balantidium coli
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1. INTRODUÇÃO
As parasitoses intestinais continuam representando um significativo
problema médico-sanitário, tendo em vista o grande número de pessoas
acometidas e as várias alterações orgânicas que podem ocasionar, tanto por ação
espoliativa, quanto pela possibilidade de prejudicar a absorção intestinal e
ocasionar quadros clínicos abdominais agudos (NASCIMENTO; CARVALHO,
2003).
Em relação à incidência das parasitoses, Nascimento e Carvalho (2003)
dizem que: “Basicamente, as populações que vivem em precárias condições de
saneamento básico e que necessitam de adequada educação sanitária são as
mais afetadas por estas patologias.”
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que mais de dois
bilhões de pessoas hoje estão infectadas com algum tipo de verme ou parasita.
Estima-se que 60% dessas infecções têm associação a deficiências nutricionais,
principalmente carência de ferro e vitaminas. Além disso, 2/3 da mortalidade
mundial têm relação com doenças de veiculação hídrica, como as parasitoses
(DIAS, 2005).
No entanto ainda encontramos um alto índice de falso-negativos nos
exames de parasitológico de fezes, esta afirmativa advém da experiência na
realização um exame de fezes mais acurado e com positividade em torno de 95%
em uma população-alvo que pertence às classes sócio-econômicas A e B.
Estipulamos que os dados da OMS estejam subestimados em decorrência de
uma técnica obsoleta ou realizada sem o devido cuidado (DIAS, 2005).
Balantidium coli é o protozoário causador da balantidiose, uma infecção do
intestino grosso do homem. Os parasitos se multiplicam no intestino, produzindo
cistos, que são formas de resistência no meio ambiente; os trofozoítos são as
formas infectantes; os cistos e trofozoítos são amplamente eliminados nas fezes,
podendo contaminar o ambiente e transmitir a infecção a outros hospedeiros.
A infecção se manifesta com febre, anorexia, náuseas, vômitos e diarréia que
pode evoluir à disenteria (fezes com muco, pus e sangue); os casos graves
manifestam-se com desidratação e hemorragias intestinais; a doença pode
assumir forma crônica. O diagnóstico é feito pela visualização de trofozoítos e/ou
cistos nas fezes.
A prevenção se faz pela higiene adequada, cozimento de alimentos, fervura
da água, tratamento dos doentes e tratamento dos porcos (possíveis reservatórios
do parasito).
A distribuição geográfica da balantidiose é mundial, pois é a mesma da dos
suínos. Assim, a maioria dos casos humanos está entre os tratadores, criadores,
comerciantes e abatedores de suínos. O porco, portanto, é a fonte natural das
infecções humanas (NEVES et al., 2000).
Vista a importância desta parasitose tanto a nível mundial como sua
prevalência nacional, este trabalho pretende correlacionar informações e dados
fornecidos nos últimos anos sobre esta parasitose, além de revisar todo conteúdo
já sabido entre a comunidade científica sobre esta patologia, com o propósito de
verificarmos as evoluções em relação ao tratamento e, seu atual alcance
epidemiológico e combate mundial.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com Neves e cols. (2000) o protozoário Balantidium coli do filo
cifiophora representa grande número de espécies de importância na ecologia
do aparelho digestivo de ruminantes e eqüídeos, existentes no rúmen e no
intestino grosso funcionam como simbiontes. Este atua preferencialmente no
intestino grosso de suínos e em algumas situações pode parasitar os
humanos. Existe alguma diversidade de opiniões sobre a patogenicidade deste
protozoário nos humanos; entretanto, como é o único ciliado que pode ser
encontrado na nossa espécie. Durante algum tempo foi muito discutida a
pluralidade de espécies, B. coli e B. suis, ambas de suínos, mas diferentes
pelos aspectos dos núcleos e do tamanho externo. Foi verificado
posteriormente que todos dois eram uma única espécie- B. coli, com diferenças
morfológicas devido ao momento reprodutivo do protozoário: as formas
menores estavam se preparando para a conjugação e as maiores eram
trofozoítos ativos.
O B. coli já foi encontrado nos seguintes hospedeiros: porco, humanos,
chimpanzé, vários macacos (Rhesus, Cynomolgi etc.), e raramente em cão,
rato e cobaias, sendo os macacos os mais atingidos depois dos suínos
(NEVES et al. 2000).
2. 1. 1. MORFOLOGIA
Por suas dimensões, o Balantidium coli é o maior dos protozoários
parasitos do homem, pois mede geralmente 60 a 90 μm de comprimento
(podendo chegar a 150 μm), por 50 a 60 μm de largura (MORAES et al., 1991).
Sua forma é aproximadamente ovóide e a extremidade mais delgada,
anterior. Aqui, encontra-se uma depressão em forma de funil, o perístoma, que
conduz ao citóstoma. Toda a superfície da membrana celular, inclusive o
perístoma, apresenta cílios dispostos em fileiras helicoidais, cujo batimento
coordenado assegura ao protozoário movimentação rápida e direcional, além
de produzir correntes líquidas no meio, que dirigem as partículas alimentícias
em direção ao citóstoma (MORAES et al., 1991).
De acordo com Moraes e cols. (1991) a digestão é feita através do
cistóstoma ficam incluídos em fagossomos onde se processa a digestão. Os
resíduos não assimilados são expulsos para o exterior através de um poro
permanente localizado na extremidade posterior, o citopígio.
Em preparações coradas pela hematoxilina, destaca-se pelo volume e
coloração intensa o macronúcleo, ou núcleo, o micronúcleo, fica situado na
região deprimida do macronúcleo. Ele é pequeno, compacto, e desempenha
seu papel mais importante durante a reprodução do parasito (MORAES et al.,
1991).
Em relação à reprodução do protozoário em estudo Moraes e
colaboradores (1991) afirmam que: “[...] A multiplicação processa-se, em geral
por divisão binária transversal, sendo precedida pela divisão do macro-e do
micronúcleo. Em cultura, pôde-se observar a reprodução sexuada, por
conjugação, de que participa apenas o micronúcleo.”
Em condições naturais os parasitos, que se multiplicam na luz do intestino,
produzem cistos ovóides ou esféricos, revestidos de espessa membrana e com
50 a 60 μm de diâmetro. Eles aparecem em grande número nas fezes
formadas. Tais formas, resistentes ás condições do meio externo, parecem
constituir os elementos infectantes para novos hospedeiros. Entretanto, já se
demonstrou que os trofozoítos podem desempenhar o mesmo papel, em vista
de atravessarem o estômago da cobaia sem serem destruídos (MORAES et
al., 1991).
Em relação à alimentação e habitat do Balantidium coli vive Moraes e
colaboradores (1991) ressaltam que:
"No intestino grosso, especialmente na região cecal e no sigmóide, onde se alimentam de bactérias, de fungos, de outros protozoários, grãos de amido, hemácias, células e detritos orgânicos.O habitat do ciliado, na fase intestinal, consiste em um meio fortemente redutor, onde deve viver em anaerobiose.”
De acordo com Neves e colaboradores (2000), porém o B. coli possua
capacidade invasiva onde é relatada no seguinte trecho: “[...] Entretanto, pode
ser um invasor secundário, isto é, desde que a mucosa esteja lesada, é capaz
de aí penetrar e reproduzir-se mesmo em úlceras profundas.”
2. 1. 2 CICLO BIOLÓGICO
O ciclo biológico da B. coli é do tipo monoxênico, apresentando dois tipos
de reprodução: assexuada e sexuada (NEVES et al., 2000).
De acordo com Neves e cols. (2000) a reprodução se processa de duas
maneiras: a reprodução assexuada que é feita por divisão binária, ocorrendo à
bipartição no sentido transversal do protozoário; e a reprodução sexuada é do tipo
conjugação, através do qual dois organismos se unem temporariamente pelo
cistóstoma (continuando a mover-se normalmente), para promover trocas
genéticas. Em relação a esta última Neves e cols. (200) descrevem:
“O macronúcleo degenera e desintegra-se no citoplasma de cada protozoário. O micronúcleo cresce e sofre divisão por meiose, que por sua vez é seguida de mitose; os micronúcleos em seguida migram e tomam sua posição citoplasmática em cada um dos protozoários envolvidos. Segue-se a separação dos indivíduos, com a formação de novos macronúcleos.”
Fonte: http://www.ufrgs.br/parasite/Imagensatlas/Protozoa/Balantidium.htm
Figura 2 Forma cística do Balantidium coli em microscopia óptica.
Fonte: http://www.ufrgs.br/parasite/Imagensatlas/Protozoa/Balantidium.htm
Figura 1 Forma trofozoíta do Balantidium coli em microscopia óptica.
Em relação à reprodução sexuada do B. coli Neves e colaboradores (2000)
concluem que: “[...] Os protozoários assim reorganizados podem sofrer ou não
novo processo de divisão binária transversal e, posteriormente, formar cistos
resistentes. Assim sendo, a reprodução assexuada tem como principal função a
manutenção a ampliação da colônia do protozoário e a reprodução sexuada por
conjugação têm importância nas trocas genéticas e na formação de cistos para a
disseminação da espécie.”
Fonte: CDC DPDx Parasite Image Library http://pathmicro.med.sc.edu/parasitology/intest-protozoa.htm
Figura 3 A forma cística do parasito é a responsável pela transmissão da balantidíase A grande maioria das contaminações se faz pela ingestão de água ou alimentos contaminados Após ingestão o desencistamento ocorrem nas células da mucosa
intestinal e os trofozoítos colonizam em larga escala os trofozoítos ficam na luz Intestinal de humanos e animais, onde se replicam por divisão binária, durante a qual a conjugação também ocorre . Trofozoítos sofrem encistamento que produzem cistos infectantes alguns trofozoítos invadem parede do cólon e multiplicam-se. Alguns retornam a luz e desintegram-se. Os cistos maduros são passados para as fezes .
2. 1. 3. PATOGENIA
A transmissão se faz através de cistos que contaminam alimentos, água ou
mesmo as mãos. Quando existe infecção humana, quase sempre essa ocorreu
a partir de cistos (e mesmo de trofozoítos) provenientes de fezes suínas, que
contaminaram as mãos ou os alimentos humanos (MORAES et al., 1991).
De acordo com Neves e colaboradores (2000) o B. coli é normalmente um
protozoário comensal da luz do intestino de suínos, onde se alimentam de
amido, bactérias etc. Parece que sozinho não é capaz de penetrar em
mucosas intactas. Na espécie humana, quando há alguma lesão na mucosa do
colo e do ceco, há possibilidade de invasão secundária pelo Balantidium.
Como é capaz de produzir hialuronidase, pode aumentar a lesão inicial,
provocando necroses localizadas e úlceras. Essas lesões e a sintomatologia
são muito semelhantes às que ocorrem na amebíase. O paciente, nessa
situação, apresenta diarréia, meteorismo, dor abdominal, anorexia, fraqueza e,
às vezes, febre.
Moraes e cols. (1991) ainda organiza da seguinte forma o possível quadro
clínico apresentado por infecção por balantidíase podendo ser:
Assintomático;
Disentérico ou;
Do tipo crônico, com surtos de diarréia.
A severidade da forma disentérica vai desde as formas brandas até as
fulminantes. Em geral o paciente queixa-se de diarréia, meteorismo e dores
abdominais, acompanhadas de fraqueza e indisposição geral, podendo
apresentar anorexia, náuseas e vômitos, cefaléia e febre (MORAES et al.,
1991).
Moraes e cols. (1991) ainda afirma que: “[...] As fezes líquidas, e o número
de evacuações pode elervar-se a meia ou uma dúzia de vezes por dia, com
tenesmo ou sem. Nas formas mais graves, além de evacuações
mucossanguinolentas, pode haver hemorragias intestinais, desidratação, febre
e um desfecho fatal ao fim da alguns dias.”
Nos casos crônicos, que se podem alongar por muitos anos, a diarréia é
intermitente, alternando-se com períodos normais ou de constipação intestinal.
Pode haver emagrecimento, anemia, eosinofilia e uma síndrome de colite
crônica (MORAES et al., 1991).
2. 1. 4. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico clínico é muito difícil de ser feito, em vista da semelhança da
sintomatologia com a colite amebiana (NEVES et al., 2000).
O diagnóstico laboratorial se faz pelo exame das fezes pelos métodos
usuais, para a evidenciação de cistos (raros nos homens) e quando vistos, são
encontrados em fezes formadas ou de trofozoítos (encontradas em fezes
diarréicas). Algumas vezes, há a necessidade de se fazer cultura das fezes,
para evidenciação das formas. Os meios de cultura usados são: Soro de
cavalo ou então meio de Pavlova (MORAES et al., 1991).
Morais e cols. (1991) ainda ressalta que convêm ter presente a
possibilidade de uma contaminação da amostra fecal, após sua emissão, com
ciliados de vida livre, pois estes são muito abundantes no solo e nas águas
naturais.
2. 1. 5. PROFILAXIA E TRATAMENTO
De acordo com Moraes e cols. (1991) “[...] Os casos assintomáticos
evoluem espontaneamente para a cura; mas, nas formas graves, a morte do
paciente pode resultar de hemorragia, perfuração intestinal ou desidratação.”
Os antibióticos, principalmente as tetraciclinas, são recomendados como os
mais eficazes agentes terapêuticos. O nimorazol é prescrito na mesma
posologia recomendada para a amebíase. O metronidazol (Flagyl) e a
paromomicina (Humatin) são também eficazes (MORAES et al., 1991).
Neves e cols. (2000) descreve que a adoção de dieta láctea, por alguns
dias, é suficiente para eliminar o Balantidium do organismo humano (isto por
que esses protozoários alimentam-se de amido).
A profilaxia de acordo com Neves e cols. (2000) tem como fatos principais a
higiene individual dos profissionais que tem que trabalhar com suínos, a
engenharia sanitária, a fim de impedir que excrementos de suínos alcancem os
abastecimento de água de uso humano, e criação de suínos em boas
condições sanitárias, impedindo que suas fezes sejam disseminadas, se
possível devem ser amontoadas para que a fermentação elimine os cistos aí
presentes.
3. CONCLUSÃO
Após análise dos dados coletados podemos observar que a balantidíase é
uma infecção que se manifesta por febre, anorexia, náuseas, vômitos e
diarréia que pode evoluir à disenteria; os casos graves manifestam-se com
desidratação e hemorragias intestinais; a doença pode assumir forma crônica
O B. coli tem como porco, humanos, chimpanzé, vários macacos, e
raramente em cão, rato e cobaias, sendo os macacos os mais atingidos depois
dos suínos, o qual é o principal reservatório de contaminação ao ser humano.
O possível quadro clínico apresentado por infecção por balantidíase pode
ser assintomático, disentérico ou do tipo crônico, com surtos de diarréia.
A transmissão se faz principalmente através de cistos que contaminam
alimentos, água ou mesmo as mãos. Quando existe infecção humana, quase
sempre essa ocorreu a partir de cistos (e mesmo de trofozoítos) provenientes
de fezes suínas, que contaminaram as mãos ou os alimentos humanos. Então
podemos concluir que a principal medida profilática é a criação de suínos em
boas condições sanitárias.
REFERENCIAS
CDC DPDx Parasite Image Library. Altura: 562 pixels. Largura: 435 pixels. 22,1 KB Formato GIF. Disponível em: <http://pathmicro.med.sc.edu/parasitology/intest-protozoa.htm>. Acesso em: 01 set. 2005.
DIAS, R. Verminose. 13 out. 2002. Disponível em: < http://geocities.yahoo.com.br/dra reginadias/vermesbr.htm > Acessado em: 01 de set. 2005.
Figura 1 Forma trafozoíta do Balantidium coli Largura: 200 pixels. Altura: 200 pixels. 117 KB. Formato: Bitmap. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/para-site/Imagensatlas/Protozoa/Balantidium.htm> Acessado em: 01 de set. 2005.
Figura 2 forma cística do Balantidium coli Largura: 200 pixels. Altura: 200 pixels. 117 KB. Formato: Bitmap. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/para-site/Imagensatlas/Protozoa/Balantidium.htm> Acessado em: 01 de set. 2005.
MORAES, R. G.; LEITE, I. C.; GOULART, E. G. Parasitologia Médica. São Paulo: Editora Atheneu, 1971, p. 289-294.
NASCIMENTO, D. F.; CARVALHO, M. M. Saúde Coletiva- Pesquisa- Orientação E Acompanhamento De Helmintoses Em Escolares Da Periferia De Barra Do Piraí- Rj. Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA, 2003.
NEVES, D. P. et al. Parasitologia Humana 10ª ed., São Paulo: Editora Atheneu, 2000, p. 312-316.