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1 Avaliação do crescimento em Crassostrea gigas (molusca, bivalve) cultivadas na Baía da Babitonga, litoral norte do Estado de Santa Catarina Cláudio Rudolfo Tureck 1 Therezinha Maria Novais de Oliveira 2 Marta Jussara Cremer 3 Roman Breiter 4 Thomas Neesse 5 Beatriz Maria de Oliveira Torrens 6 Angelita Marcucci 7 Eduardo Becker do Amaral 8 Resumo: Este trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento de ostras Crassostrea gigas cultivadas em 4 pontos da Baía da Babitonga, situada no litoral norte do Estado de Santa Catarina. Para tanto, instalaram-se estruturas de cultivo em cada ponto no sistema longline, utilizando-se lanternas para a contenção das ostras. A avaliação teve duração de um ano, com realização de manejos, obtenção de parâmetros físico-químicos da água e medidas de crescimento realizados quinzenalmente. Os resultados mostraram que as ostras tiveram as melhores taxas de crescimento com temperaturas da água até 22°C; acima dessa temperatura houve a estabilização do crescimento, infestações por Polydora websteri e aumento de número de mortes. Com a diminuição da temperatura da água houve retorno a melhores taxas de crescimento. O cultivo da Crassostrea gigas, espécie do Oceano Pacífico, no estuário deve se dar preferencialmente nos meses mais frios do ano. É necessário planejar a colheita, evitando-se os meses de verão, quando as temperaturas da água aumentam. Palavras-chave: aquacultura; crescimento; ostra. INTRODUÇÃO A exploração dos recursos marinhos tem sido foco de atenção de muitos pesquisadores em várias partes do mundo, levados pela necessidade cada vez maior de geração de novas fontes de alimento. Dentro desse contexto a maricultura (cultivo de espécies marinhas) vem se desenvolvendo rapidamente com o cultivo de moluscos bivalves, principalmente ostras, mariscos e vieiras. A atividade também se tornou alternativa de geração de emprego e 1 Biólogo, MSc., Coordenador do Programa Institucional Babitonga – Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE). 2 Eng. Sanitarista, Profa. Dra. do departamento de Engenharia Ambiental da UNIVILLE. 3 Doutoranda em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná, Profa. MSc. do departamento de Biologia Marinha da UNIVILLE. 4 Dr. pela Universidade de Erlangen – Alemanha. 5 Prof. Dr. do Instituto de Engenharia Ambiental e Reciclagem da Universidade de Erlangen – Alemanha. 6 Bióloga, Pós-graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. 7 Graduanda em Biologia pela UNIVILLE. 8 Biólogo, graduado na UNIVILLE. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version

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Avaliação do crescimento em Crassostrea gigas (molusca, bivalve) cultivadas na Baíada Babitonga, litoral norte do Estado de Santa Catarina

Cláudio Rudolfo Tureck1

Therezinha Maria Novais de Oliveira2

Marta Jussara Cremer3

Roman Breiter4

Thomas Neesse5

Beatriz Maria de Oliveira Torrens6

Angelita Marcucci7Eduardo Becker do Amaral8

Resumo: Este trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento de ostras Crassostreagigas cultivadas em 4 pontos da Baía da Babitonga, situada no litoral norte do Estado deSanta Catarina. Para tanto, instalaram-se estruturas de cultivo em cada ponto no sistemalongline, utilizando-se lanternas para a contenção das ostras. A avaliação teve duração deum ano, com realização de manejos, obtenção de parâmetros físico-químicos da água emedidas de crescimento realizados quinzenalmente. Os resultados mostraram que as ostrastiveram as melhores taxas de crescimento com temperaturas da água até 22°C; acima dessatemperatura houve a estabilização do crescimento, infestações por Polydora websteri eaumento de número de mortes. Com a diminuição da temperatura da água houve retorno amelhores taxas de crescimento. O cultivo da Crassostrea gigas, espécie do OceanoPacífico, no estuário deve se dar preferencialmente nos meses mais frios do ano. Énecessário planejar a colheita, evitando-se os meses de verão, quando as temperaturas daágua aumentam.

Palavras-chave: aquacultura; crescimento; ostra.

INTRODUÇÃO

A exploração dos recursos marinhos tem sido foco de atenção de muitospesquisadores em várias partes do mundo, levados pela necessidade cada vez maior degeração de novas fontes de alimento.

Dentro desse contexto a maricultura (cultivo de espécies marinhas) vem sedesenvolvendo rapidamente com o cultivo de moluscos bivalves, principalmente ostras,mariscos e vieiras. A atividade também se tornou alternativa de geração de emprego e

1 Biólogo, MSc., Coordenador do Programa Institucional Babitonga – Universidade da Região de Joinville(UNIVILLE).2 Eng. Sanitarista, Profa. Dra. do departamento de Engenharia Ambiental da UNIVILLE.3 Doutoranda em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná, Profa. MSc. do departamento de BiologiaMarinha da UNIVILLE.4 Dr. pela Universidade de Erlangen – Alemanha.5 Prof. Dr. do Instituto de Engenharia Ambiental e Reciclagem da Universidade de Erlangen – Alemanha.6 Bióloga, Pós-graduanda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.7 Graduanda em Biologia pela UNIVILLE.8 Biólogo, graduado na UNIVILLE.

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renda para comunidades de pescadores artesanais, classe que vem sofrendo umempobrecimento gradativo com o desequilíbrio dos ambientes onde vive o pescado e com aconseqüente queda da produtividade pesqueira (VALENTI et al., 2000). A especulaçãoimobiliária crescente também tem retirado as comunidades tradicionais dos seus locais deorigem, levando a processos de desvalorização do conhecimento tradicional edescaracterização das áreas originais (VINATEA, 1999).

Além dos benefícios socioeconômicos, a maricultura traz vantagens à preservaçãoambiental de importantes áreas, pois o cultivo de organismos marinhos impõe anecessidade de manutenção da qualidade das águas (VINATEA, 1999). Os produtosgerados nessa atividade podem incrementar o turismo e contribuir para a fixação dospescadores nas suas regiões de origem, evitando o êxodo dessas comunidades. Contudo,com o aumento das escalas de produção, os cultivos também têm gerado impactosambientais, principalmente pelos processos de biodeposição.

O Estado de Santa Catarina destaca-se como o maior produtor nacional de moluscosbivalves, responsável por 93% da produção brasileira, e como o segundo da AméricaLatina. A produção catarinense é justificada pelas características excelentes do seu litoralpara o cultivo de moluscos, apresentando uma costa recortada, com grande número deenseadas, permeada de pequenas reentrâncias. Tais condições, unidas à boa qualidade eprodutividade das águas, conferem as potencialidades para a atividade de maricultura noEstado (COSTA et. al., 1998).

A Baía da Babitonga, situada no extremo norte do litoral de Santa Catarina, vemapresentando resultados significativos na produção de mexilhões. Atualmente existemquatro áreas de cultivo de moluscos instaladas na região da Babitonga, delimitadas peloPrograma de Execução Descentralizado – PED –, realizado pelo Ministério do MeioAmbiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal dentro do Programa Nacional doMeio Ambiente – PNMA. Essas áreas produziram 370.000 kg de mexilhões no ano de 2002(EPAGRI, 2002), comercializados na sua maioria localmente, na temporada de verão.Assim, a ostreicultura (cultivo de ostras) tornou-se mais uma alternativa de produção dealimento, geração de renda e desenvolvimento sustentado para a região.

O presente trabalho teve por objetivo avaliar o crescimento da ostra Crassostreagigas para fins de cultivo nas áreas produtoras de mexilhões da Baía da Babitonga.

MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização do universo em estudo – Baía da Babitonga

A área de estudo compreende grande parte do complexo estuarino da Baía daBabitonga, situada ao norte do litoral catarinense, entre as coordenadas geográficas de26°02'-26°28' S e 48°28'-48°50' W (figura 1).

A oeste, a Baía da Babitonga limita-se na porção setentrional pela unidadegeomorfológica da Serra do Mar (mapa geomorfológico – KNIE, 2002), e, a leste, a Ilha deSão Francisco subdivide o complexo em dois setores: a Baía da Babitonga e o Canal doLinguado (UNITERMOS, 1991). A Baía da Babitonga é composta por três baciashidrográficas, perfazendo uma área total de 160 km2 (CREMER, 2000).

Dados de batimetria mostram uma profundidade média de 6 m com oscilação demaré de 1,30 m em períodos de 6 h aproximadamente. O volume de 7,8 x 108 m3 conta com

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renovação diária de 20% (IBAMA, 1998). Os meses de maior precipitação são janeiro,fevereiro e março, com média de 1.700 mm/ano. A temperatura média do ar entre os anosde 1939 e 1983 foi de 20,5 ºC, com umidade relativa de 60%, aproximadamente. A direçãodos ventos dominantes é nordeste e sul, e os ventos fortes são de direção noroeste esudoeste.

Segundo Quayle e Newkirk (1989), locais dentro de estuários são preferíveis para ocultivo de moluscos. São áreas geralmente abrigadas da ação de grandes ondas e possuemcondições alimentares favoráveis ao bom desenvolvimento das espécies.

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Definição dos pontos de amostragem

Os quatro pontos de amostragem foram definidos utilizando-se áreas representativasda Baía da Babitonga onde já existem cultivos comercias de mexilhões (figura 1). Essespontos de cultivo foram delimitados anteriormente pelo PED (Projetos de ExecuçãoDescentralizada) dentro do Projeto Desenvolvimento Sustentado da Produção de Moluscos– Demarcação e mapeamento de áreas propícias à maricultura no município de SãoFrancisco do Sul, realização do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e daAmazônia Legal e Programa Nacional do Meio Ambiente (PMNA). Posteriormente foramtomadas as coordenadas geográficas com auxílio de um GPS (Geographic PositionSystem), a fim de se ter maior precisão na plotagem dos pontos no mapa e nas coletas.Ponto 1 – FERREIRA – Associação dos Maricultores da Babitonga – AMAB.Ponto 2 – PAULAS – Associação de Maricultura Comunitária do Bairro do Paulas –AMACOP.Ponto 3 – ROSA – Associação dos Maricultores do Capri – AMAPRI.Ponto 4 – CAPRI – Associação de Aqüicultores do Balneário do Capri – AABC.

Implantação dos cultivos

Os cultivos foram implantados segundo as recomendações de Pereira et al. (1998),sendo as ostras cultivadas pelo sistema do tipo longline ou espinhel. Foram montadosquatro longlines, medindo 10 m de comprimento, um para cada ponto selecionado. A cada2,5 m de distância foram amarrados ao cabo flutuantes com volume de 30 L, perfazendoum total de quatro bóias por longline. O sistema de cultivo foi preso ao fundo por meio deduas estacas de PVC e concreto com 2 m de comprimento, uma para cada extremidade.

Cada longline comportou de uma até três lanternas, que foram as estruturasutilizadas para a contenção das ostras. No estágio inicial colocaram-se 1.250 sementes deostras (jovens) em cada ponto de cultivo em lanterna do tipo “berçário”, com malha de 2mm. A montagem das estruturas foi padronizada para todos os pontos. As sementes deostras foram produzidas no Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal deSanta Catarina, e o experimento iniciou-se com sementes de 5 mm de tamanho, em média,da espécie Crassostrea gigas.

Manejo dos cultivos

Os cultivos foram manejados segundo as recomendações de PEREIRA et al. (1998).A cada intervalo de sete dias realizou-se o manejo da seguinte forma: as lanternas-berçárioeram retiradas do mar e levadas para a terra no local de manejo. Lavavam-se os berçárioscom jato de pressão para a retirada de organismos incrustantes agregados às conchas e àslanternas, a fim de evitar o entupimento das redes e possíveis prejuízos ao desenvolvimentodas ostras. Após a lavagem os berçários eram imersos durante uma hora na água doce emtanque de fibra para eliminação de competidores e parasitas por choque de salinidade.Depois de retiradas do tanque as lanternas eram penduradas e permaneciam por 24 horas

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expostas ao ar, completando o que se chama “castigo”. Logo após, as lanternas eramlevadas aos pontos de cultivo (PEREIRA et al., 1998).

Durante o desenvolvimento as ostras foram transferidas para lanternas do tipointermediárias (malha de 6 mm), que permitiam maior circulação de água. Repetiu-se todoo processo de manejo, lavagem com água doce, “castigo”, mas a freqüência passou desemanal para quinzenal. Posteriormente as ostras foram transferidas para as lanternas dotipo definitivas (malha 20 mm), onde permaneceram até os doze meses de cultivo.(PEREIRA et al., 1998).

Obtenção de dados de crescimento

Para avaliação do crescimento das ostras, a cada 15 dias obtiveram-se amostras de60 indivíduos de cada área de cultivo. Com o uso de paquímetro mediu-se o crescimentoem altura, comprimento e largura, segundo Galtsoff (1964).

Obtenção de dados quanto a parâmetros físico-químicos da água

A medição de parâmetros físico-químicos foi realizada a cada 15 dias, padronizadaa 50 cm da superfície e em maré de quadratura vazante. Mediram-se os seguintesparâmetros em cada área de cultivo: transparência da água, com auxílio do disco de Sechi;temperatura do ar e da superfície da água, com termômetro químico simples; salinidade dasuperfície, com refratômetro marca Quimis, MODELO QI107-3; pH de superfície, comfita; oxigênio dissolvido de superfície, com oxímetro de campo (QUAYLE e NEWKIRK,1989).

Processamento de dados

Foram realizadas análises estatísticas de variância (ANOVA) não paramétricas (Testede Kruskal-Wallis) entre os 4 pontos de cultivo das ostras (P1: Ferreira, P2: Paulas, P3:Rosa e P4: Capri) e meses de coletas (julho de 2000 a junho de 2001), para verificar seexistem diferenças significativas nos valores médios de altura, comprimento e largura dasconchas das ostras. As diferenças foram consideradas significativas para os resultados daanálise com valores de p inferiores a 5% (ZAR, 1998).

Para a análise de crescimento em altura, comprimento e largura realizaram-se análisesde regressão envolvendo os dados ambientais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos parâmetros ambientais

As médias dos valores de temperatura da água apresentaram-se de forma similarpara os quatro pontos avaliados (P1: Ferreira, P2: Paulas, P3: Rosa, P4: Capri). Os dados datemperatura da água nos quatro pontos amostrados variaram de 15ºC até 28ºC ao longo dos

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12 meses de cultivo das ostras. Esses valores encontram-se dentro dos limites aceitáveispara o desenvolvimento da Crassostrea gigas (14,5ºC e 28ºC), porém alcançando os limitesmáximos nos meses de verão (PEREIRA et al., 1998). As médias de temperaturascorrespondem aos valores médios para a região (IBAMA, 1998).

A salinidade da água para os quatro pontos avaliados apresentou um comportamentosimilar ao longo do período de avaliação (P1: Ferreira, P2: Paulas, P3: Rosa, P4: Capri). Osmaiores valores de salinidade encontrados foram de 35 próximo à desembocadura daságuas no Oceano Atlântico. No sentido da porção mais interna da baía observa-se umgradiente decrescente de salinidade em virtude da mistura com as águas provenientes dadrenagem dos rios da região, caracterizando um ambiente estuarino (PRITCHARD, 1967,apud ODUM, 2001). A diminuição dos valores de salinidade, de uma forma geral, ocorreunos meses de verão que apresentam maior índice pluviométrico, chegando a um valormínimo de 16 no mês de fevereiro.

Durante o período avaliado a água apresentou valores de concentração de oxigêniodissolvido de 5,0 mg/L até 8,8 mg/L. Observou-se que os maiores valores de oxigêniodissolvido ocorrem nos meses de inverno, com as temperaturas da água mais baixas. Asconcentrações de oxigênio dissolvido são mais altas a 0ºC e vão decrescendo com oaumento da temperatura da água (BOYD, 1989).

Os valores do pH variaram entre 6 e 8 ao longo do período de avaliação para osquatro pontos amostrados. Eles estão dentro dos limites aceitáveis para o desenvolvimentoda Crassostrea gigas. Notou-se uma pequena redução dos valores de pH, e a diminuição dasalinidade pode estar relacionada aos processos de mistura das águas de diferentes origens(KUROSHIMA e BELLOTTO, in IBAMA, 1998).

A transparência da água medida com o disco de Sechi apresentou valores entre 0,57m e 2,87 m ao longo do trabalho para os quatro pontos amostrados. Nos meses de verãocom temperaturas mais altas ocorreram os menores valores de transparência da água e vice-versa. Com a maior temperatura da água aumenta a energia cinética das moléculas, o queleva a uma quantidade mais elevada de sólidos em suspensão.

Análises do crescimento

As análises estatísticas apresentaram, como uma tendência geral no ponto P4(Capri), valores médios de crescimento das conchas em altura, comprimento e largurasignificativamente maiores que nos pontos P1 (Ferreira), P2 (Paulas) e P3 (Rosa) (figuras 2,3 e 4).

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Figura 2 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras em alturaentre os pontos de cultivo P1 (Ferreira), P2 (Paulas), P3 (Rosa) e P4 (Capri) (p <0,001; teste de Kruskal-Wallis)

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Figura 3 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras emcomprimento entre os pontos de cultivo P1 (Ferreira), P2 (Paulas), P3 (Rosa) e P4(Capri) (p < 0,001; teste de Kruskal-Wallis)

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Figura 4 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras em larguraentre os pontos de cultivo P1 (Ferreira), P2 (Paulas), P3 (Rosa) e P4 (Capri) (p <0,001; teste de Kruskal-Wallis)

Por outro lado, no ponto P1 (Ferreira) foram encontrados os menores valoresmédios de crescimento em altura, comprimento e largura das conchas das ostras. Entretantonos pontos P3 (Rosa) e P4 (Capri) os valores médios de largura foram os mesmos (figura4). Observa-se também que o P3 (Rosa) apresentou os maiores valores médios decrescimento em altura e comprimento quando comparado ao P2 (Paulas). Já o P2 (Paulas)apresentou maiores valores médios de crescimento em altura, comprimento e larguraquando comparado ao P1 (Ferreira) (figuras 2, 3 e 4).

As coletas de medidas para o P1 (Ferreira) foram realizadas somente até o mês demarço de 2001, por causa do desaparecimento das lanternas de cultivo. A ausência dessesdados pode ter levado a valores significativamente menores dos parâmetros de crescimento(altura, comprimento e largura) neste ponto.

O P1 (Ferreira) estava localizado em canal profundo (8 m), lugar caracterizado pelaforte correnteza, de acordo com Bernstorff (1989). Observou-se que a intensidade dacorrente causava movimentação intensa das lanternas, deixando-as na posição horizontal eprovocando o atrito entre as conchas das ostras. Pelas características das conchas pode-senotar um desgaste das linhas de crescimento das ostras do ponto 1.

As análises estatísticas (Anovas) realizadas entre os meses de coleta mostramdiferenças significativas nos valores médios de crescimento das conchas em altura,comprimento e largura (figuras 5, 6 e 7).

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De forma geral, na comparação entre os meses de coleta de medidas observa-se umpadrão esperado de crescimento (figuras 5, 6 e 7).

Figura 5 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras em altura entre osmeses de cultivo (julho de 2000 a junho de 2001) (p < 0,001; teste de Kruskal-Wallis)

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Figura 6 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras emcomprimento entre os meses de cultivo (julho de 2000 a junho de 2001) (p < 0,001;teste de Kruskal-Wallis)

Figura 7 – Valores médios para o crescimento das conchas das ostras em largura entre osmeses de cultivo (julho de 2000 a junho de 2001) (p < 0,001; teste de Kruskal-Wallis)

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As análises de regressão envolvendo os dados ambientais demonstraram que deforma geral houve correlações significativas de crescimento com os parâmetros temperaturada água e oxigênio dissolvido e inversamente com a salinidade, conforme coeficientesapresentados no quadro1.

Quadro 1 – Coeficientes obtidos da análise de regressão múltipla envolvendo as variáveisambientais, com o nível de explicação da dimensão observada em função das variáveis eestatística ANOVA referentes à análise (*Nível de significância: α = 5%)

Os resultados apresentados mostram que a variável ambiental temperatura da águacontribuiu significativamente para o crescimento das conchas das ostras em altura nospontos de cultivo P3 (Rosa) e P4 (Capri), em comprimento nos pontos P1 (Ferreira) e P3(Rosa) e em largura nos pontos P1 (Ferreira), P3 (Rosa) e P4 (Capri) (quadro 1).

Observa-se no quadro 1 que para a variável ambiental salinidade os coeficientes sãonegativos, contribuindo inversamente para o crescimento das conchas das ostras em alturanos pontos de cultivo P1 (Ferreira), P2 (Paulas) e P3 (Rosa), em comprimento nos pontosP1 (Ferreira), P2 (Paulas) e P3 (Rosa) e em largura em P1 (Ferreira) e P3 (Rosa).

A variável ambiental pH contribuiu significativamente para o crescimento dasconchas das ostras em comprimento e também em largura no ponto de cultivo P3 (Rosa).

O oxigênio dissolvido contribuiu significativamente para o crescimento das conchasdas ostras em altura no ponto de cultivo P3 (Rosa), em comprimento e também em larguranos pontos P1 (Ferreira) e P3 (Rosa).

Coeficientes R-Quadrado Anova

Interseção Tágua Salinidade pH Oxigênio Transparência Múltiplo F de significânciaALTURA P1 0,869

p=0,810,226

p=0,06-0,073

p=0,05*0,108

p=0,630,275

p=0,39-0,220p=0,63

0,909 0,0169

P2 10,259p=0,06

-0,022p=0,79

-0,149p=0,04*

0,049p=0,87

-0,192p=0,48

-0,043p=0,90

0,846 0,0199

P3 2,156p=0,60

0,327p=0,02*

-0,216p=0,01*

-0,868p=0,05

1,080p=0,02*

0,339p=0,21

0,911 0,0042

P4 -5,200p=0,41

0,604p=0,04*

-0,091p=0,11

-1,108p=0,22

1,606p=0,11

-2,018p=0,20

0,899 0,0058

COMPRIMENTO P1 -1,170p=0,65

0,150p=0,02*

-0,080p=0,01*

-0,010p=0,94

0,487p=0,05*

-0,221p=0,50

0,914 0,0037

P2 9,538p=0,04*

-0,021p=0,75

-0,152p=0,02*

-0,176p=0,45

-0,053p=0,79

-0,031p=0,91

0,822 0,0151

P3 4,013p=0,11

0,162p=0,03*

-0,177p=0,00*

-0,667p=0,01*

0,886p=0,00*

-0,146p=0,31

0,909 0,0043

P4 -0,927p=0,85

0,269p=0,20

-0,074p=0,10

-0,392p=0,56

0,855p=0,25

-1,547p=0,21

0,815 0,0331

LARGURA P1 -1,889p=0,19

0,152p=0,00*

-0,031p=0,02*

-0,069p=0,26

0,267p=0,04*

-0,150p=,38

0,971 0,0002

P2 5,551p=0,15

0,026p=0,43

-0,078p=0,12

-0,083p=0,71

-0,225p=0,28

0,052p=,85

0,871 0,0121

P3 -0,973p=0,58

0,247p=0,00*

-0,097p=0,01*

-0,586p=0,01*

0,604p=0,01*

0,228p=0,07

0,966 0,0002

P4 -2,146p=0,43

0,256p=0,05*

-0,017p=0,46

-0,320p=0,40

0,421p=0,30

-1,040p=0,13

0,948 0,0008

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As análises demonstram que existe uma tendência de as ostras cultivadas em pontosmais próximos à desembocadura da Baía da Babitonga apresentarem as variáveis decrescimento significativamente maiores quando comparadas aos pontos localizados nointerior da baía. Esses resultados indicam que as áreas sob maior influência do ambientemarinho adjacente à desembocadura da baía têm condições mais estáveis e melhores para ocrescimento das C. gigas em cultivos. Possivelmente essa região oferece uma maior taxa derenovação de água e, conseqüentemente, confere condições físicas e químicas apropriadaspara o crescimento desses organismos. Já os pontos P1 (Ferreira), P2 (Paulas) e P3 (Rosa),situados na porção mais interna da baía, sofrem maiores variações de salinidade, pois váriosrios da região drenam para o estuário. Também as águas relativamente rasas da baía sofremo aquecimento pelo sol, o que poderia proporcionar variações mais elevadas detemperatura.

As ostras apresentaram valores médios de crescimento significativos, comtemperatura da água entre 15ºC e 22ºC. Nota-se que o aumento de crescimento em altura,comprimento e largura ocorre até o mês de outubro, com temperatura média da água de22ºC. Já acima de 22ºC ocorreram reduções significativas nos valores de crescimento,estabilização e até redução das médias de crescimento em altura, comprimento e largura.Com o aumento da salinidade e a diminuição da temperatura da água as conchas das ostrasvoltaram a apresentar crescimento significativo (figuras 2, 3 e 4). O fato condiz com ocomportamento da espécie, Crassostrea gigas, que é nativa do Oceano Pacífico, onde aságuas são frias.

Observou-se que nos meses de verão, com a elevação dos índices pluviométricos e adrenagem de muitos rios para a bacia hidrográfica, houve diminuição da salinidade nospontos amostrados. A salinidade mais baixa torna as conchas das ostras mais moles(QUAYLE, 1988). A redução no tamanho pode estar relacionada com a constante quebradas curvas de crescimento das conchas, ocorrida pelo atrito entre as ostras. Também adiminuição das médias de crescimento pode ter sido influenciada pelo número de mortesocorridas principalmente nos meses de verão. Os números mais elevados de mortesnormalmente incidem sobre os indivíduos de maior tamanho da população, fato que temsido registrado nos cultivos em Santa Catarina segundo Guzenski (comunicação pessoal,2002).

A quantidade mais elevada de mortes de ostras se deu nos meses de março e maiode 2001, principalmente no P2 (Paulas). Nesses meses observaram-se os menores valoresde salinidade, chegando a 16 e 17, respectivamente, que somados às mais altastemperaturas da água do período avaliado, com 28ºC no mês de março, além de baixosvalores de oxigênio dissolvido (5,0 mg/L), podem ter contribuído para os sintomas deestresse apresentado pelas ostras. Possivelmente em virtude de um estado fisiológicodebilitado, notou-se grande infestação por poliquetos do gênero Polydora, freqüentementeencontrados nos cultivos de ostras em Santa Catarina e em várias partes do mundo(PEREIRA et al., 1998; QUAYLE e NEWKIRK, 1989).

CONCLUSÕES

As ostras apresentaram tendência a boas taxas de crescimento de forma geral, e oponto 4 (Capri) foi o que atingiu melhores médias de desempenho. Alguns indivíduos comseis meses de cultivo já poderiam ser comercializados. Porém, com a chegada do verão,

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ocorreram redução e estabilização nas taxas de crescimento e maior número de mortes.Observaram-se infestações por poliquetos (Polydora sp), conferindo aspecto feio às partesinternas das valvas, o que inviabilizaria a comercialização das ostras naquele momento.Com a diminuição na temperatura da água, as ostras apresentaram novamente tendências aboas taxas de crescimento, e as bolhas de lodo ocasionadas pelos poliquetos Polydora spforam recobertas por camadas internas das valvas.

O cultivo da Crassostrea gigas, espécie do Oceano Pacífico, no estuário deve serrealizado preferencialmente nos meses mais frios do ano. A colheita precisa ser planejada,evitando os meses de verão, quando as temperaturas da água aumentam.

O cultivo da ostra representa uma alternativa de geração de emprego e renda para ascomunidades locais, principalmente se for incentivada a cultura de espécies nativas.

A Baía da Babitonga mostrou-se própria para essa atividade, considerando osparâmetros de crescimento. No entanto é preciso atentar para a contaminação das águastanto por metais pesados quanto por matéria orgânica, uma vez que se trata de organismosfiltradores e que a Baía da Babitonga possui 6 municípios de entorno com situação bastanteprecária de saneamento básico e sistemas de tratamento de efluentes industrias.

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