avaliação pós-ocupação. métodos e técnicas aplicados à habitação social - romÉro e...

296
HABITARE Programa de Tecnologia de Habitação Grupo Coordenador COLEÇÃO HABITARE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO Coordenadores/editores Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social Marcelo de Andrade Roméro Sheila Walbe Ornstein

Upload: edilson-do-valle

Post on 28-Jul-2015

2.680 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

COLEO HABITAREMtodos e Tcnicas Aplicados Habitao SocialCoordenadores/editores

AVALIAO PS-OCUPAO

Marcelo de Andrade Romro Sheila Walbe Ornstein

Grupo Coordenador

Programa de Tecnologia de Habitao HABITARE

esde 1994, com financiamento e coordenao da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP/MCT), o Programa de Tecnologia da Habitao (Habitare) vem alavancando projetos de pesquisa em busca de solues para um dos principais problemas brasileiros. E sabemos que, to importante quanto financiar esses projetos, difundir seus resultados. Por isso, perseguindo o objetivo de fazer com que o Programa Habitare seja o promotor de um desenvolvimento cientfico e tecnolgico que contribua com a reduo do dficit habitacional brasileiro, o Grupo Coordenador do Programa lana a Srie Coleo HABITARE. A srie surge logo aps o lanamento do Portal Habitare (http://habitare.infohab.org.br/). Enquanto o portal vem permitindo a transformao dos principais resultados das pesquisas em reportagens, a Srie Coleo HABITARE vai permitir a publicao de obras com autoria das prprias equipes de pesquisa. Assim, acreditamos estar abrindo um novo canal para difuso dos resultados gerados em mais de 40 projetos, desenvolvidos em reas como Disseminao e Avaliao do Conhecimento Disponvel, Construo e Meio Ambiente, Utilizao de Resduos na Construo, Proposio de Critrios de Urbanizao, Normalizao e Certificao, Inovao Tecnolgica, Avaliao de Polticas Pblicas, Avaliao Ps-Ocupao e Gesto da Qualidade e Produtividade. Trata-se de mais uma estratgia que leva em conta a importncia de que os projetos contemplados tenham desdobramentos, pois o Habitare s o pontap inicial de iniciativas que devem chegar sociedade.Grupo Coordenador

D

Coleo HABITARE/FINEP

Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao SocialMarcelo de Andrade Romro Sheila Walbe OrnsteinCoordenadores/editores

AVALIAO PS-OCUPAO

Porto Alegre 2003

2003, Coleo HABITARE Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo - ANTAC Av. Osvaldo Aranha, 99 - 3 andar - Centro 90035-190 - Porto Alegre - RS Telefone (0XX51) 3316-4084 Fax (0XX51) 3316-4054 http://www.antac.org.br/ Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Diretor: Fernando de Nielander Ribeiro rea de Instituies de Pesquisa/AIPE Superintendente: Maria Lcia Horta de Almeida Grupo Coordenador Programa HABITARE Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Caixa Econmica Federal - CEF Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico- CNPq Ministrio de Cincia e Tecnologia - MCT Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo - ANTAC Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica - SEDU Servio Brasileiro de Apoio Pequena Empresa - SEBRAE Comit Brasileiro da Construo Civil/Assoacialo Brasileira de Normas Tcnicas - COBRACON/ABNT Cmara Brasileira da Indstria da Construo - CBIC Apoio Financeiro Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Caixa Econmica Federal - CEF Apoio Institucional Universidade de So Paulo - USP Faculdade de Arquitetura e urbanismo Ncleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo Fundao para a Pesquisa Ambiental - FUPAM Editores da Coletnea HABITARE Roberto Lamberts UFSC Maria Lcia Horta de Almeida - FINEP

Equipe Programa HABITARE Ana Maria de Souza Cristiane M. M. Lopes Projeto Grfico Regina lvares Textos de apresentao da capa Arley Reis Reviso gramatical e bibliografia Giovanni Secco Roseli Alves Madeira Westphal (INFOHAB) Editorao Eletrnica Amanda Vivan Fotolitos e Impresso Coan Capa: Lasar Segal - Favela, 1954/55 Pintura a leo com areia sobre tela de 65 X 50cm. Acervo do Museu Lasar Segall.

Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo ANTACA945 Avaliao Ps-Ocupao: mtodos e tcnicas aplicados habitao social / Editores e Corrdenadores Marcelo de Andrade Romro e Sheila Walbe Ornstein. -- Porto Alegre : ANTAC, 2003. -- (Coleo Habitare) 294p. ISBN 85-89478-01-7 1. Avaliao ps-ocupao 2. Habitao de interesse social 3. Procedimentos metodolgicos 4. Construo civil I. Romro, Marcelo de Andrade. II. Ornstein, Sheila Walbe. III. Srie. CDD-69.03

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP).

SumrioCaptulo I Estrutura e metodologia da pesquisa 1 Apresentao geral 1.1 Conjuntos habitacionais de interesse social 1.2 Desenvolvimento e habitao 1.3 Estrutura bsica da pesquisa 1.4 Justificativas para o projeto 1.5 Objetivos especficos 2 Avaliao ps-ocupao (APO) 2.1 Formulao do problema e conceituao de APO 2.2 A APO nos campos internacional e nacional e a APO aplicada a conjuntos habitacionais 3 O estudo de caso 3.1 O distrito de So Lus 3.2 O empreendimento 4 Procedimentos metodolgicos 4.1 Mtodos e tcnicas 4.2 Critrios de desempenho utilizados como parmetros para avaliao tcnica 4.3 Definio do universo da pesquisa em relao totalidade do conjunto habitacional So Lus 4.4 Elaborao e aplicao dos instrumentos coleta de dados 4.5 O pr-teste 4.6 Aplicao do questionrio definitivo 4.7 Sistematizao e tratamento dos dados 4.8 Cruzamento das respostas 4.9 Construo de mapas comportamentais 4.10 Aplicao de checklist tcnico 4.11 Discusso sobre mtodos e tcnicas e concluses Captulo II APO funcional Das unidades e das reas condominiais 5 Consideraes preliminares 6 Da unidade habitacional a alguns aspectos coletivos e/ou condominiais dos edifcios 12 13 14 17 22 22 23 25 25 27 29 29 30 36 37 40 41 45 46 46 47 49 49 49 50 52 53 54

6.1 Reviso conceitual e terica 6.2 Procedimentos metodolgicos 6.3 Critrios de desempenho 6.4 Avaliao tcnica de desempenho 6.5 Avaliao da satisfao dos usurios 6.6 Diagnstico: avaliao tcnica versus aferio da satisfao dos usurios 6.7 Recomendaes Captulo III APO funcional Dos espaos abertos do conjunto habitacional 7 Consideraes preliminares 8 Dos espaos abertos 8.1 Diagnsticos 8.2 Espaos abertos e a literatura pertinente 9 Recomendaes: redesenho dos espaos abertos Captulo IV APO do sistema construtivo 10 Consideraes preliminares 11 Procedimentos metodolgicos 12 Caractersticas tcnicas 12.1 Implantao 12.2 Sistema construtivo 12.3 Instalaes eltricas 12.4 Instalaes hidrulicas e sanitrias 12.5 Instalao de equipamentos de preveno contra incndio 13 Avaliao tcnico-construtiva 13.1 Aspectos gerais 13.2 Terrapleno 13.3 Fundaes 13.4 Estrutura 13.5 Vedos 13.6 Cobertura

54 55 55 61 65 77 78 80 81 82 82 88 93 96 97 98 98 98 99 99 99 99 100 100 100 101 102 102 103

13.7 Vos 13.8 Paramentos 13.9 Pavimentos 13.10 Instalaes hidrossanitrias 13.11 Instalaes eltricas 13.12 Infra-estrutura e equipamentos complementares 14 Avaliao das instalaes eltricas e consumo energtico 14.1 Consideraes preliminares 14.2 Potncias mdias e potncias totais instaladas 14.3 Dimensionamento de circuitos e disjuntores 14.4 ndices e padres de consumo 14.5 Concluses 15 Avaliao da segurana contra incndio 15.1 Objetivos 15.2 Metodologia 15.3 Legislao e normas vigentes 16 Diagnstico 16.1 Consideraes preliminares 16.2 Avaliao tcnico-construtiva 16.3 Avaliao das instalaes eltricas e consumo energtico 16.4 Avaliao da segurana contra incndio 17 Recomendaes 17.1 Aspectos construtivos 17.2 Instalaes eltricas 17.3 Segurana contra incndio Captulo V APO do conforto ambiental 18 Consideraes preliminares 18.1 Variveis que interferem na questo do conforto ambiental 18.2 O estudo de caso 19 Procedimentos metodolgicos

104 105 106 106 107 108 108 108 109 110 114 114 115 115 115 115 116 116 116 118 118 119 119 123 123 132 133 133 135 136

19.1 Variveis do conforto ambiental para os locais de habitao 19.2 Roteiros para a avaliao dos critrios de desempenho 20 Avaliao comportamental 20.1 Iluminao natural e artificial pblica 20.2 Conforto higrotrmico de vero e inverno 20.3 Ventilao natural 20.4 Acstica 21 Avaliaco tcnica 21.1 Insolao/orientao 21.2 Iluminao natural 21.3 Conforto higrotrmico de vero e inverno 21.4 Ventilao natural 21.5 Acstica 22 Recomendaes 22.1 Para o estudo de caso 22.2 Para projetos futuros de conjuntos habitacionais 22.3 Concluso geral de conforto ambiental Captulo VI APO econmica 23 Consideraes preliminares 24 Procedimentos metodolgicos 24.1 Critrios gerais 24.2 Critrios especficos 24.3 Estruturao das variveis 24.4 Propostas desenvolvidas 25 Anlises e simulaes 25.1 Elenco do conjunto de alteraes sugeridas, com seus custos unitrios e quantidades do projeto original e das quatro propostas de alterao 25.2 Proposta 1 25.3 Proposta 2 25.4 Proposta 3

137 147 153 153 154 157 158 160 160 167 173 176 177 181 181 183 192 196 197 199 199 202 202 204 204 204 206 206 207

25.5 Proposta 4 25.6 Proposta 5 25.7 Proposta 6 25.8 Complementos no servio de urbanizao 26 Concluses 26.1 Consideraes sobre as solues adotadas e priorizadas pelos usurios e/ou pela avaliao tcnica como elemento de interveno 26.2 Custo agregado pelas intervenes propostas 26.3 Algumas indagaes Captulo VII APO Equipamento comunitrio Escola 27 Consideraes gerais 28 O estudo de caso 28.1 Consideraes preliminares 28.2 O projeto de arquitetura 29 Procedimentos metodolgicos 29.1 Consideraes sobre os questionrios 29.2 Consideraes sobre os grupos focais 30 Avaliao tcnico-construtiva 30.1 Consideraes preliminares 30.2 Superestrutura 30.3 Alvenarias e detalhes tcnico-construtivos 30.4 Instalaes eltricas, hidrulicas, sanitrias e pluviais 30.5 Batentes, portas, guarnies e ferragens 30.6 Instalaes de combate a incndio 30.7 Modificaes introduzidas pelos usurios 31 Avaliao funcional 31.1 Relao das modificaes no edifcio para uso mais adequado 31.2 Indicadores gerais utilizados para avaliao tcnico-funcional 31.3 Concluses da avaliao tcnico-funcional

207 208 208 209 210 210 211 214 216 217 218 218 219 222 223 224 226 226 227 228 228 229 229 230 230 232 234 240

31.4 Aferio da satisfao dos usurios do Conjunto Habitacional Jardim So Luis quanto ao equipamento escolar 31.5 Anlise dos resultados da verificao da satisfao dos estudantes quanto aos aspectos funcionais obtidos atravs dos grupos focais 31.6 Aferio da satisfao dos funcionrios e professores quanto aos aspectos funcionais com base na aplicao dos questionrios 32 Avaliao de conforto ambiental 32.1 Determinao dos critrios de desempenho Insolao/orientao 32.2 Avaliao tcnica Insolao 32.3 Determinao dos critrios de desempenho Iluminao natural 32.4 Determinao dos critrios de desempenho Acstica 32.5 Determinao dos critrios de desempenho Ventilao 32.6 Determinao dos critrios de desempenho Conforto trmico 33 Recomendaes 33.1 Insolao 33.2 Iluminao natural 34 Concluses Captulo VIII Consideraes sobre os procedimentos metodolgicos adotados 35 Sobre a pesquisa 36 Sobre a experincia interdisciplinar 37 Dos mtodos e tcnicas utilizados 37.1 Medidas para aferio do desempenho fsico 37.2 Observaes, anlises e avaliaes do desempenho fsico 37.3 Questionrios 37.4 Entrevistas especficas 37.5 Mapas comportamentais 37.6 Registros fotogrficos 37.7 Registros em videoteipe 37.8 Registros em fitas cassete 37.9 Grupos focais 242 243 243 244 245 248 250 253 256 256 256 257 262 263 264 264 264 265 265 266 266 267 267 268 268 242 240

38 Sobre os resultados e suas formas de apresentao Captulo IX Bibliografia Captulo X Anexos 39 Formulrio do questionrio definitivo aplicado 40 Equipe tcnica e reas de atuao 41 Minicurrculos dos coordenadores/editores

269 270 282 283 285 285

Agradecimentos

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos, pela viabilizao da pesquisa e pelo suporte financeiro. CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo, pela concesso de dados e materiais. FUPAM Fundao para a Pesquisa Ambiental, pela gesto financeira e administrativa. NUTAU/USP Ncleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, por todo o apoio logstico, em especial secretria Maria Cristina Luchesi de Mello. FAUUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, Departamento de Tecnologia da Arquitetura, pelo apoio logstico, e ao Videofau, pelo apoio na produo do vdeo decorrente da pesquisa. Pr-reitoria de pesquisa da USP pelo suporte financeiro para aquisio de equipamentos. Aos alunos da disciplina de ps-graduao da FAUUSP AUT-5805 Avaliao Ps-Ocupao das Edificaes (1996 e 1997), por colaborar na elaborao e na aplicao dos instrumentos de coleta de dados e na tabulao dos dados obtidos. arquiteta Nanci Saraiva Moreira Fundao para o Desenvolvimento da Educao (FDE), por suas contribuies na avaliao do equipamento escolar, e nas reflexes sobre a prtica pedaggica e sobre o desempenho estudantil. Aos moradores que permitiram a entrada em suas casas e pela gentileza de fornecer dados pessoais e comportamentais de suas famlias. Ao Prof. Dr. Robert B. Bechtel, Department of Psychology, University of Arizona, Tucson, EUA. Prof. Dr. Susan Saegert, Center for Human Environments, City University of New York, EUA. Ao Prof. Theo J. M. Van Der Voordt, Faculty of Architecture, Delft University of Technology, Holanda.

12

I.

1 Apresentao geral 2 Avaliao ps-ocupao (APO) 3 O estudo de caso 4 Procedimentos metodolgicos

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

I.Estrutura e metodologia da pesquisa

1 Apresentao geral

Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo (CDHU), com unidades habitacionais em edifcios iguais, modelo H, com quatro pavimentos com oito apartamentos cada. Especificamente, foram considerados nesta pesquisa no somente as unidades habitacionais e seus edifcios, mas tambm sua circunvizinhana, a infra-estrutura, os servios, a escola e as reas livres do conjunto. Este trabalho desenvolve, ento, uma pesquisa terico-prtica, com a aplicao dos conceitos e dos procedimentos metodolgicos de avaliao ps-ocupao, com o objetivo de aperfeioar esses procedimentosEstrutura e metodologia da pesquisa

A

pesquisa em questo foi desenvolvida utilizando-se como estudo de caso o Conjunto Habitacional

Jardim So Lus, ocupado a partir de 1993, situado na regio sudoeste do municpio de So Paulo (Administrao Regional do Campo Limpo) e executado pela Companhia de13

e de experimentar tcnicas pouco empregadas nas APOs j desenvolvidas, o que possibilita a obteno de resultados mais precisos e abrangentes. Tais procedimentos levam sempre em considerao, alm da avaliao de desempenho tcnico dos edifcios eleitos, a satisfao de seus usurios em relao aos aspectos priorizados. Adotaram-se basicamente os seguintes procedimentos: aplicao de questionrios aos usurios dos edifcios estudados, entrevistas com os tcnicos da companhia habitacional, mapas comportamentais (e de atividades) aplicados s reas livres, vistorias tcnicas, medies in loco e grupos focais para o caso das crianas da escola. 1.1 Conjuntos habitacionais de interesse social A questo da habitao de interesse social vem sendo focalizada principalmente como a necessidade de abrigo. Fica claro para todos que essa uma necessidade vital, mas tambm preciso entender que o homem, como um ser que vive em sociedade, no pode dispensar outras caractersticas que so inerentes sua cidadania e, portanto, sua necessidade habitacional. Por isso, observa Rodwin (1987), a necessidade de abrigo vem sendo tratada em termos do assentamento humano e conseqente desenvolvimento da regio e do pas. Alm disso, observam Rodwin e Sanyal, apesar dos esforos contnuos que vm sendo feitos em muitos pases em prol de maior oferta habitacional, as condies das famlias mais pobres continuam em significativa desvantagem, principalmente nos pases em desenvolvimento. As polticas habitacionais e seus projetos esto longe de ter sido implementados e mostram uma situao preocupante, em que ainda existe uma fora de excluso

social considervel, em que muitas famlias esto longe de poder incorporar-se aos avanos de desenvolvimento econmico, social e cultural de seu pas. H, entretanto, de se avaliar a situao desses conjuntos habitacionais na realidade atual, seu impacto em termos de habitao social irradiando nas vizinhanas e na cidade, a satisfao de seus usurios e as eventuais demandas latentes. Como deve ser um assentamento humano, o conjunto precisa oferecer para essa populao condies ambientais de qualidade, com as quais ela possa cultivar e mesmo melhorar sua cultura urbana, ou seja, seus hbitos de viver em comunidade, exercendo seus direitos e respeitando os do prximo. Entende-se, assim, que o ato de morar demanda um esforo considervel em termos de educao social e ambiental, pedindo mudanas de comportamento em prol da construo de uma comunidade em que cada membro usufrua as vantagens oferecidas em seu conjunto habitacional e, ao mesmo tempo, contribua para a manuteno dessas qualidades ambientais. Precisam, assim, criar sua prpria cultura. Com essas caractersticas que se pode entender o que esses autores mencionam como mudanas fundamentais que vm sendo tomadas em relao habitao para os pobres, ou seja, o fato de que estas no mais vm sendo consideradas como problemas, mas sim como solues extraordinariamente flexveis e ajustveis (RODWIN, 1987, p. 5), que devem ser compreendidas como uma fase de transio para uma comunidade saudvel, produtiva e eficiente. A essas colocaes podem-se somar algumas polticas pblicas, como as que vm sendo desenvolvidas pela

14

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo (CDHU), que oferecem diferentes oportunidades de escolha para essas populaes, seja de conjuntos habitacionais feitos por chamamento empresarial, seja daqueles construdos pelo processo de mutiro, em que os interessados participam diretamente da fase de construo, ou, mais recentemente, com o programa de atuao em cortios1. importante assinalar que, com o passar dos anos, houve uma total mudana na maneira de encarar a questo habitacional, e a simples meno da poltica desenvolvida pela CDHU agora em relao aos cortios j um sinal de que no h mais como desocupar as unidades insalubres e colocar as populaes em outros lugares, muitas vezes longe dos empregos disponveis. Atualmente, os poderes pblicos procuram muito mais respeitar o assentamento existente, procedendo ao que se tem chamado de reurbanizao de favelas e cortios. No deixa de ser fundamental, entretanto, rever a qualidade da prpria unidade habitacional, assim como do conjunto habitacional como um todo, para prevenir o surgimento de epidemias muito comuns em cortios e em favelas, devido s parcas condies ambientais em que se encontram. Eva Blay, em seu livro Eu No Tenho Onde Morar, destaca duas razes principais para a existncia de epidemias: a topografia e as condies de concentrao de populao nos locais em que encontra facilidades para viver (BLAY, 1985, p. 66). Seus estudos focalizam 65 cortios,

predominantemente em condies insalubres, organizados de diferentes maneiras. Essa qualidade ambiental to louvada prende-se s caractersticas de topografia e movimentao de terra, drenagem e insolao propostos pelo projeto do conjunto habitacional, por exemplo, mas tambm dada pelo padro dos espaos abertos e respectivos detalhes de projeto e construo. Os padres que deveriam impor qualidades, tanto unidade habitacional como ao assentamento em si, por vezes no so atingidos porque a seleo de material de baixo custo tem levado a uma rpida deteriorao das obras e ausncia de manuteno da qualidade. Essa anlise vale tambm para a infra-estrutura, que na grande maioria dos casos no implantada, embora haja leis expressas determinando que a venda de qualquer lote urbano s seja aprovada quando o loteamento j tiver construdo a infraestrutura prevista e aprovada pelo municpio. Outras consideraes podem ser feitas em torno da qualidade dos padres da construo, em funo das polticas pblicas que dem apoio financeiro aos muturios. Estes necessitam de fiscalizao rigorosa da construo, para que os materiais no sejam alterados, nem os traos de concreto e tipos de argamassa. Todo cuidado pouco quando se trata de conseguir qualidade de construo a custos acessveis! Esses aspectos so peculiares, de um modo geral, para toda a Amrica Latina, com maior ou menor grau de adoo de medidas mitigadoras por parte dos poderes

15

1

FOLHA DE S. PAULO. Programa de cortios tem primeira licitao. 10-Imveis, 25 jan. 1998, p. 2. 10-Imveis

Estrutura e metodologia da pesquisa

pblicos em relao aos efeitos nocivos oriundos de habitaes de qualidade precria, em reas igualmente desfavorecidas em termos de sade ambiental (CARMONA; BLENDER, 1987). O subsdio para produzir uma casa barata, ou lotes semi-urbanizados, no tem sido suficiente para fixar a populao e lhe dar oportunidade de desenvolvimento e insero no mercado de trabalho. Ao contrrio, com todo o subsdio dado pelos governos, assistiu-se ao longo do tempo ao passa-se uma casa, semelhante ao passa-se o ponto comercial, com a diferena de que, neste caso, tratase da troca de local ou tipo de trabalho, e no primeiro, geralmente, de troca de um abrigo por dinheiro, obrigando assim o ex-muturio a voltar a morar embaixo da ponte e de novo engrossar a fila dos sem-teto. A produo de habitao barata, tambm associada a baixo custo, pode voltar-se ainda para a construo de uma habitao mnima, como preconiza Alexander Klein. Da a importncia dada tipologia da unidade habitacional e a seus agregados, nestes incluindo desde aspectos urbansticos como insolao, ventilao e coordenao modular at sistemas pr-fabricados (KLEIN, 1980, p. 31). Muitos programas pblicos foram feitos no Brasil, em particular, e na Amrica Latina, em geral, tendo como lema a moradia mnima que poderia, posteriormente, ser aumentada pelo prprio morador. De uma certa forma, esses programas perderam totalmente o controle urbanstico da rea do conjunto, porque os padres de espao permitidos foram, em geral, ultrapassados, construindo-se em expanso, em altura, na frente e nos fundos da obra original, o que, em muitos casos, levou formao de uma favela incentivada por programas governamentais. E o problema ambiental de insalubridade cresceu. Claro que a tese da

habitao mnima supunha que a uma reduo na dimenso da unidade corresponderia um aumento proporcional nos equipamentos e nas reas livres. Mas a prtica dessa teoria no levou a resultados satisfatrios nem para um nem para outro desses aspectos. Alguns projetos mostram-se ser um desastre, como coloca Oscar Newman, pois, se o plano geral, incluindo as reas verdes e de recreao, for dissociado de todas as unidades, tem-se falta de segurana. Muito rapidamente haver garrafas, vidros e lixo por toda parte. As caixas de correio sero vandalizadas. Corredores, hall de entrada, elevadores e escadas sero lugares perigosos para as pessoas passarem, estaro cobertos de grafite e sujos com lixo e dejetos humanos (NEWMAN, 1996). Os espaos pblicos ou reas verdes do conjunto ficam logo vandalizados. Os apartamentos em si, embora modestos, so primorosamente tratados. Por que essa diferena brutal de comportamento dos moradores se os espaos abertos tambm so parte das habitaes? A nica resposta que se pode encontrar para essa pergunta a que muitos estudiosos na Holanda, na Inglaterra e nos Estados Unidos, destacando o prprio Oscar Newman, tm a oferecer: os moradores mantm controladas, unicamente, aquelas reas que so claramente demarcveis e identificveis como sua propriedade. Da observar-se praticamente a ausncia de manuteno dos espaos exteriores em conjuntos habitacionais populares (NEWMAN, 1996, p. 19). O mesmo autor revela recente pesquisa feita em Pelotas, Brasil, por Medvedovski, que mostra que as indefinies da propriedade e, conseqentemente, de responsabilidades sobre esses espaos coletivos fazem que estes se encontrem abandonados ou

16

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

privatizados, neste ltimo caso, por uma apropriao indevida de alguns usurios do conjunto (MEDVEDOVSKI, 1997). Talvez o bom urbanismo e conseqente desenho urbano no sejam suficientes para assegurar bons ambientes residenciais, que necessitam, para tanto, do cuidado contnuo dos moradores. Talvez seja por isso tambm que se tem procurado fazer que os projetos evitem ter corredores compartilhados por muitas habitaes, o mesmo podendo ser dito quanto aos halls de entrada e elevadores. Essas reas compartilhadas no inspiram a identidade e o respeito dos moradores, e muito menos lhes evocam a necessidade de cuidar de sua manuteno e conservao. Tornam-se espaos pblicos annimos, terra de ningum, onde tudo possvel, desde o vandalismo at o crime, e certamente a sujeira, que propicia a propagao de doenas. Por outro lado, a apropriao de certos espaos pblicos por alguns moradores, resultado da privatizao (pois esta supe a transmisso da posse da rea, o que no ocorre, mas sim uma usurpao indevida) faz que esses espaos sejam moldados segundo as necessidades desses poucos usurpadores, que modificam o projeto original, sem qualquer sano, seja por parte do poder pblico responsvel, seja por parte daqueles moradores que foram deixados margem, vendo seus direitos serem violados. Como projetar e construir conjuntos habitacionais saudveis, com nveis mnimos de habitabilidade e

segurana, onde as crianas possam ir e vir sem se sentirem ameaadas por intrusos ou pelos fora-da-lei? 1.2 Desenvolvimento e habitao Pelos clculos do Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA) 2 , a oferta de vagas de emprego na indstria tenderia a aumentar em mbito nacional durante 1997. As previses da Confederao Nacional da Indstria eram as de que haveria, em 1997, um crescimento da indstria brasileira ao redor de 22%, de forma que ela voltaria a ser competitiva e teria um crescimento mais homogneo que o do ano anterior. Esse crescimento, claro, iria variar conforme o tipo de indstria. As expectativas so de que o setor da Construo Civil venha a absorver mais mo-de-obra, principalmente devido a projetos de infra-estrutura, em fase de aprovao no Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES)3 . Entretanto, tal crescimento pode variar de acordo com a regio e o local. Trata-se, portanto, de estimativas de empregos formais no chamado setor secundrio da economia. A par deste, o emprego do setor informal (tabela 1) vem aumentando significativamente sua participao, oculta, no equilbrio do desenvolvimento, em todas as regies do Brasil. Os dados que sero expostos a seguir so to expressivos em termos percentuais que, obrigatoriamente, demandam reflexo.

17

2 3

GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5. GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.

Estrutura e metodologia da pesquisa

Tabela 1 Perfil do emprego informal (por regies em %)Fonte: IPEA/Gazeta Mercantil de 03/02/97

Se os ltimos levantamentos e estimativas mostram um boom no emprego informal que praticamente atinge 50% da populao ocupada4 , a grande hiptese a se formular que h uma competitividade latente em muitos dos que ficaram desempregados, e essa energia tem sido dirigida, positivamente, para a adaptao a novas circunstncias ou para o incio de um negcio, ainda que informal. Panoramas como esse so descritos por pesquisadores e estudiosos da sociedade asitica, mostrando que l esse tem sido o caminho para o amadurecimento econmico, uma vez que o desenvolvimento tem mostrado que paulatinamente essas firmas, inicialmente informais, vo se inserindo no mercado formal, dando lugar a um novo

ciclo de empresas informais nascentes, e assim sucessivamente. A economia como um todo, porm, acaba por se fortalecer, o que resulta em desenvolvimento5 . Talvez o fenmeno aqui no Brasil, por ter-se acentuado s recentemente, no permita admitir-se semelhante concluso. Ainda mais quando dados levantados pelo IPEA mostram que a informalidade no Nordeste, onde j tradio e atinge cerca de 60% dos empregos, resultado da oferta de baixos salrios com carteira assinada, de maneira semelhante ao que ocorre no Rio de Janeiro, onde tambm predomina um informal precrio, como o da regio fluminense, com camels, vendedores de sanduches nas praias e empresas de fundo de quintal6 .

18

GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5. UNITED NATIONS. Centre for Regional Development. Habitat II, Dialogue 1: "How Cities Will Look in the 21st Century". Proceedings of Habitat II, Dialogue 1: II How cities will Look in the 21st Century, 4 June 1996, Istanbul, Turkey. 6 GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.4 5

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

J em So Paulo, comparativamente, pode-se dizer que o informal, que cresceu bastante de 1985 a 1995, se caracteriza por sua sofisticao, representada pela criao de empresas terceirizadas de servios de nvel superior, como advocacia, informtica e escritrios de consultorias. Esse grupo atingiu em 1995 cerca de 42,33% da populao ocupada, quando em 1985 representava 33,87%7 . Nesse cenrio informal, a indstria da construo tambm pode ser focalizada traando-se um paralelo com a previso dos empregos formais crescentes. Pode-se dizer que os dois mundos convivem lado a lado, ambos com peculiaridades bem definidas. Esse panorama de desenvolvimento, incluindo tanto setores formais como informais, leva a descortinarem-se aspectos habitacionais pertinentes a esse tipo de condio social e econmica. Em termos de domiclios particulares permanentes, verifica-se nacionalmente a existncia de cerca de 35 milhes de unidades. O Estado de So Paulo, por sua vez, com aproximadamente 8 milhes de domiclios, participa com 23,24% do total nacional, enquanto a regio metropolitana da Grande So Paulo atinge 11,40%, e o Municpio de So Paulo, 7,31%8 . No mbito do Estado de So Paulo, a participao da regio metropolitana atinge cerca de 49,27% do total

de domiclios do Estado, e o Municpio de So Paulo, aproximadamente 31,59%9 . As habitaes precrias, traando um paralelo com as formais, anteriormente mencionadas, vm aumentando consideravelmente. Entre 1988 e 1991, a Secretaria da Habitao do Estado de So Paulo, por intermdio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), construiu um total de 15.009 casas populares. Por outro lado, o registro dos cortios ou domiclios informais existentes em 1990 atinge cerca de 88 mil, abrigando aproximadamente trs milhes de pessoas10 . Finalmente, importante notar que as habitaes informais do tipo favelas cresceram cerca de 132% entre 1980 e 199111 . O Governo do Estado de So Paulo, atravs da CDHU, vem, entretanto, procurando diminuir os dficits encontrados por meio de programas especiais que abrangem as famlias de baixa renda. Todas elas, por sua vez, devem comprometer uma parte de seu salrio para o pagamento de sua habitao. Desse modo, as famlias com renda entre 1,0 e 3,0 salrios mnimos (SM) tm uma prestao mensal correspondente a 15% de seu salrio. Essa porcentagem cresce para os grupos seguintes, com renda familiar entre 3,1 e 5,0 SM, entre 5,1 e 8,5 SM ou entre 8,6 e 10,0 SM, que, respectivamente, devem comprometer cerca de 20%, 25% e 30% de sua renda na compra da casa prpria12 .

19

GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5. EMPLASA, Censo de 1991. 9 EMPLASA, Censo de 1991. 11 EMPLASA, Censo de 1991. 12 Regras Internas da CDHU, conforme SFH, para as duas faixas de maiores rendas familiares, enquanto para as duas de menor renda conforme a Lei ICMSHabitao.7 8

Estrutura e metodologia da pesquisa

Os programas habitacionais oferecidos pela CDHU so bastante amplos e diversificados, contando-se com cerca de nove tipos diferentes, cujas principais caractersticas podem ser vistas de forma resumida no quadro a seguir.

20

Quadro 1 Programa habitacional/CDHUFonte: Secretaria de Estado da Habitao/CDHU, 1997

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

Em termos de rea construda por unidade habitacional, pode-se dimension-la da seguinte maneira13 : (1) casa trrea isolada, de 36 a 46 m 2; (2) casa trrea geminada, cerca de 33,40 m2; (3) sobrado geminado, de 44 a 48,50 m2; e (4) apartamento, com 45 m2. Paralelamente aos programas habitacionais estaduais, observa-se que se renovam prdios do velho centro de So Paulo. H um grande nmero de proprietrios de edifcios na rea central que esto reprogramando-os, com novas instalaes eltricas, heliporto, sistema de automao predial e fibra ptica, fazendo toda uma modernizao que vem sendo conhecida como retrofit. Entre esses edifcios esto o Banco de Boston situado na rua Lbero Badar, o Banco Mercantil de Futuros (BMF), a prpria sede da Associao Viva o Centro e o edifcio Conde Prates14 . Essa modernizao predial vem sendo feita com firmas especializadas, muitas vezes em parcerias com empresas estrangeiras de arquitetura e engenharia. Esse o caso do Banco de Boston no edifcio New BKB. Outros edifcios vm fazendo sua modernizao seguindo um cronograma conforme o oramento disponvel, pois os investimentos so bastante altos. De sua parte, a Secretaria de Habitao do Municpio de So Paulo est incentivando a pintura externa dos edifcios da rea central, dando 50% de desconto sobre o imposto predial (IPTU) para os prdios que tiverem sua fachada pintada e, com patrocnio das

fbricas Ypiranga, recebem graciosamente as tintas15 . H, assim, um esforo conjunto da iniciativa privada com o poder pblico para renovar e manter o centro principal da cidade, por muitos conhecido como o corao da cidade. Outras intervenes de recuperao de edifcios histricos tambm vm sendo feitas nas reas centrais da metrpole. Por exemplo, recentemente houve a inaugurao, pelo Governador, da Estao Jlio Prestes como Centro Cultural, com salas de concerto e outras atividades afins. O prdio dos Correios, projeto do arquiteto Ramos de Azevedo, tambm foi alvo de um concurso pblico e ser modernizado, reformado, ampliado, passando igualmente a ser um espao cultural. Outros prdios pblicos das proximidades tambm vm recebendo especial ateno das autoridades estaduais, com o objetivo de renov-los, eventualmente modificando seu uso, e de, por exemplo, manter as fachadas pintadas. Alguns casos necessitam de restaurao tambm nas instalaes, banheiros, cozinhas e sadas de incndio16 . Com essas caractersticas, observa-se que, de um modo geral, a regio metropolitana de So Paulo ainda concentra um complexo parque industrial e produtivo, talvez a principal estrutura de servios de ponta do pas, o centro financeiro nacional, um alto nmero de profissionais qualificados e de mo-de-obra especializada. Isso permite regio desempenhar o papel de elo entre as economias

21

Secretaria de Estado da Habitao/CDHU, 1997. GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1. 15 GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1. 16 GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1.13 14

Estrutura e metodologia da pesquisa

internacionais globalizadas17. Do ponto de vista econmico, hoje, principalmente em conexo com as atividades internacionais globalizadas, a atividade terciria de ponta mantm-se concentrada na regio, sobretudo junto ao centro histrico, ao espigo da Avenida Paulista, ao corredor da Avenida Brigadeiro Faria Lima e na marginal do Rio Pinheiros, ao sul, tambm junto Avenida Berrini. A populao de renda alta acompanha os setores de ponta da economia, vindo a se instalar basicamente na regio sul e oeste da cidade, porm sempre intercalada por populaes de renda mais baixa (as de mdia renda buscando o exemplo das de alta, e as de baixa buscando situar-se tanto mais prximas dos servios quanto possvel). H assim, pode-se dizer, uma cidade fragmentada em termos de qualidade de vida, mas que se complementa, ainda que inconscientemente, em termos de atividades econmicas formais e informais. Por essas razes, verifica-se que desenvolvimento e habitao vm se expandindo conjuntamente, com maior ou menor qualidade, conforme o fragmento urbano a que correspondem.22

larga escala pelas companhias habitacionais nas regies metropolitanas brasileiras. 1.3 Estrutura bsica da pesquisa Tendo em vista a complexidade e as diversas variveis consideradas na avaliao do estudo de caso em questo, bem como o entendimento da necessidade de desenvolvimento ou de aperfeioamento de mtodos e tcnicas especficas para cada um dos problemas colocados, a pesquisa foi organizada em subreas de avaliao, a saber: - avaliao dos aspectos funcionais e das reas livres; - avaliao dos aspectos construtivos; - avaliao do conforto ambiental; - avaliao econmica; e - avaliao de equipamento comunitrio (escola). Constituindo-se em esferas independentes de pesquisa, embora com carter claramente interdisciplinar, esse tipo de estrutura propiciou um intercmbio bastante positivo entre instituies e entre as diferentes reas do estudo da arquitetura e do urbanismo. 1.4 Justificativas para o projeto1.4.1 Justificativas gerais

O objetivo deste trabalho focalizar as reas de habitao de baixa renda que vm recebendo insumos do CDHU, sobretudo aquela modalidade de Empreitada Global (ver Quadro 1) para o caso da tipologia em H de edifcios de apartamentos, via de regra repetidos em

APOs sistemticas decorrentes deste projeto de pesquisa iro colaborar para o avano dos aspectos a seguir apontados.

CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo - Superintendncias de Desenvolvimento Social, de Planejamento e Controle e de Projetos. "Documento Elaborado por Ocasio da Visita do Especialista Holands Dr. Theo van der Voordt", julho de 1996. "A Regio Voordt" Metropolitana tem 8.015 km2 de rea e compe-se de 39 municpios, dos quais 22 tm suas reas urbanas conurbadas, constituindo uma aglomerao contnua, que mede sua maior dimenso, no sentido lesteoeste, 90 km".17

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

As normas descritivas so muito mais conhecidas do que as normas de desempenho relacionadas ao comportamento das edificaes durante o uso. As normas relativas s avaliaes e percias so em nmero muito reduzido. A norma relativa a manuteno, NBR 5674 Manuteno de Edificaes, sumria e est sendo revisada e complementada com a preparao de procedimentos para a elaborao do Manual do Usurio. Esse um aspecto importante, sobretudo no caso de conjuntos habitacionais, onde os moradores no tm recursos para implementar programas de manuteno corretiva, extremamente onerosa, entendendo-se que os custos de manuteno anuais mdios podem atingir percentuais superiores a 3%, em especial nas tipologias edificadas em questo. O Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (consumidor aqui entendido desde o engenheiro, o arquiteto, o construtor at o usurio final) e o Manual do Profissional elaborado pelo CREA, embasado no primeiro, so pouco conhecidos ou adotados pelos profissionais da rea, apesar do Convnio CREA PROCON e da existncia de aes legais coletivas por parte dos moradores de conjuntos habitacionais junto ao Ministrio Pblico diante do desempenho inadequado das unidades e/ou da infra-estrutura urbana. A NBR 9050/94 Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficincias a Edificaes, Espaos, Mobilirio e Equipamentos Urbanos est tambm prevista na Constituio de 1988, no caso dos edifcios pblicos, mas praticamente ignorada no caso dos conjuntos habitacionais de interesse social.

1.4.2 Justificativas especficas

De modo mais especfico, esta pesquisa justifica-se, em primeiro lugar, pelos Resultados Esperados constantes deste projeto e, em segundo lugar, pelos pontos a seguir abordados. Existe grande demanda de informaes sobre a aplicao da APO em conjuntos habitacionais passveis de serem adotados em outras regies brasileiras por parte de rgos pblicos e privados, e escolas de arquitetura, engenharia, profissionais, fabricantes de materiais e componentes, e daqueles que os comercializam. O NUTAU/USP, devido experincia acumulada e infra-estrutura bsica disponvel, atrelada da FAUUSP, possui condies de transferir esses conhecimentos aos outros agentes interessados nessa ferramenta de controle de qualidade, adotando, inclusive, veculos de difuso em massa, tais como o vdeo. H necessidade de se estabelecerem rotinas de avaliao de programas sociais, particularmente no caso de conjuntos habitacionais, que possam gerar diretrizes de projeto, as quais levam em considerao o desempenho fsico dos ambientes no decorrer do uso e as necessidades e nveis de satisfao dos moradores. H necessidade de se reduzirem custos de manuteno, aumentando o controle de qualidade sobre os processos de produo e uso de ambientes construdos, a partir da reduo de falhas j na fase de projeto. 1.5 Objetivos especficos De modo especfico, objetiva-se apresentar procedimentos metodolgicos de APO referentes aos seguintes aspectos:Estrutura e metodologia da pesquisa

23

24

a) socioeconmicos: origem, tempo de moradia, tamanho e composio familiar; nveis de renda; consumo de energia; consumo individual e coletivo; faixa etria; nvel de escolaridade; atendimento demanda de escolas e hospitais; sociabilidade; situao do conjunto habitacional em relao ao bairro; entre outros; b) infra-estrutura, superestrutura urbana e reas livres em geral: disponibilidade de comrcio e servios; distncia dos edifcios/habitaes ao transporte coletivo; estacionamento de veculos em reas pblicas; rede de iluminao pblica; distribuio fsico-espacial dos pontos de nibus, dos equipamentos de sade, educao, dos espaos de recreao, lazer e comunitrios; distribuio estimada do comrcio e dos servios formais e informais; de reas pblicas, comunitrias e caladas; distribuio fsico-espacial de telefones pblicos e caixas de correio; segurana contra crimes nas reas pblicas do conjunto; segurana contra incndio no conjunto (acessibilidade, combate); entre outros; c) avaliao da satisfao dos usurios: abrange uma amostra de edifcios e de suas unidades habitacionais, do edifcio escolar mais prximo e das reas livres (praas) ou similares. Inclui, no caso das edificaes/ unidades habitacionais, os seguintes aspectos: aspecto visual; densidade ocupacional do edifcio versus conforto psicolgico individual e grupal (privacidade/territorialidade); possibilidade de interveno no apartamento versus adaptao ao uso; identificao dos moradores com o edifcio e suas reas comuns (manuteno/ tratamento paisagstico); espaos e equipamentos qualificados e informais para convivncia social, recreao e lazer para crianas, jovens, adultos e idosos; condies de estacionamento em reas comuns dos edifcios;

segurana contra crimes nas reas comuns dos edifcios; nvel organizacional dos moradores para intervir ou implementar programas coletivos de manuteno; e outros. Neste item, sero tambm contemplados alguns aspectos bsicos de uma avaliao esttica a partir do ponto de vista do usurio; d) avaliao do(s) sistema(s) construtivo(s): abrange uma amostra de edifcios e unidades habitacionais e do edifcio escolar mais prximo e das reas livres (praas). Inclui, no caso das edificaes/unidades habitacionais, os seguintes aspectos: implantao/movimento de terra; infra-estrutura; superestrutura; alvenaria; cobertura e forros; pisos; revestimentos; caixilhos; vidros; pintura; impermeabilizao; louas; metais; instalaes hidrossanitrias; instalaes eltricas e telefonia; guas pluviais; instalaes de gs; segurana contra fogo; segurana de utilizao; paisagismo; intervenes/usurios; patologias em geral; entre outros; e) avaliao funcional: abrange uma amostra dos edifcios e de suas unidades habitacionais, de um edifcio escolar mais prximo e das reas livres (praas). Inclui, no caso das edificaes/unidades habitacionais, os seguintes aspectos: integrao do uso residencial com outros usos; tratamento paisagstico das reas comuns do edifcio; circulao vertical externa; nmero de pavimentos do edifcio versus adequao escala humana; flexibilidade/arranjo espacial do apartamento; facilidade de manuseio/limpeza das janelas; facilidade de abertura de portas a 90 em funo do espao de utilizao; rea til do apartamento/morador; rea til do dormitrio, rea til da sala, rea til da cozinha; rea til de servio; rea til do banheiro/lavatrio, p-direito; circulao/ integrao entre cmodos no apartamento; adequao

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

ao uso/equipamento/mobilirio/intensidade de sobreposio de tarefas; rea til/rea construda do apartamento; adequao e acessibilidade dos deficientes fsicos aos apartamentos; entre outros; f) avaliao energtica e do conforto ambiental: abrange uma amostra dos edifcios e de suas unidades habitacionais, do edifcio escolar e das reas livres (praas). Inclui, no caso das edificaes/unidades habitacionais, avaliaes especficas para cada tipo de cmodo, destacando-se: f.1) iluminao natural: tipo de abbada celeste; caractersticas do entorno do edifcio, considerando-se, inclusive, obstrues; tarefa e campo visual; nvel de iluminncia; abertura; caractersticas do ambiente interno; f.2) consumo de energia; f.3) acstica arquitetnica: fontes de rudo; atividades; nveis mximos aceitveis de intensidade sonora; reverberao; caractersticas e desempenho de materiais e componentes; f.4) conforto higrotrmico: caractersticas climticas e do entorno; atividades do ambiente; caractersticas dos ambientes; orientao; insolao; caractersticas e desempenhos de materiais e componentes; f.5) ventilao: implantao urbana; distncia entre edifcios; direo predominante dos ventos; dimenso e tipologia das aberturas; arranjo espacial da unidade e desempenho de cada ambiente e da unidade habitacional como um todo; e g) avaliao econmico-funcional: abrange uma anlise de custos versus benefcios dos edifcios e unidades habitacionais, e leva em considerao as principais sugestes ou melhorias implementadas pelos moradores, tais como modificaes do mobilirio, aumento da rea construda, alteraes das instalaes hidrulicas e eltricas, mudana nos acabamentos, entre outras.

2 Avaliao ps-ocupao (APO)2.1 Formulao do problema e conceituao de APO O termo qualidade conceituado como os aspectos do produto ou servio que satisfazem as necessidades do usurio, ou seja, est associado claramente (inclusive no caso dos produtos da Construo Civil) ao desempenho satisfatrio dos ambientes e das relaes ambiente & comportamento (RAC). A preocupao com a qualidade na Construo Civil bastante antiga, tanto que h 4.000 anos o Cdigo de Hamurabi, na Mesopotmia, j estipulava cinco regras para prevenir defeitos nos edifcios. Atualmente, apenas uma parcela dos pases desenvolvidos possui indicadores sobre a origem dos problemas patolgicos nas construes. Em pases como a Blgica, a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca, de 36% a 49% das patologias encontradas durante o uso de um imvel so decorrentes de falhas de projeto, seguidas de 19% a 31% de patologias com origem na execuo. Tem-se conhecimento tambm de que a baixa qualidade da mode-obra, no caso brasileiro, implica percentuais ainda mais elevados de falhas na etapa de execuo. Por outro lado, nesta dcada tem aumentado consideravelmente o nmero dos estudos sobre qualidade, na forma de eventos e pesquisas, junto aos setores produtivos, sobretudo aqueles relacionados srie ISO 9000 (no Brasil NB 9000), ou seja, a propsito da Gesto da Qualidade, tendo em vista a reduo, por um lado, dos custos das falhas durante a produo e uso, e, por outro, dos custos de qualidade.Estrutura e metodologia da pesquisa

25

Embora uma parcela significativa das falhas ocorra na etapa de projeto (entendendo-se aqui que a produo e o uso de ambientes construdos incluem as etapas de projeto, construo, fabricao de materiais e componentes, uso, operao e manuteno), ou seja, naquela de menor custo, os programas de qualidade no Brasil esto, no momento, mais voltados execuo e fabricao de materiais e de componentes, visando ao aumento de produtividade da mo-de-obra e reduo de desperdcios. So ainda poucas as empresas de consultoria e construtoras que conhecem ou que j implementaram programas de controle de qualidade da etapa de projeto, sendo, por conseguinte, poucos os arquitetos e os engenheiros e outros profissionais projetistas que tm experincia sobre o assunto. Via de regra, s se leva em considerao o fator qualidade quando se pretende atender o cliente externo, contratante, e raramente se tem em vista o cliente usurio final ou morador. Essa aplicao parcial do conceito de qualidade (quando ocorre) acaba apresentando um impacto socioambiental ainda maior, quando se trata de conjuntos habitacionais de baixa renda.26

em prtica por meio da metodologia de APO. A APO, portanto, diz respeito a uma srie de mtodos e tcnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da anlise de fatores socioeconmicos, de infra-estrutura e superestrutura urbanas dos sistemas construtivos, conforto ambiental, conservao de energia, fatores estticos, funcionais e comportamentais, levando em considerao o ponto de vista dos prprios avaliadores, projetistas e clientes, e tambm dos usurios. Mais do que isso, a APO se distingue das avaliaes de desempenho clssicas formuladas nos laboratrios dos institutos de pesquisa, pois considera fundamental tambm aferir o atendimento das necessidades ou o nvel de satisfao dos usurios, sem minimizar a importncia da avaliao de desempenho fsico ou clssica. Nesse sentido, a APO tem grande validade ecolgica, pois faz anlises, diagnsticos e recomendaes a partir dos objetos de uso, in loco, na escala e tempo reais.

No Brasil, de um modo geral, pontos importantes implcitos em sistemas de controle de qualidade, tais como manuteno e defesa do consumidor, no esto sendo levados em conta pelos profissionais, devido ao desconhecimento do que ocorre no ambiente construdo (seja este edificado ou rea livre) no decorrer do uso, no que se refere tanto ao desempenho fsico quanto satisfao do usurio, ou, ainda, no que se refere ao atendimento das suas necessidades. O levantamento, a anlise e as recomendaes extradas desses dados, que visam realimentar o prprio estudo de caso bem como futuros projetos, so um instrumental de controle de qualidade que pode ser colocado

Figura 1 Esquema da APO

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

A APO passa a ser ainda mais relevante no caso de programas de interesse social, tais como os conjuntos habitacionais, nos quais, no caso brasileiro, nas ltimas dcadas, tm-se adotado solues urbansticas, arquitetnicas e construtivas repetitivas em larga escala, para atender uma populao, via de regra, muito heterognea, cujo repertrio cultural, hbitos, atitudes e crenas so bastante distintos j no prprio conjunto, e mais ainda em relao aos projetistas. No caso dos fatores positivos, estes devem ser cadastrados e recomendados para futuros projetos semelhantes; no caso dos fatores negativos encontrados, so definidas recomendaes que: - minimizem ou at mesmo possibilitem a correo dos problemas detectados no prprio ambiente construdo submetido avaliao, por meio do estabelecimento de programas de manuteno fsica e da conscientizao dos usurios/moradores da necessidade de alteraes comportamentais, tendo em vista a conservao do patrimnio pblico (praas, escolas, etc.), semipblico (reas condominiais) ou privado (a prpria unidade habitacional); e - utilizem os resultados dessas avaliaes sistemticas e interdisciplinares, embasadas em pesquisas aplicadas a estudos de caso, para realimentar o ciclo do processo de produo e uso de ambientes de futuros projetos com a formulao de diretrizes, contribuies para normas existentes e outros. 2.2 A APO nos campos internacional e nacional e a APO aplicada a conjuntos habitacionais No campo internacional, os multimtodos de APO vm sendo adotados por psiclogos ambientais norte-

americanos h mais de 40 anos, visando aferir em que medida o desempenho dos ambientes influencia o comportamento humano e vice-versa. Tanto na Europa como nos EUA, a partir do PsGuerra, sobretudo a partir da dcada de 60, equipes interdisciplinares constitudas por arquitetos, engenheiros, gegrafos, paisagistas, antroplogos, psiclogos e outros comeam a avaliar os resultados da arquitetura moderna de massa, especialmente no caso dos grandes conjuntos habitacionais. Alm dos aspectos especficos do desempenho fsico das edificaes, iniciam-se os estudos sobre padres culturais, privacidade, territorialidade, personalizao, apropriao, segurana, apropriao, faixa etria com nfase no usurio dos ambientes. Levantamentos internacionais no campo das relaes Ambiente Construdo - Comportamento Humano (SAARINEN, 1995) indicam que at 1985 havia cerca de 2.950 pesquisadores nessa rea, distribudos em sua maioria nos EUA e no Canad, e apenas 2,2% (65) na Amrica Latina, especialmente no Mxico. Fica, portanto, demonstrada a carncia de consultores e pesquisadores na rea, notadamente na Amrica do Sul. No Brasil, estimase que existam hoje menos de 30 pesquisadores docentes e ps-graduandos nesse campo, podendo-se dizer que em So Paulo o centro gerador de conhecimentos sobre o assunto bem como de formao de pessoal o NUTAU USP/FAUUSP, em So Paulo. Desde a dcada de 60, portanto, passa-se a verificar a relevncia da aplicao da APO como mecanismo realimentador de controle de qualidade ou de desenvolvimento de projetos complexos e/ou populaes especiais (ex.: aeroportos, shopping centers, ginsios de esportes, hosEstrutura e metodologia da pesquisa

27

pitais, asilos, estabelecimentos penais, parques) e/ou implementados em larga escala e repetitivamente (ex.: conjuntos habitacionais, escolas, postos de sade). Iniciam-se, assim, de forma sistemtica, as pesquisas sobre o desempenho fsico dos ambientes voltadas para a qualidade destes, ou seja, para o atendimento s necessidades dos usurios. Pode-se destacar, por exemplo, a atuao de Gerard Blachre junto ao Centre Scientifique et Technique du Btiment (CSTB), que publica em 1966 a obra Savoir-Batir-Habitabilit-Durabilit-Economie des Btiments (Editions Eyrolles). Entre outros trabalhos na rea, historicamente importantes, tem-se a obra de BOUDON (1972), intitulada Lived in Architecture, que avalia o conjunto habitacional Pessac, prximo a Bordeaux, Frana, projetado por Corbusier na dcada de 20. Na GrBretanha, destaca-se a fundao, em 1967, do Building Performance Research Unit (BPRU), que objetivava o desenvolvimento sistemtico de procedimentos empricos para a avaliao de edifcios como parte integrante do processo projetual. Ainda entre os pesqui-sadores ingleses, destaca-se David Canter, que em 1970 publica a obra Architectural Psychology.28

associao, podem ser destacados Robert B. Bechtel, Richard Wener, Wolfgang F. E. Preiser, Christopher Alexander, Claire Cooper Marcus, Amos Rapoport, Robert Sommer e Denise Lawrence. Atualmente, a EDRA tem como associados mais de 300 pesquisadores (entre estes, acredita-se que no mais do que 15 so brasileiros, concentrados principalmente no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em So Paulo). Destaca-se que ocorreu, no caso dos EUA, o boom das avaliaes dos programas sociais, e at 1978 Bechtel e Srivastrava contabilizaram mais de 1.500 APOs aplicadas em conjuntos habitacionais. No Brasil, deve-se destacar, no perodo de 1972 a 1987, o desenvolvimento de pesquisas na linha da APO realizadas no Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT) do Estado de So Paulo e, em anos recentes, por grupos emergentes, tais como aqueles existentes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; no Ncleo Orientado para a Inovao da Edificao (NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco; no Grupo de Estudos Pessoa-Ambiente (GEPA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e no Laboratrio de Psicologia Ambiental da Universidade de Braslia, alm de algumas atividades nesse campo realizadas pela empresa particular Centro de Tecnologia de Edificaes (CTE), com sede na cidade de So Paulo. Porm, o NUTAU/USP que hoje abriga os pesquisadores da FAUUSP na rea e que possui, provavelmente, a mais longa e sistemtica experincia nessa rea no Brasil.

Nos ltimos 15 anos, os estudos voltados s relaes Ambiente & Comportamento (RAC) na Europa esto abrigados na International Association for People Environment Studies (IAPS). Nos EUA, a APO e os estudos das RACs comeam a se consolidar, em especial, a partir da fundao da Environmental Design Research Association (EDRA), em 1969, que passa a congregar pesquisadores de campos distintos, buscando o desenvolvimento de projetos conjuntos e interdisciplinares. Entre os pesquisadores dessa

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

3 O estudo de caso3.1 O distrito de So Lus De acordo com relatrio elaborado pela CDHU18 , o municpio de So Paulo, no qual se localiza o Conjunto Habitacional Jardim So Lus, tem 1.509 km de rea, 10,2 milhes de habitantes e densidade demogrfica de 67,2 habitantes/hectare. A rea urbanizada compreende 45.970 logradouros, com cerca de 16.000 km de extenso. Embora a regio metropolitana de So Paulo seja a principal rea urbana do Brasil, da qual a cidade de So Paulo (Figura 2) o centro populacional e econmico, sua populao vem sofrendo decrscimo na sua renda salarial. A zona central e expandida da cidade concentra uma populao cuja renda mdia do chefe da famlia est entre 12 e 20 salrios mnimos, enquanto a mdia do municpio de sete salrios mnimos; nas regies perifricas da zona leste, de trs salrios mnimos. A queda na renda das famlias est sendo acompanhada pelo acrscimo de famlias residindo em habitaes subnormais. Dados estimados revelam que cerca de dois milhes de habitantes residiam em favelas em 1993, e 1,5 milho em cortios. Outros ndices sociais significativos do municpio so os seguintes: - atendimento de 95% da demanda de abastecimento de gua;

- atendimento de 75% da demanda da rede coletora de esgoto; - ndice de mortalidade infantil de 23,39 por 1.000 nascimentos vivos; - taxa de alfabetizao de 7 a 10 anos de 84,8% e de 11 a 14 anos de 97,6%.

29

Figura 2 Localizao do Conjunto Habitacional na cidade de So PauloFonte: CET, TTC, CDHU, SUPE e SEMPA apud PREFEITURA MUNICIPAL DE SO PAULO. Proposta do Plano Diretor de SP para transportes, apud PREFEITURA MUNICIPAL DE SO PAULO, s.d.

COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO ESTADO DE SO PAULO - CDHU. Subsdios avaliao ps-ocupao dos empreendimentos Jardim So Lus e Vila Slvia, por ocasio da visita do especialista holandes Dr. Theo Van der Voordt em So Paulo. CDHU, 1996.18

Estrutura e metodologia da pesquisa

O Jardim So Lus, no qual se localiza o Conjunto Habitacional Jardim So Lus, constitui-se em parte da Administrao Regional (AR) de Campo Limpo, na zona sudoeste da cidade. O distrito de So Lus, desmembrado de Santo Amaro e de Capela do Socorro, tem uma rea de 24,7 km e uma populao de 204.284 habitantes, com taxa geomtrica de crescimento anual (TGCA) de 2,0%. A faixa etria dos habitantes do distrito constituda por 43,1% at 19 anos, 30,2% de 20 a 34 anos e 4,0% de 60 anos ou mais. O censo de 1991 registra a existncia de 55.426 domiclios particulares, sendo 91,8% ocupados. Em relao infra-estrutura, a rede de abastecimento de gua atendia 98,4% dos domiclios, e a rede de esgoto, 75% dos domiclios, com coleta de lixo atendendo 93% dos domiclios19 . O Conjunto Habitacional Jardim So Lus dista 17 km do centro da cidade de So Paulo, e o acesso pode ser feito a partir da Marginal do Rio Pinheiros, na altura da Avenida Joo Dias, direita, prximo ao Centro Empresarial, ou a partir da Praa da S, por meio de nibus urbano. Em termos habitacionais, a AR de Campo Limpo apresentava 67.826 favelas, abrangendo 84.861 moradores e 1.563 cortios, com 21.410 moradores em 1993, segundo dados da SEHAB/FIPE. Em relao renda familiar, os dados da Sempla/ 92 registram que 62,2% das famlias do distrito de So Lus apresentam renda de at oito salrios mnimos, enquan-

to o Censo 91 registrava 63,45% dos chefes de domiclio com renda de at cinco salrios mnimos e 6,7% sem rendimentos. A Figura 2 localiza o Conjunto Habitacional Jardim So Lus na rea na qual ele est inserido. 3.2 O empreendimento O empreendimento habitacional da CDHU no distrito de So Lus est subdividido em Jardim So Lus I e II, tambm denominados Campo Limpo A e C. O Jardim So Lus II (Campo Limpo C), que possui 573 unidades habitacionais, foi comercializado em 7 de abril de 1993. O empreendimento Jardim So Lus I (Campo Limpo A) foi proposto para um total de cinco fases, num total de 1.728 unidades habitacionais, com prdios de quatro pavimentos, parte no sistema de empreitada global (EG) e parte em mutiro (Unio dos Movimentos de Mutires UMM). A fase A1, com 416 apartamentos, foi comercializada em duas etapas: 160 UH em 16 de dezembro de 1993 e 256 UH em 29 de setembro de 1994. A fase A2, com 480 apartamentos, tambm foi comercializada em duas etapas: 320 UH em 25 de novembro de 1994 e 160 UH em 22 de dezembro de 1995. As outras fases, A3 (160 UH/UMM), A4 (384 UH/EG) e A5 (288 UH/EG), foram inauguradas no decorrer de 1998 (Figura 3).

30

COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO ESTADO DE SO PAULO - Jardim So Lus I e II e os equipamentos sociais do entorno. So Paulo: CDHU, 1996.19

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

Desse primeiro cadastramento foram apurados os seguintes dados: - populao total de 24.369 pessoas; - 19,6% das famlias eram conviventes; - 46,7% dos componentes com at 17 anos, com populao demandante de creches e pr-escolas representando 21,1%; - 62,1% dos chefes de famlia tinham at 35 anos, e chefes com mais de 50 anos eram 6,4% do total; - 23,5% das famlias se encontravam na faixa de at trs salrios mnimos mensais, das quais 1,8% atingiam um salrio mnimo; 30,2% se encontravam na faixa de mais de trs a cinco salrios mnimos, 36% na de mais de cinco a dez salrios mnimos, e 1,2% na de mais de dez salrios mnimos. Em 1992, foram cadastradas 275 famlias para o mutiro, sendo 153 titulares, das quais 28,74% se encontravam na faixa de renda familiar de um a trs salrios mnimos, 53,56% na faixa de mais de trs a cinco salrios mnimos e 17,70% na faixa de mais de cinco a dez salrios mnimos.Figura 3 Implantao geral do empreendimento Jardim So Lus

3.2.1 Populao atendida

Para o empreendimento do Jardim So Lus I e II foram cadastradas 6.308 famlias de 12 associaes da Zona Sul, entre junho e dezembro de 1990. Parte dessas famlias foi conduzida para outros empreendimentos.

No empreendimento Jardim So Lus I houve destinao de 160 UH para famlias removidas de rea de risco do Parque Otero, cujas 162 famlias cadastradas eram compostas em mdia de 4,4 pessoas, sendo 35% na faixa de 18 a 35 anos, 21% na faixa de 7 a 14 anos; 52% auferiam renda familiar de um a trs salrios mnimos mensais e 24% estavam na faixa de mais de trs a cinco salrios mnimos. As famlias realmente habilitadas apresentam perfil de renda familiar de acordo com os dados organizados na Tabela 2.Estrutura e metodologia da pesquisa

31

Tabela 2 Dados comparativos do perfil de renda das famlias habilitadas no empreendimento Jardim So Lus I

3.2.2 Equipamentos sociais da vizinhana 32

Pelo estudo realizado pelo CDHU, constata-se que a regio da AR de Campo Limpo carente em quase todos os servios e equipamentos da rea social, principalmente no atendimento s crianas nas creches e nas prescolas e no atendimento de sade. Quanto questo da habitao, existem implantados na mesma rea outros empreendimentos para habitao de interesse social, edificaes unifamiliares autoconstrudas, cortios e favelas (Foto 1).

Foto 1 Vista parcial do entorno diferentes tipologias para habitao de interesse social

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

A rea do distrito bastante extensa, por isso a existncia dos equipamentos no suficiente para garantir o acesso e a utilizao efetiva pelos moradores do conjunto habitacional, pois h dependncia de transporte entre o local de moradia e o local dos equipamentos. Entre o Jardim So Lus I e II existe um cemitrio que ocupa parte da poro norte e leste do entorno do Jardim So Lus I, o que sem sombra de dvida limita a implantao de edificaes e, conseqentemente, de equipamentos sociais nessa parte do entorno. A seguir, apresenta-se uma sntese sobre os equipamentos sociais existentes no distrito e no entorno do conjunto, poca da pesquisa, conforme levantamento da CDHU.3.2.2.1 Equipamentos de bem-estar social

1.548, em 17 centros de juventude conveniados, atendendo somente 6,04% da demanda no distrito, muito abaixo da mdia municipal, mas ainda um pouco melhor que a mdia da AR de Campo Limpo, com nvel de atendimento de 4,38%. Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situa-se um centro de juventude; entre 500 metros e um quilmetro situa-se um centro de juventude; entre um e 1,5 quilmetro situam-se seis centros de juventude. Ou seja, o maior nmero de centros de juventude situa-se nas reas mais distantes do conjunto habitacional, dificultando o acesso dos jovens.3.2.2.2 Educao

Creches (atendimento de crianas de at 3 anos e 11 meses de idade) A oferta de vagas no distrito Jardim So Lus de 2.750, em 29 creches da rede direta, indireta e conveniada, atendendo apenas 14,3% da demanda, equivalente mdia do municpio, e apresentando um dficit de 14.520 vagas (121 creches-padro para 120 crianas). Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situam-se duas creches; entre 500 metros e um quilmetro situam-se oito creches; entre um e 1,5 km situam-se 11 creches. Ou seja, o maior nmero de creches situa-se nas reas mais distantes do conjunto habitacional, dificultando o acesso das crianas de menor idade. Centros de juventude (atendimento de crianas e adolescentes de 7 a 14 anos) A oferta de vagas no distrito Jardim So Lus de

Educao infantil O atendimento infantil de pr-escola realizado por meio das Escolas Municipais de Educao Infantil (EMEIs) da rede municipal, estadual e particular. No distrito Jardim So Lus, a oferta de 3.779 matrculas em 16 escolas, com atendimento de 18,4% apenas, apresentando um dficit de 16.808 vagas em 20 escolas. O atendimento fica abaixo da mdia da AR e bem abaixo do nvel dos outros distritos. Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situa-se uma EMEI; entre 500 metros e um quilmetro situam-se duas EMEI; entre um e 1,5 quilmetro situam-se quatro EMEI. Ou seja, o maior nmero de EMEI situa-se nas reas mais distantes do conjunto habitacional, dificultando o acesso das crianas. Educao de 1 e 2 graus A educao de 1 e 2 graus atendida em escolas da rede municipal e estadual. No distrito Jardim So Lus, a oferta de 41.554 vagas em 34 escolas, mas atende apenasEstrutura e metodologia da pesquisa

33

95,4% da demanda, havendo um dficit de 2.001 vagas. A rede pblica funciona na base da superutilizao, com quatro ou cinco turnos dirios, o que no garante ao aluno, sequer, o mnimo de quatro horas de aula por dia, prejudicando em muito a qualidade do ensino pblico. Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situam-se duas Escolas de Primeiro Grau, uma municipal (EMPG) e uma estadual (EEPG), e uma EMPG com pr-escola; entre 500 metros e um quilmetro situam-se trs EMPG, seis EEPG e EMPG e uma Escola Municipal de Primeiro e Segundo Graus (EMPSG); entre 1 e 1,5 quilmetro situam-se trs EMPG, cinco EEPG, cinco EEPSG e uma EEPG com pr-escola. Ou seja, o maior nmero de equipamentos de educao situa-se nas reas mais distantes do conjunto habitacional, dificultando o acesso das crianas e dos jovens.3.2.2.3 Sade

moradores do conjunto habitacional. Assistncia secundria hospitais Na assistncia secundria a oferta no atende ao mnimo de quatro leitos/mil habitantes/ano (ndice da Organizao Mundial da Sade OMS), no geral do municpio. Na AR de Campo Limpo o ndice de 0,57 leitos/ mil habitantes/ano. J no distrito Jardim So Lus h dficit total, pois no h nenhum leito hospitalar.3.2.2.4 Cultura e esporte

A regio da AR de Campo Limpo muito carente em equipamentos de cultura e esporte. No Jardim So Lus h apenas uma casa de cultura com atividades, e 14 equipamentos de esporte, todos bastante simples. Alm disso, a AR de Campo Limpo bastante violenta, fato que tambm se justifica pela ausncia de equipamentos de lazer, o que agrava a situao nos finais de semana. Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situa-se um campo de futebol apenas; entre 500 metros e um quilmetro situa-se tambm apenas um campo de futebol; entre um e 1,5 quilmetro situam-se seis campos de futebol e dois centros desportivos municipais. Em termos de reas verdes pblicas, observa-se no entorno um total de oito reas destinadas a essa funo. Na distncia entre 0 e 500 metros situam-se trs reas verdes pblicas; entre um e 1,5 quilmetro situam-se cinco reas verdes pblicas, embora no seja mencionada a qualidade desses espaos. Ou seja, o nmero de equipamentos de cultura, esporte e lazer insuficiente para atendimento aos moradores do conjunto habitacional.

34

Assistncia primria sade centros de sade, pronto-atendimento, ambulatrios A assistncia primria sade, dada por Unidade Bsica de Sade (UBS) municipal, estadual ou federal, apresenta-se muito precria na periferia do municpio. No distrito Jardim So Lus h dficit de trs equipamentos. Considerando o entorno da rea Jardim So Lus I, na distncia entre 0 e 500 metros situa-se uma UBS; entre 500 metros e um quilmetro situam-se duas UBS e um centro de sade estadual; entre um e 1,5 quilmetro situamse duas UBS, um centro de tratamento intensivo municipal (CTISM), um hospital municipal e um centro de sade estadual. Ou seja, o nmero de equipamentos de sade insuficiente para um atendimento de qualidade aos

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

3.2.2.5 Abastecimento

O abastecimento por meio de equipamentos pblicos carente nas regies perifricas. O distrito Jardim So Lus dispe de apenas dois minimercados e de duas feiras confinadas municipais. No entorno da rea Jardim So Lus I, h apenas dois sacoles, reforando a carncia da rea em equipamentos pblicos.3.2.3 Conjunto Habitacional Jardim So Lus abrangncia da proposta

fcios so compostos de dois mdulos agrupados e unidos por duas caixas de escadas no confinadas. So edifcios multifamiliares de quatro pavimentos, todos ocupados com unidades de habitao, inclusive o trreo. Cada lmina constituda por quatro apartamentos, compondo oito unidades por pavimento (Figura 4).

O projeto do conjunto habitacional prev no s a construo de unidades de moradia, mas tambm de um centro de convivncia, creche, pr-escola, sistema de lazer, estacionamentos e rea para comrcio, porm nem todos esses equipamentos foram construdos at a presente fase do empreendimento. O paisagismo proposto prev a utilizao de espcies frutferas, alm das ornamentais, em todo o conjunto, cuja execuo tambm no ocorreu.3.2.3.1 Implantao

Os edifcios foram implantados dois a dois, obedecendo mesma orientao em relao ao norte, ou seja, lesteoeste no seu maior comprimento. Em relao topografia, os edifcios foram posicionados perpendicularmente ao desnvel. O terreno em questo apresenta grande declividade, e a implantao imps intensa movimentao de terra, com o estabelecimento de plats nos quais esto os prdios, resultando taludes acentuados e escadarias para acessar a entrada principal. Em plats intermedirios esto localizados os bolses de estacionamento.3.2.3.2 Tipologia dos edifcios e dos apartamentos

Figura 4 Perspectiva isomtrica do mdulo de edifcios dois edifcios e caixa de escadaFonte: CDHU, 1996

35

As faces laterais dos edifcios no apresentam aberturas, portanto todas as unidades recebem suas aberturas em faces paralelas, uma voltada para o exterior do mdulo e a outra para a rea comum entre os dois edifcios. Os acessos principais, circulao vertical e horizontal das unidades esto localizados nesta rea comum, na qual tambm se situam os abrigos de gs e os medidores da instalao eltrica e hidrulica. Sobre as caixas de escadas esto localizados os reservatrios de gua.Estrutura e metodologia da pesquisa

O edifcio foi organizado em lminas, implantadas duas a duas e articuladas atravs da caixa de escada. Tal configurao recebeu a denominao de mdulo. Os edi-

Os apartamentos obedecem mesma organizao para todos os edifcios do conjunto, diferenciando-se apenas na rea das unidades localizadas nas extremidades das lminas. O apartamento tem uma rea til de 37,69 m (incluindo hall de distribuio) e contempla dois dormitrios, sala e cozinha (separadas originariamente por um balco), rea de servio e banheiro, conforme pode ser verificado na Figura 5. Destaca-se que a disposio efetiva das louas

sanitrias no banheiro esto em desacordo com o projeto arquitetnico e de instalaes, uma vez que tais louas foram colocadas junto parede divisria com a cozinha, o que exigiu a execuo de salincia na parede de entrada, reduzindo o espao de acesso ao banheiro. Assim, lavatrio e vaso sanitrio foram fixados muito prximos entre si, inviabilizando a colocao de box de chuveiro.3.2.3.3 Sistema construtivo

Os edifcios foram construdos segundo a tcnica da alvenaria armada de blocos de concreto. Os blocos de escada recebem estrutura independente de concreto armado. As fachadas externas foram revestidas e pintadas. Foram adotados para a cobertura estrutura de madeira e fechamento em telhas cermicas, sem coletores para guas pluviais. Internamente, as unidades foram entregues aos moradores sem revestimentos de parede, piso e forro. As esquadrias utilizadas so de ferro, pintadas, com portas internas em madeira.

4 Procedimentos metodolgicos36

Figura 5 Planta original do apartamentoFonte: CDHU, 1996

No campo internacional, h inmeras obras e estudos voltados aos procedimentos metodolgicos para a avaliao de desempenho (ps-ocupao) da denominada habitao de interesse social. Destacam-se no campo das relaes Ambiente & Comportamento (RAC), entre outros, no contexto conceitual, terico e metodolgico, Bechtel (1997) e Winkel (1993). Em termos dos procedimentos para aplicao metodolgica, em geral, e em um determinado aspecto ambiental, ou ainda no que respeita aos aspectos estatsticos, para anlise e tabulao de dados, destacam-se Denzin (1994); Patton (1996); Reaves (1992) e Rubin e Rubin (1995), Bechtel, Marans e Michelson

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

(1987); Hayes e Lnec (1995). A propsito de pesquisas aplicadas em estudos de caso, pode-se citar as excelentes obras de Baird et al. (1996); Kernohan et al. (1992) e Sanoff (1991). Este ltimo destaca mtodos e tcnicas visuais. Quanto s anlises sobre a eficcia de programas habitacionais, tm-se, por exemplo, Bratt, Keys, Schwartz e Vidal (1995); quanto a balanos sobre o estado da arte, o futuro da habitao social e a relao com seus usurios, nos EUA, na Europa e em outros locais, Preiser, Varady e Russell (1994); e a respeito de estudos sobre relaes AC internas habitao, Marcus (1995). Quanto a aspectos importantes como a manuteno, a segurana e a gesto/autogesto condominial, tm-se os estudos de U-HAB (1995), Dunowicz, Gerscovich e Boselli (1993), e o trabalho de Newman (1996). Tambm podem ser mencionados diversos estudos que destacam os resultados das pesquisas no campo da habitao e/ou de suas relaes com outros ambientes urbanos, pblicos, semipblicos, no mbito da APO, com nfases temticas em aspectos como a acessibilidade/desenho universal, privacidade e critrios qualitativos de desempenho e diretrizes de projeto em geral. Nessa linha, tm-se Winter (1997), Coelho e Cabrita (1992); Marcus e Francis (1990) e o Ministrio do Equipamento Social e da Qualidade de Vida (1985). No Brasil, os estudos e a literatura em geral so mais restritos, mas sobretudo no final da dcada de 80 e nesta ltima dcada comeam a surgir alguns trabalhos nos campos mencionados anteriormente. Entre eles, destacam-se no mbito conceitual, terico e metodolgico, Ornstein, Bruna e Romro (1995), Ornstein (1994) e Ornstein e Romro (1992). Quanto a procedimentos

metodolgicos especficos, tais como no mbito do desempenho trmico de habitaes, tm-se, por exemplo, Akutsu, Vittorin e Yoshimoto (1995). A propsito de pesquisas em APO aplicadas a estudos de caso especficos, tm-se Silva et al. (1993); Reis (1995); Kowaltowski e Pina (1995); e Elali (1995), alm de traba-lhos dirigidos s redes de infra-estrutura urbana em con-juntos habitacionais e suas relaes com os moradores (MEDVEDOVSKI, 1995). No que respeita manuteno, segurana e acessibilidade a portadores de deficincia fsica, podem ser destacados estudos de desempenho tcnico (HELENE, 1992; THOMAZ, 1989; GUIMARES, 1995) e sobre segurana em conjuntos habitacionais (REIS; LAY, 1995). Quanto gesto da qualidade na construo civil, tem-se como referencial Souza (1994). Tambm esto surgindo alguns estudos que podem nortear a formulao de critrios de desempenho mais compatveis com as necessidades dos usurios, observados os aspectos tcnicos, econmicos e funcionais implcitos. Tm-se, entre eles, Vianna e Romro (1997), Ornstein, Romro e Cruz (1997), Mascar (1985) e Ghoubar (1995). Ainda se devem destacar as diretrizes de projeto elaboradas por Moretti (1997).37

4.1 Mtodos e tcnicas Considerando sua conceituao bsica, a aplicao de mtodos e tcnicas de APO deve levar sempre em considerao tanto o ponto de vista dos tcnicos (vistorias, medies e anlises realizadas), bem como a aferio dos nveis de satisfao dos usurios. O cruzamento desses dois tipos de procedimentos, os diagnsticos e os produtos decorrentes (recomendaes, banco de dados, vdeo, relatrio) esto apresentados na figura a seguir.Estrutura e metodologia da pesquisa

38

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

39

Figura 6 Fluxograma de desenvolvimento metodolgico da APO

Estrutura e metodologia da pesquisa

4.1.1 Roteiro metodolgico utilizado

(questionrio) e resultados das vistorias tcnicas; (m) reunies dos pesquisadores com tcnicos do CDHU para discusso de resultados; (n) diagnstico final; (o) recomendaes e diretrizes para futuros projetos semelhantes; e (p) insero em vdeo de curta durao, integrante da pesquisa, dos principais resultados da APO funcional. Conforme poder-se- verificar no decorrer desta obra, outros procedimentos metodolgicos especficos foram adotados nesta pesquisa. A anlise, por exemplo, do edifcio como um todo, da escola (equipamento comunitrio eleito para avaliao) e das reas livres, em suas respectivas subreas tcnicas de avaliao (aspectos construtivos, anlise funcional, conforto ambiental, anlise econmica), necessitou de procedimentos metodolgicos especficos, como, por exemplo, medies, simulaes, etc. A estruturao temtica de apresentao dos resultados propicia a descrio, em separado, dos procedimentos metodolgicos especficos de cada uma das subreas de avaliao. 4.2 Critrios de desempenho utilizados como parmetros para avaliao tcnica Foi estabelecido para cada rea do conhecimento ou temtica um conjunto de critrios de desempenho (ver Figura 6) que pudesse servir como referencial de qualidade nas anlises tcnicas, comportamentais e nos cruzamentos entre ambas. Esses critrios de desempenho so oriundos de normas nacionais e internacionais, diretrizes de projeto, indicadores qualitativos e quantitativos consagrados, cdigos de edificaes, experincia profissional dos especialistas envolvidos no projeto e outros.

A APO orientou-se pelo seguinte roteiro metodolgico bsico, o qual procurou realizar estudo comparativo entre dados coletados nos edifcios e apartamentos ocupados por moradores oriundos da favela (OF) localizada na rea de risco do Parque Otero e por moradores com inscrio regular (IR) no cadastro do CDHU (a distribuio amostral e localizao das unidades no conjunto encontramse descritas no 4.3 deste captulo): (a) contatos com tcnicos do CDHU para seleo do conjunto habitacional do estudo de caso; (b) obteno de dados socioeconmicos e dos projetos executivos completos do conjunto habitacional; (c) visitas de reconhecimento da rea e registros fotogrficos; (d) apresentao da rea de estudo para ps-graduandos participantes do levantamento de campo e dos diagnsticos; (e) formulao e aplicao do questionrio pr-teste para aferir nveis de satisfao dos moradores; (f) definio da amostra; (g) formulao e aplicao dos questionrios definitivos (81, sendo 33 em moradias de OF e 48 em IR); (h) leitura dos projetos executivos, especificaes tcnicas e planilhas de custos originais; (i) pr-teste das vistorias tcnicas, incluindo levantamentos de mobilirio, equipamentos e conseqentes ndices de obstruo em 16 apartamentos; (j) aplicao definitiva das vistorias tcnico-funcionais em um total de 27 apartamentos (33% da subamostra de 81), sendo 9 de moradores OF e 18 de IR; (l) anlise comparativa entre satisfao dos usurios

40

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

Por exemplo, quanto ao conforto ambiental, foi considerado, entre outros, o nvel mnimo de iluminao para cada atividade estabelecido pela NBR 5413 (ABNT) e, para a acstica, o nvel de rudo de fundo mximo tambm para cada atividade estabelecido pela NBR 10152 (ABNT) (VIANNA; ROMRO, 1997). Ainda, no que respeita ao consumo energtico (kWh/m2), considerou-se como referencial o indicador do IBGE para a famlia paulistana e dados do especialista para a classe mdia, levando-se em conta a rea til reduzida associada ao aumento da presena de eletrodomsticos e utilizao de chuveiro eltrico (ROMRO, 1997). Critrios e referncias dessa natureza tambm esto sendo utilizados nas outras reas do conhecimento objeto desta APO como patologias nos edifcios, segurana contra incndio nos edifcios, conforto trmico, equipamentos sociais, reas livres, qualidade de vida no conjunto e outras. 4.3 Definio do universo da pesquisa em relao totalidade do Conjunto Habitacional Jardim So Lus Para efeito desta APO funcional, foi selecionado um setor desse conjunto contendo 416 apartamentos (24% da amostra total), distribudos em 13 edifcios, dos quais cinco abrigam populao oriunda de favela (OF) removida de rea de risco do Parque Otero, num total de 160 domiclios (38%), ocupados a partir de dezembro de 1993, e oito abrigam moradores com inscrio regular (IR) no cadastro de moradores do CDHU, num total de 256 unidades (62%), ocupados a partir de setembro de 1994 (Figura 7). Em ambos os casos, os edifcios foram executados no pro-cesso empreitada global.41

Figura 7 Implantao dos blocos ocupados por moradores oriundos da favela (OF) e por moradores com inscrio regular (IR)

Estrutura e metodologia da pesquisa

4.3.1 Determinao da amostragem

Avaliao tcnica segundo nvel Para este segundo nvel, foi escolhida uma subamostra de 27 unidades do universo de 81, para a realizao do levantamento tcnico exaustivo, adotando-se o procedimento da amostragem casual sistemtica aps a ordenao das unidades para garantia de equirrepresentao nas diversas lminas e pavimentos (TASCHNER, 1997). Esses dados resultam da anlise estatstica apresentada a seguir.4.3.1.1 Sistema de referncias

A definio amostral considerou os dois nveis de abrangncia da pesquisa: avaliao da satisfao dos usurios primeiro nvel; e avaliao tcnica segundo nvel. Avaliao comportamental primeiro nvel Considerando esse universo, foi escolhida uma amostra intencional de 81 unidades (19,47% do total), o que permite a extrapolao para o conjunto, visando tambm garantir a distribuio proporcional entre as duas procedncias (OF e IR), incluindo apartamentos de todas as lminas e nos distintos pavimentos, considerando orientao solar, localizao dos edifcios e dos apartamentos nas lminas. Essa distribuio amostral est apresentada esquematicamente na Tabela 3.

Como universo-base para o clculo do tamanho da amostra e da escolha das unidades a serem levantadas, foram utilizados os domiclios que j haviam sido entrevistados na pesquisa comportamental. Para garantir a equirrepresentao dos segmentos populacionais das duas procedncias (favela e fila normal) e das trs categorias de apartamento quanto localizao vertical dentro do prdio, o procedimento escolhido foi a da amostragem casual sistemtica, aps a ordenao das unidades. A unidade amostral , dessa forma, o domiclio a ser submetido a uma avaliao tcnica. um universo finito, real e enumervel, com tamanho 81. Por sua vez, esse 81 subconjunto do universo de 416 apartamentos e o representa. Embora escolhidas de forma intencional, o processo de seleo das unidades bem como o tamanho da amostra de 81 permitem a extrapolao para o Conjunto Habitacional Jardim So Lus.4.3.1.2 Clculo do tamanho da amostra

42

Tabela 3 Quadro de distribuio amostral

Do ponto de vista prtico, foi elaborada sobre a amostra principal escolha preferencial (E) uma amostra opcional (O) objetivando cobrir eventualidades dos levantamentos in loco. Essas duas opes foram organizadas em um quadro utilizado no campo para orientar as equipes de pesquisadores, conforme apresentado na Tabela 4.

O valor de n (tamanho da amostra) depende da variabilidade apresentada em cada uma das variveis em estudo, da preciso desejada, da confiana que se quer depositar nos resultados e no universo dos domiclios.

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

43

Tabela 4 UH organizadas em amostra preferencial ou opcional

Estrutura e metodologia da pesquisa

Conforme j foi dito, o universo finito, enumervel e tem existncia real. Como j foi efetuada a pesquisa comportamental no setor do conjunto estudado (amostra de 81 casos), podese pensar na utilizao da variabilidade de um estimado real, com mdia e desvio padro conhecidos. As variveis referentes adequao ao uso, segurana, conforto, privacidade, aparncia, convivncia social, caractersticas das reas comuns e da vizinhana e manuteno e conservao de edifcios e das reas comuns foram mensuradas por meio de uma escala que transformou respostas com nvel de mensurao qualitativo numa escala paramtrica que varia de 4 (timo) a 1 (pssimo). J se apuraram as mdias, desvios padro e modas das respostas referentes ao subconjunto de procedentes da favela. So 45 valores de mdia, cuja mediana foi a mdia da varivel 2.10.1 (classificao da situao do espao para trabalho extra), com mdia igual a 2,5 e desvio padro de 0,5. No a varivel de maior variabilidade, que varivel 8.8 (qualificao da creche). Se essa varivel fosse usada (coeficiente de variao de 46,5%, desvio padro de 0,99 e mdia de 2,13), a amostra seria praticamente igual de uma populao infinita, com os parmetros de erro e confiabilidade escolhidos (90% de confiana e 13% como erro mximo). O levantamento tcnico por demais exaustivo e demorado para permitir amostra to grande. Alm disso, a varivel de maior variabilidade externa ao apartamento, referindo-se qualidade da creche, e o levantamento tcnico visa verificar as condies objetivas da moradia em si. Dessa forma, escolheu-se, para o clculo da amostra, utilizar a varincia da varivel com mdia na mediana da distribuio

das mdias escalares. Foi utilizada a estatstica: Pr { | y-Y|> 0,13} = 0,10 onde: Pr = probabilidade; y = verdadeiro valor escalar na populao; e Y= valor escalar na amostra. Explicando melhor a estatstica usada, dizer que | Y-y |, erro, no deve ultrapassar 13%, com confiana de 90%, significa dizer que em apenas 10% das possveis amostras poder haver erros superiores a 105, para o tamanho da amostra calculado: no = t2S2 / d2 no = (1,64)2 (0,5)2 / (0,13) n = 40 Como n/N tem valor aprecivel, calculou-se a amostra para populao finita: no / 1+ no 1 N

44

n=

n = 27

4.3.1.3 Processo de amostragem

Escolheu-se o processo de amostragem sistemtica. O comportamento da amostragem sistemtica, em relao amostragem casual simples ou mesmo em relao estratificada, depende muito das propriedades da populao.

Coleo Habitare - Avaliao Ps-Ocupao - Mtodos e Tcnicas Aplicados Habitao Social

Para sua utilizao mais eficaz, preciso conhecer a estrutura dessa populao. No presente caso, a estrutura perante duas variveis importantes conhecida: procedncia habitacional e situao em relao ao andar. Dessa forma, as N unidades da populao foram ordenadas de 1 a N; primeiramente, a populao procedente da favela, do 1 ao ltimo andar; depois a que no veio da favela, tambm do 1 ao ltimo andar. Atravs disso, ficou bastante simples selecionar e encontrar as unidades. Segundo Cocrhan (1965), a amostra sistemtica se distribui de maneira mais uniforme atravs da populao, e isso, s vezes, torna a amostragem sistemtica muito mais precisa que a amostragem casual estratificada. O intervalo de amostragem (N/n) foi 3, e o incio casual 2. A seleo amostral pode ser visualizada na figura que se segue.

do questionrio proposto e da planilha tcnica. Tais instrumentos de coleta de dados foram elaborados e devidamente testados na primeira fase da avaliao (prteste) e sofreram, posteriormente, as devidas modificaes. Do ponto de vista de seu contedo, o questionrio (ver formulrio em anexo, Captulo X, seo 39) foi elaborado de tal forma que possibilitasse aferir o nvel de satisfao dos usurios em relao aos seguintes aspectos/ nveis de abrangncia e blocos temicos (Quadro 2): - s unidades de habitao; - s reas comuns dos edifcios; - s reas livres do conjunto habitacional; e - aos equipamentos sociais e urbanos escola

45Figura 8 Procedimentos para seleo amostral

4.4 Elaborao e aplicao dos instrumentos Coleta de dados Foram fei