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1 Anais do III Seminário Regional Comércio, Consumo e Cultura nas Cidades. ISSN: 2318-048X. http://srccc.com.br . AVALIAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO: O CASO DE CRATEÚS – CE Antônio Adílio Costa da Silva 1 Luiz Antonio Araújo Gonçalves 2 RESUMO Aborda a avaliação da Política Pública de Expansão da Rede Federal de Ensino, focando os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Ifs. Tem como objetivo realizar uma breve análise dessa política de expansão no Estado do Ceará, dando uma maior ênfase ao Campus do município de Crateús – Ce. Busca investigar se está havendo uma efetiva interiorização dessas instituições e se esta política pública tem alcançado o seu objetivo. É uma pesquisa de natureza aplicada e de caráter exploratório, na qual, procura-se aliar e articular aspectos qualitativos aos dados de natureza quantitativa. O método científico utilizado será o dialético. Como instrumento para a coleta de dados, optou-se por entrevistas semiestruturadas e questionários. Para trabalhar os dados será usada a análise de conteúdo. O estudo, em andamento, apresenta como resultados parciais alguns dados provenientes de pesquisas bibliográficas e documentais. Constatou-se que até 1995 existiam apenas 3 unidades do IFCE, atualmente são 33 Campus no Estado, dentre eles o de Crateús que em 2010 iniciou suas atividades com 3 cursos e em 2016 já conta com 7 e mais 4 aprovados para implantação. É igualmente notável a expansão urbana resultante da instalação da unidade na cidade, demonstrada através de imagens de satélites. Pretende-se até o final da pesquisa ter um panorama completo da expansão e de seus diversos impactos . Palavras-chave: Institutos Federais. Expansão. Desenvolvimento. 1 INTRODUÇÃO O maior intuito deste artigo é apresentar uma breve análise da política pública de expansão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a relação dessa expansão com o desenvolvimento local e regional. A lei de criação dos Institutos Federais, 11.892 de 29 de dezembro de 2008, deixa claro que um dos objetivos dessa expansão é contribuir para esse tipo de desenvolvimento, através da oferta 1 Mestrando em Geografia. Linha de pesquisa: Dinâmica Territorial: campo e cidade, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) – Sobral - CE. Professor de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, Campus de Crateús. Email: [email protected]. 2 Orientador ²: Prof. Dr. da Universidade Estadual Vale do Acaraú. E-mail: [email protected]

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Anais do III Seminário Regional Comércio, Consumo e Cultura nas Cidades. ISSN: 2318-048X. http://srccc.com.br.

AVALIAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE EXPANSÃO DA REDE

FEDERAL DE EDUCAÇÃO: O CASO DE CRATEÚS – CE

Antônio Adílio Costa da Silva1

Luiz Antonio Araújo Gonçalves2

RESUMO

Aborda a avaliação da Política Pública de Expansão da Rede Federal de Ensino, focando os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Ifs. Tem como objetivo realizar uma breve análise dessa política de expansão no Estado do Ceará, dando uma maior ênfase ao Campus do município de Crateús – Ce. Busca investigar se está havendo uma

efetiva interiorização dessas instituições e se esta política pública tem alcançado o seu objetivo. É uma pesquisa de natureza aplicada e de caráter exploratório, na qual, procura-se aliar e articular aspectos qualitativos aos dados de natureza quantitativa. O método científico utilizado será o dialético. Como instrumento para a coleta de dados, optou-se por

entrevistas semiestruturadas e questionários. Para trabalhar os dados será usada a análise de conteúdo. O estudo, em andamento, apresenta como resultados parciais alguns dados provenientes de pesquisas bibliográficas e documentais. Constatou-se que até 1995 existiam apenas 3 unidades do IFCE, atualmente são 33 Campus no Estado, dentre eles o de

Crateús que em 2010 iniciou suas atividades com 3 cursos e em 2016 já conta com 7 e mais 4 aprovados para implantação. É igualmente notável a expansão urbana resultante da instalação da unidade na cidade, demonstrada através de imagens

de satélites. Pretende-se até o final da pesquisa ter um panorama completo da expansão e de seus diversos impactos.

Palavras-chave: Institutos Federais. Expansão. Desenvolvimento.

1 INTRODUÇÃO

O maior intuito deste artigo é apresentar uma breve análise da política pública de expansão dos

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a relação dessa expansão com o desenvolvimento

local e regional. A lei de criação dos Institutos Federais, 11.892 de 29 de dezembro de 2008, deixa claro

que um dos objetivos dessa expansão é contribuir para esse tipo de desenvolvimento, através da oferta

1 Mestrando em Geografia. Linha de pesquisa: Dinâmica Territorial: campo e cidade, pela Universidade Estadual Vale do

Acaraú (UVA) – Sobral - CE. Professor de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, Campus de Crateús. Email: [email protected]. 2Orientador ²: Prof. Dr. da Universidade Estadual Vale do Acaraú. E-mail: [email protected]

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de cursos técnicos, tecnológicos, profissionalizantes e licenciaturas que vão ao encontro do potencial

econômico de uma determinada região, impulsionando assim o seu desenvolvimento econômico, social

e cultural (BRASIL, 2008).

Sendo assim, o artigo expõe – através de dados, gráficos e tabelas - como tem sido a evolução

da implantação dos campi do IFCE no Estado, dando enfoque especial ao caso de Crateús, buscando

perceber como esta instalação se deu na cidade, qual o tempo despendido para o pleno

funcionamento, os cursos priorizados, bem como quais os critérios e a metodologia aplicada para a

escolha destes e quais os novos já aprovados a serem instalados. Verifica ainda como a malha urbana

da cidade foi afetada pela construção da unidade e quais têm sido as consequências.

2 A EVOLUÇÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA DO PAÍS.

A evolução da Rede Federal de Educação Profissional no Brasil é um reflexo dos diferentes

momentos vivenciados pelo país. A educação profissional puramente pública, segundo Manfredi

(2002), nasceu no despertar do século XX como resultante da busca pela mudança de eixo de país

agroexportador para industrial, impulsionada pela primeira guerra mundial e a consequente

necessidade de substituição de produtos industrializados. O Presidente Nilo Peçanha, mediante o

Decreto n° 7.566, de 23 de setembro de 1909, cria 19 Escolas de Aprendizes Artífices, das quais 18

localizadas nas capitais, incluindo Fortaleza - CE, e uma na cidade de Campos - RJ, inspirando-se nas

escolas vocacionais francesas destinadas a atender à formação profissional dos “desprovidos da

fortuna e desvalidos da sorte”. (IFCE, 2016 p.22).

Neste período, as escolas de artífices tinham um caráter essencialmente assistencialista e de

moralização, recebendo jovens de no mínimo 10 anos e no máximo 13 anos , advindos de famílias de

baixo poder aquisitivo (CANALI, 2009. p.7). Geridas pelo poder público, apresentavam precariedades,

contando com poucos mestres e estrutura física deficitária, levando a um aprendizado puramente

empírico e que estimulava à evasão. A educação profissional vivenciará mudanças mais profundas

entre os anos de 1930 a 1945, momento em que a economia brasileira altera definitivamente seu eixo,

deslocando-se da atividade agroexportadora para a industrial em decorrência do ambiente gerado pela

Segunda Guerra Mundial e pela política de substituição de importação.

O governo de Getúlio Vargas, através de seu ministro da saúde e educação Gustavo

Capanema, faz uma reforma educacional nos anos de 1942 e 1943 que ficou conhecida como:

Reforma Capanema. De acordo com Canali (2009), a citada reforma - dentre outras medidas - dividiu a

educação em dois níveis: a educação básica e a superior. A crescente indústria demandava mão de

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obra e o Estado não tendo condições de supri-la firmou convênio com esta, criando um sistema de

ensino paralelo mediado pela Confederação Nacional das Indústrias, órgão máximo de representação

das mesmas, surgindo - através do Decreto-lei 4.048 de 22 de janeiro de 1942 - o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI) e posteriormente em 10 de janeiro de 1946 - através do decreto-lei

8.621 - o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), administrado pela Confederação

Nacional do Comércio. As Indústrias com mais de 100 funcionários podiam manter escolas de

aprendizes, contando com o auxílio do SENAI. Neste momento, nasce o embrião da Escola Técnica

Brasileira resultante da parceria entre o público e o privado.

Na época eram ofertados diversos cursos técnicos pelas indústrias, mas havia um problema:

estes não davam acesso ao nível superior, mantendo uma barreira entre o ensino voltado para o

trabalho e o propedêutico que visava o acesso à universidade, criando uma barreira social quase

intransponível e que perpetuava a desigualdade. Somente a partir de 1950, segundo Canali (2009),

inicia-se um processo que busca a aproximação entre a educação técnica e a propedêutica, através da

flexibilização que permite o ingresso dos egressos dos cursos técnico em superiores, algo que somente

se concretizará através do Decreto nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961, que determinará a articulação

entre os dois sistemas sem qualquer restrição quanto ao acesso.

Mesmo com toda flexibilização o ensino profissional ainda carregava o estigma de ser uma

educação voltada para as classes menos favorecidas. Em 1971, o governo militar, através da Lei nº

5.692/1971 tenta mudar isso, busca a dissolução dessa educação dual e determina o ensino

profissionalizante para todos, mas a determinação não veio acompanhada dos recursos necessários e

os Estados impelidos pela lei alteraram os currículos de suas escolas, mas sem estrutura física e de

profissionais adequada, geraram um sistema que não formava técnicos e nem tão pouco preparava

para o ingresso no ensino superior. A escola privada não aderiu à ideia e tornou-se a receptora dos

alunos advindos da escola pública, que saiam desta motivados pela queda da qualidade da mesma.

Por outro lado, as escolas técnicas federais (antigas escolas de artífice), sobre tudo, nos anos 60 e 70

ofereciam um ensino de alta qualidade, gerando uma grande demanda de matrículas, dentre estas

podemos destacar a de Fortaleza.

Com a redemocratização e a Constituição Federal de 1988 novas reformas passaram a

alcançar a educação. Logo em 1997 o [....]

Decreto-Lei nº 2.208/1997 artigo 3º, I, II e III determinou os níveis da educação profissional em: a) Básico: que se destinou à qualificação, requalificação e reprofissionalização de trabalhadores independente de escolaridade prévia; b) Técnico: destinado à habilitação profissional para alunos egressos do Ensino Médio; c) Tecnológico: correspondente aos

cursos de nível superior na área tecnológica, destinados aos alunos oriundos do Ensino Médio Técnico. (CANALI, 2009. p. 15)

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Em todos esses períodos é visível a oscilação entre a tentativa de se integrar os sistemas de

ensino propedêutico e técnico, sendo as tentativas no sentido da integração não exitosas, pelo menos

ao nível dos Estados. O governo de Fernando Henrique Cardoso negocia, neste período, junto ao

Banco Interamericano empréstimos para financiar a reforma da educação profissional por meio do

Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP).

Em 2004 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, através do Decreto nº 5.154 e do § 2º do art.36

e dos arts. 39 a 411da LDB, traz de volta princípios de um ensino médio integrado que busque o fim

da dicotomia entre conhecimentos específicos e gerais, buscando formar um homem mais preparado

para o mercado de trabalho e para entender e intervir em sua realidade. O Decreto nº 6.302 de

dezembro de 2007 instituiu o Programa Brasil Profissionalizado , que visava estimular o Ensino Médio

Integrado à Educação Profissional, enfatizando a educação científica e humanística por meio da

articulação entre formação geral e educação profissional, considerando a realidade concreta no

contexto dos arranjos produtivos e das vocações sociais, culturais e econômic as locais e regionais.”

(MEC/SETEC Documento Base, 2007).

Neste cenário nasceu a expansão da Rede Federal de Educação e, sobre tudo, dos Institutos

Federais, dentre estes está o atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

(IFCE). Órgão que é fruto de um histórico associado a todas estas fases. Sua origem se deu em

Fortaleza como Escola de Aprendizes Artífices em 1909, transformando-se em Liceu Industrial de

Fortaleza no ano de 1941 e, no ano seguinte, vindo a se transformar-se - assim como as demais no

país - em Escola Industrial, nesse caso, de Fortaleza, ofertando formação orientada para atender às

profissões básicas do ambiente industrial e ao processo de modernização do País.

No ambiente desenvolvimentista da década de 50, especificamente em 1959, mediante a Lei

Federal n° 3.552, de 16 de fevereiro de 1959, as Escolas Industriais ganharam personalidade jurídica

de Autarquia Federal, passando a gozar de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e

disciplinar, incorporando a missão de formar profissionais técnicos de nível médio. Em 1965, o Liceu

Industrial de Fortaleza passa a se chamar Escola Industrial Federal do Ceará e em 1968, recebe a

denominação de Escola Técnica Federal do Ceará.

“Na época, o país tinha como sistema público federal de educação profissional as Escolas Técnicas localizadas nos centros urbanos e as Agrotécnicas localizadas, em sua maioria,

nas zonas rurais” (IFCE, 2016. p. 23).

O contínuo avanço do processo de industrialização, com crescente complexidade tecnológica

que, segundo Santos (1985), influenciará na descentralização industrial e na modernização do campo,

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originará a demanda de evolução da rede de Escolas Técnicas Federais, já no final dos anos 70, para

a criação de um novo modelo institucional, surgindo então os Centros Federais de Educação

Tecnológica do Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Somente, em 1994, a Escola Técnica Federal

do Ceará é igualmente transformada, junto com as demais faltantes, em Centro Federal de Educação

Tecnológica, mediante a publicação da Lei Federal n° 8.948, de 08 de dezembro de 1994.

A partir de 2003, Sob o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para Manfredi

(2002), a educação profissional sai da exclusiva lógica do capital e ganha força no contexto das

políticas públicas, passando a ser utilizada como instrumento fundamental em prol do alcance do

compromisso assumido pelo país na agenda 21, “no contexto desse compromisso a educação

profissional passa a ser referida como essencial na busca de um desenvolvimento social e sustentável

do país” (SOUSA, 2011, p. 43). Diante disso, no dia 29 de dezembro de 2008 é criada , oficialmente

pela Lei nº 11.892 do mesmo ano, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e

instituídos os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, a partir da fusão dos CEFETs e

das Escolas Agrotécnicas.

Mais de cem anos de história marcam a evolução da educação profissional e tecnológica do

país. Mas a partir de 2003 e especialmente após 2008, como demonstram as seguintes figuras -

extraídas do site do MEC - a abrangência e o alcance da educação profissional se destacam no

cenário nacional.

Figura 1 – Evolução da Expansão dos Institutos Federais

Fonte: site do MEC, 2016.

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Os pontos amarelos representam os campi já existentes até 2002 (140 campi e 119 municípios

atendidos). Os verdes, os criados entre 2003 e 2010 (321 campi e 356 municípios atendidos). Os

vermelhos, os implantados até 2016 (568 campi e 644 municípios atendidos).

Os gráficos seguintes trazem, respectivamente, o histórico da expansão da Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica no Brasil por unidade e por município, deixando claro o

salto quantitativo a partir de 2003:

Figura 2 - Expansão da Rede Federal de Educação Profissional - em unidades.

Fonte: site do MEC, 2016

Figura 3 - Quantidade de Municípios atendidos com a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

Fonte: site do MEC, 2016

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Ao observar os dados expostos podemos concluir que está havendo uma intensa interiorização

da rede, corroborando com o raciocínio desenvolvimentista da política pública em estudo. O Tribunal

de Contas da União reforça a constatação ao afirma que :

Cabe observar que 85% das escolas/campi estarão fora das capitais estaduais, o que reforça

a preocupação com a interiorização da rede. Outro dado reforça essa constatação: 176 campi estão em municípios com menos de 50.000 habitantes e, destes, 45 estão em municípios com menos de 20.000 habitantes. (TCU, 2013, p.10).

3 A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA NO CEARÁ.

O IFCE tem feito parte deste processo, sendo ferramenta ao dispor do Estado e do país na

busca de uma sociedade mais igualitária. O processo de interiorização e de contribuição para o

desenvolvimento regional iniciou-se em 1995, quando, de acordo com IFCE (2016), foram inauguradas

duas Unidades de Ensino Descentralizadas (UNED) localizadas nas cidades de Cedro e Juazeiro do

Norte, distantes, respectivamente, 385 km e 570 km da sede de Fortaleza.

Como se pode observar, até o ano de 1995 essa modalidade de educação ficava restrita à

capital, apenas podendo desfrutar desta quem lá residisse, expandindo-se a partir do citado ano para o

sul do Estado, mas ainda tinha um atendimento muito restrito do ponto de vista geográfico, vindo de

fato a expandir-se a partir da criação oficial, no dia 29 de dezembro de 2008, pela Lei nº 11.892, do

Instituto Federal do Ceará (IFCE), que congrega os extintos Centros Federais de Educação

Tecnológica do Ceará (CEFET/CE) e as Escolas Agrotécnicas Federais dos municípios de Crato e de

Iguatu.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia do Ceará é atualmente o segundo maior

do país em quantidade de unidades, ficando atrás apenas do Instituto Federal de São Paulo, os dados

do anuário do IFCE (2016) demonstram toda a ramificação da instituição: 24 (vinte e quatro) campi em

funcionamento, 2 (dois) campi em implantação, 3 (três) em construção, 2 (dois) campi avançados, 1

(um) Campus avançado em implantação, 22 (vinte e dois) polos de educação à distância, 1(um) hotel

escola e 1(um) centro de inovação. O órgão administra 131 cursos técnicos, 84 cursos superiores, 11

pós-graduações, 19 (dezenove) especializações e tem hoje 33 unidades distribuídas por todas as

regiões do Estado, totalizando 33.387 matrículas. As instalações dos campi no Estado se deram nos

seguintes municípios: Acaraú, Aracati, Baturité, Boa Viagem, Crateús, Camocim, Canindé, Caucaia,

Cedro, Crateús, Crato, Fortaleza, Guaramiranga, Iguatu, Itapipoca, Jaguaribe, Jaguaruana, Juazeiro do

Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Morada Nova, Pecém, Paracuru, Quixadá, Sobral, Tabuleiro do

Norte, Tauá, Tianguá, Ubajara e Umirim.

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A escolha dos locais foi determinada a partir de critérios estabelecidos pelo MEC (2008),

buscando atender a três dimensões: social, geográfica e de desenvolvimento. No que se refere a

social, destaca-se a universalização de atendimento aos Territórios da Cidadania, programa do

Governo Federal lançado em 2008, cujo objetivo é promover o desenvolvimento econômico e

universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial

sustentável; o atendimento aos municípios populosos e com baixa receita per capita, integrantes do

G100, grupo das 100 cidades brasileiras com receita per capita inferior a R$ 1.000,00 e com mais de

80 mil habitantes; e municípios com percentual elevado de extrema pobreza.

Referente à dimensão geográfica, destaca-se o atendimento prioritário aos municípios com

mais de 50 mil habitantes ou microrregiões não atendidas, universalização do atendimento às

mesorregiões brasileiras, municípios em microrregiões não atendidas por escolas federais e

interiorização da oferta pública do ensino tecnológico. Por fim, quanto à dimensão de desenvolvimento,

elucida-se que os novos campi devem ser em municípios com arranjos produtivos locais identificados e

que estejam envoltos de grandes investimentos. Assim, os critérios adotados pelo MEC (social,

geográfico e de desenvolvimento) visam contribuir com a construção de um projeto de nação mais

igualitária (SILVA, 2013).

Ressalta-se a importância da identificação dos arranjos produtivos locais tanto para a

Instalação de um determinado Campus, como para a escolha dos cursos a serem ofertados. Os

arranjos produtivos podem ser definidos como:

[...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um

conjunto específico de atividades econômicas, que podem apresentar vínculos e interdependência. Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e

equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Podem incluir diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidade, pesquisa, desenvolvimento e engenharia;

política, promoção e financiamento. Engloba o conceito de Pólo como um aglomerado de empresas de um setor (um ou mais elo da cadeia produtiva) em um determinado espaço geográfico. (SILVA, 2013 apud BORIN, 2006, p. 70-71)

Logo a escolha dos municípios receptores não foi aleatória, seguiu uma lógica que buscou

valorizar e incentivar os potenciais regionais, buscando um desenvolvimento homogênio a partir da

soma das potencialidades locais. Segue uma imagem que demonstra a distribuição dos campi no

Estado.

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Figura – 4: Distribuição dos Campi do IFCE.

Fonte: Anuário do IFCE, 2016.

4 IFCE - CAMPUS DE CRATEÚS

A cidade de Crateús foi escolhida para receber um Campus do IFCE por se enquadrar em

alguns dos parâmetros acima mencionados, indicados pelo MEC (2008), está localizada na

microrregião dos Sertões de Crateús, no Estado do Ceará e até 2008 não atendida por escolas

federais. Essa microrregião abrange 09 municípios ocupando uma área de 12.831,035 km² com

densidade demográfica de 18,7 hab./km².

A região possui renda per capita muito baixa, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará IPECE (2015) a renda por pessoa na cidade de Crateús é de até R$ 70,00

mensais o que caracteriza uma população muito pobre , embora tenha havido um crescimento devido,

principalmente, aos programas governamentais de transferência de renda para os municípios, segundo

dados do IBGE (2010).

O município de Crateús possui população estimada, a partir de dados do IBGE (2014), de

73.578 mil habitantes, destes 52 mil na zona urbana, superando os 50 mil exigidos pelo MEC (2008),

distribuídos numa área de 2.985,411 km². Essa mesma instituição de pesquisa informa que o IDH

(índice de desenvolvimento humano) de Crateús é de 0,644. O IPECE revela que 65% da população

desse município está na faixa dos 15 aos 64 anos, sugerindo que há um significativo percentual da

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população em idade adequada para capacitação e formação profissional de nível técnico e superior, ou

seja, potenciais alunos do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em particular

do Campus Crateús.

O Instituto, consoante informações do IFCE (2016), teve sua pedra fundamental lançada em

2008 e sua conclusão parcial em 2010, na segunda fase do plano de expansão da rede de ensino

profissional e tecnológico, promovido pelo governo federal. Tinha como estrutura inicial dois blocos , um

administrativo e outro com 10 salas de aula climatizadas; auditório; biblioteca e ginásio coberto.

O início das atividades letivas se deu em agosto de 2010. O primeiro dia de aula oficial ocorreu

em 22 de setembro do mesmo ano, iniciando os cursos técnicos integrados em Química e Edificações

e licenciatura em Matemática. No ano de 2012, o ensino ganhou impulso com a criação do curso de

bacharelado em Zootecnia cuja gênese fomentou, inclusive, a primeira grande atividade de extensão

do IFCE no município: o projeto Nilo Peçanha, que teve como objetivo levar conhecimento em

informática e gerenciamento de propriedade agrícola às comunidades rurais de Crateús, vemos nessas

iniciativas o objetivo do programa de expansão sendo alcançado e:

“[...] assim, a educação profissional e tecnológica sendo elevada ao estatuto de política

pública e, como tal considerada direito e bem pública, condição de desenvolvimento

humano, econômico e social, comprometida com a redução das desigualdades sociais e

regionais”. (SOUSA, 2011, p.44).

Seguindo sua evolução a Instituição amplia sua oferta de ensino técnico e superior em 2013,

com a criação dos cursos técnicos em Agropecuária e licenciatura em Letras , como se pode notar, a

implantação dos cursos guia-se pela identificação dos arranjos produtivos locais. O curso técnico em

química procurou suprir a demanda da Unidade Industrial da Brasil Ecodiesel inaugurada em 2006,

pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com capacidade de produção de: 118.800 m de

biodiesel por ano. Infelizmente a usina foi desativada em 2009, de acordo com Eugênio (2009), por

problemas diversos: ações por contaminação do Rio Poti, falta de matéria prima suficiente, em função

da baixa produtividade do programa de agricultura familiar no Ceará, dentre outras.

O curso de zootecnia busca abarcar a demanda proveniente da pecuária local, o de edificações

se propõe a dar suporte ao desenvolvimento crescente da cidade. As licenciaturas , autorizadas pelo

Decreto 3.462 de 17 de maio de 2000, vêm suprir uma demanda local e regional. Em 2014, a estrutura

física ganhou novas aquisições, com a inauguração do refeitório e de um parque aquático com

dimensões semiolímpicas. Em 2015 ganhou o seu quarto curso superior: licenciatura em Física. Iniciou

ainda o processo de consulta pública para criação de novos cursos, evidenciando um formato

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democrático de implantação de ofertas voltadas para o desenvolvimento regional, que resultou em

2016 na aprovação dos cursos de Licenciatura em Geografia; Bacharelado em Medicina Veterinária;

Licenciatura em Música e técnico em Libras.

Tabela 1. Evolução da instalação dos cursos no IFCE de Crateús

ANO CURSOS

2010 Integrado em química;

Edificações e Licenciatura em matemática

2012 Bacharelado em zootecnia

2013 Técnico em agropecuária e Licenciatura em Letras

2015 Licenciatura em Física

Aprovados para

serem implantados

Licenciaturas: Geografia e Música; Bacharelado: Medicina Veterinária. Técnico:

Libras.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do IFCE (2016)

Com o sucesso da Instituição a cidade ganha em desenvolvimento, pois as alterações trazidas

pelo Campus se mostram, como ressalta Freire (2011), no desenvolvimento regional, enquanto

propagadoras da formação de recursos humanos e desenvolvimento de novas tecnologias . O

desenvolvimento é notado, também, através da paisagem, pois como deixa claro, Carlos (1992. p. 2),

“a sociedade e espaço não podem ser vistos desvinculadamente, pois a cada estágio do

desenvolvimento da sociedade, corresponderá um estágio do desenvolvimento da produção espacial”.

Torna-se clara essa evolução, no caso de Crateús, ao analisarmos a área urbana do Bairro

onde foi construído o prédio do IFCE. Antes uma área quase deserta, inclusa nos limites do Bairro

Venancio afamado como um dos Bairros com maior índice de criminalidade e violência da cidade, hoje

tomada por residências de médio e alto padrão e por construções constantes, resultantes da

especulação imobiliária. As construções visam, sobre tudo, alcançar o público crescente de

profissionais e estudantes que, pela distância do Bairro até o centro e pela dificuldade de transporte,

optam por residirem nas proximidades do Campus. As imagens seguintes revelam essa evolução:

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Figura 5 – Imagem do Bairro Venancio em 2005

Fonte: Programa Google Earth, 2016.

Figura 6 – Imagem do Bairro Venancio em 2012

Fonte: Programa Google Earth, 2016.

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Figura 7 – Imagem do Bairro Venancio em 2016

Fonte: Programa Google Earth, 2016.

5 METODOLOGIA

Para a avaliação aqui intencionada, pretende-se ter como recorte a evolução da Rede Federal

de Ensino, dando especial atenção ao Instituto Federal do Ceará (IFCE) e dentro deste ao Campus de

Crateús. Quanto ao tipo de procedimento deste estudo, basea-se - até esta fase - em pesquisa

bibliográfica e documental, uma vez que este é o ponto de partida de toda pesquisa (BOENTE, 2004).

O levantamento bibliográfico e documental é resultante da análise de livros, artigos, periódicos e outras

fontes de informação sobre o tema em questão para embasar a fundamentação te órica. Assim como

também o estudo de caso, pois se pretende analisar as especificidades do caso apresentado nesta

temática. Esta escolha se baseia na caracterização de Gil (2007, p. 54), acerca do estudo de caso:

Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que

se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico.

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Portanto, apresenta-se também como uma pesquisa de natureza aplicada, do tipo exploratória,

pois visa ter um conhecimento geral do tema proposto, explorando o assunto no contexto já delimitado,

possibilitando uma maior aproximação com os fatos dessa realidade. Busca-se aliar e articular

aspectos de caráter qualitativo aos dados de natureza quantitativa coletados, já que para esta pesquisa

essas duas abordagens são complementares. Rico (2006) destaca a necessidade, quando se faz uma

avaliação de programas sociais como este, de mesclar elementos de ordem qualitativa e quantitativa.

Para a viabilidade do estudo, pretende-se montar um banco de dados que forneça informações

diversas sobre a Rede Federal de Ensino e sua evolução , assim como um perfil do IFCE e

especialmente do Campus de Crateús. Para a captura de informações sobre as mudanças advindas da

chegada do Campus no Município de Crateús, pretende-se lançar mão de entrevistas semiestruturadas

e aplicação de questionários junto à população e aos alunos ativos e egressos. A demonstração da

evolução da malha urbana fica a cargo do uso de imagens de satélites. Para o trabalho com os dados

será usada a análise de conteúdo. O método científico balizador aplicado será o dialético.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo o histórico da Educação no país nos revela a intenção, por parte de quase todos os

governos, de uniformizarem o ensino no sentido de oferecer uma formação integrada que prepare o

aluno para o mercado de trabalho e ao mesmo tempo lhe ofereça um ensino propedêutico de

qualidade, que lhe der a oportunidade de ingressar na universidade, se assim desejar. Tal intuito tem

esbarrado na burocracia e na escassez de recursos, que terminam por aprisionar tal meta a letras de

leis ou decretos, sem que haja uma implementação prática.

Tal realidade começa a mudar a partir de 2003 e da busca por uma educação que supere o

modelo dual de outrora e que consiga formar um cidadão mais preparado. A expansão dos IF`s busca

este fim e tem mostrado a eficácia de tal formato, mudando a realidade de estudantes que têm saído

da instituição mais prontos para os enfrentamentos do mercado de trabalho ou mesmo do mundo

acadêmico.

Outro viés importante a ser levado em consideração é o desenvolvimento regional que vem na

esteira da implantação desses Campi. O impacto vai desde a formação de mão de obra qualificada,

que servirá ao mercado local, até o crescimento urbano e a elevação na demanda sobre o setor de

serviços, gerando movimentação de recursos e criação de renda para o Munic ípio. Crateús é um

exemplo, registrando expressivo crescimento urbano do Bairro Venâncio, onde se instalou o Campus.

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Tal política é a concretização de muitas tentativas que, por um privilégio contemporâneo,

vemos dar certo, mas que – como em períodos anteriores – começa a ser ameaçada pelo momento

econômico e político do país, podendo mais uma vez levar o ensino à desarticulação entre a

preparação para o trabalho técnico e para o ingresso no ensino superior.

REFERÊNCIAS

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