avaliação de riscos na obra de reabilitação do solar de arnoia....avaliação de riscos na obra...
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Avaliação de Riscos na Obra de Reabilitação do Solar de
Arnoia.
Ana Rita Costa Nascimento
Dissertação para a obtenção de Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa
Orientador: Prof. Pedro Manuel Gameiro Henriques
Vogal: Prof. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida
Outubro 2013
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I
Agradecimentos
Gostaria de expressar o meu agradecimento a empresa Júlio Lemos Ferreira Unipessoal, Lda por
me ter permitido desenvolver este trabalho.
Ao Professor Pedro Manuel Gameiro Henriques, por ter orientado este trabalho, pela sua
compreensão e disponibilidade total, o meu sincero obrigado.
Aos meus Pais pelo apoio incondicional, paciência, carinho, amizade e acima de tudo por nunca
terem-me deixado desistir mesmo nos momentos mais difíceis deste meu percurso académico no
Instituto Superior Técnico. Estou-vos eternamente agradecida.
A ti, Nelson agradeço-te todo o amor, compreensão e encorajamento demonstrado em todos os
momentos.
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III
Resumo
Esta dissertação insere-se no âmbito da Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho (SHST) no
sector da Construção Civil, que apesar de ter registado uma grande abrandamento nos últimos anos
devido à crise económica que se instalou em Portugal, continua a ser o sector de actividade com o
maior índice de sinistralidade mortal no País. Têm-se, por isso como principal objectivo demonstrar a
importância da segurança, higiene e saúde do trabalho nos estaleiros assim como identificar
situações risco e consequentemente a elaboração de uma avaliação de riscos.
Neste contexto, faz-se um levantamento dos perigos existentes no estaleiro do caso de estudo-
recolha de informação sobre tarefas/actividades, trabalhadores, equipamentos, legislação e normas,
observação in loco – e respectiva quantificação dos riscos recorrendo-se ao método da matriz
simplificada para a elaboração de uma avaliação de riscos. Realizada a avaliação de riscos propõe-
se um conjunto de medidas preventivas/correctivas dos riscos identificados. Complementarmente,
efectuou-se um inquérito aos intervenientes no processo de construção do caso de estudo. O seu
objectivo principal foi o de aferir o seu comportamento segundo as regras de segurança e higiene do
trabalho
A metodologia de avaliação de riscos revela que existe necessidade de melhoria de algumas das
condições de trabalho, sendo a sensibilização dos trabalhadores para a correcta utilização dos
equipamentos de protecção individual (EPI’s) a peça chave.
Palavra- chave: Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho; Sector da Construção Civil; Perigo;
Risco; Avaliação de Risco
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V
Abstract
The following dissertation is developed in the ambit of the Safety, Hygiene and Health Protection in
the Workplace (SHHPW) in the Civil Engineering sector. Despite its significant slowdown in the recent
years due to the poor economic conditions found in Portugal, construction is still the economic activity
with the largest incidence of fatal accidents. Therefore, one of the main purposes of this study is to
reaffirm the importance of safety, hygiene and health in the construction sites, as well as identify risk
situations and establish guidelines for risk assessment.
In this context, this investigation includes a survey of the potential hazards in the construction site
of the case-study presented, through the information collection on the tasks/activities, work force,
equipment, legislation and standards, as well as on-site observation, and the subsequent risk
assessment to quantify the risks, suing the simplified matrix method. Complementarily, a
questionnaire was proposed to different personnel involved in the construction process of the case
study. The latter aimed at evaluating their behaviour according to the safety and hygiene rules in the
work site.
The risk assessment methodology implemented in this study reveals that certain labour conditions
need to be improved and it is pivotal to raise awareness amongst the workers regarding the
appropriate use of individual protection gear (IPG’s).
Key words: Safety, Hygiene and Health in the Workplace; Civil Engineering, Hazard; Risk; Risk
Assessment
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VII
Índice
Agradecimentos ........................................................................................................................................ I
Resumo .................................................................................................................................................. III
Abstract.................................................................................................................................................... V
Índice de Figuras ..................................................................................................................................... X
Índice de Gráficos ................................................................................................................................... XI
Índice de Tabelas .................................................................................................................................. XII
Lista de Siglas ...................................................................................................................................... XIII
1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1. Justificação .............................................................................................................................. 1
1.2. Objectivos ................................................................................................................................ 1
1.3. Metodologia de investigação ................................................................................................... 2
1.4. Organização da dissertação .................................................................................................... 3
2. Enquadramento Teórico da Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho ......................................... 5
2.1. A importância da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho .................................................. 5
2.2. Organismos internacionais e nacionais promotores da Segurança, Higiene e Saúde do
Trabalho............................................................................................................................................... 6
2.2.1. O papel da Organização Mundial de Saúde (OMS) ........................................................ 6
2.2.2. O papel da Organização Internacional do Trabalho (OIT) .............................................. 6
2.2.3. A importância da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) ............................. 7
2.3. Princípios gerais da prevenção ............................................................................................... 8
2.4. Segurança do Trabalho e Riscos Associados ......................................................................... 8
2.4.1. Riscos Mecânicos ............................................................................................................ 9
2.4.2. Riscos Não Mecânicos .................................................................................................... 9
2.5. Higiene do Trabalho e Riscos Associados .............................................................................. 9
2.5.1. Agentes Biológicos ........................................................................................................ 10
2.5.2. Agentes Físicos ............................................................................................................. 10
2.5.2.1. Ruído ..................................................................................................................... 11
2.5.2.2. Vibrações ............................................................................................................... 12
2.5.2.3. Radiações .............................................................................................................. 14
2.5.2.4. Ambiente térmico ................................................................................................... 14
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VIII
2.5.2.5. Iluminação ............................................................................................................. 15
2.5.3. Agentes Químicos ......................................................................................................... 15
2.6. Saúde no Trabalho ................................................................................................................ 16
2.7. Técnico de Segurança no Trabalho e as suas Funções ....................................................... 17
2.8. Serviços de Segurança Higiene e Saúde do Trabalho ......................................................... 19
2.8.1. Serviços internos ........................................................................................................... 19
2.8.2. Serviços externos .......................................................................................................... 20
2.8.3. Serviços comuns ........................................................................................................... 20
2.8.4. Trabalhador designado .................................................................................................. 20
2.9. Avaliação de Riscos .............................................................................................................. 21
2.9.1. Fases de Avaliação de Risco ........................................................................................ 22
2.9.1.1. Fase 1- Analise de Risco ....................................................................................... 23
2.9.1.2. Fase 2- Valoração do risco .................................................................................... 23
2.9.2. Etapas da análise de riscos ........................................................................................... 24
2.9.2.1. Identificação do perigo e possíveis consequências .............................................. 24
2.9.2.2. Identificação das pessoas expostas ...................................................................... 24
2.9.2.3. Estimativa do Risco ............................................................................................... 25
2.9.3. Métodos de Avaliação de Riscos .................................................................................. 25
2.9.3.1. Métodos qualitativos .............................................................................................. 25
2.9.3.2. Métodos quantitativos ............................................................................................ 26
2.9.3.3. Métodos semi-quantitativos ................................................................................... 26
2.10. Gestão do Risco ................................................................................................................ 27
2.11. Equipamentos de medição ................................................................................................ 28
2.12. Equipamentos de Protecção ............................................................................................. 29
2.12.1. Equipamentos de protecção colectiva ....................................................................... 29
2.12.2. Equipamentos de protecção individual ...................................................................... 31
3. Sector da Construção e a Segurança e Saúde do Trabalho ........................................................ 33
3.1. Caracterização do sector de construção ............................................................................... 33
3.1.1. Acidentes de Trabalho ................................................................................................... 34
3.2. Directiva Estaleiros e o Decreto-Lei nº 273/2003 .................................................................. 36
3.3. Implementação prática do Decreto-Lei 273/2003 ................................................................. 36
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IX
3.3.1. Papel e domínios dos intervenientes ............................................................................ 36
3.3.1.1. Dono de obra ......................................................................................................... 36
3.3.1.2. Autor do Projecto ................................................................................................... 37
3.3.1.3. Entidade Executante.............................................................................................. 37
3.3.1.4. Coordenador de Segurança em Projecto (CSP) ................................................... 38
3.3.1.5. Coordenador de Segurança em Obra (CSO) ........................................................ 38
3.3.2. Instrumentos .................................................................................................................. 39
3.3.2.1. Comunicação Prévia (CP) ..................................................................................... 39
3.3.2.2. Plano de Segurança e Saúde (PSS) ..................................................................... 40
3.3.2.3. Ficha de Procedimento de Segurança (FPS) ........................................................ 40
3.3.2.4. Compilação Técnica (CT) ...................................................................................... 40
3.4. Sinalização obrigatória em estaleiro ..................................................................................... 42
4. Caso de Estudo ............................................................................................................................. 43
4.1. Caracterização da obra ......................................................................................................... 43
4.2. Recolha de Dados ................................................................................................................. 45
4.2.1. Metodologia de observação directa .............................................................................. 45
4.2.2. Metodologia da observação indirecta- Inquéritos .......................................................... 49
4.3. Identificação dos riscos observados ..................................................................................... 55
5. Avaliação de Riscos ...................................................................................................................... 57
6. Conclusões e Recomendações ..................................................................................................... 79
7. Bibliografia ..................................................................................................................................... 81
Enquadramento Legal ........................................................................................................................... 83
Glossário................................................................................................................................................ 89
Anexos ................................................................................................................................................... A1
Anexo I- Modelo de Ficha de Distribuição de EPI’s aos Trabalhadores ........................................... A3
Anexo II- Modelo de Comunicação Prévia ........................................................................................ A5
Anexo III- Inquérito ............................................................................................................................ A9
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X
Índice de Figuras
Figura 1- Metodologia de investigação ................................................................................................... 2
Figura 2- Escala de decibel (dB). .......................................................................................................... 11
Figura 3- Frequências de ressonância do corpo humano ..................................................................... 13
Figura 4- Avaliação e controlo de riscos ............................................................................................... 21
Figura 5- Fases de um processo de avaliação de risco profissional (adaptada Roxo, 2013) .............. 23
Figura 6- Métodos de avaliação de risco (adaptado de Carvalho, 2007) ............................................. 27
Figura 7- Instrumentos, papel e domínios dos intervenientes (Adaptado Freitas, 2011) ..................... 41
Figura 8-Sinalização que se encontra na entrada do estaleiro da obra em estudo ............................. 42
Figura 9-Localização da empresa executante e da obra em estudo .................................................... 43
Figura 10- Planta de Implantação da obra ............................................................................................ 44
Figura 11-Alçado Nascente do Solar de Arnoia antes de ser intervencionado .................................... 44
Figura 12- Trabalhos de demolição do edifício contíguo ao edifício principal ...................................... 46
Figura 13-Trabalhos de desmantelamento da cobertura ...................................................................... 46
Figura 14-Trabalhos de colocação da cobertura .................................................................................. 47
Figura 15- Execução da laje superior da garagem ............................................................................... 47
Figura 16- Aplicação de reboco na fachada .......................................................................................... 48
Figura 17- Execução de muros ............................................................................................................. 48
Figura 18-Falta de utilização de equipamentos de protecção individual .............................................. 53
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XI
Índice de Gráficos
Gráfico 1- Acidentes mortais no sector da construção (2000-2010) (Fonte: PORDATA) .................... 35
Gráfico 2- Escolaridade dos inquiridos .................................................................................................. 50
Gráfico 3- Profissões dos inquiridos ...................................................................................................... 50
Gráfico 4-Distribuição dos graus de risco avaliados ............................................................................. 76
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XII
Índice de Tabelas
Tabela 1- Requisitos para obtenção do CAP. (Fonte: Freitas, 2011) ................................................... 18
Tabela 2- Equipamentos de medição .................................................................................................... 29
Tabela 3- Equipamentos de Protecção Colectiva ................................................................................. 30
Tabela 4- Equipamentos de protecção individual ................................................................................. 32
Tabela 5-Acidentes de trabalho totais por sector de actividade económica (Fonte: PORDATA)......... 34
Tabela 6-Acidentes mortais por actividade económica em Portugal (Fonte: PORDATA) .................... 34
Tabela 7- Acidentes de trabalho mortais, no sector da construção (2000-2010) (Fonte: PORDATA) . 35
Tabela 8-Exposição à vibração e ao ruído ............................................................................................ 51
Tabela 9-Condições Atmosféricas ........................................................................................................ 51
Tabela 10-Riscos a que os trabalhadores estão expostos ................................................................... 52
Tabela 11- Equipamentos de protecção individual ............................................................................... 52
Tabela 12- Dados da sinistralidade da obra de reabilitação do Solar de Arnoia e respectivos IF e IG 54
Tabela 13- Valores de referência dos índices de sinistralidade aferidos da normalidade segundo a
classificação da OIT .............................................................................................................................. 55
Tabela 14- Riscos por tarefa ................................................................................................................. 56
Tabela 15- Classificação do nível de probabilidade .............................................................................. 57
Tabela 16- Classificação do nível de gravidade ................................................................................... 57
Tabela 17- Classificação do nível de risco ............................................................................................ 58
Tabela 18- Classificação do nível de prioridade de acordo com o nível de risco ................................. 59
Tabela 19- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas Medidas Preventivas/Correctivas ................ 60
Tabela 20- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas Medidas Preventivas/Correctivas ................ 61
Tabela 21- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas Medidas Preventivas/Correctivas ................ 62
Tabela 22- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas Medidas Preventivas/Correctivas ................ 63
Tabela 23- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 64
Tabela 24- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 65
Tabela 25- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 66
Tabela 26- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 67
Tabela 27- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 68
Tabela 28- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 69
Tabela 29- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 70
Tabela 30- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 71
Tabela 31- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 72
Tabela 32- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 73
Tabela 33- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 74
Tabela 34- Matriz de Avaliação de Riscos e respectivas medidas preventivas/correctivas ................. 75
Tabela 35-Frequência dos níveis de risco ............................................................................................ 76
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XIII
Lista de Siglas
ACT- Autoridade para as Condições do Trabalho
CAP- Certificado de Aptidão Profissional
CP- Comunicação Prévia
CSO- Coordenador de segurança em obra
CSP- Coordenador de segurança em projecto
CT- Compilação Técnica
EPC- Equipamento de Protecção Colectiva
EPI- Equipamento de Protecção Individual
EPC’s- Equipamentos de Protecção Colectiva
EPI’s- Equipamentos de Protecção Individual
IF- Índice de Frequência
IG- Índice de Gravidade
INCI- Instituto da Construção e Imobiliário
OIT- Organização Internacional do Trabalho
OMS- Organização Mundial de Saúde
PME’s- Pequenas e Médias Empresa
PSS- Plano de Segurança e Saúde
SHST- Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho
SST- Segurança e Saúde do Trabalho
TST- Técnico Segurança no Trabalho
TSST- Técnico Superior de Segurança no Trabalho
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1
1. Introdução
1.1. Justificação
Até meados do século 20, as condições de trabalho nunca foram levadas em conta, sendo sim
importante a produtividade, mesmo que tal implicasse riscos de doença ou mesmo a morte dos
trabalhadores. Para tal contribuíam dois factores, uma mentalidade em que o valor da vida humana
era pouco mais que desprezível e uma total ausência por parte dos Estados de leis que protegessem
o trabalhador.
Apenas a partir da década de 50/60, surgem as primeiras tentativas sérias de integrar os
trabalhadores em actividades devidamente adequadas às suas capacidades.
Actualmente em Portugal existe um conjunto vasto de legislação na área da Segurança, Higiene e
Saúde no Trabalho. A sua aplicação deve ser entendida como o melhor meio de beneficiar
simultaneamente as Empresas e os Trabalhadores na salvaguarda dos aspectos relacionados com
as condições ambientais e de segurança de cada posto de trabalho.
Na actualidade, em que certificações de Sistemas de Garantia da Qualidade e Ambientais ganham
tanta importância, as medidas relativas à Segurança e Higiene do Trabalho tardam em ser
implementados pelo que o despertar de consciências é fundamental.
1.2. Objectivos
Com este trabalho pretende-se abordar a área da Segurança, Higiene e Saúde no sector da
construção. Perceber que o sector da construção revela um conjunto vasto de especificidades, e por
isso necessita de uma intervenção por parte da Segurança, Higiene e Saúde diferente da maioria dos
outros sectores de actividade
O objectivo principal desta dissertação é identificar os riscos existentes no caso de estudo, avaliá-
los e elaborar uma avaliação de riscos pelo método da matriz simplificada, compreendendo a
importância da avaliação de riscos por exemplo para a diminuição da sinistralidade ou para a
melhoraria dos comportamentos dos intervenientes nas obras. É, também intenção deste trabalho
aferir os comportamentos dos trabalhadores e dos responsáveis da empresa executante da obra em
estudo em relação as práticas de Segurança, Higiene em Estaleiro.
Por outro lado, apresentar um conjunto de medidas preventivas para diminuir os acidentes de
trabalho e doenças profissionais, contribuindo, assim, para melhoria contínua das práticas de
Segurança e Saúde nos estaleiros das Pequenas e Médias Empresas (PME’s) do sector da
construção civil.
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1.3. Metodologia de investigação
A presente dissertação resulta de um trabalho de investigação realizado em parceria com a
empresa Júlio Lemos Ferreira Unipessoal, Lda..
A Figura 1 mostra as principais etapas desta investigação. O primeiro passo consistiu numa
pesquisa e consequente análise da bibliografia relevante para a elaboração do fundamento teórico,
no qual esta dissertação se baseia. Simultaneamente foi-se tomando conhecimento e acompanhando
as práticas de Segurança, Higiene e Saúde na obra em estudo.
Procedeu-se à recolha dos riscos existente na obra cooperante, através da observação e da
realização de um inquérito, e consequentemente tratamento estatístico e respectiva análise.
Por fim, desenvolveu-se uma avaliação de riscos com recurso ao método da matriz simplificada.
Figura 1- Metodologia de investigação
Levantamento das práticas e procedimentos em vigor na obra em
estudo
Recolha, tratamento estatístico e análise dos riscos relativo ao
caso em estudo
Pesquisa bibliográfica
Desenvolvimento de uma avaliação de riscos
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1.4. Organização da dissertação
A organização desta dissertação reflecte a metodologia de investigação seguida, pelo que está
organizada em seis capítulos. Assim, a estrutura do trabalho é:
• Capítulo 1 – introdução, objectivos, metodologia de investigação e organização da dissertação;
• Capítulo 2 – análise da informação relevante, resultante da pesquisa bibliográfica efectuada,
com vista a estabelecer a base teórica desta dissertação;
• Capítulo 3 – caracterização do sector de actividade em que se insere esta dissertação (sector
construção) no que toca à segurança, higiene e saúde do trabalho
• Capítulo 4 – apresentação de um caso de estudo: descrição das tarefas, identificando os riscos
observados e análise e interpretação da informação recolhida através da realização de um inquérito.
• Capítulo 5 – realização de uma avaliação dos riscos a que os trabalhadores encontram-se
expostos apresentando as respectivas medidas de prevenção/correctivas.
• Capítulo 6 – avaliação do cumprimento dos objectivos propostos, apresentando as conclusões
da avaliação de risco elaborada ao caso de estudo
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5
2. Enquadramento Teórico da Segurança, Higiene e
Saúde do Trabalho
2.1. A importância da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho
A qualidade das condições de trabalho, nomeadamente no que diz respeito às condições de
Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, são uma parte fundamental na aferição da qualidade de
vida dos indivíduos numa sociedade.
É com base neste pressuposto que hoje em dia se fala cada vez mais na melhoria destas
condições. Esta temática tem registado na última década um importante desenvolvimento,
especialmente na produção de legislação e na criação de empresas de prestação de serviços nesta
área, facto a que não são alheias as imposições da Comunidade Europeia.
A Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho são fundamentais para uma empresa devido a um
número elevado de factores:
ajudam a demonstrar que uma empresa é socialmente responsável;
acrescentam valor à organização;
ajudam a maximizar a produtividade dos trabalhadores;
contribuem para que os trabalhadores estejam mais empenhados nas tarefas que
desempenham;
constroem uma força de trabalho mais competente e saudável;
reduzem os gastos e as distracções;
encorajam os trabalhadores a ficar mais tempo no activo.
No actual enquadramento legislativo e social a implementação de um Sistema de Gestão de
Segurança e Saúde do Trabalho não deve ser encarado como factor propiciador de um acréscimo de
custos, mas pelo contrário permitirá à empresa desenvolver a sua estratégia em condições
concorrenciais de competitividade, independentemente do tamanho, ramo de actividade ou
localização da empresa.
Portanto, as empresas que encaram a SHST como um investimento com retorno (e não como um
custo) verificam que, de tal atitude, decorre um conjunto vasto de benefícios:
1. aumento da produtividade e dos resultados;
2. melhoria da qualidade dos produtos ou serviços prestados;
3. redução de custos inerentes às paragens e perdas de produção ou defeitos;
4. diminuição do absentismo;
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5. redução de custos com prémios de seguro e dias de trabalho perdidos e com sistemas de
saúde, relativamente a despesas não cobertas pelas seguradoras;
6. redução de custos de substituição dos trabalhadores acidentados ou em situação de
doença profissional, muitas vezes, substituídos por outros com um potencial de trabalho
substancialmente inferior;
7. não ocorrência de custos de formação dos novos trabalhadores;
8. aumento da disponibilidade da empresa para a inovação;
9. redução de custos administrativos e sociais (Freitas, 2011)
2.2. Organismos internacionais e nacionais promotores da
Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho
2.2.1. O papel da Organização Mundial de Saúde (OMS)
A Organização Mundial de Saúde é uma instituição especializada da Organização das Nações
Unidas (ONU). Surgiu após a Segunda Guerra Mundial no México, tendo sido fundada a 7 de Abril de
1948. A sua sede é em Genebra, Suíça sendo a sua directora-geral desde 2006, a chinesa Margaret
Chan.
A sua principal missão é desenvolver ao máximo a melhoria das condições de saúde de todo o ser
humano de qualquer parte do planeta. As acções da OMS prendem-se com o controlo de epidemias,
o emprego de medidas de quarentena, a estandardização de medicamentos, a regulamentação
sanitária, e o planeamento e a execução de campanhas de vacinação, rastreio e prevenção de
doenças, nomeadamente através da informação prestada às populações.
Desde a sua fundação a OMS, sempre associou parcelarmente a sua actividade à SST,
promovendo a protecção e promoção da segurança e saúde do trabalho, através do controlo dos
riscos no ambiente de trabalho e da promoção da saúde e da capacidade de trabalho dos
trabalhadores. (Freitas, 2011)
2.2.2. O papel da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
A Organização Internacional do Trabalho tem origem com o fim da Primeira Guerra Mundial. A
OIT, da qual Portugal é membro fundador, é criada através de um diploma constitutivo do Tratado de
Versalhes (artigo XIII do tratado). Estes instrumentos normativos internacionais requerem que, em
todos os estados-membros da OIT, seja constituído um sistema de inspecção do trabalho para
assegurar o respeito da legislação tendo em vista a protecção das pessoas empregadas (ACT, 2012)
A OIT está sediada em Genebra, na Suíça, sendo a única agência das Nações Unidas onde os
membros participativos são representantes dos Governos, empregadores e trabalhadores.
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É por isso muito relevante o papel da OIT como grande fórum mundial de representação tripartida
a que se associaram 183 países, os quais reúnem anualmente para produzir normas, convenções e
recomendações que, ao serem ratificados, obrigam os países membros no sentido de garantir a sua
exequibilidade. As recomendações, não sendo obrigatórias, são complementares às disposições das
convenções.
A OIT tem como objectivos específicos os seguintes:
a) promover os princípios fundamentais e direitos no trabalho através de um sistema de
supervisão e de aplicação de normas.
b) promover melhores oportunidades de emprego/renda para mulheres e homens em
condições de livre escolha, de não discriminação e de dignidade.
c) aumentar a abrangência e a eficácia da protecção social.
d) fortalecer o tripartismo e o diálogo social.
De forma sucinta, poderemos afirmar que a actividade da OIT passa pelo estabelecimento de
mecanismos que estimulem os estados-membros no sentido de instituir órgãos especializados,
capazes de assumir a formulação de normas e regulamentos relacionados com o trabalho, bem a sua
actualização e aperfeiçoamento contínuos.
2.2.3. A importância da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)
A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) é um organismo nacional da administração
central, que tem como lema promover a melhoria das condições de trabalho.
A missão, as atribuições e as competências da ACT são desenvolvidas de acordo com o disposto
no Artº 2 do Decreto-Lei nº 47/2012, de 31 de Julho A ACT exerce actividade em todo o território
continental, e está sobra a tutela do Ministério da Economia e do Emprego.
Para a promoção da melhoria das condições de trabalho, a ACT desenvolve as seguintes acções:
controla o cumprimento das normas em matéria laboral no âmbito das relações laborais
privadas;
promove políticas de prevenção dos riscos profissionais em todos os sectores de
actividade públicos ou privados. Esta linha de actuação tem por base os Princípios Gerais
da Prevenção;
controla o cumprimento da legislação relativa à segurança e saúde no trabalho em todos
os sectores de actividade e nos serviços e organismos de administração pública central,
directa e indirecta.
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Estas acções são desenvolvidas por uma rede de inspectores de trabalho sediados em 32
serviços regionais, de forma a garantir uma cobertura adequada de todos os locais de trabalho
sujeitos à sua jurisprudência.
2.3. Princípios gerais da prevenção
A prevenção dos riscos profissionais deve assentar numa correcta e permanente avaliação de
riscos e ser desenvolvida segundo princípios, políticas, normas e programas, que visem tomar as
medidas necessárias com base nos seguintes Princípios Gerias de Prevenção:
1. Evitar os riscos;
2. Avaliar os riscos que não possam ser evitados;
3. Combater os riscos na origem;
4. Adaptar o trabalho ao homem;
5. Ter em conta o estado da evolução técnica;
6. Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos perigoso;
7. Planificar a prevenção com um sistema coerente;
8. Dar prioridade às medidas de protecção colectiva em relação às medidas de protecção
individual;
9. Assegurar a formação e informação dos trabalhadores.
2.4. Segurança do Trabalho e Riscos Associados
A Segurança do Trabalho ganhou maior relevância após a Revolução Industrial através do
movimento cívico Safety Movement, que tinha como objectivo a redução da taxa de acidentes de
trabalho mortais devido às más condições de trabalho existentes.
A Segurança do Trabalho propõe-se, assim, a combater os acidentes de trabalho, tendo como
principal objectivo eliminar as condições inseguras associadas aos componentes materiais do
trabalho, assim como educar os trabalhadores a utilizarem medidas preventivas. A prevenção é
certamente o melhor processo para reduzir ou eliminar as possibilidades de ocorrerem problemas de
segurança com o Trabalhador (EspiralSoft, 2012)
As máquinas e equipamentos de trabalho podem causar acidentes de trabalho que podem resultar
em incapacidades parciais ou permanentes. Além de seleccionar a máquina adequada para a tarefa
em questão, os operários que trabalham com máquinas, equipamentos de trabalho e ferramentas
devem ser instruídos, seguindo um determinado plano de formação adequado às necessidades.
Paralelamente à instrução na sua utilização, os trabalhadores devem ser informados acerca das
medidas de prevenção que lhes permitam trabalhar sem risco para a sua segurança. A
implementação de planos de manutenção preventiva e verificações periódicas são imprescindíveis à
garantia do bom funcionamento e manutenção das condições de segurança.
-
9
Quanto aos riscos associados a Segurança do Trabalho dividem-se em dois grupos: riscos
mecânicos e riscos não mecânicos.
2.4.1. Riscos Mecânicos
Os riscos mecânicos podem ocorrer por:
movimentos de rotação, translação, oscilação, isolamento ou uma combinação destes, que se
produzem nas máquinas. Dão lugar a esmagamentos, cortes, entalamento, abrasões, feridas
e golpes (ex: os dentes de serra circulares ou de fita também podem provocar cortes);
transporte mecânico de cargas;
contacto com materiais na fase de fabrico (ex: o perigo de arrastamento de uma peça de aço
ao ser trabalhada num torno);
projecção de elementos das máquinas (ex: a produzida pelo desprendimento de aparas,
projecções de soldaduras, chispas de rebarbagens, projecção da peça que está a ser
trabalhada num torno) (Luzia, 2013);
2.4.2. Riscos Não Mecânicos
Os riscos não mecânicos podem ser:
eléctricos (curto-circuitos, choques eléctricos, electricidade estáticas, etc);
explosões ou incêndios provocados pela máquina em si ou pelos gases, líquidos, pós ou
vapores produzidos ou utlizados pela máquina;
queda em altura
queda ao mesmo nível
problemas ergonómicos gerais (má postura, iluminação e sinalização deficiente).
2.5. Higiene do Trabalho e Riscos Associados
O conceito de Higiene do Trabalho é por diversas vezes, erradamente, associado a higiene
pessoal, ao saneamento dos locais de trabalho, a higiene pública ou colectiva. Na verdade, a Higiene
do Trabalho propõe-se a combater, dum ponto de vista não médico, as doenças profissionais,
identificando os agentes ambientais que podem afectar o ambiente do trabalho e o trabalhador,
visando eliminar ou reduzir os riscos profissionais (condições inseguras de trabalho que podem
afectar a saúde, segurança e bem estar do trabalhador).
Os agentes ambientais agressivos que podem afectar a saúde dos trabalhadores são agentes
físicos, químicos e biológicos. Os contaminantes presentes no local de trabalho são responsáveis
pelo chamado “efeito prejudicial”, ou seja, as consequências que o organismo não pode recuperar,
rompendo-se o equilíbrio e desencadeando um conjunto de efeitos designados por doença.
-
10
Assim o objectivo final da Higiene do Trabalho é a eliminação, nos locais de trabalho de todos os
factores de risco ambientais
2.5.1. Agentes Biológicos
O Artº
3 do Decreto de Lei nº 84/97 de 16 de Abril define os agentes biológicos como
microorganismos, incluindo os geneticamente modificados, as culturas de células e os endoparasitas
humanos e outros susceptíveis de provocar infecções, alergias ou intoxicações. Os agentes
biológicos reconhecidamente infecciosos para o ser o humano são parte integrante do anexo da
portaria nº 1036/98 de 15 de Dezembro.
Os agentes biológicos que afectam o homem são distribuídos nas seguintes classes de risco:
1. classe de risco 1 (baixo risco individual e para a colectividade): inclui os agentes biológicos
conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou animais adultos sadios (ex.:
Lactobacillus sp.)
2. classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a comunidade): inclui os
agentes biológicos que provocam infecções no homem, cujo potencial de propagação na
comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, e para os quais existem
medidas terapêuticas eficazes (ex.: Schistosoma mansoni).
3. classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comunidade): inclui os
agentes biológicos que possuem capacidade de transmissão por via respiratória e que
causam patologias, potencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas de
tratamento e/ou de prevenção. Representam risco se disseminados na comunidade e no
meio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa (ex: Bacillus anthracis).
4. classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): inclui os agentes biológicos
com grande poder de transmissibilidade por via respiratória ou de transmissão desconhecida.
Até o momento não há nenhuma medida terapêutica eficaz contra infeções ocasionadas por
estes. Causam doenças humanas de alta gravidade, com alta capacidade de disseminação
na comunidade e no meio ambiente. Esta classe inclui principalmente os vírus (ex.: Vírus
Ébola) (Luzia, 2013).
2.5.2. Agentes Físicos
Os agentes físicos são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, cuja determinada exposição pode causar doenças profissionais. Consideram-se todos
os riscos gerados pelos agentes que têm capacidade de modificar as características físicas do meio
ambiente (Luzia, 2013).
Consideram-se agentes físicos: o ruído, as vibrações, as radiações ionizantes e não ionizantes, o
ambiente térmico e a iluminação.
-
11
2.5.2.1. Ruído
O ruído está na origem de um incómodo significativo para o trabalhador, desencadeador de
trauma auditivo e alterações fisiológicas extra-auditivas. Do ponto de vista fisiológico, o ruído é um
fenómeno acústico que produz uma sensação auditiva desagradável ou incomodativa. Em termos
gerais é um som incomodativo, desconfortável e nocivo para o homem.
A intensidade das vibrações sonoras ou as variações que lhe estão associadas são denominadas
de pressão sonora e exprime-se em Pascal (N/mm2). O ouvido não responde linearmente aos
estímulos provocados pelo ruído, mas sim logaritmicamente. Como é mais confortável trabalhar em
escalas lineares, e uma vez que com a pressão sonora teríamos que trabalhar em escala
logarítmicas, foi encontrado a unidade que permite esta conversão, que se chama decibel (dB). O
decibel é o logaritmo da razão entre o valor médio e o valor de referência padronizado e corresponde
à mais pequena variação de pressão sonora que o ouvido humano normal pode distinguir nas
condições normais de audição. Ressalve-se que uma pequena diferença na escala de decibel (Figura
2) não significa também uma pequena diferença de energia sonora efectiva. Uma diferença de
apenas 3 dB significa o dobro ou metade da energia (Gama, 2012).
Figura 2- Escala de decibel (dB).
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12
A exposição a níveis de ruído elevados ou duradouros pode provocar:
perdas temporárias: fadiga auditiva, perturbação na localização da fonte sonora, aumento
do tempo de reacção;
perdas definitivas; exposição intensa (efeito agudo) e /ou prolongada no tempo (efeito
cronico);
efeito fisiológicos extra-auditivos: perturbação na comunicação, diminuição do rendimento
no trabalho, falta de vigilância e atenção, perda da capacidade de concentração e cansaço
(Gama, 2012)
O risco a que os trabalhadores estão sujeitos depende de: tempo de exposição (quanto mais
longo, maior é o risco), tipo de ruído (contínuo, intermitente ou súbito), distância da fonte do ruído
(quanto menor, maior é o risco), sensibilidade individual (varia com a idade e de indivíduo para
indivíduo) e danos na audição (lesões já existentes no aparelho do indivíduo). Assim, na identificação
das situações de risco deve caracterizar-se o ruído, as fontes e condições de propagação, bem como
as medidas de protecção colectiva e individual adoptadas.
2.5.2.2. Vibrações
As vibrações definem-se como o movimento oscilatório de um corpo em torno do seu ponto de
equilíbrio. O número de vezes que este ciclo se repete, por segundo, designa-se por frequência e é
medido em Hertz (Hz).
No meio laboral, as vibrações constituem agentes físicos nocivos que afectam a saúde e
segurança dos trabalhadores e encontram-se presentes em quase todas as actividades,
nomeadamente em construção civil e obras públicas, indústrias extractivas, exploração florestal,
fundições e transportes.
Ao contrário de outros agentes aos quais o trabalhador está exposto de forma passiva (ex.: ruído),
no caso das vibrações existe sempre contacto entre o trabalhador (através das mãos, nádegas,
costas e pés) e o equipamento ou máquina que transmite a vibração. Esta energia vibratória é
absorvida pelo corpo, como consequência da atenuação promovida pelos tecidos e órgãos.
O corpo humano possui uma vibração natural. Se uma frequência externa coincide com a
frequência natural do sistema, ocorre a ressonância. A frequência de ressonância é a mais nociva
para o corpo humano, pois, quando o corpo entra em ressonância, amplifica a vibração que recebe.
-
13
Figura 3- Frequências de ressonância do corpo humano
Existem, fundamentalmente, dois tipos de vibrações:
as que se transmitem ao sistema mão-braço, durante o manuseamento de materiais em
vibração, ou de ferramentas e máquinas (ex.: martelos pneumáticos ou serras eléctricas);
as que se transmitem ao corpo inteiro, quando a superfície de suporte corporal está em
vibração (ex.: escavadoras ou empilhadoras). Não causam danos ao nível dos órgãos
perceptores, mas provocam desconforto e mau estar nos indivíduos durante a sua rotina
(EspiralSoft, 2012)
A exposição directa a vibrações pode ser extremamente grave, podendo danificar
permanentemente alguns órgãos do corpo humano. Existem múltiplas afecções desencadeadas
pelas vibrações, cujos efeitos dependem de:
tempo de exposição;
forma como a exposição se produz;
características físicas do meio;
modo de transmissão (a todo o corpo ou às mãos);
tipo de trabalho e tipo de postura (EspiralSoft, 2012)
As vibrações podem afectar o conforto, reduzir o rendimento do trabalho e causar desordens das
funções fisiológicas, dando lugar ao desenvolvimento de doenças quando a exposição é intensa.
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14
2.5.2.3. Radiações
A radiação é por definição, a energia transmitida através do espaço sob a forma de ondas e
partículas. A intensidade da radiação depende do número de desintegrações assim como da energia
e do tipo de radiação emitida.
As radiações dividem-se em ionizantes e não ionizantes, consoante o resultado da sua intenção
com a matéria:
a) radiações ionizantes- incluem os raios alfa, beta, gama, raios X, neutrões e protões. Este
grupo de radiações tem a capacidade de produzir iões directa ou indirectamente.
b) radiações não ionizantes- caracterizam-se por não possuir energia suficientes para
ionizar os átomos ou moléculas com os quais interagem. Deste tipo de radiações fazem
partem as radiações ultravioletas (UV), visível, infravermelha (IV), laser, micro-ondas e
radiofrequências (EspiralSoft, 2012)
A intensidade da radiação depende do número de desintegrações assim como da energia e do
tipo de radiação emitida. O efeito das radiações depende da parte do corpo irradiada e do tipo de
radiações
2.5.2.4. Ambiente térmico
Frio ou calor em excesso, ou a brusca mudança de um ambiente quente para um ambiente frio ou
vice-versa, também são prejudiciais à saúde.
Nos ambientes onde há a necessidade do uso de fornos, maçaricos etc., ou pelo tipo de material
utilizado e características das construções (insuficiência de janelas, portas ou outras aberturas
necessárias a uma boa ventilação), toda essa combinação pode gerar alta temperatura prejudicial à
saúde do trabalhador.
A sensação de calor que sentimos é proveniente da temperatura resultante existente no local e do
esforço físico que fazemos para executar um trabalho.
A temperatura resultante é função dos seguintes factores:
humidade relativa do ar;
velocidade e temperatura do ar;
calor radiante (produzido por fontes de calor do ambiente, como fornos e maçaricos).
A unidade de medida da temperatura adoptada é o grau Celsius, abreviadamente ºC. De um modo
geral, a velocidade do ar tem de ser no Inverno inferior a 0,15 m/s, com temperaturas entre 20 e 24
ºC, e no Verão inferior a 0,25m/s, com temperaturas entre 23 e 26
oC. Enquanto a humidade relativa
do ar deve estar entre 55% a 65% (EspiralSoft, 2012)
-
15
Os ambientes térmicos podem ser classificados como :
quentes (fundições, cerâmicas, padarias);
frios (armazéns frigoríficos, actividades piscatórias);
neutros (escritórios).
Logicamente que as situações mais preocupantes ocorrem em ambientes térmicos frios e quentes,
ou sobretudo quando as duas possibilidades existem na mesma empresa ou no mesmo posto de
trabalho.
2.5.2.5. Iluminação
A iluminação contribui para um bom desempenho dos trabalhadores, quando esta é deficiente ou
desadequada ao local de trabalhador, pode causar problemas para a saúde de um trabalhador,
afectando também o seu rendimento e consequentes acidentes de trabalho. Considera-se que a
iluminação não é apropriada quando apresenta as seguintes características:
nível de iluminação desadequado ao local de trabalho (muito baixo ou muito alto);
encadeamento sucessivo e contínuo;
funcionamento deficiente da iluminação (lâmpadas que não mantém o fluxo luminoso
constante, reflectores ou difusores sujos, janelas sujas, etc.)
2.5.3. Agentes Químicos
Certas substâncias químicas são lançadas no ambiente de trabalho através de processos de
pulverização, fragmentação ou emanações gasosas. Essas substâncias podem apresentar-se nos
estados sólido, líquido e gasoso:
a) estado sólido- temos poeiras de origem animal, mineral e vegetal, como a poeira mineral
de sílica encontrada nas areias para moldes de fundição;
b) estado líquido- as substâncias apresentam-se sob a forma de solventes, tintas, vernizes
ou esmaltes;
c) estado gasoso- temos o GLP (gás liquefeito de petróleo), usado como combustível, ou
gases libertados nas queimas ou nos processos de transformação das matérias primas
(Gama, 2012)
Esses agentes químicos ficam em suspensão no ar e podem penetrar no organismo do
trabalhador por:
Via respiratória: essa é a principal porta de entrada dos agentes químicos, porque
respiramos continuadamente, e tudo o que está no ar acaba por passar nos pulmões.
-
16
Via digestiva: se o trabalhador comer ou beber algo com as mãos sujas, ou que ficaram
muito tempo expostas a produtos químicos, parte das substâncias químicas serão ingeridas
com o alimento, atingindo o estômago e podendo provocar sérios riscos à saúde.
Epiderme : essa via de penetração é a mais difícil, mas se o trabalhador estiver desprotegido
e tiver contacto com substâncias químicas, havendo deposição no corpo, serão absorvidas
pela pele.
Via ocular: alguns produtos químicos que permanecem no ar causam irritação nos olhos e
conjuntivite, o que mostra que a penetração dos agentes químicos pode ocorrer também pela
vista (Luzia, 2013).
As medidas ou avaliações dos agentes químicos em suspensão no ar são obtidas por meio de
aparelhos especiais que medem a concentração, ou seja, percentagem existente em relação ao ar
atmosférico. Os limites máximos de concentração de cada um dos produtos diferem de acordo com o
seu grau de perigo para a saúde
2.6. Saúde no Trabalho
A Saúde no Trabalho é a actividade que tem por finalidade fomentar e manter o nível mais
elevado de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões, prevenir os
danos na sua saúde emergentes das condições do trabalhado, protegê-los contra os riscos para
segurança e saúde e colocar o trabalho em posto de trabalho compatível com as suas aptidões
psicológicas e fisiológicas.
À Saúde no Trabalho compete, assim, averiguar a vigilância adequada da saúde dos
trabalhadores em função dos riscos a que se encontram expostos no local de trabalho. Integra todos
os procedimentos de avaliação efectuados através de exames médico, controlo biológico, avaliação
radiológica, questionários ou entrevistas, análise de registo de saúde etc.
A vigilância médica deve abranger:
uma avaliação inicial da saúde dos trabalhadores, em momento anterior à entrada em
funções ou quando ocorrer a atribuição de novas tarefas com riscos de diferente conteúdo
(exames de admissão);
uma avaliação da saúde dos trabalhadores que retomem o trabalho após uma ausência
prolongada por motivos de saúde (exames ocasionais);
uma vigilância da saúde com períodos periódicos (exames periódicos).
Os profissionais que podem exercer funções nesta são:
os médicos- para além da licenciatura em medicina, têm de ser titulares de uma
especialidade de medicina do trabalho reconhecida pela Ordem dos Médicos. Podem,
-
17
ainda exercer medicina no trabalho os médicos a que foi reconhecida idoneidade para o
exercício de tais funções, nos termos legais;
enfermeiros- possuir uma licenciatura em enfermagem e uma especialização em saúde
pública.
Segundo a Lei 102/2009, de 10 de Setembro, o médico do trabalho deve garantir um número
mínimo de afectação de horas, de acordo com o tipo de estabelecimento e o número de
trabalhadores abrangidos:
em estabelecimento industrial ou estabelecimento de outra natureza com risco elevado
pelo menos uma hora por mês por cada grupo de 10 trabalhadores, ou fracção;
nos restantes estabelecimentos, pelo menos uma hora por mês por cada grupo de 20
trabalhadores, ou fracção.
2.7. Técnico de Segurança no Trabalho e as suas Funções
O Técnico de Segurança no Trabalho (TST) é o profissional que organiza, desenvolve, coordena e
controla (se for um técnico superior) as actividades de prevenção e de protecção contra os riscos
profissionais no contexto dos serviços de segurança e saúde do trabalho. (Santo, 2011)
O exercício da profissão que, face às especificidades, pressupõe o cumprimento de regras
deontológicas estritas, depende da obtenção do Certificado de Aptidão Profissional (CAP), que se
pode obter de 3 formas:
- formação: através da frequência com aproveitamento no curso de formação homologado, nos
termos da lei;
- equiparação: certificação para profissionais que evidenciem experiência relevante num
determinado período mínimo, no momento da entrada em vigor do regime jurídico de certificação;
- equivalência de título: certificação em função do reconhecimento de formação adquirida em país
estrangeiro, na sequência da aplicação das regras comunitárias ou de acordos estabelecidos
casuisticamente com outros países.
À certificação através da formação pode corresponder o nível 6 de qualificação, no caso de
técnico superior de segurança no trabalho (TSST), ou nível 4 de qualificação, no caso de técnico de
segurança no trabalho (TST). O estabelecimento destes princípios foi efectuado através da
publicação do Decreto-Lei 42/2012 de 28 de Agosto (estabelece as condições de acesso e de
exercício das profissões de técnico de segurança no trabalho e de técnico de segurança no trabalho).
Os requisitos para obtenção do CAP para exercício da profissão de TSST e de TST, encontram-se
resumidos na seguinte tabela
-
18
Técnico Superior de ST (Nível 6) Técnico de ST (Nível 4)
Licenciatura ou bacharelato e frequência com
aproveitamento do curso de formação de
TSST, homologado pelo ACT.
12º ano de escolaridade ou equivalente e
frequência com aproveitamento de curso de
formação de TST homologado certificado.
Licenciatura em curso de SHT reconhecido
pelo Ministério da Educação e homologado
pela entidade certificadora
9º ano e frequência com aproveitamento de
curso de TST homologado entidade
certificadora e inserido num sistema de
formação que confira, no final, equivalência
ao 12º ano de escolaridade.
Tabela 1- Requisitos para obtenção do CAP. (Fonte: Freitas, 2011)
O CAP é válido por 5 anos e a sua renovação depende de:
exercício da actividade pelo período mínimo de 2 anos;
actualização cientifica e técnica através de frequência de formação continua pelo período
mínimo de 30 horas;
cumprimento dos princípios deontológicos.
Para os profissionais que não hajam exercido durante, pelo menos, dois anos, deverão frequentar
acção de formação (considerada adequada pela entidade certificadora, ACT) com um mínimo de 100
horas para garantir a actualização de conhecimentos indispensável.
Acresce que a entidade certificadora poderá proceder a suspensão ou cessação do CAP se
ocorrer violação grave da deontologia ou desconformidade com os requisitos que estiveram na base
da sua atribuição.
Os Técnicos de Segurança (nível 4 e 6) têm um vasto conjunto de funções a que correspondem
actividades essenciais inerentes ao seu perfil profissional, definindo em articulação entre a entidade
certificadora (ACT) e o sistema nacional de certificação profissional. Neste âmbito, compete-lhe o
desenvolvimento das seguintes actividades:
colaborar na definição da política geral da empresa relativa à prevenção de riscos e
planear e implementar o correspondente sistema de gestão;
desenvolver processos de avaliação de riscos profissionais;
conceber, programar e desenvolver medidas de prevenção e de protecção;
coordenar tecnicamente as actividades de segurança e higiene no trabalho, assegurando
o enquadramento e a orientação técnica dos profissionais da área da segurança e higiene
no trabalho;
participar na organização do trabalho;
-
19
gerir o processo de utilização de recursos externos nas actividades de prevenção e de
protecção;
assegurar a organização da documentação necessária à gestão da prevenção na
empresa;
promover a informação e a formação dos trabalhadores e demais intervenientes nos locais
de trabalho;
promover a integração da prevenção nos sistemas de comunicação da empresa,
preparando e disponibilizando a necessária informação específica;
dinamizar processos de consulta e de participação dos trabalhadores;
desenvolver as relações da empresa com os organismos da Rede Nacional de Prevenção
de Riscos Profissionais. (Santo, 2011)
De acordo com o Decreto-Lei 102/2009 de 10 de Setembro a afectação dos técnicos às
actividades de segurança e higiene no trabalho, por empresa é estabelecida nos seguintes termos:
em estabelecimento industrial: até 50 trabalhadores, um técnico, e acima de 50, dois
técnicos, por cada 1500 trabalhadores abrangidos ou fracção, sendo pelo menos um deles
técnico superior;
nos restantes estabelecimento- até 50 trabalhadores, um técnico, e acima de 50
trabalhadores, dois técnicos por cada 3000 trabalhadores abrangidos ou fracção, sendo
pelo menos um deles técnico superior.
2.8. Serviços de Segurança Higiene e Saúde do Trabalho
Os serviços podem ser organizados a nível interno, externo, comum ou trabalhador designado de
acordo com os limites estabelecidos no Decreto-Lei nº 102/2009 de 10 de Setembro.
2.8.1. Serviços internos
Os serviços internos são criados pela empresa, abragendo exclusivamente os trabalhadores que
nela prestam serviço.
Trata-se de um departamento inserido na estrutura da empresa, a funcionar sob o enquadramento
hirerárquico, com uma ou ambas as valências, Segurança e Higiene e/ou Saúde no Trabalho, dotado
de meios consequentes com as a actividades a desenvolver. No primeiro caso, a actividade deverá
ser exercida por Técnicos de Segurança no Trabalho (TST) detentores de Certificado de Aptidão
Profissional (CAP). No segundo caso, e tal como já foi referido os médicos terão de ser titulares da
especialidade de medicina do trabalho.
Segundo o artigo nº 78, devem uniformizar serviços internos os estabelecimentos ou empresas
que:
-
20
a) tenham pelo menos 30 trabalhadores que desenvolvam actividades de risco elevado tal como:
construção, escavação, movimentação de terras, de túneis, com risco elevado de altura ou
soterramento, demolições e intervenção em ferrovias, construção naval, trabalho hiperbárico,
com exposição a agentes cancerígenos mutagénicos ou tóxicos para a reprodução, que
envolvam a utilização ou armazenagem de quantidades significativas de produtos químicos
perigosos, que envolvam o contacto com correntes eléctricas de média e alta tensão, o
fabrico, transporte e utilização de explosivos e pirotecnia, que impliquem a exposição de
agentes biológicos.
b) com mais de 400 trabalhadores no mesmo estabelecimento;
c) conjunto de estabelecimentos situados num raio de 50 km a partir do de maior dimensão, seja
qual a actividade desenvolvida
2.8.2. Serviços externos
São serviços contratados pela empresa a uma entidade externa, prestadora de serviços de
segurança e higiene no trabalho, os quais podem assumir várias modalidades, devendo conter os
requisitos determinados no nº1 do Artº 85 da Lei nº 102/2009, de 10 de Setembro.
2.8.3. Serviços comuns
O serviço comum é instituído por acordo entre várias empresas, a maioria das quais com
estabelecimentos localizados na proximidade uns dos outros (por exemplo: parques industriais), cuja
dimensão, não havendo riscos graves, poderia não justificar a constituição de estrutura própria.
O serviço comum, é pois, criado por uma pluralidade de empresas ou estabelecimentos para a
utilização comum dos trabalhadores que neles exercem funções (Artº 82 da Lei nº102/2009, de 10 de
Setembro)
2.8.4. Trabalhador designado
Esta solução organizacional, também designada por serviço interno simplificado, é válida apenas
para microempresas (até nove trabalhadores) e cuja actividade não seja de risco elevado. Depende
de autorização a conceder pela entidade gestora das condições de trabalho e da não verificação de
índices de incidência e gravidade superior à média do sector em dois anos consecutivos (EspiralSoft,
2011).
-
21
2.9. Avaliação de Riscos
A avaliação de riscos constitui a primeira abordagem de um problema de segurança, higiene e
saúde do trabalho, fazendo um levantamento de todos os factores do sistema de trabalho
Homem/Máquina/Ambiente que podem causar acidentes.
Em termos genéricos, a avaliação de riscos consiste, pois, na análise estruturada de todos os
aspectos inerentes ao trabalho, concretizada através da identificação dos factores de risco, estimação
e valoração dos riscos e indicação dos trabalhadores (ou terceiros) a eles expostos, definindo, em
cada caso, as medidas de prevenção ou protecção adequadas, visando, em primeira linha, a
eliminação do risco ou se tal não for viável, a redução das suas consequências (Freitas, 2011), tal
como é possível verificar no esquema apresentado na Figura 4.
Figura 4- Avaliação e controlo de riscos
A avaliação de riscos tem como principais objectivos quantificar a gravidade (ou seja, a
magnitude) que um risco pode ter na saúde e segurança dos trabalhadores, resultante das
circunstâncias em que o perigo ocorra e, assim, permitir que o empregador obtenha as informações
necessárias para que possa tomar uma decisão adequada no que toca ao tipo de medidas
preventivas a adoptar (Carneiro, 2011).
Sim
Identificação dos
perigos
Estimação do risco
Valoração do risco
Eliminação de perigos?
Controlo de risco
Análise do risco
Avaliação do risco
Risco controlado
Não
-
22
Associado à noção de Avaliação de Risco surgem dois conceitos, que importa diferenciar: o perigo
e o risco. De acordo com Lei nº102/2009, de 10 de Setembro
- perigo- é entendido como a propriedade intrínseca de uma instalação, actividade, equipamento,
um agente ou outro componente material do trabalho com potencial para provocar dano;
- risco- a probabilidade de concretização do dano em função das condições de utilização,
exposição ou interacção do componente material do trabalho que apresente perigo
Já a norma portuguesa NP 4397 define:
- perigo- fonte, situação, ou ato com potencial para o dano em termos de lesão ou afeção da
saúde, ou uma combinação destes;
- risco- combinação da probabilidade e ocorrência de um acontecimento ou de exposição(ões)
perigosos e da gravidade de lesões ou afecções da saúde que possam ser causadas pelo
acontecimento ou pela(s) exposição(ões).
Ainda segundo esta norma, a Avaliação de Risco pode ser encarada como uma ferramenta muito
útil à tomada de decisões, fazendo mesmo parte integral de qualquer sistema de gestão.
Em síntese, pensa-se que na prática a Avaliação de Risco deverá ser realizada periodicamente,
para que qualquer alteração, quer em termos de produto, quer em termos de processo, não
desencadeie novas situações de perigo, possibilitando, assim, um acompanhamento progressivo e
adequado dos mesmos.
2.9.1. Fases de Avaliação de Risco
Na opinião de Roxo (2003), a Avaliação de Risco deve compreender duas fases:
a análise de risco, que visa determinar a Magnitude do risco;
a valoração do risco, que visa avaliar o significado que o risco assume.
A Figura 5 esquematiza as duas fases da Avaliação de Risco.
-
23
Figura 5- Fases de um processo de avaliação de risco profissional (adaptada Roxo, 2013)
2.9.1.1. Fase 1- Analise de Risco
A análise de risco, também designada por avaliação de risco visa:
a caracterização dos riscos;
o seu modo de desenvolvimento;
a probabilidade de ocorrência;
a sua extensão;
e o potencial danoso.
Neste sentido, a concretização da Avaliação de Risco deve compreender 3 etapas, como se pode
visualizar na:
identificação do perigo e possíveis consequências;
identificação das pessoas expostos;
estimativa do risco.
2.9.1.2. Fase 2- Valoração do risco
A valoração do risco corresponde à fase final da Avaliação de Risco e visa comparar a magnitude
do risco com padrões de referência e estabelecer o grau de aceitabilidade do mesmo. Trata-se de um
processo de comparação entre o valor obtido na fase anterior (análise de risco) e um referencial de
risco aceitável (Roxo, 2003).
Nesta fase deve reunir-se informação que permita:
Valoração do
Risco Av
ali
aç
ão
de
Ris
co
s
Análise de Risco
-
24
avaliar as medidas de controlo implementadas;
priorizar as necessidades de implementação de medidas de controlo;
definir as acções de prevenção/correcção a implementar.
Em suma, o resultado desta fase deve permitir a definição das acções de melhoria, que podem
assumir carácter de curto ou longo prazo.
2.9.2. Etapas da análise de riscos
2.9.2.1. Identificação do perigo e possíveis consequências
Na identificação do perigo pretende-se verificar que perigos estão presentes numa dada situação
de trabalho e suas possíveis consequências, em termos dos danos sofridos pelos trabalhadores
sujeitos à exposição desses mesmos perigos.
Nesta etapa, os perigos associados à realização da actividade de trabalho podem decorrer do
resultado de um ou da combinação dos seguintes componentes: substâncias, máquinas, processos,
organização do trabalho, ambiente, modos operatórios, pessoas ou circunstâncias, pelo que, para a
sua concretização deve começar-se por reunir o máximo de informação pertinente, nas mais variadas
fontes disponíveis: legislação, manuais de instruções das máquinas, fichas de dados de segurança
das substâncias ou preparações perigosas, processos e métodos de trabalho, dados estatísticos
relativos à ocorrência de acidentes, experiência dos trabalhadores, normas internacionais relevantes,
entre outros (Roxo, 2003).
Esta etapa é considerada como a mais crítica em todo o processo de uma avaliação de riscos, na
medida em que, um perigo não identificado é um perigo não avaliado e, consequentemente, não
controlado (Carvalho, 2007).
2.9.2.2. Identificação das pessoas expostas
A estimativa do risco (fase subsequente) prevê o conhecimento, objectivo ou subjectivo, da
Gravidade ou Severidade que um determinado dano pode assumir, bem como, da Probabilidade de
ocorrência do mesmo.
Esta probabilidade de ocorrência vai depender:
do tipo de pessoas expostas, ou seja, consoante o nível de formação, sensibilização,
experiência, susceptibilidade individual, etc., será diferente a probabilidade de sofrer um
determinado nível de dano;
da frequência da exposição
Quando a avaliação visa o Risco Social, a Gravidade ou Severidade vai depender do número de
pessoas que podem sofrer um determinado nível de dano.
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De acordo com Carvalho, é importante considerar todas as pessoas que poderão estar expostas,
ou seja, não só os trabalhadores directamente afectos ao posto de trabalho em análise, mas também
todos os outros trabalhadores no espaço de trabalho. Importante ainda, é considerar também aqueles
que podem não estar sempre presentes.
2.9.2.3. Estimativa do Risco
Nesta fase, o objectivo consiste na quantificação da magnitude do risco, ou seja, da sua
criticidade.
Segundo Roxo, a magnitude do risco é função da Probabilidade de ocorrência de um determinado
dano e da Gravidade a ele associada, sendo representada pela equação (Eq.1):
Risco (R) = Probabilidade (P) x Gravidade (G) (Eq.1)
Na estimativa de cada uma das variáveis (P) e (G), devem ser tidas em consideração as medidas
de segurança já implementadas (ex. sistemas de detecção e combate a incêndio, protecção de
segurança num determinado equipamento, procedimentos de segurança associados à realização de
determinada tarefa, entre outros), uma vez que estas irão interferir na magnitude do risco.
2.9.3. Métodos de Avaliação de Riscos
Ao longo do tempo, foram sendo criados, desenvolvidos e aperfeiçoados inúmeros métodos com
capacidade para identificar os perigos existentes no local de trabalho e efectuar uma análise racional
das consequências dos riscos associados, bem como as possíveis reduções dos danos, mediante a
adopção de diferentes medidas de controlo.
Estes métodos podem ser integrados em diferentes categorias de acordo com as suas
características específicas, os objectivos para que foram desenvolvidos, os meios utilizados e os
factores que relacionam. A título de exemplo, em função da importância relativa de cada uma das
suas componentes de “identificação” e de “quantificação” do risco, é habitual distingui-los como
métodos qualitativos, métodos quantitativos e métodos semi-quantitativos. Passamos a uma breve
descrição de cada uma destas categorias.
2.9.3.1. Métodos qualitativos
Descrevem ou esquematizam, sem chegar a uma quantificação dos riscos, os pontos perigosos de
um posto de trabalho ou instalação, bem como as medidas de segurança disponíveis, sejam estas
preventivas ou correctivas. Identificam também quais os acontecimentos com capacidade e
probabilidade de gerarem situações de perigo, bem como desencadeiam medidas para garantir que
não ocorram. O nível de segurança é normalmente determinado em função da conformidade da
instalação, dos processos e dos procedimentos com as normas e regulamentos de segurança
aplicáveis. Como exemplo de métodos qualitativos temos as “listas de verificação”. Este método é,
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portanto, apropriado para avaliar situações simples, cujos perigos possam ser facilmente identificados
pela observação e comparados com princípios de boas práticas, existentes para circunstâncias
idênticas.
2.9.3.2. Métodos quantitativos
As avaliações quantitativas envolvem a quantificação objectiva dos diferentes elementos do risco,
nomeadamente, da Probabilidade e da Gravidade das consequências.
São métodos que visam obter uma resposta numérica da magnitude do risco, pelo que, o cálculo
da Probabilidade faz recurso a técnicas sofisticadas de cálculo que integram dados sobre o
comportamento das variáveis em análise. Permitem determinar um padrão de regularidade na
Frequência de determinados eventos. A quantificação da Gravidade recorre a modelos matemáticos
de consequências, de forma a simular o campo de acção de um dado agente agressivo e o cálculo da
capacidade agressiva em cada um dos pontos desse campo de acção, estimando então os danos
esperados (Roxo, 2003).
Este tipo de métodos é particularmente útil nos casos de risco elevado ou de maior complexidade
(ex.: na indústria nuclear, na indústria química, etc..). Para a aplicação de método quantitativo existe
uma variedade de metodologias e técnicas especiais que devem ser utilizadas na etapa da
identificação dos perigos. A especificidade destas metodologias e técnicas recomenda que não
devem ser utilizadas de modo indiscriminado para qualquer situação. Na opinião de Gadd et al.
(2003) as diversas metodologias e técnicas disponíveis apresentam diferentes níveis de robustez e
fragilidade.
2.9.3.3. Métodos semi-quantitativos
Atribuem índices às situações de risco previamente identificadas e estabelecem planos de
actuação, em que o objectivo é a hierarquização do risco, a definição e implementação de um
conjunto de acções preventivas e correctivas para controlar o risco. Incluem-se neste tipo o Método
de William T. Fine e o Método da Matriz Simplificada de Avaliação de Riscos de Acidente. Atendendo
à fácil aplicação deste último método no sector da construção civil, foi o método utilizado no capítulo 5
deste trabalho.
Em seguida, na Figura 6 apresenta-se um esquema que pretende resumir o que foi exposto acima:
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Figura 6- Métodos de avaliação de risco (adaptado de Carvalho, 2007)
2.10. Gestão do Risco
Designa-se por gestão do risco o processo conjunto de controlo do risco e de avaliação do risco. O
processo de gestão do risco permite a monitorização e acompanhamento dos riscos durante a fase
de operação da tarefa.
Este processo aplicado a uma tarefa vai permitir proteger os trabalhadores dos perigos que lhe
estão associados, possibilitando o controlo dos riscos e mantendo essas tarefas com níveis de risco
aceitáveis. (Roxo, 2003)
Identificado o perigo e quantificado o risco poder-se-á decidir da necessidade de implementar
novas medidas de segurança, de reduzir ou eliminar situações perigosas e, neste caso, quais as que
devem ser prioritariamente encaradas (Carneiro, 2011)
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2.11. Equipamentos de medição
Uma avaliação de riscos completa passa pelo uso de equipamentos de medição aos diferentes
parâmetros.
Na Tabela 2 encontram-se exemplos de equipamentos de medição e respectivos parâmetros a
medir, assim como, a legislação aplicável.
Parâmetro a
medir Equipamentos de Medição
Unidade de
Medição Legislação
Ruído
Sonómetro
(medição de
postos de trabalho
fixos)
dB
Decreto-Lei
182/2006, 6 de
Setembro
Dosímetro
(medição de
postos de trabalho
móveis)
dB
Vibração Acelerómetro
m/s2
Decreto-Lei
46/2006, 24 de
Fevereiro
Iluminância Luxímetro
lux Norma ISSO
8995.2002
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Parâmetro a medir Equipamentos de Medição Unidade de
Medição Legislação
Ambiente
térmico
Temperatura
do ar Termómetro
ºC ou ºF
ISO
7730:1994
Humidade do
ar
Psicrómetro
rotativo
%
Velocidade do
ar Anemómetro
m/s
Tabela 2- Equipamentos de medição
2.12. Equipamentos de Protecção
2.12.1. Equipamentos de protecção colectiva
O equipamento de protecção colectiva (EPC) é o conjunto dos meios a utilizar destinados a
proteger todos os grupos definidos como trabalhadores em estaleiro.
É obrigação do empregador, após identificados os perigos e valorados os riscos, de tentar eliminar
os perigos ou, caso não seja possível, reduzir o risco ou a probabilidade de ocorrerem acidentes ou
doenças profissionais decorrentes desse risco residual. Assim, os equipamentos de protecção
colectiva (EPC’s) surgem como uma tentativa de reduzir o risco e devem sempre ter prioridade sobre
o equipamento de protecção individual, uma vez que este apenas protege um trabalhador. Pelo
contrário os EPC’c protegem vários trabalhadores.
O sistema de protecção colectiva a empregar deve ser escolhido antes do início da obra. A
protecção colectiva eleita deve reunir um conjunto de características tais como:
deve ser forte e segura;
deve evitar a queda do trabalhador, em vez de limitar a mesma;
a protecção não deve causar sensação de vertigem ao trabalhador;
deve ser continua, protegendo os ângulos das fachadas e não deixando espaços por
cobrir;
deve proteger o trabalhador em qualquer fase do trabalho;
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deve ser fácil de adaptar aos diferentes tipos de estruturas existentes, podendo assim ser
utilizada em diferentes obras;
a sua correcta instalação deve ser verificada por uma pessoa competente.
Na Tabela 3 apresentam-se exemplos de equipamentos de protecção colectiva utilizados em obra:
EPC’c Especificidades Objectivo
Guarda-corpos
São constituídos por diversos elementos montados no local, que no seu conjunto, devem garantir a estabilidade e resistência necessária e ter dimensões que assegurem o seu objectivo.
Impedir a queda em altura de pessoas e de pessoas. São utilizados na perifieria de lajes, coberturas, plataformas de trabalho, andaimes, aberturas em lajes, escadas e outros acessos.
Redes de segurança
Rede vertical com forca (anti e limitadora de quedas)
Rede horizontal (anti-quedas)
Rede horizontal inclinada (limitadora de quedas)
Constituídas por cordas fibro-sintéticas de poliamida ou polipropileno, ligadas por nós, formando um conjunto elástico de malhas quadradas, suportadas por corda perimetral, capazes de absorver uma certa quantidade de energia.
Impedir ou limitar a queda, quer de pessoas, quer de materiais.
Tabela 3- Equipamentos de Protecção Colectiva
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2.12.2. Equipamentos de protecção individual
O Decreto- Lei nº 128/93, de Abril, define Equipamento de Protecção Individual (EPI) como:
“Qualquer dispositivo ou meio que se destine a ser envergado ou manejado por uma
pessoa com vista à sua protecção contra um ou mais riscos susceptíveis de ameaçar a sua
saúde bem como a sua segurança.”
É regra fundamental que os equipamentos de protecção individual só devem ser utilizados quando
os riscos não puderem ser evitados ou suficientemente limitados por meios técnicos de protecção
colectiva ou por medidas, métodos ou processos de organização de trabalho.
Os equipamentos de protecção individual devem, na medida do possível, ser reservados a uso
pessoal, embora a natureza do equipamento ou as circunstâncias locais possam determinar a sua
utilização sucessiva por vários trabalhadores e por fornecedores e visitantes do estaleiro, casos em
que devem ser tomadas medidas apropriadas para que tal utilização não cause qualquer problema de
saúde ou de higiene aos diferentes utilizadores (CICCOPN, 2005)
Todo o equipamento de protecção individual deve estar conforme com as normas aplicáveis à sua
concepção e fabrico em matéria de segurança e saúde, ser adequado aos riscos a prevenir e às
condições existentes no local de trabalho, atender às exigências ergonómicas e de saúde do
trabalhador e ser adequado ao seu utilizador.
Para a selecção adequada dos equipamentos de protecção individual (EPI’s) deve ter-se em
consideração:
os riscos prováveis a que o trabalhador está exposto;
a natureza do trabalho e demais condições envolventes da sua execução;
as partes do corpo que se pretende proteger;
as características pessoais do trabalhador que os vai utilizar.
É da inteira responsabilidade da entidade empregadora a distribuição do EPI. Por outro lado, cabe
aos trabalhadores a responsabilidade pela correcta utilização e conservação dos EPI’s de acordo
com as instruções prestad