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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR AVALIAÇÃO, FRACASSO ESCOLAR E CRIMINALIDADE: INVESTIGANDO ALGUMAS ALTERNATIVAS DE RESSOCIALIZAÇÃO INFANTO-JUVENIL ELIANA RODRIGUES DOS SANTOS DA SILVA

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR

AVALIAÇÃO, FRACASSO ESCOLAR E CRIMINALIDADE:

INVESTIGANDO ALGUMAS ALTERNATIVAS DE

RESSOCIALIZAÇÃO INFANTO-JUVENIL

ELIANA RODRIGUES DOS SANTOS DA SILVA

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RIO DE JANEIRO

2003

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR

AVALIAÇÃO, FRACASSO ESCOLAR E CRIMINALIDADE:

INVESTIGANDO ALGUMAS ALTERNATIVAS DE

RESSOCIALIZAÇÃO INFANTO-JUVENIL

Monografia apresentada por Eliana Rodrigues dos Santos da Silva, como pré-requisito para conclusão de Curso de Pós-

Graduação em Supervisão Escolar

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RIO DE JANEIRO

2003 SILVA, ELIANA RODRIGUES DOS SANTOS

TÍTULO – AVALIAÇÃO, FRACASSO ESCOLAR E CRIMINALIDADE:

INVESTIGANDO ALGUMAS ALTERNATIVAS DE RESSOCIALIZAÇÃO INFANTO-

JUVENIL

MONOGRAFIA – PÓS GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR

Avaliação, fracasso escolar e criminalidade-

investigando algumas alternativas de

resocialização infanto juvenil (Rio de Janeiro,

2003).

Monografia – Universidade Cândido Mendes

projeto a vez do mestre – supervisão escolar

1. Avaliação

2. Fracasso Escolar

3. Criminalidade

4. Ressocialização de menores

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Monografia de conclusão de curso de pós graduação aprovada pela banca examinadora:

1º Examinador (orientador)

2º Examinador

3º Examinador

Rio de Janeiro , _____ de __________________ de 2003.

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“Vivemos hoje, nós que nos dedicamos à educação, qual Édipos diante da Esfinge. Ou deciframos o enigma que o monstro nos

coloca ou somos devorados por ele. No processo educativo, ser devorado pela Esfinge é passar a fazer parte do sistema

educacional vigente, tornar-se mais uma engrenagem dessa máquina social, reproduzindo-a a todo instante em nossos fazeres

cotidianos. A condição de naõ ser mais uma engrenagem é sermos capazes de decifrar os enigmas que a crise na educação nos apresenta, conseguindo superar esse momento de rupturas.”

Silvio Gallo in Transversalidade e educação: repensando a educação não disciplinar

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Agradecimentos... Contribuíram para tornar esse trabalho mais consistente. Este

trabalho é dedicado as pessoas que amo e admiro, especialmente:

• A meu filho, Diego, que muito me incentivou a fazer o curso .

• Aos meus pais que me dão muito apoio e estímulo.

• À amiga Iracema que com o seu entusiasmo contagiou-me a voltar aos

bancos de uma universidade.

• Ao colega e amigo Alex Magalhães por toda a ajuda que me deu com

sua experiência, idéias e sabedoria

• Ao professor Celso Sanches pelo apoio de orientação. Valeu mesmo!

• E a todos que de maneira direta ou indireta

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RESUMO

Este trabalho busca fazer uma relação entre as práticas de avaliação na escola e

como estas, feitas de maneira mal planejada podem levar, dentre outros fatores ao

fracasso escolar, grande dilema da educação. Tentaremos assim estabelecer alguns

traços comuns entre esse fracasso e a entrada de crianças e adolescentes dentro do

mundo do narcotráfico, que parece ser a saída mais próxima para alguns se “reincluírem

dentro do mundo do consumo” , que tanto atraí os jovens, principalmente aqueles que

não tem como satisfazer suas necessidades básicas. Mas, como acreditamos que tudo

não está perdido, destacamos também o papel de algumas instituições de cunho

governamental e não-governamental que tentam de maneira bem diferentes ressocializar

a criança, o adolescente e o recém- adulto como cidadãos e não como meros

consumidores no mundo da mercadoria ao qual vivemos.

Palavras-chave: Avaliação, fracasso escolar, criminalidade e ressocialização de

menores.

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SUMÁRIO

Introdução....................................................................................................09 Cap. 1: Tecendo algumas considerações sobre a avaliação escolar............13 1.1- A arte de avaliar a aprendizagem ..............................................14 1.2- Quem nunca foi avaliado(ou avaliou) assim que atire a primeira pedra............................................................................16 Cap.2: Fracasso Escolar- Um sintoma da avaliação?..................................19 2.1- Por uma nova prática de avaliação.............................................21 Cap.3: Fracasso Escolar, Exclusão Social e Criminalidade infanto-juvenil Algumas aproximações teóricas......................................................23 Cap.4: Da exclusão social e criminalidade à (re)integração social: Um estudo de caso sobre o Instituto Padre Severino, a Fundação São Martinho e o Projeto Ex-Cola.....................................................................................27 4.1- A Fundação São Martinho...........................................................30 4.2- A ONG Ex- Cola.........................................................................34 4.3- Instituto Padre Severino: Uma Versão Infanto-Juvenil do Caran- diru?............................................................................................37 Conclusão...................................................................................................42 Bibliografia.................................................................................................44 ANEXOS....................................................................................................45

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INTRODUÇÃO

Trabalhando durante longa data no universo educacional, percebemos uma

grande porcentagem de alunos que devido às dificuldades de aprendizagem deixaram o

ambiente escolar e foram se “alfabetizar” no ambiente da criminalidade, adquirindo

assim novas linguagens e novos símbolos para interpretar a realidade à sua volta.

Sendo assim, gostaríamos de uma maior aproximação com tal problemática para

desvendarmos as suas causas e conseqüências, ou seja, como o fracasso escolar

contribui para aumentar a exclusão social, tão presente em nossa realidade brasileira.

Nos debruçarmos sobre essa temática também para procurar entender se há

uma relação direta dos modos de avaliar e ensinar do professor com o fracasso dos

educandos ,que leva à evasão escolar. Nos questionamos se muitas vezes, nós

professores (às vezes até por pressão da direção escola) não trazemos para a sala de aula

a realidade vivida pelo aluno e assim só procuramos “dar o conteúdo”. Sendo assim,

esquecemos em nossas aulas que o aluno também é um sujeito ele não deve ser uma

“tabula rasa”, na qual apenas “reproduzimos” e não “produzimos” o conhecimento,

seria a chamada “educação bancária” como nós diz Paulo Freire

O fato de não trabalharmos com a realidade do aluno, entendendo este como

parte de um determinado grupo social, que está inserido dentro de uma cultura

específica, traz conseqüências negativas que acabam convergindo no fracasso escolar?

Através deste questionamento investigaremos se a criança e o adolescente,

principalmente aquele de classe menos favorecida sócio-economicamente, não consegue

ver na escola uma resposta para compreender a realidade a sua volta. Assim sendo, não se

integra de maneira satisfatória na escola e nem entende os objetivos desta, que se torna

tão distante de sua realidade. Consequentemente esta criança ou adolescente pode se

evadir do ambiente escolar, procurando outros caminhos às vezes relacionados ao mundo

do crime e assim trilhar uma vida à margem da sociedade.

Nos questionamos se o fracasso escolar é um fenômeno perverso que serve para

reproduzir esse modelo de sociedade de classes, totalmente desigual , pois nossos

alunos, ficam a margem do modelo de sociedade contemporânea, que exige cada vez

mais pessoas qualificadas e críticas para enfrentarem o competitivo mundo do trabalho.

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Sendo assim, no desenvolvimento dessa monografia, procuramos alcançar os

seguintes objetivos:

• Entender as causas do fracasso escolar e seus possíveis desdobramentos na

vida do educando. Sendo assim, centralizaremos nossa análise em crianças e

adolescentes , os quais muitas vezes desistem do ensino devido a fatores

diversos, entre estes o fracasso escolar.

• Procurar assim, investigar qual(is) relação(oes) existe(m) entre fracasso

escolar e exclusão social, pois partimos do pressuposto que este é um “par

dialético” e que deve ser minuciosamente analisado pelo pesquisador. Assim

pensamos, pois para nós, o fracasso escolar tanto produz a exclusão social

como tal exclusão também contribui para o fracasso.

• Investigar como a avaliação escolar, seja esta através de provas, testes,

trabalhos seminários etc, pode levar ao fracasso escolar, pois dentro de um

universo de “múltiplas inteligências” como priorizar um modo de avaliar em

detrimento de outro? Como o professor faz essa escolha? Qual modo seria

melhor para o educando?

• Entender qual o papel da família para evitar , conter ou ampliar o fracasso

escolar e até estimular a ida para o mundo da criminalidade, já que para nós,

é dentro do ambiente familiar onde os valores humanos são trabalhados(ou

não). Pensamos, que sendo a escola um suporte para integrar este educando

no universo social, que ultrapassa os limites da casa, a família deve estar em

constante interação com ela, pois é dentro dessa relação que haverá uma

melhor sintonia no processo de ensino-aprendizagem, já que assim o

professor ficará sabendo melhor da realidade social do aluno.

• Investigar qual relação há entre fracasso escolar e o fato de crianças

entrarem no mundo da criminalidade, principalmente adolescentes de

comunidade carente.

• Por fim, buscaremos algumas instituições, públicas e não governamentais,

que trabalham com a ressocialização de menores marginalizados.

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A metodologia por nós utilizada para a construção desta monografia,

concentrou-se na linha teórica da pesquisa participante do antropólogo Brandão. Este

autor refere-se à pesquisa participante como:

“Conhecer a sua própria realidade. Participar da

produção deste conhecimento e tomar posse dele. Aprender

a reescrever a História através da sua história. Ter no

agente que pesquisa uma espécie de gente que serve. Uma

gente aliada, armada dos conhecimentos científicos que

foram sempre negados ao povo, àqueles para quem a

pesquisa participante _ onde afinal pesquisadores e

pesquisados são sujeitos de um esmo trabalho comum,

ainda que com situações e tarefas diferentes- pretende ser

um instrumento a mais de reconquista popular.”

Apesar de sabermos que a prática em uma pesquisa é muito importante,

não podemos deixar de ressaltar que igual importância deve ser dada à fundamentação

teórica, pois é através dessa teoria que a sua prática adquire respaldo acadêmico.

Sendo assim, como nosso tema tem como foco central a temática do fracasso

escolar, priorizamos alguns autores que nos fornecem forte arcabouço teórico para

dissecarmos esse tema em múltiplos vieses.

Trabalharemos então com o mestre Paulo Freire, que através de seu enfoque

inovador nos estimula a pensar a prática pedagógica de maneira diferente,

principalmente no que diz respeito a comunidades carentes, na qual devemos sempre

trabalhar com a realidade do aluno. O “saber fazer” do professor, deve assim estar

centralizado nas necessidades desses educandos, pensando a educação, antes de tudo

como uma preparação para a vida prática destes e não como uma forma de saber

enciclopédico e “bancário”.

Outros autores que nos servirão de bagagem são Pedro Demo e Maria Teresa

Estebam, que despontam como um dos grandes nomes da Pedagogia na atualidade e que

nos trazem reflexões muito importantes acerca dos métodos de avaliação e sobre a

produção do fracasso escolar . Sendo assim, procuramos (re)pensar soluções que

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possam levar o professor refletir sobre sua prática em sala de aula, ou seja, o

“laborátório” do professor, o qual a cada dia deve estar aperfeiçoando sua prática

através de atividades dinâmicas e criativas que estimulem o processo de ensino

aprendizagem.

Também nos utilizaremos das reflexões de Miguel Arroyo, Anny Cordié e

Magda Soares, que nos dão uma teoria que nos ajuda a refletir sobre o papel da cultura

e das formas de linguagens em diferentes clases sociais e como o respeito a estas, além

de outros fatores, é de suma importância para o sucesso do educando e sua permanência

na escola.

Destacamos que utilizaremos ao longo da pesquisa outros autores e estes foram

destacados apenas como bibliografia preliminar, já que uma das etapas do nosso

cronograma de atividades diz respeito a um aprofundamento bibliográfico, justamente

para enriquecer mais ainda nossa reflexão sobre essa tríade interrelacional que é

avaliação, fracasso escolar e a entrada do adolescente no mundo do crime. Esperamos,

portanto, estabelecer esta conexão e assim estar contribuindo para uma reflexão acerca

dos desafios pelos quais a instituição ESCOLA vem passando , os quais desestimulam

alguns alunos e professores trazendo sérios reflexos em nossa sociedade.

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CAPÍTULO 1: TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

SOBRE A AVALIAÇÃO ESCOLAR

“O sujeito mais confiante tenta mais, erra mais, aprende mais.”

Piaget

1.1- A arte de avaliar a aprendizagem.

Falar de avaliação não é um tema fácil, a todo o momento estamos avaliando

algo e nem sempre conseguimos desvendar o que há por trás de determinados

fenômenos, basta observarmos os esforços feitos por diversos intelectuais para avaliar

os porquês e as conseqüências da tão recente guerra entre EUA e Iraque. Mas o ato de

avaliar acontece também em escala mais micro. Sendo assim, quando saímos de casa,

avaliamos o tempo para ver se fará calor ou frio e assim colocarmos a roupa mais

adequada. Quando vamos comprar determinados produtos geralmente observamos seu

aspecto, olhamos a marca, a forma da embalagem, o preço e algumas pessoas até se

lembram de olhar data de validade. Mas até aqui não estamos falando de pessoas nem

de a avaliação da aprendizagem escolar, a qual compromete vários atores. De acordo

com LUCKESI (2000):

A avaliação da aprendizagem escolar se faz presente

na vida de todos nós que, de alguma forma estamos

compromentidos com atos e práticas educativas. Pais,

educadores, educandos, gestores das atividades

educativas públicas e particulares, administradores da

educação, todos estamos comprometidos come esse

fenômeno que cada vez mais ocupa espaço em nossas

preocupações educativas.

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Avaliar pessoas, principalmente em processo de formação é uma tarefa que

requer o senso estético de um artista plástico ou a proeza de um fotográfo que com a

lente de sua câmera consegue captar imagens que talvez não fossem por nós observadas

de maneira tão precisa.

O processo de avaliação exige uma busca constante de aperfeiçoamento por

parte do educador, que deve ter sensibilidade e pré-disposição para aceitar seu educando

do jeito que ele é. Isso não significa dizer aceitar tudo que este faça, porém destaca que

não podemos ter (pré)conceitos acerca daqueles que achamos que não se enquadra

dentro de determinados padrões seja por qualquer motivos. Ainda de acordo com

LUCKESI (2000) Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder atividades de

avaliação, assim como para proceder toda e qualquer prática educativa. Sem

acolhimento, temos a recusa. E a recusa significa a impossibilidade de estabelecer um

vínculo de trabalho educativo com quem está sendo recusado.

Dentro do processo de avaliação o educar deve primeiro ter muito claro em sua

mente o que espera com tal ato, ou seja, onde ele quer chegar com o seu trabalho junto

ao educando. Caso contrário entraremos em um mero processo onde o aluno acaba

memorizando datas, fatos, sabe as quatro operações básicas mas não sabe conferir um

troco ou inserir estas em seu cotidiano. Enfim, todo o esforço terá sido pouco

aproveitado. Como sabemos, grande parte daquilo que memorizamos acaba se perdendo

com o tempo. De acordo com DEMO (2002:40) Mesmo assim, irritam profundamente

os professores e pedagogos as expressões quantitativas da aprendizagem, sobretudo a

nota. Metodologicamente falando, porém, é sempre possível indicar fenômenos

qualitativos através de expressões quantitativas, desde que se tenha a devida

consciência crítica do reducionismo aí praticado, o que aliás, é marca comum da

teorização científica. Não trabalhamos com a realidade diretamente, mas pela

mediação interpretativa, à qual damos o nome de “objeto construído”.

Mesmo tendo aprendido em geografia, quem se lembra de todas as capitais

brasileiras de maneira precisa sem ficar em dúvida sobre alguma? E quando foi a rezada a

primeira missa em solo brasileiro? Pois é, passamos pela escola da memorização, fomos

avaliados, muitas vezes tiramos a nota ou conceito máximos no passado e esquecemos

com o passar do tempo. Fomos avaliados de maneira mecânica e também de maneira

instantânea como uma máquina acabamos esquecendo. Esse esquecimento não tem

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somente como consequência negativa o fato de esquecermos o conteúdo. Também há aí

um processo onde acabamos esquecendo determinados fatos e conteúdos acerca da nossa

história, geografia ou política que acabam nos desmobilizando como cidadãos. O cidadão

que conhece pouco sobre seu país, não sabe utilizar de maneira efetiva os conhecimentos

matemáticos, físico ou químicos não pode se dizer que tenha tido de maneire efetiva um

“ensino fundamental”. Fundamental para quê? Para quem? Devemos portanto, enquanto

educadores repensar onde queremos chegar com nossos testes, provas, conceitos pois

estamos mexendo com vidas humanas ,as quais são subjetivas. Trabalhamos com pessoas

que tem sentimento, dificuldades e dependendo da idade, um poder de abstração ainda em

processo. Para LUCKESI (2000):

Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste,

redação, monografia, dramatização, exposição

oral, aguição... – necessitam manifestar qualidade

satisfatória como instrumento para ser utilizado na

avaliação da aprendizagem escolar, sob pena de

estarmos qualificando inadequadamente nossos

educandos e , consequentemente, praticando

injustiças.

Mas infelizmente não é isso que acontece na maioria das nossas escolas.

Mesmo dentro de um discurso que cada vez mais acentua a necessidade de avaliarmos

os educandos qualitativamente, há uma rotina de avaliação que ainda está muito

pautada na avaliação quantitativa e no sucesso do educando. O fracasso escolar

dificilmente é socializado com a prática educativa, ou seja, na maioria da vezes, se o

aluno não aprendeu foi porque ele não se esforçou. Achamos assim necessário relatar

uma rotina de avaliação que ainda é freqüente em várias salas de aula brasileiras, tanto

nas escolas particulares como nas públicas, às vezes de forma mais acentuada e outras

mais sutis.

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1.2- Quem nunca foi avaliado (ou avaliou ) assim, que atire a primeira

pedra (...)

De acordo com LUCKESI (2001: 29) A avaliação da aprendizagem escolar no

Brasil, hoje, tomada in genere, está a serviço de uma pedagogia dominante que, por sua

vez,serve a um modelo social dominante, o qual, genericamente, pode ser identificado

como modelo social liberal conservador, nascido da estratificação dos

empreendimentos transformadores que culminaram na revolução Francesa.

Podemos dizer, em linhas gerais, que a avaliação educacional escolar no

Brasil, se processa, no âmbito da sala de aula, mais ou menos como se segue descrito.

Após um período de aulas e exercícios escolares (um mês ou dois de aulas),

denominado unidade de ensino, os professores procedem a atos e atividades que

compõem o que normalmente é denominado avaliação da aprendizagem escolar.

Para tanto, formulam provas ou testes, ou um outro mecanismo qualquer

, que possa ser utilizado como instrumento por meio do qual o professor solicita dos

alunos a manifestação de condutas esperadas, através da qual os alunos posam

expressar seus entendimentos, compreensões de conteúdos, habitos e habilidades

ensinados.

Esses instrumentos de avaliação são cotidianamente construídos da seguinte

maneira. Próximo de final da unidade de ensino, o professor formula o seu instrumento

de avaliação, a partir de diversas variáveis: conteúdo ensinado efetivamente, conteúdo

que o professor não ensinou, mas que deu por suposto ter ensinado; conteúdos “extras”

que o professor inclui no momento da elaboração do teste, para torná-lo mais difícil; o

humor do professor em relação à turma de alunos que ele tem pela frente; a disciplina

ou a indiscipliana social desses alunos; uma ceta “patologia magisterial permanente” ,a

qual é muito sentida pelos professores das escolas particulares que vendem uma

imagem de modernas mas que na verdade o bom professor é aquele que consegue o

chamado “domínio de turma”. Muitas vezes, esses “bons professores” nem dominam

outro fator importante: o conteúdo didático a ser ensinado, sendo assim uma turma

totalmente calada é bastante interessante, pois não gera um desequilíbrio no professor e

não põem em risco “sua moral” perante a turma.

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Podemos dizer que essa instabilidade da (in)disciplina em sala de aula, essa

“patologia”, que define que o professor não pode aprovar todos os alunos, uma vez que

não é possível que todos os alunos tenham aprendido suficientemente todos os

conteúdos e habilidades propostos etc. Assim, são muitos os ingredientes que se fazem

presentes na elaboração do instrumento de avaliação, ainda que tecnicamente muitos

desses elementos não deveriam se fazer presentes nos testes. Depois de elaborado, o

professor reestuda o seu instrumento de avaliação e, por exemplo, pode julgá-lo muito

fácil. Então, decide criar algumas dificuldades a mais, tendo em vista “pegar os alunos

pelo pé”. Ou então, pensa : “aqueles alunos deram-me tanto trabalho nesta unidade.

Vou apertá-los, para que aprendam a ser mais disciplinados”. E, assim, o professor vai

tornando o seu teste mais difícil e, por vezes, até incompreensível, devido ás artimanhas

que inventa para “ver se os alunos são bons mesmo”. Ainda de acordo com DEMO

(2002: 52) Se pretendemos afastar o efeito punitivo da avaliação, no que todos

estaríamos certamente de acordo, a saída não é adulterar a avaliação por deficiência

metodológica ou ingenuidade social, mas fazê-la da melhor maneira possível e atrelá-

la diretamente ao compromisso com a aprendizagem. A nota em si não tem “culpa”. É

a cabeça do professor ou do pedagogo que a faz abjeta.

Assim elaborados, esses instrumentos são aplicados aos alunos e estes, por sua

vez, respondem ao que lhes foi pedido, quando conseguem entender o que lhes foi

solicitado.

Algumas vezes, os alunos não conseguem entender o que o professor pedi e,

então, tentam se socorrer com a ajuda do mesmo e este responde mais ou menos da

seguinte forma: “hoje, é dia de prova; esqueci-me de tudo; você que deve saber tudo;

por isso não tenho nada a responder-lhe. E, nesse caso , o aluno não conseguirá

responder a questão ou responderá qualquer coisa “para não deixar em branco” (como

dizem).

Após recolhimento das respostas, os professores corrigem as mesmas e

atribuem-lhe um valor ( em notas ou em conceitos), que deve corresponder ao nível

“qualitativo” da aprendizagem manifestada pelo educando.

Essa qualificação , boa ou ruim, é registrada em caderneta, tendo em vista

somar-se às outras qualificações de outras unidades de ensino e, assim, compor o

histórico da vida escolar do aluno.

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Muitas vezes, esse ritual simplificado, que acabamos de descrever é recheado

por mais alguns ingredientes. Existem professores ou escolas que, além das provas dos

finais de unidade de ensino, acrescentam, anteriormente a elas, outras atividades que

servem para a avaliação, tais como testes intermediários, pequenos trabalhos, pequenos

questionamentos que são realizados durante o decorrer da unidade de ensino. São

qualificações de menor monta, se assim podemos dizer, que “auxiliam o aluno na nota

final da unidade”. Ainda, por vezes, se acrescenta “pontos a mais” ou “ pontos a

menos” ao aluno, a depender da sua conduta em sala de aula. Esses pontos decorrer de

condutas inteligentes em relação à matéria ensinada, podem corresponder a atitudes

disciplinares, podem corresponder a condutas responsáveis ou não dos alunos etc.

Enfim, são muitas as circunstâncias através das quais os professores atribuem “pontos a

mais ou pontos a menos” aos alunos, pontos estes que, somados aos pontos dos testes e

provas para obtenção de uma méida aritmética ou uma média ponderada, decidirá o

nível de aprendizagem no qual o aluno será classificado. Essas “avaliações” compõem

a média da unidade, que vai registrada em caderneta.

No final do ano letivo, a partir dos níveis (conceitos ou notas) obtidos pelos alunos no

decorrer das diversas unidades, obtém-se uma média, que será o meio de indicar

aprovação ou reprovação do educando naquela série de escolaridade em que se

encontra.

O ritual da avaliação é mais ou menos este em todas a escolas brasileiras, de

norte a sul, de leste a oeste. Há grandes discussões, principalmente no âmbito

acadêmico, para uma mudança de postura do professor, mas o que vemos na prática é

essa forma precária de “avaliação da aprendizagem”.

Agora, cabe perguntar: que leitura podemos fazer desse ritual, em termos de

responsabilidade com o fracasso escolar?

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CAPÍTULO 2 : FRACASSO ESCOLAR – UM SINTOMA DA

AVALIAÇÃO?

Imagine a situação a seguir relatada por um determinado aluno:

“ A verdade é que gosto mais de trabalhar

no campo do que de estar na escola. Não vejo para que servem muitas das coisas

que lá se estudam. E depois...os professores não ajudam! No princípio do ano eu

julgava que ia conseguir e até ia com vontade. Mas comecei logo a desanimar. Foi

lá uma senhora à sala e disse que aquilo ia ser difícil, que muita gente ia reprovar.

Só quem trabalhasse muito e tivesse boa cabeça é que conseguia. É ela tinha

razão. Comecei a não entender coisas- os professores falam de uma maneira tão

difícil! Eu tinha vergonha de perguntar, porque me parecia que só eu é que não

entendia. E, para além disso, alguns colegas façam tudo tão depressa! Mas eu, e

muitos da minha turma mal tínhamos começado e já os professores estavam a

querer tudo feito. E é aos que fazem bem os trabalhos que os professores ligam

mais. Gostam mais deles e é natural. São mais inteligentes, trazem sempre os

trabalhos feitos como os professores querem. Estão sempre prontos a responder,

levam todo o material que eles pedem. Mas escusavam de nos desencorajar tanto,

a nós que não temos tanta cabeça. Falam do que fazemos e de sermos vagarosos

de um modo tão zangado!”

A história contada acima poderia ser ouvida em várias escolas e retrata

uma situação onde o educando não consegue assimilar e acomodar os conteúdos por

ele estudados e se sente muitas vezes inferior e incapaz, ou ainda um fracassado.

Como sabemos, o fracasso escolar, uma realidade na educação brasileira,

possui várias causas, mas procuraremos aqui destacar uma delas: a forma de avaliar

utilizada pelo professor. De acordo com ESTEBAN(2001):

Assumindo o fracasso escolar como um desafio, é importante

avançar no sentido de discutir os mecanismos escolares que o

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produzem e assinalar movimentos que constituem possíveis

alternativas para sua superação. Um aspecto relevante é a

atuação docente no processo de avaliação, pois, são os

professores e professoras que a realizam, sendo o resultado deste

processo determinante do sucesso ou fracasso escolar dos alunos

e alunas. A avaliação tem estreita relação com a interpretação

que o/a professor/a faz das respostas dadas, especialmente

significativa no caso das crianças que chegam à escola portando

estruturas de compreensão diferentes daquelas aceitas pela

norma estabelecida.

Para VIGOTSKY, 1988:

Num contexto de diferença cultural, marcado pela

hibridação e pela mestiçagem, a pluralidade de

significados cruza as interações pessoais e se

plasma nas estrturas subjetivas de compreensão:

relações interpsicológicas diferentes resultam em

distintas possibilidades de funções

intrapsicológicas.

Estamos de acordo com a Esteban e Vigotsky, pois para nós, muitas vezes, os

professores não trazem para a sala de aula a realidade vivida pelo educando e sempre

está preocupado em “dar o conteúdo”. Sendo assim, esquecemos em nossas aulas, que o

aluno também é um sujeito. Ele não deve ser uma “tabula rasa” na qual somente jogamos

os conteúdos, ou seja, a chamada “educação bancária” segundo Paulo Freire. Devemos

substituir a função somativa da avaliação pela função formativa da avaliação, pois

enquanto a primeira objetiva a constatação da verificação da aprendizagem em períodos

determinados e o aluno é classificado de acordo com o nível de aproveitamento e

rendimento, a segunda função procura verificar a efetivação dos objetivos e do domínio

da aprendizagem, englobando o conhecimento, habilidades e atitudes, ou seja, prioriza

um aperfeiçoamento do processo de ensino - aprendizagem.

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O fato dos professores não trabalharem através de uma avaliação que priorize

a função formativa e esquecendo-se de levar em conta a realidade dos educandos,

entendendo que este faz parte de um determinado grupo social que está inserido numa

cultura específica, pode trazer conseqüências que acabam convergindo no fracasso

escolar e consequentemente na própria evasão escolar, outro dilema presente em nossa

realidade brasileira. Precisamos portanto dar fôlego as novas propostas de avaliação que

priorizem a formação holística do aluno e não veja a aprendizagem de maneira somativa

e mecânica.

2.1 Por uma nova prática de avaliação

A avaliação será contínua e presente durante todo o processo educativo e

deve ter efeito prático. Para isso e necessário que haja uma mudança de consciência de

toda comunidade escolar. Sendo assim deverá existir uma simbiose entre educares,

educandos e a escola. O educador deve organizar a recuperação paralela, voltar ao

assunto sempre que houver dúvida, mudar a maneira de explicar, organizar diferente e

diversificado o trabalho em sala de aula. O educando, por sua vez deverá dedicar-se

mais, dar mais atenção à área de conhecimento com mais dificuldade, criar o hábito de

estudo, participar mais em sala de aula. A escola deve adequar o currículo e torná-lo

significativo, promover a integração entre os professores, realizar grupos de estudo.

Nessa nova visão de avaliação o professor não se preocupa com a média, mas com a

aprendizagem, com o aproveitamento significativo em cada área do conhecimento,

vendo estas de maneira integrada.

Nesta perspectiva, a avaliação escolar assume o papel de diagnosticar as

dificuldades que ocorrem no processo educacional. Os dados levantados servirão de

subsídios para a tomada de decisão para as próximas etapas.

A avaliação formativa tem como função principal mostrar ao professor e ao

aluno os avanços da aprendizagem e suas limitações, permitindo que reflexões e

revisões sejam feitas na busca de alternativas onde se considere a importância da

incorporação de atividades diversificadas, significativas, aceleração e recuperação no

trabalho em sala de aula. O aluno que se encontrar em estágio de defasagem de

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aprendizagem, perde o estímulo, ficando sem condições de acompanhar o processo,

como já vimos anteriormente.

É necessário oportunizar-lhe a recuperação, que deve ser realizada durante todo o

ano letivo ou quando se verificar que os objetivos propostos não foram alcançados. A

avaliação como instrumento de diagnóstico, propicia ao professor oportunidade de

avaliar a eficiência do seu trabalho e sua capacidade profissional, linha metodológica,

adequação dos conteúdos desenvolvidos em função dos objetivos e necessidades do

grupo. É importante frisar que caracterizada como diagnóstico, deve permear todo o

processo ensino-aprendizagem, agindo de forma contínua, onde o professor possa aliar

qualidade à quantidade. O aluno torna-se mais ativo, autônomo e o professor assume a

postura do mediador, do provocador, do estimulador da aprendizagem e a escola um

palco para a socialização do saber e conscientização do cidadão. A avaliação é uma

questão ampla e complexa e seu maior entrave é de que não há, por parte dos

envolvidos no processo , uma unanimidade de percepção sobre os aspectos da ação

avaliativa.

A avaliação é um processo abrangente relacionado aos objetivos, às

finalidades, aos interesses e necessidades de cada aluno e de cada professor. Por isso, é

necessário desenvolvê-lo de forma cooperativa, buscando encontrar saída para as

dúvidas e dificuldades, construindo-o com o máximo de clareza e coerência possíveis.

Só assim, sabendo onde se pretende chegar, será possível avaliar se o percurso está

correto para prosseguir, ou se houve desvio, para corrigir.

Avaliar é uma reflexão sobre a aprendizagem que considera os objetivos

estabelecidos, o desenvolvimento do aluno e o trabalho do professor. Acompanha todo

o processo de ensino e leva à correção de rumos, sempre que necessário, visando a uma

efetiva aprendizagem.

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CAPÍTULO 3: FRACASSO ESCOLAR, EXCLUSÃO

SOCIAL E CRIMINALIDADE INFANTO-JUVENIL –

ALGUMAS APROXIMAÇÕES TEÓRICAS

E, justamente em razão de cada ser humano Ter um tempo e um espaço para se perceber e se mostrar como um sujeito histórico, como participante responsável no mundo, com direitos e deveres, cada adolescente tem um tempo de vivência ocupado pela capacitação que, numa nova atitude de abertura, provoca a transformação social. Uns conseguem isso, superam, transcendem, exercitando a sua condição humana de ser livre e poder sempre recomeçar. Outros esbarram em tantos limites, melhor dizendo, barreiras às vezes intransponíveis que sequer sobrevivem. Morem antes do tempo, são exterminados, ainda adolescentes!

Vera Maria Mothé Fernandes

No Brasil e no mundo a violência e a criminalidade estão crescendo de

maneira exorbitante. Nossa pesquisa consiste, como já dissemos anteriormente, em

traçar um paralelo entre as práticas de avaliação ineficazes na escola e como tais

práticas acabam levando ao fracasso escolar, o qual em grande medida gera a evasão

escolar. Mas o que vai fazer o aluno que saiu da escola? Trabalhar para ajudar sua

família? Ficar ocioso? Ou ser atraído pelas “facilidades” obtidas com sua inserção

dentro da esfera do narcotráfico. Bem, é nesse último ponto que vamos iniciar nossa

discussão.

Como sabemos, o narcotráfico influencia cada vez mais um número maior de

crianças e adolescentes em idade escolar. Não queremos dizer aqui que todas as

crianças e adolescentes que estejam no tráfico estejam fora da escola. Porém, nosso

foco de análise recairá sobre aqueles que estão fora desta, devido a muitos fatores,

dentre estes, o fracasso escolar e a partir daí se envolvem dentro da hierarquia do

narcotráfico. Cabe a nós, portanto, entender como se dá essa entrada no mundo do

crime e seus desdobramentos na vida sócio-econômica e cultural desses jovens.

De acordo com DOUDNEY(2003) vários motivos para a proliferação do

narcotráfico na esfera nacional, destacando-se o cenário carioca, dentre estes

podemos citar:

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a) A chegada da cocaína colombiana a baixo preço e sua alta rentabilidade em

relação à maconha.

b) O aumento do Policiamento violento e repressivo durante a ditadura

c) A chegada de armas leves e de usos militar

d) O estabelecimento e organização de facções da droga.

De acordo com esses dados, percebemos que o fracasso do próprio Estado

Nacional , dentre outros fatores, contribuiu para o aparecimento do narcotráfico de

maneira tão ostensiva no cenário brasileiro, especificamente no âmbito carioca.

Como justificar perante o mundo, entre tantas outras situações, a vergonha nacional

porque passamos, em 23 de julho de 1993, quando policiais assassinaram de uma só

vez quase uma dezena de meninos que viviam nas ruas, deixando muitos outros

feridos? Os meninos dormiam em frente à Candelária e foram executados com tiros

nas costas e na cabeça , em qualquer possibilidades de defesa, justamente por aqueles

que deveriam também protegê-los. Este país, por vezes considerado sem memória,

creio que não a perderá totalmente. A Igreja da Candelária, um dos símbolos da

cidade do Rio de Janeiro, verdadeiro cartão postal, jamais será esquecida pelo povo

brasileiro, agora também por ter sido ao acaso o palco dessa chacina(FERNANDES

1998).

Dentro dessa logística, onde parece que os jovens infratores rompem com uma

certa “higiene da Cidade”, os policiais, que deveriam representar um Estado

democrático e inclusivo, acabam representando verdadeiros “xerifes” que tentam

impor uma certa organização em uma cidade sem-lei. Mas enquanto para o Estado

esses jovens são uma preocupação, pois estão fora dos parâmetros que um jovem

deveria seguir, para o narcotráfico tais jovens, dependendo da situação são a solução

em alguns casos pois a lei seria mais “flexível para com estes” em detrimentos dos

adultos. Apesar de não ficar muito claro, dentro da ótica dos líderes do crime

organizado, o limite entre as fases infantil, adolescente e adulta.

Sendo assim, o crime organizado, na figura de suas diferentes facções e

estratégias múltiplas de atuação, pensa a entrada de crianças e jovens de maneira

estratégica, pois estes acabam servindo de maneira satisfatória as exigências de um

regime onde a lógica é viver marginal em relação as regras de convivências

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estabelecidas por lei, e fiscalizadas pelo Estado. Sendo assim, a aceitação do controle

das facções do tráfico de drogas pelos moradores das favelas não se deve à ausência

completa do Estado, mas antes à falta de alternativas legítimas de governo. O Estado

fracassou na afirmação de um contrato social com os moradores das favelas, o que as

facções fazem com muita eficiência(DOUDNEY: 120).

Devemos destacar no entanto que essa eficiência defendida por DOUDNEY

deve ser relativizada. Em algumas favelas do Rio de Janeiro, o narcotráfico exerce

um poder coercivo de acordo com suas próprias lógicas de ordem, que diferem

muitas vezes da “ordem” do restante da cidade. Seria como se a favela tivesse sua

própria “ordem” em relação ao contexto de ordem que impera em outros pontos da

cidade, pois não podemos perder de vista que a favela, mesmo com sua (des)ordem é

parte da cidade é constitui, junto com outros elementos físicos e sociais, um cenário

que é percebido na paisagem, sendo assim ela também constitui a cidade, embora

socialmente e culturalmente predominem práticas diferentes.

Ainda de acordo com DOUDNEY(2003:120) o processo de recrutamento de

crianças e adolescentes e como estes são vistos pelos traficantes merece um destaque,

pois segundo nós há toda uma forma diferenciada e instrumental de olhar esses

jovens. É importante destacarmos que o tráfico, de acordo com o autor, não procura

esses jovens, porém as crianças que optam por entrar nesse mundo são aceitas por

possuírem algumas qualidades importantes para o aumento dessa espiral do crime

organizado. Sendo assim para o narcotráfico:

• A noção de infância não é avaliada pelo critério de idade, e sim pelo “preparo” para

a função;

• Muitos gerentes de pontos de vendas são menores, mas não identificam a si e aos

outros como tais;

• Muitos adultos jovens que trabalham como gerentes entrarm para o tráfico quando

crianças;

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• As crianças são consideradas mais competentes para muitas funções no tráfico, além

de serem mais baratas de remunerar e serem mantidas presas por menos tempo, se

detidas pela polícia;

• Os traficantes avaliam cada caso em termos de responsabilidade pessoal. Se a

criança pode mostrar que está “preparada” para trabalhar no tráfico, consequentemente é

capaz de ser responsável em suas opções de vida.

Observamos, portanto que os líderes do narcotráfico observam a infância e a

adolescência com base em outros parâmetros, sendo assim, devemos ter um maior

cuidado ao lidar com esses dois termos em relação ao crime organizado, pois nossos

conceitos sobre infância e adolescência são diferentes dos adotados pelos traficantes.

Mas quais os fatores preexistentes que levam uma criança para o para o mundo do

crime?

Ainda de acordo com DOUDNEY(2003), percebemos alguns fatores que levam

alguns jovens para a criminalidade, que são:

• Dominação pelas facções da droga;

• Pobreza;

• Falta de acesso ao mercado de trabalho formal

• A discriminação racial contra favelados

• A falta de bagagem educacional e de capacitação profissional

• A falta de autoconfiança quando fora da favela, provocada pela sensação de rejeição

e diferença, ainda exacerbadas pelo isolamento geográfico das favelas em relação à

cidade, em razão da territorialização pelas facções.

Levando em consideração os itens acima, destacaremos para nossa pesquisa

principalmente a falta de bagagem educacional e de capacitação profissional.

Pensamos portanto, que este é um dos fatores, dentre outros fundamentais que devem

ser revistos dentro da política educacional brasileira. O que leva esse adolescente a não

Ter essa bagagem? Como os profissionais de educação e o Estado ( ou o que ainda

resta deste) estão (re)pensando suas atuações junto a essa problemática que é a

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ausência de um saber mínimo , necessário as pessoas que precisam ser inseridas no

mercado de trabalho.

Se relacionarmos que a falta de oportunidades de emprego está indiretamente ligada ao

aumento da criminalidade, devemos repensar o que falta para que grande parcela da

sociedade brasileira em idade de trabalho seja incluída. Não queremos aqui ser utópicos

em achar que uma boa educação básica e pré-condição para ser inserido na orbita do

mercado de trabalho, pois vemos atualmente que até o diploma de nível superior, no

passado visto como ponte de ascensão social, não é mais garantia de empregabilidade.

A concorrência está cada vez maior e a necessidade de aperfeiçoamento em cursos de

pós-graduação se faz presente em vários campos do saber.

Infelizmente encontramos, por parte das autoridades responsáveis pela política de

segurança pública, uma realidade que está indo na contra –mão em relação as práticas

de inclusão do jovem. Sendo assim a coerção tomou o lugar do diálogo e da (re)

socialização. Prender, reprimir, punir e violentar cada vez mais substituem as práticas

do diálogo, da sociabilidade, da educação e do respeito as diferenças e pluralidade

culturais. De acordo com KNOBEL (1981: 11) a severidade e a violência com que ,as

vezes, se pretende reprimir os jovens só cria um distanciamento maior e uma

agravamento dos conflitos, com o desenvolvimento de personalidades e grupos sociais

cada vez mais anormais, que em última instância implicam uma autodestruição suicida

da sociedade. Assim vemos o adolescente, de um e outro sexo, em conflito, em luta, em

posição marginal frente ao mundo que limita e reprime. É este marginalizar-se do jovem

o que pode levá-lo à psicopatia franca, à atividade delituosa, ou pode, também, ser um

mecanismo de defesa pelo qual preserva os valores essenciais da espécie humana, a

capacidade de adaptar-se modificando o meio, que tenta negar a satisfação instintiva e a

possibilidade de chegar a uma vida adulta positiva e criativa.

Devemos portanto repensar nossas atitudes enquanto educadores, principalmente

na forma de avaliação pois quem sabe aí está, dentre outros, um dos pilares da produção

de desigualdades sociais que levam ao aumento da violência e da criminalidade.

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CAPÍTULO 4: DA EXCLUSÃO SOCIAL E CRIMINALIDADE À (RE)INTEGRAÇÃO SOCIAL – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O INSTITUTO PADRE SEVERINO , A FUNDAÇÃO SÃO MARTINHO E O PROJETO EX-COLA.

“Se não existe liberdade, que somos nós? Joguetes em pleno universo. È esta a razão de nossas angústias. Para as apaziguar queríamos surpreender a liberdade em flagrante delito, tocá-la como se toca um objecto, pelo menos prová-la como se prova um teorema; assentar definitivamente em que há liberdade no mundo. Mas em vão. A liberdade é afirmação da pessoa, vive-se, não se vê.(...) A liberdade não se ganha contra os determinismos naturais, conquista-se por cima deles, mas com eles.”

Emmanuel Mounier Nos capítulos anteriores fizemos toda uma trajetória que vale a pena resgatarmos.

Começamos fazendo uma análise da avaliação escolar e como esta, sendo feita de maneira

imprecisa e adequada à determinadas realidades pode levar ao fracasso escolar. Esse fracasso

acaba levando grande parcela de jovens a uma situação de trabalho infantil ou à uma situação de

ociosidade, a qual, muitas vezes, aliada ao fascínio do tráfico de drogas e suas facilidades de

“estatus social”, principalmente dentro do território marginalizado, leva os jovens a uma vida

inserida dentro das teias da criminalidade. Mas, felizmente( dependendo da instituição,

infelizmente!), há algumas instituições de cunho governamental e não-governamental

preocupadas em reinserir esse menor e até o maior, seja ele infrator ou não dentro da sociedade,

através de certos programas sócio-educativos. Como expresso no Art. 86 do Estatuto da Criança

e do Adolescente: “ A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á

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através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União,

dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios (apud FERNANDES 1998: 48)

Nosso objetivo neste capítulo é justamente expor as iniciativas tomadas por tais

instituições e estabelecer aqui apenas algumas considerações introdutórias acerca deste

assunto. Seria muita pretensão minha, enquanto uma estudante de pós-graduação em

Supervisão Escolar, tentar estabelecer um debate à altura que este assunto merece, dado

fato que uma série de profissionais se debruçam há anos sobre esse tema e mesmo assim

algumas situações lastimáveis ainda persistem. Parece que não adianta sair reportagens

em jornais e revistas, que falam sobre a violência contra o menor, o qual um dia poderá

( se não morrer antes! ) se tornar um maior de idade sem nenhuma possibilidade de ser

um cidadão digno, se não fosse algumas instituições trabalharem para reverter este triste

quadro, seria mais complicado do que já é.

A população parece que já está vendo as diversas formas de exclusão social

como “natural”. No máximo há apenas um breve comentário: “Esse país não tem mais

jeito!”, “Esses adolescentes só querem moleza!!!”. E assim, grande parcela da

sociedade, continua assistindo à suas novelas, as quais muitas vezes vários problemas

sociais são abordados, menos a pobreza, pois parece que esta não dá audiência. Eu

mesmo já escutei nas ruas e de alguns parentes meus: “- Adoro as novelas do autor X

pois nelas não aparece gente pobre!”. Pois é, mas essa gente pobre não aparece em

alguns programas de TV, e quando aparecem é para pedir alguma coisa, que

determinadas emissoras aproveitam e fazem um show de sensacionalismo e enquanto

meninas pobres viram lindas cinderelas ( por apenas algumas horas, é bom que se diga!)

o ibope vai lá em cima. Mas como esse trabalho não é para fazer uma crítica a falta de

responsabilidade social de alguns veículos de comunicação, voltemos ao nosso assunto:

a ressocialização de jovens em situação de criminalidade.

Esses dias, pegando um ônibus para chegar à casa, entrou uma menina cheia de

cartolinas e uma bolsa enorme e muitos papéis. Ela sentou-se ao meu lado. Notei que

era professora pois estava com uma coleção pedagógica para educação infantil. Como

adoro uma conversa, ainda mais com professores em formação, perguntei algo que já

sabia: “-Você é professora?”. A menina, ou melhor, Elisângela, esse era o seu nome, me

respondeu que sim. Daí, começamos um bate-papo gostoso e ao mesmo tempo que me

deixou muito triste. Em determinado momento da nossa conversa ( pode deixar que não

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vou contar, tudo, o.k.?) ela disse que era estagiária de um CIEP, logo após, soltou a

seguinte frase : “Eu me assusto com aqueles alunos. Eles são os futuros chefes do

tráfico. Esses dias escutei um tiro no colégio, quase desmaiei. O município ( no caso,

ela se referia, suponho eu, a um CIEP municipalizado) não tem mais jeito!”. Por um

momento fiquei muito triste com fala da professora estagiária, pois esta nem professora

formada ainda é e já está em uma situação que está levando-a a pensar em desistir do

magistério. Mas tentei esconder minha desilusão e estimulá-la a continuar na luta, pois

ela está apenas começando e eu já tenho 24 anos de magistério, já aposentada pela rede

municipal de ensino, porém ainda lecionando em colégio particular. Esse tempo todo no

magistério, não me leva a desanimar na caminhada, pois a cada dia descobrimos coisas

novas e interessantes.

Como disse acima, nosso objetivo nesse capítulo é mostrar algumas instituições

que tentam ressocializar alguns jovens, sejam esses resultado do fracasso escolar ou

não, mas que estão totalmente à margem da sociedade. Cabe dizermos aqui que

tentaremos estabelecer apenas algumas observações teóricas, ou seja, tentarei analisar

através de livros, artigos e sites da Internet algumas “saídas” para tais jovens em

situação de criminalidade e exclusão. Analisaremos assim, o Instituto Padre Severino,

uma instituição de cunho governamental, que apesar de suas iniciativas em relação a

“ressocialização” do menor, tem sido alvo de muitas críticas. também falaremos de duas

ONGs que estão dando certo, e que têm suas sedes no município do Rio de Janeiro: a

Fundação São Martinho e o Projeto Ex-Cola.

4.1 - Fundação São Martinho Dentro de uma conjuntura onde o Estado parece que cada vez mais vai se

omitindo da vida pública, ou de acordo com alguns autores redefinindo seu papel, a

atuação das Organizações Não-Governamentais vem crescendo bastante. Tais

organizações, não apenas completam a lacuna social deixada pelo Estado e vão mais

adiante oferecendo aos jovens excluídos, uma possibilidade de retorno à sociedade com

dignidade. . Um desses exemplos é a Fundação São Martinho. Sediada no Rio de

Janeiro, no bairro da Lapa, a ONG é um dos exemplos que com união da sociedade

civil, competência, algumas ajudas externas e seriedade e possível modificar uma

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situação, que, como disse acima a professora que encontrei no ônibus, “não tem mais

jeito!”.

É muito fácil sentar e cruzar os braços. Mas nós professores, devemos utilizar

esse maravilhoso material humano que temos em mãos, ou seja, nossos alunos,

principalmente os de áreas carentes, e acompanhá-los junto a uma caminhada em busca

da cidadania plena. E vale a pena ressaltar que para isso é necessário uma união da

escola como um todo: professores, alunos, pais, Orientadores e Supervisores

educacionais, Direção e a comunidade. Só assim, conseguiremos dar o primeiro passo

em busca de uma escola cidadã e consequentemente de um país mais justo e

democrático, onde todos, sem distinção de classe social, gênero, credo, raça, terão as

mesmas oportunidades.

Assim, pensamos que o pensamento de Carlos H. Carrilho esboça a idéia que

vemos nessa Fundação. De acordo com esse autor em todas as áreas, mas sobretudo na

educação, o caminho se faz enquanto se anda. A grande descoberta é que não há

exemplos prontos e fechados para seguir. O que há é um horizonte social , que inclui

não uma forma acabada de estruturas sociais, mas um conjunto de princípios que

servem de rumo dentro de uma realidade determinada e uma proposta metodológica

que torne possível a aproximação deste horizonte.

Podemos dizer que a Fundação São Martinho possui alguns objetivos gerais,

dentre eles se destacam:

- Favorecer o resgate da dignidade humana de crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos

em situação de risco social, proporcionando-lhes meios para desenvolver a sua

afetividade, cidadania e espiritualidade.

- Colaborar na formação de jovens, visando sua autonomia e estimulando-os para a

solidariedade, fé e responsabilidade;

- Resgatar crianças e adolescentes que vivem nas ruas, privilegiando a reintegração

familiar; Contribuir para o fortalecimento dos laços familiares;

- Contribuir para a iniciação profissional

de jovens;

- Atuar na defesa jurídico-social de crianças e adolescentes;

- Facilitar a inserção de jovens no mercado formal de trabalho;

- Contribuir para a ressocialização no ambiente familiar e social de jovens envolvidos

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em atos infratores.

- Contribuir para a formulação e implementação de políticas públicas para a infância e

adolescência;

- e Contribuir para a formação de educadores sociais.

O desenvolvimento das atividades da São Martinho contribui para que “a criança

e o adolescente gozem de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,

sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou

por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o

desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e

dignidade. Esse é o Artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que de acordo

com FERNANDES(1998:47) regulamenta os direitos constitucionais das crianças e

adolescentes brasileiros, expressos no artigo 227, caput, da Carta Magna de 1988 e

possui três princípios fundamentais: a criança e o adolescente são sujeitos de direitos,

em qualquer ação deve ser levada em conta a sua condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento, e os seus direitos devem ser tratados sempre com absoluta prioridade,

ou seja, com precedência nas diversas esferas da vida social.

Podemos dizer também que a fundação através de seus programas de

atendimento aos jovens, trabalha nestes às motivações, à auto-estima, à sensibilidade e à

adequação de atitudes no convívio social, pois tais jovens começam a compreender

melhor a si mesmos e aos outros, visto que está estreitamente ligado ao convívio social.

Sendo assim, os jovens antes envolvidos em situações de marginalidade, começam a

compreender, conviver e produzir com os outros, percebendo diferenças interpessoais,

contrastes de temperamentos, de intenções e de estados de espírito. Os números abaixo,

são relevantes e mostram o quanto a São Martinho consegue chegar até onde o Estado

não chega, ou quando chega, se mostra de maneira ineficiente e precária.

Como gostaria que a professora estagiária que eu conheci no ônibus soubesse da

existência de outras formas de se trabalhar a ressocialização dos jovens e nem tudo está

perdido e sem solução! Pois, se nós professores que trabalhamos diretamente com as

crianças e os jovens não acreditarmos nestes, que profissionais terão a obrigação de

nestes acreditarem? Sendo assim achamos que Rubens Alves (2001) tem algo nos dizer.

De acordo com esse autor:

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- Fala-se no fracasso absoluto da educação brasileira, os meninos não aprendem coisa alguma...O corpo, quando algo indigesto pára no estômago, vale-se de uma contração visceral saudável: vomita. A forma que tem a cabeça de preservar a sua saúde, quando o desagradável é despejado lá dentro, não deixa de ser um vômito: o esquecimento. A recusa em aprender é um sinal de inteligência. O fracasso da educação é , assim, uma evidência de saúde e um protesto: a comida está deteriorada, o gosto está esquisito...

Alguns números que traduzem a ”Saúde” da Fundação São Martinho na ressocialização de menores

Centro Socio-Educativo Resultados 1999 2000 Total de crianças e adolescentes atendidos 1182 1522* Meninos 934 1202 Meninas 248 320 Meninos engraxates 165 169 Números do encaminhamento Para Casas-Residência da São Martinho 159 100 Para outros abrigos do Rio de Janeiro 163 87 Para Conselhos Tutelares 158 1184 Reintegrações Familiares 93 70

Origem dos atendidos Município do Rio de Janeiro 344 674 Estado do Rio de Janeiro 178 521 Outros estados 54 25 Origem desconhecida 606 302

Alimentação Café da manhã, almoço e lanche 102 mil 131,5 mil

Saúde Atendimento médico 1535 1010 Atendimento odontológico 551 593 Enfermaria 1820 1278 * Destes, 1240 eram meninos/as de rua. Os outros 282 eram provenientes de comunidades empobrecidas. Dos 1240, os menionos engraxates eram 169

Casas - residência Resultados 1999 2000 Números de abrigados 176 221 Reintegração familiar 32 58 Matriculados no ensino formal 136 129

Mundo do Trabalho

Adolescentes inseridos nas empresas

Em 1999 1102 Em 2000 1317

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Núcleo Comunitário de Niterói 2000

00-09 anos 05 10-14 anos 151

15-18 anos 105

Total de meninos 164 Total de meninas 97 Total de atendimentos a crianças e adolescentes 261

Participantes das oficinas Arte 42 Música 77 Núcleos de Vicente de Carvalho e Vila Canoas*

2000 00-09 anos 44 10-14 anos 104 15-18 anos 52 Total de meninos 111 Total de meninas 89 Total de atendimentos a crianças e adolescentes 200

Atendimento geral da São Martinho

Em cinco anos a São Martinho ampliou o seu atendimento em 245%, prestando assistência a mais de 2147 meninos e meninas em 2000 que em 1996. Ano Crianças atendidas 1996 1482 1997 1800 1998 2563 1999 3193 2000 3629

4.2- A ONG EX-COLA

“Já fui ladrão nas ruas do Rio, cheirador de cola e

cocaína, agora sou trabalhador"

Jorge Luís Barbosa

De acordo com DIMENSTEIN (1993:15) nota-se a ausência de cidadania

quando uma sociedade gera um menino de rua. Ele é o sintoma mais agudo da crise

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social. Os pais são pobres e não conseguem garantir a educação dos filhos. Eles vão

continuar pobres, já que não arrumam bons empregos. E aí, seus filhos também não

terão condições de progredir. Bem, não desconsiderando a idéia do autor, porém

apontando uma luz no fim do túnel, podemos dizer que a ONG Ex-Cola, se preocupa

em ressocializar ex-meninos de rua, os quais não tendo tido condições de completarem

ou iniciarem os estudos, agora com idade adulta não conseguem um lugar ao Sol dentro

desse nosso desigual e injusto sistema capitalista.

Cansado de apanhar e passar fome ao lado dos nove irmãos, Jonas Silva de

Araújo tinha 12 anos quando trocou a casa dos pais, em Nova Iguaçu, na Baixada

Fluminense, pelas ruas. Foram quatro anos de uma vivência pouco ortodoxa. Dormia ao

relento e perambulava pelas ruas cheirando cola e cocaína. “Sempre tive medo dessas

viagens”, conta. Jonas perdeu vários amigos e acabou desiludido com a falsa liberdade

que as ruas lhe proporcionavam. Entre os 14 e os 18 anos, passou por várias instituições

para menores. No ano passado, finalmente, teve contato com o Centro de Estudos e

Ação em Atenção à Infância e às Drogas, uma organização não-governamental carioca

que ajuda a recuperar meninos de rua. O trabalho da ONG tem sido tão eficaz que já

está sendo usado como modelo pelo governo federal. De acordo com DIMENSTEIN

(1993: 123):

A pobreza provoca uma infecção chamada

desintegração familiar. E ela vem junto com a

violência. Meninos costumam dizer que preferem

morar na rua a morar em casa. É que assim fogem

de agressões do pai ou da mãe. E muitos pais batem

nos filhos porque bebem.

A cartilha de educação popular da ONG, conhecida como Ex-Cola, está sendo

adotada pelo Conselho Federal de Entorpecentes nos programas de prevenção e controle

do consumo de drogas por meninos de rua. Jonas é o exemplo do trabalho de

recuperação da cidadania desenvolvido pela ONG. Depois de trabalhar durante dez anos

com meninos de rua, a assistente social Sylvia Regina dos Santos e o pedagogo Carlos

Antonio Bezerra, coordenadores da ONG, perceberam que havia um problema

aparentemente insolúvel. Após passar pelas instituições para menores, as crianças não

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tinham para onde ir quando atingiam a maioridade. Foi então que Sylvia e Bezerra

decidiram alugar apartamentos pela cidade e levar os meninos para morar entre quatro

paredes.

Jonas, por exemplo, vive num quarto e sala na Tijuca com mais dois outros ex-

meninos de rua. Num prédio típico da classe média com porteiro, interfone e elevador,

os três dividem a arrumação da casa, as contas de luz e gás e parte do condomínio de R$

160. Só o aluguel de R$ 600 é que não entra no rateio. Jonas é um dos 22 ex-meninos de

rua assistidos pelo programa de construção de autonomia que começou a ser

desenvolvido há cerca de dois anos e meio. Esses meninos vivem em cinco

apartamentos espalhados pela cidade que funcionam como repúblicas de estudantes.

Nem todos os cerca de 100 assistidos pela ONG têm vaga nos apartamentos.

De acordo com as assistes sociais eles chegam aqui completamente

despreparados. Não sabem lidar com a liberdade nem tomar decisões. São dependentes

institucionais. Lidamos com eles como dependentes químicos de quem se tem que tirar

gradativamente a droga. O processo de “desintoxicação institucional” não é fácil.

Muitos precisam de acompanhamento psicológico e a maioria chega na república

totalmente despreparada para a vida adulta. “O governo gasta, em média, R$ 350 per

capita com os meninos de rua nas instituições públicas e eles saem de lá, aos 18 anos,

totalmente incapazes de exercitar a cidadania. Não sabem tomar decisões, fazer compras

no supermercado e definir seu futuro. Chegam assustados. Sem saber o que fazer.”

Além de cama, mesa, armário, fogão e geladeira, tudo o mais na república tem

que ser comprado com o dinheiro dos próprios meninos – eles recebem da ONG um

auxílio alimentação de R$ 60 por semana e mais vale transporte. Na casa de Jonas, por

exemplo, já há duas televisões, um videocassete, um aparelho de CD e discos de Gabriel

o Pensador, Os Paralamas do Sucesso, Milton Nascimento, Luiz Gonzaga, Lionel

Richie e muito reggae. Nos armários, não faltam potes de alimentos dietéticos. Para

permanecer no programa, o jovem tem que estar obrigatoriamente estudando e, se

possível, fazendo algum tipo de estágio profissional.

Nesse processo, Jonas se reaproximou da família e já está até conseguindo

construir sua própria casa no terreno do pai, em Engenheiro Pedreira. “Até o fim deste

ano, terei um lar”, comemora vitorioso. O material para o início das obras foi doado

pela Pastoral do Menor. Dos R$ 240 que ganha como monitor de um grupo de 20

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jardineiros do Jardim Botânico, todos meninos de rua ou de comunidade carente, R$

150 são pagos mensalmente ao pedreiro responsável por levantar sua casa. Trabalhando

com recursos vindos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, da Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social do Rio e do Fundo para Infância e Adolescência,

a Ex-Cola atua em várias frentes – todas visando recuperar o menor e tirá-lo das ruas. É

o caso, por exemplo, de Jorge Luís dos Santos Barbosa, o Zaza. Ele fumava maconha –

“uns dez baseados por dia” –, cheirava cola e cocaína e praticava pequenos roubos. Já

chegou a ficar em instituições de menores infratores. Zaza, hoje com 17 anos, saiu de

casa aos oito.

Desde que começou a ser atendido pela Ex-Cola, Zaza foi morar numa

instituição pública em Vila Isabel, zona norte do Rio, voltou a estudar e está

participando das oficinas de teatro da Ex-Cola desenvolvidas no Centro de Teatro do

Oprimido. Atualmente, está ensaiando o texto O mendigo ou o cão morto, de Bertolt

Brecht, onde Zaza mostra seus dotes de funkeiro cantando o Rap da Candelária. Os

próprios meninos fizeram uma adaptação moderna para o texto do teatrólogo. “Já fui

ladrão e cheirador, agora sou trabalhador”, orgulha-se. Fazendo estágio na Imprensa da

Cidade – uma fábrica de empacotamento, o sonho de consumo de Zaza é trabalhar com

carteira assinada. Hoje ganha R$ 140 mensais, dos quais R$ 80 vêm da bolsa de estágio

do trabalho e os outros R$ 60 fatura como um dos membros do projeto de teatro

desenvolvido pela Ex-Cola. Faltando apenas alguns meses para completar 18 anos, Zaza

é desde já um forte candidato ao título de ex-menino de rua.

4.3- INSTITUTO PADRE SEVERINO – UMA VERSÃO INFANTO-

JUVENIL DO CARANDIRU?

Carandiru, o filme de Hector Babenco que está fazendo sucesso de bilheteria no

Brasil retrata a realidade daquele que foi uma das maiores casas de detenção do país.

Através de uma narrativa que tenta mostrar a trajetória dos detentos até chegar a

reclusão, o diretor traça um paralelo entre a desigualdade social no país e a

criminalidade. Bem, o Carandiru foi demolido, mas podemos dizer que ainda restam

vários “escombros” dessa estrutura carcerária, e o que é pior: para um público mais

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jovem, porém que já sabe muita coisa da vida no crime. Um grande exemplo é o

Instituto Padre Severino, o qual nos deteremos em analisar neste momento.

A escalada dos pequenos traficantes fica mais clara quando se examinam os

registros da Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) da polícia do Rio.

Nada menos que 1.108 adolescentes foram presos no ano passado por envolvimento

com o tráfico de drogas. O número é duas vezes maior que o de 1995 e nove vezes

maior que o de 1993. Do total de garotos presos em 1996, mais de um terço vendia

tóxicos. Tornaram-se comuns os confrontos de policiais contra menores armados de

fuzis e até granadas. “Você não imagina como o gatilho fica leve na mão de um

adolescente”, avalia a delegada Márcia Julião, diretora da DPCA.

De acordo com DOUDNEY(2003:1998) as crianças e adolescentes não são

coagidas ou forçadas a juntarem-se as facções do tráfico de drogas. Para este autor

elas entram voluntariamente e precisam até demonstrar uma aspiração sustentada para

serem aceitas para um emprego em tempo integral. Todavia antes de estabelecer

porque algumas crianças fazem essa opção, é preciso compreender alguns fatores

preexistentes, comuns a todas as crianças que cresceram nas favelas do Rio de Janeiro,

desde os anos 80. Então será possível perceber que a combinação da atração exercida

pelo tráfico e outras influencias limitam extremamente as opções para muitas crianças

das favelas. O que inicialmente parece ser uma “escolha voluntária” pode ser

redefinido como a melhor alternativa entre opções escassas.

Infelizmente a “alegria” e o “status” propiciado pelo crime dura pouco. Quando

são pegos pelos policiais e levados para os institutos de ressocialização do Estado, ao

contrário do que o nome diz, é que começam a aprender a conviver dentro de um regime

de cárcere privado que na grande maioria das vezes e apenas uma passagem, pois logo

fogem. E já de maiores, são novamente pegos pelos policiais e vão para as prisões de

adultos e ali numa espécie de pós-graduação da criminalidade, pois a graduação foi no

Instituto de ressocialização com oportunidades, devido às fugas a ”trabalhos de campo”

nas ruas, para colocar na prática o que aprenderam com os “colegas de classe”.

A rigor, o lugar para onde são mandados os menores infratores não difere muito

de um presídio para adultos. É o Instituto Padre Severino, um local onde as condições

de sobrevivência são as piores possíveis – há infiltrações nas paredes, a comida é

péssima, são comuns as denúncias de agressões praticadas por funcionários e houve

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época que para os 160 leitos disponíveis havia o dobro de internos. Por conta da

crescente participação de adolescentes no tráfico de drogas, o instituto, que já era um

barril de pólvora, explodiu de vez. Desde o reveillon, as rebeliões de internos se

repetem com freqüência e intensidade cada vez maiores. Foram seis motins e grandes

fugas somente este ano. Não é de hoje, porém, que o instituto reproduz o clima de

violência existente nos morros. Tanto que os internos são separados em dois grupos: de

um lado os que pertencem à facção Comando Vermelho. De outro, os do Terceiro

Comando. “Desde que acompanhei a chegada de um adolescente que foi aclamado

como um líder, percebi que deveria tomar esses cuidados”, explica Aílton Leite, diretor

do Departamento Geral de Ação Sócio-Educativa (Degase), que administra o instituto.

Leite se mostra aturdido com a crescente influência do tráfico sobre os garotos e espera

que os governos e empresários tratem de se unir rapidamente para tocar projetos

conjuntos. Ele sugere cursos profissionalizantes que tenham realmente utilidade para o

mercado – nada como vassoureiro ou marceneiro, por exemplo. “Se continuarmos sem

projetos, não sei aonde vamos chegar nos próximos cinco anos.”

A média de idade dos internos do Instituto Padre Severino cai assustadoramente.

Não é difícil encontrar garotos como L.S., que tem apenas 13 anos e atua no tráfico de

drogas desde os 11. Ele foi parar no instituto depois de ser preso com maconha e uma

pistola Taurus PT 380, quando vendia drogas no morro da Mineira, também no centro

do Rio. Diz que entrou para a quadrilha de traficantes depois de muito insistir com o

chefão. “Eu sempre quis usar uma daquelas pistolas, um fuzil, uma metralhadora”,

conta. A fascinação parece Ter sido causada por um tio “bandido”, que aos cinco anos

lhe mostrou um fuzil como quem apresenta um brinquedo. Órfão de mãe, o garoto

passou os últimos anos morando com seus cinco irmãos na casa da avó e apenas vez por

outra acompanhava o pai, um feirante morador do morro da Mangueira, em seu trabalho

de vender legumes e frutas. A avó fingia não saber o que o neto fazia durante as

madrugadas em que não parava em casa. “Ela perguntava onde eu passava a noite e eu

dizia que ficava na casa dos amigos”, explica.

Ainda de acordo com DOUDNEY (1998: 137) não podemos descartar algumas

influências que levam os jovens a entrarem na criminalidade, como vimos acima. Sendo

assim poderíamos destacar:

• A influência dos pais ou parentes no tráfico;

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• Envolvimento dos pais ou parentes no tráfico;

• Envolvimento de amigos com o tráfico.

Antes de realizar o sonho de segurar uma arma pela primeira vez, L.S.

recebeu um curso intensivo de um traficante mais experiente – coisa de meia hora de

explicações e meia-dúzia de disparos. O bastante para que o garoto se achasse em

condições de enfrentar o inimigo. “Troquei tiros com a polícia muitas vezes”, recorda.

“Numa dessas, acertaram em cheio o Bicudo, um dos meus maiores parceiros. Ele

morreu do meu lado.” L.S. só escapou porque foi mais rápido e pulou um muro próximo

antes que os policiais o pegassem também. Antes de fugir, ainda conseguiu balear um

policial. A morte do amigo não fez com que saísse do tráfico. Continuou exercendo sua

tarefa de “vapor”. “Um saco com 100 papelotes de cocaína acaba em menos de uma

hora”, conta. Seu trabalho rendia cerca de R$ 250 por semana. Parte dessa quantia, L.S.

diz Ter depositado numa caderneta de poupança, em nome de sua avó. A maior fatia, no

entanto, gastou na compra de roupas, em fichas de fliperama e com a maconha usada

para consumo próprio.

Sem dúvida, a excepcional remuneração é o principal fator que empurra os

garotos para os braços dos traficantes. “No quadro de miséria em que vivem os

moradores das favelas, esse apelo é quase irresistível”, avalia a psicóloga Valéria

Magalhães, integrante do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do

Adolescente, uma entidade que, entre outras tarefas, procura dar apoio aos jovens

envolvidos com o tráfico. Dificilmente um adolescente saído da favela pode aspirar a

um emprego com salário superior a R$ 200 ou R$ 300. Vendendo drogas, geralmente

não se ganha menos que dez salários mínimos. O apelo do dinheiro fácil, que pode

comprar roupas de griffe, carros e celulares, atrai os jovens moradores dos morros.

“Eles enxergam o traficante como um herói e sonham um dia conseguir aquele status”,

acredita Paulo Ramos, presidente da associação de moradores do morro dos Prazeres,

onde as batalhas travadas entre os traficantes são bastante freqüentes.

Para DOUDNEY(1998: 222) compreender o significado do tráfico oferecido

como trabalho para a criança, é crucial para prevenir que futuras gerações de

crianças sejam envolvidas como combatentes nas disputas das facções do tráfico no Rio

de Janeiro. (...) O tráfico oferece às crianças e adolescentes o que a sociedade falhou

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em oferecer-lhes: status, dinheiro, acesso a bens de consumo e perspectiva de ascensão

social num mundo que as crianças da favela compreendem.

Enfim, estamos diante de um grave problema social que é a exclusão de alguns

jovens dos seus direitos enquanto cidadãos e reafirmados pelo Estatuto da Criança e do

adolescente, como vimos anteriormente. Leis no nosso país é o que não falta.

Profissionais especializados para lidar com a situação do menor também, só eu conheço

uma grande quantidade de assistentes sociais que estão desempregadas, porém o que não

lhes faltaria seria emprego se houvesse uma política séria por parte de algumas agências

do governo. Sendo assim, enquanto alguns órgãos governamentais responsáveis pelo

menor infrator, quase que decretam, através de certos acontecimentos como: rebeliões,

maus tratos etc....a sorte tem sido a iniciativa de algumas ONGs que sem a burocracia do

Estado e atuando de maneira mais humana e descentralizada, estão sendo responsáveis

pelas poucas iniciativas que estão dando certo dentro desse universo que é o mundo do

crime e da exclusão infanto- juvenis.

Esperamos, portanto que a criança e adolescente infratores, que não são culpados

por sua condição social, tenham um tratamento adequado dentro das instituições que

procuram desenvolver um trabalho de ressocialização. Já que o Estado cada vez menos

cumpre o seu papel social antes da entrada desses jovens no mundo da criminalidade, que

pelo menos, após o fato ele toma algumas providências que reparem sua omissão.

Presenciamos, porém, que as Organizações Não- governamentais pela sua

flexibilidade, autonomia e competência tem muito a ensinarem ao Estado, que no que diz

respeito a política educacional está totalmente sem uma direção séria e eficaz que

consiga conscientizar os jovens de eles são o futuro da nação e que o país precisa de

cidadãos críticos e conscientes para que saiamos dessa situação de pobreza,

marginalidade e violência, que nos faz refém dentro de nossas próprias casas.

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CONCLUSÃO

Tentamos estabelecer aqui algumas reflexões acerca de uma tríade que achamos

relacionada: as formas de avaliar o aluno, o fracasso escolar e a ida de crianças e

adolescentes para o mundo da criminalidade, mas precisamente o narcotráfico.

Devemos deixar bem claro, a título de conclusão, que sabemos que o fracasso

escolar possui vários outros motivos além das práticas de avaliação na escola, porém

resolvemos investigar como a escola, principalmente aquela despreocupada com a criação

de hábitos e atitudes cidadãs, serve como um instrumento de reprodução social de classes.

A velha receita liberal se impõe, ou seja, só os mais aptos conseguem um “lugar ao sol”

dentro do sistema. Sendo assim, restam poucas alternativas para aqueles que ficam à

margem, principalmente quando estes são crianças e adolescentes que não têm ainda

capacidades cognitivas de compreenderem a dinâmica perversa e excludente de nossa

sociedade capitalista. .

Procuramos, portanto, contribuir com alguns questionamentos no primeiro

capítulo que dizem respeito as formas como a escola, e principalmente os professores

avaliam. Discorremos sobre a idéia de que muitas vezes, os professores são pressionados

por uma conjuntura maior, que acaba influenciando sua prática e consequentemente seu

modo de avaliar o aluno. De acordo com alguns professores de escolas particulares com

os quais conversamos durante esta pesquisa, a qual teve mais um cunho investigativo-

teórico do que propriamente a prática empírica, percebemos que estes não se sentem a

vontade para executarem seus métodos e estratégias, o que a maioria das escolas cobra é

a “disciplina”. Procuramos não nos ater por esta temática, pois poderíamos enviesar por

outros caminhos bastante tortuosos.

No segundo capítulo, começamos a refletir um pouco mais sobre o fracasso

escolar, tentando percebe-lo como conseqüência, dentre outros fatores, da avaliação.

Como sabemos, e já dissemos acima, o fracasso escolar tem várias gênesis como a falta

de estrutura familiar, a falta de estímulo, de capital etc. Bem, mas priorizamos em traçar

um paralelo entre a avaliação e como esta contribui para a saída da criança ou do

adolescente da instituição escolar.

No terceiro capítulo começamos a estabelecer algumas relações entre a saída do

jovem da escola e sua ociosidade contribuindo, dentre outros fatores, para sua entrada no

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mundo da criminalidade, que tanto atrai jovens, principalmente os que querem ser

consumidores e não podem ser dentro desse mundo em que a mercadoria , infelizmente,

virou uma peça fundamental para a identificação e status social. Analisamos assim, a ida

desses jovens para a criminalidade e os elementos que de forma direta ou indireta

contribuem para isso.

No quarto capítulo, procuramos investigar as instituições governamentais e não

governamentais que ainda acreditam na ressocialização desses menores infratores. Sendo

assim, analisamos três instituições uma de cunho governamental, o Instituto Padre

Severino e duas de caráter não governamental: A Fundação Ex-Cola e a Fundação São

Martinho. Percebemos nitidamente a diferença na qualidade do serviço prestado bem

como em resultados de ressocialização desses jovens, entre a primeira e as duas últimas

instituições citadas.

Enfim, esperamos que este trabalho de maneira bem humilde e introdutória

contribua para uma reflexão crítica acerca do que a escola, através de seus métodos

tradicionais de ensino, aliado a falta de oportunidades em diferentes instâncias

(econômicas, sociais e culturais) , pode acabar produzindo em determinadas pessoas,

transformando-as em seres onde a exclusão social parece ser o único palco para o grande

teatro da vida. Esperamos portanto que esse pontapé inicial dado por essa monografia,

além de outros trabalhos já publicados, possa sensibilizar os leitores e transforma-los em

agentes que contribuam para a melhoria da educação brasileira.

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ANEXO 1 : ATIVIDADES CULTURAIS

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ANEXO 2: DECLARAÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO

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