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Pesquisa em Debate, edição especial, 2009 ISSN 1808-978X AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO - SP 1 Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos Sandra Farto Botelho Trufem Doutora em Biologia pela USP e professora da Universidade São Marcos 1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira Autora

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Pesquisa em Debate, edição especial, 2009 ISSN 1808-978X

AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS

AMBIENTAIS NA PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE

GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO PLANO APELL EM SÃO

SEBASTIÃO - SP1

Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha

Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos

Sandra Farto Botelho Trufem

Doutora em Biologia pela USP e professora da Universidade São Marcos

1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira Autora

AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA

PREPARAÇÃO DO PÚBLICO PARA ACIDENTES DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO DO

PLANO APELL EM SÃO SEBASTIÃO – SP

Raquel Dalledone Siqueira Da Cunha, Sandra Farto Botelho Trufem

2 Pesquisa em Debate, edição especial, 2009

ISSN 1808-978X

Resumo

Este trabalho apresenta e discute os fenômenos e teorias da comunicação e o preparo

para emergências e situações de risco, utilizando como objeto de estudo a situação e os

moradores da cidade de São Sebastião, SP, onde existe um terminal marítimo da

Petrobrás, que, virtual e concretamente, poderia gerar situações de real emergência, daí

a necessidade da prontidão da população. Analisa-se a implementação do plano APELL

(Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level) na cidade, no ano de

2000 e criticamente comenta-se o fato de que, depois de todo o esforço no sentido de

preparar a população para um estado de prontidão em caso de situação de risco, a

proposta hoje encontra-se esvaziada e limitada a treinamento de simulação em um único

dia do ano, existindo moradores que nem sequer conhecem o plano APELL.

Palavras-chave: comunicação de riscos, APELL, Petrobrás, acidentes industriais

ampliados

Abstract

This paper presents and discusses the phenomena and theories of communication and

emergency preparedness and risk, using as an object of study the situation and the

residents of São Sebastião, SP, where there is a maritime terminal of Petrobras, which,

virtual and concrete, could lead to cases of real emergency, hence the need for

preparedness of the population. We analyze the implementation of the plan APELL

(Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level) in the city in 2000 and

critically comment upon the fact that, after all the effort to prepare the population for a

state readiness in case of risk, the proposal now is empty and the limited training

simulation in a single day of the year. There are residents who do not even know about

the plan APELL.

Keywords: risk communication, APELL, Petrobras, industrial accidents

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Introdução

Planos de ação de emergência são uma parte de políticas de gerenciamento dos

riscos. Tais políticas combinam iniciativas de redução das probabilidades de ocorrência

de acidentes, com essas outras focadas na redução de conseqüências. Sendo o risco

mensurado por meio da multiplicação das probabilidades de um evento por suas

conseqüências, a redução do índice de risco deve ser buscada por meio da diminuição

de ambos os fatores.

Tratam-se de iniciativas complexas, pois remetem à necessidade de estabelecer

cooperação e coordenação, fugindo assim a uma tradição de comando único, típica das

burocracias. Um fator que agrega desafios especiais é a demanda por organizar as

reações do público em geral. Esta demanda surge quando as hipóteses de acidentes num

determinado cenário incluem a efetiva possibilidade de serem geradas conseqüências

para o público das áreas envoltórias às instalações onde são manipuladas substâncias

perigosas.

Nesses casos, a existência de uma resposta organizada a um acidente de grande

porte inclui necessariamente a preparação do público. Esta preparação tem como uma

de suas dimensões centrais o combate ao fenômeno do pânico, pois quando os grupos

humanos são tomados pelo medo e se gera o pânico, há um grande risco de surgirem

vítimas desse desdobramento do acidente original. Freqüentemente, acidentes ou outros

tipos de ocorrências, por vezes originadas mesmo em boatos, provocam grande número

de vítimas relacionadas à fuga em massa ou outros tipos de reação coletiva

descontrolada.

O Canal de São Sebastião é considerado um dos melhores portos naturais do

mundo. Suas águas profundas e abrigadas, com capacidade de receber navios de grande

porte, atraíram a possibilidade de armazenamento de petróleo e derivados. Em função

dessas características, o local foi eleito para abrigar um terminal da Petrobrás, com

entrada e saída de petróleo e derivados. Com poucas décadas de existência, no entanto,

o terminal marítimo passou a ter grande histórico de acidentes ambientais, incluindo

episódios que causaram imenso temor na população local. Os problemas ambientais,

sociais e econômicos que esses acidentes geraram, mostraram a necessidade de se criar

programas de gerenciamento de riscos, para reduzir o número de acidentes e minimizar

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os impactos quando eles acontecessem.

O APELL (Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level)

consiste justamente numa metodologia que tem no centro de sua definição a meta de

incluir o público afetado entre os contingentes adequadamente preparados para enfrentar

ocorrências potencialmente catastróficas, em função de desdobramentos de acidentes

ambientais. Seu surgimento foi conseqüência da percepção da falência dos planos de

emergência que só envolviam instituições públicas e organizações privadas, pois em

eventos de grande porte, como o de Bhopal, na Índia, tais esquemas de resposta

entraram em colapso, diante do caos que se instalou pela reação desordenada do público

impactado.

Assim, constituem objetivos deste trabalho a análise critica das estratégias das

comunicações de riscos para o público, adotadas na experiência do Plano APELL,

gerando subsídios para o aperfeiçoamento da preparação de respostas a acidentes

ambientais com base nos conceitos da comunicação de riscos.

Os procedimentos metodológicos adotados incluíram a revisão dos principais

conceitos de comunicação de riscos, recuperação do histórico do Plano APELL e

realização de discussão das estratégias de comunicação de riscos adotadas no Plano

APELL de São Sebastião, utilizando as orientações da teoria da comunicação de riscos.

Executou-se também extensa revisão bibliográfica em manuais e documentos do Brasil

e do exterior sobre o tema percepção e comunicação de risco.

Foram realizadas oito entrevistas gravadas, entre os meses de abril e julho de

2007, com autoridades e profissionais envolvidos na elaboração e implantação do Plano

APELL em São Sebastião. As entrevistas foram feitas com roteiro previamente

definido, visando informações sobre as etapas de elaboração do processo, a experiência

pessoal na participação, a participação das outras instituições e da comunidade, a

importância da mídia ao longo de todo o trabalho e na realização do simulado geral,

finalizando com uma avaliação comparativa sobre a experiência em 2000 e o momento

atual. Os entrevistados foram o engenheiro da Gerência de Segurança, Saúde e Meio

Ambiente da Transpetro/ DTCS em São Sebastião; o advogado e Secretário Municipal

do Meio Ambiente e presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil de São

Sebastião (COMDEC/SS); jornalista responsável pelo Departamento de Comunicação

da Prefeitura Municipal de São Sebastião; um jornalista da Rádio Morada do Sol e do

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Departamento de Comunicação da Petrobrás, em São Sebastião; uma ambientalista

representante do Movimento de Preservação de São Sebastião (MOPRESS). Foram

entrevistados também o diretor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São

Paulo (CEBIMAR / USP) e uma moradora da cidade, que presenciou o acidente

ocorrido em junho de 1984 e que atualmente é diretora de duas escolas situadas em

áreas de risco. Finalizou-se as entrevistas com o depoimento de um consultor para a

implementação da lei ambiental municipal de 1992 e que integrou o grupo coordenador

do APELL São Sebastião como representante da Faculdade de Saúde Pública da

Universidade de São Paulo.

Acidentes ambientais no mundo e gerenciamento de riscos

Durante muito tempo, o avanço da ciência desconsiderou a possibilidade de aliar

desenvolvimento tecnológico com preservação ambiental. A busca incessante por lucro

levou ao crescimento do número e do tamanho das plantas industriais sem a

preocupação com os riscos que isso poderia acarretar.2, 3

Com capacidade de contínua inovação, a indústria química, nos países

desenvolvidos, sempre se mostrou apta a financiar sua expansão, independentemente de

recursos governamentais. Essa autonomia a fez crescer mais rápido do que outros

setores e sem qualquer preocupação com supervisões do poder público ou da

sociedade.4

Seu grande desenvolvimento foi a partir da Segunda Grande Guerra, gerando

demanda cada vez maior por novos produtos. Só nos Estados Unidos, por exemplo, “a

produção desses produtos aumentou 15 vezes entre 1945 e 1985, passando de 6,7

milhões de toneladas para 102 milhões de toneladas.”5 Toda a vida contemporânea é

pautada pelo uso de produtos químicos. É praticamente impossível imaginar nosso

cotidiano sem medicamentos, insumos agrícolas, tecidos sintéticos, produtos de

2 Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza ; Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão

dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 25-45. 3 Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a

educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003. 4 Idem. 5 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas, p. 253. In: Ibidem, p. 253-266.

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limpeza, por exemplo.6

Uma instalação industrial perigosa é aquela onde há possibilidade de acontecer

acidentes envolvendo uma ou mais substâncias químicas perigosas, que resulta de um

desenvolvimento incontrolável, e pode causar sérios danos ao ser humano e ao meio

ambiente, dentro ou fora da instalação, imediatamente ou a longo prazo7.

Também conhecido como risco tecnológico, o acidente industrial está

diretamente ligado à produção. É o risco a que estão expostos os trabalhadores e os

moradores da região onde está instalada uma planta industrial. O termo risco de origem

tecnológica, passou a ser empregado com mais freqüência nas décadas de 1970 e 1980

em razão do aumento do número e da gravidade das situações de risco.8

Entende-se por acidentes ambientais tecnológicos aqueles que têm origem em

alguma ação danosa resultante de uma atividade normal do Homem. Nessa categoria

está incluso tanto a poluição do ar pela atividade industrial, quanto os acidentes

nucleares e químicos.9

Acidentes industriais de grande porte são chamados de acidentes maiores ou

acidentes industriais ampliados. Por ter um escopo mais diversificado nas suas

considerações, nesse trabalho será adotado o termo acidente industrial ampliado.

A definição de acidente maior considera os impactos na propriedade, na saúde,

no meio ambiente e nas finanças, e conceitua como menores os acidentes que causam

impactos em variáveis distintas dessas citadas, como, por exemplo, acidente de

trabalho.10

Já o conceito de acidente industrial ampliado é mais abrangente que acidente

maior por incorporar os impactos psicológicos e sociais, e a avaliação de suas

conseqüências no espaço e no tempo.11

6 Idem. 7 Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). Guiding Principles for Chemical

Accident Prevention, Preparedness and Response. 2nd ed. OECD Environment, Health and Safety

Publications. Series on Chemical Accidents, n. 10, 2003 8 Sevá, Oswaldo. Urgente: combate ao risco tecnológico. Cadernos Fundap, n. 16, p. 74-83, 1989. 9 Naciones Unidas. Prevención y mitigación de desastres – compendio de los conocimentos actuales.

Nueva York: Naciones Unidas, 1986. 10 Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão

dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 25-45. 11 Idem.

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... serão considerados acidentes industriais ampliados eventos agudos, como

explosões, incêndios e emissões nas atividades de produção, isolados ou

combinados, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas com potencial

para causar simultaneamente múltiplos danos, sociais, ambientais e à saúde

física e mental dos seres humanos expostos. Assim, o que passa a caracterizar

esse tipo de acidente não é apenas a sua capacidade de causar grande número

de óbitos – embora com freqüência ele seja conhecido exatamente por isso -,

mas também seu potencial de permitir que a gravidade e a extensão dos

efeitos ultrapassem seus limites „espaciais‟ – de bairros, cidades e países – e

„temporais‟ – como teratogênese, carcinogênese, mutagênese, danos a

órgãos-alvo específicos nos seres humanos e às vegetações e aos seres vivos

no meio ambiente futuro -, além dos impactos psicológicos e sociais sobre as

populações expostas.12

Alguns do acidentes ambientais mais marcantes entre as décadas de 1970 e 1990

envolveram explosão, incêndio em dutos de combustível e vazamento de gás.

A remoção de um reator e sua substituição por uma tubulação fabricada sem

critérios técnicos apropriados foi a causa do acidente que ocorreu em uma indústria de

caprolactama – petroquímico básico, usado na polimerização de fio têxtil de nylon, em

Flixborough, Inglaterra, em junho de 1974 6. A alta pressão e temperatura em que

operava causaram uma ruptura na tubulação, resultando em um grande vazamento de

ciclohexano (estima-se entre 30 e 50 toneladas) que formou uma nuvem de vapor e

explodiu. As conseqüências dessa tragédia foram 28 mortes, 89 pessoas feridas e

prejuízos de US$ 232 milhões.13 14 15

Em Seveso, Itália, em julho de 1976, aconteceu outro acidente em uma unidade

da Industrie Chimiche Meda Società Azionaria, indústria química pertencente à empresa

suíça Hoffman la Roche, localizada em Meda, no norte da Itália. A explosão de um

reator gerou uma nuvem tóxica de dioxina, considerada por muitos como uma das

12 Idem, p. 28. 13 PASCON, P.E., Flixborough – 25 anos. Disponível em: <http://www.processos.eng.br>. Acesso em:

28 agosto 2008. 14 Petroquímica Brasileira de Classe Mundial (BRASKEM). Disponível em:

<http://www2.braskem.com.br>. Acesso em: 28 agosto 2008. 15 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 253-266.

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substâncias químicas mais perigosas produzidas pelo Homem. É um dos componentes

do agente laranja, desfolhante usado pelos Estados Unidos da América durante a Guerra

do Vietnã. A nuvem causada pelo vazamento, com largura de um quilometro, espalhou-

se por uma área densamente povoada e atingiu, em maior escala, os municípios de

Seveso, Meda, Desio e Cesano Maderno, e em menor escala os municípios de

Barlassina e Bovisio Masciago. Durante nove dias, a população e o poder público

ficaram sem informações sobre a dimensão do acidente e sobre o grau de toxicidade das

substâncias vazadas. Apenas quando alguns moradores começaram a apresentar

problemas de pele e pequenos animais faleceram, a indústria revelou o que sabia e

evacuou a área atingida.

Na cidade de Cubatão, Brasil, em fevereiro de 1984, uma falha operacional

causou a ruptura de um duto da Petróleo Brasileira S/A (Petrobrás), que ligava a

refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, ao terminal da Alemoa, em Santos. Em seu

trajeto, esse duto passava por área alagadiça próxima à vila Socó, construção de

palafitas habitadas por população de baixa renda. Com a ruptura, cerca de 700 mil litros

de gasolina vazaram e se espalharam pelo mangue. Moradores da vila, ao perceberem o

vazamento, coletaram e armazenaram o combustível em suas residências. Rapidamente,

cerca de duas horas depois, com a mudança da maré, a gasolina se espalhou pela região

das palafitas e o incêndio começou.16 17

Vários barracos foram carbonizados em poucas

horas. Segundo dados da CETESB, 93 foram as vítimas fatais, mas

... algumas fontes citam um número extra oficial superior a 500 vítimas fatais

(baseado no número de alunos que deixou de comparecer à escola e a morte

de famílias inteiras sem que ninguém reclamasse os corpos), dezenas de

feridos e a destruição parcial da vila.18

Na Cidade do México, México em 1984, um acidente deixou 500 pessoas mortas

16 Serpa, Ricardo Rodrigues & Prado-Monje, Hugo. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação

na América Latina e no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado

Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p.

267-276. 17 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:

<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/soco.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008. 18 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:

<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/soco.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008.

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9 Pesquisa em Debate, edição especial, 2009

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e cerca de 14 mil feridos, e causou prejuízos de US$ 20 milhões.19 A base de

armazenamento e distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), da empresa

Petróleos Mexicanos (PEMEX), na Cidade do México, com uma capacidade de guardar

até 16.000 m³, recebia GLP de três refinarias diferentes por meio de gasoduto. Na

madrugada do dia 19 de dezembro de 1984, a ruptura de uma tubulação permitiu o

vazamento de gás. A queda de pressão na rede de gasoduto apesar de percebida pela

equipe de controle não serviu para alertar sobre a tragédia que viria. O gás vazado

formou uma nuvem inflamável, que em contato com uma fonte de ignição, um flare 20

inadequadamente instalado ao nível do solo, explodiu. A explosão iniciou o incêndio

nas instalações da PEMEX. Dez minutos depois de iniciado o vazamento, um fenômeno

conhecido como BLEVE (do inglês: Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion –

Explosão de vapor líquido expandido), decorrente da alta temperatura atingida por

líquidos contidos em reservatórios, que explodem, lançando fragmentos e causando

forte deslocamento de ar, aconteceu seguido de outro ainda mais forte que formou uma

bola de fogo de 300 metros de diâmetro. Explosões em reservatórios lançavam pedaços

de materiais atingindo pessoas e construções. Para debelar o incêndio foram necessárias

quase 17 horas .21 22 23

Em Bhopal, Índia, em dezembro de 1984, a Union Carbide Corporation, empresa

norte-americana no segmento de produtos químicos, produzia agrotóxicos. Naquele ano,

o vazamento de 40 toneladas de isocianato de metila e outros gases letais foi

responsável pelo que é considerada a pior catástrofe tecnológica da história. A nuvem

formada pelos produtos tóxicos que vazaram, rapidamente atingiu a grande população

das vilas, centros comerciais e residências vizinhas à indústria. Duas mil pessoas

morreram imediatamente. O governo indiano continuou contabilizando as mortes em

19 Serpa, Ricardo Rodrigues. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação na América Latina e

no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet

(org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p. 267-276. 20 Flare é o nome dado aos sinalizadores - chamas de fogo que queimam incessantemente – usado em indústrias químicas como indicador de segurança. Enquanto o fogo arde, o gás residual da atividade está

sendo queimado como o previsto, sem vazar para a unidade e contaminar os funcionários. 21 Zonno, Isabella do Valle, Pessoa, Valdir & Andrade, Hubmaier. A situação atual da análise de risco

na atuação da ANP. Disponível em: <http://www.portalabpg.org.br.>. Acesso em: 28 agosto 2008. 22 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 253-266. 23 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:

<http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/acidentes/mexico.asp>. Acesso em: 19 fev. 2008.

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decorrência do acidente e, em 1994, dez anos depois, eram mais 4.000 mortes. O

número de pessoas que ficaram permanentemente inválidas chega a 30.000. As novas

gerações continuam sentindo as seqüelas do acidente 24

e a população local não recebeu

qualquer apoio ou tratamento. A Union Carbide Corporation fundiu-se a outra

multinacional do setor químico que não aceita o passivo ambiental de Bhopal. 25 26

Esses acidentes industriais ampliados, com vítimas fatais e sérias conseqüências

à saúde pública, ao meio ambiente e ao patrimônio e com custos sociais muito altos,

tornaram evidente a necessidade de melhorar a segurança das instalações perigosas e

dos processos produtivos. Principalmente por causa da pressão pública, a partir da

década de 1980, a indústria química e petroquímica começou a sentir necessidade de um

plano de resposta à emergência que alcançasse, não só seus funcionários, como também

a comunidade onde está instalada.27

Indústrias com atividades fortemente poluidoras e perigosas transferiram suas

atividades para países em desenvolvimento, tornando mais baratos os custos de

produção com os salários baixos e as poucas exigências por um processo produtivo

ambiental e socialmente responsável. Além da vantagem em continuar comercializando

substâncias tóxicas banidas em seus países de origem.28

Geralmente, nas periferias das grandes cidades estão instaladas as indústrias

perigosas. Ao lado dessas indústrias está a população que carece de todo os recursos

para enfrentar situações de risco. 29

Durante muito tempo, a indústria química operou sem qualquer restrição. Pouco

se sabia sobre os riscos de contaminação e intoxicação provocados por produtos

químicos. Os efeitos nocivos dos resíduos dispensados sem qualquer tratamento e do

24 Esses dois últimos números são controversos. Esse trabalho optou pelos dados fornecidos no texto de

autoria do pesquisador sênior - COPPE / UFRJ, Moacyr Duarte. 25 Bhopal, o desastre continua (1984 / 2002). Disponível em: < http://www.greenpeace.com.br>. Acesso

em: 28 agosto 2008. 26 Duarte, Moacyr. Op. cit. 27 Souza Jr. Álvaro Bezerra de & Souza, Marlúcia Santos. Implantação de sistemas de resposta para

emergências externas em áreas industriais no Brasil. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo

de Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro:

Editora Fiocruz, 2000. p. 221-235. 28Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a

educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003. 29 Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza; Machado, Jorge Mesquita Huet. A

questão dos acidentes industriais ampliados. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de

Souza; Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora

Fiocruz, 2000. p. 25-45.

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uso indiscriminado desses produtos não eram conhecidos pela grande maioria da

população. 30

O assunto só atingiu um público maior no início da década de 1960, quando

Rachel Carson mostrou os danos causados em animais e seres humanos devido ao

consumo excessivo de agrotóxicos, no livro Primavera Silenciosa. 31 32

No Brasil, a legislação ambiental foi se aperfeiçoando apenas a partir da década

de 1980. Em 1981 foi criado Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),

através da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Em 1988 foi promulgada a Constituição

Federal, onde “estão assegurados os direitos e deveres básicos para garantir a

preservação ambiental”.33

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações.

Art. 1. – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público:

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,

métodos e substâncias que comportem risco para a qualidade de vida e o meio

ambiente.34

No Estado de São Paulo, o crescimento no número de acidentes ambientais –

como os derramamentos de óleo no litoral norte e o desastre da Vila Socó – gerou a

necessidade de criar medidas preventivas, além das medidas corretivas existentes, para

evitar novas ocorrências tanto em indústrias já instaladas, quanto nas que viessem a

operar.

Com o intuito de evitar novos acidentes, a Companhia de Tecnologia de

30 Demajorovic, Jacques. Sociedade de risco e responsabilidade socioambiental – Perspectivas para a

educação corporativa. São Paulo: Editora Senac, 2003. 31 Publicado no Brasil pela Editora Melhoramentos, com tradução de Raul de Polillo. 32 Demajorovic, Jacques. Op. cit. 33 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas, p. 257. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 253-266. 34 Constituição República Federativa do Brasil – 1988.

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Saneamento Ambiental (CETESB) incorporou no processo de licenciamento ambiental

o estudo de análise de riscos. Para tanto, utilizou em indústrias químicas e

petroquímicas o mesmo tipo de análise usada nas áreas militar, nuclear e aeronáutica.

Tais modelos foram aplicados para identificar e quantificar perigos e seus

desdobramentos em impactos para o homem e o meio ambiente, a partir de eventos

como incêndios, explosões e vazamentos de substâncias tóxicas. 35

O transporte rodoviário foi responsável pela maioria desses acidentes (40,2%). A

indústria causou 7,1% e armazenamento 2,5%. Na região metropolitana aconteceram

50,8% dessas ocorrências, no interior 33,9% e no litoral 15,3%. Acidentes com líquidos

inflamáveis foram 31,1%, substâncias corrosivas 9,8%, gases 9,6% e substâncias

perigosas diversas 5,4%.36

Os estudos de análise de riscos requerem análises precisas e detalhadas de

sistemas, equipamentos e operações presentes em uma planta industrial, já que é de

grande importância identificar as causas básicas e as seqüências de eventos e falhas que

podem levar à ocorrência de um acidente maior. Dessa forma, os estudos devem prever

e quantificar os possíveis cenários acidentais, bem como suas respectivas conseqüências

em termos de explosões, incêndios, vazamentos tóxicos e outras reações violentas e

indesejadas, de modo que medidas concretas e efetivas de gerenciamento sejam

incorporadas no processo operacional da instalação – cabendo, portanto, aos órgãos de

controle e licenciamento a missão de avaliar os estudos e exigir a implantação dessas

ações.37

Risco é a possibilidade de algo acontecer. Em se tratando de risco tecnológico

ambiental, a questão é a probabilidade de ocorrer algum evento indesejável com

substâncias químicas perigosas em uma instalação industrial, na armazenagem ou no

transporte dessas substâncias.38 39

A probabilidade de ocorrer um evento perigoso multiplicada pela conseqüência

desse evento dá a dimensão do risco. O estudo de análise de risco é o instrumento

35 Serpa, Ricardo Rodrigues. Op. cit. 36 Idem. 37 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas, p. 259. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,

2000. p. 253-266. 38 Idem. 39 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:

<http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 22 agosto 2008.

AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NA

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utilizado para estimar o risco dessa atividade e possibilita que se adotem medidas para

gerenciar essas probabilidades e conseqüências.40 41

No caso de acidentes que

ultrapassem os limites da instalação industrial e possam afetar pessoas, a CETESB

adota o conceito de risco social – relacionado ao risco que pode afetar determinado

número ou grupo de pessoas que estariam expostas a possíveis acidentes, e risco

individual – está relacionado ao indivíduo presente na área do acidente.42

Esse cálculo, no entanto, é utilizado apenas para risco de acidente maior, isto é,

para eventos com chances reais de acontecer com conseqüências graves para a

comunidade e para os ecossistemas. Para acidentes com grande probabilidade de

ocorrer mas sem qualquer conseqüência significativa, tanto quanto para acidentes com

raríssima probabilidade mas com impacto catastrófico, não se faz cálculo de risco.43

Gerenciar os riscos é criar e estabelecer regras com o objetivo de evitar, diminuir

e controlar os riscos existentes numa instalação perigosa e, ao mesmo tempo, garantir o

pleno funcionamento dentro dos padrões de segurança.44

O plano de emergência é criado a partir do estudo de análise de ricos, para que

todos os cenários de acidentes possíveis sejam conhecidos e o plano estabeleça e

implante ação de respostas a essas possibilidades. O plano de emergência não tem

função preventiva, isto é, ele não é uma ferramenta para evitar o acidente, mas exerce

papel importante para minimizar os impactos decorrentes de um evento indesejado.45

O Plano de Ação de Emergência tem ação direta na redução das conseqüências.

Entre outras coisas, é esse plano que estabelece:

. ação ordenada entre equipes responsáveis em situação de risco (para conter um

incêndio, por exemplo);

. equipamentos adequados e suficientes para conter um vazamento ou atender

40 Serpa, Ricardo Rodrigues. As metodologias de análises de riscos e seu papel no licenciamento de

indústrias e atividades perigosas. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza;

Machado Jorge Mesquita Huet(org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. p. 253-266. 41 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Disponível em:

<http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 22 agosto 2008. 42 Idem. 43 Duarte, Moacyr. O problema do risco tecnológico ambiental. In: Trigueiro, André (coord). Meio

ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2003, p. 245-257. 44 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Manual de orientação para a

elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 1994. 45 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), Manual de orientação para

elaboração de estudos de análise de riscos. São Paulo: CETESB, 1994.

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uma emergência (para retirada de óleo do mar, quando houver vazamento, por

exemplo);

. inventário de bens naturais ou matérias vulneráveis, para protegê-los e evitar

que sejam atingidos em caso de acidente (evitar que óleo ou outra substância

tóxica atinja uma área de mangue, por exemplo);

. proteção das pessoas, quando for o caso. O Plano de Ação de Emergência prevê

e planeja detalhadamente a remoção da população para lugar seguro.

O plano apell como gerenciamento de riscos

Os grandes acidentes industriais ampliados, com muitas vítimas fatais e feridos

entre a população, em diversos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, durante as

décadas de 1970 e 1980, foram a razão pela qual várias instituições se uniram para criar

programas de apoio aos países visando diminuir o número de acidentes ambientais

tecnológicos e suas conseqüências para a saúde humana e para o meio ambiente.46

Uma característica comum a esses diversos acidentes foi a falta de informação

por parte da população sobre o que estava acontecendo e sobre como proceder em

situações como aquelas, além da desinformação sobre os riscos que corriam por

viverem próximos àquelas instalações perigosas.47

Percebia-se que planos de emergência em que apenas os efetivos das instituições

estavam previamente preparados para as emergências tinham eficácia muito limitada.

Desinformada, a população entrava em pânico e tinha atitudes caóticas, dificultando a

própria ação dos serviços de emergência.48

Vários programas internacionais foram criados com a proposta de partilhar

informações (relação dos acidentes ocorridos em diversos países, lista de substâncias

químicas perigosas e procedimentos para minimizar suas ações prejudiciais, manuais de

orientação para elaboração de planos de emergência...) e experiências para que um

evento indesejado ocorrido em um local, com determinada substância, não voltasse a

46 Serpa, Ricardo Rodrigues. Prevenção e resposta a acidentes químicos – Situação na América Latina e

no Caribe. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo de Souza & Machado Jorge Mesquita

Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000, p. 267-276. 47 Freitas, Carlos Machado; Porto, Marcelo Firpo de Souza & Machado, Jorge Mesquita Huet. A questão

dos acidentes industriais ampliados. In: Ibidem, p. 25-45. 48 Idem.

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ocorrer, ou, se por alguma razão ocorresse, o atendimento de emergência fosse mais ágil

e eficiente.

O APELL foi elaborado em 1986, pelo Departamento de Meio Ambiente e

Indústria do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O

PNUMA é a agência do sistema das Organizações das Nações Unidas (ONU),

responsável por estimular a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento

sustentável através de incentivo e apoio a povos e nações na busca pela melhoria de sua

qualidade de vida, sem comprometer as futuras gerações. Essa agência, estabelecida em

1972 com sede no Quênia, atua em diversas frentes, principalmente na busca de

resposta e suporte para soluções eficazes para a prevenção de acidentes ambientais; e na

promoção de troca de informações e trabalho conjunto de autoridades e comunidade

para a criação de políticas ambientais, além de dar o apoio necessário para a

implantação dessas políticas 49

.

O Plano APELL enfatiza a necessidade da participação do governo local, da

comunidade e das indústrias para minimizar as conseqüências para a saúde da

população e para o meio ambiente em casos de acidentes industriais ampliados. As

instruções foram elaboradas com o objetivo de tornar público à população que vive

próxima a uma instalação perigosa as possíveis conseqüências de um acidente industrial

ampliado quando ele extrapola a planta industrial50.

Os danos causados por um acidente que se estende para além dos muros da

instalação química podem ser maiores ou menores, de acordo com a rapidez e a eficácia

das medidas tomadas e do conhecimento que a população que vive no entorno dessa

instalação, tem sobre os procedimentos a serem adotados.51

É preciso que haja diretriz única sobre os procedimentos adotados numa situação

de emergência, tanto pelos responsáveis por debelarem o acidente quanto pela

população afetada. Todos devem ser conscientizados sobre os riscos e orientados sobre

como agir durante a ocorrência antes que ela aconteça. Essa é a finalidade de um plano

49 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Disponível em:

<www.onu-brasil.org.br/agencias-pnuma.php>. Acesso em: 15 jan. 2008. 50 Souza Jr., Álvaro Bezerra de & Souza, Marlúrcia Santos. Implantação de sistemas de resposta para

emergências externas em áreas industriais no Brasil. In: Freitas, Carlos Machado de; Porto, Marcelo Firpo

de Souza & Machado Jorge Mesquita Huet (org). Acidentes Industriais Ampliados. Rio de Janeiro:

Editora Fiocruz, 2000, p. 221-235. 51 Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:

alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990.

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de ação de emergência. No caso do Processo APELL, o seu sucesso está diretamente

ligado à participação integrada do Poder Público (em todas as suas esferas, mas

principalmente o local), da indústria e da comunidade.52

O manual APELL foi editado no Brasil pela Associação Brasileira da Indústria

Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Além de explicar o processo, indica

seus objetivos globais e específicos; destaca quem são os participantes, nos níveis

nacional e local, e suas responsabilidades e funções.53

O direito ambiental brasileiro reconhece o direito à informação sobre as ações de

fiscalização do Poder Público, sendo da Sociedade Brasileira de Direito do Meio

Ambiente a proposição do projeto transformado em lei, que estabelece que o controle da

poluição ambiental ganhará

... em dinamismo e seriedade se os dados colhidos pelos organismos públicos

não ficarem restritos aos meios administrativos... criando oportunidade... para

as vítimas da poluição e também aos poluidores de tomarem conhecimento

das análises levadas a efeito e de debaterem as conclusões com os

responsáveis pelos órgãos de defesa do meio ambiente.54

Quanto à comunidade, ela tem a necessidade e o direito de saber que produtos

são armazenados, manipulados e produzidos na planta industrial instalada na região, que

possam afetá-la.55

...comunicar os riscos, falar a verdade sobre os potenciais perigos, abrir

informações usualmente mantidas inacessíveis, mas cuja democratização de

acesso é a base inescapável para construir a relação de confiança e

participação que se descobre essencial depois do colapso comprovado dos

métodos de perfil tecnocrático.56

52 Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:

alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990. 53 Idem. 54 Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 3.ed.São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais Ltda., 1991, p. 84. 55 Idem. 56 Cunha, Icaro. Desafios do gerenciamento de riscos ambientais na Baixada Santista, p. 68. In:

Perdicaris, A. André M. (org). Temas de Saúde Coletiva: desafios e perspectivas. Santos: Ed.

Universitária Leopoldianum, 2004, p. 55-79.

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O modo como a informação é passada à população pode variar de uma

comunidade para outra – pode ser através da mídia local, se houver; folhetos; palestras;

alto-falantes; professores em salas de aula. O importante é que todos sejam informados,

independente do nível educacional. A mensagem deve ser adequada a cada público,

compreensível para todos.57

É importante destacar que o Plano APELL, nos moldes em

que foi elaborado, não se aplica para desastres naturais, nem atômicos, mas sim a

acidentes industriais ampliados.58

O processo começa com a formação do grupo coordenador, que deve contar com

a participação de representantes dos diversos órgãos públicos com envolvimento

necessário no preparo para emergências, representantes das indústrias capazes de

fornecer informações relevantes e com poder de decisão e membros da comunidade, em

suas diversas representações.59

A primeira ação, uma vez constituído o grupo coordenador, é coletar

informações e avaliar a situação local. A partir dessa coleta de dados, o grupo

coordenador é capaz de identificar quais órgãos e instituições são importantes no

preparo dos planos de emergência e que materiais e recursos esses participantes podem

disponibilizar e, com isso, estabelecer tarefas e responsabilidades para cada um. É

importante montar um esquema para identificação e localização do responsável por cada

órgão e instituição como, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Departamento de Saúde,

Departamento de Meio Ambiente, para que a operação seja eficiente em casos de

emergência.60

Cada procedimento como, evacuação, transporte, abrigo, distribuição de

alimentos e atendimento médico, deve ter uma equipe preparada para agir e uma pessoa

responsável para comandar essa equipe.61

Avaliar as informações sobre os riscos que podem gerar uma situação de

emergência, não só nas indústrias químicas, mas também outras fontes de riscos que

podem oferecer perigo é tarefa do grupo coordenador. Todos os riscos e perigos que

podem resultar em acidente devem ser analisados, como pequenas fábricas e depósitos

57 Idem. 58 Idem. 59 Idem. 60 Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:

alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990. 61 Idem.

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de materiais perigosos.62

Uma vez identificadas essas fontes de riscos, é preciso checar os procedimentos

de emergência adotados por cada uma delas para que eles sejam padronizados.

Conhecer esses procedimentos resulta em uma ação mais elaborada, uma vez que

eventuais falhas e omissões dos planos já existentes podem ser superadas pelo trabalho

do grupo coordenador.63

Saber o que já foi informado a ela, se já foi feito algum tipo de treinamento, com

que freqüência e como foi feito é necessário no planejamento de ações futuras.

Relacionar os equipamentos disponíveis na localidade que possam ser usados em casos

de emergência e os profissionais especializados que possam agir e colaborar em casos

de emergência ajuda na preparação das ações a serem adotadas.64

Por fim, estabelecer procedimentos para a proteção da comunidade durante

situações de emergência e, para que funcione, informar e treinar essa comunidade para

que adotem esses procedimentos.65

Uma situação de emergência não tem hora para acontecer. Tanto os órgãos de

fiscalização e licenciamento quanto os técnicos trabalham para que acidentes não

aconteçam. A preparação do Processo APELL parte do princípio que, mesmo

trabalhando para evitá-los, indústria e Poder Público devem ter um plano de emergência

elaborado e passível de ser posto em prática no caso de um acidente. Revisar e atualizar

o plano de emergência e treinar a comunidade com periodicidade para que as

informações recebidas não sejam esquecidas é importante para o bom andamento das

ações durante um evento indesejável.66

A comunicação no preparo para emergências

Comunicação é o processo de tornar uma idéia comum a diversas pessoas 67

, seja

62 Idem. 63 Idem. 64 Idem. 65 Associação Brasileira de Indústria Química e de Produtos Derivados (ABIQUIM). Manual APELL:

alerta e preparação de comunidades para emergências locais. São Paulo: ABIQUIM, 1990. 66 Idem. 67 Aidar, Marcelo Marinho & Alves, Mário Aquino. Comunicação de Massa nas Organizações Brasileiras

– explorando o uso de histórias em quadrinhos, literatura de cordel e outros recursos populares de

linguagem nas empresas brasileiras. In: Motta, Fernando C.Prestes & Caldas, Miguel P.(org). Cultura

Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Editora Atlas S/A, 1997, p. 203-219.

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através da linguagem escrita, falada ou figuras. Fundamental para nossa convivência, é

através da comunicação que se expressa o que é importante e se procura chegar a

consensos, implicando certo grau de cooperação. 68

Um plano de emergência busca diminuir as conseqüências de um acidente. Um

dos pontos para a redução do impacto causado por um evento indesejável é a

conscientização da população, principalmente aquela que reside, estuda ou trabalha

próximo à instalação de risco.

Comunicação de riscos é o processo de comunicar sobre riscos à saúde, ao meio

ambiente natural e urbano e à segurança da população. No caso de uma instalação

perigosa, vários procedimentos de segurança são exigidos para que seja autorizado o seu

funcionamento. No entanto, em caso de acidentes que especialistas buscam evitar, mas

admitem que podem acontecer, a população que reside no entorno e os trabalhadores da

instalação podem ficar expostos a produtos que causem danos. Quanto mais

informações e conhecimentos tiverem essas pessoas, mais provavelmente elas saberão

se proteger.69

Para o Conselho Nacional de Pesquisa, dos Estados Unidos da América

(National Research Council – NRC),

comunicação de riscos pode ser definida como um processo interativo de

troca de informações e opiniões entre indivíduos, grupos e instituições a

respeito de um risco ou um risco em potencial para a saúde humana ou o

meio ambiente.70

A falta de informação, o despreparo da população que vive no entorno de uma

instalação industrial, é também um fator que aumenta o risco de acidentes e piora as

condições de atendimento em casos de tragédias. Saber o que acontece e ter o poder de

participar das decisões é, para Sevá, uma maneira da população manter o controle de

68 Rabaca, Carlos Alberto & Barbosa, Gustavo. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Editora

Codecri, 1978. 69 Santos, Susan L. Developing a risk communication strategy. Journal AWWA, p. 45-49, November

1990. 70 National Research Council. Apud

Lundgren, Regina & Mcmakin, Andrea. Risk communication: a handbook for communicating

environmental, safety and health risks. 3.ed. Columbus, Ohio: Battelle Press, 2004, p. 15.

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suas vidas.71

O propósito da comunicação de riscos também pode ser diversificado, como seu

público. Em determinadas situações é preciso alertar o público apático, motivá-lo à

ação. Em outras, é preciso acalmar o público alarmado, informando e buscando a

construção de um consenso, mostrando a ele que não há razão para preocupação.72 73

Para ser efetiva, a comunicação dos riscos não pode partir da premissa de que o

público fica descontente porque não entende o que acontece, o que o público necessita é

ser ouvido e seus temores e anseios serem respondidos.74 75

Para serem eficazes, comunicadores de riscos devem reconhecer e superar

inúmeros obstáculos que têm suas raízes nas limitações da avaliação científica dos

riscos e nas idiossincrasias da mente humana.76

Selecionar o canal de comunicação é outro ponto. Um mesmo canal pode não ser

apropriado para todos os grupos a que a comunicação de riscos se dirige. Esses canais

podem ser encontros públicos, folhetos, programas de rádio ou televisão, palestras,

jornais. O importante é que o público seja atingido e sinta-se satisfeito com a

informação recebida.77

A avaliação final do processo é o último passo, e envolve desde uma avaliação

prévia do material utilizado nas atividades de apoio como avaliação dos encontros

públicos, dos panfletos e cartilhas, da interação com a mídia e da cobertura jornalística.

Essa avaliação deve ser constante para que os ajustes sejam feitos quando necessários.

Isso implica em um compromisso com um programa de comunicação de riscos que seja

ativo, constante.78

Características gerais do município de São Sebastião

A história de São Sebastião, município do litoral norte paulista, sempre esteve

71 Sevá, Oswaldo. Op. cit, p. 43. 72 Idem. 73 Santos, Susan L. Op. cit. 74 Santos, Susan L. Developing a risk communication strategy. Journal AWWA, p. 45-49, November

1990. 75 Lundgren, Regina & Mcmakin, Andrea. Op. cit. 76 Slovic, Paul. Informing and educating the public about risk, p. 182. In: Slovic, Paul. The perception of

risk. 4. ed. London: Earthscan Publications Ltd., 2004, p. 182-198. 77 Idem. 78 Idem.

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ligada ao porto, em razão da sua configuração natural – grande profundidade e ótimas

condições oferecidas pelo canal para o fundeio protegido de embarcações.79

80

Com 403 Km², o município é uma extensa faixa de aproximadamente 100 km de

costa, que engloba a vertente de encosta da Serra do Mar, a planície costeira, além de

algumas ilhas.81

O centro administrativo e urbano de São Sebastião fica na região do

canal de mesmo nome, defronte à Ilha também de mesmo nome onde se situa o

município de Ilhabela. Nessa região está a sede da Prefeitura Municipal, a Câmara dos

Vereadores, a Igreja Matriz de São Sebastião. No censo de 2007, realizado pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consta que São Sebastião possui 67.348

habitantes 82

, com população flutuante não estimada, na época da alta temporada de

verão. O Índice de Desenvolvimento Humano do município (IDH-M) é 0,798 (ano

2000).

O Porto de São Sebastião, com sua configuração de atracação atual, foi pensado

em 1925, com a finalidade de ser uma alternativa ao porto de Santos, mas, por razões

políticas, a idéia não evoluiu naquele momento.83

A movimentação do porto de cargas gerais é de cerca de 400 mil toneladas/ano,

com importações de barrilha, malte, cevada, trigo, sulfato de sódio, produtos

siderúrgicos, máquinas e equipamentos, bobinas de fio e cargas gerais e exportação de

máquinas e equipamentos, veículos, peças, virtualha, produtos siderúrgicos e carga geral

84.

Objetivando realizar obras de ampliação e remodelação do cais e agilizar o

processo de operações portuárias, em maio de 1969, foi editado o decreto-lei estadual n.

63, que criou a Companhia das Docas de São Sebastião. No entanto, a administração do

porto só foi repassada para a Companhia em outubro de 2007, quando tomou posse a

primeira diretoria. Nesse ano também foi renovado, por mais 25 anos, o convênio entre

79 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em

São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,

1996, Universidade de São Paulo. 80 Idem. 81 Idem. 82Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), em 2007, o número de habitantes

em São Sebastião era 79.403 habitantes. Disponível em:<

http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfil.php>.

Acesso em: 21 agosto 2008. 83 Morais, Fernando. Chatô, o rei do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1994. 84 Idem.

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União e Estado.85

Dentro do Porto Organizado está também o terminal marítimo da Petrobrás;

construído na década de 1960, que teve um grande papel e ainda tem, no

desenvolvimento local.86

Para a população, o terminal marítimo e o porto de cargas secas são duas coisas

distintas. Porto é apenas o porto de cargas gerais que é pequeno, tem um berço, e é

administrado pela Companhia Docas de São Sebastião. E píer é a denominação

recebida pelo terminal de carga líquida do Terminal Marítimo Almirante Barroso

(TEBAR). Visando padronizar o texto com as designações locais, nesse trabalho

também os dois serão tratados de maneira separada.87

O Terminal Marítimo Almirante Barroso entrou em operação em 1969. Mesmo

antes de começar a operar, em 1969, o terminal marítimo da Petrobrás trouxe mudanças

para o município. A estrada de acesso que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte –

Rodovia dos Tamoios – teve que ser alargada e asfaltada para permitir o tráfego de

caminhões com materiais para a construção do terminal.88

O terminal trouxe melhorias, mas trouxe também problemas até então não

enfrentados na região, como o desmatamento e a intervenção na Serra do Mar para a

instalação de oleodutos ou a construção da estrada de serviço da Petrobrás.89 90 91

85 Idem. 86 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em

São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,

1996, Universidade de São Paulo. 87 Idem. 88 Kandas, Esther. A implantação do Terminal Marítimo Almirante Barroso: marco na definição da

política petrolífera brasileira (1953-1969). Tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas, 1988, Universidade de São Paulo. 89 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em

São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,

1996, Universidade de São Paulo. 90 A empresa Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás), criada no ano de 1953, atua na exploração, produção,

refino, comercialização e transporte de petróleo e seus derivados. Atua também no segmento de gás natural e fertilizantes, na indústria petroquímica e na distribuição de derivados de petróleo.

Torres, Carlos Alberto Rodrigues. Gestão Ambiental e Resolução de Conflitos: licenciamento de

dutovias no litoral de São Paulo. Dissertação de mestrado. Gestão de Negócios, 2006, Universidade

Católica de Santos. 91 O sistema Petrobrás inclui empresas subsidiárias que são independentes, com diretorias próprias. São

elas:Petrobrás Distribuidora S/A (BR Distribuidora), que atua na distribuição de derivados de

petróleo;Petrobrás Energia Participaciones S/A;Petrobrás Química S/A (PETROQUISA), que atua na

indústria química;Petrobrás Gás S/A (GASPETRO), subsidiária responsável pela comercialização do gás

natural nacional e importado;Petrobrás Transporte S/A (TRANSPETRO), subsidiária responsável pela

construção e operação da rede de transportes;Downstream Participações S/A, subsidiária que facilita a

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O TEBAR é o maior terminal marítimo de petróleo e derivados da América do

Sul, por onde passa quase metade de todo o petróleo processado no Brasil. Por dia, são

cerca de 135 mil m³ de petróleo e 20 mil m³ de derivados. Realiza operações de carga e

descarga de navios-tanque; armazena petróleo e derivados; bombeia, por dutos, petróleo

e derivados para as quatro refinarias do estado de São Paulo: Refinaria Presidente

Bernardes (RPBC), em Cubatão; Refinaria de Paulínia (Replan); Refinaria Henrique

Lage (Revap), em São José dos Campos e Refinaria Capuava (Recap), em Mauá;

recebe, também por dutos, derivados de petróleo vindos das refinarias de São José dos

Campos e Paulínia; além de abastecer de combustível os navios atracados. No período

entre 1998 e 2000, analisado nesse trabalho, o TEBAR também armazenava e

bombeava metanol. Em 2008, o Terminal de São Sebastião opera com petróleo, QAV

(querosene de avião), diesel, gasolina, nafta e bunker.92 93 94 95

Na área marítima, numa extensão de 905 metros, o terminal possui píers para

rebocadores e dois píers para atracação de navio com capacidade de operar quatro

navios petroleiros ao mesmo tempo. Em 2008, a média mensal é de 57 navios. A área

total do terminal é 1.892.820 m². No ano 2000, o terminal possuía 22 tanques de

petróleo, 14 tanques de derivados e um tanque de metanol, com capacidade total de

armazenamento de 1.815.310 m³.96 97

Em 2008, segundo a Companhia Docas de São Sebastião, eram 43 tanques em

operação, com capacidade para armazenar 2.100.000 t.98 Porém, de acordo com a

página na internet do Ministério dos Transportes, continuam sendo 37 tanques, como no

permuta de ativos entre a Petrobrás e a Pepsol – YPF;Petrobrás International Finance Company (

PiFCo).Disponível em: <.http://www2.Petrobras.com.br>. Acesso em 1 set. 2008. 92 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em

São Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública,

1996, Universidade de São Paulo. 93 Petrobrás Transporte S/A. Disponível em: <http://www.transpetro.com.br>. Acesso em 1 set. 2008. 94 Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação Regional do Terminal Aquaviário de São

Sebastião.

Responsável: Sr. Nilton Hernandes, 24 set. 2008. 95 Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São

Sebastião, 2000. 96 Idem. 97 Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação Regional do Terminal Aquaviário de São

Sebastião.

Responsável: Sr. Nilton Hernandes, 24 set.2008. 98 A mudança de medida de armazenamento (m³ para tonelada) se dá ao fato dos dados atuais serem da

Companhia Docas de São Sebastião, empresa do governo estadual.

Companhia Docas de São Sebastião. Disponível em: <http://www.portodesaosebastiao.com.br>. Acesso

em: 27 agosto 2008.

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ano 2000. Desses, 22 são tanques de petróleo, 13 de derivados e dois de slop ( utilizados

para transbordo) – com capacidade de armazenamento de 1.850.000 m³.99 100

O responsável pela Comunicação Institucional/ Atendimento e Articulação

Regional da TRANSPETRO informou que a quantidade de tanques de produtos é 41,

com capacidade de armazenamento de 1.890.184 m³. Esse volume é equivalente a sete

dias do consumo nacional.

Ao longo de 15 anos, de 1974 a 1999, foram contabilizados 220 acidentes

ambientais em decorrência das atividades do terminal.101 A maioria desses acidentes

foi de derramamento de óleo no mar, mas houve também casos de impacto imediato

mais forte sobre a população, como o acidente com o petroleiro Cairu, em abril de 1977,

que colidiu contra o píer do TEBAR, causando incêndio sobre a mancha de óleo

derramada no mar102; e em junho de 1984, quando o vazamento de óleo do TEBAR

para o córrego do Outeiro, que corta o centro da cidade, causou novo incêndio.103

O acidente com o Brazilian Marina, em nove de janeiro de 1978, colocou o

Porto de São Sebastião na categoria de local inadequado para operações de petróleo,

pelas bolsas de seguro. Essa situação se deu por causa dos altos custos que eventos

como esse costumam provocar: conserto do navio, perda do produto, despesas de

permanência no terminal, além das multas.104

O acidente com o navio petroleiro Cairu aconteceu em 20 de abril de 1977,

devido ao rompimento de um cabo de amarra. O petroleiro Cairu, da Frota Nacional de

Petroleiros (Fronape), colidiu com o píer sul do terminal marítimo Almirante Barroso e

atingiu sua parte elétrica. O óleo vazado pegou fogo e ficou queimando na superfície do

mar por mais de 12 horas.105 106 O Cairu chegava do Oriente Médio, com 260 mil

toneladas de óleo. Apesar das grandes labaredas resultantes do fogo no óleo sobre o

99 Ministério dos Transportes. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br>. Acesso em 1 set. 2008. 100 Para efeito de cálculo, 1 m ³ = 1.000 litros = 1 tonelada. 101 Poffo, Íris Regina Fernandes. Vazamentos de óleo no litoral norte do Estado de São Paulo: análise

histórica (1974-1999). Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental,

2000, Universidade de São Paulo. 102 A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:

<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007. 103 Vazamento de óleo causa pânico em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 5 junho 1984. 104 Petróleo no mar, um clima de medo em São Sebastião. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 11 janeiro

1978, primeira página. 105 A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:

<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007. 106 Nery, F. Fogo e pânico em São Sebastião. Jornal da Tarde, São Paulo, 6 junho 1984, p.13.

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mar, todos os navios atracados no píer da Petrobrás e no porto de cargas gerais

conseguiram desatracar e se afastar da área do incêndio.107 A única morte registrada

devido este acidente, foi a de um tripulante, que em pânico, pulou ao mar. Esse índice é

surpreendente se levar em conta a reação na população local, que na época girava em

torno de 12 mil nos bairros mais próximos do terminal e no centro da cidade.108

O acidente no Córrego do Outeiro aconteceu em quatro de junho de 1984,

quando o óleo cru que vazou de um tanque da Petrobrás atingiu o Córrego do Outeiro,

que nasce na Serra do Mar, passa pelo terminal e depois atravessa a cidade – passando

ao lado de uma creche municipal, de uma escola pública e do único hospital local,

desaguando no mar próximo à instalação da Capitania dos Portos. Moradores das

proximidades do córrego afirmaram que durante aquela madrugada o cheiro de nafta

que exalava do córrego era forte e várias pessoas tinham passado mal, com náuseas e

dores de cabeça.109

Às 16h00 daquele mesmo dia, uma explosão sem causa definida, formou

labaredas de até 20 metros de altura. A nuvem de fumaça que subia para o céu era

grande e escura. A população entrou em pânico. O fogo durou apenas vinte minutos. O

resultado desse breve acidente foi uma população tomada por grande medo e sem saber

o que fazer. Centenas de pessoas foram hospitalizadas com crises nervosas. Muitas se

jogaram no mar. Outras buscaram abrigo nas igrejas, que já estavam lotadas. Alguns

estudantes foram encontrados em bairros distantes até 25 Km do centro.110 111 112

Ainda

hoje a causa do incêndio não foi solucionada.

Ao longo de 15 anos, de 1974 a 1999, foram contabilizados 220 acidentes

ambientais em decorrência das atividades do terminal113

. O grande número de acidentes

com graves conseqüências apontou para a necessidade de ações preventivas e a

CETESB foi solicitada a preparar uma proposta baseando-se em dados estatísticos dos

107 A longa noite de pânico no porto. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 abril 1977. Disponível em:

<http://almanaque.folha.uol.com/cotidiano_21abr1977.htm>. Acesso em: 8 julho 2007. 108 Idem. 109 Nery, F. Fogo e pânico em São Sebastião. Jornal da Tarde, São Paulo, 5 junho 1984, p.13. 110 Vazamento de óleo causa pânico em São Sebastião. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 junho 1984. 111 Os dutos do pânico. Revista IstoÉ, São Paulo, 13 junho 1984, p. 26-28. 112 Nery, F. Op. cit., p.13. 113 Poffo, Íris Regina Fernandes. Vazamentos de óleo no litoral norte do Estado de São Paulo: análise

histórica (1974-1999). Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em Ciência Ambiental,

2000, Universidade de São Paulo.

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acidentes ocorridos.114 A Análise da Ocorrência de Acidentes e Proposta de Ação

Preventiva da CETESB para 1986 mostrava que a maioria das ocorrências (77%)

envolvia navios-tanque e embarcações diversas. Falhas mecânicas eram as causas de

41% dos eventos, e falhas operacionais, 32,8%. As primeiras poderiam ser evitadas com

a melhoria da manutenção dos navios. As falhas humanas estavam relacionadas ao

cansaço ou desatenção das equipes de terra ou mar.115 116

A participação do poder local e população só começam no início da década de

1990. Em maio de 1992, foi promulgada a lei municipal ambiental de São Sebastião –

lei 848/92 – que estabeleceu a necessidade de autorização de funcionamento dada pelo

município, além das licenças Estadual e Federal, para as atividades instaladas ou que

pretendam se instalar no município. Essa lei estabelece que o Porto de São Sebastião e a

Petrobrás, já em atividade, precisam pedir autorização de funcionamento para o

município a cada dois anos e, para obter essa autorização, a empresa deve apresentar um

plano de gerenciamento de riscos.117

Mas, o grande avanço dessa lei, foi a abertura das informações à comunidade

local. Pela primeira vez a comunidade pôde acompanhar o Programa de Gerenciamento

de Riscos e saber exatamente quais riscos a instalação da Petrobrás oferece à cidade e à

sua população.118

A lei municipal 848/92 mudou o status do antigo Conselho de Meio Ambiente,

transformando-o em Conselho Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de São

Sebastião (COMDURB), instância que permite a participação da população na atividade

de controle ambiental. O COMDURB era e é composto em número igual por

representantes do governo municipal e por representantes da sociedade civil. Na sua

criação, as entidades representativas da sociedade civil eram: Ordem dos Advogados do

Brasil (Seção São Sebastião), Associação de Engenheiros e Arquitetos, Associação

Comercial, Sindicatos de Trabalhadores, ambientalistas, Sociedade de Amigos de

Bairro da Costa Sul, Sociedade de Amigos de Bairro da Costa Norte. Somente esses

114 Idem. 115 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) – Análise de

ocorrência de acidentes e proposta de ação preventiva para 1986. 116 Cunha, Icaro Aronovich. Op. cit. 117 Lei Municipal 848/92 118 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em São

Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública, 1996,

Universidade de São Paulo.

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tinham direito a voto. Entidades como Porto, Petrobrás, SABESP e CETESB, desde a

criação do conselho e ainda hoje, participam como convidadas.119 120

A empresa apresentou à prefeitura os estudos de riscos que já dispunha; a

prefeitura contratou uma empresa de consultoria para fazer a análise dos estudos, com

os custos da contratação repassados à Petrobrás; e a CETESB respondeu ao pedido de

ajuda da prefeitura com informações e documentos.121

O estudo e análise dos riscos permitiram a identificação das situações de perigo;

quantificaram as probabilidades de ocorrência de acidentes e suas conseqüências;

indicaram propostas para a redução dos acidentes e a minimização das conseqüências.

122

Os avanços no controle e prevenção dos acidentes foram progressivos. Os planos

de emergência foram implantados gradativamente. E a etapa mais avançada desse

processo foi a implantação do Plano APELL (Alerta e Preparação de Comunidades para

Emergências Locais) em São Sebastião. 123

Em 1992, a Prefeitura Municipal de São Sebastião propôs à Petrobrás que

trabalhassem juntas na implantação do Plano APELL. Com a posse do prefeito que

administrou o município entre 1993 e 1996, o trabalho Prefeitura / Petrobrás estagnou,

só vindo a ser retomado na administração seguinte de 1997 a 2000.

O processo apell em São Sebastião

119 Idem. 120 Em 2007, foi promulgada a Lei Municipal 1860, que reformulou o Conselho Municipal de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Urbano – COMDURB, com uma nova composição, ainda paritária, entre

Poder Público e sociedade civil. Sendo indicados pelo Poder Público Municipal um representante de cada

um dos órgãos listados:

Secretaria de Meio Ambiente; Secretaria de Planejamento e Obras; Secretaria de Saúde; Secretaria de

Educação; Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Humano; Procuradoria Ambiental e de Obras da

Secretaria de Assuntos Jurídicos; Secretaria de Cultura e Turismo; Subprefeituras.

Os eleitos pela sociedade civil, um representante de cada uma das instituições, organizações ou

associações, todas obrigatoriamente sediadas em São Sebastião: Organização não-governamental (ONG); Instituição de ensino, pesquisa e extensão; Instituição de setores

do comércio, indústria e serviços de São Sebastião; Sindicato de trabalhadores.

Para representar Federação de associação de moradores de bairro e Associação de classe ou profissionais,

são eleitos dois conselheiros, que devem representar Federações e Associações distintas.

Lei Municipal 1860/2007. 121 Cunha, Icaro Aronovich. Op. cit. 122 Idem. 123 Cunha, Icaro Aronovich, Sustentabilidade e poder local: a experiência de política ambiental em São

Sebastião, costa norte de São Paulo (1989-1992). Tese de doutorado. Faculdade de Saúde Pública, 1996,

Universidade de São Paulo.

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A implementação do Processo APELL em São Sebastião foi resultado do

trabalho conjunto da Prefeitura Municipal, Petrobrás e comunidade, com a colaboração

e a participação de vários departamentos da prefeitura, Defesa Civil Estadual, CETESB,

SABESP, Movimento de Preservação de São Sebastião (MOPRESS). O trabalho teve

início em 1999, com a discussão do Plano de Ação de Emergência para efeitos externos

ao Terminal.124

Os moradores das áreas consideradas de risco tiveram acesso às informações

sobre o terminal, no início, através de palestras ministradas em escolas e associações de

bairro por representantes da Defesa Civil Municipal e do engenheiro da Gerência de

Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Petrobrás, Artur Carlos de Vasconcelos Neto.

As informações passadas eram duas: “do risco em si do terminal, mas também das

providências que estavam sendo tomadas.”

Para o desenvolvimento do Plano de Ação de Emergência local, foi delimitada a

área considerada de risco, que foi identificada e dividida em cinco setores ; cada um

desses setores recebeu um número, um ponto de encontro específico para os moradores

e trabalhadores da respectiva área, e um abrigo designado.125

Ponto de encontro, como o próprio nome diz, é o local pré-determinado pelo

Plano de Ação de Emergência para onde as pessoas que se encontram na área de risco

devem se locomover para que possam ser transportadas para um abrigo.126

Abrigo, no caso do plano de ação de emergência, é o local fora da área de risco

onde pessoas removidas de suas residências possam permanecer até o restabelecimento

da segurança na área atingida. Esses locais devem possibilitar o alojamento separado de

homens e mulheres, possuir área para refeitório, ter higiene e segurança. No Processo

APELL implementado em 2000, a responsabilidade pelo suprimento de alimentação e

necessidades materiais, manutenção e cadastro das pessoas nos abrigos era do

Departamento de Educação, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, da

Secretaria de Esportes e Cultura e do Fundo social de Solidariedade.127

124 Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São

Sebastião, 2000. 125 Idem. 126 Idem. 127 Prefeitura Municipal de São Sebastião - Comissão Municipal de Defesa Civil. Manual APELL São

Sebastião, 2000.

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No ano 2000 foi realizado o primeiro treinamento de emergência com a

comunidade local, envolvendo todos os setores da área de risco em um mesmo

momento. Para tanto, várias entidades participaram da simulação, como: uma rádio

local, passando orientações sobre os procedimentos a serem adotados no momento da

evasão; elaboração de cartilha sobre como agir em situação de emergência, preparada

pelo grupo de comunicação do Plano APELL, e distribuída para todos os moradores e

estudantes da área considerada de risco, indicando a cada grupo de moradores para qual

abrigo deveriam dirigir-se; palestras nas escolas esclarecendo sobre as possibilidades de

acidentes, suas conseqüências e da necessidade de se conhecer o plano de emergência,

dentre outros. Foram informados de que as pessoas com dificuldade de locomoção ou

qualquer outro problema de saúde, previamente cadastradas, seriam evacuadas pela

defesa civil municipal.128

A implementação do APELL em São Sebastião, sob a óptica de quem participou

do processo, foi um momento relevante, de avanço. Significou uma nova forma de

relacionamento entre Petrobrás e comunidade. A aproximação entre empresa e

moradores locais levou ao conhecimento, por parte da população e até mesmo de órgãos

do governo municipal, a dimensão dos riscos relacionados à instalação e o mapa de

riscos - localização dos tanques e tipo dos produtos armazenados, segundo Eduardo

Hipólito do Rego - Secretário Municipal de Meio Ambiente e presidente da Comissão

Municipal de Defesa Civil de São Sebastião na administração 1997/2000.

Para Júlio Buzi, jornalista que trabalhava na área de comunicação da Petrobrás e

responsável por um programa na rádio local Morada do Sol,

...algo novo estava sendo implantado. A Petrobrás começou a se preocupar

com a segurança, começou a se trabalhar isso dentro da empresa com os

funcionários e depois a envolver outros órgãos civis e militares. Foi uma

mudança de visão dentro da Petrobrás que antes não tinha preocupação em

comunicar, informar, mostrar os riscos.

Apesar do sucesso e ampla participação da população na simulação do ano 2000,

128 Idem.

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nada mais aconteceu, ou seja, o assunto se extinguiu, acarretando a desmobilização da

sociedade. Hoje (2008), o plano APELL parece um sonho que nunca se realizou, porque

é retomado apenas um dia ao ano, por força de um decreto do prefeito para que esse dia

exista. Não foi aproveitado pela Petrobrás e pelas estruturas envolvidas, como Defesa

Civil e prefeitura, essa ansiedade que a própria comunidade foi criando de saber mais,

de tentar colaborar, de ser participativa.

A questão fundamental, assim, está relacionada à falta de continuidade do

processo. A ambientalista Nyelse Trench Martins teme pelo descrédito da população

que no primeiro momento foi estimulada, envolveu-se, participou do processo, mas não

percebeu continuidade e ela acredita ser muito difícil convencer novamente os

moradores de que há uma intenção positiva por parte dos órgãos públicos e da Petrobrás

para trabalhar esse plano de emergência.129

Conclusões

O plano de emergência para acidentes ambientais tecnológicos no município de

São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo foi proposto pela Prefeitura

Municipal à gerência da Petrobrás S/A como parte do gerenciamento de riscos do

terminal de petróleo da empresa instalado naquela cidade.

A metodologia utilizada, conhecida como Alerta e Preparação de Comunidades

para Emergências Locais (APELL, sigla em inglês para Awaredness and Preparedness

for Emergencies at Local Level), foi criada pelo Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente.

Trata-se de política pública, no campo da administração ambiental, envolvendo

responsabilidades das empresas, dos órgãos governamentais, de lideranças da

comunidade, dos meios de comunicação.

Sempre que a busca pela diminuição dos riscos depender da preparação do

público para respostas organizadas a eventos potencialmente catastróficos, o acesso à

informação e o conhecimento das medidas de segurança, inclusive as orientações para a

própria atuação da comunidade em momentos de crise, torna-se essencial. Uma parte

fundamental dessa preparação é a comunicação de riscos, um campo específico de

129 Nyelse Trench Martins, entrevista gravada em 30 abril 2007.

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conhecimento especializado.

O trunfo da implementação do Plano APELL em São Sebastião foi a realização

do Dia do Alerta, em outubro de 2000. Com as cartilhas já nas mãos dos moradores das

áreas de risco, foi realizado exercício simulado através de uma gincana, onde cada setor

competia com o outro. As tarefas foram estabelecidas de acordo com os procedimentos

recomendados no plano de emergência e constantes na cartilha. A rádio local foi

envolvida na gincana e, além dos moradores, as escolas também participaram. A adesão

ao exercício simulado que envolveu todos os setores foi bastante significativa, foram

oito mil participantes. É um fato importante conseguir mobilizar tanta gente de forma

ordenada e adequada ao treinamento recebido. Sem mencionar a ação dos vários órgãos

do governo local responsáveis pelo transporte, atendimento médico, cadastramento da

população, recepção nos abrigos, fornecimento de bens de primeira necessidade.

Ao abrir-se para a comunidade pela primeira vez, depois de 31 anos, e mostrar

preocupação com a segurança da população, a Petrobrás demonstrou disposição em

estabelecer relação de confiança com os moradores da cidade, principalmente seus

vizinhos instalados em áreas de risco. Essa atitude caracteriza a „abordagem da

confiança social‟.

A experiência do APELL São Sebastião é vista no meio especializado como uma

referência em relação aos resultados obtidos quanto à mobilização da comunidade.

Mesmo em países desenvolvidos, é especialmente difícil construir boas estratégias para

gerar interesse e participação dos moradores, comerciantes e outros segmentos da

população das áreas vizinhas a instalações perigosas. Combinam-se nesse trabalho

objetivos diversos, como acalmar o público e ao mesmo tempo envolvê-lo em

treinamentos para eventos que talvez nunca ocorram. Daí o reconhecimento da

relevância de uma experiência que nos seus melhores momentos conseguiu trazer a

participação de milhares de pessoas.

Lamenta-se que todo o preparo de resposta da população tenha se diluído com a

falta de novos e constantes treinamentos, que ficaram reduzidos apenas ao dia da

Simulação, ainda que por força de um decreto municipal, que obriga a sua realização.

Hoje (2008) muita gente não sabe o que é o APELL e, São Sebastião.

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