bahia agricola v9 n2 completa

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Page 1: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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Page 3: Bahia Agricola v9 n2 Completa

Além de ser um problema climático, a seca é uma si-tuação que gera dificuldades sociais para as pesso-as que habitam a região semiárida, com reflexos em toda sociedade. Com a falta de água, torna-se difí-cil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma, além de atingir gravemente os recursos econômicos, a seca gera fome e miséria.

Considerada a mais intensa dos últimos 47 anos, a seca que atinge a Bahia vem acarretando sé-rios prejuízos para produção agrícola e pecuária do Estado. Compreender o fenômeno das secas é necessário para o uso responsável dos limitados recursos hídricos do Semiárido. Além disso, estu-dos para a melhoria da previsão de secas, com base nos dados meteorológicos disponíveis, e em tempo hábil, podem contribuir para a formulação de políticas públicas de convivência com a seca, de forma sustentável e includente.

Nesta edição, com a temática especial “A seca e os desafios do Semiárido: oportunidades e perspecti-vas”, a revista Bahia Agrícola oferece ao leitor artigos técnicos de grande relevância, com destaque para a matéria de capa, ricamente ilustrada, onde é ana-lisada a SECA do ponto de vista conceitual e sua variabilidade espacial e temporal, discorrendo sobre os vários momentos vivenciados pelo Semiárido bra-sileiro. A seca atual é o mote principal, e suas con-sequências são destacadas e complementadas com as ações emergenciais e estruturantes para atenuar os seus efeitos, promovidas pelo Estado e capitane-adas pela Secretaria da Agricultura e demais orga-nismos governamentais.

Para maior compreensão da economia agrícola do Estado, a Seção Agrossíntese traz informações atua-

lizadas sobre o desempenho dos principais produtos agrícolas do Estado já no primeiro trimestre de 2013.

Voltada ao tema, a Seção Comunicação abriga as interessantes e dinâmicas contribuições sobre a experiência do Território do Sisal com cabras leiteiras e as orientações para o caprinovinocultor enfrentar a longa estiagem com menos prejuízos. Além desse importante e atual tema, os artigos desta Seção tratam de outras matérias com o mesmo empenho e registra uma descrição sobre o papel da vigilância ativa da defesa agropecuá-ria e a detecção de uma nova ocorrência fitossa-nitária na citricultura, discorre sobre um patógeno ocasional de plantas estressadas que pode vir a se constituir num problema para agricultura baia-na, entre outros assuntos fundamentais para o cenário agropecuário do Estado.

Em Socioeconomia, além dos principais artigos relacionados ao tema, são tratados outros itens de grande relevância, a exemplo do ensaio sobre instrumentos de gestão ambiental para sustenta-bilidade dos fundos de pasto no Semiárido baia-no e as ações de ATER, um artigo que trata dos novos caminhos para o desenvolvimento rural sustentável, visando um atendimento mais qua-lificado aos agricultores familiares. Em Pesquisa Agrícola, outras informações importantes, onde a matéria sobre características dos frutos de pal-ma forrageira corrobora com a temática desta edição. E ainda tem mais: a Seção Informações e Serviços para finalizar esse elenco de informa-ções agropecuárias de primeira linha.

Boa leitura!

Editorial

Page 4: Bahia Agricola v9 n2 Completa

GovernadorJaques Wagner

Secretário da Agricultura, Pecuária, IrrigaçãoReforma Agrária, Pesca e Aquicultura

Eduardo Salles

Chefe de GabineteJairo Carneiro

Diretora GeralJucimara Rodrigues

Superintendente de Desenvolvimento AgropecuárioRaimundo Sampaio

Superintendente de IrrigaçãoMarcello Nunes

Superintendente de Política do AgronegócioJairo Vaz

Superintendente de Agricultura FamiliarWilson Dias

CDA – Coordenador ExecutivoLuis Anselmo de Souza

EBDA – Diretor-PresidenteElionaldo Teles

BAHIA PESCA – Diretor-PresidenteCássio Peixoto

ADAB – Diretor GeralPaulo Emílio Torres

BAHIA AGRÍCOLA é uma publicação quadrimestral da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma

Agrária, Pesca e Aquicultura – SEAGRI – com o objetivo de di-vulgar estudos de interesse da agricultura baiana, produzidos pelo seu corpo técnico e colaboradores externos. Os artigos

assinados são de inteira responsabilidade dos autores.

Conselho EditorialJosé Mário Carvalhal de Oliveira (Presidente) – ADAB; Aldo Vilar Trindade – Embrapa Mandioca e Fruticultura; Antônio Vicente da Silva Dias – EBDA; Augusto Sávio Mesquita –

MAPA/SFA; Carlos Armando Barreto de Santana – SEAGRI; Jucimara Rodrigues dos Santos – SEAGRI; Maria Auxiliado-

ra Lobo Alvim – SEAGRI/SUAF; Mário Luiz Albuquerque Tavares – CEPLAC; Paulo Emílio Torres - ADAB

BAHIA AGRÍCOLA – Editoria/Revisão: Rosangela Bar-bosa Machado; Colaboração revisão: Diogo Cardoso de

Oliveira, Fernanda Sousa Conceição e Lissandra Pedreira; Colaboração editorial: Assessoria de Imprensa SEAGRI;

Capa, projeto gráfico e diagramação: Editora Dendê; Capa - Foto: Heckel Júnior; Fotografias: Acervo Biblioteca SEAGRI, Heckel Júnior e Sílvio Ávila (imagens gentilmente cedidas pela Editora Gazeta Santa Cruz – RS); Supervisão

gráfica: Rosangela Barbosa Machado; Distribuição: Biblioteca SEAGRI. Apoio para esta edição: Associação de

Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA.

ISSN 1414-2368A reprodução total ou parcial dos artigos

é permitida desde que citada a fonte.

Tiragem: 5.000 exemplares

Esta publicação também está disponível na Internet, no endereço http://www.seagri.ba.gov.br/bahiagricola.asp

Endereço: 4ª Avenida, 405 – Térreo Centro Administrativo da Bahia

CEP 41745-002 – Salvador – Bahia – BrasilTel.: (71) 3115-2783

e-mail: [email protected]

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos

da secano Estado

Nove medidas para o caprino-ovinocultorenfrentar o período de seca com menos prejuízos

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AGROSSÍNTESE

COMUNICAÇÃO

A Secana Bahia38

SOCIOECONOMIA

Page 5: Bahia Agricola v9 n2 Completa

Cabra leiteira: fonte de renda para o sertanejo; a experiência do Território do Sisal 12

Fungo Lasiodiplodia theobromae, um problema para a agricultura baiana 24

Serviço de vigilância ativa da defesa agropecuária detectounova ocorrência fitossanitária na citricultura baiana 30

Gestão ambiental para a sustentabilidade dos Fundos de Pastos no Semiárido baiano 60

“Plantio direto” dos citros: mito ou realidade? 72

Flutuação populacional de D. citri em pomares de citros no município de Rio Real, Bahia 90

Forrageiras halófitas na alimentação de ruminantes 98

Notas Especiais 104

Divulgação SEAGRI 108

Cartas 110

COMUNICAÇÃO

SOCIOECONOMIA

PESQUISAAGRÍCOLA

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca

na agropecuária baiana50

SOCIOECONOMIA

Características físicas efísico-químicas de frutos

de palma forrageira 86

PESQUISA AGRÍCOLA

Assistência técnica e extensão rural:

novos caminhos para o desenvolvimento rural

sustentável 68

SOCIOECONOMIA

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AGROSSÍNTESE

Edilson de Oliveira Santos1

1 – Mestre em Economia, Gestor Governamental da SEAGRI; e-mail: [email protected]

SOJA

A produção de soja da Bahia, em 2013, é de 3,83 milhões de tone-ladas, ante 3,21 milhões do ano passado, ou seja, 19,07% maior no ano corrente. O preço elevado do produto motivou o aumento do plantio, onde a área planta-da teve uma elevação de 9,10% em relação a 2012, quando saiu de 1,11 milhões de hectares para 1,21 milhões de hectares. A produ-tividade, por sua vez, elevou-se em

9,14%, passando de 2.888 kg/ha para 3.151 kg/ha.

O Brasil está colhendo uma sa-fra recorde de soja em 2013, fato que está contribuindo para uma redução da cotação do produto no mercado interno, desde que iniciou a colheita. Entretanto, isso não significa que o preço esteja baixo, uma vez que a cotação da lavoura atingiu índices muito elevados no ano passado, sendo que

Produção de grãos na Bahia cresce

14,64%, apesar dos severos efeitos da

seca no Estado

A Bahia está colhendo 7,52 milhões de toneladas de grãos em 2013,

contra 5,56 milhões de toneladas no ano passado, ou seja, um incremento de 14,64%. A área colhida terá um aumen-to de 13,31%, saindo de 2,26 mil hecta-res para 2,56 mil hectares. O rendimen-to médio cresceu 1,27%, passando de 2.901 kg/ha para 2.938 kg/ha (Tabela 1).

AGROSSÍNTESE

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mesmo reduzindo, mantém-se num patamar elevado.

A tendência é que a cotação se mantenha firme, devido ao baixo estoque dos Estados Unidos e a demanda elevada da China. O preço da soja no mercado inter-no recebe grande influência dos preços internacionais, sobretu-do de Chicago, que é o grande referencial para a formação de

preços no mercado doméstico. A importância do complexo soja na pauta das importações brasileiras acaba colocando as cotações internas dependentes das flutu-ações dos preços internacionais do produto.

Além da conjuntura internacional, o preço da soja no mercado inter-no recebe influência da variação cambial. Quando a moeda nacio-

nal está desvalorizada em relação ao dólar, implica em efeitos posi-tivos nas cotações internas, visto ser um produto de importância re-levante na formação do superávit da balança comercial.

Em fevereiro, a cotação média da saca de soja com 60 kg em Barrei-ras foi de R$ 52,00, ao passo que no mesmo período do ano passado, estava cotada a R$ 42,00 (Gráfico 1).

Tabela 1 ÁREA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO MÉDIO DE GRÃOS BAHIA, 2012/13

PRODUTOSProdução (t) Área (hectare) Rendimento(kg/ha)

2012(1) 2013(2) Variação(%) (2012/2013) 2012(1) 2013(2) Variação(%)

(2013/2012) 2012(1) 2013(2) Variação(%) (2013/2012)

Algodão Herbáceo (em caroço)

1.257.864 1.072.621 -14,73 396.600 306.335 -22,76 3.172 3.501 10,40

Amendoim (em casca)

3.837 6.295 64,06 3.484 6.154 76,64 1.101 1.023 -7,12

Arroz (em casca) 24.455 26.715 9,24 14.418 14.690 1,89 1.696 1.819 7,22

Feijão (em grãos) 124.116 176.432 42,15 221.974 271.689 22,40 559 649 16,14

Mamona (em baga) 20.332 67.244 230,73 50.931 88.142 73,06 399 763 91,11

Milho (em grãos) 1.886.182 2.239.715 18,74 406.677 533.629 31,22 4.638 4.197 -9,51

Soja (em grão) 3.212.789 3.825.454 19,07 1.112.627 1.213.855 9,10 2.888 3.151 9,14

Sorgo (em grãos) 32.163 108.569 237,56 54.575 124.745 128,58 589 870 47,68

TOTAL DE GRÃOS 6.561.738 7.523.045 14,65 2.261.286 2.559.239 13,18 2.902 2.940 1,30Fonte: IBGE Elaboração: Superintendência de Política do Agronegócio - SEAGRI-BA (1) Dados Gcea-IBGE/dez/12 (2) Dados Gcea-IBGE/fev /13

Grá�co 1 COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DA SOJA EM BARREIRAS fev de 2012 a fev de 2013

Fonte: SEAGRI/SPA

R$ por saca de 60 kg

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MILHO

A área de milho na Bahia não tem crescido nos últimos anos, ao contrário da produção que tem experimentado crescimento ge-ométrico. Em 2013, a área colhi-da total no Estado foi de 533,63 mil hectares, enquanto que em 2004 foi de 753,35 mil hectares, ou seja, houve uma redução de 31,00%. Neste mesmo período, no entanto, a colheita total ex-perimentou um crescimento de 39,01%, passando de 1,61 mi-lhões de toneladas para 2,24 mi-lhões de toneladas. O ganho de produtividade do milho baiano no intervalo de tempo analisado foi de 96,31%, quando saiu de 2.138 kg/ha para 4.197 kg/ha (Tabela 1).

A elevação do rendimento mé-dio por hectare na Bahia é fru-to de inovações tecnológicas, desenvolvimento de variedades adaptadas às condições edafo-climáticas das regiões produto-ras, além do melhoramento das técnicas de manejo.

Atualmente, a produção de milho está definida geograficamente em duas regiões: o Oeste, que desde a década de noventa já está consolidada como a zona de excelência para o cereal no Estado; e, nos últimos anos, o nordeste do Estado vem alcançan-do índices de produtividades mui-to expressivos, apresentando-se como área importante neste seg-mento. A produção estadual do cereal, em 2013, deve elevar-se em 18,74% em relação ao ano an-terior, passando de 1,89 milhões de toneladas para os atuais 2,24 milhões de toneladas.

A safra nacional de milho deve ga-nhar uma ligeira elevação em rela-ção à produção do ano passado, fato que deveria reduzir o preço do produto no mercado interno. Toda-via, isso não deve ocorrer, visto que os estoques dos Estados Unidos estão muito baixo, além de que a China está enfrentando problemas climáticos, devendo demandar mais milho do mercado internacional.

Em Barreiras a saca do produto teve uma cotação média de R$ 38,00 enquanto que nesse mesmo perío-do de 2012, era comercializada em torno de R$ 23,00 (Gráfico 2).

Grá�co 2 COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO MILHO EM BARREIRAS fev de 2012 a fev de 2013

Fonte: SEAGRI/SPA

R$ por saca de 60kg

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ALGODÃO

Ano após ano, a cotonicultura vem ocupando mais espaço na matriz produtiva da Bahia, constituindo--se num símbolo do desenvolvi-mento da agricultura do Estado, fazendo da Bahia o segundo maior produtor nacional de algodão. En-tretanto, nos últimos dois anos a produção vem sofrendo reduções, motivadas por fatores climáticos, preços baixos e pragas.

Em 2013, a produção baiana de algodão será 1,07 milhão de to-

neladas, 14,73% a menos que a safra do ano passado. A área colhida sofreu uma redução de 22,78%, passando de 396,60 mil ha para 306,34 mil ha (Tabela 1).

No ano passado os estoques estavam elevados enquanto a demanda pela indústria estava baixa, o que pressionou o preço para baixo. Por conta disso, os agricultores reduziram o plantio de algodão para investirem em outras culturas como soja e fei-jão, além de eucalipto e pasta-gem para pecuária.

Outro fator que prejudicou o de-sempenho da lavoura este ano foi o ataque da lagarta Hellicoverpa zea, conhecida também como lagarta de espiga do milho. Essa lagarta tem se mostrado resistente aos de-fensivos existentes no mercado na-cional, causando sérios prejuízos aos cotonicultores baianos.

No primeiro trimestre deste ano as indústrias voltaram a comprar o produto, elevando ligeiramente o preço no mercado interno. A ar-roba de pluma em Barreiras está cotada a R$ 57,00, enquanto que neste mesmo período de 2012 era vendida a R$ 53,00 (Gráfico 3).

MAMONA

A Bahia responde por cerca de 80% da produção nacional de mamona, tendo a região de Ire-cê como a principal produtora do Estado. Desde o ano passado, a região vem passando por proble-mas climáticos, que prejudicaram sensivelmente a produção agríco-la. A safra da Bahia é de 67,24 mil

Grá�co 3 COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO ALGODÃO EM PLUMA EM BARREIRAS fev de 2012 a fev de 2013

Fonte: SEAGRI/SPA

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80R$ por arroba

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toneladas, quase o triplo da safra de 2012, porém está muito abaixo da produção de 2011, que foi de 90,03 mil toneladas (Tabela 1).

A produtividade da mamona na Bahia é de 763 kg/ha, ante 693 kg/ha do rendimento médio do Brasil. A produtividade da ricinocultura baiana, a despeito de ser maior do que a produtividade nacional, ainda é baixa se comparada com outros estados da Federação.

FEIJÃO

O feijão na Bahia é colhido em duas safras no ano, sendo a primeira no primeiro trimestre, e a segunda no segundo semestre, durante os me-ses de agosto e setembro.

Em 2012, a safra de feijão foi bastante prejudicada, visto a es-tiagem que afetou as regiões de Irecê, Sudoeste e Bom Jesus da Lapa e o nordeste do Estado. Neste ano, as chuvas não caíram em grandes volumes nas três pri-meiras regiões, porém houve uma

expansão de 78,86% na colheita da primeira safra ou safra de ve-rão como também é conhecida, saindo de 58,45 mil toneladas para 104,54 mil toneladas.

A safra de inverno é plantada em maio e junho, tendo o nordeste do estado como a principal região produtora. De acordo com o IBGE, a expectativa é que a Bahia colha 71,90 mil toneladas na segun-da safra deste ano. Confirmando essa expectativa, a produção total de feijão do Estado será de 176,43 mil toneladas, 42,15% maior que a safra de 2012 (Tabela 1).

O preço do feijão é determinado pela relação de oferta e demanda no mercado interno, não estando, portanto, influenciado pelas flutu-ações no mercado internacional. Houve problemas climáticos em estados importantes produtores como Paraná e Minas Gerais, além da seca no Nordeste, o que está mantendo elevado o preço do pro-duto nesse ano. A saca do produto em fevereiro foi cotada em média, a R$ 180,00 em Adustina, enquan-

to que neste mesmo período no ano passado custava, em média, R$ 156,00 (Gráfico 4).

ARROZ

A safra de arroz em 2013 na Bahia cresceu 9,24% em relação ao ano passado, saindo de 24,46 mil to-neladas para 26,72 mil toneladas (Tabela 1). A produção de arroz no Estado é decrescente nos últimos dez anos, desde que os sojiculto-res do Oeste da Bahia passaram a plantar soja em áreas novas. Antes, plantava-se arroz nas áre-as recém-abertas, cultivando-se soja nos anos seguintes, porém já existem tecnologias que permitem entrar diretamente com soja. Além disso, o Oeste já está consolidado como região produtora de grãos, e a abertura de novas áreas é reduzi-da atualmente. Portanto, apesar do crescimento neste ano, esta ativi-dade não é expressiva no Estado.

Houve uma pequena elevação na safra nacional, mas como os estoques estão baixos, tem

Grá�co 4 COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO FEIJÃO EM ADUSTINA fev de 2012 a fev de 2013

Fonte: SEAGRI/SPA

R$ por saca de 60 Kg

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mantido o preço do arroz fir-me no mercado interno. A saca com 60 kg foi cotada em mé-dia, a R$ 50,00, em fevereiro

no município em Luís Eduardo Magalhães, enquanto que no ano passado situava na casa dos R$ 26,00 (Gráfico 5).

SORGO

A produção de sorgo tem crescido significativamente na Bahia nos últimos anos, sain-do de 33,78 mil toneladas em 2002 para 171,10 toneladas em 2011, ou seja, um incre-mento de 400%. A elevação do preço do milho nos mercados interno e externo tem colocado o sorgo como uma alternativa para as indústrias de ração animal, valorizando o preço do produto. Além disso, trata--se de um produto menos vul-nerável às irregularidades das chuvas, levando-o a substituir outras culturas como o feijão, por exemplo.

A produção estadual neste ano foi de 108,57 mil toneladas, mais que o triplo do volume produzido em 2012 (Tabela 1). A região de Irecê sempre lidera a colheita da lavou-ra no estado, porém, neste ano, foi superada pela microrregião de Guanambi, que está responden-do por mais de 30% do volume colhido na Bahia.

Grá�co 5 COTAÇÃO MÉDIA MENSAL DO ARROZ EM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES fev de 2012 a fev de 2013

Fonte: SEAGRI/SPA

R$ por saca de 60 kg

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Símbolo da pecuária nordestina, o caprino é encontrado em grande parte das unidades de produção familiar em todo

Semiárido. Segundo o IBGE (2011), o Brasil possui 9,39 milhões de cabeças e a Bahia responde por 29,21% desse efetivo.

Robson Andrade1

Ildes Ferreira2

1 – Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão da Ino-vação Tecnológica; e-mail: [email protected]

2 – Sociólogo, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: [email protected]

O sistema de criação na Bahia ainda é bastante rudimentar, com pouco incremento tecnológico, baixa qualidade genética dos re-banhos, baixos índices zootéc-nicos, dentre outros aspectos. Contudo, apresenta-se como uma cadeia produtiva com elevada po-tencialidade em virtude das boas condições de aceitação da carne, leite e seus derivados pelo merca-do. Atualmente, na Bahia, a implan-tação de frigoríficos especializados para o abate de caprinos tem per-

mitido expandir este consumo para novos nichos da população, assim como a produção de derivados de leite pelos laticínios que proces-sam/industrializam o leite caprino.

No que tange a produção de leite de cabra, o Território do Sisal, loca-lizado no Semiárido baiano, possui larga experiência em virtude de ter iniciado a produção nos anos 90. O presente comunicado técnico pretende, em linhas gerais, relatar essa experiência do Território do

Cabra leiteira: • fonte de renda para o sertanejo• a experiência do Território do Sisal

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COMUNICAÇÃO

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Sisal e abordar a questão da po-tencialidade da cadeia produtiva da caprinocultura de leite.

UM POUCO SOBRE O TERRITÓRIO DO SISAL

O Território do Sisal é constituí-do por 20 municípios (Figura 1), habitado por 582.329 pessoas (IBGE, 2011) e uma extensão territorial de 20.154 km², o cor-respondente a 3,5% do Estado da Bahia. Inserido no Semiárido baiano, é caracterizado pela pre-dominância de uma economia agrícola de base familiar.

A CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE LEITE NO TERRITÓRIO DO SISAL

No início da década de 1990, no município de Valente, a Associa-ção de Desenvolvimento Sus-tentável Solidária – APAEB, com o intuito de diversificar a renda dos agricultores familiares da re-gião sisaleira, resolveu fomentar, através de um “fundo rotativo”, a compra dos primeiros caprinos leiteiros na região. Em paralelo, com recursos oriundos de organi-zações internacionais, a APAEB, em 1996, iniciou a construção de um laticínio específico para pro-cessamento e industrialização do leite de cabra, consolidando a vi-são inovadora e empreendedora da organização.

Em 2001, o laticínio DACABRA passou a produzir iogurtes, quei-jos e doces sob a orientação de pesquisadores da Escola de Agronomia da Universidade Fe-deral da Bahia (UFBA), a atual Universidade Federal do Recôn-cavo da Bahia (UFRB).

A experiência em Valente fomen-tou a expansão da cadeia produti-va e, em 2009, a Cooperativa Mis-ta dos Agricultores Familiares do Território do Sisal – COOPSISAL implantou outro laticínio no Terri-tório, localizado no município de

São Domingos, conhecido como Laticínio Ouro verde.

Hoje, a caprinocultura é um componente fundamental da agricultura familiar e da própria economia do Território do Sisal, com destaque para os municí-pios de Valente, São Domingos, Santaluz e Retirolândia. De acor-do com o IBGE (2011), o efetivo caprino do conjunto dos municí-pios que compõem o Território é de 253.105 cabeças, o que cor-responde 9,23% do rebanho do Estado da Bahia.

Figura 1

Nordestina

Queimadas

Santaluz

Araci

Valente

São Domingos

Retirolândia

Ichu

Barrocas

Biritinga

Serrinha

Lamarão

Candeal

Teo�lândia

Conceição do Coité

Monte Santo

Itiúba

Cansanção

Quijingue

Tucano

Fonte: MDA. Relatório Analítico, 2011

MAPA DO TERRITÓRIO DO SISAL NO ESTADO DA BAHIA

Page 14: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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Os laticínios DACABRA e OURO VERDE, juntos, processam cerca de 36.000 litros de leite de cabra por mês, beneficiando 140 famílias da agricultura familiar, com a gera-ção de renda fruto da cadeia pro-dutiva na ordem de R$ 43.200,00 mil/mês, ou seja, um incremento na renda familiar médio de aproxi-madamente R$ 300 reais.

SISTEMA DE CRIAÇÃO

Os animais são criados no sis-tema semiconfinado onde parte do dia alimentam-se de forra-geiras existentes na caatinga ou pastagem formadas por forra-geiras como buffel ou urochloa. Ao retornar para as instalações, as cabras que estão em orde-nha, recebem como suplemento alimentar farelo de milho e soja, como fonte de energia e proteína, respectivamente, e silagem ou feno de resíduo de sisal (abun-dante na região). O resíduo do sisal é um volumoso importante na região, com ele os agriculto-res conseguem manter a produ-ção de leite, mesmo nos longos períodos de estiagem.

Nas propriedades familiares as instalações foram adequadas para a produção de leite, obede-cendo a critérios técnicos e sani-tários.

O manejo sanitário, assim como o manejo reprodutivo e nutricio-nal é orientado por técnicos de organizações parceiras do laticí-

nio que prestam assistência téc-nica para todos os cooperados de cada laticínio.

MERCADO

Entre os principais produtos pro-duzidos estão o leite de cabra pas-teurizado, iogurte, doce de leite e queijo. O principal mercado con-sumidor localiza-se nas regiões metropolitanas de Feira de San-tana e Salvador. Além desse mer-cado, os laticínios fornecem o leite pasteurizado, conhecido como “barriga mole”, para programas governamentais como o Programa de Aquisição de Alimento – PAA.

PARCERIAS Os dois laticínios, DACABRA e OURO VERDE, contam com o apoio de organizações da socie-dade civil como MOC, APAEB, Fun-dação APAEB, FATRES, UNICAFES e do poder público a exemplo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura – SEAGRI, Secretaria

de Desenvolvimento Social e Com-bate a pobreza – SEDES, Embrapa Semiárido e da Companhia Nacio-nal de Abastecimento – CONAB, Serviço de Apoio a Pequena e Mi-cro Empresa – SEBRAE, Univer-sidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB e Universidade Esta-dual de Feira de Santana – UEFS. Apesar de ainda existirem muitas limitações, são notórios os avanços na qualificação dos agricultores, através dos processos de pesqui-sa, assistência técnica e capacita-ções, como também na gestão e finanças dos empreendimentos, frutos das parcerias firmadas, as-sim como a dedicação dos dirigen-tes de cada laticínio.

OPORTUNIDADES DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA

� Condições edafoclimáticas fa-voráveis a criação dos caprinos;

� Histórico de criação do caprino de corte por parte dos agricul-tores familiares do Território;

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� Mercado em expansão, tanto do setor público quanto do setor privado;

� Incremento adicional na ren-da familiar da unidade de produção;

� Fonte de proteína para a família, principalmente as crianças;

� Elevada capacidade de orga-nização dos agricultores;

� Produção em consórcio com a cultura do sisal;

� Aproveitamento do resíduo de sisal como fonte de ali-mento para os caprinos.

PRINCIPAIS DESAFIOS DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA

Apesar da posição destacada que ocupa a caprinocultura no Território, do empenho dos agri-cultores e parceiros, há a neces-sidade de se superar algumas dificuldades de natureza estru-tural. São elas:

� Melhorar a produtividade do rebanho leiteiro;

� Adotar as medidas profi-láticas necessárias para a redução da incidência de zoonoses;

� Introduzir planejamento da unidade familiar de produção, incorporando-se os princípios da economicidade e da pre-servação ambiental;

� Otimizar recursos naturais, aproveitando as potencialida-des da caatinga;

� Incorporar tecnologias apro-priadas para o sistema de produção;

� Melhorar geneticamente o rebanho;

� Adotar medidas de convivência com a seca para assegurar a manutenção da produção nos períodos de estiagens (capta-ção e armazenamento de água, bancos de alimentos etc.);

� Ampliar a oferta de crédito (PRONAF);

� Adequar as Leis e Normativas

estabelecidas para a produ-ção de leite;

� Buscar certificações de quali-dade e de origem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cadeia produtiva da caprino-cultura no Território do Sisal é um elemento crucial para a manu-tenção e melhoria das condições de vida das famílias, pela sua ca-pacidade de gerar renda numa região de condições adversas para muitas atividades econômi-cas. Há potenciais para aumento da produtividade e da produção, há mercado para os produtos e há um valioso aprendizado por parte dos agricultores e de suas organizações. É relevante, também, para o fortalecimento e consolidação de iniciativas de economia solidária no Território, mas requer o efetivo e decisivo apoio dos governos federal e es-tadual, seja para ampliar as prá-ticas exitosas já verificadas, seja para suscitar o surgimento de novas o que muito poderá con-tribuir para a economia local no contexto da agricultura familiar do Território do Sisal.

REFERÊNCIAS

APAEB. Laticínio Dacabra. Disponível em: <http://www.apaeb.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=41> Acesso em 28 set. 2012.

BNB. Ações do Banco do Nordeste do Brasil em P&D na arte da pecuária de caprinos e ovinos no Nordeste Brasileiro. Fortaleza, 2009.

FERREIRA, I. et al. Relatório Analítico do Território do Sisal. Disponível em <http://sge.mda.gov.br/bibli/bibli_re/ra_sisal_ba_043.pdf>. Acesso em 03 out. 2011.

IBGE. Censo Agropecuário. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 03 out. 2012.

IBGE. Censo Demográfico. Disponível em <http://www.ibge.gov.br.> Acesso em out. 2012.

LIMA F. A. Q. Plano de negócio e marketing do Laticínio Dacabra. Salvador: SEBRAE/BA, 2009.

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Este artigo, um pouco diferente no seu formato, tem como objetivo principal ajudar os criadores de caprinos e ovinos do Semiárido que

não fizeram reservas de forragem no enfrentamento de uma longa es-tiagem, a encontrar, dentre as poucas alternativas, o caminho mais apropriado para atravessar este período difícil com um mínimo de perdas em seus rebanhos, assegurando assim, após o retorno das chuvas, a possibilidade de um processo de recuperação da atividade.

Clovis Guimarães Filho1 Cândido Roberto de Araújo2 José Hugo Félix Borges3

1– Médico Veterináro, M.Sc. em Animal Science, ex--pesquisador da Embrapa Semiárido, coordenador de ATER da Projetec – Projetos Técnicos Ltda no Projeto Pontal Sequeiro, Petrolina-PE; e-mail: [email protected]

2– Engenheiro Agrônomo da Projetec – Projetos Técnicos Ltda no Projeto Pontal Sequeiro e caprino--ovinocultor no Semiárido piauiense.

3–Engenheiro Agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. – EBDA e caprino--ovinocultor no Semiárido baiano; e-mail: [email protected]

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Nove medidas

para o caprino-ovinocultor enfrentar o períodode seca com menos

prejuízos

DICAS IMPORTANTES:

O mais importante numa seca não é tentar manter todo o rebanho, mas, sim, garantir a sobrevivência do maior número possível de cabras ou ovelhas, que sejam jovens, boas parideiras e prontas a entra-rem em cio e a emprenharem rapidamente, com a volta das chuvas.

Avalie cuidadosamente cada alternati-va apresentada a seguir e procure utilizar aquelas que melhor se ajustam às condi-ções de sua exploração e aos recursos dis-poníveis na sua propriedade.

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MEDIDAS PARA O ENFRENTAMENTO DA SECA

MEDIDA 1

Diminua o tamanho deseu rebanho

É a primeira coisa que o produtor deve fazer.

Assim:

Avalie a quantidade de pas-to disponível que você tem e de forragem que você armazenou e compare com a quantidade de animais para alimentar – faça então uma estimativa de quantos animais será possível manter e de quantos terá que se desfazer;

Outra opção é transferir parte do rebanho para outra proprie-dade, própria ou de terceiros (aluguel de pasto ou parceria para sobrevivência), onde haja pasto disponível;

Vendendo alguns animais você pode, com o dinheiro e até certo limite, comprar forragem ou ração para alimentar melhor os animais que ficarem na roça; Selecione os animais para venda à medida que for preci-sando, seguindo essa ordem:

1º) venda os machos jovens, já prontos, aqueles que já estejam com idade e peso bom para o abate e as fêmeas, nessas mes-mas condições, que não apresen-tem boa qualidade para serem aproveitadas como matrizes; 2º) venda as cabras e ovelhas mais velhas, começando por aquelas que demoram muito a parir ou que tenham algum problema e, também, os bodes e carneiros que podem ser descartados por idade avançada ou por baixa qualidade do serviço; 3º) depois, venda os machos restantes des-mamados, destinados a acaba-

mento e abate; 4º) se a situação piorar, você então deve pensar em vender as fêmeas mais novas apartadas, procurando manter as melhores marrãs que já estejam em condições de entrar em cio e de emprenhar pela primeira vez; 5º) se ainda precisar vender mais, tente vender as crias mais velhas, de ambos os sexos, que ainda es-tejam mamando. Faça tudo para não vender as melhores marrãs desmamadas e as melhores e mais jovens matrizes parideiras.

Ao decidir sobre a ven-da dos animais tenha em mente que, de uma ma-neira geral, os caprinos resistem mais que os ovi-nos aos efeitos de uma estiagem severa – isto signi-fica que, em condições ex-tensivas ou semi-extensivas, os custos de manter uma cabra serão menores que os de manter uma OVELHA.

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MEDIDA 2

Procure apartar as crias das mães

Sem ter que produzir leite e dar de mamar à cria, a cabra ou a ovelha parida pode aguentar melhor a seca e emprenhar mais cedo, de-pois da volta das chuvas. Para os cabritos ou borregos mais no-vos, faça uma “meia apartação” – deixe-os separados das mães, de modo que mamem apenas uma ou duas vezes ao dia.

MEDIDA 3

Separe os animais “mais fracos” para ração suplementar

Divida o rebanho em três grupos, separando, com base na con-dição corporal, (“não magros”, “magros” e “muito magros”), para permitir tratamento diferenciado e uso mais racional da alimentação suplementar. Utilizar ração ou forragem suplementar somente para aqueles mais fracos, pou-par ração e dinheiro para mais adiante, se a situação piorar.

MEDIDA 4

Use todos os pastos de uma maneira igual

Divida os pastos, mesmo com cercas bem precárias.

Somente mude os animais de pasto depois que tiverem comi-

do todo o tipo de planta de uma maneira igual, por toda a área de cada pasto. Dessa forma, o pas-to rende muito mais.

Coloque os pontos de sal (ou de ração) longe da água. O posicio-namento estratégico do sal, dos pontos d’água e da ração, pode propiciar uma máxima e unifor-me utilização da forragem dis-ponível nos pastos.

MEDIDA 5

Previna as doenças no seu rebanho nesse período crítico

Vermifugue seus caprinos e ovi-nos antes e, outra vez, durante o período; banhe ou pulverize os animais com produtos contra parasitas externos como os car-rapatos e os piolhos; uma boa limpeza nos chiqueiros é funda-mental. Assim, os animais não adoecerão facilmente e estarão mais fortes para resistir a uma alimentação escassa.

MEDIDA 6Proteja os animais contra ataques de predadores

Normalmente, nas épocas de seca mais intensa, aumentam os ataques de animais selvagens contra cabritos e borregos, princi-palmente de carcarás, raposas e gatos-do-mato, alguns cachorros e até onças, no entorno de serras; procure reforçar os chiqueiros e manter os animais presos durante a noite – tente outras medidas de vigilância como o uso de cachor-ros ou de armadilhas tipo alça-pão. É importante evitar que as cabras e ovelhas dêem cria no mato – mantenha uma área cer-cada, perto da casa, para servir como “pasto-maternidade”.

MEDIDA 7

Controle a reprodução do rebanho

É conveniente evitar que as ca-bras ou ovelhas fiquem prenhes

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– se ficarem prenhes vão precisar de mais comida e de melhor qua-lidade antes e, principalmente, depois do parto, para poder dar leite. Assim, evitar parições em pleno período de seca braba, pode ser muito útil!

MEDIDA 8

Dedique atenção especial ao suprimento d’água para o rebanho

A água é o principal alimento para os rebanhos, por isso proteja bem as suas fontes d’água. Faça uma cerca ao redor – não deixe des-perdiçar nem sujar a água – evi-te a entrada dos animais.

Uma cabra (ou ovelha) precisa beber diariamente de 1 a 2 litros de água, se estiver se alimentan-do de forragens verdes e tenras – na época seca, com tempera-tura mais alta e se alimentando de forragens secas, o consumo de água pode chegar até 6 litros por dia; o consumo de água sa-lobra diminui a quantidade total de comida ingerida pelos ovinos e caprinos fazendo com que eles produzam menos. Se você tiver um poço de água muito salobra, que nem os animais consigam beber, procure co-

locar no bebedouro um pouco de água boa – com a mistura, a salinidade diminui e os ani-mais passam a beber bem a água do poço.

Outras medidas simples que aju-dam a reduzir a necessidade de os animais beberem água: a) ali-mentar os animais com silagem no lugar de feno (a silagem tem em torno de 70% de água e o feno, apenas 10%); b) colocar os ani-mais para pastar cedo pela manhã ou à tardinha, quando o sol está mais fraco; c) apartar as crias mais cedo – a cabra ou ovelha que está dando leite precisa de 50% a mais de água; d) quando a situação es-tiver mais grave, passe a fornecer a água em dias alternados. Os ca-prinos e ovinos resistirão bem, especialmente aqueles que têm mais sangue “pé-duro”.

MEDIDA 9

Complemente a alimentação do rebanho no período seco

Essa é a parte mais importante! Na situação atual, sem nenhuma forragem produzida ou armazena-da, você está em situação difícil e tem que agir rápido para garantir a sobrevivência do seu rebanho!

Veja as indicações a seguir:

Reserve alguma forragem cul-tivada que ainda reste na proprie-dade para ser cortada, colhida ou apanhada do chão e fornecida aos animais. As forragens mais indicadas para cortar são: capim elefante e palma forrageira;

Não deixe o capim amadu-recer demais (“envarar”) para cortar, pois seu valor nutritivo fica muito baixo; a palma deve ser cortada e picada na máqui-na-forrageira, ou “pinicada” à mão, antes de dar aos animais; não faça farelo da palma se sua propriedade tiver problemas sé-rios de escassez de água para os animais, pois ela ajudará muito a atenuar esse proble-ma pela grande quantidade de água que contém;

Para colher ou apanhar as me-lhores espécies são: melancia--de-cavalo e algarobeira. Mas, cuidado com as vagens da al-garoba – elas não podem ser usadas por muito tempo como alimento único pois podem causar uma doença chamada “cara-torta”;

Tente cercar alguma área de pasto cultivado como reserva para uso mais adiante pelos ani-

DICAS IMPORTANTÍSSIMAS:

Plantas suculentas, como a palma forrageira e a melancia-de-cavalo, matam a sede dos animais nos pe-ríodos mais secos – seu uso deve ser reservado para quando a água for mais escassa (01 hectare de palma adensada pode armazenar tanta água quanto 10 ou mais cisternas de placas);

Raízes e tubérculos frescos (as “batatas” das plantas nativas, como o mamãozinho-de-veado) também têm mais água e podem ser utilizadas para esse fim.

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mais; o melhor pasto para ser re-servado para uso no pior da seca é o capim buffel.

Atenção! Muito importante! Não deixe, de forma alguma, os animais “rasparem” ou “pelarem” os pastos reservados – os custos de tempo e dinheiro com o seu replantio ou recuperação serão muito piores.

Faça feno – a fenação é a secagem da planta forragei-ra verde, com o fim de dimi-nuir a quantidade de água que ela contém – a planta perde só água, mantendo praticamente o seu valor nutritivo; a secagem é feita ao sol, espalhando-se a for-ragem, triturada ou não, por um ou dois dias; as plantas mais re-comendadas para fenação são: capins buffel e corrente, leuce-na, maniçoba, gliricídia, guandu, pornunça, cunhã.

Como você, muito provavel-mente, não tem nenhuma dessas forragens cultivadas que esteja ainda verde e no ponto de fazer feno, você terá de trabalhar com algumas ervas, arbustos ou árvo-res nativas da caatinga que ainda contenham quantidades razoá-veis de folhagem. É nessa hora que se conhece o verdadeiro valor da caatinga! Nesse mo-mento, as principais plantas que ainda podem ser encontradas com alguma folhagem para fenar são: jurema, juazeiro, canafístula, faveleira, lã-de-seda, baraúna, fei-jão bravo, icó, espinheiro (jiquiri-zeiro) e algaroba. Os animais co-mumente não apreciam algumas dessas espécies quando lhes são fornecidas na forma de folhagem verde, mas, após a secagem, as folhas são avidamente ingeridas;Embora não se trate de uma es-pécie nativa, você também pode fazer um bom feno da folhagem

da algaroba, abundante em vá-rias áreas do Semiárido. O feno das folhas de algaroba é feito da mesma forma que o de jurema, cortando as ramas e colocando para secar para depois fazer o desprendimento das folhas sobre uma lona plástica estendida no solo. Faça feno apenas da folha-gem de alguns galhos de cada planta, para não prejudicar a produção de vagens que devem surgir ao final do ano.

Havendo alguma disponibili-dade de água e mão-de-obra na propriedade, veja a possibilidade de produzir milho em canteiros de hidroponia; esta prática permite a produção de 25 kg de folhas ver-des de milho por m² de canteiro a cada 15 dias;

Aproveite palhadas e outros resíduos de cultivos da proprieda-de. Os mais comuns são: – ras-

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pas de mandioca, grãos de milho, sorgo, milheto; – palhada e sabu-gos de milho; – palhada e cascas de feijão, de arroz; – casca, fo-lhagem e manivas de mandioca; – resíduos de sisal; os grãos e a raspa devem ser armazenados em sacos, galpões ou silos metá-licos. Os grãos e as raspas são alimentos ricos em energia e devem ser fornecidos de prefe-rência quebrados, ou triturados, puros ou misturados a outros ingredientes. Palhadas, sabugos e cascas e resíduos são melhor aproveitados quando amoniza-dos, que consiste em tratar várias camadas do material triturado com uma solução de uréia – o material triturado é coberto total-mente com plástico e deixado por cerca de 20 dias de temperatura alta – depois de aberto o material

tratado está mais rico em proteína e muito mais digestível.

Aproveite plantas nativas exis-tentes na propriedade; observe os recursos naturais existentes, o que é que pode ser aproveita-do para alimentar seus animais. Veja se encontra: mandacaru, facheiro, xique-xique, palma-tória, macambira, coroa-de--frade. Essas espécies, e outras do mesmo tipo, são normalmente arrancadas ou cortadas, algumas delas “sapecadas” (para queimar os espinhos), “pinicadas” e forne-cidas aos animais em épocas de seca braba, quando a forragem tradicional já se esgotou. Embora o trabalho seja grande, os resul-tados compensam, porque com certeza vão garantir a sobrevi-vência dos animais.

Outra alternativa que pode ser usada é o corte e derruba das ramas de diversas árvores e ar-bustos da caatinga que mantêm suas folhas mesmo em grandes estiagens, entre elas: juazeiro, baraúna, espinheiro, icó, feijão bravo, “enxertos de passarinho” de jurema e de outras espécies, ramas da algaroba (embora esta não seja uma planta nativa da ca-atinga, também podem ser derru-badas para consumo direto pelos animais). As alternativas apre-sentadas terão um resultado mais eficiente se forem utiliza-das combinadas ou misturadas com outras, umas procurando melhorar o sabor de outras me-nos palatáveis, ou procurando balancear a ração, de modo a que cada animal tenha a seu dispor não apenas volumoso

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fibroso, mas também outros in-gredientes que forneçam ener-gia e proteína.

Cada espécie utilizada para salvar rebanhos precisa ser preservada. Assim, produtor, para cada mandacaru que cortar ou mamãozinho que arrancar, procure plantar ou-tros dois!

Adquira forragens e rações de terceiros, quando possível; uma boa dica é comprar volumosos das áreas irrigadas; o bagaço de cana hidrolisado é um volumoso de baixa aceitação pelos ani-

mais, precisando ser misturado com uma solução de melaço (7 a 9 litros de água por kg de mela-ço) para obter um bom consumo – alguns produtores ainda adi-cionam outros produtos, como torta de algodão ou milho, à mis-tura – um bom resultado pode ser obtido também com o man-dacaru triturado misturado ao bagaço; como o melaço é muito caro, uma outra alternativa para o produtor é usar na mistura um tipo de melaço feito de vagem de algaroba, preparado na pro-priedade; o sal proteínado é uma mistura composta geralmente de uréia, sal comum, farelo (de

soja ou algodão), milho moído (ou raspa de mandioca ou mela-ço) e sais minerais. Pode ficar a disposição dos animais, pois sua ingestão é regulada pela propor-ção de sal comum na mistura. O sal proteínado já é encontrado pronto, em sacos, no comércio, mas você mesmo pode prepa-rar uma mistura na proprieda-de, a um custo mais baixo do que aquele da mistura pronta.

Atenção! O uso incorreto da uréia pode causar a morte dos animais, por isso não a use de forma alguma sem uma orienta-ção técnica.

Converse com o extensionista de seu município para obter orien-tação mais detalhada de como utilizar cada uma das alternativas mostradas neste artigo

Observação: os leitores interessados em adquirir informações mais detalhadas sobre as alternativas apresentadas neste artigo devem solicitar gratuitamente o “Manual da Seca”, via e-mail: [email protected]

ALTERNATIVA A AVALIAR PROCESSO PRINCIPAIS MATERIAIS

Reservar áreas deforragens cercadas para cortar, colher ou apanhar

cortar e picar capim elefante, sorgo, cana, palma forrageira

colher ou apanhar e dar quebrada, corta-da ou triturada

melancia forrageira, vagens de algaroba

Resumo das principais alternativasemergenciais para alimentação dosrebanhos no período de estiagem

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ALTERNATIVA A AVALIAR PROCESSO PRINCIPAIS MATERIAIS

Reservar áreas de for-ragens cercadas para pastejo

pastejo animal capim buffel

Produzir forragem verdecultivar forragem irri-gada em canteiros e cortar a cada 15 dias

milho

Fazer feno colher a forragem cul-tivada ou nativa ainda disponível e fenar

folhagem de capim buffel, leucena, maniçoba,guandu, pornunça e outras plantas cultivadas

folhagem de jurema, juazeiro, baraúna, faveleira,lã-de-seda, canafístula, feijão bravo, icó, espinheiro, algaroba e outras plantas nativas ou naturalizadas

Aproveitar palhadas e ou-tros resíduos de cultivos

fornecer in natura ou tratados com uréia (amonizados)

grãos de milho ou sorgo, cascas, folhas, manivas e raspas de mandioca, palhadas e sabugo de milho, cascas e palhadas de feijão e de arroz, mucilagem de sisal, etc.

Aproveitar plantas nativas e naturalizadas da pro-priedade

derrubar ramas de árvores e dar in natura

jurema, faveleira, juazeiro, baraúna, canafístula,feijão bravo, icó, espinheiro, “enxertos depassarinho”, algaroba, etc.

cortar e queimar cactáceas e outras plantas espinhentas

mandacaru, facheiro, xique-xique, coroa-de-frade, macambira

arrancar raízes, “batatas”

mamãozinho-de-veado

Adquirir forragens e rações de terceiros

complementar alimentação volumosa

capins e outras forrageiras, especialmente de áreas irrigadas (ex: pastos dos pomares, sorgo/milheto com ciclo de 30 dias produzidos sob contrato, fardos de feno, ponta de cana das usinas etc.), palma forragei-ra, palhadas e outros restolhos (troncos e folhas de bananeira, bagaços e refugos de uva, melão, melan-cia, tomate e de outras frutas e hortaliças, bagaço hidrolisado de cana, resíduos do sisal, bagaço seco de caju, manivas de mandioca, palhadas, sabugos e cascas de milho e feijão etc.

complementar alimentação concentrada

grãos/caroços/farelos (milho, sorgo, algodão, soja, tri-go), raspas de mandioca, farelo/vagens de algaroba, sal proteinado, sucedâneos do leite, melaço, uréia.

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Maria Zélia Alencar de Oliveira1

Paulo Prates Júnior2

Cristiane de Jesus Barbosa3

Cezar Chamusca Assmar4

1–Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

2–Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

3–Engenheira Agrônoma, Doutora em Ecossistemas Agroflorestais, Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura – BA; e-mail: [email protected]

4–Engenheiro Agrônomo, Mestre em Zoologia, Consultor Técnico em Agronomia; e-mail: [email protected]

Anteriormente considerado um fungo oportunista, Lasiodiplodia

theobromae (Patouillard) Griffon & Maublanc (sinônimo: Botryodiplodia theobromae Pat.) (SUTTON, 1980), vem se constituindo em um sé-rio problema para os produtores em diversos agroecossistemas (FREIRE et al., 2004).

Esse fungo é característico das regiões tropicais e subtropicais, onde ocorre em cerca de 500 es-pécies de plantas (PUNITHALIN-GAM, 1980). Sobrevive na atmos-fera, nos tecidos vegetais vivos ou mortos, sendo disseminado pelo vento, insetos e instrumentos de poda. Penetra na planta por meio de aberturas naturais, principal-mente ferimentos motivados por

insetos, pássaros e pelo próprio homem, por meio de práticas cul-turais. Tavares (2002) descreve que temperaturas altas, com mé-dia em torno de 28°C, umidade relativa próxima de 60% e precipi-tação pluviométrica de, aproxima-damente, 15 mm favorecem o seu desenvolvimento.

Freire et al. (2004) mencionam que há um aumento no número de hospedeiros e na severida-de do ataque de L. theobromae. Dentre as espécies que relatam estão: o abacateiro, citros, co-queiro, eucalipto argentino, ja-queira, mandioca, ficus ornamen-tal, meloeiro, figueira, mangueira oiticica, goiabeira, mamoeiro, ro-seira, sapotizeiro e videira.

Fungo Lasiodiplodiatheobromae

um problema para a agricultura baiana

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Esse patógeno pode acarretar diferentes sintomas nas plantas infectadas, incluindo seca-des-cendente (die back); cancro em ramos, caules e raízes; lesões em estacas, folhas, frutos e semen-tes; além de incitar a morte de mudas e enxertos. Sua capacida-de de infectar frutos coloca-o den-tre os mais eficientes patógenos disseminados por meio de se-mentes e causadores de doenças pós-colheita (FREIRE et al., 2004).

Cysne et al. (2006) asseguram que L. theobromae é um proble-ma limitante para a fruticultura tropical. Tal declaração é confir-mada por Cardoso et al. (1998) ao revelarem que, provavelmen-te, nenhum outro microrganis-mo representa uma maior ame-aça à fruticultura no Nordeste do que esse fungo, pelo caráter destrutivo dos sintomas por ele determinados, somado à sua dispersão assintomática pelas sementes, propágulos vegetati-vos e porta-enxertos.

A sua ocorrência de forma en-dofítica (colonizando os tecidos internos do vegetal, sem pro-duzir danos) tem sido relatada em uma gama de hospedeiros, sendo o processo de infecção induzido por estresses ambien-tais que provocam o enfraque-cimento do vegetal (CARDOSO et al., 2009a; BAIRD e CARLING, 1998; CILLIERS, 1993; MOHALI et al., 2005; MULLEN et al., 1991; RUBINI et al., 2005). Igualmente, Cardoso et al. (2006) abordaram acerca desta forma de associação de L. theobromae, ao concluírem

que este patógeno sobrevive en-dofiticamente em sementes de gravioleira (Annona muricata L.). Segundo Cardoso et al. (2009b), essa característica é de gran-de importância epidemiológica, prognosticando medidas de ex-clusão no manejo de doença.

Na Bahia, L. theobromae (Figura 1) vem ocasionando a morte de

mangueiras (Figura 2A), cajara-neiras – (Figura 2B) e cajueiros – (Figura 3); tendo sido, ainda, detectado, no período de 2009 a 2012, por meio de exames re-alizados no Laboratório de Fito-patologia da Central de Labora-tórios da Agropecuária da EBDA (FITO/CLA/EBDA), em outras frutíferas, como abacateiro; co-queiro (Figura 2C); citros; frutos

Figura 1

Lasiodiplodia theobromae: (A) Iso-lamento do fungo em batata-dextro-se-ágar a partir de fragmentos de tronco de mangueira; (B e C) esporos jovens (hialinos e unicelulares) e (C) maduros (bicelulares, de coloração marrom escura).

Figura 2

Lasiodiplodia theobromae associa-da à morte descendente ou podridão seca de (A) mangueira e de (B) caja-raneira e à (C) queima-das-folhas de coqueiro.

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de graviola (Figura 4A); jambeiro; pinha; e jenipapo; em ornamen-tais: flamboyant; barba-de-bara-ta; faveiro; cássia-amarela; fícus benjamina; palmeira imperial; e sombreiro. Este fitopatógeno foi, também, observado em palma forrageira – (Figura 5) e em se-mentes de mamona – (Figura 4B); e de milho – (OLIVEIRA et al., 2012a e 2012b).

Conforme Cardoso et al. (1998), em geral, L. theobromae vem as-sociado a processos patogênicos em plantas estressadas. Convém aludir que este fungo foi consta-tado em plantas com ataque de coleópteros (Figura 6) e recupera-do em isolamentos, realizados no laboratório de FITO/CLA/EBDA, em associação com outros agen-tes de doenças: Colletotrichum

gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc e Thielaviopsis paradoxa (De Seynes) Höhn. Em se tratando da queima-das-folhas de coquei-ro, 80% dos isolamentos apre-sentaram uma associação de L. theobromae com Pestalotiopsis sp.

Por outro lado, Tavares (2002) levanta a hipótese que o fungo tem evoluído em patogenicidade

Figura 3

Morte descendente de (A) cajueiro, com (B) exsudação de coloração amarronzada com aspecto gelatino-so no caule necrosado provocada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae, na região de Itaberaba-BA (Fotos de Gilvã Santos).

Figura 4

Lasiodiplodia theobromae: (A) de-senvolvimento do fungo em fruto de graviola colocado em câmara úmida (micélio de coloração escura reco-brindo o fruto); (B) Crescimento do fungo, em meio BDA, em sementes de mamona da região de Irecê, BA.

Figura 5

Sintomas de resinose em raquetes de palma ocasionado por Lasiodiplodia theobromae. Abundante exsudação de goma de coloração amarela (A) que se torna, em estágio mais avan-çado da doença, enegrecida (B).

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em decorrência das pressões ambientais, notadamente, nas regiões semiáridas, onde as condições climáticas lhes são muito favoráveis.

Tal afirmativa condiz com o cenário que se descortina na atualidade no Estado da Bahia, seriamente

comprometido por atividades an-trópicas, dentre as quais, os des-matamentos.

Não obstante, várias outras questões podem estar relaciona-das à mudança de ação desse fitopatógeno, entre elas a simpli-ficação da estrutura do ambiente sobre áreas extensas, substituin-do a diversidade natural (ALTIERI et al., 2003) e restringindo as in-terações biológicas, como a ativi-dade de micorrizas; os sistemas de monocultivos que conseguem exaurir os recursos do solo, com grandes riscos de erosão e re-dução de serviços ecológicos essenciais, tais como a ciclagem de nutrientes e o controle biológi-co natural; o uso indiscriminado de agrotóxicos levando à ocor-

rência de resistência; e as mu-danças climáticas.

O reflexo do ambiente em rela-ção às doenças de plantas é um fato irrefutável. O ambiente pode ter efeitos sobre o vegetal, assim como, apresenta uma atuação preponderante sobre o patógeno e a interação entre eles.

Na concepção de Ghini (2007), o processo de evolução da pa-togenicidade de microrganis-mos está ligado às mudanças climáticas que podem operar impactos em todos os estádios de desenvolvimento, tanto do patógeno quanto da planta hos-pedeira, como da doença, nas diversas etapas do ciclo das re-lações patógeno-hospedeiro.

Figura 6

(A) Tronco de cajueiro com perfura-ções indicadas pelas setas e (B) teci-do interno do coqueiro apresentando uma coloração marrom escura. (A e B) Presença de larva de inseto cole-óptero (no interior dos círculos verme-lhos). (C) Larva observada no tecido do coqueiro. Nas análises efetuadas, no laboratório de FITO/CLA/EBDA, foi detectado o fungo Lasiodiplodia theobromae. (A- Foto de Gilvã Santos).

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Nessa mesma linha de pensa-mento, Scherm et al. (2000) afir-mam que os fitopatógenos estão entre os primeiros organismos a demonstrar os efeitos das mu-danças climáticas devido às nu-merosas populações, facilidade de multiplicação e dispersão, e ao curto tempo entre gerações.

Para Nobre et al. (apud GHINI e HAMADA, 2008) o Brasil se mos-tra vulnerável ao aquecimento global quando são analisados os impactos sobre seus ecossiste-mas e sua agricultura.

Destaca-se que no controle de L. theobromae, normalmente, ve-rifica-se o uso abusivo de agrotó-

xicos e a agressividade crescente do patógeno. O controle químico por si só não oferece proteção nem controle curativo quando os danos são provenientes do ata-que desse organismo, sendo, então, indicada a adoção de uma série de medidas adicionais como o manejo cultural e o controle bio-lógico (TAVARES, 1995).

Ghini et al. (2011) chamam atenção para o fato de que to-das as modalidades de controle de doenças de plantas são, de alguma forma, afetadas pelas condições climáticas. Preveem que as mudanças climáticas causarão alterações na distri-buição geográfica e época de

ocorrência de doenças e, como consequência, os métodos de controle deverão acompanhar esta nova realidade.

As medidas adotadas são neces-sariamente preventivas, empre-gando-se, sobretudo, o controle cultural pela prática de podas de limpeza, retirando os ramos se-cos e protegendo as partes das plantas comprometidas e po-dadas com uma pasta cúprica; desinfestação das ferramentas de poda com uma solução de hipoclorito de sódio (água sani-tária) diluída em água corrente na proporção de 1:3; eliminação dos restos de cultura; erradicação de todas as plantas mortas ou que

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apresentem a doença em estádio avançado; controle dos insetos que possam causar ferimentos às plantas; evitar o estresse hídrico (falta ou excesso de água) e nutri-cional do vegetal, especialmente, no tocante ao cálcio (Ca), visto que Oliveira et al. (2001) advertem que a deficiência deste elemento

torna o patógeno mais agressivo.Estudos básicos sobre o fungo L. theobromae e ecologia de agroecossistemas são impres-cindíveis, visando uma melhor compreensão da interação hos-pedeiro-patógeno-ambiente, da relação com outros patógenos habitantes do sistema e anta-

gonistas para traçar estratégias viáveis de controle. Cada um destes fatores exerce um papel fundamental no desenvolvimen-to de epidemias e deve ser ava-liado para o entendimento dos mecanismos envolvidos na pa-togênese, a fim de definir méto-dos de controle eficientes.

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Suely Xavier de Brito Silva1

Crispiniano Carlos da Silva Nunes2

Orliz Santos Santana3

Rubens Ferreira Guimarães4

Hermes Peixoto Santos Filho e Carlos Ivan Aguilar Vildoso5

A fruticultura confere ao Brasil o terceiro lugar no ranking

mundial da produção de frutas frescas do mundo (FAO, 2008), ultrapassando 41 milhões de

1–Engenheira Agrônoma, Fiscal Estadual Agropecu-ário (ADAB), Doutora em Ciências Agrárias (UFRB); e-mail: [email protected]

2–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agropecu-ário (ADAB), Mestre em Recursos Genéticos Vegetais (UFRB); e-mail: [email protected]

3–Engenheiro Agrônomo, Fiscal Estadual Agrope-cuário (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected]

4–Engenheiro Agrônomo (ADAB), Especialista em Epidemiologia com ênfase em Defesa Sanitária Vegetal/SMVBA. UNIME; e-mail: [email protected]

5–Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores (EMBRA-PA/CNPMF); e-mail: [email protected]; [email protected]

toneladas produzidas em área correspondente a 3,4 milhões de hectares, gerando divisas da or-dem de US$ 3,2 bilhões, relativas à exportação de 3,2 milhões de toneladas de diversificados pro-dutos (ABECITRUS, 2010).

Considerando o volume de produ-ção e divisas geradas, a citricultura brasileira destaca-se como rele-vante atividade socioeconômica. Segundo ABECITRUS (2010), a cadeia produtiva dos cítricos aten-de a cerca de 50% da demanda agroindustrial e responde a 75% das transações internacionais, promovendo um faturamento anu-al da ordem de US$1 bilhão com a exportação de suco concentrado congelado. Por sua vez, a Bahia participa com uma produção de 846.711 toneladas, o que lhe confere a segunda colocação no ranking nacional dos estados pro-dutores de citros.

Além da exportação de suco con-centrado, outro viés importante de escoamento da produção de cítri-cos é o mercado interno que ab-sorve praticamente toda a laranja comercializada na forma in natura (EMBRAPA.CNPMF, 2005), moda-lidade na qual a Bahia se insere como responsável pelo abasteci-mento do mercado de frutas frescas do Nordeste, mantendo relações comerciais com Alagoas, Pernam-buco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí e, eventualmente, com as re-giões Sul e Sudeste do país.

A citricultura baiana ocupa, apro-ximadamente, 67 mil hectares (IBGE, 2012b) da faixa litorânea do Estado, implantada principalmen-te no Litoral Norte/Agreste Baiano e Recôncavo, territórios respon-sáveis por mais de 80% de sua produção (PASSOS; SANTANA, 2004). Nesses territórios há predo-minância de minifúndios, menores

Serviço de vigilância ativa da defesaagropecuária detectou nova ocorrência

fitossanitária na citricultura baiana

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do que 10 ha e é uma atividade que exerce forte papel social ao gerar renda para 260 mil pessoas, via empregos diretos e indiretos (EMBRAPA.CNPMF, 2005).

Frequentemente este patrimô-nio agrícola sofre com ameaças fitossanitárias, haja vista o risco de introdução e estabelecimento de novas pragas, até então au-sentes ao parque citrícola baia-no, o que resultaria em queda de produção e dispêndio econômi-co para o manejo das mesmas. E com o intuito de preservar a saúde dos vegetais, insere-se a Agência de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (ADAB).

A ADAB é a instituição governa-mental responsável por discipli-nar o trânsito intra e interestadual

de vegetais, legislar sobre as medidas preventivas e de con-trole de pragas, monitorar a in-vasão de pragas, realizar levan-tamentos de pragas presentes no território baiano, emitir docu-mentos de trânsito fitossanitário, promover campanhas de pro-moção da saúde dos vegetais, fiscalizar o uso e comércio de agrotóxicos, capacitar respon-sáveis técnicos pela emissão de certificados fitossanitários, habi-litar colheitas para a exportação e realizar pesquisas de interesse para a defesa agropecuária.

A mais recente ocorrência fitos-sanitária da citricultura baiana diz respeito à detecção de um fungo, o Guignardia citricarpa Kiely, o agente causal da Mancha Preta dos Citros (MPC), popularmente

conhecida como pinta preta dos citros, e considerada a mais im-portante doença fúngica dos ci-tros, face aos danos econômicos relacionados com a depreciação cosmética sofrida pelos frutos e pelas restrições internacionais ao trânsito destes quando destina-dos ao comércio in natura, eis o caso dos Estados Unidos e Co-munidade Europeia que relaciona a MPC como praga quarentenária (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002).

A MPC ataca folhas, ramos ver-des e, principalmente, frutos. No gênero Citrus, os limoeiros verdadeiros, laranjeiras doces e tangerineiras são bastante afetadas (Figura 1). Porém, a limeira ácida Tahiti é a única va-riedade cítrica sem registro de ocorrência da praga.

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Figura 1 – Sintomas de mancha preta dos citros em frutos de tangerina “Mexerica Rio” (A) e laranja pera (B), em pomares de Santo Antônio de Jesus/BA, junho de 2012.

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Seis tipos de sintomas podem ocorrer nos frutos cítricos: man-cha de falsa melanose, mancha dura, mancha sardenta, man-cha virulenta, mancha trincada e mancha rendilhada. Entre-tanto, a mais típica e mais fá-cil para identificar a praga é a mancha dura, ocorre nos fru-tos em processo de matura-ção (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002). Caracteriza-se por ser uma lesão circular, medindo de 2 a 6 mm (Ø), com centro cla-ro e deprimido, circundada por borda escura. No centro da le-são é possível a visualização de pontuações pretas, as quais correspondem aos pcinídios (estruturas do fungo).

Dentre os danos econômicos, podemos relacionar prejuízos diretos como perda do valor comercial dos frutos afetados, queda prematura; e os indire-tos, associados às restrições de trânsito impostas pelos mer-

cados consumidores aos frutos e material propagativo (borbulhas e mudas) procedentes de áreas contaminadas e ao aumento do custo de produção, haja vista a ne-cessidade de adoção de medidas de manejo, tais como aplicação de fungicidas, controle do mato, ante-cipação da colheita.

Mas, em que momento é que a mancha preta dos citros invadiu a paisagem citrícola da Bahia? A princípio podemos afirmar que o primeiro relato oficial dessa pra-ga nos pomares baianos data de maio de 2012, quando o serviço de vigilância ativa e de fiscaliza-ção do trânsito de vegetais, ati-vidades realizadas pela ADAB, interceptou frutos sintomáticos sendo comercializados em su-permercados e no centro de abastecimento de frutas de Fei-ra de Santana, e adotando-se o princípio da rastreabilidade, os fiscais chegaram aos pomares do Recôncavo Baiano.

Bem, estávamos diante de uma nova ocorrência fitossanitária, Mancha Preta dos Citros (MPC), a qual quebrou o status da Bahia como área livre dessa praga. Mas, uma nova indagação veio à tona: qual seria a dimensão geofitossa-nitária da MPC na Bahia?

Assim, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os resul-tados do levantamento fitossa-nitário realizado pela ADAB para delimitação geofitossanitária da mancha preta dos citros em po-mares do Recôncavo, no período de junho e julho de 2012. No período de 25 de junho a 26 de julho de 2012, foram inspeciona-dos e georreferenciados pomares cítricos e viveiros, de 20 municípios do Recôncavo Baiano (RB), a par-tir do foco índice, na localidade de Tabocal (Santo Antônio de Jesus), aquele em se obteve o primeiro relato de ocorrência da praga. Daí então se verificou toda a vizinhan-

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ça no entorno do foco e seguiu afastando-se dele, nas quatro di-reções: Leste/Oeste e Norte/Sul.

As inspeções fitossanitárias ava-liaram a presença/ausência de MPC nas unidades de produção (UP) de Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo, São Miguel das Matas, Valença, Mu-niz Ferreira, Mutuípe, Amargosa, Dom Macedo Costa, Elísio Me-drado, Castro Alves, Sapeaçu, Conceição do Almeida, São Feli-pe, Cruz das Almas, Muritiba, Ca-

baceiras do Paraguaçu, Governa-dor Mangabeira e Maragogipe.

Em cada unidade de produção foi aplicado o Inquérito Fitossanitário, uma entrevista estruturada em que é possível a obtenção de informa-ções que identificam a propriedade, idade e variedades que compõe o pomar, tratos culturais implementa-dos, nível tecnológico da atividade, métodos de controle das pragas e comercialização da produção. Ademais, utilizou-se de um Termo de Notificação, instrumento legal

utilizado para registrar os compro-missos que o produtor rural deve-ria adotar para com seu pomar, ou viveiro, no sentido realizar as medi-das de manejo da praga.

Para confirmação laboratorial da MPC foram coletados frutos de cin-co localidades dos municípios de Santo Antônio de Jesus e Varzedo, os quais compuseram amostras, devidamente identificadas e acon-dicionadas em sacos plásticos, e encaminhadas à Clínica Fitopato-lógica da EMBRAPA/CNPMF.

No sentido de mobilizar maior número de colaboradores envol-vidos com as inspeções fitossa-nitárias, estabeleceu-se estreita parceria com os técnicos das Secretarias Municipais de Agri-cultura de Santo Antônio de Je-sus, de Castro Alves e Cruz das Almas e com os respectivos es-critórios locais da EBDA.

Para a finalização dos trabalhos, realizou-se um Seminário Técni-co na sede da Associação dos Pequenos Agricultores Rurais de Amargosa – APARA (Figura 2), oportunidade em que foram apresentados ao setor produtivo os resultados do levantamento geofitossanitário e a proposta de manejo da praga, por técni-cos da ADAB e da EMBRAPA, respectivamente.

O levantamento fitossanitário per-correu 490 pomares (Tabela 1) e 34 viveiros de produção de mudas cítricas compreendidos nos 20 municípios do RB, oportunidade em que se constatou a presença

Figura 2 – Seminário Técnico realizado na sede da APARA, em Santo Antônio de Jesus/BA, 31 de julho de 2012: Palestra de Dr. Carlos Ivan Aguilar-Vildoso (EMBRAPA/CNPMF) (A); Equipe da ADAB que realizou o levantamento geofitos-sanitário da MPC no Recôncavo Baiano (B).

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da MPC em apenas cinco municí-pios (Tabela 2): Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas.

Tabela 1 – Levantamento Fitos-sanitário da Mancha Preta dos Citros em 20 municípios do Re-côncavo Baiano: nota 1 atribuída à presença da praga (coluna da direita), nota zero indica ausência da praga, julho de 2012.

Tabela 2 – Número de pomares inspecionados em cada um dos 20 municípios do Recôncavo Baiano, para fins de detecção da Mancha Preta dos Citros, no período de junho a julho de 2012.

Os produtores rurais, além de ci-tros, também tinham plantados em seus pomares cultivos de sub-sistência como amendoim, milho, feijão e mandioca e quando inda-gados sobre a MCP, todos des-conheciam tratar-se de uma nova ocorrência fitossanitária. Quando indagados sobre a data em que eles começaram a perceber os primeiros sintomas, afirmaram que tinha aproximadamente três anos. Essa informação coincide com a severidade (área com lesões) ob-servada em alguns frutos de tange-rineiras, pois, a área foco coincidia com pomares compostos da varie-dade “Mexerica Rio”, e esta é uma das mais susceptíveis ao ataque do fungo (Guignardia citricarpa Kiely).

Mediante as informações dos in-quéritos fitossanitários, observou--se que na área foco os pomares tinham mais de vinte anos de ida-de, raramente recebiam algum tipo

TABELA 2 NÚMERO DE POMARES INSPECIONADOS EM CADA UM DOS 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

Município Número de ocorrência de MPCSanto Antonio de Jesus 16Jaguaribe 15Laje 16Varzedo 2São M. das Matas 2Valença 3Muniz Ferreira 5Mutuípe 7Amargosa 3Dom M. Costa 4Elísio Medrado 2Castro Alves 22Sapeaçu 67Conceição do Almeida 106São Felipe 30Cruz das Almas 55Muritiba 47Cabaceiras do Paraguaçu 24Governador Mangabeira 55Maragogipe 9

Fonte: Autores

TABELA 1LEVANTAMENTO FITOSSANITÁRIO DA MANCHA PRETA DOS CITROS EM 20 MUNICÍPIOS DO RECÔNCAVO BAIANO

Município Ocorrência de MPCSanto Antonio de Jesus 1Jaguaribe 1Laje 1Varzedo 1São M. das Matas 0Valença 0Muniz Ferreira 0Mutuípe 0Amargosa 0Dom M. Costa 0Elísio Medrado 0Castro Alves 0Sapeaçu 0Conceição do Almeida 0São Felipe 0Cruz das Almas 0Muritiba 0Cabaceiras do Paraguaçu 0Governador Mangabeira 0Maragogipe 0

Fonte: Autores

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de adubação; calagem e irrigação não eram práticas adotadas. Quan-do questionados sobre assistência técnica rural, 90% dos agricultores familiares informaram não contar com esse tipo de serviço.

Como precisávamos compreender o processo de estabelecimento da praga na região, indagamos os produtores acerca dos danos eco-nômicos. Eles afirmaram que ape-sar da praga estar presente há três anos na região, somente em 2012 é que eles perceberam os prejuí-zos decorrentes da MPC: queda de frutos e depreciação cosmética

dos frutos, o que se refletiu na bai-xa remuneração oferecida pelos comerciantes de frutas in natura.

O relato dos produtores tem am-paro científico, pois, se considerar-mos que a região atravessou longo período de estiagem e que os po-mares encontravam-se com déficit nutricional, a safra que foi colhida em 2012 foi resultante de um ce-nário de favorabilidade ao apare-cimento de sintomas mais severos em frutos (FUNDECITRUS, 2003).

Então, se na presença de hospe-deiros suscetíveis, a exemplo de

tangerineiras e laranjeiras cultiva-das no RB, o progresso da mancha preta dos citros ficou condicionada às condições climáticas e à presen-ça do inóculo (BALDASSARI et al., 2006), ou seja, necessitou de dois a três anos para expressar sinto-mas capazes de promover danos econômicos.

Compreendido o aspecto cronoló-gico de estabelecimento da praga, outros questionamentos persis-tiam: como teria a MPC invadido o território baiano? Qual seria o futuro da citricultura dessa região, cuja ci-tricultura é tipicamente familiar?

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Existem duas hipóteses para res-ponder ao primeiro questiona-mento: uma delas está relaciona-da com a possibilidade do fungo ter ingressado e se estabelecido no RB a partir do trânsito clan-destino de material propagativo; a outra pode estar associada ao comércio de frutos de tangerina contendo talo e folhas, proceden-tes de regiões com ocorrência da praga. Ambas amparam-se nos aspectos epidemiológicos, haja vista a disseminação da praga a longas distâncias e seu estabele-cimento relacionar-se com o trân-sito material vegetativo infectado.

Considerando que o RB é uma região que além de frutos, tam-bém produz mudas cítricas, e que o fungo pode infectar o material propagativo sem expressar sin-

tomas, e que borbulhas e mudas são extremamente importantes no processo de disseminação da praga, cabe ao Estado disciplinar o trânsito fitossanitário, evitando que mudas saiam dessa região e leve a MPC para regiões indenes.

Entretanto, será que medidas legislativas e de intensificação da fiscalização do trânsito fitos-sanitário seriam suficientes para conter o avanço da praga no Estado da Bahia? Certamente que não! A defesa agropecuária precisa ser compreendida como política pública, multidisciplinar, interinstitucional, de consequên-cias sociais, econômicas e am-bientais, e que envolve responsa-bilidades compartilhadas entre os diversos segmentos das cadeias produtivas.

Por isso, faz-se necessário uma ampla campanha de educação sanitária capaz de orientar os citri-cultores de todo o Estado acerca do patossistema Mancha Preta dos Citros, compartilhando conhe-cimentos que iriam desde o reco-nhecimento dos sintomas, pas-sando pelo risco de disseminação, até o manejo da praga. O marco inicial do processo de orientação ao setor produtivo foi estabelecido com a realização do seminário te-mático, o qual contou com a parti-cipação de 47 pessoas.

CONCLUSÕES

a) O serviço de vigilância ati-va da ADAB foi eficiente e im-prescindível para a detecção de

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uma ocorrência fitossanitária da citricultura: a Mancha Preta dos Citros (MPC);

b) A detecção de MPC feita pela ADAB alterou o status fitossanitá-rio da praga no Estado da Bahia: praga presente;

c) A MPC está restrita a cinco muni-cípios do Recôncavo Baiano: Santo Antônio de Jesus, Jaguaripe, Laje, Varzedo e São Miguel das Matas;

d) A severidade de MPC nos frutos denota que a praga está presente, pelo menos, há três anos na região;

e) Os citricultores do Recôncavo Baiano desconheciam os sinto-mas de MPC e que se tratava de uma praga relevante para a citri-cultura baiana.

AGRADECIMENTOS

Às Secretarias Municipais de Agricultura de Santo Antônio de Jesus, Castro Alves e Cruz das Almas pelo apoio de técnicos e pela mobilização dos citricultores para participar do seminá-rio; aos colegas da EBDA por indicar as principais localidades citrícolas de cada município que seriam inspecionadas; aos bol-sistas da EBDA e EMBRAPA que integraram a equipe de levan-tamento de campo; aos pesquisadores da EMBRAPA/CNPMF que emitiram o diagnóstico laboratorial; às Gerências da ADAB (Cruz das Almas e S. Antônio de Jesus), e à COREG de Feira de Santana, pelo apoio incondicional à realização do levantamento fitossanitário; à equipe técnica da ADAB que acreditou na reali-zação do levantamento em tempo recorde: um mês.

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Luiz Miranda1

1 – Engenheiro Agrônomo, Diretor de Pecuária da Supe-rintendência de Desenvolvimento Agropecuário – SDA/ SEAGRI, Salvador – BA;e-mail: [email protected]

Mais uma vez a Bahia en-frenta uma seca. Compre-

ender o fenômeno das secas é necessário para o uso sus-tentável dos limitados recursos hídricos da região semiárida do Estado. Nesse contexto, estu-dos para a melhoria da previsão de secas, com base nos dados meteorológicos disponíveis e, em tempo hábil, de forma que medidas possam ser tomadas, no sentido de minorar seus efei-tos, torna-se crucial.

Na Região Nordeste do Brasil, o fenômeno das secas nem sem-

pre foi abordado sob viés técnico. Em alguns casos, são estudados os aspectos relativos aos seus impactos econômicos e sociais. Neste estudo, contudo, analisa-mos do ponto de vista conceitu-al, bem como sua variabilidade espacial e temporal. Além desses aspectos, buscamos descobrir, com os erros e acertos do pas-sado, um caminho seguro para nortear as ações que permitam produzir com segurança no Semi-árido nordestino.

Grande parte de nosso planeta pertence à denominada área de

SOCIOECONOMIA

A seca naBahia

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risco à seca. São regiões onde a precipitação aproxima-se do limite permitido à prática agríco-la. Exemplos são o Sahel na Áfri-ca, o Nordeste do Brasil, grande área da China, o platô Dekkan, na Índia, e parte da África do Sul. Tratam-se, portanto, de áreas de enorme vulnerabilidade para a agricultura (BARROSO, 2012). Consideráveis áreas das Améri-cas do Norte e do Sul, Austrália, Europa e Ásia foram atingidas por secas severas, acarretando prejuízos econômicos, sociais e ecológicos. A gravidade das se-cas está ligada com a duração, que pode atingir um ou até cinco anos consecutivos.

CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE

Além dos estados que compõem a Região Nordeste, essa região ainda é subdividida em quatro sub-regiões de acordo com ca-racterísticas climáticas e de urba-nização (IBGE, 2012):

Zona da Mata

É a sub-região mais populosa e urbanizada. Compreende a faixa litorânea (aproximadamente 200 km de largura) que vai do Estado do Rio Grande do Norte à Bahia (litoral leste da região Nordeste) e é caracterizada pelo clima tropical úmido, presença de mata atlânti-ca, pluviosidade bastante regular, principalmente na região sul da Bahia, e solo bastante fértil.

Agreste

É a sub-região de transição entre a Zona da Mata, bastante úmida, e o Semiárido, região bastante seca, acompanhando a faixa da Zona da Mata do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. No Agres-te, predominam os minifúndios dedicados à produção de subsis-tência e a pecuária leiteira, sendo o excedente comercializado na região da Zona da Mata.

Sertão

Sub-região de clima semiárido que compreende o centro da região Nordeste, em uma extensão que

vai desde o litoral do Ceará e Rio Grande do Norte (neste último, até próximo a cidade de Natal), até a região sudoeste da Bahia. As chu-vas são escassas e, por isso, a pecuária e agricultura são ativida-des bastante difíceis na região. O único rio perene do sertão é o São Francisco do qual é desviada água para irrigação em alguns locais e que também é fonte de energia através de hidrelétricas como a de Sobradinho (BA). A vegetação típi-ca dessa sub-região é a caatinga.

Meio-Norte

Esta sub-região já apresenta uma pluviosidade maior conforme se

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afasta para oeste, em direção aos Estados do Norte e compreende o Estado do Maranhão e grande parte do Piauí. Nesta região é co-mum a presença das “matas de cocais”. As principais atividades praticadas são a criação de gado, o cultivo de algodão e arroz.

Em 10 de março de 2005, o Mi-nistério da Integração Nacional publicou Portaria que instituiu a nova delimitação do Semiárido brasileiro, resultante do traba-lho que atualizou os critérios de seleção e os municípios que passam a fazer parte dessa região. A nova delimitação to-mou por base três critérios técnicos, a saber: 1) precipita-

ção pluviométrica média anu-al inferior a 800 milímetros; 2) índice de aridez de até 0,5, calcu-lado pelo balanço hídrico que rela-ciona as precipitações e a evapo-ração potencial entre 1961 e 1990; 3) risco de seca maior que 60%, tomando por base o período entre 1970 e 1990. Baseado nes-ses novos critérios, a área classi-ficada como Semiárido brasileiro aumentou de 892.309,4 km2 para 969.589,4 km2 (BRASIL, 2005).

Esta área integra parte de oito es-tados nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e parte do norte de Minas Gerais (Mapa 1).

Todos esses Estados compreen-dem uma área de 1.108.434,82 km², o que equivale a 10,5% do território nacional e 53,9% do território nordestino englobando 1.348 municípios, distribuídos pe-los Estados do Piauí (214), Ceará (180), Rio Grande do Norte (161), Paraíba (223), Pernambuco (145), Alagoas (51), Sergipe (32), Bahia (256) e Minas Gerais (86), cujas populações totalizam 20.858.264 pessoas, sendo 40% residindo na área rural. A Insolação média é de 2.800 h/ano, com evaporação média de 2.000 mm/ano e umida-de relativa do ar média em torno de 50% (BRASIL, 2005).

O FENÔMENO DA SECA

O conceito de seca varia segun-do o ponto de vista. Para um Hi-drogeólogo pode ser entendida como a insuficiência de recur-sos hídricos. Esta seca pode ser causada por uma sequência de anos e tem como consequên-cia o colapso nos sistemas de abastecimento de água. Para o Engenheiro Agrônomo assim como para o agricultor e o pecu-arista, a seca altera a produção agrícola de sequeiro e a pecuária provocando grandes transtornos sociais a exemplo da fome, mi-gração e desagregação familiar. Para o Meteorologista é enxergar o futuro para subsidiar tomadas de decisões fundamentais para todas as áreas que dependem das chuvas, até mesmo o turis-mo. Finalmente, para o nordestino

Mapa 1

Fonte: Ministério da Integração

NOVA DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Nova delimitaçãodo Semiárido

Minas Gerais

Estados daRegião Nordeste

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significa risco de vida (WILHITE; GLANTZ, 1987 apud VALADÃO et al., 2010).

CLASSIFICAÇÃO DAS SECAS

As secas podemser classificadasem (BRASIL, 2005a):

Hidrológicas – Caraterizam-se por uma pequena, mas bem dis-tribuída, precipitação. As chuvas são suficientes apenas para dar suporte à agricultura de subsis-tência e às pastagens;

Agrícolas – Também conheci-da como seca verde, acontecem quando há chuvas abundantes, contudo mal distribuídas em ter-mos de tempo e espaço;

Efetivas – Ocorrem quando há baixa precipitação e má dis-tribuição de chuvas, tornan-do difícil a alimentação das populações e dos rebanhos e impossibilitando a manutenção dos reservatórios de água para consumo humano e animal.

CAUSAS DA SECA

O fenômeno das secas do Nor-deste tem origem em lugares tão distantes quanto o Sudeste asiático e o círculo polar ártico. É provocado por dois mecanis-mos de circulação de ventos no planeta. São fenômenos que

se estabeleceram provavelmen-te há 20.000 anos, no fim da última grande era glacial. O pri-meiro e mais importante é com-posto pelas áreas de baixa e alta pressão atmosférica no Pacífico equatorial (MARENGO, 2006).

Na década de 1920, o inglês Gil-bert Walker descobriu que o pa-drão meteorológico do Oceano Pacífico equatorial contém uma área de baixa pressão atmosféri-ca sobre a Indonésia e o norte da Austrália e uma área de alta pres-são no oceano, próximo à costa da América do Sul, resultado da lei física de que o ar quente tende a subir e o ar frio tende a descer (MARENGO, 2006).

De maio a setembro, as águas quentes do Oceano Índico e do

Mar da China provocam a ascen-são de um vento quente e úmido, criando o que os meteorologistas chamam de área de baixa pres-são. A ascensão desse vento úmido, também chamada de convecção, leva à formação de nuvens e chuvas, no fenômeno conhecido no Sudeste asiático como monções. Livre da água, o vento viaja sobre o Pacífico a uma altura de 15 quilômetros em direção ao leste. Nesse trajeto, o vento se resfria e tende a descer sobre o oceano, próximo à costa oeste da América do Sul, criando uma área de alta pressão atmos-férica (MARENGO, 2006).

Em ciclos de três e sete anos, nos meses de setembro, outubro e no-vembro, por motivos que ainda não se consegue determinar com cer-

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teza, uma grande massa de água quente vinda da Austrália avança pelo Pacífico equatorial em direção ao leste além da Ilha de Taiti, no fe-nômeno conhecido como El Niño. A água quente cria nova zona de con-vecção, deslocando as chuvas do meio do Oceano Pacífico para a cos-ta oeste da América do Sul, na altura do Peru, e levando a corrente de ar vinda do Sudeste asiático a cair dire-tamente sobre o Nordeste brasileiro, impedindo a formação de nuvens de chuva (MARENGO, 2006).

Ainda assim, as chuvas da terceira semana de março, no Nordeste, de-pendem muito mais de fatores físi-cos, que da esperança em São José, cuja data comemorada pelos devo-tos é dia 19 de março. Elas são con-sequência de outro fenômeno mete-orológico conhecido desde o século XVIII e chamado pelos climatologis-tas de Zona de Convergência Inter-tropical (ZCIT), um anel de ar úmido

que envolve a Terra próximo à linha do Equador. A ZCIT oscila entre as latitudes de 10° ao Norte e 5° ao Sul, a região onde os ventos alísios dos hemisférios norte e sul se en-contram. Esse fenômeno também é chamado de “célula de Hadley”, devido ao meteorologista inglês George Hadley (1685-1768) que, em 1735, descreveu seu funciona-mento. Dependendo da localiza-ção, a zona de convergência inter-tropical pode amenizar ou agravar as secas provocadas pelo El Niño (MARENGO, 2006).

As nuvens de chuva da zona de convergência intertropical são alimentadas, em boa parte, pelo sistema de baixa pressão atmos-férica da região da Terra Nova, no Canadá, próximo ao círculo polar ártico. Quando a baixa pressão é mais forte na Terra Nova, o ar úmido engrossa a ZCIT que se desloca em direção às águas

mais quentes próximas ao Equa-dor, acompanhando com um pequeno atraso o movimento do Sol. Assim, quando o Sol atraves-sa a linha do Equador no equinó-cio de outono do hemisfério sul, entre os dias 20 e 21 de março, a zona de convergência intertro-pical atinge sua posição mais ao sul, provocando as chuvas do dia de São José (MARENGO, 2006).

Às vezes, a chuva não chega. O movimento da zona de conver-gência intertropical depende da temperatura das águas no ocea-no, que na região equatorial va-ria entre 26° e 29°. E uma varia-ção de um a meio grau entre as águas do Atlântico Norte e do Sul é a diferença entre um “inverno” chuvoso ou seco. Com as águas do Atlântico Norte mais frias, a ZCIT desloca-se para o sul, tra-zendo suas nuvens carregadas. Se as águas do Atlântico estive-rem mais frias no sul, entretan-to, as chuvas serão despejadas na Amazônia. Para o nordestino será a seca (MARENGO, 2006). O Mapa 2 representa o regime de chuvas na Bahia.

A HISTÓRIA DAS SECAS

A história das secas no Nordes-te relata a saga de um povo em busca de sobreviver no mais inóspito dos climas deste país. A ausência de regularidade de chuvas e de políticas públicas voltadas para resolver a situação agrava um quadro assustador:

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fome, sede, migração desenfrea-da, epidemias e miséria (MEDEI-ROS FILHO; SOUZA, 1988).

O registro da primeira seca é an-terior à colonização portuguesa, e é relatada por Fernão Cardin: “houve uma grande seca e esteri-lidade na província (Pernambuco) e desceram do sertão, ocorrendo--se aos brancos cerca de quatro ou cinco mil índios” (MEDEIROS FILHO; SOUZA, 1988).

A SECA DE 1700

Até a primeira metade do sécu-lo XVII as áreas secas do interior do Nordeste de Pernambuco ao

Ceará eram ocupadas exclusiva-mente pelos índios. A seca foi o motivo pela ocupação tardia do interior do Nordeste. A coloniza-ção do interior foi intensificada após uma Carta Régia que proi-bia a criação de gado em uma faixa de dez léguas desde o li-toral em direção ao interior. Esta ação provocou a ocupação do que hoje é Bahia, Alagoas, Ce-ará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e também Norte de Minas Gerais. Esta medida acelerou o cresci-mento dos rebanhos e, conse-quentemente, o populacional. Assim, sem uma seca mais se-vera, a população e os rebanhos cresceram rapidamente (CAM-POS; STUDART, 1997).

Apesar desse crescimento, não houve investimento em infraestru-turas de água, meios de transpor-tes e sanidade. Por trás de todo o crescimento estava o esquecimen-to dos efeitos da seca. As fazen-das não tinham infraestrutura para a quantidade de escravos. Há quem diga que ocorreu a morte de aproximadamente oito mil escra-vos (CAMPOS; STUDART, 1997).

A seca mais severa desse sé-culo atingiu em cheio o frágil modelo de exploração e a socie-dade despreparada. Foi a seca de 1777-1779. Há quem estime que “morreram mais de 500.000 pessoas no Ceará e cercanias”. Mesmo considerando o exagero da estimativa, esse foi realmen-te um grande desastre. Talvez o maior desastre que já atingiu uma região brasileira. Há quem garanta que o Ceará perdeu 80% do rebanho (CAMPOS; STUDART, 1997).

A GRANDE SECA

A “Grande Seca”, como ficou conhecida, teve início em 1877 e durou pouco mais de dois anos. Os efeitos foram catas-tróficos. Há quem estime que doenças, fome e sede dizima-ram, somente, no Ceará, mais de 500 mil habitantes. Antônio Conselheiro percorreu as re-giões afetadas pela seca para socorrer os flagelados. Passou a ser considerado um santo, aumentando o número de pes--soas que o acompanhavam.

Mapa 2

Fonte: SOMAR Meteorologia

REGIME DE CHUVAS DA BAHIA

ITCZ

Frentes frias+umidade da Amazônia (nov/dez/jan/fev)Zona de convergência intertropical (dez/jan/fev/mar)Frentes frias Alta Subtropical do Atlântico (abr/mai/jun/jul)

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A PRIMEIRA PROVIDÊNCIA

Após a catástrofe de 1877, pela primeira vez, as autoridades do Império começaram a ter uma maior preocupação com o as-sunto. O imperador D. Pedro II cunhou a célebre frase: “Não restará uma única jóia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”. Criou-se então a co-missão imperial para desenvolver medidas que pudessem atenuar futuras secas. Da adaptação de

camelos, construção de ferrovias e açudes e a abertura de um ca-nal para levar água do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, no Ceará. Contudo muito pouco foi feito (SECA..., 2012).

A SECA DE 1888

Uma década depois, outra se-vera e duradoura seca atingiu o Nordeste brasileiro. Foi a seca de 1888, conhecida como a seca dos três oitos. A partir de então,

surgiram os estudos para encon-trar uma solução para o proble-ma. Surgiram basicamente três linhas: armazenamento de água e irrigação, transposição do rio São Francisco e irrigação e mudanças no perfil econômico da Região.

A SECA DE 1897

Neste ano, os habitantes do Ar-raial de Canudos foram massa-crados. Crianças, mulheres e ido-sos foram mortos sem piedade. Antônio Conselheiro foi assassi-nado em 22 de setembro de 1897. Há quem atribua a seca deste ano ao castigo dos céus pela morte do beato (SECA..., 2012).

A SECA DE 1915

Esta seca foi marcada pelo movi-mento de fuga para as regiões li-torâneas, em especial as cidades, – o início do êxodo. Este período foi imortalizado por Rachel de Queiroz, em seu livro “O quinze” escrito durante a seca de 1932, quando a escritora tinha apenas 20 anos (SECA..., 2012).

A seca de 1915 provocou fortes rotas migratórias. Os retirantes in-vadiam as cidades, provocando bolsões de miséria. O governo do Ceará criou uma espécie de campo de concentração, nas margens das grandes cidades para impedir a en-trada dos retirantes. A fome, aliada a total ausência de esgotamento sa-nitário provocou um quadro trágico de doença e morte (SECA..., 2012).

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“Eram locais para onde grande parte dos retirantes foi recolhida a fim de receber comida e assistên-cia médica. Não podiam sair sem autorização dos inspetores do campo. Ali ficavam retidos milha-res de retirantes a morrer de fome e doenças”, relata a professora Kênia Rios, doutora em História pela Pontifícia Universidade (PUC) de São Paulo (BARRETO, 2007).

A SECA DE 1931–1932

A seca de 31 trouxe o maior pre-juízo para a Bahia. Foi nessa época que se tornou conhecida a expressão “indústria da seca”.Os poderes econômicos e políti-cos da região usavam recursos do governo em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas, transformando o fenô-meno climático em fenômeno político (BARRETO, 2007).

A agropecuária crescia e a Bahia se estabelecia como maior polo do Nordeste. A dicotomia entre a agricultura e a pecuária pro-movia a sustentação do binô-mio. Assim, a cultura do cacau garantia o sucesso da pecuária do Sul da Bahia. O café e o algo-dão eram a mola propulsora do Sudoeste. A cana e a mandioca no Recôncavo e esse clima de crescimento esbarrou em mais uma seca. A ausência de estra-das e sobretudo meios de trans-portes impediam as rotas migra-tórias e a morte do rebanho foi significativa (BARRETO, 2007).

SECA DE 1951–1953

A expressão “pau-de-arara” surgiu nessa época motivada pelo trans-porte de nordestinos sertanejos no desconfortável caminhão, quando milhares de flagelados do Nordes-te foram transportados de forma desumana para outras regiões do país, especialmente São Paulo e estados circunvizinhos. Ainda em 1951, Luiz Gonzaga e Zé Dantas eternizaram a seca em Vozes da Seca: “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são. Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

A SECA DE 1992–1995

A seca de 1992 a 1995 trouxe o maior prejuízo para a pecuária do

Estado da Bahia, para o reba-nho bovino houve a redução do efetivo de 14 para 8 milhões de cabeças (IBGE, 2012). A falta de água no Nordeste coincidiu com a crise de ener-gia elétrica que colocou em risco todo o País. A estiagem tornou-se ainda mais preocu-pante, pois Estados vizinhos também estavam assolados pela seca.

As obras de combate às secas, iniciadas e abandonadas pelo governo federal antes da con-clusão, já haviam provocado, entre 1978/1993, prejuízos de CR$ 6,7 trilhões. O escândalo das obras inacabadas deu ori-gem até mesmo a uma Comis-são Parlamentar de Inquérito – CPI, no Congresso Nacional, para apurar responsabilidades (SECA..., 2012).

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A SECA DE 2012

É considerada a seca mais seve-ra dos últimos 50 anos. Segun-do dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil, 1.171 municípios estão em situação de emergência por conta da prolongada estia-gem na Região Nordeste.

Muitos municípios nordestinos estão enfrentando colapso no abastecimento de água, e cres-ce o número de comunidades nas zonas rurais que recebem carros-pipa. Por conta da falta de alimentos e água, muitos animais estão morrendo nos pastos, assim como produções inteiras foram perdidas nos úl-timos meses. Segundo a Fede-ração da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), a queda da produção chega a 100% em algumas lavouras e a 60% nos rebanhos.

ESTRATÉGIAS HISTÓRICAS DE COMBATE ÀS SECAS

SOLUÇÕES NÃO CONVENCIONAIS:

A solução proposta foi trazer camelos do deserto e adaptá-los ao Nordeste Semiárido. A idéia foi proposta pelo Governo Federal em 1859, para ser testado no Estado do Ceará e teria como finalidade suprir a necessidade de um meio de trans-porte, para enviar alimentos e água, além de transportar as pessoas do interior para as cidades do litoral, para atendimento médico;

Promover fratura de rochas no cristalino, através de explosão, para armazenamento de águas subterrâneas;

Queima de petróleo no oceano atlântico para aumentar o índice pluviométrico;

Construção de açudes nas nas-centes das bacias hidrográficas.

SOLUÇÕES CONVENCIONAIS:

Construção de açudes e adutoras; Transposição de bacias; Construção de poços tubulares.

AÇUDAGEM:

A implantação de açudes teve iní-cio no período do Império no ano de 1877, ano em que a região foi assolada por uma grande seca. Daquela data até a metade do atu-al século, a política de combate às secas contemplava, principalmen-te, a formação de uma infraestru-tura hidráulica e a implantação de postos agrícolas como indutores da irrigação na Região. O período em que predominou essa política foi posteriormente denominado de período da solução hidráulica (SECA..., 2012).

Na segunda metade de século teve início a política do aprovei-tamento intensivo do potencial hidráulico por meio dos grandes projetos de irrigação. Tratava-se de uma Política delineada pela Superintendência do Desenvol-vimento do Nordeste – SUDENE (SECA..., 2012).

O regime de construção de açu-des em cooperação, desativado em 1967, pretendia melhor distri-buir, sob o ponto de vista espa-

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cial, a oferta d’água e subsidiava a construção de açudes particula-res de capacidade máxima de três milhões de metros cúbicos. Não havia desapropriação de terras. O projeto e o orçamento eram for-necidos gratuitamente pela Inspe-toria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS)/Departamento Na-cional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e um prêmio, equivalente à metade do orçamento, era con-cedido no fim da construção ou, a título de adiantamento, quando metade da obra estivesse pronta. Os proprietários, em contrapartida, comprometiam-se a fornecer água para as necessidades domésticas das populações circunvizinhas. Nem sempre a construção atendia a interesse da população.

O século XX foi o século da açu-dagem no Semiárido, por todo um período de 100 anos. Quando da “grande seca” de 1877/79, o Se-miárido não possuía mais que seis açudes. O Governo Imperial auto-rizou o início do grande açude do Cedro, em Quixadá, Ceará, que só foi concluído no ano de 1906, já no Governo Republicano. Cem anos de construído, este açude, armaze-nando 126 milhões de m³, continua prestando seus serviços a milhares de nordestinos (SECA..., 2012).

Foi o início do programa de cons-trução da grande rede de açudes espalhados pelo Semiárido. Che-gando ao final do século XX com a construção, de cerca, de 70.000 açudes, públicos e particulares. Mais de 10% são açudes cons-truídos para suportar os grandes períodos de estiagem, projeta-

dos, alguns, com capacidade para geração de energia hidrelé-trica e muitos outros com proje-tos de irrigação. São açudes que não secam, apesar da fortíssima e drástica evaporação promovida pela radiação solar nesta região. Reduzem em até 60% do seu vo-lume, mas renovam, quase sem-pre nos anos subsequentes.

No Vale do Jaguaribe, Ceará, o açude Orós, construído, em 1960, acumula 2,5 bilhões de m³ de água. O Açude Armando Ri-beiro Gonçalves, construído no Rio Grande do Norte, em 1983, com um volume de 2,4 bilhões de m³ de água. O Banabuíu e o Araras, ambos no Ceará, que juntos somam 2,7 bilhões. O Castanhão, no Vale do Jaguaribe CE, concluído no ano de 2003, é o maior do mundo, construído pelo homem. Com capacidade de 6,7 bilhões de m³.

Os pequenos e médios açudes, com volumes compreendidos entre 10.000 e 200.000 m³, representam 80% das coleções de água nos Es-tados do Nordeste e são objetos de preocupação. Esses açudes, por apresentarem formas geométri-cas variadas devido à falta de pla-nejamento inicial no momento da sua construção, em que o principal fator levado em consideração sem-pre foi a vontade de se fechar uma pequena bacia, trazem inevitáveis problemas de dimensionamento, não sendo raro açudes que nunca vieram a sangrar. Esse aspecto, ao contrário do que muitos imaginam, traz problemas muito sérios de sa-linização, pois as águas ficam su-

jeitas à concentração salina devido ao fenômeno da evaporação inten-sa. Com esse fenômeno, a água se evapora, mas o sal permanece no açude e a sua concentração é pro-gressiva. Assim o fato de não san-grar constitui-se em um grande mal para os açudes (GASPAR, 2012).

INDÚSTRIA DA SECA

A região Nordeste sofre com dois fenômenos: um político chamado “indústria da seca” e outro natural chamado “seca” propriamente dita. A tragédia que atinge grande parte da região Nordeste brasileira e par-te da região norte de Minas Gerais costuma ser utilizada (e superva-lorizada) para justificar a fome e o subdesenvolvimento econômico e social da região em nome de erros cometidos no passado e que faz fracassar qualquer tentativa de re-verter este quadro (GASPAR, 2012).

Em 1909, foi criado o primeiro órgão de combate à seca, com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS). Em 1919 passou a ser Inspetoria Fe-deral de Obras Contra as Secas (IFCOS). Em 1945, Departamento Nacional de Obras Contra as Se-cas (DNOCS) (GASPAR, 2012).

A ideia central era definir metas e solucionar o problema com obras para armazenar e transportar a água para a população e assim atender a agricultura, a pecuária e a utiliza-ção humana. Pode se notar, pelo aumento da área atingida pela seca,

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que as ações foram insuficientes. A seca do Nordeste está ligada à falta de políticas que realmen-te funcionem em benefício da população.

Durante as longas estiagens, o governo federal socorre os Esta-dos atingidos, com ações emer-genciais, como: envio de recursos para ser aplicado nessas áreas; cestas básicas para a população; perdão total ou parcial das dívi-das de empréstimos tomados por agropecuaristas.

A “indústria da seca” se utiliza da si-tuação de emergência para conse-guir mais verbas, incentivos fiscais, concessões de crédito e perdão de dívidas valendo-se da fome e da mi-séria pela qual passa o nordestino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seca de 2012, um drama que atin-ge milhões de baianos e produz efeitos devastadores na economia da atividade de maior geração de emprego no país: a agropecuária. O Nordeste brasileiro vive mais uma daquelas secas históricas e a Bahia é um dos Estados mais

atingidos. Mais da metade dos municípios decretou situação de emergência. O regime pluviomé-trico do inverno (junho e julho) de 2011 abaixo do normal provocou uma diminuição das reservas hídri-cas na Bahia. Os reservatórios es-tavam secos, as pastagens abaixo de suas reservas e o produtor des-capitalizado. A esperança eram as trovoadas (chuvas de novembro de 2011 a março 2012). Com a ausência de chuva a natureza en-tra em colapso, é a seca de 2012. Essa é tida por muitos como a pior seca dos últimos anos.

Podemos medir os efeitos da es-tiagem prolongada através de ín-dices pluviométricos, da mortali-dade do rebanho, do êxodo rural e da mortalidade do homem, entre outros. Neste ano, enfrentamos ín-dices de 50 mm, onde o normal é de 500 mm e 100 mm em regiões que chovem 1.000 mm.

Com a evolução das práticas agronômicas de irrigação, produ-ção de feno, silo, os recursos de meios de transporte e pelas medi-das empreendidas pelo governo do Estado para amenizar os efei-tos da seca, a mortalidade animal não causou o mesmo prejuízo que em secas anteriores.

“Quando a seca chega no sertão” o pecuarista procura, no municí-pio as propriedades que ainda dispõem de forragem para alugar pasto. Quando esta alternativa não dá mais certo, a saída é “re-cursar” o gado para municípios vizinhos. A terceira opção é mu-dar de bioma, a quarta é mudar de Estado, a quinta é vender. As-sim surgem as rotas migratórias. Contudo, “a esperança é a última que morre”. Os melhores animais e as vacas produtoras de leite são mantidos na propriedade a fim de promover o sustento da família. Surge a inexorável “Lei de mercado” muita oferta e os preços despencam, O preço da arroba despencou de R$ 100,00 para R$ 70,00. Em alguns lugares os animais eram comercializados como peça. Uma peça variava de R$ 350,00 a R$ 500,00.

Essa agonia dura de dois a três anos, a expectativa da chuva que não vem gera um clima de sofri-mento e dor. Os poucos recursos são investidos até o fim. É neces-sário desfazer de animais para ali-mentar os que ficam.

Diante deste quadro o baiano enfrenta outras dificuldades. O preço do milho e da soja dupli-cou por conta da seca nos Esta-dos Unidos. O produtor do Sul prefere exportar a vender para o Nordeste.

A Barragem do Sobradinho rece-be hoje 800 m³ por segundo e li-bera 1.200 m³ por segundo, com esse déficit o nível chegou a 25% de sua capacidade.

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Afirma-se, com frequência, que o problema do Semiárido não é a falta de água durante as secas, mas a falta de gerenciamento das águas, o que dá a falsa im-pressão de que a seca é uma simples questão de gestão das águas (CAMPOS, 1999). Gerir num contexto de incerteza ele-vada é proporcionar esperança sem base sólida, especialmen-te porque a gestão implica em guardar água para o futuro, com alta probabilidade de perdê-la. Não se trata apenas de armaze-nar água em reservatórios, é ne-cessário distribuir essa água. O Semiárido exige um conjunto de mecanismos para melhor apro-veitar as oportunidades hídricas. Inclui desde construção de açu-des, integração de bacias, cons-trução de poços e cisternas.

Observa-se que cerca de 60% das águas públicas armazenadas

em reservatórios construídos pelo DNOCS, no Nordeste, estão loca-lizadas no Ceará.

Tem se cobrado dos especialis-tas um modelo semelhante ao do Ceará, que em 1925 tinha a mes-ma quantidade de água armazena-da que a Bahia tem em 2012. Pelo estudo das secas é nítida a confir-mação que o Estado do Nordeste que mais foi assolado pela seca foi o Ceará. Pelo número de mortos da população, pelas incontáveis per-das agrícolas e pela própria produ-ção pecuária do Estado, podemos entender o porquê dessas ações.

Ora, a Bahia vive uma realidade edafoclimática significativamente diferente do Ceará. A Bahia tem 6% do seu território com 143 mu-nicípios inseridos no bioma Mata Atlântica; 27,3% com 17 municí-pios no Cerrado e 68,7%, sendo 257 municípios na Caatinga. A

Bahia tem 13 Bacias Hidrográfi-cas, sendo a maior delas a Bacia do Rio São Francisco, com uma área de 304.421,4 km². Nessa bacia, encontram-se usinas de grande importância como as de Sobradinho, Paulo Afonso e Itapa-rica. As bacias dos rios Itapicuru, Contas e Paraguaçu destacam-se por serem exclusivamente baia-nas. Na última, localiza-se a Bar-ragem de Pedra do Cavalo, res-ponsável pelo abastecimento de água de 60% da população de Salvador e Região Metropolitana, além de Feira de Santana e outras cidades próximas à barragem.

Mesmo com essa situação privi-legiada, este ano, na Bahia, a es-tiagem secou barragens, açudes e rios, devastou pastos e lavouras e provocou escassez de alimento para os rebanhos, que morrem de inanição e sede. O clima na Bahia é de apreensão.

Referências

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CAMPOS, J. N. B.; STUDART, T. M. C.; LIMA, H. C. Secas no Nordeste brasileiro diante de um cenário de mudanças climáticas. In: Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, 2., 1994. Anais... Fortaleza, Ceará: ABRH, 1994. v.1. p.20.

CAMPOS, J. N. B.; STUDART, T. M. C. 1997. Droughts and water policy in Northeast of Brazil: Background and rationale: water policy, USP, São Paulo, v.11, n.29, p.127-54, 1997.

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MEDEIROS FILHO, J.; SOUZA, I. A seca do Nordeste, um falso problema: a política de combate às secas antes e depois da SUDENE. Petrópolis: Vozes, 1988.

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VALADÃO, C. E. A. Uma análise comparativa de alguns índices de aridez aplicados às capitais do Nordeste do Brasil. Disponível em: <http://www.cb-met2010.com/anais/artigos/379_23902.pdf>. Acesso em: out. 2012

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O ano de 2012 vai ficar marcado pelos efeitos do grande período de estia-

gem que alcançou toda a região Nordeste do Brasil. Para a Bahia, que detém a maior área do Semiárido brasileiro, é um dos mais severos períodos de seca da sua história, com prejuízos para toda a sua socioecono-mia. Dentre os setores, o mais dura e dire-tamente atingido é o da agropecuária, com perdas de lavouras e de rebanhos, provo-cando a descapitalização dos produtores.

Até o presente momento são 259 municípios em estado de emer-gência decretado pelo Governo Estadual e reconhecido pelo Go-verno Federal, o que representa 62% do total dos municípios baia-nos. Esta situação coloca as admi-nistrações municipais em condi-ções especiais para receber ajuda

de recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros.

Face à gravidade da situação, o Go-verno do Estado instituiu através do Decreto nº 13.796, em 21/03/2012, o Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, com a finalidade

de coordenar as atividades a serem desenvolvidas no enfrentamento aos efeitos da seca e de amparo às populações atingidas.

Coordenado pela Casa Civil, o comitê é composto por diversas Secretarias de Estado, dentre elas: a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Secreta-ria do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento e Integração Re-gional, e a Secretaria de Relações Institucionais. O comitê tem como incumbência:

� indicar obras e serviços vol-tados à redução dos danos causados pela seca;

� acompanhar, fiscalizar e ava-liar a prestação da assistên-

Ações emergenciais e estruturantes para mitigar

os efeitos da seca na agropecuária baiana1

1 – Informações reunidas e sistematizadas por Carlos Armando Barreto de Santana, Engenheiro Agrônomo, Assessor Especial/Gabinete SEAGRI, com a participação e colaboração técnica de Ana Paula Alcântara, Economista, Coordenadora Técnica da SPA/SEAGRI; Salvador-BA, contatos: [email protected]; [email protected]

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cia oferecida às populações atingidas pela seca; e

� articular-se com os órgãos municipais e federais envol-vidos nas ações de combate aos efeitos da seca.

Assim, um extenso conjunto de ações, algumas emergenciais e outras estruturantes, vem sendo desenvolvido, sobretudo em par-ceria com o Governo Federal, a exemplo da implantação ou me-lhoria da infraestrutura hídrica (per-furação de poços, construção de sistemas simplificados e integra-dos de abastecimento de água, limpeza de aguadas, construção de barragens, cisternas, sistemas de dessalinização para consumo humano, fornecimento de água com carros-pipa etc.); de medi-das de combate à insegurança alimentar das famílias (distribuição de alimentos, Vale Cesta/EBAL e doações da iniciativa privada); e do apoio creditício e tecnológico, dentre outros, ao produtor rural. A seguir, serão destacadas algu-mas das ações governamentais

para a agropecuária baiana, vol-tadas a diminuir e/ou atenuar os prejuízos causados pela seca:

PRORROGAÇÃO DAS PARCELAS DE CRÉDITO RURAL

Em articulação com o Governo Federal e seus ministérios foram negociados novos prazos pror-rogando as parcelas das ope-rações de crédito rural. As Re-soluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicadas pelo Banco Central do Brasil, de núme-ros 4.082 e 4.083, de 24 de maio de 2012, e as de números 4.188 e 4.189, de 28 de fevereiro de 2013, autorizaram as instituições finan-ceiras a prorrogar as parcelas das operações de crédito rural, de custeio e investimento, vencidas e vincendas entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, para os agricultores familiares vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF e demais pro-

dutores rurais que tiveram perdas na renda em decorrência da es-tiagem, nos municípios da área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordes-te (SUDENE) que decretaram situação de emergência, após 1° de dezembro de 2011, reconheci-dos pelo Governo Federal.

Os produtores rurais que tive-ram redução na renda superior a 30% e que comprovem a incapa-cidade de pagamento, junto às instituições financeiras, poderão renegociar o pagamento do saldo devedor das operações de custeio das safras 2011/2012 e 2012/2013, para reembolso em até cinco par-celas anuais, com o vencimento da primeira parcela fixado para até um ano após a data da formalização da renegociação.

Quando se tratar de operações de custeio de safras anteriores à safra 2011/2012 ou de operações de investimento, o pagamento das parcelas vencidas e vincendas, entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, poderá ser prorro-gado para até um ano após o ven-cimento da última parcela prevista no contrato.

CRÉDITO RURAL

Outra medida de grande impor-tância e complementar a prorro-gação dos prazos, foi a instituição de linhas especiais de Crédito de Emergência para os agricul-tores familiares enquadrados no PRONAF e demais produtores Fo

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afetados pela seca ou estiagem na área de atuação da Superin-tendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (Quadro 1).

Já foram contratadas, através do Banco do Nordeste, 58.247 opera-ções no valor de R$ 337,18 milhões.

CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENSSUBTERRÂNEAS

Com recursos não reembolsáveis captados junto ao Fundo Social do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social - BNDES e ao Ministério da Integra-ção, da ordem de R$ 21,2 milhões, serão construídas 1.435 barragens subterrâneas em 53 municípios em Situação de Emergência, loca-lizados nos Territórios de Identida-de: Bacia do Paramirim; Chapada Diamantina; Irecê; Itaparica; Oeste Baiano; Piemonte da Diamantina; Piemonte Norte do Itapicuru; Se-miárido Nordeste II; Sertão do São

Francisco; Velho Chico e Vitória da Conquista.

A barragem subterrânea é uma tecnologia de captação e arma-zenamento de água de chuva no interior do solo, simples e de baixo custo, construída transversalmen-te ao fluxo das águas, que possi-bilita maior infiltração no solo e a redução do escoamento superfi-cial, contribuindo também para a diminuição da erosão.

Apesar de não exigir grandes cál-culos estruturais e mão-de-obra especializada como ocorre nas barragens convencionais, faz-se ne-cessária a presença de um técnico na implantação de uma barragem subterrânea para a escolha do local adequado e orientações du-rante o processo de construção.

A barragem subterrânea se pres-ta para diversos usos, podendo ser utilizada para cultivo de lavou-ras temporárias ou permanen-tes, produção de forrageiras para alimentação animal, e até para dessedentação animal e ou abas-tecimento humano quando asso-ciada a um poço amazonas.

RECURSO DE PASTO EMERGENCIAL

Em decorrência da falta de ali-mentos para os animais nas áre-as atingidas pelo fenômeno, ocor-re uma intensa movimentação de rebanhos para áreas de pasto de aluguel para regiões mais úmidas. Mesmo nessas regiões as pasta-gens já começam a escassear o que tem motivado a busca por pastagens em outros Estados.

Com o intuito de desonerar esses criadores, a SEAGRI realizou ges-tões junto à Secretaria Estadual da Fazenda – SEFAZ para sus-pensão do ICMS nas saídas de gado para “recurso de pasto”. A celebração do PROTOCOLO ICMS 54, de 05 de junho de 2012, aprovado no Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ – e publicado no Diário Oficial da União, de 06 de junho de 2012, com os Estados do Espírito San-to, Minas Gerais, Sergipe e Tocan-tins, “suspende o ICMS devido pelas saídas de gado entre os Estados signatários, bem como o seu retorno ao Estado de origem,

QUADRO 1 CONDIÇÕES PARA O CRÉDITO DE EMERGÊNCIA. CONTRATAÇÕES ATÉ 31/05/2012 PARA OS PRONAFIANOS E ATÉ 31/12/2012 PARA OS DEMAIS PRODUTORES

ENQUADRAMENTO LIMITE DE FINANCIAMENTO JUROS PRAZO

PRONAF B (FNE no BNB) até R$ 2.500,00 1% a.aaté 10 anos com 3 anos de carência, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia

PRONAF Mais Alimentos (BB e BNB)* até R$ 10.000,00 1% a.aaté 10 anos, com até 3 anosde carência

Demais PRONAF (FNE no BNB) até R$ 12.000,00 1% a.aaté 10 anos, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia

Não Pronafianos (FNE no BNB) até R$ 100.000,00 3,5% a.aaté 8 anos, com até 3 anosde carência

Cooperativas, Empresas eEmpreendedores individuais

até R$ 100.000,00 3,5% a.a até 5 anos, com 1 ano de carência

Fonte: Resoluções BACEN N°4.076, N°4.077, N°4.081, N°4.092 e 4.190.*Regras gerais da Linha Mais Alimentos: Juros Zero na Bahia.

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desde que se destinem exclusiva-mente a recurso de pasto”.

EMISSÃO DE GTA OFF LINE EMANUAL

Buscando facilitar o transporte dos animais que estão sendo socorri-dos para locais de melhor condi-ções de pastejo, a SEAGRI, através da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, flexibilizou a exigência da emissão da Guia de Trânsito Animal – GTA on line, implantando a GTA off line e manual, evitando, desse modo, eventuais dificuldades ocasionadas por quedas no sistema de emissão das guias ou por interrupção na conexão da Internet, que poderiam acarretar indesejáveis atrasos nas transferências dos rebanhos que estão sendo socorridos para locais de melhor pastejo.

USO DE CRÉDITO DE ICMS PARACOMPRA DE LEITE

A seca prolongada tem provoca-do de maneira drástica a queda da produção de leite em pratica-mente todas as bacias leiteiras do Estado, em consequência de re-dução da produtividade, do atra-so no calendário de parições do rebanho e até mesmo das perdas de cabeças de gado.

Esses fatores comprometem deci-sivamente a safra de leite impactan-

do negativamente nas indústrias, chegando ao ponto de algumas delas operarem com apenas 30% da sua capacidade instalada, pondo em risco não só a continui-dade dessas plantas, como tam-bém a própria sustentabilidade da cadeia produtiva.

Para reduzir o impacto dessa situa-ção, torna-se necessária a aquisição de leite nos Estados de Minas Ge-rais, Goiás, Sergipe, Pernambuco, e Espírito Santo, para industrialização no Estado da Bahia.

Diante desse quadro e em atendi-mento à demanda do segmento de laticínios e produtos derivados do leite, e buscando assegurar o mínimo de competitividade ao se-tor, neste grave período de seca, o Governo do Estado, median-te Decreto n° 14.033, concedeu crédito presumido do ICMS em 100%, equivalente ao imposto inci-dente nas saídas dos seus produ-tos, em opção ao aproveitamento de quaisquer outros créditos, ve-dada a acumulação desta siste-mática de crédito com o benefício do Programa DESENVOLVE. Em

síntese, dispensou o pagamen-to do ICMS para as indústrias do setor de laticínios, até 31 de de-zembro de 2012, que em função da seca estão adquirindo leite in natura em outros estados.

PROGRAMA DESEGURANÇAALIMENTAR DOREBANHO DA AGRICULTURAFAMILIAR

Programa que tem por objetivo contribuir para a sustentabilida-de da bovinocultura de leite e da ovino-caprinocultura da agricultura familiar, através do fomento à im-plantação de reserva estratégica de alimentos que garanta a segu-rança alimentar do rebanho.

Foram disponibilizados pelo Go-verno do Estado, através do Fundo Estadual de Combate e Erradica-ção da Pobreza – FUNCEP, recur-sos da ordem de R$ 2,7 milhões

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para apoiar o Programa em suas ações a exemplo da implantação de unidades técnicas didáticas de palma adensada, com diversos cultivares, nas Estações Experi-mentais da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA e em áreas pertencentes a agricul-tores familiares, para posterior dis-tribuição das mudas produzidas ao público do programa.

Até o final de 2013, serão instala-das 367 Unidades Técnicas Didá-ticas (UTDs) de palma adensada, com 1.350 metros quadrados, e mais 100 unidades, com cinco mil metros quadrados, em parceria com agricultores familiares. Está prevista, também, a implantação de três biofábricas, a serem locali-zadas em Feira de Santana, Irecê, e Juazeiro; e a implantação de ex-perimentos em 10 estações para avaliar três cultivares de palma, re-sistentes à cochonilha do carmim.

Para a instalação das UTDs, agri-cultores familiares, entidades co-munitárias ou o poder público ce-derão áreas com solo adequado para o cultivo da palma por um prazo de cinco anos. As comuni-dades também participarão das atividades de preparo do solo, plantio, cuidados com a planta-ção, controle de pragas e colhei-ta. A EBDA disponibilizará mate-rial para construção de cercas, kit de ferramentas, fosfato natural reativo e mudas de palma.

Com o plantio adensado, que consiste em diminuir o espaço en-tre as mudas, a média obtida é de 400 toneladas por hectare, quan-

tidade suficiente para alimentar 44 vacas por um período de 180 dias, contribuindo assim para a formação de reserva alimentar no período de estiagem.

VENDA DE MILHO EM GRÃO PARA SOCORRO AOSREBANHOS

A Companhia Nacional de Abaste-cimento – CONAB - promove por

meio do Programa Vendas em Balcão, em parceria com o Gover-no do Estado, a venda de milho em grão, dos estoques públicos, para alimentação dos rebanhos, com concessão de subvenção econômi-ca para os criadores dos municípios atingidos pela seca (Quadro 2).

O enquadramento do beneficiário para definição do limite de aquisi-ção e do preço é feito com base na informação prestada no Sistema de Cadastro Técnico/Programa de Vendas em Balcão da CONAB.

QUADRO 2 LIMITE DE AQUISIÇÃO POR BENEFICIÁRIO/MÊS/PREÇO DE VENDA:

Limite de aquisição Valor R$/saca de 60kgAté 3.000 kg R$ 18,12De 3.001 kg a 7.000 kg R$ 21,00De 7.001 kg a R$ 14.000 kg R$ 24,60Fonte: CONAB

Mapa 1

Fonte: Conab

A VENDA DO MILHO ATRAVÉS DOS ARMAZÉNS DA CONAB

Existente

Novos Credenciados

GuanambiSanta Maria

da Vitória

Ribeirado Pombal

Feira deSantana

Vitória daConquista

EntreRios

Juazeiro

Itaberaba

Irecê

Armazéns da CONAB

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Para se habilitar ao programa, o interessado deve efetuar o cadastro, de posse da Ficha Sanitária do Rebanho, forneci-da pela ADAB, diretamente em uma das unidades operacionais da Conab, ou nos Escritórios da EBDA, neste caso para posterior entrega à CONAB.

A venda do milho está sendo efe-tuada através dos armazéns da CONAB, localizados nos muni-cípios de: Irecê, Itaberaba, Entre Rios, Ribeira do Pombal e Santa Maria da Vitória, e dos armazéns credenciados nos municípios de Guanambi, Feira de Santana, Juazeiro e Vitória da Conquista (Mapa 1), e, em alguns municí-pios, através do sistema delivery (entrega direta) para produtores organizados em associações e cooperativas, com o Governo do Estado assumindo as despesas com transporte.

Até 28 de fevereiro de 2013 ha-viam sido comercializadas cerca de 30.000 toneladas de milho, das quais aproximadamente 3.200 foram entregues aos produ-tores através do sistema delivery.

COMPRA EMERGENCIAL DE CAPRINOS EOVINOS DAAGRICULTURAFAMILIAR

Para amenizar os efeitos da estia-gem sobre a renda dos pequenos

criadores do semiárido baiano que têm tido dificuldades em co-mercializar seus rebanhos, devido à oferta demasiada, a SEAGRI, em parceria com a CONAB, EBDA e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Articulada – IRPAA, articularam a comercialização de forma emergencial de mais de R$ 1 milhão de reais de carne de caprino e ovino da agricultura fa-miliar pelo Programa de Aquisição de Alimentos – PAA.

Apenas no Território Sertão do São Francisco, serão benefi-ciados mais de 20 empreendi-mentos da agricultura familiar. Os animais são comprados pelo valor de R$ 9,50 por quilo de carne processada, ao todo serão abatidas 105.000 cabe-ças de caprino e ovino da agri-cultura familiar.

A carne resfriada e congelada, em frigoríficos inspecionados de Juazeiro, será destinada a instituições de amparo, esco-las, creches e hospitais das

cidades do Território Sertão do São Francisco. Como prevê a modalidade de Doação Simul-tânea do PAA, cada agricul-tor familiar poderá vender até R$ 4.800,00 ao Programa.

DESTRAVAMENTO DA REGULARIZA-ÇÃO FUNDIÁRIA PRIORIZANDO O SEMIÁRIDO

Com o objetivo de destravar os processos de regularização fun-diária priorizando o Semiárido, o Governo do Estado publicou o Decreto n° 13.914 de 13/04/2012, simplificando a tramitação dos processos de regularização fun-diária dos imóveis rurais, possibi-litando a agilização da conclusão de cerca de 18.000 processos na Coordenação de Desenvol-vimento Agrário – CDA/SEAGRI, em especial, aproximadamente, 10.000 provenientes dos muni-

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cípios que declararam situação de emergência reconhecida pelo Governo do Estado.

Com o título da terra o agricultor passa a ter acesso ao PRONAF estimado em até R$ 20 mil por be-neficiário, que poderá representar uma injeção de recursos em torno de R$ 140 milhões nos municípios atingidos pela seca.

Até o momento, foram efetivamen-te entregues aproximadamente 12.000 títulos pelo governo baiano.

PROGRAMAGARANTIA SAFRA

Fundo de natureza financeira criado pelo Governo Federal, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio – MDA, o Programa Garantia Sa-

fra visa garantir condições mínimas de sobrevivência aos agricultores familiares de municípios sistemati-camente sujeitos a perdas devido às estiagens ou excesso hídrico.

O Programa Garantia Safra as-segura uma renda de R$ 760,00 em cinco parcelas mensais e sucessivas de R$ 152,00 para os Agricultores Familiares que efetivarem a adesão ao Progra-ma antes dos períodos de plan-tio, quando for verificada perda da safra das culturas do feijão, milho, algodão, mandioca e ar-roz maior que 50%. A adesão é para os agricultores com renda média bruta mensal de até 1,5 salário mínimo, nos últimos 12 meses em que antecede sua inscrição e que plantam entre 0,6 a 05 hectares e que não são beneficiários de outros se-guros de safra.

O Fundo que garante as inde-nizações é constituído de re-cursos da União, dos Estados, dos Municípios e dos próprios Agricultores, na proporção de 25%, 7,5%, 3,75% e 1,25%, res-pectivamente. Na Bahia, para estimular a adesão, desde 2009, o governo decidiu assu-mir o pagamento da metade do valor dos aportes das Prefei-turas e das contribuições dos Agricultores.

O estímulo governamental, aliado a outras ações de divulgação, vi-sitas às Prefeituras e a ampliação da emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP, intensifi-cadas pela SEAGRI, por meio da sua Superintendência de Agricul-tura Familiar – SUAF e da EBDA, elevaram substancialmente a ade-são dos municípios e dos agricul-tores (Gráficos 1 e 2).

Grá�co 1 ADESÃO DE AGRICULTORES AO GARANTIA SAFRA

Fonte: SEAGRI/SUAF

6.067 15.173 22.604

64.879

114.756

149.697

210.995

x 1.

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( * ) Em andamento

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13*0

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100

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250

FUNDOS PARA INDENIZAÇÕES COM RECURSOS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DOS PRÓPRIOS AGRICULTORES

Aportes sobre R$ 760,00 Governo Federal Governo Estado Município Agricultor

Valor definido pelo MDA R$ 90,00 R$ 57,00 R$ 28,70 R$ 9,50 Valor com subsídio (50%) R$ 190,00 R$ 76,10 R$ 14,35 R$ 4,75

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O investimento do Governo do Estado com o programa também vem evoluindo significativamen-te. Em 2006, foram gastos pouco mais de R$ 200 mil para adesão do Estado ao Fundo. Na safra 2011/2012 foi aportado, pelo Governo do Estado, o valor de R$ 8,14 milhões para a adesão de 149.697 agricultores em 209 municípios. Com os efeitos da seca foram indenizados 149.124 agricultores, em 203 municípios, totalizando recursos da ordem de R$ 101,3 milhões.

Adicionalmente ao Benefício Ga-rantia Safra, através do Decreto Presidencial de nº 7.837 de 09 de novembro de 2012, poste-

riormente alterado pelo Decreto nº 7.890 de 09 de janeiro de 2013 foi autorizado o aporte financeiro de R$ 560,00 (quinhentos e ses-senta reais) por família, totalizan-do R$ 185,6 milhões.

Com a ampliação das cotas, ao fi-nal da safra 2012/2013, os custos alcançarão R$ 11,2 milhões. Para esta safra, no plantio de verão, já aderiram ao Programa 111.543 agricultores em 129 municípios e na safra de inverno já foram efe-tivadas 99.452 inscrições pelos agricultores em 96 municípios.

A meta do Governo baiano é aten-der a todos os agricultores familia-res do Semiárido que possuem os

critérios para pertencer ao Garan-tia Safra, em torno de 300 mil. Nos próximos anos, a tendência é que o número de adesão ao programa aumente gradativamente, para a safra 2013/2014, a previsão é chegar a 250 mil e para a safra 2014/2015, a meta é alcançar 300 mil agricultores.

A expansão do Garantia Safra é um fator que tem impulsionado a eco-nomia dos municípios. O programa tem efeito parecido com o do Bolsa Família. Em muitos casos, o dinhei-ro que circula na economia local supera a arrecadação do Fundo de Participação de Municípios (FPM) das prefeituras (Quadro 3).

SOS SECA - TODOS OS PRODUTORES UNIDOS

Objetivando evitar que diversos rebanhos de pequenos produto-res baianos sejam dizimados pela falta de alimentação, a SEAGRI, no bojo da Campanha S.O.S Seca,

Grá�co 2 ADESÃO DOS MUNICÍPIOS AO GARANTIA SAFRA

Fonte: SEAGRI/SUAF

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( * ) Em andamento

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13*0

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Número de Municípios

QUADRO 3 EXPANSÃO DO GARANTIA SAFRA, NA BAHIA, 2012

85.036 Agricultores de 125 municípios aderiram na safra verão84.686 Agricultores indenizados da safra verão121 Municípios beneficiadosR$ 57,5 milhões de benefícios sendo pagos

64.661 Agricultores de 84 municípios aderiram na safra inverno64.438 Agricultores indenizados da safra inverno82 Municípios beneficiadosR$ 43,8 milhões de benefícios sendo pagosFonte: SEAGRI/SUAF

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promovida pelo Governo do Es-tado, desenvolveu um intenso trabalho de articulação e sensi-bilização junto aos produtores do Agronegócio Baiano mobilizan-do-os para a doação de milho, caroço de algodão, farelo de soja, feno, bagaço hidrolisado e mela-ço de cana, além do frete para o transporte das cargas.

A resposta foi de imediato e tem sido altamente positiva demonstrando a solidariedade dos grandes produtores para com os pequenos criadores que sofrem e até adoecem por verem seus rebanhos sendo dizimados, de forma lenta e agônica, pela fome.

A escolha dos municípios a serem beneficiados levou em considera-ção, dentre outros fatores, a gra-vidade da situação e o número de agricultores familiares envolvidos. Os alimentos arrecadados são repassados às associações de pequenos produtores que fazem a distribuição para os associados.

Foram parceiros nesse projeto, a Associação dos Agricultores e Ir-rigantes da Bahia – AIBA, a Asso-ciação Baiana dos Produtores de

Algodão – ABAPA, as empresas Agrovale e a UNIAL, entre outros. Os empresários doadores recebe-ram da SEAGRI uma placa de reco-nhecimento pela responsabilidade social demonstrada nessa ação solidária.

Até o momento, cerca de 1.000 toneladas de alimentos para os rebanhos foram doados e distri-buídos aos pequenos criadores.

BOMBARDEAMENTO DE NUVENS

O agravamento do longo perío-do de seca que se abate sobre o Estado da Bahia fez com que o Governo do Estado lanças-se mão de uma alternativa não muito usual no Brasil que é o bombardeamento de nuvens, também conhecido como pul-verização ou semeadura de nu-vens, tecnologia utilizada para provocar chuvas artificialmente.

Neste sentido, foi contratada pela SEAGRI com articulação da sua Superintendência de Irrigação e pelo Instituto do Meio Ambien-

te e Recursos Hídricos – INEMA, da Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, uma empresa paulista com experiência acumulada na produção de chuvas artificiais sem uso de produtos poluentes, para a execução de um projeto piloto na região da Chapada Dia-mantina, com foco no município de Itaberaba e entorno.

A produção de chuvas através da técnica adotada ocorre com a en-trada de um avião bimotor, nas nu-vens cúmulus que concentram alta umidade, equipado com 300 litros de água, e as pulveriza com gotí-culas de água provocando a preci-pitação minutos após a operação.

Embora a época do ano em que a experiência aconteceu não tenha sido a mais favorável, pela pouca formação de nuvens específicas no período, com probabilidade de acerto entre 0% e 40%, foram rea-lizados 17 vôos e provocadas 14 pancadas de chuvas que se pre-cipitaram sobre áreas de concen-tração da produção de abacaxi no município de Itaberaba contribuin-do para a redução dos prejuízos causados a lavoura pela seca.

CAPTAÇÃO DERECURSOS JUNTO À CHESF

O Conselho Nacional de Secretá-rios de Agricultura – CONSEAGRI, atualmente presidido pelo Secretá-rio de Agricultura da Bahia, foi bus-car recursos da ordem de R$ 10

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milhões para oito estados nordes-tinos junto à Companhia Hidrelétri-ca do São Francisco – CHESF. Os recursos serão aplicados em ações estruturantes de convivência com a seca, visando aumentar a oferta permanente de água e assegurar o desenvolvimento socioeconômico dos estados do Semiárido do Nor-deste. A CHESF celebrará convê-nios com os governos estaduais, e cada um dos oito estados receberá R$ 1,25 milhão.

A Bahia deverá aplicar esse valor na qualificação dos reba-nhos de caprinos e ovinos; em kits de irrigação de dois hecta-res para comunidades de agri-cultores familiares visando à produção de hortaliças, grãos e frutas; e em tanques-rede para apoiar a piscicultura.

BOLSA ESTIAGEM

O Bolsa Estiagem ou Auxílio Emergencial é um benefício fede-ral que tem por objetivo assistir

famílias de agricultores familiares com renda mensal média de até dois salários mínimos, atingidas por desastres nos municípios em estado de calamidade pública ou em situação de emergência reco-nhecidos pelo Governo Federal.

Para utilizar este benefício a famí-lia tem que preencher os seguin-tes requisitos:

1. Residir em município em si-tuação de emergência ou es-tado de calamidade pública, reconhecido pelo Poder Exe-cutivo Federal entre janeiro e outubro de 2012;

2. Ser agricultor familiar com Declaração de Aptidão ao PRONAF;

3. Possuir renda mensal média de até 2 (dois) salários mínimos;

4. Estar cadastrado no Cadas-tro Único para Programas Sociais do Governo Federal;

5. Não ter aderido ao Garantia Safra 2011/2012.

Esse benefício consiste na trans-ferência de R$ 400,00 por família, transferidos em até cinco parcelas de R$ 80,00. Com o agravamen-to da seca, o Governo Federal autorizou, excepcionalmente, a ampliação do benefício em mais quatro parcelas, totalizando, des-se modo, R$720,00 por família

Esses esforços demonstram o em-penho da Secretaria da Agricultura – SEAGRI, no enfrentamento dessa longa estiagem que vem trazendo tantos prejuízos para a nossa eco-nomia agropecuária, e que atinge de forma dramática a população do Semiárido baiano, refletindo em todo corpo social do Estado.

Essas e outras ações foram me-didas tomadas emergencialmente e estrategicamente pelo Governo do Estado da Bahia para ameni-zar as dificuldades e os prejuízos causados pela Seca que atingiu mais de 60% dos seus municípios e seus agropecuaristas. As articu-lações feitas com o Governo Fe-deral, por meio dos seus ministé-rios afins e envolvidos diretamente nas ações foram imprescindíveis para a ação imediata em socorro aos que sofreram e sofrem com os efeitos da mais dura estiagem dos últimos 50 anos, acreditam al-guns pesquisadores.

Outras medidas de longo pra-zo estão sendo tomadas para que a pressão dos efeitos do fenômeno seja menor para que o sertanejo possa conviver com a seca e se preparar para a sua ocorrência de forma sustentável e estratégica.Fo

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Antonio Lemos Maia Neto1

OSemiárido corresponde a apro-ximadamente 57% do território

nordestino (DUARTE, 1999), carac-terizando-se por uma precipitação pluviométrica de 300 a 800 mm anu-ais, com balanço hídrico negativo na maioria dos meses. Apresenta ainda, sérias limitações quanto aos solos, sobretudo com relação à pro-fundidade e capacidade de arma-zenamento de água (LANGUIDEY;

1–Médico Veterinário, MSc. Desenvolvimento Sus-tentável, Fiscal Estadual Agropecuário – Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Coordenador Estadual do Programa Nacional de Erradicação e Pre-venção da Febre Aftosa na Bahia (PNEFA), Salvador--BA; e-mail: [email protected]

CARVALHO FILHO, 1994). Segundo esses autores, essas características apontam para uma vocação econô-mica prioritariamente agropecuária, onde os caprinos e ovinos despon-tam como as espécies mais bem adaptadas às áreas mais hostis do Semiárido. Isso fica demonstrado quando se observa que o Nordes-te detém os maiores rebanhos de caprinos e ovinos do País, o que representa 56,72% do rebanho ovi-no, com 9,85 milhões de cabeças, e 90,83% do caprino, com 8,45 mi-lhões de cabeças, com base em da-dos do IBGE (RODRIGUES, 2012).

A criação de caprinos e ovinos apresenta um papel socioeconô-mico de importância estratégica,

uma vez que se encontra ampla-mente difundida junto à agricultu-ra familiar nas áreas de sequeiro do Semiárido nordestino. Trata--se de uma atividade na qual o ecossistema local representa um componente básico dos siste-mas de produção tradicional em Fundo de Pasto, largamente utili-zado para o forrageamento dos rebanhos (HOLANDA JÚNIOR et al., 2003).

Apesar de incentivar a manutenção das áreas de vegetação natural do Semiárido, a criação de capri-nos e ovinos nesses sistemas tem sido apontada por diversos auto-res como fonte de degradação da vegetação, uma vez que, existem

Gestão ambiental para a sustentabilidade dos Fundos

de Pastos no Semiárido baiano

Foto: Manuela Cavadas

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evidências de que o pastejo de caprinos pode afetar a estrutura, a capacidade de regeneração e a distribuição de várias espécies her-báceas e arbustivas da vegetação da Caatinga (LEAL et al., 2003).

Dessa forma, faz-se necessário encontrar instrumentos de gestão que favoreçam a manutenção dos sistemas tradicionais de produ-ção baseada na agricultura fami-liar e que, ao mesmo tempo, con-tribuam para o uso racional dos recursos naturais da vegetação nativa. Uma alternativa para suprir essas lacunas, se daria mediante a integração dos dados do Servi-ço Veterinário Oficial e dos órgãos de Gestão Ambiental, tal como se propõe no presente estudo.

A PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS EM FUNDOS DE PASTO NA BAHIA

De acordo com Ávila e Calderón (2004), os sistemas tradicionais de agricultura familiar se carac-terizam por um elevado grau de sustentabilidade, por utilizarem, em sua maioria, práticas adapta-das ao meio biofísico, com uma maior diversidade de culturas agrícolas e menor dependência de insumos externos. Nas áreas de sequeiro de grande parte do Semiárido baiano, a agricultu-ra familiar é baseada na criação de caprinos e ovinos em sistema de Fundo de Pasto (HOLANDA

Fonte: Ministério da Integração

SEMIÁRIDO BAIANO

Áreas Semiáridas

Áreas Subúmidas

Áreas do Entorno

Municípios no Novo SemiáridoFo

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Fundo de Pasto em Rodelas – Bahia

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JÚNIOR, 2003). Trata-se de um sis-tema extensivo, no qual rebanhos de vários produtores são criados soltos em áreas de vegetação nati-va sem divisões demarcatórias de propriedades, constituindo-se em áreas de uso coletivo.

Mesmo com os efeitos nocivos ad-vindos da herbivoria da Caatinga pelos pequenos ruminantes, mui-tas das pastagens nativas do Semi-árido conservam boa cobertura de sua vegetação. “São áreas que não são queimadas e nem roçadas, e onde a ação antrópica limita-se à exploração da pecuária e à even-tual coleta de produtos vegetais” (GIULIETTI et al., 2004a, p.65). De acordo com aqueles autores, boa parte das áreas de pasto nativo no Semiárido corresponde, na ver-dade, a áreas abandonadas pela agricultura ou pela exploração ma-deireira para lenha e carvão, esta sim, tida como a principal causa da degradação da Caatinga.

O sistema de produção de caprinos e ovinos em Fundo de Pasto des-ponta assim com grande potencial para conciliar o uso e a preservação da biodiversidade, já que as pasta-gens nativas são bem mais diversi-ficadas do que as cultivadas (GIU-LIETTI et al., 2004a), e os produtores dependem de sua manutenção para garantirem seu sustento ou comple-mentação da renda.

Essa atividade, contudo, está vol-tada em sua essência à subsistên-cia, com baixo nível de tecnologia, pouca ou nenhuma assistência técnica, baixos níveis de produtivi-dade e remuneração ao produtor

(LIMA; BAIARDI, 2002). Em estu-do sobre a cadeia produtiva da caprino-ovinocultura no Estado da Bahia realizado por Holanda Júnior et al. (2003), 59% dos 656 criado-res entrevistados foram classifica-dos como exploradores de pecu-ária de subsistência pauperizada. Na região de Juazeiro-BA, Souza (2004) verificou que esse tipo de criador, sem meios para acompa-nhar a evolução tecnológica e se inserir na nova dinâmica da agri-cultura irrigada, acabaram por vi-ver de mercados marginais.

A participação no mercado de for-ma competitiva é apontada por Guimarães Filho et al. (1999), como condição indispensável para esta-bilidade e perenidade da produção de base familiar. Contudo, “se no passado a economia condicionou a utilização do meio ambiente, sem se preocupar com a degradação e exaustão de seus recursos, atual-mente parece ser o meio ambiente que deve condicionar a economia” (COMUNE, 1994, p.46).

POTENCIALFORRAGEIRO DA CAATINGA

A vegetação da Caatinga apre-senta grande diversidade de espécies com elevado grau de endemismo e características al-tamente adaptadas ao Semiárido (CASTELLETTI et al., 2003). De acordo com Giulietti et al. (2004a), estima-se existir cerca de 932 es-pécies já registradas, sendo 318

endêmicas. Segundo Giulietti et al. (2004b), esta diversidade es-taria relacionada às 12 tipologias de caatingas reconhecidas e aos inúmeros ambientes associados. O que, por sua vez, está relacio-nado às variações de solo, clima e relevo desse espaço geográfico (SILVA et al., 2003).

Além do elevado grau de ende-mismo, Leal et al. (2005) desta-cam a Caatinga como o único domínio cujos limites estão res-tritos exclusivamente ao território nacional e o segundo ecossiste-ma mais degradado do país, o que torna mais relevante ainda a necessidade de preservá-lo.

De acordo com Araújo-Filho et al. (1996), cerca de 70% das es-pécies lenhosas e herbáceas da Caatinga são utilizadas pelos ca-prinos como forrageira. Trata-se, portanto, de uma vegetação com alto valor forrageiro (DRUMMOND et al., 2000). Giulietti et al. (2004a), entretanto, afirmam que os levan-tamentos realizados até o momen-to, são insuficientes para determi-nação desse potencial. Segundo esses autores, diversas famílias de plantas contribuem com espé-cies que participam da dieta dos animais, merecendo destaque à família das leguminosas.

A grande maioria dos sistemas de produção pecuária extensiva que predominam no Semiárido é altamente dependente do su-porte forrageiro desse tipo de vegetação, especialmente no período seco (FRANCELINO et al., 2003; PINTO et al., 2006).

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CAPACIDADEDE SUPORTESUSTENTÁVEL

A capacidade de suporte susten-tável expressa o nível máximo de uma população em número de ha-bitantes, em uso de um conjunto de tecnologias e hábitos de consumo, numa determinada área, por tempo indefinido, sem causar degrada-ção ambiental (BARRADAS, 1999; MOTA, 2001). Assim, a determina-ção e análise deste conceito são fundamentais para o planejamento das políticas de desenvolvimento sustentável voltadas à região do Semiárido baiano, tornando claro suas potencialidades, limitações e ameaças à preservação de seus recursos naturais (DALY, 1994).

Em média, a Caatinga apresenta uma produtividade de fitomassa

em torno de quatro toneladas de matéria seca por ano, a qual so-fre relevantes variações conforme a área de ocorrência e ao longo do tempo (ARAÚJO FILHO; CRIS-PIM, 2002). Entretanto, menos do que 10%, é realmente aproveita-do, uma vez que depende do es-tado fenológico da vegetação, de sua acessibilidade aos animais, e da proporção de espécies não palatáveis de determinada área (ARAÚJO FILHO et al., 1998).

De acordo com Araújo Filho e Cris-pim (2002), a capacidade de supor-te média das áreas de Caatinga, gira em torno de 12,5 ha/Unidade Animal(UA)/ano, contudo a carga animal média verificada está em torno de 4,4 ha/UA/ano. Essa so-brecarga animal tem proporciona-do um superpastoreio da caatinga, modificando a composição florísti-ca de seu estrato herbáceo (DRU-

MOND et al., 2000 e GIULIETTI et al., 2004a), e a vegetação menos densa (SILVA et al, 2003).

IMPACTO DA CAPRINO- -OVINOCULTURA SOBRE A VEGETAÇÃO NATIVA

Segundo Leal et al. (2003), os ca-prinos em especial, podem ser considerados generalistas, por consumirem plântulas e todas as partes de plantas adultas, como folhas (verdes ou secas), flores, frutos, sementes. Por essas ca-racterísticas, em condições de su-perpastejo, “os caprinos e ovinos podem induzir mudanças substan-ciais na florística da caatinga, quer pelo anelamento dos troncos das árvores e arbustos, causando-lhes a morte, quer pelo consumo de plântulas impedindo a renovação do estoque das espécies lenho-sas”. Já a vegetação herbácea, sofre principalmente com a eleva-da pressão de pastejo por ovinos, que pelo hábito de pastejo rasteiro (ARAÚJO FILHO; CRISPIM, 2002). O consumo animal é direcionado para aquelas espécies mais pala-táveis que tendem a sofrer redução em suas populações. Por outro lado as espécies não consumidas, podem ter sua população aumen-tada (GIULIETTI et al. 2004a).

Em estudo sobre a herbivo-ria por caprinos na Caatinga da região do Xingó, Leal et al.

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Fundo de Pasto em Jaguarari – BA

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(2003), propõem que esta ati-vidade representa um fator de seleção natural, capaz de in-terferir na abundância e distri-buição das principais espécies consumidas. Conforme esses autores, isto estaria relacionado à retirada das partes da vege-tação lenhosa de acordo com o avançar do período seco, bem como, ao consumo de frutos que acabam sofrendo uma in-terferência em sua distribuição. Moolman e Cowling citados por Leal et al. (2003), informam que “os caprinos são responsáveis por uma redução de 47% das espécies endêmicas de suculen-tas e geófitas, quando compa-radas áreas com e sem esses animais”. Além disso, é apon-tada também, uma interferên-cia na ciclagem de nutrientes, seja em função da transferência de nutrientes para os locais de malhadouros ou dormitórios, ou pela redução da população de leguminosas arbustivas fi-xadoras de nitrogênio atmosfé-rico, em face da simbiose com bactérias do gênero Rhizobium, presentes no solo.

Por outro lado, diversos autores relatam que este impacto sobre a vegetação natural, estaria ligada a situações de altas taxas de lota-ção animal nas áreas de Caatinga, o que é agravado quando conco-mitante a outras atividades, como a retirada de lenha para produção de carvão ou o sobre-pastejo por bovinos (LEAL et al., 2003). Assim, passa a ser fundamental o con-trole da pressão de pastejo sobre áreas de exploração coletiva.

Tendo como base a observa-ção direta e entrevistas não estruturadas com informantes--chave realizadas durante visita técnica da ADAB à Comunida-de da Massaroca, Juazeiro-BA, no ano de 2010, verificou-se que algumas comunidades já manejam a pressão de pastejo sobre suas áreas, mesmo que empiricamente. No período de chuvas, quando é maior a ofer-ta de alimentos nas pastagens naturais, a maior parte dos produtores mantém seus re-banhos no chamado Fundo de Pasto. Na época em que a pas-tagem da Caatinga começa a escassear, parte dos rebanhos é conduzida para propriedades individuais situadas no alto da Serra da Bela Vista, onde são arraçoados com palma forra-geira, feno, silagem, melancia de cavalo, leucena e restos de culturas agrícolas.

Existe uma visão externa de que as áreas de Fundo de Pasto es-tão submetidas a pastejo e lota-ção contínua ao longo do ano, e por consequência, esse sistema tradicional de produção seria um dos principais responsáveis pela degradação da Caatinga. O caso de Massaroca, acima abordado, no entanto, parece caracterizar como um sistema de produção de lotação variável ao longo do ano, o qual, teoricamente, estaria ofe-recendo condições para recupe-ração e manutenção da vegetação natural. Todavia, essa prática não é uniforme em todo o Semiárido baiano. E mesmo onde é utilizada, carece de instrumentos de ges-tão para uma melhor segurança e sustentabilidade do sistema. Prin-cipalmente se for considerado a existência de áreas com elevada diversidade de espécies e grau de endemismo da flora da caatinga (SILVA et al., 2003).

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Fundo e pasto em Juazeiro – BA

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INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL

SISTEMA DE INFORMA-ÇÕES GEOGRÁFICAS

Os Sistemas de Informações Geo-gráficas são ferramentas de geor-referenciamento que possibilitam armazenar, manipular e integrar uma grande quantidade de dados espaciais, não espaciais e tempo-rais, através de programas de infor-mática especializados. Com a visu-alização espacial destes dados de forma integrada, é possível formular hipóteses de interdependência e causalidade (TEIXEIRA et al., 1992).

No momento em que as diversas variáveis sobre um determinado espaço geográfico são considera-das de forma conjunta, cria-se uma condição para que novas pers-pectivas e conhecimentos sejam gerados (XAVIER-DA-SILVA, 1992). Dessa forma, informações como a localização das comunidades e estabelecimentos de criação; efe-tivo do rebanho, sua distribuição espacial e densidade populacional; tipo de manejo e perfil do criador;

podem ser de grande valia para gestão ambiental, quando correla-cionadas, com informações sobre a cobertura vegetal, grau de pre-servação da Caatinga, utilização do solo, entre outras.

BASE DE DADOS DA DEFESA SANITÁRIA ANIMAL

Dentre outras funções, o Serviço de Defesa Sanitária Animal tem como missão garantir a seguran-ça sanitária exigida pelo crescente mercado nacional de carnes de caprinos e ovinos. Ademais, pro-tege os mercados dos prejuízos advindos de ocorrências sanitárias como a Febre Aftosa, e assegura a segurança alimentar para o gran-de mercado consumidor local e regional. Para isso, são utilizados mecanismos legais com o objetivo de manter uma base cadastral dos estabelecimentos de criação; con-trolar o fluxo de trânsito dos ani-mais, registrando a origem, desti-no e motivo das movimentações; o estoque, evolução e distribuição espacial dos rebanhos; além de realizar a vigilância sanitária e epi-

demiológica (BAHIA, 1999; BAHIA, 1999b). Dentre as principais fer-ramentas deste serviço está o cadastramento e georreferencia-mento dos estabelecimentos de criação (BRASIL, 2005).

As informações produzidas a par-tir dessa base cadastral, além de imprescindíveis ao processo de planejamento de intervenções es-tatais na agropecuária, poderiam ser utilizadas para construção de planos de gestão ambiental rural, mediante a integração com as infor-mações das Agências Ambientais. Nesse contexto, são de fundamen-tal importância variáveis como: o quantitativo e a distribuição espacial das comunidades, dos estabeleci-mentos de criação e dos rebanhos caprinos e ovinos; a densidade de-mográfica desses rebanhos; o tipo de ocupação humana; e o inven-tário e estado de conservação da vegetação. Com isso, poder-se-ia relacionar a capacidade de supor-te sustentável de determinada área de Caatinga, ao grau de utilização dos sistemas de Fundo de Pasto. Essas informações refletiriam o grau de equilíbrio daquele agroecossis-tema, indicando a possibilidade de intensificação do uso da Caatinga, ou a necessidade de racionalização através da redução do rebanho ou da adoção de práticas de manejo sustentável da caatinga.

MONITORAMENTO AMBIENTAL

Esta seria a etapa mais onerosa do modelo de gestão proposto, pois envolve o sensoriamento remoto

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Fundo de Pasto em Juazeiro – BA

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para caracterização da cobertura e uso do solo, além do inventá-rio florístico. Este último consiste da coleta de dados bióticos nas áreas de Fundo de Pasto delimi-tadas e classificadas por meio do sensoriamento remoto e cadastra-mento dos estabelecimentos de criação e dos criadores.

PROSPECÇÕES AMBIENTAIS

Corresponde à fase dos “pro-cedimentos diagnósticos que possibilitam caracterizar, clas-sificar e modelar o espaço em estudo” (LORINI et al., 1996, p.153). A correlação entre os planos de informação sobre a densidade de caprinos e ovi-nos e o grau de degradação da Caatinga nas áreas de Fun-do de Pasto, proporcionaria a elaboração de um mapa apon-tando as áreas em que a taxa de lotação atual de pequenos ruminantes oferece risco à sus-tentabilidade da Caatinga.

Ao inserir outros planos de infor-mações na presente análise, tais como, outras atividades conside-radas impactantes à Caatinga, como a bovinocultura e a retirada de lenha para comercialização ou produção de carvão, o mo-nitoramento passará a ser ainda mais criterioso.

De posse dos dados de rebanho é possível monitorar o nível de den-sidade populacional de caprinos e ovinos em cada área demarcada pelo zoneamento anterior. Ao se

identificar uma densidade próxima ou acima da capacidade de supor-te sustentável daquela área, o Ser-viço de Defesa Agropecuária acio-naria o órgão de Gestão Ambiental responsável, visando à adoção de ações mitigadoras, ou os órgãos de assistência técnica para agirem na orientação das comunidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante dispensar esforços para avaliar e monitorar o real im-pacto causado pela criação de pequenos ruminantes nas áreas de vegetação de Caatinga, assim como na racionalização desses sistemas de produção tradicio-nais, através de mecanismos de manejo que venham a atender à sua capacidade de suporte sus-tentável. Esses esforços assu-mem uma dimensão estratégica, uma vez que a caprino-ovinocul-tura representa uma das poucas opções de atividade econômica para as áreas mais hostis do Se-miárido, cuja base de produção sustenta-se na pastagem nativa da Caatinga, agroecossistema que necessita ser preservado para as gerações futuras.

O plano de procedimentos diag-nósticos, proposto neste traba-lho, ao focar em uma área com grande carência de informações, pode contribuir para o aperfei-çoamento de metodologias de georreferenciamento, auxiliando no planejamento de ações esta-

tais voltadas ao desenvolvimento agrícola sustentável, contexto em que a gestão ambiental fornece o pano de fundo. As informações emergentes desse trabalho po-derão instrumentalizar tanto as organizações dos produtores, quanto os órgãos competentes com ferramentas de gestão ca-pazes de assegurar a sustentabi-lidade desse importante meio de produção em sequeiro, caracte-rístico do Semiárido baiano.

Acredita-se ainda, que é pos-sível se evoluir para um zo-neamento da capacidade de suporte sustentável das áreas de Caatinga usadas para pro-dução animal no Estado, a par-tir do monitoramento dos dados resultantes de estudos para ca-racterização das diferentes áre-as de Caatinga do Semiárido baiano. Nesse contexto, será importante instalar experimen-tos, que avaliem a recuperação da vegetação submetida a di-ferentes pressões de pastejo, cujos resultados deverão ser contrapostos a dados históricos de lotação animal.

Dessa forma estar-se-ia contri-buindo para o alcance dos de-safios propostos por Leal et al. (2005), corroborados por este au-tor, que consiste em evitar maio-res perdas para aquele habitat, melhorar a qualidade de vida das populações e promover o uso sustentável dos recursos naturais, respeitando o conhecimento e práticas das comunidades tradi-cionais, e a utilização sustentável da diversidade biológica.

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Jazon Ferreira Primo Junior1

Wilson José Vasconcelos Dias2

Ivan Leite Fontes3

Robson Andrade Santos4

1 – Engenheiro Agrônomo, Coordenador Técnico de ATER – SUAF/SEAGRI; e-mail: [email protected]

2 – Engenheiro Agrônomo, Superintendente da Agri-cultura Familiar – SUAF/SEAGRI; e-mail: [email protected]

3 – Economista, Diretor de Desenvolvimento Territorial – SUAF/SEAGRI; e-mail: [email protected]

4 – Engenheiro Agrônomo, Especialista em Gestão da Inovação Tecnológica, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: [email protected]

A pesar de ser um direito cons-titucional – a Constituição

Federal de 1988 e a Lei Agrícola de 1991 determinam que a União mantenha os serviços de ATER pública e gratuita para os peque-nos agricultores – , na década de 90, assistimos o sucateamento dos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), com a ex-tinção da Empresa Brasileira de As-sistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER). Esse período coinci-de com a intensificação das refle-xões e questionamentos acerca do modelo de desenvolvimento rural,

amplamente difundido pela exten-são rural brasileira desde a década de 60, baseado, dentre outros fa-tores, na ampla utilização de agro-tóxicos, na concentração da terra e na compreensão de que o meio rural se constituía num espaço ex-clusivamente dedicado à produção agropecuária, desconsiderando os aspectos socioambientais e cultu-rais do campo brasileiro.

Movimentos do campo, organi-zações sociais e outros setores progressistas da sociedade vêm refletindo e propondo novas estra-

Assistência técnica e extensão rural: novos caminhos para o

desenvolvimento rural sustentável

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tégias para estimular o desenvol-vimento no meio rural brasileiro, em bases mais sustentáveis. Isto inclui uma agricultura sustentável baseada nos princípios agroeco-lógicos. Este modo de produção pautado pela sustentabilidade econômica, social e ambiental, leva em consideração, dentre ou-tros aspectos, a inclusão social das famílias rurais envolvidas no processo de produção e a produ-ção de alimentos visando a segu-rança e a soberania alimentar.

A partir do Governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o Minis-tério do Desenvolvimento Agrário (MDA) amplia substancialmente seu orçamento e ações. Prova maior disso é o crescimento es-trondoso dos recursos do PRO-NAF (Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar). Além das ações diretas, voltadas ao desenvolvimento do campo brasileiro, era importante, também, instituir um marco legal, necessá-rio para consolidar estas políticas públicas. Com esse objetivo, a Lei Federal nº 12.188/2010 institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária – PNATER. Seguindo esta trajetória, o Governo do Estado da Bahia também instituiu a Política Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar – PEATER, através da Lei Estadual nº 12.372/2011.

Os princípios contidos nestes dois importantes marcos jurídi-cos, dentre outras coisas, estabe-lecem, a adoção da agroecologia,

da promoção do desenvolvimento sustentável e da garantia de uni-versalização da assistência técni-ca e extensão rural para a agricul-tura familiar e reforma agrária.

ATER PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Um novo Brasil rural emerge. Fortalecido, diversificado e sus-tentável, capaz de contribuir decisivamente para a constru-ção de um País mais justo e com a tão desejada equidade social. Esse novo Brasil rural surge impulsionado pela ines-gotável capacidade produtiva de 4,3 milhões de famílias que vivem na terra e dela produzem 70% dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros (BRASIL, 2010a). Estes agricul-tores e agricultoras familiares dispõem, hoje, de um conjunto de políticas públicas de apoio a sua atividade produtiva tendo a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) como instrumen-to catalisador desse processo de desenvolvimento que visa à sustentabilidade.

O grande desafio de ampliar o acesso dos agricultores/as familiares às políticas públicas; de qualificar o acesso e a aplica-ção das políticas públicas, com controle social; de estimular am-pliação da qualidade de vida no campo; e de produzir com quali-dade e com respeito aos princí-

pios agroecológicos dependem da oferta, com qualidade, dos serviços de ATER.

A história nos sugere que esta as-sistência técnica, disponibilizada aos/as agricultores/as familiares não pode manter o foco apenas na produção e na produtividade, nem ser pautada pelos interesses exclusivos do capital e das gran-des empresas, ou mesmo, des-considerar o conhecimento en-dógeno das comunidades rurais, suas particularidades e história.

A nova assistência técnica, con-forme prevê as Leis Nacional e Estadual de ATER, tem que ter um caráter educativo e transfor-mador, que estimula um modelo justo, solidário e sustentável. O bem-estar das famílias deve figu-rar no centro das ações, além de considerar as condições especí-ficas de cada sistema cultural e agroecossistema.

Acredita-se que à medida que a ATER for incorporada na vida co-tidiana do/a agricultor/a familiar, naturalmente, haverá o desenvol-vimento de uma agricultura mais saudável e responsável com a qualidade sanitária do alimento que será consumido pelo povo do campo e da cidade. Contu-do, é evidente a necessidade de aumento dos índices de produ-tividade da agricultura familiar conciliando com a qualidade do alimento que chegará a mesa da sociedade brasileira e mundial. Certamente que este estágio ape-nas será alcançado com ações e ou investimentos de médio e lon-

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go prazo, como desenvolvimento da pesquisa, das novas tecnolo-gias e inovação, formação profis-sional dos técnicos e técnicas, a integração das políticas públicas e o acesso a terra.

AGRICULTURA FAMILIAR BAIANA E O ACESSO A ASSISTÊNCIA TÉCNICA

Em 2006, pela primeira vez o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE) quantificou a partici-

pação da agricultura familiar na geração de empregos e renda no País. Os resultados divulga-dos demonstram e comprovam a importância econômica e so-cial da agricultura familiar para o Brasil. O Censo identificou que o Estado da Bahia, com 665.831 famílias rurais (IBGE, 2006), que vivem no campo sob o regime de economia familiar, destaca-se no cenário nacional como o Estado com maior número de estabele-cimentos rurais geridos por agri-cultores/as familiares.

Outros números apresentados reforçam o entendimento sobre a importância e dimensão desta agricultura familiar. A Tabela 1 traz

alguns desses números referente ao Estado da Bahia, em compara-tivo com o Brasil.

A justificativa para escolha da agri-cultura familiar como público bene-ficiário dos projetos de desenvolvi-mento rural, dentre eles a ATER, é amparada pela notada importância do setor para segurança e sobe-rania alimentar. A Tabela 1 mostra que, embora ocupe apenas 34% da área total, a agricultura familiar responde por 77% do alimento pro-duzido no Estado da Bahia.

O setor destaca-se também na geração de emprego com 81% do pessoal ocupado na agricultura, sendo 18,9 trabalhadores a cada

TABELA 1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DA AGRICULTURA FAMILIAR

PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR BRASIL BAHIANº Propriedades de Agricultores/as Familiares 4.500.000 665.000% da Produção Agropecuária da Agricultura Familiar (Total) 54% 44%% Área Ocupada da Agricultura Familiar (Total) 31% 34%% Produção de Alimentos pela Agricultura Familiar (Total) 70% 77%Nº Empregos a cada 100 ha na Agricultura Familiar 16,1 18,9Nº Municípios tipicamente rurais 3.255 378Pessoal Ocupado 74% 81%Fonte: IBGE (2009)Elaboração: Autores

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100 hectares contra apenas 2,3 da agricultura patronal.

Apesar de ocupar uma área menor de plantio e pastagens, a agricultu-ra familiar é a principal fornecedora de alimentos básicos para popula-ção baiana, como feijão 83%, leite 52%, mandioca 91%, milho 44%, aves 60% e suínos 76%.

A instituição da Política Estadual de Assistência Técnica e Exten-são Rural (PEATER) e do Progra-ma Estadual (PROATER) são as bases para garantir o financia-mento e a garantia da manuten-ção da prestação dos serviços de ATER na Bahia. Essa ação per-mitiu, já em 2012, o lançamento de duas chamadas públicas para contratação de entidades/institui-ções prestadoras de serviços de ATER, com metas definidas para o atendimento de 38 mil famílias.

A garantia de amplo atendimen-to da oferta dos serviços de ATER exige a organização de um “siste-ma” interinstitucional, composto pelas entidades civis prestadoras de serviços de assistência técnica, pela Empresa Baiana de Desenvol-

vimento Agrícola (EBDA), pela Co-missão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Prefeituras Municipais, dentre ou-tras instituições. O financiamento deste sistema também é diverso, contando, para isso, com recursos de organismos internacionais, do Governo Federal, através do MDA, CODEVASF, dentre outros, além do Governo do Estado da Bahia que, por meio do Programa Vida Melhor, tem como meta atender 280 mil fa-mílias com os serviços de ATER.

Outros elementos são, também, necessários para o bom funciona-mento deste complexo sistema de ATER na Bahia: ampliação das Cha-madas Públicas; fortalecimento da rede de entidades prestadoras de serviços de ATER; e o ordenamento dos serviços através da elaboração dos Planos Municipais/Territoriais de ATER. Estes elementos são peças de planejamento e constituem im-portantes instrumentos, construídos participativamente, para permitir o controle social sobre metas, quali-dade e distribuição dos serviços.

Um aspecto inovador da nova ATER deve ser, também, a bus-

ca pela ampliação do acesso dos/as agricultores/as familiares a outras políticas públicas fun-damentais para a emancipação social destes. O crédito, a infra-estrutura, o apoio a comercializa-ção, além dos serviços de saúde, educação, dentre outros, que são fundamentais para a transforma-ção da vida no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados dessa nova fase da ATER serão, assim, sentidos no curto e médio prazo na Bahia. Mais agricultores familiares sendo atendidos de forma mais qualificada e permanente implicará em melhor manejo dos sistemas produtivos em todos os elos das cadeias produti-vas, que, por sua vez, proporcio-nará mais renda, mais emprego e melhor sustentabilidade ambiental. Implicará, também, na ampliação e qualificação das políticas públicas complementares, que rapidamente multiplicarão seus efeitos na vida das pessoas e da economia dos municípios baianos.

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IBGE. Censo Demográfico. Rio de janeiro. 2006.

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Joelito de Oliveira Rezende2

.....................................................2 – Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor Titular do Centro de Ciências Agrárias Am-bientais e Biológicas da Universidade Federal do Re-côncavo da Bahia-UFRB, dedicado a estudos nas áreas de Física e Manejo dos solos agrícolas;e-mail: [email protected]

O SISTEMA DE PRODUÇÃOAGRÍCOLA SOLO-CITROS-CLIMA

O solo

Os principais solos (Latossolos Amarelos Coesos e Argissolos Amarelos Coesos) da Grande Unidade de Paisagem Tabuleiros Costeiros – principal berço da ci-tricultura baiana – caracterizam--se como profundos, ácidos, áli-cos, com baixa capacidade de

troca catiônica e presença fre-quente de camadas densas/co-esas/duras. Espécies vegetais, temporárias e perenes, cultiva-das nesses solos, algumas ve-zes com irrigação suplementar, geralmente apresentam baixo vigor vegetativo, reduzida lon-gevidade e baixas produções, comparativamente aos mesmos

“Plantio direto”dos citros:

mito ou realidade?1

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..........................................................................................................................................................................................................................................................................1 – Pesquisa resultante de parceria entre a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Fazenda Lagoa do Coco, Universidade de Valência (Espanha), Embrapa Man-dioca e Fruticultura e Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. (EBDA), com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Este artigo foi revisado por Luciano da Silva Souza e Walter dos Santos Soares Filho, membros da equipe técnica.

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cultivos em outras unidades de paisagem, devido a uma relação solo-planta fortemente influencia-da pela baixa disponibilidade de nutrientes, acidez elevada e pela estrutura peculiar dos horizontes coesos (REZENDE et al., 2000). Historicamente, esses problemas foram subestimados em virtude da paisagem aparentemente fa-vorável ao uso agrícola, represen-tada pelo relevo plano a suave on-dulado, solos profundos e clima (CINTRA, 1997).

O preparo do solo visa à melhoria das condições físicas do leito de sementes e/ou raízes, proporcio-nando-lhe benefícios na aeração, infiltração de água e disponibili-dade de nutrientes, além da re-dução da resistência do solo à penetração. De uma maneira ge-ral, o preparo dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros é feito com arados de disco e/ou grade pesada. Esses implementos tra-balham o solo a pouca profundi-dade, incorporando os resíduos orgânicos e plantas infestantes superficialmente. Uma prática re-comendada para solos com ho-rizontes densos situados a uma profundidade igual ou maior do que 0,35 m é a subsolagem. Tem como princípio o rompimento do solo por propagação de trincas, mantendo a ordem natural de seus horizontes, isto é, sem in-verter a leiva. Para isso, os sub-soladores dispõem de hastes que são cravadas no solo e pro-vocam o seu rompimento para frente, para cima e para os lados, ou seja, o solo não é cortado como na aração e/ou gradagem

e sim rompido nas suas linhas de fratura ou através das interfácies de seus agregados (LANÇAS, 2002). Isso melhora a porosidade das camadas densas, facilitando a aeração, o armazenamento de água, a disponibilidade de nu-trientes e a penetração radicular ao longo do perfil do solo, pro-porcionando, por consequên-cia, maiores produtividades do sistema de produção agrícola. Oliveira (1967) e Haynes (1970) já recomendavam essa prática para romper camadas coesas de solos dos Tabuleiros Costeiros.

Os citros

A muda cítrica é uma unidade de produção formada por duas partes: enxerto (ou cavaleiro) e porta-enxerto (ou cavalo). Resul-ta de uma operação que consis-te em fixar (enxertar) a gema de uma variedade de planta na base de outra (caule e raiz). A gema desenvolver-se-á para formar a copa, onde são produzidos os frutos. A nova planta, assim fa-bricada, apresentará caracterís-ticas distintas daquelas de seus doadores, tais como: volume da copa, transpiração e composi-ção química das folhas, época de maturação, capacidade de absorção de nutrientes, tolerân-cia à salinidade, à seca e ao frio, resistência/tolerância às molés-tias e pragas, fertilidade do pó-len, precocidade de produção, produção, peso dos frutos, colo-ração da casca e do suco, teor de açúcares e de ácidos dos frutos, tempo de permanência dos fru-

tos na planta e conservação do fruto após a colheita (POMPEU JUNIOR, 1991). As duas partes unidas (copa e porta-enxerto), geneticamente diferentes, devem apresentar relacionamento har-monioso – mutuamente benéfico – para que as plantas resultantes sejam mais longevas e os poma-res mais produtivos. Em algumas combinações copa/porta-enxer-to, entretanto, pode ocorrer cer-tos distúrbios devido à falta de afinidade entre os dois simbion-tes, desde anomalias que não comprometem a produtividade e rentabilidade dos pomares até graves distúrbios que provocam a morte das plantas já no início da vida (NOGUEIRA, 1983).

Estudos sobre o crescimento do sistema radicular de plantas cítri-cas em condição de sequeiro, a exemplo dos que foram divulga-dos por Cintra (1997) e Carva-lho et al. (1999), mostram que as raízes dos citros tendem a se concentrar nos primeiros 0,4 m de profundidade do solo. Tais estudos, entretanto, foram e ge-ralmente têm sido realizados em pomares com plantas originárias de mudas, cujo sistema radicular foi podado/prejudicado.

O clima

Como condicionante dos culti-vos, o clima interfere em todas as fases de desenvolvimento das plantas, ou seja, na adaptação da variedade, no comportamen-to fenológico, na abertura floral, na curva de maturação, na taxa

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de crescimento, nas caracterís-ticas físicas e químicas do fruto e no potencial de produção (SIL-VA et al., 2004). Para os citros, a faixa de temperatura adequada é a seguinte: mínima, 10ºC; óti-ma, 20 a 30ºC; máxima, 30ºC. A pluviosidade adequada situa-se entre 1900 mm e 2400 mm, com um mínimo tolerável em torno de 1300 mm de chuvas bem distri-buídas ao longo do ano. Ocorre que o balanço hídrico climatoló-gico de várias localidades dos Tabuleiros Costeiros, calculado para 100 mm de capacidade de armazenamento de água no solo, apresenta déficit hídrico durante os meses de setembro a março (SOUZA et al., 2000). Atualmente, face à limitação de área disponí-vel e ao elevado preço das terras na faixa dos Tabuleiros Costeiros da Bahia, o cultivo dos citros tem--se expandido para a Região do Agreste, mais seca, a exemplo do

que ocorre no município de Ita-picuru, com pluviosidade média anual em torno de 750 mm.

Não obstante as limitações agrí-colas citadas, os Tabuleiros Cos-teiros têm revelado capacidade atual e potencial para a produção de alimentos, principalmente fru-ticultura (laranja, limão, mamão, graviola, banana, abacaxi, mara-cujá, acerola, goiaba, coco etc.), de matéria-prima para a indústria e de biocombustíveis (SOUZA et al., 2000). São notáveis os exemplos de êxitos de empreen-dimentos agrícolas localizados nessa Grande Unidade de Paisa-gem devido, entre outras causas, ao consciente e adequado ma-nejo que os produtores dispen-sam às suas terras (REZENDE et al., 2002). Por isso, procura-se disponibilizar um sistema de ma-nejo que possibilite, com menor relação custo/benefício, maior

longevidade, sustentabilidade e produtividade de pomares cítricos em condições ambientais dos Ta-buleiros Costeiros. Face às limi-tações impostas pelo solo e pelo clima, considera-se (hipótese) que isso será mais viável fazendo-se o plantio do porta-enxerto e enxertia no local definitivo do pomar, inde-pendentemente do preparo do solo e da combinação genética copa x porta-enxerto. Para testar tal hipóte-se, o primeiro passo – objetivo do presente trabalho – foi avaliar as influências do preparo do solo, por-ta-enxerto e sistema de plantio no crescimento, produtividade e peso médio do fruto de pomares de la-ranjeira ‘Pera’, limeira ácida ‘Tahiti’ e tangor ‘Murcott’, em um solo repre-sentativo dos Tabuleiros Costeiros. Os dados ora apresentados refe-rem-se exclusivamente à laranjeira ‘Pera’. Tais dados são muito pareci-dos com os que foram obtidos para os outros dois cultivares.

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O EXPERIMENTO

Em 22 de maio de 2008, o experi-mento foi instalado em um Argis-solo Amarelo Coeso da Fazenda Lagoa do Coco, localizada no Mu-nicípio de Rio Real, Litoral Norte do Estado da Bahia, 182 m acima do nível do mar, pluviosidade média anual de 960 mm. Tal solo apre-senta, ao longo do perfil, por hori-zonte e respectiva profundidade, os seguintes teores de areia, silte e argila (g kg-1) : A1, 0-0,7m, 780-70-150 (franco-arenoso); A2, 0,7-0,12 cm, 740-20-240 (franco argiloare-noso); AB, 0,12-0,21 m, 720-90-190 (franco-arenoso); BA, 0,21-0,82 m, 660-30-310 (franco-argiloarenoso); Bt1, 0,82-1,24 m, 610-30-360 (argila arenosa); Bt2, 1,24-1,70+ m, 600-30-370 (argila arenosa).

O delineamento experimental é in-teiramente aleatorizado no esque-ma de parcelas sub-subdivididas no espaço, com seis repetições. Nas parcelas constam dois siste-mas de preparo do solo: aração a 0,25 m de profundidade e ara-ção seguida de subsolagem nas linhas de plantio a 0-0,50 m de profundidade. Nas subparcelas constam dois sistemas de plantio: mudas e plantio e enxertia no lo-cal definitivo do pomar (nos dois casos, a semeadura foi feita no mesmo dia; ao completar um ano de idade, as mudas foram trans-plantadas do viveiro para o local definitivo). Nas sub-subparcelas constam cinco porta-enxertos: li-moeiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’, tangerineiras ‘Sunki Tropical’ e ‘Cleópatra’ e citrandarin ‘Índio’(ex

TSK x TRENG 256) enxertados com laranjeira ‘Pera’. A enxertia foi feita por enxertador experiente, habitual na Fazenda. A adubação e os tratos culturais foram realiza-dos de acordo com as recomen-dações técnicas pertinentes.

Em 23/08/2012, três anos e nove meses após a semeadura dos porta--enxertos no campo e nas bolsas plásticas, fez-se a avaliação do cres-cimento das plantas de acordo com Mota (2010): a altura foi medida do solo até o plano mediano entre o topo da planta e o meio da copa; o diâmetro da copa foi medido em duas posições: perpendicular às li-nhas de plantio e no sentido da linha de plantio, para o cálculo do diâmetro médio; a afinidade copa/porta-enxer-to foi avaliada considerando-se a re-lação diâmetro do tronco do enxerto/diâmetro do tronco do porta-enxerto (Dte/Dtpe), medidos com um pa-químetro, a 10 centímetros acima e abaixo do ponto de enxertia (quanto mais próximo de um, maior a afini-dade); o volume da copa foi calcu-lado pela fórmula: V=2/3πr² h, onde r= raio médio da copa e h=altura da planta. O número e o peso dos frutos por hectare correspondem, respec-tivamente, ao número e peso total de frutos obtidos em cinco colheitas sucessivas a partir do surgimento dos primeiros frutos (25/08/2011, 30/11/2011, 01/03/2012, 14/06/2012 e 08/08/2012). No solo, foram feitas as seguintes avaliações físicas: umidade gravimétrica atual (EMBRAPA,1997) e resistência mecânica à penetração (STOLF et. al., 1983). Para os resulta-dos de crescimento das plantas e de produtividade realizou-se a análise de variância. As médias referentes ao

preparo do solo e sistemas de plan-tio foram comparadas pelo teste de Tukey (P≤5%); para as médias dos porta-enxertos utilizou-se o teste de Scott-Knott (P≤5%). Nas análises es-tatísticas, utilizou-se o programa es-tatístico SISVAR (FERREIRA, 2009).

RESULTADOS

A – AVALIAÇÃO FÍSICA DO SOLO

Resistência mecânica do solo à penetração e umidade gravimé-trica atual – Assumindo-se que para a maioria das culturas eco-nômicas 2,0 MPa é o limite crítico de resistência mecânica do solo à penetração acima do qual o cres-cimento radicular é prejudicado (ARSHAD et al., 1996), percebe--se, na Figura 1A, que nas parce-las não subsoladas isso ocorreu a partir dos 0,18 metros de pro-fundidade e nas parcelas subso-ladas a partir de 0,38 metros, nas condições de umidade do solo mostradas na Figura 1 B. Significa dizer que a subsolagem melhorou a estrutura do solo no volume atingido pelas hastes subsolado-ras, com prováveis benefícios nos fluxos de ar, água e nutrientes ao longo do perfil e, consequente-mente, no crescimento das plan-tas e na produtividade do pomar.

B – CRESCIMENTO DAS PLANTAS

Influência do porta-enxerto – Na Tabela 1 encontram-se os resulta-dos do desdobramento porta-en-

Page 76: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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xerto dentro de sistema de plantio e preparo do solo, relacionado com o crescimento das plantas. O teste de Scott-Knott (P≤5%) re-velou que alguns indicadores de crescimento pertencem a grupos distintos: superior (a), intermediá-rio (b) e inferior (c), a depender do sistema de plantio e do preparo do solo. Centrar-se-á a discussão no volume da copa (calculado a partir da altura da planta e diâmetro da copa) e na afinidade copa x porta--enxerto (quociente da divisão: diâmetro do tronco do enxerto/diâ-metro do tronco do porta-enxerto).

Analisando-se a influência do porta-enxerto no volume médio das copas, nota-se que não hou-ve diferenças significavas entre os valores obtidos para as plan-tas originárias de mudas (M), nas áreas com e sem subsolagem. Entretanto, nas plantas originárias da semeadura do porta-enxerto

no local definitivo (SLD) o volume médio da copa da laranjeira ‘Pera’ enxertada no citrandarin ‘Indio’ foi significativamente inferior ao das demais combinações genéticas, na área subsolada; na área não subsolada, o volume médio da copa da laranjeira ‘Pera’ enxerta-da nas tangerineiras ‘Sunki Tropi-cal’ e ‘Cleópatra’ foi significativa-mente superior ao volume médio das copas das demais combina-ções genéticas.

No caso da afinidade copa x porta-enxerto (última coluna da Tabela 1), houve influência do porta-enxerto apenas na combi-nação genética laranjeira ‘Pera’ x tangerineira ‘Sunki Tropical’, cujo valor é significativamente inferior ao das demais combinações ge-néticas, no sistema de “plantio direto” (SLD), com subsolagem. A menor afinidade copa x porta--enxerto foi a da laranjeira ‘Pera’

enxertada em tangerineira ‘Sunki Tropical’, no sistema de “plantio direto” (SLD), com subsolagem; a maior afinidade foi a da laranjeira ‘Pera’ enxertada em tangerineira ‘Cleópatra’, no sistema de “plantio direto” (SLD), sem subsolagem.

Influência do preparo do solo – A Tabela 2 mostra os resultados do desdobramento preparo do solo dentro de porta-enxerto e de sistema de plantio, relacionado com o crescimento das plantas. O teste de Tukey (P≤5%) revelou que o preparo do solo influenciou alguns indicadores de crescimen-to da laranjeira ‘Pera’, a depender da combinação copa x porta-en-xerto, preparo do solo e sistema de plantio. No plantio de mudas (M), por exemplo, a subsolagem contribuiu para aumentar significa-tivamente o volume da copa da la-ranjeira ‘Pera’ enxertada nos limo-eiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano‘, na

FIGURA 1A) RESISTÊNCIA MECÂNICA DO SOLO À PENETRAÇÃO (RP = MPa) AO LONGO DO PERFIL; B)UMIDADE GRAVIMÉTRICA ATUAL (Ug = kg kg-1) AO LONGO DO PERFIL DO SOLO(choveu no dia da amostragem do solo).

RP (MPa) Ug (Kg Kg-1)

sem subsolagem

com subsolagem

Altura vertical -Profundidadedo solo em metros

LEGENDA

A B

0 2 4 6 8

0

0,08

0,16

0,24

0,32

0,40

0,48

0,56

0,64

0 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25

0

0,08

0,16

0,24

0,32

0,40

0,48

0,56

0,64

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TABELA 1 RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PORTA-ENXERTO DENTRO DE SISTEMA DE PLAN-TIO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1.

Preparo do solo

Sistema dePlantio Porta-enxerto Altura da

planta (m)Diâmetro da

copa (m)Volume dacopa (m3)

Diâmetro do tronco do

enxerto (m)

Diâmetrodo tronco

p-enxerto (m)

Afinidadecopa/p-enxerto

(Dte/Dtpe)

COM SUB

M

L. Cravo 1,21 b 2,37 a 3,55 a 0,064 a 0,078 b 0,82 a

L. Volkameriano 1,18 b 2,39 a 3,56 a 0,074 a 0,093 a 0,79 a

T. Sunki Tropical 1,32 a 2,48 a 4,29 a 0,071 a 0,088 a 0,80 a

T. Cleópatra 1,12 c 2,36 a 3,32 a 0,060 a 0,080 b 0,74 a

C. ‘Índio’ 1,07 c 2,50 a 3,56 a 0,062 a 0,089 a 0,70 a

SLD

L. Cravo 1,28 b 2,82 b 5,34 a 0,088 a 0,085 a 0,90 a

L. Volkameriano 1,43 a 2,81 b 5,95 a 0,087 a 0,102 a 0,84 a

T. Sunki Tropical 1,23 b 2,92 a 5,57 a 0,077 a 0,097 a 0,64 b

T. Cleópatra 1,32 b 3,01 a 6,28 a 0,086 a 0,095 a 0,91 a

C. ‘Índio’ 1,22 b 2,64 b 4,52 b 0,081 a 0,092 a 0,87 a

SEM SUB

M

L. Cravo 1,01 b 2,21 a 2,64 a 0,060 a 0,073 a 0,83 a

L. Volkameriano 1,00 b 2,22 a 2,58 a 0,061 a 0,077 a 0,78 a

T. Sunki Tropical 1,23 a 2,23 a 3,29 a 0,064 a 0,078 a 0,82 a

T. Cleópatra 1,15 a 2,32 a 3,29 a 0,059 a 0,074 a 0,79 a

C. ‘Índio’ 1,00 b 2,20 a 2,55 a 0,060 a 0,083 a 0,72 a

SLD

L. Cravo 1,15 c 2,43 a 3,67 b 0,072 a 0,082 a 0,88 a

L. Volkameriano 1,10 c 2,49 a 3,74 b 0,079 a 0,087 a 0,90 a

T. Sunki Tropical 1,21 b 2,60 a 4,35 a 0,077 a 0,093 a 0,82 a

T. Cleópatra 1,35 a 2,61 a 4,83 a 0,084 a 0,090 a 0,92 a

C. ‘Índio’ 1,21 b 2,45 a 3,90 b 0,075 a 0,092 a 0,80 a

1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Scott-Knott (P≤5%).Fonte: Autor

Foto

: Div

ulg

ação

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tangerineira ‘Sunki Tropical’ e no híbrido citrandarin ‘Índio’ – o que parece indicar maior sensibilidade dessas combinações genéticas ao adensamento do solo. Não houve influência do preparo do solo na afinidade copa x porta-enxerto, pois não há diferenças significati-vas entre os valores encontrados.

Influência do sistema de plantio – A Tabela 3 mostra os resultados do desdobramento sistema de plantio dentro de porta-enxerto e preparo do solo, relacionado com o crescimento das plantas. Nota-se que, indepen-dentemente da combinação genéti-ca copa x porta-enxerto e do preparo do solo, o volume da copa (onde se

abrigam os frutos) das plantas origi-nárias do “plantio direto” (SLD) é sig-nificativamente superior ao das plan-tas originárias de mudas (M). Quanto à afinidade copa x porta-enxerto, não houve diferenças significativas entre os resultados encontrados; entretan-to, em valores absolutos, tal afinida-de é maior nas plantas originárias do “plantio direto” (SLD).

A Figura 2 ilustra o crescimento da laranjeira ‘Pera’ relacionado com porta-enxerto, preparo do solo e sistema de plantio. Percebe-se que as plantas (da mesma idade) originárias do “plantio direto” (PD, nas fotos) cresceram mais do que aquelas originárias de mudas (M),

independentemente do porta--enxerto e do preparo do solo. Na parte inferior direita da figura há um detalhe da subsolagem e da enxertia no local definitivo.

C – PRODUTIVIDADE

Influência do porta-enxerto – Na Tabela 4 encontram-se os resulta-dos do desdobramento porta-en-xerto dentro de sistema de plantio e de preparo do solo, relaciona-do com a produtividade e com o peso médio dos frutos. O teste de Scott-Knott (P≤5%) revelou que algumas das combinações gené-ticas copa x porta-enxerto perten-cem a grupos distintos: superior

TABELA 2 RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PREPARO DO SOLO DENTRO DE PORTA-ENXER-TO E DE SISTEMA DE PLANTIO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1

Sistema dePlantio Porta-enxerto Preparo

do soloAltura da

planta (m)Diâmetro da

copa (m)Volume dacopa (m3)

Diâmetro do tronco do

enxerto (m)

Diâmetro do tronco p-enxerto

(m)

Afinidade copa/ p--enxerto

(Dte/Dtpe)

M

L. CravoCom sub 1,21 a 2,37 a 3,55 a 0,064 a 0,078 a 0,82 a

Sem sub 1,01 b 2,21 a 2,64 b 0,060 a 0,072 a 0,83 a

L. VolkamerianoCom sub 1,18 a 2,39 a 3,56 a 0,073 a 0,092 a 0,79 a

Sem sub 1,00 b 2,22 a 2,58 b 0,060 a 0,077 b 0,78 a

T. Sunki TropicalCom sub 1,31 a 2,48 a 4,29 a 0,070 a 0,088 a 0,80 a

Sem sub 1,23 b 2,23 b 3,29 b 0,064 a 0,078 a 0,82 a

T. CleópatraCom sub 1,11 a 2,36 a 3,32 a 0,060 a 0,080 a 0,74 a

Sem sub 1,15 a 2,32 a 3,29 a 0,059 a 0,074 a 0,79 a

C. ‘Índio’Com sub 1,06 a 2,50 a 3,56 a 0,062 a 0,089 a 0,70 a

Sem sub 1,00 a 2,20 b 2,55 b 0,060 a 0,083 a 0,72 a

SLD

L. CravoCom sub 1,28 a 2,82 a 5,34 a 0,088 a 0,085 a 0,90 a

Sem sub 1,15 b 2,43 b 3,67 b 0,072 a 0,082 a 0,88 a

L. VolkamerianoCom sub 1,43 a 2,81 a 5,95 a 0,086 a 0,102 a 0,84 a

Sem sub 1,10 b 2,49 b 3,74 b 0,078 a 0,086 b 0,90 a

T. Sunki TropicalCom sub 1,23 a 2,92 a 5,57 a 0,077 a 0,096 a 0,64 a

Sem sub 1,21 a 2,60 b 4,35 b 0,076 a 0,093 a 0,82 a

T. CleópatraCom sub 1,31 a 3,01 a 6,28 a 0,086 a 0,095 a 0,91 a

Sem sub 1,35 a 2,61 b 4,83 b 0,083 a 0,090 a 0,92 a

C. ‘Índio’Com sub 1,21 a 2,65 a 4,52 a 0,081 a 0,092 a 0,87 a

Sem sub 1,21 a 2,45 b 3,90 a 0,074 a 0,092 a 0,80 a1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%).Fonte: Autor

Page 79: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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FIGURA 2

L. ‘Pera’ em L. ‘Cravo’

L. ‘Pera’ em T. ‘Sunki Tropical’

L. ‘Pera’ em citrandarin ‘Índio’

L. ‘Pera’ em L. ‘Volkameriano’

L. ‘Pera’ em T. ‘Cleópatra’

Subsolagem e enxertia in loco

Crescimento da laranjeira ‘Pera’ relacionado com: porta-enxerto, sistema de plantio e preparo do solo. Para cada combinação copa x porta-enxerto tem-se: plantas da parte superior, “plantio direto”; plantas da parte inferior, plantio de mudas; as da esquerda, sem subsolagem; as da direita, com subsolagem. Idade das plantas: três anos e nove meses. No canto inferior direito, detalhe da subsolagem e enxertia no local definitivo.

PDSS PDCS

MSS MCS

PDSS PDCS

MSS MCS

PDSS PDCS

MSS MCS

PDSS PDCS

MSS MCS

PDSS PDCS

MSS MCS

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80

(a), intermediário (b) e inferior (c), a depender do sistema de plantio e do preparo do solo. Nos pomares originários do plantio de mudas (M), independentemente do pre-paro do solo, o número e o peso dos frutos por hectare foram signi-ficativamente superiores na laran-jeira ‘Pera’ enxertada nos limoeiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’ e no híbri-do citrandarin ‘Indio’, comparado com as demais combinações ge-néticas. Independentemente do preparo do solo, nos pomares ori-ginários do “plantio direto” (SLD), o número e o peso dos frutos por hectare foram significativamente superiores na combinação gené-tica laranjeira ‘Pera’ enxertada no

limoeiro ‘Volkameriano’ e signifi-cativamente inferiores na combi-nação genética laranjeira ‘Pera’ enxertada na tangerineira ‘Cleó-patra – respectivamente, as com-binações mais precoce e mais tardia. Não houve influência do porta-enxerto no peso médio dos frutos, pois não há diferenças sig-nificativas entre os valores obtidos.

Influência do preparo do solo – Na Tabela 5 encontram-se os resultados do desdobramento preparo do solo dentro de porta--enxerto e de sistema de plantio relacionado com a produtividade e com o peso médio dos frutos. O teste de Tukey (P≤5%) revelou

que a influência do preparo do solo na produtividade depende da combinação copa x porta--enxerto e do sistema de plantio. Nas plantas originárias de mudas (M), independentemente da com-binação genética copa x porta--enxerto, não houve influência do preparo do solo no número e no peso de frutos por hectare, nem no peso médio dos frutos, pois não há diferenças significativas entre os valores obtidos. Entre-tanto, nas plantas originárias do “plantio direto” (SLD), a subso-lagem contribuiu para aumentar significativamente o número e o peso de frutos por hectare da la-ranjeira ‘Pera’ enxertada nos limo-

TABELA 3 RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE SISTEMA DE PLANTIO DENTRO DE PORTA-EN-XERTO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM O CRESCIMENTO DAS PLANTAS1

Preparo do

soloPorta-enxerto Sistema de

PlantioAltura da

planta (m)Diâmetro da

copa (m)Volume dacopa (m3)

Diâmetro do tronco do

enxerto (m)

Diâmetro do tronco p-enxerto

(m)

Afinidade copa/ p--enxerto

(Dte/Dtpe)

COM SUB

L. CravoM 1,21 a 2,37 b 3,55 b 0,064 b 0,078 a 0,82 a

SLD 1,28 a 2,82 a 5,34 a 0,088 a 0,085 a 0,90 a

L. VolkamerianoM 1,18 b 2,39 b 3,56 b 0,073 a 0,092 a 0,79 a

SLD 1,43 a 2,81 a 5,95 a 0,086 a 0,102 a 0,84 a

T. Sunki TropicalM 1,31 a 2,48 b 4,29 b 0,070 a 0,088 a 0,64 a

SLD 1,23 b 2,92 a 5,57 a 0,077 a 0,096 a 0,80 a

T. CleópatraM 1,11 b 2,36 b 3,32 b 0,060 b 0,080 b 0,74 a

SLD 1,31 a 3,01 a 6,28 a 0,086 a 0,095 a 0,91 a

C. ‘Índio’M 1,06 b 2,50 a 3,56 b 0,062 b 0,089 a 0,70 a

SLD 1,21 a 2,64 a 4,52 a 0,081 a 0,092 a 0,87 a

SEM SUB

L. CravoM 1,01 b 2,21 b 2,64 b 0,060 a 0,072 a 0,83 a

SLD 1,15 a 2,43 a 3,67 a 0,072 a 0,082 a 0,88 a

L. VolkamerianoM 1,00 b 2,22 b 1,72 b 0,060 b 0,077 a 0,78 a

SLD 1,10 a 2,49 a 3,36 a 0,078 a 0,086 a 0,90 a

T. Sunki TropicalM 1,23 a 1,55 b 3,29 b 0,064 a 0,078 b 0,82 a

SLD 1,21 a 2,16 a 4,35 a 0,076 a 0,093 a 0,82 a

T. CleópatraM 1,15 b 2,23 b 3,29 b 0,059 b 0,074 b 0,79 a

SLD 1,35 a 2,60 a 4,83 a 0,083 a 0,090 a 0,92 a

C. ‘Índio’M 1,00 b 2,20 b 2,55 b 0,060 a 0,083 a 0,72 a

SLD 1,21 a 2,45 a 3,90 a 0,074 a 0,092 a 0,80 a1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%).Fonte: Autor

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eiros ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’, in-dicando que essas combinações genéticas são mais sensíveis ao adensamento do solo. Indepen-dentemente do sistema de plantio e da combinação genética copa x porta-enxerto, a subsolagem não contribuiu para aumentar significa-tivamente o peso médio dos frutos

Influência do sistema de plan-tio – A Tabela 6 mostra os re-sultados do desdobramento sistema de plantio dentro de porta-enxerto e de preparo do solo, relacionado com a pro-dutividade e com o peso médio dos frutos. Independentemente da combinação copa x porta-

-enxerto e do preparo do solo, em valores absolutos a produti-vidade dos pomares resultantes do “plantio direto” é inquestio-navelmente maior do que a dos pomares resultantes do plantio de mudas – isso indica que tais pomares são mais vigorosos, precoces, produtivos e, possi-velmente, mais longevos e sus-tentáveis do que os pomares re-sultantes do plantio de mudas. Independentemente do preparo do solo, o número e o peso de frutos por hectare foi significa-tivamente maior nos pomares de laranjeira ’Pera’ enxertada no limoeiro ‘Volkameriano’ e nas tangerineiras ‘Sunki Tropi-

cal’ e ‘Cleópatra’. Independen-temente da combinação gené-tica copa x porta-enxerto e do preparo do solo, o sistema de plantio não influenciou o peso médio dos frutos, pois não há diferenças significativas entre os valores obtidos.

Tais resultados mostram que o “plantio direto” dos citros (seme-adura ou plantio do porta-enxerto no local definitivo) é uma realida-de! Estima-se que cerca de mil hectares de citros já foram im-plantados na Bahia utilizando-se esse sistema de plantio. Compa-rado com o plantio de mudas, o “plantio direto” do citros resultou

TABELA 4RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PORTA-ENXERTO DENTRO DE SISTEMA DE PLANTIO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM A PRODUTIVIDADE E COM O PESO MÉDIO DOS FRUTOS1

Preparo do solo

Sistema dePlantio Porta-enxerto Nº de frutos por hectare Peso de frutos (kg ha-1) Peso médio

dos frutos (kg)

COM SUB

M

L. Cravo 60.833 a 11.747 a 0,19 a

L. Volkameriano 55.486 a 10.926 a 0,20 a

T. Sunki Tropical 15.486 b 2.852 b 0,18 a

T. Cleópatra 9.097 b 1.751 b 0,19 a

C. ‘Índio’ 62.847 a 11.290 a 0,18 a

SLD

L. Cravo 104.722 b 22.288 b 0,21 a

L. Volkameriano 140.069 a 27.616 a 0,20 a

T. Sunki Tropical 85.972 b 17.298 c 0,21 a

T. Cleópatra 63.125 c 11.570 c 0,18 a

C. ‘Índio’ 83.750 b 16.092 c 0,19 a

SEM SUB

M

L. Cravo 57.847 a 11.851 a 0,20 a

L. Volkameriano 54.166 a 11.328 a 0,21 a

T. Sunki Tropical 22.986 b 4.649 b 0,20 a

T. Cleópatra 2.500 b 410 b 0,16 a

C. ‘Índio’ 43.263 a 7.932 a 0,18 a

SLD

L. Cravo 78.541 b 15.981 a 0,20 a

L. Volkameriano 105.277 a 20.019 a 0,19 a

T. Sunki Tropical 67.500 b 13.714 b 0,20 a

T. Cleópatra 42.361 c 7.446 c 0,18 a

C. ‘Índio’ 64.930 b 11.722 b 0,18 a

1Médias seguidas da mesma letra nas colunas pertencem ao mesmo grupo, pelo teste de Scott-Knott (P≤5%);Fonte: Autor

Page 82: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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vantajosamente nos seguintes benefícios fitotécnicos, econômi-cos e ambientais:

a) maior vigor, precocidade, produtividade e, possivelmente, maior longevidade e sustentabi-lidade do pomar, devido à melhor e mais rápida adaptação das plantas às condições ambien-tais. Em ordem decrescente de produtividade (peso de frutos por hectare) relacionada com o siste-ma de plantio, preparo do solo e porta-enxerto, tem-se:

Plantio de mudas, sem sub-solagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (11.851 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L.

‘Volkameriano’ (11.328 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (7.932 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T.’Sunki Tro-pical (4.649 kg ha-1) ‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (410 kg ha-1);

“Plantio direto”, sem subsolagem: L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (20.019 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (15.981 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T. ‘Sunki Tropical’ (13.714 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (11.722 kg ha-1) > L.‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (7.446 kg ha-1);

Plantio de mudas, com subsola-gem: L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (11.747 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (11.290 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (10.926 kg ha-1) >

L. ‘Pera’ x T.’Sunki Tropical (2.852 kg ha-1) > L. Pera’ x L. ‘Cleópatra’ (1.751 kg ha-1);

“Plantio direto”, com subsola-gem: L. ‘Pera’ x L. ‘Volkameriano’ (27.616 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x L. ‘Cravo’ (22.288 kg ha-1) > L. ‘Pera’ x T. ‘Sunki Tropical’ (17.298 kg ha-

1) > L. ‘Pera’ x C. ‘Índio’ (16.092 kg ha-1) > L.‘Pera’ x T. ‘Cleópatra’ (11.570 kg ha-1).

b) algumas combinações genéti-cas copa x porta-enxerto mostra-ram-se intolerantes e outras tole-rantes ao adensamento do solo – para as tolerantes é dispensável a prática da subsolagem para di-

TABELA 5RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE PREPARO DO SOLO DENTRO DE PORTA-ENXER-TO E DE SISTEMA DE PLANTIO, RELACIONADO COM A PRODUTIVIDADE E COM O PESO MÉDIO DOS FRUTOS1

Sistema de Plantio Porta-enxerto Preparo do solo Nºde frutos/ha Peso de frutos(kg ha-1)

Peso médio do fruto (kg)

M

L. CravoCom sub 60.833 a 11.747 a 0,20 aSem sub 57.847 a 11.851 a 0,19 a

L. VolkamerianoCom sub 55.486 a 10.926 a 0,20 aSem sub 54.166 a 11.328 a 0,21 a

T. Sunki TropicalCom sub 15.486 a 2.852 a 0,18 aSem sub 22.986 a 4.649 a 0,20 a

T. CleópatraCom sub 9.097 a 1.751 a 0,19 aSem sub 2.500 a 410 a 0,16 a

C. ‘Índio’Com sub 62.847 a 11.290 a 0,18 aSem sub 43.263 a 7.932 a 0,26 a

SLD

L. CravoCom sub 104.722 a 22.288 a 0,21 aSem sub 7 8.541 b 15.981 b 0,20 a

L. VolkamerianoCom sub 140.069 a 27.616 a 0,20 aSem sub 105.277 b 20.019 b 0,19 a

T. Sunki TropicalCom sub 85.972 a 17.298 a 0,20 aSem sub 67.500 a 13.714 a 0,20 a

T. CleópatraCom sub 63.125 a 11.570 a 0,18 aSem sub 42.361 a 7.446 a 0,18 a

C. ‘Índio’Com sub 83.750 a 16.092 a 0,19 aSem sub 64.930 a 11.722 a 0,18 a

1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%).Fonte: Autor

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minuir a resistência do solo à pe-netração radicular, o que implica menor custo de produção e, con-sequentemente, em maior benefí-cio para o citricultor.

c) é um sistema de produção agríco-la mais econômico do que o plantio convencional, principalmente porque dispensa a compra de mudas. Os itens diferenciais dos custos de im-

plantação de um hectare de citros (espaçamento das plantas, 6,0 m x 4,0 m) para os dois sistemas de plantio são os seguintes (valores em novembro de 2012):

TABELA 6RESULTADOS DO DESDOBRAMENTO DE SISTEMA DE PLANTIO DENTRO DEPORTA-ENXERTO E DE PREPARO DO SOLO, RELACIONADO COM OCRESCIMENTO DAS PLANTAS1

Preparo do solo Porta-enxerto Sistema de Plantio Nº de frutos/ha Peso de frutos (kg ha-1) Peso médio dos frutos (kg)

COM SUB

L. CravoM 60.833 b 11.747 b 0,19 a

SLD 104.722 a 22.288 a 0,21 a

L. VolkamerianoM 55.486 b 10.926 b 0,20 a

SLD 140.069 a 27.616 a 0,20 a

T. Sunki TropicalM 15.486 b 2.852 b 0,18 a

SLD 85.972 a 17.298 a 0,20 a

T. CleópatraM 9.097 b 1.751 b 0,19 a

SLD 63.125 a 11.570 a 0,18 a

C. ‘Índio’M 62.847 a 11.290 a 0,18 a

SLD 83.750 a 16.092 a 0,19 a

SEM SUB

L. CravoM 57.847 a 11.851 a 0,20 a

SLD 78.541 a 15.981 a 0,20 a

L. VolkamerianoM 54.166 b 11.328 b 0,21 a

SLD 105.277 a 20.019 a 0,19 a

T. Sunki TropicalM 22.986 b 4.649 b 0,20 a

SLD 67.500 a 13.714 a 0,20 a

T. CleópatraM 2.500 b 410 b 0,16 a

SLD 42.361 a 7.446 a 0,18 a

C. ‘Índio’M 43.263 a 7.932 a 0,18 a

SLD 64.930 a 11.722 a 0,18 a

1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P≤5%).Fonte: Autor

Plantio de mudas R$ R$ Total

Mudas (+ 10%) Un. 459 2,50 1.147,50

Abertura de covas H/D 3 35,00 105,00

Plantio H/D 2 35,00 70,00

Transporte mudas H/tr 1 45,00 45,00

Total 1.367,50

“Plantio direto” R$ R$ Total

Sementes kg 0,6 100,00 60,00

Marcação de covas H/D 1,5 35,00 52,50

Semeadura H/D 0,4 35,00 14,00

Enxertia H/D 2,0 40,00 80,00

Repasse enxertia H/D 0,4 40,00 16,00

Total 222,50

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comprovada superioridade do “plantio direto” dos citros, compa-rado com o plantio de mudas, de-ve-se ao seguinte fato: a formação e o manejo das mudas em viveiros, particularmente em viveiros tela-dos, é uma simplificação grosseira do sistema natural de produção agrícola solo-planta-clima. Nesses viveiros, substitui-se o solo natural por uma bolsa plástica impermeá-vel e intransponível contendo um volume de substrato artificial, fofo, na qual as raízes ficam confinadas, enoveladas e impedidas de expan-direm-se. Além disso, o clima natu-ral é substituído pelo clima artificial do viveiro no qual as plantas são submetidas a fertirrigações diárias e, por isso, não sofrem estresses hídricos nem de nutrição como sói acontecer no ambiente natural. Ao deixarem essa hospedaria, lim-pas, porém não imunes às pragas,

as plantas passarão a enfrentar os rigores do meio natural – in-clusive ataque de pragas, pois agora estão fora do viveiro – geral-mente sem a devida aclimatação, resultando em pomares menos vigorosos, com desenvolvimento prejudicado – fato que tem sido relatado por citricultores baia-nos e sergipanos. Para evitar es-tresses das plantas decorrentes do confinamento, enovelamento e corte das raízes a solução eco-nomicamente viável é o plantio do porta-enxerto no local definitivo e posterior enxertia in loco. A seme-adura do porta-enxerto poderá ser feita de duas maneiras: diretamen-te na cova de plantio ou em bolsas plásticas, nos viveiros. Neste caso, o tempo de permanência do porta--enxerto na bolsa não deverá ul-trapassar o momento em que sua raiz pivotante atingir o fundo do recipiente, sem enovelar. Em am-bos os casos, torna-se obrigatório a utilização de sementes e bor-bulhas certificadas, assim como

o controle de pragas a partir do plantio.

O Ministério da Agricultura esta-beleceu, por meio de regulamen-tação, que as mudas produzidas para fins comerciais têm que ser formadas obrigatoriamente em ambientes protegidos (viveiros tela-dos) a fim de se garantir ao usuário plantas livres de pragas; entretanto, segundo essa mesma regulamen-tação, o produtor rural que desejar poderá instalar em sua propriedade pomares originários de plantas for-madas no próprio local (plantio di-reto). Trata-se aqui de plantas para uso próprio e não para venda.

Com essa enfática defesa do “plantio direto” dos citros não se pretende negar a importância eco-nômica e social da produção de mudas como parte do agronegó-cio citros. O “plantio direto” dos ci-tros surge como mais uma opção técnica disponível, viável e com-pensatória para o citricultor.

EQUIPE TÉCNICA, INSTITUIÇÕES E ÁREAS DE CONHECIMENTO

z UFRB – Pesquisadores: Carlos Humberto Calfa (solos, colaborador), João Albany Costa (Estatística), Joelito de Oliveira Rezende (Solos), Luciano da Silva Souza (Solos), Manoel Teixeira de Castro Neto (Fisiologia Vegetal), Oldair Vinhas Costa (Solos)

z UFRB – Alunos estagiários: Ana Paula Soares Rodrigues, Carine Andrade Teixeira, Erivaldo de Jesus da Silva, Fábio Farias Amorim, Geocássia de Oliveira Santana, Gleidson Oliveira dos Santos, Itamar de Souza Oliveira, Jefferson de Souza Santos, Lívia Fernanda Lavrador Toniasso, Maiara Dresselin Coelho, Patrícia Lima de Souza Santos, Pedro Henrique Falcão de Oliveira, Phylipe Veiga de Macedo, Plácido Ulisses Souza, Reizandra Pereira Barbosa, Rivani Oliveira Ferreira, Rodrigo C. de Carvalho, Sandielle Araujo Vilas Boas, Sara de Jesus Duarte, Zuleide Silva de Carvalho.

z Fazenda Lagoa do Coco: Roberto Toyohiro Shibata (Fitotecnia, fruticultura)

z Universidade de Valência, Espanha: Juan Sánchez Díaz (Edafologia)

z Embrapa Mandioca e Fruticultura: Carlos Alberto da Silva Ledo (Estatística), Hermes Peixoto Santos Filho (Fitopatologia), Walter dos Santos Soares Filho (Melhoramento Genético)

z EBDA – Transferência de tecnologia: Antônio Carlos Oliveira, Antônio César Barreto Borges, Antônio José de Almeida, Geraldo Almeida Souza, José Leoni Santos, Manoel Soares dos Reis Filho, Nereu Pereira Dumonte, Nilton Antônio Caldas Pereira.

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AGRADECIMENTO

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pelo inestimável apoio financeiro; ao Engenheiro Agrônomo Roberto Toyohiro Shibata e familiares – proprietários da Fazenda Lagoa do Coco, parceiros na pesquisa e pioneiro exitoso no uso do “plantio di-reto” dos citros – pelo carinho com que tratam estudantes e pesquisado-res e por fazerem dessa Fazenda uma extensão das demais instituições parceiras.

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PESQUISA AGRÍCOLA

Jorge de Almeida1

1 – Engenheiro Agronomo D.Sc. EBDA; e-mail: [email protected]

A palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill.) é uma

cactácea cultivada em zonas áridas e semiáridas para a produção de forragem para o gado, frutos e ver-dura para o consumo humano, pre-servação do solo, biomassa para fins energéticos, cochonilha para a produção de carmim e inúme-ros subprodutos como queijo ve-getariano, remédios, cosméticos e bebidas. No Brasil, e mais par-ticularmente a Região Nordeste, concentra uma área de palma esti-mada em 500 mil hectares, sendo a mesma cultivada exclusivamente como forragem para alimentação do gado durante o período de es-tiagem (LOPES, 2007), onde os

frutos produzidos nesta área, co-nhecidos como Fruto de Palma e Figo da Índia, são muito aprecia-dos pela população, encontrados nas feiras e mercados na época da colheita.

Apesar da apreciação e valorização restritas predominantemente a de-terminados grupos populacionais e de determinadas regiões, pela adaptação da planta às condi-ções climáticas das regiões se-miáridas do Nordeste do Brasil, o Figo da Índia tem potencialidades e possibilidades de vir a ser uma alternativa para a diversificação agrícola desta região, gerando uma fonte adicional de renda

Características físicas efísico-químicas de frutosde palma forrageira Fo

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as

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para os agricultores (LEDERMAN, 2005). Dessa forma, a realização e divulgação de estudos poderão servir para pesquisas futuras e estímulo à produção e consumo, ainda incipiente em nosso país. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo a avaliação das ca-racterísticas físicas e físico-quími-cas do Figo da Índia oriundos de município da região semiárida do Estado da Bahia.

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos utilizados neste traba-lho foram coletados em palmais de Opuntia ficus-indica (L.) Mill. cv. Gigante e cv. Redonda com mais de dois anos de idade, em

imóveis de pequenos produto-res rurais no município de Uauá, Bahia, com tipo climático semiá-rido. Os frutos foram colhidos ao acaso, no estágio de maturação da casca passando da cor verde para verde amarelada. Posterior-mente foram separados em cinco lotes de 15 frutos, totalizando 75 por cultivar, os quais foram acon-dicionados em caixa de isopor e conduzidos ao Laboratório de Tecnologia de Alimentos da UFRB em Cruz das Almas, Bahia, para a realização das análises físi-cas e físico-químicas.

Foram avaliadas as seguintes ca-racterística físicas: peso, compri-mento, diâmetro, percentagens de casca, sementes e polpa. A polpa foi analisada quanto às seguintes características físico-

-químicas: pH, acidez total titulá-vel em ácido cítrico (ATT), sólidos solúveis totais (oBrix), vitamina C, açúcar total e rendimento indus-trial (calculado pelo produto da percentagem de polpa e o valor dos sólidos solúveis totais medi-dos em ºBrix). O pH foi determina-do pelo método potenciométrico e o teor de sólidos solúveis totais (SST) com uso de refratômetro manual. Os métodos analíticos empregados foram os preconi-zados pela AOAC (Association of Official Analytical Chemists).

O delineamento experimental uti-lizado foi inteiramente casualiza-do com dois tratamentos (duas cultivares), cinco repetição (cin-co lotes de 15 frutos) e os dados obtidos submetidos à análise de variância pelo teste F.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Valores dos componentes físicos são apresentados na Tabela 1. Não houve diferença estatística (P>0,05) para as características dos frutos das cultivares avalia-das. O valor médio obtido quanto ao peso dos frutos (147,33 g) é superior ao encontrado por Silva Júnior et al. (2007) de 113,29 g.

O comprimento e o diâmetro são índices físicos de grande utilidade para produtos destinados ao con-sumo in natura e para o processa-mento, como por exemplo padro-nização do tamanho, regulagem de máquinas e confecção de em-balagem. A média do comprimen-to (9,02 cm) está próxima da en-contrada por Oliveira et al. (1992) de 8,46 cm e o diâmetro (5,99 cm) encontra-se dentro dos valores ob-tidos por Canuto et al. (2006) de 4

a 6 cm. O percentual da casca em relação ao fruto (42,61%) é inferior ao obtido por Oliveira et al. (1992) de 45,40%. A percentagem de se-mente relaciona-se ao rendimento e também com a qualidade do produto. O percentual em rela-ção ao fruto (15,62%) é superior ao encontrado por Oliveira et al. (1992) de 4,46%. O rendimen-to da polpa (41,77%) é inferior ao encontrado por Oliveira et al. (1992) de 61,50%. Este se consti-tui em um parâmetro muito impor-tante para avaliação de frutos desti-nados ao processamento industrial (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

Na Tabela 2 são apresentados os valores dos componentes físico--químicos e o rendimento industrial. Da mesma forma que os compo-nentes físicos, não houve diferença estatística entre as características dos frutos das cultivares avalia-das. O pH médio encontrado de 6,21 indica um fruto pouco ácido

(pH acima de 4,5), segundo a clas-sificação de Baruffaldi e Oliveira (1998). A acidez total titulável (ATT) é um dos critérios utilizados para a classificação da fruta através do sabor, onde o percentual encon-trado (0,08%) é superior a encon-trada por Silva Júnior et al. (2007) de 0,056%. Quanto aos sólidos solúveis totais (SST), a média obti-da de 12,46% é superior à encon-trada por Silva Júnior et al. (2007) de 11%. Altos teores são importan-tes tanto para o consumo da fruta ao natural quanto para a indústria, pois proporcionam melhor sabor e maior rendimento na elabora-ção dos produtos (SACRAMENTO et al., 2007). Para a variável vita-mina C, a média obtida (15,46 mg 100g-1) está dentro dos valores ci-tados por Lederman (2005) de 4,6 – 41mg 100g-1. Assim, consideran-do os teores obtidos, os frutos de palma forrageira se constituem em uma fonte razoável desta vitamina. Para açúcar total a média encontra-

TABELA 2PH, ACIDEZ TOTAL TITULÁVEL, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS, VITAMINA C, AÇÚCAR TOTAL E RENDIMENTO INDUSTRIAL DE FRUTOS DE PALMA FORRAGEIRA CV. GIGANTE E REDONDA ORIUNDOS DO MUNICÍPIO DE UAUÁ, BAHIA

Cultivar PH Acidez Titulável (%)

Sólidos solúveis totais (oBrix)

Vitamina C(mg/100g)

Açúcar total (%)

Rendimento industrial

Gigante 6,20 0,080 12,60 16,91 10,16 5,33Redonda 6,22 0,081 12,31 14,02 9,24 5,01Média 6,21 0,080 12,46 15,46 9,70 5,17CV (%) 0,46 9,44 1,65 8,40 2,26 7,18

Fonte: Autor/Pesquisa

TABELA 1 PESO, COMPRIMENTO, DIÂMETRO, PERCENTAGEM DE CASCA, SEMENTE E POLPA DE FRUTOS DE PALMA FORRAGEIRA CV. GIGANTE E REDONDA ORIUNDOS DO MUNICÍPIO DE UAUÁ, BAHIA

Cultivar Peso (g)Comprimento

(cm)Diâmetro (cm) Casca (%) Semente (%) Polpa (%)

Gigante 156,11 9,36 5,98 43,28 14,32 42,40

Redonda 138,55 8,68 6,00 41,94 16,93 41,13Média 147,33 9,02 5,99 42,61 15,62 41,77CV (%) 12,30 14,63 6,72 13,10 14,25 10,45

Fonte: Autor/Pesquisa

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da (9,7%) está dentro dos valores citados por Lederman (2005) de 10-17%. O rendimento industrial ou índice tecnológico é um indicador de qualidade utilizado. A média en-contrada (5,17%) está próxima da obtida por Silva Júnior et al. (2007) de 5,07% e inferior à de Oliveira et al. (1992) com 7,38%. Segundo Sacramento et al. (2007), na agroin-dústria os frutos que apresentam os maiores índices de rendimen-to industrial são os mais desejá-veis, por proporcionarem maior possibilidade de concentração de sólidos solúveis.

CONCLUSÕES

Os frutos de palma forrageira Opuntia ficus-indica (L.) Mill. cv. Gigante e cv. Redonda apresentam semelhanças quanto às caracterís-ticas físicas e químicas, sendo ade-quados para o consumo in natura e para o processamento industrial.

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AGRADECIMENTOS

Aos produtores rurais José Antônio Gomes da Silva, José Carlos

Gomes da Silva e Pedro Celso Gonçalves Ribeiro pela contribuição

na obtenção dos frutos para realização do presente trabalho.

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90

José Mário Carvalhal de Oliveira2

Antonio Souza do Nascimento3

Sílvia Helena Galvão de Miranda4

Cristiane de Jesus Barbosa5

Francisco Ferraz Laranjeira6

2 – Mestre em Defesa Agropecuária/UFRB. Cruz das Almas/BA. Fiscal Estadual Agropecuário (ADAB);e-mail: [email protected]

3 – Doutor, Pesquisador da EMBRAPA/CNPMF. Prof. do Programa de Pós-Graduação da UFRB. Orientador;e-mail: [email protected]

4 – Doutora, Professora do Departamento de Econo-mia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP e pes-quisadora do CEPEA. Co-orientadora;e-mail: [email protected]

5 – Doutora, Pesquisadora da EMBRAPA/CNPMF.Co-orientadora; e-mail: [email protected]

6 – Doutor, Pesquisador da Embrapa/CNPMF; e-mail: [email protected]

Trata-se de um pequeno inse-to, com cerca de 2 a 3 mm

de comprimento, de coloração marrom-clara quando jovem a mais escuro à medida que enve-lhecem (AUBERT, 1987; GALLO et al., 2002). Sua cabeça é marrom claro, ligeiramente mais estreita que o tórax, antenas com dois segmentos basais, de coloração castanho claro e pontas pretas e olhos castanhos escuro. Seu corpo é mosqueado de marrom, coberto com uma secreção sero-sa sob a forma de pó esbranqui-çado, com abdômen dorsalmen-

te preto e branco, esverdeado ventralmente. São ativos, saltam e voam facilmente a pequenas distâncias quando molestados. Geralmente são encontrados na face dorsal das folhas, e quando parados, formam um ângulo de 45° em relação à superfície em que se encontram (BLACKWELL, 2005; HALL, 2008).

Existem diversas observações sobre os hospedeiros preferen-ciais do D. citri. Porém, somente um estudo comparativo realizado em laboratório, onde as espécies

Flutuação populacional de D. citri empomares de citros no município

de Rio Real, Bahia1

1Este artigo faz parte da dissertação apresentada no curso de Mestrado Profissional em Defesa Agropecuária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

A cultura dos citros é uma das que apresenta maior número de pragas. Entretanto, poucas são as que podem ser classificadas, de fato, como importantes para a cul-tura (GRAVENA, 1984). Dentre estas pragas, Diaphorina citri Kuwayama, 1908, se destaca por ser vetor da bactéria causadora da doença denominada huanglongbing (HLB), possuindo ampla distribuição geográfica, podendo causar prejuízos às plantas cítricas (YAMAMOTO et al., 2001).

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91

Murraya paniculata L. (murta-de--cheiro), Citrus jambhiri Luch (li-mão rugoso), Citrus aurantium L. (laranja azeda) e Citrus paradisi MacFad (toranja) foram testados. De todos os hospedeiros estuda-dos, C. paradisi se revelou como o melhor, enquanto que entre as outras espécies avaliadas não fo-ram encontradas diferenças signi-ficativas (BANÕS; RAVELO, 2007).

Segundo GALLO et al. (1988), D. citri se alimenta sugando a seiva de brotações, causando elevado dano, devido às pica-das sucessivas, acarretando o enrolamento das folhas, que fi-cam retorcidas, engruvinhando os brotos, promovendo a morte da gema apical, impedindo o crescimento normal das plantas.

De acordo com CATLING (1970), a flutuação populacional do D. citri está intimamente relacio-nada ao ritmo de brotações em plantas criticas, tendo em vista que a postura dos ovos ocorre

em ramos novos e que as ninfas precisam das brotações novas para se desenvolver. Relatado no Brasil na década de 40 (COSTA--LIMA, 1942), D. citri era conside-rado uma praga de importância secundária para a citricultura do país (GALLO et al., 2002), até o relato da presença das bactérias causadoras da doença denomi-nada huanglongbing (HLB) em pomares próximo do município de Araraquara, estado de São Paulo, em 2004 (COLLETA-FILHO et al., 2004; TEIXEIRA et al., 2005).

De acordo com YAMAMOTO et al. (2001), no estado de São Paulo, o pico populacional de D. citri ocorre no final da prima-vera ou início do verão, caindo posteriormente e permanecen-do em baixas populações no outono e inverno. PARRA et al. (2010) observou que no estado de São Paulo não existe um pa-drão na dinâmica temporal de populações do vetor e que tal dinâmica é alterada em função

da disponibilidade e abundân-cia de brotações, modulada por fatores climáticos.

Destarte, o conhecimento da di-nâmica populacional do vetor da D. citri é de grande importância para o estabelecimento de estraté-gias de manejo, caso a bactéria do huanglongbing seja introduzida no Estado da Bahia. O presente traba-lho teve por objetivo estudar a flu-tuação populacional de D. citri em pomares de citros no município de Rio Real, no período de novembro de 2010 a outubro de 2011.

MATERIALE MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido no município de Rio Real, principal produtor de laranja do estado da Bahia. Foram selecionados três po-mares de laranja (Citrus sinensis)

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92

da variedade Pera em porta-enxer-to de limão cravo (Citrus limonia), com idade de quatro anos, con-forme Tabela 1. As plantas foram escolhidas de forma aleatória, por sorteio, sendo marcadas com uma fita vermelha para facilitar sua iden-tificação no campo. Após a seleção das plantas, as mesmas recebe-ram uma numeração e foram plota-das em croqui.

Em cada pomar, foram monito-radas 20 plantas em frequên-cia quinzenal, registrando-se o número total de brotações novas e o número de psilíde-os observados em 20 ramos de cada planta, cinco por qua-drante, nas formas de ovos, ninfas (sem distinção de ínsta-res) e adultos. Cada árvore foi dividida em quatro quadrantes iguais, dividida por dois eixos imaginários, perpendiculares ao tronco. Os levantamentos

foram realizados durante o pe-ríodo compreendido entre no-vembro de 2010 a outubro de 2011. Após cada avaliação os dados eram registrados numa planilha eletrônica e, posterior-mente, efetuado o cálculo da média das brotações, insetos adultos, ninfas e ovos.

Realizou-se também, o monito-ramento de adultos de D. citri utilizando-se armadilhas adesi-vas amarelas para insetos, nas dimensões de 30 cm x 10 cm, instaladas em dois pomares cí-tricos com idade variando de quatro a oito anos e em plan-tas de murta escolhidas alea-toriamente no município de Rio Real – Bahia. Inicialmente, foram instaladas 10 armadilhas na pro-priedade denominada Fazen-da Lagoa do Coco, em laranja (Citrus sinensis) da variedade Pera em porta enxerto de limão

cravo (Citrus limonia), com idade de oito anos. Tendo em vista que o índice de captura do D. citri se apresentou muito baixo, optou--se em instalar três armadilhas na propriedade denominada Fazenda Esperança, em laranja (Citrus sinensis) da variedade Pera em porta enxerto de limão cravo (Citrus limonia), com idade de quatro anos. Também, foram instaladas armadilhas adesi-vas em quatro plantas de murta (Murraya paniculata) distribuídas pelo município. O objetivo de se instalar armadilhas em murta foi o de verificar se existe preferência do D. citri pela planta ornamental M. paniculata em relação às plan-tas cítricas. Utilizou-se o índice PAM (psilídeo/armadilha/mês) para medir a densidade popula-cional do inseto adulto. A Tabe-la 2 apresenta as coordenadas geográficas das plantas onde foram instaladas as armadilhas.

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93

As armadilhas foram recolhidas quinzenalmente e encaminha-das ao laboratório de Fitopato-logia da EBDA/SLC. Para tan-to, utilizou-se um equipamento desenvolvido pela EMBRAPA/CNPMF (Figura 1), composto por uma caixa de isopor e um caixi-lho confeccionado em madeira leve com a finalidade de acon-dicionar as armadilhas contendo os insetos capturados. As aná-lises foram realizadas por bol-sistas treinados pela EMBRAPA/CNPMF, com auxílio de lupa de aumento (10X). Os dados eram registrados em uma ficha e pos-teriormente digitalizados em pla-nilha eletrônica.

TABELA 1 CARACTERÍSTICAS DAS PROPRIEDADES SELECIONADAS NO ESTUDO

Propriedade Área do imóvel (ha)

Área com laranja (ha) Localização Coordenadas

(SAD 69)Variedade/

porta enxerto Idade (anos)

Sítio Sr. do Bomfim 7,5 5,45

Comunidade Tanque do Marques

S 11º 26’ 09,3” WO 38º 00” 29,8”

Pera/Limão Cravo 4

S 11º 26’ 10,7” WO 38º 00” 30,7”

S 11º 26’ 05,2” WO 38º 00” 33,2”

S 11º 26’ 06,6” WO 38º 00” 34,9”

Fazenda Junco 240 140 Comunidade Mata Verde

S 11º 30’ 48,0” WO 37º 59” 01,0”

Pera/Limão Cravo 4

S 11º 30’ 47,4” WO 37º 59” 02,0”

S 11º 30’ 57,0” WO 37º 59” 04,5”

S 11º 30’ 56,3” WO 37º 05” 05,9”

Sítio Lagoa de Baixo 6,8 1,2

Comunidade Lagoa de Baixo

S 11º 34’ 32,2” WO 37º 53” 47,2”

Pera/Limão Cravo 4

S 11º 34’ 31,2” WO 37º 53” 48,2”

S 11º 34’ 29,5” WO 37º 53” 44,7”

S 11º 34’ 28,6” WO 37º 53” 45,7”

Fonte: Dados dos Autores

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Aut

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Figura 1 – Aspecto geral do equipamento para acondicionamento e transporte das armadilhas adesivas, mostrando o caixilho em madeira, no interior de uma caixa de isopor. Salvador, BA. 2012.

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94

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A média das brotações por planta encontra-se no Gráfico 1. O pico de brotação ocorreu

entre os meses de novembro de 2010 e março de 2011, atin-gindo o máximo em 28/01/2011, quando foi contabilizada no Sítio Senhor do Bomfim uma média de 96 brotações e 45,5 no Sítio Lagoa de Baixo. Na Fazenda Junco, o pico ocorreu

em 25/02/2011 com uma média de 51,25 brotações. Os resulta-dos da flutuação populacional de adultos e formas jovens de D. citri e a quantidade de ovos encontrados durante o período do monitoramento são mostra-dos nos Gráficos 2, 3 e 4.

100

80

60

40

20

0

Grá�co 1

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

3112

2010

1401

2011

2801

2011

1102

2011

2502

2011

1103

2011

2503

2011

0804

2011

2004

2011

0605

2011

2005

2011

0306

2011

1706

2011

0107

2011

1507

2011

2907

2011

1208

2011

2608

2011

0909

2011

2309

2011

0710

2011

2110

2011

DiaMêsAno

Média debrotação

por plantaPrimavera Verão Outono Inverno Primavera

MÉDIA DAS BROTAÇÕES NAS PLANTAS DE LARANJAS NAS TRÊS PROPRIEDADESLOCALIZADAS NO MUNICÍPIO DE RIO REAL - BA

Senhor do Bom�mLagoa de Baixo

Junco

TABELA 2 LOCALIZAÇÃO DAS ARMADILHAS ADESIVAS AMARELAS

Localização das armadilhas PlantasCoordenadas geográficas

Longitude (S) Latitude (WO)

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 18,5” 37º 52’ 18,3”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 16,6” 37º 52’ 17,9”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 14,5” 37º 52’ 17,5”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 12,5” 37º 52’ 16,7”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 10,7” 37º 52’ 16,7”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 08,5” 37º 52’ 15,7”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 06,3” 37º 52’ 15,2”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 04,3” 37º 52’ 14,8”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 02,2” 37º 52’ 14,1”

Faz. Lagoa do Coco Laranja Pera 11º 34’ 00,2” 37º 52’ 13,5”

Lagoa de Baixo I Murta 11º 34’ 32,1” 37º 53’ 49,9”

Lagoa de Baixo II Murta 11º 34’ 10,9” 37º 54’ 01,8”

Rua da Embasa Murta 11º 29’ 05,7” 37º 56’ 41,4”

Mansa/Estrada Lima Murta 11º 29’ 46,4” 37º 55’ 06,6”

Faz. Esperança Laranja Pera 11º 33’ 21,7” 37º 51’ 34,8”

Faz. Esperança Laranja Pera 11º 33’ 20,6” 37º 51’ 36,7”

Faz. Esperança Laranja Pera 11º 33’ 19,6” 37º 51’ 39,0”

Fonte: Dados dos Autores

Page 95: Bahia Agricola v9 n2 Completa

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Grá�co 2

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

3112

2010

1401

2011

2801

2011

1102

2011

2502

2011

1103

2011

2503

2011

0804

2011

2004

2011

0605

2011

2005

2011

0306

2011

1706

2011

0107

2011

1507

2011

2907

2011

1208

2011

2608

2011

0909

2011

2309

2011

0710

2011

2110

2011

DiaMêsAno

Primavera Verão Outono Inverno Primavera

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE ADULTOS DE D. CITRI, EM TRÊS POMARES DE CITROSDO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Senhor do Bom�mLagoa de Baixo

Junco

0,045

0,040

0,035

0,030

0,025

0,020

0,015

0,010

0,005

0

Grá�co 3

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

3112

2010

1401

2011

2801

2011

1102

2011

2502

2011

1103

2011

2503

2011

0804

2011

2004

2011

0605

2011

2005

2011

0306

2011

1706

2011

0107

2011

1507

2011

2907

2011

1208

2011

2608

2011

0909

2011

2309

2011

0710

2011

2110

2011

DiaMêsAno

Primavera Verão Outono Inverno Primavera

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE NINFAS DE D. CITRI, EM TRÊS POMARESDE CITROS DO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Senhor do Bom�mLagoa de Baixo

Junco

0,25

0,20

0,15

0,10

0,05

0,0

Grá�co 4

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

3112

2010

1401

2011

2801

2011

1102

2011

2502

2011

1103

2011

2503

2011

0804

2011

2004

2011

0605

2011

2005

2011

0306

2011

1706

2011

0107

2011

1507

2011

2907

2011

1208

2011

2608

2011

0909

2011

2309

2011

0710

2011

2110

2011

DiaMêsAno

Primavera Verão Outono Inverno Primavera

QUANTIDADE MÉDIA DE OVOS DE D. CITRI, ENCONTRADOS EM TRÊS POMARES DE CITROSDO MUNICÍPIO DE RIO REAL, BA

Senhor do Bom�mLagoa de Baixo

Junco

0,014

0,012

0,010

0,008

0,006

0,004

0,002

0,0

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Nas propriedades monitoradas no município de Rio Real, o pico popu-lacional de adultos de D. citri ocorreu entre os meses de novembro e de-zembro de 2010, final da primavera e início do verão, atingindo o máximo em 03/12/2010, na Fazenda Lagoa de Baixo. Após o pico, a população do psilídeo decresceu gradativa-mente, permanecendo baixo no ou-tono e inverno, provavelmente pela ausência de brotações. Exceção foi verificada na Fazenda Junco onde só foi verificado o inseto-praga no outono, no período compreendido entre 08/04/2011 a 06/05/2011. Tra-balho realizado por YAMAMOTO et al. (2001), em 16 pomares de citros no norte do estado de São Paulo, constatou que o pico populacional do D. citri ocorreu no final da prima-vera e começo do verão.

A presença de ninfas também predominou no final da prima-vera e início do verão, com des-taque para o Sítio Senhor do Bomfim que apresentou a maior população na amostragem de 18/11/2010. Após esse pico, a população de ninfas de D. citri decresceu nas propriedades, apresentando alguns picos no outono e inverno, provavelmente, pela emissão de novos fluxos ve-getativos, permanecendo baixo no restante do período estudado. Na Fazenda Junco, em que pese à existência de brotações nas

laranjeiras monitoradas não foi registrado a presença de ninfas.

Em relação ao número de ovos, as maiores quantidades foram verifi-cadas no final da primavera e início do verão no Sítio Senhor do Bomfim e no final do verão e no outono no Sítio Lagoa de Baixo, períodos em que também foram verificadas as maiores quantidades de adultos de D. citri na propriedade, favorecen-do provavelmente o acasalamento e postura de ovos.

O percentual de plantas com psi-lídeo também foi avaliado no pre-sente estudo. Conforme demonstra o Gráfico 5, os maiores percentuais de plantas com psilídeos foram verificados no final da primavera e inicio de verão no Sítio Lagoa de Baixo, e final do outono e início do inverno no Sítio Senhor do Bomfim, possivelmente porque nestas épo-cas do ano a ocorrência de chuvas, e aumento da umidade relativa do ar favorece as brotações, criando um clima propício para a repro-dução do inseto, permanecendo baixo no restante do período estu-dado. Na fazenda Junco, o maior percentual de plantas com psilídeo foi verificado em 20/04/2011.

O Gráfico 6 mostra que a densidade populacional do inseto é relativamen-te baixa se comparada com os dados obtidos nos pomares do Recôncavo

da Bahia (dados não publicados). O gráfico mostra uma maior densidade populacional do inseto na espécie ornamental M. paniculata em compa-ração com as plantas cítricas, suge-rindo que existe uma preferência do psilídeo pela espécie ornamental M. paniculata em comparação com as plantas cítricas. Constatou-se, tam-bém, que o pico populacional de D. citri ocorreu na primavera, possivel-mente pela maior emissão de fluxos vegetativos, regredindo gradativa-mente na medida em que o número de brotações diminuem.

CONCLUSÕES

1 – A densidade populacional de Diaphorina citri, vetor do HLB, é relativamente baixa se comparada com os dados obti-dos nos pomares do Recôncavo da Bahia (dados não publica-dos), embora o inseto estivesse presente em todos os pomares monitorados;

2 – Adultos e/ou ninfas de D. citri ocorreu durante todo o ano e seu pico populacional coincidiu com o final da primavera e inicio do verão;

3.– A densidade populacional de D. citri em murta, Murraya paniculata, é extremamente elevada quando comparada com a do hospedeiro citros;

4. – A população de D. citri, tanto na forma de inseto adulto quanto na de ninfas foram diretamente influencia-das pela emissão do fluxo vegetati-vo, das plantas de laranja.

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Grá�co 5

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

3112

2010

1401

2011

2801

2011

1102

2011

2503

2011

1103

2011

2503

2011

0804

2011

2004

2011

0605

2011

2005

2011

0306

2011

1706

2011

0107

2011

1507

2011

2907

2011

1208

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DiaMêsAno

Primavera Verão Outono Inverno Primavera

PERCENTUAL DE PLANTAS COM DIAPHORINA CITRI, EM TRÊS POMARES NO MUNICÍPIO DERIO REAL, BA

Senhor do Bom�mLagoa de Baixo

Junco

0,90

0,80

0,70

0,60

0,50

0,40

0,30

0,20

0,10

0,0

Grá�co 6

Fonte: Dados dos Autores

1811

2010

0312

2010

1712

2010

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2010

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DiaMêsAno

Primavera Verão Outono Inverno Primavera

NÚMERO DE PSILÍDEO COLETADOS EM ARMADILHAS ADESIVAS EM LARANJEIRA EMURTA MURRAYA PANICULATA. RIO REAL, BA

MurtaCitrus

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2,00

1,80

1,60

1,40

1,20

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Rafael Dantas dos Santos1

Lúcio Carlos Gonçalves2

André Luis Alves Neves3

Luiz Gustavo Ribeiro Pereira4

1–Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Semiárido; e-mail: [email protected]

2–Engenheiro Agrônomo, D.Sc.,Professor Adjunto da UFMG; e-mail: [email protected]

3–Médico Veterinário, M.Sc., Analista da Embrapa Gado de Leite; e-mail: [email protected]

4–Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Gado de Leite; e-mail: [email protected]

Solos salinizados são aqueles que contêm sais solúveis em quantidade suficiente para pre-judicar o crescimento das plan-tas (RENGASAMY, 2006). Desse modo, tem se buscado estudar a capacidade de utilização de plantas adaptadas à ambientes salinos, plantas halófitas como al-ternativa de convivência com este problema. A inserção destas plan-tas nos sistemas produtivos visa incorporar os solos salinizados ao processo de produção agrícola e gerar novas possibilidades para compor dietas para ruminantes.

ASPECTOS GERAIS DA SALINIDADE

As principais fontes naturais de sais no solo são o intemperismo mineral, a precipitação atmos-férica e os sais fósseis (aqueles remanescentes dos ambientes marinhos e lacustres). Os sais também podem ser adiciona-dos aos solos por meio de ati-vidades humanas, incluindo o uso de águas de irrigação, pro-cessos de potabilização e resí-

na alimentaçãode ruminantes

Forrageirashalófitas

A salinização é um fenôme-no crescente em todo o

mundo, principalmente em re-giões áridas e semiáridas, de-corrente de condições climáti-cas e da antropização, sendo que no Nordeste brasileiro os solos afetados por sais ocu-pam uma área de aproxi-madamente 9,1 milhões de hectares (BRASILEIRO, 2009).

Foto acima: Atriplex

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duos de atividades industriais e aquícolas (FERNANDES et al., 2010).

Convencionou-se utilizar o va-lor de condutividade elétrica (CE) de quatro deciSiemens por metro (dS/m), para extratos de pasta saturada do solo, como a linha divisória entre solos sa-linos e solos não salinos. Entre-tanto, pode-se observar redu-ções no rendimento de culturas em solos cujo extrato de satu-ração apresenta CE entre dois e quatro dS/m (FERNANDES et al., 2010).

Os sais solúveis mais encontrados em solos salinizados consistem, normalmente, de várias proporções de cátions Ca2+, Mg2+, Na+, dos ânions Cl-, SO4

2-, HCO3- e, às vezes,

de K+, CO32- e NO3

- (FERNANDES et al., 2010). Embora os sais des-tes íons ocorram em proporções

variáveis, os pesquisadores são unânimes em afirmar que o cloreto de sódio – NaCl predomina na maioria das vezes (SULTANA et al., 2009). As plantas halófitas desenvolvem--se naturalmente em ambientes com elevadas concentrações salinas (tipicamente Na+ e Cl-), que podem variar de 4,5 a 14,0 dS/m (WILLADINO; CAMARA, 2005).

POTENCIAL FORRAGEIROE VALOR NUTRICIONAL

Na última década diversos pro-gramas de melhoramento ge-nético, em todo o mundo, in-corporaram forrageiras halófitas (arbustivas e gramíneas) em

suas pesquisas e obtiveram êxito em selecionar espécies com ca-racterísticas interessantes como: moderada a alta biomassa, teo-res de proteína bruta moderados e a capacidade de sobreviver a uma vasta gama de condições ambientais, incluindo alta salini-dade (GLENN et al., 2009).

Para melhor acompanhamento, é possível conferir os nomes pelos quais as halófitas citadas no decor-rer do texto são mais comumente conhecidas (Quadro 1).

El Shaer (2004) afirmou que espécies halófitas arbustivas apresentam alto potencial forrageiro, dada as suas observações com as espécies Atri-plex lentiformis, Atriplex nummularia e Atriplex halimus que apresenta-ram rendimento de matéria seca de 12,4; 9,9 e 8,6 t/ha/ano, respec-tivamente, quando submetidas a CE de 20,0 dS/m.

QUADRO 1 FORRAGEIRAS HALÓFITAS – NOMES COMUNS

Forrageiras Halófitas Citadas no Artigo Nomes Comuns

Plantas do gênero Atriplex (Atriplex lentiformis, Atriplex nummularia, Atriplex halimus, Atriplex canescens e Atriplex barclayana)

todas são conhecidas apenas como “erva-sal”

Sporobolus virginicus “grama costeira” ou “grama de areia”

Leptochloa fusca “kallar grass” ou “grama sal”

Arthrocnemon glaucum “salicornia” ou “erva cali”

Haloxylon salicornicum “salicornia”

Kochia indica “bassia”

Suaeda fruticosa “seablite” ou “suaeda”

Tamarix aphylla “athel” ou “tamargueira athel”

Thymelaea hirsuta “mithnane”

Aeluropus lagopoides “mamoncillo”

Paspalum paspalodes “grama nó”

Paspalidium geminatum “panic grass egipcio”

Zygophyllum album “alcaparra branca”

Distichlis spicata “grama do litoral” ou “grama do deserto”

Fonte: Autores

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Dentre as gramíneas halófitas des-tacam-se com maior produção de biomassa as espécies Sporobolus virginicus (11,2 tMS/ha/ano) e Lep-tochloa fusca (8,4 tMS/ha/ano) (AH-MAD, 2010). No México, O’Leary e Glenn (1994) avaliaram a produtivida-de de algumas forrageiras halófitas em condições extremas, utilizando água de irrigação altamente salina (52,0 dS/m – água do mar) e observa-ram produtividades de matéria seca (MS) de 17,9; 17,3; 17,2; 10,3 e 8,6 t/ha/ano para Atriplex lentiformis, Batis maritima, Atriplex canescens, Atriplex nummularia e Atriplex barclayana, res-pectivamente.

No Brasil, a forrageira halófi-ta mais estudada e utilizada na alimentação de ruminantes é a erva-sal (Atriplex nummularia), devido a sua fácil propagação, capacidade fitoextratora de sais, produtividade e valor nutricional (PORTO et al., 2006).

Barroso et al. (2006) avaliaram a produtividade da erva-sal culti-vada sob irrigação de quatro vo-lumes (75, 150, 225 e 300 litros/

semana/planta) de efluentes de criação de tilápia, com salinidade de 8,3 dS/m e observaram produ-tividades que variaram de 7,5 a 11,4 tMS/ha/ano. Ressalta-se que nesse estudo a participação per-centual de material forrageiro foi de 82,7% (folhas 51,0% e caules 31,7%) e material lenhoso (não forrageiro) de 17,3%.

Variações na palatabilidade, pro-dutividade, composição química, e valor nutritivo das diversas ha-lófitas foram relatados na litera-tura. Estas variações dependem de fatores climáticos, como tem-peratura, umidade, precipitação e intensidade luminosa, assim como da espécie forrageira e também de práticas de manejo (EL SHAER, 2010).

El Shaer e Zahran (2002) avaliaram diversas espécies de forrageiras halófitas (Arthrocnemon glaucum, Atriplex sp., Haloxylon salicornicum, Kochia indica, Leptochloa fusca, Suaeda fruticosa, Sporobolus virginicus, Tamarix aphylla e Thy-melaea hirsuta) e obtiveram valo-

res de 21,7 até 42,6 para as por-centagens de MS.

Esses mesmos autores observa-ram que estas plantas apresenta-ram uma ampla variação quanto ao teor de proteína bruta, variando de 3,4% (Arthrocnemon glaucum) a 15,1% da MS (Atriplex leucoclada), mas em geral, a maioria, destas espécies de plantas, atingiu te-ores de proteína bruta satisfató-rios para uma adequada fermen-tação ruminal.

Ressalta-se que aproximadamen-te 50% do nitrogênio da erva-sal é não protéico (NNP) e está asso-ciado a nitratos, betaína e prolina, não sendo aproveitado em sua to-talidade pelos micro-organismos ruminais (PEARCE et al., 2010).

O teor de extrato etéreo das for-rageiras halófitas pode apresen-tar ampla variação (1,3 a 6,1% da MS) em decorrência da espé-cie e do manejo utilizado (GIHAD et al., 2003). Benjamin et al. (2002) observaram que as forra-geiras halófitas são pobres em energia, apresentando valores de energia líquida entre 2,5 e 4,0 MJ/kg de MS e energia metabo-lizável entre 5,0 e 8,0 MJ/kg de MS, o que corresponde a 0,25 – 0,40 kg NDT/kg de MS.

A maioria das forrageiras haló-fitas apresenta elevados teores de matéria mineral (MM), varian-do de 10 a 35% da MS, princi-palmente Na, Cl, K, Ca e sílica (ABD EL-RAHMAN, 2008). Nor-man et al. (2008) encontraram valores de 7,0; 6,7; 52,5; 24,1 e Fo

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Leptochloa

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73,3 g/kg de Ca, Mg, Na, K e Cl, respectivamente, na massa seca de folhas e caule de Atriplex nummularia. No entanto, Souza et al. (2011) avaliaram a capacidade fitoextratora da Atriplex nummularia e observaram, nas folhas, va-lores de 5,2; 6,1; 124,7; 19,3 e 149,4 g/kg de Ca, Mg, Na, K e Cl, respectivamente.

De uma maneira geral as halófi-tas possuem alta concentração de fibra, o que reduz a digesti-bilidade da maioria dos nutrien-tes (ABD EL-RAHMAN, 2008). Moinuddin et al. (2012) avalia-ram quatro forrageiras halófitas (Aeluropus lagopoides, Sporobolus tremulus, Paspalum paspalodes e Paspalidium geminatum) e obser-varam variação nos teores de FDN (55,3 a 69,0%), FDA (24,3 a 34,6%) e lignina (1,6 a 10,7%). Esses autores concluíram que

o aumento dos teores de FDA e lignina tem efeito direto na redução da digestibilidade da matéria seca destas halófitas.

A digestibilidade da matéria seca de forrageiras halófi-tas pode variar bastante em decorrência da espécie da planta, estádio fenológico e fatores edafoclimáticos, po-dendo variar de 70% nas me-lhores condições até 40% em circunstâncias desfavoráveis (FAHMY; IBRAHIM, 2005). A correlação entre a redução da digestibilidade da MS com o aumento da maturidade foi ob-servado por Khan et al. (2007) que apresentaram os valores de 59,2; 54,2 e 46,6% de di-gestibilidade da MS para as idades de 180, 210 e 240 dias, em plantas adultas de Atriplex canescens.

FORRAGEIRAS HALÓFITAS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

Plantas halófitas têm sido utiliza-das, em várias regiões áridas e semiáridas do mundo, como um recurso forrageiro importante, na complementação de dietas para ruminantes. O pastejo de áreas es-trategicamente reservadas para se-rem utilizadas no período mais críti-co do ano, tem sido a sua principal forma de utilização. Nesse sentido Youssef et al. (2003) avaliaram o de-sempenho de cabritos em área na-turalmente ocupada por halófitas (Tamarix mannifera, Halocnemum strobilacum e Zygophyllum album) e relataram ganhos de peso que variaram de 80 a 90 g/dia, valo-res considerados aceitáveis pelos autores, uma vez que as halófitas eram volumosos exclusivos.

As forrageiras halófitas podem, ainda, ser utilizadas na forma de feno ou silagem, sempre em con-sórcio com outro tipo de volumoso, de forma que se possa neutralizar o efeito do excesso de sal da mes-ma e não comprometer o consu-mo. Al-Shorepy e Alhadrami (2008) avaliaram teores de inclusão (0,0; 33,3; 66,7 e 100%) de feno de Distichlis spicata em substituição ao feno de capim-rhodes, em dietas para cabritos, com relação volumoso: concentrado de 40:60, e observaram maior consumo de MS (610 g de MS/dia) para o tra-tamento com 100% de Distichlis spicata. No entanto, esses autores

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não verificaram diferença entre os tratamentos para ganho de peso diário, que teve valor médio de 81,3 g/dia.

No Egito, carneiros com peso vivo médio de 40,0 kg, alimentados com dietas contendo 30% de Atriplex halimus consumiram em torno de 1,44 kgMS/dia, ou seja, 432 g de Atriplex/animal e não apresentaram diminuição no consumo ou rumina-ção (SHEHATA; MOKHTAR, 2005).

No Brasil, a erva-sal (Atriplex nummularia) normalmente é asso-ciada a volumosos como palma ou forragens conservadas. Alves et al. (2007) avaliaram o consumo e digestibilidade aparente dos nu-trientes em dietas, para caprinos e ovinos, contendo 50% de feno de erva-sal e 50% de palma forragei-ra. Em caprinos verificou-se o con-sumo de MS, MM e coeficientes

de digestibilidade da MS de 49,8 g/kgPV0,75, 9,0 g/kgPV0,75 e 78,3%, respectivamente. No entanto, para os ovinos os valores observados foram de 77,4 g/kgPV0,75, 15,4 g/kgPV0,75 e 59,4% para os consu-mos de MS, MM e coeficientes de digestibilidade da MS, respectiva-mente. Esses autores concluíram que a dieta composta por feno de erva-sal e palma forrageira apre-sentou baixos teores protéicos e energéticos, evidenciando a ne-cessidade de combinação com outros ingredientes.

A necessidade de associação da erva-sal com outros volumosos também foi evidenciada por Souto et al. (2005), que estudaram teores crescentes de feno de erva-sal na dieta de cordeiros em crescimen-to e relataram que o consumo de MS foi menor (992 g/animal/dia) no maior teor de feno de erva-sal

(83,7%) indicando que seu ele-vado teor de sódio pode limitar o consumo pelos animais e que a associação se faz necessária.

Moreno et al. (2011) avaliaram teores crescentes de feno de erva-sal (30, 40, 50 e 60%), na dieta de ovinos e observaram redução do consumo de sal mi-neral (6,7; 5,5; 3,7 e 3,2 g/dia) à medida que houve inclusão de feno de erva-sal na dieta, demonstrando redução da ne-cessidade de ingestão diária de sal mineral comercial em ovinos. Embora este fato possa contri-buir com a redução de gastos com compra de suplemento mi-neral, é importante ressaltar que o fornecimento do suplemen-to deve ser mantido para que não haja deficiência de outros elementos, especialmente os microminerais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As plantas halófitas constituem--se em recurso forrageiro estra-tégico para utilização em áreas salinizadas. Torna-se importan-te fortalecer o seu papel como recurso alimentar em sistemas de produção de agricultura bio-salina. A sua potencialidade como alternativa alimentar para ruminantes deve ser estuda-da e explorada, principalmente para pequenos ruminantes cria-dos em terras salinas e/ou em regiões áridas e semiáridas.

Atriplex

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Referências

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NOTASESPECIAIS

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

CONSEAGRI consegue prorroga-ção do crédito emergencial para agropecuaristas nordestinosOs produtores rurais que en-frentam a estiagem no Nordes-te e que tiveram redução em sua renda superior a 30%, que comprovem a incapacidade de pagamento junto às instituições financeiras, poderão renegociar o pagamento do saldo devedor das operações de custeio das safras 2011/2012 e 2012/2013, para reembolso em até cinco parcelas anuais, com o venci-mento da primeira parcela fi-xado para até um ano após a

data da formalização da rene-gociação. A medida foi divul-gada pelo Conselho Monetário Nacional, através da Resolução nº 4.190/2013 do Banco Central, e atende produtores rurais situ-ados em municípios da área de atuação da SUDENE. A Resolu-ção prorroga até 31 de maio de 2013 o prazo para contratação das linhas especiais de crédi-to de investimento e de cus-teio para agricultores familiares da região semiárida. Porém, o

Conselho Nacional de Secre-tários de Estado de Agricultura (CONSEAGRI) reiterou, junto ao governo federal, solicitação no sentido de prorrogar as linhas de crédito até 31 de dezembro de 2013 e que a medida não contemple apenas agricultores familiares e sim outros produ-tores rurais limitados, como previsto anteriormente, até R$ 100 mil reais por produtor. Além disso, o Conselho pede o incre-mento de mais R$ 1 bilhão para esta linha de crédito.

.......................................................Ascom Seagri

[email protected](71) 3115-2794

Três novas barragens na região central da BahiaO Comitê Estadual para Ações de Convivência com a Seca anunciou três novos projetos de barragens – de Baraúnas, Cam-pinhos e do Rio Cachoeirinha, que beneficiarão a população dos Territórios de Identidade Chapada Diamantina e Pie-monte do Paraguaçu, na região centro norte da Bahia. O inves-timento na barragem de Baraú-nas soma R$ 45 milhões e vai

atender a cerca de 60 mil pes-soas no município de Seabra. A barragem de Campinhos bene-ficiará 10 mil pessoas em Abaí-ra e Mucugê. A barragem do Rio Cachoeirinha beneficiará cerca de 10 mil pessoas na cidade de Wagner. São obras funda-mentais para o abastecimento de água em longo prazo. O nú-mero de poços já perfurados na Chapada Diamantina atinge 315

e mais 72 ainda serão executa-dos. No Piemonte do Paragua-çu, são 69 poços perfurados e 51 a perfurar.

.......................................................Ascom Seagri

[email protected](71) 3115-2794

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Plano Estadual da Borracha dá sustentabilidade adiversas regiões da Bahia

Sair da produção de 17,2 tonela-das/ano para 146 mil toneladas; de 32.314 hectares plantados para mais 100 mil hectares com varieda-des melhoradas de seringueira nos próximos 20 anos; ampliar de 6,5 mil empregos para 34 mil; aumen-tar a produtividade de 800 kg/hec-tare para 1.460 kg/hectare; eliminar a importação de borracha seca, que hoje representa 70% do consu-mo interno; aumentar a renda oriun-da da produção dos atuais R$ 102 milhões/ano, para R$ 865 milhões/ano; ampliar a arrecadação de ICMS de R$ 18 milhões/ano, para R$ 163 milhões/ano, e chegar ao ano 2040 com a Bahia autossufi-ciente na produção de borracha natural. Esses são os principais ob-

jetivos do Programa de Desenvolvimento do Setor da Borracha Natural do Estado da Bahia (PRODEBON), lançado em Valença, março de 2013.

O PRODEBON foi elaborado pela Câ-mara Setorial da Borracha Natural e, ao governo, cabe garantir a assistência técnica e todo apoio necessário à efeti-vação do programa. Durante a solenida-de de lançamento,

a Empresa Baiana de Desenvol-vimento Agrícola (EBDA) foi au-torizada, via ordem de serviço, a realizar licitação para compra de 80 mil mudas de seringueira, as primeiras que serão entregues a agricultores familiares.

A Bahia é o segundo maior produtor nacional de borracha natural do Bra-sil, atrás apenas de São Paulo, mas sua produção responde hoje por apenas 30% do consumo interno. Uma realidade que começa a mu-dar com a chegada do programa.

Parte da implantação proposta, cerca de 75% dos 100 mil hec-tares de seringueira, será feita no Sistema Agroflorestal (SAF),

consorciado com o cacau e a ba-nana, dando sustentabilidade ao produtor. Outra parte, 25%, será em substituição de eritrina por se-ringueira em plantios de cacau.

O PRODEBON vai atender a 18.133 produtores, em sua maioria da agricultura familiar. Os peque-nos produtores alvo do programa estão distribuídos nos Territórios de Identidade Agreste Alagoinhas/Litoral Norte, Baixo Sul, Extremo Sul, Litoral Sul, Médio Rio das Con-tas, Recôncavo e Vale do Jiquiri-çá, compreendendo a superfície de 95 mil km2.

Esse programa, além de colocar a Bahia no caminho da autossuficiên-cia da borracha natural, representa grande avanço também para a cultura do cacau que, consorciada com a seringueira, terá mais sus-tentabilidade e rentabilidade.

.......................................................Ascom Seagri

[email protected](71) 3115-2794

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Ministério da Agricultura declara emergência fitossanitária para conter praga no

Oeste da Bahia

Resultado de articulação feita entre os produ-

tores do Oeste baiano, SEAGRI e MAPA, atra-

vés da Secretaria de Defesa Agropecuária, o

Governo Federal publicou portaria declarando

como emergência fitossanitária a situação do

intensivo ataque da praga Helicoverpa zea em

lavouras de algodão e soja na safra 2012/2013.

A medida visa a implementação do plano de supressão da praga, e adoção de medidas emergen-ciais para as safras seguintes, até 2015, e consequentemente permitirá o registro de produtos agroquímicos específicos para as culturas do algodão e da soja. A declaração de emergência permi-te a aceleração dos processos de registros de produtos agroquími-cos, já em largo uso e eficiência comprovada em outros países, reduzindo o trâmite burocrático, que normalmente pode demorar até três anos. A portaria institui ainda o Grupo de Gerenciamen-to Situacional da Emergência Fi-tossanitária, com o objetivo de identificar, propor e articular a implementação de ações emer-genciais, ágeis e eficazes para contenção da praga, a fim de as-segurar o completo restabeleci-mento da normalidade produtiva.

Serão implantados em Brasília e na Bahia. Por sua vez, a SEAGRI também publicou portaria, funda-mentada no documento do MAPA, instituindo o Grupo Operacional de Emergência Fitossanitária com o objetivo de identificar, propor e executar a implantação de ações para o controle da praga.

Os cálculos dos prejuízos sofridos até o momento registram enormes perdas na produção de algodão e soja, além dos gastos com defen-sivos agrícolas para combater a la-garta. Mobilizados, os produtores da região Oeste já tomaram algu-mas medidas. A ABAPA promoveu a viagem de alguns pesquisado-res, especialistas e consultores da região para Austrália, país que desde a década de 90 aprendeu a conviver com esta praga, no intuito de conhecer as técnicas usadas no controle da mesma e dissemi-

nar estas tecnologias para os pro-dutores. A Associação de Agricul-tores e Irrigantes da Bahia (AIBA) assegura que a Helicoverpa zea surpreendeu a todos os produto-res da região pela sua ação des-trutiva e rápida, mas que a tempo, estão respondendo da mesma forma, reunindo ações para traçar um plano de combate integrado a esta lagarta, nos moldes do que foi feito com o plano da ferrugem asiática e o com o plano do bi-cudo. A maior preocupação dos produtores é que esta praga ataca aquilo que os interessa, a vagem e o grão, no caso da soja, e no algo-dão ela ataca as maçãs que são as estruturas reprodutivas.

.......................................................Ascom Seagri

[email protected](71) 3115-2794

Foto: Sílvio Ávila/EditoraGazeta

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disponibiliza 13 laborató-rios para pesquisas dire-cionadas à agropecuária baiana

Capacitada para realizar diver-sos tipos de análises e pesqui-sas voltadas para o desenvolvi-mento da agropecuária baiana, a Central de Laboratórios da Agropecuária (CLA), da EBDA, possui 13 laboratórios que pres-tam serviços especializados e atendem à demanda de agri-cultores familiares, produtores, cooperativas, associações, sin-dicatos e pessoas interessadas, além de auxiliar no processo de geração e transferência de tec-nologias para este setor.

Os diversos laboratórios da EBDA trabalham em rede, em parceria com instituições reno-madas como a Embrapa, uni-versidades federais e estaduais, CNPQ, Fapesp e órgãos do Go-verno do Estado. A Central, que é pensada para dar suporte a estudos e pesquisas de deman-das e especificidades do agri-cultor familiar da Bahia, está am-pliando a sua área de atuação com quatro novos laboratórios: Biologia Molecular, Análise de Resíduos de Agrotóxicos, Mi-crobiologia de Alimentos e Eco-logia Química.

A EBDA possui dois laboratórios, de Abelhas e o de Classificação

de Produtos de Origem Vegetal, que já estão no caminho para a creditação, para o ISO IEC 17.025, que é uma norma de padrão de qualidade para laboratórios de análises químicas.

A Central de Laboratórios da Agropecuária recebe amostras para análise. Os interessados nos serviços devem dirigir-se à Recep-ção de Amostras da unidade, situ-

ada à Avenida Ademar de Barros, nº 967, em Ondina/Salvador, das 7h30 às 18h, de segunda a sexta--feira. Vejam o quadro abaixo.

.......................................................Assessoria de Imprensa

Assimp [email protected]

(71) 3116-1907

LABORATÓRIOS CONTATOS – Salvador (71)

Laboratório de Abelhas 3103-6912

Laboratório de Botânica 3103-6920

Laboratório de Classificação Vegetal 3103-6909/6910

Laboratório de Entomologia 3103-6926

Laboratório de Fitopatologia 3103-6923/6924

Laboratório de Nutrição Animal 3103-6914

Laboratório de Solos 3103-6916/6917

Laboratório de Toxicologia 3103-6915/6913

Laboratório de Cultura de Tecidos 3103-6921

Laboratório de Virologia 3116-8452

Laboratório de Sementes 3103-6907/6908

Laboratório de Parasitologia 3116-8432

Laboratório de bacteriologia 3103-6911

Central 3235-2517

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Publicações produzidas pela SEAGRI,

no período 2010-2012, disponíveis na

Biblioteca para distribuição.

Mais informações:

(71) 3115-2783; [email protected]

Plano Safra da Agricultura e Pecuária da Bahia 2012/2013

O Governo do Estado, através da SEAGRI, lançou, em 2012, o Plano Safra da Agricultura e Pecuária da Bahia 2012/2013, cujo objetivo é apoiar os produtores rurais com prioridade para os agricultores familiares. O Plano articula, reúne e integra importantes instrumentos da política agrí-cola, a exemplo do Crédito Rural, Garantia Safra, Progra-ma de Aquisição de Alimentos – PAA, Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, entre outros. Este ano, em que a Bahia atravessa um dos mais severos períodos de es-tiagem da sua história, o Plano contempla, também, um elenco de ações, algumas emergenciais e outras estru-turantes, que objetivam atenuar os efeitos da seca nos municípios que já decretaram situação de emergência.

Saiba Mais sobre a SEAGRI

Informações sobre a SEAGRI e os orgãos vinculados, descrevendo as ações pertinen-tes e os contatos de quem planeja e quem executa as diversas atividades da Secretaria

DIVULGAÇÃO SEAGRI

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SEAGRI Projetos 2012/2013

A SEAGRI divulga esse portfólio de projetos, reunindo propostas relacionadas a investimentos que visam elevar a geração de em-prego e renda e a melhoria da qualidade de vida da população do Estado. Este leque de projetos possibilitará o incremento de par-cerias, principalmente por atração de investimentos de emendas parlamentares e contribuirá na

alocação dos recursos públicos em consonância com as reais necessidades dos municípios: centros de comercialização de animais, matadouros frigoríficos, unidades de beneficiamento de carne, leite, mel e pescados, vi-veiros telados, kits de irrigação, piscicultura em tanques de rede, regularização fundiária, quintais agroflorestais, dentre outros.

Plano Safra daAgricultura

Familiar da Bahia 2012/2013

Guia para acesso às linhas de crédito do PRONAF e renegociação de dívidas. Um instrumento de orien-tação para os agricultores familiares da Bahia.

AGRONEWS

Boletim eletrônico produzido pela equipe do Site Seagri, que divulga informações sobre as ações da Secretaria e

seus órgãos vinculados, regis-trando as políticas geradas e as oportunidades oferecidas pelo Estado para a agropecu-ária baiana. Distribuído quin-zenalmente para um banco de clientes (390.000 e-mails), o informativo tem permitido que vários segmentos conheçam de perto o que a SEAGRI faz. Os interessados podem se cadas-trar para recebimento no Site Seagri (www.seagri.ba.gov.br) ou solicitar inclusão via e-mail ([email protected]).

BAHIA,Terra das Oportunidades

Folder que divulga indicações de negócios e investimentos na área agrícola, apresentando uma com-binação de vantagens e oportu-nidades para diversos produtos agropecuários da Bahia. Esse es-pecificamente trata da cadeia pro-dutiva da caprino-ovinocultura no Estado, com alternativas agroin-dustriais para carne e leite, e das vantagens para implantação de parque industrial para produção de vinhos finos, espumantes e sucos.

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A Seção CARTAS destaca alguns registros e depoimentos recebidos pela Editoria da Revista Bahia Agrícola no período 2011-2012.

À equipe responsável pela valo-rosa revista “Bahia Agrícola”, de conteúdo técnico-agronômico dos melhores que se publicam no Bra-sil, meus cumprimentos e o agrade-cimento pelo privilégio de continuar recebendo tão importante mensa-geiro das ciências agronômicas. Hildegardo R. Nogueira, Engenheiro Agrônomo, Salvador-BA.

.....................................................xDesejamos aos colaboradores, editores da Bahia Agrícola, que as dificuldades sejam supe-radas, e que em 2013, possa-mos encampar novos projetos de promoção do agronegócio baiano. Suely Brito, Engenheira Agrônoma, Salvador-BA.

.....................................................xA ANDAV, como representante dos distribuidores de insumos agrícolas, está em festa junta-mente com a Revista Bahia Agrí-cola, pelos seus 15 anos. Este é o reconhecimento por proporcionar a nós leitores artigos de grande relevância. Parabéns a toda equi-pe, por esses 15 anos de suces-so. Henrique Mazotini e Equipe ANDAV, Campinas-SP.

Realmente, além de muito bonita a publicação, os artigos têm um cunho de ciência aliado a uma grande praticidade. Parabéns! Maria Zélia Alencar de Oliveira, Engenheira Agrônoma, EBDA, Salvador – BA.

.....................................................xFico feliz em saber que essa utí-lissima Revista voltou a circular. Orlando Sampaio Passos Pesqui-sador Sênior Citros Embrapa Man-dioca e Fruticultura Tropical, Cruz das Almas – BA.

.....................................................xTomando conhecimento da pu-blicação dessa revista, e tendo oportunidade de ler artigos de ex-celente nível técnico e impressão de ótima qualidade, venho solicitar dessa coordenação incluir-me no cadastro de recebedores desta publicação. Havendo possibilida-de, gostaria de receber a publica-ção de novembro 2011, e se pos-sível números anteriores. Carlos Augusto de Castro, Salvador – BA.

.....................................................xProsperidade e sucesso, sem-pre! Parabéns pelo trabalho e

por compartilhar. Sheila Viegas, SECTI, Salvador – BA.

.....................................................xParabéns por mais este passo para a consolidação da Bahia Agrícola. José Fernandes de Melo Filho, UFRB, Cruz das Almas – BA.

.....................................................xSou Professor da UFRB e sempre publico neste veículo. Gostaria de continuar recebendo exemplares. Clóvis Pereira Peixoto, UFRB, Cruz das Almas – BA.

.....................................................xParabéns e parabéns. Sei que a chama dessa Revista não vai se apagar! João Aurélio Soares Via-na, Engenheiro Agrônomo, EBDA, Salvador – BA.

.....................................................x

Cartas para Redação

Revista Bahia AgrícolaSEAGRI – 4ª Av. 405, Térreo – CABSalvador – BA – CEP 41.745-002(71) 3115-2783 / [email protected]

CARTAS

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