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AVALIAÇÃO DE IMPACTO DE UM PROGRAMA DE INCENTIVO FISCAL COM USO DE MÉTODO QUASE- EXPERIMENTAL * Sergio Guimarães Ferreira , Leonardo Santos de Oliveira Junho de 2009 Resumo O estudo utiliza um método quase-experimental para avaliar o impacto do programa de incentivos fiscais (RIOLOG) dado aos atacadistas fluminenses. O impacto do programa é calculado por diferenças-em-diferenças e sua extensão para o painel de dados disponível para a arrecadação e vendas das empresas. Os resultados indicam que o programa aumenta a arrecadação e as vendas das empresas beneficiadas e que os ganhos são concentrados nas firmas novas, que são mais propensas ao comércio interestadual. Entretanto, não foi encontrado impacto sobre o emprego. The study uses quasi-experimental method to estimate the impact of the program of tax incentives (RIOLOG) in Rio de Janeiro State to wholesalers. The impact of the program is calculated by difference-in-differences and its extension to the panel data available for the tax collection and sales of firms. The results indicate that the program increases the tax collection and sales of companies and the gains are concentrated in new firms, which are more prone to interstate commerce. However, we found no impact on employment. Palavras-chave: Avaliação, Políticas Públicas, Guerra Fiscal. JEL Code: C2, H2, H3 * Os autores agradecem os comentários e as sugestões dadas por Joaquim Levy, Letícia M. Costa e Cristina B. Reis. Opiniões aqui expostas não necessariamente refletem a visão das instituições a que temos vínculo profissional. IBMEC Educacional S.A e Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Rua da Alfândega, 48 - sobreloja, CEP: 20070-000. Centro, Rio de Janeiro, RJ BR. Fone: (21) 2234-4549, [email protected] Professor de Economia PUC RJ. Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Rua da Alfândega, 48 - sobreloja, CEP: 20070-000. Centro, Rio de Janeiro, RJ BR. Fone: (21) 2234-4549, [email protected]

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AVALIAÇÃO DE IMPACTO DE UM PROGRAMA DE

INCENTIVO FISCAL COM USO DE MÉTODO QUASE-

EXPERIMENTAL*

Sergio Guimarães Ferreira†, Leonardo Santos de Oliveira

Junho de 2009

Resumo

O estudo utiliza um método quase-experimental para avaliar o impacto do programa

de incentivos fiscais (RIOLOG) dado aos atacadistas fluminenses. O impacto do

programa é calculado por diferenças-em-diferenças e sua extensão para o painel de

dados disponível para a arrecadação e vendas das empresas. Os resultados indicam que

o programa aumenta a arrecadação e as vendas das empresas beneficiadas e que os

ganhos são concentrados nas firmas novas, que são mais propensas ao comércio

interestadual. Entretanto, não foi encontrado impacto sobre o emprego.

The study uses quasi-experimental method to estimate the impact of the program of

tax incentives (RIOLOG) in Rio de Janeiro State to wholesalers. The impact of the

program is calculated by difference-in-differences and its extension to the panel data

available for the tax collection and sales of firms. The results indicate that the program

increases the tax collection and sales of companies and the gains are concentrated in

new firms, which are more prone to interstate commerce. However, we found no impact

on employment.

Palavras-chave: Avaliação, Políticas Públicas, Guerra Fiscal.

JEL Code: C2, H2, H3

* Os autores agradecem os comentários e as sugestões dadas por Joaquim Levy, Letícia M. Costa e Cristina B. Reis. Opiniões aqui expostas não necessariamente refletem a visão das instituições a que temos vínculo profissional. † IBMEC Educacional S.A e Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Rua da Alfândega, 48 - sobreloja, CEP: 20070-000. Centro, Rio de Janeiro, RJ – BR. Fone: (21) 2234-4549, [email protected] ‡ Professor de Economia PUC – RJ. Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Rua da Alfândega, 48 - sobreloja, CEP: 20070-000. Centro, Rio de Janeiro, RJ – BR. Fone: (21) 2234-4549, [email protected]

2

I. Introdução

Incentivos fiscais são utilizados corriqueiramente como instrumento de política

industrial. Estados tem se engajado em competição tributária, fixando alíquotas de

ICMS baixas de forma a atrair empregos, investimento e base tributária para a

jurisdição, em detrimento de outros estados. 1

Contudo, enquanto atraindo empresas através de incentivo fiscal pode ser eficaz

(ter baixo custo e alto benefício), a replicação de tal incentivo para as empresas locais,

que já estavam no estado, tende a ser mais onerosa. A intuição é simples. Empresas que

estão fora do estado geram receitas de impostos antes inexistentes – em detrimento de

fiscos de outros estados – enquanto a extensão do benefício para empresas locais

implica em redução da arrecadação, caso esta não tenha a alternativa de migrar para

outro estado ou não esteja sofrendo concorrência efetiva de empresas incentivadas.

Suponha que as empresas a serem atraídas tem oferta mais elástica, arbitrando

entre diferentes estados na decisão de onde concentrar suas operações, por possuírem

estabelecimentos em diversas jurisdições, e são especializadas em comércio

interestadual. Suponha que empresas locais não tenham o poder de transferir recursos

entre fronteiras e, desse forma, tem oferta mais inelástica, sendo especializadas no

comércio local. Nesse caso, a isonomia tributária exigirá o conhecimento da

elasticidade-preço de oferta de cada grupo, a fim de determinar a alíquota que maximiza

o bem estar social dos residentes no estado.

Qual a melhor estratégia de um estado que possui empresas locais, mas que

pretende atrair empresas nacionais (as primeiras com oferta pouco elástica, as ultimas,

com oferta mais elástica), como função da estratégia do estado vizinho? A intuição é de

que dependerá da diferença entre as elasticidades de oferta dos dois grupos de empresas,

e da magnitude de cada grupo na base tributária. Estados que possuem base tributária

consolidada, com grande número de empresas locais – o que é típico de estados com

forte base de consumo, no caso de setor atacadista – tenderão a agir de forma diferente

1 Mello (2007) estima a função de reação de estados brasileiros a mudança de alíquota em estados vizinhos, e testa a existência de liderança de Stackelberg na determinação das alíquotas de ICMS.

3

de estados sem base tributária sólida? Se sim, a alíquota ótima de ICMS – aquela que

será o equilíbrio de Nash perfeito em subjogos – dependerá da diferença das

elasticidades nos dois grupos.

Infelizmente, não existem muitos estudos avaliando a resposta das empresas à

mudanças de alíquota. Existem diversos motivos para a ausência desses estudos.

Primeiro, um dos motivos para ausência de estimativa de impacto é a falta de

microdados adequados de empresas, que permitam a comparação do comportamento

antes e depois da concessão do tratamento tributário especial. Segundo, outro motivo

tem a ver com o fato de que tais programas geralmente são setoriais, atingindo a todas

as empresas, sem critérios para elegibilidade a não ser a oferta de um determinado

produto incentivado. Quando um programa tem cobertura completa e atende de

imediato todas as empresas de um setor, fica difícil definir um grupo de controle

adequado, cujo comportamento possa ser estudado e comparado com empresas

atendidas pelo programa.

Em alguns casos, empresas têm acesso a tratamento tributário especial mediante

termo de compromisso, no qual se comprometem com contrapartidas, como geração de

emprego, compromissos com investimentos, ou recolhimento de tributos em nível

mínimo, em troca de alíquota ad valorem reduzida. Esse tipo de prática é bastante

comum entre os estados da federação brasileira. Geralmente, o processo de assinatura

do termo de compromisso toma tempo, o que cria a situação de algumas empresas de

um mesmo setor e que vendem os mesmos produtos terem condições tributárias

diferentes.

A comparação entre empresas incentivadas e as demais, entretanto, é

problemática, o que gera o terceiro motivo para a quase inexistência de tais estudos

empíricos. Com efeito, empresas podem se candidatar a benefícios por possuir

características que casam com as regras do tratamento tributário especial, e que logo, e

assim, existe potencial viés de seleção na mera comparação entre beneficiados e não

beneficiados. De outro modo, a concessão do benefício não é aleatória. Por exemplo, no

caso do IVA estadual (ICMS), é comum que programas de benefício fiscal concedam

crédito presumido em alguns tipos de operação, por exemplo, comércio interestadual, e

não em operações de vendas dentro do estado, o que faz com que empresas ―nacionais‖

se candidatem ao programa, mas não empresas locais.

4

Assim, a avaliação de programas utilizando métodos quase-experimentais

usualmente sofre de sérias ressalvas, o que gera suspeição sobre os resultados da

análise. Esse artigo avalia o Programa Riolog (Rio Logística), um programa de

incentivo fiscal concedido ao setor atacadista do estado do Rio de Janeiro e que confere

um amplo conjunto de incentivos fiscais para empresas estabelecidas no estado, tanto

em vendas internas quanto em vendas interestaduais. O acesso a uma rica base de dados

de arrecadação, vendas, compras de máquinas e insumos, dentre outros tipos de

operação, da Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, por um período de

tempo longo o bastante permite-nos superar a primeira restrição, ou seja, a ausência de

microdados adequados.

O fato de que o programa não é de natureza geral, porque exige a assinatura de

um termo de compromisso com o Estado, permite potencialmente a existência de

empresas ―tratadas‖ e não ―tratadas‖. Mais importante, alguns fatos nos permitem

identificar um subconjunto de empresas nos quais o acesso ao programa envolveu certo

grau de aleatoriedade. Com efeito, o processo de assinatura do termo de acordo é

extremamente lento, amplamente dominado por exigências burocráticas documentais e

por elevado grau de discricionariedade das partes envolvidas, em todos os níveis, na

concessão de autorização para uso do incentivo. Isso faz com que uma determinada

empresa interessada na obtenção do tratamento especial demore um longo tempo à

espera da permissão. Várias empresas estão em diferentes pontos do processo

concessivo, em etapas que envolvem carta-consulta dentro de determinado padrão,

avaliação econômica e estimativa de custo fiscal, o que exige: a entrega de planilhas

com informações detalhadas sobre a estrutura de compra e venda; posicionamento da

fiscalização e da área jurídica quanto a propriedade dos termos de enquadramento, em

relação à legislação estadual e federal; exigências de regularidade cadastral e fiscal da

parte do contribuinte, e dos acionistas; e a aprovação por duas comissões que envolvem

a reunião do primeiro escalão de várias secretarias estaduais, onde o pleito é examinado

a luz do documento apresentado e dos compromissos assumidos.

Esse longo trâmite acaba gerando um contexto em que o acesso ao benefício,

uma vez pleiteado, não esteja relacionado a características da empresa que sejam

complementares aos benefícios pretendidos, mas ao cumprimento das exigências

documentais ou à fortuna do pleito coincidir com reuniões em que lotes de pedidos são

5

analisados. Essas reuniões não ocorrem com periodicidade fixa, mas influenciada pelo

maior ou menor interesse do governo de turno em que um dado programa se desenvolva

mais rápida ou lentamente.

Com isso, empresas vão tendo seus pleitos autorizados pelo estado em diferentes

momentos do tempo, ao sabor de fatores que pouco tem a ver com as características da

empresa, pelo menos quando comparada as empresas que também pleitearam, mas que

estão a espera do beneficio.

Adicionalmente, a partir de janeiro de 2007, o programa foi temporariamente

paralisado, e durante dois anos, empresas pleiteantes não foram atendidas. Isso ocorreu

pela necessidade que o governo que tomou posse em 2007 tinha de analisar os efeitos

do programa. Assim, empresas que por motivos diversos, não relacionados com

características do negócio, não conseguiram ter seus pleitos atendidos até dezembro de

2006, ficaram sem acesso ao benefício por mais dois anos, até que no início de 2009 o

programa fosse retomado.

Dessa forma, gerou-se um quase-experimento em que as empresas elegíveis ao

programa foram separadas com boa dose de aleatoriedade em dois grupos (beneficiadas

e não beneficiadas) e em que as datas de concessão dos benefícios são diferenciadas,

melhorando ainda mais as oportunidades de avaliação do programa. Com efeito, quando

as empresas beneficiadas recebem tratamento em datas distintas, é possível medir

repetidas vezes o ―efeito‖ do programa que será dito positivo se em média ou no

agregado, as medidas são positivas. 2

Por último, temos razão para acreditar que o grupo de controle não é afetado

pelo tratamento, condição necessária para o uso de técnicas de análise quase

experimental. Isso tem a ver com a estrutura concorrencial do setor atacadista, onde o

mercado é atomizado, e os volumes transacionados pelas empresas são pequenos (por

restrição de capacidade). Assim, o impacto da concessão do benefício para algumas

poucas firmas não tende a afetar o equilíbrio do mercado, e portanto, não afeta o

comportamento do grupo de controle. Adicionalmente, aproximadamente 70% das

2 Veja Reichardt and Mark (2004) para maiores informações sobre as vantagens e desvantagens de diferentes quase-experimentos, assim como as ameaças internas a validade deles.

6

compras registradas por varejistas nas respectivas DECLAN são feitas, todos os anos,

diretamente em atacadistas localizados no Estado do Rio de Janeiro, sugerindo um

mercado estável, independente da existência do benefício.

Com isso, entre 2000 e 2008, acompanhamos mensalmente empresas pleiteantes

do programa, que se diferenciavam principalmente pelo status de atendida ou não

atendida, sendo que tal status deve-se a fatores apenas fracamente relacionados com

características individuais. Por isso, podemos utilizar método de avaliação quase

experimental para analisar o impacto desse programa de incentivos fiscais no

comportamento das empresas.

Primeiramente, comparamos o comportamento da arrecadação das empresas

pleiteantes atendidas e não atendidas, usando a lógica de diferenças em diferenças. Em

seguida utilizamos o painel de dados disponível para estimar o impacto do programa.

Os resultados apontam para um impacto positivo estatisticamente significante do

programa na arrecadação. Assim, a redução da alíquota efetiva proporcionou aumento

de receita para o estado.

Depois, testamos a possibilidade de que o aumento de receita difira entre

empresas novas e antigas. A hipótese testada é se existem dois grupos com elasticidades

de oferta diferentes: empresas antigas, especializadas no comércio local, e empresas

novas, especializadas no comércio interestadual, e, portanto com maior flexibilidade na

alocação de recursos. A estimação econométrica mostra que existe de fato diferença

estatisticamente significante no impacto da arrecadaçao nos dois grupos de empresas.

Para empresas antigas, o aumento do recolhimento de ICMS que resulta do uso do

benefício não é estatisticamente significante. Por sua vez, para empresas novas, o

aumento de arrecadação é alto e estatisticamente significante. Esse resultado pode ser

vinculado a discussão sobre competição tributária, e à função de reação do secretário de

receita estadual na presença de firmas com diferentes elasticidades de oferta em sua

jurisdição.

Em terceiro lugar, estimamos o impacto do programa nas vendas das empresas.

Curiosamente, o impacto não é estatisticamente significante, ou seja, empresas

beneficiadas não vendem mais do que empresas do grupo de controle. Contudo,

verificamos que isso ocorre porque empresas antigas reagem com redução de vendas

7

(embora não estatisticamente significante) e empresas novas reagem com aumento de

vendas (estatisticamente significante). Ou seja, em linha com os resultados da

arrecadaçao, o efeito do programa se concentra em empresas recentemente instaladas no

estado.

Como o programa concede diferentes benefícios para empresas especializadas

no comércio local e empresas especializadas no comércio interestadual, testamos o

impacto sobre o valor de vendas internas e interestaduais separadamente. Em relação às

vendas internas, o efeito do programa é nulo, tanto para empresas antigas quanto novas.

Contudo, para vendas interestaduais, o efeito do programa é bastante positivo para

empresas novas, e nulo para empresas antigas.

A intuição é simples. Empresas novas são especializadas em comércio

interestadual, e tendem a ser nacionais, ou seja, possuírem estabelecimento em mais de

um estado. Esse aspecto permite uma maior elasticidade de oferta, arbitrando entre

diferentes alíquotas interestaduais. Empresas antigas são especializadas no comércio

local, com poucas redes de distribuição, e logo, baixa elasticidade de oferta. O impacto

desse programa sobre empresas locais foi nulo, tendo atraído algumas (mas poucas)

empresas nacionais, que proporcionaram todo o ganho de arrecadação.

Por ultimo, analisamos o impacto do programa no emprego, utilizando a base de

dados da RAIS/MTE. A taxa de crescimento médio do emprego no grupo de

beneficiadas antigas é semelhante ao de empresas do grupo de controle. Empresas novas

praticamente não contratam, mesmo depois de começarem a operar. De forma geral, o

resultado sobre o emprego repete o que outros estudos encontraram para essa variável,

ou seja, que programas de incentivo fiscal não geram impacto sobre o emprego.

Outros trabalhos avaliam o impacto de incentivo fiscal sobre a decisão das

firmas. Ferreira e Azevedo (2007) analisam o impacto do RIOLOG sobre emprego e

arrecadação de impostos. Aquele estudo tem problemas na definição do grupo de

beneficiários, ao considerar empresas com autorização concedida via decreto, quando

essa não é a etapa final do processo. Uma outra diferença em relação aquele estudo é

que nossa especificação permite diferenciar entre empresas novas e antigas, e testar para

diferentes elasticidades.

8

Barreto et al (2006) e Silva et al (2007) analisam impacto de programas de

incentivo fiscal no Nordeste sobre emprego. Assunção e Monteiro (2004) analisam o

efeito da Lei do Simples sobre a formalizaçao das empresas, utilizando método quase-

experimental.

Esse trabalho se subdivide em sete seções além desta. Na seção II, apresentamos

as características do programa de incentivos fiscais a ser avaliado, qual seja, o

RIOLOG, destinado ao setor atacadista. Na seção III, apresentamos a base de dados,

estatísticas descritivas, e a metodologia utilizada na estimação econométrica. Na seção

IV, apresentamos as primeiras estimativas de diferenças em diferenças, sem o uso de

variáveis de controle. Na seção V, mostramos os resultados de estimação econométrica

de impactos do programa sobre arrecadação. Na seção VI, mostramos os resultados

econométricos para vendas totais, vendas internas e vendas interestaduais. Na seção VII,

apresentamos os resultados do impacto sobre emprego. A seção VIII conclui.

II. O programa avaliado: RIOLOG.

O incentivo do RIOLOG consiste em quatro componentes centrais, que atendem

a dois tipos de comércio (Quadro 1). Esses componentes são: crédito presumido sobre

vendas e compras interestaduais e crédito presumido sobre compras internas — que

visam o grande comércio interestadual3; assim como redução de base de cálculo para

vendas internas4 e diferimento do imposto incidente sobre importações

5 — que visam

3 A título de exemplo, se a empresa realiza compras provenientes de São Paulo no valor de 100$, o imposto de 12$ é recolhido pelo tesouro paulista (na ausência de incentivo fiscal em São Paulo), e um crédito correspondente 12$ é adquirido contra o tesouro do Rio de Janeiro, em situação normal. No caso do incentivo caracterizado pelo crédito presumido sobre compras interestaduais, o estado do Rio reconhece um crédito adicional de 2$ sobre essas compras, sem qualquer ônus para a empresa.

4 A redução de base de cálculo permite a redução da alíquota de 19% para 13%. Contudo, quando a transação é feita entre contribuintes no regime de débito e crédito, a empresa que adquire o produto pode reconhecer somente 13% do valor da compra como crédito. Portanto, trata-se de uma transferência de ônus legal. Contudo, quando a transação envolve a venda para uma empresa com regime simplificado (uma empresa cadastrada no simples nacional, ou sob regime especial de tributação sobre o faturamento), não existe crédito tributário a ser considerado, e, portanto a redução de base de cálculo implica em queda da tributação na cadeia do produto, e não transferência de atribuição legal.

5 A atribuição legal em uma operação de importação é do agente importador, e o imposto é devido ao tesouro do estado de destino. O diferimento implica apenas em postergação do momento do pagamento, para a venda do produto. Esse incentivo portanto é financeiro, na medida em que

9

atender o pequeno comércio atacadista, cujas vendas são concentradas no setor varejista

doméstico.

Quadro 1 – Benefícios do RIOLOG

Inicialmente, a lei 4173/03 instituiu somente o crédito presumido de 2%, que

incide:

a) Sobre operações interestaduais de compra e venda de mercadorias e

aquisições de mercadorias via transferência interestadual;

b) Sobre operações internas de compras, quando correspondentes a produtos

classificados dentro de grupos de atividade econômica específicos (alimentos

industrializados; produtos de higiene; bebida alcoólica quente; produto industrializado

derivado do trigo; balas, bombons e correlatos; produto para higiene pessoal;

cosméticos; e bazar).

Posteriormente, foram incorporados ao programa os seguintes itens (decretos

36.453/04, 37.209/05, e 38.747/06):

c) A redução de base de cálculo nas operações internas (vendas) de forma que a

alíquota efetiva torna-se 13% sobre o valor das saídas.

d) O diferimento nas importações de mercadorias para o momento da saída,

sendo aplicada a alíquota de destino.

Fonte: Elaboração própria a partir das informações disponíveis em

<http://www.fazenda.rj.gov.br/ >

O crédito presumido gera redução do imposto recolhido na cadeia produtiva, na

ausência de efeitos de segunda ordem. A redução de base de cálculo implica em queda

da tributação na cadeia apenas se a venda do atacadista for feita para um contribuinte

que esteja fora do sistema de débito e crédito, recolhendo por algum regime

simplificado que obrigue-o ao estorno dos créditos. Como grande parte dos

contribuintes autorizados e dos pleiteantes tem suas atividades concentradas no mercado

interno, e tem como clientela predominante o pequeno varejo local, o que os atrai é

permite ao atacadista que adquire grandes lotes, e tem vendas pulverizadas, a recolher o imposto no momento da venda, o que facilita a gestão de fluxo de caixa da empresa. Mas diferimento não implica em redução da alíquota efetiva do imposto, no caso do RIOLOG.

10

exatamente a redução de base de cálculo, e não o crédito presumido implícito no

programa.6 Grandes atacadistas, por sua vez, que concentram operações no comércio

interestadual, são atraídos pelo crédito presumido nas operações interestaduais.

O processo de enquadramento das empresas no RIOLOG tem implicações

importantes para a análise do programa. Este trâmite se inicia com a submissão de carta-

consulta à Companhia de Desenvolvimento Industrial do ERJ, que estima os benefícios

do enquadramento e submete à SEFAZ para verificação da documentação. A SEFAZ

também se manifesta juridicamente sobre o enquadramento e valida ou não as projeções

de impacto da CODIN. Após essa dupla verificação, o processo é enviado à Comissão

de Avaliação, formada por representantes de cinco secretarias e da FECOMERCIO, e ao

COPOF paralelamente, conforme regulamentação expedida em 2007. Após a aprovação

do pleito nessas duas instâncias, o governador enquadra a empresa, através de decreto

de enquadramento. 7 Segue-se depois a redação de um termo de compromisso entre

estado e empresa, onde a última se compromete com contrapartidas em manutenção do

emprego e manutenção de um valor real mínimo de recolhimento de ICMS. A

complexidade do processo explica porque parte das empresas pleiteantes do benefício

encontravam-se a espera do benefício quando em 2007 o programa foi temporariamente

descontinuado.

III. Dados e Metodologia

O estudo utiliza as informações da Base de Dados da Arrecadação, da Guia

de Informação e Apuração do ICMS — GIA. As bases de dados da SEFAZ-RJ

apresentam informações cadastrais detalhadas o que tanto permite a identificação

das inscrições estaduais, CNPJ, ração social e setor de atividade (CNAE) das

empresas que operam no Estado, assim como o valor da sua arrecadação

(discriminado por códigos de receita) e vendidas (discriminado pelos códigos

fiscais de operação e prestação que permite identificar inclusive as saídas

interestaduais, intra-estaduais e as exportações). Dado o nível de detalhamento é

6 A ADERJ, associação dos distribuidores do estado do rio de janeiro, órgão classista que representa o atacadistas do ERJ inclusive reivindicavam o fim do crédito presumido em troca de uma maior redução de base de cálculo para 12%.

7 O RIOLOG é o único programa do ERJ em que o enquadramento da empresa é feito pelo governador.

11

possível cruzar com bases externas à fazenda como, por exemplo, a Relação Anual

de Informações Sociais (RAIS).

A freqüência das informações da GIA e da Arrecadação é mensal, cobrindo o

período entre janeiro de 2000 e março de 2008. Quando se acompanha os tratados

e os não tratados por longo período de tempo, é possível identificar diferenças nas

taxas de crescimento de grupos e subgrupos, e isolar tais efeitos do impacto do

programa, por isso escolhemos o período mais longo possível.

No restante do texto, o termo arrecadação se refere sempre ao valor do

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) mais o

Fundo Estadual de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais (FECP). Além

disso, cabe ressaltar que nesse estudo, foram excluídas das receitas de ICMS

associadas a autos de infração, dividas ativas, multas, moras e correção monetária,

que são de natureza irregular. Desse modo, focamos nas receitas de ICMS que

possuem mais estrutura e que acreditamos estarem mais associadas ao nível de

das empresas. As informações sobre o emprego, retiradas da RAIS, são referentes

ao estoque de trabalhadores declarados por cada firma em 31 de dezembro dos

anos de 2004, 2005 e 2006.

O quadro 2 mostra as estatísticas descritivas da amostra. As empresas não

beneficiadas recolheram no período, em média, 47,7 mil reais por mês e faturaram 888

mil reais, sendo 82% através de vendas para clientes localizados dentro do estado. A

alíquota média sob o faturamento foi de 5,4%.8 Por sua vez, as empresas beneficiadas

arrecadaram em média 61,5 mil reais por mês e faturaram 1,625 milhão, sendo 75%

através de vendas internas. A alíquota média foi de 3,8%, sendo mais baixa porque

durante parte do período amostral essas empresas já usavam o benefício.

Quadro 2: Características Gerais da Amostra

8 Essa alíquota depende de uma série de fatores: proporção de vendas internas em relação às vendas totais, valor adicionado, proporção de compras internas em relação às compras totais, valor do conteúdo importado, dentre outros.

12

Empresa Variável Média Mensal

R$

Desvio. Padrão

R$ Obs.

Não

Beneficiada

ICMS 47.694 86.968 2772

Vendas para Clientes

dentro do Estado 733.341 1.970.907 2772

Vendas para fora do

estado 154.728 672.587 2772

Beneficiada

ICMS 61.500 92.315 990

Vendas para Clientes

dentro do Estado 1.225.597 2.343.215 990

Vendas para fora do

estado 399.129 1.789.829 60

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Arrecadação e GIA-ICMS.

III.1. Conjunto das Firmas Analisadas:

O presente estudo acompanha o desempenho de dez empresas efetivamente

beneficiadas pelo RIOLOG. A efetiva fruição do benefício requer autorização específica

por inspetoria da Receita Estadual, o que pode se dar bem depois do enquadramento da

empresa. A data do registro da autorização de fruir do benefício no livro de registro de

utilização de documentos fiscais e termo de ocorrência (RUDFTO) é, portanto, a data de

referência para medição dos efeitos do programa. Treze empresas já receberam esta

autorização. No entanto, uma delas pertence a um grupo muito grande, e de

característica verticalizada; outra empresa não possui inscrição estadual; e a terceira não

possui observações suficientes para incluí-la na análise.

Além das empresas beneficiadas pelo RIOLOG, acompanhou-se um grupo de

vinte e oito empresas atacadistas que pleiteiam o ingresso no programa. Algumas dessas

já tiveram o enquadramento aprovado pela SEDEIS, mas não foram efetivadas pela

SEFAZ. Outras cursaram o trâmite completo, tendo sido enquadradas de decreto

assinado pela ex-governadora, mas não obtiveram registro no livro fiscal – RUDFTO e,

portanto ainda não gozam do benefício. Essas vinte e oito empresas formam um grupo

13

de comparação ou ―de controle‖ que servem de ―instrumento‖ para analisar o impacto

do benefício no comportamento de empresas beneficiadas e podem auxiliar na

estimativa do custo de extensão do programa9.

As variáveis analisadas incluem recolhimento tributário, composição de vendas

e faturamento.

Busca-se verificar se há divergência de tendências no faturamento, no

recolhimento de ICMS e no emprego entre os dois grupos de empresas. Como cada

empresa beneficiada tem seu acesso ao programa autorizado em datas diferentes, o seu

desempenho tem que ser comparado ao do grupo de controle no período de doze meses

anterior e posterior a sua data específica de autorização. Como resultado, o desempenho

do grupo de controle varia por empresa, mas isso se deve às diferentes datas de acesso

de cada empresa, e não à mudança de composição no grupo de controle. Assim,

neutralizam-se efeitos da conjuntura econômica, etc., reforçando a qualidade da análise.

Para aguçar a análise também se divide as empresas beneficiadas entre ―novas‖ e

―antigas‖, onde empresas ―antigas‖ são aquelas que já arrecadavam antes da data da Lei

(setembro de 2003) e ―novas‖ ou ―atraídas‖, as que passaram a arrecadar apenas após

aquela data (por conseqüência, uma empresa ―nova‖ pode arrecadar antes de ter

começar a fruir do benefício, já que esta fruição se deu bem depois da publicação da Lei

10).

Uma premissa importante para a eficácia da avaliação do programa é que o

grupo de controle não seja afetado pelo experimento. No caso específico, é improvável

que isso ocorra, dadas as características do setor, próximo à concorrência perfeita. O

setor atacadista analisado é especializado na distribuição de bens não duráveis, como

alimentos, e pequenos utensílios domésticos, destinados ao consumo das famílias.

Como pode ser visto pelo Quadro 3, feito a partir da base de dados da DECLAN,

para todos os CNAEs do setor atacadista (ver anexo 2), é improvável que a inclusão de

beneficiados afete o comportamento do grupo de controle11

. O quadro 3 apresenta a o

9 Para uma resenha sobre métodos quase-experimentais e método de diferenças em diferenças, ver Lee (2005), Wooldridge (2001) e Blundell and Costa-Dias (2002). 10 Mais detalhes sobre a metodologia utilizada podem ser encontrados no anexo 1. 11 A DECLAN consiste em uma declaração anual de faturamento, feita por todos os contribuintes, inclusive aqueles classificados regime tributário simplificado. Essa é a única ocasião que utilizamos essa base de dados nesse artigo. Empresas no regime simplificado estao desobrigadas a declararem

14

índice de concentração de Hirschman-Herfindahl (HH) e a razão de concentração das

quatro (CR(4)) e oito (CR(8)) maiores empresas12

. Esses índices foram calculados

segundo participação das empresas nas vendas totais do setor no estado, excluídas

empresas localizadas em outro estado – por não serem contribuintes no Rio e, portanto

não preencherem a DECLAN13

.

Como podemos ver, HH < 1000 em todos os anos, indicando um mercado pouco

concentrado, com concorrência entre firmas. Logo, nessa estrutura, um incentivo fiscal

restrito, que beneficie uma ou poucas firmas, pode criar uma vantagem artificial e pode

garantir lucro econômico positivo para as beneficiadas. Entretanto, o incentivo não tem

impacto nem sobre os preços de mercado nem sobre o desempenho das concorrentes

(firmas não beneficiadas).14

Quadro 3 : Concentração do Setor Atacadista do ERJ

Ano No. de

empresas

Coef. de

Variação

Índice de Concentração

HH CR(4) CR(8)

2001 7198 14.32 286 28% 37%

2002 7990 11.54 168 18% 27%

2003 8417 10.13 123 16% 24%

a GIA, daí a vantagem da DECLAN sobre a segunda. Contudo, a DECLAN não tem o nível de detalhamento da GIA, com origem e destino das compras e vendas, assim como um grau de abertura por categoria de item comprado ou vendido.

12 A razão de concentração CR(4) é calculada somando-se as participações das 4 maiores empresas. O CR(8) é calculado analogamente. Já o índice HH é dado pela soma dos quadrados das participações de cada empresa, estando entre 0 e 10.000. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos considera 1000 como valor crítico do índice HH, abaixo do qual uma fusão não pode viola as leis antitruste. Ver Viscusi, Vernon, Harrington, 2000.

13 Esse subgrupo se localiza em outros estados, e faz uso de incentivos fiscais para disputar o consumo das famílias residentes no estado com as empresas locais, incentivadas ou não. Nesse sentido, empresas do grupo de controle estão menos protegidas da concorrência localizada em outro estado, quando comparadas com empresas beneficiadas. O impacto do programa sobre esse subgrupo foi muito pequeno, tendo atraído somente três empresas. Mas isso não significa que um beneficiado a mais, individualmente, possa afetar o resultado e o comportamento das empresas no grupo de controle.

14 Pode-se observer também que, ao longo do tempo, nao há uma tendência ao aumento de concentração, o que pode estar indicando que o programa não afeta o resultado do mercado, e logo, o resultado das firmas do grupo de controle.

15

2004 8886 12.98 191 22% 30%

2005 9168 13.27 193 22% 31%

2006 8943 12.01 162 20% 29%

2007 8740 11.38 149 18% 27%

2008 8350 16.15 314 26% 35%

Fonte: Elaboração própria com base na DECLAN, com CNAEs selecionados (anexo 2)

III.2 – Modelo Econométrico

A análise econométrica utilizou painel com informações sobre 38 empresas (10

beneficiadas e 18 pleiteantes) no período de janeiro de 2000 a março de 2008,

totalizando 3762 observações. A estratégia adotada possibilita controlar os efeitos da

firma já estar no ERJ, a composição de suas vendas e, entre outros fatores, quando que

elas passaram a se beneficiar (ou não) do programa.

Seja a firma i uma empresa da amostra. Na equação (1), B

iD é uma dummy que

indica se a empresa i é beneficiada ou não em algum mês da amostra; N

iD é uma

dummy que indica se a empresa i é nova, ou seja, estabeleceu-se no estado após o

programa ser instituído15

; T é uma variável de tendência mensal da arrecadação, que

pode ser diferente se a empresa é nova ou se é beneficiada; U

itD é uma variável dummy

que indica se a empresa i beneficiada está usufruindo o benefício no tempo t, ou seja,

capta o efeito do programa sobre a arrecadação da empresa i. Define-se como recebendo

o benefício a empresa que teve autorização de uso aprovada e registrada em livro

(RUDFTO).16

Permite-se a possibilidade do impacto do programa ser diferente para

empresas novas, o que é feito a partir da interação com a dummy que indica se a

empresa é nova. itX é a proporção de vendas interestaduais, utilizada como variável de

controle. Por fim, itu é o erro que apresenta auto-correlação de primeira ordem (AR(1)).

15 As empresas que recolhiam impostos antes de setembro de 2003 (data em que foi criado o RIOLOG) são definidas como antigas. As empresas que contribuem apenas depois dessa data são tidas como novas.

16 A informação se a empresa tem registro do benefício em livro fiscal foi fornecida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, SEDEIS.

16

A variável dependente itY é o recolhimento de ICMS pela empresa i no mês t, na seção

IV, e na seção V é testado o impacto do programa sobre as vendas totais, sobre as

vendas internas (ou seja, dentro do estado), e sobre as vendas interestaduais (ou seja,

para fora do estado).

Na primeira especificação, restringimos o modelo de forma a impor

comportamento e efeito igual entre empresas novas e antigas, e na segunda

especificação relaxamos tal premissa, estimando a equação (1).17

(1)

IV. Análise de Diferenças em Diferenças Univariada

Nesta seção, analisamos o impacto médio do programa, sem uso de variáveis de

controle. O Quadro 4 mostra o impacto do programa sobre a arrecadação das empresas

beneficiadas, em comparação ao grupo de controle, no período de doze meses antes e

doze meses depois de cada empresa do grupo beneficiado receber autorização de uso.18

17 O modelo é estimado com o uso de dados longitudinais, onde são identificados componentes (efeitos) fixos para grupos. Por exemplo, essa estrutura cria um componente fixo para o grupo de beneficiadas novas, outro para o grupo de beneficiadas antigas. A identificação desses efeitos é possível graças a estrutura dos dados que apresenta muitas observações ao longo do tempo para a mesma firma (painel longo).

18 Como as empresas recebem a autorização em momentos diferentes do tempo, cada empresa tem um período de doze meses diferente, e foi necessário compara-lo com a arrecadação do grupo de controle em cada período específico de doze meses. Assim, cada empresa beneficiada é comparada com um o grupo de controle em um momento diferente do tempo. No anexo 1, a metodologia de cálculo é apresentada.

ititit

it

N

i

U

it

N

i

B

i

N

i

B

iitit

wuuonde

uDDDDTDDXY

1

,)()()log(

17

Quadro 4 – Arrecadação das Empresas Beneficiadas pelo RIOLOG e do Controle

nos 12 Meses Anteriores e Posteriores ao RUDFTO.

Empresas Arrecadação

Anterior

Arrecadação

Posterior

Variação

Nominal

Variação

Percentual

Total de

Empresas

(R$mil) (R$mil) (R$mil) (%)

RIOLOG 8.303,4 12.954,5 4.651,2 56,0 10

Controle 20.623,4 31.006,6 11.005,0 50,3 28

Total 28.926,8 43.961,1 15.034,3 52,0 38

Fonte: Elaboração própria a partir da Base de Dados da Arrecadação

A arrecadação agregada das empresas registradas no RIOLOG aumentou apenas

5,7 pontos percentuais acima daquelas do grupo de controle. O aumento do conjunto das

empresas no RIOLOG — aí incluídas as novas — foi de 56%, ao passo que as do grupo

de controle aumentaram em 50,3%.

O desempenho da arrecadação de empresas antigas foi bem diferente da

arrecadação de empresas novas, como mostra o Quadro 5.

Quadro 5 - Empresas Novas x Empresas Antigas: Impacto do Programa

Empresas 12 meses

antes

12 meses

depois

Variação

Impacto

∆∆

Beneficiadas Antigas 6950 7562 8,8% -5,7%

Novas 1353 5392 298,5% 149,0%

Controle Antigas 15148 17342 14,5%

Novas 5475 13664 149,6%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados Arrecadação.

OBS: As empresas que recolhiam impostos antes de setembro de 2003 são definidas como antigas. As

empresas que contribuem apenas depois dessa data são tidas como novas.

18

As empresas antigas que se candidatam ao programa e tem o benefício

autorizado aumentam a arrecadação em 9%, comparado a 14% daquelas que se

candidatam e não receberam o benefício. Ou seja, o programa tem um impacto negativo

de 5,7% na arrecadação dessas empresas, quando comparado ao grupo de controle. Por

outro lado, as empresas novas que se candidatam e recebem o programa tem um

aumento de arrecadação de 298,5%, comparado a 149,6% das novas que se candidatam

e não recebem o benefício, um efeito de 149% do programa sobre esse tipo de empresa.

19

V. Impacto do Programa na Arrecadação: estimação com dados

longitudinais

A análise anterior dá indícios de que o programa tem impacto diferente no

recolhimento de empresas antigas e novas. O Quadro 6 mostra o impacto do programa,

estimado por uma regressão com mínimos quadrados generalizados, utilizando dados

longitudinais, tal e qual especificado na equação (1).20

Na primeira coluna do Quadro 6, mostramos a especificação com restrição, ou

seja, restringimos o impacto do programa ser igual nas firmas novas e antigas. O

programa tem um impacto positivo na arrecadação (5% de significância). Esse resultado

é consistente com o argumento tradicional de que a redução de alíquotas é uma melhor

resposta para governos engajados em atrair base tributária para a jurisdição.

O impacto dos controles na arrecadação apresenta o sinal esperado. Empresas

com maior proporção de vendas interestaduais tendem a arrecadar mais. Sendo a

alíquota interestadual menor do que a interna, esse resultado se deve provavelmente ao

porte da empresa. Empresas beneficiadas arrecadam mais do que não beneficiadas,

independentemente do programa. Existe uma tendência comum a todas as empresas de

19 Existem recebendo o benefício três empresas novas e sete empresas antigas. Existem 14 empresas novas pleiteando o benefício e 14 empresas antigas.

20 Ambas as regressões apresentam correções para auto-correlação, correlação contemporânea e heterocedasticidade. A primeira correção se aplica aos coeficientes e à variância dos estimadores (MQGF - Prais-Winsten regression). Além disso, utilizamos matrizes de variância-covariância robustas, corrigidas para correlação contemporânea e heterocedasticidade nos erros.

19

crescimento na arrecadação, embora essa tendência seja menos acentuada para empresas

beneficiadas.

Quadro 6: Impacto do Programa no Recolhimento de ICMS das empresas - Dados

Longitudinais, Mínimos Quadrados Generalizados

Log(ICMS) Agregando as

Beneficiadas

Separando as

Novas das Antigas

Ln(PV) 0.16*** 0.10***

(0.04) (0.03)

B

iD 5.54*** 2.36***

(0.88) (0.76)

N

iD -16.30***

(0.85)

T 0.10*** 0.05***

(0.01) (0.01)

B

iDT . -0.05*** -0.03**

(0.02) (0.01)

N

iDT . 0.11***

(0.02)

U

itD 1.79** 0.43

(0.85) (0.87)

N

i

U

it DD 5.47***

(1.15)

Constante -1.09* 6.66***

(0.62) (0.72)

AR(1) 0.77 0.71

Obs 3762 3762

No. Empresas 38 38

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Arrecadação e GIA-ICMS.

20

OBS 1: para cada variável dependente, apresentamos o coeficiente estimado, o erro-padrão (entre

parêntesis), e o nível de significância de 1% (***), 5% (**), e 10% (*).

OBS 2: Na equação (1), B

iD é uma dummy que indica se a empresa i é beneficiada ou não em algum mês

da amostra; N

iD é uma dummy que indica se a empresa i é nova, ou seja, estabeleceu-se no estado após

o programa ser instituído; T é uma variável de tendência mensal da arrecadação, que pode ser diferente

se a empresa é nova (N

iTD ) ou se é beneficiada (B

iTD ); U

itD é uma variável dummy que indica se a

empresa i beneficiada está usufruindo o benefício no tempo t, ou seja, capta o efeito do programa sobre a

arrecadação da empresa i. Define-se como recebendo o benefício a empresa que teve autorização de uso

aprovada e registrada em livro (RUDFTO). Permite-se a possibilidade do impacto do programa ser

diferente para empresas novas, o que é feito a partir da interação com a dummy que indica se a empresa

é nova. Por fim, Ln(PV) é a proporção de vendas interestaduais, utilizada como variável de controle.

OBS 3: AR(1) mostra o coeficiente do termo auto-regressivo de primeira ordem do resíduo. Ambas as

regressões apresentam correções para auto-correlação, correlação contemporânea e

heterocedasticidade. A primeira correção se aplica aos coeficientes e à variância dos estimadores

(Prais-Winsten regression). A correção para correlação contemporânea e heterocedasticidade se aplica

apenas a variância dos estimadores.

A segunda especificação testa a hipótese de comportamento diferente de firmas

novas e antigas, e particularmente, de impacto diferente do programa em cada grupo.

Como pode ser visto, o efeito positivo do programa sobre a arrecadação se deve

exclusivamente a firmas novas. O impacto do programa sobre firmas antigas não é

estatisticamente significante, embora seja positivo. Esse resultado mostra que pode não

ser uma melhor resposta de governos se engajar em reduções de alíquota quando a

proporção de empresas antigas é muito alta.

Os resultados para as demais variáveis são similares ao da primeira

especificação. Vale notar que, na média, a arrecadação de empresas novas é bem menor

do que a de empresas antigas, mas isso reflete o fato de a arrecadação destas ser nula ou

muito pequena boa parte do período.

VI. Impacto do Programa no Faturamento das Empresas: estimação com

dados longitudinais

Embora a arrecadação das empresas antigas não seja afetada pelo programa, será

que as vendas são influenciadas pela redução de alíquota do ICMS? As empresas pré-

estabelecidas podem aumentar as vendas internas, e adquirir escala para competir no

comércio interestadual? Empresas novas vêm para competir pelo consumo local, ou

vêm para fixar entreposto de comércio interestadual?

21

O Quadro 7 permite-nos conhecer o impacto do programa sobre as vendas

totais.21

O programa não afeta o faturamento das empresas beneficiadas como um todo.

Contudo, o faturamento das empresas novas aumenta substancialmente (estatisticamente

significante a 5%), ao passo que o das empresas antigas cai (mas o impacto não é

estatisticamente diferente de zero).

Quadro 7: Impacto do Programa no Faturamento das empresas - Dados

Longitudinais, Mínimos Quadrados Generalizados.

Ln(vendas) Agregando as

Beneficiadas

Separando as Novas

das Antigas

B

iD 3.03* 1.43

(1.78) (1.50)

N

iD -10.32***

(1.90)

T 0.14*** 0.11***

(0.02) (0.03)

B

iDT . 0.02 0.02

(0.04) (0.03)

N

iDT . 0.04

(0.03)

U

itD -1.81 -2.15

(2.23) (2.43)

N

i

U

it DD 5.04**

(2.47)

Constante -5.43*** -0.26

(1.22) (1.83)

AR(1) 0.70 0.64

21 Para o conjunto de regressões desta seção, não existe controle para a proporção de vendas interestaduais.

22

Obs 3762 3762

No. Empresas 38 38

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da GIA-ICMS.

OBS 1: para cada variável dependente, apresentamos o coeficiente estimado, o erro-padrão (entre

parêntesis), e o nível de significância de 1% (***), 5% (**), e 10% (*).

OBS 2: Na equação (1), B

iD é uma dummy que indica se a empresa i é beneficiada ou não em algum mês

da amostra; N

iD é uma dummy que indica se a empresa i é nova, ou seja, estabeleceu-se no estado após

o programa ser instituído; T é uma variável de tendência mensal da arrecadação, que pode ser diferente

se a empresa é nova (N

iTD ) ou se é beneficiada (B

iTD ); U

itD é uma variável dummy que indica se a

empresa i beneficiada está usufruindo o benefício no tempo t, ou seja, capta o efeito do programa sobre a

arrecadação da empresa i. Define-se como recebendo o benefício a empresa que teve autorização de uso

aprovada e registrada em livro (RUDFTO). Permite-se a possibilidade do impacto do programa ser

diferente para empresas novas, o que é feito a partir da interação com a dummy que indica se a empresa é nova.

OBS 3: AR(1) mostra o coeficiente do termo auto-regressivo de primeira ordem do resíduo. Ambas as

regressões apresentam correções para auto-correlação, correlação contemporânea e

heterocedasticidade. A primeira correção se aplica aos coeficientes e à variância dos estimadores

(Prais-Winsten regression). A correção para correlação contemporânea e heterocedasticidade se aplica

apenas a variância dos estimadores.

Os Quadros 8 e 9 separam as vendas internas das interestaduais. No Quadro 8,

vê-se que o programa não tem impacto nas vendas internas das empresas beneficiadas.

Particularmente, isso resulta da ausência de impacto tanto para empresas antigas quanto

para empresas novas (para empresas antigas, o programa chega a causar efeito negativo

sobre as vendas, embora não estatisticamente significante).

O Quadro 9 mostra que o programa o impacto no valor das vendas interestaduais

das empresas beneficiadas. Na especificação que supõe comportamento similar das

empresas novas e antigas, o programa não tem efeito sobre as vendas interestaduais.

Entretanto, quando observado o efeito separado, o programa tem impacto positivo

substancial sobre as vendas interestaduais de empresas novas, sem impacto do

faturamento das empresas antigas resultante de vendas para outros estados.

Possivelmente, empresas novas são atraídas para o estado como entreposto para

o comércio interestadual, em função do crédito presumido de 2% sobre compras e

vendas interestaduais. Empresas antigas, por sua vez, concentram operações no mercado

interno, e não mudam a estratégia de atuação por causa do crédito presumido. Por outro

lado, a redução de base de cálculo não afeta as vendas dessas empresas, e

consequentemente não afeta o recolhimento de ICMS. Como não temos dados de

quantidade vendida, mas apenas de venda nominal, é possível que esteja ocorrendo uma

23

queda de preços que permita um aumento das quantidades vendidas (com elasticidade

de demanda unitária), de forma a não alterar o faturamento. Ou simplesmente, pode não

haver qualquer efeito da redução de impostos sobre o preço, caso em que coincidiria

com uma demanda perfeitamente elástica por parte da firma (price-taker), e apenas

criação de renda por parte das firmas beneficiadas.

Quadro 8: Impacto do Programa nas Vendas dentro do estado - Dados

Longitudinais, Mínimos Quadrados Generalizados.

Ln(vendas

intra-estaduais)

Agregando as

Beneficiadas

Separando as Novas

das Antigas

B

iD 2.95* 1.39

(1.80) (1.48)

N

iD -10.17***

(1.85)

T 0.13*** 0.11***

(0.02) (0.03)

B

iDT . 0.03 0.02

(0.04) (0.03)

N

iDT . 0.05

(0.03)

U

itD -2.15 -2.17

(2.23) (2.44)

N

i

U

it DD 3.94

(2.44)

Constante -5.44*** -0.35

(1.19) (1.77)

AR(1) 0.71 0.65

Obs 3762 3762

No. Empresas 38 38

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da GIA-ICMS.

24

OBS 1: para cada variável dependente, apresentamos o coeficiente estimado, o erro-padrão (entre

parêntesis), e o nível de significância de 1% (***), 5% (**), e 10% (*).

OBS 2: Na equação (1), B

iD é uma dummy que indica se a empresa i é beneficiada ou não em algum mês

da amostra; N

iD é uma dummy que indica se a empresa i é nova, ou seja, estabeleceu-se no estado após

o programa ser instituído; T é uma variável de tendência mensal da arrecadação, que pode ser diferente

se a empresa é nova (N

iTD ) ou se é beneficiada (B

iTD ); U

itD é uma variável dummy que indica se a

empresa i beneficiada está usufruindo o benefício no tempo t, ou seja, capta o efeito do programa sobre a

arrecadação da empresa i. Define-se como recebendo o benefício a empresa que teve autorização de uso

aprovada e registrada em livro (RUDFTO). Permite-se a possibilidade do impacto do programa ser

diferente para empresas novas, o que é feito a partir da interação com a dummy que indica se a empresa

é nova.

OBS 3: AR(1) mostra o coeficiente do termo auto-regressivo de primeira ordem do resíduo. Ambas as

regressões apresentam correções para auto-correlação, correlação contemporânea e

heterocedasticidade. A primeira correção se aplica aos coeficientes e à variância dos estimadores

(Prais-Winsten regression). A correção para correlação contemporânea e heterocedasticidade se aplica

apenas a variância dos estimadores.

Quadro 9: Impacto do Programa nas Vendas para fora do estado - Dados

Longitudinais, Mínimos Quadrados Generalizados.

Ln(vendas

interestaduais)

Agregando as

Beneficiadas

Separando as Novas

das Antigas

B

iD 3.27** 2.41*

(1.69) (1.39)

N

iD -6.79***

(1.45)

T 0.10*** 0.10***

(0.02) (0.02)

B

iDT . 0.00 -0.02

(0.03) (0.03)

N

iDT . -0.01

(0.03)

U

itD -0.13 -1.98

(2.01) (2.19)

N

i

U

it DD 10.49***

(2.21)

25

Constante -5.89*** -2.47*

(0.97) (1.41)

AR(1) 0.70 0.63

Obs 3762 3762

No. Empresas 38 38

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da GIA-ICMS.

OBS 1: para cada variável dependente, apresentamos o coeficiente estimado, o erro-padrão (entre

parêntesis), e o nível de significância de 1% (***), 5% (**), e 10% (*).

OBS 2: Na equação (1), B

iD é uma dummy que indica se a empresa i é beneficiada ou não em algum mês

da amostra; N

iD é uma dummy que indica se a empresa i é nova, ou seja, estabeleceu-se no estado após

o programa ser instituído; T é uma variável de tendência mensal da arrecadação, que pode ser diferente

se a empresa é nova (N

iTD ) ou se é beneficiada (B

iTD ); U

itD é uma variável dummy que indica se a

empresa i beneficiada está usufruindo o benefício no tempo t, ou seja, capta o efeito do programa sobre a

arrecadação da empresa i. Define-se como recebendo o benefício a empresa que teve autorização de uso

aprovada e registrada em livro (RUDFTO). Permite-se a possibilidade do impacto do programa ser

diferente para empresas novas, o que é feito a partir da interação com a dummy que indica se a empresa

é nova.

OBS 3: AR(1) mostra o coeficiente do termo auto-regressivo de primeira ordem do resíduo. Ambas as

regressões apresentam correções para auto-correlação, correlação contemporânea e

heterocedasticidade. A primeira correção se aplica aos coeficientes e à variância dos estimadores

(Prais-Winsten regression). A correção para correlação contemporânea e heterocedasticidade se aplica

apenas a variância dos estimadores.

VII. Impacto no Emprego

Como a base de dados da RAIS é anual, temos um número de observações

insuficiente para sermos conclusivos a respeito do impacto do programa no emprego.

No entanto, pode-se a partir da análise de diferenças em diferenças, comparando o

grupo de tratamento com o grupo de controle, fazer uma análise, que contudo não tem o

grau de robustez das anteriores.

26

Figura 1 - Média de número de empregados nas empresas existentes e nas de

controle

Fonte: Elaboração própria a partir de Base de Dados da RAIS

As empresas que já operavam antes e que receberam o benefício não

contrataram mais do que as empresas similares não atendidas pelo programa. O

aumento médio do estoque de trabalhadores por firma no grupo do RIOLOG foi de 21%

entre 2004 e 2006. O grupo de atacadistas fora do RIOLOG aumentou o emprego em

23% (Figura 1). Especificamente, o emprego médio no grupo do RIOLOG cresce de

177 para 214 por empresa no período 2004/2006, enquanto cresce de 83 para 102 no

grupo que não recebe o programa. Esse resultado repete aquele encontrado por Ferreira

e Azevedo (2007), que concluiu que o incentivo não fez com que empresas beneficiadas

contratassem mais do que as do grupo de controle, incentivando por outro lado aumento

da rotatividade dessa mão de obra.22

Empresas novas empregam muito pouco. Uma empresa inclusive apresentou

zero empregado, o que se caracteriza ou como informalidade no mercado de trabalho ou

terceirização, ou porque meramente trata-se de uma caixa postal, e nesse caso a empresa

22 Outros estudos analisam impacto de programas de incentivo fiscal sobre a geração de empregos. Barreto et al (2006) analisam o impacto de programas de incentivo fiscal no Ceará, e não encontram impacto positivo no emprego. SILVA et al (2007) utiliza diferentes estimadores para avaliar o impacto do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste de firmas no emprego e no salário médio dos trabalhadores, encontrando efeito positivo sobre as empresas incentivadas.

27

não tem armazém próprio – o que implica no que a fiscalização chama de ―passeio de

nota fiscal‖, onde apenas a nota fiscal viaja, mas não a mercadoria.

VII. Conclusão

Esse artigo utiliza microdados de firmas da Secretaria de Estado da Fazenda do

Rio de Janeiro para avaliar respostas das empresas atacadistas a um programa de

incentivos fiscais.

No estudo são identificados dois grupos de empresas que apresentam

comportamento distinto cujo impacto do programa difere e ilustra a diferença de reação

das firmas aos incentivos dados. No agregado, o programa RIOLOG tem efeito positivo

sobre a arrecadação de ICMS das firmas. No entanto, esses efeitos os ganhos de

arrecadação estão concentrados nas firmas novas, sem apresentar efeito significativo

sobre as firmas antigas, que já estavam no estado antes do lançamento do programa. As

vendas das empresas não ser influenciada pelo programa, exceto para as empresas novas

que elevam as vendas para fora do estado. Por sua vez, não há evidencia de criação de

empregos.

A metodologia utilizada aqui pode ser facilmente replicada para outros estados,

e é um importante elemento para a avaliação de custo-benefício de programas de

incentivo fiscal.

O resultado encontrado de que firmas respondem de forma diferente à mudanças

de alíquota tem implicações sobre modelos de competição tributária horizontal que

geram equilíbrio de Nash simétricos. Especificamente, o resultado de ‗race to the

bottom‘ característico de tais modelos pode não ser verdadeiro se as condições iniciais

de cada estado forem diferentes.

BIBLIOGRAFIA

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das firmas. In: XXVI ENCONTRO BRASILEIRO DE ECONOMETRIA, 2004. Anais,

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WOOLDRIDGE, J. Econometric analysis of cross section and panel data. Cambridge:

MIT Press, 2001. 735 p.

ANEXO 1: Método de Construção de Variáveis da Seção 4:

Os dados originais da arrecadação mensal (ICMS + FECP) são usados para

indicar o momento de entrada de firmas no estado. Esses dados são utilizados para

29

calcular o valor arrecadado nos doze meses anteriores e posteriores à obtenção do

RUDFTO. Cabe ressaltar que a data do RUDFTO de cada empresa beneficiada varia

por empresa. Dessa forma temos:

Ai,t0(i) = Valor arrecadado pela empresa beneficiada i nos doze meses anteriores à

obtenção do RUDFTO. Data representada por t0(i),

Ai,t1(i) = Valor da arrecadado pela empresa beneficiada i nos doze meses

posteriores à obtenção do RUDFTO. Data representada por t1(i).

Para o grupo de controle calculou-se o agregado da arrecadação, ou seja,

calculou-se o valor arrecadado de todas as firmas do grupo. Esse valor foi calculado

para os mesmos períodos t0(i) e t1(i) descritos acima. Assim temos:

ACn,t0(i) = Valor arrecadado pela n-ésima empresa do grupo de controle nos

doze meses anteriores à obtenção do RUDFTO pela empresa i, data

representada por t0(i).

ACn,t1(i) = Valor arrecadado pela n-ésima empresa do grupo de controle nos

doze meses posteriores à obtenção do RUDFTO pela empresa i, data

representada por t1(i).

Onde (n = 1, ... , 28) indicando as vinte e oito empresas do grupo de controle.

O valor total arrecadado pelas empresas beneficiadas pelo RIOLOG antes e

depois do RUDFTO é dado por:

TAt0 = ∑ iЄ {A,...,J}Ai,t0(i) = (AA,t0(A) + AB,t0(B) + ... + AJ,t0(J)).

TAt1 = ∑iЄ{A,...,J}Ai,t1(i) = (AA,t1(A) + AB,t1(B) + ... + AJ,t1(J)).

O valor total arrecadado por um subconjunto das empresas beneficiadas (por exemplo:

empresas novas beneficiadas) é definido analogamente, selecionando-se apenas os

elementos do conjunto (A, B, ... , J) associados à essas empresas e somando-se as

arrecadações.

O valor total arrecadado pela n-ésima empresa não-beneficiada (grupo de

controle) antes e depois do RUDFTO é definido como:

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TACn,t0 = ∑iЄ{A,...,J}AC n,t0(i) = (AC n,t0(A) + AC n,t0(B) + ... + AC n,t0(J)).

TAC n,t1 = ∑iЄ{A,...,J}AC n,t1(i) = (AC n,t1(A) + AC n,t1(B) + ... + AC n,t1(J)).

O valor médio arrecadado pela n-ésima empresa do grupo de controle antes e

depois do RUDFTO é definido como:

MACn,t0 = ∑iЄ{A,...,J}AC n,t0(i) /10 = (AC n,t0(A) + AC n,t0(B) + ... + AC n,t0(J))/10

MACn,t1 = ∑iЄ{A,...,J}AC n,t1(i) /10 = (AC n,t1(A) + AC n,t1(B) + ... + AC n,t1(J))/10.

Nesse estudo, as taxas de variação entre os momentos t0(i) e t1(i) das variáveis

descritas acima são utilizadas para comparar a evolução da arrecadação das empresas

beneficiadas com a evolução do grupo de controle.

ANEXO 2:

Descrição dos CNAEs do Setor Atacadista

CNAE DESCRIÇÃO DOS CNAE’s

4633802 COMÉRCIO ATACADISTA DE AVES VIVAS E OVOS

4632001 COMÉRCIO ATACADISTA DE CEREAIS E LEGUMINOSAS BENEFICIADOS

4649408 COMÉRCIO ATACADISTA DE PRODUTOS DE HIGIENE, LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DOMICILIAR

4647801 COMÉRCIO ATACADISTA DE ARTIGOS DE ESCRITÓRIO E DE PAPELARIA

4644302 COMÉRCIO ATACADISTA DE MEDICAMENTOS E DROGAS DE USO VETERINÁRIO

4645101 COMÉRCIO ATACADISTA DE MÁQUINAS, APARELHOS E EQUIPAMENTOS PARA USO

ODONTO-MÉDICO-HOSPITALAR; PARTES E PEÇAS

4637104 COMÉRCIO ATACADISTA DE PÃES, BOLOS, BISCOITOS E SIMILARES

5211701 ARMAZÉNS GERAIS –EMISSÃO DE WARRANT

4646001 COMÉRCIO ATACADISTA DE COSMÉTICOS E PRODUTOS DE PERFUMARIA

4672900 COMÉRCIO ATACADISTA DE FERRAGENS E FERRAMENTAS

4633801 COMÉRCIO ATACADISTA DE FRUTAS, VERDURAS, RAÍZES, TUBÉRCULOS,

HORTALIÇAS E LEGUMES FRESCOS

4661300 COMÉRCIO ATACADISTA DE MÁQUINAS, APARELHOS E EQUIPAMENTOS PARA USO AGROPECUÁRIO; PARTES E PEÇAS

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4639701 COMÉRCIO ATACADISTA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS EM GERAL

4530701 COMÉRCIO POR ATACADO DE PEÇAS E ACESSÓRIOS NOVOS PARA VEÍCULOS AUTOMOTORES

4530703 COMÉRCIO A VAREJO DE PEÇAS E ACESSÓRIOS NOVOS PARA VEÍCULOS AUTOMOTORES

4644301 COMÉRCIO ATACADISTA DE MEDICAMENTOS E DROGAS DE USO HUMANO

4663000 COMÉRCIO ATACADISTA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA USO INDUSTRIAL;

PARTES E PEÇAS

4684299 COMÉRCIO ATACADISTA DE OUTROS PRODUTOS QUÍMICOS E PETROQUÍMICOS NÃO ESPECIFICADOS ANTERIORMENTE

4641901 COMÉRCIO ATACADISTA DE TECIDOS

4635402 COMÉRCIO ATACADISTA DE CERVEJA, CHOPE E REFRIGERANTE

4693100 COMÉRCIO ATACADISTA DE MERCADORIAS EM GERAL, SEM PREDOMINÂNCIA DE

ALIMENTOS OU DE INSUMOS AGROPECUÁRIOS

4643501 COMÉRCIO ATACADISTA DE CALÇADOS

4649401 COMÉRCIO ATACADISTA DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS DE USO PESSOAL E DOMÉSTICO

4649407 COMÉRCIO ATACADISTA DE FILMES, CDS, DVDS, FITAS E DISCOS

4637105 COMÉRCIO ATACADISTA DE MASSAS ALIMENTÍCIAS

4673700 COMÉRCIO ATACADISTA DE MATERIAL ELÉTRICO

4689301 COMÉRCIO ATACADISTA DE PRODUTOS DA EXTRAÇÃO MINERAL, EXCETO COMBUSTÍVEIS

4645102 COMÉRCIO ATACADISTA DE PRÓTESES E ARTIGOS DE ORTOPEDIA

4530701 COMÉRCIO POR ATACADO DE PEÇAS E ACESSÓRIOS NOVOS PARA VEÍCULOS AUTOMOTORES

4634601 COMÉRCIO ATACADISTA DE CARNES BOVINAS E SUÍNAS E DERIVADOS

4645101 COMÉRCIO ATACADISTA DE INSTRUMENTOS E MATERIAIS PARA USO MÉDICO, CIRÚRGICO, HOSPITALAR E DE LABORATÓRIOS

4637199 COMÉRCIO ATACADISTA ESPECIALIZADO EM OUTROS PRODUTOS ALIMENTÍCIOS NÃO ESPECIFICADOS ANTERIORMENTE

Fonte Elaboração própria com base na Arrecadação