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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA ANTONIO WELHINGTON DA SILVA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR: UMA ABORDAGEM DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NATAL/RN 2012

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Page 1: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO … · O estudo busca avaliar se as ações de atenção à saúde do trabalhador ... Ficha de Verificação ... por meio da presença

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

ANTONIO WELHINGTON DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR:

UMA ABORDAGEM DA ATENÇÃO PRIMÁRIA

NATAL/RN

2012

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ANTONIO WELHINGTON DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À

SAÚDE DO TRABALHADOR:

uma abordagem da Atenção Primária

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte

integrante dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Saúde

Coletiva.

Orientador: Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira

NATAL/RN

2012

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Catalogação da Publicação na Fonte

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária/Documentalista Anyelle da Silva Palhares CRB 15-532

S586a Silva, Antonio Welhington da.

Avaliação do programa de atenção à saúde do trabalhador : uma

abordagem da atenção primária / Antonio Welhington da Silva. – Natal,

RN, 2012.

60 f.

Orientador: Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira.

Dissertação (Mestrado em saúde coletiva) – Programa de Pós-

graduação em Ciências da Saúde - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte.

1. Saúde ocupacional. 2. Saúde do trabalho 3. Atenção básica. 4.

Avaliação de políticas públicas. I. Medeiros, Luiz Gonzaga Bezerra de. II.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

CDU 613.6

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ANTONIO WELHINGTON DA SILVA

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À

SAÚDE DO TRABALHADOR:

uma abordagem da Atenção Primária

Aprovado em ______ / _________ / _______

______________________________________________________

Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador

______________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Roberto Augusto Noro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva

______________________________________________________

Prof. Dr. Fernando Mussa Abujamra Aith

Universidade de São Paulo

NATAL/RN

2012

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família e todos os amigos que contribuíram para essa conquista.

Page 6: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO … · O estudo busca avaliar se as ações de atenção à saúde do trabalhador ... Ficha de Verificação ... por meio da presença

AGRADECIMENTOS

Agradecer é demonstrar gratidão por algo e se colocar à disposição para retribuir o ato

gerador daquele sentimento. Sendo assim, agradeço a meus pais e toda a minha família pela

força, afago e colo todas as vezes em que acreditei que não chegaria ao fim desta etapa na busca incessante pelo conhecimento.

A todos os amigos, em especial a André Luiz Barbosa de Lima e Glaudênia Alves de Moura

pelas inúmeras vezes em que estiveram ao meu lado quando mais acreditei em não ser capaz.

À amiga Antônia Francimar e família, com todo respeito e carinho pelo apoio nessa jornada.

À minha segunda família, que vem me acompanhando desde meus primeiros passos nesse

mundo grandioso do conhecimento, Ana Karina Brasil e família e a Maria da Guia Brasil e

Família por todo o cuidado e zelo para comigo.

A todos os amigos da família IFRN, que contribuíram direta e indiretamente para esta conquista.

Ao Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira, que me orientou e guiou nesta trilha

árdua e prazerosa que é a busca pelo saber.

A todos, a minha profunda gratidão!

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Resumo

A industrialização acelerada, vinda com a Revolução Industrial, provocou mudanças

profundas no mundo do trabalho. Essas mudanças levaram para o meio das famílias os riscos

do ambiente do trabalho, em um processo de domicilização do risco. Na busca de atender de

forma integral à saúde dos trabalhadores, o Brasil integra a Atenção à Saúde dos

Trabalhadores à Atenção Básica, tendo a Estratégia de Saúde da Família como porta de

entrada deste sistema. O estudo busca avaliar se as ações de atenção à saúde do trabalhador

têm sido desenvolvidas na atenção básica, via Estratégia Saúde da Família. Trata-se de um

estudo quantitativo, com uma abordagem metodológica avaliativa, privilegiando a avaliação

normativa. Como público alvo, estão os profissionais da Equipe de Estratégia de Saúde da

Família, nos municípios de Pau dos Ferros, Caicó e Natal, no estado do Rio Grande do Norte.

A amostra é composta de 202 Profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliar/técnico de

enfermagem e agentes comunitários de saúde) em 52 Unidades de Saúde da Família dos 3

municípios. O instrumento de coleta utilizado é constituído de uma Lista de Verificação, a

partir do Caderno de Atenção Básica nº 5 – Saúde da Família – Saúde do Trabalhador, do

Ministério da Saúde. Analisaram-se os dados a partir de uma descrição das variáveis na forma

de frequência percentual e da classificação dos municípios a partir dos escores obtidos por

cada um. Observou-se que os profissionais da Saúde da Família conhecem o programa de

atenção à saúde do trabalhador, no entanto não conhecem o Caderno de Atenção Básica nº 5,

que é um instrumento de orientação. Em consequência da não apropriação dos profissionais

da ESF com a saúde do trabalhador, essas ações não são realizadas, principalmente as ações

de Vigilância em Saúde do Trabalhador e Educação em Saúde do Trabalhador.

Palavras-chave: Saúde do Trabalhador, Atenção Básica, Avaliação de Politicas Publicas.

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Abstract

The accelerated industrialization, coming with the Industrial Revolution, caused profound

changes in the working world. These changes led to the households risks from work

environment. Trying to assist comprehensively the health of workers, Brazil has a program of

Health Care Workers in the Primary Care, and the Family Health Strategy is the main

entrance for this system. The study sought to determine if the actions of the health care

worker have been developed in primary care through the Family Health Strategy. This is a

quantitative study with a methodological evaluation, focusing on normative assessment. The

sample was formed by professionals from Team Family Health Strategy, in the municipalities

of Pau dos Ferros, Caicó and Natal in Rio Grande do Norte state. The sample consists of 202

professionals (Doctors, Nurses, Assistant / Technician Nursing and Community Health

Workers) in 52 Health Family Units from the 3 municipalities cited. The instrument used

consists of a checklist, from Manual of Primary Care 5 - Family Health - Occupational

Health, Ministry of Health. The data were analyzed describing the variables by its frequency

and doing a classification of cities from the scores obtained by each. It was observed that the

Family Health professionals know the program of health care worker, however do not know

the Manual of Primary Care 5, which is a guidance tool. As a result of non-appropriation of

the FHT professionals with worker health, these activities are not performed, mainly

surveillance in occupational health and health education labor.

Keywords: Occupational Health, Primary Care Evaluation of Public Policy.

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Lista de Quadros, Figuras e Tabelas

Quadro 1. Atribuição de escores às variáveis categóricas agrupadas de acordo com a Lista de Verificação.......32

Quadro 2. Grau de desenvolvimento das ações em Saúde do Trabalhador na ESF. .............................................32

Figura 1. Municípios participantes da pesquisa, respectivas populações e número de equipes de Saúde da Família. IBGE – Censo 2010; Departamento de Atenção Básica – DAB 2012. ........................................................28

Figura 2. Distribuição dos escores médios obtidos pelos municípios. Rio Grande do Norte, 2012. .......................40

Tabela 1. Composição da amostra de acordo com o município pesquisado. Rio Grande do Norte, 2012. ............29

Tabela 2. Descrição da amostra estudada, de acordo com o município, tipo de profissional entrevistado e sexo. ........................................................................................................................................................................................33

Tabela 3. Distribuição do grau de conhecimento sobre o Programa de Saúde do Trabalhador e do Caderno de Atenção Básica no 5, segundo profissional e cidade pesquisada. .............................................................................35

Tabela 4. Realização de ações relativas à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica, segundo município pesquisado. ....................................................................................................................................................................36

Tabela 5. Escore Médio obtido por município e classificação do grau de desenvolvimento das ações em Saúde do Trabalhador na Estratégia de Saúde da Família. ...................................................................................................39

Tabela 6. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo Agente Comunitário de Saúde de acordo com o município estudado. ........................................................................................................41

Tabela 7. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo Técnico em Enfermagem de acordo com o município estudado. ..................................................................................................41

Tabela 8. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo Enfermeiro de acordo com o município estudado. ...........................................................................................................................................42

Tabela 9. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo Médico de acordo com o município estudado. ...................................................................................................................................................43

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Sumário

Resumo ............................................................................................................................................. 5

Lista de Quadros, Figuras e Tabelas .................................................................................................. 7

1. Introdução ........................................................................................................................... 9

2. Revisão de Literatura.............................................................................................................11

2.1. A Saúde do Trabalhador no Brasil ......................................................................................11

2.2. PNSST – Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador ....................................19

2.3. A Domicilização do Trabalho ..............................................................................................23

2.4. Saúde do Trabalhador na Atenção Básica ..........................................................................24

3. Problema de Pesquisa .......................................................................................................27

4. Objetivos ............................................................................................................................27

5. Método ...............................................................................................................................27

5.1 População-Alvo ..................................................................................................................28

5.2 Amostra .............................................................................................................................29

5.3 Coleta de Dados ................................................................................................................30

5.3.1 Instrumento de Coleta ................................................................................................30

5.4 Análise dos Dados .............................................................................................................31

6. Resultados .........................................................................................................................33

6.1 Caracterização das equipes e dos profissionais..................................................................33

6.2 O contexto geral das ações em Saúde do Trabalhador na Estratégia de Saúde da Família na visão dos profissionais...................................................................................................35

6.3 Classificação dos municípios ..............................................................................................39

6.4 Análise das ações por Profissional .....................................................................................40

6.4.1 Agente Comunitário de Saúde ....................................................................................44

6.4.2 Auxiliares/Técnicos em Enfermagem ..........................................................................45

6.4.3 Enfermeiro .................................................................................................................46

6.4.4 Médico .......................................................................................................................47

7. Considerações Finais .........................................................................................................48

8. Referências ........................................................................................................................49

Apêndice A – Ficha de Verificação ....................................................................................................54

Apêndice A – Ficha de Verificação ....................................................................................................55

Apêndice A – Ficha de Verificação ....................................................................................................56

Anexo A - Termo de Consentimento e Livre Esclarecido - TCLE .......................................................57

Anexo B – Parecer de Aprovação - CEP/ UFRN. ...............................................................................59

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 9

1. Introdução

O trabalho tem participação fundamental na vida humana e faz parte da produção para a

sociedade e a lucratividade de cada indivíduo que o pratica. No trabalho, o homem procura

atender, além de suas necessidades de sustento, sua valorização e satisfação de ser útil e de ter

uma capacidade intelectual (ANNE et al, 2005).

A industrialização acelerada, a transformação do conhecimento em tecnologia pela

informática, determinou mudanças no mundo do trabalho, além de outros aspectos como

crescimento demográfico, urbanização e expansão da comunicação mudaram a forma de viver

do homem, individual e coletivamente (FRIAS JUNIOR, 1999). Isso tornou de forma

surpreendente o mundo do trabalho em um complexo monstruoso, que, se de um lado poderia

ajudar, auxiliar o homem em sua qualidade de vida, por outro lado, patrocinado pelos que

mantêm o controle, avassala o homem em todos os seus aspectos (HELOANI, CLÁUDIO,

2003).

O processo de trabalho, visto como uma forma de interação entre o homem e a natureza,

incorpora a dinâmica e a qualidade da relação do homem com o ambiente e o processo de

trabalho. A exposição às condições dessa relação pode ou não provocar doenças ou acidentes

relacionados ao trabalho (FRIAS JUNIOR, 1999).

A concepção de saúde e de doença e as causas destas têm mudado ao longo da história e

em culturas e sociedades diferentes. Na antiguidade, a doença tinha uma fundamentação

mitológica, mesmo assim existia quem relacionasse sua origem ao ambiente e ao estilo de

vida, como Hipócrates. A concepção de saúde foi mudando à medida que o conhecimento

evoluía com a criação das universidades, a evolução do comércio e o início da Medicina

Científica, a partir da propagação da teoria microbiana. Mesmo assim, ainda se defendia a

ideia da relação da doença com os problemas sociais, dando início à estruturação da

Epidemiologia como disciplina (FRIAS JUNIOR, 1999).

As mudanças ocorridas no processo de trabalho causadas pela Revolução Industrial

provocaram, nos governos da Europa, a preocupação com a força de trabalho e com as perdas

econômicas, suscitando, assim, a intervenção dentro das fábricas, por meio da presença do

médico e do surgimento das primeiras leis de Saúde Pública que tratavam da saúde do

trabalhador, dando início, desse modo, à Medicina do Trabalho, uma das primeiras medidas

de atenção à saúde dos trabalhadores (FRIAS JUNIOR, C.A.S. 1999).

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 10

A Revolução Industrial também causou mutações organizacionais, tecnológicas e de

gestão, submetidos à racionalidade do capital. Com isso, o mundo do trabalho tem provocado

um processo crescente de exclusão de jovens e trabalhadores considerados velhos pelo ritmo

do capitalismo, ampliando, dessa maneira, o contingente de trabalho informal. Com as

mudanças, tais quais a fragmentação dos processos produtivos, pela expansão das pequenas e

médias unidades produtivas, a flexibilização do trabalho, a precarização do trabalho e a

necessidade de individualização do mercado, o mercado de trabalho domiciliar vem se

expandindo, trazendo para dentro das casas os riscos do trabalho, um processo chamado de

domicilização do risco (ANTUNES, R. L. C. 2009, p. 111).

No Brasil, assim como em todo o mundo, as ações voltadas à saúde dos trabalhadores

foram conquistas de longas lutas travadas entre os movimentos sociais, sindicalistas,

capitalistas e políticos. Uma de suas importantes conquista foi a inclusão da saúde do

trabalhador na constituição e posteriormente o reconhecimento da necessidade de atenção à

saúde do trabalhador de forma mais integral, com foco na atenção básica, atendendo, destarte,

às mudanças trazidas pela reestruturação do mundo do trabalho (FRIAS JUNIOR, C.A.S.

1999; BRASIL, 2002).

A Atenção Básica caracteriza-se pelas ações em saúde no âmbito individual e coletivo,

que abrange a promoção e proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o

tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2010b). Atenção Básica tem a

Estratégia de Saúde da Família e o Programa de Agentes Comunitário de Saúde como

estratégias prioritárias para sua organização, principalmente para as ações de atenção à saúde

do trabalhador. A saúde do trabalhador tem um dos seus primeiros momentos de aproximação

junto à Atenção Básica em 1998, incentivada pela discussão da proposta de Política de Saúde

do Trabalhador para o SUS (BRASIL, 2010b).

A aproximação da Saúde do Trabalhador da Atenção Básica, via estratégia de Saúde

da Família e dos Agentes Comunitários de Saúde, visa a construir uma assistência com base

no campo da vigilância em saúde. As ações devem ser pautadas na identificação de fatores

que determinam a forma de adoecer e morrer dos grupos populacionais, girando em torno do

eixo informação – decisão – ação. No ano de 2002, o Ministério da Saúde lança o Caderno de

Atenção Básica nº5, da série de Caderno de Atenção Primaria/ Programa de Saúde da Família,

destinado a apoiar, capacitar e orientar as ações da Equipe de Saúde da Família, com foco na

linha de ação relativa ao trabalho precoce, aos acidentes de trabalho e a doenças relacionadas

ao trabalho (BRASIL, 2010b; BRASIL, 2002).

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 11

2. Revisão de Literatura

2.1. A Saúde do Trabalhador no Brasil

O movimento em prol da saúde do trabalhador tem seus primeiros passos no Brasil,

ainda no início do século XX, quando os movimentos sindicais surgem dentro das fábricas,

justamente durante o processo de industrialização do País. Nesse período, o perfil dos

trabalhadores era de imigrantes, em sua maioria, de mulheres e crianças, que trabalhavam por

um salário baixo e em condições de trabalho precário. Situações como as condições de

trabalho, a redução das horas de trabalho e a questão salarial são os principais focos de luta

desse período (FALEIROS, V. P. 2010a, p.70).

Ainda nesse período, em todo o mundo e fortemente no Brasil, ocorria um processo de

transformações na estrutura e organização do trabalho; o mundo do trabalho vivia a

modernidade que já se apresentava desde a Primeira Revolução Industrial, momento em que

se desenvolveu a grande indústria, base técnica do capital, e o trabalhador deixa de ser um

elemento ativo passando a um elemento passivo, apenas um suporte do sistema de máquinas.

A partir dessa expropriação do homem do controle do processo, retirando-o de sua condição

humana de planejar, organizar, conceber e executar de acordo com a suas necessidades

próprias e sociais, o processo do adoecimento relacionado ao trabalho e acidentes de trabalho

torna-se mais intenso (LOURENÇO, E. A. S, 2009).

Os pensamentos capitalistas provocaram mudanças comportamentais no mundo do

trabalho, objetivando a maximização dos lucros e a redução de custos. Nos anos 90, o Brasil

veio a acompanhar essas mudanças, com a onda de privatizações e da flexibilização das

condições de trabalho. Essas mudanças apresentam-se como: a imposição aos empregados de

metas de produção; a incorporação de novas tecnologias, que empregam mais velocidade e

sobrecarga de trabalho; e o estabelecimento de jornadas de trabalho relacionadas à capacidade

produtiva.

Essas mudanças ocorridas no processo de trabalho com fundamentos capitalistas

caracterizam-se pela junção de modelos operacionais tradicionais com modelos inovadores,

trazendo sinais das revoluções industrial e tecnológica e de uma reutilização dos princípios

taylorista-fordistas (MOUTINHO, L. C. F, 2010).

O processo de reestruturação produtiva tem favorecido o aumento da informalidade e da

terceirização de atividades e serviços, levando trabalhadores a uma exposição de riscos

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 12

ocupacionais diversos devidos às atividades realizadas, bem como não tem considerado a

necessidade de entender a potencialidade humana. Tudo isso tem imposto aos trabalhadores

um preço muito caro, colocando-os em situações como a exposição a riscos físicos,

intoxicações, além de outras complicações associadas ao uso de tecnologias obsoletas e de

acidentes de trabalho (RODRIGUES, P. F. V; BELLINI, M. I. B. 2010). Por muitos anos, o

Brasil não dispôs de uma legislação que garantisse o mínimo de direitos aos trabalhadores.

Nos anos de 1904 a 1908, projetos de regulamentação dos acidentes de trabalho foram

apresentados ao Parlamento Brasileiro, mas somente em 1919 um projeto do deputado Adolfo

Gordo tornou-se lei. A proposta estabelecia o regime de indenização para os trabalhadores

acidentados. Assim como a regulamentação das condições de higiene e segurança, essa lei não

era respeitada e somente durante o governo de Getúlio Vargas é que a legislação, que

supostamente atendia às necessidades de Saúde e Segurança no Trabalho, foi modificada,

constituindo os primeiros passos para o estabelecimento de uma política de reinserção do

trabalhador na produção, consolidada em 1960 com a Lei de Previdência Social (FALEIROS,

V. P. 2010b, p. 21).

As conquistas alcançadas pelos movimentos sindicais e sociais, promovidas pelos

trabalhadores das indústrias para a atenção à saúde do trabalhador, não se estenderam a todas

as classes. A classe dos trabalhadores agrícolas foi uma das desassistidas pela legislação,

tornando clara a força da burguesia sobre o poder político, como aponta FALEIROS (2010a):

[...] a legislação social da primeira república reflete a correlação de forças então

existentes sob a hegemonia da oligarquia agroexportadora. Para preservar o

processo de acumulação baseado na exportação do café, essa legislação não afeta o

contrato de trabalho controlado pelas classes dominantes e que coloca face a face dois sujeitos desigualmente situados nas relações sociais, e não sujeitos iguais,

conforme a teoria liberal. O senhor rural possuía a terra, o poder político, a polícia,

a justiça e os recursos assistenciais além da facilidade de organização. O trabalhador agrícola não possuía sequer os meios para organizar-se, sendo

analfabetos e isolados. Assim, os trabalhadores agrícolas no seu conjunto são

excluídos da regulamentação dos acidentes de trabalho (FALEIROS, V. P. 2010a,

p. 82).

Em 1976, a Política de Saúde dos Trabalhadores se fazia frente à prevenção dos

acidentes de trabalho com uma legislação promulgada naquele ano, bem como o Decreto-Lei

nº 5.542, de Consolidação das Leis do Trabalho - CLT em 1943, mas esta ainda mantinha um

foco assistencialista e de desobrigação, por parte dos empregadores, para com o trabalhador

acidentado. A falta de real compromisso com a saúde do trabalhador se estendeu até 1988

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 13

quando esta era apenas um benefício previdenciário ou uma ação de caridade, oferecida pelos

hospitais filantrópicos (casas de misericórdias) a quem não contribuía com a previdência e

nem tinha recursos para pagar pelo atendimento. O atendimento inicial e o encaminhamento

até as casas de caridade eram feitos pela polícia (em situações em que as empresas não

dispunham de nenhum tipo de assistência) que também investigava os acidentes (BRASIL,

2006; FALEIROSS, V. P. 2010a, p. 53).

No entanto, por meio da Lei nº 5.161, de 21 de outubro 1966, é criada a Fundação

Centro Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho - Fundacentro, que tinha como objetivo

principal realizar estudos e pesquisas pertinentes aos problemas de segurança, higiene e

medicina do trabalho, principalmente dos aspectos preventivos dos acidentes de trabalho.

Mesmo sendo fruto de um embate político, com relação à estatização dos seguros de acidentes

de trabalho, o Fundacentro configurou uma importante ação por parte do governo no que

concerne à prevenção de acidentes de trabalho, já que até então a assistência à saúde dos

trabalhadores ainda não era obrigatória, ficando a critério do empregador (FALEIROS, V. P.

2010c, p. 216).

Algumas empresas forneciam assistência aos seus funcionários. No estado de São

Paulo, somente 4,8 % das empresas forneciam atendimento médico ou farmacêutico, algumas

forneciam gratuitamente e outras cobravam valores fixo ou 2% do salário. Com o passar do

tempo, as empresas passam a responsabilidade da assistência aos serviços de seguros. Os

seguros para acidentes de trabalho eram feitos por diversos tipos de organizações econômicas

como as companhias privadas e as cooperativas, que eram limitadas a algumas empresas;

outras se filiavam a empresas privadas. Posteriormente, o Estado resolve entrar na

concorrência pelos seguros, quando cria os Institutos de Aposentadorias e Pensões que se

estenderam a várias classes trabalhistas (FALEIROS, V. P. 2010a, p. 54,61).

Em primeiro de maio de 1943, é promulgado o Decreto-lei 5.542, que trata da

Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, instituindo as normas que regulam as relações

individuais e coletivas de trabalho. A partir de então, os trabalhadores já dispunham de uma

legislação que regulava as relações entre trabalhadores e empregadores e que inclui a classe

dos trabalhadores rurais, até então desassistida pela legislação. A CLT trata também da

Segurança e Medicina do Trabalho; das interdições prévias e dos embargos ou interdições; do

órgão de segurança e medicina do trabalho nas empresas; dos equipamentos de proteção

individual; das medidas preventivas de medicina do trabalho; das atividades insalubres e

perigosas, entre outras medidas de proteção ao trabalhador (BRASIL, 2012a).

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 14

Em se tratando de legislação de segurança para o trabalhador, houve ainda a criação das

Comissões Internas de Prevenção de Acidentes - CIPAs, seguindo uma orientação da

Organização Internacional do Trabalho – OIT, em 1921. Esta passou por várias

regulamentações ao longo dos anos, iniciando no ano 1945 com a sua primeira

regulamentação com a Portaria nº 229. Em 1978, a promulgação da Portaria nº 3.214 aprova

as Normas Regulamentadoras – NRs, mais um mecanismo de defesa à saúde e segurança dos

trabalhadores. Essas Normas regulamentam e fornecem orientações sobre procedimentos

obrigatórios de segurança e medicina do trabalho às empresas públicas e privadas

(GONCALVES, L. B.; CORAZZA DA CRUZ, V. M. 2010).

As ações de Saúde Pública eram executadas pelo Ministério da Saúde e completamente

dissociadas da atenção individual, resumindo-se a campanhas e programas de caráter

predominantemente preventivista. Essas ações excluíam grande parte da população da atenção

à saúde e, somada à desigualdade de distribuição de renda, geravam péssimas condições de

saúde e qualidade de vida. O primeiro passo para a mudança desse quadro teve início a partir

da década de 1980, quando se tornou mais forte no país uma politização e um maior

envolvimento da população nos movimentos sociais e sindicais (BRASIL, 2006; FALEIROS,

V. P. 2010a, p. 47,72).

Até a década de 1980, o Brasil apresentava situações extremas de descaso com a saúde,

que apresentava altos índices de mortalidade materna, infantil e neonatal; altos índices de

acidentes de trabalho e baixa capacidade de diagnóstico e registro de doenças. Com o

surgimento dos movimentos sociais, como o da Reforma Sanitária e os movimentos sindicais,

ocorridos em meados dos anos 1970 e por toda a década de 1980, período em que os

movimentos se tornaram mais forte, teve início um processo de redemocratização e

transformação do sistema de saúde. O movimento da Reforma Sanitária propôs uma nova

concepção de Saúde Pública, incluindo a saúde do trabalhador (BRASIL, 2006a).

Os primeiros programas de saúde do trabalhador foram criados por alguns municípios e

estados até que, em 1988, a proposta foi incluída na Constituição Federal, ocorrendo assim a

inclusão da saúde do trabalhador no âmbito da Saúde Pública, que se deu com a realização da

I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, em dezembro de 1986. A Conferência teve

como foco três temas: o diagnóstico da situação da saúde e segurança dos trabalhadores,

novas alternativas de atenção à saúde do trabalhador, e a Política Nacional de Atenção à

Saúde do Trabalhador. Os conteúdos para a Política Nacional de Saúde do Trabalhador saídos

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da conferência foram posteriormente incorporados à Constituição Federal de 1988 e na Lei

8.080/90 (RAMMINGER, T.; NARDI, H.C. 2007).

A Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) constituiu referência no SUS e veio como

marco de uma luta a partir dos movimentos sociais. A Lei firma o seu compromisso com a

saúde do trabalhador quando regulamenta o programa de saúde do trabalhador, definindo-a

como (BRASIL, 2012d):

Um conjunto de atividades que se destina, através de ações de vigilância

epidemiológica e vigilância sanitária, a promoção e proteção da saúde dos

trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos

trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de

trabalho, abrangendo:

I – Assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho;

II – participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde, em

estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à

saúde existente no processo de trabalho;

III – participação, no âmbito de competências do Sistema Único de Saúde,

da normatização, fiscalização e controle das condições de produção,

extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de

substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam

riscos à saúde do trabalhador;

IV – avaliação do impacto que as tecnologias provocam na saúde;

V – informações ao trabalhador e às suas respectivas entidades sindicais e às

empresas sobre os riscos de acidentes, doenças profissionais e do trabalho

bem como sobre os resultados de fiscalização, avaliação ambiental e exames

de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitando os preceitos

da ética profissional;

VI – participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de

saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII – revisão periódica na normatização, fiscalização e controle dos serviços

de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 16

VIII – garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão

competente a interdição de máquinas, de setor de serviços ou de todo o

ambiente de trabalho, quando houver a exposição a risco iminente para a

vida ou à saúde dos trabalhadores.

Com isso, a saúde do trabalhador passa a ser um direito constituído e de competência do

SUS. A abrangência do seu campo de ação lhe impõe um caráter intersetorial (envolvendo a

Previdência Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça, Educação e demais setores

relacionados com a Política de Desenvolvimento) exigindo uma abordagem interdisciplinar e

com a gestão participativa dos trabalhadores (BRASIL, 2006a).

Essa nova configuração do sistema de saúde brasileiro trouxe avanços significativos no

que se refere ao acesso às ações de saúde, aos serviços urbanos básicos (tratamento de água e

esgotos). No entanto, ainda é necessária a melhoria da qualidade e da equidade em suas ações,

principalmente nas ações de saúde do trabalhador, em que a organização e relações sociais de

trabalho continuaram a causar a morte da classe trabalhadora, embora de modo mais

insidioso, lento e, às vezes, invisível. Têm morrido principalmente trabalhadores brasileiros

em idade economicamente produtiva, como de 15 a 54 anos, bem mais do que em países

como Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha e Argentina. As doenças do sistema

respiratório e cardiorrespiratória, que atingia principalmente os imigrantes, a quem estavam

condicionados os serviços mais pesados e insalubres, eram as principais causas de morte

(LOURENÇO, E. A. S, 2009).

A II Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, realizada oito anos após a primeira

(1994), teve como tema central “construindo uma Política Nacional de Saúde do

Trabalhador”. Os principais pontos dessa conferência foram as definições das ações de Saúde

do Trabalhador no SUS, a discussão das dimensões políticas, sociais, econômicas, técnicas e

gerenciais dessa política pública e o reconhecimento da necessidade de atenção à saúde dos

servidores públicos, tentando-se garantir ações dentro do sistema de vigilância e fiscalização

nas instituições públicas e a criação de comissões de saúde do trabalhador, tanto no serviço

público quanto no privado, sendo dedicado um capítulo especifico para os trabalhadores da

saúde (RAMMINGER, T.; NARDI, H.C. 2007).

Em 1998, quatro anos após a II Conferência, é promulgada a portaria nº 3.908/GM em

30 de outubro, que estabelece instrumentos para orientar e instrumentalizar as ações e

serviços de saúde do trabalhador no SUS. A portaria aprova a Norma Operacional de Saúde

do Trabalhador - NOST-SUS, que tem por objetivo definir as atribuições e responsabilidades

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para orientar e instrumentalizar as realizações das ações em saúde do trabalhador urbano e

rural nas três esferas administrativas. A NOST-SUS veio como uma forma de complementar

as Normas Operacionais Básicas do SUS - NOB-SUS 01/96 (BRASIL, 2012b).

Ao longo dos anos, o trabalho tem sido reconhecido, gradativamente, como agente

causador de acidentes de trabalho e doenças do trabalho, assim como outras doenças que não

estão ligadas diretamente ao trabalho. No período de 1999 a 2003, a Previdência Social

registrou 1.875.190 acidentes de trabalho, sendo 87.312 com óbitos ou incapacidade

permanente, dentro de um universo de quase 23 milhões de trabalhadores formais (menos de

30 % da População Economicamente Ativa – PEA) (BRASIL, 2011).

Segundo o IBGE, em 2002, a população economicamente ativa do país era de

82.902.480 pessoas. Destas, 75.471.556 foram consideradas ocupadas. Entre os trabalhadores

remunerados, 5.833.448 se encontravam em atividades domésticas, 17.224.328 eram

trabalhadores por conta própria e 3.317.084 eram empregadores. Entre os empregados

assalariados, apenas 22.903.311 trabalhavam na iniciativa privada com carteira assinada, com

a cobertura da legislação trabalhista e do Seguro de Acidentes do Trabalho – SAT da

Previdência Social. Assim, o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores no Brasil

caracteriza-se pela coexistência de agravos que têm relação com condições de trabalhos

específicas, como os acidentes de trabalhos típicos e as doenças profissionais; doenças que

têm frequências, surgimento e/ou relação de gravidade modificada pelo trabalho e doenças

comuns ao conjunto da população, que não guarda relações de causa com o trabalho, mas que

impactam a saúde dos trabalhadores (BRASIL, 2011). Somente em 2005, na III Conferência

de Saúde do Trabalhador, que tinha como tema “Trabalhar, sim! Adoecer, não!” é que se

buscou trabalhar uma melhor ação das políticas de atenção à saúde dos trabalhadores.

A III Conferência de Saúde do Trabalhador, realizada em 2005, discutia como garantir a

integralidade e a transversalidade da ação do Estado na saúde dos trabalhadores; como

incorporar a saúde dos trabalhadores nas políticas de desenvolvimento sustentável no País e

como efetivar e ampliar o controle social em saúde dos trabalhadores. Essa conferência tomou

como base as principais deliberações da I e da II Conferência da Saúde do Trabalhador

(BRASIL, 2005b).

Em 2004, um ano antes da III Conferência de Saúde do trabalhador, é apresentada uma

versão final da proposta de Política Nacional de Saúde do Trabalhador, o que vinha se

arrastando desde o a II Conferência de Saúde do Trabalhador. O documento é fruto do

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trabalho articulado entre três ministérios – Ministérios da Saúde, Previdência Social e do

Trabalho – uma articulação também proposta para o desenvolvimento da Política.

Mesmo após todas as discussões suscitadas nas três Conferências de Saúde do

Trabalhador, a Politica Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador PNSST não é

regulamentada e continua em discussão, e a atenção à saúde dos trabalhadores continua sendo

respaldada em medidas legislativas conquistadas ao longo dos tempos. Ainda assim, o número

de registro de doenças e agravos continua alarmante. Em 2007, foram registrados 653.090

acidentes e doenças do trabalho, entre os trabalhadores assegurados pela Previdência Social,

não incluindo os trabalhadores autônomos e a empregada doméstica (BRASIL, 2010a).

Segundo informações disponíveis no sítio da Previdência Social em 2007 observou-se que

ocorre cerca de uma morte a cada três horas, causadas pelos riscos decorrentes dos fatores

ambientais do trabalho e, a cada hora de jornada diária de trabalho, se reconhece cerca de 75

acidentes e doenças do trabalho (BRASIL, 2012c). Somente em Novembro de 2011 que a

Política Nacional de Saúde do Trabalhador é regulamentada por meio do Decreto nº 7.612.

No Rio Grande do Norte, em 2007, foram registrados 8.456 casos de acidentes do

trabalho, segundo a Previdência Social. Em 2009, esse número sobe para 8.923 casos,

incluindo os casos de doenças do trabalho. Dos 8.923 casos de acidentes e doenças do

trabalho registrados em 2009, 6.835 apresentavam Comunicação de Acidente de Trabalho -

CAT registrada. O registro dessas informações sobre os agravos e doenças do trabalho ou

relacionadas ao trabalho são fundamentais para o reconhecimento das urgências e prioridades

das ações visando a melhorias das condições de trabalho e da saúde dos trabalhadores

(BRASIL, 2010a).

No ano de 2010, segundo o documento do CEREST RN - Estatística dos Agravos

Relacionados ao Trabalho: Consolidado, foram registrados no Rio Grande do Norte 1.118

notificações de Doenças e Agravos relacionados ao trabalho, considerando que estas são

informações coletadas a partir das notificações feitas no Sistema Nacional de Notificações de

Agravos Notificáveis - SINAN. Diferente do apresentado pelo CEREST RN a Previdência

Social registrou no estado para o ano de 2010 um número de 5.124 casos de Doenças e

agravos à saúde do trabalhador, não incluindo os casos sem registro de Comunicação de

Acidentes de Trabalho - CAT, que chegou a 2.088 casos, um número maior do que os

registros feitos pelo SINAN (RIO GRANDE DO NORTE, 2011; BRASIL, 2010a).

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2.2. PNSST – Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador

A Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador - PNSST é desenvolvida de

modo articulado e cooperativo pelos Ministérios do Trabalho, da Previdência Social e da

Saúde que compõem o Grupo Executivo Interministerial de Segurança e Saúde do

Trabalhador – GEISAT (com representantes dos três ministérios – Grupo de Trabalho

Interministerial MPS/MS/TEM, instituído pela Portaria nº 153 de 13 de Fevereiro de 2004).

Visa a garantir que o trabalho seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da

qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores e sem prejuízo para sua

saúde, integridade física e mental (BRASIL, 2011).

A PNSST tem por finalidade a promoção da melhoria da qualidade e da saúde do

trabalhador, mediante a articulação e integração, de forma continua, das ações de governo no

campo das relações de produção, consumo, ambiente e saúde, buscando superar a

fragmentação, desarticulação e a superposição de ações restritas aos aspectos econômicos

(BRASIL, 2011).

A principal diretriz da PNSST é a ampliação das ações de Saúde e Segurança do

Trabalhador - SST, abrangendo a todos os trabalhadores brasileiros no sistema de promoção e

proteção da saúde, partindo do pressuposto de que são considerados trabalhadores todos

aqueles que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, independente

de sua forma de inserção no mercado de trabalho, no setor formal ou informal da economia

(BRASIL, 2011). As estratégias da PNSST estão voltadas para a formação de uma estrutura

de articulação que possibilite a promoção da saúde e a prevenção de acidentes e o

desenvolvimento de doenças do trabalho. As principais são (BRASIL, 2011):

I - Harmonização das normas e articulação das ações de promoção, proteção e

reparação da saúde do trabalhador;

III - Precedência das ações de prevenção sobre as de reparação;

IV - Estruturação de Rede Integrada de Informações em Saúde do Trabalhador;

V - Reestruturação da Formação em Saúde do Trabalhador e em Segurança no

Trabalho e incentivo à capacitação e educação continuada dos trabalhadores

responsáveis pela operacionalização da PNSST;

VI - Promoção de Agenda Integrada de Estudos e Pesquisas em Segurança e Saúde do

Trabalhador.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 20

Para o desenvolvimento dessa política, cada um dos integrantes do grupo de gestão

(Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde e Ministério da Previdência Social)

tem suas responsabilidades institucionais, trabalhando todos de forma integrada.

As ações do Ministério do Trabalho e Emprego estão voltadas para a elaboração e

implementação das ações de normas e diretrizes na área de seguranças e saúde no trabalho.

Ainda fazem parte das ações desse ministério ações de inspeção do trabalho, por meio das

delegacias regionais de trabalho, e de produzir conhecimento técnico cientifico na área. O

Ministério da Previdência Social desempenha uma função fiscalizadora dentro da PNST. Esta

fiscaliza e inspeciona o ambiente de trabalho com fins de identificar riscos existentes no

ambiente de trabalho; avaliar a incapacidade laborativa para a concessão de benefícios

previdenciários; garantir a fidedignidade dos dados declarados aos bancos de dados da

previdência social; implementar políticas tributárias sobre as de beneficiamento ou de punição

as empresas. Ainda em conjunto ao Ministério da Saúde, via SUS, avaliam a relação entre

condições de trabalho e os agravos à saúde do trabalhador, bem como a implementação de

nexo epidemiológico para a caracterização dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho

(BRASIL, 2011).

O Ministério da Saúde enquanto gestor do SUS coordena as ações em saúde

decorrentes proposta pela PNSST, assessorando as secretarias estaduais e municipais de

saúde, a partir da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador do Conselho Nacional de

Saúde (CIST) e da institucionalização da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do

Trabalhador – RENAST, como principal ponto estratégico para a articulação desta política

(BRASIL, 2011).

O RENAST, criado pela portaria nº 1.679/02, representou o fortalecimento das Políticas

Públicas de Saúde e Segurança do Trabalhador, possibilitando a formação de uma política de

estado e sua execução. Essa rede tem o objetivo de integrar os serviços do SUS voltados para

a assistência e a vigilância, e para o desenvolvimento das ações de assistência e vigilância da

saúde dos trabalhadores. A implementação se dá por meio da adequação e ampliação dos

Centros de Referências e Saúde do Trabalhador - CEREST; da inclusão das ações de saúde do

trabalhador na atenção básica; da instituição e indicação de serviços de saúde do trabalhador

de retaguarda, de média e alta complexidade, chamados de rede de serviços sentinela; e da

caracterização de municípios sentinelas em saúde do trabalhador, que será pela presença de

fatores de risco significativos definidos a partir de dados epidemiológicos, previdenciários ou

econômicos (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2005a).

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Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador – CERESTs definidos a partir da

Portaria GM/MS 2.437/05 desempenham o papel de suporte técnico e científico, de polos

irradiadores da cultura da centralidade do trabalho no processo de produção social das

doenças, bem como na articulação inter e intrassetorial das ações de Saúde do Trabalhador no

seu território de abrangência (BRASIL, 2006a). Os serviços dos CERESTs devem estar

articulados com os demais serviços da rede do SUS e outros setores que estejam ligadas

diretamente à saúde do trabalhador. Segundo a portaria GM/MS 2.437/05, que dispõe da

ampliação e fortalecimento do RENAST no SUS, dentre as atribuições dos CERESTs estão

(BRASIL, 2005a):

I- Disponibilizar suporte técnico adequado às ações de vigilância em saúde do

trabalhador;

II- Coletar, sistematizar e difundir informações importantes para a saúde do

trabalhador;

III- Apoiar as ações de vigilância em saúde do trabalhador;

IV- Promover processos de capacitação e educação permanente para os profissionais e

técnicos da rede do SUS e dos participantes do controle social;

VI- Implementar protocolos de atenção à saúde do trabalhador e projetos

estruturadores de ação prioritárias;

VII- Propor normas relativas ao diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes

portadores de agravos à saúde decorrentes do trabalho.

Os CERESTs devem ter informações e dados disponíveis e atualizados para sua área de

abrangência, dados como: mapa de risco, mapa de acidentes de trabalho, perfis e indicadores

sociais, econômicos, de desenvolvimento e IDH e perfil populacional e da População

Econômica Ativa (BRASIL, 2006a).

Os CERESTs estaduais deveram ser composto de no mínimo 15 profissionais, sendo 5

profissionais de nível médio, sendo ao menos 2 auxiliares de enfermagem e 10 profissionais

de nível superior, sendo ao menos 2 médicos (20 horas) e 1 enfermeiro (40 horas). Para que

as atividades dos centros estaduais abranjam todo o território estadual, eles são compostos por

Núcleos Técnicos de Atividades, compostos no mínimo 10 profissionais, sendo 04 de nível

médio (auxiliar de enfermagem, ao menos 02; técnico de higiene e segurança do trabalho;

auxiliar administrativo; arquivistas, entre outros), e 06 profissionais de nível superior, sendo

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 22

ao menos 2 médicos (20 horas semanais) e 1 enfermeiro (40 horas semanais) (BRASIL,

2005a).

A vigilância em Saúde do Trabalhador é uma das principais ações dos CERESTs. Ela

foi influenciada pelo modelo italiano de atenção à saúde, que compreendia a vigilância como

instrumento de transformação social, que defendia a articulação entre a descentralização e o

contexto social vivenciado pelo trabalhador, valorizando a subjetividade e o saber dos

trabalhadores. A VISAT – Vigilância a Saúde do Trabalhador, despontou no Brasil como uma

nova ferramenta de controle das ações de Saúde do trabalhador (FACCHINI, 2006).

A criação das Instruções Normativas de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS,

aprovada pela portaria normativa MS/GM Nº 3.120, de 1º de Julho de 1998, trata da

vigilância em saúde do trabalhador como:

Atuação contínua e sistêmica (...), no sentido de detectar, conhecer,

pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos a

saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos

tecnológicos, social, organizacional e epidemiológico, com a finalidade de

planejar, executar e avaliar intervenções sobre esse aspecto, de forma a

elimina-los ou controlá-los (BRASIL, 1998. P. 60).

As Instruções Normativas de Vigilância em Saúde do trabalhador ainda visa conhecer a

dinâmica dos acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho, identificando os

fatores de risco ocupacionais, que possibilitaram traçar medidas de controle e prevenção e

avaliar os serviços de saúde e garantiram a qualidade da assistência à saúde do trabalhador

(BRASIL, 1998).

Além dos princípios norteadores do SUS, a vigilância em saúde do trabalhador ainda se

baseia em princípios peculiares da área, como a universalidade a todos os trabalhadores,

independente de localização, forma de inserção no mercado de trabalho e vínculo

empregatício; integralidade, articulando ações de assistência e recuperação, com prevenção

de agravos e controle de seus determinantes; descentralização, consolidando as ações a níveis

municipais, instância fundamental para o desenvolvimento das ações de vigilância em saúde

do trabalhador; controle social, possibilitando a participação dos trabalhadores e de suas

entidades representantes em todas as etapas do processo de vigilância em saúde do

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trabalhador; intersetorialidade, promovendo a integração e articulação entre as diversas áreas

e setores da saúde do trabalhador; interdisciplinaridade, possibilitando uma abordagem

multiprofissional; e a pesquisa-intervenção, onde a pesquisa subsidiaria e possibilitaria a

intervenção (BAHIA, 2002).

As ações de vigilância em saúde do trabalhador são operacionalizadas a partir de

estratégias traçadas que viabilizam a articulação da saúde do trabalhador com os demais

setores do SUS, sendo necessário que as práticas executadas nesse setor possibilitem a relação

do trabalho com a situação de saúde apresentada pelo trabalhador e supervisione o

cumprimento das atribuições em cada nível de gestão (BAHIA, 2002). Essa estratégia de

articulação se dá por meio da Atenção Básica.

2.3. A Domicilização do Trabalho

O trabalho domiciliar é um fenômeno originário ainda dos séculos XVI na Europa com

a Revolução Industrial, que transformou o mundo do trabalho. A economia que até então era

sustentada pelo trabalho agrícola transforma-se em uma economia industrial, causando

mudanças na estrutura organizacional e gerencial do trabalho, dominada por uma visão

capitalista que tomou conta da economia, vislumbrada com uma concepção de trabalho

relacionada ao lucro. O trabalho domiciliar, executado na informalidade, passa a ser uma

resposta às mudanças na estrutura do trabalho, quando ele passa a ser fragmentado com os

processos de terceirização e até quarteirização das atividades, caminhando, assim, lado a lado

do trabalho formal e informal (VIEIRA, M. C. F, 2009).

No Brasil, o trabalho domiciliar desponta na passagem para o século XX, quando

grandes metrópoles vivem um forte crescimento. Um intenso processo de êxodo rural

acontece na busca do tão sonhado progresso apresentado pela industrialização. No entanto,

essas famílias se deparam com um mundo não real, onde inexiste o trabalho formal, restando-

lhes a submissão ao trabalho informal ou o desempenho de atividades no ambiente familiar

para garantir a sua subsistência e de sua família. Iniciam-se pequenos negócios, com acesso

restrito ao crédito e sem condições de cumprirem com os requisitos do sistema legal e de

possuírem registros nas entidades governamentais (VIEIRA, M. C. F, 2009).

A incorporação do ambiente de trabalho ao núcleo familiar não se restringe apenas aos

integrantes da família que consequentemente compõem o núcleo produtivo, estendendo-se,

principalmente nos períodos de pico produtivos, a pessoas próximas, como os vizinhos, o que

tem sido chamado de quarteirização do serviço. Outro fator agravante desse processo de

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domicilização do trabalho é o envolvimento de crianças nas atividades produtivas,

caracterizando casos de trabalho infantil. Esses trabalhadores estão expostos a situações de

risco para a saúde e, em consequência, à ausência de dispositivos de proteção. Além disso,

eles ainda estão à margem da legislação, diante da ausência da proteção legal do contrato de

trabalho, do descumprimento de normas básicas e da ausência da fiscalização, além da falta

de cobertura do seguro social e acidentes do trabalho (MENDES, R. CAMPOS, A.C.C., 2004;

VIEIRA, M.C.F, 2009).

2.4. Saúde do Trabalhador na Atenção Básica

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito

individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos,

o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde, considerando o sujeito

nas suas diversas interfaces (singularidade e complexidade), na integralidade e na sua inserção

sociocultural. No Brasil, seu marco inicial se deu nos anos 1970, com o Programa de

Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento - PIASS, que se referenciava no modelo de

Atenção Primária de outros países, para expandir sua cobertura. Posteriormente, em 1991, o

Programa de Agentes Comunitários de Saúde - PACS e, no ano de 1994, o Programa de

Saúde da Família concretizaram a inserção da Atenção Básica no País (Brasil, 2010b).

A qualificação da Atenção Básica tem sido um dos principais desafios na consolidação

do Sistema Único de Saúde, buscada por meio da descentralização das ações de saúde. Para

isso, a atenção Básica tem como fundamentos (BRASIL, 2006b):

I - Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e

resolutivos, caracterizados como a porta de entrada preferencial do sistema de

saúde, com território adscrito de forma a permitir o planejamento e a programação

descentralizada, e em consonância com o princípio da equidade;

II - Efetivar a integralidade em seus vários aspectos, a saber: integração de ações

programáticas e demanda espontânea; articulação das ações de promoção à saúde,

prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação, trabalho de

forma interdisciplinar e em equipe, e coordenação do cuidado na rede de serviços;

III - Desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a

população adscrita garantindo a continuidade das ações de saúde e a

longitudinalidade do cuidado;

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IV - Valorizar os profissionais de saúde por meio do estímulo e do acompanhamento

constante de sua formação e capacitação;

V - Realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados,

como parte do processo de planejamento e programação;

VI - Estimular a participação popular e o controle social (BRASIL, 200b).

Estando a Atenção Básica como ponto principal na estruturação da atenção à saúde no

país, visualizou-se esta como um ponto estratégico para o desenvolvimento de ações da

atenção à saúde do trabalhador. O primeiro passo dessa integração se deu em 1998, quando

houve uma aproximação da área técnica em saúde do trabalhador com a Atenção Básica,

incentivada por uma proposta de elaboração da Política de Saúde do Trabalhador no SUS e

por identificação das dificuldades em desenvolver ações em saúde do trabalhador no sistema

de saúde. Essas dificuldades eram ocasionadas pelo esgotamento do modelo de atenção

centrado nos Centros de Referências em Saúde do Trabalhador -CRST e, com isso, o comitê

técnico assessor de saúde do trabalhador sugeriu a relocação das ações em saúde do

trabalhador para a Atenção Básica.

Ainda no ano de 1998, por meio da portaria nº 3.908 de 30 de outubro, o Ministério da

Saúde apresenta a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador - NOST-SUS, que é

complementar a NOB-SUS 01/96, e que veio a fortalecer a participação da Atenção Básica na

Atenção a Saúde do Trabalhador, quando atribui à Gestão Plena da Atenção Básica assumir as

ações de (BRASIL, 2001):

a) Garantia do atendimento ao acidentado do trabalho e ao suspeito ou

portador de doença profissional ou do trabalho, por meio da rede própria ou

contratada, dentro de seu nível de responsabilidade da atenção, assegurando

todas as condições necessárias para o acesso aos serviços de referência,

sempre que a situação exigir;

b) realização de ações de vigilância nos ambientes e processos de trabalho,

compreendendo a identificação das situações de risco e a tomada de

medidas pertinentes para a resolução da situação e a investigação

epidemiológica;

c) notificação dos agravos à saúde e os riscos relacionados com o trabalho,

alimentando regularmente o sistema de informações dos órgãos e serviços

de vigilância, assim como a base de dados de interesse nacional;

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 26

d) estabelecimento de rotina de sistematização e análise dos dados gerados

no atendimento aos agravos à saúde, relacionados ao trabalho, de modo a

orientar as intervenções de vigilância, a organização dos serviços e das

demais ações em saúde do trabalhador.

e) utilização dos dados gerados nas atividades de atenção à saúde do

trabalhador, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações de

saúde nesse campo, e alimentar os bancos de dados de interesse nacional.

Em 1999, a Coordenação de Saúde do Trabalhador passa a trabalhar junto ao

Departamento de Atenção Básica, a partir de então passam a produzir instrumentos e

materiais pedagógicos para serem utilizados no suporte e nas capacitações das equipes

técnicas do PACS e do PSF (BRASIL, 2010b).

O Programa de Saúde da Família, hoje chamado de Estratégia de Saúde da Família, é

reconhecido como agente de ação na Atenção Básica, esta se constituiu em uma importante

estratégia que busca a efetivação dos princípios da descentralização e integralidade,

objetivando a regionalização da rede de assistência à saúde, garantindo o direito à atenção

básica em saúde (como o primeiro nível de atenção à saúde), bem como garantir e colaborar

para a efetivação da máxima constitucional que preconiza a saúde como um direito de todos

(OPAS, 2004. p.13).

A consolidação da Estratégia Saúde da Família como modelo de Atenção Básica e

estratégia prioritária para a reorganização da Atenção Básica no Brasil tornou-a o território

para a estruturação das ações de saúde do trabalhador, uma vez que o crescimento do mercado

informal tem acarretado a transferência de riscos/fatores de risco para dentro das casas, com a

execução de atividades de trabalho no espaço familiar, num processo conhecido como

domicilização do risco (BRASIL, 2002). Na busca para que esse processo de interiorização do

risco nos seios das famílias seja barrado, a Estratégia Saúde da Família e os Agentes

Comunitários de Saúde visam a contribuir com uma atuação no campo da Vigilância da

Saúde. As ações devem girar em torno do eixo informação – decisão – ação. Devem-se

pautar, ainda, na identificação de riscos, danos, necessidades, condições de vida e de trabalho,

uma vez que estas identificam as formas de adoecer e morrer de grupos populacionais. Essas

ações são preconizadas pelo Caderno de Atenção Básica – nº 5 – Saúde do Trabalhador, que

tem como foco o trabalho precoce, os acidentes de trabalho e as doenças relacionadas ao

trabalho (BRASIL, 2002).

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 27

3. Problema de Pesquisa

No ano de 2002, o Mistério da Saúde lança o Caderno de Atenção Básica - CAB – nº 5

– Saúde da Família – Saúde do Trabalhador e, oito anos após, em 2010, a Previdência social

registrou 701.496 casos de acidentes e doenças do trabalho (BRASIL, 2010a). Esse aumento

significativo no registro do número de casos leva a uma reflexão sobre o desenvolvimento da

Política de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica, com ênfase na atuação da

Estratégia de Saúde da Família. Assim, pode-se questionar: como as ações de Atenção à

Saúde do Trabalhador têm sido desenvolvidas na Atenção Básica via Estratégia Saúde da

Família - ESF?

4. Objetivos

O objetivo deste estudo foi avaliar o desenvolvimento das ações em saúde do

trabalhador na Atenção Básica com foco na Estratégia de Saúde da Família no estado do Rio

Grande do Norte, Brasil, a partir da análise das ações realizadas pelas Equipes de Saúde da

Família em três cidades do estado, tendo como referência o Manual de Atenção Básica nº 5 do

Ministério da Saúde, que trata da Saúde do Trabalhador.

A partir da análise, propusemo-nos a avaliar as ações em saúde do trabalhador com foco

na linha de ação relativa ao trabalho precoce, aos acidentes de trabalho e às doenças

relacionadas ao trabalho.

5. Método

Trata-se de um estudo quantitativo com uma abordagem metodológica avaliativa,

privilegiando a apreciação normativa, com foco no processo, dentro da tríade estrutura–

processo–resultado. O estudo ainda tem uma abordagem bibliográfica e de campo.

Avaliar é uma ação humana habitual que depende muitas vezes da intuição e da opinião

(BROUSSELLE et al, 2011). Brousselle et al (2011) trazem entendimentos já consagrados

sobre a avaliação de políticas e programas. Brousselle et al (2011) a apresentam como uma

apreciação sistemática do processo, da estrutura ou somente resultado de um programa ou de

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 28

uma política em função de critério ou da perspectiva de ação de modo a contribuir para

melhoria do programa ou da política.

A avaliação normativa utilizada no estudo é um dos tipos da abordagem avaliativa, que

se baseia na comparação de todos os componentes da intervenção no que diz respeito a

critérios e a normas. Essa avalição permite emitir um julgamento sobre cada um dos

elementos da tríade estrutura-processo-resultado (BROUSSELLE et al, 2011).

5.1 População-Alvo

O presente estudo abrange três municípios do estado do Rio Grande do Norte: Pau dos

Ferros, Caicó e Natal. Nos municípios de Pau dos Ferros e Caicó o estudo ocorreu no período

de junho a agosto de 2012; em Natal, ocorreu no período de outubro e novembro. Os

municípios estudados apresentam características diferentes e pertencem a regiões geográficas

diferentes. A Figura 1 apresenta a população, localização e número de Equipes de Estratégia

de Saúde da Família de cada um. Foram entrevistados os profissionais das Equipes de Saúde

da Família (Agentes Comunitários de Saúde, Técnicos/Auxiliares de Enfermagem,

Enfermeiros e Médicos) nesses municípios.

Figura 1. Municípios participantes da pesquisa, respectivas populações e número de equipes de Saúde da Família. IBGE – Censo 2010; Departamento de Atenção Básica –

DAB 2012.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 29

5.2 Amostra

A seleção dos municípios para participarem do estudo levou em consideração a sua

localização geográfica, a característica de serem pólos que alocam Unidades Regionais de

Saúde Pública - URSAPs, que são instâncias regionais descentralizadas da Secretaria de

Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte - SESAP/RN, e por apresentarem um maior

número de registros de acidentes de trabalho dentre os municípios da mesma região, segundo

o anuário estatístico de acidentes de trabalho da previdência social do ano 2008.

A seleção das equipes a serem entrevistadas, teve como referência a Unidade de Saúde

da Família na qual a equipe está instalada. A amostra foi composta por 202 profissionais, em

52 Equipes de Saúde da Família nos três municípios estudados, sendo 28 equipes no

município de Natal, 16 equipes em Caicó e 08 em Pau dos Ferros (Tabela 1). Em cada equipe

foram entrevistados 05 profissionais, sendo 01 médico, 01 enfermeiro, 01 técnico/auxiliar de

enfermagem e 02 agentes comunitários de saúde. Para o caso de agente comunitário de saúde,

foram sorteados dois por equipe. Da mesma forma, se uma só unidade alocar mais de uma

equipe, foi sorteado apenas uma para participar.

Para seleção das equipes estudadas nos municípios, determinou-se que, para os

municípios com menos de 30 equipes, seriam estudadas todas as equipes. Para os municípios

com mais de 30, foi selecionada, por meio de um sorteio, uma amostragem aleatória simples

de 30 equipes. Como critério de exclusão da equipe, temos: estar localizada na zona rural e ter

participado do pré-teste. No município de Pau dos Ferros, participaram 8 equipes de 12, pois

03 se localizavam na zona rural e 01 participou do pré-teste. Já no município de Caicó,

participaram do estudo 16 das 19 equipes, pois 03 estavam localizadas na zona rural. Em

Natal, das 30 equipes selecionadas, perderam-se 02 das equipes.

Tabela 1. Composição da amostra de acordo com o município pesquisado. Rio Grande do Norte, 2012.

Local de Estudo Equipes de Saúde da

Família Profissionais entrevistados

Natal 28 99

Caicó 16 69

Pau dos Ferros 8 34

Total 52 202

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 30

5.3 Coleta de Dados

5.3.1 Instrumento de Coleta

O instrumento de coleta tem como base o Caderno de Atenção Básica nº 5, publicação

do Ministério da Saúde que visa a capacitar e orientar a atuação das Equipes de Saúde da

Família nas ações em saúde do trabalhador, tendo como foco os acidentes de trabalho,

doenças do trabalho e trabalho infantil. O CAB nº 5 tornou-se base para o presente estudo por

ser uma publicação que trata diretamente das ações na saúde do trabalhador na estratégia de

Saúde da Família. Esse caderno se fundamenta em documentos do Ministério que tratam da

saúde do trabalhador no SUS, no entanto esses documentos não tratam diretamente da

Estratégia de Saúde da Família - ESF. Assim, o caderno torna-se um importante instrumento

para as equipes de Saúde da Família.

O referido instrumento de coleta é uma lista de verificação auto aplicável, composta de

40 questões, divididas em quatro seções: (a) Identificação – para caracterização da unidade e

do profissional; (b) Do Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador – referente ao

conhecimento dos entrevistados sobre o programa e sobre o Caderno de Atenção Básica nº5 -

CAB n º 5; (c) Do contexto Geral da Unidade – referente à realização das ações preconizadas

pelo Caderno por toda a equipe e (d) questões específicas dos grupos profissionais – Agente

Comunitários de Saúde, Auxiliares/Técnicos de Enfermagem, Enfermeiros e Médicos. Nas

seções de identificação, do conhecimento do Programa e do contexto geral da unidade, a

resposta é comum a todos os profissionais entrevistados e na quarta seção as questões são

exclusivas de cada grupo profissional. A lista de verificação foi submetida a pré-teste para

ajustes. O pré-teste foi realizado no município de Pau dos ferros em 3 Equipes de Saúde da

Família da zona rural e 01 Equipe na Zona Urbana.

Os profissionais foram abordados nas Unidades de Saúde da Família em que trabalham,

onde foi apresentada inicialmente a pesquisa à direção da unidade. Em seguida, aos

profissionais participantes apresentou-se a pesquisa e leitura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido – TCLE e solicitou-se a assinatura do documento. Estipulou-se o tempo

médio de 20 minutos para cada entrevista.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 31

5.4 Análise dos Dados

A classificação do grau de desenvolvimento das ações do Programa de Atenção à Saúde

do Trabalhador na Estratégia de Saúde da família foi definida tomando por base um estudo de

Frias, P. G; Lira, P. I. C e Hartz, Z. M. A (2005), e o estudo de Ferreira, V. S. C. e Silva, L.

M. V (2005) que avaliam a implantação de programas de saúde (HARTZ, Z. M. A, SILVA, L.

M. V., 2005).

Os dados coletados em fichas foram digitados, compondo um banco de dados eletrônico.

A análise dos dados foi realizada em duas fases: (a) descrição de variáveis constantes na lista

de verificação na forma de frequências percentuais, abordando o contexto geral das ações em

Saúde do Trabalhador na Estratégia de Saúde da Família na visão dos profissionais e (b)

classificação dos munícipios em quatro graus de realização das ações, segundo o escore

médio obtido.

Na definição dos escores, as variáveis foram agrupas em dois grupos, as variáveis

dicotômicas e as variáveis categóricas, atribuindo-se para cada variável uma pontuação de 0 a

3 pontos. Para as variáveis dicotômicas, atribuíram-se os valores 1 para sim e 0 para não. Às

demais variáveis foram categorizadas e atribuídas escore de 0 a 3, como mostra o quadro 1. O

cálculo do escore para a definição do grau de realização das ações foi obtido pela soma das

variáveis, das listas de verificação para cada unidade e de cada município, tendo sido obtido o

escore máximo por profissional. A partir dos escores obtidos, extraiu-se um escore médio,

descrito na fórmula a seguir.

A pontuação máxima utilizada no cálculo do escore médio varia de acordo com o

município, considerando que os escores máximos (valor máximo de escore que um município

pode obter) que podem ser obtidos por cada um dos municípios estão relacionados ao número

total de profissionais. Categorizou-se o escore médio, constituindo 4 graus de classificação de

realização das ações em saúde do trabalhador, como mostra o Quadro 2, onde os municípios

foram enquadrados.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 32

Quadro 1. Atribuição de escores das variáveis categóricas agrupadas de acordo com a Lista de Verificação.

Contexto Geral

Categorias da Variável

Sempre / Frequentemente

Raramente Realizado por outro Estabelecimento de Saúde.

Nunca

Escore 3 2 1 0

Específica por Profissional

Categorias da Variável

Sempre Frequente Raramente Nunca

Escore 3 2 1 0

Sempre/

Frequentemente

Raramente Realizado por outro Profissional da Equipe

Realizado por outro Estabelecimento de

Saúde

Escore 3 2 1 0

Quadro 2. Grau de desenvolvimento das ações em Saúde do Trabalhador na ESF.

Classificação Escore Médio

Satisfatório 75 |– 100

Aceitável 50 |– 75

Regular 25 |– 50

Crítico 0 |– 25

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 33

6. Resultados

6.1 Caracterização das equipes e dos profissionais

Foram entrevistados 202 profissionais, em 52 Equipes de Saúde da Família nos

municípios de Pau dos Ferros, Caicó e Natal. No município de Pau dos Ferros, foram

entrevistados 34 Profissionais em 08 Equipes de Saúde da Família; no município de Caicó,

foram 66 profissionais em 16 Equipes; já no município de Natal, foram 97 Profissionais em

28 Equipes de Saúde da Família. Todas as unidades que abrigam as equipes entrevistadas

estão localizadas na zona urbana.

Dos profissionais entrevistados, 21,3% eram do sexo masculino e 78,7% do sexo

feminino. Quanto às funções exercidas, 41,6% eram agentes comunitários de saúde; 22,8%,

técnicos de enfermagem/auxiliar de enfermagem; 24,4 %, enfermeiros; e 11,2 % eram

médicos. A desproporção acentuada entre os percentuais de profissionais médicos e os demais

grupos profissionais (enfermeiros e dos técnicos/auxiliar de enfermagem) que seriam

entrevistados em números iguais se dá pelos repetidos casos em que a unidade não dispunha

no momento daquele profissional na equipe, por recusa em participar do estudo e em alguns

casos o mesmo profissional atendia em duas ou mais equipes de um mesmo município.

Tabela 2. Descrição da amostra estudada, de acordo com o município, tipo de profissional entrevistado e sexo.

Município Total

Pau dos Ferros Caicó Natal

Função n % n % n % n %

Agente Comunitário de Saúde

Masc 4 26,7 6 21,4 7 17,9 17 20,7

Fem 11 73,3 22 78,6 32 82,1 65 79,3

Total 15 44,1 28 42,4 39 40,2 82 41,6

Tecnico/Auxiliar de Enfermagem

Masc 0 0,0 1 3,6 2 5,1 3 3,7

Fem 7 100,0 13 92,9 22 91,7 42 93,3

Total 7 20,6 14 21,2 24 24,7 45 22,8

Enfermeiro Masc 2 13,3 4 14,3 1 2,6 7 8,5

Fem 6 75,0 12 75,0 23 95,8 41 85,4

Total 8 23,5 16 24,2 24 24,7 48 24,4

Médico Masc 3 20,0 7 25,0 5 12,8 15 18,3

Fem 1 25,0 1 12,5 5 50,0 7 31,8

Total 4 11,8 8 12,1 10 10,3 22 11,2

Total Masc 9 60,0 18 64,3 15 38,5 42 21,3

Fem 25 73,5 48 72,7 82 84,5 155 78,7

Total 34 100,0 66 100,0 97 100,0 197 100,0

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 34

A idade dos entrevistados variou entre os 21 e 66 anos, apresentando uma média de 35,7

anos e o tempo de trabalho nas unidades ficou entre 1 e 30 anos, com uma média de 4,7 anos.

O tempo máximo de trabalho na unidade vai além do tempo de implantação da Estratégia de

Saúde da Família, assim, observa-se que os profissionais participantes do estudo

consideraram todo o seu tempo de atuação independente do tempo de atuação na ESF.

Observou-se, no nível de escolaridade, que houve uma maior concentração de profissionais

com nível médio completo (39,1%), superior completo (32,0%) e com pós-graduação

(20,8%). Os profissionais com o ensino fundamental completo representam apenas 1,5% e os

com ensino superior incompleto, 5,6%.

O desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador pela equipe de Saúde da Família

permeia as ações já estabelecidas pela Estratégia, o que possibilita o seu desenvolvimento.

Dos Profissionais entrevistados, 90,5% conhecem ou já ouviram falar no Programa de

Atenção a Saúde do Trabalhador. Esse percentual cai para 45,8% quando se trata de conhecer

o Caderno de Atenção Básica nº 5 (Tabela 3). Esse baixo percentual indica um

desconhecimento por parte dos profissionais entrevistados (principalmente dos ACS) das

ações em saúde do trabalhador na Atenção Primária, especificamente na Estratégia de Saúde

da Família. O Caderno de Atenção Básica nº 5 foi lançado em 2002 como instrumento de

capacitação e orientação das ações em Saúde do Trabalhador a serem desenvolvidas pelas

Equipes da Estratégia de Saúde da Família.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 35

Tabela 3. Distribuição do grau de conhecimento sobre o Programa de Saúde do Trabalhador e do Caderno de Atenção Básica no 5, segundo profissional e cidade pesquisada.

Conhece ou já ouviu falar no Programa de Atenção à Saúde

do Trabalhador

Conhece o Caderno de Atenção Básica no 5 – Saúde do

Trabalhador

Cidade Profissional n % n %

Pau dos Ferros Agente Comunitário de Saúde 13 92,9 9 64,3

Técnico/Aux. de Enfermagem 7 100,0 6 85,7

Enfermeiro 8 100,0 5 62,5

Médico 4 100,0 2 50,0

Total 32 97,0 22 66,7

Caicó Agente Comunitário de Saúde 26 89,7 9 30,0

Técnico/Aux. de Enfermagem 15 100,0 8 53,3

Enfermeiro 16 100,0 11 68,8

Médico 8 100,0 2 25,0

Total 65 95,6 30 43,5

Natal Agente Comunitário de Saúde 30 75,0 19 47,5

Técnico/Aux. de Enfermagem 22 91,7 8 33,3

Enfermeiro 24 96,0 11 44,0

Médico 8 80,0 2 20,0

Total 84 84,8 40 40,4

Total Agente Comunitário de Saúde 69 83,1 37 44,0

Técnico/Aux. de Enfermagem 44 95,7 22 47,8

Enfermeiro 48 98,0 27 55,1

Médico 20 90,9 6 27,3

Total 181 90,5 92 45,8

6.2 O contexto geral das ações em Saúde do Trabalhador na

Estratégia de Saúde da Família na visão dos profissionais.

Dentre as ações em saúde do trabalhador a serem desenvolvidas pela ESF está um grupo

de atividades que devem ser desenvolvidas por toda a equipe, uma abordagem do contexto

geral da unidade, especificamente nas questões que concernem à caracterização da população

residente na área de cobertura da equipe (identificação da PEA, identificação das atividades

produtivas e dos perigos e riscos causados pelas atividades produtivas). Podemos destacar

aqui as ações de identificação das atividades produtivas das quais 74,3% dos profissionais

entrevistados afirmam que a equipe realiza essa ação. Dentre os grupos profissionais

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 36

estudados, os de nível médio (ACS e Tec./Aux. de Enfermagem) são os que mais apontam o

desempenho dessa ação pela equipe. A prevalência da realização das atividades para a maioria

dos profissionais entrevistados se repete nos casos de ações como a identificação da PEA e a

identificação dos perigos e riscos causados pelas atividades produtivas, como apresentado

pela Tabela 4.

Tabela 4. Realização de ações relativas à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica, segundo município pesquisado.

Município

Total Pau dos Ferros Caicó Natal

Ações n % n % n % n %

Identifica a População Economicamente Ativa 26 76,5 41 59,4 66 66,7 133 65,8

Identifica as atividades produtivas 28 82,4 52 75,4 70 70,7 150 74,3

Identifica os perigos e os riscos causados pelas atividades produtivas

21 61,8 47 68,1 59 59,6 127 62,9

Identifica existência de trabalho precoce 14 41,2 24 34,8 37 37,4 75 37,1

Registra a ocorrência de acidentes de trabalho

Sempre 4 11,8 8 11,6 17 17,2 29 14,4

Frequentemente 6 17,6 10 14,5 10 10,1 26 12,9

Raramente 11 32,4 18 26,1 27 27,3 56 27,7

Nunca 5 14,7 16 23,2 32 32,3 53 26,2

Realizado por outro estabelecimento de saúde 8 23,5 17 24,6 13 13,1 38 18,8

Registra a ocorrência de doenças do trabalho

Sempre 10 29,4 17 24,6 29 29,3 56 27,7

Frequentemente 7 20,6 11 15,9 24 24,2 42 20,8

Raramente 11 32,4 15 21,7 14 14,1 40 19,8

Nunca 3 8,8 15 21,7 22 22,2 40 19,8

Realizada por outro estabelecimento de saúde 3 8,8 11 15,9 10 10,1 24 11,9

Planeja e executa ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador

9 26,5 23 33,8 21 21,2 53 26,4

Desenvolve Programa de Educação em Saúde do Trabalhador

10 29,4 23 33,3 18 18,2 51 25,2

Desenvolve Projetos de Promoção à Saúde do Trabalhador

11 32,4 27 39,1 17 17,2 55 27,2

Parceria com instituição e envolvimento da comunidade na luta contra o trabalho infantil

15 44,1 15 21,7 20 20,2 50 24,8

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 37

As ações sobre o trabalho infantil também são preconizadas pelo CAB nº 5, que

orienta a equipe da Estratégia de Saúde da Família a desenvolver ações com foco na

identificação da existência e na luta dessa prática. O trabalho precoce é definido pela

legislação brasileira como o trabalho de menores de 16 anos. A legislação proíbe o trabalho

de crianças de até 14 anos e, para a faixa etária de 15 aos 16 anos, é permitido o trabalho na

condição de aprendiz (BRASIL, 2006c). No ano de 2001, a região Nordeste brasileira foi a

região com maior incidência de trabalho infantil nas idades entre 5 a 15 anos, com 1.532.928

casos de crianças em trabalho precoce (OIT, 2004). No ano de 2009, segundo OIT (2012), o

Estado do Rio Grande do Norte registrava uma população de 82.195 trabalhadores com idade

entre 05 e 17 anos. As ações de proteção à criança, no tocante à identificação da existência de

trabalho precoce e à busca de parcerias com instituições e o envolvimento da comunidade na

luta contra o trabalho infantil, pouco tem sido desenvolvida pelos profissionais da Estratégia

de Saúde da Família. Observou-se que 61,9% (37,1% identificam a existência de trabalho

precoce e 24,8% buscam parcerias com instituições e envolvimento da comunidade na luta

contra o trabalho infantil) dos profissionais entrevistados não consideram que as equipes

realizem ações relacionadas ao trabalho infantil.

Os acidentes de trabalho são os maiores agravos à saúde dos trabalhadores brasileiros,

bem como as doenças ocasionadas pelo trabalho, configurando-se em importantes problemas

de saúde pública. O sistema de saúde tem encontrado dificuldades na elaboração e

implementação de políticas públicas de prevenção dos agravos à saúde do trabalhador,

principalmente dos acidentes de trabalho, ocasionado pela falta de informações confiáveis.

Um dos problemas das informações em saúde e segurança dos trabalhadores está associado ao

fato de as informações representarem apenas uma parcela dos trabalhadores formais, ficando,

assim, os trabalhadores informais obscuros das políticas públicas em saúde (CORDEIRO, R.

et al, 2005).

A implementação das ações em saúde e segurança do trabalhador junto à atenção básica

possibilita uma melhoria nas ações de atenção à saúde dos trabalhadores, principalmente na

obtenção de informações quanto ao mundo do trabalho informal. A vinda do trabalho para

dentro das casas introduziu no meio familiar os riscos do mundo do trabalho, em que toda a

família passa a integrar o grupo dos trabalhadores informais. Estando a Estratégia de Saúde da

Família mais próxima da população, ela se torna um campo viável para a atuação na saúde do

trabalhador. O CAB nº 5 orienta realizar ações de identificação dos perigos e riscos causados

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 38

pelas atividades produtivas, o registro da ocorrência dos acidentes de trabalho e o registro de

ocorrência das doenças ocasionadas pelo trabalho (BRASIL, 2010b).

O registro de ocorrência de acidentes e doença do trabalho é uma ação preconizada

tanto pela NOB – SUS 01/96, quanto pelo Caderno de Atenção de Básica nº 5 de 2002, como

uma das ações a serem desenvolvidas pela Atenção Básica (BRASIL, 2010b). Dentre elas, o

registro de acidentes de trabalho foi apontado como uma das ações de menor frequência de

realização pelas equipes. Dos profissionais entrevistados, 18,8% afirmam que o registro dos

acidentes de trabalho não é realizado pela equipe sendo, assim, feito por outros

estabelecimentos de saúde. Em consonância ao já apontado, 27,7% dos entrevistados afirmam

que os registros de acidentes “raramente” são realizados pelas equipes e 26,2%, que essa ação

“nunca” é realizada.

O registro de ocorrência das doenças ocasionadas pelo trabalho, também preconizada

pela NOB 01/96 e pelo CAB nº 5, tem uma maior realização pelas equipes, segundo 48,3%

dos profissionais entrevistados (dos quais 27,7 % apontaram que a ação é realizada “sempre”

e 20,8%, “frequentemente”) em relação ao registro de acidentes. Entre todos os profissionais

entrevistados, 19,8% afirmam que as ações são realizadas “raramente”. Para 31,7% dos

participantes, as ações não são realizadas (somando 19,8% dos que afirmaram que o registro

“nunca” é realizado pela equipe e 11,9% que afirmam ser “realizado por outro

estabelecimento de saúde”).

Analisando o contexto das ações de vigilância e promoção da saúde do trabalhador nas

equipes de Saúde da Família, observa-se serem elas apontadas como as ações de menor

realização. O planejamento e a execução de ações em vigilância em saúde do trabalhador foi

uma ação citada por 26,4% dos entrevistados como uma ação realizada pela equipe. O

desenvolvimento de programas de educação em saúde do trabalhador com a comunidade,

apenas para 25,2% dos profissionais entrevistados é realizado pela equipe, e o

desenvolvimento de projeto de promoção à saúde do trabalhador é referido por 27,2% dos

entrevistados.

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6.3 Classificação dos municípios

Os municípios analisados foram classificados de acordo com o escore médio obtido, que

os enquadra em uma dos quatro graus de desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador

na ESF, como apresentado na Tabela 5.

Tabela 5. Escore médio obtido por município e classificação do grau de desenvolvimento das ações em Saúde do Trabalhador na Estratégia de Saúde da Família.

Escore Médio IC 95%

Município n Média D.P. Mediana L.I. L.S. Classificação

Pau dos Ferros 34 29,48 11,23 29,97 25,57 33,40 Regular

Caicó 69 28,11 12,42 26,19 25,12 31,09 Regular

Natal 99 24,14 12,63 21,43 21,62 26,66 Crítico

Total 202 26,39 12,48 25,64 24,66 28,13

Dos municípios analisados, os municípios de Pau dos Ferros e Caicó apresentam-se em

um mesmo grau de classificação. Estes são municípios que - embora apresentem

características geográficas, populacionais e uma dinâmica do mercado de trabalho diferente -

apresentam semelhança no desempenho das ações em atenção à saúde do trabalhado.

Diferente de Pau dos Ferros e Caicó, Natal classifica-se dentro do grau crítico de

desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador na atenção primária. Ele obteve o menor

escore médio entre os municípios analisados.

A Figura 2 apresenta a dispersão dos escores obtidos pelos municípios. Observa-se

que Pau dos Ferros tem a maior mediana e uma menor dispersão de escore, o que indica que

os profissionais e unidades/equipes de saúde da família desempenham as ações em saúde do

trabalhador de forma semelhante. A mediana do município de Caicó indica que os seus

profissionais e unidade/equipe de Saúde da Família desempenham com maior frequência as

ações em saúde do trabalhador em relação a Natal. Já a dispersão dos escores indica que as

ações em saúde do trabalhador não são desempenhadas de forma semelhante por todos os

profissionais e unidades/equipes de Saúde da Família. Natal apresenta a menor mediana, o

que indica uma baixa realização das ações, e uma grande dispersão de escores, que indica uma

não uniformidade na realização das ações.

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Figura 2. Distribuição dos escores médios obtidos pelos municípios. Rio Grande do Norte, 2012.

6.4 Análise das ações por Profissional

O Caderno de Atenção Básica nº 5 traz recomendações sobre ações específicas para

cada um dos profissionais da Equipe de Saúde da Família. A partir delas, a lista de verificação

possibilita identificar se as ações em saúde do trabalhador são realizadas pelos profissionais

da Saúde da Família.

As Tabelas 6 a 9 mostram a distribuição das ações de Atenção à Saúde do Trabalhador

de acordo com cada profissional entrevistado e o município pesquisado. Em seguida, são

tecidas considerações sobre esses achados.

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Tabela 6. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo agente comunitário de saúde de acordo com o município estudado.

Município

Total Pau dos Ferros Caicó Natal

n % n % n % n %

Notifica a equipe a existência de trabalho em situação de risco, trabalho precoce e trabalhadores acidentados ou doentes

11 73,3 16 53,3 25 61,0 52 60,5

Orienta a família e o trabalhador onde procurar assistência

14 93,3 23 76,7 35 85,4 72 83,7

Planeja e participa de atividades educativas em Saúde do Trabalhador

7 46,7 13 43,3 18 43,9 38 44,2

Participa de programa de capacitação em Saúde do Trabalhador

Sempre 4 26,7 6 20,0 8 19,5 18 20,9

Frequentemente 1 6,7 5 16,7 3 7,3 9 10,5

Raramente 3 20,0 12 40,0 8 19,5 23 26,7

Nunca 7 46,7 7 23,3 22 53,7 36 41,9

Tabela 7. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo técnico em enfermagem de acordo com o município estudado.

Município

Total Pau dos Ferros Caicó Natal

n % n % n % n %

Acompanha por meio de visita domiciliar, os trabalhadores que sofreram acidentes ou portador de doença do trabalho

7 100,0 13 86,7 20 80,0 40 85,1

Planeja e Participa das Atividades Educativas em Saúde do Trabalhador

3 42,9 9 60,0 8 32,0 20 42,6

Participa de programas de capacitação em Saúde do Trabalhador

Sempre 2 28,6 3 20,0 4 16,0 9 19,1

Frequentemente 1 14,3 3 20,0 1 4,0 5 10,6

Raramente 2 28,6 7 46,7 7 28,0 16 34,0

Nunca 2 28,6 2 13,3 13 52,0 17 36,2

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Tabela 8. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo enfermeiro de acordo com o município estudado.

Município

Total Pau dos Ferros Caicó Natal

n % n % n % n %

Programa e realiza ações de assistência básica e de vigilância à saúde do trabalhador

0 ,0 9 56,3 5 20,8 14 29,2

Notifica os casos de acidentes de trabalho

Sempre 0 ,0 5 31,3 3 13,0 8 17,0

Frequentemente 0 ,0 1 6,3 1 4,3 2 4,3

Raramente 5 62,5 6 37,5 6 26,1 17 36,2

Realizada por outro membro da equipe 0 ,0 0 ,0 2 8,7 2 4,3

Realizado por outro estab. de saúde 3 37,5 4 25,0 11 47,8 18 38,3

Notifica os casos de acidentes de trabalho

Sempre 0 ,0 5 31,3 3 13,0 8 17,0

Frequentemente 0 ,0 1 6,3 2 8,7 3 6,4

Raramente 4 50,0 6 37,5 5 21,7 15 31,9

Realizado por outro membro da equipe 1 12,5 0 ,0 2 8,7 3 6,4

Realizado por outro estab. de saúde 3 37,5 4 25,0 11 47,8 18 38,3

Planeja e participa de atividades educativas no campo da saúde do trabalhador

2 25,0 11 68,8 8 33,3 21 43,8

Realiza inquérito epidemiológico em ambiente de trabalho

1 12,5 6 37,5 4 16,7 11 22,9

Realiza vigilância nos ambientes de trabalho 1 12,5 6 37,5 4 16,7 11 22,9

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Tabela 9. Ações de Atenção à Saúde do Trabalhador na Atenção Básica realizadas pelo médico de acordo com o município estudado.

Município

Total Pau dos Ferros Caicó Natal

n % n % n % n %

Realiza assistência médica ao trabalho, buscando a relação entre o agravo e o trabalho

2 50,0 7 87,5 7 70,0 16 72,7

Programa e realiza ações de assistência básica e de vigilância à saúde do trabalhador

0 ,0 3 37,5 2 22,2 5 23,8

Realiza inquérito epidemiológico em ambiente de trabalho

0 ,0 1 12,5 3 33,3 4 19,0

Realiza vigilância nos ambientes de trabalho 0 ,0 2 25,0 1 11,1 3 14,3

Notifica os acidentes de trabalho

Frequentemente 1 25,0 2 25,0 0 ,0 3 14,3

Raramente 0 ,0 3 37,5 4 44,4 7 33,3

Realizado por outro membro da equipe 0 ,0 2 25,0 0 ,0 2 9,5

Realizado por outro estab. de saúde 3 75,0 1 12,5 5 55,6 9 42,9

Notifica as doenças do trabalho

Sempre 1 25,0 2 25,0 1 11,1 4 19,0

Frequentemente 0 ,0 1 12,5 0 ,0 1 4,8

Raramente 0 ,0 1 12,5 2 22,2 3 14,3

Realizado por outro membro da equipe 1 25,0 3 37,5 0 ,0 4 19,0

Realizado por outro estab. de saúde 2 50,0 1 12,5 6 66,7 9 42,9

Planeja e participa das ações educativas em saúde do trabalhador

Sempre 0 ,0 1 12,5 1 11,1 2 9,5

Frequentemente 0 ,0 3 37,5 0 ,0 3 14,3

Raramente 2 50,0 2 25,0 4 44,4 8 38,1

Nunca 2 50,0 2 25,0 4 44,4 8 38,1

Participa do programa de capacitação em saúde do trabalhador

Sempre 1 25,0 0 ,0 0 ,0 1 4,8

Frequentemente 1 25,0 3 37,5 0 ,0 4 19,0

Raramente 2 50,0 1 12,5 0 ,0 3 14,3

Nunca 0 ,0 4 50,0 9 100,0 13 61,9

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6.4.1 Agente Comunitário de Saúde

Os agentes comunitários de saúde são peças fundamentais na comunicação entre a

comunidade e os demais profissionais da equipe. Partindo da importante função desses

profissionais, o CAB nº 5 recomenda-lhes notificar à equipe a existência de trabalhadores em

situação de risco, trabalho precoce, acidentados ou doentes pelo trabalho. Dos profissionais

entrevistados, 60,5% afirmaram desenvolver a ação. Os agentes comunitários de saúde do

município de Pau dos Ferros foram os que mais afirmaram realizar a ação apresentada.

Além de manter a comunicação entre a comunidade e os demais membros da equipe, o

agente comunitário de saúde - ACS ainda tem um papel importante de orientação e educação

em saúde. Aliado a isso, o Caderno preconiza ao ACS que oriente a familiares e ao

trabalhador sobre onde procurar assistência. Essa ação foi que teve maior percentual de

realização segundo os profissionais entrevistados, sendo apontada por 83,7% deles. O

município de Pau dos Ferros novamente apresenta o maior percentual de desempenho nesta

função, com 93,3%, seguido por Natal, com 85,4%, e Caicó, com 76,7%.

Quanto ao papel desses profissionais na educação em saúde da população de sua área de

cobertura, o Caderno orienta que eles devem planejar e participar das atividades educativas

em Saúde do trabalhador. Observa-se que o percentual de participação é de 44,2%, indicando

uma baixa participação dos agentes e até mesmo indicando a desatenção da equipe quanto às

ações de educação em saúde. Entre os municípios estudados, todos os percentuais giravam em

torno de 43 a 46% de participação do planejamento das ações.

Para que um profissional possa desempenhar uma função, é importante sua capacitação,

sem a qual pode haver interferência negativa na realização da função e na qualidade do

desempenho. A participação dos agentes em programas de capacitação em saúde do

trabalhador pode ser considerada baixa, pois apenas 31,4 % dos entrevistados afirmam

participar “sempre” (20,9%) e “frequentemente” (10,5%). Em contraposição ao já

apresentado, quanto à participação em capacitações em saúde do trabalhador, 68,6%

afirmaram participarem “raramente” (26,7%) e “nunca” (41,9) terem participado. Entre os

municípios analisados, Natal apresenta o menor índice de participação dos ACS em

capacitações, com 53,7 dos Profissionais apontando “nunca” terem participado e Pau dos

Ferros apresentar 46,7%. Os agentes comunitários de saúde do município de Caicó apontam

que 40,0% participam “raramente” de capacitação.

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A realização das funções como a notificação à equipe da existência de trabalhadores

com necessidades de atendimento e a orientação a familiares e ao trabalhador sobre onde

buscar atendimento não podem caracterizar que os agentes comunitários de saúde

desempenhem ações de atenção à saúde do trabalhador, pois elas já são ações da função que

eles desempenham. Quanto à realização de ações como o planejamento e a participação em

atividades educativas diretamente relacionadas à saúde do trabalhador e participação em

programas de capacitação, ela aponta para uma não incorporação do programa de atenção à

saúde dos trabalhadores por parte desse grupo de profissionais em todas as cidades analisadas.

6.4.2 Auxiliares/Técnicos em Enfermagem

Os auxiliares ou técnicos em enfermagem são integrantes da equipe de Saúde da

Família que têm suas ações mais centradas na Unidade de Saúde da Família, mas sem perder

o foco das ações de promoção e prevenção da saúde. Sua principal atuação na equipe é dar

suporte auxiliar aos serviços de enfermagem e médico. Na atenção à saúde do trabalhador, as

ações do auxiliar/técnico em enfermagem, além de auxiliar ao enfermeiro e ao médico, têm

ainda o acompanhamento aos trabalhadores que sofrem acidentados ou doentes pelo trabalho,

por meio de visitas domiciliares e o envolvimento no planejamento e na participação das

atividades educativas em saúde do trabalhador.

No acompanhamento por meio de visita domiciliar aos que sofreram acidentes ou que

são portadores de doença do trabalho, 85,1% dos entrevistados afirmou realizar a ação. Pau

dos Ferros apresenta o maior índice de realização da ação, conforme se vê na Tabela 7.

Quanto à participação em planejamento e nas ações educativas em saúde do trabalhador, o

percentual de atuação cai para 42,6% dos auxiliares ou técnicos de enfermagem.

As ações educativas têm sido pouco desempenhadas pelos profissionais

auxiliares/técnicos de enfermagem. Baixa realização das atividades educativas em saúde do

trabalhador, assim como nos casos dos agentes comunitários de saúde, direciona a uma não

incorporação da saúde do trabalhador por parte desses profissionais e até mesmo a uma

descaracterização da Atenção Básica. Um fator que direciona ao entendimento da não

participação desses profissionais nas ações em saúde do trabalhador é a não participação deles

em programas de capacitação em saúde do trabalhador. 19,1 % dos entrevistados afirmam

participar “sempre” de capacitações e 10,6%, “frequentemente”. Dos municípios analisados,

Natal aparece com o maior percentual de auxiliar/técnico de enfermagem que afirmam

“nunca” terem participado de capacitações, com 52,0%. Os profissionais dos municípios de

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Caicó e Pau dos ferros apresentaram maior percentual entre os que afirmam participarem

“raramente” das capacitações, com 46,7% e 28,6%, respectivamente.

6.4.3 Enfermeiro

A atuação do enfermeiro na equipe de Saúde da Família vai desde o atendimento de

enfermagem até o gerenciamento da unidade. Ele é uma peça fundamental no desempenho da

equipe de Saúde da Família. Com relação às ações de vigilância orientadas pelo CAB nº5,

observa-se que, para apenas 29,2% dos profissionais entrevistados, elas são realizadas, como

mostra a tabela 8. Os municípios de Pau dos Ferros e Natal apresentam os menores

percentuais de realização dessa ação, 0,0% e 20,8%, respectivamente. Já o município de

Caicó apresenta 56,2% de realização da ação.

As ações de vigilância nos ambientes de trabalho junto com a equipe da unidade ou com

equipes de órgãos responsáveis pela saúde do trabalhador não é realizada por 77,1% dos

Enfermeiros entrevistados (Tabela 8).

Ações como a notificação de acidentes de trabalho e de doenças do trabalho também

foram apontados pelos enfermeiros como ações que não são realizadas. A notificação de

acidentes e doenças do trabalho foi apontada por 38,3 % dos enfermeiros, segundos estes

profissionais as notificações dos acidentes de trabalho são realizadas por outros

estabelecimentos de saúde. Outros 36,2% apontam que “raramente” eles notificam os

acidentes de trabalho e 31,9%, as doenças do trabalho. Entre os municípios analisados para o

registro de acidentes e doenças do trabalho, Natal apresenta o maior percentual de não

realização dessas ações, apontando que elas são desenvolvidas por outros estabelecimentos de

saúde, com 47,8% de indicação para ambas as ações. No município de Pau dos ferros, os

profissionais apontam que raramente a notificação de acidentes de trabalhado é realizada, com

um percentual de 62,5%, e quanto ao registro das doenças do trabalho, o município apresenta

50,0% de indicação. Das ações que o CAB nº 5 orienta para a realização dos enfermeiro,

apenas o planejamento e participação em atividades educativas no campo de saúde do

trabalhador são apontadas como realizadas por 43,8 % dos profissionais entrevistados. Nessa

ação, somente o município de Caicó apresentou um maior percentual de realização, com

68,8%.

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6.4.4 Médico

O médico, dentre todos os profissionais entrevistados, é o que menos realiza ações

voltadas à saúde do trabalhador. A realização de assistência médica ao trabalhador, buscando

a relação entre o agravo e o trabalho, é a única ação estudada em que os profissionais

entrevistados apontam a realização. Os municípios de Caicó e Natal têm maior percentual de

realização, com 87,5% e 70,0%, respectivamente. Ações como programar e realizar ações de

assistência básica e de vigilância à saúde do trabalhador, a realização de inquéritos

epidemiológicos em ambientes de trabalho e a realização de vigilância nos ambientes de

trabalho junto com a equipe da unidade ou com esquipe de órgãos responsáveis pela saúde do

trabalhador são as ações menos realizadas, estando o município de Pau dos Ferros com 0,0%

de realização dessas ações.

Quanto às notificações dos casos de doenças do trabalho, para 42,9% dos médicos, essa

ação é realizada por outro estabelecimento de saúde. Nessa ação, Natal apresenta um maior

percentual de não realização. 66,7% dos entrevistados afirmam que a ação é realizada por

outro estabelecimento. Sobre casos de acidentes de trabalho, para 42,9 % dos médicos, essa

ação também é realizada por outro estabelecimento de saúde. Essa mesma resposta é apontada

por 75,0% dos profissionais de Pau dos Ferros. Outra ação que tem baixa adesão dos

profissionais médicos é a participação em atividades educativas, com 76,2% dos profissionais

afirmando que participam “raramente” (38,1%) e “nunca” (38,1%). Quanto à participação em

programas de capacitação, o município de Natal teve 100% dos profissionais entrevistados

afirmando nunca ter participado.

Das ações preconizadas pelo CAB nº 5, os profissionais médicos apresentam um

percentual de participação apenas nas ações de assistência médica ao trabalhador, com 75%.

Assim como nos casos dos demais profissionais, percebe-se em que as ações de saúde

do trabalhador ainda não fazem parte das ações dos profissionais médicos das equipes de

Saúde da Família.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 48

7. Considerações Finais

As ações de atenção à Saúde do Trabalhador são ações voltadas a todos aqueles que

desempenhem uma atividade remunerada, seja ela formal ou informal, para o seu sustento ou

de ou seus dependentes, como define a Política Nacional de Saúde e Segurança do

Trabalhador. Contudo, para que essa atenção à saúde do trabalhador seja realizada, é preciso a

participação de todos os níveis de atenção à saúde, desde a atenção de alta complexidade à

saúde até a atenção básica à saúde. Quando se trata de atenção básica ou primária à saúde,

pode-se visualizar a Estratégia de Saúde da Família como uma porta de entrada ao Sistema

Único de Saúde. Assim a Estratégia de Saúde da Família pode também ser uma porta de

entrada para a Saúde do Trabalhador.

No Ano de 2002, o Ministério da Saúde Lançou o Caderno de Atenção Básica –

Estratégia de Saúde da Família – nº5 – Saúde do Trabalhador, que apoiaria a capacitação dos

profissionais da Estratégia de Saúde da Família e a implantação da Saúde do Trabalhador.

Dez anos após o Caderno de Atenção Básica nº 5, percebe-se que as Equipes de Estratégia de

Saúde da Família ainda não incorporaram as ações em saúde do trabalhador.

A partir do presente estudo, percebe-se que os profissionais das ESF não conhecem de

forma integral a Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador, tampouco o Caderno

de Atenção Básica nº 5. O desconhecimento desse instrumento reflete diretamente no

desenvolvimento das ações pela equipe. As ações, principalmente de educação em saúde do

trabalhador e as ações de vigilância, foram as menos realizadas por todos os grupos

profissionais. Outro fator que dificulta a realização das ações por parte dos profissionais é a

não participação deles em programas de capacitação em saúde do trabalhador.

Percebe-se ainda que os municípios analisados apresentam uma desarticulação na

realização das ações em saúde do trabalhador na atenção primária, diretamente na Estratégia

de Saúde da Família. A instabilidade dos profissionais no serviço, a ausência de profissionais

nas equipes e a não incorporação da Saúde do Trabalhador pela Equipe de Saúde da Família

têm impossibilitado um desenvolvimento real da Saúde do trabalhador na Atenção Básica.

Diante do exposto, é possível considerar que as ações em Saúde do Trabalhador não

estão sendo desenvolvidas de forma adequada na Atenção Primária, via Estratégia de Saúde

da Família, dos municípios analisados, uma vez que dois dos municípios tiveram suas ações

classificadas como regular e um, como de grau crítico.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 49

8. Referências

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enfermagem no período de 1995 a 2004. Arquivo de ciências da saúde. São José do Rio

Preto, v. 12, n. 1, p 14-20. 2005.

2. ANTUNES, Ricardo Luis Coltro. A Classe que vive do Trabalho – In: __________. Os

Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2 ed., 10

reimpr. rev. e amp. São Paulo, SP: Boitempo, 2009. Cap. 6, p. 101- 115.

3. BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado. Superintendência de Vigilância e Proteção da

Saúde. Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador. Manual de Normas e

Procedimentos Técnicos para a Vigilância da Saúde do Trabalhador/ SESAB

/SUVISA/ CESAT. Salvador: CESAT/CESAT, 2002, 351p.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Rede Nacional de Atenção Integral a Saúde do

Trabalhador – Manual de Gestão e Gerenciamento. Brasília: Ministério da Saúde;

2006a. 82 p.

5. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a

promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm. Acesso em: 19 de jul. de 2012d.

6. BRASIL. Ministério do Trabalho / Ministério da Previdência Social / Ministério da Saúde.

Comissão Interministerial de Saúde do Trabalhador. Política Nacional de Segurança e

Saúde do Trabalhador. Brasília, 2004. Disponível em: http://portal.saude.gov.br. Acesso

em: 17 de jan. de 2011.

7. BRASIL. Ministério da Previdência Social. Informações Estatísticas Relativas à

Segurança e Saúde Ocupacional. Disponível em: http://www.mpas.gov.br. Acesso em

18 de jul. de 2012c.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área

Técnica de Saúde do Trabalhador. Caderno de saúde do trabalhador: legislação.

Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 142p.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 50

9. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/MG nº 2.437, de 07 de Dezembro de 2005.

Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral à

Saúde do Trabalhador - RENAST no Sistema Único de Saúde - SUS e dá outras

providências. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo,

Brasília, DF, 09 de dez. 2005a. Seção 1, p. 78.

10. BRASIL. Mistério da Saúde. 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador: trabalho,

sim! Adoecer, não. Brasília: Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego,

Ministério da Previdência e Assistência Social, 2005b, 203 p.

11. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM Nº 3.120, de 01 de julho de 1998.

Aprova a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS. Diário

Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 de jul.

1998. Seção 1, p. 60.

12. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM Nº 3.908, de 30 de Outubro de 1998.

Aprova a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador no. Diário Oficial [da] Republica

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 de nov. 1998. Seção 1, p. 17. Disponível em:

http://www.in.gov.br. Acesso em 16 de Jul. de 2012b.

13. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção a Saúde. Política Nacional de

Atenção a Saúde. Departamento de Ação Programática e estratégica. Área Técnica de

Saúde do Trabalhador. Caderno de Atenção Básica. Programa Saúde da Família;

Caderno 5 - Saúde do Trabalhador. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. 63 p.

14. BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social

AEPS-2010. Ministério da Previdência Social/Instituto Nacional do Seguro

Social/Empresa de Tecnologia e Informação da Previdência Social. v. 19, 868 p. Brasília,

2010a.

15. BRASIL. Casa Civil. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de Maio de 1943. Trata da Consolidação

das Leis de Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/. Acesso em: 26 de Jun.

2012a.

16. BRASIL. Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolvimento de ações de Saúde

do Trabalhador na Atenção Primária à Saúde: aspectos históricos, conceituais,

normativos e diretrizes. Área de Saúde e Trabalho. Departamento de Medicina

Preventiva e Social. Medicina do Trabalho. [Relatório Técnico Científico]. Belo

Horizonte: UFMG, 2010b. 63 p.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 51

17. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção

Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de

Atenção à Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,

2006b. 60 p.

18. BRASIL. Senado Federal. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: Senado

Federal, 2006c. 301 p.

19. BROUSSELLE, Astride. et al. Avaliação: conceitos e métodos. Rio de Janeiro: Fio Cruz,

2011. p 292.

20. CORDEIRO, Ricardo. et al. Subnotificação de acidentes do trabalho não fatais em

Botucatu, SP, 2002. Rev. de Saúde Pública. Campinas, v. 39, n. 2, p. 254 – 60, 2005.

21. FALEIROS, Vicente de Paula. As Politicas de Segurança no Trabalho e de Saúde do

Trabalhador do Estado Liberal - In: _______________. O Trabalho da Política: saúde e

segurança dos trabalhadores. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010a. Cap. 1, p 41-86.

22. ___________. O Conteúdo da política de Saúde e de Segurança no Trabalho -

In:_________. O Trabalho da Política: saúde e segurança dos trabalhadores. 2. ed.

São Paulo: Cortez, 2010b.p 21-25.

23. ___________. As Políticas de Saúde e de Segurança no trabalho do Estado Militar-

Tecnocrático - In:________. O Trabalho da Política: saúde e segurança dos

trabalhadores. 2. ed. São Paulo, Cortez. 2010c. Cap. 4, p. 195-282.

24. FACCHINI, Luiz Augusto. Vigilância em Saúde do Trabalhador: uma aproximação da

Pratica. Boletim da Saúde. Porto Alegre. V. 1, n. 20, jan./jun. 2006.

25. FRIAS JUNIOR, CAS. A saúde do trabalhador no Maranhão: uma visão atual e

proposta de atuação. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio

Arouca, 1999. 135 p. Dissertação (Mestrado) - Programa de pós Graduação em Saúde

Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – Fundação Instituto Oswaldo

Cruz, Rio de janeiro, 1999.

26. GONCALVES, L. B.; CORAZZA DA CRUZ, V. M. Segurança e Medicina do

Trabalho. São Paulo: Ed. Cenofisco, 2010, 729 p.

27. HARTZ, Z. M. A, SILVA, L. M. V. Avaliação em saúde: dos modelos teóricos à

pratica na avaliação de programas e sistemas de saúde. Salvador: EDUFBA; Rio de

Janeiro: FIOCRUZ, 2005. p. 275.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 52

28. HELOANI JR, CLÁUDIO GC. Saúde Mental e Psicologia do Trabalho. São Paulo em

Perspectiva. São Paulo, 2003; v. 17, n. 2, p. 102-108.

29. LOURENÇO, Edvânia Ângela de Sousa. Na trilha da saúde do trabalhador: a

experiência de Franca/SP. Franca: Faculdade de História, Direito e Serviço Social, 2009.

427 p. Tese (Doutorado). Programa de Pós Graduação em Serviço Social - Universidade

Estadual Paulista/UNESP, Franca/SP, 2009.

30. MOUTINHO, Lídia Clémente Figueira. Novas formas de organização do trabalho, efeito

sobre a saúde dos trabalhadores, estigmatização e discriminação. Rev. TRT - 9ª R. Curitiba,

2010; a. 35, n.64, p. 1 – 35.

31. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Experiências e desafios da atenção

básica e saúde familiar: caso Brasil. Série Técnica Projeto de Desenvolvimento de

Sistemas e Serviços de Saúde, 8. Afra Suassuna Fernandes/Juan A. Seclen-Palacin (orgs.).

Brasília: Organização pan-americana de saúde, 2004. 179 p.

32. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. O Perfil do trabalho infantil

no Brasil, por regiões e ramos de atividades. Ana Lúcia Kassouf (coordenadora).

Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2004. 92 p.

33. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. III Reunião Ordinária do

FNPETI. Principais resultados da PNAD 2009: tendências e desafios. José Ribeiro.

Brasília, 2010. Disponível em http://www.fnpeti.org.br. Acesso em 15 de Set. de 2012.

34. RIO GRANDE DO NORTE. Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador.

Estatística dos Agravos Relacionados ao Trabalho: consolidado. Secretária de Estado da

Saúde Pública. Natal, 2011. Disponível em http://www.cerest.rn.gov.br. Acesso em 16 de

Jul. de 2011.

35. RAMMINGER, T.; NARDI, H.C. Saúde Mental e Saúde do Trabalhador: Analise das

Conferencias Nacionais Brasileiras. Psicologia Ciência e Profissão. Brasília, v. 27, n. 4,

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36. RODRIGUES, Priscila Françoise Vitaca; BELLINI, Maria Isabel Barros. Texto e

Contexto. Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 345-357, 2010.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 53

37. VIEIRA, M.C.F. O Trabalho Domiciliar e sua relação com a saúde do trabalhador:

uma revisão da literatura brasileira no período de 2000 a 2009. Rio de Janeiro:

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, 2009. 60 p. Dissertação (Mestrado) -

Programa de Pós Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente. Escola Nacional de

Saúde Pública Sergio Arouca– Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Rio de janeiro, 2009

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 54

Apêndice A – Ficha de Verificação

Avaliação do Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador: uma Abordagem da Atenção Primária

IDENTIFICAÇÃO

As questões 1 a 19 têm respostas comuns a todos os profissionais entrevistados.

1) Idade: ____ 2) Sexo: 1-Masculino; 2-Feminino

3) Unidade de Saúde: _________________

4) Função:

1-Agente Comunitário de Saúde; 2-Auxiliar/Técnico de Enfermagem; 3-Enfermeiro; 4-Médico

5) Cidade: _________________ 6) Tempo em que Trabalha na Unidade (anos): _____

7) Escolaridade (anos de estudo): ____

DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR

As questões 8 e 9 são referentes ao programa de saúde do trabalhador.

8) Conhece ou já ouviu falar no Programa de Atenção a Saúde do Trabalhador?

1-Sim; 2-Não

9) Conhece o Caderno de Atenção Básica – Programa Saúde da Família (Caderno 5 - Saúde do Trabalhador)?

1-Sim; 2-Não

CONTEXTO GERAL DA UNIDADE

As questões de 10 a 19 são referentes às atividades desenvolvidas na unidade por toda a equipe.

10) A unidade Identifica a PEA (População Economicamente Ativa - compreendem a todas as pessoas com mais de 10 anos que compõe a força de trabalho do País) de sua área de cobertura?

1-Sim; 2-Não

11) A unidade identifica as atividades produtivas (Ex. comércio, serviço público, agricultura, etc.) da área de cobertura?

1-Sim; 2-Não

12) A unidade identifica os perigos e os riscos causados pelas atividades produtivas existentes na sua área de cobertura?

1-Sim; 2-Não

13) A unidade identifica existência de trabalho precoce (criança menores de 16 anos, que realizam qualquer atividade remunerada ou não) da área de cobertura?

1-Sim; 2-Não

14) A unidade registra a ocorrência de acidentes de Trabalho em sua área de cobertura?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca; 5-Realizado por outro estabelecimento de

Saúde

15) A unidade registra a ocorrência doenças relacionadas ao trabalho em sua área de cobertura?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca; 5-Realizado por outro estabelecimento de

Saúde

16) A unidade Planeja e executa ações de vigilância em Saúde do Trabalhador?

1-Sim; 2-Não

17) A unidade desenvolve programas de Educação em Saúde do Trabalhador com a comunidade?

1-Sim; 2-Não

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 55

Apêndice A – Ficha de Verificação

18) A unidade desenvolve projetos de promoção à Saúde do Trabalhador com a comunidade?

1-Sim; 2-Não

19) Busca a parceria com instituições e o envolvimento da comunidade na luta contra o trabalho infantil?

1-Sim; 2-Não

AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

As questões 20 a 23 só serão respondidas pelos Agentes Comunitários de saúde.

20) Notifica a equipe a existência de trabalhadores em situação de risco, trabalho precoce e trabalhadores acidentados ou doentes pelo trabalho?

1-Sim; 2-Não

21) Orienta a família e ao trabalhador onde procurar assistência?

1-Sim; 2-Não

22) Planeja e participa das atividades educativas em saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

23) Participa de programas de capacitação em saúde do trabalhador?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca

AUXILIAR OU TÉCNICO EM ENFERMAGEM

As questões 24 a 26 só serão respondidas pelo Auxiliares/Técnicos em Enfermagem.

24) Acompanha, por meio de visitas domiciliar, os trabalhadores que sofreram acidentes ou portadores de doenças do trabalho?

1-Sim; 2-Não

25) Planeja e participa das atividades educativas em saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

26) Participa de programas de capacitação em saúde do trabalhador?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca

ENFERMEIRO

As questões 27 a 32 só serão respondidas pelo Enfermeiro.

27) Programa e realiza ações de assistência básica e de vigilância á saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

28) Notifica os casos de acidentes de trabalho ocorridos na área de cobertura da unidade?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Realizado por outro membro da equipe;

5-Realizado por outro estabelecimento de saúde

29) Notifica os casos de doenças do trabalho ocorridos na área de cobertura da unidade?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Realizado por outro membro da equipe;

5-Realizado por outro estabelecimento de saúde

30) Planeja e participa de atividades educativas no campo da saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

31) Realiza inquéritos epidemiológicos em ambientes de trabalho?

1-Sim; 2-Não

32) Realiza vigilância nos ambientes de trabalho junto com a equipe da unidade ou com equipes de órgão responsáveis pela saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 56

Apêndice A – Ficha de Verificação

MÉDICO

As questões 33 a 40 só serão respondidas pelo Médico.

33) Realiza assistência médica ao trabalhador, buscando a relação entre o agravo e o trabalho?

1-Sim; 2-Não

34) Programa e realiza ações de assistência básica e de vigilância à saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

35) Realiza inquéritos epidemiológicos em ambientes de trabalho?

1-Sim; 2-Não

36) Realiza vigilância nos ambientes de trabalho junto com a equipe da unidade ou com equipes de órgão responsáveis pela saúde do trabalhador?

1-Sim; 2-Não

37) Notifica os casos de acidentes de trabalho ocorridos na área de cobertura da unidade?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Realizado por outro membro da equipe;

5-Realizado por outro estabelecimento de saúde

38) Notifica os casos de doenças do trabalho ocorridas na área de cobertura da unidade?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Realizado por outro membro da equipe;

5-Realizado por outro estabelecimento de saúde

39) Planeja e participa das ações educativas em saúde do trabalhador?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca

40) Participa de programas de capacitação em saúde do trabalhador?

1-Sempre; 2-Frequentemente; 3-Raramente; 4-Nunca

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 57

Anexo A - Termo de Consentimento e Livre Esclarecido - TCLE

TCLE - Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento

Você está sendo convidado a participar, como voluntário da pesquisa: AVALIAÇÃO DO

PROGRAMA DE ATENÇÃO A SAÚDE DO TRABALHADOR: Uma Abordagem da Atenção

Primária. Sua participação não é obrigatória, e, a qualquer momento, você poderá desistir de participar

e retirara seu consentimento. Sua desistência não trará nem um prejuízo ou penalidade.

Esta pesquisa tem como objetivo Geral: Avaliar o desenvolvimento das ações em Saúde do

trabalhador na Estratégia de Saúde da Família. Como objetivos específicos: Avaliar as ações em

saúde do trabalhador com foco na linha de ação relativa ao trabalho precoce, aos acidentes de trabalho

e as doenças relacionadas ao trabalho. Sendo assim a presente pesquisa se faz importante, pois

proporcionará o conhecimento de como as ações do Programa de Saúde do Trabalhador tem sido

desenvolvidas na atenção primária. Se concordar participar da pesquisa, você deverá responder a um

questionário, visando coletar dados sobre as ações em Saúde do Trabalhador desenvolvidas na

Estratégia de Saúde da Família.

O risco envolvido com sua participação será em sentir-se constrangido em responder ao questionário,

que será minimizado através do seu direito de se recusar a responder ao mesmo.

Não podemos relacionar benefícios diretos para o participante, mas terá como benefício indireto,

proporcionar um melhor conhecimento sobre o desenvolvimento do programa de Saúde do

Trabalhador junto a Estratégia de Saúde da Família.

Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento.

Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não

identificar os voluntários. Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa,

você será ressarcido, caso solicite. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano

comprovadamente decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização.

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa,

poderá perguntar diretamente para Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira, no endereço Av. Sen.

Salgado Filho, 1787 – Lagoa Nova – Natal/RN, ou pelo telefone (84) 3215-4133.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 58

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios

envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa AVALIAÇÃO DO PROGRAMA

DE ATENÇÃO A SAÚDE DO TRABALHADOR: Uma Abordagem da Atenção Primária.

Participante da Pesquisa:

____________________________________ ________________________________

Nome Assinatura

Pesquisador Responsável:

Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira

Av. Sen. Salgado Filho, 1787 – Lagoa Nova – Natal/RN

Fone: (84) 3215-4133

Comitê de Ética em Pesquisa:

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil

Praça do Campus Universitário, Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970

Fone/fax: (84) 3215-3135

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 59

Anexo B - PARECER DE APROVAÇÃO - CEP/ UFRN.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR – Antonio Welhington da Silva 60