avaliaÇÃo psicolÓgica no contexto jurÍdico: …

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CAMILA BESSA SILVA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: Compreensão do processo de avaliação psicológica realizada no contexto dos processos jurídicos acompanhados pela Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas - VEPEMA. Pesquisa apresentada à disciplina TCC II em Psicologia da Universidade Católica de Brasília sob a orientação da Prof. Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira. Taguatinga 2013

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Page 1: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

CAMILA BESSA SILVA

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO:

Compreensão do processo de avaliação psicológica realizada no contexto dos processos

jurídicos acompanhados pela Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas -

VEPEMA.

Pesquisa apresentada à disciplina TCC II em Psicologia da Universidade Católica de Brasília sob a orientação da Prof. Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira.

Taguatinga

2013

Page 2: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

LISTA DE SIGLAS

UCB - Universidade Católica de Brasília

TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

VEPEMA - Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas

IML - Instituto Médico Legal

PCDF - Polícia Civil do Distrito Federal

Page 3: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................6

2. REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................................9

2.1 Avaliação psicológica e sua importância: Histórico Geral.....................................9

2.2 Psicologia Jurídica: Demandas do Direito para com a Psicologia........................14

2.3 Avaliação psicológica no contexto jurídico..........................................................17

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS..............................................................................28

3.1 Participantes..........................................................................................................28

3.2 Instrumentos..........................................................................................................28

3.3 Procedimentos de coleta de dados.........................................................................29

3.4 Procedimentos para análise de dados....................................................................30

3.5 Procedimentos para análise dos resultados...........................................................31

4. ANÁLISE DE DADOS...............................................................................................33

4.1 Visita exploratória na Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas –

VEPEMA.............................................................................................................................32

4.2 Visita e entrevista semi-estruturada no Instituto Médico Legal - IML..................35

4.3 Análise de conteúdo do material coletado nas entrevistas......................................37

5. DISCUSSÃO...............................................................................................................46

REFERÊNCIAS...................................................................................................................53

APÊNDICE..........................................................................................................................58

Page 4: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Resumo:

A Psicologia Jurídica é uma área recente e são desencadeados vários questionamentos sobre a compreensão da avaliação psicológica, sua realização e seus aspectos abordados neste aspecto específico. Com isso, propõe-se estudar a avaliação psicológica no contexto jurídico, em especial aplicada ao recurso legal das penas e medidas alternativas. O presente trabalho tem como objetivo compreender os processos envolvidos na utilização da avaliação psicológica, buscando e analisando o entendimento dos profissionais da psicologia comprometidos com a prática da avaliação psicológica dentro do contexto jurídico. Dessa forma, torna-se necessário perceber e compreender se os profissionais que realizam a avaliação psicológica no contexto da aplicação das penas e medidas alternativas percebem as suas particularidades e diferenças em relação à prática da testagem psicológica. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo com o objetivo de investigar e compreender como profissionais da psicologia que atuam no contexto jurídico, em especial com a temática das penas e medidas alternativas, utilizam a prática da avaliação psicológica aplicada na sua rotina profissional. Como participantes da pesquisa estão atores de alguns seguimentos do contexto jurídico da cidade de Brasília como o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), em particular da Vara de Execução das Penas e Medidas Alternativas (VEPEMA) e do Instituto Médico Legal (IML), órgão vinculado ao poder executivo da Segurança Pública. Os resultados da pesquisa informam que não há percepções pertinentes quanto ao conhecimento e valorização do que venha a ser a avaliação psicológica para os atuantes do contexto jurídico, objeto desta análise. Observou-se, a partir dos resultados alcançados, um desconhecimento por parte destes profissionais, que deveriam estar familiarizados e atualizados quanto ao assunto. Esse despreparo ou ausência de profissional especializado em avaliação psicológica é um dado gerador de preocupação e atenção, considerando a necessária cautela quanto à aplicação da avaliação psicológica no contexto jurídico.

Palavras-chave: Psicologia Jurídica. Avaliação Psicológica. Testagem psicológica. Penas e Medidas Alternativas.

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Abstract:

The Juridical psychology is a new area and it is raised many questions about

understanding the psychological evaluation, the implementation and the topics covered in

this particular aspect. Therefore, it is proposed to study the psychological assessment in

the legal context, particularly applied to the legal recourse of alternative penalties

and alternative measures. This study aims to understand the processes involved in the use

of psychological evaluation, searching and analyzing the understanding of psychology

professionals committed with the practice of the psychological evaluation within the legal

context. Thus, it is necessary to realize and understand if the professionals who perform

the psychological evaluation in the context of the application of penalties and alternative

measures realize their particularities and differences in relation to the practice of

psychological testing. To this end, a field research was conducted in order to investigate

and understand how psychology professionals who work in the legal context, in particular

with the theme of alternative penalties and alternative measures, utilize the practice of the

psychological evaluation applied in their work routine. The participants of the

research have connections with some segments of the legal context of Brasília as the Court

of Justice of the Federal District and Territories (TJDFT), in particular the Court of

Execution of Penalties and Alternative Measures (VEPEMA) and the Legal Medical

Institute (IML), an organization linked to the executive branch of the Public Security. The

research results report that there are no relevant perceptions of the knowledge and

appreciation of what might be the psychological evaluation for people who work in the

legal environment that’s the object of this analysis. It was observed from the achieved

results, a lack of knowledge by part of these professionals, who should be familiar and

updated on the subject. This unpreparedness or lack of professional specializing in

psychological evaluation is an information that generates preoccupation and attention,

considering the necessary caution regarding the application of the psychological evaluation

in the legal context.

Keywords: Judicial Psychology, Psychological Evaluations, Psychological Testing,

Alternative Penalties and Alternative Measures.

Page 6: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

A avaliação psicológica é um tema que desencadeia inúmeros questionamentos que

perpassam desde a sua forma de compreensão, realização, até aspectos teóricos e técnicos

que devem ser abordados. Na expectativa de elucidá-la, o presente trabalho propôs-se a

estudar, especificadamente, o recorte da aplicação da “Avaliação Psicológica no contexto

jurídico”, em especial no que tange a sua utilização nos processos acompanhados na

VEPEMA. Para que, dessa forma, possamos compreender se os profissionais que realizam

a avaliação psicológica no contexto jurídico percebem a diferença entre avaliação

psicológica e testagem psicológica. Cabe então perguntar: Os profissionais que realizam a

avaliação psicológica na VEPEMA percebem esta diferença? É de suma importância a

percepção destes profissionais sobre essa diferença, pois presume-se ser necessário deter

conhecimentos teóricos e entender procedimentos e técnicas psicológicas suficientes para a

aplicação da avaliação psicológica. Portanto, na prática do contexto jurídico torna-se

relevante tal ação, porque é preciso organizar conhecimentos que digam respeito à vida

biológica, intrapsíquica e social do sujeito, o qual será alvo do processo de avaliação,

referindo-se a um determinado momento de sua vida e a busca por sua integração em

relação ao avaliado-psicólogo, além dos papéis familiares, sociais, valores e expectativas

presentes.

É preciso compreender que a avaliação psicológica não se resume apenas a um

processo utilizado na área clínica em que muitos psicólogos utilizam-na como um método

de investigação de aspectos psicológicos como, por exemplo, linguagem, raciocínio,

percepção e pensamento. Tais aspectos podem ser avaliados por meio de entrevistas,

observação e testes psicológicos, com o objetivo de orientar uma intervenção adequada. E

o psicólogo é o único profissional habilitado por lei para exercer esta função. (CFP, 2003)

A avaliação psicológica, entretanto, surgiu quando a sociedade disciplinar encontrou

na Psicologia Aplicada uma aliada na classificação dos indivíduos a partir do estudo das

diferenças individuais. Ou seja, seria mais um auxiliar no processo de conhecimento do

objeto de estudo e também do aperfeiçoamento da qualidade dos próprios instrumentos

para a obtenção de medidas (CALEJON e BEATÓN, 2002 apud SHINE, 2005).

A avaliação e a descrição da realidade psicológica de um paciente, no contexto

jurídico, fornecem ao psicólogo um conjunto de informações passíveis de interpretação e

que possibilitem ao profissional envolvido selecionar e, sobretudo, transmitir e devolver

suas conclusões a respeito das informações obtidas. Esta responsabilidade traz consigo

uma série de considerações éticas que visam não somente a imparcialidade do processo em

si, mas principalmente a humanização deste, tendo como foco, em última instância, a

preservação da integridade do sujeito avaliado. (CFP, 002/03)

Page 7: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Partindo deste princípio, muitas questões vêm à tona, como a influência do

diagnóstico no contexto social do avaliado; o posicionamento do psicólogo em relação à

avaliação; além do sigilo profissional na confecção de laudos e de várias outras atividades

que cercam a responsabilidade ética na avaliação psicológica (CFP, 002/03). Diante destes

princípios, casos responsáveis pelo acompanhamento das Penas e Medidas Alternativas em

todo o Distrito Federal são algumas das situações avaliadas na esfera jurídica, mais

precisamente pela VEPEMA. Esses casos retratam algumas das possibilidades em que a

avaliação psicológica pode ser utilizada, de forma a subsidiar solução e/ou decisão judicial

mais adequada (CFP, 2003).

O psicólogo deve ter consciência da influência que um diagnóstico pode trazer para

a realidade do avaliado. Os resultados que advém do contexto da avaliação psicológica

referem-se à importância que estes podem adquirir na vida do sujeito e na sua

subjetividade, ao qual são aspectos relevantes e que necessitam de cautela tanto na forma

de ser elaborado quanto na forma de ser apresentado. Assim, como forma de prezar pela

qualidade do diagnóstico é que críticas sobre a qualificação necessária para sua realização

são pontuadas.

O presente trabalho tem por objetivo principal compreender o processo da

avaliação psicológica realizada no TJDFT na Vara de Execução das Penas e Medidas

Alternativas (VEPEMA). Essa pesquisa apresenta como objetivos específicos: a) conhecer

as etapas do processo de avaliação a partir das demandas da VEPEMA; b) conhecer os

instrumentos utilizados nas avaliações psicológicas do TJDFT, na Vara de Execuções das

Penas e Medidas Alternativas (VEPEMA); c) compreender se os profissionais que

realizam a avaliação psicológica no contexto da VEPEMA percebem a diferença

conceitual entre avaliação psicológica e testagem psicológica; d) investigar a formação

profissional do psicólogo lotado na VEPEMA; e) investigar o tempo de prática

profissional nas atividades de avaliação psicológica; f) compreender a atuação do

psicólogo jurídico que faz uso da avaliação psicológica.

Frente aos objetivos expostos, espera-se que esta pesquisa contribua para uma

reflexão crítica acerca da qualificação necessária para a realização das avaliações

psicológicas no contexto jurídico, bem como para o enriquecimento teórico dos

realizadores. Além disso, que esta avaliação psicológica possa ser percebida pelos

psicólogos e demais realizadores como um processo amplo, crítico e contextualizado que

valoriza o sujeito em sua integralidade, não ficando limitada à aplicação de testes

psicológicos. Nessa perspectiva, podemos compreender, por exemplo, que a realização de

uma entrevista psicológica contextualizada já pode ser reconhecida como uma forma de

avaliação psicológica.

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A avaliação psicológica é um tema que desencadeia inúmeros questionamentos que

perpassam desde a sua compreensão e conceituação até aspectos técnicos de sua

operacionalização. Na expectativa de elucidá-los, propomos estudar especificadamente a

“Avaliação Psicológica no contexto jurídico”. Para que, dessa forma, possamos

compreender se os profissionais que realizam a avaliação psicológica no âmbito jurídico

percebem a diferença entre avaliação psicológica e testagem psicológica. Pois, o que

hipoteticamente se imagina acontecer é o equívoco de quem a realiza.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Avaliação psicológica e sua importância: Histórico Geral

A avaliação psicológica pode ser compreendida como um processo técnico-

científico que visa coletar informações, de modo em que sejam realizados estudos e

interpretações acerca das informações a respeito dos fenômenos psicológicos. Estes se

apresentam como resultados da relação do indivíduo com a sociedade por meio da

utilização de estratégias psicológicas, métodos, técnicas e instrumentos (CFP, 002/03

apud NASCIMENTO, 2007).

Dentro desse processo denominado de avaliação psicológica existem os testes

psicológicos que servem como um instrumento que auxilia no processo de avaliação.

Segundo Nascimento (2007) “Os testes são utilizados quando precisamos de material

fidedigno, passível de reaplicação, que chegue a conclusões confiáveis em curto

espaço de tempo para tomarmos decisões.”

Entende-se que

os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de coleta de informações que municiam o processo amplo e complexo de avaliação psicológica, com dados úteis e confiáveis. Existem várias formas de se obter informações, tais como a observação direta, entrevistas, análise de documentos e a testagem, propriamente dita. Fica claro, então, que os testes psicológicos são uma das formas possíveis de se obter informações sobre as pessoas durante a Avaliação Psicológica (PRIMI, NASCIMENTO e SOUZA, 2004, p. 21 apud NASCIMENTO, 2007).

A avaliação psicológica, ante a sua definição e aplicação, é relevante no que tange a

possibilidade de conhecer o sujeito, de forma que se possa pensar e propiciar o melhor

modo de resolução daquilo a que se implicou na situação real do sujeito (PRIMI ,

NASCIMENTO e SOUZA, 2004, p. 21 apud NASCIMENTO, 2007). O psicólogo deve

reconhecer que sua função de elaborar um laudo pode ter influências sobre o sujeito e sua

vida, seja ela negativa ou positiva (PRIMI , NASCIMENTO e SOUZA, 2004, p. 21 apud

NASCIMENTO, 2007).

A realização da avaliação psicológica no contexto jurídico exige, por parte dos

psicólogos, adaptação de seus procedimentos metodológicos às especificidades de sua

atuação. Seu principal objetivo é o de prestar informações aos agentes jurídicos sobre

questões psicológicas de um sujeito em relação a uma determinada demanda judicial na

área cível ou criminal, servindo os dados para subsidiar intervenções do Estado na vida do

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sujeito avaliado. Também oferece a possibilidade de levar à realidade jurídica, através dos

autos processuais, uma compreensão mais ampla de saúde e de proteção de direitos, de

forma a incluir a subjetividade daqueles que são parte do processo judicial. Para garantir a

ética na realização do trabalho, é fundamental que se utilize uma metodologia adequada ao

contexto, na qual o profissional deve ter consciência das características de seu

relacionamento com o periciado e das especificidades de seu papel (ROVINSKI, 2006).

A partir da segunda metade da década de 1990, realiza-se o XIII Simpósio de Pesquisa

e Intercâmbio Científico em Psicologia, promovido pela Associação Nacional de Pesquisa

e Pós-Graduação em Psicologia (ANDEPP), no qual três grupos de trabalho de avaliação

(GTs) estiveram presentes. Esses grupos ilustraram em seus trabalhos e reflexões críticas a

complexidade que permeia a área de avaliação psicológica e a tentativa de ampliar seu

foco de interesse de forma a contemplar estudos relacionados à avaliação psicométrica, à

avaliação projetiva e à avaliação neuropsicológica. O objetivo do encontro foi estabelecer

e problematizar parcerias para o desenvolvimento de projetos de pesquisa no sentido de

ampliar o olhar técnico sobre a avaliação psicológica. No evento, estiveram presentes 70

pesquisadores, de 30 instituições de ensino superior, de 10 Estados brasileiros e de 4

Regiões do País, aproximadamente (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação

em Psicologia [ANPEPP], 2010).

Em 1998, o grupo de Pesquisa em avaliação psicológica passou a integrar as reuniões

da ANPEPP, quando o Simpósio, em sua 7ª edição, assumiu como forma de organização a

constituição de grupos de trabalho. E, em 2008, o grupo foi redistribuído em razão de seu

superdimensionamento e do crescimento expressivo de laboratórios e de linhas de pesquisa

relacionadas à temática da avaliação psicológica (ANPEPP, 2010).

Oriundas das discussões promovidas pelos pesquisadores da área, produções

importantes foram feitas, como os documentos considerados guidelines. Dentre eles, a

tradução autorizada das Diretrizes para Uso de Testes da Internacional Test Commission,

realizada pelo Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP e o manifesto

elaborado pelos membros do GT, Pesquisa em avaliação psicológica, em 2002.

Pesquisadores elaboraram também um documento intitulado Em defesa da Avaliação

Psicológica, onde sugeriam conteúdos que deveriam fazer parte dos currículos de

formação do psicólogo brasileiro na área de avaliação psicológica (AP). Por intermédio do

IBAP, também colaboraram com o Conselho Federal de Psicologia (CFP) à implantação

do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI), em 2003. Aliado a isso, a

revista Avaliação Psicológica foi criada em 2002, sob a editoração do prof. Claudio Hutz,

revelando o crescente interesse de pesquisadores pela prática da avaliação (NORONHA e

REPPOLD, 2010).

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O IBAP e a Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos – ASBRo,

fundados em 1997 e 1993, respectivamente, tiveram como finalidade promover o

desenvolvimento da área e, com isso, passar a representar a avaliação psicológica em

órgãos e instituições de interesse do psicólogo. Isso comprova que há décadas a avaliação

também se organiza como associação científica e elemento ativo nos movimentos políticos

da Psicologia brasileira (NORONHA e REPPOLD, 2010).

A quantidade de testes psicológicos comercializados na atualidade é outro dado que

reflete o desenvolvimento da área, o que representa um progresso pra Avaliação

Psicológica e traz repercussões para diversas outras áreas da Psicologia. Ainda, há uma

preocupação metodológica relacionada à padronização e à busca de evidências de validade

dos instrumentos utilizados em pesquisa, fomentada desde a década de 60. Assim, técnicas

validadas são consideradas um tipo de estratégia para eliminar o aspecto subjetivo que as

entrevistas traziam às avaliações (NORONHA e REPPOLD, 2010).

Recentemente, tem-se observado uma série de publicações que apresentam revisões

sobre o estado da arte da avaliação psicológica e neuropsicológica, somando-se estudos de

revisão sobre o ensino e a formação em avaliação psicológica e a aplicação da avaliação

psicológica em diferentes contextos. Portanto, mesmo assim não se pode concluir que a

avaliação psicológica brasileira encontra-se em nível de excelência e pode ser comparada

igualmente à das grandes potências internacionais, mas pode-se afirmar que ela está

renascendo e ganhando maior visibilidade (NORONHA e REPPOLD, 2010).

A primeira metade do século XX revela que as experiências iniciais com avaliação

psicológica no País ocorreram em um momento histórico no qual a Psicologia em si era

ainda uma prática rudimentar. A área surgiu precocemente vinculada às demandas sociais

da época, criando expectativas de que o seu desenvolvimento seria promissor (NORONHA

e REPPOLD, 2010).

Até a criação dos primeiros centros e laboratórios de pesquisa em avaliação

psicológica, ainda não havia esforços e massa crítica suficientes para fornecer uma

formação apropriada. E o docente da área não recebia a devida atenção de seus pares, além

de impedir o avanço da avaliação de modo que poucas pesquisas foram realizadas e um

mínimo de instrumentos brasileiros foi construído. Conseqüentemente, grande número de

processos éticos relacionados à área e o notável (pré) conceito de alunos, docentes e

psicólogos em relação a ela começaram a surgir (ALCHIERI & BANDEIRA, 2002;

HUTZ & BANDEIRA, 2003; NORONHA ET. AL., 2002 apud NORONHA e REPPOLD,

2010).

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A falta de excelência está relacionada diretamente à incompetência profissional. O

treinamento superficial do uso de testes e de outros recursos acarreta uma visão

fragmentada do processo avaliativo. Geralmente, o pouco conteúdo abordado com o futuro

psicólogo é permeado de um automatismo acrítico e, isso tem a ver com a administração e

a avaliação de determinadas técnicas nos cursos de graduação. Dessa forma, conclui-se

que os psicólogos brasileiros não têm sido formados para construir ou pesquisar materiais

destinados à avaliação psicológica (NORONHA e REPPOLD, 2010).

Atualmente, com base em documentos internacionais, Noronha ET. AL. (2010),

recomenda tópicos importantes no processo de aprendizagem da formação em avaliação

psicológica, como o conteúdo, a infraestrutura e métodos de ensino. Com relação aos

avanços da área de avaliação psicológica, que poderiam ser inclusos nos programas das

disciplinas, estão a avaliação informatizada ou a validade clínica dos instrumentos

psicológicos, juntamente com a reflexão dos alunos de como agir diante de situações que

envolvam aspectos éticos relacionadas à avaliação psicológica, a partir de situações

ilustrativas (NORONHA e REPPOLD, 2010).

Um estudo realizado por Frizzo, em 2004, revela que as infrações éticas mais comuns

praticadas pelos psicólogos inscritos no CRP, no período de 1994 a 2003, envolvem as

falhas quanto ao uso dos testes aplicados e à elaboração dos relatórios psicológicos

(NORONHA e REPPOLD, 2010).

A partir dos dados apresentados, se evidencia que a formação profissional é um

elemento crucial da Psicologia, em especial, para o profissional envolvido com a prática da

avaliação psicológica. É necessário considerar que a compreensão libera a avaliação da

responsabilidade total pelas atuações profissionais inconsistentes, fazendo-nos refletir

sobre o que se deseja do psicólogo brasileiro no presente século (NORONHA e

REPPOLD, 2010).

De acordo com um panorama das investigações científicas brasileiras acerca da

adaptação de instrumentos de avaliação psicológica, percebe-se que há uma variedade de

procedimentos empregados para a adaptação de instrumentos de avaliação psicológica no

contexto brasileiro. Também se observa algumas diferenças quanto à utilização de termos

referentes à taxonomia psicométrica. Portanto, pretende-se oferecer elementos para a

reflexão de profissionais e pesquisadores no que diz respeito à adaptação de instrumentos

de avaliação psicológica no Brasil (MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011).

No âmbito da pesquisa científica atual, a adaptação de instrumentos de avaliação

psicológica tem sido uma iniciativa importante para o desenvolvimento da ciência e da

prática psicológica. Hoje existem evidências que afirmam a necessidade de versões

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multilíngües de instrumentos, além do aumento do número de pesquisas multiculturais e

multinacionais (BEATON & cols., 2002; HAMBLETON, 2005 apud MANZI-OLIVEIRA

e cols., 2011). Soma-se a isso a existência de vantagens para a adaptação de testes em

detrimento da construção de novos instrumentos, garantindo com isso uma economia de

tempo e de recursos financeiros, além da possibilidade de comparação de estudos entre

grupos de diversas culturas e linguagens, e o alcance da eqüidade de avaliação entre os

escores, em termos de métodos e de comparação (HAMBLETON, 2005 apud MANZI-

OLIVEIRA e cols., 2011).

A International Test Comission (ITC) criou diretrizes para o uso correto da

comercialização de instrumentos de avaliação psicológica, buscando encorajar melhores

práticas ao processo. As chamadas Diretrizes para o uso de testes (ITC, 2003) foram

elaboradas a partir de espaços criados que buscam conciliar diferentes práticas

internacionais com o objetivo de promover a prática adequada na adaptação de

instrumentos de avaliação psicológica em diferentes contextos culturais (MANZI-

OLIVEIRA e cols., 2011).

Na direção em que as diretrizes são propostas e tendo como um de seus documentos de

referência o material produzido pela ITC, a Resolução 02/2003 do Conselho Federal de

Psicologia (CFP) (2003) salienta que os requisitos mínimos para instrumentos de avaliação

psicológica construídos no Brasil se aplicam, também, àqueles advindos do exterior.

É sabido que, no Brasil, a maior parte dos instrumentos utilizados é originária de outras

culturas, seja de pesquisa em psicologia ou na área clínica. (CASSEPP-BORGES,

BALBINOTTI & TEODORO, 2010 apud MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011). Isso

significa que os instrumentos psicológicos advindos de outras culturas devem passar por

procedimentos científicos e técnicos que garantam maior qualidade em sua aplicação à

realidade brasileira (HAMBLETON, 2005; PEDROSO, 2004, citado por CASSEP-

BORGES, BALBINOTTI & TEODORO, 2010 apud MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011).

A recomendação do Conselho Federal de Psicologia em relação à escolha de um

instrumento a ser utilizado no processo de avaliação psicológica é de que se leve em

consideração a segurança em sua utilização, garantindo legitimidade e a cientificidade aos

dados obtidos (WERLANG, VILEMOR-AMARAL & NASCIMENTO, 2010 apud

MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011).

Relatos da literatura internacional, de forma geral, informam que a escolha do

instrumento psicológico a ser adaptado, a partir de suas características técnicas, é

justificada por boas qualidades psicométricas (bons índices de validade e de

fidedignidade), a forma de construção do instrumento, a facilidade ou a agilidade na

Page 14: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

aplicação e a capacidade de avaliar construtos específicos/significativos em determinados

grupos clínicos. Também são citadas a seleção de instrumentos de avaliação psicológica

como possibilitadoras de se aplicar em diferentes níveis de escolaridade, com base da

qualidade do material em relação aos demais, como sua aplicabilidade em determinada

população, além da sua grande utilização em práticas clínicas no contexto sócio-cultural

em que o mesmo foi desenvolvido (MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011).

No entanto, a prática de adaptação de instrumentos de avaliação psicológica no

contexto brasileiro ainda não contempla a totalidade de recomendações e esforços no

sentido de garantir o rigor teórico e metodológico no emprego de instrumentos de

avaliação psicológica na prática profissional, podendo causar um impacto negativo na

qualidade do trabalho do psicólogo (MANZI-OLIVEIRA e cols., 2011).

2.2 Psicologia Jurídica: Demandas do Direito para com a Psicologia

Psicologia Jurídica é uma das denominações da área da Psicologia que se relaciona

com o sistema de justiça. A Psicologia entendida como atrelada ao direito penal, derivada

Medicina Legal, sendo o ponto inicial do percurso da Psicologia Judiciária (SHINE, 2005,

p. 20-21).

A Psicologia Jurídica é uma especialidade da Psicologia que visa o estudo e

compreensão de comportamentos considerados complexos e que já ocorreram ou que estão

na iminência de ocorrer. Conforme Popolo (1996 apud FRANCA, 2004), esses

comportamentos devem ser de interesse do jurídico, em que este recorte delimita e

qualifica a ação da Psicologia como Jurídica. Ao termo jurídico estão sendo atribuídas

todas as atividades realizadas por psicólogos nos tribunais e fora dele, dando suporte ao

mundo do direito, reforçando, assim, a intersecção da Psicologia Jurídica com o Direito.

Dentre a vasta possibilidade de intervenção na área jurídica, o psicólogo por vezes atua

nas varas judiciais como um perito. Sendo que “Perícia” é um termo derivado do latim que

significa habilidade e destreza (PAPOLO, 1996 apud FRANCA, 2004). A perícia, por sua

vez, é realizada pelo perito nomeado pelo juiz ou através de técnicos particulares ou

agentes administrativos. No que diz respeito à sua área de competência, todo psicólogo é

um especialista. Quando ele é contratado por advogados ou pelas partes judiciais, ele se

tornará um perito parcial dentro da área jurídica, sendo então denominado de Assistente

Técnico (CFP, 2001). A metodologia para a realização da perícia varia para cada

profissional de acordo com a função exercida - perito ou assistente técnico - e com a

demanda que será investigada. Para a realização da perícia, os psicólogos tendem a utilizar

métodos de investigação como entrevistas, testes, protocolos, informação de familiares e

terceiros para a realização do processo da avaliação psicológica (CUNHA, 2000).

Page 15: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Popolo (1996 apud FRANCA, 2004) ressalta a importância para os profissionais, que

são peritos, de reconhecerem o limite de sua perícia, pois se trata de conhecimento

produzido a partir de um recorte específico da realidade. Neste contexto, torna-se

necessário verificar a confiabilidade e a validade dos instrumentos e do modelo teórico

utilizado, a fim de verificar se os mesmos respondem ao objetivo do procedimento.

Em virtude da implicação do conhecimento produzido, torna-se imperativa a

compreensão interdisciplinar do fenômeno estudado para melhor alcançá-lo em sua

complexidade. Portanto, o grande desafio para os psicólogos jurídicos, peritos, é produzir

conhecimento e informações levando em consideração os aspectos sócio-históricos, de

personalidade e biológicos que constituem o indivíduo. (POPOLO, 1996 apud FRANCA,

2004).

Segundo Franca (2004), o psicólogo jurídico pode atuar fazendo orientações e

acompanhamentos, contribuir para políticas preventivas, estudar os efeitos do jurídico

sobre a subjetividade do indivíduo, entre outras atividades e enfoques de atuação, como a

avaliação psicológica.

De acordo com Jesus (2001), a Psicologia Jurídica se constitui em um campo de

investigação psicológica especializado com a finalidade de estudar o comportamento

compreendido no âmbito do Direito, da justiça e da lei. As principais funções do psicólogo

jurídico, no exercício de suas atribuições são: assessoramento, avaliação e diagnóstico,

intervenção, formação e educação, campanhas de prevenção social contra a criminalidade

em meios de comunicação, pesquisa, vitimologia e mediação. O autor ressalta que a

Psicologia Jurídica deve restringir-se aos conteúdos psicológicos da norma, sem explicar

se ela é justa ou não e nem fazer argumentações sobre seus fins, pois cabe ao campo de

atuação do psicólogo proporcionar informações aos juristas, sendo imperativo ter

consciência dos limites da intervenção.

A Psicologia Jurídica enfoca também as determinações das práticas jurídicas sobre a

subjetividade, atuando não apenas para a descrição do comportamento do indivíduo, mas

também para explicá-lo de acordo com a necessidade jurídica. Assim, a Psicologia Jurídica

procura tão somente atender a demanda jurídica como uma psicologia aplicada, cujo

objetivo é contribuir para o melhor exercício do Direito numa dinâmica de atuação

auxiliar. Esse tipo de relação pode ser entendida muitas vezes como uma espécie de

subordinação entre a psicologia e a psiquiatria forense. Esta relação não verdade

caracteriza o saber psicológico como assessor e auxiliar ao serviço da psiquiatria e do

Direito. O psicólogo torna-se auxiliar do médico e contribui na elaboração do diagnóstico

clínico que perante a lei é de responsabilidade daquele profissional, e não do psicólogo

(POPOLO, 1996 apud FRANCA, 2004).

Page 16: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

De acordo com o nosso Código de Processo Civil (Lei 5.869 de 11/01/1973, Art. 139),

define o perito como um dos auxiliares da Justiça, pois sua prática poderá auxiliar o

processo decisório que é sempre do juiz. Assim não podemos restringir a prática do

psicólogo jurídico e, em especial, daquele que utiliza a prática da avaliação psicológica

para fins de perícia, como uma atividade subordinada à psiquiatria forense (BRASIL,

2013).

Cesca (2007) entende que a Psicologia Jurídica é bastante recente, já que a participação

do psicólogo nas questões judiciais começou em 1980, no Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo. Na época, um grupo de psicólogos orientava pessoas que eram encaminhadas

pelo Serviço Social, tendo como principal objetivo a reestruturação e manutenção de

questões familiares e da criança no lar. Posteriormente, o artigo 500 do CPC instituiu a

contratação do Psicólogo por um ano, a título precário, podendo ser recontratado após esse

período. E, em 1985, o presidente do Tribunal de Justiça apresentou à Assembléia

Legislativa Estadual um projeto criando o cargo de psicólogo judiciário, representando,

então, a consolidação do posto de psicólogo no sistema judiciário (PROCHNAU e cols.,

2007).

A organização e reconhecimento da prática da psicologia jurídica enquanto uma

especialidade pode ser “relativamente recente”, mas a demanda que perpassa a interface

Psicologia e Direito é bem antiga e muito sustentada na perspectiva da avaliação, em

especial de comportamentos criminosos e “desajustados” do ponto de vista social. As

bases da lei foram absorvendo contribuições dos diversos campos do saber, a partir da

complexidade com que foram constituídas as regras de convivência humana. Segundo

Brito (1999), a idéia de que todo o Direito ou parte dele está carregado de componentes

psicológicos justifica a colaboração da Psicologia com o propósito de obtenção de eficácia

jurídica. A função do profissional psicólogo consiste em interpretar a comunicação

inconsciente que ocorre na subjetividade do sujeito. Seu objetivo é destacar e analisar os

aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, que digam respeito a esta dinâmica

subjetiva, ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem-

estar de todos, a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor atenda às

necessidades desses indivíduos (CESCA, 2007 apud PROCHNAU e cols., 2007).

Os psicólogos que trabalham com questões jurídicas, deslocam-se mais para questões

que dizem respeito às leis fixas do que o olhar singular às questões trazidas por cada

sujeito (CESCA, 2007 apud PROCHNAU e cols., 2007). Uma das hipóteses para tal

afirmação seria pelo fato de trabalharem com situações que remetem a sentimentos

diversos e confusos, constantes frustrações, onde o profissional que não está preparado

Page 17: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

acaba se deixando levar por atravessamentos pessoais que o impedem de ter uma visão

clara da situação apresentada (CESCA, 2007 apud PROCHNAU e cols., 2007).

Cesca (2007, apud PROCHNAU e cols., 2007) afirma que faz-se necessário um novo

olhar para o entendimento desta prática judicial, já que os testes psicológicos e as leis

jurídicas não podem dar conta da complexidade e intensidade desta demanda, uma vez que

esta traz sentimentos que não podem ser mensurados unicamente pelo objetivo, ou seja,

pela mensuração e aplicação de normas. Portanto, é importante pontuar a importância e

contribuição das equipes multidisciplinares, nas quais cada profissional, com seu olhar

específico e qualificado, pode contribuir para o alcance de uma compreensão global da

prática integrada do fenômeno estudado (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2002 apud

PROCHNAU, 2007).

A Psicologia Jurídica como uma área emergente de conhecimento, de prática e de

pesquisa psicológica, é específica e especializada, porém, ainda carece de uma maior

produção e sistematização de conhecimentos no Brasil.

A formação dos profissionais para atuação nessa área deve incluir conhecimentos de

direito, assistência social, práticas interdisciplinares, além de oferecer uma sólida base em

Psicologia, considerando a especificidade da atuação em contexto institucional e jurídico

(BERNARDI, 2010).

Sendo assim, a distinção que se faz entre perícia e avaliação psicológica está no papel

atribuído a cada uma destas funções. O psicólogo judiciário usa sempre a avaliação

psicológica como primeiro e principal instrumento para analisar os vários e distintos casos

que chegam à Justiça. Os peritos são profissionais que assumem o compromisso de

imparcialidade na avaliação dos casos, comprometendo-se a apresentar um parecer técnico

psicológico sobre as questões formuladas pelo magistrado e de responder aos quesitos

formulados pelos advogados das partes e pelo ministério público (BERNARDI, [2004]).

2.3 Avaliação psicológica no contexto jurídico

A avaliação psicológica é um procedimento utilizado para diagnosticar uma situação

de conflito no âmbito judicial que pressupõe, por meio de um estudo, uma intervenção da

vítima, dos familiares e de outros indivíduos envolvidos no processo judicial neste

contexto (BERNARDI, [2004]).

As entrevistas e a utilização de técnicas de exame e investigação são fixadas de acordo

com a natureza e gravidade do caso. A elaboração do laudo e/ou relatório pericial, com a

apresentação de um parecer indicativo e/ou conclusivo sobre a matéria examinada é a

Page 18: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

maior diferenciação quanto à forma de documentar o trabalho psicológico no processo. O

laudo pericial encerra o trabalho do perito e também do assistente técnico nos autos e

oferece ao juiz elementos do ponto de vista psicológico para que ele possa decidir o

processo com novas bases de conhecimento além do Direito (BERNARDI, [2004]).

A avaliação psicológica faz, portanto, parte dos elementos que vão embasar uma

perícia que é assumida por um psicólogo judiciário por indicação do juiz. O perito é um

expert nomeado pelo magistrado para fazer um laudo e um parecer sobre o caso. No

parecer, o perito sugere, faz indicações e encaminhamentos. O laudo conclusivo, do ponto

de vista psicológico, leva em conta as avaliações realizadas, seus diagnósticos e indicações

que municiarão o magistrado na tomada de posição. O Conselho Federal de Psicologia

orienta a elaboração de documentos, resultados da prática da avaliação psicológica

mediante uma Resolução específica que norteia a atuação deste profissional, independente

do contexto no qual a avaliação acontece (CFP, 007/03).

Quando uma avaliação psicológica é realizada, ela deve ser traduzida em um

documento técnico que pode ser denominado no contexto jurídico de laudo pericial. Este

laudo tem como objetivo fornecer subsídios para auxiliar o juiz na decisão judicial

materializada na sentença (SHINE, 2005).

Shine (2005) entende que o psicólogo tem total liberdade, em sua prática pericial, à

escolha da técnica com a qual se deseja trabalhar. A metodologia é escolhida conforme a

preferência ou a orientação técnica do profissional. Dentre os testes mais freqüentemente

utilizados podemos citar: Rorschach, TAT, Teste das Pirâmides, Desenhos da Família e

Estórias do W. Trinca. O atendimento de um caso requer também o uso de outras técnicas

avaliativas, como a realização de entrevistas psicológicas e todos os elementos relevantes

que esta técnica utiliza para a compreensão das questões abordadas.

Para Tereza Mito (1998 apud SHINE, 2005), a avaliação psicológica “surgiu da

necessidade do profissional apegar-se a instrumentos ‘mais confiáveis’ do que a própria

percepção pessoal”. A partir daí, somam-se questões relativas à previsibilidade dos testes,

considerando que os mesmos não respondem a pergunta sobre quem/para quem está sendo

avaliado, objetivando apenas alcançar o quê se avalia. Desta forma, tais recursos são

utilizados para verificar e/ou revelar determinadas características, apresentando limitações,

porém no que tange à previsão de atitudes, comportamentos, condutas etc. Contudo, a

demanda judiciária pela perícia almeja a busca pela verdade científica para deixar nas

mãos do juiz a decisão, sendo que a intervenção do caso, sobre o ponto de vista psíquico,

caberá a outros profissionais, dentre eles, o psicólogo.

Page 19: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

O rito judiciário, utilizado para tratar o assunto em questão, de acordo com a natureza

dos processos, determina a forma de abordagem do caso pelo psicólogo. Assim, cabe a ele

selecionar e utilizar os recursos de sua especialidade a fim de dimensionar a problemática

psicológica dos envolvidos na situação social e jurídica em questão (BERNARDI, 2010).

Tal dimensionamento implica no estabelecimento de um programa de intervenção no

caso, com avaliação, acompanhamento, orientação e encaminhamento das pessoas

envolvidas. O compromisso do psicólogo é trabalhar todas as dimensões do caso com vista

à promoção e manutenção de uma política de garantia de direitos, fornecendo informações

ao magistrado para a decisão do processo judicial sem, no entanto, perder de vista os

demais atores envolvidos no processo avaliativo (BERNARDI, 2010). A intervenção

psicológica nos casos depende das relações estabelecidas com as políticas públicas e os

programas sociais, cujas características precisam ser conhecidas e contextualizadas pelo

profissional. Após a emissão do parecer psicológico sobre o caso, muitas vezes, é

necessário reavaliar situações que se transformam ao longo do processo judicial, até que o

caso seja encerrado com a emissão de um parecer interprofissional (social, psicológico e

do ministério público) ou uma sentença judicial final com conseqüente determinação para

o arquivamento do processo (BERNARDI, 2010).

Neste contexto, torna-se relevante a diferenciação dos conceitos de laudo e parecer, já

que esta distinção afeta sobremaneira a prática do psicólogo no espaço jurídico. Portanto, o

laudo é fornecido por um especialista no assunto, um perito, caracterizando-se pela

descrição objetiva dos fatos pelo especialista. O parecer é a conclusão dada por um

profissional especializado sobre o assunto em caráter consultivo, ou seja, é a opinião

subjetiva de outro profissional baseada no laudo psicológico, que fica a cargo do assistente

técnico (CFP, 2007).

Nesses casos, o relacionamento do psicólogo com as pessoas e as partes interessadas

no processo, implica numa avaliação psicológica como um processo de compreensão e de

intervenção, e também, no estabelecimento de recomendações terapêuticas e sociais

pertinentes a realidade dos implicados (BERNARDI, 2010).

Diferentemente dos casos verificatórios, há os contenciosos, cujas partes apresentam-

se numa relação judicial litigiosa em disputa por interesses contraditórios. Nesses

processos, as pessoas são representadas por advogados que provocam o Poder Judiciário

visando à resolução do conflito com o restabelecimento dos direitos da pessoa prejudicada.

A natureza contenciosa desses casos tem implicado numa atuação pontual e específica do

psicólogo, prevista e regulamentada pelo Código de Processo Civil como de perito

(BERNARDI, 2010).

Page 20: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

O saber psicológico adquire um poder decisivo para as questões judiciais, implicando

em compromissos sociais e políticos para com as pessoas atendidas e a construção da

cidadania (BERNARDI, 2010).

A elaboração das informações circunstanciadas sobre a demanda atendida costuma ser

a primeira comunicação do psicólogo nos processos verificatórios, caracterizada quando o

profissional realiza uma primeira abordagem do caso e propõe a necessidade de um estudo

psicológico na composição do mesmo. Tais documentos são decorrentes das entrevistas

iniciais com os requerentes do processo judicial e tem a função de demarcar a atuação da

psicologia no caso, anunciando como, com quem e quando o trabalho de avaliação

psicológica deverá ser realizado (BERNARDI, 2010).

O laudo psicológico pode ser útil aos profissionais de diversas áreas e é um

instrumento que ajuda na realização de encaminhamentos e/ou na tomada de decisão,

utilizado como forma de comunicar os resultados de um processo avaliativo. Tem valor

científico e descreve condições, situações psicológicas e suas multideterminações, que são

investigadas durante o processo de avaliação psicológica. Com a finalidade de relatar o

encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, de estabelecer o prognóstico e a evolução

do caso, também tem o intuito de orientar, sugerir e/ou solicitar uma proposta terapêutica

(CFP, 2003 apud CRISTO e SILVA & ALCHIERI, 2011). Portanto, é fundamental avaliar

a qualidade dos laudos para aprimoramento da atuação do psicólogo, e assim, identificar

através de levantamentos sistemáticos, quais são as falhas mais comuns cometidas pelos

mesmos.

A produção do laudo é considerada uma expressão da competência dos psicólogos. A

falta de zelo na guarda desses documentos e/ou de rigor em sua elaboração gera debates e

denúncias contra psicólogos (CRISTO e SILVA & ALCHIERI, 2011).

Um dos princípios éticos básicos do processo avaliativo é o de guardar os documentos

de avaliação psicológica em arquivos seguros e de acesso controlado, como recomenda o

Conselho Federal de Psicologia, estabelecendo um período mínimo de cinco anos para a

guarda de todos os materiais utilizados e dos documentos escritos em suas

fundamentações.

A partir do século XX, passaram-se a desenvolver novos aspectos de investigação,

tanto relacionados com avaliações clínicas ligadas às questões do direito na área cível

quanto aos procedimentos jurídicos inerentes ao processo judicial, como procedimentos

dos jurados ou avaliação de testemunhos (CUNHA, 2000).

Segundo Ibañeze Ávila (1990), a psicologia forense é a psicologia clínica ou

Page 21: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

experimental, orientada para a produção de investigações psicológicas e para a

comunicação de seus resultados, bem como a realização de avaliações e valorações

psicológicas para sua aplicação no contexto legal. Portanto, a apresentação das

evidências, o exame e a coleta de dados devem ser direcionados aos propósitos judiciais

(CUNHA, 2000).

A realização de uma avaliação psicológica, para fins de perícia junto à área jurídica,

parte de conhecimentos básicos da psicologia e indica a necessidade que se faça uma

adaptação de tais conhecimentos aplicados às normas legais (CUNHA, 2000).

O psicólogo que for atuar com este referencial teórico deve ser conhecedor tanto da

área psicológica que está investigando quanto do sistema jurídico em que vai operar.

Além de conhecer as jurisdições e instâncias com as quais se relaciona; a legislação

vigente associada ao seu objeto de estudo e as normas estabelecidas quanto à sua

atividade. Também deve se familiarizar com a terminologia da área jurídica, já que será

constantemente interrogado do ponto de vista legal, o que poderá acarretar dificuldades na

“tradução” dos questionamentos jurídicos e nos objetivos da perícia (CUNHA, 2000 apud

LÖSEL, 1992).

Para se compreender os distintos aspectos da avaliação forense, é importante ter uma

visão diferenciada do contexto do trabalho do psicólogo na área clínica e em sua atividade

junto ao sistema legal. Na área forense, os psicólogos tendem a utilizar os mesmos

métodos de investigação que são utilizados na clínica, como: entrevistas, testes,

protocolos e informações de familiares e terceiros. Porém, a natureza específica desta

avaliação os obriga a uma adaptação das informações às questões formuladas,

valorizando as estratégias de modo diferenciado para obtenção dos dados, de forma a

estabelecer uma maior confiabilidade dos mesmos (CUNHA, 2000).

De acordo com o seu escopo, a avaliação forense dirige-se a eventos definidos de

forma mais estreita ou a interações de natureza não-clínica, sempre relacionados a um

foco determinado pelo sistema legal. Aspectos clínicos (diagnóstico ou necessidade de

tratamento) ficam renegados a um segundo plano (CUNHA, 2000).

Em relação à perspectiva do cliente, o examinador forense deve preocupar-se com a

exatidão da informação, na medida em que sua avaliação deve responder sobre fatos que

extrapolam a subjetividade do examinando (CUNHA, 2000).

De acordo com a voluntariedade e autonomia, as pessoas que passam por uma

Page 22: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

avaliação forense o fazem por ordem de um juiz ou advogado. Desse modo, existe uma

maior possibilidade de encontrarmos clientes resistentes e não-cooperativos neste tipo de

avaliação (CUNHA, 2000).

Em relação aos riscos à validade, a distorção consciente e intencional é maior no

contexto forense em função da natureza coercitiva e da importância final de seus

trabalhos, onde os clientes são incentivados a distorcer a verdade que se estende a

terceiros chamados a informar dados sobre o cliente, como parentes, trabalhadores de

saúde mental, amigos (CUNHA, 2000).

De acordo com a dinâmica do relacionamento, o examinador ocupa um espaço mais

distante do cliente e necessita confrontá-lo com mais freqüência - checar as informações

ambíguas ou inconscientes. Portanto, lealdade dividida, limites da confidencialidade e

preocupação com a manipulação de informações determinam maior distanciamento

emocional entre o cliente e seu avaliador forense, na análise em questão: o psicólogo

jurídico (CUNHA, 2000).

Em relação ao tempo de avaliação forense e o setting, a dinâmica do contexto forense

e os limites dos recursos jurídicos impetrados podem reduzir as oportunidades para o

contato e a interação do psicólogo com o cliente. Essa redução de tempo repercute numa

coerção ao fechamento do caso e em uma diminuição da possibilidade de reconsiderar as

formulações feitas. Enfatiza-se, ao mesmo tempo, a precisão da conclusão quanto à

finalidade das disposições legais, uma vez que o resultado da avaliação torna-se parte dos

registros do caso jurídico (CUNHA, 2000).

De acordo com as competências legais da perícia psicológica na área forense, sempre

que questões de decisão judicial são colocadas, elas referem-se a capacidades individuais

físicas mentais e/ou sociais, relacionadas à vida passada, presente ou futura do sujeito,

com o objetivo de atribuir ou não ao sujeito um status de debilidade ou insuficiência,

percebido como comprometedor do bem-estar do indivíduo ou da sociedade (CUNHA,

2000 apud GRISSO, 1986).

Nesse contexto, a avaliação pericial tem como um dos objetivos estabelecer o

diagnóstico da situação do momento presente do indivíduo, caracterizando-se como um

exame psíquico para avaliação do estado mental atual, no qual é avaliada a existência de

alguma doença ou alteração psíquica do sujeito.

As decisões da área cível ou criminal se relacionam com a avaliação de competências

Page 23: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

legais. Cada competência legal refere-se a várias situações na vida dos acusados,

possuindo ou não um status legal, desenvolvimentista ou psiquiátrico específico. Um

modelo conceitual para avaliação pericial implicaria numa análise inicial da visão da lei

sobre a competência em questão, onde o modelo de avaliação escolhido deve refletir

sobre o indivíduo ou a situação em questão, tendo claro que a teoria psicológica escolhida

deve apoiar-se em evidências empíricas (CUNHA, 2000).

O trabalho do psicólogo como perito na área penal pode dar-se num período anterior à

definição da sentença, quando se verificará a responsabilidade penal ou imputabilidade do

acusado ou depois de promulgada a sentença, durante a fase de execução da pena através

do exame criminológico (CUNHA, 2000).

O exame para a verificação de responsabilidade penal é realizado por psiquiatras,

estando o psicólogo, na maioria das vezes, em uma posição auxiliar, municiado dos

recursos da testagem psicológica. Tem por objetivo verificar se o culpado de um delito o

cometeu em estado mental idôneo, ou seja, se, no momento da ação, possuía capacidade

para reconhecer o caráter injusto e ilegal de seu ato, além de dirigir sua ação de acordo

com esse entendimento. Este tipo de perícia permitirá ao juiz determinar se o sujeito da

ação deverá responder penalmente pela ação cometida, portanto, se será imputável ou

submetido a uma medida de segurança que lhe garanta um tratamento adequado. Caso

seja considerado imputável e, conseqüentemente, culpado da ação, receberá uma pena

definida quanto ao tempo e ao tipo de regime em que vai cumpri-la – aberto, semi-aberto,

fechado, conforme previsto no nosso Código Penal. Do contrário, se for considerado

inimputável, irá receber medida de segurança e deverá permanecer internado em um

Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico por tempo indeterminado, até que seja

averiguada a cessação de sua periculosidade, mediante a sujeição à nova perícia

psiquiátrica (CUNHA, 2000).

O artigo 26 do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 2.848 de 1940) define ser

“isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto

ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o

caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento”, o que

caracteriza a condição de inimputabilidade penal.

Segundo Sá (1997), dentre aqueles realizados durante a execução da pena, o exame

criminológico é o único considerado como de características verdadeiramente periciais.

Essa avaliação visa à investigação da dinâmica do ato criminoso, de suas “causas” e dos

fatores a ele associados. O foco seria o delito-delinqüente, com o objetivo de determinar

Page 24: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

uma maior ou menor probabilidade de reincidência. Para tanto, o psicólogo forense tem a

opção de moderar suas opiniões acerca das previsões sobre a reincidência buscando uma

ampla combinação de métodos de avaliação a fim de levantar hipóteses preditivas

(CUNHA, 2000).

O termo sanidade mental significa “mente saudável”. Para tanto, são necessários

profissionais habilitados e capacitados para avaliar se o indivíduo possui ou não alguma

alteração mental. Tais profissionais são os psiquiatras e psicólogos, os quais se dispõem a

utilizarem instrumentos capazes de analisar o grau de sanidade do sujeito e suas

condições psicológicas em geral. A realização deste tipo de avaliação também pode

contar com a colaboração de outros profissionais, tais como o assistente social, o

enfermeiro e, principalmente, o olhar especializado do psicólogo jurídico.

A avaliação da sanidade mental é um procedimento médico-pericial responsável por

examinar o funcionamento psíquico do sujeito, utilizando para isso recursos técnicos-

avaliativos como as entrevistas e, eventualmente, a aplicação de testes psicológicos. O

principal objetivo é verificar a presença ou não de adoecimento, disfunção ou deficiência

de cada uma das capacidades mentais. Em caso de alteração, busca-se estabelecer o

quanto isto repercute nas diferentes esferas da vida do avaliado e, em especial, na prática

do delito do qual o indivíduo é acusado formalmente.

A avaliação pericial psiquiátrica forense possui características especiais, as quais se

distinguem do exame psiquiátrico clínico, pois a preocupação do avaliador, perito,

assistente técnico não é assistencial para tratamento e sim para fins de esclarecimentos

judiciais, antes ou depois da indicação da sentença.

Na perícia, a avaliação psiquiátrica tem finalidade probatória, ou seja, de produção de

provas, o que a torna passível de grandes questionamentos pelas partes e pelos

profissionais do direito na medida em que observa-se o conflito entre os diferentes

interesses do juiz, promotor e dos advogados das partes.

O psicólogo que atua enquanto perito tem o trabalho diferenciado da função clínica,

pois seus relatórios e laudos ficam sujeitos a variados questionamentos e em diferentes

tempos, onde importantes modificações técnicas ocorrem na execução do trabalho

pericial. Este deve primar pela objetividade do processo avaliativo a partir do

reconhecimento da expertise do profissional sobre condutas de simulação e omissão por

parte do avaliando.

Page 25: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Assim, é possível compreender na história da avaliação psicológica a referência desta

como a principal demanda do Direito para a Psicologia. Esta espécie de “análise” do

comportamento criminoso confere uma nova visão para o crime, seja ele de maior ou

menor potencial ofensivo. As infrações são apuradas e analisadas a partir da avaliação e

descrição objetiva das principais funções psíquicas e do funcionamento geral do indivíduo

acusado de determinada prática delitiva. A partir desta avaliação, e dependendo do grau

de imputabilidade do indivíduo e do delito cometido, sua sentença poderá ser convertida

em penas e medidas alternativas.

A realidade penal brasileira tem sido alvo de duras críticas em função da precariedade

dos serviços de execução penal que definem o modelo atual de Sistema Penitenciário.

Nesta conjuntura de anseio por alternativas ao modelo prisional surge a política de

alternativas penais, no âmbito da Segurança Pública e da Justiça, como uma possibilidade

de promoção e garantia da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Esta política,

segundo o modelo proposto pelo Ministério da Justiça (BRASIL, 2011) dentre as

principais características da política de alternativas penais, tem-se que esta:

a) Deve atuar a partir do momento da existência da infração penal, mesmo que esta ainda não tenha ingressado no sistema de justiça criminal, quando deve funcionar para a reconstrução das relações sociais, além de prevenir a prática de novos crimes;

b) Deve buscar a reparação dos danos das vítimas ou comunidade envolvida, bem como a existência de mecanismos para garantir sua proteção;

c) A intervenção não privativa de liberdade deve promover a responsabilização do autor da infração penal com liberdade e manutenção do vínculo com a comunidade, com respeito à dignidade humana e às garantias individuais;

d) Deve incentivar maior participação da comunidade na administração do sistema de justiça criminal, para fortalecer os vínculos entre os cumpridores das medidas não privativas de liberdade e suas famílias e a sociedade. Essa participação complementa a ação da administração do sistema de justiça;

e) Deve fomentar mecanismos horizontalizados e autocompositivos, incentivando soluções participativas e ajustadas às realidades das partes envolvidas;

f) A política de alternativas penais deve ser utilizada de acordo com o princípio da intervenção mínima.

A partir da compreensão geral do escopo da política de alternativas penais brasileira é

possível o entendimento de que o procedimento para as penas alternativas se baseia na

hipótese de que a circunstância de aplicação, execução e fiscalização das penas restritivas

de direito é de natureza jurídico-legal, tendo clara sua vinculação com a reposta a um ato

delituoso. Assim, é possível a compreensão de que a referência da reintegração social

aplicada a este modelo penal está implantada em um conjunto maior da política criminal e

que resulta numa fiel prática de uma pena ou medida alternativa (GOMES, 2000).

As penas limitativas de direito, distintas como penas alternativas, são voltadas para

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pessoas consideradas não perigosas, com base no seu grau de culpabilidade, em seus

antecedentes, na sua conduta social e na sua personalidade (GOMES, 2000). A pena

alternativa tende, sem abandonar o caráter ilícito do fato, a dificultar, evitar, substituir ou

diminuir a aplicação da pena de prisão ou sua execução ou ainda, pelo menos, a sua

redução. Trata-se de uma medida punitiva de caráter educativo e socialmente útil, imposta

ao autor da infração penal, no lugar da pena privativa de liberdade. Assim, não separa o

indivíduo da sociedade, não o afasta do convívio social e dos seus familiares e não o

sujeita aos males do sistema penitenciário. Sua destinação penal é voltada para infratores

de baixo potencial ofensivo (GOMES, 2000).

Embora as penas restritivas de direito estivessem previstas no Código Penal desde

1984, foi com o advento da Lei 9099 de 26 de setembro de 95 e da Lei 9714 de 25 de

novembro de 1998, que a aplicação dessas penas alcançou índices significativos. Os tipos

de penas e medidas alternativas previstas no Artigo 43 do Código Penal, quando descreve

as penas restritivas de direito são:

- prestação pecuniária: pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, cestas básicas, etc;

- perda de bens e valores: pertencentes ao condenado em favor do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), ressalva da legislação especial, sendo bens móveis e imóveis; e valores, títulos, ações, e outros papéis que representem dinheiro;

- prestação de serviço à comunidade e/ou a entidades públicas: atribuição de tarefas gratuitas ao condenado;

- interdição temporária de direitos (proibição do exercício do cargo, proibição do exercício de profissão, proibição de freqüentar alguns lugares, suspensão da habilitação de dirigir veículos);

- limitação de fim de semana: cinco horas diárias aos sábados e domingos em casa de albergado, podendo ser ministrados cursos e palestras, bem como atividades educativas.

As condições necessárias para que o condenado ou o autor do fato tenha direito a uma

pena ou medida alternativa são: pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro)

anos; crime sem violência ou grave ameaça à pessoa; qualquer que seja a pena se o crime

for culposo, em razão de imprudência, negligência ou imperícia; não reincidência em

crime doloso, que se refere àquele com intenção de se atingir o resultado ou assumir o

risco de produzir o ato delitivo; verificação da culpabilidade, antecedentes, conduta social

e personalidade do condenado, bem como motivos e circunstâncias que indiquem a

substituição; artigo 76 e artigo 89 da Lei 9099/95, e seus parágrafos, se for o caso

(GOMES, 2000).

O entendimento da técnica de trabalho para as medidas de penas alternativas elucida

que o embasamento de defesa de qualquer prática jurídico-legal, que tende garantir a

reintegração do sujeito na sociedade, depende do tipo da relação formada entre o órgão da

Page 27: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

execução e da comunidade (GOMES, 2000).

Na visão técnico-operacional, o acompanhamento das penas e medidas alternativas é

o monitoramento da execução propriamente dita, como resultado do diálogo constituído

entre a dimensão jurídica e a dimensão técnica durante o processo de cumprimento de

uma pena ou medida (GOMES, 2000).

O psicólogo jurídico nos fóruns realiza trabalhos de avaliação psicológica, elaboração

de documentos, acompanhamento de casos, aconselhamento psicológico, orientação,

mediação, fiscalização de instituições e de programas de atendimento à infância e

adolescência e os respectivos encaminhamentos (BRITO, 2002 apud BERNARDI, 2010).

Três princípios regem o processo de monitoramento do trabalho de execução das

alternativas penais. São eles: interinstitucionalidade que refere-se ao modo como o sistema

de justiça interage entre si. Ela pode ser abrangida como a ação unificada do Estado, que

compreende as diferentes instâncias que compõem o sistema de justiça, incluindo o

Tribunal de Justiça, o Ministério Público, a Secretaria de Justiça, Secretaria de Segurança

Pública e a Defensoria Pública. O nível de pronunciação entre estas instituições desponta o

grau de sustentabilidade político- institucional das alternativas penais (GOMES, 2000).

A interdisciplinaridade refere-se à maneira como o discurso e a exercício do mundo

jurídico interatuam com o discurso e a prática do mundo dos fatos. Ela abrange a forma

como os peritos em conduta, em especial o psicólogo jurídico, interatuam como

operadores do Direito. O processo é também psicossocial (GOMES, 2000).

O tema das alternativas penais tem intenso caráter ideológico e aproxima o Direito do

mundo dos fatos. À realidade jurídica cabe o caráter objetivo e prescritivo e à realidade

social, a subjetividade das relações humanas e sociais (GOMES, 2000).

Segundo Gomes (2000), o acompanhamento das medidas de penas alternativas requer

uma análise permanente da relação dialógica entre a dimensão político-institucional e a

dimensão técnico-operacional do processo de execução das alternativas penais para

garantia da eficácia deste instituto penal. Todo programa deve ser constantemente

avaliado, pesquisado e, quando o caso, revisado.

Page 28: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi desenvolvida em Brasília-DF, no Fórum Júlio Fabbrini Mirabete,

do TJDFT, situado na Asa Sul. E, também, no Instituto Médico Legal (IML), que está

situado no complexo da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), situado no bairro

Sudoeste. O presente trabalho caracteriza-se como um estudo descritivo e exploratório. A

utilização do estudo exploratório deve-se ao fato de estudar o tema proposto

familiarizando-se com fenômenos relativamente desconhecidos que permeiam a temática.

A escolha pela utilização do estudo descritivo objetiva especificar as características do

fenômeno que será submetido à análise da coleta de informações. A finalidade do estudo

descritivo é descrever a realização da avaliação psicológica utilizada no TJDFT, na Vara

de Execuções das Penas e Medidas Alternativas e no Instituto Médico Legal a fim de

compreender as especificidades do fenômeno da avaliação psicológica aplicada ao

contexto jurídico e em especial às alternativas penais. A finalidade do estudo exploratório

visa à identificação e compreensão de como os profissionais psicólogos que atuam neste

contexto específico utilizam os recursos da avaliação psicológica e da testagem

psicológica, a partir das demandas legais e institucionais. A partir da escolha

metodológica, objetiva-se o alcance das informações relevantes com a utilização da técnica

de entrevista para o processo de levantamento de dados.

3.1 Participantes:

� 1 (um) psicólogo atuante na Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas –

VEPEMA/TJDFT;

� 1 (um) psicóloga atuante no Instituto Médico Legal – IML/PCDF.

3.2 Instrumentos:

Para o levantamento de dados da presente pesquisa foi construído e utilizado um

roteiro de entrevista semi-estruturada destinada à aplicação junto aos psicólogos que atuam

no contexto jurídico, conforme explicitado no item anterior desta metodologia. O roteiro

proposto procurou abordar o tema da avaliação psicológica contextualizada à prática

profissional dos sujeitos envolvendo questões específicas relativas à percepção da atuação

e função do psicólogo jurídico; sua forma de trabalho frente à demanda oriunda do Direito

quanto à prática da intervenção e avaliação psicológicas. Um dos objetivos da entrevista

era também alcançar no discurso dos sujeitos a percepção da diferença entre avaliação

psicológica e testagem psicológica e a reflexão pessoal dos mesmos acerca da importância

destes profissionais para a sociedade. Outro ponto relevante para análise se dá a partir do

Page 29: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

relato e da identificação da trajetória formativa e da experiência profissional de cada um

no contexto jurídico.

3.3 Procedimentos de coleta de dados:

A coleta de dados foi feita, primeiramente, através de uma visita exploratória para

mapeamento das atividades mediante a realização de uma entrevista aberta realizada com o

psicólogo da VEPEMA na ocasião da visita. Inicialmente, foi planejada apenas a visita

exploratória para fins de compreensão do funcionamento do serviço e possível sondagem e

agendamento posterior de outras visitas para a realização de entrevistas. Diante, porém, da

disponibilidade do profissional durante a visita e a indicação de limitações futuras quanto a

tempo para novas visitas e entrevistas, optou-se pela realização de uma entrevista aberta no

sentido de aproveitar a fala contextualizada do profissional acerca de sua prática

avaliativa. Registra-se que na época da visita não foi possível a adesão de nenhum outro

profissional do setor para a participação na presente pesquisa, o que reforçou a necessidade

de utilização dos dados coletados durante a visita exploratória.

A entrevista foi então conduzida pela pesquisadora que realizou perguntas baseadas

nos objetivos gerais e específicos da pesquisa sem, no entanto, a utilização de um roteiro

prévio. Este primeiro encontro teve por finalidade: investigar a organização e

funcionamento, em especial, das atividades do setor psicossocial junto a VEPEMA;

descrever o serviço prestado no setor psicossocial da VEPEMA; conhecer sua estrutura

física, compreender a dinâmica deste serviço e, a partir daí, identificar ou não a realização

das atividades de avaliação psicológica no setor psicossocial da VEPEMA. Como citado

anteriormente, a dinâmica de trabalho do setor e a falta de disponibilidade de tempo do

profissional em questão inviabilizou a realização de novas entrevistas para a continuidade

da coleta de dados. Cumpre registrar que essa limitação impactou na diferença de registro

das informações coletadas, na medida em que não foi possível a gravação das informações

coletadas.

Dadas as informações obtidas por meio desta entrevista e do relato feito pelo

profissional em questão de que a demanda pelas atividades de avaliação psicológica

identificada na VEPEMA seria direcionada aos profissionais do IML, tornou-se imperativo

o planejamento e organização de nova coleta de dados juntamente aos profissionais

envolvidos neste órgão. Nesse contexto, foi realizada então uma entrevista com uma

psicóloga do IML, a fim de se conhecer o processo da avaliação psicológica que atende a

demanda da VEPEMA, conforme registrado no Apêndice I (p.58) do presente trabalho.

Este encontro teve por objetivo: compreender o fluxo do processo das demandas da

Page 30: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

VEPEMA para o IML, no que tange à realização das avaliações psicológicas explorando

com isso as possíveis vinculações que o resultado deste trabalho tem com a VEPEMA. A

partir desta nova etapa de coleta de dados foi possível entender o funcionamento das

atividades gerais e específicas do IML e, por fim, compreender a dinâmica e complexidade

do fluxo (que envolve: a demanda, o retorno e o feedback) das atividades realizadas neste

contexto institucional de interface com o contexto jurídico. A entrevista foi então realizada

com uma das duas psicólogas atuantes no IML, a partir do agendamento e negociação

prévia do encontro conforme a indicação de disponibilidade da entrevistada. Registra-se

que à época da coleta de dados a outra psicóloga atuante na instituição encontrava-se de

férias, sendo então impossível acessá-la enquanto sujeito de pesquisa.

Diante da disponibilidade da profissional do IML, a coleta de dados foi realizada a

partir da utilização de uma entrevista semi-estruturada que contou com a elaboração prévia

de um roteiro a partir das informações já coletadas junto à VEPEMA e organizadas

conforme os objetivos da presente pesquisa. A finalidade da entrevista realizada com a

psicóloga do IML foi a de compreender como se dá o processo de avaliação psicológica no

espaço do IML a fim de averiguar a percepção deste profissional sobre a prática que o

mesmo realiza de forma objetiva e reflexiva.

Para o registro desta entrevista foi solicitada a autorização da gravação das respostas

de forma a facilitar o registro integral das informações e para a posterior análise de

conteúdo. De forma a respeitar e garantir os preceitos éticos que permeiam o trabalho de

pesquisa, foi solicitado aos entrevistados o consentimento prévio para participação

registrado num Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme

apresentado no Apêndice II (p. 59) do presente trabalho, o qual foi devidamente assinado

por todos os entrevistados.

3.4 Procedimentos para análise de dados:

A análise dos dados coletados foi estruturada a partir do método de análise de conteúdo

proposto por Minayo e Bardin (2004).

Bardin (2004) recomenda a análise de conteúdo, uma vez que esse método se presta ao

estudo das motivações, atitudes, valores, crenças, tendências e a compreensão das

ideologias que podem existir nos dispositivos legais, princípios e diretrizes de uma

sociedade. Para Minayo (2004), a expressão análise de conteúdo é mais comumente

empregada para o tratamento dos dados de uma pesquisa qualitativa. A análise de

conteúdo se refere a “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter

Page 31: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,

indicadores, quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens” (MINAYO 2004 pg.

199 apud Bardin: 1979, 42).

Para Bardin (2009), a análise de conteúdo, enquanto método, torna-se um conjunto de

técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de

descrição do conteúdo das mensagens.

Depois de realizadas as entrevistas com o psicólogo da VEPEMA e com a psicóloga do

IML, as mesmas tiveram seu registro organizado, foram então analisadas e,

posteriormente, categorizadas de forma a permitir a realização da análise de conteúdo. Este

procedimento de categorização funciona considerando a parte comum existente nos dados

coletados. Essa classificação dá-se por analogia ou semelhança, segundo os critérios

previamente estabelecidos no processo (BARDIN, 1979).

As categorias do presente estudo foram constituídas a partir de critérios léxicos, que

seria da ênfase nas palavras e seus sentidos (BARDIN, 1979).

Sendo assim, as categorias de análise definidas na presente pesquisa são: 1) atuantes

responsáveis pela elaboração da avaliação psicológica; 2) como é a realização do processo

da avaliação psicológica; 3) profissionais da área jurídica, profissionais de psicologia,

acadêmicos e a sociedade; 4) respaldo técnico e científico dos profissionais e preparação

profissional; 5) valorização e conhecimento do que seja avaliação psicológica para os

atores do contexto jurídico; 6) complexidade e importância da avaliação psicológica em

sua área de atuação.

A partir da análise de tais categorias, surgem discussões enriquecedoras sobre a

temática da avaliação psicológica no contexto jurídico sendo possível inclusive vislumbrar

a trajetória da avaliação psicológica de uma forma prática através das vivências destes

profissionais. Torna-se viável, também, conhecer as potencialidades da prática avaliativa

de forma a proporcionar uma abertura para a reflexão sobre esta temática no contexto das

penas e medidas alternativas, que é de grande relevância atual.

3.5 Procedimentos para a análise dos resultados:

A partir da escolha do espaço de realização da presente pesquisa – a Vara de

Execuções das Penas e Medidas Alternativas, justificada pelos desafios de um novo olhar

Page 32: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

ao campo penal e punitivo que esta temática agrega ao nosso contexto social e, em

especial, à prática do psicólogo jurídico, fez-se necessária a compreensão do campo

específico de atuação dos profissionais sujeitos da pesquisa. O critério de escolha para a

definição amostral deu-se pelo fato de que cada psicólogo neste campo específico opere

nesta área com uma atuação semelhante, no setor psicossocial, que seria a realização dos

levantamentos de todos os prestadores que estão em situação de descumprimento, ou que

finalizaram as suas penas, sendo possível, assim, indagar suas atribuições e seus

conhecimentos atuais da Psicologia, de forma a se compreender o trabalho dos

profissionais do TJDFT neste processo. Exemplos da atuação destes profissionais nesta

Instituição são: entrevista inicial com os sentenciados ou sursitários, encaminhamentos e

reencaminhamentos, atendimento psicossocial, registro em pasta individual, estudo de

caso, elaboração de relatórios e pareceres ao Juiz, monitoramento e acompanhamento do

cumprimento da pena.

Foi feito um primeiro contato com a Vara de Execução das Penas e Medidas

Alternativas (VEPEMA) no dia 13/09/2013, às 16h, com um psicólogo da Seção

Psicossocial, identificado no presente trabalho como P1, com o objetivo de se entender

como é a organização e funcionamento, em especial, das atividades de tal setor junto a

Vara.

Page 33: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

4. ANÁLISE DE DADOS

4.1 Visita exploratória na Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas –

VEPEMA

A Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas do Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e Territórios foi instalada no dia 1 de Setembro de 2008 (DF, 2013).

O trabalho técnico da Seção Psicossocial, juntamente com a equipe da VEPMA se

estrutura em quatro serviços: 1) Serviço Psicossocial de Orientação e Acompanhamento

das Organizações Parceiras da VEPEMA; 2) Serviço de Atenção Psicossocial à Saúde –

SAPS; 3) Grupo de Acolhimento e Orientação para o Cumprimento das Penas e Medidas

Alternativas; 4) Serviço Psicossocial de Orientação e Acompanhamento do Cumprimento

da Pena (DF, 2013).

As atividades desenvolvidas pelos psicólogos neste contexto institucional demandam a

realização do melhor encaminhamento possível ao caso, visando à promoção da saúde no

contexto jurídico e possibilitando aos sujeitos envolvidos com a Justiça o acesso aos

serviços de saúde que são indicados (DF, 2013).

De acordo com as informações fornecidas pelo profissional da VEPEMA, o serviço é

descrito e organizado como responsável pelo acompanhamento das Penas e Medidas

Alternativas em todo o Distrito Federal.

De acordo com a estrutura física, os profissionais envolvidos nas atividades ou a

equipe psicossocial é formada por assistentes sociais, pedagogo e psicólogos. A logística

do setor se dá, mais precisamente, por 7 (sete) psicólogos, 8 (oito) assistentes sociais,

estagiários (2 [dois] da Psicologia e 1 [um] da Assistência Social) e 1 (um) Advogada.

As medidas alternativas são substituições à pena de prisão que a lei autoriza ao Juiz

aplicar em determinadas situações, como quando o delito é considerado de menor

potencial ofensivo à sociedade e quando a pena privativa de liberdade aplicada não for

superior a 4 (quatro) anos.

As atividades desempenhadas pelos psicólogos do setor compreendem a assistência a

pessoas que cumprem a pena em regime fechado – que tem direito ao regime semi-aberto

– ou pessoas que possuem livramento condicional. Compete ao juiz a determinação da

sujeição dos indivíduos ao acompanhamento pelo setor psicossocial, podendo o mesmo

ainda solicitar encaminhamentos para atendimento especializado ou para a internação de

acordo com a necessidade de cada caso. De forma a atender tais encaminhamentos é que

Page 34: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

são acionadas as redes de apoio, institucional, e do próprio indivíduo, no âmbito do seu

processo penal.

O papel do psicólogo jurídico neste contexto é o de acolher o caso, compreendê-lo em

suas particularidades e, a partir daí, auxiliar o juiz no processo decisório da sentença que

irá indicar a pena do condenado, adaptando-a e adequando-a de acordo com a rotina do

sujeito.

As pessoas que cumprem a pena alternativa podem participar de serviços comunitários

ou pagar fianças/multas. Portanto, o juiz determina o comparecimento do sentenciado ao

setor Psicossocial para uma avaliação inicial e demais providências no sentido de dar

entrada no processo, encaminhar para serviços especializados ou para as redes de apoio

necessárias ao seu caso, em questão, para o efetivo cumprimento da sentença.

Para este processo é realizada pelos psicólogos do setor uma espécie de anamnese, ou

seja, entrevistas com os sujeitos apenados com o objetivo de analisar, compreender e

explorar o seu cotidiano, bem como seus recursos pessoais e sociais. No caso suspeito de

manifestação de um transtorno mental severo ou psicopatologias graves, compete ao

profissional da VEPEMA enviar ao IML todos os dados obtidos do sujeito e solicitar

àquele órgão a realização de uma avaliação de averiguação do estado de sanidade mental

do indivíduo. No contexto do IML serão então aplicados testes psicológicos, realizadas

entrevistas e outros tipos de avaliação, no sentido de pesquisa, e averiguar melhor o estado

mental do sujeito nos termos do processo legal. A compreensão desta interface de ações

conjugadas entre os diferentes órgãos: VEPEMA (TJDFT) e IML (PCDF) subsidiaram a

análise da presente pesquisa de como o processo de avaliação ganha configurações e

interpretações distintas nos dois contextos institucionais. Tais diferenças terão impacto

também na percepção dos respectivos psicólogos e de sua prática no contexto do Sistema

de Justiça.

É comum na realidade desses profissionais o contato com casos envolvendo abuso e

dependência de drogas lícitas/ilícitas, transtornos mentais e HIV/AIDS. Tais demandas

impactam na forma como o psicólogo jurídico exerce suas atividades no âmbito da

VEPEMA, sendo necessário muitas vezes a distribuição dos casos de acordo com a

temática e com a necessidade de auxílio aos juízes nos respectivos processos jurídicos.

Boa parte destes casos é acompanhada pelos profissionais da equipe do Serviço de

Atenção Psicossocial à Saúde – SAPS. Tais casos poderão ser encaminhados à VEPEMA

por determinação judicial, motivada muitas vezes pelo descumprimento injustificado da

pena, por uma demanda familiar, ou pelas próprias organizações para onde os sentenciados

são encaminhados para o cumprimento da pena de prestação de serviços à comunidade. A

equipe então se mobiliza para escutar e acolher o pedido, priorizando, num primeiro

Page 35: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

momento, o exercício de um trabalho de motivação, e de mobilização pessoal no indivíduo

pela demanda de tratamento bem como de sua família. Somente após a identificação e

manifestação deste interesse é que são realizados os encaminhamentos devidos à rede de

apoio especializado existente, visando à continuidade do tratamento mesmo quando após o

término da pena imposta (DF, 2013).

As penas alternativas também incluem as chamadas penas restritivas de direitos, sendo

estas relacionadas no Código Penal Brasileiro (Art. 43) como: a prestação pecuniária, a

perda de bens e valores, a prestação de serviços à comunidade ou às entidades públicas, a

interdição temporária de direitos e a limitação de fim de semana.

As modalidades mais comuns no âmbito da VEPEMA são a Prestação de Serviços à

Comunidade e a Prestação Pecuniária. Este processo se dá da seguinte forma: O prestador

será encaminhado pela Seção Psicossocial da VEPEMA, através de um ofício de

encaminhamento enviado pelo juiz, onde constará o tempo da pena e o número de horas a

serem cumpridas. Previamente a este encaminhamento, os prestadores participam de uma

“reunião” na Seção Psicossocial com a equipe atuante na Vara, onde recebem informações

acerca do cumprimento da pena e dos procedimentos gerais. A equipe da VEPEMA

elabora então um documento relatando os resultados desse procedimento de avaliação e

orientação, remetendo-o ao conhecimento do juiz para definição da sentença. Cabe então

ao representante da organização que receberá o sentenciado realizar nova entrevista, a fim

de confirmar o tipo de serviço que melhor se aplica às habilidades do sentenciado, bem

como à disponibilidade de dias e horários para o cumprimento da pena alternativa. A

prestação de serviços é cumprida nas organizações com as quais a VEPEMA mantém

parceria, salvo quando, excepcionalmente e por determinação judicial, a sentença deva ser

cumprida em outros termos. Ao final do cumprimento das horas, o prestador será

desligado do programa após a confecção de um relatório pelos profissionais da Seção

Psicossocial da VEPEMA, que será juntado ao processo e encaminhado ao Ministério

Público para conhecimento e providências cabíveis quanto ao término da pena. Após, o

processo seguirá para o Juiz prolatar a sentença de extinção da pena. (DF, 2013).

4.2 Visita e entrevista semi-estruturada no Instituto Médico Legal - IML

Dadas essas informações e, sabendo que a demanda da VEPEMA está inserida nas

atividades avaliativas realizadas no IML, foi verificada a necessidade de que a presente

pesquisa contemplasse também a compreensão e análise da prática da avaliação

psicológica realizada no âmbito desta instituição. A partir desta constatação foi realizado

contato telefônico com o setor do Instituto Médico Legal (IML) responsável pela atuação

dos profissionais da psicologia. O contato então foi realizado no dia 20/09/2013, às 14h,

Page 36: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

com uma psicóloga forense, com o objetivo de melhor compreender todo o fluxo deste

processo, ou seja, como e quando as demandas da VEPEMA chegam até eles, como esta

demanda é atendida e após a realização de seu trabalho, que tipo de vinculação os

resultados têm com a VEPEMA.

A partir da entrevista semi-estruturada realizada, conforme o roteiro criado e registrado

no presente trabalho em anexo (Apêndice I, p. 58) foi possível compreender melhor o

fluxo das atividades demandas pela VEPEMA e realizadas no âmbito do IML. De acordo

com a psicóloga entrevistada, que no presente trabalho será identificada como P2, o IML

atende as solicitações de avaliação e perícia que são encaminhadas, por exemplo, pela

VEPEMA (dentre outros órgãos do Sistema de Justiça). Em geral, a demanda encaminhada

pela VEPEMA compreende a realização de exame psiquiátrico e/ou psicológico. Para

tanto, os psiquiatras podem contar, ou não, com a participação dos psicólogos na

elaboração do material pericial de avaliação do estado mental do indivíduo encaminhado

pela VEPEMA. Assim, esta atividade avaliativa poderá ou não ser feita em conjunto,

pressupondo assim a discussão do caso a partir de uma prática interdisciplinar, na qual

cada profissional com a sua especificidade abordará sua compreensão do sujeito para

juntos alcançarem conclusões avaliativas que serão analisadas pelo juiz. A demanda mais

comum que indica a necessidade desse diálogo são as investigações dos incidentes de

insanidade mental que visam verificar se o indivíduo manifesta algum transtorno de

personalidade, se tem alguma psicopatologia, com intuito de esclarecer a questão ao juiz, a

quem compete decidir sobre a aplicação da pena.

A psicóloga relata que a equipe do IML atualmente é muito reduzida sendo necessário

então o agendamento prévio para a realização de tais atividades avaliativas.

Caso a equipe do setor psicossocial da VEPEMA tenha alguma dúvida sobre o

resultado da realização do trabalho, devem apresentar um encaminhamento ao IML

solicitando maiores esclarecimentos sobre o caso. Caso contrário, os resultados não

retornam para conhecimento da equipe da VEPEMA, sendo então diretamente submetidos

à audiência, momento no qual o juiz estipulará a sentença, baseando-se ou não nos

resultados apresentados no laudo psiquiátrico e/ou psicológico.

Uma informação que merece destaque na compreensão do processo de interface entre a

prática da VEPEMA e a do IML é a de que nem sempre os profissionais da VEPEMA

solicitam que a equipe do IML faça a avaliação psicológica. Às vezes vão solicitar apenas

que se faça um laudo descritivo do caso, sem necessariamente uma avaliação mais

elaborada do estado mental e funcionamento psíquico do indivíduo. Mas isso irá depender

da queixa de cada caso. Os demais casos que não necessitam da intervenção dos

Page 37: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

profissionais do IML seguem direto para avaliação do juiz, não sendo de conhecimento da

equipe da VEPEMA dos desdobramentos futuros do caso.

A equipe do IML atende as solicitações da justiça e às vezes algumas solicitações de

delegacias. Existem no IML somente dois psicólogos responsáveis por realizar

atendimentos pontuais e agendados previamente e, a partir daí, confeccionar laudos que

serão encaminhados à justiça.

Além da VEPEMA, outras varas encaminham solicitações de pedidos ao IML, como a

vara de entorpecentes, de juizados especiais, e de várias outras varas do TJDFT. Todas

com a mesma finalidade: avaliação.

4.3 Análise de conteúdo do material coletado nas entrevistas:

A partir da utilização da metodologia de análise de conteúdo aplicada ao registro das

duas entrevistas realizadas foi possível a proposição de três categorias para análise das

informações coletadas. Duas destas categorias foram divididas em subcategorias de forma

a elucidar melhor a análise dos respectivos tópicos.

Em relação à avaliação psicológica, as atividades que os psicólogos do IML

desempenham compreendem o uso e a aplicação de testes (de inteligência, de

personalidade, etc) e a posterior análise do material coletado com os testes. De acordo com

a entrevistada essa demanda multifacetada exige do profissional uma constante atualização

em questões relacionadas ao perfil diagnóstico de patologias, sendo a internet uma

importante ferramenta para consulta e atualização de tais informações. A seleção dos testes

que serão utilizados é feita a partir do caso em questão. Outros recursos utilizados no

processo de avaliação são as entrevistas que tem a finalidade de verificar o histórico de

vida do sujeito e avaliar condições sociais e psicológicas que indiquem algum tipo de

disfunção e/ou fuga dos padrões de normalidade. Essas entrevistas também podem ser

feitas com a família do sujeito, de pessoas próximas a ele para levantamento de

informações adicionais como o registro histórico de doenças, problemas sociais, etc.

Apenas os psicólogos participam do processo de avaliação psicológica, sendo o público

prioritário desta prática aquelas pessoas sobre as quais recai alguma suspeita de incidente

de insanidade mental ou o diagnóstico de algum problema psiquiátrico ou psicológico.

Observa-se, de uma forma geral, que as atividades da VEPEMA e do IML não

dialogam sobre os encaminhamentos sugeridos para o processo, visto que não possuem

uma vinculação direta com o futuro do sujeito avaliado.

Page 38: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Na fala da psicóloga do IML fica clara a caracterização do processo de avaliação

psicológica como um enquadre do estado psicológico atual da pessoa, representando uma

análise deste momento.

Sobre o processo de apresentação da atividade de avaliação para o sujeito, a psicóloga

esclarece ao periciando que a participação nas atividades propostas não é obrigatória e que

no caso da recusa em realizar a avaliação caberá ao IML comunicar o juiz, a quem caberá

decidir sobre o futuro legal do indivíduo. Caso o sujeito aceite realizar a atividade, também

é esclarecido que o objetivo da mesma é conhecer mais sobre a sua pessoa, e que para isso

será necessário conversar a respeito de sua vida, sobre o que ocorreu, sobre o que o

motivou a estar ali, dentre outros fatores. Ou seja, a profissional entende que com isso todo

o processo de avaliação psicológica é devidamente explicado ao apenado.

Destaca-se que não é realizado nenhum tipo de devolutiva ao sujeito após a análise

final das atividades avaliativas, quando a elaboração do relatório/laudo final é concluída.

Os resultados de tal procedimento só serão conhecidos pelo sujeito mediante apresentação

de seu advogado, o qual tem acesso ao laudo elaborado pela profissional do IML.

A psicóloga conta sobre a relevância do trabalho que realiza, identificando a

importância do seu trabalho.

Visando uma delimitação metodológica de análise dos resultados obtidos é que as

informações coletadas foram então organizadas nas seguintes categorias propostas para

análise: 1) o processo de avaliação psicológica no contexto das duas instituições

analisadas – VEPEMA e IML; 2) preparação profissional e respaldo técnico e científico

dos profissionais sujeitos da presente pesquisa; e 3) valorização e conhecimento do que

seja avaliação psicológica para os psicólogos entrevistados e atuantes no contexto

jurídico.

Categoria 1: O processo de avaliação psicológica no contexto das duas instituições

analisadas – VEPEMA e IML

Essa categoria refere-se às informações sobre o processo de como a avaliação

psicológica é realizada na seção psicossocial da VEPEMA e no contexto do IML,

respectivamente. De forma a melhor identificar e diferenciar a fala dos sujeitos

participantes, o profissional da VEPEMA será identificado como P1 e a profissional do

IML como P2. A presente categoria foi dividida ainda em duas subcategorias. Sendo elas:

a) a percepção dos responsáveis pela elaboração da avaliação psicológica em cada uma

das instituições analisadas e; b) as especificidades da avaliação psicológica no contexto

jurídico.

Page 39: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Nesta categoria, se encaixa a fala do profissional da VEPEMA (P1), o qual relata que

nesta instituição não são feitas avaliações psicológicas, mas sim, uma espécie de

anamnese, caracterizada como uma entrevista com os sujeitos apenados encaminhados

pelo juiz e/ou Ministério Público, a fim de analisar, compreender e explorar o seu

cotidiano. Após a realização dessa entrevista, o psicólogo determinará o tipo de caso do

apenado podendo então redistribuí-lo para o acompanhamento de equipes específicas que

tratam de temáticas distintas no âmbito da VEPEMA. Caso registre-se a suspeita de que o

sentenciado possua algum tipo de transtorno mental mais severo ou algum tipo de

psicopatologia grave, será necessária uma avaliação específica para análise do estado

mental do indivíduo. Neste caso, compete à VEPEMA enviar ao IML o registro das

informações já coletadas no sentido de contextualizar a demanda por uma avaliação mais

específica, do ponto de vista diagnóstico. Portanto, segundo P1, apenas no IML são

realizadas atividades caracterizadas como avaliações psicológicas, já que é nesse espaço

que acontecem a aplicação e uso de testes psicológicos, entrevistas e outros tipos de

avaliação, com o objetivo de elaboração de um diagnóstico mais detalhado. Segundo P1,

“não há realização de avaliação psicológica na seção psicossocial da instituição VEPEMA

e que, portanto, quem faz uso de testes são os atuantes do IML”.

A partir da fala da profissional atuante no IML (P2), observa-se a compreensão de que

no contexto do IML são realizadas sim avaliações psicológicas, em função não apenas do

uso que se faz da testagem psicológica, já que, segundo ela, a avaliação psicológica pode

ser entendida como “um enquadre do estado psicológico atual da pessoa”, significando

uma análise deste momento. Quando é perguntado sobre o que P2 entendia por avaliação

psicológica, foi respondido:

“Olha, nessa experiência aqui, como eu vou dizer... é como se a

gente montasse esse enquadre do estado psicológico da pessoa.

Então, assim, ela pode ter passado por várias coisas, mas nesse

momento ela está, como é que eu vou dizer... demonstrando dessa

forma que ela está dessa forma. Então, assim, ela pode ter tido

vários surtos antes, mas aqui ela tá se comportando bem nesse

período, nesse intervalo de tempo, então a gente vai analisar esse

momento dela atual, entendeu?”. (P2)

Sua fala reforça ainda a crença de que a avaliação psicológica envolve a aplicação dos

testes psicológicos, a análise dos testes psicológicos realizados, entrevistas, exames

psicológicos e atendimentos psicológicos. Quando é perguntado qual ou quais são os

outros tipos de recursos utilizados para o processo de avaliação psicológica, P2 responde:

Page 40: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

“Basicamente os testes. Tem a entrevista para verificar, assim, todo

não, na medida do possível, todo histórico da pessoa que vem aqui,

vamos colocar periciando, porque às vezes ele nem vai ser punido,

nem nada. Verificar o histórico dele de vida, em questão de

doenças, se teve problemas durante a gestação dele, se durante o

parto teve algum tipo de problema, se o desenvolvimento

psicomotor teve algum problema, se aconteceu dentro dos padrões

da normalidade. Então, assim, a gente faz sempre a entrevista para

verificar tudo isso. Ai às vezes a própria pessoa não tem muita

noção disso, então a gente tem que conversar com algum parente,

com a mãe ou com o pai pra poder saber mais detalhes. E ai, fora

isso, a gente passa pra parte da aplicação de testes: teste de

inteligência, de personalidade e, baseado nisso, a gente monta o

laudo.” (P2)

P2 esclarece ainda que o IML atende às solicitações para a realização de avaliações

que são encaminhadas pelas diferentes Varas do TJDFT, inclusive a VEPEMA. Ao

descrever a dinâmica dos encaminhados, ela informa que a Vara envia o processo de

solicitação do exame psiquiátrico e/ou psicológico para o IML que agenda e realiza tais

avaliações de acordo com a demanda. Quando é questionada sobre como o serviço do IML

é organizado diante das demandas da VEPEMA, P2 esclarece:

“O IML trabalha da seguinte forma: A gente atende as solicitações

que são encaminhadas aqui pra gente. Eles mandam o processo,

solicitando o exame. Na maioria das vezes é de incidente de

insanidade mental e ai a gente vai atendendo na medida do

possível. E assim, primeiro, normalmente, é feito a solicitação do

exame psiquiátrico. Ai às vezes vem a solicitação do psiquiátrico e

psicológico. Em algumas situações vem só solicitando o

psiquiátrico e ai o psiquiatra, no atendimento que ele achar

necessário fazer o psicológico como complementação, ai ele

solicita e a gente faz também o mesmo processo.” (P2)

A primeira subcategoria é sobre a percepção dos responsáveis pela elaboração da

avaliação psicológica em cada uma das instituições analisadas, no que se refere aos

sujeitos envolvidos no processo de avaliação psicológica e que atuam em sua elaboração.

Fica clara na fala de P2 que os profissionais envolvidos nas atividades avaliativas são: o

psicólogo e o médico psiquiatra, e que estes podem ou não atuar de forma conjunta.

Page 41: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

Quando é perguntado se existem outros profissionais envolvidos no trabalho realizado no

IML, P2 responde:

“Só os psiquiatras, quando o trabalho é feito em conjunto, quando

existe a necessidade de fazer os dois laudos.” (P2)

A segunda subcategoria trata-se das especificidades da avaliação psicológica no

contexto jurídico, que refere-se à compreensão sobre o processo do funcionamento da

realização da avaliação psicológica na VEPEMA e no IML. A informação fica evidente

quando P2 relata que a equipe do IML atende às solicitações da justiça, inclusive da

VEPEMA e algumas vezes de delegacias. Segundo a mesma, no IML estão lotados dois

psicólogos que realizam atendimentos e, baseados nos mesmos, confeccionam os laudos

que serão encaminhados à justiça. Quando é perguntado como os psicólogos trabalham no

IML e o que eles fazem, P2 responde:

“A gente faz mesmo a confecção do laudo. Faz os atendimentos e

baseados nesses atendimentos a gente faz a confecção do laudo pra

encaminhar pra justiça”. (P2)

P2 informa que além da VEPEMA, outras varas encaminham ao IML solicitações de

pedidos com a mesma finalidade de avaliação psicológica, dando o exemplo da vara de

entorpecentes, dos juizados especiais e demais instituições do Sistema de Justiça do

Distrito Federal:

“A gente recebe a vara de entorpecentes, a gente recebe de vários

juizados e de várias varas de todo o DF.” (P2)

A partir deste relato é possível a compreensão de como ocorre o processo de avaliação

psicológica no contexto jurídico das penas e medidas alternativas. A partir daí, torna-se

relevante a compreensão dos aspectos técnicos e dos limites éticos que envolvem a perícia

psicológica. Sobre o processo de apresentação da atividade da avaliação psicológica para o

sujeito apenado, P2 informa que todo o processo de avaliação psicológica é explicado ao

apenado.

“Primeiramente, assim, nenhum deles é obrigado a se submeter a

isso. Então, primeiramente a gente fala isso. Se ele não quiser fazer

a avaliação ele não precisa. Mas ai a gente fala que vai conversar a

respeito da vida pessoal dele, o que aconteceu, depois a gente vai

perguntar a respeito do crime em si, como é que foi, o que motivou,

como é que aconteceu, o que é que levou ele a cometer aquele

crime, porque na maioria das vezes eles negam ou falam que foi de

Page 42: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

momento... E, posteriormente, a gente vai aplicar os testes pra

avaliar a personalidade dele, como é que ele tá, o estado emocional

dele, essas coisas.” (P2)

Chama a atenção o relato feito pela psicóloga de que não é realizado nenhum tipo

de devolutiva para o sujeito apenado após a realização das atividades da avaliação

psicológica:

“Acho que a devolução ele tem só no dia da audiência ou então

através do advogado, que o advogado vai ter acesso ao laudo

quando chegar o processo. Quando a gente devolve o processo

junto com o laudo, o advogado dele deve ter algum acesso ou

algum familiar. Acho que ele tem o retorno só dessa forma, porque

aqui com a gente não.” (P2)

Ainda sobre a devolutiva, a profissional indica seu sentimento de decepção e

frustração com o processo jurídico, como um todo, destacando que a justiça é falha neste

ponto e que é necessário haver mudanças nesse processo burocrático:

“É complicado falar sobre isso. É porque entra na parte jurídica da

coisa toda. Assim, a relevância é grande né? Mas, assim, a gente

fica tão decepcionado com o tipo de pena que acontece depois de

todo o processo que é feito, investigação, até mesmo da confecção

do laudo, porque, assim, a nossa justiça é tão falha. Tá precisando

assim de ter uma mudada.” (P2)

Diante desta limitação, P2 relata que procura não saber o que acontece depois da

avaliação e da confecção do relatório, a partir da sentença dada pelo juiz ao sujeito

apenado, justificando tal postura nos seguintes termos:

“Olha, no meu ponto de vista, assim, eu até procuro não saber

muito o que acontece, mas é pessoal mesmo, nem é como

psicóloga, é pessoal. Desde que eu entrei no IML foi assim, todos

os casos que eu investigava, que eu participava, você ia até um

certo ponto, depois eu não envolvia tanto, justamente porque eu

acho uma carga muito pesada, entendeu? Uma carga negativa

muito pesada. Então, assim, o que tiver de acontecer, a gente fica

meio revoltado quando não acontece nada, entendeu? E, assim, eu

procuro não ver muito o resultado, justamente por causa disso.”

(P2)

Page 43: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

A psicóloga entrevistada indica ainda que eles não tem um retorno, um feedback sobre

o andamento do caso. Não sabem se o sujeito foi apenado, se foi encaminhado para

alguma ala de tratamento psiquiátrico ou quais são os termos para o cumprimento da pena.

Ela indica a necessidade pessoal deste afastamento ao mesmo tempo em que relata ficar

decepcionada com todo o processo, pois acredita que a justiça seja falha e que precisa de

algumas mudanças. Ao descrever sua qualificação profissional, informa que graduou-se

em 1994 no curso de Psicologia da UnB, e que, em 1999, entrou para o quadro da Polícia

Civil do DF mediante a realização de concurso público. Destaca-se que o cargo ocupado

não é o de psicóloga e sim de agente de polícia, atuando no IML em desvio de função. Sua

entrada na realidade institucional do IML se deu em 2012 e, desde então, este é seu

trabalho.

“Eu tomei conhecimento através dessa outra colega que é a que tá

aqui, há uns dois anos e meio. Ai ela perguntou, disse que tinha

surgido uma possibilidade e tal, ai eu falei assim: Tá. Eu vou. Eu

quero. Eu vou ver como é que a gente consegue. Porque aqui é

muito complicado, a polícia é toda complicada. Ai eu consegui vir,

assim. Eu tava há treze anos, quatorze anos só em delegacia, ai eu

falei: Ah, uma oportunidade pra mudar, pra ver outras áreas dentro

da própria polícia né? E assim, só atitude de esclarecimento, não

tem psicólogo de fora aqui, fora que eu digo assim, fora da polícia,

todos que trabalharam aqui fazem parte do sistema de segurança

pública, porque já tiveram aqui escrivães, agentes e agente

penitenciário. Dentre esses, alguns saíram outros aposentaram e tal.

Então, assim, não tem nenhum psicólogo que seja cedido pra cá,

entendeu? Então é só o pessoal mesmo da casa que trabalha. Não

existe o cargo de psicólogo na polícia ou perito psicólogo, se for o

caso né?”. (P2)

Categoria 2: Preparação profissional e respaldo técnico e científico dos

profissionais sujeitos da presente pesquisa

Esta categoria diz respeito às informações sobre a formação e qualificação dos

profissionais que atuam com a avaliação psicológica, tanto no contexto da VEPEMA

quanto do IML. Percebe-se que os dois sujeitos entrevistados não possuem uma formação

específica a título de pós-graduação no que se refere à temática da avaliação psicológica.

Outro ponto importante de análise desta categoria é quando P2 relata a

informalidade do material pesquisado para a efetivação do trabalho de avaliação

Page 44: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

psicológica. Ela indica a necessidade de atualização constante sobre o material disponível

para testagem, mas sinaliza para uma falta de formalidade neste processo:

“Bom, a gente faz aplicação de testes, faz a análise dos testes, a

gente tá sempre tendo que ler, se atualizando a respeito dos

transtornos, de doenças, de patologias, de tudo. Então, assim, se

não tivesse internet hoje a gente tava encrencado, porque volta e

meia surge, assim, cada caso é um caso, tem situações que são

muito semelhantes, que são bem parecidas, mas volta e meia

aparece uma, assim, totalmente diferente que você tem que fazer

muita pesquisa de bibliografia, de internet, tudo.” (P2)

Destaca-se que a prática da avaliação envolve, além do profissional da psicologia,

os médicos psiquiatras, no caso do IML, e os profissionais da Assistência Social, no caso

da VEPEMA. De acordo com a fala de P2, os profissionais atuam de forma independente,

mas colocam-se disponíveis para o diálogo e discussão dos casos avaliados.

“Discussão do caso. Ele faz o atendimento dele normalmente. A

gente faz o nosso. E ai se sobrar alguma dúvida a gente procura

eles ou eles vem conversar com a gente pra discutir o caso. Mas

geralmente, digamos assim, que o direcionamento é praticamente o

mesmo porque a gente tem, praticamente, as mesmas impressões

da pessoa que a gente tá atendendo.” (P2)

Categoria 3: Valorização e conhecimento do que seja avaliação psicológica

para os psicólogos entrevistados e atuantes no contexto jurídico.

Esta categoria diz respeito à demanda atendida ou não do contexto jurídico, a partir

do processo da avaliação psicológica realizado. Também sobre como se deve o processo

de encaminhamento, a devolutiva da avaliação para os outros profissionais do IML e ao

juiz. Divide-se em duas subcategorias. Sendo elas: a) complexidade e importância da

avaliação psicológica em sua área de atuação; e b) particularidades do exame de

insanidade mental.

A subcategoria complexidade e importância da avaliação psicológica em sua área

de atuação refere-se à ordem e valor do processo de avaliação psicológica no âmbito

jurídico. Depois que o trabalho é realizado e o processo de avaliação psicológica é

concluído, o laudo elaborado é enviado, requerente da atividade, para posterior

encaminhamento ao juiz.

Page 45: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

“Uma parte desse trâmite administrativo vai direto pra vara que

solicitou o laudo psicológico.” (P2)

Outro fator observado diz respeito à simulação e dissimulação por parte dos avaliados

no processo de avaliação psicológica, identificada por P2. Essa questão torna-se relevante

na medida em que reforça a constante preocupação que os técnicos e peritos devem ter em

vista da possível distorção de dados por parte dos periciados.

“Tem muitos que simulam. Eu até já atendi um assim que, acho que

por medo dele sofrer a pena, ele simulou que tava com uma

patologia. Tanto que quando ele conseguiu sair de onde ele tava, que

eu não lembro qual era o presídio, o setor do presídio que ele tava,

ele voltou a agir normalmente, entendeu?” (P2)

Questionada sobre a frequência com que esse tipo de comportamento é observado, P2

esclarece:

“Acontece, mas não acontece sempre não.” Tem uns que dá pra

saber, tem outros que são mais complicados, mas tem uns, assim,

que são nítidos. Inclusive, a gente coloca no laudo tudo isso, a forma

como ele se comportou, se ele contribuiu ou não, entendeu? Tudo

isso a gente coloca.” (P2)

Em suma, reconhece-se a dificuldade dos profissionais em detectar de forma fidedigna

esses comportamentos de simulação e distorção da informação prestada. Quanto aos

aspectos da testagem, os indicadores podem apresentar resultados contraditórios.

A subcategoria particularidades do exame de insanidade mental refere-se à avaliação

do estado mental do sujeito acusado que será realizada mediante a utilização do processo

de avaliação psicológica. Percebe-se que esta nomenclatura varia de acordo com a

instituição, no caso VEPEMA e IML. Para P1 a referência à insanidade mental é vista

como a manifestação e o diagnóstico de patologias mais graves ou transtornos mentais

mais severos. Para P2, tal suspeita caracteriza-se como incidente de insanidade mental.

“Normalmente de incidente de insanidade mental pra poder

verificar se há algum transtorno de personalidade, se tem alguma

psicopatologia. Normalmente é isso, pra poder o juiz ter um

direcionamento pra determinar a pena.” (P2)

Page 46: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

5. DISCUSSÃO

Em relação à primeira categoria, “O processo de avaliação psicológica no contexto

da VEPEMA”, fica evidente a confusão que os atuantes jurídicos têm em relação ao

conhecimento e valorização do que seja a avaliação psicológica, associando-a à realização

de uma perícia psicológica ou à simples aplicação da testagem psicológica. Esses fatos

podem ser bem ilustrados a partir dos resultados da presente pesquisa, pois um dos

entrevistados alegou não fazer uso da avaliação psicológica na prática profissional apesar

de estar inserido no contexto jurídico em que tal atividade é esperada. Sua fala indica que

há conhecimento sobre o tema da avaliação, mas ele não identifica necessidade de uso, o

que demonstra que não há conhecimento crítico suficiente sobre o que, de fato, vem a ser o

processo de avaliação psicológica. Ele entende que este processo deverá ser demandado a

outra instituição, no caso o IML, responsável pela realização das práticas periciais –

exames psicológicos/psiquiátricos, entrevistas, laudos e testes psicológicos, restringindo,

com isso, a potencialidade do processo avaliativo no âmbito jurídico e, em especial, na

aplicação dos dispositivos das penas e medidas alternativas.

Inserido na subcategoria “a percepção dos responsáveis pela elaboração da

avaliação psicológica em cada uma das instituições analisadas”, na fala da segunda

entrevistada fica claro a compreensão da prática da avaliação como limitada à realização

de testagem psicológica, o que de fato também seria a denominação da avaliação

psicológica como perícia. Esta afirmação fica evidente quando ela relata como a avaliação

é realizada, com a finalidade de atender às solicitações encaminhadas à instituição através

de um exame psicológico e/ ou psiquiátrico, iniciando, assim, o processo de avaliação

psicológica por meio da aplicação de testes psicológicos e entrevistas. Entende-se que o

conceito de testagem é limitado e não integra as informações do processo desenvolvido na

avaliação psicológica como perspectiva dinâmica quanto sujeito.

Ainda sobre os instrumentos de medida da perícia psicológica, o referencial teórico

sobre o tema reforça que o psicólogo conta com uma série de instrumentos, testes

psicológicos, em sua tarefa de avaliação, que o auxiliam a objetivar o estado mental dos

indivíduos com maior precisão. Segundo Ávila e Rodriguez-Sutil (1995), o uso desses

instrumentos seria o responsável pela solicitação crescente dos laudos psicológicos

(CUNHA, 2000).

Em uma pesquisa realizada no estado do Rio Grande do Sul por Rovinsky e Elgues

(1999), levantou-se que 87% dos psicólogos forenses pesquisados utilizavam instrumentos

além da entrevista clínica, dando preferência para os testes projetivos e gráficos – HTP,

Desenho da família, Machover, TAT. O uso de tais instrumentos para avaliações clínicas

Page 47: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

na prática forense são geralmente aplicados para avaliar estados psicopatológicos,

inteligência geral e traços de personalidade. E nem sempre são capazes de satisfazer as

necessidades impostas pela demanda legal, quanto à relevância e à credibilidade, apesar de

terem um papel importante no processo de avaliação psicológica. Salienta-se a importância

da utilização criteriosa desses instrumentos, considerando à sua aceitação como

instrumento de valor reconhecido junto ao contexto jurídico, que insere sua relevância para

a questão legal específica, a relevância hipotética dos resultados do teste, a limitação na

reconstrução de contextos e a consideração sobre a validade aparente (CUNHA, 2000).

As avaliações psicológicas podem ser realizadas por um ou por vários psicólogos e

também podem ser feitas em conjunto com outros técnicos de especialidades diversas,

como médicos especialistas (psiquiatras), assistente social, etc. Portanto, a metodologia

para a realização da perícia psicológica pode variar de acordo com cada profissional e em

função da demanda a ser investigada (CUNHA, 2000). Contudo, para esta atividade, em

alguns casos, há a necessidade dos psiquiatras atuarem conjuntamente com os psicólogos.

Esta forma multidisciplinar de avaliar é essencial como ciência no contexto social, porém

observa-se nos resultados da presente pesquisa uma certa limitação em sua aplicação.

De acordo com o processo de devolutiva, inserido na subcategoria “as

especificidades da avaliação no contexto jurídico”, chama a atenção a não realização de

nenhuma devolutiva da avaliação psicológica para o apenado e, posteriormente, dos

resultados do processo jurídico para o profissional responsável pela avaliação. Fomenta

essa questão, muitas queixas e dúvidas de clientes insatisfeitos diante da ausência de um

retorno dado pelo psicólogo quanto aos resultados e serviços prestados. No novo código de

ética, que entrou em vigor no dia 27 de Agosto de 2005, é evidente que o entendimento e

os resultados são um dever do psicólogo e direito do cliente. Tal entendimento tem por

mérito procurar garantir ao usuário o direito ao acesso às informações do trabalho, que

seriam os resultados, bem como a necessidade de encaminhamentos, e também dar ênfase

a parte do serviço prestado pelo psicólogo, focando a importância do fechamento de um

processo com a apresentação e o compartilhamento das conclusões do trabalho realizado

(CRP-SP, 2013).

No que diz respeito à atividade prática da perícia, o psicólogo deverá ter o dever

ético de favorecer a avaliação sistemática de sua atividade e de suas conseqüências, com o

intuito de impedir que os peritos façam laudos distintos e independentes, desde que

apoiados em suas próprias observações (CUNHA, 2000).

Esta abordagem cabe na visão dos limites éticos da perícia psicológica. A

legitimação do papel do psicólogo como perito se localiza no Decreto-lei 53.664, de 21 de

Janeiro de 1964, ao qual regulamenta a Lei 4.119, de 27 de Agosto de 1962, sobre a

Page 48: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

profissão do psicólogo. Neste decreto, se afirma que, entre outras atribuições, cabe ao

psicólogo “realizar perícias e emitir pareceres sobre matéria de Psicologia” (CUNHA,

2000).

Monahan (apud ESPADA, 1986) salienta a necessidade de se buscar nos contextos

não-voluntários os mesmos níveis de confidencialidade dos voluntários, explicitando ao

cliente o nível possível deste sigilo, já que deve-se considerar que o cliente do psicólogo

será tanto o sujeito periciado como o sistema (sociedade) mais amplo, levando em conta as

diferentes prioridades (CUNHA, 2000). No caso da presente pesquisa, o cliente da prática

avaliativa envolve também os operadores do Direito envolvidos no processo legal, quais

sejam: advogados promotores e juízes.

Quanto à devolução dos resultados, o Código de ética Profissional (Conselho

Federal de Psicologia, 1996) salienta a obrigação do psicólogo de fornecer ao periciado as

informações que foram encaminhadas ao solicitante, porém, não diz em que momento

essas informações devem ser prestadas. O fato de oferecer ao sujeito uma devolução antes

de encaminhar ao juiz os resultados levantados é questionável, pois este fato poderia

interferir no andamento do processo que supõe o momento da ciência das partes

envolvidas quanto aos resultados da perícia e seu prazo de contestação. Bem como, a

prática sugere que o psicólogo coloque-se à disposição do periciado para esclarecimento

de dúvidas, quanto ao laudo, depois de o mesmo se tornar público na audiência com o juiz.

Portanto, deve-se ter precaução para não se criar uma via de comunicação independente ao

processo judicial quando o psicólogo deixar seu papel original de assessor dos agentes

jurídicos para assumir a coordenação do próprio processo. Tal atitude ultrapassaria a

função da perícia e colocaria o profissional frente às situações que não poderia manejar

(CUNHA, 2000).

Sobre a categoria “Preparação profissional e respaldo técnico e científico dos

profissionais sujeitos da presente pesquisa”, percebe-se que não há uma formação

específica para esses atores da área psicossocial que realizam a confecção da avaliação

psicológica. E que também não há nenhuma qualificação e/ou formação específica de tal

profissional para exercer esta atividade. Para tanto, de acordo com dos sujeitos

pesquisados, a forma de procurar compreender as técnicas e instrumentos utilizados na

avaliação psicológica, especificamente, com os testes psicológicos, baseia-se em leituras e

estudos através da internet. A internet é um meio de fácil acesso, porém não confiável para

se trabalhar a questão da subjetividade do sujeito. De acordo com esta afirmação, segundo

o Conselho Federal de Psicologia, na Resolução nº 007/2003, a avaliação psicológica é um

processo técnico científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a

Page 49: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

respeito dos fenômenos psicológicos, o qual pode fazer uso de estratégias psicológicas

assim como métodos, técnicas e instrumentos.

Na visão de Noronha & Alchieri (2002), essa prática deve ser exclusiva do

psicólogo. Almeja-se que o mesmo apresente total domínio sobre o que está sendo

investigado, sendo assim, com posse de todo o conhecimento sobre o assunto.

O que percebemos nessa pesquisa, é que os sujeitos entrevistados apresentaram

consideráveis dificuldades em definir avaliação psicológica, o que pode ser justificado a

partir da observação de deficiências no processo de formação específica para essa

atividade.

A partir de Paula, Pereira e Nascimento (2007), é possível entender que os aspectos

negativos podem estar associados à insuficiência do conteúdo na formação acadêmica na

área de Avaliação Psicológica, aliada ao baixo número de disciplinas ofertadas,

insuficiência no material didático, assim como à baixa qualidade técnica dos professores e

ao fato de as disciplinas não contribuírem para uma capacitação profissional satisfatória.

Isso poderia estar contribuindo para prevalência da ideia da visão estereotipada e de

senso comum que foi descoberta em grande parte das respostas, como exemplo, o relato do

profissional da VEPEMA, ao afirmar que “não há realização de avaliação psicológica na

seção psicossocial desta instituição e que, portanto, quem faz uso de testes são os atuantes

do IML”, destacando-se uma ideia reservada da avaliação, que deixa de ser distinguida

como um processo para ater-se ao uso de uma ferramenta característica e limitada: os

testes psicológicos. Porém, na fala da profissional do IML que “o processo de avaliação

psicológica feita nesta instituição está baseado na testagem psicológica”. Observa-se que a

psicóloga compreende de fato o que é uma avaliação psicológica, porém confunde este

processo com a perícia psicológica.

Padilha, Noronha e Fagan (2007) revelaram que a avaliação de psicólogos sobre a

sua formação no quesito de avaliação psicológica indicou que a maioria dos participantes a

consideram insatisfatória. Um exemplo de tal citação estaria inserido no relato da

profissional IML, ao afirmar que a forma de se familiarizar tanto com as técnicas quanto

com os instrumentos do processo da avaliação psicológica se dá através de estudos e

leituras na internet sobre os materiais, o que de fato não são fontes confiáveis para

auxiliarem nesta prática.

Dessa forma, vários pesquisadores, como Alchieri & Bandeira (2002); Hutz &

Bandeira (2003); Noronha (2002) voltaram seus estudos para a formação dos profissionais

em psicologia, dando ênfase a real necessidade dos alunos recém-formados, para

continuarem os estudos numa perspectiva de formação continuada em nível de pós-

Page 50: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

graduação, estando aptos para lidar com a avaliação psicológica. No país, a formação do

psicólogo tem deixado a desejar, mostrando ser escassa, ilusória e precária, na proporção

em que se percebe que tais profissionais têm muitas dificuldades e limitações na aplicação,

avaliação e uso do material de testagem psicológica, pois não fazem uso de uma análise

crítica mais apurada do processo de avaliação psicológica em sua complexidade e

dinamismo. Outro fato é que algumas universidades diminuíram a grade horária do curso,

muitas vezes tirando até a disciplina de Avaliação Psicológica do currículo. Como

exemplo desta informação, estaria a insuficiência de uma formação apropriada do docente

na área de psicologia em relação à avaliação psicológica. Parece claro que a falta de

excelência na prática desta atividade está relacionada à incompetência profissional, onde

um treinamento superficial e uma visão fragmentada dos recursos do processo avaliativo

são acarretados. Dessa forma, em sua maioria, os psicólogos brasileiros não têm sido

formados para pesquisar ou administrar as técnicas de avaliação, já que há pouco conteúdo

abordado com os futuros docentes nos cursos de graduação (HUTZ & Bandeira, 2003;

NORONHA, 2002; VILLEMOR-AMARAL, 2008). Ainda, Primi (2003) ressalta que se

torna essencial que os professores trabalhem no sentido de desmistificar a ideia, junto aos

alunos, de que a avaliação psicológica é um processo que necessariamente faz uso de

testes psicológicos, que é, muitas vezes, tratado de forma simplista, como um seguimento

dedicado à mera aplicação de testes.

Em relação à terceira categoria, “Valorização e conhecimento do que seja

avaliação psicológica para os psicólogos entrevistados e atuantes no contexto jurídico”,

aponta-se a necessidade da demanda da avaliação no sistema jurídico, onde depois do

laudo ser elaborado pelos atuantes do IML ele será encaminhado para a vara que fez tal

solicitação, que seria neste caso a VEPEMA, que o envia ao juiz com o intuito de deliberar

sobre a sentença. Tal fato é marcante, pois grande parte destes profissionais envolvidos no

processo acabam não tendo conhecimento sobre as decisões posteriori à atividade de

avaliação desenvolvida, ou seja, eles não têm acesso às informações do que irá ocorrer

com o sujeito que fora avaliado. Esta discussão é abordada na subcategoria “complexidade

e importância da avaliação psicológica em sua área de atuação”.

Também nesta categoria está inserida a reflexão sobre a realidade de simulação e

dissimulação por parte do sujeito no processo de avaliação psicológica. Isto fica claro

quando a entrevistada do IML diz que podem ocorrer casos de simulação e, que inclusive,

já presenciou tal ocorrido. Para tanto, é necessária cautela por parte dos técnicos para a

possível distorção dos fatos por parte dos periciados. A distorção dos dados pode-se

manifestar como simulação - quando o sujeito tenta fingir sintomas que não existem ou

dissimulação – quando procura minimizar ou encobrir os sintomas que existem na

realidade. De acordo com o DSM-IV, a simulação é caracterizada pela existência

Page 51: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

associada de um incentivo externo, quanto à dissimulação, é associada à tentativa de

evitação de uma privação de direitos (CUNHA, 2000 apud APA, 1995). Em geral, a

dificuldade em detectar esses processos de distorção é reconhecida. Assim, durante as

entrevistas é importante analisar a concordância entre os níveis de comunicação verbal e

não-verbal (CUNHA, 2000).

Rogers (apud MELTON, PETRILA, POYTHREE et alii, 1997) alerta para os

indicadores de simulação que podem ser observados na entrevista, como: a apresentação

dramatizada e exagerada; conduta cautelosa e premeditada; inconsistências com relação ao

diagnóstico psiquiátrico; inconsistências no próprio relato; e confirmação de sintomas

óbvios (CUNHA, 2000).

Quanto aos aspectos a serem observados na testagem, Ávila e Rodriguez-Sutil

(1995) salientam a necessidade de não se utilizar os indicadores atribuindo-lhes um valor

absoluto.

Papolo (1996) ressalta a importância dos profissionais reconhecerem o limite de

seu trabalho, pois se trata de um conhecimento produzido a partir de um recorte da

realidade do sujeito. Assim, torna-se necessário verificar se os mesmos respondem ao

objetivo do procedimento de avaliação. Em virtude da limitação do conhecimento

produzido, torna-se imperativa a compreensão interdisciplinar do fenômeno trabalhado

para melhor abordá-lo em sua complexidade. Isso significa que tais conhecimentos

resultantes dos atuantes jurídicos não representam a compreensão do indivíduo como um

todo, como a verdade sobre o indivíduo.

Sobre a integridade mental do sujeito acusado que será avaliada através da

realização do processo de avaliação psicológica, referente à subcategoria “particularidades

do exame de insanidade mental”, são percebidas as diferentes nomenclaturas utilizadas

pelas instituições para o mesmo fim, que seria o de pessoas que apresentam um

comprometimento em sua capacidade de discernimento e que podem sofrer por suas ações.

São tratadas como inimputáveis. Inimputável é aquele que não pode ser responsabilizado

pelo crime praticado e que embora o tenha cometido, é isento de pena (BRASIL, 2013).

O artigo 149 do Código de Processo Penal (CPP) determina que, em caso de dúvida

sobre a integridade mental do acusado, o juiz deve instaurar, de ofício ou mediante

requerimento de familiares ou do Ministério Público, incidente de insanidade mental

(BRASIL, 2013)

A proposta das penas e medidas alternativas visa uma mudança no tratamento dado

à punição do sujeito infrator ao atribuir-lhe não mais uma punição, mas sim uma medida

punitiva de caráter socialmente útil e educativo que não o afasta da sociedade, não o exclui

Page 52: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

do convívio social e familiar e não o expõe à rigidez do sistema penitenciário (GOMES,

2000)

As penas alternativas à prisão, a exemplo daquelas restritivas de direito, são

destinadas a infratores de baixo potencial ofensivo, com base no grau de culpabilidade, nos

antecedentes, na conduta social e na personalidade, visando, sem rejeitar o caráter ilícito

do fato, substituir ou restringir a aplicação da pena de prisão (Gomes, 2000). Tais penas e

medidas alternativas estão estruturadas institucionalmente na VEPEMA, onde são

realizados os processos de avaliação de cunho psicossocial do sujeito acusado.

Após o desenvolvimento deste trabalho e diante de seus resultados, surge a

percepção do despreparo e da ausência de profissionais especializados em avaliação

psicológica, bem como a percepção do desconhecimento do que seria a avaliação

psicológica por parte dos mesmos. Dado este que chama atenção da sociedade e é

preocupante para a formação de profissionais de psicologia. Há o conhecimento da

inquietude dos acadêmicos para investimentos nesta área.

Portanto, mesmo com o Conselho Federal de Psicologia estando a par da situação

de deficiência acadêmica, espera-se que haja crescimento e que a avaliação psicológica

seja, além de reconhecida, bem elaborada por seus profissionais atuantes do processo. E

que percebam a complexidade de sua demanda, já que para a sua aplicação o profissional

deve estar devidamente preparado com o arcabouço teórico e técnico de sua formação

acadêmica.

Grisso (1986) propõe que sejam criados um novo conjunto de instrumentos de

avaliação que possa responder à demanda legal da avaliação forense. Tais instrumentos já

se encontram desenvolvidos desde a década de 70 no mundo anglo-saxão. São os

chamados Instrumentos Específicos de Avaliação Forense (FAIs – Forensic Assessment

Instruments). Segundo o autor, estes instrumentos foram desenvolvidos para serem

utilizados de maneira conjunta com outros métodos clínicos de avaliação para definir a

relação entre “critérios legais para competências” e “termos psicológicos e clínicos”.

Como preocupação comum eles têm a necessidade de padronização de métodos

quantitativos, aos quais se possam observar, identificar e medir comportamentos relevantes

às questões legais sobre as capacidades e competências do homem. Mesmo estes

instrumentos sendo ainda restritos e desconhecidos em nosso meio, sua produção deveria

ser estimulada para facilitar a comunicação no contexto legal entre agentes jurídicos e

técnicos, permitindo o desenvolvimento de pesquisas empíricas para a fundamentação de

laudos (CUNHA, 2000).

Page 53: AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO: …

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE I

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA PSICÓLOGA DO IML

1. Como o serviço do IML é organizado diante das demandas da VEPEMA?

2. Como se dá este processo institucional?

3. Quantos psicólogos existem no IML? Como eles trabalham?

4. Quais as atividades que os psicólogos desempenham?

5. Existem outros profissionais envolvidos? Quais? E como se dá esse envolvimento?

6. Depois que o trabalho é realizado, para onde ele vai?

7. Quais as atividades que você desempenha em relação às avaliações psicológicas?

8. Quem participa deste processo?

9. Qual o público-alvo da VEPEMA? Qual demanda vem da VEPEMA?

10. A demanda da VEPEMA se diferencia das demandas oriundas dos outros órgãos?

Como?

11. Em que momento as atividades da VEPEMA e IML dialogam? Ou são em casos

específicos?

12. O que você entende por avaliação psicológica?

13. Como é o processo de apresentação da atividade de avaliação para o sujeito que é

atendido?

14. O sujeito avaliado é informado sobre este processo?

15. É realizado algum tipo de devolutiva para o sujeito após a realização das atividades

da avaliação? Como? Por quê?

16. Qual o tipo de material que é utilizado para o processo de avaliação?

17. Como os testes são selecionados?

18. Há uma definição individual de quais testes utilizar a partir de cada caso ou os

instrumentos de avaliação são padronizados?

19. Quais são os instrumentos utilizados para testagem/avaliação psicológica?

20. Há algo que você considere relevante sobre o tema e/ou trabalho que realiza?

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APÊNDICE II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada “Avaliação Psicológica

no Contexto Jurídico”, que se refere a um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso de

Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, realizado pela aluna Camila Bessa

Silva sob a orientação da professora Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira.

O objetivo desta pesquisa é compreender o processo de avaliação psicológica realizada no

contexto dos processos jurídicos acompanhados pela VEPEMA. Os dados coletados serão

utilizados apenas nesta pesquisa e serão tratados de forma anônima e confidencial. O seu nome não

será solicitado em nenhuma outra parte da pesquisa, salvo neste Termo de Consentimento e

tampouco será utilizado ou revelado em qualquer etapa da pesquisa. Os resultados da pesquisa

serão divulgados na Universidade Católica de Brasília.

A sua participação é voluntária e a qualquer momento você pode desistir de participar da

pesquisa e retirar seu consentimento, sem qualquer tipo de prejuízo. Colocamo-nos a disposição

para esclarecimentos antes e durante o curso da pesquisa. Caso deseje, você pode entrar em contato

com os responsáveis pela pesquisa, pelos e-mails: ([email protected]);

([email protected]) ou pelo telefone: (61) 93209320.

Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador e outra com o

voluntário da pesquisa.

Eu, ________________________________________________________________

(RG_______________) declaro que li as informações contidas neste documento e fui devidamente

informado (a) pela pesquisadora Camila Bessa Silva sobre os procedimentos que serão utilizados,

bem como que me foi garantida confidencialidade na pesquisa. Concordo em participar da

pesquisa, tendo sido garantido (a) que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem

que isto acarrete qualquer penalidade. Declaro ainda que recebi uma cópia deste Termo de

Consentimento.

Brasília, ___ de __________de 2013

______________________________________________

Assinatura do Participante

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