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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Avaliação in silico da afinidade da testosterona e seus derivados sintéticos ao receptor androgênico humano genótipo selvagem ADAM REIAD ABBAS Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof.(a). Dr(a) Gustavo Henrique Goulart Trossini São Paulo 2018

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

Avaliação in silico da afinidade da testosterona e seus derivados

sintéticos ao receptor androgênico humano genótipo selvagem

ADAM REIAD ABBAS

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientador(a):

Prof.(a). Dr(a) Gustavo Henrique

Goulart Trossini

São Paulo

2018

SUMÁRIO

Pág.

Lista de Abreviaturas .......................................................................... 1

RESUMO .......................................................................................... 3

1. INTRODUÇÃO 5

1.1 conceitos gerais 5

1.2 – O receptor Androgênico 5

1.3 – Esteroides Anabólico-Androgênicos 10

1.4 – Técnicas computacionais e Química Computacional 12

2. OBJETIVOS 12

3. MATERIAIS E MÉTODOS 13

3.1. Material 13

3.2. Métodos 13

3.2.1. Seleção da proteína alvo 13

3.2.2. Desenho dos ligantes que serão avaliados 14

3.2.3. Estudos de ancoramento (docking) molecular 14

4. RESULTADOS 15

4.1. Validação da metodologia por reedocking 15

4.2. Obtenção das estruturas tridimensionais das moléculas de interesse e

preparo para análise de ancoramento (docking) molecular

16

4.3. Avaliação comparativa entre pontos de interação de cada EAA com o AR 18

5. DISCUSSÃO 22

6. CONCLUSÃO 34

7. BIBLIOGRAFIA 34

1

LISTA DE ABREVIATURAS

AR Receptor Androgênico

ARG Arginina

ASN Asparagina

DBD DNA Binding Domain

DHT Di-hidrotestosterona

DNA Ácido Desoxirribonucleico

EAS Esteroides Anabóbico-Androgênicos

ER Receptor Estrogênico

FDA Food and Drug Adminstration

GLN Glutamina

GR Receptor de glicocorticoides

HIV Vírus da imunodeficiência humana

IGF Fator de Crescimento Semelhante à insulina

LBDD Ligand based drug design

LDB Ligand Binding Domain

LITEC Laboratório de Integração entre Técnicas Experimentais e

Computacionais no Planejamento de Fármacos

NTD N-terminal Domain

PDB Protein data bank

PR Receptor de Progesterona

QSAR Quantitative structure–activity relationship

2

RMSD root-mean square deviation

RNA Ácido ribonucleico

SBDD Structure based drug design

THG Tetra hidro Gestrinona

THR Treonina

3

RESUMO ABBAS, A.R. Avaliação in silico da afinidade da testosterona e seus derivados sintéticos ao receptor androgênico humano genótipo selvagem. 2018. no. f. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, ano. Palavras-chave: Planejamento de fármacos; testosterona; esteroides sintéticos; receptor androgênico INTRODUÇÃO: Andrógenos e o receptor androgênico desempenham um papel crucial na expressão de características fenotípicas masculinas. Estudos atuais buscam elucidar de forma clara as alterações conformacionais que ocorrem com o receptor androgênico quando em ligação com diferentes compostos. Em especial, o estudo da ligação do receptor com análogos esteroides androgênicos tem interesse especial, uma vez que esses possuem relevância clínica, como nos estudos para desenvolvimento de fármacos para controle de tumores androgênio-dependentes, esportiva, devido ao crescente abuso de substancias para aumento de performance e suas implicações éticas, bem como econômica, como o uso de derivados anabólico-androgênicos sintéticos em ramos como a pecuária. OBJETIVO: Avaliar pontos de interação e grau de afinidade do hormônio testosterona e seus derivados sintéticos com o domínio de interação com ligante do receptor androgênico humano, genótipo selvagem, in silico. MATERIAIS E MÉTODOS: Avaliação computacional de ligação entre os compostos e forma selvagem do receptor androgênico humano, a partir da estrutura cristalográfica obtida na base de dados PDB (Protein Data Bank). Para tal, foram utilizados programas específicos bem como as estações de trabalho do LITEC (Laboratório de Integração entre Técnicas Experimentais e Computacionais no Planejamento de Fármacos). RESULTADOS: A validação do método por redocking como base a estrutura cristalográfica do domínio de ligação com o ligante do AR complexado com a molécula de testosterona obtidos através do Protein Data Bank se mostrou eficaz e fidedigna, sendo válida para as análises realizadas nesse trabalho. A avaliação de pontos de interação hidrofílicos e hidrofóbicos dos ligantes propostos ao receptor androgênico se mostrou condizente com os dados da literatura, fornecendo ainda dados mais concretos com relação a potência de esteroides de uso e abuso corrente em performance esportiva. CONCLUSÃO: Os derivados anabólico-androgênicos pertencentes a família 19-nor se mostraram os mais potentes em relação aos demais devido a melhor acomodação ao AR. Contrário a literatura, os membros pertencentes à família de derivados de DHT, tidos como de baixa potência apresentaram diversos pontos de interação importante com o AR. Estudos mais detalhados, bem como dados in vivo, se mostram necessários para confirmação de tais hipóteses. Os achados são promissores para futuros estudos de agentes moduladores do receptor androgênico, visando a dissociação do potencial anabólico dos efeitos androgênicos.

4

5

1. INTRODUÇÃO 1.1 conceitos gerais O desenvolvimento de novos fármacos, atualmente, ocorre de maneira mais

direcionada que no passado. Os avanços nas técnicas de análise molecular

permitiram a elucidação das estruturas de moléculas bioativas, tanto sintéticas

quanto naturais1,2. Tal processo, hoje, pode ser realizado por avaliação

comparativa de moléculas com propriedades físico-químicas e com efeitos

biológicos semelhantes sem conhecimento a fundo das características ultra

estruturais do sitio de ligação onde se acoplam. Tal técnica, conhecida como

LBDD (Ligant Based Drug Design)3,4 se difere justamente por essa característica

em relação à outra metodologia de desenvolvimento, na qual se há conhecimento

da estrutura do sitio de ligação do ligante, podendo ser explorado de forma mais

precisa as propriedades físico-quimicas tanto do ligante quanto do receptor. Tal

técnica, denominada de desenvolvimento baseado na estrutura (structure based

drug design - SBDD) permite, dessa maneira, o desenvolvimento de novos

ligantes de forma a explorar outras regiões do sitio de ligação, caso haja

viabilidade4,5.

Em relação aos esteroides anabólico-androgênicos, são conhecidos hoje mais de

200 compostos, naturais ou sintéticas, capazes de interagir com o chamado

receptor androgênico (AR).

1.2 – O receptor Androgênico O receptor androgênico (AR) (NR3C4, subfamília de receptor nuclear, grupo C,

gene 4) pertence a grupo de receptores responsivos a hormônios esteroides junto

com o receptor estrogênico (ER), receptor de glicocorticoides (GR), receptor

progesterona (PR) e de mineralocorticoides (MR)6,7,8. O AR pode ser classificado

como um fator de transcrição dependente de ligante que é responsável pela

expressão de um conjunto específico de genes, sendo que a sua ligação com

seus ligantes nativos, como a testosterona e a di-hidrotestosterona, dá início ao

processo de diferenciação sexual masculina9. O gene responsável pela

transcrição do AR se localiza no cromossomo X, região Xq 11-12, possuindo 8

6

exons separados por regiões intrônicas de 0,7-26 kb10,11,12. O mecanismo

dinâmico desse processo é retratado na figura 1.

Figura 1. Mecanismo dinâmico de ação do complexo ligante-AR em células prostáticas. No caso, após síntese nos testículos, a testosterona é convertida em seu derivado reduzido, DHT, podendo assim sinalizar vias de crescimento e desenvolvimento em tecidos específicos, como no caso da próstata (adaptado)9

O gene AR codifica uma proteína de 110kDA constituída por 919 aminoácidos

(figura 2). Assim como outros membros da família de receptores nucleares, o AR

é formado por 3 domínios funcionais majoritários:

• Domínio N-terminal (NTD, formado pelos resíduos 1-555), seguido por,

• Domínio de ligação ao DNA (DBD, formado pelos resíduos 555-623) e,

• Domínio C-terminal de associação ao ligante (LBD, formado pelos resíduos

665-919), o qual é conectado ao DBD por uma região de alça flexível

(resíduos 623-665).

7

Figura 2. Cromossomo X correspondente à porção do DNA ativa na interação com o hormônio

androgênico (adaptado)9.

Todos os 3 domínios são importantes para a função primária do receptor. A região

altamente conservada DBD abraça o AR às regiões promotoras e acentuadoras

dos genes regulados pelo AR por ligação direta ao DNA, permitindo que os

domínios NTD e LDB ativem a transcrição de tais genes. A ligação de um

andrógeno ao receptor resulta em mudanças conformacionais no receptor que, em

contrapartida, levam à dissociação de proteínas Heat Shock, ao transporte do

complexo hormônio/receptor do citosol para o núcleo celular e à dimerização do

complexo. O dímero liga-se a uma região do DNA especifica, conhecida como

elemento de resposta hormonal. Os receptores androgênicos interagem com

outras proteínas no núcleo, resultando em regulação up ou down da transcrição de

sequências específicas no genoma13. Regulação up ou a ativação da transcrição

gênica resulta em elevada síntese de RNA mensageiro, levando a uma maior

síntese proteica. Um dos genes ao qual o receptor de andrógenos se liga é o fator

de crescimento semelhante à Insulina (IGF-1)14. Além disso, mudanças nos níveis

de determinadas proteínas celulares é uma das vias pela qual o receptor

androgênico controla o comportamento celular (metabolismo).

8

Uma função do receptor androgênico, independente da ligação direta ao seu alvo

no DNA, é mediada pelo recrutamento de outras proteínas ligantes ao DNA. Por

exemplo, o fator de resposta ao soro, uma proteína que ativa diversos genes, os

quais levam ao desenvolvimento e crescimento muscular15.

Mais recentemente, receptores androgênicos têm mostrado um segundo

mecanismo de ação. Como já demonstrado para outros receptores hormonais,

como o receptor estrogênico, os receptores androgênicos podem apresentar

atividade que independa de suas interações com o DNA16,17.

Os receptores interagem com determinadas proteínas de transdução no

citoplasma, de modo que a ligação de andrógenos aos seus receptores

citoplasmáticos podem causar rápidas mudanças na função celular, independente

de mudanças na transcrição gênica, como por exemplo, mudanças em transporte

iônico. A regulação em vias de transdução de sinal pode levar a alterações

indiretas na transcrição gênica, por exemplo, pela fosforilação de outros fatores de

transcrição18.

Dado o vasto material disponível em literatura relacionados a estrutura do receptor

além de atividade de esteroides disponíveis em bibliotecas de bancos de dados

foram realizados estudos relacionando dados de QSAR e ancoragem molecular

(docking) entre o receptor e diversos ligantes19,20, buscando relacionar os dados

obtidos a partir dos modelos de QSAR propostos com dados in vivo de potencial

anabólico e androgênico disponíveis na literatura20. Tais dados, ainda que

componham o único conjunto descrito na literatura onde se faz menção ao

potencial anabólico ou androgênico de cada esteroide, já foram extensamente

reavaliados, uma vez que a metodologia de avaliação (desenvolvimento do

músculo eretor do ânus em ratos para efeito anabólico/miotrófico versus

desenvolvimento de tecidos do aparelho genitourinário, como próstata e vesícula

seminal, para efeito androgênico)21. Ao que parece, os dados seriam

inconsistentes devido a diferenças na densidade de receptores androgênicos em

diferentes tecidos, no que tange ao potencial miotrófico, bem como a redução na

atividade na enzima 5a-Redutase em outros, o que seria o fator diferencial para o

potencial androgênico de um esteroide (sua afinidade por tal enzima)22.

9

Há um significativo aumento no interesse na pesquisa de agentes anabólicos no

âmbito clínico para o tratamento de pessoas que sofram com certos tipos de

condições que debilitam suas ações, como por exemplo, aquelas associadas à

perda de tecido muscular devido à idade. Dentre esses compostos, há, por

exemplo, a oxandrolona, que vem sendo empregada em situações relacionadas à

perda muscular ocasionada pelo HIV, queimaduras severas, traumas após

cirurgias de grande porte, doenças neuromusculares, entre outros. Esse composto

é o único aprovado, dentro da classe de esteroides anabólicos androgênicos, para

uso clínico nos EUA, envolvendo o tratamento das distrofias musculares de

Becker e Duchenne. Análises envolvendo o uso deste composto no tratamento de

desordens catabólicas, perdas envolvidas com HIV e problemas musculares

apresentaram uma evidência clínica concisa sobre a sua eficácia farmacológica. A

oxandrolona está envolvida na melhoria da composição corporal, força, função

muscular. Diferentemente de outros esteroides administrados por via oral, a

oxandrolona apresenta uma menor hepatotoxicidade - que envolve possível

ocorrência de icterícia, hepatite colestática, peliose, hiperplasias e neoplasias -,

vinculada aos esteroides do tipo C17-alfa-alquilados. Por outro lado, em doses

elevadas de uso, seus efeitos hepatotóxicos começam a apresentar-se mais

significativos, além de extremamente caros23.

Há questões importantes a serem consideradas no emprego e no

desenvolvimento de um fármaco esteroide, como seu potencial anabólico, que

está vinculada ao crescimento e divisão celulares e desenvolvimento de diversos

tipos de tecidos, especialmente o muscular e ósseo, potencial androgênico,

relacionada ao controle do desenvolvimento e à manutenção das características

sexuais secundárias masculinas, hepatotoxicidade devido aos processos de

metabolização e excreção, bem como potencial de redução e aromatização e

efeitos centrais23.

A aromatização consiste em um processo de conversão de um esteroide

androgênico em seu correspondente estrogênico via atuação da enzima

aromatase, sendo um efeito colateral indesejável em tratamentos de distrofias

musculares. Analogamente, a redução é o processo de conversão de um

10

esteroide androgênico em seu correspondente mais potente (similar ao DHT) via

atuação da enzima 5α-Redutase24.

Dessa maneira, o estudo do potencial anabólico/androgênico de esteroides

sintéticos por ferramentas computacionais, apresenta potencial para, no futuro, o

desenvolvimento racional de novos medicamentos com potencial clinico, assim

como novas rotas de síntese além de aplicabilidade em outras áreas, como

veterinária e agropecuária.

1.3 – Esteroides Anabólico-Androgênicos

Andrógenos exercem diversos efeitos no organismo, incluindo tecidos

reprodutivos, musculo, ossos, entre diversos outros. Os ditos efeitos androgênicos

podem ser classificados como aqueles que causam exacerbação das

características sexuais secundárias masculinas enquanto que os anabólicos

aqueles que aumentam os processos de síntese proteica no tecido muscular.

Os efeitos de andrógenos são modulados em nível celular por conjuntos de

enzimas presentes em cada tecido especifico. Por exemplo, nos tecidos

reprodutivos, a testosterona pode ser considerada como um pró hormônio, uma

vez que é convertida prontamente nos mesmos pela enzima 5α-redutase em seu

derivado reduzido, a di-hidrotestosterona (DHT). Já em outros tecidos, como o

tecido adiposo, a mesma é convertida, agora via ação de outra enzima, em seu

derivado aromático, o estradiol. Já no tecido muscular, não se detecta atividade da

redutase, sendo a testosterona o principal ligante a se associar ao AR nesse

tecido25,26.

Com a adição de modificações estruturais na molécula de testosterona, os efeitos

anabólicos dos esteroides podem ser incrementados. Entretanto, ainda assim não

é possível dissociar totalmente esses derivados de seus efeitos androgênicos

(figura 3).

11

Figura 3: modificações estruturais na molécula de testosterona que aumentam a atividade anabólica e reduzem atividade androgênica (adaptado)27

Por fins didáticos, os EAS utilizados nesse trabalho foram separados em

categorias segundo os critérios de Vida20. A saber:

• Derivados de testosterona: conjunto de moléculas que agrupam os

derivados sintéticos obtidos a partir de modificações na estrutura original da

testosterona. Exemplos são boldenona, metandrostenolona,

fluoximesterona, 4-Cl-dihidrometiltestosterona).

• Derivados 19-nor: conjunto de moléculas agrupadas pela perda do carbono

19 da estrutura original da molécula de testosterona. Tal modificação

molecular impede a metabolização desses compostos pelo citocromo 19A1

(Cyp19A1) Aromatase, responsável pela conversão de andrógenos em

estrógenos no organismo24. Dentre eles, destacam-se a gestrinona, a

nandrolona e a trembolona.

• Derivados de DHT: conjunto de moléculas que agrupam os derivados

sintéticos obtidos a partir de modificações na molécula de DHT (metabólito

obtido a partir da redução da insaturação entre C3-C4 por intermédio da

12

enzima 5ɑ Redutase). Alguns exemplos são o stanozolol, oxandrolona,

metenolona, mesterolona e drostanolona.

1.4 – Técnicas computacionais e Química Computacional

Atualmente, com avanço das pesquisas na área tecnológica, a Química

computacional (QC) se mostra como uma ferramenta importante para

compreensão da dinâmica em sistemas biológicos. Essa potente ferramenta pode,

assim, ser classificada como um conjunto de técnicas que utilizam métodos

computacionais na resolução de problemas químicos (como estrutura e

conformação tridimensional)28, por meio da utilização de recursos matemáticos,

mecânica clássica e quântica, bem como conhecimentos de química teórica, de

modo a entender, sob determinadas condições, os métodos realizados utilizam

cálculos para o processamento, visualização e manipulação de resultados na

busca de moléculas bioativas e/ou no entendimento de seu mecanismo de

ação28,29.

A partir da década de 1980, houve um maior desenvolvimento e melhoria nos

softwares e hardwares, juntamente com avanços no conhecimento bioquímico

sobre as bases moleculares das doenças, o que permitiu um avanço significativo

na química computacional aplicada ao planejamento de fármacos permitindo a

utilização desta tecnologia na academia e nas indústrias químicas e

farmacêuticas30.

2. OBJETIVO(S) Avaliação in silico de pontos de interação de diversos esteroides

anabólico/androgênicos, suas propriedades físico-químicas e comparação de sua

afinidade pelo receptor androgênico

13

3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Material Para confecção e elaboração desse trabalho, foram utilizados:

• Estação de trabalho computacional disponível no LITEC/FCF-USP;

• Softwares computacionais:

o Pymol (gratuito);

o Chimera (gratuito);

o GRID (disponível no laboratório do Prof. Dr. Gustavo H. G. Trossini);

o GOLD (disponível no laboratório do Prof. Dr Gustavo H. G. Trossini),

o Autodock Vina e ROCS (disponível no laboratório do Prof. Dr.

Gustavo H. G. Trossini)

3.2. Métodos 3.2.1. Seleção da proteína alvo A escolha da proteína alvo a partir da base de dados PDB depende de diversos

fatores experimentais associados à estrutura cristalográfica selecionada. O critério

base para escolha de uma estrutura é seu valor de resolução. A resolução é uma

medida diretamente relacionada com a distância mínima que dois objetos estão

separados e ainda assim serem vistos como dois objetos independentes. Valores

numéricos pequenos para resolução significam uma pequena incerteza, logo

temos um alto grau de resolução (baixa incerteza). Já valores altos significam

grande incerteza, logo, baixa resolução31. O cristal 2AM9 para a forma selvagem

do AR apresentou alto grau de resolução com valor de 1,64Å, sendo assim a

escolha para esse trabalho. Andrógenos exercem seus efeitos devido a sua

ligação com o receptor androgênico (AR). Adicionalmente aos seus ligantes

naturais androgênicos, o AR pode se ligar a uma variedade imensa de agonistas e

antagonistas sintéticos com diferentes graus de afinidade. Para a identificação dos

determinantes moleculares que levam a essa variabilidade na afinidade de

ligação, em geral são feitas determinações de estrutura cristalográfica da proteína

ligante ou ainda de regiões especificas da mesma. Pereira de Jésus-Tran e

14

colaboradores32 em seu trabalho de 2006 fizeram a determinação da estrutura

cristalográfica do domínio de ligação ao ligante do receptor androgênico humano,

quando complexado com seus dois ligantes naturais, testosterona e di-

hidrotestosterona, além de um esteroide sintético utilizado classificado como

dopping esportivo, a tetrahidrogestrinona (THG), em uma relução de 1,64, 1,90, e

1,75 A˚, respectivamente. A comparação dessas estruturas permitiu demonstrar

uma grande flexibilidade e variedade de resíduos no LBD capazes de acomodar

uma serie de estruturas de ligantes e, como já era de se esperar, a própria

estrutura do ligante é quem determina o número de interações feitas com o LBD

do AR. É com base nessa premissa que foram avaliados os tipos de interações e

número de interações dos compostos propostos nesse trabalho com o AR.

3.2.2. Desenho dos ligantes que serão avaliados

Para preparação das estruturas dos ligantes propostos foi utilizado a ferramenta

ChemBio3D®, parte do pacote software Chemdraw®.

Após a obtenção das estruturas 2 e 3D, foi realizado a obtenção da conformação

mais estável do ligante através do software Chimera®.

3.2.3. Estudos de ancoramento (docking) molecular Para os estudos de docking foram utilizadas as estruturas cristalográficas do

receptor androgênico extraídas do Protein Data Bank – PDB (2AM9) de boa

definição e resolução, sem mutações no sítio ativo (proteína selvagem).

O método de docking é uma ferramenta computacional utilizada para predizer

orientações mais prováveis de uma molécula em relação a outra quando ligadas

entre si, formando um complexo estável33. O conhecimento de orientação

preferencial de uma molécula é um dos pontos chave para prever o grau de

associação ou ligação entre as duas moléculas envolvidas no processo, processo

esse que pode ser convertido em valores numéricos, através de uma função de

ranqueamento ou score. A maior parte dos algoritmos utilizados por softwares de

modelagem molecular e docking são capazes de gerar um número elevado de

confôrmeros possíveis, o que também acaba por exigir algoritmos de forma a

determinar quais dessas estruturas serão de maior interesse para o analisador, o

15

que é preocupante uma vez que deve-se avaliar uma série de estruturas

plausíveis para complexos intermoleculares34,35. Sendo assim, a maneira

encontrada em nosso trabalho para garantir a validação da metodologia foi

confrontar os dados gerados tanto pelo software Gold® quanto por outras

ferramentas, como o software de linha aberta Autodock VINA. Os valores de R²

para análise de regressão para ambos foram significativos para os parâmetros

escolhidos pela equipe de análise. Foram gerados para cada um dos EAS

avaliados, bem como para a própria testosterona 10 possíveis confôrmeros que

satisfizeram os critérios de acoplamento. A área de docking foi definida por caixas

de 5, 10 e 15Å a partir do centro do esqueleto base ciclopentanofenantreno de

andrógenos. Ligações e seus graus de torção foram escolhidos como livres

(flexibilidade completa). Tais resultados demonstram a robustez e solidez da

metodologia empregada frente à proposta desse trabalho.

4. RESULTADOS 4.1. Validação da metodologia por reedocking De forma a melhorar a acurácia e robustez do método, foram realizados estudos

de docking tendo como base a estrutura cristalográfica do domínio de ligação com

o ligante do AR complexado com a molécula de testosterona, obtidos no Protein

Data Bank (código de busca 2AM9 – resolução 1.64 Å). Tal estrutura foi utilizada

como “plano de fundo” para se avaliar os possíveis pontos de interação de cada

um dos esteroides avaliados nesse trabalho. Para tal, foram geradas 10 poses

para a molécula de testosterona, avaliando-se os principais pontos de distância

envolvidos na farmacodinâmica do complexo ligante-receptor, abrangendo uma

área de 5 a 15 Å ao redor do domínio de ligação. Os médias de distância entre os

principais resíduos envolvidos com a atividade hormonal para áreas de 5, 10 e 15

Å, bem como as médias de RMSD e Scores para cada uma das áreas

empregadas se encontram na tabela 1.

16

Tabela 1: distâncias médias de ligação entre os resíduos de aminoácidos e os átomos de oxigênio presentes na molécula de testosterona.

Resíduo Átomo

envolvido na ligação

5A 10A 15A

ASN705 O17 4,06 4,06 4,05THR877 O17 3,11 3,55 3,56ARG752 O3 2,1 2,07 2,08

4,6848 4,6914 4,680141,028 40,915 41,093

RMSDScore

De forma a garantir que tais resultados obtidos foram fidedignos em relação a

metodologia de ancoramento molecular utilizada, os dados médios de distância,

de RMSD e Score foram confrontados uns com os outros para obtenção de

medida de regressão linear, sendo obtido valor de R² = 0,999 (figura 4)

Figura 4: reta de regressão linear obtida por confronto de dados de rmsd, gold score e distância média entre resíduos e o

ligante.

17

4.2. Obtenção das estruturas tridimensionais das moléculas de interesse e

preparo para análise de ancoramento (docking) molecular Para a obtenção de estruturas tridimensionais visando análise de ancoramento,

docking, é necessário que alguns passos sejam seguidos.

Primeiramente, após desenhadas em programa especifico (Chemdraw® -

ferramenta ChemBio3D®) as mesmas passem por processos de minimização de

energia, para correção de ângulos e distancias de ligação (Chimera®). Uma busca

conformacional foi executada, visando a obtenção de mínimo de energia, local ou

global. Uma única fórmula molecular pode representar um número elevado de

isômeros, cada qual um mínimo local na superfície de energia (superfície de

energia potencial), criada a partir da energia total (energia eletrônica mais a

energia de repulsão entre os núcleos) em função das coordenadas de todos os

núcleos. O ponto estacionário é classificado como a geometria na qual a derivada

da energia com respeito a todos os deslocamentos dos núcleos é igual a zero. Um

mínimo local (de energia) é um ponto estacionário onde todos os deslocamentos

implicam um aumento na energia. Um mínimo local também é chamado de

mínimo global se corresponder ao isômero mais estável, ou seja, se não houver

nenhum outro ponto estacionário com menor energia na superfície de energia

potencial. Se uma determinada mudança de coordenada em particular implicar em

um decréscimo na energia total em duas direções, este ponto estacionário

corresponde a estrutura de transição e a coordenada é chamada de coordenada

de reação. Este processo de determinação de pontos estacionários é chamado de

otimização de geometria33. Entretanto, tal procedimento não foi realizado para os

compostos propostos uma vez que fugiria ao escopo do trabalho.

Para cada uma das 14 moléculas avaliadas foram geradas 10 poses de maior

estabilidade em relação ao domínio de ligação entre o ligante-receptor obtido pela

validação de docking com a molécula de testosterona. A escolha da melhor pose

se baseou-se nos menores valores de distância entre os resíduos base (ASN705,

THR877, ARG752) com os átomos de oxigênio presentes em cada uma das

moléculas. Tais valores podem ser observados na tabela 2. Um dos compostos

sugeridos para análise nesse trabalho foi excluído durante a fase de estudo, a

18

oximetalona, uma vez que os confôrmeros gerados para avaliação se ancoraram

ao sitio de ligação do AR de maneira invertida. Tal dado requer estudos mais

avançados e que fogem ao escopo desse trabalho.

Tabela 2: poses de escolha de cada um dos esteroides anabólico-androgênicos avaliados de acordo

com as distâncias dos resíduos primordiais para ação da testosterona no AR mediante docking de

acordo com os critérios estabelecidos durante a validação do método.

ASN705 THR877 ARG752DHT 5 6,3 5,7 2,1mesterolona 10 6,4 6,3 2,2drostanolona 9 7,3 7,1 2,4metenolona 5 7 6,9 2,1oxandrolona 6 6,9 6,5 2stanozolol 1 5,4 2,3 1,7boldenona 10 5,9 5,3 1,7metandrostenolona 10 6,3 4,8 2,14-Cl-Dihidrometiltestosterona 5 5,7 5,7 1,6Fluoximesterona 4 5,7 5,6 3,3gestrinona 4 6,4 2,4 1,7nandrolona 3 7,7 7,2 1,7trembolona 9 6,7 6 1,7

resíduoPose de escolha

Derivado EAA

4.3. Avaliação comparativa entre pontos de interação de cada EAA com o AR

As tabelas 3, 4 e 5 a seguir indicam os principais pontos de interação de cada um

dos EAS e os aminoácidos do AR, avaliados nesse trabalho, além daqueles

estabelecidos como pontos primordiais para atividade biológica para essa classe

de compostos. Tal indagação surge pelo fato que, apesar de ASN705 e THR877

serem considerados fundamentais para a atividade de testosterona no AR, os

derivados esteroides sintéticos parecem não realizar tal tipo de interação. Logo,

sua elevada potência conhecida na prática clínica pode estar associada com

outros possíveis pontos de interação entre ligantes e receptor.

19

Tabela 3: análise das interações ligante-receptor para os derivados 19-nor obtidos pelo programa Pymol

tren gest nandro

O3 3,9A 5,8A ---O3 1,7A 1,7A 1,7AO17 3,2A 6,2A 3,4AO17 6,7A 6,4A 7,7AO17 6A 2,4A 7,2A

C1C2C3C4C5C1C2C3C4C5C1C2C3C4C5C6C7C8C9C10C11C12C13C14C15C16C17

5A --- 5,6A6,5A --- ---

C19 --- 4,4A ---C20C21C20C21C20C21

LEU701

átomo envolvido na

ligaçãoResíduo

distância entre os átomos

ligações de H

Interações hidrofóbicas

ARG752

--- 4,8A ---LEU701

LEU880 --- 5A ---

6,3A6,6A

5,9A

5,2A

PHE891 5,2A ------

LEU707 6,1A

LEU707 5,2A---

--- ---

4,2A

VAL746

PHE876C18

5A

GLN711

MET780

PHE764

LEU873

ASN705THR877

5,3A

20

Tabela 4: análise das interações ligante-receptor para os derivados de

testosterona obtidos pelo programa Pymol

Fluoxi 4-Cl Dbol Bold

O3 4,5A 3,9A --- ---O3 5,5A 5,5A 6,4A 5,9AO3 3,3A 1,6A 2,1A 1,7AO11 4,2A --- --- ---O17 4,6A 4,5A 3,7A 4AO17 5,7A 5,7A 6,3A 5,9AO17 5,6A 5,7A 4,8A 5,3A

C1C2C3C4C5C1C2C3C4C5C1C2C3C4C5C6C7C8C9C10C11C12C13C14C15C16C17 4,7A 4,7A 6A ---C17 5A --- --- ---C18 4,8A 4,1A 4,6A 4,2AC19 --- --- 5,4A ---C19 4,8A 5,4A 3,9A 5,7AC19 4,7A --- --- ---C20 --- 4,5A 6,1A ---C21C20C21C20C21

Cl4 --- 5,5A --- ---F10 --- --- --- ---

6,3A

PHE764

5,2A

5,5A

MET787

PHE876

GLN711

ligações de H

Interações hidrofóbicas

---

LEU701LEU704

Interações com halogênios

ARG752

PHE891

distância entre os átomos

GLY708

5,6A

5A

5,8A

LEU880

LEU873LEU873VAL746

VAL746

LEU707

THR877

PHE764 5,6A

LEU707 5,4A

Resíduo átomo envolvido

GLN711

MET780ASN705

21

Tabela 5: análise das interações ligante-receptor para os derivados de di-hidrotestosterona obtidos pelo

programa Pymol

stan oxan primo master prov dht

O3 --- 2A 2,1A 2,4A 2,2A 2,1AO3 --- 6,6A 6,4A 6,5A 6,3A 6,2AO17 --- 3,8A 3A 4,6A 3,7A 4,1AO17 5,4A 6,9A 7A 7,3A 6,3A 5,7AO17 2,3A 6,5A 6,9A 7,1A 6,4A 6,3AN2 1,7A --- --- --- --- ---N1 3,4A --- 6,4A --- --- ---N1 4,7A

C1 ---C2C1 --- --- 4,9A --- ---C2 --- 6,7A ---C1 --- 4,6AC2 4,4A ---C1 --- --- --- 4,1A 4,4AC7C8C9C10C11C12C13C14C15C16C17 --- 5A --- --- --- ---C17 4,8A --- --- --- --- ---C17 4,4A 4,6A --- --- --- ---C17 6,8A --- --- --- --- ---C18 --- 4,9A --- --- 4,6A 3,8AC19 6A --- 5,6A --- --- ---C19 5,9A 5A 4,5A --- 4,6A 4,2AC19 --- --- 5,8A --- --- ---C20C21C20C21C20C21

GLN711

LEU873

PHE764

VAL746

---

LEU701LEU873

LEU873TRP741VAL746LEU873

4,8A---

LEU707

Resíduo átomo envolvido

ligações de H

distância entre os átomos

LEU880

MET745

PHE876

ARG752

MET780ASN705THR877

Interações hidrofóbicas

ARG752GLN711

5,1A

22

5. DISCUSSÃO Sabe-se que pontos de interação hidrofílica, através da formação de ligações de

hidrogênio, são de crucial importância para a ligação do composto ligante ao sitio

ativo do AR (LBD). Os resíduos de ARG752, ASN705 E THR877são de crucial

importância para atividade dos ligantes naturais testosterona e di-

hidrotestosterona ao AR. Como regra, a maioria dos andrógenos que se ligam

com alta afinidade ao AR possuem um grupo carbonila no carbono 3 do anel A,

além de um grupo hidroxila ligado ao carbono 17, em posição beta, possibilitando

a formação de interações de hidrogênio com os resíduos acima detalhados27. Uma

vez que ligações de hidrogênio são muito mais potentes que interações

hidrofóbicas (como interações de van der Waals), é de se entender o porque de

tais interações serem o principal agente a explicar o motivo pelo qual andrógenos

se ligam ao AR com tanta afinidade em faixas de concentração da ordem de

nanomolar38. Ainda, ligações de hidrogênio (interações eletrostáticas de forma

geral) são necessárias para promover ligação do ligante ao receptor, enquanto

que as ligações hidrofóbicas (ou interações eletrodinâmicas) teriam por papel

garantir alto grau de seletividade do receptor a determinadas classes de ligantes

além de auxiliar na estabilização do ligante ao receptor.

A maioria dos trabalhos envolvendo análise de interação entre ligantes esteroides

ao AR descreve a interação do átomo de oxigênio da carbonila em C3 como

crucial para atividade do mesmo10,27,33,38,39, sendo que mutações nesse resíduo

(ARG752GLN) afetam a atividade do receptor, produzindo um fenótipo conhecido

como síndrome de insensibilidade androgênica, conduzindo a quadros de pseudo-

hermafroditismo38. É também de conhecimento que a distância de ligação

envolvidos na formação de ligações de hidrogênio é proporcional à força de

interação envolvida entre os mesmos, devido ao vetor força gerado. Os dados

presentes na tabela 2 nos fornecem as distancias de ligação entre a carbonila do

C3 e o resíduo de ARG752 dos compostos avaliados nesse trabalho. Observa-se

que derivados 19-nor apresentam distancias de ligação muito menores que de

outros ligantes, como a própria testosterona e o DHT. Outros esteroides

pertencentes a outras famílias, como os próprios derivados de DHT apresentaram

23

maior grau de interação do que os ligantes naturais. Curiosamente, os membros

derivados dessa família são tidos como de baixa potencia e ligação ao AR20.

Kicman, em revisão24 aponta para a inconsistência dos dados produzidos pelo

trabalho de Vida20, no qual se adotaram índices anabólico-androgênicos para uma

extensa gama de derivados sintéticos incompatíveis com novos trabalhos. As

fundamentações de tais índices são oriundas de metodologia modificada de

Eisenberg e Gordan39 por Hershberger e colaboradores40. Eisenberg e Gordan39

propuseram o uso do desenvolvimento do músculo elevador do ânus (elevator ani)

de ratos como critério para mensuração de anabolismo, uma vez que ratos

castrados tratados com diversos esteroides, como proprionato de testosterona ou

ainda 17-α-metil-testosterona, paralelo a um baixo índice de desenvolvimento das

glândulas seminais (um órgão responsivo a andrógenos). Hershberger e

colaboradores40 utilizaram como critério de avaliação androgênica o

desenvolvimento da parte ventral da próstata de ratos gonadectomizados. O

índice de mensuração proposto foi:

Razão Anabólico-androgênico = (peso do músculo eretor do anus experimental –

peso do musculo eretor do anus controle)/(peso da próstata ventral experimental –

peso da próstata ventral controle)

Kruskemper41 discutiu diversas falhas em tais índices para avaliação anabólico-

androgênico. Por exemplo, as vesículas seminais reagem de forma mais lenta a

certos andrógenos, de forma que a administração por curto período de tempo do

composto poderia levar a um viés de análise. Ainda, diversos outros trabalhos

demonstraram que a administração de curto prazo em ratos gonadectomizados

levaram a desenvolvimento de órgãos associados com o aparelho urogenital em

ratos, mas não levaram ao desenvolvimento de outros músculos como os da

coxa42,43,44. Uma hipótese discutida sobre os mecanismos associados a

anabolismo-androgenicidade é de que determinados tecidos teriam maior

sensibilidade a andrógenos por apresentarem maior densidade da enzima 5α-

Redutase, que poderia tais compostos em derivados mais potentes. Dessa

24

maneira, ainda não se tem claro a razão pela qual determinados esteroides não

aparentarem dissociação entre índices anabólicos androgênicos, ainda que

possuam modificações moleculares que em tese diminuíram tais discrepâncias.

Por exemplo, o derivado 19-nor-testosterona (nandrolona), ainda que possa sofrer

redução, leva a produção de um derivado androgênico de menor afinidade ao AR

que o próprio DHT. Entretanto, sabe-se que derivados de DHT, como estanozolol

e oxandrolona podem apresentar desenvolvimento de órgãos sensíveis a

andrógenos. Isso demonstra que, mesmo compostos com baixo índice

androgênico teórico, podem levar a características androgenizantes (virilizantes)

quando administrados de forma crônica, como observado em mulheres e

crianças24.

Alvarez-Ginarte e colaboradores33 buscaram uma correlação entre técnicas de

Virtual Screening para ligante e receptor com os dados compilados por Vida20 na

busca de compostos esteroides anabólicos líderes, que pudessem apresentar

maior dissociação do índice anabólico-androgênico. O grupo deduziu conclusões

importantes sobre pontos de interação dos ligantes com o AR, baseados nos

dados de interação do mesmo com testosterona e DHT:

• O átomo de oxigênio da carbonila em C3 que contem um par de elétrons

livres que pode interagir com resíduos hidrofílicos da vizinhança do anel A.

• O átomo de oxigênio da hidroxila associada a C17 possui uma carga parcial

positiva que permite que o mesmo interaja com resíduos eletronegativos do

anel D.

• Testosterona e DHT possuem interações hidrofóbicas semelhantes com

outros ligantes e o AR.

O trabalho classificou um composto como sendo um anabólico potente caso

obedeça os modelos QSAR propostos pelo grupo além de apresentar um grupo

carbonil (cetona) e hidroxil nas posições descritas, que favorecem a ligação do

andrógeno ao receptor no sitio de ligação LBD. Em relação a interações

hidrofóbicas, o grupo considerou como boas interações aquelas que apresentaram

distancia menor que 4Å.

25

Ainda que a maior parte dos trabalhos descreve a interação da hidroxila em C17

como um ponto importante para atividade de derivados esteroides sintéticos,

poucos demostraram tal relevância com relação aos derivados sintéticos de uso

corrente para propósitos escusos, como o dopping esportivo. Mesmo o trabalho de

Álvarez-Ginarte e colaboradores33, ao selecionar através de virtual screening uma

coleção de mais de 200 compostos, não parece ter demostrado diferença

relevante desse grupo para maior grau de anabolismo. Mesmo em nosso trabalho,

como pode ser visto na tabela 2, verifica-se que as distancias de ligação da

hidroxila em C17 aos resíduos da vizinhança do anel D são muito maiores do que

aquelas estabelecidas como aceitáveis para ligações de hidrogênio (menores que

3Å). Isso se deve ao arranjo tridimensional adquirido pelos ligantes uma vez

associados ao LDB do AR. A figura 5 aponta as distancias de ligação do derivado

gestrinona aos resíduos de ARG752 e THR877 bem como uma vista geral da

mesma no LDB. De forma geral, sabe-se que os derivados 19-nor (trembolona,

gestrinona e nandrolona) apresentam alto índice de anabolismo e baixo índice

androgênico.

26

Figura 5: a) distância de ligação do derivado gestrinona ao resíduo ARG752 b) distância de ligação do derivado gestrinona ao resíduo THR877 c) vista geral de gestrinona no LDB.

A figura 6 aponta os pontos de interação entre o derivado trembolona no LDB bem

como sua visão geral associada ao receptor e, em conjunto com a gestrinona, e

outros trabalhos que descrevem o uso de outro esteroide, a tetrahidrogestrinona

(THG) por atletas, nos fornece dados importantes acerca de possíveis

mecanismos de sua alta potência e ligação ao receptor. As interações hidrofóbicas

parecem apresentar pouca relevância nos trabalhos descritos anteriormente.

Entretanto a tabela 3 nos fornece dados das interações ligante-receptor para os

derivados 19-nor em relação aos resíduos que circundam o ligante. Notamos que,

apesar das distancias serem maiores que 4Å, como preconizados no trabalho de

Alvarez-Ginarte e colaboradores33, os derivados aparentam distancias de ligação

semelhantes entre si e, para trembolona e gestrinona, que possuem sistemas de

duplas ligações integradas, observamos que tal grau de estabilidade permite que

ambas se acomodem de forma quase espelhada em plano longitudinal no

receptor.

27

Figura 6: a) ponto de interação entre o derivado trembolona ao resíduo ARG 752 b) vista geral do derivado associado ao receptor

Outro dado importante que vale discussão em nosso trabalho é com relação aos

esteroides agrupados como Derivados de testosterona. Ainda que tenham sido

avaliadas possíveis interações hidrofóbicas importantes para interação entre os

derivados e o AR, nenhum dos resíduos avaliados apresentaram interações com o

esqueleto esteroide dos compostos avaliados. Ao que parece, as ligações de

hidrogênio parecem ser os maiores determinantes para atividade desses em

relação ao receptor. Alguns desses derivados, como a fluoximesterona

(halostestin) e o 4-Cl-dihidrometiltestosterona (turinabol) chamam atenção por

28

conterem halogênios em sua estrutura, o que poderia levar a duas possíveis

interações com o AR:

• Por ligações de hidrogênio com resíduos na vizinhança do halogênio

• Pela exploração de bolsões na vizinhança do halogênio, que permitiram

melhor acomodamento dos mesmos no AR.

Na figura 7, observamos os resíduos ao redor do átomo de cloro presente na

molécula de turinabol. É possível que as cargas eletrônicas ao redor do mesmo

possam acomodar de forma harmônica o composto no AR, o que em parte

explicaria seu elevado potencial anabólico. Da mesma forma, podemos usar tal

critério para descrever o potencial anabólico elevado da molécula de

fluoximesterona (halotestin), comumente utilizada de forma abusiva por atletas45.

Figura 7: a) possível bolsão ao redor do grupo Cl da molécula de 4-Cl-di-hidro-metil-testosterona (turinabol) b) possível bolsão ao redor do grupo F da molécula de fluoximesterona (halotestin).

29

Outro ponto importante a ser discutido ainda com relação aos derivados de

testosterona é a mudança de potencia em relação à ligação ao AR em decorrência

da alquilação em alfa do C17. Tal modificação é realizada a fim de que o esteroide

apresente viabilidade quando administrado oralmente, de forma a sobreviver ao

efeito de primeiro passo hepático. Entretanto, sabe-se que a presença desse

grupo alquil (geralmente metil) é responsável por elevar o índice anabólico dos

esteroides. Comparando dois membros dessa mesma família, a saber, boldenona

e metandrostenolona (dianabol). Como é possível verificar na tabela 4, a presença

de um grupo metil na molécula de metandrostenola em C17 permite explorar

interações hidrofóbicas em tal vizinhança, ainda que de forma fraca devido as

distâncias de ligação serem maiores que 4A (figura 8). Nota-se ainda que, a única

diferença estrutural entre os mesmos reside apenas na presença do grupo metil

associado ao C17, demonstrando a importância dessa modificação molecular para

a potência dos EAS (figura 9).

Figura 8: possíveis interações hidrofóbicas entre os resíduos na vizinhança do grupo metil associado em C17 de metandrostenolona (dianabol); a)PHE891 b) PHE876 c) LEU880 d) LEU701.

30

Figura 9: a) conformação da molécula de boldenona no LDB do AR. b) conformação da molécula de metandrostenolona (dianabol) no LDB do AR.

Ainda que não tenha sido explorado nesse trabalho, outro caso onde se verifica

aumento de potencia do esteroide por metilação em C17 ocorre com dois

derivados de DHT, a saber, a drostanolona, e seu derivado 17 alquilado, metil-

drostanolona, conhecido popularmente como SuperDrol, o qual foi popularmente

comercializado nos anos 2000 como um suplemento nutricional na forma de

dimetazina, podendo ser classificado como um pró fármaco, uma vez que o

mesmo é formado por duas moléculas de metil-drostanolona unidos por um átomo

de nitrogênio, levando a sua retirada do mercado 2006 pelo FDA46 (figura 10).

31

Figura 10: molécula de dimetazina, classificada como um pró-hormônio ou pró fármaco, após sofrer metabolização libera 2 moleculas de metil-drostanolona, popularmente conhecido como superdrol.

Os esteroides membros da família dos derivados de DHT são tidos comumente

como compostos de baixa potencia e fraca ligação ao AR. Sua modificação base

consiste na perda da dupla ligação entre C4-C5, sitio de ação da enzima 5α-

Redutase, que leva a formação de derivados reduzidos. Dessa maneira, a

formação de compostos derivados reduzidos em tecidos androgênicos se

reduziria, como preconizado na revisão de Kicman24. Entretanto, sabe-se que o

uso crônico de tais compostos não os dissocia de efeitos virilizantes. Os dados da

tabela 5 se tornam ainda mais interessantes quando analisamos caso a caso

pontos de interação dos mesmos com o AR.

No caso da molécula de estanozolol, verifica-se que a presença do anél pirazol

unido ao anel A do esqueleto esteroide diminui muito a distancia de interação de

hidrogênio entre o par de elétrons do átomo de nitrogênio e o resíduo ARG752.

Ainda, se observa que esse mesmo grupo é capaz de interagir com outros

resíduos em sua vizinhança, como GLN711. Ainda, o oxigênio presenta na

hidroxila associada a C17 apresenta uma distancia de ligação de hidrogênio

reduzida em relação aos ligantes naturais com o resíduo de THR877. Ainda que

existam, com distancias de ligação relativamente altas, as interações hidrofóbicas

32

de estanozolol com o AR parecem desempenhar um papel de menor importância

de interação entre os mesmos (figura 11).

Outra interação que merece destaque e é pouco discutida é a de resíduo MET780

com o oxigênio presenta na hidroxila associada a C17 na molécula de metenolona

(primobolan), de 3A. Tal valor ainda que alto pode ser aceito como uma interação

de hidrogênio fraca.

Outras interações tidas como responsáveis pelo aumento na atividade anabólica

associada as modificações moleculares na molécula de testosterona, como a

alquilação de C1 e/ou C2, propostas por Fragkaki e colaboradores27, não

mostraram interações hidrofóbicas com distancia menor ou igual a 4A entre os

resíduos metil presentes tanto na molécula de drostanolona (masteron) quanto de

metenolona (primobolan) com resíduos de aminoácidos ao redor da vizinhança do

anel A. Possivelmente esses grupos aumentem a atividade anabólica de tais

moléculas devido ao acomodamento do ligante ao receptor de forma mais estável

em decorrência da presença de bolsões hidrofóbicos capazes de acomodar tais

grupos (figura 12)

Figura 11: interações de hidrogênio entre os resíduos ARG752, GLN 711 e THR877 com a molécula de estanozolol. Observe que a presença do anel pirazol diminui a distância de interação do par eletrônico com o resíduo de ARG752.

33

Figura 12: a) possível bolsão hidrofóbico em interação com o grupo metil em C2 da molécula de drostanolona

(masteron). b) possível bolsão hidrofóbico em interação com grupo metil em C1 da molécula de metenolona

(primobolan).

34

6. CONCLUÕES Mesmo com a necessidade de maior detalhamento nas análises para real

compreensão da correlação entre as interações que os ligantes apresentam ao AR

com sua atividade e potência, fica claro nesse trabalho que determinados pontos

de interação são cruciais para atividade dos esteroides anabólico-androgênicos.

Os derivados anabólico-androgênicos pertencentes a família 19-nor se mostraram

os mais potentes em relação aos demais devido a melhor acomodação ao AR.

Contrário a literatura, os membros pertencentes à família de derivados de DHT,

tidos como de baixa potência apresentaram diversos pontos de interação

importante com o AR. Estudos mais detalhados, bem como correlação com dados

in vivo, se mostram necessários para confirmação de tais hipóteses. Os achados

são promissores para futuros estudos de agentes que possam atuar moduladores

do receptor androgênico, visando a dissociação do potencial anabólico dos efeitos

androgênicos, bem como aumento de seletividade de tecido e futura

aplicabilidade, especialmente clínica, como no tratamento de quadros de caquexia

crônica ou ainda agentes com potencial anti tumoral, especialmente em tecidos

sensíveis à andrógenos, como a próstata e o aparelho urogenital de forma geral.

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_26 de setembro de 2018_______ _26 de setembro de 2018____ Data e assinatura do aluno(a) Data e assinatura do orientador(a)