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i UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA Autoconsumo e abandono da rede em Portugal Mestrado Integrado em Engenharia da Energia e do Ambiente Vitor Manuel Fernandes Alves Neiva da Cruz Dissertação orientada por: António Manuel Vallêra 2015

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA

Autoconsumo e abandono da rede em Portugal

Mestrado Integrado em Engenharia da Energia e do Ambiente

Vitor Manuel Fernandes Alves Neiva da Cruz

Dissertação orientada por:

António Manuel Vallêra

2015

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“One resists the invasion of armies; one does not resist the invasion of ideas”,

Victor Hugo

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Abstract

Solar photovoltaic energy, through its versatility and increasingly lower costs, is facing an era of

abundant development and ever greater market penetration. With the global installed capacity growing

year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in

many different countries.

This study is focused on domestic photovoltaic self-consumption and its implication, in Portugal,

in two different points: a grid defection scenario and the analysis of photovoltaic self-consumption in a

real case scenario, as supported by the Portuguese legislation regarding self-consumption.

The first part, a grid defection scenario by a residential costumer, relying only on a photovoltaic

plus batteries system, was bases on a study published in the United States, by the Rocky Mountain

Institute, having used for this analysis the HOMER Energy ® software. The analysis conducted, has

showed that, with a photovoltaic plus batteries systems, grid parity can be achieved within ten years,

taking into account a sharp drop on photovoltaic systems and an increase of 5%/year in electricity prices

for residential customers.

In the second part, the aim was to analyze a real case scenario of self-consumption in a residence,

from a possible solar photovoltaic system. The data relative to the household electricity consumption

and photovoltaic generation, allowed to estimate that, in the time period studied, it would be likely to

obtain 13% savings in costs related to the household electricity consumption, thanks to 72% self-

consumption of the energy produced, and 28% grid injection. On an annual estimate, a 33%/year savings

were obtained, with only 31% of the electricity produced being self-consumed. However, given the

initial investment onto the photovoltaic system, the IRR would be between -0,9% and 1%, considering

a lifetime of 20 to 25 years for the photovoltaic system and a 22 years payback, in opposition to

Portugal’s Government estimates, much more optimistic concerning photovoltaic self-consumption

viability.

Keywords: self-consumption, Portugal, photovoltaic

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Resumo

A energia solar fotovoltaica, através da sua versatilidade, e cada vez menor custo, encontra-se

numa fase de desenvolvimento e penetração nos mercados acentuada. Com a capacidade mundial

instalada a subir, tanto nos sistemas a nível industrial como nos sistemas a nível doméstico, novos

enquadramentos regulatórios têm vindo a ser criados nos diversos países.

Este trabalho foca-se no autoconsumo fotovoltaico e as suas implicações, em Portugal, a dois

níveis distintos: uma situação de abandono da rede e a análise de um caso real de autoconsumo, tendo

como suporte a legislação portuguesa que regula o autoconsumo.

O primeiro ponto, o abandono da rede pública de energia por parte do consumidor, ficando este

dependente unicamente de um sistema solar fotovoltaico com baterias, baseou-se num estudo publicado

nos Estado Unidos, pelo Rocky Mountain Institute, tendo-se utilizado para essa análise o software

HOMER Energy ®. A análise feita, neste primeiro ponto, determinou que, com um sistema fotovoltaico

com baterias, a paridade com a rede poderá ser alcançada dentro de dez anos, considerando uma

diminuição acentuada nos custos dos sistemas fotovoltaicos, e uma subida de 5%/ano na tarifa da

eletricidade para o consumidor residencial.

No segundo ponto, pretendeu-se analisar um caso real de autoconsumo numa habitação, a partir

de um possível sistema solar fotovoltaico. Os dados obtidos, relativamente ao consumo e produção

fotovoltaica, permitiram estimar que, no período de tempo estudado, seria provável que se obtivesse

uma poupança de 13% nos custos relativos ao consumo elétrico doméstico, resultante de um

autoconsumo de 72% da energia produzida, e de uma injeção na rede de 28%. Numa estimativa anual,

calculou-se que se poderia obter poupanças até 33%/ano, com apenas 31% da energia elétrica produzida

a ser autoconsumida. No entanto, face ao investimento inicial no sistema fotovoltaico, a TIR situar-se-

ia entre os -0,9% e 1%, para um tempo de vida do sistema entre 20 a 25 anos, e um payback de 22 anos,

o que contrasta com as estimativas do Governo de Portugal, muito mais otimistas para a viabilidade do

autoconsumo fotovoltaico.

Palavras-chave: autoconsumo, Portugal, fotovoltaico.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor António Vallêra, pelo

acompanhamento e tempo disponibilizado para a realização desta dissertação. O incentivo e apoio

prestado para o estudo de um tema ainda pouco trabalho foram fundamentais para o bom

desenvolvimento e conclusão deste trabalho. Deixo aqui também um agradecimento pelo estímulo na

procura de novos conhecimentos e métodos de trabalho, essenciais na vida de um estudante e futuro

engenheiro.

Agradeço também aos meus amigos, colegas e companheiros, por toda a amizade, companhia e

conhecimento transmitido ao longo destes anos.

Aos meus pais e irmãos, pela paciência, apoios e oportunidades criadas ao longo de uma vida

académica, para que pudesse sempre alcançar os meus objetivos. Pelos valores e conselhos transmitidos,

algo inestimável e fundamental.

À Joana, minha namorada e melhor amiga, que esteve sempre ao meu lado, disponibilizando toda

a sua companhia, paciência e apoio, nos bons e maus momentos, fundamental para o término desta

dissertação. Obrigado.

“There is no such thing as a 'self-made' man. We are made up of thousands of others. Everyone

who has ever done a kind deed for us, or spoken one word of encouragement to us, has entered into

the make-up of our character and of our thoughts, as well as our success.”

George Matthew Adams

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Índice

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1 Motivação e Objetivo .............................................................................................................. 1

1.2 Estrutura da dissertação ........................................................................................................... 3

2. Contextualização ......................................................................................................................... 4

2.1 Energia Solar Fotovoltaica ...................................................................................................... 4

2.1.1 Panorama mundial e português ....................................................................................... 5

2.2 Autoconsumo......................................................................................................................... 10

2.3 Levelized Cost of Energy e paridade da rede ......................................................................... 12

2.4 Abandono da rede .................................................................................................................. 15

2.5 Enquadramento Legal Português ........................................................................................... 16

2.6 Sistema Elétrico Português .................................................................................................... 17

2.6.1 Caracterização Sistema Elétrico Português ................................................................... 17

2.6.2 Caracterização da Procura em Baixa Tensão Normal ................................................... 18

2.6.3 Tarifas e Preços da eletricidade ..................................................................................... 22

3. Abandono da rede .......................................................................................................................... 26

3.1 Metodologia e pressupostos .................................................................................................. 27

3.1.1 Perfil de Consumo ......................................................................................................... 27

3.1.1.1 Diagrama de carga ..................................................................................................... 30

3.1.2 Localização geográfica .................................................................................................. 33

3.1.3 Preço de eletricidade ..................................................................................................... 34

3.1.4 Sistema solar fotovoltaico ............................................................................................. 36

3.1.5 Sistema de armazenamento de energia .......................................................................... 39

3.1.6 Custo de capital ............................................................................................................. 41

3.2 Simulação .............................................................................................................................. 41

3.2.1 Caso base – Sistema Fotovoltaico + Sistema Armazenamento ..................................... 41

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3.2.1.1 Paridade da Rede ....................................................................................................... 45

3.2.2 Caso base – Sistema Fotovoltaico + Sistema de Armazenamento + Gerador ............... 47

3.2.2.1 Gerador ...................................................................................................................... 47

3.2.2.2 Combustível............................................................................................................... 48

3.2.2.3 Caso base ................................................................................................................... 49

3.2.2.4 Paridade da rede ........................................................................................................ 54

3.2.2.4.1 Otimização do Sistema ........................................................................................ 55

3.3 Discussão ............................................................................................................................... 58

4. Autoconsumo – Análise de um caso real ...................................................................................... 60

4.1 Decreto-Lei ............................................................................................................................ 61

4.2 Metodologia........................................................................................................................... 63

4.2.1 Medição do consumo elétrico doméstico ...................................................................... 63

4.2.1.1 Constante de Calibração ............................................................................................ 64

4.2.2 Medição da variabilidade solar ...................................................................................... 68

4.2.2.1 Características das células fotovoltaicas ................................................................... 68

4.2.2.2 Construção do medidor ............................................................................................. 70

4.3 Análise de Resultados ........................................................................................................... 72

4.3.1 Consumo elétrico doméstico ......................................................................................... 72

4.3.2 Variabilidade solar ........................................................................................................ 75

4.3.3 Custos e proveitos ......................................................................................................... 76

4.4 Discussão ............................................................................................................................... 86

5. Referências .................................................................................................................................... 89

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Índice de Figuras

Figura 1 - Custo de produção da eletricidade fotovoltaica comparativamente a outras fontes[1] ........... 5

Figura 2 - Evolução global da capacidade instalada anualmente[1] ....................................................... 5

Figura 3 - Evolução global da capacidade cumulativa instalada[1] ........................................................ 6

Figura 4 - Previsão para os custos de projetos fotovoltaicos [2013 USD/W][2]..................................... 7

Figura 5 - Extrapolação da curva de aprendizagem para o preço dos módulos fotovoltaicos[3] ............ 7

Figura 6 - Comparação de custos fotovoltaicos nos Estados Unidos da América e Alemanha[4] .......... 8

Figura 7 - Contributo das fontes de energia renováveis para o consumo de energia final, no ano de

2013[5] .................................................................................................................................................... 9

Figura 8 - Produção anual renovável em Portugal[5] ............................................................................ 10

Figura 9 - Potência instalada em GW, de fontes de energia renovável em Portugal[5] ........................ 10

Figura 10 - Desenvolvimento de projetos fotovoltaicos: custos administrativos, duração e tempo de

espera[12] .............................................................................................................................................. 14

Figura 11 - Distribuição do LCOE da eletricidade fotovoltaica na Europa[10] .................................... 14

Figura 12 - Mapa de Comparação de preços em 2014[10].................................................................... 15

Figura 13 - Repartição dos clientes do Comercializador de Ultimo Recurso em BTN (<=20,7 kVA e

>2,3 kVA) [19] ...................................................................................................................................... 19

Figura 14 - Distribuição de clientes, por opção tarifária e por escalão de potência, no Comercializador

de Ultimo Recurso ................................................................................................................................. 20

Figura 15 - Repartição dos clientes no mercado liberalizado em BTN (<=20,7 kVA e >2,3 kVA)[19]21

Figura 16 - Composição das Tarifas de Venda a Clientes Finais no mercado regulado[22] ................. 23

Figura 17 - Estrutura de tarifas no mercado livre[21] ........................................................................... 23

Figura 18 - Custos de Interesse Económico Geral[25] .......................................................................... 24

Figura 19 - Evolução das tarifas de Venda a clientes Finais em Portugal Continental (preços constantes

de 2014) ................................................................................................................................................. 25

Figura 20-Distribuição de consumidores .............................................................................................. 28

Figura 21 - Diagrama de carga (Dia de semanal típico para certos meses do ano) ............................... 32

Figura 22 - Diagrama de carga (Fim de semana típico para certos meses do ano) ............................... 32

Figura 23 - Irradiação Solar em Lisboa ................................................................................................. 34

Figura 24 - Custo real da eletricidade.................................................................................................... 36

Figura 25 - Preços médios de instalação para sistemas fotovoltaicos <= 10 kW, 2010-2012[39] ........ 37

Figura 26 - Preços para sistemas fotovoltaicos na Europa (Preços em libras britânicas 2011)[44] ...... 37

Figura 27 - Evolução dos custos dos sistemas fotovoltaicos - Preços constantes de 2015 ................... 38

Figura 28 - Considerações para os custos das baterias ião-lítio – Preços constantes de 2015 .............. 40

Figura 29 - Produção elétrica em excesso nos meses de Agosto e Dezembro ...................................... 44

Figura 30 - Estado de carga médio do sistema de armazenamento ....................................................... 44

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Figura 31 - Produção elétrica do sistema fotovoltaico .......................................................................... 45

Figura 32 - Estado de carga do sistema de armazenamento .................................................................. 45

Figura 33 - Paridade com a rede (Sistema fotovoltaico + Sistema de Armazenamento ........................ 46

Figura 34 - Curva de consumo estimada do gerador[56],[55], [59],[57] .............................................. 48

Figura 35 - Curva de eficiência do gerador ........................................................................................... 48

Figura 36 - Projeções para o preço da gasolina - Inflação 0%, preços constantes ao ano de 2015 ....... 49

Figura 37 - Produção elétrica em excesso nos meses de Agosto e Dezembro ...................................... 50

Figura 38 - Estado de carga médio do sistema de armazenamento ....................................................... 51

Figura 39 - Produção elétrica do sistema fotovoltaico .......................................................................... 51

Figura 40 - Estado de Carga do sistema de armazenamento ................................................................. 52

Figura 41 - Potência do gerador nos vários meses do ano .................................................................... 53

Figura 42 - Produção do sistema fotovoltaico nos vários meses do ano ............................................... 53

Figura 43 - Paridade com a rede (Sistema PV + Sistema de Armazenamento + Gerador) ................... 54

Figura 44 - Curva de eficiência do gerador otimizado .......................................................................... 56

Figura 45 - Curva de consumo do gerador otimizado ........................................................................... 56

Figura 46 - Paridade com a rede entre os diversos sistemas considerados ............................................ 57

Figura 47-Diagrama de produção e consumo utilizado no documento de promoção ao Decreto-Lei

153/2014[63] ......................................................................................................................................... 62

Figura 48 - Vista do sensor no quadro elétrico da habitação ................................................................. 64

Figura 49 - Montagem para determinação da constante de calibração .................................................. 66

Figura 50 - Dados obtidos para calibração do medidor em Arduíno ..................................................... 66

Figura 51 - Representação esquemática do modelo base para a construção do sensor[64] .................. 67

Figura 52- Código base utilizado em Arduíno[64] ................................................................................ 67

Figura 53 - Características técnicas do sensor de corrente utilizado[66] .............................................. 68

Figura 54 - Curva IV típica[72] ............................................................................................................. 69

Figura 55 - Curva IV das células fotovoltaicas utilizadas no medidor .................................................. 71

Figura 56 - Curva da potência em função da tensão das células fotovoltaicas...................................... 71

Figura 57- Consumo elétrico, dia 1 de Janeiro de 2015, entre as 12:45 e 13:00 ................................... 73

Figura 58 - Consumo elétrico ao longo do dia 3 de Janeiro de 2015 .................................................... 73

Figura 59 - Consumo elétrico, no dia 5 de Janeiro de 2015 entre as 15:30 e as 18:30 .......................... 74

Figura 60 - Variabilidade solar, dia 1 de Janeiro entre as 12:45 e as 13:00 .......................................... 75

Figura 61 - Variabilidade solar, dia 3 de Janeiro ................................................................................... 75

Figura 62 - Variabilidade solar, dia 5 de Janeiro entre as 15:30 e as 18:30 .......................................... 76

Figura 63 - Consumos e produções elétricas na habitação .................................................................... 77

Figura 64 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autoconsumo, no dia de

1 Janeiro de 2015 ................................................................................................................................... 78

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Figura 65 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autoconsumo, no dia de

3 Janeiro de 2015 ................................................................................................................................... 78

Figura 66 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autconsumo, no dia 5 de

Janeiro de 2015 ...................................................................................................................................... 79

Figura 67 - Aproveitamento da produção elétrica ................................................................................. 81

Figura 68 - Consumo doméstico diário estimado para cada estação do ano ......................................... 83

Figura 69 - Produção fotovoltaica diária estimada para cada estação do ano ....................................... 84

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Consumo referido à produção líquida [GWh][18] ............................................................... 18

Tabela 2 - Quantidades consideradas para o cálculo da Tarifa Transitória de Venda a Clientes Finais[19].

............................................................................................................................................................... 20

Tabela 3 - Quantidades consideradas para o cálculo da tarifa aplicáveis a clientes no mercado

liberalizado ............................................................................................................................................ 22

Tabela 4 - Número de consumidores por potência contratada e opção tarifária[19] ............................. 28

Tabela 5 - Consumo de energia elétrica, por opção tarifária, para clientes do CUR............................. 29

Tabela 6 - Consumo de energia elétrica, por opção tarifária, no Mercado Livre .................................. 29

Tabela 7 - Consumo agregado de energia elétrica, por opção tarifária ................................................. 30

Tabela 8 - Excerto de tabela com valores determinados para diagrama de carga ................................. 31

Tabela 9 - Irradiação Solar em Lisboa (Latitude: 38,5ºN, Long: 9,1ºW, Altitude: 5 m)....................... 33

Tabela 10 - Parâmetros considerados com influência no sistema fotovoltaico ..................................... 39

Tabela 11 - Parâmetros relativos ao sistema de armazenamento .......................................................... 40

Tabela 12 - Resultados para definição de caso base .............................................................................. 42

Tabela 13 - Levelized Cost of Electricity (LCOE) [€/kWh] ................................................................. 43

Tabela 14 - Resultados para determinação de caso base ....................................................................... 50

Tabela 15 - Pressupostos considerados para o exemplo 1, na apresentação da legislação para o

autoconsumo[63] ................................................................................................................................... 62

Tabela 16 - Pressupostos considerados para o exemplo 2, na apresentação da legislação para o

autoconsumo[63] ................................................................................................................................... 63

Tabela 17 - Consumos e Proveitos energéticos ..................................................................................... 77

Tabela 18 - Custos e proveitos monetários............................................................................................ 80

Tabela 19 - Custos e proveitos energéticos e monetários ...................................................................... 85

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Abreviaturas e Símbolos

AT Alta Tensão

BoS Balance of System

BTN Baixa Tensão Normal

CUR Comercializador de Ultimo Recurso

ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos

IEE Intelligent Energy Europe Programme

LCOE Levelized Cost of Energy

MAT Muito Alta Tensão

MT Média Tensão

OMIE Operador Mercado Ibério de Energia

PPA Private Purchase Agreement

RESP Rede Elétrica de Serviço Publico

RNT Rede Nacional de Transporte de Eletricidade

SEN Sistema Elétrico Nacional

TIR Taxa Interna de Retorno

UPAC Unidade de Produção para Autoconsumo

UPP Unidade de Pequena Produção

VAL Valor Atual Liquido

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1. Introdução

A energia solar fotovoltaica, representa uma oportunidade de desenvolvimento tecnológico dos

países, com benefícios sociais e económicos para as suas populações. À semelhança das restantes

energias renováveis, esta fonte de energia limpa e não poluente é um mecanismo para alcançar as

diversas metas com que as mais variadas instituições internacionais se comprometeram, nomeadamente

o Protocolo de Quioto e o Plano Europeu 2020. Este último elenca três objetivos principais ao nível do

clima e política energética: reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 20%, aumentar a

penetração de energias renováveis no consumo final de energia para 20% e aumentar os níveis de

eficiência energética em 20%.

Neste âmbito, a energia solar apresenta características que incentivam fortemente o

desenvolvimento tecnológico do lado da procura e do lado das redes elétricas, exibindo também um

potencial disruptivo com o modo tradicional de operação das utilities1 e utilizadores dos respetivos

sistemas elétricos nacionais. Sendo uma forma de produzir energia elétrica a partir de uma fonte comum

a toda o planeta, o Sol, com maior ou menor potencialidade dependendo da zona do globo, as mudanças

que provoca num determinado mercado ou país são passíveis de se repercutirem noutros.

Este trabalho pretende focar-se nas alterações que a energia solar fotovoltaica provocará no

paradigma atual ao nível do consumo de energia, em Portugal.

1.1 Motivação e Objetivo

A presente dissertação aborda dois pontos fundamentais na penetração dos sistemas fotovoltaicos

residenciais no mercado português: o possível desligamento da rede, devido à diminuição de custos

destes sistemas acompanhado por um aumento do preço da eletricidade da rede elétrica e uma análise a

um caso real de autoconsumo fotovoltaico, tendo como base o novo decreto-lei que regula a produção

de eletricidade destinada ao autoconsumo e perceber quais as suas implicações ao nível do autoconsumo.

O desenvolvimento do mercado fotovoltaico, quer a nível mundial, quer em Portugal, como

resultado do aumento de eficiência dos sistemas e da descida acentuada dos seus custos de produção e

preço de venda ao consumidor final, tem criado uma tendência de introdução destes sistemas nas

habitações, de forma a permitir que os consumidores domésticos produzam a sua própria energia.

1 Optou-se por utilizar este anglicismo, utility, por dificuldade em encontrar um termo português

que sintetize o conceito de entidade que preta um serviço publico de disponibilização generalizada de

um bem como a energia elétrica.

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Esta tendência, já bastante presente em países como a Alemanha ou os Estados Unidos da

América, com os seus mecanismos particulares de produção descentralizada de eletricidade, tem criado

alguns problemas aos reguladores e operadores da rede, nomeadamente ao nível dos incentivos e

subsídios que devem ser atribuídos à energia solar fotovoltaica e das capacidades tecnológicas das redes

elétricas para incorporarem este tipo de produção. As alterações e impactos que a produção

descentralizada de energia solar fotovoltaica gera no modelo de negócios dos principais agentes do

sector elétrico, quer na produção quer na venda de energia elétrica, deve também ser levado em conta

como inevitável num futuro próximo.

Tendo como base um trabalho realizado pelo Rocky Mountain Institute, denominado “The

Economics Of Grid Defection - When And Where Distributed Solar Generation Plus Storage Competes

With Traditional Utility Service”, nesta dissertação pretende-se aplicar este tipo de análise ao mercado

português, através da utilização do software HOMER ENERGY e tentar perceber se existe viabilidade

para um desligamento total da rede elétrica portuguesa, passando o consumidor a produzir a sua própria

energia através de um sistema fotovoltaico com baterias. Um tópico ainda pouco explorado pelos

agentes e intervenientes do sector fotovoltaico em Portugal, que se têm focado apenas no autoconsumo.

Pretende-se também analisar o custo de produção dessa energia, o Levelized Cost of Energy

(LCOE), e determinar quando será atingida a paridade com a rede elétrica pública mediante as

condicionantes consideradas nesse estudo. Será também alvo de análise e discussão as implicações que

possam advir dos resultados obtidos, nomeadamente em relação ao preço de venda da eletricidade

praticada pelos comercializadores, o impacto que poderá a vir a ter na perda de consumidores e as

consequências que uma perda de receitas poderá ter para as utilities.

O segundo objetivo desta dissertação é a análise de um caso real de autoconsumo. Medindo o

consumo elétrico de uma habitação e a variabilidade solar no local, de forma a estimar uma produção

fotovoltaica, pretende-se analisar as reduções de consumo passíveis de existirem assim como possíveis

compensações económicas provenientes do consumo elétrico evitado e da remuneração obtida pela

venda do excedente de produção elétrica. Será também alvo de análise o decreto-lei que regula

atualmente o autoconsumo, assim como os exemplos utilizados pelo Governo Português para situações

de autoconsumo fotovoltaico ao abrigo do novo decreto-lei, tentando perceber se a construção e a ideia

que se encontra patente na elaboração do decreto-lei terá sido a mais benéfica do ponto de vista do

consumidor.

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1.2 Estrutura da dissertação

Esta dissertação encontra-se dividida em três capítulos principais:

No Capítulo 2, podemos encontrar uma contextualização à dissertação, elaborando sobre o

estado do sector fotovoltaico a nível mundial e em Portugal, como tem evoluído a potência

instalada, a produção fotovoltaica e os custos dos sistemas fotovoltaicos. É aclarado o que se

encontra subjacente ao autoconsumo, e conceitos como o LCOE, a paridade da rede e abandono

da rede. Nos seguintes subcapítulos são tratados o enquadramento legal português e o novo

decreto-lei que regula a produção fotovoltaica descentralizada destinada ao autoconsumo, e a

caracterização do sistema elétrico português. Esta será desconstruída na caracterização da

procura e o que se encontra subjacente à composição das tarifas e preços da eletricidade.

No Capítulo 3, será analisada uma situação de abandono da rede, explicitando a metodologia

associada a análise que será feita, e as conclusões obtidas nesse estudo através da utilização do

software HOMER ENERGY.

No Capítulo 4, será tratado a análise de um caso real de autoconsumo, expondo a metodologia

que foi seguida relativamente à construção dos aparelhos de medição do consumo e da

variabilidade solar, sendo igualmente apresentados os resultados energéticos e económicos

obtidos numa possível situação de autoconsumo.

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2. Contextualização

2.1 Energia Solar Fotovoltaica

A energia solar fotovoltaica representou do ponto de vista energético e ambiental, um momento

de viragem a nível global. Pela simplicidade do processo que permite converter a radiação solar em

eletricidade e pelo facto de ser proveniente do recurso mais abundante do planeta, o Sol, cedo se

compreendeu toda a sua potencialidade.

Desde a apresentação, pelos Bell-Labs, em 1954, da primeira célula fotovoltaica moderna, que a

tecnologia solar fotovoltaica tem sido sucessivamente melhorada, sendo nos dias de hoje uma das

tecnologias de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis em maior crescimento a nível

mundial. A sua versatilidade de implementação e distribuição geográfica generalizada, aliada ao facto

de ser uma forma de produção de energia limpa, sem emissões poluentes, favorece o crescimento e a

penetração desta tecnologia nos diferentes mercados.

Os sistemas solares fotovoltaicos podem, hoje em dia, ser encontrados nos mais variados lugares.

Através de sistemas isolados, ou seja, sem ligação a uma rede elétrica, fornecendo eletricidade a zonas

rurais em países com dificuldades estruturais ao nível das redes elétricas ou nos países mais

desenvolvidos, através de grandes instalações para produção centralizada de energia, ou integrada em

edifícios de serviços e habitações, em instalações de menor escala, esta tecnologia apresenta um

crescimento acentuado e uma penetração mundial cada vez maior.

Graças às melhorias ao nível da eficiência dos sistemas fotovoltaicos, e à forte diminuição dos

custos dos mesmos, com os preços atuais dos sistemas fotovoltaicos acima de 1 MW abaixo de 1

€/Wp[1], esta forma de produção de eletricidade prepara-se para se tornar definitivamente numa das

principais formas de produção de energia a nível mundial, hoje também pelo seu baixo custo de

produção de energia.

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5

Figura 1 - Custo de produção da eletricidade fotovoltaica comparativamente a outras fontes[1]

2.1.1 Panorama mundial e português

O sector fotovoltaico tem apresentado a nível mundial um forte crescimento de ano para ano,

tendo atingido os 40 GW instalados no ano de 2014, enquanto no ano de 2013 tinham sido instalados

37 GW [1], perfazendo uma capacidade total mundial de 178 GW.

Figura 2 - Evolução global da capacidade instalada anualmente[1]

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6

Os principais mercados mundiais, e os países onde o sector fotovoltaico mais cresceu também se

têm alterado nos últimos anos. Em relação ao ano de 2014, os três principais mercados foram a China,

Japão e os Estados Unidos, sendo que a nível europeu o Reino Unido tornou-se pela primeira vez o líder

de mercado com 2,4 GW instalados. A capacidade instalada na Europa, apesar de continuar a ser a região

com maior capacidade cumulativamente instalada tem vindo, desde o ano de 2011, a diminuir

anualmente muito devido ao aparecimento de variados problemas a nível financeiro, um pouco por todo

o continente europeu, o que resultou numa diminuição dos apoios estatais às energias renováveis. Ao

invés, o mercado fotovoltaico noutras regiões do globo, principalmente na China e na região da Ásia,

Pacifico e Austrália (APAC), tem conhecido um crescimento muito positivo, sendo esta região uma das

principais responsáveis pelo aumento da capacidade mundial instalada nos últimos anos.

Figura 3 - Evolução global da capacidade cumulativa instalada[1]

O forte desenvolvimento deste sector, a constante evolução das tecnologias e a sua cada vez maior

acessibilidade, tem resultado numa descida de preços em toda a cadeia de valor dos sistemas solares

fotovoltaicos. Com os custos dos módulos fotovoltaicos, principalmente nos módulos de silício

cristalino, a apresentar descidas fortes e atingir um certo ponto de estagnação, as oportunidades de

descida nos custos totais dos sistemas começam a aparecer nos restantes componentes. Existe a

expectativa que, nos próximos anos, a descida dos preços nos sistemas fotovoltaicos possam vir a dever-

se menos ao decréscimo dos custos dos painéis fotovoltaicos e mais à descida dos custos burocráticos,

como questões de licenciamento dos projetos, bem como dos inversores e dos outros componentes do

sistema, e dos custos de instalação.

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7

Figura 4 - Previsão para os custos de projetos fotovoltaicos [2013 USD/W][2]

Figura 5 - Extrapolação da curva de aprendizagem para o preço dos módulos fotovoltaicos[3]

A título de exemplo, os inversores têm apresentado diminuições de custos bastante

impressionantes, passando de custos à volta de 1 €/Wp em 1990, para 0,1 €/Wp em 2014[3], com

expectativas para que os preços para o ano de 2050 atinjam os 21 a 42 €/kW.

Relativamente a outros componentes dos sistemas fotovoltaicos, os custos do “balance of system”

(BoS), que incorpora todos os custos do sistema, exceto o módulo, incluem a infraestrutura, ligação à

rede, instalação e montagem, margens financeiras e o inversor, sendo que este último representa uma

grande fatia dos custos BoS. Estes custos, também poderão ser alvo de reduções e contribuir para a

diminuição dos custos totais do sistema, estando previstas reduções entre 39% a 65% para o BoS, com

diminuição de custos bastante fortes na infraestrutura, ligação à rede, cablagem em DC, instalação e

estruturas de montagem.[3]

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8

Esta tem sido uma preocupação constante, visto que alguns mercados, como os Estados Unidos,

ainda apresentam um alto potencial de redução dos custos relacionados com licenças, e inspeções e

ligações à rede, sendo hoje em dia um dos principais focos para a diminuição dos custos associados aos

sistemas fotovoltaicos.

Figura 6 - Comparação de custos fotovoltaicos nos Estados Unidos da América e Alemanha[4]

No que concerne à importância das fontes de energia renovável, na produção elétrica no nosso

país, Portugal apresenta uma incorporação de fontes renováveis de eletricidade na produção total elétrica

elevada. No ano de 2012, 54,7% da produção elétrica total foi proveniente de fontes renováveis de

energia, correspondentes a 29 187 GWh, o que colocou Portugal como o quarto país da União Europeia

com maior incorporação de renováveis. Relativamente ao contributo das renováveis no consumo de

energia final, no ano de 2013, esta foi de 29%, com forte contributo da biomassa[5].

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9

Figura 7 - Contributo das fontes de energia renováveis para o consumo de energia final, no ano de

2013[5]

Quanto ao sector fotovoltaico em particular, em Portugal, a produção de eletricidade a partir dos

sistemas fotovoltaicos tem vindo a apresentar um crescimento sustentado tendo atingido um total de 626

GWh no ano de 2014, como resultado do aumento da potência instalada que tem existido nos últimos

ano. Esta tecnologia foi, em termo relativos, a que mais cresceu entre 2006 e 2014, apresentando neste

momento uma potência instalada de cerca de 424 MW[5].

O setor da micro e miniprodução fotovoltaica, também tem ostentado um crescimento assinável,

desde a entrada em vigor do decreto-lei 363/2007 de 2 de Novembro e do decreto-lei 34/2011 de 8 de

Março, tendo sido obtida uma produção de 83 MWh, no ano de 2014, produto de uma potência instalada

de 65 kW. A maioria da produção fotovoltaica é proveniente da região do Alentejo, responsável por

38% da produção fotovoltaica nacional, sendo nesta região que se encontram instaladas as maiores

centrais fotovoltaicas do país, que perfazem um total de 140 MW instalados.

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10

Figura 8 - Produção anual renovável em Portugal[5]

Figura 9 - Potência instalada em GW, de fontes de energia renovável em Portugal[5]

2.2 Autoconsumo

O autoconsumo fotovoltaico é um mecanismo de incentivo e de utilização da energia proveniente

de sistemas solares fotovoltaicos, cada vez mais comum na Europa e incentivado pela Comissão

Europeia. Este modelo baseia-se na premissa de que a paridade com a rede já é ou está perto de ser uma

realidade em alguns países. Ou seja, que o custo de produção da energia a partir de sistemas fotovoltaicos

iguala ou é inferior ao custo da eletricidade comprada à rede.

De acordo com a Comissão Europeia, no seu relatório intitulado “Best practices on Renewable

Energy Self-Consumption”, estima-se que possam ser alcançadas taxas de autoconsumo na ordem dos

30%[6], sem incluir sistemas de armazenamento, ressalvando que os problemas que o excesso de injeção

de eletricidade fotovoltaica na rede possa criar poderão ser resolvidos através da introdução de “smart

grids”.

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11

Além disso, realça que a introdução do mecanismo de autoconsumo é, por si só, um fator de

desenvolvimento de diversas tecnologias, nomeadamente ao nível da resposta no lado da procura,

criando e melhorando tecnologias de eletrodomésticos inteligentes e mecanismos de resposta e gestão

da rede adequados e com capacidade de gestão nas horas de picos de consumo. O sector das tecnologias

de armazenamento também beneficiaria com a introdução do autoconsumo, visto que as baterias

apresentam um potencial de aumento do autoconsumo de 30% para 45% a 75%. O desenvolvimento e

criação de incentivos para este tipo de sistema contribuirão para o desenvolvimento de baterias com

maiores capacidades e eficiências, e para uma baixa do preço destes sistemas, como se tem verificado.

O potencial dos sistemas fotovoltaicos residenciais para alcançar a paridade com a rede deve-se ao

aumento dos preços da eletricidade e ao declínio do das baterias, estando no entanto muito dependentes

do tipo de sistema de armazenamento que é utilizado[7].

A produção descentralizada de energia, através de sistemas fotovoltaicos residenciais, com o

objetivo do consumo ser feito no próprio local da produção ou nas imediações, tem que contabilizar

também que o excesso de produção elétrica terá que ser injetada na rede. Esse excesso de produção deve

ser remunerado e valorizado, existindo diversos tipos de mecanismos que o fazem, ou criando incentivos

para que o autoconsumo seja valorizado ao invés da injeção de energia na rede.

A Alemanha, país líder e pioneiro na introdução deste tipo de sistemas e mecanismos, aplicou até

ao ano de 2012 uma tarifa premium, que se designa habitualmente por tarifa feed-in. O modelo passava

por pagar ao consumidor um tarifa acima do preço de venda da eletricidade quando a taxa de

autoconsumo era superior à tabelada. Contudo, o rápido declínio dos preços dos sistemas e o aumento

das instalações levou o governo alemão a abandonar este mecanismo[8].

O net metering2 também é um mecanismo comum, sendo inclusivamente o mecanismo padrão

nos Estados Unidos da América e Austrália, e que passa pela injeção do excedente de produção elétrica

na rede, criando um “banco de energia” que poderá a vir a ser utilizado no futuro, fazendo-se na fatura

final o acerto do consumo. Em termo mais leigos, sob o esquema de net metering, temos em cada

habitação um contador de eletricidade que andará para trás à medida que a injeção de eletricidade for

feita na rede [9]. Neste momento, o mecanismo de net metering é utilizado em diversos países europeus,

como a Bélgica, Itália, Grécia ou Polónia, como ligeiras variações nas remunerações pela eletricidade

produzida que possam existir.

O autoconsumo tradicional pressupõe como matriz principal a produção de energia elétrica para

consumo no local, sendo que o excesso de energia será vendido ao preço de mercado ou próximo desse.

Este mecanismo é o que encontramos atualmente em vigor em Portugal, e que países como Croácia,

2 Optou-se por utilizar este anglicismo, net metering, visto que não existe neste momento um termo

português, que o substitua. Este termo é inclusivamente utilizado, pelas entidades portuguesas do sector

fotovoltaico, para se referirem a este esquema de consumo.[78][79][80]

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12

Alemanha, Finlândia, Áustria ou Reino Unido têm atualmente em vigor, com ligeiras variações que

podem incluir a existência de PPAs ou o pagamento de tarifas feed-in premium.

2.3 Levelized Cost of Energy e paridade da rede

O Levelized Cost of Energy (LCOE) é o valor da eletricidade produzida por uma fonte específica

para alcançar o ponto de equilíbrio considerando todo o tempo de vida do projeto. É uma variável

económica que determina o custo de produção de energia incluindo todos os custos ao longo do tempo

de vida do sistema, o que inclui o investimento inicial, operações e manutenção, custo de combustível e

custo de capital.[10]

A fórmula utilizada para calcular o LCOE é dada por:

𝐿𝐶𝑂𝐸 =∑

𝐼𝑡 + 𝑀𝑡 + 𝐹𝑡

(1 + 𝑟)𝑡𝑛𝑡=1

∑𝐸𝑡

(1 + 𝑟)𝑡𝑛𝑡=1

(1)

Onde,

It são as despesas com capital no ano t;

Mt são as despesas de operações e manutenção no ano t;

Ft representa as despesas com combustível no ano t;

Et é a eletricidade produzida no ano t;

r representa a taxa de desconto;

N é o período de investimento em anos.

A fórmula para o cálculo do LCOE utilizada pelo software HOMER ® é:

𝐶𝑂𝐸 =

𝐶𝑎𝑛𝑛,𝑡𝑜𝑡 − 𝐶𝑏𝑜𝑖𝑙𝑒𝑟𝐻𝑠𝑒𝑟𝑣𝑒𝑑

𝐸𝑠𝑒𝑟𝑣𝑒𝑑

(2)

Onde,

Cann,tot representa o custo total anualizado do sistema [$/ano];

Cboiler representa o custo marginal da caldeira [$/kWh];

Hserved representa a carga térmica total fornecida;

Eserved representa a carga total elétrica fornecida [kWh/ano].

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13

“O segundo termo no numerador é a porção do custo anualizado que resulta do fornecimento da

carga térmica. Em sistemas onde não existe carga térmica, este termo é zero.”[11] Este é o caso da

energia solar fotovoltaica, na qual o “combustível” é evidentemente gratuito.

Muitos estudos e trabalhos de investigação têm sido desenvolvidos para determinar o LCOE ou a

paridade com a rede nos sistemas fotovoltaicos tradicionais. Contudo, os mais relevantes para o sector

têm sido desenvolvidos por grupos de trabalho europeus, apoiados pela Comissão Europeia. Estes

grupos são responsáveis por projetos como o PV GRID Project[12], que teve como objetivo contribuir

para a identificação de barreiras burocráticas que impedem ou atrasam a integração da eletricidade

fotovoltaica nas redes de distribuição elétricas, desenvolvido com o apoio do IEE (Intelligent Energy

Europe Programme).

Neste estudo, foram identificados os diversos obstáculos que impedem uma melhor integração

dos sistemas fotovoltaicos, principalmente ao nível industrial, como dificuldades ao nível legislativo,

falta de incentivos fiscais e esquemas de apoio à instalação, principalmente em países como Itália,

Espanha ou Portugal. No que toca ao sector dos sistemas fotovoltaicos residenciais e comerciais, o

estudo conclui que estes dois tipos de sistemas apresentam um franco crescimento a nível europeu, com

exceção em alguns países como Espanha, República Checa e Bulgária.

O estudo também elenca diversas melhorias e medidas que podem ser tomadas, das quais importa

destacar o destaque dado ao autoconsumo. De acordo com os autores do projeto, o autoconsumo pode

“trazer benefícios para todo o sistema, visto que reduz a eletricidade que necessita de ser distribuída

pela rede.” É realçada a importância que o autoconsumo assume nas horas de pico, principalmente

quando a geração a partir destes sistemas fotovoltaico é efetuada nas imediações dos locais de consumo,

sendo ainda recomendado que países sem enquadramento legal para a produção de energia destinada ao

autoconsumo o implementem rapidamente.

O estudo apresenta também uma visão particular sobre o mercado português, anterior à introdução

do decreto-lei 153/2014, que regula o autoconsumo. À data, as conclusões alcançadas sobre o tempo de

demora e custos para implementações de sistemas fotovoltaicos encontram-se demonstradas na Figura

10.

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14

Figura 10 - Desenvolvimento de projetos fotovoltaicos: custos administrativos, duração e tempo de

espera[12]

Outro grupo de trabalho importante é o PVParity, “responsável pela identificação e promoção de

medidas que possam complementar ou suportar os mecanismos de apoios existente às instalações

fotovoltaicas na Europa”[13].

Figura 11 - Distribuição do LCOE da eletricidade fotovoltaica na Europa[10]

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15

Figura 12 - Mapa de Comparação de preços em 2014[10]

2.4 Abandono da rede

O abandono da rede, ou grid defection em inglês, é um assunto em debate em diversos países que

começam a apresentar um desenvolvimento no sector fotovoltaico que ameaça colocar em causa o

modelo de negócio das utilities e comercializadores tradicionais de energia elétrica.

Nos Estados Unidos, onde o sector fotovoltaico residencial tem conhecido um forte

desenvolvimento e apresentado uma atratividade maior, têm sido desenvolvidos estudos por forma a

aferir o potencial e vantagens da geração distribuída de eletricidade com foco nos sistemas fotovoltaicos.

Destes destacam-se, por exemplo, um estudo realizado pelo Interstate Renewable Energy Council, Inc.,

denominado “A REGULATOR’S GUIDEBOOK: Calculating the Benefits and Costs of Distributed Solar

Generation”, que avalia as políticas e regimes regulatórios em torno da geração distribuída nos Estados

Unidos, estimando também os impactos económicos, sociais e financeiros. Outros institutos têm-se

dedicado a apreciar o impacto dos mecanismos de net metering em diversos estados, como é o caso do

“California Net Energy Metering Ratepayer Impacts Evaluation”, desenvolvido pelo California Public

Utilities Commission, ou “The Value of Distributed Solar Electric Generation to New Jersey and

Pennsylvania” preparado pela Clean Power Research”.

No entanto, o estudo que tem sido considerado uma referência ao nível da análise do abandono

da rede é o trabalho que serve de base ao Capítulo 4 desta dissertação. “The Economics of Grid

Defection”[14], pelo Rocky Mountain Institute, foca-se em analisar o LCOE e a paridade com a rede

em várias localizações dos Estados Unidos, de sistemas solares fotovoltaicos com baterias residenciais

e comerciais.

O estudo pretende também debruçar-se sobre uma questão central da atualidade, a “death spiral”

das utilities, em português, espiral da morte, e como a paridade com a rede e a descida dos custos de

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16

produção da eletricidade fotovoltaica pode levar muitos consumidores a abandonar a rede elétrica

pública.

2.5 Enquadramento Legal Português

À data de hoje, o decreto-lei que estabelece o regime jurídico direcionado ao autoconsumo é o

decreto-lei 153/2014 publicado a 20 de Outubro de 2014.

Após uma reconhecida falha no enquadramento legal para a atividade, visto que os existentes até

então não eram considerados suficientes, o referido decreto-lei estabelece também o “regime jurídico

aplicável à produção de eletricidade, vendida na sua totalidade à rede elétrica de serviço público, por

intermédio de instalações de pequenas potências, a partir de recursos renováveis, adiante designadas por

Unidades de Pequena Produção (UPP) ”[15].

A entrada em vigor da nova legislação veio reformular e integrar os antigos decretos-lei que

regulavam a atividade de produção descentralizada de energia em regime de mini e microprodução, mais

concretamente o decreto-lei nº 34/2011, de 8 de Marco alterado pelo decreto-lei nº 25/2013 e o decreto-

lei 363/2007 alterado pela lei nº67-A/2007, de 31 de Dezembro e pelos decretos-leis nº 118-A/2010, de

25 de Outubro e 25/2013, de 19 de Fevereiro.

A publicação do novo decreto-lei, de acordo com o Governo de Portugal, justifica-se por diversos

fatores, entre os quais se incluem a baixa aceitação do primeiro regime da produção em autoconsumo,

devido à imaturidade da tecnologia e aos custos elevados, e à necessidade de “implementação de uma

política energética mais equilibrada”. Considerando que, na perspetiva governamental, o autoconsumo

representa uma forma de promoção de comportamentos de eficiência energética, permite a criação de

benefícios técnicos para a RESP e visto ser necessário aplicar as diretrizes apresentadas no Plano

Nacional de Ação para as Energia Renováveis, o atual decreto-lei vem colmatar essas falhas e

necessidades.

Quanto às condicionantes que o decreto-lei impõe à atividade de produção para autoconsumo, a

remuneração pela energia elétrica injetada na rede é feita, de acordo com o artigo 24º, a 90% do preço

definido pelo OMIE. As UPAC estão ainda sujeitas ao pagamento de uma compensação mensal fixa,

durante os primeiros 10 anos, de acordo com o artigo 25º definido por:

𝐶𝑈𝑃𝐴𝐶,𝑚 = 𝑃𝑈𝑃𝐴𝐶 × 𝑉𝐶𝐼𝐸𝐺,𝑡 × 𝑘𝑡 (3)

Onde,

CUPAC,m é a compensação paga no mês m por cada kW de potências instalada,

PUPAC é o valor da potência instalada da UPAC;

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17

VCIEG,t representa o valor que permite recuperar os CIEG da respetiva UPAC, medida

em €/kW;

Kt, é o coeficiente de ponderação, que pode assumir os seguintes valores:

o 50%, “caso o total acumulado de potência instalada das UPAC (…) exceda os

3% do total da potência instalada de centro electroprodutores do SEN”;

o 30%, “caso o total acumulado de potência instalada das UPAC (…) se situe

entre os 1% e 3% do total da potência instalada de centro electroprodutores do

SEN;

o 0%, “caso o total acumulado de potência instalada das UPAC (…) seja inferior

a 1% do total da potência instalada de centro electroprodutores do SEN;

2.6 Sistema Elétrico Português

2.6.1 Caracterização Sistema Elétrico Português

O sistema elétrico português engloba na sua cadeia de valor a produção, transporte, distribuição

e comercialização da energia elétrica. O seu objetivo fundamental é a “disponibilização de energia

elétrica em termos adequados às necessidades dos consumidores”[16].

A produção no SEN engloba dois regimes legais: os produtores de energia em regime ordinário,

que são os responsáveis pela produção de eletricidade com base em fontes tradicionais não renováveis

e nos grandes centros electroprodutores hídricos, e os produtores em regime especial que engloba a

cogeração e a produção elétrica a partir de fontes de energia renovável.[17]

O transporte de eletricidade é feito através da Rede Nacional de Transporte de Eletricidade (RNT),

através de uma concessão atribuída pelo Estado Português à REN – Redes Energéticas Nacionais, sendo

a distribuição feita através da Rede Nacional de Distribuição (RND). Esta é gerida, por concessão, pela

EDP Distribuição.

A comercialização da eletricidade, com a liberalização do sector, foi separada da atividade de

distribuição. Os comercializadores têm direito de acesso à rede de transporte e distribuição, e

relacionam-se diretamente com os consumidores.

Neste momento, o sector elétrico português encontra-se num processo de liberalização, um

processo iniciado em 1995 para os grandes consumidores de energia elétrica, em Muito Alta, Alta e

Média Tensão. No ano de 2006 ocorreu a ultima fase do processo de liberalização do sector elétrico em

Portugal, permitindo aos consumidores domésticos a possibilidade de escolha quanto ao fornecedor de

energia. Atualmente, no sector elétrico em Portugal, convivem em paralelo o Mercado Livre e um

Mercado Regulado. De acordo com a ERSE, existem neste momento onze comercializadores de energia

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18

elétrica dedicados aos clientes domésticos, e treze comercializadores que comercializam eletricidade

para os consumidores industriais, pequenos negócios e grandes consumidores.

Tabela 1 - Consumo referido à produção líquida [GWh][18]

2014 2013 Var. %

Produção Total 48 999 47 832 2

Produção renovável 30 417 28 376 7

Hídrica 15 314 13 482 14

Mini-hídrica 1 509 1 335 13

Eólica 11 813 11 751 1

Térmica 2 697 2 701 0

Cogeração 1 526 1 541 -1

Solar 592 442 34

Produção não renovável 17 723 18 299 -3

2.6.2 Caracterização da Procura em Baixa Tensão Normal

A caracterização da procura dentro do Sistema Elétrico Nacional é fundamental para definir as

tarifas cobradas a cada agente do sector. De acordo com a ERSE, foi previsto para o ano de 2014, uma

diminuição de 1% no fornecimento de energia elétrica, em GWh, em relação ao ano de 2013, quer no

mercado regulado, ou seja, com fornecimento de energia elétrica por parte do comercializador de ultimo

recurso, quer em mercado livre, prevendo-se uma alteração no fornecimento de energia elétrica,

passando de 19 203 GWh para 19 006 GWh[19], correspondente a 6 002 235 consumidores, em BTN.

Em relação ao número total de consumidores, em BTN, a previsão para o ano de 2014,

pressupunha uma variação de apenas 0,3%, comparativamente ao ano de 2012, o que representa uma

estagnação quase total do número de consumidores.

É igualmente importante conhecer a segmentação dos clientes em cada mercado, visto que tais

considerações foram tidas em conta, na formulação das tarifas a aplicar no sector da energia elétrica.

No que diz respeito às Tarifas Transitórias de Venda a aplicar aos Clientes Finais em BTN pelo

Comercializador de Último Recurso, foram considerados 3 432 471 clientes, o que correspondeu a um

fornecimento de energia de 9 373 GWh para o ano de 2014.

Sendo de interesse maior, os clientes fornecidos num regime de Baixa Tensão Normal com

potência contratada inferior ou igual a 20,7 kVA e maior que 2,3 kVA, pelo seu maior impacto no

Sistema Elétrico Nacional, não foram apresentados clientes em regime de Baixa Tensão Normal

Sazonal, visto que esta situação é aplicada a “atividades económicas que apresentem, pelo menos, 5

meses de ausência de consumo.”[20]

Respeitando o critério acima mencionado a repartição dos clientes do comercializador de último

recurso ao nível da potência contratada é feita da seguinte forma:

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Figura 13 - Repartição dos clientes do Comercializador de Ultimo Recurso em BTN (<=20,7 kVA e

>2,3 kVA) [19]

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

1400000

3,45 4,6 5,75 6,9 10,35 13,8 17,25 20,7

me

ro d

e C

lien

tes

Potência Contratada [kVA]

Quantidades consideradas para tarifas transitórias a clientes finais em BTN, pelo CUR

Tarifa Simples Tarifa Bi-Horária Tarifa Tri-horária

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Tabela 2 - Quantidades consideradas para o cálculo da Tarifa Transitória de Venda a Clientes Finais[19].

Potência Contratada [kVA] Número de Clientes % do total

Tarifa Simples

3,45 1411823 46,3%

4,6 85470 2,8%

5,75 40774 1,3%

6,9 628371 20,6%

10,35 165333 5,4%

13,8 60376 2,0%

17,25 18508 0,6%

20,7 69988 2,3%

Tarifa Bi-Horária

3,45 108828 3,6%

4,6 39044 1,3%

5,75 21596 0,7%

6,9 228456 7,5%

10,35 59996 2,0%

13,8 30389 1,0%

17,25 10516 0,3%

20,7 34283 1,1%

Tarifa Tri-horária

3,45 9997 0,3%

4,6 3567 0,1%

5,75 1771 0,1%

6,9 11331 0,4%

10,35 2777 0,1%

13,8 1507 0,0%

17,25 671 0,0%

20,7 2980 0,1%

Total 3 048 352 100,0%

Figura 14 - Distribuição de clientes, por opção tarifária e por escalão de potência, no Comercializador de Ultimo Recurso

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21

No que concerne ao mercado liberalizado e à caracterização da procura nesse sector, foram

considerados um total de 2 589 765 clientes em BTN, correspondente a um fornecimento de energia de

9 632 GWh.

Figura 15 - Repartição dos clientes no mercado liberalizado em BTN (<=20,7 kVA e >2,3 kVA)[19]

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

1400000

3,45 4,6 5,75 6,9 10,35 13,8 17,25 20,7

me

ro d

e C

lien

tes

Potência Contratada [kVA]

Quantidades consideradas para tarifas aplicáveis a clientes finais em BTN em mercado liberalizado

Tarifa Simples Tarifa Bi-Horária

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Tabela 3 - Quantidades consideradas para o cálculo da tarifa aplicáveis a clientes no mercado liberalizado

Potência Contratada [kVA] Número de Clientes % do total

Tarifa Simples

3,45 1130868 46,6%

4,6 67870 2,8%

5,75 32354 1,3%

6,9 512412 21,1%

10,35 138099 5,7%

13,8 49308 2,0%

17,25 14694 0,6%

20,7 56717 2,3%

Tarifa Bi-Horária

3,45 86285 3,6%

4,6 30945 1,3%

5,75 17117 0,7%

6,9 181391 7,5%

10,35 48216 2,0%

13,8 24394 1,0%

17,25 8438 0,3%

20,7 27672 1,1%

Tarifa Tri-horária

3,45 0 0,0%

4,6 0 0,0%

5,75 0 0,0%

6,9 0 0,0%

10,35 0 0,0%

13,8 0 0,0%

17,25 0 0,0%

20,7 0 0,0%

Total 2426780 100,0%

2.6.3 Tarifas e Preços da eletricidade

Dentro do SEN quem assume a responsabilidade pelo sistema tarifário e pela metodologia de

cálculo das tarifas é a ERSE. Esta entidade é responsável por estabelecer as tarifas de Uso Global do

Sistema, de Uso da Rede de Transporte, de Uso da Rede de Distribuição e a Tarifa de Energia sendo os

comercializadores responsáveis por estabelecerem a tarifa de comercialização que cobram aos seus

clientes.

A Tarifa de Uso Global do Sistema deve incluir os “custos com a operação do sistema, custos

decorrentes de medidas de políticas energéticas, ambiental ou de interesse económico geral e os custos

para a manutenção do equilíbrio contratual”[21].

A Tarifa de Uso de Transporte inclui os custos com o estabelecimento, operação e manutenção

das redes de transporte em MAT, enquanto a Tarifa de Uso das Redes de Distribuição deve contabilizar

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23

custos com as atividades relacionadas com a distribuição de energia elétrica em AT e MT, que incluem

o planeamento, estabelecimento e operação e manutenção das redes.[21]

Por seu lado, a Tarifa de Energia está relacionada com os custos da compra e venda de energia

elétrica pelo comercializador de último recurso.

Figura 16 - Composição das Tarifas de Venda a Clientes Finais no mercado regulado[22]

Figura 17 - Estrutura de tarifas no mercado livre[21]

A estrutura tarifária que foi estabelecida pela ERSE para o ano de 2015 teve que contabilizar

diversos fatores que influenciam o preço da eletricidade. Enquanto no mercado liberalizado, os preços

de comercialização não estão regulados, ficando essa decisão na posse do comercializador, no mercado

regulado essa tarifa é estabelecida pela ERSE. No entanto, em ambos os mercados, existe uma

componente de acesso à rede que terá que ser incorporada.

Page 38: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

24

No ano de 2015, a ERSE definiu as tarifas a aplicar aos vários operadores e utilizadores do SEN,

e estabeleceu um aumento de 0,5% na tarifa de Energia e Comercialização para o ano de 2015, em

relação a 2014, um aumento de 21,2% na tarifa de Uso Global do Sistema, e uma diminuição de 8,5 na

Tarifa de Uso de Redes[23].

A Tarifa de Comercialização é composta por dois termos tarifários: “o termo fixo, que depende

do número de clientes e é definido em €/mês e o preço das energia ativa que depende da energia ativa e

é objeto de medição no pontos de entrega e é definido em €/kWh.”[24]

Quanto às Tarifas Transitórias de Venda a clientes finais, em BTN, como se observa pela

Figura 17, estas resultam da adição das tarifas acima mencionadas, tendo a ERSE estabelecido

um aumento de 3,3% para o ano de 2015 em relação a 2014.

Ora, de acordo com a ERSE, este incremento fica a dever-se ao aumento dos custos com o serviço

da dívida e ao fraco crescimento do consumo de energia elétrica, o que impede a diluição dos custos das

atividades reguladas. Um fator de impacto na estruturação das tarifas e com impacto na definição dos

seus custos são também os Custos de Interesse Económico Geral (CIEG). Estes não são mais que custos

relacionados com decisões políticas e o impacto é refletido nas Tarifas de Acesso às Redes. Apesar do

seu impacto ter vindo a diminuir nos últimos anos, ainda se fazem sentir de forma intensa.

Figura 18 - Custos de Interesse Económico Geral[25]

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25

De acordo com a ERSE, as tarifas de Vendas a Clientes Finais, tinham vindo a assumir uma queda

no seu preço desde 1990 até ao ano 2008. A partir da daí, tem-se assistido a um aumento praticamente

anual destas tarifas, muito devido aos custos das varias atividades do sector elétrico.

Figura 19 - Evolução das tarifas de Venda a clientes Finais em Portugal Continental (preços

constantes de 2014)

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26

3. Abandono da rede

Uma das maiores discussões a nível mundial relacionada com a maior penetração e

acessibilidade aos sistemas fotovoltaicos para consumidores domésticos refere-se ao

desligamento da rede, sendo que uma das maiores problemáticas a este nível é se será rentável e

compensador para um consumidor doméstico depender unicamente do seu próprio sistema de

produção de energia elétrica, neste caso um sistema fotovoltaico acompanhado por um sistema

de armazenamento de energia. Estará a paridade com a rede com este sistema perto de ser atingida

ou será que já foi mesmo atingida e quais as implicações de tal situação, são algumas questões

que devem ser analisadas.

Em alguns pontos do mundo essa paridade da rede já foi atingida ou está iminente,

principalmente em países onde o sector fotovoltaico se encontra bastante desenvolvido quer a

nível residencial quer a nível industrial, e nos quais as tarifas elétricas são elevadas. Um dos países

onde o debate tem sido bastante intenso são os Estado Unidos da América, onde vários relatórios

[26] debatem este mesmo assunto, sendo que mais recentemente alguns trabalhos têm sido

desenvolvidos por entidades europeias[27].

O desligamento da rede levanta também uma outra questão: a espiral da morte ou “death

spiral”[28]. Para as utilities pode estar a chegar uma tempestade perfeita, considerando todos os

efeitos da descida dos preços no sector fotovoltaico e a maior acessibilidade que tal traz. A

acompanhar este fenómeno descendente de preços, existe outro contrário, ao nível dos custos de

manutenção da rede e de produção de eletricidade, ou seja, os custos da rede elétrica e os preços

da energia encontram-se numa situação de subida. Quanto mais altas as tarifas, mais

consumidores irão sentir-se encorajados a deixar de depender a rede. Consequentemente, e

considerando que os custos se mantêm, existirão menos consumidores a suportar esses custos, o

que leva a um aumento ainda maior das tarifas. O que será um maior incentivo para que ainda

mais consumidores abandonem a rede se tornem autossuficientes em termos energéticos.

Um dos estudos que se debruçaram sobre a paridade da rede e que serviu de base e guião

para esta análise à realidade portuguesa, foi desenvolvido pelo Rocky Mountain Institute (RMI),

denominado por “The Economics Of Grid Defection - When And Where Distributed Solar

Generation Plus Storage Competes With Traditional Utility Service” [14] e analisa a situação

relativamente à paridade da rede em vários estados americanos.

Este estudo tem em conta fatores fundamentais para o desenvolvimento de algo do género,

como a evolução dos custos dos sistemas fotovoltaicos ou a evolução dos preços de eletricidade

fornecida pela rede elétrica nacional. Para realizar todos os cálculos necessários o Instituto acima

citado utilizou o software HOMER ENERGY[11]. A análise desenvolvida nesta tese seguiu o

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27

mesmo raciocino e método que foi aplicado pelo RMI, o que incluiu igualmente a utilização do

software HOMER ENERGY.

3.1 Metodologia e pressupostos

Neste capítulo, pretende-se apresentar a metodologia que foi seguida na definição das bases

para o cálculo do custo de produção da energia elétrica por um sistema fotovoltaico assim como

a comparação com os preços da energia elétrica forneceria pela rede. Foram determinados o perfil

de consumo de um consumidor doméstico típico, definidos os preços para o sistema fotovoltaico

e sistema de armazenamento de energia, custo de capital e as considerações tomadas para os

preços da energia elétrica.

3.1.1 Perfil de Consumo

Por forma a determinar o perfil de consumo de um consumidor doméstico típico em

Portugal, recorreu-se aos perfis de consumo[29] disponibilizados pela Entidade Reguladora dos

Serviços Energéticos (ERSE), que servem como referência ao consumo no território Português.

Considerou-se o perfil de consumo, em Baixa Tensão Normal, Classe C, por se considerar

representativo da maior parte dos consumidores em Baixa Tensão Normal em Portugal. A classe

C engloba os consumidores com potência contratada igual ou inferior a 13,8 kVA e consumo

anual inferior ou igual a 7100 kWh[19].

Os dados disponibilizados pela ERSE, relativos aos perfis de consumo, encontram-se

normalizados, “ (…) correspondendo a soma de todos os valores de 15 minutos para o ano a que

reporta, a um valor igual a 1000.”.[30] De forma a ser possível obter um diagrama de carga

representativo de um consumidor doméstico passível de ser um instalador de um sistema solar

fotovoltaico, no local de consumo, foi necessário determinar o consumo médio respeitando a

estrutura de consumidores existente no sistema elétrico português.

Consideraram-se os consumidores existentes no Mercado Livre, e no Mercado Regulado,

ou seja, com fornecimento de energia, pelo Comercializador de Ultimo Recurso (CUR).

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28

Tabela 4 - Número de consumidores por potência contratada e opção tarifária[19]

Potência

Contratada [kVA] Tarifa Simples Tarifa Bi-Horária Tarifa Tri-Horária Total

3,45 2 542 691 195 113 9 997 2 74 7801

4,6 153 340 69 989 3 567 226 896

5,75 73 128 38 713 1 771 113 612

6,9 1 140 783 409 847 11 331 1 561 961

10,35 30 3432 108 212 2 777 414 421

13,8 109 684 54 783 1 507 165 974

17,25 31 472 18 954 671 51 097

20,7 126 705 61 955 2 980 191 640

Total 4 481 235 957 566 34 601 5 473 402

Como é possível verificar através da Tabela 4, a potência contratada que engloba um maior

número de consumidores tem o valor de 3,45 kVA, seguida pela potência contratada de 6,9 kVA,

sendo que este último grupo apresenta o maior número de consumidores em regime de tarifa bi-

horária e tarifa tri-horária.

Considerou-se que os consumidores que melhor definiam um possível instalador de um

sistema solar fotovoltaico para autoconsumo e que ao mesmo tempo maior importância assumiam

na definição do perfil de consumo da Classe C, seriam os consumidores com uma potência

contratada de 6,9 kVA. Deste modo, optou-se por determinar qual o consumo médio de um

consumidor com essa potência.

56

,7%

20

,4% 28

,9%

3,4

%

7,3

%

10

,3%

1,6

%

4,0

%

5,1

%

25

,5%

42

,8%

32

,7%

6,8

% 11

,3%

8,0

%

2,4

%

5,7

%

4,4

%

0,7

%

2,0

%

1,9

%

2,8

%

6,5

%

8,6

%

T A R I F A S I M P L E S T A R I F A B I - H O R Á R I A T A R I F A T R I - H O R Á R I A

% D

e C

on

sum

ido

res

Po

r P

erio

do

Ta

rifá

rio

Potência Contratada [kVA]

DISTRIBUIÇÃO DE CONSUMIDORES

3,45 4,6 5,75 6,9 10,35 13,8 17,25 20,7

Figura 20-Distribuição de consumidores

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29

Contudo, como é possível verificar pela Tabela 5 e Tabela 6, os dados disponibilizados

pela ERSE não permitem determinar o consumo referente aos consumidores que possuem uma

potência contratada de 6,9 kVA, sendo que a informação disponibilizada relativamente ao

Mercado Livre é ainda mais limitada comparativamente ao mercado regulado.

Assim sendo, de forma a determinar um consumo médio que melhor correlação tivesse com

o consumo típico na potência contratada de 6,9 kVA, optou-se por determinar o consumo anual

por consumidor, na tarifa bi-horária, visto que é nesta opção tarifária que os consumidores com

potência de 6,9 kVA assumem maior impacto (Figura 20), tendo-se determinado um consumo

anual por consumidor de 5406 kWh.

Tabela 5 - Consumo de energia elétrica, por opção tarifária, para clientes do CUR

Energia Ativa [MWh]

Tarifa simples <=2,3 KVA 143 656

Tarifa simples <=6,9 kVA 3 940 830

Tarifa simples > 6,9 kVA 1 604 871

Tarifa bi-horária <=

6,9 kVA

Fora do Vazio 773 065

Vazio 539 560

Tarifa bi-horária >

6,9 kVA

Fora do Vazio 761 238

Vazio 494 356

Tarifa tri-horária <=

6,9 kVA

Ponta 12 339

Cheia 33 199

Vazio 28 926

Tarifa tri-horária >

6,9 kVA

Ponta 16 154

Cheia 44 983

Vazio 30 951

Total 8 280 472

Tabela 6 - Consumo de energia elétrica, por opção tarifária, no Mercado Livre

Energia Ativa [MWh]

Tarifa simples 5 637 053

Tarifa bi-horária Fora do Vazio 1 556 912

Vazio 1 051 243

Tarifa tri-horária

Ponta 0

Cheia 0

Vazio 0

Total 8 245 208

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30

Tabela 7 - Consumo agregado de energia elétrica, por opção tarifária

Energia Ativa [MWh] Número de

consumidores

Consumo anual por

consumidor [kWh]

Tarifa simples 11 182 754 4 481 235 2 495

Tarifa bi-

horária

Fora do Vazio 3 091 215 957 566 5 406

Vazio 2 085 159

Tarifa tri-

horária

Ponta 28 493

34 601 4 814 Cheia 78 182

Vazio 59 877

Total 16 525 680 5 473 402

3.1.1.1 Diagrama de carga

Determinado o consumo anual por consumidor, tornou-se necessário definir o diagrama de

carga típico de um consumidor doméstico, recorrendo aos perfis de consumo disponibilizados

pela ERSE.

Como já foi referenciado anteriormente, utilizou-se o perfil de consumo BTN Classe C,

tendo-se multiplicado os valores do referido perfil por uma constante, neste caso, o consumo anual

médio, com o valor de 5406 kWh/ano, e dividindo-se o valor obtido por 0,25 por forma a obter a

potência a cada 15 minutos, como poderá ser observado na seguinte expressão:

𝑃𝐹 =𝐵𝑇𝑁 𝐶 × 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑚é𝑑𝑖𝑜

0,25

Na Tabela 8, é possível observar uma secção dos dados que foram considerados e obtidos

através do cálculo acima referido, de modo a determinar as necessidades de consumo de um

consumidor típico.

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31

Tabela 8 - Excerto de tabela com valores determinados para diagrama de carga

Data Dia Hora BTN C Consumo

Elétrico [kWh]

Potência

[kW]

1-jan-14 Quarta-feira 00:15 0,04093 0,221281 0,885122676

1-jan-14 Quarta-feira 00:30 0,03940 0,213003 0,852013357

1-jan-14 Quarta-feira 00:45 0,03784 0,204578 0,818312982

1-jan-14 Quarta-feira 01:00 0,03641 0,196822 0,787286633

1-jan-14 Quarta-feira 01:15 0,03487 0,18848 0,753918427

1-jan-14 Quarta-feira 01:30 0,03334 0,180236 0,720943463

1-jan-14 Quarta-feira 01:45 0,03177 0,171737 0,686948028

1-jan-14 Quarta-feira 02:00 0,03055 0,165145 0,660578249

1-jan-14 Quarta-feira 02:15 0,02957 0,159859 0,639437752

1-jan-14 Quarta-feira 02:30 0,02874 0,155374 0,621497143

1-jan-14 Quarta-feira 02:45 0,02783 0,150427 0,601708232

1-jan-14 Quarta-feira 03:00 0,02691 0,145468 0,581871483

De seguida, tornou-se necessário determinar a semana típica para cada mês do ano,

diferenciando dias de semana e fins de semana, de hora a hora. Para tal, procedeu-se ao cálculo

da média para os valores de potência, de hora em hora, entre os dias da semana de cada mês,

assim como para os fins de semana. Optou-se por tomar esta opção, visto que o software utilizado

permitia a introdução de um diagrama de carga mensal, com distinção entre dia de semana e fim

de semana.

Os resultados obtidos apresentam-se nos gráficos seguintes, para alguns meses do ano,

para um dia de semana típico e fim de semana, de um consumidor típico.

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32

Figura 21 - Diagrama de carga (Dia de semanal típico para certos meses do ano)

Figura 22 - Diagrama de carga (Fim de semana típico para certos meses do ano)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4P

otê

nci

a [k

W]

Hora

DIAGRAMA DE CARGA - SEMANA

Janeiro Fevereiro Junho Julho Agosto Novembro Dezembro

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

Po

tên

cia

[kW

]

Hora

DIAGRAMA DE CARGA - FIM DE SEMANA

Janeiro Fevereiro Junho Julho Agosto Novembro Dezembro

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33

3.1.2 Localização geográfica

Optou-se por utilizar como referência geográfica a cidade de Lisboa, visto possuir um

localização central ao nível do país, e por se considerar representativa em termos populacionais e

de tipo de consumidor.

Como tal, considerou-se a curva de radiação para a localização da cidade de Lisboa para

referências de cálculos em termos de produção elétrica. Os dados foram obtidos através do

software PVSyst®, donde se retirou a curva de radiação anual, tendo-se posteriormente

trabalhado os dados, para obter médias mensais de radiação solar.

Os dados foram posteriormente inseridos no software HOMER Energy, e que foram

utilizados por este no cálculo da produção elétrica.

Tabela 9 - Irradiação Solar em Lisboa (Latitude: 38,5ºN, Long: 9,1ºW, Altitude: 5 m)

[Wh/m2.dia] [kWh/m2.mês]

Janeiro 2060 63,86

Fevereiro 2822 79,01

Março 4645 144,00

Abril 5267 158,00

Maio 6394 198,23

Junho 7200 216,00

Julho 7258 225,00

Agosto 6677 207,00

Setembro 5200 156,00

Outubro 3586 111,18

Novembro 2016 60,48

Dezembro 1765 54,72

Ano 4585 1673

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34

Figura 23 - Irradiação Solar em Lisboa

3.1.3 Preço de eletricidade

A estrutura do mercado da eletricidade, como já foi referida, é composta por dois mercados

de consumidores: o mercado livre, com preços estabelecidos pelos comercializadores e um

mercado regulado, com preços estabelecidos pela ERSE.

Contudo, a criação do mercado livre em Portugal apresenta algumas falhas, nomeadamente

na estrutura de preços entre os diferentes mercados, visto que muitos dos comercializadores em

regime de mercado livre praticam preços indexados ao estabelecido pelo regulador de mercado,

apresentado apenas descontos faces ao preço estabelecido.

Assim sendo, os preços de eletricidade utilizados como referência serão aqueles

estabelecido pelo regulador de mercado, que neste momento para os consumidores finais são

apresentadas como tarifas transitórias, tendo em vista o incentivo ao consumidor final para a

transição ao mercado livre.

Para o ano de 2014, as tarifas transitórias aplicadas aos clientes no mercado regulado

sofreram um aumento de 2,8%[31] em relação ao ano de 2013. Em relação à potência contratada

de 6,9 kVA, as tarifas transitórias de venda a clientes finais assumiam um valor de 0,2895 €/dia

[32] para a potência contratada e um valor de 0,1528 €/kWh [32] para a energia ativa, à entrada

do ano de 2014.

Para o ano de 2015, as tarifas aplicadas aos clientes com potência contratada de 6,9 kVA,

definido anteriormente como o consumidor típico, será de 0,2962 €/dia[33] para potência

contratada e um valor de 0,1587 €/kWh[33] para a energia ativa, o que representa um acréscimo

de 3,3%[34] face ao ano de 2014.

0

150

300

450

600

750

900

1050

1200

janeiro fevereiro abril maio julho setembro outubro dezembro

W/m

2

Dias

CURVA DE RADIAÇÃO SOLAR EM LISBOA

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35

As faturas para o cliente doméstico pelo seu consumo de eletricidade são ainda acrescidas

dos vários impostos a pagar, que para efeitos de análise terão que ser contabilizados. Estes

impostos incluem a Taxa de Exploração DGEG, o Imposto Especial de Consumo de Eletricidade

(IECE) e o Imposto de Valor Acrescentado (IVA) ao qual ainda acrescem a Contribuição

Audiovisual e ainda o IVA de 6% sobre a referida contribuição. Estes dois últimos não serão

contabilizados por não se referirem ao consumo de eletricidade.

De modo a determinar o real custo da eletricidade que é consumida numa residência, foi

utilizada a seguintes expressões:

𝐶𝐸 = 𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎 × 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙 + 𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 × 365

+ 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝐷𝐺𝐸𝐺 × 12 + 𝐼𝐸𝐶𝐸 × 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙

(4)

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑅𝑒𝑎𝑙 =

𝐶𝐸 + IVA × 𝐶𝐸

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙

(5)

Procedendo ao cálculo acima referido, considerando uma tarifa de 0,1587 €/kWh, um

consumo anual de 5406 kWh, uma potência contratada de 0,2962 €/dia, uma taxa DGEG de 0,07

€/mês, um Imposto Especial de Consumo de Eletricidade de 0,001 €/kWh e IVA a 23%, foi obtido

para o ano de 2015 um custo real de 0,2212 €/kWh.

Este valor mostra que na realidade o custo da eletricidade para o consumidor é

relativamente superior ao custo que é cobrado pela energia ativa, ou seja a energia realmente

consumida. Sendo compreensível a introdução de uma componente fixa, ditada pelo valor da

potência contratada, a verdade é que a existência de vários impostos sobre o consumo da

eletricidade e uma taxa de IVA relativamente alta, 23%, encarece de grande forma a fatura mensal

do consumidor.

No que diz respeito à análise da evolução das tarifas para a potência contratada de 6,9 kVA,

é notório o aumento das mesmas, entre 2008 e 2015, de acordo com os dados disponibilizados

pela ERSE para as tarifas reguladas.

As tarifas reguladas entre 2008 e 2015 apresentam um aumento anual médio de 4,86%,

sendo que desse modo foram projetadas duas situações para as possíveis tarifas futuras. Uma

primeira situação com um aumento anual de 5%, e uma estimativa mais conservadora com um

aumento anual de 2%. Nas considerações feitas relativamente a estes aumentos futuros, não se

encontra contabilizado o efeito da inflação, por forma a facilitar os cálculos. Assim sendo, os

resultados apresentados representam aumento anuais a preços contantes relativamente ao ano de

2015.

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36

Figura 24 - Custo real da eletricidade

3.1.4 Sistema solar fotovoltaico

Em 2012, os custos para sistemas fotovoltaicos de menores dimensões, isto é, inferiores

a 10 kW, encontravam-se na ordem de 2,2 USD/W[35][36], sendo que previsões por parte da

IRENA – International Renewable Energy Agency – apontavam que que estes custos descessem

para a ordem de 1,8 a 2,4 USD/W até 2020[35]. Ao contrário dos sistemas fotovoltaicos de

maiores dimensões, os sistemas para o sector residencial apresentam uma menor capacidade para

a diminuição dos seus custos, essencialmente devido à estaticidade dos custos do BoS, que

apresentam um custo na ordem de 1,3 USD/W[35], e dos inversores.

Em termos de preços médios internacionais, em 2012, os preços para sistemas

fotovoltaicos residenciais, de silício cristalino, encontravam-se entre os 1,7 €/Wp e os 3,46

€/Wp[35].

O último relatório da Comissão Europeia para o sector fotovoltaico apresenta igualmente

as tendências de preços para sistemas residenciais com ligações à rede, que apresentam um preço

médio de 1700 €/kWp[37]. A mesma Comissão, num relatório de 2013[38], determinou o LCOE

para um sistema fotovoltaico residencial com potência inferior a 25 kW, considerou um custo

para o sistema de 1700 €/kWp, incluindo custos de instalação, licenças e taxas, “considerado

representativo do mercado residencial na União Europeia em 2013”[38].

Na Alemanha, país líder no sector fotovoltaico na União Europeia, para sistemas

residenciais inferiores a 10 kW, os diversos relatórios apontam para preços praticados entre os

0,0000

0,1000

0,2000

0,3000

0,4000

0,5000

0,6000

0,7000

2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 2026 2028 2030 2032 2034 2036 2038 2040 2042

Pre

ço [€

/kW

h]

Ano

CUSTO REAL DA ELECTRICIDADE PARA CLIENTES FINAIS NA POTÊNCIA CONTRATADA DE 6,9 KVA - Preços Constantes a

2015Custo Real Electricidade Aumento Anual de 2% na tarifa Aumento Anual de 5% na tarifa

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37

1630 €/kW [39], no ano de 2012, com variações entre os 1300 €/kW e os 1800 €/kW[40], para o

ano de 2013. Trabalhos desenvolvidos no sector académico alemão, para o cálculo do custo de

um sistema fotovoltaico com baterias, consideram preços para os sistemas fotovoltaicos de 1698

€/kWp[7] e 1800 €/kWp[41].

São igualmente encontradas projeções mais recentes que apontam para preços finais entre

os 1800 e 2000 €/Wp [42][4] para sistemas até aos 10 kWp, sendo que para sistemas até 50 kWp

o custo dos sistemas rondará os 1500 €/Wp e os 1800 €/Wp [43][44][39].

Figura 25 - Preços médios de instalação para sistemas fotovoltaicos <= 10 kW, 2010-2012[39]

Figura 26 - Preços para sistemas fotovoltaicos na Europa (Preços em libras britânicas

2011)[44]

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38

Atendendo ao desenvolvimento dos últimos anos do mercado alemão, com reduções de 9%

ao ano [45] no preço dos sistemas fotovoltaicos residenciais e às perspetivas apresentadas no

sector fotovoltaico para as utilities[3], considerou-se uma redução de 6% ao ano até 2020, 3% até

2025 e 1% até 2030.

Tomando em consideração todos os factos acima apresentados, e o facto dos relatórios

publicados apresentarem ainda um desfasamento temporal considerou-se aceitável assumir um

custo inicial de 1450 €/kW instalado. Este custo já contabiliza custos de instalação e todos os

componentes que acompanham um sistema fotovoltaico residencial, como por exemplo

inversores e cablagem. Foi também considerando um custo de Operação e Manutenção (O&M)

de 2%[46] do capital inicial.

No entanto, para assegurar alguma margem de análise, considerou-se igualmente uma

variação do preço de 20%. Os resultados obtidos e utilizados estão apresentados na Figura 27.

Figura 27 - Evolução dos custos dos sistemas fotovoltaicos - Preços constantes de 2015

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

20

15

20

16

20

17

20

18

20

19

20

20

20

21

20

22

20

23

20

24

20

25

20

26

20

27

20

28

20

29

20

30

20

31

20

32

20

33

20

34

20

35

20

36

20

37

20

38

20

39

20

40

Cu

sto

€/k

W

Ano

Evolução do custo dos sistemas solares fotovoltaicos

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39

Relativamente às questões técnicas com interesse para os sistemas fotovoltaico e que

foram tidas em conta para os cálculos do software, os valores utilizados encontram-se listados na

Tabela 10.

Tabela 10 - Parâmetros considerados com influência no sistema fotovoltaico

Parâmetro Valor

Tempo de vida do sistema 25 anos

Fator de degradação 78%

Albedo 20%

Inclinação 38,72°

Efeitos da temperatura Não considerado

3.1.5 Sistema de armazenamento de energia

Como já foi referido anteriormente, o sistema fotovoltaico considerado terá

necessariamente que incluir um sistema de armazenamento de energia, por forma a ser possível

uma independência total da rede de energia elétrica.

Optou-se por considerar baterias de ião lítio, pela maior facilidade de “obtenção de dados

e informação relativamente os seus custos e características”[14]. Apesar das baterias de chumbo-

ácido serem ainda hoje as mais comuns em aplicações off-grid, muito devido ao seu baixo custo,

as previsões futuras apontam para que as bateiras de ião de lítio tomem a dianteira neste mercado,

tendo em conta a diminuição dos seus custos em manutenção e investimento inicial. [47]

Estas baterias apresentam diversas vantagens, nomeadamente a nível tecnológico. O

armazenamento e utilização de energia é feita de forma mais eficiente, a “taxa de auto descarga é

muito baixa, o ciclo de vida muito alto”[47], são mais leves e compactas e apresentam uma

capacidade de descarga mais elevada sem sacrificar eficiência.

No que diz respeito aos preços das baterias, as previsões apontam para uma descida

acentuada nos próximos anos, tendo-se inclusivamente assistido a uma redução bastante forte na

descida dos custos de produção.

Tomando como referência o mercado alemão, visto ser o que apresenta um maior grau de

desenvolvimento no sector fotovoltaico residencial, com uma componente de armazenamento de

energia em forte expansão, tomou-se como referência um custo associado à capacidade das

baterias de 350 €/kWh, com descidas até aos 250 €/kWh em 2020 e 150 €/kWh em 2025

[48][49][50][51][52], ou seja, uma descida de preços de aproximadamente 7% ao ano até 2030,

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40

seguida de uma redução de 1% ao ano até 2040, considerando que por esta altura deverá estar

atingida uma elevada penetração e desenvolvimento destes tipos de baterias, quer por via da

massificação dos carros elétricos quer através da sua utilização para sistemas fotovoltaicos.

Figura 28 - Considerações para os custos das baterias ião-lítio – Preços constantes de 2015

Relativamente às questões técnicas com interesse para o sistema de armazenamento e que

foram tidas em conta para os cálculos do software, os valores utilizados encontram-se listados na

Tabela 11.

Tabela 11 - Parâmetros relativos ao sistema de armazenamento

Parâmetro Valor

Capacidade individual 1 kWh

Tensão Nominal 6 V

Tempo de vida 15 anos

“Lifetime throughput” 3000 kWh

Baterias por string 8 (48 V)

“Roundtrip efficiency” 90%

0

50

100

150

200

250

300

350

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20

14

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20

20

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20

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20

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30

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31

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33

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36

20

37

20

38

20

39

20

40

20

41

Cu

sto

[€

/kW

h]

Ano

Evolução dos custos do sistema de armazenamento

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41

3.1.6 Custo de capital

Foi considerado um custo de capital (WACC – Weighted Average Cost of Capital) nominal

de 3,5 %[38][40][41][53], com base na literatura consultada. O relatório elaborado pela EPIA,

“Connecting the Sun - Solar photovoltaics on the road to large/scale grid integration”[54],

apresenta duas perspetivas para o custo de capital: um custo de capital baixo entre 4,4% e 8,8% e

um custo de capital alto entre os 7% e os 11%. Contudo, à data da elaboração do relatório, os

efeitos da crise económica europeia, que teve início no ano de 2008, eram bastante mais fortes do

que os sentidos nos dias de hoje, pelo que se optou por manter um custo de capital na ordem dos

3,5%. Optou-se por manter este valor constante ao longo do período de vida do sistema

fotovoltaico.

3.2 Simulação

3.2.1 Caso base – Sistema Fotovoltaico + Sistema Armazenamento

Para avaliação dos resultados obtidos, optou-se por restringir o sistema a várias

condicionantes. Como já foi referido, o software escolhido para proceder à análise do projeto foi

o HOMER ENERGY ® [11], à semelhança do que acontece com o relatório que serviu de base

para este trabalho, “The Economics of Grid Defection”.

O primeiro ponto, foi definir o caso base, para o estudo do projeto. Considerou-se como

ano 0, o ano de 2015, para um projeto com um tempo de vida de 25 anos. Foram testadas todas

as combinações com sistemas fotovoltaicos entre os 0 kW e os 20 kW, com um banco de baterias

entre 0 kWh e 64 kWh. Nas condicionantes impostas à simulação, foi considerado uma “shortage

capacity” até 2%, ou seja, considerando toda a carga exigida ao sistema, de acordo com o definido

pelo diagrama de carga considerado, o sistema teria que fornecer no mínimo 98% da mesma. A

otimização do sistema é feita, de acordo com o software, tendo em vista uma perspetiva

económica, pelo que o sistema ideal será aquele com um LCOE menor, para um tempo de vida

de 25 anos. Optou-se por não considerar os efeitos da inflação, ou seja, inflação a 0%, sendo os

resultados afetados unicamente, a nível económico e financeiro, pelo custo de capital. Dessa

forma, todos os resultados financeiros, serão a preços constantes em relação ao ano de 2015.

Os resultados obtidos pelo HOMER ENERGY encontram-se apresentados na Tabela 12 e

Tabela 13

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42

Tabela 12 - Resultados para definição de caso base

Sistema PV

[kW]

Sistema

Armazenamento

[kWh]

LCOE

[€/kWh] NPC Capital Inicial

Capacity

Shortage

[kWh/ano]

Excesso de

Produção

[kWh/ano]

14 40 0,603 54.451 € 34.300 € 104,07 13534

17 32 0,610 55.189 € 35.850 € 97,24 17780

12 48 0,616 55.667 € 34.200 € 104,01 10692

15 40 0,622 56.406 € 35.750 € 82,67 14920

18 32 0,630 57.144 € 37.300 € 81,53 19174

13 48 0,635 57.622 € 35.650 € 79,71 12076

16 40 0,641 58.361 € 37.200 € 63,44 16310

11 56 0,649 58.839 € 35.550 € 85,00 9240,8

19 32 0,650 59.099 € 38.750 € 67,07 20571

14 48 0,654 59.577 € 37.100 € 58,85 13464

17 40 0,660 60.316 € 38.650 € 47,09 17705

12 56 0,668 60.794 € 37.000 € 62,51 10627

20 32 0,670 61.054 € 40.200 € 57,11 21972

15 48 0,673 61.532 € 38.550 € 40,44 14855

10 64 0,684 62.010 € 36.900 € 88,58 7818,6

18 40 0,681 62.271 € 40.100 € 38,17 19107

13 56 0,687 62.749 € 38.450 € 45,33 12021

16 48 0,693 63.487 € 40.000 € 28,37 16255

11 64 0,701 63.965 € 38.350 € 55,10 9191,9

19 40 0,701 64.226 € 41.550 € 33,31 20516

14 56 0,706 64.704 € 39.900 € 30,01 13417

17 48 0,713 65.442 € 41.450 € 23,47 17664

12 64 0,720 65.920 € 39.800 € 36,82 10585

20 40 0,722 66.181 € 43.000 € 28,50 21925

15 56 0,726 66.659 € 41.350 € 22,00 14822

18 48 0,734 67.397 € 42.900 € 19,98 19075

13 64 0,740 67.875 € 41.250 € 25,82 11987

16 56 0,747 68.614 € 42.800 € 18,51 16233

19 48 0,755 69.352 € 44.350 € 18,02 20488

14 64 0,760 69.830 € 42.700 € 19,04 13394

17 56 0,768 70.569 € 44.250 € 18,03 17649

20 48 0,776 71.307 € 45.800 € 17,49 21902

15 64 0,782 71.785 € 44.150 € 18,08 14810

18 56 0,790 72.524 € 45.700 € 18,00 19065

16 64 0,803 73.740 € 45.600 € 18,51 16226

19 56 0,811 74.479 € 47.150 € 17,74 20480

17 64 0,824 75.695 € 47.050 € 18,03 17642

20 56 0,832 76.434 € 48.600 € 17,49 21895

18 64 0,845 77.650 € 48.500 € 18,00 19057

19 64 0,867 79.605 € 49.950 € 17,74 20472

20 64 0,888 81.560 € 51.400 € 17,49 21887

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43

Tabela 13 - Levelized Cost of Electricity (LCOE) [€/kWh]

Sistema PV [kW] Sistema de Armazenamento [kWh]

32 40 48 56 64

10 0,684

11 0,649 0,701

12 0,616 0,668 0,720

13 0,635 0,687 0,740

14 0,603 0,654 0,706 0,760

15 0,622 0,673 0,726 0,782

16 0,641 0,693 0,747 0,803

17 0,610 0,660 0,713 0,768 0,824

18 0,630 0,681 0,734 0,790 0,845

19 0,650 0,701 0,755 0,811 0,867

20 0,670 0,722 0,776 0,832 0,888

Como é possível verificar, através da análise dos dados selecionados o sistema que melhor

se adequa às necessidades consideradas, e tendo em conta as condicionantes impostas, será um

sistema fotovoltaico com uma potência de 14 kW, em conjunto com um sistema de

armazenamento com uma capacidade de 40 kWh. Este sistema apresenta um LCOE (Levelized

Costo of Energy) de 0,603 €/kWh.

Não obstante, é igualmente necessário proceder a uma análise cuidada do sistema

considerado. Apesar da otimização do sistema, como já foi referido, ser feita do ponto de vista

económico, ou seja, o melhor sistema de produção de energia elétrica será aquele que satisfaça

no mínimo 98% da carga requerida e apresentar o menor custo de produção de eletricidade

(LCOE), existem algumas desvantagens na construção deste sistema.

O ponto mais notório será o desperdício energético existente, como é visível na Tabela 13,

acima referenciada e visível na imagem seguinte. Apresentando uma produção de 19 803

kWh/ano, cerca de 68,3 % é produzida em excesso, mais concretamente 13 534 kWh/ano, com

maior incidência nos meses de verão.

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44

Pro

du

ção

elé

tric

a em

ex

cess

o [

kW

]

Horas Horas

Figura 29 - Produção elétrica em excesso nos meses de Agosto e Dezembro

No que diz respeito à utilização da bateria, este terá uma maior utilização nos meses de

Inverno, sendo essa utilização visível na figura seguinte. Observando o gráfico obtido, constata-

se uma variação maior do estado de carga da bateria nos meses de Inverno, devido à sua maior

utilização, contrariamente ao que acontece nos meses de Verão, onde o sistema de armazenamento

raramente apresenta um nível de carga médio inferior a 80% da sua capacidade.

Figura 30 - Estado de carga médio do sistema de armazenamento

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45

Figura 31 - Produção elétrica do sistema fotovoltaico

Figura 32 - Estado de carga do sistema de armazenamento

3.2.1.1 Paridade da Rede

A análise do caso base e a projeção para os seguintes 25 anos determinou que a paridade

da rede deverá ser atingida nos próximos 10 a 25 anos, entre 2025 e 2030, dependendo da

evolução dos preços de venda da eletricidade da rede de energia elétrica.

Numa projeção em que os preços da eletricidade aumentam a um ritmo de 5% ao ano, a

paridade será atingida dentro de 10 anos, quanto o custo da eletricidade da energia produzida pelo

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46

sistema considerado atingir um valor de 0,329 €/kWh. No entanto, numa estimativa mais

conservadora, em que os preços da eletricidade aumentam a um ritmo menor, a 2% ao ano, a

paridade da rede será atingida cerca de 5 anos mais tarde, apenas depois do ano de 2030, em que

a previsão aponta para o LCOE se situe entre os 0,291 €/kWh e os 0,2888 €/kWh.

Figura 33 - Paridade com a rede (Sistema fotovoltaico + Sistema de Armazenamento

Como se verifica através da Figura 33 as previsões para paridade da rede entre um sistema

fotovoltaico com sistema de armazenamento em relação à rede elétrica, é influenciada tanto pelo

preço de venda da eletricidade como pelo capital inicial investido. Procedendo a uma variação de

20% no preço do sistema fotovoltaico, mantendo todas os outros fatores constantes o que se

verifica é que, considerando um aumento de 20%, a paridade com a rede elétrica poderá ser

atingida entre o ano de 2027 e 2035, com custos entre os 0,357 €/kWh e 0,316 €/kWh. Um

aumento substancial comparativamente ao caso base considerado anteriormente.

Caso se considere uma redução de 20% no preço dos sistemas fotovoltaicos, a paridade da

rede poderá ser atingida um ano antes relativamente ao caso base, a um custo de aproximadamente

0,316 €/kWh, ou numa estimativa mais conservadora no ano de 2028 a 0,279 €/kWh.

Analisando os dados obtidos e considerando todas a projeções para o modelo de base de

um sistema fotovoltaico residencial em conjunto com um sistema de armazenamento de energia,

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

20

15

20

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20

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20

39

20

40

[€/k

Wh

]

Ano

Paridade com a rede elétrica

Intervalo Preço Electricidade LCOE - Caso Base

LCOE - Caso base + 20% LCOE - Caso base - 20%

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47

verifica-se que a paridade de rede será atingida num intervalo temporal ainda alargado, entre 2024

e 2035, 11 anos. A existência de um intervalo temporal tão alargado justifica-se com as

ponderações feitas para as variações dos custos dos sistemas fotovoltaicos e do preço da

eletricidade fornecida pela rede elétrica de serviço publico.

Dissecando com rigor o sistema que foi considerado pelo software, que tinha como

premissas um fornecimento de 98% das necessidades de um consumidor típico, que tivesse em

vista a procura de um custo mínimo de produção de energia elétrica, constata-se o enorme

desperdício energético que existe anualmente, um fator que é resultado das próprias características

que um sistema fotovoltaico apresenta: uma enorme produção elétrica concentrada nos meses de

maior incidência solar, que não é totalmente aproveitada. Tal facto resulta da necessidade de

dimensionar o sistema para que a procura de energia nos meses de Inverno seja assegurada.

A análise apresentada é feita para um consumo definido, que foi considerado com o

consumo típico para um consumidor na potência contratada de 6,9 kVA. Diferentes perfis de

consumo poderiam ajustar-se melhor ao sistema que foi analisado, potenciando melhores

resultados.

Para as considerações feitas, a paridade na rede deverá ser atingida nas melhores das

hipóteses em menos de 10 anos, por volta do ano de 2024.

3.2.2 Caso base – Sistema Fotovoltaico + Sistema de Armazenamento +

Gerador

3.2.2.1 Gerador

Atendendo às particularidades e às próprias consequências do dimensionamento que foi

apreciado, optou-se por analisar os efeitos da introdução de um gerador num sistema fotovoltaico

com capacidade de armazenamento.

A motivação para este exercício seria avaliar possibilidade de reduzir a potência e

capacidade de ambos os sistemas, quer do sistema fotovoltaico quer do sistema de

armazenamento, através de um pequeno gerador auxiliar com potência de 1 ou 2 kW, que

permitisse suprir ocasionalmente a potencial falta de energia e que assegurasse 98% da procura.

Dessa forma, foram avaliados vários geradores no mercado internacional, dentro da gama

de potência considerada, que permitisse definir uma curva de consumo de combustível,

procedendo a uma média dos valores de consumo indicados pelos fabricantes.

Optou-se por considerar um custo de 550€/kW [55] [56], [57] e um custo de manutenção

de 0,04 €/hora [58].

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A curva de eficiência apresentada na figura, foi determinada pelo software HOMER

ENRGY, apresentado uma eficiência máxima à volta dos 18% [56].

Figura 34 - Curva de consumo estimada do gerador[56],[55], [59],[57]

Figura 35 - Curva de eficiência do gerador

3.2.2.2 Combustível

Devido à introdução de um gerador dependente do consumo de combustível, neste caso

gasolina, foi necessário proceder à elaboração de uma previsão para a evolução do preço do

combustível, neste caso gasolina

Recorrendo a dados estatísticos históricos[60], assumiu-se um aumento de 3% por ano,

considerando um inflação de 0% em relação ao ano de 2015.

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49

Figura 36 - Projeções para o preço da gasolina - Inflação 0%, preços constantes ao ano de

2015

3.2.2.3 Caso base

Mantendo as condicionantes acima referidas, determinou-se dessa forma, o novo caso base,

para uma situação em que um gerador seria introduzido no sistema. Observando a Tabela 14,

verifica-se que com a introdução de um gerador o novo sistema ideal seria composto por um

sistema fotovoltaico com uma potência de 7 kW, ou seja, metade do sistema anteriormente

considerado, e um sistema de armazenamento com uma capacidade de 16 kWh.

O novo sistema apresenta um LCOE de 0,455 €/kWh, cerca de 0,15 € a menos que o

sistema sem gerador.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

19

90

19

92

19

94

19

96

19

98

20

00

20

02

20

04

20

06

20

08

20

10

20

12

20

14

20

16

20

18

20

20

20

22

20

24

20

26

20

28

20

30

20

32

20

34

20

36

20

38

20

40

20

42

Pre

ço [€

/lit

ro]

Ano

Projeções para o preço da gasolina

Gasolina 95 - Preços históricos Previsão preços gasolina

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50

Tabela 14 - Resultados para determinação de caso base

Sistema

Fotovoltaico

[kW]

Sistema de

Armazenamento

[kWh]

LCOE

[€/kWh] NPC

Capital

Inicial

Fração

Renovável

[%]

Capacity

Shortage

[kWh/ano]

Excesso de

Produção

[kWh/ano]

Consumo de

Combustível

[litros]

7 16 0,4547 39.536 € 16.300 € 85 16,39 4522,35 509

6 16 0,4550 39.554 € 14.850 € 83 18,10 3233,41 578

8 16 0,4585 39.885 € 17.750 € 87 14,88 5835,05 454

5 16 0,4616 40.117 € 13.400 € 81 19,50 1980,85 667

9 16 0,4651 40.465 € 19.200 € 88 13,31 7160,69 406

10 16 0,4733 41.191 € 20.650 € 89 11,86 8495,81 363

6 24 0,4741 41.225 € 17.650 € 86 16,55 2997,51 462

7 24 0,4744 41.279 € 19.100 € 88 13,50 4289,59 395

8 24 0,4792 41.716 € 20.550 € 90 10,97 5605,13 342

11 16 0,4835 42.089 € 22.100 € 90 10,82 9840,53 327

A introdução de um gerador no sistema permite alcançar algumas melhorias importantes,

comparativamente ao projeto anterior. Existe uma redução no desperdício energético, e o

fornecimento de energia alcança praticamente os 100% da energia exigida. Mais concretamente,

o caso base considerado, apresenta um excesso de produção elétrica de 42,%, que corresponde

aos 4522 kWh/ano apresentados na tabela anterior, sendo que o sistema fornece 99,7% da energia

exigida.

Procedendo à mesma análise que foi feita para o primeiro sistema a considerado, é visível

a diferença que existe no excesso de produção nos meses de agosto e dezembro.

Pro

du

ção

Elé

tric

a em

ex

cess

o [

kW

]

Horas Horas

Figura 37 - Produção elétrica em excesso nos meses de Agosto e Dezembro

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51

Figura 38 - Estado de carga médio do sistema de armazenamento

Figura 39 - Produção elétrica do sistema fotovoltaico

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52

Figura 40 - Estado de Carga do sistema de armazenamento

Através da observação da Figura 38 e da Figura 40 vemos que a variação no estado de carga

do sistema de armazenamento, no novo sistema, é bastante superior. Comparativamente ao

sistema composto unicamente por um sistema fotovoltaico e um sistema de armazenamento, a

variação média do estado de carga da bateria no mês de Janeiro, vemos uma utilização bastante

mais intensa. Enquanto num sistema sem gerador o estado da bateria variava entre os 80% e os

45%, com a introdução do gerador o estado de carga médio do sistema de armazenamento varia

entre os 20% e os 68%, aproximadamente.

Da mesma forma, é visível na Figura 39, o funcionamento do gerador, quando a produção

fotovoltaica é menor, ao mesmo tempo que o estado de carga do sistema de armazenamento

diminui, devido a sua utilização para o fornecimento de energia.

Numa análise mais detalhada ao desempenho do gerador no sistema e à sua produção

elétrica, a simulação apresenta, para o gerador, uma produção de 764 kWh/ano, o que corresponde

a 7,16% da produção total. Para esta produção, são consumidos cerca de 509,78 litros/ano, com

um consumo específico de 0,67 litros/kWh sendo que o gerador trabalha cerca de 1407 horas/ano.

A eficiência média do gerador apresenta um valor de 16,56 %.

A maior parte dessa produção acontece nos meses de menor radiação solar, sendo que entre

Maio e Agosto o gerador praticamente não funciona.

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53

Figura 41 - Potência do gerador nos vários meses do ano

Figura 42 - Produção do sistema fotovoltaico nos vários meses do ano

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54

3.2.2.4 Paridade da rede

Feita a comparação entre os dois sistemas, para o ano zero, é importante verificar a

evolução ao longo dos próximos 25 anos, visto que um dos principais pontos negativos da

introdução de um gerador será o consumo de combustível e o custo associado a este consumo.

Figura 43 - Paridade com a rede (Sistema PV + Sistema de Armazenamento + Gerador)

A análise quanto à paridade da rede e a projeção para os próximos 25 anos revelou

resultados curiosos. Para o sistema considerado, a paridade da rede deverá ser atingida apenas

após o ano de 2029, a um custo de cerca de 0,397 €/kWh. Contudo, caso o preço da eletricidade

aumente a um ritmo de 2% ao ano, a paridade com a rede nunca será atingida com este sistema,

antes de 2040.

Comparativamente ao sistema composto pela parte fotovoltaica e com um sistema de

armazenamento, a paridade da rede é atingida mais tardiamente e a um LCOE mais elevado. O

principal fator que provoca esta situação é o preço do combustível, que se encontra associado a

um consumo relativamente elevado por parte do gerador. Apesar de um sistema com esta

composição apresentar custos de produção de energia inicialmente bastante mais baixos, ao longo

dos próximos 25 anos essa vantagem inicial é esbatida, visto que a redução dos preços, quer dos

sistemas fotovoltaicos quer dos sistemas de armazenamento de energia e os seus respetivos

componente é anulada pelo respetivo aumento dos preços dos combustíveis.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

0,60

0,65

0,70

20

15

20

16

20

17

20

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19

20

20

20

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20

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20

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20

36

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37

20

38

20

39

20

40

€/k

Wh

ANO

Paridade com a rede elétrica

Preço Eletricidade LCOE

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55

Assim sendo, e tal como é percetível pela observação da Figura 43, os custos de produção

de energia apenas apresentam uma trajetória descente nos primeiros dez anos. A partir do ano de

2025, os custos de produção invertem a sua trajetória, passando a aumentar os custos de ano para

ano, atingindo no final do seu tempo de vida um custo de produção de energia, ainda que ligeiro,

superior em relação àquele que foi determinado para o seu início, cerca de 0,463 €/kWh.

3.2.2.4.1 Otimização do Sistema

Como foi demonstrado no ponto anterior, a eficiência do gerador é bastante baixa, inferior

a 20%, sendo que este trabalha maioritariamente nos meses de Inverno, quando a radiação solar

apresenta um valor mais baixo. Além disso, como também foi demostrado no ponto anterior

atingir a paridade com a rede torna-se bastante complicado, devido ao consumo de combustível

que o sistema implica e a evolução do seu preço.

Para contornar esta dificuldade acrescida optou-se por proceder a duas alterações: a

inclinação do sistema fotovoltaico e a eficiência do gerador considerado.

No que diz respeito à inclinação do sistema, que estava anteriormente definida pela

inclinação padrão do software, de valor igual à latitude, optou-se por alterar para 50° de

inclinação, por foram a aproveitar melhor a radiação solar no inverno, visto que existia ainda

alguma radiação que não se encontrava a ser aproveitada durante o verão.

Quanto ao gerador optou-se por considerar um gerador de maior potência. Este gerador de

maior potência estaria dimensionado para, numa situação hipotética, ser utilizado por um conjunto

de habitações, de modo a que, ao invés de cada habitação possuir um pequeno gerador, estas

teriam à sua disposição um gerador de maior capacidade. A potência disponibilizada para cada

habitação, não ultrapassaria à mesma 1 kW, tal como foi dimensionado na situação anterior. No

entanto, como existiriam diversos consumidores a utilizar um gerador de maior potência no

mesmo momento essa situação seria compensadora.

Desta forma, considerou-se um gerador com uma eficiência de 50%, determinada pelo

software para os níveis de consumo do gerador utilizado como referência. [58]

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56

Figura 44 - Curva de eficiência do gerador otimizado

Figura 45 - Curva de consumo do gerador otimizado

A partir desta nova situação, várias melhorias são alcançadas. Comparativamente à situação

anterior, com a introdução de uma gerador mais eficiente e da alteração da inclinação dos painéis,

existe um melhor aproveitamento da energia elétrica produzida. O excesso de produção passa de

cerca 42% para 40,7%, correspondentes a 4221,9 kWh/ano. No total, é fornecida 99,7% da carga

exigida, pelo que a “capacity shortage” se mantem inalterada.

A produção de energia proveniente do gerador aumenta para 770 kWh/ano, o que

corresponde a 7,43% da produção total, mas o consumo de combustível diminui drasticamente

para 186,72 litros/ano, o que se traduz num consumo específico de combustível de 0,25

litros/kWh. A eficiência média também é bastante superior, atingindo um valor de 45,6%.

A diminuição do consumo de combustível devido à maior eficiência do gerador, é a

principal responsável pela melhoria, do ponto de vista económico e financeiro, do sistema

considerado.

Se anteriormente, o sistema apresentava um LCOE inicial de 0,455 €/kWh, agora é possível

obter um LCOE de 0,362 €/kWh, o que representa uma melhoria de quase 20% neste aspeto.

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57

Esta solução revela-se assim com a mais benéfica, apresentando um LCOE menor, e

alcançado a paridade dentro dos próximos 5 anos, em 2020, ou na pior situação ponderada perto

do ano 2024.

Devido à nova eficiência considerada para o consumidor, mesmo tendo em conta possíveis

aumentos dos preços dos combustíveis esta solução mantém-se como a mais proveitosa do ponto

de vista económico dentro dos próximos 25 anos, como é possível observar na Figura 46.

Figura 46 - Paridade com a rede entre os diversos sistemas considerados

0,000,050,100,150,200,250,300,350,400,450,500,550,600,650,70

20

15

20

16

20

17

20

18

20

19

20

20

20

21

20

22

20

23

20

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20

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20

26

20

27

20

28

20

29

20

30

20

31

20

32

20

33

20

34

20

35

20

36

20

37

20

38

20

39

20

40

€/k

Wh

ANO

Paridade com a rede elétrica

Gerador Optimizado Gerador Inicial Sistema Inicial

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58

3.3 Discussão

Como foi referido, esta análise teve como base um trabalho desenvolvido nos Estados

Unidos, pelo Rocky Mountain Institute e que serviu de base para o trabalho aqui apresentado. À

semelhança das conclusões obtidas por esse mesmo estudo, as mesmas também se encontram aqui

refletidas.

A conjugação de diversos fatores entre os quais a subida dos preços da eletricidade para o

consumidor doméstico, a diminuição dos custos dos sistemas fotovoltaicos e sistemas de

armazenamento ou os aumentos de eficiência energética nas habitações começa a mostrar que o

paradigma atual entre comercializador e consumidor está a mudar rapidamente.

Atendendo aos resultados alcançados neste estudo, a paridade com a rede poderá ser

alcançada dentro de 10 anos, num cenário otimista. Num cenário mais conservador poderá ser

alcançado dentro de 15 anos.

Se considerarmos a introdução de um gerador, poderão ser alcançados resultados ainda

mais positivos. No entanto, a introdução de um gerador só será rentável num longo prazo, com

eficiências altas o que só será possível em geradores de maior potência. E tal circunstância nem

sempre é possível, pois pressupõe-se que seria utilizado um gerador comum a várias habitações.

Desse modo, e mantendo o espirito inicial desta análise, com enfoque na utilização de um

sistema fotovoltaico com baterias, a verdade é que qualquer que seja o cenário considerado

relativamente ao sistema utilizado, a paridade com a rede será alcançada num período de tempo

bastante curto do ponto de vista das utilities.

Este facto leva a considerar vários pontos importantes. Para as utilities poderão estar em

causa milhares de clientes perdidos, e como tal, uma mudança brusca na fonte das receitas, visto

que esse é atualmente o seu papel no mercado, fornecer energia. Para os consumidores, representa

uma independência face às entidades tradicionais no sector da energia, e uma autonomia nova.

Esta nova situação causa um problema para as utilities, criando uma espiral da morte,

mostrando que o atual modelo de negócio destas irá deixar de ser rentável, obrigando-as a mudar

sob forma de desapareceram. A possível e expectável entrada dos sistemas fotovoltaicos

residenciais na casa dos consumidores domésticos levará a que estes deixem completamente a

rede ou caso ainda se mantenham ligadas a estas, deixarão de consumir a mesma quantidade de

energia. Não obstante, a forma de reagir das utilities não poderá ser nunca o aumento do preço da

eletricidade para compensar eventuais perdas nas receitas. Como ficou demonstrado, o aumento

do preço da eletricidade só fará acelerar esse desligamento da rede por parte dos consumidores.

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59

A questão que se colocará, num futuro próximo, é definir o passo que as utilities darão a

seguir. Apesar de já vermos movimentações no mercado no sector do fotovoltaico residencial por

parte das principais utilities, estas também têm o condão de obstruir o mercado, não deixando que

os pequenos agentes consigam competir no fornecimento de soluções que garantam a

independência energética aos consumidores.

Tal situação poderá ser do interesse dos fornecedores e comercializadores de eletricidade,

mas num quadro maior, isso comprometerá também um diversificação de fontes produtores de

energia que é necessária e benéfica.

Assim, será importante discutir e estabelecer uma solução benéfica comum, pois a verdade

é que “a integração de sistemas fotovoltaicos com baterias numa rede elétrica, gera valor

acrescentado para os consumidores e a própria rede”, através de “melhores e novas opções de

gestão da rede e distribuição do excesso de produção ou armazenamento”[14].

Page 74: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

60

4. Autoconsumo – Análise de um caso real

O autoconsumo de energia elétrica proveniente de fontes de energia renováveis, produzida

por consumidores domésticos, representa um novo paradigma no consumo de energia elétrica no

sector doméstico.

Este tipo de consumo, não satisfeito pelas entidades tradicionais do mercado, ou seja, as

utilities, habilita o consumidor doméstico a nova independência, anteriormente pouco comum. A

possibilidade de obter energia elétrica sem recorrer às redes de energia tradicionais protege o

consumidor das volatilidades dos mercados de energia[61] ao mesmo tempo que propicia um

aumento da competição na venda de energia ao consumidor final, impulsionando uma

transformação no sector já necessária.

A introdução deste tipo de consumo transforma torna igualmente os consumidores em

participantes ativos na gestão/distribuição de energia, “combinando dois fatores fundamentais: dá

ao consumidor uma escolha real e suporta uma transição para um mercado de energia

sustentável”[61]. Além disso, obriga o consumidor a potenciar ao máximo o aproveitamento da

energia produzida no local de consumo, incentivando o mercado a desenvolver soluções

complementares como armazenamento de energia ou eletrodomésticos “inteligentes”.

Reconhecendo, desse modo, a importância que o autoconsumo representa para um novo

caminho no sector energético, novas legislações começaram a ser criadas. No caso português, tal

sucedeu com a entrada em vigor do decreto-lei 153/2014 publicado a 20 de Outubro de 2014, que

“cria os regimes jurídicos aplicáveis à produção de eletricidade destinada ao autoconsumo e ao

da venda à rede elétrica de serviço público a partir de recursos renováveis, por intermédio de

Unidades de Pequena Produção.”[62].

O objetivo deste capítulo é proceder a uma análise da aplicação do regime de autoconsumo

doméstico, como se encontra definido pela legislação nacional atual, a uma caso real de uma

habitação. A intenção é:

Discutir as questões que se põem neste regime de autoconsumo doméstico;

Verificar até que ponto os pressupostos da legislação, concretizados nos exemplos

concretos associados à legislação, se observam.

Para tal, serão utilizadas medições de consumo e de produção fotovoltaica numa habitação

da área metropolitana de Lisboa.

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61

4.1 O Decreto-Lei que criou o regime de autoconsumo

O decreto-lei nº153/2014, de 20 de Outubro, “estabelece o regime jurídico aplicável à

produção de eletricidade, destinada ao autoconsumo na instalação de utilização associada à

respetiva unidade produtora”.[15]

Para a análise que se pretende fazer neste ponto, é importante levar em conta o decreto de

lei, que estabelece a remuneração da energia proveniente das unidades de produção para

autoconsumo.

Ora, de acordo com o artigo 24º:

𝑅𝑈𝑃𝐴𝐶,𝑚 = 𝐸𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑎,𝑚 × 𝑂𝑀𝐼𝐸𝑚 × 0,9 (6)

“Onde:

a) RUPAC, m representa a remuneração da eletricidade fornecida à rede elétrica, no mês m

em €;

b) Eforncecida, m representa a energia fornecida no mês m, em kWh;

c) OMIEm representa o valor resultante da média aritmética simples dos preços de fecho

do operador do mercado ibérico de energia para Portugal relativos ao mês m, em

€/kWh.”

Não obstante, importa referir que a forma como o decreto-lei foi apresentado e divulgado,

pois o modo como os exemplos ilustrativos são expostos ou os valores utilizados relativamente

ao consumo e produções fotovoltaicos são fundamentais para considerar se há uma medida de

valor acrescentado ou se é inexistente.

Os exemplos exibidos nos documentos oficiais apresentam para os consumidores

residenciais, duas situações:

1. Uma habitação com uma potência contratada de 10,35 kVA e uma UPAC de 2

kW teria uma TIR de 8,6%, e um payback a 10 anos, resultantes de poupanças

anuais de 480 €/ano e uma faturação resultante da injeção de energia na rede de

34 €/ano.

2. Uma habitação com uma potência contratada de 10,35 kVA e uma UPAC de 1

kW, teria uma TIR de 12,3%, e um payback a 8 anos, resultantes de poupanças

anuais de 341 €/ano, não existindo injeção de energia na rede.

Estes exemplos pressupõem um consumo e produções tipificadas como aquelas

representadas na Figura 47, sendo que estes nem sempre se verificam pelo que é difícil assumir

compromissos em termos de vantagens financeiras.

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62

Figura 47-Diagrama de produção e consumo utilizado no documento de promoção ao Decreto-

Lei 153/2014[63]

Para obterem as conclusões apresentadas nos exemplos acima referidos, foram tidos em

conta alguns pressupostos para os dois exemplos, apresentados no seguinte quadro:

Tabela 15 - Pressupostos considerados para o exemplo 1, na apresentação da legislação para o autoconsumo[63]

Exemplo 1

UPAC Instalação de consumo

Potência 2 kW Potencia Instalada 10,35 kVA

Investimento c/IVA 5 144 € Consumo anual 5 619 kWh

Produção anual 3 044 kWh Cheio (0,1821 €/kWh + IVA) 3 595 kWh

Autoconsumo 2 143 kWh Vazio (0,0955 €/kWh + IVA) 2 024 kWh

Poupança 480 € Gasto anual 1 043 €

Injeção na rede 902 kWh

Faturação 34 € Consumo RESP 3 476 kWh

Custo 563 €

Tarifa média UPAC 0,169 €/kWh

TIR 8,60 %

Payback Ano 10

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63

Tabela 16 - Pressupostos considerados para o exemplo 2, na apresentação da legislação para o autoconsumo[63]

Exemplo 2

UPAC Instalação de consumo

Potência 1 kW Potencia Instalada 10,35 kVA

Investimento c/IVA 2 575 € Consumo anual 5 619 kWh

Produção anual 1 522 kWh Cheio (0,1821 €/kWh + IVA) 3 595 kWh

Autoconsumo 1 522 kWh Vazio (0,0955 €/kWh + IVA) 2 024 kWh

Poupança 341 € Gasto anual 1 043 €

Injeção na rede 0 kWh

Faturação 0 € Consumo RESP 4 097 kWh

Custo 702 €

Tarifa média UPAC 0,224 €/kWh

TIR 12,3 %

Payback Ano 8

4.2 Metodologia

Para proceder à análise acima referida foi necessário caracterizar dois pontos: o consumo

elétrico da habitação, e a variabilidade solar na respetiva localização, de modo a ser aferida uma

possível produção elétrica proveniente de um sistema solar fotovoltaico instalado na habitação.

4.2.1 Medição do consumo elétrico doméstico

O primeiro fator a caracterizar foi o consumo doméstico da habitação. A habitação

escolhida pertence ao autor do estudo aqui apresentado. A habitação referida possui 5 habitantes,

com uma potência contratada de 6,9 kVA monofásica. Encontra-se localizada na freguesia de

Corroios, concelho de Seixal, no distrito de Setúbal.

Para caracterizar o consumo doméstico da habitação em causa, foi medida a corrente

elétrica (como medida aproximada da potência instantânea, uma vez que as flutuações da tensão

da rede são pequenas) no quadro elétrico durante 13 dias consecutivos, entre 31 de Dezembro de

2014 e 11 de Janeiro de 2015, com um intervalo de 5 segundos entre cada medição.

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64

Por forma a proceder a estas medições, foi construído um medidor com recurso a um

Arduíno e uma pinça amperimétrica. A construção do medidor teve por base um projeto em

código aberto [64] já desenvolvido com recurso à plataforma Arduíno, representado na Figura 51.

A utilização deste modelo já desenvolvido foi alvo de poucas alterações. Foi alterado o

modelo do sensor de corrente, visto que no modelo já existente estava previsto a utilização de um

sensor de corrente com capacidade para medir até 100 A[65], tendo-se no entanto optado pela

utilização de um sensor de menor capacidade até 30 A[66][67]. Foi feita apenas mais uma única

alteração, sendo esta a retirada de uma resistência incluída no modelo inicial, visto que esta não

seria necessária devido à presença de uma resistência interna no sensor de corrente utilizado.

Finalizada a construção do medidor, foi necessário introduzir o código no Arduíno de modo

a que a leitura pudesse ser transferida e guardada no computador. O código utilizado já se

encontrava desenvolvido, pelo que apenas foi necessário proceder à sua adaptação alterando

apenas a constante de calibração.

Figura 48 - Vista do sensor no quadro elétrico da habitação

4.2.1.1 Constante de Calibração

A constante de calibração apresentada no código representa um “fator de correção” criada

para o software ser capaz de apresentar a leitura efetuada pelo sensor de corrente, num valor

significativo para o utilizador.

A constante apresentada, no código base, com o valor 111,1 está relacionado com o modelo

utilizado, incluindo os elementos considerados na construção do sensor, nomeadamente o sensor

de corrente e a resistência de carga. Ora, não estando estes elementos presentes no medidor

construído, optou-se apenas por fazer referência ao método teórico que se encontra por trás do

código desenvolvido para o cálculo da constante de calibração.

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65

Visto que, no medidor construído, foi utilizado um sensor que já possui uma resistência

interna, com as características indicadas na Figura 53, o processo de cálculo da constante de

calibração tornou-se bastante mais simples, sendo apresentado pelas equações[68] abaixo

indicadas:

𝑖(𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜) = √2 × 𝑖(𝑟𝑚𝑠_𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒)

(7)

𝑖(𝑠𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟) =

𝑖(𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜)

𝑛𝑢𝑚𝑒𝑟𝑜_𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎𝑠

(8)

𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑐𝑎𝑙𝑖𝑏𝑟𝑎çã𝑜 =

𝑖(𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜)𝑖(𝑠𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟)

𝑅_𝑏𝑢𝑟𝑑𝑒𝑛

(9)

No caso do sensor utilizado e atendendo às suas características foram efetuados os

seguintes cálculos:

𝑖(𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜) = √2 × 30 ≅ 42,426

𝑖(𝑠𝑒𝑛𝑠𝑜𝑟) =42,426

1800≅ 0,02357

𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑐𝑎𝑙𝑖𝑏𝑟𝑎çã𝑜 =

42,4260,02357

62≈ 29

Obtido o valor da constante de calibração foi necessário aferir se este valor seria o real,

visto que, por exemplo, as resistências do sistema podem não apresentar os valores indicados.

Para tal e utilizando um gerador de corrente e uma pinça amperimétrica corretamente calibrada,

foram comparados os valores obtidos pela pinça e pelo medidor em Arduíno, de forma a

determinar a constante de calibração correta a inserir no código para Arduíno.

Foram retiradas cinco séries de dados, sendo os resultados obtidos apresentados na Figura

50. A constante de calibração foi corrigida após cada série de dados, de forma a determinar uma

constante suficientemente correta. Face aos dados obtidos, a constante de calibração foi alterada

para o valor final de 31,871.

Finalizado o processo acima referido, o medidor em Arduíno foi colocado no quadro

elétrico da habitação, por forma a registar os valores pretendidos.

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66

Figura 49 - Montagem para determinação da constante de calibração

Figura 50 - Dados obtidos para calibração do medidor em Arduíno

y = 1,1041x - 0,0422

y = 1,0965x + 0,0352

y = 1,0998x - 0,0196

y = 1,0011x - 0,0389

y = 1,0001x + 0,0016

0

5

10

15

20

25

30

35

0 5 10 15 20 25 30 35

Co

rren

te m

edid

a p

ela

pin

ça

amp

erim

étri

ca [

A]

Corrente medida pelo Arduino [A]

Calibração do medidor em Arduino

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67

Figura 51 - Representação esquemática do modelo base para a construção do sensor[64]

Figura 52- Código base utilizado em Arduíno[64]

Page 82: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

68

Figura 53 - Características técnicas do sensor de corrente utilizado[66]

4.2.2 Medição da variabilidade solar

Para concretizar este passo, foi necessário proceder à construção de um medidor de

variabilidade solar, por forma a ser possível estimar uma produção fotovoltaica real, no local da

habitação, com um igual intervalo de 5 segundos entre cada medição e de forma sincronizada com

o medidor de consumo elétrico instalado no quadro elétrico da habitação.

A localização geográfica da habitação é dada pelas coordenadas 38º63’N, 9º168’ W, sendo

que nesta localização a radiação solar tem um valor médio de 3470 Wh/m2/dia[69], no plano

horizontal.

Para compreender o processo, é primeiramente necessário compreender alguns conceitos

associados às células solar fotovoltaicas.

4.2.2.1 Características das células fotovoltaicas

As células fotovoltaicas são dispositivos eletrónicos que permitem converter radiação solar

diretamente em eletricidade. São compostas por um ou mais materiais semicondutores, sendo que

o material mais comum é o silício e possuem na base da sua construção uma junção p-n. Neste

tipo de junção, temos semicondutores do tipo n, que possuem um excesso de cargas positivas

fixas e semicondutores do tipo p, que possuem um excesso de carga negativas fixas. [70]

A absorção dos fotões pelo semicondutor permite fornecer a energia suficiente para os

eletrões passarem para um nível superior de energia, denominado por banda de condução, e a

junção p-n dos semicondutores permite que estes sejam captados e transmitidos para o circuito

externo, criando assim uma corrente elétrica[71]. O objetivo será que o eletrão dissipe a sua

energia no circuito externo, e que possa voltar então à célula fotovoltaica.

Uma célula fotovoltaica produz assim uma corrente e tensão elétrica, pelo que uma das

formas mais utilizadas para caracterizar uma célula fotovoltaica é recorrendo a uma curva IV.

Esta não é mais do que a “sobreposição da curva IV de um díodo de junção p-n no escuro com a

corrente produzida pela radiação incidente”[72]. A curva IV fornece informações importantes

quanto ao funcionamento da célula, nomeadamente a corrente de curto-circuito (ISC), sendo esta

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69

a corrente máxima da célula que ocorre quando a diferença de potencial aos terminais da célula é

nula, e a tensão em circuito-aberto (VOC) que será a tensão máxima fornecida pela célula quando

a corrente ao longo do circuito é inexistente.

Figura 54 - Curva IV típica[72]

O conceito de corrente de curto-circuito e a sua dependência de vários fatores representam

para o método experimental aqui explicitado uma importância acrescida. Os fatores que mais

influenciam a corrente de curto-circuito são:

a) “O numero de fotões, ou seja, a potência da radiação incidente, sendo que a corrente de

curto-circuito de uma célula fotovoltaica diretamente dependente da intensidade da luz

solar.”

b) “O espectro da radiação incidente”

c) “As propriedades óticas da célula fotovoltaica”

d) “A área da célula fotovoltaica, sendo que é mais comum, d forma a remover a

dependência da aérea, designar a corrente de curto-circuito por densidade de corrente de

corto circuito (JSC em mA/cm2) ”[73]

Devido às características que as células fotovoltaicas apresentam, ao nível da corrente de

curto-circuito, tornam-se os dispositivos ideais para a construção de um piranómetro simples,

visto que a corrente de curto-circuito depende linearmente da intensidade da radiação. Isto

significa que a mesma célula apresenta variações no valor da corrente de curto-circuito,

proporcionais à variação da radiação solar, sendo assim possível obter uma estimativa da

variabilidade solar num determinado local.

Page 84: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

70

4.2.2.2 Construção do medidor

A construção deste medidor teve como base a utilização de um Arduíno para registar os

valores de tensão aos terminais de uma resistência percorrida pela corrente proveniente das duas

células fotovoltaicas utilizadas. Para tal, foi utilizado um Arduíno com um Data Logger[74], de

forma a ser possível armazenar os dados num cartão de memória, as duas células fotovoltaicas já

referidas, de modo aumentar a tensão de circuito-aberto (VOC) e uma resistência.

Sabendo, pelas características das células fotovoltaicas, que a corrente de curto-circuito é

proporcional à radiação incidente nas mesmas, o objetivo seria medir a tensão entre os terminais

da resistência através do Arduíno e registar os valores obtidos, acompanhado de um registo

temporal.

Contudo, visto que apenas na região de curto-circuito da célula fotovoltaica a corrente é

proporcional à radiação, seria necessário assegurar que a célula se encontrava nessa zona de

funcionamento, daí a colocação de uma resistência de baixo valor.

A caracterização das células já havia sido feita[75], para condições simuladas de 1000

W/m2, sendo os valores indicadas pelo fabricante para a corrente de curto-circuito de 0,3 A e de

1,5 V para a tensão em circuito aberto, para estas condições.

A caracterização experimental das células utilizadas encontra-se indicada na seguinte

figura, sendo igualmente representada a curva da resistência utilizada, com um valor de 4,1 Ω.

Das 3 curvas IV apresentadas, deduz-se que se deve usar a ligação em série das células, de forma

a operarmos no regime em que a corrente das células é aproximadamente igual à de curto-circuito.

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71

Figura 55 - Curva IV das células fotovoltaicas utilizadas no medidor

Figura 56 - Curva da potência em função da tensão das células fotovoltaicas

Desse modo, foi possível seguir o seguinte raciocínio: visto que a célula se encontra a

operar na região de curto-circuito, devido à colocação da resistência indicada, a tensão medida

pelo Arduíno nos terminais desta, será igualmente proporcional à radiação incidente na célula,

assim como a potência extraída da mesma.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Co

ren

te [

A]

Tensão [V]

Curva I-V1 Módulo 2 Módulos Paralelo 2 Módulos Série Resistência

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

Po

tên

cia

[W]

Tensão [V]

Potência (V)

1 Módulo

2 MódulosParalelo

2 MódulosSérie

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72

𝑉 ∝ 𝐼𝑆𝐶 ∝ 𝑃 =

𝐼

𝐼0× 𝑃𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

(10)

Seguindo o raciocino apresentado pela equação 10, será possível obter uma estimativa de

uma qualquer produção fotovoltaica, qualquer que seja a potência do sistema fotovoltaico

considerado. Sabendo ainda que a corrente de curto-circuito medida em laboratório, para uma

ligação de duas células fotovoltaicas em série, foi de 0,27 A, tendo sido utilizada uma resistência

de 4,1 Ω temos que:

𝑉𝑅 = 𝑅 × 𝐼 (11)

𝑉0 = 4,1 × 0,27 = 1,107 𝑉 (12)

Ou seja, teremos uma medição de 1,107 V nos terminais da resistência para uma radiação

incidente de 1000 W/m2.

Mantendo, as proporcionalidades entre as várias características representadas pela equação

10, é ainda possível apresentar a seguinte fórmula de cálculo para uma possível produção

fotovoltaica por um sistema com uma dada potência nominal:

𝑃𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 =

𝑉𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜

𝑉0× 𝑃𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

(13)

4.3 Análise de Resultados

Após a criação dos respetivos medidores, foram obtidos os dados relativos à variabilidade

solar e ao consumo elétrico na habitação, por forma a aferir qual o impacto que um possível

autoconsumo proveniente de um sistema solar fotovoltaico instalado na respetiva habitação

tivesse na fatura de eletricidade, num dado período de tempo.

4.3.1 Consumo elétrico doméstico

O consumo elétrico na habitação foi medido durante 13 dias consecutivos, entre 30 de

Dezembro de 2014 e 11 de Janeiro de 2015, com intervalo de tempo de cinco segundos entre cada

medição. É importante realçar, que os dados apresentam uma falha de registo, no dia 4 de Janeiro,

Domingo, a partir das 18:42:05, devido a uma falha no medidor, apenas corrigida no dia seguinte.

Isto significa, que os dados referentes ao consumo elétrico nesse dia não se encontram completos,

pelo que se considerou essa situação como uma situação de consumo inexistente.

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73

Devido à extensão dos dados, optou-se por apresentar apenas uma porção dos mesmos, de

modo a ser mais fácil observar a variação do consumo na habitação e como este assume perfis

com picos bastantes irregulares e imprevisíveis.

Nos seguintes gráficos, apresenta-se o registo do consumo doméstico em diferentes dias e

momentos.

Figura 57- Consumo elétrico, dia 1 de Janeiro de 2015, entre as 12:45 e 13:00

Figura 58 - Consumo elétrico ao longo do dia 3 de Janeiro de 2015

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

12:45 12:46 12:47 12:48 12:49 12:50 12:51 12:52 12:53 12:54 12:55 12:56 12:57 12:58 12:59 13:00

Po

tên

cia

[W]

Horas

Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

0:0

00

:41

1:2

22

:03

2:4

43

:25

4:0

74

:48

5:2

96

:10

6:5

17

:32

8:1

48

:55

9:3

61

0:1

71

0:5

81

1:3

91

2:2

11

3:0

21

3:4

31

4:2

41

5:0

51

5:4

61

6:2

81

7:0

91

7:5

01

8:3

11

9:1

21

9:5

32

0:3

52

1:1

62

1:5

72

2:3

82

3:1

9

Po

tên

cia

[W]

Horas

Sábado, 3 de Janeiro de 2015

Page 88: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

74

Figura 59 - Consumo elétrico, no dia 5 de Janeiro de 2015 entre as 15:30 e as 18:30

Como é possível observar nas Figuras 57 a 58 acima apresentadas, o consumo doméstico

na habitação em causa é um pouco irregular, no sentido em que não apresenta as linhas estáveis

de consumo habituais. Na verdade, a medição in loco, permite perceber o impacto que a utilização

típica dos eletrodomésticos tem na medição do consumo doméstico.

Sendo notória a existência de uma linha de base de consumo ao longo do dia, também é

visível a existência de picos de consumos, associados principalmente à utilização dos

eletrodomésticos, como microondas, fornos ou ar condicionado. Estes eletrodomésticos, com uma

utilização temporal mais curta, como os microondas, ou o ar condicionado que vai adaptando o

seu consumo e potência às condições ambientes da habitação, provocam as tais “distorções” no

gráfico e apresentam potências instantâneas elevadas num curto período de tempo. O que também

é notório nos gráficos apresentados é que os perfis de consumo considerados típicos, com maiores

consumos perto do meio-dia e no final de tarde, e maiores consumos nos fins de semana nem

sempre se verificam, o que implica que a aferição da utilidade económica e energética de uma

instalação fotovoltaica para autoconsumo deve ser feita tendo em conta uma análise prévia do

consumo da habitação.

Como se pode observar, nas Figura 58 e Figura 59, entre as 15:30 e as 18:30 de segunda-

feira chegam a ser atingidas potências superiores às registadas sábado, dia 3 de Janeiro. Além

disso, observando o gráfico referente às potências medidas no dia 3 de Janeiro, sábado, é notório

que não existe uma curva de consumo semelhante àquela que é definida pelo diagrama de carga

típico para um dia de fim de semana, semelhante aos perfis de consumo considerados no Capítulo

3.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

15

:30

15

:36

15

:43

15

:50

15

:56

16

:03

16

:10

16

:16

16

:23

16

:30

16

:36

16

:43

16

:50

16

:56

17

:03

17

:10

17

:16

17

:23

17

:30

17

:36

17

:43

17

:50

17

:56

18

:03

18

:10

18

:16

18

:23

18

:30

Po

tên

cia

[W]

Horas

Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2015

Page 89: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

75

4.3.2 Variabilidade solar

Como já foi referido, a medição da variabilidade solar no local permite calcular uma

potencial produção fotovoltaica a partir de uma instalação na habitação.

Os gráficos aqui apresentados referem-se às medições efetuadas e aos respetivos dados

registados pelo Arduíno. Por uma questão de maior compreensão, decidiu-se apresentar os dados

obtidos nos mesmos períodos dos apresentados quanto ao consumo doméstico.

Figura 60 - Variabilidade solar, dia 1 de Janeiro entre as 12:45 e as 13:00

Figura 61 - Variabilidade solar, dia 3 de Janeiro

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

0,11

0,12

12:45 12:46 12:47 12:48 12:49 12:50 12:51 12:52 12:53 12:54 12:55 12:56 12:57 12:58 12:59 13:00

Ten

são

[V

]

Horas

Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0:0

00

:41

1:2

22

:03

2:4

43

:25

4:0

74

:48

5:2

96

:10

6:5

17

:32

8:1

48

:55

9:3

61

0:1

71

0:5

81

1:3

91

2:2

11

3:0

21

3:4

31

4:2

41

5:0

51

5:4

61

6:2

81

7:0

91

7:5

01

8:3

11

9:1

21

9:5

32

0:3

52

1:1

62

1:5

72

2:3

82

3:1

9

Ten

são

[V

]

Horas

Sábado, 3 de Janeiro

Page 90: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

76

Figura 62 - Variabilidade solar, dia 5 de Janeiro entre as 15:30 e as 18:30

O registo deste tipo de dados permite perceber a variabilidade que a radiação solar pode

apresentar, e que as curvas de radiação solar nem sempre se verificam. Através da Figura 61 é

visível que nesse dia a radiação solar apresentou uma maior intensidade entre as 10h e as 11h da

manhã, tendo a partir dessa hora apresentado uma diminuição forte na sua intensidade. Na Figura

60, é notório que no período de 15 minutos apresentado a radiação solar exibiu uma intensidade

bastante estável, com poucas variações.

4.3.3 Custos e proveitos

Obtidos os dados essenciais para uma análise económica e enérgica a uma situação de

autoconsumo numa habitação, foi determinada a produção energética proveniente de um sistema

solar fotovoltaico.

De acordo com o nº 1, do artigo 5º do decreto-lei 153/2014, que regula o autoconsumo em

Portugal, a unidade de pequena produção instalada na habitação não deverá exceder a potência

contratada para a residência em causa, e de acordo com a alínea e) do artigo 8º,a UPAC deve ser

dimensionada “de forma a garantir a aproximação, sempre que possível, da energia elétrica

produzida com a quantidade de energia elétrica consumida na instalação elétrica de utilização;”.

Desse modo, para esta análise foi considerado um sistema com uma potência nominal de 6 kWp,,

com a qual estavam assegurados os pressupostos enunciados pelo decreto-lei.

Foram considerados todos os consumos e produções energéticas no referido período

temporal e analisadas as quantidade que poderiam ser autoconsumidas imediatamente, e o excesso

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

15

:30

15

:36

15

:43

15

:50

15

:56

16

:03

16

:10

16

:16

16

:23

16

:30

16

:36

16

:43

16

:50

16

:56

17

:03

17

:10

17

:16

17

:23

17

:30

17

:36

17

:43

17

:50

17

:56

18

:03

18

:10

18

:16

18

:23

18

:30

Ten

são

[V]

Horas

Segunda-feira, 5 de Janeiro

Page 91: Autoconsumo e abandono da rede em Portugal · year by year, in both industrial and domestic systems, new regulatory frameworks have been adopted in many different countries. This

77

que poderia ser injetado na rede. Foram igualmente analisadas as poupanças monetárias

provenientes desse mesmo consumo, ou seja, eletricidade que deixaria de ser proveniente do

fornecedor contratado para o efeito, e também os proveitos retirados da injeção de energia elétrica

na rede de eletricidade pública, conforme estipulado pelo decreto-lei.

Figura 63 - Consumos e produções elétricas na habitação

Tabela 17 - Consumos e Proveitos energéticos

Dias Consumo

Eletricidade [kWh]

Produção PV

[kWh]

Consumo

Eletricidade c/PV

[kWh]

Exportação Rede

[kWh]

30-12-2014 Terça-feira 56,122 8,593 50,098 2,569

31-12-2014 Quarta-feira 60,998 8,600 56,423 4,025

01-01-2015 Quinta-feira 59,099 8,593 54,529 4,024

02-01-2015 Sexta-feira 36,766 6,905 31,669 1,808

03-01-2015 Sábado 53,039 7,365 47,656 1,982

04-01-2015 Domingo 19,971 7,200 16,589 3,818

05-01-2015 Segunda-feira 41,187 8,462 36,129 3,404

06-01-2015 Terça-feira 59,312 7,069 52,509 0,266

07-01-2015 Quarta-feira 50,600 5,182 45,598 0,180

08-01-2015 Quinta-feira 51,451 6,379 45,698 0,626

09-01-2015 Sexta-feira 57,786 11,926 46,860 1,001

10-01-2015 Sábado 45,451 12,413 37,879 4,841

11-01-2015 Domingo 62,895 11,910 53,041 2,055

TOTAL 654,679 110,598 547,679 30,598

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

kWh

Consumo e produções elétricas

Consumo Eletricidade Consumo eletricidade c/PV Produção PV Exportação para a rede

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78

Figura 64 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autoconsumo,

no dia de 1 Janeiro de 2015

Figura 65 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autoconsumo, no dia de 3 Janeiro de 2015

0

1000

2000

3000

4000

50001

2:4

5

12

:45

12

:46

12

:46

12

:47

12

:47

12

:48

12

:48

12

:49

12

:49

12

:50

12

:50

12

:51

12

:51

12

:52

12

:52

12

:53

12

:53

12

:54

12

:54

12

:55

12

:55

12

:56

12

:56

12

:57

12

:57

12

:58

12

:58

12

:59

12

:59

13

:00

Po

tên

cia

[W

]

Horas

Consumos domésticos, quinta-feira, dia 1 de Janeiro de 2015

Consumo Doméstico Consumo Doméstico c/ PV

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

0:0

0

0:4

1

1:2

2

2:0

3

2:4

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4:0

7

4:4

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:29

6:1

0

6:5

1

7:3

28

:14

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5

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0:1

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0:5

8

11

:39

12

:21

13

:02

13

:43

14

:24

15

:05

15

:46

16

:28

17

:09

17

:50

18

:31

19

:12

19

:53

20

:35

21

:16

21

:57

22

:38

23

:19

Po

tên

cia

[W

]

Horas

Consumos domésticos, sábado, dia 3 de Janeiro

Consumo Doméstico Consumo doméstico c/ PV

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79

Figura 66 - Comparação entre consumo doméstico e consumo doméstico com autconsumo, no

dia 5 de Janeiro de 2015

Por forma a determinar a produção fotovoltaica, como já foi referido, considerou-se um

sistema fotovoltaico de 6 kWp e face à variabilidade solar medida, determinou-se a produção

fotovoltaica correspondente. Analisando os dados obtidos verifica-se que nessa semana, seria

obtida uma produção fotovoltaica próxima de 110,6 kWh, sendo que a produção máxima num dia

teria o valor de 12,4 kWh e a produção mínima o valor de 5,2 kWh. É assim notório que, numa

mesma semana, a variabilidade solar é elevada sendo possível obter variações superiores a 100%

entre diferentes dias na produção elétrica, relativamente aos dias de menor e maior produção

elétrica. Contudo, também se verifica que a produção fotovoltaica é mais constante em períodos

de cerca de 2 a 3 dias, com pequenas variações, visto que nos primeiros três dias de registos a

produção elétrica seria semelhante, assim como nos três últimos dias.

Ao nível do consumo elétrico na habitação, foi contabilizado um consumo total, nos 13

dias, de quase 655 kWh, incluindo ainda assim, o consumo de dia 4 de Janeiro, dia onde ocorreu

uma falha no medidor, evidente pela disparidade de consumo nesse dia comparando com os

restantes dias.

Através da análise das Figuras 63 a 66, escolhidas para apresentar as variações no consumo

doméstico com a introdução do autoconsumo nos dias exemplo, verifica-se o impacto que este

tem na diminuição do consumo. No período horário selecionado do dia de 1 Janeiro, é possível

verificar que todo o consumo elétrico doméstico naquele período horário seria menor, com a

colocação de um sistema fotovoltaico.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

15

:30

15

:35

15

:40

15

:45

15

:50

15

:55

16

:01

16

:06

16

:11

16

:16

16

:21

16

:26

16

:32

16

:37

16

:42

16

:47

16

:52

16

:57

17

:03

17

:08

17

:13

17

:18

17

:23

17

:28

17

:34

17

:39

17

:44

17

:49

17

:54

17

:59

18

:05

18

:10

18

:15

18

:20

18

:25

pP

tên

cia

[W]

Horas

Consumo doméstico, segunda-feira, 5 de Janeiro

Consumo Doméstico Consumo Doméstico c/ PV

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80

Na Figura 65 é claramente visível um período entre as 9:00 da manhã e as 10:30, em que

praticamente todo o consumo doméstico seria suprimido pela produção fotovoltaica, não

existindo a necessidade de comprar energia elétrica à rede elétrica. É visível pela figura que o

consumo doméstico com autoconsumo fotovoltaico é praticamente nulo nesse período o que

significa que a produção fotovoltaica seria superior ao consumo elétrico na habitação.

Na Figura 66, a diminuição do consumo não é tão evidente nesse período, e como se

percebe em relação à Figura 62, onde a radiação solar seria mais intensa perto das 15:30, sendo

que a partir das 17:00, seria praticamente nula, também é notório que é nesse período onde existe

uma diminuição na importação de eletricidade da rede.

Tabela 18 - Custos e proveitos monetários

Dias Consumo

Eletricidade

Consumo

Eletricidade c/ PV Poupança

Remuneração

Rede

Total

Poupança

30-12-2014 Terça-feira 8,91 € 7,95 € 0,96 € 0,10 € 1,05 €

31-12-2014 Quarta-feira 9,68 € 8,95 € 0,73 € 0,15 € 0,88 €

01-01-2015 Quinta-feira 9,38 € 8,65 € 0,73 € 0,15 € 0,88 €

02-01-2015 Sexta-feira 5,83 € 5,03 € 0,81 € 0,07 € 0,88 €

03-01-2015 Sábado 8,42 € 7,56 € 0,85 € 0,08 € 0,93 €

04-01-2015 Domingo 3,17 € 2,63 € 0,54 € 0,15 € 0,68 €

05-01-2015 Segunda-feira 6,54 € 5,73 € 0,80 € 0,13 € 0,93 €

06-01-2015 Terça-feira 9,41 € 8,33 € 1,08 € 0,01 € 1,09 €

07-01-2015 Quarta-feira 8,03 € 7,24 € 0,79 € 0,01 € 0,80 €

08-01-2015 Quinta-feira 8,17 € 7,25 € 0,91 € 0,02 € 0,94 €

09-01-2015 Sexta-feira 9,17 € 7,44 € 1,73 € 0,04 € 1,77 €

10-01-2015 Sábado 7,21 € 6,01 € 1,20 € 0,19 € 1,39 €

11-01-2015 Domingo 9,98 € 8,42 € 1,56 € 0,08 € 1,64 €

TOTAL 103,90 € 91,2 € 12,7 € 1,17 € 13,87 €

Os quadros e figuras apresentados acima pretendem mostrar um resumo dos consumos e

produção elétrica fotovoltaica e os custos e proveitos retirados.

Respeitante ao aproveitamento da energia produzida para autoconsumo, ponto central de

análise, verifica-se que este irá depender totalmente da correlação entre os períodos de maior

produção elétrica e períodos de consumo. Ou seja, o aproveitamento será tanto ou mais

proveitoso, quanto as alturas de maior consumo energético sejam coincidentes com as alturas de

maior produção fotovoltaica. Se é verdade que, na semana analisada, na contabilização total ao

final do dia existem períodos em que o aproveitamento da energia é de quase 100%, ou seja,

praticamente toda a energia produzida pelo sistema fotovoltaico seria consumida no próprio

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instante pelas instalações da habitação, existem alguns dias, onde o aproveitamento se situa à

volta dos 50% e 60%, como se verifica na Figura 67.

Figura 67 - Aproveitamento da produção elétrica

Quanto aos custos e proveitos monetários foram calculados o custo da energia consumida

proveniente da rede pública de eletricidade e a remuneração proveniente da venda de eletricidade

para a rede.

Para determinar o custo da energia consumida, considerou-se um preço de 0,1587 €/kWh

[33] valor para a energia consumida, valor definido para as tarifas reguladas e o praticado pelo

fornecedor de energia elétrica para a habitação em estudo. Para apurar os proveitos resultantes da

venda de energia à rede, considerou-se um valor de 0,04257 €/kWh [76].

Considerando os valores acima apresentados, face aos dados medidos determinou-se que a

energia consumida apresentaria um custo de 103,9 €, nos 13 dias apreciados. No que diz respeito,

às poupanças potenciais que o sistema permitira alcançar, atendendo à quantidade de energia

consumida em regime de autoconsumo, a fatura desses dias diminuiria para os 91,2 € o que

representa uma poupança de 12,22%. Ainda assim, face ao excesso de energia produzida

ocasionalmente e fornecida à rede, essa poupança aumentaria ligeiramente visto que a energia

exportada para a rede pública de eletricidade seria remunerada num total de 1,17 € justificada

pelos quase 30,6 kWh produzidos em excesso. A poupança total representaria assim uma

diminuição de 13,35% nos custos associados unicamente ao consumo de energia.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Dias

Aproveitamento da produção elétrica

% Injectada na rede % Auto-Consumo

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É importante também analisar o raciocínio que está presente nas estimativas apresentadas

pelo Governo de Portugal e elencadas na Tabela 15 e Tabela 16 e a credibilidade dos exemplos.

Para tal, optou-se por conjeturar algumas estimativas para ser possível calcular a relevância

económica do ponto de vista do consumidor, tal como apresentado no documento de divulgação

do decreto-lei.[63]

É necessário realçar, neste ponto, que as estimativas aqui presentes se baseiam nas

medições obtidas e que dizem respeito a um período temporal de 13 dias, um período curto para

o tipo de cálculo que se pretenderia fazer pelo que, as estimativas apresentadas devem levar em

conta esse facto. Não obstante, e apesar de não serem tomadas como definitivas, estas estimativas

funcionam como um ponto de partida para uma análise mais detalhada aos exemplos divulgados

pelo Governo, no que toca ao decreto-lei que regula o autoconsumo.

Assim sendo, optou-se por considerar os dados medidos relativamente ao consumo

doméstico, tendo-se determinado o consumo médio diário dentro desses 13 dias. Sendo a média

uma medida estatística que tende a “indicar o valor central da distribuição, entendido como o

valor em torno do qual se distribuem os valores”[77] é percetível que os valores apresentados

tendam a inflacionar ligeiramente os valores do autoconsumo obtido, visto que os picos de

consumo tenham tendência a ser suavizados. Obtido o consumo médio diário a partir das

medições efetuadas, considerou-se esse consumo, como o consumo típico durante os meses de

Inverno na habitação.

Pretendendo-se determinar, o consumo típico durante a Primavera, Verão e Outono,

recorreu-se aos perfis de consumo[29] que a ERSE publica, assim como ao consumo total anual

conhecido na habitação, de forma a ajustar o mais possível à realidade.

Estabeleceu-se então a diferença entre os consumos domésticos nos meses de Inverno e as

restantes estações, considerando-se que o consumo doméstico na habitação em estudo, durante os

meses da Primavera e Outono, seria metade do considerado relativamente ao dia típico de Inverno,

enquanto o consumo diário durante o período de Verão seria 3,5 vezes menor.

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Figura 68 - Consumo doméstico diário estimado para cada estação do ano

O mesmo tipo de raciocínio foi seguido para estimar a produção fotovoltaica.

Considerando, a produção fotovoltaica que foi calculada para cada um dos 13 dias de estudo,

determinou-se a produção fotovoltaica média diária nesses dias, considerando-se essa produção,

a produção típica diária de um dia de Inverno. Atendendo aos dados disponibilizados pelos

PVSyst®, que apresenta os meses de Verão com uma radiação média diária, cerca de quatro vezes

superior aos meses de Inverno, os meses de Primavera uma radiação média diária 3,5 vezes maior

e os meses de Outono com uma radiação média diária duas vezes maior, estabeleceram-se as

seguintes curvas de produção fotovoltaica apresentadas na seguinte figura.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

50000

:00

0:4

11

:22

2:0

32

:44

3:2

54

:07

4:4

85

:29

6:1

06

:51

7:3

2

8:1

48

:55

9:3

61

0:1

71

0:5

81

1:3

91

2:2

11

3:0

2

13

:43

14

:24

15

:05

15

:46

16

:28

17

:09

17

:50

18

:31

19

:12

19

:53

20

:35

21

:16

21

:57

22

:38

23

:19

Po

tên

cia

[W]

Horas

Consumo doméstico diário

Inverno Primavera/Outono Verão

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Figura 69 - Produção fotovoltaica diária estimada para cada estação do ano

É imprescindível realçar que, apesar de, tal como nas outras estações, o mês de Verão

apresentar uma maior número de horal de sol diária, comparativamente aos meses de Inverno,

esta situação não se mostrar visível na figura acima. Tal situação, deve-se ao facto de se ter

considerado que, face à possível localização de um sistema fotovoltaico, instalado no mesmo local

que o medidor da variabilidade solar, o maior numero de horas de sol no período da manhã e ao

fim do dia não surtiria efeito na produção fotovoltaica, devido aos efeitos de sombreamento e

orientação do sistema, a que o sistema estaria sujeito, perdendo-se esse acrescento.

Após realizadas todas as estimativas acima apresentadas procedeu-se à análise do consumo

da energia elétrica em autoconsumo e possível injeção na rede. Os resultados obtidos encontram-

se apresentados na tabela seguinte, onde cada estação do ano corresponde a um período de 91

dias.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

0:0

00

:42

1:2

42

:07

2:4

93

:32

4:1

44

:56

5:3

96

:21

7:0

47

:46

8:2

99

:11

9:5

31

0:3

61

1:1

81

2:0

11

2:4

31

3:2

51

4:0

81

4:5

01

5:3

31

6:1

51

6:5

81

7:4

01

8:2

21

9:0

51

9:4

72

0:3

02

1:1

22

1:5

42

2:3

72

3:1

9

Po

tên

cia

[W]

Horas

Produção fotovoltaica diária

Verão Primavera Outono Inverno

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85

Tabela 19 - Custos e proveitos energéticos e monetários

Inverno Primavera Outono Verão Total Anual

[kWh/ano]

Consumo [kWh/dia] 51,69 25,85 25,85 14,77 10752

Produção PV [kWh/dia] 8,51 29,78 17,02 34,03 8129

Consumo c/PV [kWh/dia] 43,95 17,99 18,98 9,90 8265

Exportação Rede [kWh/dia] 0,77 21,92 10,14 29,16 5642

Autoconsumo 7,74 7,85 6,87 4,87

Consumo c/IVA 10,09 € 5,05 € 5,05 € 2,88 € 2 099 €

Consumo c/IVA + PV 8,58 € 3,51 € 3,70 € 1,93 € 1 613 €

Poupança 1,51 € 1,53 € 1,34 € 0,95 € 485 €

Faturação Rede 0,03 € 0,84 € 0,39 € 1,12 € 216,16 €

Fazendo uma análise aos dados acima apresentados, é visível que existe uma disparidade

na correlação entre consumo elétrico e produção elétrica fotovoltaica, isto porque os meses de

maior consumo doméstico são também aqueles onde a produção fotovoltaica é menor, e vice-

versa.

No que toca à quantidade de energia consumida em autoconsumo, vemos que esta é maior

nos meses de Inverno e menor nos meses de Verão. Nos meses de Inverno estima-se que a

eletricidade autoconsumida represente cerca de 91% da energia fotovoltaica produzida, sendo que

nos meses de Outono, Primavera e Verão, esta seja 40%, 26% e 14% respetivamente. Como se

percebe, a quantidade de energia elétrica que é autoconsumida no Verão é bastante baixa, pelo

que é normal a maior fatia da faturação resultante da venda de energia elétrica à rede seja no

Verão, onde cerca de 86% da eletricidade produzida pelo sistema fotovoltaico é vendida à rede

pública.

A maior poupança obtida relativamente aos gastos com o consumo de eletricidade é obtida

no Verão, com poupanças na ordem dos 33%, seguida dos meses da Primavera com 30%, os de

Outono com 27% e finalmente os meses de Inverno com 15%.

Em termos anuais, as poupanças totais resultantes quer da venda de energia à rede quer da

diminuição do consumo elétrico, são de 701,63 € e representam cerca de 33% dos gastos anuais

com consumo de eletricidade.

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É também necessário analisar algumas variáveis económicas como o TIR e o payback, que

também são apresentados no documento de divulgação do Ministério.

Considerando um custo de instalação semelhante ao utilizado pelo Governo Português, na

ordem dos 2572 €/kW, e considerando o sistema com 6 kWp, este apresentaria um custo de

instalação de 15432 €. Ora face a estas condições de investimento inicial, e a poupanças anuais

na casa dos 702 €, determinou-se, para um sistema com um tempo de vida entre os 20 e os 25

anos, uma TIR entre -0,9% e 1%, sendo o investimento pago no ano 22. Valores muito distantes

dos apresentados pelo Governo Português, aquando da divulgação do decreto-lei 153/2014.

4.4 Discussão

A análise que se apresenta neste trabalho relativamente à potencialidade económica do

autoconsumo tal como foi definido pelo Decreto-Lei 153/2014, de 20 de Outubro de 2014,

encontra-se limitada pelos dados recolhidos num curto período temporal.

Seria importante, como forma de comparação com os diversos dados publicados por

diversos organismos públicos e associações fotovoltaicas, apresentar resultados mais

contundentes no que se refere às análises económicas e financeiras, demonstradas por variáveis

económico-financeiras como a Taxa Interna de Retorno (TIR) ou o payback.

No entanto, optou-se, com alguma cautela face às estimativas realizadas, por determinar

consumos e produções para um ano inteiro tendo como base apenas esses dados. Tal como ficou

demonstrado, o consumo numa habitação não será tao linear e tão pré-determinado como muitas

vezes é apresentado: o consumo tem uma enorme variabilidade face ao perfil médio apresentados

no estudo do governo.

Num primeiro ponto, apenas foram analisadas as poupanças obtidas por um sistema

fotovoltaico nesses 13 dias, não se tendo considerado custos relativos ao sistema quer ao nível da

instalação e operação e manutenção, nem custos associados ao pagamentos de taxas e/ou

licenciamento definidos pelo Decreto-Lei.

A colocação de um sistema fotovoltaico de 6 kWp proporcionaria uma poupança de cerca

de 13,35%, contabilizando a diminuição no consumo de energia e a remuneração proveniente da

venda à rede pública. No entanto, desses 13,35% de poupança apenas 1,13% se deve a proveitos

resultantes da venda de energia, correspondentes a 1,17 €, sendo que cerca 27,7% da energia

produzida é vendida à rede.

Quanto à estimativa feita para um ano de consumo, é importante comparar os valores

obtidos com os apresentados pelo Governo de Portugal. Estes exemplos, sendo pertencentes a

uma entidade oficial e visto que são apresentados como suporte à entrada em vigor do decreto-

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lei, pretendo apresentar os benefícios do autoconsumo e da legislação introduzida, carecem de

sustentação.

Se os exemplos apresentados indicam que, no primeiro exemplo, seria possível obter um

autoconsumo de 70% relativamente à energia produzida pelo sistema fotovoltaico, sendo os

restantes 30% injetados na rede, as estimativas apresentas nesta dissertação apontam precisamente

o contrário: um autoconsumo na ordem dos 31%, sendo os restantes 69% injetados na rede. Este

facto tem particular importância, visto que o principal fator que dá sustentabilidade e retorno a

um projeto fotovoltaico enquadrado nesta legislação, são as poupanças obtidas no consumo

doméstico, visto que a remuneração obtida através da venda de energia elétrica é baixa. Ora, se

na realidade as poupanças conseguidas através da redução do consumo doméstico forem

drasticamente mais baixas, toda a sustentabilidade económica e financeira do projeto fica posta

em causa.

Tal facto, é visível no cálculo da TIR e payback apresentadas nesta dissertação. Se o

Governo português, apresenta uma TIR de 8,6 % no primeiro exemplo e 12,3% para o segundo

exemplo, com payback a 10 e 8 anos, respetivamente, os obtidos pela estimativas nesta dissertação

situam-se entre os -0,9% e 1%, para um período de vida útil entre 20 e 25 anos, e um payback a

22 anos. Ou seja, se a instalação fotovoltaica tiver um tempo de vida de 20 anos, o investimento

inicial não chega sequer a ser recuperado, sendo assi um investimento que dá prejuízo, colocando-

se em causa a lógica deste modelo legislativo.

É fundamental referir o modo com a energia injetada na rede é remunerada pois representa

uma desvantagem notória para os consumidores, sendo um forte incentivo à sua não injeção. A

remuneração ao preço abaixo daquele que é definido pelo OMIE é uma clara vantagem para os

fornecedores de eletricidade, visto que estes beneficiam da energia produzida pelo consumidor a

um preço relativamente baixo, sendo que esta é vendida no instante seguinte ao consumidor a um

preço bastante mais alto.

Este sistema de remuneração representa uma forma de financiar e compensar potenciais

perdas dos comercializadores de eletricidade, por eventuais perdas de receitas, sendo que todo o

enquadramento aponta nesse sentido.

Compreendendo-se o espírito inerente ao regime jurídico estabelecido pelo decreto-lei, que

incentiva os consumidores domésticos a produzirem a sua própria energia, a verdade é que seria

igualmente vantajoso, mesmo do ponto de vista da penetração de novas e diferenciadas fontes de

produção de energia no sistema, que a injeção de energia na rede fosse remunerada de outra forma

mais compensatória, mais próxima do valor real dessa energia Tal fator poderia aumentar as

poupanças conseguidas pelo consumidor, seria um incentivo maior à compra de sistemas

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fotovoltaicos residenciais e permitiria dotar o consumidor de um novo papel na relação com a

rede elétrica, tornando-o não só o produtor da sua própria energia mas um produtor para a rede.

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89

5. Referências

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[5] Direção Geral de Energia e Geologia, “Renováveis -Estatísticas Rápidas, Janeiro,”

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[6] E. Commission, “Best practices on Renewable Energy Self-consumption,” 2015.

[7] M. Bruch and M. Müller, “Calculation of the Cost-Effectiveness of a PV Battery

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[15] Diário da Republica, Decreto-Lei no 153/2014. Lisboa, pp. 5298–5311.

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