avaliação e controle da exposição ocupacional à poeiras na industria da construção

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A  R T I   G  O  A  R T I   C L E 80 1 Avaliação e controle da exposição ocupacional à poeira na indústria da construção Evaluation and control of occupational exposure to dust in the construction industry 1 Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense. Rua P asso da Pátria, 56 São Domingos. 240 01-9 70, Nit erói RJ. [email protected] [email protected] VIadimir Ferreira de Souza 1 Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas 1 Abstract This work is a intend to evaluate quantitatively the airbornes produced by ac- tivities at civil construction on which the con- struction sites workers are exposed. It identify the necessity o f implementing programs to re- duce negative impacts in the worker' s health. It also intend to classify and identify some of the principal situations and activities of civil  construction wherein actually there is most   pr es ence of th e s il ic a i n d us t. Th e s tu dy wa s conducted in several construction sites in Rio de Janeiro . In the field research was determined the respirable dust concentration with dust   grav imet ric b omb, filt eri ng sy stem ( filt res, fil- tre-holders and holders) and from size parti- cle system (ciclone) . The samples analysis was  pe rf or me d in laboratory to de te rmine th e quartz by Fourier transformed infrared spec- tropho tometry (FTIR). This work demons trates that the development of Environrnental Haz- ard Prevention Program is part of the most  health prevention field and workers integr ity, and must being articulated with the Medical  ControI Program of Occupacional Health. Key words Construction Industry, Airbornes, Silica Resumo Este texto trata da avaliação quan- titativa dos aerodispersóides gerados por ati- vidades na construção civil aos quais os traba- lhadores se expõ em. Busca identificar a neces- sidade de implantar medidas de controle e de redução/eliminação de impactos e incentivar a implantação de programa de proteção da saúde de trabalhadores da indústria da cons- trução. Classifica e identifica as principais si- tuações e atividades geradoras do problema onde há maior presença da sílica livre na poei- ra .0 estudo foi realizado em canteiros de obra no Rio de Janeiro . Foi determinada a concen- tração de poeira respirável através de bomba  grav imét ric a de po eira s, sist ema f ilt rant e (fil - tros, porta-filtros e suportes) e sistema sepa- rador de tamanho de partícula (ciclone). A análise de laboratório para determinação da sílica livre foi feita por espectrofotometria de infravermelho por transformada de Fo urier. O estudo demonstra que o desenvolvimento do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) é parte do conjunto de iniciativas pa- ra preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocu-  pac iona l (P CMSO ). Palavras-chave Indús tria da construção, Ae- rodis persó ides, Sílic a

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Avaliação e controle da exposição ocupacionalà poeira na indústria da construção

Evaluation and control of occupational exposure

to dust in the construction industry

1 Laboratório de Tecnologia,Gestão de Negócios e MeioAmbiente da UniversidadeFederal Fluminense.Rua Passo da Pátria, 56São Domingos.24001-970, Niterói [email protected]@latec.uff.br

VIadimir Ferreira de Souza1

Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas1

Abstract This work is a intend to evaluatequantitatively the airbornes produced by ac-tivities at civil construction on which the con-struction sites workers are exposed. It identify the necessity of implementing programs to re-duce negative impacts in the worker' s health.It also intend to classify and identify some of the principal situations and activities of civil construction wherein actually there is most presence of the s ilica in dust. The s tudy wasconducted in several construction sites in Riode Janeiro. In the field research was determined the respirable dust concentration with dust gravimetric bomb, filtering system (filt res, fil-tre-holders and holders) and from size parti-cle system (ciclone). The samples analysis was performed in laboratory to determine thequartz by Fourier transformed infrared spec-trophotometry (FTIR). This work demonstratesthat the development of Environrnental Haz-

ard Prevention Program is part of the most health prevention field and workers integr ity,and must being articulated with the Medical ControI Program of Occupacional Health.Key words Construction Industry, Airbornes,Silica

Resumo Este texto trata da avaliação quan-titativa dos aerodispersóides gerados por ati-vidades na construção civil aos quais os traba-lhadores se expõem. Busca identificar a neces-sidade de implantar medidas de controle e deredução/eliminação de impactos e incentivar a implantação de programa de proteção dasaúde de trabalhadores da indústria da cons-trução. Classifica e identifica as principais si-tuações e atividades geradoras do problemaonde há maior presença da sílica livre na poei-ra .0 estudo foi realizado em canteiros de obrano Rio de Janeiro. Foi determinada a concen-tração de poeira respirável através de bomba gravimét rica de poeiras, sistema filt rante (fil -tros, porta-filtros e suportes) e sistema sepa-rador de tamanho de partícula (ciclone). Aanálise de laboratório para determinação dasílica livre foi feita por espectrofotometria deinfravermelho por transformada de Fourier. O

estudo demonstra que o desenvolvimento doPrograma de Prevenção de Riscos Ambientais(PPRA) é parte do conjunto de iniciativas pa-ra preservação da saúde e da integridade dostrabalhadores, devendo estar articulado como Programa de Controle Médico de Saúde Ocu- pacional (PCMSO).Palavras-chave Indústria da construção, Ae-rodispersóides, Sílica

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Introdução

Os ambientes de trabalho contaminados compoeiras na indústria da construção represen-tam alguns riscos de doenças ocupacionais pa-

ra os trabalhadores expostos.Entre essas doenças encontra-se a silicose,principal doença ocupacional pulmonar noBrasil, devido ao elevado número de trabalha-dores expostos (René Mendes, 1997). O maiornúmero de casos já encontrados no Brasil éproveniente da mineração subterrânea de ouroem Minas Gerais, onde havia cerca de quatromil casos diagnosticados até 1992. Logo a se-guir vem a indústria cerâmica, fundições, ativi-dades industriais mistas e atividades como a es-cavação manual de poços e o jateamento deareia. A pneumoconiose dos trabalhadores de

minas de carvão vem em seguida, com mais dedois mil casos reconhecidos em benefícios pre-videnciários. Não há números exatos sobre adoença, nem uma estimativa de população emrisco, mas a exposição ocupacional a poeirascom sílica certamente envolve alguns milhõesde trabalhadores, nas mais variadas atividadesprodutivas. Nos países desenvolvidos a silicoseé uma doença que se constitui cada vez maisem patologia pulmonar rara em ambulatóriosde doenças ocupacionais ou pneumologia.

Alguns motivos que justificam essa situa-ção em nosso meio seriam: o "aquecimento" daatividade econômica e a industrialização relati-vamente recentes no Brasil; as atividades extra-tivas e o parque industrial brasileiro que, comexceções, são calcados em tecnologias e equi-pamentos que não obedecem a padrões de pro-teção no trabalho e o risco de doenças profis-sionais começou a ser motivo de pleitos de for-ma mais rotineira pelos sindicatos dos traba-lhadores somente nos últimos anos da décadade 1980.

Além disso, a silicose é uma doença causa-da pela inalação de partículas de dióxido de si-lício cristalino (Si0

2), que é um elemento en-

contrado amplamente depositado nas rochasque constituem a crosta terrestre. Por esse mo-tivo, as atividades industriais que envolvemcorte ou polimento de rochas constituem fon-tes potenciais de sílica respirável. Outras ativi-dades podem também ser incluídas, como amineração, a abertura de túneis, o trabalho empedreiras e o corte e a lapidação de pedras. Osusos industriais da areia podem ocasionar ex-posição a elevadas concentrações de sílica res-pirável, principalmente o uso da areia com fi-

nalidades abrasivas (jateamento de areia). Aareia também é amplamente utilizada em tra-balhos de fundição, fabricação de vidros e naindústria cerâmica.

Portanto, a silicose pode ser gerada por di-

versas atividades na indústria da construção.No entanto, seus riscos podem ser reduzidosou até mesmo eliminados por simples medidasde controle no ambiente e no homem. A prin-cipal esperança para a redução da prevalênciada silicose repousa na prevenção dos riscos. Osprocessos industriais que geram sílica livre res-pirável devem ser compartimentalizados oumodificados; qualquer poeira que contenha sí-lica jamais deve ser varrida seca, e os trabalha-dores devem sempre utilizar equipamento deproteção respiratória individual, a fim de evi-tar exposições, mesmo por curtos períodos de

tempo. Em vários países, por exemplo, não émais permitido o uso da areia em processos a-brasivos, devido à grande quantidade de sílicarespirável produzida. Tal proibição deveriaser instituída em todo o mundo, uma vez queexistem diversas alternativas disponíveis (gra-nalha de aço e cinza de carvão, por exemplo)(Wyngaarden, 1993).

Desenvolvimento

Objetivos, delimitaçãoe importância do estudo

O objetivo deste trabalho é avaliar quanti-tativamente os aerodispersóides (poeiras) gera-dos por diversas atividades na construção civilaos quais os trabalhadores em canteiros deobra se expõem, identificando-se a necessidadede implantar medidas de controle e de redu-ção/eliminação de impactos negativos na saúdedo trabalhador.

No entanto, um dos principais méritos des-ta pesquisa é demonstrar que o desenvolvimen-to do Programa de Prevenção de Riscos Am-bientais (PPRA), representando a Higiene Ocu-pacional, é parte de um conjunto mais amplodas iniciativas da empresa no campo da preser-vação da saúde e da integridade dos trabalha-dores, devendo estar articulado em especialcom o Programa de Controle Médico de SaúdeOcupacional (PCMSO).

Este desenvolvimento também pretendeclassificar e identificar algumas das principaissituações e atividades da construção civil e suasfontes geradoras nas quais realmente há maior

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presença da sílica livre na poeira. O estudo foirealizado em vários canteiros de obra localiza-dos no município do Rio de Janeiro, sendo co-letadas amostras para avaliação de poeira quepoderiam conter sílica livre cristalizada nas ati-

vidades mais críticas, como lixamento de con-creto de fachada, corte de granitos, escavaçõesmanuais, serviços de terraplenagem, prepara-ção de argamassa e corte de elementos estrutu-rais de concreto com o uso de martelete. O tra-balho aqui relatado é produto da primeira eta-pa de um projeto que prevê a aplicação/testedas medidas de gerenciamento sugeridas pararedução dos riscos de doenças ocupacionais,especialmente a silicose, nos trabalhadores daindústria da construção.

Metodologia

População e amostra

A partir de uma lista das principais ativida-des na construção civil, que geram poeiras compossíveis percentuais de sílica e após algumasvisitas a canteiros de obra, foram definidas asatividades a serem avaliadas.

Em um primeiro momento foram realiza-das 14 amostragens de diferentes atividades,tais como:• terraplenagem• controle de entrada e saída de materiais do

canteiro• lixamento de concreto de fachada, com uti-

lização de lixadeira elétrica• escavação e transporte manual de solo• preparação de argamassa com uso de beto-

neira sem carregador• preparação de argamassa com uso de beto-

neira com carregador• transporte de saco de cimento• quebra de elemento estrutural de concreto

com uso de martelete• corte de granito com uso de máquina de

corte (“maquita”)• apicoamento de parede de concreto com

uso de marreta e ponteiraApós envio das amostras para análise no la-

boratório, identificou-se com os resultados umpercentual de sílica considerável em duas des-tas situações: lixamento de concreto de fachadae quebra de elemento estrutural de concretocom uso de martelete. A partir daí, para cadauma das situações, foram feitas mais cincoamostras, perfazendo um total de amostras ne-

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cessário para maior representatividade da pre-sente pesquisa.

Instrumentos de medida

Os equipamentos de amostragem de poei-ras devem simular, da forma mais aproximadapossível, o que acontece no trato respiratório,quando da inalação de aerodispersóides. Emoutras palavras, o material a ser coletado peloamostrador somente deverá coletar partículasque tenham a possibilidade de penetrar no tra-to respiratório (poeira respirável). Dessa formaa amostragem será representativa da exposiçãoocupacional.

Para avaliação da exposição ocupacional aaerodispersóides foram necessários os seguin-tes instrumentos:

• bomba gravimétrica de poeira• sistema filtrante (filtros, porta-filtros e su-portes)

• sistema separador de tamanho de aerodis-persóide (ciclone)

• termo-higrômetro• calibrador tipo coluna de vidro• cronômetro de qualquer natureza com pre-

cisão mínima de 1 minuto

Tratamento e análise dos dados

Os procedimentos e técnicas de amostra-gem utilizados neste trabalho são baseados nasseguintes normas técnicas:• NHT 02-A/E – Norma para Avaliação da

Exposição Ocupacional a Aerodispersóides;• NHT 03-A/E – Determinação da Vazão

de Amostragem pelo Método da Bolha deSabão.Da mesma maneira, a análise gravimétrica

de aerodispersóides, ou seja, a determinação damassa de poeira, foi realizada pelo método daFundacentro (MHA-O2/G – Determinação Gra-vimétrica de Aerodispersóides) adaptado peloCentro de Tecnologia Ambiental.

Enquanto que a análise da sílica livre cris-talina foi realizada pelo Método NIOSH 7602espectro fotometria de infravermelho.Com lei-tura feita a 800 cm-\ resolução de l cm-\ comespectrômetro de infravermelho por transfor-mada de Fourier.

Limitações do método

Por se tratar de um estudo preliminar e deorientação, a estratégia de amostragem adota-

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da foi baseada, apenas, na avaliação das situa-ções e locais considerados críticos em um can-teiro de obras. Por isso, não se trabalhou comdefinição de Grupos Homogêneos de Trabalha-dores Expostos ou com Avaliações ao Longo do

Tempo, o que tornaria da mesma forma econo-micamente inviável o presente trabalho. Lem-bramos que o ideal é realizar amostragens emtodos os trabalhadores expostos ao risco, toda-via o procedimento pode ser simplificado pelocritério de seleção por grupo homogêneo deexposição. Aliás, mesmo na seleção por grupohomogêneo, que é uma seleção normalizada,na prática encontramos dificuldades em suaaplicação, devido à questão do custo de cadaamostragem.

Na grande maioria das empresas do Brasil,dificilmente é realizada mais de uma amostra-

gem em todo grupo homogêneo de exposição,pois a sua direção normalmente considera ele-vadíssimo o custo de apenas uma amostragemde poeira.

Discussão dos resultados

Estratégia de amostragem

As medidas de controle que forem adota-das nos setores considerados mais críticos enas fontes geradoras de poeira certamente be-neficiarão os demais postos de trabalho docanteiro de obras e os demais trabalhadoresque exercem suas atividades nas proximidades.As amostras de poeira individuais foram cole-tadas ao nível respiratório dos trabalhadores,por meio de filtros pré-pesados de PVC, de37mm de diâmetro e porosidade média de5mm, utilizando-se de bomba de amostragemindividual alimentada por bateria recarregávele com vazão constante dentro de 5%, confor-me NHT-O2A1E. A bomba gravimétrica utili-zada neste estudo é da marca Mine Safety Ap-pliances Company (MSA), modelo Escort Elf-Pump.

A vazão de coleta para amostras de poeirarespirável (PR) foi de 1,71/min, calibrada se-gundo a NHT-O3 A1E, com a utilização de umcalibrador tipo coluna de vidro disponibiliza-do pelo Centro de Tecnologia Ambiental.

A poeira respirável foi coletada utilizando-se um dispositivo seletor de partículas – ciclo-ne conforme NHT-03A/E. O tempo de coletavariou de acordo com as características do am-biente e das atividades que foram realizadas.

Locais e situações onde foramrealizadas as avaliações

• Lixamento do concreto de fachada: apare-lho colocado nos raspadores que operavam as

lixadeiras, apoiados em andaimes suspensosmecânicos.• Abastecimento de betoneira: aparelho colo-cado nos serventes responsáveis pelos serviçosde carregamento do saco de cimento, sua aber-tura e colocação do cimento na betoneira. Alémda exposição ao cimento, tais trabalhadores fi-cavam expostos a poeira dos outros elementosque compõem uma argamassa, como a areia,saibro e cal.• Escavação de solo: aparelho colocado nostrabalhadores que cortavam o solo, utilizando-se de pás e picaretas, para o acerto e suavização

de taludes ao longo das construções. Estes pro-fissionais realizavam o corte do solo (normal-mente argiloso e pouco úmido) além do trans-porte do mesmo por meio de carrinhos de mão.• Arrasamento de estacas moldadasin loco:aparelho colocado em marteleteiros que opera-vam o martelete para o acerto das estacas deconcreto armado envolvidas pelo próprio soloda região.• Apicoamento de parede: aparelho colocadoem pedreiros ao apicoarem as paredes com uti-lização de marreta e ponteira, envolvendopoeira de cimento e do próprio solo envolvidosna confecção destas paredes.• Corte de granito: bomba gravimétrica ins-talada em colocadores de granito nas fachadas,de rodapés e bancadas de pia nas operações decorte do granito com utilização de “maquita”.• Terraplenagem: operação com pá mecânicade carregamento de solo e cal, com o aparelhosendo colocado no operador.• Vigia: foi instalado o aparelho no vigia quepermanecia em local com grande concentraçãode poeira desprendida pela entrada e saída deveículos carregados de materiais.

Medidas de controle

Se os resultados obtidos na avaliação dos agen-tes químicos indicarem valores de concentra-ções preocupantes quando comparadas com va-lores cientificamente aceitos, deve ser estudada eimplantada uma ou mais medidas de controlepara reduzi-los a valores considerados seguros.

Entende-se por controle a eliminação ou aredução dos agentes presentes no ambiente de

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trabalho, até concentrações que não resultemem danos para a saúde da maioria dos traba-lhadores expostos, ou ainda a eliminação ou alimitação da exposição a tais agentes (Carvalho,S. A., 1999).

Os sistemas de controle (barreiras de segu-rança) introduzidos no projeto devem ser pre-vistos para manter os contaminantes em níveistão reduzidos quanto possível, preferencialmen-te abaixo do Nível de Ação (50% do limite de to-lerância).

É conveniente analisar a relação custo/be-neficio das medidas de controle.

Os sistemas de controle, em geral, estão re-lacionados a técnicas de engenharia. Dessa for-ma, cabe destacar que o objetivo principal daengenharia de segurança e higiene ocupacio-nal é: identificar, classificar, mensurar e neu-

tralizar os riscos que resultam da atividadeprodutiva.Sendo o perigo definido como a exposição

ao risco, cabe lembrar que os métodos de con-trole são as barreiras de segurança que impe-dem ou minimizam as exposições.

No controle das doenças ocupacionais pro-vocadas pela inalação de ar contaminado compoeiras, o objetivo principal deve ser minimi-zar a contaminação do local de trabalho, ouambiente de trabalho. Isso deve ser alcançado,tanto quanto possível, pelas medidas de con-trole coletivo, ou seja relativas ao ambiente detrabalho. No entanto, quando essas medidas decontrole não são viáveis, ou enquanto estãosendo implementadas ou avaliadas, devem serutilizadas medidas de controle individual, ouseja relativas ao trabalhador.

Portanto, as medidas de controle da exposi-ção aos aerodispersóides podem ser divididasem duas:• Medidas relativas ao ambiente de trabalho• Medidas relativas ao trabalhador

Conclusão

Observou-se que em quase todas as atividadespesquisadas os trabalhadores não utilizavamequipamentos de proteção respiratória (más-cara contra poeiras) ou se beneficiavam de me-didas de controle para redução da concentra-ção de poeiras no ambiente. Nas poucas vezesem que algum deles utilizava uma máscara, co-mo no caso do raspador, ou a máscara não eraa adequada ou a mesma já não vinha sendosubstituída há muito tempo.

Foi constatado que a maioria das empresasdispunha de máscaras contra poeiras, pelo me-nos as descartáveis, porém alguns trabalhado-res não as utilizavam por diversas razões: porfalta de uma melhor orientação quanto à im-

portância das mesmas, por não saber que exis-tiam máscaras no canteiro ou por achar que asua utilização os incomodaria e atrapalhariasuas atividades normais.

Com a exceção da aspersão de água sobre odisco da maquita durante o corte de granito,não foi constatada a existência de sistemas deproteção coletiva para prevenir a exposição apoeiras. Na atividade de lixamento de concretode fachada poderia ser utilizada uma “politriz” já existente no mercado, com sistema de exaus-tão. Logicamente, antes de seu uso, deve haveruma eficiente análise ergonômica do posto de

trabalho de um raspador quando em lixamen-to de fachada, pois o equipamento poderia setornar mais pesado e a posição em que o mes-mo trabalha não é muito adequada.

É preciso que os próprios equipamentos uti-lizados pelos trabalhadores amostrados passempor uma manutenção e limpeza periódicas, poisos mesmos encontram-se normalmente impreg-nados de poeira. Certamente durante a limpezadeve haver também a preocupação com a expo-sição dos trabalhadores envolvidos na atividade.

Em nenhuma das empresas pesquisadasconstatou-se a existência de avaliações e moni-toramento quanto às exposições a aerodisper-sóides ou a implementação eficaz de um Pro-grama de Proteção Respiratória.

A partir de entrevistas diretas com os tra-balhadores amostrados percebeu-se que amaioria não realizava há muito tempo ou nun-ca havia realizado "raios X do tórax".

Com base nos resultados das avaliações enas visitas feitas aos canteiros de obras pode-seconcluir que:• a exposição dos trabalhadores às poeirasocorre em vários ambientes de um canteiro deobras, com destaque para as atividades de de-molição, perfuração de rochas, terraplenagem,quebra de elemento de concreto com uso demartelete, preparação de argamassa ou concre-to em betoneira com carregador e sem carrega-dor, corte de madeiras em serra circular, cortede granito com maquita, lixamento de paredese tetos com lixa manual, lixamento de concretode fachada com lixadeira elétrica e limpeza docanteiro com uso de vassoura;• dentre as situações encontradas em um can-teiro de obras, algumas foram avaliadas nesta

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pesquisa. Especificamente nestes casos, as poei-ras existentes são, predominantemente, do tipofibrogênica e contêm sílica livre cristalizada,porém,conforme foi constatado na pesquisa, hátambém poeiras do tipo incômoda. As ativida-

des cujas amostras coletadas apresentaram síli-ca foram: lixamento de concreto de fachada,apicoamento de parede de concreto, quebra decontrapiso de concreto com uso de martelete,arrasamento de estaca de concreto com uso demartelete, corte de granito e operações com pámecânica no transporte de solo e cal.

A partir de um trabalho desenvolvido pelaFundacentro na Bahia para avaliação da expo-sição ocupacional a poeiras em uma indústriade cimento, constatou-se que as poeiras encon-tradas foram, predominantemente, as classifi-cadas como incômodas, ou sejam, provenien-

tes de cimento Portland, calcário, argila, gessoe escória. Segundo o mesmo trabalho, na in-dústria de cimento o teor de sílica livre naspoeiras varia segundo a composição das maté-rias-primas e da escória ou do cimento, dosquais, normalmente, já se tem eliminado todaa sílica livre.

Nesse mesmo trabalho, constata-se pelosresultados das avaliações das atividades em quea poeira analisada foi a de cimento, que não ha-via qualquer uma com teor de sílica maior que1%. Portanto, não podem ser consideradas co-mo poeiras fibrogênicas. Estas foram encontra-das somente nas atividades que envolviam obritamento de calcário.

Naquilo que se relaciona às condições espe-ciais de trabalho envolvendo cimento, cal e seusprodutos,as prescrições da NR-15, anexo 13, de-finem que : "As fases de grande exposição apoeiras de cal ou cimento", implicam a obriga-toriedade da existência de grande quantidade depoeira e tempo prolongado de exposição paraque as atividades envolvidas com os mesmospossam ser consideradas insalubres. O que se-gundo os mesmos, são condições que não exis-tem quando da utilização de argamassas prontase raramente ocorrem quando da confecção deargamassas na obra, já que neste caso a quanti-dade de cimento movimentado em cada ocasiãonão se apresenta de modo continuado e por lar-go tempo. Portanto, as condições a que se refereo anexo 13 são características específicas para fá-bricas ou distribuidores onde existam quantida-des expressivas do material e onde a carga (oudescarga) ocorra de modo continuado.

Ainda com a intenção de comparar o pre-sente trabalho com outras pesquisas dentro

desta mesma área de estudo, a partir de um re-latório técnico realizado para o SESI do Espí-rito Santo, no ano de 2000, com o objetivo deanalisar a quantidade de sílica livre no ar emobras de construção civil, verificou-se que:

• Em duas avaliações de corte e assentamen-to de cerâmica em piso de apartamento, todasobtiveram teor de sílica livre maior que 1%.Em uma delas o valor da concentração de poei-ra respirável coletada foi maior que o LT e aoutra teve sua concentração igual ao NA.• A operação e abastecimento da betoneirautilizando-se cimento, areia e brita foram ava-liados através de quatro amostras. Somente emuma delas o teor de sílica livre foi maior que1%. Porém, a gravimetria coletada foi tão baixaque não atingiu nem mesmo o NA encontradoa partir do teor de sílica livre.

• Foi também avaliado um pintor ao lixarmanualmente uma parede de apartamento atra-vés de duas amostras. Não se encontrou poeirafibrogênica em nenhuma delas. Porém, verifi-cou-se que uma delas ultrapassou o LT parapoeiras incômodas.

Portanto, com base nas avaliações destapesquisa e nas informações obtidas destes trêstrabalhos supracitados, concluímos que espe-cial atenção deve ser dada às operações que ge-ram poeiras comprovadamente fibrogênicas eem concentrações capazes de superar o LT de-finido pela NR-15, anexo 12, para poeiras res-piráveis, ou ao menos que superem ao NA, taiscomo: lixamento de concreto de fachada utili-zando-se lixadeira elétrica, demolição de ele-mento de concreto com uso de martelete, api-coamento de parede de concreto com uso demarreta e ponteira e o corte de granito e cerâ-micas.

Devemos destacar que o fato de algumaspoeiras analisadas não apresentarem teor de sí-lica livre suficiente para se caracterizarem co-mo poeiras fibrogênicas não elimina outrospotenciais riscos ocupacionais à saúde do tra-balhador. Pois, a poeira respirável incômodapode ser, da mesma forma,causadora de outrostipos de alterações pulmonares que possam de-terminar o aparecimento de sintomas clínicos,como por exemplo bronquite alérgica. Portan-to, especial atenção deve ser dispensada àspoeiras com concentrações que ultrapassem oLT para poeiras incômodas.

Certamente, o simples atendimento às re-comendações dispostas neste trabalho não im-plica a eliminação dos riscos da exposição ocu-pacional a poeiras. O controle efetivo se dá

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através de avaliações periódicas das medidasadotadas, verificando-se permanentemente, aeficiência das mesmas, assim como, os níveis deaerodispersóides no ar.

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Artigo apresentado em 20/6/2002Aprovado em 20/8/2002Versão final apresentada em 10/8/2003