auto de inês pereira
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Auto de Inês PereiraGil Vicente
Análise e sistematização
Ação - Tema Gil Vicente desenvolve o provérbio “Mais quero asno que me leve que cavalo que me
derrube”
Teste à originalidade do dramaturgo, que desenvolve uma história com princípio meio e fim, em que demonstra que é preferível um asno que leve Inês às costas (i.e., que lhe faça todas as vontades),
a um cavalo que a derrube (i.e., que a prive de liberdade e a ameace).
marido bronco e ingénuoPêro Marques
marido “avisado” e “discreto”Escudeiro Brás da Mata
Ação - EstruturaEsta peça é uma das mais bem estruturadas de Gil
Vicente
Exposição: O monólogo inicial de Inês e o diálogo com a mãe em que se apresentam as características da jovem e os seus objetivos.
Conflito: Desde a chegada de Lianor Vaz até ao casamento com Pêro Marques.
Desenlace: A partir do casamento com Pêro Marques até ao final, que concretiza o tema da peça e o provérbio que a determinou.
Ação - Estrutura Ponto de partida
Aspiração de Inês a libertar-se pelo casamento.
DesenvolvimentoProposta e recusa de casamento com Pêro Marques;Casamento falhado com o escudeiro;Casamento com Pêro Marques.
Ponto de chegadaConcretização da aspiração de Inês.
Personagens Inês Pereira – figura central da peça; pode classificar-
se como personagem modelada, já que sofre uma evolução psicológica, decorrente da experiência e, reconsiderando a sua posição inicial, aceita um segundo casamento completamente fora das suas expetativas (“sobre quantos mestres são /experiência dá lição”), mas também
como personagem plana, pois, o final da peça mostra-nos, novamente, o caráter leviano de Inês, característica principal, enquanto personagem tipo.
Personagens Mãe – personagem secundária, que, em estreita
ligação com Inês, representa o contraponto da sua fantasia e irresponsabilidade. Moderada, prudente e pragmática, a Mãe manifesta a sua descrença em relação ao casamento com o Escudeiro, antecipando alguns dos problemas que virão a acontecer. Contudo, quando a filha opta por casar com Brás da Mata, a Mãe desaparece, discretamente, sem discussões, censuras ou vinganças, e ainda lhe oferece a casa onde viviam. A filha aprenderá à sua custa.
Personagens Pêro Marques – outra figura intimamente ligada a
Inês; representa na peça o papel de “asno” que leva a mulher às costas, de visita a um antigo pretendente (o ermitão). É um lavrador ingénuo e bronco, trabalhador e honesto, que tem alguns bens. Oriundo do meio rural e desconhecedor de algumas regras de convivência, cai no ridículo, não só pela maneira como veste, mas também pela maneira de falar e agir. É a personagem cómica da peça, que contrasta com Inês (por quem é ridicularizado) e com o escudeiro.
Personagens Lianor Vaz – é quem apresenta Pêro Marques a Inês,
através de uma carta. Mostra grande capacidade de persuasão, experiência e oportunidade no desempenho do seu papel de comadre casamenteira, quando, após a morte do Escudeiro, regressa para relembrar Inês do seu anterior pretendente.
Personagens Escudeiro (Brás da Mata) – é uma figura muito
importante que contrasta flagrantemente com Pêro Marques (compare-se a carta e o comportamento de Pêro Marques com o discurso do Escudeiro, quando se apresentam a Inês). Mostra-se elegante, culto e astuto.É uma personagem com grande influência no desenrolar da história, já que é o seu comportamento tirânico que vai fazer com que Inês venha a aceitar Pêro para se vingar das frustrações do primeiro casamento que ela idealizou e falhou. O Escudeiro, pobre e covarde, ostenta perante Inês qualidades que não tem. Antes de casar apresenta-se como um grande senhor, rico, culto e bem falante.
Personagens Escudeiro (continuação)
Pobre e covarde, ostenta perante Inês qualidades que não tem. Antes de casar apresenta-se como um grande senhor, rico, culto e bem falante.Depois de casar, revela-se um tirano mesquinho que deixa a esposa à guarda do criado e parte para África com o objetivo de ser armado cavaleiro, onde acaba por ser morto por um mouro pastor, quando desertava de uma batalha.
Personagens Moço – personagem que contribui para a denúncia
do verdadeiro caráter do Escudeiro e da sua condição financeira.
Judeus casamenteiros – são quem apresenta o Escudeiro a Inês. Preocupados em receber o seu dinheiro, empenham-se em elogiar os méritos do Escudeiro perante Inês e as qualidades desta , perante aquele. São desonestos, falsos e materialistas.
A intenção crítica do autor Esta peça é uma visão crítica de tipos e fenómenos
da época. A crítica à sociedade do tempo de Gil Vicente é conseguida com recurso à ironia, à criação de personagens-tipo e ao cómico.
A ironia está presente em variadas situações:• No diálogo inicial entre Inês e a Mãe;• No diálogo entre a Mãe e Lianor Vaz, quando esta conta o que lhe
acontecera na vinha;• Na reação de Inês à carte de Pêro Marques;• No diálogo entre Pêro e Inês (falas de Inês)• Nas respostas e apartes do Moço, quando fala com o Escudeiro;• Nas falas de Inês, quando o Escudeiro parte para África;• No diálogo de Inês com Lianor , após a sua viuvez.
A intenção crítica do autorPersonagens-tipo Inês: moça do povo, casadoira, que pretende
ascender socialmente; preguiçosa; ambiciosa; fantasiosa e leviana.
Mãe: pragmática e materialista, quer ver a filha bem “arrumada” com um marido com estabilidade económica, desprezando ideais de amor, sonhos ou caprichos.
Lianor Vaz: alcoviteira
Pêro Marques: homem do campo com pouca educação; o asno, o inadaptado à sociedade; objeto de vingança de Inês.
A intenção crítica do autorPersonagens-tipo Escudeiro: a baixa nobreza em degradação,
faminta e pelintra;
Judeus: mundo da aldrabice e do interesse monetário;
Ermitão: clero leviano que esquece os seus deveres e a sua moral;
Moço: classe servente (povo)
A intenção crítica do autor Cómico de Caráter
• Ex.: concretiza-se nas figuras de Pêro Marques (provinciano e bronco nitidamente deslocado junto de Inês e da Mãe) e do Escudeiro pobre e cobarde mas dissimulando na elegância do seu discurso, na variedade das suas prendas (canta e toca) e na fanfarronice solene todas as suas fraquezas e misérias.
A intenção crítica do autor Cómico de Situação
• Ex.: quando Pêro Marques se senta na cadeira ao contrário e de costas para Inês e para a Mãe;
• na fala dos Judeus casamenteiros, que, na sua sofreguidão e calculismo para conseguirem casar Inês com o Escudeiro, se interrompem, repetem e atropelam constantemente ;
• no episódio final quando Pêro Marques, descalço, transporta Inês às costas, mais duas lousas que lhe agradam e para cúmulo, aceita cantar uma cantiga que o apelida de "marido cuco".
A intenção crítica do autor Cómico de Linguagem
• Ex.: quando Pêro Marques entra com a sua linguagem recheada de termos e expressões provincianas;
• quando os Judeus produzem o seu discurso repetitivo e arrastado ;
• quando Inês se refere a Pêro Marques dizendo "Ei-lo se vem penteando/será com algum ancinho?";
• na ironia do Moço desmascarando a pelintrice do Escudeiro.
• Nos trocadilhos (quando Pêro Marques diz que seu é o “mor gado” e a Mãe pensa que ele é morgado; quando Inês pergunta a Pêro se pode sair e ele pensa que ela se refere a “evacuar”)