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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Barrigas de Aluguer Cristiana Augusto Licenciatura em Sociologia 2006

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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Barrigas de Aluguer

Cristiana Augusto

Licenciatura em Sociologia 2006

Cristiana Maria Mendes de Carvalho Duarte Augusto Aluna nº 20050806

Barrigas de Aluguer

Licenciatura em Sociologia

2006

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de: Fontes de Informação Sociológica

Professor:

Paulo Peixoto

Índice

Introdução ............................................................................................................. 1 Desenvolvimento .................................................................................................... 3 Etapas da Pesquisa ............................................................................................... 8 Avaliação da página da Internet ........................................................................ 10 Ficha de leitura ...................................................................................................... 12 Conclusão ................................................................................................................ 16 Referências bibliográficas .................................................................................. 17 Anexo I – Página da Internet Anexo II – Texto da ficha de leitura

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Barrigas de Aluguer

Introdução

O trabalho que me proponho realizar aborda o tema “Barrigas de Aluguer”. O termo “Barrigas de Aluguer” é a designação de uma tecnologia de

procriação artificial que, apesar de ter várias denominações (mãe de aluguer, mãe hospedeira, maternidade de substituição) tem um único significado: uma mulher que se predispõe a gerar uma criança no seu ventre, ficando previamente acordado que, após o nascimento a entregará ao casal, que pode ser infértil ou simplesmente, por conveniência.

O recurso às barrigas de aluguer é como que a última esperança para os casais inférteis. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem definido a infertilidade pela ausência de concepção depois de pelo menos dois anos de relações sexuais não protegidas. Apesar de hoje em dia os casais terem cada vez menos filhos, por razões pessoais ou económicas, o desejo de se ter um filho é uma ideia cada vez mais presente entre os casais e, por essa razão, quando a infertilidade abala o sonho, a procriação artificial surge como recurso.

A infertilidade pode ter causa feminina ou masculina. As causas mais frequentes da infertilidade feminina são: a obstrução das trompas, que impedem a passagem das células de concepção e o mau funcionamento dos ovários, originando a anovulação. Quanto à infertilidade masculina, as grandes causas são devidas a: doenças endócrinas, causas genéticas e alterações anatómicas do aparelho genital.

Ao longo da minha pesquisa constatei que em Portugal a legislação continua a ser omissa, dando lugar a inúmeras questões e posições antagónicas. O contrário se passa nos países da União Europeia que, em geral, regulamentam as Técnicas de Reprodução Medicamente Assistidas (TRMA). (Mourato, s.d.)

Como havia referido, as TRMA abarcam eternas perguntas, nomeadamente, quem será a mãe, se a genética ou a uterina, se será legítimo proceder-se a um contrato, se a criança não estará, por ventura, a ser tratada como uma mercadoria, ou ainda se, por acaso, não existir um contrato e a mãe hospedeira quiser ficar com a criança após o parto, estará certo ou não. São estas algumas das problemáticas em torno deste tema,

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Barrigas de Aluguer não excluindo, de todo, a existência de outras também bastante oportunas

para debate. (Castro, 2004) Para a realização deste trabalho académico recorri a algumas fontes de

informação: um trabalho académico de 2004 sobre o tema (da autoria de Inês de Castro), sites da Internet e páginas da mesma, maioritariamente em formato PDF.

A página da Internet que seleccionei para avaliação aborda o tema de forma clara, simples e objectiva, podendo esta servir de apoio a quem deseje obter mais informação sobre o tema.

A minha pesquisa foi em português e inglês, pois são os únicos idiomas em que não tenho dificuldade de compreensão.

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Barrigas de Aluguer

Desenvolvimento Pertencem à Natureza do ser humano as dimensões da racionalidade, de

temporalidade, de historicidade, de finalidade em si e de liberdade, que fazem dele um ente em permanente desenvolvimento, na procura da realização de si próprio, com a possibilidade de recorrer às ajudas externas, bem como às intervenções médicas que contrariem essencialmente a sua natureza, assim entendida.

RAPOSO, Mário (2003) “Relatório – Parecer sobre Reprodução Medicamente

Assistida”. As Técnicas de Reprodução Medicamente Assistidas (TRMA) inserem-se no

contexto mais amplo dos cuidados relativos ao problema da infertilidade, afectando uma parte significativa da população portuguesa.

Para combater este pesadelo que assombra a possibilidade de construir uma família, as “barrigas de aluguer” são uma opção. E a verdade é que convivemos com as mais variadas constelações familiares completamente divergentes das tradicionais, como pais com filhos biológicos, filhos adoptivos, filhos com padrastos ou madrastas, filhos oriundos de “barrigas de aluguer” ou de inseminação artificial, mães solteiras por opção ou contingência, casais homossexuais, tornando difícil de obter uma definição objectiva do que é actualmente uma família dita “normal”. Mas, no entanto, considero relevante respeitar e valorizar a família nas suas diferenças, pondo de parte juízos preconceituosos ou discriminatórios.

Existem quatro TRMA, sendo as mais comuns: a transferência intratubária de zigotos (ZIFT), a transferência intratubária de gâmetas (GIFT), a inseminação artificial (IA) e a fertilização in vitro seguida de transferência de embriões (FIVETE).

Pela ZIFT, ambos os gâmetas (espermatozóides e ovócitos) são postos em contacto in vitro em condições adequadas para a sua fusão. O resultante zigoto ou zigotos são transferidos para o interior das trompas

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Barrigas de Aluguer

uterinas. No caso da GIFT, os dois tipos de gâmetas, previamente isolados, são

transferidos para o interior das trompas uterinas, de modo a que, só aí, se dê a sua fusão. A fecundação tem lugar in vivo.

Pela IA dá-se a transferência mecânica de gâmetas masculinos, antecipadamente recolhidos e tratados, para o interior do aparelho genital feminino.

Por meio da FIVETE, o zigoto ou zigotos continuam a ser incubados in vitro no mesmo meio em que surgiram, até que se dê a sua segmentação. O embrião ou embriões derivados (num estádio de 2 a 8 células) são posteriormente transferidos para o útero ou para as trompas.

O objectivo da reprodução é, sem dúvida, a geração de novos indivíduos. As primeiras tentativas de realizar procedimentos de reprodução medicamente assistida tiveram início no final do século XVIII. O primeiro bebé gerado in vitro nasceu na Inglaterra e chamava-se Louise Brown, em 1978, o que fez com que com que os procedimentos ganhassem notoriedade e, três anos mais tarde, em 1981, o Governo Inglês instalasse o Committee of Inquiry into Human Fertilization and Embriology. Em 1984 nasceu outro bebé, na Austrália, o primeiro ser humano a se desenvolver a partir de um embrião crio preservado, chamado Baby Zoe. A partir de 1990, várias sociedades médicas deliberaram legislação e linhas de orientação éticas para as tecnologias reprodutivas.

Todas estas questões podem ser vistas do ponto de vista sociológico, especialmente se referirmos a pressão social existente em torno da ideia de que as mulheres devem ser mães, ou, da ideia de que todos os casais, apesar de quererem ter cada vez menos filhos, sonham com o filho “perfeito”, ou ainda o facto de, estas técnicas implicarem transformações nas concepções tradicionais de maternidade e de paternidade (todas as questões que as TRMA abarcam dentro deste tópico específico).

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Legislação

O panorama europeu, em matéria de legislação sobre reprodução

medicamente assistida, é de facto um espelho no qual se reflectem as divergências e as tendências de opinião ideológica, religiosa, de valores, mas também das incertezas, dúvidas e hesitações que a sociedade civil e, por último, o poder político reflectem sobre estas matérias.

SILVA, Paula Martinho (2004) “Perspectivas Jurídicas Portuguesas e

Europeias sobre a Reprodução Medicamente Assistida”

Durante a minha pesquisa pude constatar que, em Portugal a única legislação

que existe actualmente sobre Técnicas de Procriação Medicamente Assistida (TPMA) datam de 1986, após o nascimento do primeiro bebé proveta português (Carlos Miguel) e que nunca chegou a ser regulamentada. A última iniciativa de legislação foi em 1999 mas, a proposta foi vetada pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, depois deste ter sido prevenido, pela comunidade médica, para a presumível diminuição da taxa de sucesso nos tratamentos contra a infertilidade em que o documento se traduziria depois de passar a ser lei.

A comunidade científica tem vindo alertar para a necessidade de se legislar sobre este assunto, já que, a infertilidade afecta 15% dos casais em idade reprodutiva e há 80 Milhões de pessoas, em todo o Mundo, a tentarem ter um filho (segundo a OMS), sem sucesso.

Em Portugal distinguem-se, com maior relevância, as seguintes disposições: artº 67, nº 2 e) Constituição da República Portuguesa “ (...) incumbe ao Estado, para protecção da família (...) regulamentar a procriação assistida, em termos que salvaguardem a dignidade da pessoa humana (...) ”; Lei nº 3 de 24 de Março de 1984, artº 9º, nº 5 (“Tratamento da esterilidade e inseminação artificial) – “O Estado aprofundará o estudo e a prática da inseminação artificial como forma de suprimento da esterilidade”; artº 168, Código Penal Português: “ Quem praticar o acto de procriação artificial em mulher, sem o seu consentimento, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos”; artº 1.839, nº 3, Código Civil Português: “Não é permitida a impugnação de paternidade com fundamento em inseminação artificial ao

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Barrigas de Aluguer cônjuge que nela consentiu”; Decreto-Lei nº 319, de 25 de Setembro de

1986: “Estabelece normas relativas à disciplina e actividade dos bancos de esperma”, nunca tendo sido regulamentado. (Silva, 2004)

A Lei Civil Portuguesa encara como mãe a mulher que dá à luz e crê que o pai seja o marido da mãe, o que no caso das “barrigas de aluguer” não se verifica.

Vinte anos após o nascimento do primeiro bebé proveta em Portugal, a Assembleia da República, no passado dia 21 de Outubro de 2005, reuniu-se para discutir e legislar a Procriação Medicamente Assistida (PMA): O Partido Socialista (PS) demonstrou a intenção de criar um grupo de trabalho com vista à discussão de projectos acerca da PMA e, mostrou-se disponível a aprovar a generalidade dos diplomas mas, limita as TPMA a casais heterossexuais casados, ou em união de facto há mais de dois anos; o Partido Social-Democrata (PSD) concorda com o PS neste último aspecto de limitar o acesso às TPMA, rejeitando simultaneamente a possibilidade de se recorrer a gâmetas (femininos e masculinos) de elementos exteriores ao do casal, bem como a existência de mães de aluguer; o Partido Comunista Português (PCP) afirma que não podem existir discriminações, admite a possibilidade que uma mulher só, viúva ou divorciada, possa ter acesso às TRMA; o Bloco de Esquerda (BE) concorda com a proposta do PCP; e por fim, o Partido Popular (CDS-PP) não apresentou nenhum projecto, embora tenham chamado a atenção para o vazio legislativo. (s.a., 2005)

A Igreja Acho importante referir a posição da Igreja perante as TRMA. As religiões

reagem sempre de forma um pouco sentenciosa perante os avanços da ciência. A Igreja de Roma é a única que respeita o embrião como ser humano desde o

momento da sua concepção. No entanto, condena qualquer investigação que utilize embriões.

Os cristãos protestantes não são opositores aos avanços da genética. As Igrejas reformadas são a favor da investigação no embrião, com a condição de esta ser devidamente regulamentada.

Para o Islamismo e Judaísmo, o importante é a filiação e o momento em que o embrião adquire vida própria.

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Barrigas de Aluguer

O Budismo, segundo Dalai Lama, não se prenuncia sobre o assunto, mantendo

uma posição neutra. A Igreja Católica divulgou a sua opinião sobre a RMA de uma forma bastante

negativa, como seria de esperar. A opinião do Vaticano foi apresentada no IV Congresso Português de Sociologia, através de um representante, definindo a fecundação artificial como incompatível com a uniformidade do casamento e contrária à dignidade do casal. (Conceição, s.d.)

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Etapas da pesquisa

A minha escolha recaiu sobre o tema “Barrigas de Aluguer” pois achei

deveras interessante fazer um trabalho académico sobre um assunto com o qual não estava muito à vontade. Como tal, achei por bem, embora receosa, aproveitar esta oportunidade e lançar-me ao desafio.

Uma vez que vivemos na era da Internet decidi, então, começar a fazer a minha pesquisa através da mesma, utilizando o motor de busca indexante Google.

A primeira pesquisa foi realizada com a expressão “barrigas de aluguer”, tendo sido devolvidos 17500 registos. Logo na primeira pesquisa deparei-me com um problema de “ruído” e para o solucionar, em vez de pesquisa simples, fiz pesquisa avançada e restringi o tipo de ficheiro a formato PDF e, assim obtive a informação que pretendia e com melhor qualidade, tal como, um Trabalho Académico, um Relatório sobre os Direitos da Mulher da Provedoria da Justiça, de 2004, fazendo referência a uma importante instituição, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) que elaborou dois projectos de lei sobre procriação assistida. Ultrapassado o problema, iniciei nova pesquisa com a expressão “legislação Portugal barrigas de aluguer” e recebi 302 registos, blogs, entrevistas e artigos de jornal, não muito elaborados, já que, em Portugal a legislação ainda não está presente. Prossegui a minha pesquisa, em português, desta vez utilizando a expressão “reprodução medicamente assistida” e foram devolvidos 823 registos, entre os quais fóruns de discussão, páginas que não estavam directamente relacionadas com o que pretendiam e que me remetiam para a inseminação artificial e para a clonagem, o IV Congresso Português de Sociologia e o Relatório - Parecer sobre Reprodução Medicamente Assistida (3/CNE/93), estes dois, sim, informação essencial para a elaboração do trabalho.

Como queria alargar a minha pesquisa, principalmente no campo legislativo, para não me centrar unicamente em Portugal, decidi pesquisar em inglês começando pela expressão “surrogate motherhood legislation” obtendo 36300 registos. Deparei-me, novamente com um problema de “ruído”. Alguns dos registos tinham, de facto, informação pertinente e, para

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contornar o problema de excesso de informação, recorri, mais uma vez, à

pesquisa avançada, mostrando páginas actualizadas nos últimos três meses, escritas em inglês e em formato de ficheiro PDF, tendo sido devolvidos 819 registos. A informação até agora recolhida pareceu-me pertinente e suficiente para dar por terminada a minha pesquisa na Internet.

Com a pesquisa na Internet verifiquei que, nem toda a informação é transformável em conhecimento, embora tenhamos essa ilusão. A Internet pode ser vista como um espaço intelectual e, hoje em dia, quando fazemos investigação, podemos perder-nos facilmente na quantidade de informação disponível e, para que tal não aconteça, devemos ser muito exigentes, pois nem toda a informação é pertinente.

Não dando por terminada a minha recolha de informação, desloquei-me à Biblioteca Municipal da minha localidade, a cidade de Aveiro, com vista a encontrar alguma coisa relacionada com o tema em questão mas, o funcionário que me auxiliou informou-me da não existência de obras estrangeiras.

Fiz uma última tentativa, desta vez na Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde encontrei um único registo, em inglês, Surrogate Motherhood de Helena Ragoné (1994).

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Avaliação da página da Internet A página da Internet que escolhi para ser avaliada foi:

http://www.cnecv.gov.pt/NR/rdonlyres/C7AEF927-A08D-45DC-B272-9ADA73AA6954/0/P003PMA.pdf

A página intitula-se “Relatório – Parecer sobre Reprodução Medicamente Assistida”, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Trata o tema de uma forma bastante cuidada e completa, não deixando espaço para qualquer dúvida. As dimensões abordadas são muito pertinentes e bem estruturadas.

Nesta página, o Conselho fala-nos de infertilidade, problema que preocupa a OMS e afecta milhões de pessoas em todo o Mundo. As TRMA surgem como solução possível, pois têm permitido que, perto de um milhão de casais tenham realizado o sonho da paternidade que, de outro modo não teria acontecido. Mas, com este Relatório – Parecer, o verdadeiro intuito do Conselho é «… identificar as principais questões éticas suscitadas pelas técnicas de RMA, propor alguns princípios de fundamentação axiológica, aplicá-los às diversas situações das tecnologias reprodutivas e extrair finalmente algumas conclusões.»

A página está dividida em: I – Introdução, onde o conselho dá uma noção do que vai tratar e fala da importância e evolução das TRMA; em II – Esclarecimentos Técnicos e, nesse contexto a Definição das Técnicas de RMA, a Proveniência do Material Biológico, os Embriões Excedentários e os Progressos Previsíveis; em III – Contexto Sócio-Familiar Português englobando Influência de Transformações Recentes, o Enquadramento Legal, Indicadores Demográficos e Práticas da RMA; em IV – Reflexão Ética reunindo Fundamentação Ética e Princípios Gerais, Aplicação dos Princípios Éticos às Técnicas de RMA, Conclusões Gerais e Algumas Questões Específicas. O conteúdo que resta faz parte da Bibliografia e três Declarações de Voto, uma apresentada pelo Bastonário da Ordem dos Médicos, outra por parte do Prof. Doutor A. M. Pereira Coelho e ainda pela Dr.ª Maria Ivone de Freitas Leal.

Em termos de critérios de avaliação podemos afirmar que, o sítio é fiável e a clareza da informação responde às minhas exigências. Em todas as

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Barrigas de Aluguer páginas encontramos o contacto do CNECV (fax, telefone, morada, sites),

assim como, no final do Relatório – Parecer, o autor do documento, Mário Raposo, Presidente do primeiro mandato do CNECV. O autor exprime-se não a título individual, mas sim, em nome de uma instituição aprovada pela Assembleia da República, a 30 de Janeiro de 1990. O documento é interessante, está datado de 1993, não tem a data da última actualização e podemos verificar as fontes que foram utilizadas para a realização do documento. A informação está em Português e é dirigida sobretudo à opinião pública em geral, incluindo, a estudantes do ensino superior, dado que, a informação é muito útil para este tipo de trabalho de investigação.

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Ficha de Leitura

Título da Publicação: Surrogate Motherhood – Conceptions in the heart” Autor: Helena Ragoné Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Cota: 001 Rag Data de publicação: 1994 Local de edição: Boulder Editora: Westview Press Título do capítulo considerado: “Pais e Mães Adoptivas” Páginas consideradas: 87 – 99 Data de leitura: Dezembro de 2005

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Barrigas de Aluguer O livro escolhido para análise intitula-se “Surrogate Motherhood –

Conceptions in the Heart”, da autoria de Helena Ragoné, professora de Antropologia na Universidade de Massachusetts, em Bóston, fala-nos da prática das “barrigas de aluguer”, e o capítulo em questão, dos pais e mães adoptivos.

Este capítulo está escrito com grande clareza e cuidado, uma vez que, dá voz a pessoas que vivenciaram a prática das barrigas de aluguer, através de entrevistas. As páginas que vou analisar são as que estão mais direccionadas para o que realmente procurava.

Numa primeira parte, faz-se uma alusão à informação que as mães hospedeiras têm de fornecer aos casais para que estes as conheçam minimamente, particularmente a idade, religião e sua educação. Em todos os casos verificou-se que, o aluguer de uma barriga era uma das soluções para o terrível problema de não poderem ter filhos.

Segundo a perspectiva da autora, ao contrário de toda a polémica e especulação que reside em volta de qual será a motivação que leva uma mulher a se predispor a alugar a sua barriga, não há a mínima intenção em saber qual é a razão para que casais escolham o aluguer de barrigas como forma de ultrapassar a falta de um filho nas suas vidas.

As dezassetes entrevistas que foram realizadas (a oito maridos e nove mulheres) vão servir de apoio a todo o discurso da autora. Os casais seleccionados são das zonas rurais e urbanas da região dos Estados Unidos e apenas um da França, entrevistado por telefone.

Todos os casais contactados aceitaram, imediatamente, participar no estudo devido ao enorme desejo de fazerem desaparecer os estereótipos negativos colocados pela comunicação social em redor do assunto prejudicando, principalmente, a imagem do marido e atribuindo à mulher um papel de submissão, insinuando que é o homem quem decide se devem ou não escolher o método da barriga de aluguer. A intenção dos casais em afastar todos os estereótipos é apenas porque desejam que o aluguer de barrigas seja uma atitude socialmente aceitável face aos problemas da infertilidade, para mais tarde os seus filhos não serem recriminados pela sociedade.

A autora apresenta uma tabela em que faz uma análise de cada inquirido (idade, profissão, grau de escolaridade e salário anual). A média de idades das mulheres entrevistadas é de 40.4, todas elas com profissões de prestígio, desde Executivas, Enfermeiras e Arquitectas, em que 33% ganha

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Barrigas de Aluguer menos de 30000 dólares por ano enquanto que 67% ganha acima desse valor.

Quanto aos homens, a média de idades ronda os 35.3, são sobretudo, Dentistas, Professores e Engenheiros, 75% ganha menos de 100000 dólares por ano e 15% ganha uma quantia superior.

Um tópico importante que a autora faz referência é às Diferenças de Classe, bem presentes neste tipo de programas. Há relatos na primeira pessoa, de duas mulheres e um homem, que explicam o que sentiram quando souberem do seu problema de infertilidade. Exprimem-se com tristeza, falam das tentativas que fizeram para contornar a situação, do desapontamento que sentiram, da frustração, da humilhação, da dor emocional, do forte desejo de ter um filho que, às vezes, se transforma em obsessão. Uma das mulheres afirma mesmo ser incapaz de olhar para uma mulher grávida sem chorar, por isso é que, depois de tantos anos de dor, alugar uma barriga é, para estas pessoas a última oportunidade de ter um filho perfeitamente saudável como sempre desejaram. A causa diagnosticada da infertilidade em todas as mães adoptivas foi a obstrução das trompas de Falópio. Todas elas se submeteram a tratamentos durante anos, tratamentos estes dolorosos, dispendiosos, potencialmente perigosos e, por vezes, pouco eficazes.

Outra ideia importante evidenciada neste capítulo é a Adopção. Aproximadamente 35% dos casais entrevistados consideram a adopção um meio viável mas, no entanto, sentem que o processo tem determinadas complicações. Por exemplo, em 1983 havia 2 Milhões de casais a quererem iniciar um processo de adopção e apenas 50000 crianças foram adoptadas. O maior obstáculo da adopção é, sem dúvida, o tempo de espera, por vezes mais de cinco e seis anos. Normalmente os casais descobrem a sua infertilidade um pouco tarde e a sua idade pode constituir também uma barreira imposta pelas agências privadas de adopção que, por vezes são discriminatórias, uma vez que se encontram ligadas à Igreja Católica (completamente contra o uso de qualquer tipo de contraceptivo, assim como, o aborto) e, por isso, estas agências interditam, por exemplo, os casais Ateus, Protestantes e Judeus à adopção. Outra grande dificuldade que se apresenta são os custos do processo quando é privado (na Califórnia, por exemplo), o preço chega atingir os 50000 dólares, preço este superior ao do aluguer de uma barriga. O processo da barriga de aluguer oferece mais benefícios do que a adopção. Mais especificamente, com o aluguer da

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Barriga de Aluguer barriga, o casal pode escolher a mulher que será a mãe biológica e passarem a

conhecer a sua personalidade, os seus gostos, o seu ponto de vista sobre determinados assuntos e os seus atributos físicos.

Por fim, a autora foca outro importante tópico, a Fertilidade Contínua. Nesta parte, a autora publicou depoimentos de pais e mães sobre o que sentiram quando souberam que sofriam de infertilidade e decidiram recorrer a este método. Durante as entrevistas, a maioria dos casais explicou que, a sua primeira impressão sobre recorrer a esta prática foi positiva. Na primeira pessoa, falaram sobre os seus anseios, preocupações, medos, do facto de não terem acreditar que o pesadelo fosse bem real, no insucesso das tentativas para ter um filho, de como ficaram apreensivos perante a ideia. Alguns dos casais para esclarecerem todas as incertezas e dúvidas que os impediam de tomar uma decisão, pesquisaram em livros e revistas sobre o assunto.

Este livro de Ragoné e, neste caso, o capítulo em questão, é sem dúvida muito importante para a compreensão de vários factos neste tema, desde os sentimentos exteriorizados pelos casais que se submetem a esta prática, os problemas que aparecem pela frente e os anseios dos casais e medo de fracassarem mais uma vez para conseguirem ter um filho. Tudo isto é autêntico e faz com que nos apercebamos melhor da realidade.

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Conclusão

Com este trabalho pude facilmente perceber que o tema “barrigas de aluguer” é bastante complexo e muito abrangente.

Ao contrário do que pensava, toda a problemática existente em redor desta questão abarca uma grande parte da população, logo, concluo que foi muito produtivo trabalhar este tema, dado que, pude obter outra percepção da realidade.

Durante a elaboração do trabalho deparei-me com alguns obstáculos na pesquisa na Internet mas que foram solucionados sem grande problema. Pude verificar que a legislação em Portugal é inexistente e que ainda há muito para fazer no que diz respeito à mentalidade de algumas pessoas perante o método em questão.

Através da execução deste trabalho consegui aperfeiçoar as minhas técnicas de pesquisa, utilizar os resultados que fui obtendo de uma forma mais organizada e empregar da melhor forma as variadas fontes de informação que se encontravam ao meu dispor.

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Referências Bibliográficas

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RAGONÉ, Helena (1994), “Surrogate Motherhood – Conception in the Heart. Boulder: Westview Press. RAPOSO, Mário (1993) “Relatório - Parecer sobre Reprodução Medicamente Assistida”. Página consultada a 11 de Novembro de 2005. Disponível em: «http://www.cnecv.gov.pt/NR/rdonlyres/C7AEF927-A08D-45DC-B272-9ADA73AA6954/0/P003PMA.pdf s.a. (s.d.), “Infertilidade”. Página consultada a 22 de Dezembro de 2005. Disponível em: «http://www.millennium.bcp/template/printe.jhtml? articleID=105188» s.a. (2005), “Procriação Medicamente Assistida”. Página consultada a 29 de Outubro de 2005. Disponível em: «http://www.sic.pt/online/noticias/vida/20051029+PMA.htm» SILVA, Paula Martinho (2004), “Perspectivas Jurídicas Portuguesas e Europeias sobre Reprodução Assistida”. Página consultada a 11 de Novembro de 2005. Disponível em: «http://www.crmac.cfm.org.br/revista/bio11v2/simposio12.pdf»

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