1993; HEYWARD e STOLARCZYK, 2000; NIEMAN,

1999).

Sabe-se que o excesso de gordura corporal além de ser fator de risco para

diversas doenças prejudica o desempenho físico, pois limita os movimentos e induz

à fadiga precoce devido à sobrecarga que impõe ao organismo. A obesidade deve

Page 13: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

12

ser considerada como um objetivo para intervenção independente, pois seus efeitos

são exercidos através de outros fatores de risco como a hipertensão, a

hiperlipidemias e o diabete (ACSM, 2000).

Page 14: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

13

3. OBJETIVOS

3.1 Geral

- Verificar a contribuição da Educação Física escolar na prevenção e

controle da obesidade em escolares.

3.2 Objetivos Específicos

- Identificar os conteúdos da Educação Física escolar relacionados com a

prevenção e controle da obesidade em escolares;

- Demonstrar a importância do profissional de Educação Física na prevenção

e controle na obesidade infantil;

Page 15: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

14

4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi bibliográfica, baseada em autores

que abordam a Obesidade, Obesidade na infância, O Desenvolvimento Infantil e a A

Educação Física Escolar. Buscando justificar a importância da presença de

profissionais comprometidos com a saúde dos escolares que enfrentam problemas

com a obesidade, visando a contribuição da Educação Física Escolar na prevenção

e controle da obesidade em escolares.

Page 16: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

15

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 Um país cada vez mais obeso

Atualmente observa-se e questiona-se o fato de ser mais freqüente

encontrarmos crianças acima do peso, antes eram casos isolados, hoje não

podemos negar o aumento considerável que ocorreu devido a diversos fatores que

influenciam na obesidade já na infância. Como profissional comprometido com as

questões ligadas à saúde e como educadoras presente no âmbito escolar, não

podemos somente observar e cruzar os braços (FARINATTI, 2005).

O excesso de peso em gordura nas crianças, identificado e difundido na

atualidade por meio dos mecanismos de comunicação como jornais, revistas, rádio e

televisão, indicam-nos o caminho, que está se tornando um problema, no mínimo

preocupante para com o futuro próximo de nossos atuais jovens.

As crianças precisam ser envolvidas em atividades físicas recreativas

sistemáticas, e orientadas por profissionais capacitados. A redução do tempo livre

que é utilizado em frente a televisão e nos jogos de computadores é imprescindível.

As atividades intelectuais previstas em sala de aula precisam ser modificadas e

necessitam tomar uma direção ou rumo ao ar livre. A teoria deve ser desenvolvida e

aprendida por meio da vivência pratica corporal (FARINATTI, 2005).

A obesidade possui controvérsias relacionadas com o volume ou ingestão

Page 17: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

16

alimentar. Não necessariamente o obeso ingere grandes volumes calóricos, é fato

que o balanço calórico negativo deve ser atingido, para que haja uma redução no

peso corporal total e peso de gordura.

A redução de peso corporal, experimentada por meio apenas de dieta, vem

acompanhada de maneira desvantajosa também pela perda de massa muscular.

Pode-se minimizar esta situação de perda de peso muscular por meio da

conscientização e da inclusão de atividades físicas, durante e após o processo de

emagrecimento (FARINATTI, 2005).

Pelo exemplo exposto, necessita-se buscar soluções, não só para que seja

controlado o peso de quem já está obeso; precisamos é criar as condições

necessárias, para que os indivíduos não se tornem escravos de dietas para

emagrecimento, ou mesmo dependentes de regimes descontrolados e

desorientados durante toda a vida.

O conhecido efeito sanfona (emagrecer x engordar), precisa ser banido da

vida de quem vive sob dieta-terapia, esta síndrome, é exatamente uma falha nos

métodos de controle sobre a obesidade. Necessitamos não deixar as pessoas, e

principalmente as crianças e os adolescentes, a engordarem acima dos limites

médicos recomendados. A ação de conscientização e controle sobre os mecanismos

socioculturais da obesidade, tem que ser divididos entre o estado, entre a família e

os profissionais da saúde.

Entre julho de 2003 e junho de 2004, os pesquisadores do IBGE estiveram

em 48.470 domicílios, um em cada mil, de todas as regiões do país. A pesquisa

colheu dados sobre gastos do orçamento doméstico, peso e altura dos

entrevistados. Este levantamento antropométrico foi o primeiro a ser realizado no

Brasil e permitiu o cálculo do Índice de Massa Corporal das pessoas pesquisadas.

Os números apontaram a dimensão estatística, da insuficiência de peso,

associada à desnutrição, entre os adultos. Cerca de 3,8 milhões de pessoas, 4% da

população, têm déficit de peso. Do outro lado da tabela, o excesso de peso atinge

40,6% da população adulta, ou 38,8 milhões de brasileiros. Deste total, 10,5 milhões

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17

são obesos, 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres. Portanto, os números indicam

que a quantidade de adultos obesos é dez vezes a de desnutridos.

Segundo indicadores, nem toda magreza é resultado de desnutrição. Entre

3% e 5% dos casos, ela está ligada a questões genéticas. Mas em relação à

obesidade, os dados são preocupantes. Segundo estimativas, em 1975, 2,8% dos

homens e 7,8% das mulheres das regiões metropolitanas brasileiras eram de

obesos. Agora estes números atingiram 8,8% dos homens e 12,7% das mulheres.

Os pesquisadores do IBGE concluíram que o ganho de peso da população

está fortemente ligado ao crescente processo de urbanização. O Brasil vive

atualmente a mesma situação que países desenvolvidos: o aumento da renda e a

urbanização levam ao consumo maior de alimentos com açúcar e gordura

(FARINATTI, 2005).

O avançar da idade é acompanhado de uma tendência a um declínio do

gasto energético médio diário à custa de uma menor atividade física. Isso decorre

basicamente de fatores comportamentais e sociais como o aumento dos

compromissos estudantis e/ou profissionais. Alguns fatores contribuem para um

estilo de vida menos ativo. A disponibilidade de tecnologia, o aumento da

insegurança e a progressiva redução dos espaços livres nos centros urbanos,

reduzem as oportunidades de lazer e de uma vida fisicamente ativa, favorecendo

atividades sedentárias, tais como: assistir a televisão, jogar videogames e utilizar

computadores.

Existe associação entre sedentarismo, obesidade e dislipidemias e as

crianças obesas provavelmente se tornarão adultos obesos. Dessa forma, criar o

hábito de vida ativa na infância e na adolescência poderá reduzir a incidência de

obesidade e doenças cardiovasculares na idade adulta. A atividade física também

pode exercer outros efeitos benéficos em longo prazo, como aqueles relacionados

ao aparelho locomotor. A atividade física intensa, principalmente quando envolve

impacto, favorece um aumento da massa óssea na adolescência e poderá reduzir o

risco de aparecimento de osteoporose em idades mais avançadas, principalmente

em mulheres pós-menopausa.

Page 19: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

18

5.1.1 O que é obesidade?

A obesidade habitualmente coincide com o aumento de peso, sendo definida

como o aumento da gordura corporal, em comparação com a massa magra, em um

nível tal que possa ser a associado a um risco elevado para a saúde.

A herança genética é um fator importante, mas a obesidade parece ser

causada pela combinação de hábitos alimentares pouco saudáveis com um estilo de

vida sedentário. Assim, quando a ingestão de energia supera o gasto energético, o

excesso é guardado no tecido na forma de gordura corporal.

A obesidade refere-se à condição em que o indivíduo apresenta uma

quantidade excessiva de gordura corporal avaliada em porcentagem do peso total

(%G). Embora ainda não tenham sido estabelecidos valores exatos consideram-se

obesos limítrofes homens com 20 a 25% e mulheres com valores de 30 a 35% e

obesos propriamente ditos homens e mulheres com valores acima de 25% e 35%

respectivamente (WILMORE e COSTILL, 2001).

HEYWARD & STOLARCZKY (2000) sugerem que o valor médio de gordura

relativa para homens e mulheres é de 15% e 23%, considerando valores de 25%

para os homens e 32% para as mulheres como sendo valores de risco para doenças

associadas à obesidade.

GEORGE et. al. (1996), apresentam uma outra classificação por faixa etária

em 5 categorias que são: ideal, bom, médio, gordo e obeso.

A obesidade é uma enfermidade crônica que acompanha de múltiplas

complicações, caracterizada pela acumulação excessiva de gordura em uma

magnitude tal que compromete a saúde, explica o Consenso Latino Americano em

Obesidade. Entre as complicações mais comuns está o diabete mellitus, a

hipertensão arterial, as dislipidemias, as alterações osteomusculares e o incremento

da incidência de alguns tipos de carcinoma e dos índices de mortalidade.

A obesidade é ainda o resultado de ingerir mais energia que a necessária.

Page 20: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

19

Não há dúvidas que este consumo excessivo pode iniciar-se em fases muito remotas

da vida, nas quais as influências culturais e os hábitos familiares possuem um papel

fundamental. Por isso dizemos que a obesidade possui fatores de caráter múltiplo,

tais como os genéticos, psicosociais, cultural-nutricionais, metabólicos e endócrinos.

A obesidade, portanto, é gerada pela interação entre fatores genéticos e culturais,

assim como familiares.

Ainda de acordo com o Consenso, existe uma clara tendência entre os

membros de uma mesma família possuírem um índice de massa corporal (IMC)

similar. São várias as publicações científicas que demonstraram uma correlação

entre o IMC de pais e filhos, o que sugere que, provavelmente, tanto os genes como

um ambiente familiar compartilhado, contribuem ao desenvolvimento da obesidade.

O diagnóstico da obesidade , por muito tempo, foi feito levando em

consideração as medidas do peso e da altura, que eram então comparados com

tabelas padrão.

Estas tabelas foram desenvolvidas por companhias de seguro, ao longo de

um período pré-determinado, medindo o peso e a estatura média de grupos

populacionais específicos e por isto estão muito sujeitas a erros de interpretação.

Um modo melhor e mais preciso de se avaliar a obesidade envolve a

determinação do índice de massa corporal - IMC calculado através da fórmula: IMC

= Peso (kg) / (Altura, em metros quadrados).

O sobrepeso é definido como o peso corporal que excede o peso normal ou

padrão de uma determinada pessoa, baseando-se na sua altura e constituição física.

Os padrões começaram a ser estabelecidos em 1959 com a proposição de tabelas

de peso e estatura, que ainda hoje são amplamente utilizadas. Embora novas

tabelas tenham sido introduzidas em 1983, as suas faixas de variação são muito

amplas e muitos profissionais recusam-se a aceitá-las. As tabelas de peso padrão

baseiam-se em médias populacionais, por isso uma pessoa pode apresentar

sobrepeso segundo esses padrões e ainda apresentar um conteúdo de gordura

corporal abaixo do normal ou vice-versa.

Page 21: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

20

5.1.2 As causas da obesidade

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a obesidade pode ter um

impacto sobre a saúde tão grave quanto o tabagismo, sendo a mesma uma

epidemia causada pelo sedentarismo do mundo atual. Existem algumas patologias

que se associam à obesidade.

Para De Angelis (apud COSTA, 2005) os fatores de risco para doenças

degenerativas, como as cardiovasculares, aumentam vertiginosamente. De acordo

com estudos epidemiológicos, esse fato está associado aos hábitos de vida

sedentária e alimentação inadequada, portanto, a obesidade progride com

características de epidemia em muitos países principalmente no Brasil de forma

alarmante.

FISBERG et al, (2000) diz que as substituições das principais refeições por

lanches com alta densidade calórica e reduzido valor nutricionais, alto consumo de

refrigerantes, alimentos salgados e doces, ricos em gorduras saturadas e colesterol

e baixo consumo de frutas e hortaliças. Assim, as refeições acabam ficando

condicionadas aos alimentos de baixo valor nutricional e grandes excesso calóricos.

Alguns estudos mostraram que a televisão influência a dieta das crianças,

levando a duma composição excessiva em sal, carboidratos simples, gorduras

saturada ou trans esta influência acaba por ser transmitida aos lanches consumidos

nas escolas. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005).

A inatividade física é um fator crucial no acumulo excessivo de gordura

corporal Mcardle (apud COSTA, 2005) O aumento das diversões tecnológicas,

passivas, e a diminuição das práticas de exercícios físicos, contribuem para o estilo

de vida sedentário e diminuição do gasto energético Josué & Rocha (apud COSTA,

2005).

5.1.3 As conseqüências da obesidade

Muitos estudos têm sido desenvolvidos em vários países com o objetivo de

Page 22: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

21

verificar as relações existentes entre o excesso de gordura corporal e as doenças

crônico-degenerativas.

A obesidade é um sério problema de saúde, que já reduz a expectativa de

vida pelo aumento do risco de desenvolvimento de doença arterial coronariana,

hipertensão arterial, diabetes tipo II doenças pulmonar obstrutiva, osteoartrite e

certos tipos de câncer diz (GUEDES, GUEDES, 2002).

Coutinho (1998) classifica a obesidade quanto:

- À idade de início: na infância a partir de um ano de idade “... já podem

desenvolver-se casos de obesidade com tendência maior à hiperplasia adipocitária e

com maior propensão à resistência na vida adulta”. Durante a idade adulta em

relação às mulheres o aumento de peso está relacionado, freqüentemente, com a

gestação (principalmente aquelas que adquirem excesso de peso durante os três

primeiros meses da gravidez), os sujeitos do sexo masculino, freqüentemente

aumentam o peso depois de mudanças de estilo de vida, como o casamento.

- Quanto à fisiopatologia: pode ser hiperfágica- comer excessivamente –

podendo ou não ser a causa da obesidade; e metabólica-anormalidade hormonal

que determina um baixo metabolismo;

- Quanto à etiologia pode ser:

1- Neuroendócrina: problemas nas glândulas produtoras de hormônios de

ordem genética e/ou ambiental sendo a causa mais freqüente o hipotireoidismo;

2- Iatrogênica: causada por drogas como os psicotrópicos e corticosteróides

ou lesões hipotalâmicas;

3 - Desequilíbrios nutricionais: dieta hiperlipídica;

4- Inatividade física: baixo gasto calórico desfavorecendo o equilíbrio

metabólico energético;

5- Obesidade genética: doenças genéticas raras com características

disfórmicas.

Nos dias atuais e evolução das ciências e alta tecnologia em todas as áreas

de pesquisa e desenvolvimento procuram de certa forma facilitar a vida do homem

Page 23: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

22

na sociedade. Da mesma forma a busca pela longevidade e melhor qualidade de

vida, se tornam fatores de constantes estudos e motivo de pesquisas. Alguns

benefícios provenientes da evolução técnico-científica apesar de importantes para o

desenvolvimento humano, tendem a ser motivadores da diminuição dos níveis de

atividade física, favorecendo o aumento da ociosidade física humana.

Essa tendência do estilo de vida pouco ativo caso não seja revertida com

exercícios físicos regulares, e associados com dietas equilibradas e com controle

dos níveis de stress, principalmente nas grandes cidades, pode vir a desenvolver ao

longo dos anos problemas de ordem nutricionais, metabólicas e funcionais ao

organismo humano (BALL e MCCAR GAR, 2003).

Existe uma quantidade considerável de informações acerca dos níveis cada

vez maiores de gordura corporal e dos riscos específicos para a saúde em crianças,

adolescentes e adultos. A gordura corporal excessiva se relaciona intimamente com

o aumento alarmante no diabete tipo II entre crianças.

Para os diabéticos adultos, 70% são classificados como possuindo um peso

excessivo e cerca de 35% são obesos. Um relatório do NIH conclui que a obesidade

representa uma doença degenerativa crônica, por causa dos múltiplos perigos

biológicos para enfermidade prematuras e morte para níveis surpreendente baixos

excesso de gordura. Um aumento moderado de 4 a 10% no peso corporal após os

20 anos de idade está associado com um risco 1,5 vez maior de morte por doenças

arterial coronariana e infarto do miocárdio não fatal diz: (WILLIAM D. MC RDLE,

2001).

5.1.4 Aspectos epidemiológicos da obesidade

Atualmente, a obesidade constitui um dos grandes problemas da saúde

pública, problema este agravado devido a mudança no estilo de vida, tendo como

uma incidência de aproximadamente 10% na população do sexo feminino

(MARTORELL et al; 1998). No Brasil, existem aproximadamente 27 milhões de

indivíduos maiores de 18 anos com sobrepeso ou obesidade (PNSN, 1989).

Page 24: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

23

Resultados de um levantamento nacional acerca da prevalência do peso

excessivo definido por ocasião dessa publicação de 1994 com o IMC 127 entre os

adultos nos Estados Unidos, em comparação com o objetivo do governo o ano de

2000. Entre 1988 e 1991, um terço dos adultos com 20 a 74 anos de idade estavam

obesos.

As novas classificações estabelecidas em 18 de junho de 1998 pelo painel

de 24 membros qualificados, convocado pelo NATIONAL HEAR LUNG AND BLODE

INSTITUTE, definem agora o peso excessivo como um IMC de 25 a 29.9 e a o

obesidade como um IMC ≥ 30, como resultado desses novos padrões a prevalência

de peso excessivo e de obesidade em adultos aumentou para cerca de 100 milhões

de norte-americanos (55% dos adultos com 20 ou mais anos de idade, incluindo

35% de estudantes universitários.

Com base ao que os autores citaram definindo obesidade, ambos enfatizam

fatores que podem ser considerado adequado e iguais a cada definição. As causas

sempre serão as mesmas: inatividade acumulo e aumento de gordura, alimentação

inadequada.

Porém, observa-se também a busca e a preocupação de muitos

profissionais, diante da realidade exposta.

Do ponto de vista epidemiológico, para explicar as mudanças de hábitos

Escrivão et al. (2000, p. S306) afirmam que “tudo conduz às teorias ambientalistas,

uma vez que, nas últimas décadas, não ocorreram alterações substanciais nas

características genéticas de tais populações, enquanto que as mudanças de hábitos

foram enormes”. Para Taddei (1998) os jogos eletrônicos, o hábito de assistir

televisão muitas horas seguidas, o abandono do aleitamento materno, a utilização

de alimentos formulados na alimentação infantil e a substituição dos alimentos

domésticos pelos industrializados (em geral, com maior densidade energética,

devido à gordura saturada, mais saborosos e sempre acompanhados de forte

Soares & Petroski 68 Volume 5 – Número 1 – p. 63-74 – 2003 campanha de

estímulo ao consumo), são fatores que devem ser considerados determinantes do

aumento da prevalência da obesidade infantil. Rosenbaum e Leibel (1998) acreditam

Page 25: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

24

que esse aumento na prevalência representa a interação da genética com o meio

ambiente, que cada vez mais, encoraja ao estilo de vida sedentário e ao consumo

de calorias.

A obesidade é uma enfermidade multicausal (Yadav et al., 2000), que pode

ser conseqüência de diversos fatores genéticos, fisiológicos (endócrinos

metabólicos), ambientais (prática alimentar e atividade física) e psicológicos,

proporcionando o acúmulo excessivo de energia sob a forma de gordura no

organismo.

Sabe-se que a vasta maioria das crianças desenvolve a obesidade do tipo

exógena (Leung & Robson, 1990; Sigulem et Al., 2001; Gomes, 2000), que é

resultado do excesso de calorias consumidas em relação ao dispêndio energético

diário. Esse desequilíbrio energético, segundo Coutinho (1998), pode ser causado

por dietas hiperlipídicas, principalmente gorduras saturadas, e por inatividade física.

Leung e Robson (1990) acreditam que além do consumo excessivo de gordura e o

baixo gasto energético a obesidade pode estar relacionada ao metabolismo eficiente

(que não consome muitas calorias para a realização das tarefas diárias), ou até

mesmo a combinação dos três fatores. Eles citam ainda estudos que relacionam a

obesidade infantil com o desmame precoce associado à introdução da mamadeira e

alimentos sólidos, os quais contêm alta concentração de solutos que provocam sede

na criança, que é recompensada com mais leite, tornando-se assim um ciclo vicioso

de calorias ingeridas.

5.1.5 Prevenção da obesidade

A prevenção da obesidade é relativamente simples e consiste em equilibrar

a ingestão calórica com o dispêndio energético. Se um indivíduo ingerir 3.000

Kcal/dia e gastar 3.000 Kcal/dia (incluindo o metabolismo basal) este manterá seu

peso corporal. Se o indivíduo ingerir 3.000 Kcal/dia, mas apenas gasta 2.000

certamente engordará e se o indivíduo ingere 3.000 Kcal dia e gasta 4.000

emagrecerá.

Page 26: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

25

O gasto energético é o resultado do metabolismo energético de repouso, o

efeito térmico dos alimentos e da atividade muscular. O metabolismo energético de

repouso é aproximadamente 1 Kcal por hora por quilograma de peso corporal.

Contudo, é menor em indivíduos com altas quantidades de gordura corporal, pois o

tecido adiposo possui menor atividade metabólica do que o tecido magro. A

assimilação e a absorção dos alimentos é um processo energético dependente

conhecido como efeito térmico dos alimentos, e representa de 5 a 10% das calorias

consumidas (CHIESA, 2004).

A mais variável fonte de consumo energético é a atividade muscular.

Indivíduos sedentários podem não gastar mais do que 200 a 300 Kcal por dia nas

atividades da vida diária, por outro lado, indivíduos engajados em programas de

exercício estruturado podem consumir várias centenas e até milhares de Kcal por

dia. Competidores do ciclismo podem necessitar consumir de 6.000 a 8.000 Kcal por

dia para manter o balanço energético.

Quando um indivíduo já é obeso o problema é mais complicado e precisa

passar por um programa de exercícios adequados associados com dieta. e o

indivíduo for exageradamente obeso (obesidade mórbida) provavelmente precisará

de tratamento medicamentoso, cirúrgico, psicológico ou uma mistura destes

(CHIESA, 2004).

5.2 Obesidade infantil

A prevalência da obesidade de crianças e adolescentes tem aumentado

regularmente em diversos países e é hoje reconhecida como um problema de saúde

pública principalmente em países desenvolvidos (BALL. MC CARGAR, 2003). A

probabilidade de uma criança obesa tornar-se um adulto obeso varia entre 20-50%,

antes da puberdade e de 50-70%, após a puberdade.

Segundo (HEUDE, CHARLES, 2001), nos Estados Unidos estima-se que

morrem cerca de trezentas mil pessoas por ano devido as causas da obesidade

(ALLISON et al, 1999). A notável prevalência da obesidade observada nos últimos

Page 27: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

26

30 anos sugere que o estilo de vida, mais que o fator genético, pode ser responsável

primário, estudos confirmam que a atividade física é um forte produto preventivo das

alterações da gordura corporal durante a infância (MOORE, et al, 2003 FONSECA,

et al, 1998).

O excesso de peso na infância, segundo Salbe & Ravussin (2000), acontece

geralmente por uma combinação de fatores, incluindo hábitos alimentares errôneos,

propensão genética, estilo de vida familiar, condição sócioeconômica, fatores

psicológicos e etnia.

Em relação ao tempo que a obesidade permanece instalada na infância

Escrivão e Lopes (1998) afirmam que o risco da criança obesa tornar-se adulto

obeso aumenta acentuadamente com a idade, dentro da própria infância.

Assim, quanto mais idade tem a criança obesa maior chances terão de se

tornar um adulto obeso. Uma vez estabelecido o número de adipócitos, as perdas de

peso só se fazem à custa de perda de conteúdo lipídico por célula, mas não pela

diminuição do número de células.

Esses mesmos autores ainda chamam a atenção para o fato de que muitos

pais negligenciam o tratamento da obesidade infantil, na expectativa de uma

resolução espontânea; entretanto o risco de persistir é elevado.

A obesidade infantil vem crescendo consideravelmente nestas últimas duas

décadas. Diante desta verdadeira “epidemia” de obesidade a que se assiste nos dias

de hoje e frente ao fato de que o quadro da obesidade é extremamente complexo no

que diz respeito às suas repercussões nos diversos sistemas orgânicos, o

tratamento deve ser instituído a partir do instante em que se diagnostica o problema;

não há lugar para adiamentos ou negligência ou ter a perspectiva de que o problema

resolver-se-á por si só.

Para combater a obesidade infantil existe um consenso entre os

especialistas da área que incluem a mudança de comportamento, dieta equilibrada,

sem grandes restrições alimentares, combinada com exercícios físicos diários

Page 28: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

27

(Pollock & Wilmore, 1993; Dietz, 1998; Dâmaso et al.,1995, Behrman & Kliegman,

1994). Certamente pode ser considerada a melhor maneira de conduzir o problema.

Considerando que “o conhecimento do crescimento e desenvolvimento

normais das crianças é essencial à prevenção e detecção de doenças por

reconhecer desvios evidentes dos padrões normais” (Foye & Sulkes 1994, p.1),

As estimativas apontam que, no Brasil, o número de crianças obesas

cresceu cinco vezes nos últimos 20 anos. No mundo, as estimativas são que um

terço das crianças enfrentam problemas com a obesidade, um número em torno de

700 milhões de crianças. Este aumento se deve, principalmente, a dois motivos: a

ingestão de alimentos com mais gordura e açúcar e à falta de exercício físico. Junto

com a urbanização vieram novos hábitos, nem sempre saudáveis, como as refeições

altamente calóricas e feitas de forma rápida; e a troca das brincadeiras tradicionais,

como o pique e queimada, por jogos no computador e programas de televisão.

Os especialistas consideram a falta de atividade física da criança urbana

como uma das principais causas da atual epidemia de obesidade infantil. Um estudo

realizado no México mostrou que para cada hora de atividade física moderada ou

forte praticada diariamente pela criança, o risco de obesidade caiu 10%. Outra

pesquisa feita nos Estados Unidos indicou que as crianças que praticam alguma

atividade física são mais magras que as outras que se movimentam pouco.

Na ordem inversa em que ganha peso, a criança vai diminuindo sua auto-

estima, catalisando a angústia e a ansiedade, que quase sempre só encontram eco

na gula. Daí a importância de um acompanhamento psicológico, paralelamente ao

de um endocrinologista e do Profissional de Educação Física.

Prevenir a obesidade é de suma importância para o desenvolvimento da

criança. Caso chegue à fase adulta com excesso de peso, ela terá mais dificuldades

para perder peso e terá aumentado o risco de várias doenças. (FARINATTI, 2005)

Page 29: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

28

5.2.1 As causas da obesidade infantil

A obesidade causa problemas psicossociais como discriminação e aceitação

diminuída pelos pares; isolamento e afastamento das atividades sociais; o que é

visto pelos estudiosos como a pior conseqüência, pois irá seguir o sujeito pelo resto

da vida (Sigulem et al., 2001; Fisberg, 1995).

A ingestão de alimentos com mais gordura e açúcar e a falta de exercícios

físicos o desenvolvimento tecnológico e a ênfase no trabalho intelectual fizeram com

que as crianças gastassem menos energia, ficando horas à frente da televisão.

A inatividade é uma causa importante de obesidade, podendo ser de fato,

um fator muito mais importante no desenvolvimento da obesidade do eu a

alimentação exagerada. Por essa razão o exercício físico deve ser reconhecido

como um componente essencial de qualquer programa de redução ou de controle de

peso examinemos as razões pelas quais a atividade física é tão importante.

5.2.2 Conseqüências da obesidade infantil

As conseqüências das alterações metabólicas que ocorrem na obesidade

podem ser muito extensas e intensas, além de muito variadas, atingindo

praticamente todos os sistemas orgânicos. Todavia, podem ser reversíveis desde

que se consiga a redução de peso e desde que as estruturas orgânicas acometidas

não tenham sofrido danos anatômicos irreparáveis.

A morbidade associada à obesidade pode ser A morbidade associada à

obesidade pode ser identificada já no adolescente.

Os problemas causados pela obesidade em longo prazo são, contudo,

previsíveis:

- Crescimento: idade óssea avançada, aumento da estatura, menarca

precoce;

-Respiratórias: apnéia de sono, Síndrome de Pickwick, infecções;

Page 30: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

29

-Cardiovasculares: hipertensão arterial hipertrofia cardíaca, morte súbita;

-Ortopédicas: epifisiólise da cabeça femoral, genu valgo, coxa vara,

osteoartrite;

-Dermatológicas: micoses, estrias, lesões de pele como dermatites e

piodermites particularmente em região de axilas e ingüinal;

-Metabólicas: resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2,

hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, gota úrica, esteatose hepática, doença dos

ovários policísticos (síndromes hiperandrogênicas), com oligomenorréia ou

amenorréia.

Identificada já no adolescente. Viuniski (2000) destaca diversos fatores de

risco para a obesidade infantil:

* A inatividade e o sedentarismo: nada imobiliza mais a criança saudável que

a televisão. Para agravar essa situação, as crianças são submetidas a um

bombardeio de propagandas, a maioria de guloseimas, que soma à inatividade, o

mau hábito de comer diante da tela. Como essa criança está profundamente

envolvida com o mundo irreal que se passa do outro lado do tubo de imagem, não

se dá conta da quantidade nem da qualidade do que está ingerindo;

* O uso inadequado dos alimentos: é preocupante quando as crianças

passam a interessar-se mais pela aparência e sabor dos alimentos do que pela fome

propriamente dita. Pior é utilizar a comida como forma de recompensa. Quando os

doces e as sobremesas são usados com esse fim, inconscientemente estar-se-á

mostrando que a comida é uma forma de aumentar a auto-estima. Frases como -

“Coma toda a sopa para ganhar a sobremesa”- são um exemplo disso. O ser

humano é o único na natureza a utilizar o ato de se alimentar para outros fins que

não o de obter nutrientes necessários para o seu desenvolvimento;

* Comer noturno: falta de apetite durante o dia, principalmente pela manhã,

com voracidade à noite pode ser encontrado em crianças com um distúrbio alimentar

conhecido com o sugestivo nome de “Comedores Noturnos”. Essa conduta alimentar

ocorre basicamente pela ansiedade de ficar sem ter o que fazer no período da noite;

* Desnutrição na vida intra-uterina até o primeiro ano de vida: quando existe,

por qualquer motivo, desnutrição do feto, ainda dentro do útero, principalmente se

isso ocorrer após a 30 semana de gravidez e durar até o primeiro aniversário, irá

Page 31: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

30

ocorrer um estímulo para a produção das células de gordura, os adipócitos. Quando

crescerem, serão muito mais acometidos de diabetes tipo II, hipertensão e

cardiopatias, que as crianças que não passaram por privações nessa fase inicial da

vida;

* Manejo deficiente da amamentação e do desmame: o leite da própria mãe

é o alimento ideal para o seu bebê. A Organização Mundial da Saúde e a Sociedade

Brasileira de Pediatria recomendam que ele seja oferecido de forma exclusiva até os

4 ou 6 meses.

* Manejo deficiente das fases fisiológicas de inapetência: nada preocupa

mais um pai ou uma mãe, do que seu filho recusar o alimento. O que eles não

sabem é que em alguns momentos da vida pode ser bastante normal ter menos

fome. Dependendo da maneira com que lidam com essas situações, podem estar

facilitando para desencadear um processo de ganho exagerado de peso.

Além dos fatores comportamentais e ambientais associados à obesidade é

importante observar se a criança já possui pré-disposição genética. De fato estudos

com gêmeos sugerem que, pelo menos, 50% da tendência de desenvolver

obesidade é herdado geneticamente (KIESS et al.,2000).

O sobrepeso e a obesidade estão associados a um aumento da taxa global

de mortalidade. Um aumento importante do risco ocorre quando o IMC ultrapassa 30

kg/m2, embora um IMC de 27,8 ou mais, nos homens é de 27,3 ou mais, nas

mulheres, esteja associado a um maior risco para muitas doenças.

5.2.3 O tratamento da obesidade infantil

As bases fundamentais para o tratamento da obesidade infantil são

unânimes entre os especialistas. Incluem modificações no plano alimentar, no

comportamento e na atividade física (Gomes, 2002; Sigulem et al., 2001; Escrivão et

al., 2001; Kiess, 2000; Dietz, 1998; Fisberg, 1995; Caldarone et al., 1995).

Para iniciar o tratamento da obesidade infantil é muito importante dispor de

equipe multiprofissional (Dâmaso et al., 1995) formada de médico, nutricionista,

Page 32: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

31

educador físico e psicólogo. O tratamento é longo, por isso é desejável que o

relacionamento da equipe com o paciente seja integrado. Segundo Escrivão et al.

(2000) as noções de tempo não são claramente entendidas pelas crianças e

adolescentes, portanto, não se deve apontar os riscos futuros da obesidade, e sim

avaliar as implicações atuais, ou seja, as conseqüências do excesso de peso que

estão incomodando no momento.

* Quanto ao plano Alimentar:

Quanto à reeducação alimentar, devem ser sugeridas dietas flexíveis e que

atendam às necessidades nutricionais da criança, pois dietas muito rígidas e

restritas mostram-se ineficientes, proporcionando prejuízo ao crescimento e

desenvolvimento da criança, menor adesão ao tratamento e maior angústia no caso

de insucesso (Vitolo & Campos, 1998), o que acarreta ansiedade e depressão na

maioria das crianças.

A orientação dietética deve ser feita de forma a proporcionar os seguintes

elementos: perda de peso controlada; crescimento e desenvolvimento normais da

criança e adolescentes; macro e micronutrientes em proporção adequada; redução

do apetite; manutenção do tecido muscular; ausência de conseqüências

psicológicas; manutenção dos hábitos alimentares corretos e modificação dos

inadequados (Escrivão et al., 2000).

O perigo potencial da dieta, apontado por Zwiauer (2000), é em relação às

crianças que ainda não iniciaram o estirão de crescimento. O objetivo do tratamento

deve ser a normalização da relação peso/estatura, que pode ser atingida apenas

com o crescimento e a manutenção do peso corporal, e o cuidado têm que ser

dobrado para que não prejudique o crescimento do indivíduo.

A orientação nutricional é essencial no tratamento da criança e adolescente

obeso porque visa à reformulação permanente do hábito alimentar a fim de evitar

possíveis conseqüências que a obesidade na idade adulta possa acarretar.

A dieta instituída deve ser adequada à idade e fase de crescimento,

Page 33: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

32

considerando os padrões sócio-econômicos e culturais da criança e da família. Para

tanto, é necessário que se conheça o histórico alimentar da criança obesa e de sua

família.

*Quanto ao Comportamento:

Um dos fatores que mais têm contribuído para o aumento da incidência de

obesidade é a falta de atividade física como também o aumento da inatividade, ou

seja, as crianças estão passando mais tempo em atividades de pouco gasto

energético (Dietz, 1998). Não se pode ignorar que a falta de segurança e a pouca

disponibilidade de tempo dos pais impedem o acesso das crianças às brincadeiras

nas praças, ruas e parques (Gidding et al, 1995). O lazer restringe-se às atividades

sedentárias como assistir à televisão, jogar vídeo-games e acessar a internet.

Na escola, a estimulação da atividade física nas aulas de Educação Física

poderia ser melhorada se houvesse preferência por atividades não competitivas, já

que nestas as crianças obesas são excluídas, até mesmo pelos colegas (Zwiauer,

2000). Programas especiais, respeitando os limites e reconhecendo habilidades

deste grupo de alunos, poderiam ser desenvolvidos a fim de promover ou aumentar

a participação das crianças nesta disciplina.

* Quanto à Atividade Física:

Segundo Epstein et al., (1996) em seus estudos indica que a atividade física

em combinação à dieta é mais efetiva que a dieta sozinha para a redução e

manutenção do peso. Exercícios auxiliam a preservação da massa magra durante a

dieta e podem minimizar a redução da taxa metabólica associada à redução do

peso.

O programa de atividades físicas para a criança obesa, implica em

atividades desenvolvidas de acordo com a capacidade individual, pois este é o fator

determinante para que haja adesão da criança ao programa, garantindo assim o

sucesso do tratamento. Os exercícios recomendáveis são:

Page 34: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

33

- Caminhadas, natação, ciclismo (os exercícios aeróbicos de modo geral);

exercícios respiratórios;

- Exercícios posturais (preventivo e de manutenção) principalmente no

estirão de crescimento,

- Exercícios de força e resistência;

- Exercícios de coordenação motora geral e específica;

- Exercícios de equilíbrio.

As atividades não recomendadas são as de alto impacto (como saltos e

mudanças bruscas de direção), que aumentam o risco de lesões (devido à

sobrecarga articular) e condições que provoquem desconforto, como por exemplo:

calor, pouca ventilação, roupa inadequada para prática esportiva.

Quanto ao programa a ser desenvolvido (Dâmaso, et al. 1995), sugere:

- Freqüência: 3 a 5 vezes por semana;

- Intensidade: 50 a 60% do VO2 máx;

- Duração: 50 a 60 minutos;

- Período mínimo 12 semanas.

O programa deve ser realista, com metas atingíveis e flexíveis de acordo

com a necessidade e capacidade de cada sujeito. LeMura e Maziekas (2002), em

um estudo sobre os fatores que alteram a composição corporal, chegaram à

conclusão que os exercícios eficientes para alterar a composição corporal de modo

positivo (diminuir o percentual de gordura e aumentar a massa livre de gordura) em

crianças obesas, são os exercícios de baixa intensidade e longa duração; exercícios

aeróbicos combinados com resistência (grande número de repetições) e exercícios

programados combinados com a mudança de comportamento.

Para que todo o programa relacionado ao tratamento funcione Epstein et al.

(1996) enfatiza que é necessário mudança do estilo de vida sedentário para o ativo.

Para que isto ocorra é preciso que toda a equipe motive tal mudança de

comportamento. O melhor método é reduzir o acesso ao sedentarismo, ou seja,

motivar a criança a fazer outra atividade, que não seja estática.

Page 35: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

34

* Quanto ao Tratamento Farmacológico:

Em relação ao tratamento farmacológico, Dietz (1998) relata que poucos

estudos foram realizados. Para Fisberg (1995), o uso não é recomendável, pois

pode atrapalhar no desenvolvimento. Escrivão et al. (2000, p. 309) afirmam que “a

terapia medicamentosa não deve ser utilizada no tratamento da obesidade infantil

devido aos efeitos colaterais das drogas e risco de dependência química e/ou

psicológica”.

5.2.4 Prevenção da obesidade infantil

A obesidade na infância está fortemente relacionada com a obesidade na

vida adulta.

Segundo Vitolo e Campos (1998), “... a intervenção deve ocorrer

precocemente na criança, antes mesmo de instalada a obesidade, quando se

observam mudanças na velocidade do ganho de peso”. Esses mesmos autores

relatam que quanto maior a idade da criança e maior o excesso de peso, mais difícil

torna-se a reversão do quadro. Em estudo longitudinal realizado por Freedman et al.

(2001), correlacionou-se a obesidade infantil com os fatores de risco para

desenvolver problemas coronarianos na vida adulta. O resultado encontrado foi que

70% das crianças obesas tornaram-se adultos obesos. A obesidade infantil foi

relacionada com diversos níveis de risco para os adultos, mas a associação para o

risco coronariano foi fraca. Para Freedman et al. (2001), é muito importante que se

inicie a prevenção desde a infância.

Wright et al. (2001) verificaram as implicações da obesidade infantil na

saúde dos adultos. Os resultados apresentados foram que apenas as crianças que

permaneceram obesas até os treze anos, mostram risco aumentado de obesidade

para a vida adulta. A conclusão foi que ser uma criança com peso saudável não

oferece nenhuma propensão de se tornar um adulto obeso.

Segundo Kiess et al. (2001) a prevenção deve começar bem cedo, de

Page 36: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

35

preferência na fase intra-uterina. A estratégia deve ser elaborada juntamente com a

equipe multidisciplinar (médico, nutricionista e educador físico), para que durante a

gravidez a mulher realize atividade física moderada e execute a alimentação

adequada tanto para o desenvolvimento do bebê, para o seu bem estar. Depois do

nascimento a amamentação deve ser fortemente recomendada, pelo menos até o

sexto mês de vida. Os pais devem ser encorajados a ter uma alimentação saudável

(o que inclui baixo nível de gordura saturada), com horários e lugares certos para se

alimentarem. Atividades físicas, que não incluam só exercícios, mas também manter

hábito de vida não sedentário, o que implica em não passar grande parte do dia na

frente da televisão ou no computador.

Para o Consenso Latino Americano de Obesidade (Coutinho et al., 1998) a

prevenção está em evitar o ganho de peso excessivo durante a gestação (o ideal é

de 10 a 12 Kg); favorecer a amamentação materna absoluta pelo menos até o

quarto mês; retardar a introdução de alimentos farináceos pelo menos até o quarto

mês; evitar alimentos muito doces; fortalecer a atividade física; controlar e vigiar

constantemente o peso corporal; promover educação nutricional e hábitos de vida

saudáveis; e enfatizar que a obesidade é uma enfermidade de difícil cura e que

todos devem lutar por sua prevenção.

5.3 Desenvolvimento físico da criança

O homem desde a fecundação até a adolescência, obedece a um processo

de contínuo desenvolvimento físico, psíquico e social. Respeitando as fases do

desenvolvimento da criança, as atividades físicas podem desempenhar um

harmônico desenvolvimento morfofuncional do organismo. A criança não pode ser

educada em duas etapas isoladas, ou seja, primeiro o corpo e depois a mente ou

vice-versa. A educação deve ser integral. (FREIRE, 1991, p. 57).

Para a criança iniciar-se nas atividades físicas é necessário que seu

organismo tenha atingido determinado desenvolvimento psicomotor e um certo grau

de intelectualidade, a fim de que possa melhor compreender e interpretar as normas

e regras que regem tais atividades físicas.

Page 37: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

36

No Brasil a idade de iniciação sistemática da criança na prática da Educação

Física e do Esporte se localiza entre os seis e sete anos de idade, nas fases pré-

escolar e escolar. Atualmente com a Lei de Diretrizes e Base nº 9394/94 que

garantem o atendimento da criança em todas as fases escolar, onde o profissional

de Educação Física trabalha atividades que visam desenvolver as habilidades

básicas e necessárias para colaborar com um bom desempenho físico das crianças.

O início da atividade física envolve problemas a respeito do crescimento

normal do organismo e deve corresponder a uma boa adaptação orgânica da

criança para não provocar o aparecimento de perturbações do desenvolvimento e

que possam ocasionar danos ao indivíduo. Por isso é importante conhecer o

desenvolvimento fisiológico do organismo infantil.

5.3.1 Desenvolvimento fisiológico

Com ingresso da criança na escola dar-se a iniciação da atividade física

escolar, neste momento o desenvolvimento fisiológico da criança passa pelas

seguintes fases:

5.3.2 Fase pré-escolar

Nesta fase (dois a sete anos) o crescimento em peso e em altura decorre de

maneira lenta e paralelamente, enquanto a psicomotricidade apresenta visível

evolução permitindo à criança participar e progredir rapidamente em todas as

atividades físicas naturais, como andar, correr e saltar. Ela aprende também a

cuidar-se, é rebelde, egoísta e pouco sociável. A Educação Física e o Esporte,

quando adequadamente ministrados nessa fase, na qual a criança apresenta grande

atividade física contribuem para determinar um conveniente desenvolvimento

orgânico e funcional, a par de influírem favoravelmente no seu desenvolvimento

psíquico e intelectual, proporcionando-lhe maior desembaraço mental e de

comunicação.

Page 38: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

37

5.3.3 Fase escolar

Nesta fase (sete a 12 anos para meninos e sete a 10 para as meninas), o

crescimento geral é também lento, com discreto aumento das massas musculares.

Faz exceção a função respiratória, que atinge índices representativos de um maior

desenvolvimento em relação às outras funções orgânicas. A psicomotricidade

também apresenta notáveis progressos. Quanto ao psiquismo, há uma evolução

natural tornando a criança mais disciplinada, responsável e sociável.

5.4 Atividade física na infância

Atualmente a atividade física e saúde vem se constituindo em uma das mais

importantes áreas de estudo e pesquisa. Isso se evidência pela enorme quantidade

de ensaios experimentais que vem sendo publicados na literatura, cujos interesses

são verificar os efeitos benéficos da atividade física sob variáveis fisiológicas,

metabólicas, morfológicas e psicológicas. (PINTO et al, 2003, FARINATTI et al,

2005).

Praticar atividade física é indispensável para um emagrecimento saudável

em crianças. A tese de doutorado do Profissional de Educação Física Maurício

Maltez (apud FARINATTI, 2005) prova isto. Ele acompanhou 39 crianças obesas,

das quais 18 fizeram apenas dieta e 21, dieta combinada com exercício. As do

primeiro grupo não alcançaram a resposta vasodilatadora comum aos magros

sedentários, como as do segundo grupo (FARINATTI, 2005).Em seu estudo, o Dr.

Maurício Maltez aponta que, a obesidade infantil está associada a conseqüências

negativas para a saúde da criança e do adolescente, incluindo dislipidemias,

inflamações crônicas, aumento da tendência a coagulação sangüínea, disfunção

endotelial, resistência a insulina, diabetes tipo 2, hipertensão, complicações

ortopédicas, alguns tipos de cânceres, apnéia do sono, estatohepatite não alcoólica,

quadro psicológico conturbado e diminuição da auto-estima.

Em crianças e adolescentes, um maior nível de atividade física contribui para

melhorar o perfil lipídico e metabólico e reduzir a prevalência de obesidade. Ainda, é

Page 39: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

38

mais provável que uma criança fisicamente ativa se torne um adulto também ativo.

Em conseqüência, do ponto de vista de saúde pública e medicina preventiva,

promoverem a atividade física na infância e na adolescência significa estabelecer

uma base sólida para a redução da prevalência do sedentarismo na idade adulta,

contribuindo desta forma para uma melhor qualidade de vida. Nesse contexto,

ressaltamos que a atividade física é qualquer movimento como resultado de

contração muscular esquelética que aumente o gasto energético acima do repouso e

não necessariamente a prática desportiva. (GUYTON, 1988, p. 31).

Foi elaborado um documento por médicos especialistas em exercício e

esporte, baseia-se em conceitos científicos e na experiência clínica, tendo como

objetivos:

1) estabelecer os benefícios da atividade física na criança e no adolescente;

2) Caracterizar os elementos de avaliação e prescrição do exercício para a

saúde nessa faixa etária;

3) estimular a recomendação e a prática da atividade física nas crianças e

adolescentes, mesmo na presença de doenças crônicas, visto que são raras as

contra-indicações absolutas.

O objetivo principal da prescrição de atividade física na criança e no

adolescente é criar o hábito e o interesse pela atividade física, e não treinar visando

desempenho. Dessa forma, deve-se priorizar a inclusão da atividade física no

cotidiano e valorizar a educação física escolar que estimule a prática de atividade

física para toda a vida, de forma agradável e prazerosa, integrando as crianças e

não discriminando os menos aptos.

A competição desportiva pode trazer benefícios do ponto de vista

educacional e de socialização, uma vez que proporciona experiências de atividade

em equipe, colocando a criança frente a situações de vitória e derrota. Entretanto, o

objetivo de desempenho, principalmente quando há excessivas cobranças por parte

de pais e treinadores, pode trazer conseqüências indesejáveis, como a aversão à

atividade física. Por essa razão, o componente lúdico deve prevalecer sobre o

competitivo quando da prescrição de atividade física para as crianças.

Page 40: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

39

Igualmente importante é oferecer alternativas para a prática do desporto, de

forma a contemplar os interesses individuais e o desenvolvimento de diferentes

habilidades motoras, contribuindo para o despertar de talentos.

Um programa formal de atividade física deve treinar pelo menos três

componentes: aeróbico, força muscular e flexibilidade, variando a ênfase em cada

um de acordo com a condição clínica e os objetivos de cada criança. Quando o

objetivo é o condicionamento aeróbico, a prescrição deve contemplar as variáveis

tipo, duração, intensidade e freqüência semanal, obedecendo aos princípios gerais

de treinamento.

O treinamento muscular deve ser realizado com cargas moderadas e maior

número de repetições, valorizando o gesto motor, uma vez que este tipo de atividade

contribui para o aumento da força muscular e massa óssea. O risco de lesões

osteoarticulares em crianças que realizam trabalhos de sobrecarga muscular é na

verdade menor do que o relacionado com esportes de contato, desde que seja

realizado com cargas submáximas sob supervisão profissional adequada.

Em relação à flexibilidade, seu treinamento deve envolver os principais

movimentos articulares e ser realizado de forma lenta até o ponto de ligeiro

desconforto e então mantidos por cerca de 10 a 20 segundos.

A implementação da atividade física na infância e na adolescência deve ser

considerada como prioridade em nossa sociedade. Dessa forma, recomendamos

que:

1) Os profissionais da área de saúde devem combater o sedentarismo na

infância e na adolescência, estimulando a prática regular do exercício físico no

cotidiano e/ou de forma estruturada através de modalidades desportivas, mesmo na

presença de doenças, visto que são raras as contra-indicações absolutas ao

exercício físico;

2) Os profissionais envolvidos com crianças e adolescentes que praticam

atividade física devem priorizar seus aspectos lúdicos sobre os de competição e

evitar a prática em temperaturas extremas;

Page 41: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

40

3) A educação física escolar bem aplicada deve ser considerada essencial e

parte indissociável do processo global de educação das crianças e adolescentes;

4) Os governos, em seus diversos níveis, as entidades profissionais e

científicas e os meios de comunicação devem considerar a atividade física na

criança e no adolescente como uma questão de saúde pública, divulgando esse tipo

de informação e implementando programas para a prática orientada de exercício

físico.

5.5 Objetivos da Educação Física como Educação para a Saúde

Considerando:

Que a Declaração de Olímpia sobre Nutrição e Aptidão Física,

desenvolvida na III Conferência Internacional sobre Nutrição e Aptidão Física (1996)

confirmou no art. 2º. que "todas as crianças e adultos necessitam de alimentos e

atividades físicas para expressar seus potenciais genéticos de crescimento,

desenvolvimento e saúde".

Que o Programa Vida Ativa, promovido pela Organização Mundial de

Saúde (WHO/ 1998), reconhecendo a importância da atividade física para a saúde

das pessoas, estabelece como prioridade que o mesmo atinja principalmente

crianças e jovens.

Que estudos científicos mostram que uma atividade física regular é

essencial para um melhor cuidado na maturação de crianças e adolescentes;

Que o Manifesto de São Paulo (1999) para a Promoção da Atividade

Física nas Américas, endossado pelo Conselho Internacional de Ciência do Esporte

e Educação Física (ICSSPE) e pela Organização Mundial de Saúde (WHO), e

Centro de Estudos do Laboratório da Aptidão Física de São Caetano (CELAFISCS/

Brasil) partindo dos pressupostos que:

a) o comportamento sedentário na vida moderna, em escala global, exige

uma re-significação nas relações da pessoa consigo mesma, com o outro e o meio

ambiente, prejudicando a saúde das pessoas e podendo interferir negativamente no

desenvolvimento de suas ralações sócio-culturais e ecológicas;

Page 42: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

41

b) a atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente

de contração muscular, como dispêndio energético acima do repouso e constitui-se

como um comportamento humano complexo, voluntário e autônomo, com

componentes e determinantes de ordem biológica e psico-sócio-cultural e que pode

ser exemplificada pelas práticas do esporte, exercícios físicos, danças e

determinadas experiências de lazer e atividades utilitárias;

c) em termos epidemiológicos, as evidências científicas confirmam o papel

decisivo da prática da atividade física regular na prevenção e controle de diversas

doenças e na promoção da saúde e qualidade de vida em todos os grupos;

Recomendam aumentar as oportunidades para a iniciação e manutenção de

comportamentos ativos, ao longo do ciclo vital, na perspectiva de auto-realização e

modo de vida saudável e alegre, tendo como referência básica de intervenção, a

prática de atividades físicas moderadas, preferencialmente todos os dias da semana,

em uma única sessão diária de 30 minutos ou acumulando duas ou três sessões de

10-15 minutos.

Que a III Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários

Encarregados da Educação Física e do Esporte-MINEPS III (1999), ao reforçar a

importância da Educação Física e do Esporte como direito das crianças e jovens do

mundo e suas funções levando as pessoas a se manterem ativas e com sua saúde

Que a Declaração sobre a Significância do Esporte para a Sociedade: Saúde,

Socialização, Economia, produzida na 8a. Conferência de Ministros Europeus

Responsáveis pelo Esporte, reconheceu a Saúde como um dos princípios citados

como prioritários para as atividades físicas.

Ao longo de sua vida e ainda reconhecendo-os como meios essenciais

para a melhoria da qualidade de vida, a saúde e o bem estar de todas as pessoas,

independentemente de fatores como capacidades ou incapacidades, sexo, idade,

origem cultural, racional ou etnia, religião ou posição social;

Que um estilo de vida sedentário poderá trazer como conseqüência

uma variedade de distúrbios vasculares e metabólicos, aterosclerose, hipertensão

arterial, diabete e outros malefícios, enquanto que uma atividade física regular trará

para as pessoas um menor risco nestes distúrbios;

Page 43: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

42

Que um estilo de vida ativo, baseado numa prática constante de

exercícios físicos, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, é reconhecido

como um dos melhores meios de promoção de saúde e qualidade de vida, inclusive

combatendo os diversos estresses da vida diária.

Que o Conselho Internacional para a Ciência do Esporte e Educação

Física (ICSSPE) no Documento Final do evento chamado World Summit on Physical

Education (Berlim/ 1999), levantou na literatura que:

a) uma vida ativa na infância afeta diretamente e de modo positivo a saúde

na idade adulta;

b) devido às circunstâncias da vida moderna (televisão, computador,

automóvel, elevadores etc.), a atividade física se reduziu em crianças e adultos;

c) vários estudos confirmam que a manutenção da forma física através de

uma prática moderada de atividades físicas. longevidade, reduzindo o risco de

hipertensão coronária, enfermidades do coração, câncer de cólon e depressão

psíquicas;

d) a redução da atividade física pode aumentar o aparecimento de

enfermidades crônicas, seja indiretamente pelo aumento de peso ou diretamente

como fator de risco independente;

e) o fortalecimento dos músculos, dos ossos e da flexibilidade das

articulações são muito importantes para a coordenação motriz, o equilíbrio e as

mobilidades necessárias para as tarefas do cotidiano, que diminuem com o aumento

da idade, em parte pela diminuição gradual da atividade física (Fórum Mundial de

Quebec /1995);

f) a atividade física ao desempenhar o papel relevante na prevenção de

enfermidades físicas (enfermidades nos vasos coronários, diabetes, câncer de cólon,

obesidade e osteoporose) e enfermidades mentais (depressões e stress), pode

enriquecer consideravelmente a vida social e o desenvolvimento de capacidades

sociais, além de favorecer a auto-estima das pessoas (Fórum de Quebec/ 1995).

A FIEP conclui:

Art. 7- A Educação Física, para que exerça sua função de Educação para a

Saúde e possa atuar preventivamente na redução de enfermidades relacionadas

Page 44: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

43

com a obesidade, as enfermidades cardíacas, a hipertensão, algumas formas de

câncer e depressões, contribuindo para a qualidade de vida de seus beneficiários,

deve desenvolver hábitos nas pessoas de prática regular de atividades físicas.

(FIEP–Manifesto Mundial da Educação Física, 2000, p. 1).

5.6 Inserção do professor de Educação Física no programa de saúde da

família

A Educação Física (EF) é uma ciência que nas últimas décadas vem se

estruturando, conseguindo se configurar como uma importante área de estudos e

pesquisa. E uma de suas subáreas que cada vez mais vem ganhando destaque, nos

últimos vinte anos, é a de atividade física (AF) e promoção da saúde, principalmente

pela enorme quantidade de trabalhos que vem sendo publicado no meio científico.

(PITANGA, 2002).

A nova evidência vem comprovando cada vez mais, a importância e

contribuição da atividade física para a melhoria da qualidade de vida de uma

população. Isso se confirma, através de relações entre sedentarismo, como fator de

risco, e estilo de vida ativo, como fator de proteção a doenças hipocinéticas e

crônico-degenerativas, que é atualmente grande fonte de preocupação mundial no

que se refere à Saúde Pública. (ACSM, 2003).

Com relação à origem desses agravos, precisamos nos atentar, que um dos

principais fatores de risco é um estilo de vida sedentário e estressante que são

características do modo de produção capitalista. Neste sistema econômico, que se

consolidou no século XIX, os interesses de uma minoria dominante correspondem às

suas necessidades de acumular riquezas, gerar mais renda, ampliar o consumo, o

patrimônio e garantir o poder para manter a posição privilegiada que ocupa na

sociedade e a qualidade de vida construída a custa da "exploração" da classe

trabalhadora. (SOARES et al, 1992).

Desde então, o homem trabalhador, para garantir a sua sobrevivência,

passou a transformar o seu tempo de vida em tempo de trabalho, sofrendo, assim,

Page 45: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

44

um grande desgaste que na maioria das vezes lhe impossibilita usufruir de alguns

bens humanos como o lazer, a educação e a atividade física.

Percebemos que todo o conhecimento produzido acerca da atividade física e

saúde, poucas vezes é colocado e aplicado a serviço da sociedade, o que pode ser

constatado através de um trabalho apresentado por acadêmicos de Educação Física

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) durante o 8º Congresso de

Pesquisa e Extensão (CONPEX) em 2004, no qual retratou que 57% dos

profissionais de EF de Jequié - BA atuam em academias e Clínicas particulares

(OLIVEIRA et al, 2004), contrastando com os profissionais de outras áreas a

exemplo da Medicina, Enfermagem e Fisioterapia, cujo campo maior de atuação é a

Saúde Pública.

Acreditamos que talvez esse fato perpasse por vários motivos, dentre eles:

a) O desconhecimento da comunidade sobre a importância do trabalho deste

profissional, o que acaba influenciando na falta de interesse da população em cobrar

das autoridades públicas a sua atuação no sistema de saúde; e b) Os ranços

históricos desta área do conhecimento, que até pouco tempo, não priorizava a

atuação na Saúde Pública.

Dessa forma, percebemos que somente uma minoria que tem condições de

usufruir de tais serviços, pagando uma academia, um personal trainer, ou às vezes,

fazendo parte de clubes e associações sociorecreativas/desportivas, tem a

"possibilidade" de ter um acompanhamento e orientação do professor de EF,

enquanto a parte majoritária passa a ter acesso muito limitado ao seu conhecimento,

se restringindo apenas às informações transmitidas através da mídia, que em sua

grande parte são equivocadas, já que, quase sempre visam objetivos estéticos, que

estão diretamente relacionados com o consumo e a comercialização de produtos,

inclusive o corpo. Diante deste contexto, apresentamos como um possível local para

intervenção do professor de EF o programa de saúde da família (PSF), que surge

como uma das alternativas de (re) orientação do modelo de atenção à saúde, e é

entendido como resultante do estabelecimento de vínculos e a criação de laços de

compromisso e co-responsabilidade entre os poderes políticos, os profissionais de

saúde e a comunidade. O PSF caracteriza-se como uma estratégia que possibilita a

Page 46: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

45

integração e promove a organização das atividades de atenção à saúde, em uma

determinada área de abrangência, na tentativa de propiciar o enfrentamento e

resolução dos problemas identificados. (BRASIL, 1997). Propõe-se a trabalhar com o

princípio da vigilância à saúde, apresentando uma característica de intervenção inter

e multidisciplinar.

5.7 A Educação Física e sua relação histórica com a saúde e a

qualidade de vida

Para que possamos entender como a Educação Física (EF) surgiu, é preciso

compreender o contexto histórico e a razão pela qual ela se instituiu. Segundo

(SOARES et al, 1992, p.50), "[...] podemos afirmar que ela surge de necessidades

sociais concretas que, identificadas em diferentes momentos históricos, dão origem

a diferentes entendimentos do que dela conhecemos". No entanto, para

desenvolvermos um melhor entendimento, faz-se necessário que retornemos a raiz.

Na Grécia antiga, a Atividade Física (AF) conseguiu uma grande

representatividade através da ginástica, que era praticada somente por homens

livres. Na sua essência, essa atividade tinha como principal objetivo o culto ao corpo,

que se relacionava ao pleno estado de contemplação e veneração na busca de uma

aproximação, pelo menos física, dos deuses. Também visava a moral e a estética.

(BARBOSA, 2001). Mais tarde, ela ganhou fins bélicos e passou a ser utilizada

também no treinamento dos gladiadores. (PITANGA, 2002). Logo após a revolução

de 1789, que deu origem a uma grande mudança no sistema político e econômico,

destituindo a nobreza e o clero do poder, inviabilizando assim, a relação servo-

senhor feudal e afirmando a burguesia enquanto classe dominante surgiu uma outra

relação de dominação, dessa vez burguesia-proletariado. Com a afirmação dessa

sociedade capitalista em fins do século XVIII e início do século XIX, surge à

necessidade de se constituir um novo homem, mais forte, ágil e resistente, capaz de

responder a essa nova sociedade. (SOARES et al, 1992; BARBOSA, 2001).

Dessa forma, segundo (SOARES et. Al, 1992, p.51):

Page 47: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

46

O trabalho físico, então, na Europa dos anos oitocentos, passa a merecer atenção das autoridades estatais, e liga-se ao tema dos cuidados físicos com o corpo [...] - os quais incluíam a formação de hábitos como: tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos - que se faziam presentes, também, os exercícios físicos, vistos exclusivamente como fator higiênico.

Com esse papel, nasce na Europa no final do século XVIII e início do século

XIX, em âmbito escolar, a EF. Ela surgiu através da sistematização de jogos,

ginástica, dança e equitação em exercícios físicos, sendo que as primeiras formas

estruturais partiram da ginástica e foram denominados métodos ginásticos. Autores

como o sueco Ling, o francês Amoros e o alemão Spiess tiveram o mérito de aliar ao

desenvolvimento da EF na escola um espaço de respeito e privilégio.

No desenvolvimento do conteúdo da EF escolar, o médico tinha papel

destacado, orientando a função dessa disciplina na escola. As aulas eram

ministradas por instrutores físicos do Exército, que aplicavam nestas instituições os

rígidos métodos militares de disciplina e hierarquização, cujo projeto visava à

construção do homem disciplinado, obediente, submisso e respeitador da ordem

social. (SOARES et al, 1992).

No Brasil, a EF higienista predominou até 1930. Segundo GUIRALDELLI JR.

(1994, p.18), esta concepção acreditava ser capaz de "redimir o povo de 'seu

pecado mortal, que é a ignorância', e que o leva as condições de deteriorização da

saúde". Na verdade, o que existe na Educação Física higienista é uma

pseudopreocupação com a saúde da população, já que a lógica é tornar o homem

"saudável" através do exercício, para depois sugar toda a sua energia na produção.

Nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante no Brasil a

influência dos métodos ginásticos e da instituição militar, principalmente no período

de 1930 a 1945. (BARBOSA, 2001). É importante ressaltar, que os profissionais que

atuavam na EF eram instrutores das instituições militares, pois nesta época não

havia escolas de formação de professores dessa área do conhecimento, sendo a

primeira criada em 1939. (BRASIL, 1939 apud SOARES et al, 1992). No final da

década de 40, com o término da II Guerra Mundial e inspirada no ideal liberal da

Escola Nova, surgiu a tendência definida por GUIRALDELLI JR. (1994) como

Pedagogicista, que defendia um caráter educacional mais efetivo, com ênfase na

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47

pedagogia. A partir dos anos 70, influenciada pelo sucesso de algumas equipes

nacionais no exterior, a EF volta-se quase que exclusivamente para o interesse

esportivo, cujo pressuposto básico era formar equipes desportivas competitivas.

Dessa forma, o que podemos perceber nesse breve passeio histórico, é que

a AF relacionada à saúde, com o interesse de contribuir para uma melhor qualidade

de vida dos indivíduos, não era um objeto de estudo privilegiado pela EF. Na

verdade este interesse só começou a acontecer a partir de 1945, quando ocorreu

um aumento significativo de doenças como úlceras pépticas, câncer de pulmão e

doença arterial coronariana, ou seja, quando se iniciou a era das doenças crônico-

degenerativas. Os estudos de caso-controle conseguiram demonstrar que a gênese

destas doenças está ligada a uma rede multicausal, da qual faz parte o estilo de

vida, o meio ambiente e os aspectos sociais, onde o sedentarismo aparece como um

dos fatores determinante de agravos à saúde (PITANGA, 2002).

Page 49: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

48

CONCLUSÃO

Nos últimos anos, o interesse sobre os efeitos do ganho de peso excessivo

na infância tem aumentado consideravelmente, devido ao fato que o

desenvolvimento da celularidade adiposa neste período ser determinante nos

padrões de composição corporal de um indivíduo adulto.

Esta pesquisa investigou a obesidade infantil, identificou os possíveis fatores

etiológicos além de verificar quais as intervenções que se destacam como forma de

diminuir e/ou prevenir a obesidade em crianças. A obesidade é uma das

enfermidades nutricionais que mais têm apresentado aumento de sua prevalência,

tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.

Em relação aos fatores etiológicos relacionados com o desenvolvimento da

obesidade na infância são determinantes o desmame precoce, introdução de

alimentos inadequados e a inatividade física. Para o tratamento da obesidade

infantil, faz-se necessário a presença e a atuação de equipe multiprofissional

(médico, nutricionista, psicólogo, e o educador físico).

Existem, porém, algumas recomendações gerais a serem seguidas: dieta

balanceada que determine crescimento adequado e manutenção de peso; exercícios

físicos controlados além do apoio emocional individual e familiar. Para melhores

resultados no tratamento é importante a cooperação dos pais. A escola tem papel

fundamental ao modelar as atitudes e comportamentos das crianças sobre a

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49

atividade física e nutrição.

Através desta pesquisa pôde-se perceber que a obesidade infantil é uma

enfermidade multicausal, e está fortemente relacionada com a obesidade na vida

adulta (onde as repercussões serão mais agravadas). Além de ser uma das

patologias nutricionais que mais tem apresentado aumento de prevalência. Em

relação à prevalência pode-se perceber que está aumentando tanto nos países

desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento como o Brasil.

Na infância, os fatores etiológicos determinantes para o estabelecimento da

obesidade são: o desmame precoce e a introdução de alimentos inadequados,

emprego de fórmulas lácteas inadequadamente preparadas e a inatividade física.

Outros fatores estariam relacionados ao ambiente familiar. Filhos de pais obesos

têm 80% de chances de se tornarem crianças obesas, estas chances caem pela

metade se apenas um dos pais for obeso, e é apenas de 7% se nenhum dos pais for

obeso.

Os principais riscos para a criança obesa são: a elevação dos triglicérides e

do colesterol, hipertensão, alterações ortopédicas, dermatológicas e respiratórias. O

fator psicológico também destaca-se, a partir do momento que a criança obesa é

discriminada por seus pares não obesos, podendo sofrer alterações negativas, em

sua personalidade, levando à baixa auto-estima e depressão.. Existem algumas

recomendações gerais a serem seguidas: a reeducação alimentar, que determine

crescimento adequado e manutenção de peso; exercícios físicos controlados e

diminuição do tempo de inatividade. Além disso, a reeducação alimentar e o

aumento da atividade são essenciais, pois visam à modificação e melhorias dos

hábitos diários a longo prazo, e tornam-se elementos de conscientização e

reformulação auxiliando a refletir sobre a saúde e qualidade de vida. Para melhores

resultados nos tratamentos é importante a cooperação dos pais, que devem estar

conscientes de que a obesidade um risco e que gera graves problemas na vida

adulta.

Contudo, a prevenção é o melhor caminho. Começando pela amamentação

materna, que deve durar no mínimo seis meses. A introdução de alimentos

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50

saudáveis e em quantidades não exageradas após o desmame, além do hábito de

praticar atividades físicas desde criança. A escola tem papel fundamental ao

modelar as atitudes e comportamentos das crianças sobre atividade física e nutrição.

Deve-se dar atenção à prevenção com desenvolvimento de estratégias preventivas

para todas as idades. De qualquer forma a prevenção deveria começar na infância.

Associado a um acompanhamento por profissionais da saúde, a obesidade é

tratada com responsabilidade, levando em conta os diversos fatores ligados a ela. É

importante que o profissional da área de Educação Física esteja atento a o problema

que está diretamente ligado a sua área. Afinal, a obesidade e definida como o

aumento excessivo da quantidade de gordura corporal, e como combatê-la sem um

tratamento associado a atividade física que é competência do profissional de

Educação Física a elaboração de um programa de exercícios que ajude o sujeito a

alcançar seus objetivos de forma segura.

A obesidade está inserida na sociedade, mas é necessário que se

conscientize da importância de buscar soluções. O profissional de Educação Física

não pode vê seus alunos estarem ou ficarem obesos sem intervir para buscar

alternativas de mudar este quadro. É dentro da escola que se tem contato com a

obesidade infantil, então cabe ao professor de Educação Física preocupar-se e atuar

no combate a obesidade.

Page 52: a contribuiçao da educaçao fisica escolar na prevençao terap

51

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