avaliação da resposta humoral poliespecífica intratecal em...

45
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS Rafael Paternó Castello Dias Carneiro Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em Pacientes Brasileiros Com Esclerose Múltipla CAMPINAS 2016

Upload: others

Post on 10-Dec-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

Rafael Paternó Castello Dias Carneiro

Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em Pacientes Brasileiros Com Esclerose Múltipla

CAMPINAS

2016

Page 2: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

Rafael Paternó Castello Dias Carneiro

Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em Pacientes Brasileiros Com Esclerose Múltipla

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas na Área de Concentração em Neurologia.

ORIENTADOR: Leonilda Maria Barbosa dos Santos COORIENTADOR: Carlos Otávio Brandão

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO RAFAEL PATERNÓ CASTELLO DIAS CARNEIRO, E ORIENTADO PELA PROFa. DRa. LEONILDA MARIA BARBOSA DOS SANTOS

CAMPINAS

2016

Page 3: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): FAPESP, 2012/04565-0; FAPESP, 2010/10725-4

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas Ana Paula de Morais e Oliveira - CRB 8/8985

Dias-Carneiro, Rafael Paternó Castello, 1985- D543a DiaAvaliação da resposta humoral poliespecífica intratecal em pacientes

brasileiros com Esclerose Múltipla / Rafael Paternó Castello Dias Carneiro. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

DiaOrientador: Leonilda Maria Barbosa dos Santos. DiaCoorientador: Carlos Otávio Brandão. DiaDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas.

Dia1. Esclerose múltipla. 2. Líquido cefalorraquidiano. 3. Bandas oligoclonais. 4. Proteinas do líquido cefalorraquidiano. 5. Brasil. I. Santos, Leonilda Maria Barbosa dos,1950-. II. Brandão, Carlos Otávio. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The humoral, polyspecific, intrathecal immune response in Brazilian patients with Multiple Sclerosis Palavras-chave em inglês: Multiple sclerosis Cerebrospinal fluid Oligoclonal bands Cerebrospinal fluid proteins Brazil Área de concentração: Neurologia Titulação: Mestre em Ciências Médicas Banca examinadora: Leonilda Maria Barbosa dos Santos [Orientador] Marcondes Cavalcante França Junior Heloisa Helena Ruocco Data de defesa: 27-01-2016 Programa de Pós-Graduação: Ciências Médicas

Page 4: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

RAFAEL  PATERNÓ  CASTELLO  DIAS  CARNEIRO

ORIENTADOR:  LEONILDA  MARIA  BARBOSA  DOS  SANTOS

COORIENTADOR:  CARLOS  OTÁVIO  BRANDÃO

MEMBROS:

1.  PROFA.  DRA.  LEONILDA  MARIA  BARBOSA  DOS  SANTOS

2.  PROF.  DR.  MARCONDES  CAVALCANTE  FRANÇA  JR.

3.  PROFA.  DRA.  HELOÍSA  HELENA  RUOCCO

Programa  de  Pós-­‐-­‐Graduação   em  Ciências  Médicas   da   Faculdade   de  Ciências  Médicas  da  Universidade  Estadual  de  Campinas.

A   ata   de   defesa   com   as   respectivas   assinaturas   dos   membros   da   banca  examinadora  encontra-­‐-­‐se  no  processo  de  vida  acadêmica  do  aluno.

Data:  DATA  DA  DEFESA  [27/01/2016]

Page 5: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho e seus resultados aos meus avós paternos Eurico e

Nira, que não puderam estar aqui até o fim, mas participaram, apaixonados

torcedores, de cada conquista dos seus herdeiros.

À avó Regina, pelo exemplo incansável de força e perseverança.

Aos meus pais, por tudo que não cabe em papel.

(E ao Nino, avô quase mitológico, cujas histórias povoaram meu

imaginário infantil).

Page 6: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, ao meu pai, Dr. José Carlos Dias Carneiro,

meu maior exemplo, por ter me encaminhado à Medicina e por me incentivar

sempre a buscar novos desafios.

À minha mãe, Maria Ninel, que me ensinou que os maiores gestos de

amor não são sempre carinhos (mas que sempre tem um carinho para

dispensar).

Ao André, que me ensina a ser um irmão, filho e médico melhor.

À Gabriela, que escolheu continuar lendo por cima do meu ombro para

sempre.

Ao Davy, Alê e Bruno, amigos da vida toda, irmãos escolhidos.

À Santa Casa pela formação médica e em Neurologia a ferro e fogo.

À Unicamp, por ter me recebido de braços abertos, especialmente nas

figuras da Professora Leonilda, Dr. Carlos Otávio e Felipe, que me ensinaram a

ser um pesquisador começando pelo zero.

Aos colegas do Laboratório, Adriel, Allinny, Marília, Vinícius, Verônica,

pela amizade e auxílio ao longo deste período. Sem o esforço conjunto do

grupo, nada teria sido possível.

Page 7: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

RESUMO

Esclerose Múltipla (EM) é a mais comum dentre as doenças desmielinizantes idiopáticas do Sistema Nervoso Central (SNC). O diagnóstico da EM é clínico e radiológico, porém a resposta humoral intratecal detectável no Líquido Cefalorraquidiano (LCR) de pacientes com EM é um dos sinais mais frequentes e estáveis da doença do SNC, e classicamente é detectada pela pesquisa de bandas oligoclonais de IgG restritas ao LCR (BOC-IgG), observadas em até 98% dos pacientes de séries europeias. Diversos estudos demonstraram a presença de uma resposta humoral poliespecífica intratecal contra antígenos virais, sendo os Vírus do Sarampo (MV), da Rubéola (RV) e Varicela Zoster (VZV) os mais frequentes, ocorrendo em até 94% dos pacientes. A especificidade deste método é superior à das BOC-IgG. A detecção de anticorpos específicos contra esses ou outros antígenos depende de exposição prévia, seja por contato com o agente ou através de vacinação, e não representa um quadro infeccioso agudo, mas um estado de ativação imunológica crônico. Na população brasileira a presença de BOC-IgG se mostrou variável entre diferentes séries, porém aparenta ser menor do que a observada na literatura internacional. A resposta poliespecífica intratecal não foi avaliada em nosso meio, em que uma menor prevalência da doença e menor frequência das BOC-IgG representam um desafio diagnóstico.

O objetivo principal deste estudo é analisar a sensibilidade e especificidade diagnósticas da síntese intratecal de anticorpos contra os vírus MV, RV, VZV, Herpes tipos 1 e 2 (HSV) e Vírus Epstein-Barr (EBV) em um grupo de pacientes brasileiros portadores de Esclerose Múltipla e comparar sua acurácia com as BOC-IgG em pacientes com EM, outras doenças inflamatórias do SNC e pacientes sem doença inflamatória. Foram recrutados pacientes com suspeita de doenças desmielinizantes submetidos à punção lombar para investigação diagnóstica no Ambulatório de Esclerose Múltipla do HC-Unicamp. O Comitê de Ética autorizou a realização do estudo e os pacientes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Amostras pareadas de soro e LCR foram avaliadas quanto a presença de BOC-IgG e quantificação de anticorpos específicos. Índice de anticorpo (AI) foi calculado conforme descrito na literatura e valores de AI ≥ 1,5 foram considerados representativos de síntese intratecal. Dentre 63 pacientes avaliados, 33 receberam diagnóstico de EM, 4 pacientes tiveram o diagnóstico de uma forma pré-clínica de Esclerose Múltipla, sendo uma RIS e 3 CIS. Seis casos tiveram diagnóstico de doenças neurológicas inflamatórias ou infecciosas (DNII) e 20 pacientes de outras doenças neurológicas (ODN). BOC-IgG foram detectadas em 72% dos pacientes com EM, com

Page 8: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

especificidade de 96%. A sensibilidade da detecção de síntese intratecal de anticorpos foi 67%, com especificidade de 81%. O vírus mais frequente foi MV (52%). Uma avaliação combinada de BOC-IgG e resposta intratecal poliviral mostrou sensibilidade de 88%, especificidade 92% e acurácia 90%. O estudo permite concluir que a avaliação da resposta humoral poliespecífica intratecal aumentou a sensibilidade para detecção de síntese intratecal de imunoglobulinas em nossa população quando comparado ao uso isolado das BOC-IgG restritas ao LCR.

Palavras-chave: Esclerose Múltipla. Líquido Cefalorraquidiano. Bandas Oligoclonais. Proteinas do Liquido Cefalorraquidiano. Brasil.

Page 9: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

ABSTRACT

Multiple Sclerosis (MS) is the most common idiopathic demyelinating disease of the Central Nervous System (CNS). Diagnosis of MS is clinical with radiological support. An intrathecal humoral response detectable in the Cerebrospinal Fluid (CSF) of MS patients is one of the most stable signs of the disease, and is classically detected by means of IgG Oligoclonal Bands (IgG-OCB) restricted to the CSF in up to 98% of european MS patients. In the Brazilian population IgG-OCB positivity varies among case series, but seems to be inferior to the observed in international literature. Studies have demonstrated the presence of an intrathecal, humoral, polyspecific response against viral antigens in up to 94% of MS patients, with antibodies against Measles (MV), Rubella (RV) and Varicella Zoster (VZV) being the most frequently detected. Specificity of a polyviral response is higher than that of IgG-OCB. Detection of antibodies against these or other viruses is dependent on previous exposition to the agent in the environment or via vaccination, and doesn’t characterize present infection, but rather a chronic state of immunologic activation. This method has not been assessed in our country, where a lower prevalence of MS and lower frequency of IgG- OCB represent a diagnostic challenge. The objective of this study is to evaluate sensitivity and specificity of the detection of intrathecal antibody synthesis against MV, RV, VZV, Herpes simplex virus 1 and 2 (HSV) and Epstein-Barr Virus (EBV) in a group of Brazilian MS patients and compare their accuracy compared to IgG-OCB in patients diagnosed with MS, other inflammatory and infectious CNS diseases (IIND) and patients with other neurologic diseases (OND). We recruited patients from our MS clinic with suspected demyelinating disease who underwent lumbar puncture as part of investigation. Approval was obtained from the local ethics committee and all patients signed an informed consent. Paired samples of CSF and sera from patients were analysed for presence of IgG-OCB and quantification of specific antibodies. Antibody index (AI) was calculated as described in the literature and AI ≥ 1.5 was considered representative of intrathecal synthesis. 33 patients were diagnosed as MS, 4 patients as a pre-diagnostic form of MS, 6 patients as IIND and 20 patients as OND. IgG-OCB were detected in 72% MS patients, with a 96% specificity. Sensitivity of the detection of a intrathecal antibody synthesis was 67% and specificity 81%. Measles antibody was the most frequently detected (52%). A combined approach of IgG-OCB and polyviral response detection showed a sensitivity of 88%, specificity of 92% and accuracy of 90%. This study concludes that evaluation of polyspecific intrathecal humoral response raised the sensitivity of intrathecal Ig synthesis detection in our population when compared to IgG-OCB alone.

Page 10: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

Keywords: Multiple Sclerosis. Cerebrospinal fluid. Oligoclonal Bands. Cerebrospinal fluid proteins. Brazil.

.

Page 11: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Dados demográficos da população estudada

Tabela 2. Análise Quimiocitológica do LCR

Tabela 3. Análise da Síntese Intratecal de Anticorpos

Tabela 4. Detecção da Síntese Intratecal dos anticorpos contra Sarampo (M), Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes simplex (H) e EBV na população estudada.

Tabela 5. Sensibilidade, Especificidade, Acurácia para a detecção da presença de síntese intratecal de IgG e síntese de anticorpos contra antígenos específicos virais

Tabela 6. Análise Comparativa da Síntese Intratecal contra antígenos virais em pacientes com Esclerose Múltipla

Page 12: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

SUMÁRIO

1. Introdução........................................................................................pg 13

2. Objetivos .........................................................................................pg 25

3. Pacientes e Métodos.......................................................................pg 26

4. Resultados.......................................................................................pg 29

5. Discussão.........................................................................................pg 36

6. Conclusões......................................................................................pg 40

7. Referências......................................................................................pg 41

8. Apêndice..........................................................................................pg 44

Page 13: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

13

1. INTRODUÇÃO

1.1 Aspectos Históricos da Esclerose Múltipla

Acredita-se que o relato mais antigo de Esclerose Múltipla (EM) na história

date do século XIV, na Holanda, onde teria vivido Lidwina de Schiedam (1380-1433). A

partir dos dezesseis anos Lidwina foi acometida por uma série de sintomas, iniciados

com dificuldade para caminhar. Aos 19 anos apresentava paralisia de ambos os

membros inferiores e alterações visuais. Os registros descrevem períodos de melhora

e piora, até seu falecimento aos 54 anos1–3. As fases de remissão da doença,

atribuídas a prolongados períodos de jejum e oração renderam-lhe, em 1890, a

canonização pelo Papa Leão XIII.

Quatro séculos depois, na Inglaterra, as anotações do diário pessoal de

Augustus D’Esté, neto ilegítimo de Jorge III da Inglaterra, relatam a evolução de 26

anos de sua doença, diagnosticada retrospectivamente como EM1,3. Também da

Inglaterra, no início do século XX há um relato semelhante, no livro The Journal of a

Disappointed Man, de W.N.P. Barbellion, nom-de-plume do naturalista britânico Bruce

Frederick Cummings (1889 – 1919), um registro acurado dos sintomas e impressões

do autor ao longo da evolução da doença4.

Na literatura médica a história da Esclerose Múltipla se inicia com a

descrição por Carlswell e Cruveilhier, na primeira metade do século XIX, do achado de

placas de significado desconhecido na medula de sujeitos de autópsia. Em 1835

Carlswell faz a primeira descrição clinicopatológica, definindo a doença como “afecção

medular com paraplegia” e no ano de 1849, Friedrich Theodor von Frerichs elabora a

descrição clínica e características da doença3. As primeiras descrições detalhadas dos

aspectos clínicos e anatomopatológicos da Esclerose Múltipla, válidos até os dias de

hoje, são de Jean-Martin Charcot. Em sua extensa obra sobre o assunto, Charcot

define a doença como “uma entidade clinicopatológica distinta, apresentando lesões

disseminadas no espaço e no tempo, apresentando períodos de agudização e

Page 14: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

14

remissão, comprometimento principalmente da mielina, especialmente nas regiões

periventriculares, nervo óptico e medula espinhal”. Suas observações sobre

disseminação da doença no tempo e no espaço guiam até hoje a investigação de

pacientes com suspeita de EM, e o termo sclerose en plaques, cunhado por um de

seus discípulos nas discussões do Hospital Salpetriére, é usado até os dias de hoje na

literatura francesa.

1.2 Aspectos Demográficos e Epidemiológicos

Esclerose Múltipla é a mais comum dentre as doenças desmielinizantes

idiopáticas do Sistema Nervoso Central5 e afeta mais frequentemente mulheres, numa

proporção de 2,3:1, segundo revisões mais recentes da literatura6. As primeiras

manifestações clínicas costumam aparecer dos 20 aos 40 anos de idade 7–9. É a

doença neurológica mais comum em jovens, e principal causa de incapacidade não

decorrente de trauma nesta faixa etária6,10. Historicamente foi observado um gradiente

de prevalência, sendo esta mais elevada nas latitudes mais altas, e nas décadas de 60

e 70 do século passado foi proposta a divisão do mundo em zonas de risco para

desenvolvimento da doença. Foram consideradas zonas de risco elevado aquelas com

prevalências acima de 30 casos por 100.000 habitantes, incluindo o Norte da Europa e

dos Estados Unidos, o Sul do Canadá, a Nova Zelândia e o sudeste da Austrália. A

zona de médio risco abrangia os locais com prevalência calculada ou estimada entre 5

e 25 casos por 100.000 habitantes, e incluía o restante da Europa Ocidental e

Mediterrâneo. Os demais locais, com prevalências abaixo de 5 casos por 100.000

habitantes, foram consideradas áreas de baixo risco para Esclerose Múltipla, incluindo

Ásia, África, Alasca, Groenlândia e América Latina11. Considerando essa distribuição

particular, Poser propôs em dois artigos uma possível relação com a saga nórdica,

notando que muitos dos locais do planeta em que a prevalência de EM era mais

Page 15: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

15

elevada foram alvo de viagens exploratórias, campanhas militares, rotas comerciais e

colônias de povoamento viking. 12,13

A partir da década de 80 do século passado, possivelmente por

aumento da incidência de EM nas latitudes mais baixas, vem sendo observado uma

diminuição no gradiente de prevalência entre as diferentes latitudes6. Em concordância

com essa tendência, um estudo de 1997 demonstrou uma prevalência de 15 casos

para 100.000 habitantes na cidade de São Paulo, 3 vezes maior que na década

anterior14. Analogamente, trabalhos mais recentes mostraram prevalências de 18,1/105

e 12,5/105 em Belo Horizonte e Uberaba, respectivamente. 15,16

1.3 Etiologia, Patogênese e Fisiopatologia

Embora a Esclerose Múltipla seja classicamente descrita como uma

doença inflamatória e desmielinizante, atualmente sabemos que há, desde o seu

princípio, um equilíbrio entre atividade inflamatória, que se manifesta na forma de

placas de desmielinização, e um processo neurodegenerativo, com perda de células

gliais, degeneração axonal e atrofia17–19.

A etiologia da EM é muito estudada e discutida, e hoje acredita-se que a

doença decorra tanto da ação independente quanto da interação entre fatores

genéticos e ambientais7,17,20,21. Estudos mostram que há um aumento na taxa de

recorrência familial na EM17, chegando a 25% em gêmeos monozigóticos, e caindo

progressivamente para gêmeos dizigóticos, irmãos, pais/filhos e parentes de segundo

e terceiro grau, sugerindo uma susceptibilidade de natureza poligênica20,22. Os fatores

ambientais possivelmente implicados no surgimento da Esclerose Múltipla são

diversos, abrangendo desde infecções, como Vírus Epstein-Barr (EBV), Vírus Herpes

Humano tipo 6 (HHV-6) e Chlamydia pneumoniae 23, até baixa exposição solar,

carência de Vitamina D e tabagismo21. Uma teoria em voga atualmente, conhecida

Page 16: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

16

como teoria da higiene, sugere que a exposição mais tardia a patógenos virais comuns

da infância pode desencadear uma resposta imunológica aberrante, relacionada ao

desenvolvimento de EM e outras doenças autoimunes17,21.

O estudo dos mecanismos imunopatológicos através dos quais se

perpetua uma resposta imunológica não específica circunscrita ao Sistema Nervoso

Central avançou consideravelmente nos últimos anos, porém grande parte do

processo permanece obscuro. Aparentemente a lesão se inicia com uma quebra da

barreira hematoencefálica (BHE), possivelmente por conta de doença infecciosa. Se

houver, com a quebra da BHE, passagem de linfócitos sensibilizados contra

componentes da bainha de mielina ou oligodendrócitos, dá-se início a um processo

inflamatório agudo principalmente na substância branca, embora não exclusivamente.

O processo inflamatório é de natureza autoimune23, e atribuído inicialmente a uma

incapacidade das células T helper reguladoras modularem a atividade das células T

helper efetoras19. A resposta imunológica na Esclerose Múltipla é predominantemente

do tipo celular, previamente creditada a Linfócitos T helper 1 (Th1).

Há evidências de que linfócitos T de pacientes sadios são naïve, enquanto

nos pacientes com EM apresentam fenótipo ativado, reativo a componentes da mielina

e são, de modo geral, mais inflamatórios. A capacidade de gerar doença no sistema

nervoso central (SNC) é determinada pelo perfil de citocinas produzidas por essa

população de linfócitos. Estudos mais recentes identificaram grande quantidade de

Interleucina 17 (IL-17) em lesões desmielinizantes de EM, e hoje acredita-se que os

Linfócitos T produtores de IL-17, denominados por esse motivo Th17, sejam os

principais efetores, sob estímulo de Interleucina 23 (IL-23). Um estudo demonstrou

que camundongos deficientes para IL-23 não desenvolvem Encefalite Autoimune

Experimental (EAE), o modelo animal da Esclerose Múltipla19,23.

Page 17: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

17

1.4 As formas clínicas e Sintomas de Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla pode apresentar, em sua evolução, períodos de piora

(denominados surtos ou exacerbações), fases de estabilidade e, eventualmente,

acúmulo de déficits e progressão da incapacidade. Essas diferentes formas clínicas

podem aparecer de forma isolada ou coexistir. Aceitavam-se quatro formas clínicas da

doença, conforme definição em 199624, porém esses critérios foram recentemente

revistos e bem aceitos, com a exclusão de um dos fenótipos (a chamada forma

Progressiva com Surtos), caracterização das Síndrome Clinicamente e

Radiologicamente Isoladas e o acréscimo de modificadores caracterizando a atividade

e evolução da doença25.

A Sindrome Clinicamente Isolada é a denominação do primeiro evento

clínico de uma doença com sinais de desmielinização inflamatória, mas que ainda não

preenche critérios para Esclerose Múltipla por falta de disseminação cronológica. A

revisão dos critérios diagnósticos em 2010, possibilitando a confirmação de

disseminação temporal em um único exame de ressonância magnética, reduziu o

número de pacientes que podem receber essa classificação25. A Síndrome

Radiologicamente Isolada consiste no achado incidental de lesões de aspecto

desmielinizante em uma Ressonância Magnética na ausência de achados clínicos.

Embora achados de imagem possam ser inespecíficos, estes pacientes devem ser

seguidos prospectivamente pelo risco de desenvolvimento de EM. Este risco é maior

para pacientes com presença de lesões típicas na RNM de encéfalo, lesões

medulares, lesões com captação de contraste e alterações no exame de líquido

cefalorraquidiano25.

A forma remitente-recorrente (EMRR) é a apresentação inicial de 80-85%

dos pacientes 17,26, caracterizada por surtos bem definidos e ausência de progressão

dos déficits entre surtos. Os surtos são definidos como pioras observadas ou relatadas

dos sintomas neurológicos, durando 24 horas ou mais, na ausência de febre ou

Page 18: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

18

infecção27. Os surtos geralmente evoluem em alguns dias a semanas, estabilizam e

habitualmente apresentam melhora total ou parcial, espontaneamente ou em resposta

a corticosteroides26.

A forma primariamente progressiva (EMPP) é aquela caracterizada, desde

o princípio do quadro, por uma evolução constante dos déficits neurológicos. Cerca de

20% dos pacientes tem essa apresentação17. A velocidade de progressão pode variar,

sendo admitidos períodos de estabilidade clínica e até mesmo de melhora discreta25.

O déficit mais comum é dificuldade progressiva de marcha.

Estima-se que a maior parte dos pacientes com EMRR evoluirá, após um

determinado tempo, para a forma secundariamente progressiva da doença17,

caracterizada por uma evolução inicialmente remitente-recorrente, seguida por uma

fase em que há acúmulo progressivo de déficits. Assim como na forma primariamente

progressiva, são aceitos períodos de estabilidade e melhora clínica, bem como

eventuais surtos25.

Estes três fenótipos nucleares, EMRR, EMPP e EMSP, agora recebem

também modificadores que buscam melhor detalhar o momento clínico. Deve ser

identificado se o paciente está em atividade e se a doença está progredindo. Atividade

da EM pode ser identificada através da presença de novas lesões ou aumento do

volume de lesões anteriores em um novo exame de imagem, ou pela ocorrência de um

surto. O acúmulo de déficits pode ser avaliado clinicamente, por exemplo pela piora do

EDSS ou marcha cronometrada. Em pacientes com doença remitente-recorrente, cuja

piora se deve a surtos frequentes ou recuperação incompleta após um surto, opta-se

pela terminologia “em piora” (i.e. EMRR – em atividade e em piora), em detrimento a

progressão, termo reservado para pacientes em fase progressiva, em que a piora se

dá gradualmente ao longo do tempo.

Page 19: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

19

A Esclerose Múltipla pode se apresentar com uma extensa gama de sinais

e sintomas neurológicos localizatórios, e outros não localizatórios, como disfunção

cognitiva, transtornos psiquiátricos, Fenômeno de Uhthoff e Sinal de Lhermitte 17,26. A

prevalência das diferentes manifestações parece ser influenciada pela idade de início

da doença e pela forma clínica, sendo a neurite óptica mais comum nos pacientes

jovens e mais rara após os 30 anos8. Alterações sensitivas, oftalmoparesia

internuclear e neurite óptica também são frequentes como forma de apresentação de

doença remitente-recorrente 26. As formas progressivas da doença parecem

apresentar mais frequentemente uma síndrome medular progressiva, com paraparesia

e espasticidade como sintomas iniciais26. Os principais sinais e sintomas de Esclerose

Múltipla e suas respectivas topografias estão resumidos na Figura 1. As alterações

mais precoces da EM podem ser atribuídas a bloqueios de condução em

determinadas fibras, enquanto o acúmulo de déficits característico da fase de

predomínio neurodegenerativo é devido a lesão axonal e morte celular. Ademais, com

a evolução da doença perde-se, progressivamente, os mecanismos de reparo

responsáveis pela remielinização, que ocorre nas fases iniciais10. Os sintomas

neurológicos podem ser deficitários (baixa acuidade visual, paresias, hipoestesias),

positivos (parestesias, neuralgia trigeminal, Sinal de Lhermitte) e transitórios, como o

Fenômeno de Uhthoff. Os fenômenos negativos podem ser atribuídos a diminuição da

velocidade de condução ou mesmo sua interrupção nos axônios desmielinizados. Os

fenômenos positivos podem advir de hiperexcitabilidade do axolema exposto pela

desmielinização, ou da transmissão inadequada do impulso entre dois axônios

desmielinizados adjacentes. Fenômeno de Uhthoff é o nome dado à piora transitória

dos sintomas observada nos pacientes de Esclerose Múltipla em decorrência de

aumento da temperatura corporal após um banho quente ou exercício físico10,17. A

razão para esse fenômeno é uma mudança nas propriedades elétricas dos axônios

Page 20: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

20

desmielinizados causada pelo aumento da temperatura. Os fenômenos cognitivos são

atribuídos, por sua vez, a perda de células gliais, neurônios e sinapses10.

1.5 Diagnóstico de Esclerose Múltipla

O diagnóstico da EM é eminentemente clínico, sendo necessário a

presença de sintomas atribuíveis a lesões focais do SNC, comprovação de

disseminação no espaço e no tempo e exclusão de outras doenças com

TOPOGRAFIA SINTOMAS SINAIS

Déficit cognitivo Hemiférios Cerebrais Sinais de lesão do Neurônio Motor Superior Déficits sesitivos e motores dimidiados

Alterações do Afeto (Principalmente Depressão) Epilepsia Déficits Focais

Nervo Óptico Baixa acuidade visual dolorosa Escotomas, redução da acuidade visual, discromatopsia, defeito pupilar aferente relativo

Tremor Cerebelo e Vias Cerebelares Incoordenação e Desequilíbrio

Tremor cineticopostural, disartria Ataxia axial e apendicular

Tronco Cerebral Nistagmo, oftalmoplegia internuclear Diplopa, oscilopsia Vertigem Dificuldade para engolir e falar Labilidade emocional

Disfagia, disartria Síndrome Pseudobulbar

Medula Espinhal Fraqueza Sinais de lesão do Neurônio Motor Superior Rigidez e espasmos Espasticidade

Outros Incontinência Urinária Disfunção Erétil Constipação Dor

Figura'1.!Sinais!e!Sintomas!de!Esclerose!Múltipla

Traduzido e adaptado de Compston & Coles, 2008

Page 21: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

21

características semelhantes28. Disseminação espacial (DIS) se refere a confirmação

da presença de lesões em diferentes topografias no Sistema Nervoso Central,

enquanto disseminação temporal (DIT) é caracterizada com a comprovação de

períodos cronológicos distintos de atividade da doença. Através da história foram

utilizados diversos critérios para o diagnóstico de Esclerose Múltipla, sendo os mais

antigos baseados apenas na observação clínica, e desta forma o diagnóstico se dava

através da identificação de dois ou mais episódios de déficits neurológicos distintos,

separados por um período de tempo, e não explicados por outra condição clínica. Com

a evolução dos métodos paraclínicos, como os potenciais evocados, exames de

imagem e análise do líquido cefalorraquidiano, os critérios diagnósticos passaram por

modificações. Atualmente considera-se como padrão ouro os critérios de McDonald,

publicados inicialmente em 2001 e revisados em 2005 e 2010. Estes critérios definiram

parâmetros para o uso da Ressonância Nuclear Magnética (RNM) como forma de

determinação de DIS e DIT27–30. Na última revisão, em 2010, foram propostos critérios

mais simples, possibilitando comprovação de DIS e DIT em um único exame, levando

a um aumento da sensibilidade27,28.

O diagnóstico da Forma Remitente-Recorrente, de acordo com a

revisão mais recente dos critérios pode ser dado, então, por a.) 2 ou mais surtos com

evidência clínica de 2 ou mais lesões, incluindo relato histórico, sem necessidade de

confirmação de DIS ou DIT por imagem; b.) 2 ou mais surtos, com evidência clínica de

uma lesão e DIS confirmada em RNM (ou novo surto com topografia diferente); c.) 1

surto, evidência clínica de 2 ou mais lesões e DIT confirmada por RNM (ou aguardar

novo surto); d.) 1 surto, evidência clínica de 1 lesão, confirmação de DIS e DIT pela

RNM (ou aguardar um novo surto). O quadro descrito no último item é caracterizado

como uma Síndrome Clinicamente Isolada (CIS), e foi o mais beneficiado pela revisão

dos critérios, uma vez que é possível fazer o diagnóstico de EM com apenas um surto.

Além disso, em casos de CIS em que não é comprovada DIT, a presença de lesões

Page 22: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

22

com hipersinal em T2/FLAIR e confirmação de síntese intratecal de imunoglobulinas

pelo LCR predizem um alto risco de conversão para EM17,31.

O termo RIS (Síndrome Radiológica Isolada) foi recentemente introduzido

para descrever pacientes assintomáticos com lesões sugestivas de Esclerose Múltipla

na RNM. Esses pacientes, submetidos a RNM por queixas não relacionadas a doença

desmielinizante, podem evoluir com estabilidade das lesões, disseminação

assintomática no controle evolutivo, ou mesmo com conversão para Esclerose Múltipla

clinicamente manifesta32.

O diagnóstico da forma Primariamente Progressiva de EM, pelos critérios

revistos de 2010, é dado por comprovação prospectiva ou retrospectiva de progressão

por um ano, associado a dois dos três seguintes critérios: a.) evidência de DIS em

RNM do encéfalo; b.) evidência de DIS em RNM da coluna; c.) Presença de Bandas

Oligoclonais ou índice de IgG elevado no LCR27.

A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) foi descartada na última revisão do

Painel Internacional como critério diagnóstico para a forma remitente recorrente,

porém permanece como critério de suporte para o diagnóstico da forma primariamente

progressiva, e sua avaliação é essencial na confirmação da natureza inflamatória e

desmielinizante da doença, bem como para descartar doenças com apresentação

semelhante a Esclerose Múltipla.

1.6 Papel do Líquido Cefalorraquidiano na Esclerose Múltipla

A resposta humoral intratecal detectável no LCR de pacientes com EM é um

dos sinais mais frequentes e estáveis de doença do SNC, e classicamente é avaliada

por um aumento no índice de IgG LCR/soro, pelo Diagrama de Reiber ou pela

presença de bandas oligoclonais (BOC) de IgG, encontradas em até 98% dos

pacientes33. Análises seriadas do LCR de pacientes com EM mostram que o padrão

Page 23: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

23

das BOC é variável entre indivíduos, porém estável para um mesmo paciente, e sua

expressão não é habitualmente modificada pelo tratamento, exceto no uso de

natalizumabe34. As bandas oligoclonais, quando identificadas no LCR, revelam a

síntese intratecal de imunoglobulinas, e podem estar presentes em uma série de

doenças, habitualmente de natureza infecciosa, como a Mielopatia por HTLV,

Neuroborreliose ou Neurolues35,36. O exame de LCR sugestivo de EM é caracterizado

por pleocitose linfomonocitária discreta, abaixo de 50 células por milímetro cúbico e

presença de bandas oligoclonais de IgG não isoladas no sangue ou índice de IgG

aumentado, denotando síntese intratecal de imunoglobulinas29. Considera-se

pleocitose uma contagem superior a 4 células nucleadas/µl37. Recentemente vem-se

tentando relacionar possíveis marcadores identificados no LCR com o prognóstico da

doença31. A análise liquórica foi suprimida na última revisão dos critérios diagnósticos

para EMRR27.

A inespecificidade da identificação das Bandas Oligoclonais no diagnóstico da

Esclerose Múltipla cria a necessidade de se buscar outros marcadores diagnósticos. A

partir da década de 1990 diversos estudos com pacientes portadores de Esclerose

Múltipla demonstraram a presença de uma resposta humoral poliespecífica intratecal

contra diversos antígenos virais, sendo os Vírus do Sarampo, da Rubéola e Varicela

Zoster os mais proeminentes38,39. Baseado nessa observação foi proposto que a

Reação MRZ (MRZR) positiva, caracterizada pela presença de síntese intratecal de

anticorpos contra pelo menos 2 destes 3 antígenos, seria um marcador mais

específico para o diagnóstico da doença do que as bandas oligoclonais, uma vez que

demonstraria a presença de uma doença crônica já no momento dos primeiros

sintomas33. A base teórica para esta observação é que Imunoglobulinas da mesma

classe tem o mesmo tamanho molecular, e portanto a mesma permeabilidade da

barreira hematoencefálica38. Desta forma, a proporção entre o quociente LCR/soro de

IgG total e de IgG específico, em condições normais, deveria ser igual a 1,0. Um valor

Page 24: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

24

maior indica a produção intratecal deste anticorpo. O cálculo do índice de anticorpo

específico (AI, do inglês Antibody Index) tem como objetivo discriminar anticorpos

patológicos, produzidos intratecalmente, daqueles originários da circulação, levando

em consideração a integridade da barreira individualmente. Nos casos em que há

produção de grandes quantidades de imunoglobulina intratecalmente pode ocorrer um

falso valor baixo de AI. Como sabemos que o quociente de albumina LCR/soro é um

indicador individualizado da função da barreira tanto no indivíduo normal quanto

naquele portador de alguma doença neurológica (com raras exceções em pacientes

muito jovens), propõe-se a correção AI = Qspec/QLim, em que QLim representa a fração

de IgG originária exclusivamente do sangue, calculada a partir do quociente de

albumina individual do paciente. O valor de referência para o AI é 0,7 a 1,3, e valores

iguais ou superiores a 1,5 indicam síntese intratecal deste anticorpo no SNC37,38,40.

A síntese intratecal destes anticorpos não representa uma resposta específica

à presença do vírus no sistema nervoso central, como já foi demonstrado pela

ausência de replicação viral por métodos de PCR41, mas sim a perpetuação de uma

resposta inflamatória restrita ao SNC na ausência deste estímulo. Estudos posteriores

demonstraram a ausência deste marcador em outras doenças neurológicas

autoimunes, como a Neuromielite Óptica42 e as Encefalites Paraneoplásicas43 ,

reforçando sua especificidade para o diagnóstico da Esclerose Múltipla. Há o relato de

dois pacientes com manifestações neurológicas relacionadas a colagenose44, ambos

os casos clinicamente superponíveis a Neuromielite Optica, porém com presença de

anticorpos antinucleares.

A reação MRZ foi observada, inicialmente, apenas em pacientes com a

presença de BOC33, o que justifica ter-se argumentado, que apresentaria sensibilidade

inferior à detecção de bandas. No entanto, foi recentemente publicada uma casuística

alemã com mais de 20% de positividade do MRZR em pacientes com Esclerose

Múltipla sem BOC detectáveis no LCR, o que sugere que a sensibilidade do método

Page 25: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

25

pode ter sido subestimada45. Essa hipótese é corroborada por outro trabalho realizado

com amostras de LCR em que não foram detectadas bandas oligoclonais de IgG,

porém foi identificada a síntese intratecal de anticorpos contra pelo menos um

antígeno viral ou bacteriano entre seis pacientes testados46.

A frequência de anticorpos específicos contra esses vírus (e/ou outros) é

dependente da sua prevalência natural, bem como da cobertura vacinal da população

estudada42,43,45. A maior parte desses estudos foi realizada em populações

predominantemente caucasianas, de países do hemisfério norte, com prevalência

mais elevada de Esclerose Múltipla e políticas de vacinação distintas da praticada em

nosso meio. Ademais, a positividade para BOC em nossa população se mostrou

variável entre diferentes grupos, porém aparenta ser menor do que a observada na

literatura internacional47–49 e o MRZR mostra grande potencial como método

diagnóstico complementar, principalmente no início da doença, quando a sensibilidade

das BOC é ainda menor.

2. OBJETIVOS

O objetivo principal é analisar sensibilidade e especificidade diagnósticas da

síntese intratecal de imunoglobulinas G contra os vírus do Sarampo, da Rubéola,

Herpes tipos 1 e 2 e o Vírus Varicela Zoster em um grupo de pacientes brasileiros

portadores de Esclerose Múltipla. Os objetivos secundários são comparar a acurácia

do MRZR com as BOC de IgG, comparar o MRZR em pacientes com Esclerose

Múltipla, outras doenças inflamatórias do SNC e pacientes sem doença inflamatória e

avaliar a síntese intratecal de anticorpos contra o capsídeo viral do vírus de Epstein-

Barr (VCA-IgG) nos pacientes com EM e nos controles inflamatórios e não-

inflamatórios.

Page 26: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

26

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3 a. Pacientes

Os pacientes foram selecionados no Ambulatório de Esclerose Múltipla do

Hospital de Clínicas da Universidade de Campinas entre os anos de 2005 e 2015. Este

ambulatório recebe pacientes de maior complexidade, encaminhados de outros

serviços de saúde para investigação de doenças desmielinizantes. Dentre os

pacientes identificados como preenchendo os critérios de inclusão da pesquisa, foi

possível realizar a análise da resposta poliespecífica intratecal em 63 casos. Foram

excluídos pacientes com diagnóstico inconclusivo e aqueles com volume insuficiente

de amostras de LCR ou soro para realização dos testes. O diagnóstico de Esclerose

Múltipla foi feito de acordo com os Critérios Revisados de McDonald27 e os

diagnósticos de outras doenças foram obtidos através de revisão de prontuário. Uso

de imunomoduladores e imunossupressores não foi considerado como critério de

exclusão.

Trinta e três pacientes receberam diagnóstico de Esclerose Múltipla e quatro

pacientes tiveram o diagnóstico de uma forma pré-clínica de Esclerose Múltipla, sendo

uma RIS e três CIS. Seis casos tiveram diagnóstico de doenças neurológicas

inflamatórias ou infecciosas (DNII), sendo uma Mielopatia por HTLV, uma

Ganglionopatia, uma Encefalite Paraneoplásica, uma Síndrome de Susac, uma

Neuromielite Óptica e um Neuro-Behçet. Oito pacientes tiveram diagnóstico final de

outras doenças neurológicas (ODN) consideradas não-inflamatórias, sendo duas

mielopatias compressivas, um tumor medular, um transtorno conversivo, uma

Neuropatia Óptica Isquêmica e três cefaleias primárias. Foram recrutados

adicionalmente 12 pacientes submetidos a punção lombar para investigação de

cefaleia e que receberam o diagnostico de cefaleias primárias para compor este grupo

de controle de pacientes sem doença inflamatória neurológica. Dentre os pacientes

Page 27: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

27

incluídos não foi realizado a pesquisa de BOC-IgG em um caso, pesquisa de

Anticorpos contra EBV (quatro casos) e pesquisa de Anticorpos contra Herpes simplex

(sete casos) por motivo de volume de material insuficiente.

3 b. Métodos

b.1 Material Biológico

Foram coletadas amostras pareadas de sangue e LCR de cada paciente,

respectivamente, através de punção venosa periférica e punção lombar. As amostras

coletadas foram triadas para as análises citológicas, bioquímicas, microbiológicas e

sorológicas de rotina no Laboratório de Patologia Clínica do HC da Unicamp. Uma

alíquota do sangue e outra de LCR foram encaminhadas ao Laboratório de

Neuroimunologia (Instituto de Biologia) e armazenadas em freezer na temperatura

controlada de – 80ºC para análises posteriores.

b.2 Análise Laboratoriais

A análise quimiocitológica rotineira, envolvendo contagem global e diferencial

de células, quantificação de glicose, proteína total e lactato, foi realizada em todos os

pacientes pelo Laboratório de Patologia Clínica do HC-UNICAMP. Em casos

selecionados, conforme indicação da equipe de assistência, também foram realizados

outros testes como sorologias, quantificação de IgG, índice de IgG e pesquisa de

Bandas Oligoclonais.

Para a análise da síntese intratecal de anticorpos foi realizada a quantificação

da albumina e imunoglobulinas IgG no soro e LCR através de nefelometria, pesquisa

de BOC IgG através de focalização isoelétrica/imunofixação e a quantificação de

imunoglobulinas específicas contra antígenos dos vírus Sarampo, Rubéola, Varicela

Page 28: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

28

Zoster, Herpes simples e Epstein-Barr pelo método ELISA. Para a quantificação dos

anticorpos específicos foi utilizado um sistema automatizado Immunomat Serion,

integrando lavadora e leitora ELISA, sistema de automação da pipetagem,

transportador de placas e sistema de incubação. A partir dos valores de albumina, IgG

total e IgG específica no soro e no LCR serão avaliados, conforme descrito em

literatura, os seguintes parâmetros: a função da barreira hematoencefálica (Quociente

Albumina, Qalb), a síntese intratecal de IgG total (Índice de IgG, QIgG) e a síntese

intratecal de IgG específica contra os vírus do Sarampo, Rubéola, Varicela Zoster e

Herpes Simples. A fórmula matemática foi descrita inicialmente por Reiber e Lange38.

AI = Qspec/QIgG, ou AI = Qspec/QLim nos casos em que QIgG > QLim.

b.3 ELISA

Para a quantificação de IgG contra os antígenos virais foram utilizados kits

comerciais SERION ELISA classic Herpes Simples 1+2 IgG, Varicela Zoster, Sarampo,

Rubéola e VCA (Antígeno do Capsídeo Viral do Vírus de Epstein-Barr). Os testes

foram utilizados conforme recomendação do fabricante, com diluição 1:2 para as

amostras de LCR e 1:400 para soro. Os testes foram realizados utilizando-se o

automatizador como já descrito.

O ELISA (Enzime linked Immunosorbent Assay) é um teste consagrado para a

detecção quantitativa e qualitativa de substâncias em amostras líquidas e utiliza

anticorpos ligados a enzimas para a detecção do analito e geração de um sinal

mensurável.

3.c Aspectos Éticos

Page 29: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

29

Todos os procedimentos invasivos necessários (punção venosa periférica e

punção lombar) e eventuais exames complementares necessários foram indicados

pela equipe médica assistente. Os pacientes foram abordados pela equipe de

pesquisa e receberam inicialmente orientação verbal sobre os propósitos do trabalho e

foram convidados a participar. Os pacientes que concordaram foram apresentados ao

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo instruídos a lê-lo

atentamente e a manifestar suas dúvidas. Uma vez esclarecidas as dúvidas, o TCLE

era assinado em duas vias, ficando uma delas em posse do paciente.

3.d Análise Estatística

Para descrever o perfil da amostra segundo as variáveis em estudo foram

feitas tabelas de frequência das variáveis categóricas com valores de frequência

absoluta (n) e percentual (%), e estatísticas descritivas das variáveis numéricas, com

valores de média, desvio padrão, valores mínimo e máximo e mediana. Para

comparação das variáveis numéricas entre os grupos foi utilizado o teste de Kruskal-

Wallis, seguido do teste post-hoc de Dunn para identificação das diferenças. Para as

variáveis categóricas foi utilizado o teste exato de Fisher. O nível de significância

adotado para o estudo foi de 5%. Para análise estatística foram utilizados os seguintes

programas computacionais:

• The SAS System for Windows (Statistical Analysis System), versão 9.4. SAS

Institute Inc, 2002-2008, Cary, NC, USA.

• SPSS Statistics, versão 21.0. IBM Inc, Chicago, Illinois, USA.

4. RESULTADOS

Os principais dados demográficos desta população de estudo compõe a Tabela

1, que demonstra não haver diferença entre as idades dos grupos. Houve predomínio

Page 30: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

30

Tabela 1. Dados demográficos da população estudada

Esclerose Múltipla (n=33)

Formas Pré-Clínicas

(n=4)

DNII ODN

(n=6) (n=20)

Idade (anos)a,b 32,0

(18-59)

35,0

(25-37)

49,5

(34-64)

35,0

(18-57)

Gênero (F:M) 3,1 : 1 01:01 02:01 04:01

Follow-Up (anos)a

2,3

(0-22,1)

3,0±6,2

(0-13,5)

4,8

(3-21)

1,5

(n=8)

a.Mediana (minimo-maximo). b. p=0.063

feminino na população avaliada (2,9:1) e o tempo mediano de seguimento foi 3,5 anos

(0 - 22,1 anos). Pacientes foram acompanhados por 0-10 anos após a punção lombar

(mediana 0,93).

4.a Pacientes com Esclerose Múltipla

Dentre os 33 pacientes com Esclerose Múltipla, 25 eram do gênero feminino

(76%). Quatro apresentavam a forma Primariamente Progressiva da doença (12%) e

outros 4 tiveram o diagnóstico da forma Secundária Progressiva no momento da

análise (12%). Vinte e cinco pacientes mantinham-se na forma Surto-Remissão (76%).

O EDSS na primeira avaliação variou entre 0 e 7,0 (mediana: 2,5) e na última entre 0-

8,5 (mediana: 3,7).

Pacientes com forma Remitente Recorrente tiveram a punção realizada após

uma mediana de 2 anos do primeiro surto (mínimo:0, máximo: 28) e tiveram entre 1 e

7 surtos (mediana: 3,5).

Page 31: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

31

4.b Pacientes com Formas Pré-Diagnósticas de Esclerose Múltipla

Uma paciente foi referida ao Serviço para avaliação de lesões desmielinizantes

assintomáticas, recebendo o diagnóstico de RIS. Após 5,5 anos de seguimento a

paciente se manteve sem evidência clínica de doença. Sua imagem de RNM

apresenta lesões com distribuição topográfica compatível com Esclerose Múltipla. Não

foram detectadas bandas oligoclonais de IgG em seu LCR. Análise dos índices de

anticorpo revelou uma resposta biespecífica (H+Z+, AI= 2,1 e 3,7 respectivamente).

Três pacientes, sendo dois do sexo masculino, receberam o diagnóstico de

CIS. Com tempos de follow-up variando de zero a 13,5 anos os pacientes ainda não

preenchiam critérios de disseminação temporal para confirmação diagnóstica de

Esclerose Múltipla. Dois destes pacientes possuíam presença de BOC-IgG no LCR,

um deles um índice elevado de anticorpos contra Sarampo, outro contra Sarampo,

Rubéola e Herpes Simples. O terceiro paciente não apresentava BOC-IgG no LCR e

manifestou resposta intratecal apenas contra EBV.

Estes pacientes foram excluídos da análise estatística uma vez que não

preencheram critérios para Esclerose Múltipla e tampouco para os grupos controles, e

foram relatados apenas de forma a ilustrar que a resposta poliespecífica intratecal

aparece precocemente.

4.c Pacientes dos grupos controle DNII e ODN

Dentre os pacientes do grupo DNII foi observado uma mediana de idade de

49,5 anos (mínima 34, máxima 64 anos), sem significância estatística quando

comparado ao grupo EM. Estes pacientes foram acompanhados por um mínimo de 2,7

e um máximo de 20,6 anos (mediana 5,7 anos).

Page 32: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

32

Os pacientes do grupo ODN tinham entre 18 e 57 anos (mediana 35 anos) no

momento da coleta e foram acompanhados por uma mediana de 1,5 anos (mínima 0,1

e máxima 20,1 anos; n=8). Doze pacientes incluídos consecutivamente durante

investigação de cefaleias não foram seguidos e seus dados clínicos foram obtidos

apenas através de revisão de prontuário.

4.d Análise do Líquido Cefalorraquidiano e da Resposta Imune

Poliespecífica Intratecal

A análise quimiocitológica do LCR dos pacientes está demonstrada na Tabela

2. A avaliação da imunoprodução intratecal através da presença de BOC e Índice

Linear de IgG resultaram positivas, respectivamente, em 72% e 65% dos pacientes

com Esclerose Múltipla. Utilizando-se ambas as ferramentas, cinco pacientes (15,2%)

com EM não apresentaram evidência de síntese de IgG intratecal. BOC-IgG foram

detectadas adicionalmente em 2 pacientes com diagnóstico de CIS e em um paciente

do grupo DNII com diagnóstico de Síndrome de Susac. BOC-IgG não foram

identificadas em nenhum pacientes do subgrupo ODN. A análise do Índice Linear de

IgG de Link resultou positiva em um paciente do subgrupo DNII com diagnóstico de

Tabela 2. Análise Quimiocitológica do LCR a

Esclerose Múltipla (n=33)

Leucócitos (n/mm3) a, b

4,0 (1-17)

Proteínas (mg/dL)a,c

36,0 (21-70)

IgG (mg/dL)a,d

4,0 (2,3-11,0)

Formas Pré-Clínicas (n=4)

3,0 (3-4)

29,5 (28-84)

2,7 (2,3-3,9)

Doenças inflamatórias (n=5)

7,0 (3-56)

39,0 (18-95)

2,3 (0,8-3,6)

Doenças Não-Inflamatórias (n=20)

2,0 (1-4)

25,5 (11-47)

2,4 (1,0-4,6)

a. Mediana (mínimo – máximo) b. p<0.0001, DNIIxEM, DNIIxODN c. p=0.0063, EMxODN d. p<0.0001, EMxODN, EMxDNII

Page 33: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

33

Neuro-Behçet e em uma paciente do subgrupo ODN com diagnóstico de Síndrome

Conversiva.

Quando adicionamos às BOC-IgG a pesquisa da resposta imune intratecal

poliespecífica, apenas 1 paciente com diagnóstico de EM (3,0%) não apresentou

evidência de um processo inflamatório crônico do SNC. Na Tabela 3 encontram-se

ilustrados os dados pertinentes à presença de imunoprodução intratecal para todos os

grupos de pacientes. A detecção de um AI ≥ 1,5 dentre os antígenos virais M, R, Z e H

(resposta monoespecífica) teve sensibilidade de 67% para detectar Esclerose Múltipla,

semelhante àquela observada para a pesquisa de BOC-IgG, e especificidade de 81%.

Utilizando a marca de 2 ou mais índices positivos (resposta bi, tri e quadriespecífica) a

sensibilidade foi 52% e especificidade 92%.

A prevalência individual dos vírus está demonstrada na Tabela 4. Onze

pacientes (33%) não apresentaram resposta intratecal contra qualquer um dos vírus.

Cinco (15%) apresentaram resposta monoespecífica (M+=2, R+=1, V+=2); Dez

pacientes (30%) apresentaram resposta biespecífica (MR+=5, MZ+=1, MH+=2,

RZ+=2); Quatro apresentaram resposta triespecífica (12%) (MRZ+=3, MRH+=1) e 3

pacientes (10%) apresentaram resposta quadriespecífica. É importante ressaltar que

Tabela 3. Análise da Síntese Intratecal de Anticorpos Índice de IgG BOC-IgG

>0,7 Presente a a

Esclerose Múltipla 64,5% (n=33) (n=31)

MRZH ≥ 1

anticorpo b MRZH EBV ≥ 2

anticorpos c

71,9% 66,7% 51,5% (n=32)

58,1% (n=31)

Formas Pré- Zero Clínicas (n=4)

50% 75,0% 50,0% 75,0%

Doenças 16,7% inflamatórias (n=6)

16,7% 50,0% 16,7% 50,0%

Doenças Não- 5,0% Inflamatórias (n=20)

Zero 20,0% 5,0% 75,0%

a. p<0,0001 b. p=0.0006 c. p=0,0008

Page 34: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

34

anticorpos contra Herpes simplex foram testados em um subgrupo de 29 pacientes

com EM.

As medianas dos AI individuais foram comparadas entre os grupos EM, DNII e

OND. Apenas o AI do Sarampo obteve significância estatística (p=0,018) diferenciando

EM, com mediana 1,6 (0 – 122,8) e OND com mediana 0,8 (0,1- 6,7).

A utilização de um critério de rastreio combinando a pesquisa de BOC-IgG

e/ou a reação MRZH biespecífica atingiu uma sensibilidade de 88% com

especificidade 92% e acurácia 90%(Tabela 5).

Tabela 4. Sensibilidade, Especificidade, Acurácia para a detecção da presença de síntese intratecal de IgG e síntese de anticorpos contra antígenos específicos virais

Esclerose Múltipla Controles

Sarampo 51,5% (17/33)

11,5% (3/26)

Sensibilidade: 51,5% Especificidade: 88,5%

Acurácia: 67,8%

Rubéola 45,5% (15/33)

11,5% (3/26)

Sensibilidade: 45,5% Especificidade: 88,5%

Acurácia: 64,4%

Varicella Zoster

33,3% (11/33)

7,7% (2/26)

Sensibilidade: 33,3% Especificidade: 92,3%

Acurácia: 59,3%

Herpes simplex

20,7% (6/29)

20,8% (5/24)

Sensibilidade: 20,7% Especificidade: 79,2%

Acurácia: 42,4%

Epstein Barr 60% (18/30)

69,2% (18/26)

Sensibilidade: 60,0% Especificidade: 30,8%

Acurácia: 44,1%

Page 35: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

35

Tabela 5. Sensibilidade, Especificidade, Acurácia para a detecção da presença de síntese intratecal de IgG e síntese de anticorpos contra antígenos específicos virais

Presença ≥ 1 anticorpo MRZH

Esclerose ODN + Múltipla DNII

27% 67%

(22/33) (7/26)

Sensitivity: 67% Specificity: 73% Accuracy: 69%

Presença ≥ 2 anticorpo MRZH

55% 8% (18/33)

(2/26)

Sensitivity: 55% Specificity: 92% Accuracy: 71%

BOC-IgG 72% 4% (23/32) (1/26)

Sensitivity: 72% Specificity: 96% Accuracy: 83%

BOC-IgG ou ≥ 2 anticorpos MRZH

88% 8% (29/33) (2/26)

Sensitivity: 88% Specificity: 92% Accuracy: 90%

4.e Pesquisa de Síntese Intratecal de Anticorpos contra o Antígeno do

Capsídeo Viral do Vírus Epstein-Barr (VCA-IgG)

Em sessenta pacientes foi realizada a pesquisa de anticorpos contra o

Antígeno do Capsídeo Viral do Vírus Epstein-Barr (Anti-VCA-IgG). Dentre 30 pacientes

com Esclerose Múltipla, 18 (60%) apresentaram síntese intratecal contra este

antígeno. No grupo controle não-inflamatório 15 pacientes apresentaram AI ≥ 1,5 para

VCA-IgG no LCR (75%). O mesmo valor de 75% foi obtido para o grupo de 4

pacientes com formas pré-diagnósticas e 50% para o grupo de 6 pacientes com outras

doenças neurológicas.

O AI variou entre 0,3 e 5626,7. A mediana foi 2,3 para toda a casuística, 1,7

para o subgrupo de pacientes com EM, 2,6 para os subgrupos de formas pré-clínicas e

doenças inflamatórias e 5,4 para o grupo de doenças não inflamatórias. As diferenças

entre os grupos não atingiram significância estatística (p=0,063).

Page 36: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

36

5. DISCUSSÃO

A distribuição de gêneros para nosso grupo de Esclerose Múltipla (3,1:1) é

compatível com o observado na literatura internacional6. Os pacientes apresentaram

evolução clínica típica no acompanhamento.

Uma resposta poliespecífica intratecal foi identificada em 89% dos pacientes

com BOC-IgG ausente e em uma paciente não testada para BOC-IgG. Resposta

MRZH biespecífica (n=2), triespecífica (n=2) ou quadriespecífica (n=2) esteve presente

em 60% dos pacientes com BOC-IgG ausente. A possibilidade de detecção de uma

resposta poliviral intratecal já havia sido demonstrada em pacientes com BOC-IgG

ausente39,46, e sua ocorrência foi confirmada em aproximadamente 50% dos pacientes

portadores de EM em que não se detectou a presença de BOC-IgG45, mostrando sua

utilidade como marcador substituto neste subgrupo de pacientes. Demonstramos que

o uso de uma ferramenta combinada, com a detecção de BOC-IgG e/ou 2 ou mais

anticorpos produzidos intratecalmente foi capaz de aumentar a sensibilidade e a

acurácia quando comparado com apenas a BOC-IgG.

A reação MRZH surge precocemente na EM, como demonstrado por sua

presença na CIS55,56 e seu papel conferindo risco de conversão a Esclerose Múltipla

Clinicamente Definida. Estes achados foram replicados em nosso subgrupo de formas

pré-clínicas, em que 3 pacientes (75%) apresentaram resposta contra ao menos um

dos antígenos virais, sendo uma resposta monoespecífica (M), uma biespecífica (ZH)

e uma triespecífica (MRH).

Em nossa população as frequências relativas da reposta antiviral foram

comparáveis ao observado por outros autores, sendo Sarampo o mais comum,

seguido por Rubéola e Varicela Zoster33,42,53,57, como demonstrado na Tabela 6. A

frequência das resposta individuais foi abaixo daquela observada em outros estudos,

especialmente os que incluem populações europeias33,39,42.

Page 37: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

37

Tabela 6. Análise Comparativa da Síntese Intratecal contra antígenos virais em pacientes com Esclerose Múltipla na literatura internacional

MV RV ZV HV ≥ 1 AC ≥ 2 AC BOC

Jarius, S et cols, 20081 90% 76% N=42

76% X 90% 88% 93%

Bednarova, J et cols, 20052 68% 40% N=50

36% X 86% 46% 84%

3 Kulakowska, A et cols, 55% 63% 2012 N=27

50% 27% 81% 56% X

4 Robinson-Agramonte, M et 78% 30% cols, 2007 N=23

59% X 100% 48% 96%

Reiber, H et cols, 19985 78% 60% N=177

55% 28% 90% 67% 100% (n=94)

Este estudo 52% 46% N=33

33% 21% 67% 55% 72%

Este achado pode ser justificado pelas diferentes políticas vacinais empregadas. Após

seu desenvolvimento em 1968 a vacina contra o Sarampo foi largamente empregada

desde a década de 1970 na Alemanha58, enquanto no Brasil a oferta foi errática, e

políticas de vacinação com ampla cobertura nacional foram implementadas apenas a

partir da década de 1990, resultando na erradicação do Sarampo nos anos 2000. A

vacinação rotineira contra rubéola foi introduzida na Alemanha Ocidental em 1980 e na

Alemanha Oriental em 1986, sendo oferecida a partir da reunificação em 1991 em

conjunto com a vacina contra o Sarampo59. Na Suécia a vacinação maciça contra o

Sarampo foi introduzida em 1971, contra Rubéola em 1974 e a vacina tríplice viral

ofertada em duas doses na infância de forma pioneira a partir de 1982 No estado de

São Paulo a vacina SCR/MMR, ou tríplice viral, foi ofertada a partir de 1992, porém

apenas para crianças e nos anos 2001 e 2003 ocorreram campanhas de vacinação

em massa de mulheres como prevenção a Síndrome da Rubéola Congênita. Após

surto no ano de 2006 em que 70% dos acometidos foram adultos do sexo masculino,

nova campanha de vacinação maciça em 2008 levou a erradicação da doença no

território nacional em 2009. O Anticorpo contra Rubéola foi detectado em 15 pacientes

Page 38: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

38

com EM em nosso grupo, apenas um deles do sexo masculino (7%), dado que não é

reproduzido para os demais antígenos testados (M: 24%, Z: 27%, H: 33%), que

tendem a acompanhar a distribuição entre gêneros da população estudada. Um dado

semelhantes é observado no estudo de Robinson-Agramonte e colaboradores57,

creditando a desproporção também à política vacinal cubana, que ofertava cobertura

apenas a mulheres.

Uma menor sensibilidade das BOC-IgG para a detecção de EM é relatada em

populações não caucasianas60–62 quando comparadas aos estudos em europeus

caucasianos33,39,54,63,64 . Algumas possíveis explicações são vieses diagnósticos, com a

crença por alguns pesquisadores de que haveria uma tendência ao sobrediagnóstico

em países com menor incidência de Esclerose Múltipla48, ou então vieses técnicos,

como o uso de técnicas não padronizadas para a pesquisa das BOC-IgG. Neste

trabalho, bem como nos outros trabalhos de nosso grupo, utilizamos a metodologia

considerada padrão-ouro para a detecção de BOC-IgG, focalização isoelétrica seguida

por immunoblotting50 e como já discutido previamente, os diagnósticos desta série

foram feitos em acordo com critérios clínicos sensíveis, específicos e atualizados27,

com suporte neurorradiológico. A presença de BOC-IgG em 72% dos pacientes

avaliados, aliada a dados de outros pesquisadores brasileiros47–49 descrevendo valores

entre 55 e 91% sugere que a BOC-IgG em nossa população tem uma frequência

intermediária entre o observado em populações europeias e asiáticas33,39,42,60,61. Com a

análise de MRZR neste grupo de pacientes pudemos comprovar a presença de

síntese intratecal de anticorpos em 97% dos pacientes com Esclerose Múltipla,

afastando a possibilidade de superdiagnóstico ou de mecanismos de doença distintos

entre nossa população e a população europeia. A menor prevalência individual dos

anticorpos específicos testados quando comparada com estudos europeus reforça o

conceito de que os anticorpos polivirais detectados no LCR não sugerem uma etiologia

infecciosa para a EM. Possivelmente, em um indivíduo com a adequada

Page 39: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

39

suscetibilidade genética, múltiplos estímulos antigênicos podem ter o potencial de

desencadear o processo inflamatório crônico cujo fenótipo clínico-radiológico

denominamos Esclerose Múltipla e cujo reflexo imunológico mensurável é a

persistência de imunoprodução intratecal na ausência de um estímulo antigênico.

Resta por fim a possibilidade mais provável de haver um ou mais fatores

intrínsecos a essas populações, como particularidades imunogenéticas ou diferenças

na exposição ambiental a antígenos (naturais ou vacinais), que justifiquem as

variações pronunciadas na prevalência deste marcador.

A presença de síntese de anticorpos anti-EBV no LCR é infrequente em

pacientes com Esclerose Múltipla, e o Antígeno Núclear-1 do EBV (EBNA-1-IgG) foi

detectado mais frequentemente neste grupo de pacientes quando comparado com

VCA-IgG63,65,66. Em um estudo italiano, síntese intratecal contra estes antígenos foi

observada respectivamente em apenas 6 e 2% dos pacientes, contrastando com 60%

em nossa casuística. A frequência maior de VCA-IgG em pacientes com outras

doenças neurológicas, 69% em nosso subgrupo não-EM, também é descrita63. Um

estudo por Otto e colaboradores67 avaliou 24 pacientes com EBV-AI ≥ 1,5 quanto a

fração intratecal de anticorpos anti-EBV e presença de resposta poliviral concomitante,

concluindo que o EBV é parte do painel antigênico que compõe a resposta

poliespecífica intratecal, não encontrando evidência para um papel significativo da

infecção pelo EBV como um agente causal na Esclerose Múltipla.

Os dados obtidos neste trabalho sugerem que é possível que, em nossa

população, outros antígenos não pesquisados neste momento componham a resposta

poliespecífica intratecal. Uma ampla pesquisa de anticorpos séricos contra antígenos

possivelmente neurotrópicos e comuns em nosso meio poderia sugerir novos alvos

para a pesquisa. A elevada prevalência dos flavivirus em nosso meio, seu notório

neurotropismo e frequentes quadros parainfecciosos associados fazem destes

agentes um potencial grupo de interesse.

Page 40: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

40

A pesquisa do EBNA-1-IgG em pacientes portadores de Esclerose Múltipla e

de outras doenças neurológicas poderá elucidar adicionalmente a inesperada elevada

frequência de VCA-IgG em nossa população

6. CONCLUSÕES

A Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal foi observada neste grupo de

pacientes brasileiros, com sensibilidade de 67% e especificidade de 81% para a

detecção de Esclerose Múltipla. A avaliação deste método associado a pesquisa das

BOC-IgG aumentou a sensibilidade para detecção de síntese intratecal de

imunoglobulinas em nossa população quando comparado ao uso isolado das bandas

oligoclonais de IgG restritas ao LCR. O uso de um corte de 2 ou mais anticorpos com

AI ≥ 1,5 aumentou de forma importante a especificidade do teste combinado para

92%, com pouco prejuízo à sensibilidade (88%). A acurácia do critério combinado foi

90%, contra 69% do MRZH e 83% das BOC-IgG quando usados isoladamente.

Demonstramos em nossa casuística uma prevalência elevada de anticorpos

contra o antígeno do capsídeo viral do Vírus Epstein-Barr (VCA-IgG) tanto em

pacientes portadores de Esclerose Múltipla quanto nos grupos definidos como

controle. A pesquisa de síntese intratecal de VCA-IgG adicionou sensibilidade à

detecção da resposta imune intratecal, porém com baixa especificidade.

Este estudo corrobora dados prévios demonstrando que a presença da

resposta MRZ não é exclusiva de pacientes com BOC-IgG positiva.39,45,46

Page 41: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

41

REFERÊNCIAS 1. Poser CM. Viking voyages: the origin of multiple sclerosis? An essay in medical history. Acta

Neurol Scand Suppl 1995; 161: 11–22. 2. Poser CM. The dissemination of multiple sclerosis: a Viking saga? A historical essay. Ann Neurol

1994; 36 Suppl 2: S231–43. 3. Moreira MA, Tilbery CP, Lana-Peixoto MA, et al. Historical aspects of multiple sclerosis. Rev

Neurol 2002; 34: 379–83. 4. Barbellion WNP. The Journal of a Disappointed Man. London: Chatto & Windus, 1919. 5. Eckstein C, Saidha S, Levy M. A differential diagnosis of central nervous system demyelination:

beyond multiple sclerosis. J Neurol 2012; 259: 801–16. 6. Alonso A, Hernan MA. Temporal trends in the incidence of multiple sclerosis: A systematic review.

Neurology 2008; 71: 129–135. 7. Sadovnick A, Dessa, Yee IM, et al. Age of Onset in Concordant Twins and Other Relative Pairs

With Multiple Sclerosis. Am J Epidemiol 2009; 170: 289–296. 8. Cossburn M, Ingram G, Hirst C, et al. Age at onset as a determinant of presenting phenotype and

initial relapse recovery in multiple sclerosis. Mult Scler 2012; 18: 45–54. 9. Polliack ML, Barak Y, Achiron A. Late-onset multiple sclerosis. J Am Geriatr Soc 2001; 49: 168–

71. 10. Sá MJ. Physiopathology of symptoms and signs in multiple sclerosis. Arq Neuropsiquiatr 2012; 70:

733–40. 11. Kurtzke JF. A reassessment of the distribution of multiple sclerosis. Part one. Acta Neurol Scand

1975; 51: 110–36. 12. Poser CM, Bulman WI, Zealand N. Viking voyages    : the origin of multiple sclerosis    ? Acta Neurol

Scand 1995; 11–22. 13. Poser CM. The dissemination of multiple sclerosis: a Viking saga? A historical essay. Ann Neurol

1994; 36 Suppl 2: S231–43. 14. Callegaro D, Goldbaum M, Morais L, et al. The prevalence of multiple sclerosis in the city of São

Paulo, Brazil, 1997. Acta Neurol Scand 2001; 104: 208–13. 15. Lana-Peixoto MA, Frota ERC, Campos GB, et al. The prevalence of multiple sclerosis in Belo

Horizonte, Brazil. Arq Neuropsiquiatr 2012; 70: 102–7. 16. Ribeiro SBF, Maia DF, Ribeiro JB, et al. Clinical and epidemiological profile of patients with

multiple sclerosis in Uberaba, Minas Gerais, Brazil. Arq Neuropsiquiatr 2011; 69: 184–7. 17. Compston A, Coles A. Multiple sclerosis. Lancet 2008; 372: 1502–17. 18. Compston A. Making progress on the natural history of multiple sclerosis. Brain 2006; 129: 561–3. 19. Frohman EM, Racke MK, Raine CS. Multiple sclerosis--the plaque and its pathogenesis. N Engl J

Med 2006; 354: 942–55. 20. Ebers GC, Koopman WJ, Hader W, et al. The natural history of multiple sclerosis: a geographically

based study: 8: familial multiple sclerosis. Brain 2000; 123 Pt 3: 641–9. 21. Young C a. Factors predisposing to the development of multiple sclerosis. QJM 2011; 104: 383–

386. 22. Sadovnick AD, Yee IM, Ebers GC. Factors influencing sib risks for multiple sclerosis. Clin Genet

2000; 58: 431–5. 23. Korn T. Pathophysiology of multiple sclerosis. J Neurol 2008; 255 Suppl: 2–6. 24. Lublin FD, Reingold SC. Defining the clinical course of multiple sclerosis: results of an international

survey. National Multiple Sclerosis Society (USA) Advisory Committee on Clinical Trials of New Agents in Multiple Sclerosis. Neurology 1996; 46: 907–11.

25. Lublin FD, Reingold SC, Cohen J a., et al. Defining the clinical course of multiple sclerosis: The 2013 revisions. Neurology 2014.

26. Noseworthy JH, Lucchinetti C, Rodriguez M, et al. Multiple sclerosis. N Engl J Med 2000; 343: 938–52.

27. Polman CH, Reingold SC, Banwell B, et al. Diagnostic criteria for multiple sclerosis: 2010 revisions to the McDonald criteria. Ann Neurol 2011; 69: 292–302.

28. Milo R, Miller A. Revised diagnostic criteria of multiple sclerosis. Autoimmun Rev 2014; 13: 518–

Page 42: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

42

24. 29. McDonald WI, Compston a, Edan G, et al. Recommended diagnostic criteria for multiple sclerosis:

guidelines from the International Panel on the diagnosis of multiple sclerosis. Ann Neurol 2001; 50: 121–7.

30. Polman CH, Reingold SC, Edan G, et al. Diagnostic Criteria for Multiple Sclerosis    : 2005 Revisions to the ‘ McDonald Criteria ’. 2005; 11: 840–846.

31. Gajofatto A, Bongianni M, Zanusso G, et al. Are cerebrospinal fluid biomarkers useful in predicting the prognosis of multiple sclerosis patients? Int J Mol Sci 2011; 12: 7960–70.

32. Maia Jr. ACM, Rocha AJ da, Barros BR, et al. Incidental demyelinating inflammatory lesions in asymptomatic patients: a Brazilian cohort with radiologically isolated syndrome and a critical review of current literature. Arq Neuropsiquiatr 2012; 70: 5–11.

33. Reiber H, Ungefehr S, Jacobi C. The intrathecal, polyspecific and oligoclonal immune response in multiple sclerosis. Mult Scler 1998; 4: 111–117.

34. von Glehn F, Farias AS, Penalva de Oliveira AC, et al. Disappearance of cerebrospinal fluid oligoclonal bands after natalizumab treatment of multiple sclerosis patients. Mult Scler 2011.

35. Puccioni-Sohler M, Kitze B, Felgenhauer K, et al. The value of CSF analysis for the differential diagnosis of HTLV-I associated myelopathy and multiple sclerosis. Arq Neuropsiquiatr 1995; 53: 760–5.

36. Reiber H. Cerebrospinal fluid--physiology, analysis and interpretation of protein patterns for diagnosis of neurological diseases. Mult Scler 1998; 4: 99–107.

37. Reiber H, Peter JB. Cerebrospinal fluid analysis: disease related data patterns and evaluation progams. J Neurol Sci 2001; 184: 101–122.

38. Reiber H, Lange P. Quantification of virus-specific antibodies in cerebrospinal fluid and serum: sensitive and specific detection of antibody synthesis in brain. Clin Chem 1991; 37: 1153–60.

39. Felgenhauer K, Reiber H. The diagnostic significance of antibody specificity indices in multiple sclerosis and herpes virus induced diseases of the nervous system. Clin Investig 1992; 70: 28–37.

40. Jacobi C, Lange P, Reiber H. Quantitation of intrathecal antibodies in cerebrospinal fluid of subacute sclerosing panencephalitis, herpes simplex encephalitis and multiple sclerosis: discrimination between microorganism-driven and polyspecific immune response. J Neuroimmunol 2007; 187: 139–46.

41. Godec MS, Asher DM, Murray RS, et al. Absence of measles, mumps, and rubella viral genomic sequences from multiple sclerosis brain tissue by polymerase chain reaction. Ann Neurol 1992; 32: 401–4.

42. Jarius S, Franciotta D, Bergamaschi R, et al. Polyspecific, antiviral immune response distinguishes multiple sclerosis and neuromyelitis optica. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2008; 79: 1134–6.

43. Jarius S, Eichhorn P, Jacobi C, et al. The intrathecal, polyspecific antiviral immune response: Specific for MS or a general marker of CNS autoimmunity? J Neurol Sci 2009; 280: 98–100.

44. Sindic CJ, Monteyne P, Laterre EC. The intrathecal synthesis of virus-specific oligoclonal IgG in multiple sclerosis. J Neuroimmunol 1994; 54: 75–80.

45. Brecht I, Weissbrich B, Braun J, et al. Intrathecal, polyspecific antiviral immune response in oligoclonal band negative multiple sclerosis. PLoS One 2012; 7: e40431.

46. Jarius S, Eichhorn P, Wildemann B, et al. Usefulness of antibody index assessment in cerebrospinal fluid from patients negative for total-IgG oligoclonal bands. Fluids Barriers CNS 2012; 9: 14.

47. Puccioni-Sohler M, Passeri F, Oliveira C, et al. Multiple sclerosis in Brazil. Analysis of cerebrospinal fluid by standard methods. Arq Neuropsiquiatr 1999; 57: 927–31.

48. Gama PD Da, Machado LDR, Livramento JA, et al. Study of oligoclonal bands restricted to the cerebrospinal fluid in multiple sclerosis patients in the city of São Paulo. Arq Neuropsiquiatr 2009; 67: 1017–22.

49. Brandão CO, Ruocco HH, Farias ADS, et al. Cytokines and intrathecal IgG synthesis in multiple sclerosis patients during clinical remission. Arq Neuropsiquiatr 2005; 63: 914–9.

50. Freedman MS, Thompson EJ, Deisenhammer F, et al. Recommended standard of cerebrospinal fluid analysis in the diagnosis of multiple sclerosis: a consensus statement. Arch Neurol 2005; 62: 865–70.

51. Ruocco HH, Brandão CO, Farias AS, et al. Quantitative MRI and cerebrospinal fluid inflammatory mediators in Brazilian patients with relapsing-remitting multiple sclerosis before and after treatment

Page 43: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

43

with immunomodulators: a longitudinal study. Neuroimmunomodulation 2012; 19: 277–82. 52. Jarius S, Kleffner I, Dörr JM, et al. Clinical, paraclinical and serological findings in Susac

syndrome: an international multicenter study. J Neuroinflammation 2014; 11: 46. 53. Bednářová J, Štourač P, Krbková L. The diagnostic significance of intrathecal occurrence of

selected antiviral antibodies in multiple sclerosis. Scr Med (Brno) 2005; 78: 249–254. 54. Sola P, Mandrioli J, Simone AM, et al. Primary progressive versus relapsing-onset multiple

sclerosis: presence and prognostic value of cerebrospinal fluid oligoclonal IgM. Mult Scler 2011; 17: 303–11.

55. Frederiksen JL. Can CSF predict the course of optic neuritis?. Mult Scler 1998; 4: 132–135. 56. Brettschneider J, Tumani H, Kiechle U, et al. IgG antibodies against measles, rubella, and varicella

zoster virus predict conversion to multiple sclerosis in clinically isolated syndrome. PLoS One 2009; 4: e7638.

57. Robinson-Agramonte M, Reiber H, Cabrera-Gomez J a, et al. Intrathecal polyspecific immune response to neurotropic viruses in multiple sclerosis: a comparative report from Cuban patients. Acta Neurol Scand 2007; 115: 312–8.

58. Takla A, Wichmann O, Rieck T, et al. Measles incidence and reporting trends in Germany, 2007– 2011. Bull World Health Organ 2014; 92: 742–749.

59. European Centre for Disease Prevention and Control. Measles and rubella monitoring. Surveill Rep 2014; 1–17.

60. Li B, Dong H, Zhang J, et al. Cerebrospinal fluid IgG profiles and oligoclonal bands in Chinese patients with multiple sclerosis. Acta Neurol Scand 2007; 115: 319–24.

61. Yoshimura S, Isobe N, Matsushita T, et al. Genetic and infectious profiles influence cerebrospinal fluid igg abnormality in japanese multiple sclerosis patients. PLoS One 2014; 9: 1–7.

62. Chang KH, Lyu RK, Chen CM, et al. Clinical characteristics of multiple sclerosis in Taiwan: a cross-sectional study. Mult Scler 2006; 12: 501–506.

63. Castellazzi M, Contini C, Tamborino C, et al. Epstein-Barr virus-specific intrathecal oligoclonal IgG production in relapsing-remitting multiple sclerosis is limited to a subset of patients and is composed of low-affinity antibodies. J Neuroinflammation 2014; 11: 188.

64. Axelsson M, Mattsson N, Malmeström C, et al. The influence of disease duration, clinical course, and immunosuppressive therapy on the synthesis of intrathecal oligoclonal IgG bands in multiple sclerosis. J Neuroimmunol 2013; 264: 100–105.

65. Castellazzi M, Tamborino C, Cani A, et al. Epstein-Barr virus-specific antibody response in cerebrospinal fluid and serum of patients with multiple sclerosis. Mult Scler 2010; 16: 883–887.

66. Pohl D, Rostasy K, Jacobi C, et al. Intrathecal antibody production against Epstein-Barr and other neurotropic viruses in pediatric and adult onset multiple sclerosis. J Neurol 2010; 257: 212–216.

67. Otto C, Oltmann a., Stein a., et al. Intrathecal EBV antibodies are part of the polyspecific immune response in multiple sclerosis. Neurology 2011; 76: 1316–1321.

68. Kułakowska A, Mroczko B, Mantur M, et al. Multiplexing analysis of the polyspecific intrathecal immune response in multiple sclerosis. Methods 2012; 56: 528–31.

69. Reiber H. Cerebrospinal fluid - physiology, analysis and interpretation of protein patterns for diagnosis of neurological diseases. Mult Scler 1998; 4: 99–107.

Page 44: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

44

APÊNDICES

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme resolução 196/96. Projeto: Avaliação da Resposta Imune Poliespecífica Intratecal em Pacientes Brasileiros com Esclerose Múltipla. Parecer do CEP: 481.568 CAAE: 17272913.0.0000.5404

Pesquisador Responsável: Rafael Paternò Castello Dias Carneiro Data:________________

Justificativa e Objetivos: A Esclerose Múltipla (EM) é a mais comum entre as doenças inflamatórias desmielinizantes do sistema nervoso central. É uma doença que geralmente se inicia entre os 20 e os 40 anos de idade, e é uma das principais causas de incapacidade em pessoas jovens. A doença geralmente se manifesta como surtos, que podem deixar sequelas, e algumas vezes se apresenta como um quadro de piora contínua. Existem opções para o tratamento, que buscam diminuir o número de surtos e atrasar a evolução da doença. É importante fazermos o diagnóstico o quanto antes, e com boa margem de segurança, determinando assim o melhor tratamento. A análise da resposta imune poliespecífica intratecal (MRZ) vem sendo estudada em outros países como um marcador muito importante para o diagnóstico de Esclerose Múltipla. Não existem trabalhos realizados no Brasil com esse método, e por esse motivo iniciamos esse projeto de pesquisa, com o objetivo de estudar essa reação no sangue e no líquido cefalorraquidiano (LCR) de pacientes com EM que aceitarem participar. Os resultados podem ajudar na criação futura de novos métodos diagnósticos e tratamentos. Os pacientes serão estudados durante o acompanhamento normal que já realiza no ambulatório de EM. Procedimentos: Pacientes em investigação de Esclerose Múltipla no Ambulatório de Neurologia da UNICAMP / HC, para quem foi indicado coleta de sangue e LCR para propósito de diagnóstico e seguimento da doença terão sua autorização solicitada para o uso de material biológico nessa pesquisa. Serão necessários 10ml do líquor (obtida pela punção lombar) e 10ml do sangue para os estudos. Não é necessário estar em jejum e nem interromper medicações utilizadas. Risco e Desconforto: A coleta do líquor será realizada nas costas (região lombar). A dor que acompanha a punção lombar é semelhante aquela da coleta de sangue. O desconforto será mínimo, pois será realizada com anestesia local por profissional treinado e devidamente habilitado para a realização de punção lombar. Após submeter-se a punção lombar, o paciente deverá permanecer em repouso em casa, por 24 horas, e aumentar a ingestão de líquidos. Este repouso é importante para evitar dor de cabeça após a punção. Se houver dor, mesmo com o repouso, o paciente deverá permanecer por mais alguns dias sem atividades e procurar avaliação médica. Este tipo de dor de cabeça habitualmente não traz qualquer prejuízo ao paciente, mas necessita de repouso para desaparecer. A coleta do líquor, por utilizar agulha, apresenta os riscos inerentes ao procedimento. São descritas, raramente, intercorrências da punção, como dormências transitórias, dor local e infecção. A incidência destas complicações, no entanto, é baixa . O material é descartável e as agulhas atuais (modelo 22Gx 3.5 = 70x7) são mais finas e associadas a menor risco de complicações. Caso ocorra qualquer desconforto após o procedimento, o paciente deverá contatar a equipe de atendimento do HC - UNICAMP e a equipe de pesquisa, que orientarão as medidas a serem tomadas para aliviar os sintomas, sem nenhum custo.

Page 45: Avaliação Da Resposta Humoral Poliespecífica Intratecal Em ...repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312800/1/Dias-Carneiro_R… · Rubéola (R), Varicela Zoster (Z), Herpes

45

Benefícios: Não existe benefício imediato para o paciente. Os resultados dessa pesquisa podem auxiliar na melhor compreensão de mecanismos de doença e métodos diagnósticos para EM. Esclarecimento: Todas as dúvidas e perguntas do paciente quanto aos assuntos relacionados com a pesquisa e o tratamento serão esclarecidas pelos pesquisadores. Recusa ou descontinuação da participação: Durante o decorrer do estudo informaremos ao paciente o andamento da pesquisa, podendo este deixar de participar da pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo no atendimento que recebe pelo HC – UNICAMP. Sigilo: As informações recebidas durante e depois do estudo e a privacidade dos pacientes serão mantidas em sigilo. Os resultados serão sempre analisados em grupo, estatisticamente, não sendo possível identificar de forma individual qualquer paciente. Gastos adicionais: Se houverem gastos adicionais (seringas, agulhas descartáveis, material de curativo...) estes serão absorvidos pelo orçamento da pesquisa.