avaliaÇÃo da viabilidade tÉcnica para geraÇÃo de energia eÓlica em altas altitudes: um estudo...

67
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA ENGENHARIA MECATRÔNICA (CONTROLE E AUTOMAÇÃO) LUCIANO CAVALCANTE SIEBERT AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL CURITIBA 2011

Upload: siebertluciano

Post on 29-Jul-2015

365 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Engenharia Mecatrônica (Controle e Automação), da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro. 1S/2011-------------------------------------------------Resumo: Em meio à crescente demanda energética mundial e os problemas relacionados às fontes de energia mais frequentemente utilizadas, surge a necessidade de uma nova abordagem para a geração de energia elétrica que diminua ao mesmo tempo os impactos ambientais e seja economicamente viável. Técnicas atuais levam em conta geração de energia eólica em altitudes entre 50 e 150 metros, mas altas altitudes, entre 300 a 1500 metros, oferecem correntes de ar muito mais constantes, fortes e confiáveis, com uma variação do potencial para geração de energia proporcional ao cubo da velocidade do vento. Esse trabalho tem como objetivo a concepção de um sistema de simulação computacional para avaliação da viabilidade técnica da geração de energia eólica em altas altitudes através de uma pipa em formato de parapente, presa ao chão por dois cabos. Será considerada a abordagem Pumping Cycle (ciclo de bombeamento) de geração de energia eólica aerotransportada, onde energia é obtida através da cíclica alternância entre duas fases de funcionamento, a de tração, onde a pipa se utiliza do vento para desenrolar os cabos de tambores acoplados a geradores elétricos, e a passiva, onde o cabo é enrolado através do consumo de uma pequena fração da energia gerada. Utilizando dados das propriedades do material, dimensões da pipa e dos cabos e ângulos de controle pré-definidos o sistema computacional implementado em MATLAB, através da modelagem matemática da dinâmica da pipa, fornecerá dados tais como a energia produzida e consumida em um determinado período. Os resultados, obtidos e analisados através de um estudo de caso, apontam a técnica como promissora.

TRANSCRIPT

Page 1: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

ENGENHARIA MECATRÔNICA (CONTROLE E AUTOMAÇÃO)

LUCIANO CAVALCANTE SIEBERT

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

CURITIBA

2011

Page 2: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

LUCIANO CAVALCANTE SIEBERT

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Graduação em Engenharia Mecatrônica

(Controle e Automação), da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná, como requisito

à obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Prof. Dr. Osiris Canciglieri Junior.

CURITIBA

2011

Page 3: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

LUCIANO CAVALCANTE SIEBERT

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Engenharia

Mecatrônica (Controle e Automação), da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como

requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro.

COMISSÃO AVALIADORA

_______________________________________________

Prof. Osiris Canciglieri Junior (PUCPR)

Orientador

_______________________________________________

Prof. Marcelo Rudek (PUCPR)

Avaliador

Curitiba, 21 de Maio de 2011

Page 4: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Nós não estamos limitados à altura de 200 pés.

Nós podemos estender, se necessário,

a utilização da força do vento até a altura das nuvens,

por meio de pipas.

John Adolphus Etzler, 1833.

Page 5: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

RESUMO

Em meio à crescente demanda energética mundial e os problemas relacionados às

fontes de energia mais frequentemente utilizadas, surge a necessidade de uma nova

abordagem para a geração de energia elétrica que diminua ao mesmo tempo os impactos

ambientais e seja economicamente viável. Técnicas atuais levam em conta geração de energia

eólica em altitudes entre 50 e 150 metros, mas altas altitudes, entre 300 a 1500 metros,

oferecem correntes de ar muito mais constantes, fortes e confiáveis, com uma variação do

potencial para geração de energia proporcional ao cubo da velocidade do vento. Esse trabalho

tem como objetivo a concepção de um sistema de simulação computacional para avaliação da

viabilidade técnica da geração de energia eólica em altas altitudes através de uma pipa em

formato de parapente, presa ao chão por dois cabos. Será considerada a abordagem Pumping

Cycle (ciclo de bombeamento) de geração de energia eólica aerotransportada, onde energia é

obtida através da cíclica alternância entre duas fases de funcionamento, a de tração, onde a

pipa se utiliza do vento para desenrolar os cabos de tambores acoplados a geradores elétricos,

e a passiva, onde o cabo é enrolado através do consumo de uma pequena fração da energia

gerada. Utilizando dados das propriedades do material, dimensões da pipa e dos cabos e

ângulos de controle pré-definidos o sistema computacional implementado em MATLAB,

através da modelagem matemática da dinâmica da pipa, fornecerá dados tais como a energia

produzida e consumida em um determinado período. Os resultados, obtidos e analisados

através de um estudo de caso, apontam a técnica como promissora.

Palavras-chave: energia renovável, energia eólica, ventos em altas altitudes, simulação

computacional, dinâmica de pipas.

Page 6: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

ABSTRACT

Amid the growing global energy demand and problems related to the most often used

energy sources, the need for a new approach to power generation that decreases

environmental damages and is economically feasible arises. Current techniques for wind

energy generation consider altitudes between 50 and 150 meters, but high altitudes, between

300 and 1500 meters, offer steadier, stronger and more reliable air currents, with the potential

for wind energy generation increasing proportionally with the cube of wind speed. This paper

aims to design a system simulation to assess the technical feasibility of wind power

generation at high altitudes using a paragliding-shaped kite, tethered to the ground by two

cables. The concept of wind energy generation called Pumping Cycle will be used, where

energy is obtained through the cyclic alternation between two phases of operation, the traction

phase, where the kite uses the wind to unwind the cable from the drums, that are coupled to

electrical generators, and the passive phase, where the wire is wound through the consumption

of a small fraction of the generated power. Using data on the material properties, dimensions

of kite and cables and pre-defined control angles, the MATLAB-based computer program

uses mathematical equations of the kite dynamics model to provide data such as energy

produced and consumed in a given period. The results, obtained and analyzed through case

study, show the technique as promising.

Keywords: renewable energy, wind energy, wind at high altitudes, computer simulation,

dynamics of kites.

Page 7: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Metodologia de pesquisa. ............................................................................. 15

Figura 2 - Geração de eletricidade, em TWh, por fonte no cenário referência das

projeções da IEA. ..................................................................................................................... 18

Figura 3 – Energia eólica no mundo - capacidade mundial instalada. ......................... 19

Figura 4 – Parque com aerogeradores convencionais. Praia de Canoa Quebrada,

Aracati (CE). ............................................................................................................................. 21

Figura 5 - Analogia entre uma turbina eólica convencional e uma turbina eólica

aerotransportada........................................................................................................................ 22

Figura 6 - Instituições envolvidas em projetos de energia eólica em altas altitudes .... 23

Figura 7 - Fotos sequenciais sobrepostas de um teste do protótipo da Makani Power.

.................................................................................................................................................. 25

Figura 8 - Protótipo M.A.R.S. da Magenn Power ........................................................ 25

Figura 9 – Abordagem da Joby Energy para AWE ...................................................... 26

Figura 10- Conceito de funcionamento do Laddermill ................................................. 27

Figura 11 - Abordagem Pumping Cycle, com fase de tração na linha verde sólida e

passiva na vermelha tracejada. ................................................................................................. 27

Figura 12 - Velocidade do vento do local A para altitudes de 750 e 110 metros no ano

de 2009. .................................................................................................................................... 31

Figura 13 - Velocidade do vento do local B para altitudes de 750 e 110 metros no ano

de 2009. .................................................................................................................................... 31

Figura 14 - Forças aerodinâmicas ................................................................................. 33

Figura 15 – Representação de um sistema em coordenadas esféricas .......................... 35

Figura 16 - Detalhamento da proposta conceitual a ser desenvolvida. ......................... 36

Figura 17 - Representação do sistema de coordenadas da pipa .................................... 38

Figura 18 - Ilutração do ângulo ψ ................................................................................. 41

Figura 19 - Definição do ângulo de ataque α ................................................................ 42

Figura 20 - Diagrama de funcionamento geral do programa ........................................ 44

Figura 21 – Método para obtenção dos vetores auxiliares de referência ...................... 46

Figura 22 – Diagrama para obtenção dos vetores auxiliares de referência .................. 47

Figura 23 - Aerofólio Clark-Y padrão .......................................................................... 48

Figura 24 – Variação dos coeficientes de arrasto e empuxo para o aerofólio Clark-Y 49

Page 8: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Figura 25 – Ângulo de controle (α) .............................................................................. 55

Figura 26 – Distância r e comprimento dos cabos 1 e 2 ............................................... 55

Figura 27 – Trajetória da pipa no sistema cartesiano 3D ............................................. 56

Figura 28 – Força resultante do sistema em coordenadas esféricas ............................. 57

Figura 29 – Detalhe da força resultante em coordenadas esféricas .............................. 57

Figura 30 – Detalhe da força resultante em coordenadas cartesianas .......................... 58

Figura 31 – Variação dos ângulos Theta e Phi, em graus ............................................. 58

Figura 32 – Potência instantânea para a fase ativa ....................................................... 59

Figura 33 – Detalhe da potência instantânea para a fase ativa ..................................... 60

Page 9: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro comparativo das abordagens para geração de AWE ...................... 24

Tabela 2 - Comparação entre os ventos em baixas e altas altitudes em duas

localidades. ............................................................................................................................... 32

Tabela 3 - Conversões entre coordenadas esféricas e cartesianas ................................ 35

Tabela 4- Variáveis utilizadas para estudo de caso ...................................................... 54

Page 10: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12

1.1. PROBLEMA ................................................................................................... 12

1.2. OBJETIVOS ................................................................................................... 12

1.3. JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 13

1.4. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................ 14

1.4.1. Metodologia Científica - Estudo de caso .............................................. 15

1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................... 16

2. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 17

2.1. CENÁRIO ENERGÉTICO ............................................................................. 17

2.2. ENERGIA EÓLICA ....................................................................................... 19

2.2.1. Energia eólica convencional .................................................................. 20

2.2.2. Energia eólica aerotransportada .......................................................... 22

2.3. ABORDAGEM ESCOLHIDA ....................................................................... 28

2.4. VENTOS EM ALTAS ALTITUDES ............................................................. 29

2.5. AERODINÂMICA ......................................................................................... 33

2.6. COORDENADAS ESFÉRICAS .................................................................... 34

3. PROPOSTA CONCEITUAL DE SIMULAÇÃO PARA ENERGIA

EÓLICA AEROTRANSPORTADA .................................................................................... 36

3.1. MODELAGEM MATEMÁTICA DO SISTEMA ......................................... 37

3.2. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL ............................................................. 42

3.2.1. Inputs do sistema .................................................................................... 45

3.2.2. Forças atuantes no sistema .................................................................... 50

3.2.3. Cálculo da nova posição da pipa ........................................................... 51

3.2.4. Critério de parada .................................................................................. 52

3.2.5. Disposição dos resultados ...................................................................... 52

Page 11: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

4. APLICAÇÃO DO SISTEMA PROPOSTO ATRAVÉS DE ESTUDO DE

CASO ............................................................................................................................ 54

4.1. ANÁLISE POSICIONAL E DE FORÇAS .................................................... 56

4.2. ANÁLISE ENERGÉTICA ............................................................................. 59

5. CONCLUSÕES ................................................................................................. 62

5.1. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................. 62

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 64

Page 12: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

12

1. INTRODUÇÃO

Em meio à crescente demanda energética mundial e os problemas relacionados às

fontes de energia mais frequentemente utilizadas, surge a necessidade de uma nova

abordagem para a geração de energia elétrica que diminua ao mesmo tempo os impactos

ambientais e seja economicamente viável.

Uma das alternativas estudadas é a geração de energia através dos ventos, técnica que

se encontra em ascensão, porém encontra diversas barreiras devido às grandes estruturas

necessárias quando da abordagem com torres. A energia eólica aerotransportada em altas

altitudes vem sendo pesquisada com o intuito de quebrar algumas dessas barreiras.

1.1. PROBLEMA

Sabe-se que a velocidade do vento aumenta conforme a altitude, e que o potencial para

geração de energia através do vento é proporcional ao cubo dessa velocidade. Técnicas atuais

levam em conta geração em altitudes entre 50 e 150 metros, mas altas altitudes, como de 300

a 1500 metros, oferecem correntes de ar muito mais constantes, fortes e confiáveis.

Para a geração de energia eólica, atualmente é necessário o uso de grandes torres e

geradores, tornando inviável a utilização de técnicas consolidadas atuais para explorar os

ventos em altas altitudes. Várias propostas foram feitas para solucionar o problema, porém

pouco consenso existe.

1.2. OBJETIVOS

Antes que um projeto possa ser dito viável, ou ao menos possível, uma avaliação

criteriosa das variáveis associadas ao projeto deve ser feita. Essa análise deve conter um bom

embasamento teórico, com referência a tecnologias existentes, possibilidade de simulações,

testes, bem como uma análise criteriosa dos resultados apresentados.

Esse trabalho tem como objetivo geral a concepção de um sistema de simulação

Page 13: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

13

computacional para avaliação da viabilidade técnica da geração de energia eólica em altas

altitudes através de pipas1. Essa abordagem de geração de energia é também conhecida como

energia eólica aerotransportada, da sigla em inglês AWE (Airborne Wind Energy).

Os objetivos específicos desse trabalho são:

a) Revisão das técnicas de geração de energia elétrica, com foco na energia

eólica, principalmente aerotransportada;

b) Estudo dos ventos em altitudes para geração de energia;

c) Estudo sobre a dinâmica de pipas;

d) Estudo sobre coordenadas esféricas;

e) Propor um conceito de um sistema computacional capaz de simular a geração

de energia eólica em altas altitudes com o uso de pipas;

f) Implementação do sistema proposto no item acima;

g) Análise dos resultados obtidos, através de estudo de caso.

1.3. JUSTIFICATIVA

As evidências do aquecimento global, a diminuição das reservas de combustíveis

fósseis e a crescente preocupação quanto à poluição emitida pelo ser humano levaram a um

acentuado desenvolvimento em diversos tipos de energias renováveis nas duas últimas

décadas.

Em comparação ao estado da arte da produção de energia eólica, uma abordagem em

altas altitudes com o uso de pipas implicaria em uma eficiência maior, diminuindo

significativamente o custo de implementação por unidade de energia. Embora a abordagem

tradicional para a geração de energia eólica também não contribua de maneira considerável

para a poluição do ar e o aquecimento global, essas turbinas produzem uma relevante quantia

de poluição sonora e visual, sofrem grande interferência do relevo e rugosidade aerodinâmica

do local e são creditadas como causadoras de mortes de pássaros. A abordagem para geração

de energia dos ventos através de pipas, em altas altitudes, diminuiria drasticamente as

desvantagens, enquanto manteria ou mesmo aperfeiçoaria as vantagens em relação a uma

turbina eólica convencional.

_______________ 1 Pipa no contexto deste trabalho é qualquer tipo de objeto voador ligado ao chão por um ou mais cabos,

porém não sustentado por eles.

Page 14: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

14

Um dos primeiros estudos sobre geração de energia eólica em altas altitudes foi

desenvolvido em 1980, por Miles L. Loyd, engenheiro eletrônico aposentado do Lawrence

Livermore National Laboratory na Califórnia, mas só atualmente esse conceito pode ser

completamente desenvolvido, por causa de avanços recentes em diversos campos da

engenharia tais como aerodinâmica, materiais, mecatrônica e controle.

1.4. METODOLOGIA DE PESQUISA

Nessa seção será apresentada a metodologia dessa pesquisa, que se divide em duas

grandes áreas: a revisão da literatura e o desenvolvimento da pesquisa. A primeira consiste na

pesquisa e estudo de diversos temas, que, quando unificados, fornecem o embasamento

teórico para o desenvolvimento do projeto. Inicialmente é importante um estudo mais

abrangente sobre técnicas de geração de energia existentes e as vantagens e desvantagens

associadas a elas. Após isso foi estudado o comportamento dos ventos em altitudes elevadas e

as pipas a serem utilizadas. Além disso foi também importante uma revisão criteriosa dos

fundamentos sobre coordenadas esféricas, sistema de coordenadas no qual será desenvolvido

a modelagem da pipa.

Na próxima fase do desenvolvimento do projeto o sistema proposto será

implementado e testado e uma avaliação será realizada através de estudo de caso. Essas

diversas fases do desenvolvimento do projeto são ilustradas na figura 1.

Page 15: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

15

Revisão da literatura

Energia eólica aerotransportada

Ventos em altitudes elevadas

Dinâmica de pipas

Coordenadas esféricas

Desenvolvimento

da pesquisa

Proposta conceitual de um sistema

computacional capaz de simular a geração de

energia eólica em altas altitudes com o uso de

pipas

Implementação do sistema proposto

Avaliação através de estudo de caso

Cenário Energético

Energia eólica convencional

Simulação computacional

Figura 1 - Metodologia de pesquisa.

Fonte: Autor.

1.4.1. Metodologia Científica - Estudo de caso

Para o cumprimento da metodologia de pesquisa proposta foi escolhido o estudo de

caso como abordagem metodológica. Segundo Yin (2005) um estudo de caso investiga um

fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os

limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, enfrentando uma

situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos

de dados. Como delineamento de pesquisa, indica princípios e regras a serem observados ao

longo de todo o processo de investigação. Mesmo sem apresentar a rigidez dos experimentos

e dos levantamentos, os estudos de caso envolvem as etapas de formulação e delimitação do

problema, da seleção da amostra, da determinação dos procedimentos para a coleta e análise

Page 16: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

16

de dados, bem como dos modelos para sua interpretação (GIL, 2009).

Foi escolhido o estudo de caso para o desenvolvimento desse trabalho por se tratar de

um tema muito atual, no qual os limites não estão claramente definidos, ou seja, se tentará

através de simulações encontrar relações de causa e efeito entre algumas das variáveis. O

estudo de caso apresenta ainda a compatibilidade com características do tema a ser pesquisado

como o grande número de variáveis de interesse das quais muitas não se tem acesso direto.

Sendo o estudo de caso uma investigação que não atinge resultados conclusivos e

incontestáveis, o que não tira o valor do estudo realizado, deixa a pesquisa aberta para futuras

ponderações e considerações adicionais.

1.5. ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente documento está organizado de acordo com a estrutura apresentada a seguir.

No capítulo 2 será realizada a revisão da literatura, com foco na geração de energia

eólica, destacadamente energia eólica aerotransportada. Além disso, será realizada uma breve

conceituação sobre aerodinâmica, coordenadas esféricas e também uma análise dos ventos em

altas altitudes.

O capítulo 3 contém a proposta para o sistema de simulação de energia eólica

aerotransportada. Nesse capítulo é detalhada a modelagem matemática do sistema, assim

como o funcionamento do programa elaborado.

O capítulo 4 apresenta a implementação do sistema proposto através de um estudo de

caso. Traz ainda considerações quanto às variáveis utilizadas e os resultados obtidos.

Por fim, o Capítulo 5 traz as considerações finais referentes ao desenvolvimento

proposto neste trabalho e indicações de trabalhos futuros.

Page 17: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

17

2. REVISÃO DA LITERATURA

Nesse capítulo serão apresentados alguns conceitos necessários para o

desenvolvimento e compreensão do projeto e o contexto onde ele se insere. Inicialmente serão

apresentadas considerações acerca da matriz energética atual, após isso conceitos de energia

eólica e seus métodos de obtenção. Serão expostos conceitos básicos de aerodinâmica,

coordenadas esféricas e séries históricas de vento em alta altitude serão analisadas.

2.1. CENÁRIO ENERGÉTICO

O consumo de energia é um dos principais indicadores do desenvolvimento

econômico e do nível de qualidade de vida de qualquer sociedade. Ele reflete tanto o ritmo de

atividade dos setores industrial, comercial e de serviços, quanto à capacidade da população

em adquirir bens e serviços tecnologicamente mais avançados, como automóveis, que

demandam combustíveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que exigem acesso à rede

elétrica e pressionam o consumo de energia elétrica (ANEEL, 2008).

A distribuição do consumo de energia no mundo não é igualitária, pois, por exemplo,

em 2006 os membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) 2

, que constituem aproximadamente 18% da população mundial, foram responsáveis

por 47,3% do total de 8084 milhões de toneladas equivalente de petróleo3 que foram

consumidas no mundo, enquanto a américa latina contribuiu com 5,1%, segundo a Agência

Internacional de Energia (IEA, 2009). Apesar dos países da OCDE serem os maiores

consumidores de energia, o crescimento da demanda futura se concentrará principalmente em

países não pertencentes à organização, por exemplo, China e Índia.

Na figura 2 é apresentada a situação energética mundial, tendo como base o ano de

2007, ano do escopo do último Outlook da IEA, e a projeção feita pela mesma entidade para o

ano de 2030, considerando poucas mudanças na legislação, políticas e medidas

_______________ 2 Os países da OCDE relacionados pela IEA (Agência Internacional de Energia) são: Austrália, Áustria,

Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia,

Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal,

República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. 3 A tonelada equivalente de petróleo (tep) é uma unidade de energia definida como o calor liberado na

combustão de uma tonelada de petróleo cru. A IEA define 1 tep como 41,868 GJ (Gigajoules).

Page 18: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

18

governamentais atuais. A energia eólica se enquadra no grupo “Outras renováveis”,

juntamente com energia solar, geotérmica, maremotriz, entre outras.

Figura 2 - Geração de eletricidade, em TWh, por fonte no cenário referência das projeções da IEA.

Fonte: IEA (2009).

A matriz energética retratada, atual e prevista, é constituída por fontes que apresentam

expressivos impactos ambientais, como é o caso do petróleo, do carvão, da energia nuclear, da

energia hidráulica proveniente de grandes reservatórios, etc. Segundo convenção da

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas (UNFCCC, 2007),

estimativas variam entre 1,8 e 4°C para o aumento da temperatura média em 2100. Mesmo

com um aumento entre 1 e 2,5°C o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

(IPCC, 2007) prevê consequências desastrosas.

O Brasil possui hoje uma capacidade de 110674 MW de geração de energia elétrica,

sendo 32870 MW acrescidos somente no período entre 1999 e 2007 (ANEEL, 2010).

Nesse contexto que surge o aumento do interesse mundial por fontes alternativas de

energia que sejam “limpas”, ou seja, são renováveis e causam um pequeno impacto ao meio

ambiente. Esse interesse é motivado por acordos tais como o protocolo de Quioto,

estabelecido em 1997 e posto em vigor em 2006, uma das principais iniciativas para a redução

das emissões de gases poluentes na atmosfera terrestre. A consciência da crescente demanda

energética, da futura escassez dos combustíveis fósseis e das evidências de ameaças

ambientais tem motivado os governos de diversos países a estimular políticas de suporte a

energias renováveis.

Page 19: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

19

2.2. ENERGIA EÓLICA

A energia eólica é a energia cinética do ar em movimento, que pode ser aproveitada

pelo homem para realizar trabalho útil. Foi inicialmente utilizada em sistemas de

bombeamento de água e moagens de grãos, sendo utilizada para geração de energia elétrica

somente no final do século XIX (TOLMASQUIN, 2003).

Iniciada na Europa com a Alemanha, Dinamarca e Holanda, a energia eólica

apresentou um rápido crescimento no cenário mundial a partir dos anos 1970, com o primeiro

choque do petróleo. A partir da década de 90 cada vez mais países em todo o mundo

utilizaram a energia eólica como um importante complemento da geração de energia elétrica,

de forma “limpa”, conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – Energia eólica no mundo - capacidade mundial instalada.

Fonte: NEW ENERGY (2002).

No Brasil, a geração eólica ocupa apenas 0,7% da capacidade total de geração de

energia elétrica, sendo todas através da abordagem consolidada, com torres. Porém através de

ações tais como o PROINFA (Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia), a

participação de energias “limpas” na matriz energética brasileira tende a crescer.

Um sistema eólico, tanto convencional quanto na forma que será abordada nesse

projeto (aerotransportada), pode ser utilizado em três aplicações distintas: sistemas isolados,

Page 20: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

20

sistemas híbridos e sistemas interligados à rede. O primeiro, geralmente de pequeno porte,

utiliza algum tipo de armazenamento de energia, seja através de baterias ou na forma de

energia gravitacional para posterior geração de energia hidrelétrica. Os sistemas híbridos

apresentam mais de uma fonte de geração de energia, como turbinas eólicas, geradores diesel,

painéis fotovoltaicos entre outros, necessitando de um sistema complexo para gerenciamento

das fontes que obtenha uma maior eficiência da rede. Os sistemas interligados à rede

direcionam toda sua energia gerada para a rede elétrica de distribuição.

Conforme estudo relativamente recente (ARCHER, 2005), a energia eólica tem o

potencial de suprir a necessidade energética do mundo, usando somente 20% das áreas

globais com potencial eólico classe 3, isto é, com velocidade média dos ventos maior que 6,9

m/s em uma altura de 80 metros.

2.2.1. Energia eólica convencional

Um sistema eólico convencional, ou seja, através de torres, é constituído pelos

seguintes componentes (TOLMASQUIN, 2003):

a) Rotor: Responsável por transformar a energia cinética do vento em energia

mecânica através da rotação do eixo;

b) Transmissão / Caixa Multiplicadora: Responsável por transmitir a energia

mecânica entregue pelo eixo do rotor até o gerador, não existindo em algumas

configurações;

c) Gerador elétrico: Responsável pela conversão da energia mecânica em

energia elétrica;

d) Mecanismo de controle e orientação: Responsável pela orientação do rotor,

controle de velocidade, controle de carga, etc.;

e) Torre: Responsável por sustentar e posicionar o rotor na altura conveniente.

Uma representação do sistema acima descrito pode ser vista na figura 4.

Page 21: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

21

Figura 4 – Parque com aerogeradores convencionais. Praia de Canoa Quebrada, Aracati (CE).

Quanto à posição do eixo, as turbinas eólicas convencionais podem ser classificadas

em eixo vertical e eixo horizontal, sendo o eixo horizontal a tecnologia dominante. São ainda

classificadas através da quantidade e da disposição das pás em relação à incidência do vento,

sendo denominadas downwind as turbinas para as quais o fluxo do ar atinge a torre e

posteriormente as pás, e upwind, quando se considera o vento soprando no sentido oposto. Os

geradores eólicos se enquadram em dois grandes grupos, com velocidade fixa (geradores

síncronos) e com velocidade variável (geradores síncronos ou assíncronos).

A energia eólica com torres apresenta, como toda tecnologia de produção de energia,

algumas características desfavoráveis dentre elas o impacto visual, ruído audível, interferência

eletromagnética, ofuscamento e danos à fauna (TOLMASQUIN, 2003). A energia eólica

aerotransportada poderia reduzir e eliminar alguns dos impactos acima citados.

Segundo Tresher (2007), nenhum desenvolvimento de componentes em custo ou

eficiência pode resultar em redução de custos significativa na presente tecnologia eólica, em

outras palavras, afirma que todos os avanços nos componentes, acumulados, não trarão mais

do que 30 a 40% de redução no alto custo de uma turbina eólica até 2017.

Page 22: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

22

2.2.2. Energia eólica aerotransportada

A energia eólica aerotransportada (também conhecida pela sigla AWE, do inglês,

Airborne Wind Energy) utiliza pipas, que são objetos voadores aerodinamicamente eficientes

ligados ao chão por um ou mais cabos, para extrair energia do vento em altitudes mais

elevadas do que comparada ao estado-da-arte. Loyd (1980) forneceu a base para o estudo de

pipas que produzem energia enquanto voam em altas velocidades, de modo transversal ao

vento, analogamente às pás de uma turbina eólica convencional, conforme figura 5. O

empuxo produzido em tais velocidades é suficiente para sustentar a pipa e produzir energia.

Figura 5 - Analogia entre uma turbina eólica convencional e uma turbina eólica aerotransportada

Fonte: http://asta.fs.tum.de/asta/referate/umweltreferat/ringvorlesung-umwelt/archiv/wintersemester-2009-

10/rivo_diehl_flugdrachen_ws200910.pdf, adaptado.

Em turbinas com torres, aproximadamente 20% da parte mais externa das pás

contribuem com 80% da energia gerada. A razão principal é que a velocidade tangencial das

pás é maior nas partes externas, além de a energia produzida ser proporcional ao cubo da

velocidade do vento efetiva. Para a energia eólica aerotransportada, toda a parte volumosa de

uma torre eólica é “removida”, deixando somente a parte externa das pás, que são

“substituídas” por uma pipa voando em direção transversal ao vento, conectada ao chão por

cabos (FAGIANO, 2009). Um controle extremamente eficiente é necessário para manter a

Page 23: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

23

pipa, sobre condições adversas, dentro de uma trajetória estabelecida, visando uma maior

geração de energia elétrica. A posição dos geradores varia conforme a abordagem escolhida,

podendo ser encontrados acoplados à pipa ou fixos ao chão.

A geração de energia eólica em altas altitudes vem crescendo significativamente em

termos de número de pesquisas, tanto por universidades quanto por empresas, sendo a maior

parte delas desenvolvidas em países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, Itália,

Inglaterra, Alemanha e Reino Unido. Na figura 6 pode-se observar o número aproximado de

instituições envolvidas em projetos com energia eólica em altas altitudes, incluindo projetos

de auxílio de arrasto de barcos (FUREY, 2010):

Figura 6 - Instituições envolvidas em projetos de energia eólica em altas altitudes

Fonte: http://kiteenergy.blogspot.com/search?updated-max=2010-01-31T05:38:00-08:00&max-results=7

2.2.2.1. Abordagens propostas na literatura

Loyd (1980) apresenta duas principais configurações para a geração de energia eólica

em altas altitudes, as quais ele descreveu como modos de empuxo (Lift) e arrasto (Drag), nos

quais o(s) gerador(es) se encontra(m), respectivamente, no solo e acoplado(s) à aeronave.

Usualmente, são utilizadas pipas flexíveis quando os geradores se encontram no solo e

rígidas quando acoplados. Porém, isso não é uma regra, como mostra o protótipo da empresa

Ampyx Power, o “PowerPlane”, que ao utilizar o modo Lift possui uma pipa com estrutura

Page 24: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

24

rígida (AMPYX POWER, 2010). Mesmo que um modelo possua muitas características de um

avião ou aeromodelo, o termo pipa continuará a ser utilizado nesse trabalho por causa do cabo

que o prende ao chão. Na tabela a seguir são apresentadas comparações entre as abordagens:

Tabela 1 - Quadro comparativo das abordagens para geração de AWE

Estrutura flexível com gerador no solo Estrutura rígida com geradores acoplados à pipa

Mais leve Mais pesado

Custo relativamente baixo Custo relativamente alto

Sub-atuado Excelente possibilidade de controle

Possível reduzir o tamanho para transporte Não é possível reduzir o tamanho para o transporte

Cabos não precisam transmitir energia Cabos precisam transmitir energia

Fonte: Furey (2010).

Diversas empresas e universidades pelo mundo todo vêm desenvolvendo projetos

relacionados à geração de energia eólica em altas altitudes. Entre as pesquisas existe grande

heterogeneidade quanto à abordagem escolhida, recursos disponíveis e intenções finais. Todos

ainda se encontram na fase de pesquisa, simulação, construção de protótipos ou testes.

A empresa Makani Power, por exemplo, que conta com incentivos financeiros da

empresa Google (15 milhões de dólares entre 2006 e 2010) e da ARPA-E (Agencia De

Projetos De Pesquisa Avançados – Energia, com 5 milhões de dólares em 2010), desenvolve

atualmente a técnica de geração de energia eólica com geradores acoplados e estrutura rígida.

Essa empresa com sede em Alameda, California, desenvolveu no início de 2010 um

protótipo de 10 kW, que utiliza seis motores/geradores acoplados à sua estrutura, utilizados

como motores para a decolagem da estrutura e como geradores quando se encontra em loop

automático de geração de energia, com trajetória circular idêntico à ponta da pá de uma

turbina eólica convencional. Afirmam que com a extrapolação de seu protótipo para uma

capacidade de 1 MW, ele possuiria a mesma potência média de uma turbina eólica com torre

de capacidade de 2 MW, isto é, 600 kW (MAKANI POWER INC., 2010).

Page 25: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

25

Figura 7 - Fotos sequenciais sobrepostas de

um teste do protótipo da Makani Power.

Fonte: http://www.makanipower.com/company/gallery/

A empresa canadenese Magenn Power utiliza, assim como a Makani Power, o modo

Drag de geração de energia com os gerados acoplados ao protótipo e cabos transmissores de

energia (fibras de alta tenacidade e condutores de cobre). Utiliza como pipa um balão

preenchido de Hélio, baseado na tecnologia de dirigíveis mais leves que o ar. Velas fixas na

superfície do balão fornecem o torque necessário para a rotação do balão e consequente giro

do rotor. Pretendem fornecer seus produtos à aplicações de micro-grids em nações em

desenvolvimento, onde a infraestrutura é pouca ou inexistente (WILKINS, 2008).

Figura 8 - Protótipo M.A.R.S. da Magenn Power

Fonte: http://www.magenn.com/

Page 26: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

26

Outra empresa com bastante destaque nesse novo cenário da geração de energia eólica

em altas altitudes é a também californiana Joby Energy, que desenvolve uma variação de

giroplano que possui duas colunas de geradores/motores acoplados à estrutura, produzindo

energia e mantendo o sistema em voo, realizando uma trajetória elíptica. Energia é transmitida

para o chão através de cabos de fibras de alta tensão e condutores isolados de alumínio com

tensões de transmissão de 15 kV ou mais. A decolagem é feita verticalmente, com os motores

recebendo energia de sistemas de armazenamento ou da rede. A figura 9 apresenta uma

concepção artística do modelo (JOBY ENERGY, 2010).

Figura 9 – Abordagem da Joby Energy para AWE

Fonte: http://www.jobyenergy.com/news

Entre as abordagens com geradores no solo, duas se destacam: Laddermill (Moinho

tipo Escada) e Pumping Cycle (Ciclo de Bombeamento). A primeira vem sendo desenvolvida

principalmente pela Universidade de Delft (Países Baixos) e RMIT (Royal Melbourne

Institute of Technology - Austrálica). A abordagem Laddermill consiste em várias pipas em

movimentos ascendentes e descentes em um grande loop, produzindo um movimento circular

que movimenta o gerador. Supostamente pode atingir 9 km de altitude, o que geraria uma

potência de 100MW (LANSDORP, 2006). O modo de funcionamento dessa técnica é exposto

na figura 10.

Page 27: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

27

Figura 10- Conceito de funcionamento do Laddermill

Fonte: Lansdorp (2006), adptado.

Na abordagem Pumping Cycle (Ciclo de Bombeamento) dois cabos são enrolados em

tambores, e esses conectados a geradores fixos no solo, como mostra a figura 11. Energia é

obtida através da cíclica alternância entre duas fases de funcionamento, a de tração, onde a

pipa se utiliza do vento para desenrolar os cabos, gerando energia elétrica, e a passiva, onde o

cabo é desenrolado através do consumo de uma pequena fração da energia gerada.

(FAGIANO, 2009).

Figura 11 - Abordagem Pumping Cycle, com fase de tração na linha verde sólida e passiva na vermelha

tracejada.

Fonte: Fagiano (2009), adaptado.

Page 28: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

28

Diversas outras configurações, tais como várias pipas que formam um grande

carrossel, parapentes utilizados juntamente com balões para aumentar a sustentação e geração

de energia eólica em altas altitudes e solar simultaneamente estão sendo desenvolvidas, porém

as acima descritas foram consideradas mais relevantes, visando a exposição de um cenário

geral das alternativas existentes.

2.3. ABORDAGEM ESCOLHIDA

A abordagem que será utilizada como base para esse trabalho é a Pumping Cycle

(Ciclo de Bombeamento), que vem sendo desenvolvida atualmente em projetos de pesquisa e

desenvolvimento na universidade católica de Leuven (Bélgica), universidade de Delft (países

baixos), Politécnico de Torino (Itália), Politécnico de Worchester (Inglaterra), entre outras

instituições.

Utiliza-se de pipas similares às usadas no kitesurf 4 ou kiteboarding. O controle dessas

pipas é feita através de uma unidade automática de controle, capaz de puxar os cabos

convenientemente para que a pipa realize um trajeto apropriado para a geração de energia

elétrica.

A energia é coletada no solo por meio de mecanismos rotativos e geradores elétricos

onde os dois cabos encontram-se presos à pipa e enrolados em dois tambores. O desenrolar

dos cabos aciona o gerador elétrico acoplado. Quando os cabos devem ser enrolados de volta

no tambor, os geradores funcionam como motores. Esses cabos tem que ser fortes o suficiente

para suportar altas forças de tração, e, ao mesmo tempo, tem que ser leves e possuir um

diâmetro consideravelmente pequeno, limitando seu peso e arrasto aerodinâmico. Fibras

sintéticas de UHMW (Ultra High Molecular Weight Polyethylene ou, em português,

Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular) dos fabricantes Dyneema e Spectra, por exemplo,

satisfariam os requisitos.

Alternando entre duas fases, a de tração e a passiva, a pipa se utiliza dos ventos constantes

e mais fortes em altas altitudes para gerar energia. Na fase de tração a pipa percorre o trajeto

aproximado de uma lemniscata de Bernoulli (um “oito deitado”, símbolo do infinito – ∞),

voando rapidamente, de maneira perpendicular ao vento e simultaneamente aumentado sua

_______________ 4 Esporte aquático que consiste em se deslocar sobre uma prancha, com tração do vento proveniente da

pipa, similar a um parapente, a que o praticante está preso pela cintura.

Page 29: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

29

altitude, através do desenrolamento dos cabos. Quando a pipa atinge a altitude máxima

escolhida, a fase passiva inicia, onde a pipa é controlada de maneira que gere pouco empuxo,

e assim o cabo seja enrolado no tambor gastando uma fração da energia gerada (menos de

20%), através de motores no solo. A fase passiva pode ser executada de duas maneiras:

a) Manobra de baixa potência - Consiste em levar a pipa para um local onde seu

empuxo aerodinâmico diminua significativamente e o cabo possa ser recolhido

com um baixo gasto energético;

b) Manobra de deslize de asa - Consiste em deixar os cabos com uma grande

diferença de comprimento, fazendo a pipa diminuir seu empuxo aerodinâmico.

Para que a pipa percorra esse trajeto de máxima produção de energia descrito acima, um

sistema eficiente para controle da pipa é necessário, que seja capaz de eliminar os efeitos de

rajadas de vento, entre outras perturbações, mantendo a pipa dentro de um cubo imaginário de

atuação, conforme visto na figura 11. O voo da pipa é rastreado e controlado usando

instrumentação sem fio on-board (sensores de posição – GPS, medidores da velocidade e

direção do vento, etc.) assim como sensores no solo para medir a energia produzida, a tração e

velocidade dos cabos, direção e velocidade dos ventos, entre outros. Tais variáveis são então

utilizadas como feedback do sistema.

O trabalho realizado pela universidade de Delft utiliza em seu protótipo atuadores lineares

com comando wireless colocados nas laterais da pipa, permitindo a mudança do ângulo de

ataque da pipa e, conseqüentemente, as características aerodinâmicas do sistema. Permite um

controle mais eficiente, porém eleva bastante a complexidade e diminui a confiabilidade do

sistema.

Existem diversos sistemas para decolagem propostos como, por exemplo, a utilização de

grandes ventiladores para realizar o início do levantamento da pipa, que após encontrar uma

determinada velocidade do vento continuaria o processo sem a necessidade dos ventiladores.

(FAGIANO, 2009)

2.4. VENTOS EM ALTAS ALTITUDES

A forma esférica, a rotação da terra, os diversos níveis de radiação solar que atinge

diferentes lugares da terra, entre vários outros fatores, causam diferenças de pressão em

grande escala, e consequentemente, a movimentação de massas de ar (QUASCHNING,

Page 30: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

30

2007). A densidade de potência existente no vento, expressa em 𝑔 𝑠3⁄ , é dada pela seguinte

expressão (LLOYD, 1980):

𝑃𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 =

1

2 𝜌𝑎𝑟 𝑣𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜

3

(1)

Sendo 𝜌𝑎𝑟 a densidade do ar, em 𝑔 3⁄ , 𝑣𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜, em 𝑠⁄ , a velocidade do vento para

uma determinada condição e 𝑃𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 a potência existente no vento. Percebe-se a forte relação

entre a velocidade do vento e a potência energética existente no mesmo, pois, se dobramos a

velocidade do vento, teremos um aumento de oito vezes na potência, considerando a mesma

densidade do ar.

A forma do terreno afeta bastante o vento em baixas altitudes, porém a partir de uma

altura aproximada de 1000 metros encontramos o vento geostrófico, um vento horizontal, não

acelerado, que sopra ao longo de trajetórias retilíneas (QUASCHNING, 2007).

Pode se encontrar disponível on-line uma série histórica de dados atmosféricos

(KALNAY et al ,1996 ; O’GAIRBHITH, 2010), através do banco de dados da NCEP /NCAR,

centros norte-americanos para predição ambiental e de pesquisa atmosférica, respectivamente.

Essa série apresenta análises do vento e temperatura com uma resolução de grid de 208 km,

através de dados de balões meteorológicos, observações da superfície, navios, aeronaves e

satélites dos últimos 40 anos. Visando uma análise com dados reais de velocidade foram

utilizados dados da velocidade dos ventos nas pressões de 1000 hPa e 925 hPa, o que, através

de aproximações da equação abaixo, corresponde às alturas aproximadas de 110 e 750 metros,

respectivamente (JENSEN ,1990):

𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 [𝑕𝑃𝑎] = 1013 (

288 − 0,0065 𝑕

288)5,257

(2)

Duas localidades foram consideradas para análise, o local A, que se encontra na

latitude 25° sul e longitude 50° oeste, perto da cidade de Ponta Grossa, no estado do Paraná ,

e o local B, que se encontra na latitude 3° sul e longitude 39° Oeste, perto da cidade de

Fortaleza, no estado do Ceará. Para ambas as localidades foram analisadas séries históricas

referentes às alturas de 750 e 110 metros do ano de 2009, a fim de comparação entre a

abordagem convencional e aerotransportada da geração de energia eólica, como se pode ver

nas figuras 12 e 13.

Page 31: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

31

Figura 12 - Velocidade do vento do local A para altitudes de 750 e 110 metros no ano de 2009.

Figura 13 - Velocidade do vento do local B para altitudes de 750 e 110 metros no ano de 2009.

Com a mudança de altitude ocorre também uma mudança na densidade do ar,

conforme a expressão a seguir:

𝜌 =−54295,730 (1 −

0,0065 𝑕288,15

)5,257

𝑕 − 44330,769

(3)

Page 32: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

32

Sendo “𝜌” a densidade do ar em 𝑔 3 e 𝑕 a altitude desejada, em metros. As outras

constantes da equação já se encontram definidas, tais como temperatura inicial e constante

universal dos gases.

A tabela 2 apresenta os valores das velocidades médias dos ventos nos dois locais,

assim como o aumento da potência relativa às diferentes altitudes, sendo a densidade do ar

1,21 𝑔 3 para 110 metros de altura e 1,14 𝑔 3 para 750 metros de altura, conforme a

equação 3.

Tabela 2 - Comparação entre os ventos em baixas e altas altitudes em duas localidades.

Velocidade média do

vento a 110 metros

Velocidade média do

vento a 750 metros

Aumento da potência do vento

em 750 metros quando

comparado a 110

Local A 2,74 (m/s) 6,17 (m/s) 10,76 vezes maior

Local B 4,42 (m/s) 9,30 (m/s) 8,78 vezes maior

Fonte:Autor.

A energia eólica, assim como várias outras fontes de energia limpa, tem como um de

seus problemas a intermitência, pois, embora em altas altitudes os ventos sejam mais fortes e

frequentes, eles variam bastante em relação ao tempo. Logo, o sistema não estará sempre apto

a gerar a capacidade máxima projetada de energia elétrica. Segundo estudos de Fagiano

(2009), o fator de capacidade, ou seja, a razão entre a produção de energia nominal e a

produção de energia teórica (máxima) a ser gerada em condições ótimas, analisado em cinco

diferente localidades da Itália, resultaram em um fator de capacidade médio de 50,2% para

um protótipo de energia eólica aerotransportada em configuração pumping cycle com

capacidade de 2 MW. A abordagem de energia eólica com torres, por sua vez, apresentou

como média dos fatores de capacidade dos mesmos cinco locais, 23,12%.

Se considerarmos uma fator de capacidade ou utilização anual de 50%, ou seja, que

energia elétrica só seria efetivamente produzida em metade do período do ano. E

considerando que essa metade utilizada para a produção de energia reflita aos dias com maior

vento médio medido, a media de velocidade desse período seria de 12,12578 m/s para o local

B, o que reflete a velocidade utilizada como base para a simulação que será apresentada.

Page 33: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

33

2.5. AERODINÂMICA

A aerodinâmica é o estudo do movimento de fluidos gasosos, relativo às suas

propriedades e características, e às forças em corpos sólidos neles imersos. As propriedades

típicas, calculadas para um campo de fluxo incluem velocidade, pressão, densidade e

temperatura em função da posição e do tempo. Ao definir um volume de controle ao redor do

campo de fluxo, as equações de conservação de massa, momento e energia podem ser

definidas e utilizadas para encontrar valores das propriedades (ANDERSON, 2001).

Existem basicamente quatro forças que são consideradas permanentes na

aerodinâmica:

a) Peso: Força sempre dirigida para o centro da terra e diretamente ligada à força

da gravidade;

b) Sustentação: A sustentação é uma força aerodinâmica que compensa a força

peso, e é perpendicular à direção do escoamento incidente (vento) e gerada

pelo movimento do objeto através do ar;

c) Arrasto: Força ligada a resistência que o ar apresenta à passagem do objeto,

tem seu sentido sempre oposto ao do voo;

d) Empuxo: É a força direcionada no sentido do movimento do avião que o

“empurra” para frente.

Figura 14 - Forças aerodinâmicas

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/78/Lift-force-pt.svg/350px-Lift-force-

pt.svg.png

Page 34: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

34

O coeficiente de empuxo é um coeficiente adimensional que relaciona o empuxo

gerado por um corpo aerodinâmico (uma pipa, parapente, aerofólio, asa, etc.) com a pressão

dinâmica do fluido ao redor do mesmo. O coeficiente de arrasto, por sua vez, quantifica o

arrasto ou resistência que um objeto sofre em um fluído. Os coeficientes de arrasto e empuxo

influenciam diretamente as forças aerodinâmicas e variam de acordo com o ângulo de ataque

e o formato do aerofólio utilizado.

2.6. COORDENADAS ESFÉRICAS

O Sistema esférico de coordenadas é um sistema de referenciamento que permite a

localização de um ponto qualquer em um espaço de formato esférico através de um conjunto

de três valores, chamados de coordenadas esféricas. Sendo “P” um ponto qualquer do espaço

tridimensional, esse ponto pode ser definido através de (VENTURI, 1949):

a) “r” - distância polar ou raio vetorial de “P”, ou seja, a distância linear do ponto

à origem;

b) “θ” – a colatitude de “P”, ou seja, a medida do ângulo que o eixo Z forma com

a reta entre a origem “O” e o ponto “P”;

c) “ϕ” – a longitude ou azimute de P, ou seja, a medida do ângulo que o plano α

formado com os vetores cartesianos x e z formam com o plano β formado com

os vetores cartesianos y e z.

Esse sistema de coordenadas será utilizado no trabalho, pois possibilita uma melhor

compreensão do movimento que a pipa deverá realizar (similar a uma lemniscata de

Bernoulli).

Na figura 15 pode-se visualizar um sistema de coordenadas esférico.

Page 35: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

35

Figura 15 – Representação de um sistema em coordenadas esféricas

Fonte: Venturi (1949)

As coordenadas esféricas podem ser convertidas para coordenadas cartesianas e vice-

versa através das expressões descritas na tabela 3 abaixo:

Tabela 3 - Conversões entre coordenadas esféricas e cartesianas

Esférica → Cartesiana Cartesiana → Esférica

𝑥 = 𝑟 sen 𝜃 cos 𝜙 𝑟 = √𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2

𝑦 = 𝑟 sen 𝜃 sen𝜙 𝜃 = arccos ( 𝑧

𝑟 )

𝑧 = 𝑟 cos 𝜃 𝜙 = arctan ( 𝑦

𝑥 )

Fonte:Venturi (1949).

Atendendo as seguintes restrições:

∞ > 𝑟 ≥ 0

(4)

0 ≤ 𝜃 ≤ 𝜋

(5)

0 ≤ ∅ ≤ 2𝜋

(6)

Page 36: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

36

3. PROPOSTA CONCEITUAL DE SIMULAÇÃO PARA ENERGIA EÓLICA

AEROTRANSPORTADA

Este capítulo descreve a proposta conceitual da simulação a ser desenvolvida, que foi

apresentada no capítulo 1.4, “Metodologia de Pesquisa”. Essa etapa consiste na primeira ação

da etapa “desenvolvimento da pesquisa”, que pode ser visto na figura 1, apresentada no

referido capítulo.

Essa proposta conceitual trata de um sistema de simulação, ou seja, um sistema

computacional capaz de simular a geração da energia eólica em altas altitudes com o uso de

pipas, como exposto na figura 16.

Proposta conceitual de um sistema

computacional capaz de simular a geração de

energia eólica em altas altitudes com o uso de

pipas

Inputs:

Velocidade do vento

Área e formato da pipa

Cabos utilizados

Variação do ângulo de controle no

tempo

Eficiência da conversão de energia

Fator de capacidade

Demais restrições

Sistema de simulação:

Modelo da pipa

Dinâmica desejada

Resultados:

Energia gerada

Energia consumida

Velocidade do cabo

Trações no cabo

A

B

C

Figura 16 - Detalhamento da proposta conceitual

a ser desenvolvida.

Fonte: Autor.

Page 37: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

37

3.1. MODELAGEM MATEMÁTICA DO SISTEMA

Para o desenvolvimento da simulação computacional para análise da viabilidade

técnica do sistema proposto, primeiramente é necessário obter a modelagem da pipa a ser

utilizada, restringida pelos cabos, e sob a ação do vento. O modelo da pipa pode ser obtido

tanto pela análise de referências e saídas da pipa, quanto pela dedução das equações

matemáticas que regem o comportamento da mesma. Loyd (1980) desenvolveu equações

simples que regem o modelo de uma pipa, porém não levando em conta aspectos tais como o

peso da pipa e características do cabo tais como o empuxo produzido pelo mesmo, porém

essas restrições são extremamente úteis para compreender os princípios básicos e variáveis

que envolvem o sistema.

Diehl (2001) realizou uma modelagem mais detalhada de uma pipa voando uma

trajetória de um oito, visando assim provar a aplicabilidade da otimização em tempo real do

controle de sistemas não lineares em larga escala. No sistema proposto por Diehl (2001) foi

utilizado o controle preditivo baseado em modelos não-lineares (NMPC – Nonlinear Model

Preditive Control), uma estratégia de controle que através de modelos não-lineares, obtém

predições do comportamento do sistema dentro de um horizonte futuro, minimizando assim

um função objetiva para as entradas futuras de controle (FINDEISEN, 2002).

O modelo de Diehl (2001), que está disponível on-line através do site da Universidade

Católica de Leuven, centro de otimização em engenharia (OPTEC), apesar de não considerar

variações no comprimento dos cabos que ligam a pipa ao solo, será utilizado como referência

para o desenvolvimento do modelo para análise da geração de energia eólica em altas

altitudes do presente trabalho. Esse modelo, que é não linear, assim como o controle

utilizando visando uma aplicação real foram também considerados e desenvolvidos em

Houska (2007) e Fagiano (2009).

Por causa da dificuldade da obtenção dos dados de referências e saídas de uma pipa,

de maneira precisa, será utilizado então o modelo obtido através de deduções matemáticas,

tendo como base as modelagens desenvolvidas por Diehl (2001), Fagiano (2009) e Houska

(2007). Diferirá da modelagem de Diehl, no tratamento do comprimento do cabo, que foi

considerado constante, porém, quando é visada a geração de energia eólica aerotransportada

com geradores fixo ao solo é indispensável a variação no tamanho dos cabos, ou seja, o

desenrolamento e enrolamento deles nos tambores acoplados a geradores/motores. Essa

mudança no tratamento do comprimento do cabo implica em mudanças em todas as forças

Page 38: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

38

que atuam no sistema. O sistema de mudança de ângulo de ataque com atuadores lineares,

descrito brevemente no capítulo 2.3, realizado pela Universidade de Delft, não será

considerado na realização desse trabalho.

Essa modelagem será implementada no software MATLAB, e juntamente com as

entradas do sistema, definirão os movimentos necessários dos cabos para que a pipa realize

movimentos necessários para a geração de energia.

Para a modelagem da pipa inicialmente é definido um sistema de coordenadas

{𝑒 , 𝑒 , 𝑒𝑟}, em coordenadas esféricas, centrado no centro de gravidade da pipa como mostra

a figura 17. Todas as equações de movimento e força da pipa são então desenvolvidas no

sistema de equação proposto.

Figura 17 - Representação do sistema de coordenadas da pipa

Fonte: Fagiano (2009), adaptado.

A matriz de transformação do sistema cartesiano de referência {X,Y,Z} para o sistema

{𝑒 , 𝑒 , 𝑒𝑟}, é obtida através de duas rotações sucessivas, sendo a primeira em torno do eixo

“Z”, e a segunda em torno do eixo “Y” (FAGIANO, 2009; HOUSKA, 2007). Essa sequencia

de rotações resulta na seguinte matriz de transformação:

Page 39: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

39

𝑇 = [

cos(𝜃) cos (𝜙) −sen (𝜙) sen(𝜃) cos (𝜙)

cos(𝜃) sen (𝜙) cos (𝜙) sen(𝜃) sen (𝜙)

−sen(𝜃) 0 cos(𝜃)]

(7)

Utilizando o sistema de coordenada proposto temos que em todas as direções temos

uma força F (𝐹 , 𝐹 , 𝐹𝑟), sendo todas influenciadas pela força gravitacional, força centrífuga

(que é uma pseudoforça ou força inercial) e forças aerodinâmicas na pipa e cabo. A

componente 𝐹𝑟 sofre ainda influência das forças de tração no cabo.

A força gravitacional, em Newtons, é alinhada com a direção negativa do eixo Z do

sistema referencial {X,Y,Z}, e, através da matriz de transformação temos que:

[

𝐹 𝑔𝑟𝑎𝑣

𝐹 𝑔𝑟𝑎𝑣

𝐹𝑟𝑔𝑟𝑎𝑣

] =

[ ( +

𝜌𝑐 𝜋 𝑑𝑐2 𝑟1

4+ 𝜌𝑐 𝜋 𝑑𝑐

2 𝑟24

)𝑔 𝑠𝑒𝑛(𝜃)

0

−( +𝜌𝑐 𝜋 𝑑𝑐

2 𝑟14

+ 𝜌𝑐 𝜋 𝑑𝑐

2 𝑟24

)𝑔 𝑐𝑜𝑠(𝜃)]

(8)

Sendo “ ” a massa da pipa, em 𝑔, “𝜌𝑐” a densidade do cabo, em 𝑔 3⁄ , “𝑑𝑐” o

diâmetro do cabo, em metros, “𝑟1” o comprimento do cabo 1 (cabo que se encontra à direita,

quando olhando a pipa com sentido da parte da frente da asa para a parte de trás, ou flanco) e

“𝑟2” o comprimento do cabo 2. (cabo que se encontra à esquerda, tomando o mesmo

referencial anteriormente descrito), em metros, e “𝑔” a gravidade do local, em 𝑠2⁄ .

A força aparente centrífuga é definida pela seguinte equação:

[

𝐹 𝑐𝑒𝑛𝑡

𝐹 𝑐𝑒𝑛𝑡

𝐹𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡

] = [

(�̇�2 𝑟𝑠𝑒𝑛(𝜃) cos(𝜃) − 2 �̇� �̇� )

(−2�̇� �̇� 𝑠𝑒𝑛(𝜃) − 2 �̇� �̇� 𝑟 cos (𝜃) )

(𝑟 �̇�2 + 𝑟 �̇�2 𝑠𝑒𝑛2(𝜃))

]

(9)

Sendo “�̇�” a variação da quantidade de cabo que se encontra desenrolada

(comprimento atual do cabo, em 𝑠⁄ ), “�̇�” a variação em rad/s do ângulo 𝜙 𝑒 �̇� a variação

em rad/s do ângulo 𝜃, todas essas variações em um determinado período de tempo “∆t” (taxa

de amostragem da simulação).

Page 40: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

40

Para definirmos as forças aerodinâmicas precisamos primeiramente definir a

velocidade efetiva do vento, em 𝑠⁄ :

�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 = �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 − �⃗�𝑝𝑖𝑝𝑎 (10)

�⃗�𝑝𝑖𝑝𝑎 = [�̇� 𝑟

�̇� 𝑟 𝑠𝑒𝑛(𝜃)�̇�

]

(11)

Sendo que �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 deve ser convertido para o sistema proposto através da matriz de

transformação T apresentada na equação 4.

Agora ainda é necessário definir os seguintes vetores:

𝑧𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 = �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 × �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 (𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑜𝑢 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜)

(12)

Sendo suas componentes, definidas por:

�⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 = −

�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜

| �⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜|

(13)

�⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 (− cos(ψ) 𝑠𝑒𝑛(𝜂)) + (𝑒𝑟 × 𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜)(cos(ψ) 𝑐𝑜𝑠(𝜂))

+ 𝑒𝑟 𝑠𝑒𝑛(ψ)

(14)

Para encontrarmos “�⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜” precisamos definir ainda as seguintes componentes:

𝜂 = 𝑎𝑟𝑐𝑠𝑒𝑛 (

�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 × 𝑒𝑟

|�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 − 𝑒𝑟 (𝑒𝑟 × �⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 )| tan (ψ))

(15)

𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 =

�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 − 𝑒𝑟 (𝑒𝑟 × �⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 )

|�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 − 𝑒𝑟 (𝑒𝑟 × �⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 )|

(16)

Sendo, “𝑒𝑟” o vetor unitário no sistema proposto, na direção r (ou seja, a terceira

coluna da matriz de transformação T) e “ ψ” o ângulo de controle, cujo seno é a razão entre a

diferença do comprimento dos cabos “ 𝑙” pela distância entre os pontos de fixação dos cabos

Page 41: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

41

na pipa “𝑑”, como pode-se ver na figura 18.

Figura 18 - Ilutração do ângulo ψ

Fonte: Fagiano (2009), adaptado.

Somente então podemos definir as forças aerodinâmicas na pipa:

[

𝐹 𝑎𝑒𝑟_𝑝𝑖𝑝𝑎

𝐹 𝑎𝑒𝑟_𝑝𝑖𝑝𝑎

𝐹𝑟𝑎𝑒𝑟_𝑝𝑖𝑝𝑎

] = − 1

2 𝐶𝐴 𝐴 𝜌𝑎𝑟 |�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜|

2 �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜

− − 1

2 𝐶𝐸 𝐴 𝜌𝑎𝑟 |�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜|

2 𝑧𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜

(17)

Sendo, “𝐶𝐴” e “𝐶𝐸” os coeficientes adimensionais de arrasto e empuxo da pipa que

variam conforme o ângulo de ataque, “𝐴” a área da pipa em 2 e “𝜌𝑎𝑟” a densidade do ar, em

𝑔 3⁄ .

Finalmente, para definirmos as forças aerodinâmicas exercidas ao sistema pelo cabo,

ou seja, a força de arrasto, é necessário definir o ângulo de ataque “ ” que é o ângulo entre o

vetor “�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎_𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜” e um vetor “�⃗� ” pertencente ao sistema de coordenadas {�⃗� , �⃗� , 𝑧 },

que é centrado no centro de gravidade da pipa e com “�⃗� ” contido no eixo de simetria da pipa

no sentido da parte de trás (flanco) para a parte da frente da asa, como pode-se ver na figura

19.

Page 42: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

42

Figura 19 - Definição do ângulo de ataque α

Fonte: Fagiano (2009), adaptado.

Sendo “ ” o ângulo de ataque normal definido pelo formato da pipa, fixo, temos:

= +

(18)

As forças de arrasto no cabo podem então ser definidas por:

[

𝐹 𝑎𝑒𝑟_𝑐𝑎 𝑜𝑠

𝐹 𝑎𝑒𝑟_𝑐𝑎 𝑜𝑠

𝐹𝑟𝑎𝑒𝑟_𝑐𝑎 𝑜𝑠

] = − 𝜌𝑎𝑟 𝐶𝐴_𝑐𝑎 𝑜 𝑑𝑐 𝑟 cos( )

8 |�⃗�𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜|

2 �⃗�𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜

(19)

Sendo “𝐶𝐴_𝑐𝑎 𝑜” o coeficiente aerodinâmico adimensional e fixo de arrasto dos cabos.

3.2. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

Para o desenvolvimento da simulação computacional proposta foi utilizado o software

MATLAB. Esse software utiliza análise numérica, cálculo com matrizes, processamentos de

sinais, construções gráficas, entre diversas outras funcionalidades.

Inicialmente as equações expostas no item 3.1 foram implementadas em MATLAB e

Page 43: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

43

testes preliminares foram realizados, através de variações nas referências do sistema visando

um melhor entendimento do comportamento da pipa sobre diversas condições.

Será considerado na simulação um controlador ideal, que responda prontamente aos

comandos propostos. Embora um controlador de tal maneira não seja encontrado em nenhuma

aplicação real, a sua utilização no presente trabalho é justificável pela intenção de simulação

do mesmo, não visando aplicações reais. A simulação será realizada de maneira discreta em

períodos de tempo pré-definidos (“Δt”). Durante cada período de tempo, a aceleração em

coordenadas esféricas do sistema será considerada constante, o que possibilitará o cálculo de

uma nova posição para a pipa a cada iteração.

Será utilizado como entrada de referência para o sistema um ângulo de controle (“ψ”)

que varia senoidalmente no tempo, com seu período e amplitude definidos na inicialização do

programa. Esse ângulo de controle pode ser positivo ou negativo e varia a cada “Δt”.

Colocando como uma restrição do sistema que um cabo nunca diminuirá seu

comprimento durante a fase ativa (geração de energia), a variação do ângulo de controle

implica, necessariamente em um aumento do comprimento cabo 1 (cabo que se encontra a

direita, quando olhando a pipa com sentido da parte da frente da asa para a parte de trás, ou

flanco) ou aumento do comprimento do cabo 2 (cabo que se encontra a esquerda, tomando o

mesmo referencial anteriormente descrito).

Os resultados obtidos na simulação, que serão analisados através de um estudo de caso

com comparações entre diversas entradas e também com a abordagem de energia eólica

convencional, formarão a análise da viabilidade técnica do sistema proposto.

Para o programa foram criadas algumas funções, chamadas através de um arquivo

base, esse contendo a lógica básica para a compreensão do sistema e alguns outros cálculos

simples. Na figura 20 temos um algoritmo explicativo do funcionamento do programa como

um todo.

Page 44: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

44

Início

Cálculo das forças

que atuam no

sistema

Construção do vetor

de ângulos de

controle “ψ”

Construção dos

vetores de posição,

velocidade e

aceleração no eixo “r”

Condição de colisão

atingida (θ > 180°)?

Cálculo da nova

posição, velocidade e

aceleração da pipa

Critério de parada

Não

Sim

Valores de

inicialização

das

variáveis

Fim

Apresentar resultados

obtidos e gráficos

Sim

Determinação dos

coeficientes de

arrasto e empuxo

Não

Figura 20 - Diagrama de funcionamento geral do programa

Fonte: Autor

Page 45: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

45

3.2.1. Inputs do sistema

Todas as variáveis que serão descritas nesse tópico, juntamente com outras menos

relevantes que não serão descritas, farão parte do estudo de caso a ser realizado, onde será

procurada uma combinação coerente, visando a geração de energia elétrica.

3.2.1.1. Variáveis de inicialização

Como entradas ou inputs (detalhe A, figura 17) do sistema serão utilizados, entre

outras:

a) Velocidade do vento que será considerada constante para fins de simulação;

b) Área e formato da pipa, sendo que o formato fornecerá implicitamente

características aerodinâmicas da pipa tais como os coeficientes de arrasto e

empuxo;

c) Cabos utilizados, com seus valores de densidade e diâmetro;

d) Taxa de eficiência na conversão de energia, levando em conta perdas na

transformação da energia mecânica em elétrica, porém não levando em conta

quaisquer perdas futuras em distribuição ou armazenagem;

e) Fator de capacidade estimado, ou seja, a razão entre a produção de energia

nominal e a produção de energia teórica a ser gerada em condições ótimas.

As variáveis acima descritas são definidas diretamente no código do programa e

permanecem fixas durante a execução.

3.2.1.2. Construção dos vetores auxiliares de referência

Os vetores auxiliares de referência do sistema são:

Ângulo de controle “ ψ ”;

Distância “ r ”;

Velocidade “ �̇� ”;

Page 46: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

46

Aceleração “ �̈� ”.

A variação do ângulo de controle no tempo implicitamente fornecerá a distância “r”

(coordenadas esféricas) e o tamanho dos cabos que prendem a pipa ao solo. O valor da

distância em r, assim como a velocidade e a aceleração em cada intervalo de tempo servirá

como base para o cálculo da força de tração no cabo (figura 21).

Figura 21 – Método para obtenção dos vetores auxiliares de referência

O tamanho dos cabos 1 (“r1”), 2 (“r2”) e a distância “r” são obtidos conforme a figura

22.

Ângulos de controle ψ

Tamanho dos cabos

1 e 2

Distância r (sistema esférico)

Velocidade �̇�

Aceleração �̈�

Page 47: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

47

Início

Ψ(k) > Ψ(k-1)

r2(k)=r2(k-1)

Equação A

Sim

k=k+1

r1(k)=r1(k-1)

Não

Critério de

parada

Não

Fim

Sim

k=2

R1(1)=Valor inicial

R2(1)=Valor inicial

r1(k)>r2(k)

Equação B

Equação C Equação D Equação E

r2(k)>r1(k)

Sim

Não

Sim

Não

Figura 22 – Diagrama para obtenção dos vetores auxiliares de referência

Sendo:

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐴 → 𝑟1( ) = 𝑟1( − 1) + |𝑠𝑒𝑛(𝜓( ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜓( − 1))| ∗ 𝑑 (20)

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐵 → 𝑟2( ) = 𝑟2( − 1) + |𝑠𝑒𝑛(𝜓( ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜓( − 1))| ∗ 𝑑 (21)

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐶 → 𝑟( ) = √𝑟2( )2 − (𝑑

2∗ 𝑠𝑒𝑛(Ψ( ))

2

+ |𝑑

2∗ 𝑠𝑒𝑛(Ψ( )| + 𝑎𝑙𝑡 (22)

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐷 → 𝑟( ) = √𝑟1( )2 − (𝑑

2∗ 𝑠𝑒𝑛(Ψ( ))

2

+ |𝑑

2∗ 𝑠𝑒𝑛(Ψ( )| + 𝑎𝑙𝑡 (23)

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐸 → 𝑟( ) = √𝑟1( )2 −𝑑2

4+ +𝑎𝑙𝑡 (24)

Page 48: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

48

Com “d” sendo a distância entre o ponto de fixação dos cabos na pipa, e “alt” o

comprimento da reta perpendicular à reta d e o vértice da parábola formada pela pipa (figura

18).

3.2.1.3. Coeficiente de arrasto e empuxo

Os coeficientes de arrasto e empuxo influenciam diretamente as forças aerodinâmicas

que atuam no sistema, o primeiro tanto no cabo quanto na pipa e o segundo somente na pipa.

Esses coeficientes variam de acordo com o ângulo “α” de ataque da pipa, como pode ser

observado a partir das expressões matemáticas apresentadas na seção 3.1.

O modelo de aerofólio considerado para a simulação foi o modelo Clark-Y, um

modelo clássico da aviação, projetado por Virginius E. Clark em 1922, no início da

aeronáutica, porém representa ainda hoje um excelente modelo para aerofólios subsônicos

(MANEIA, 2007). Na figura 23 temos um esboço do referido aerofólio em sua forma padrão.

Figura 23 - Aerofólio Clark-Y padrão

Através de simulações realizadas com o software STAR-CCM+, do fabricante CD-

adapaco, Maneia (2007) realizou simulação fluidodinâmica computacional (do inglês, CFD –

Computational Fluid Dynamics), e obteve os resultados apresentados na figura 24 para

ângulos de ataque entre -6° e 18°.

Page 49: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

49

Figura 24 – Variação dos coeficientes de arrasto e empuxo para o aerofólio Clark-Y

No programa o ângulo de ataque é atualizado logo antes do cálculo da força

aerodinâmica no cabo, a cada iteração. Os resultados apresentados por Maneia (2007)

mostram os coeficientes para uma variação de dois graus no ângulo de ataque, o que para a

simulação é um passo muito grande. Por isso foi criada uma tabela dinâmica com os valores

encontrados, onde os valores intermediários de ângulo de ataque são interpolados para

apresentar resultados mais precisos. Um offset do ângulo de ataque é sempre considerado.

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18-0.5

0

0.5

1

1.5

2

Ângulo de ataque

Coeficie

nte

de e

mpuxo

-6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 180

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

Ângulo de ataque

Coeficie

nte

de a

rrasto

Page 50: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

50

3.2.2. Forças atuantes no sistema

Partindo da formulação apresentada no capítulo 3.1, o cálculo das forças que atuam na

pipa foi implementada. Logo, a partir das variáveis de entrada, dos vetores de referência e dos

coeficientes de arrasto e empuxo é possível obter, para cada iteração, um valor de força

resultante no sistema.

As forças gravitacional, centrífuga e aerodinâmica (tanto da pipa quanto dos cabos)

são obtidas diretamente através de operações matemáticas.

Para o cálculo da força de tração no cabo, que será utilizada no cálculo da energia

gerada, é utilizada a velocidade e aceleração que deve ocorrer no eixo r para que os cabos

mantenham a variação dos seus tamanhos como planejados, e consequentemente o ângulo de

controle “ψ”, previamente determinado. Primeiramente calculamos a aceleração no eixo r,

expressa por:

𝑎𝑟 = �̈� − (𝑟 ∗ �̇�2) − (𝑟 ∗ 𝑠𝑒𝑛 (𝜃)2 ∗ �̇�2) (25)

Sendo “ �̈� ” a taxa de variação de velocidade da distância em r (vetor de referência),

“r” a posição em r ( através do vetor de referência calculado), “ �̇� ” a variação do ângulo 𝜃

tomando como relação o ângulo atual (coordenadas esféricas) e a iteração anterior (ou a

condição inicial), “𝜃” o ângulo atual e “�̇�” a variação do ângulo 𝜙 tomando como relação o

ângulo atual e a iteração anterior (ou a condição inicial)

𝐹𝑡𝑟𝑎çã𝑜 = [

00

𝑎𝑟 ∗ 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝐹𝑟𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙

]

(26)

Sendo “ 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙”, a massa do sistema (cabos + pipa).

Levando em conta:

[

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙

𝐹𝑟𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙

] = 𝐹𝑔𝑟𝑎𝑣𝑖𝑡𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 + 𝐹𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟í𝑓𝑢𝑔𝑎 + 𝐹𝑎𝑒𝑟_𝑐𝑎 𝑜𝑠 + 𝐹𝑎𝑒𝑟_𝑝𝑖𝑝𝑎 (27)

Page 51: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

51

Vale ressaltar que a tração no cabo será sempre negativa, pois o cabo nunca

“empurrará” a pipa. Tendo o valor da força de tração podemos calcular a força resultante do

sistema através de:

[

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

𝐹𝑟𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

] = 𝐹𝑔𝑟𝑎𝑣𝑖𝑡𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 + 𝐹𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟í𝑓𝑢𝑔𝑎 + 𝐹𝑎𝑒𝑟_𝑐𝑎 𝑜𝑠 + 𝐹𝑎𝑒𝑟_𝑝𝑖𝑝𝑎

+ 𝐹𝑡𝑟𝑎çã𝑜

(28)

3.2.3. Cálculo da nova posição da pipa

Inicialmente é necessário calcular as velocidades iniciais da pipa, no eixo de

coordenadas proposto. Vale enfatizar que a velocidade e a aceleração na direção “θ” (theta)

não é somente a variação do ângulo “θ” no tempo, assim como na direção “𝜙”. Temos que:

𝑉 𝑘−1 = 𝑟𝑘−1 ∗ �̇�𝑘−1 (29)

𝑉 𝑘−1 = 𝑟𝑘−1 ∗ �̇�𝑘−1 ∗ 𝑠𝑒𝑛 𝜃𝑘−1 (30)

𝑉𝑟 𝑘−1 = �̇�𝑘−1

(31)

Com “k-1” denotando os dados referentes à posição inicial da pipa. Sabendo que uma

força pode ser representada pelo produto de uma aceleração por uma massa, temos:

𝑎 =

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (32)

𝑎 =

𝐹 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

(33)

𝑎𝑟 =

𝐹𝑟𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒

𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

(34)

As forças e acelerações são consideradas constantes durante a iteração. Assim

Page 52: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

52

podemos calcular as velocidades finais do sistema:

𝑉 𝑘 = 𝑎 ∗ Δ𝑡 + 𝑉 𝑘 (35)

𝑉 𝑘 = 𝑎 ∗ Δ𝑡 + 𝑉 𝑘 (36)

𝑉𝑟 𝑘 = 𝑎𝑟 ∗ Δ𝑡 + 𝑉𝑟 𝑘

(37)

E assim é possível a obtenção das velocidades finais e consequentes posições finais da

pipa, através de:

�̇�𝑘 =

𝑉 𝑘𝑟𝑘 (38)

𝜃𝑘 = ((�̇�𝑘 + �̇�𝑘−1) 2⁄ ) ∗ Δ𝑡 + 𝜃𝑘−1 (39)

�̇�𝑘 =

𝑉 𝑘

𝑟𝑘 (40)

𝜙𝑘 = ((�̇�𝑘 + �̇�𝑘−1) 2⁄ ) ∗ Δ𝑡 + 𝜙𝑘−1 ∗ sen (θ𝑘−1) (41)

Tanto a velocidade quanto a aceleração no eixo r são calculadas apenas para

verificação, pois elas já estão disponíveis como entradas de referência do sistema.

3.2.4. Critério de parada

O critério de parada adotado para a simulação foi a distância “r” máxima de 910

metros, em conformidade com algumas simulações realizadas em Fagiano (2009).

3.2.5. Disposição dos resultados

Com base nas forças nos cabos, a velocidade com que os mesmos são desenrolados

dos tambores, a eficiência da conversão de energia e o fator de capacidade, é possível a

Page 53: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

53

obtenção da energia gerada em um determinado instante da simulação, conforme a seguinte

fórmula, para cada gerador:

𝑃 = 𝐹𝑡𝑟𝑎çã𝑜 ∗ �̇� ∗ 𝜂𝑐𝑜𝑛𝑣𝑒𝑟𝑠ã𝑜

(42)

Sendo, “𝐹𝑡𝑟𝑎çã𝑜” a tração no cabo, em Newton, “�̇�” a velocidade que o cabo desenrola

ou enrola no tambor, em 𝑠⁄ , e “𝜂𝑐𝑜𝑛𝑣𝑒𝑟𝑠ã𝑜” a eficiência da conversão de energia mecânica

em elétrica. A potência “𝑃”, expressa em Watts, pode ser tanto um valor positivo ou negativo,

simbolizando a geração ou o consumo de energia elétrica.

A energia gerada durante um determinado período de simulação, em kWh (quilowatt-

hora) pode ser obtida através do somatório das multiplicações da potência gerada

pontualmente pela duração, em horas, ou seja, pela taxa de amostragem da simulação. Deve

ser considerada também a eficiência de conversão do gerador, a duração da fase passiva (e o

consumo associado à fase) e o fator de capacidade da localidade, através de:

𝐸 = (∑((𝑃1(𝑖) + 𝑃2(𝑖)) ∗ 𝑡)

𝑛

𝑖=1

) ∗ 𝑁ú 𝑒𝑟𝑜 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠 ∗ 𝐹𝐶

(43)

Com:

𝑁ú 𝑒𝑟𝑜 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠 =

𝑑𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑖𝑑𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜

𝑑𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 + 𝑑𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑓𝑎𝑠𝑒 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑎

(44)

Sendo “E” a energia gerada acumulada, “P1” a potência elétrica instantânea associada

ao gerador 1, “P2” a potência elétrica instantânea associada ao gerador 2, i a amostra analisada

(posição no vetor de potências), 𝑡 a taxa de amostragem utilizada na simulação e FC o fator

de capacidade.

Page 54: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

54

4. APLICAÇÃO DO SISTEMA PROPOSTO ATRAVÉS DE ESTUDO DE CASO

Após análise dos resultados obtidos com a variação de diversos parâmetros do

programa desenvolvido, uma combinação coerente de variáveis foi definida, tanto com base

na literatura, quanto em sucessivas tentativas. Essas variáveis são apresentadas na tabela 4:

Tabela 4- Variáveis utilizadas para estudo de caso

Variável Descrição Valor Unidade

M Massa da pipa 300 kg

A Área projetada da pipa 500 m2

𝐝𝐜 Diâmetro do cabo 0,03 m

𝛒𝐜 Densidade do cabo 970 kg m3⁄

α0 Offset do ângulo de ataque 3,5 ° (graus)

𝛒𝐚𝐫 Densidade do ar 1,2 kg m3⁄

𝐆 Gravidade 9,81 m s2⁄

�⃗⃗�𝐯𝐞𝐧𝐭𝐨 Velocidade do vento no sistema cartesiano [12;0;0] m s⁄

𝐂𝐀_𝐜𝐚𝐛𝐨 Coeficiente fixo de arrasto no cabo 1,2 adimensional

𝐭 Passo da simulação 0,1 [s] s

d Distância em linha reta das extremidades dos

cabos amarrados na pipa

46 [m] m

alt Distância da reta fictícia entre as duas

extremidades da pipa e o vértice da mesma

16 [m] m

Ψ(t) Ângulo de controle em função do tempo 𝟏𝟎, 𝟔 ∗ 𝑠𝑒𝑛(𝑡

∗𝟐, 𝟗𝟎𝟐𝟖

2 𝜋)

° (graus)

𝛈𝐜𝐨𝐧𝐯𝐞𝐫𝐬ã𝐨 Eficiência de conversão do gerador 80 [%]

FC Fator de capacidade 50 %

𝜽𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍 Posição inicial 9,06 ° (graus)

𝝓𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍 Posição inicial 0 ° (graus)

𝒓𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍 Posição inicial 550 m

Com os dados expostos foi possível o cálculo dos vetores auxiliares de referência, ou

Page 55: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

55

seja, o vetor do ângulo de controle “α”, da distância “r”, da velocidade “�̇�” e da aceleração

“�̈�”. O ângulo de controle “ψ” e a distância “r” (assim como o comprimento de cada cabo) são

apresentados, respectivamente nas figuras 25 e 26 (primeiro minuto de simulação).

Figura 25 – Ângulo de controle (α)

Figura 26 – Distância r e comprimento dos cabos 1 e 2

0 10 20 30 40 50 60

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Tempo [s]

Ângulo

de c

ontr

ole

[°]

0 10 20 30 40 50 60530

540

550

560

570

580

590

600

610

620

Distância r

Comprimento do cabo 1 (direita)

Comprimento do cabo 2 (esquerda)

Page 56: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

56

4.1. ANÁLISE POSICIONAL E DE FORÇAS

Através dessa simulação foi obtida a seguinte trajetória da pipa, no eixo cartesiano

(com início na altitude cartesiana Z em 543,13 metros e término em 890,47 metros):

Figura 27 – Trajetória da pipa no sistema cartesiano 3D

Analisando a figura 27, podemos observar que a pipa realizou a trajetória bastante similar

a uma lemniscata de Bernoulli, como proposto.

50

100

150

200

250

-0.4

-0.2

0

0.2

0.4500

600

700

800

900

X [m]Y [m]

Z [

m]

Page 57: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

57

A força resultante do sistema em coordenadas esféricas é:

Figura 28 – Força resultante do sistema em coordenadas esféricas

Para melhor visualização, na figura 29 é apresentada novamente a força resultante em

coordenadas esféricas em detalhe, durante 30 segundos intermediários da simulação:

Figura 29 – Detalhe da força resultante em coordenadas esféricas

0 50 100 150 200 250 300-6

-4

-2

0

2

4x 10

4

FTheta

FPhi

Fr

0 50 100 150 200 250 300-0.2

-0.1

0

0.1

0.2Força TOTAL

Ângulo de controle (psi)

100 105 110 115 120 125 130-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4x 10

4

FTheta

FPhi

Fr

Page 58: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

58

A força resultante em detalhe será apresentada, na figura 30, em coordenadas cartesianas:

Figura 30 – Detalhe da força resultante em coordenadas cartesianas

Uma análise da figura 30 é de difícil análise, o que justifica o emprego de coordenadas

esféricas para o sistema.

Para uma melhor compreensão da dinâmica do sistema, a figura 30, mostra a variação

doas ângulos Theta (θ) e Phi (ϕ), em graus (°):

Figura 31 – Variação dos ângulos Theta e Phi, em graus

100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110-1500

-1000

-500

0

500

1000

FX

FY

FZ

9 10 11 12 13 14 15-0.15

-0.1

-0.05

0

0.05

0.1

Theta [°]

Phi [°

]

Page 59: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

59

4.2. ANÁLISE ENERGÉTICA

Toda a análise dessa seção será feita com base na energia ativa. Perdas, tanto em

possíveis sistemas de armazenamento quanto na transmissão e distribuição de energia serão

desconsideradas.

Será feita uma extrapolação dos valores obtidos de potência obtida na fase ativa para

um período de um ano, conforme o método descrito na seção 3.2.5. Para isso será considerado

que a fase passiva (ou seja, a fase onde há consumo de energia) possui uma duração de 20%

da duração total da fase ativa, e que 15% da energia gerada na fase ativa é consumida na fase

passiva (devido à perca de aerodinâmica da pipa, através da manobra de deslize de asa,

descrita na seção 2.3). Isso resulta em uma duração de 289,9 segundos para a fase ativa e,

consequentemente, 57,98 segundos para a fase passiva.

Considerando, como antes mencionando, um vento com velocidade de 12 m/s

soprando sem mudanças de direção no sentido do eixo cartesiano “x”. A potência instantânea

gerada em cada gerador (associada ao cabo com mesma numeração) durante a fase ativa de

geração de energia pode ser vista nas figuras 32 e 33.

Figura 32 – Potência instantânea para a fase ativa

0 50 100 150 200 250 300

0

50

100

150

200

250

300

Tempo [s]

Potê

ncia

[kW

]

Gerador 1

Gerador 2

Potência média

Page 60: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

60

Figura 33 – Detalhe da potência instantânea para a fase ativa

O estudo de caso, no qual foi considerado um vento com velocidade constante de 12

m/s, apresentou os seguintes resultados:

a) Potência máxima de 333,63 kW;

b) Potência média (fase ativa) de 112,48 kW;

c) Energia gerada em uma ano de 20,94 GWh.

Tanto o cálculo da extrapolação da energia gerada quando das potências instantâneas

foram realizados conforme o método descrito em 3.2.5.

Através de dados do ONS (Operador Nacional do Sistema) (ONS, 2011), foram

obtidos dados da geração referentes ao Parque Eólico Canoa quebrada, no município de

Aracati, no estado do Ceará, que possui 24 aerogeradores com potência nominal de 2100 kW

e 6 aerogeradores com 1800 kW (média de 2035,71 kW). A geração média do parque no

período de abril de 2010 a março de 2011 foi de 18,67 MW, o que, totalizando para um ano

implicaria na geração de 163,549 GWh de energia. A média de energia gerada em um ano,

para um “gerador médio” com potência nominal de 2035,71 kW, seria de 5,842 GWh.

Logo, a energia gerada por um sistema de energia eólica aerotransportada,

100 105 110 115 120 125 130

0

50

100

150

200

250

300

Tempo [s]

Potê

ncia

[kW

]

Gerador 1

Gerador 2

Potência média

Page 61: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

61

considerando ventos constantes de 12 m/s e área característica da pipa de 500 2 geraria, nas

condições citadas, aproximadamente 3,58 vezes mais energia do que uma turbina média do

Parque Eólico Canoa Quebrada.

Melhorias no sistema de simulação, tais como um sistema inteligente que busque uma

variação em “tempo real” nos ângulos de controle implicaria em uma geração maior de

energia para o sistema de energia eólica aerotransportada.

Page 62: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

62

5. CONCLUSÕES

Os objetivos desse trabalho foram:

a) Revisão das técnicas de geração de energia elétrica, com foco na energia

eólica, principalmente aerotransportada;

b) Estudo dos ventos em altitudes para geração de energia;

c) Estudo sobre a dinâmica de pipas;

d) Estudo sobre coordenadas esféricas;

e) Propor um conceito de um sistema computacional capaz de simular a geração

de energia eólica em altas altitudes com o uso de pipas;

f) Implementação do sistema proposto no item acima;

g) Análise dos resultados obtidos, através de estudo de caso.

Os itens “a”, “b”, “c” e “d” foram atendidos através da revisão de uma fonte diversa de

artigos, livros e outras fontes, estando o resumo do conteúdo no capítulo 2. O objetivo “e” foi

cumprido no capítulo 3, e os itens “f” e “g” no capítulo 4.

A geração de energia eólica em altas altitudes apresentou, nesse estudo, resultados

bastante promissores e satisfatórios, indicando que a abordagem pode vir a se tornar uma

solução real para a geração eficiente de energia elétrica.

Embora o caminho para a implementação desse sistema em condições reais seja

complicado, levando em conta necessidades atuais de energia é necessário o estudo de

técnicas alternativas.

5.1. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Vale citar que todas as análises realizadas no presente trabalho são preliminares e não

correspondem a situações reais, porém fornecem um embasamento inicial para o

desenvolvimento dessa inovadora técnica de geração de energia eólica.

Para que o sistema simulado apresenta uma maior semelhança com condições reais,

recomenda-se a inserção de fatores/restrições adicionais tais como a elasticidade do cabo,

análise de tração e o uso de um sistema de controle não ótimo. No quesito controle foi

Page 63: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

63

encontrado na literatura a indicação do uso de controle preditivo não linear baseado em

modelos.

Quanto às variáveis do estudo de caso, embora apresentem um valor muito condizente

com o esperado, recomenda-se a utilização de otimizadores para encontrar a melhor

combinação de parâmetros possíveis.

Page 64: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

64

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL - Brasil). Atlas de Energia

Elétrica do Brasil – ANEEL. 3 ed. Brasília: 2008, 236 p.

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL – Brasil). BIG – Banco de

Informações de Geração. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes

/capacidadebrasil/capacidadebrasil.asp. Acesso em 12 out. 2010.

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Relatório ANEEL 2009 –

ANEEL. Brasília: 2010, 90 p.

AMPYX POWER. Ampyx Power. 2010. Disponível em: < http://www.ampyxpower.com>.

Acesso em: 14/10/2010.

ANDERSON Jr, John David. Fundamentals of Aerodynamics. New York: McGraw-Hill,

2001. 892p.

ARCHER, Cristina L; JACOBSON, Mark Z. Evaluation of Global Wind Power. Journal of

geophysical research, v. 110, p.20, 2005.

BLOUIN Jr., Michael R.; ISABELLA, Benjamin E; RODDEN, Joshua E. Wind Power from

Kites. 2007. 109 p. Monografia (Graduação em Engenharia Aeroespacial) - Worcester

Polytechnic Institute, Worcester, 2007.

DIEHL, Moritz Mathias. Real-Time Optimization for Large Scale Nonlinear Process.

2001. 201 p. Dissertação (Mestrado) – Ruprecht-Karls-Universität, Heidelberg, 2001.

ETZLER, John Adolphus. The paradise within the reach of all men by power of nature

and machinery - An adress to all intelligent men. Pittsburgh: Etzler and Reinhold, 1833.

FAGIANO, Lorenzo. Controlo f Tethered Airfoils for High-Altitude Wind Energy

Generation: Advanced control methods as key for technologies for a breaktrhough in

renewable energy generation. 2009. 226 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de

Informações e Sistemas) – Politecnico di Torino, Torino, 2009.

Page 65: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

65

FAGIANO, Lorenzo; MILANESE, Mario; PIGA, Dario. High-altitude wind power

generation for renewable energy cheaper than oil. In EU SUSTAINABLE DEVELOPMENT

CONF. 2009. Anais... Bruxelas: Politecnico di Torino, 2009.

FINDEISEN, Rolf; ALLGÖWER, Frank. An Introduction to Nonlinear Model Predictive

Control. In: XXI BENELUX MEETING ON SYSTEMS AND CONTROL, Veidhoven,

Países baixos. Anais… Veidhoven, Países baixos, 2002.

FINDEISEN, Rolf; ALLGÖWER, Frank. An Introduction to Nonlinear Model Predictive.

In: XXI BENELUX MEETING ON SYSTEMS AND CONTROL, Veidhoven, Países baixos.

Anais… Veidhoven, Países baixos, 2002.

FUREY, Allister. Kite, airborne and high altitude Wind energy blog. 2010. Disonível em:

<http://kiteenergy.blogspot.com/>. Acesso em: 14/10/2010.

GIL, Antonio Carlos. Estudo de caso: fundamentação científica, subsídios para coleta e

análise de dados, como redigir o relatório. São Paulo: Atlas, 2009. 148 p.

HOUSKA, Boris. Robustness and Stability Optimization of Open-Loop Controlled

Power Generating Kites. 2007. 159p. Tese (Graduação – Diplom) - Ruprecht-Karls-

Universität, Heidelberg, 2007.

INTERGOVERNAMENTAL PANEL ON CLIMATIC CHANGE (IPCC). Climatic Change

2007: Synthesis Report. Geneva, Switzerland, IPCC, 2007, 52p.

INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA). World Energy Outlook 2009. Paris, IEA,

2009, 698 p.

JENSEN, M.E.; BURMAN, R.D.; ALLEN, R.G. Evapotranspiration and irrigation water

requirements. ASCE (American Society of Civil Engineers) Manuals and reports on

engineering practice, Nova York, v. 70, p.332, 1990

JOBY ENERGY: More power more often for less. Disponível em: <

http://www.jobyenergy.com/img/media/joby_energy_tech.pdf>. Acesso em: 28/10/2010.

2010.

KALNAY et al. The NCEP/NCAR 40-year reanalysis Project. Bulletin of the American

Meteorological Societ, v. 77, p. 437-470, 1996.

Page 66: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

66

LANSDORP, Bas; WILLIAMS, Paul. The Laddermill - Innovative Wind Energy from High

Altitudes in Holland and Australia. In: GLOBAL WINDPOWER 2006, Adelaide, Australia.

Anais... Adelaide, 2006. P. 18-21.

LOYD, Miles L.. Crosswind Kite Power. Journal of Energy, v. 4, n. 3, p. 106-111, 1980.

MAKANI POWER INC. Makani Power – High Capacity Wind. Disponível em: <

http://www.makanipower.com>. 2010. Acesso em: 14/10/2010. 2010.

MANEIA; Gian Maruo. Aerodynamic study of airfoils and wings for power kites

applications. 2007. 113 p. Tese (Doutorado em Engenharia Aerospacial) – Politecnico di

Torino, Torino, 2007.

NEW ENERGY. Wind around the world.New Energy, n.4, p.57, 2002.

O’GAIRBHITH, Colm. Assessing the Viability of High Altitude Wind Resources in

Ireland. 2010. Disponível em: < http://carbontracking.com/reports/High_Altitude

_Wind_Resource_ in_Ireland.pdf>. Acesso em 29/07/2010.

ONS (Operador Nacional do Sistema). Acompanhamento mensal da geração de energia

das usinas eolielétricas com programação e despacho centralizados pelo ONS). Disponível em: < http://www.ons.org.br/download/resultados_operacao/boletim_mensal_

geracao_eolica/Boletim_Eolica_mar-2011.pdf >. Acesso em 19/05/2011.

QUASCHNING, Volker. Regenerative Energiesysteme: Technologie – Berechnung –

Simulation. Berlin: Hanser, 2007. 353 p.

ROBERTS, Bryan et al. Harnessing high-altitude wind power. IEEE Transactions on

Energy Conversion, v. 22, p. 136-144, 2007.

TOLMASQUIN, Mauricio Tiomno (org.). Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de

Janeiro: Interciência, 2003. 515 p.

TRESHER, R.; ROBINSON, M.; VEERS, P. To capture the Wind. IEEE Power & Energy

Magazine. v.5, n.6, p. 34-46, 2007.

UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE

(UNFCCC). Climate Change: Impacts, Vulnerabilities and Adaptation in Developing

Countries. Bonn, Alemanha, UNFCC, 2007, 68p.

Page 67: AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TÉCNICA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA  EÓLICA EM ALTAS ALTITUDES: UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DE  SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL

67

VENTURI, Jacir J. Álgebra Vetorial e Geometria Analítica. Curitiba: Editoria Unificado,

1949, 8a ed. 242p.

WAGNER, Hermann-Josef. Was sind die Energien des 21. Jahrhunderts? Der Wettlauf

um die Lagerstätten. Franfurt am Main: Fischer, 2007. 310p.

WALISIEWICZ, Marek. Energia alternativa: solar, eólica, hidrelétrica e de

biocombustíveis. Tradução de Elvira Serapicos. São Paulo: Publifolha, 2008. 72 p. (Série

mais ciência / organizador: John Gribbin)

WILKINS, Matthew; FERGUSON, Fred; AKHIWU, Kenneth. Lighter­than­airWind

TurbinesinRemoteCommunities. Magenn Power Inc, 2008. Disponível em

<http://www.ontario-sea.org/Storage/27/1878_Lighter-than-

air_Wind_Turbines_in_Remote_Communities__.pdf>. Acesso em 14/20/2010.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3a ed. Porto Alegre: Bookman,

2005. 212 p.