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51 Facene/Famene - 9(2)2011 Artigo de Revisão AUTISMO E FAMÍLIA: PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO TRATAMENTO E DESENVOLVIMENTO DOS FILHOS AUTISTAS 1 Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira 2 RESUMO O Autismo é uma síndrome manifestada antes dos três anos de idade, que apresenta atrasos na comunicação, na linguagem e na interação social. Além da contribuição da escola, dos profissionais especializados em detectar, diagnosticar e tratar o autismo, os pais têm um papel muito importante na evolução da aprendizagem dos portadores de autismo. O objetivo da pesquisa é acompanhar o trabalho dos pais diretamente envolvidos no tratamento dos autistas, a começar das suspeitas do problema, do diagnóstico e da utilização dos métodos TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à Comunicação), ABA (Análise Aplicada do Comportamento) e PECS (Comunicação através de Figuras), trabalhados em casa e nas associações de pais e amigos do autista, melhorando a interação do autista com o meio social e estimulando a independência. A pesquisa trata-se de uma revisão de literatura a respeito do autismo, no que se refere aos métodos aplicados no tratamento. Assim, conclui-se o quanto é importante a participação dos pais no diagnóstico, no tratamento e na evolução do quadro clínico da criança e o quanto ainda há a ser feito no que diz respeito a pesquisas sobre o assunto a fim de acelerar o diagnóstico precoce e tratamento eficaz, que minimizem as estereotipias e estimulem a independência das crianças. Palavras-chave: Autismo. Psicopedagogia. Psicologia Infantil. Deficiência Cognitiva. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho de pesquisa é analisar o tratamento do autismo no âmbito familiar. Dessa forma, a pesquisa aborda o quão é importante a participação, o amor e a dedicação da família para o tratamento de crianças autistas em casa e nas associações formadas pelos pais, como saída para driblar a falta de recursos financeiros para pagar tratamentos caros, a falta de informação sobre o assunto e a escassez de profissionais especializados em autismo, usando métodos testados e comprovados, cientificamente eficazes, com resultados benéficos para o desenvolvimento dos autistas. A afetividade é um fator primordial para alcançar sucesso no acompanhamento dessas crianças, uma vez que é necessário comprometimento, dedicação, persistência e sacrifícios da família para adequar a vida social, o ambiente de casa e a rotina em prol das necessidades e respeitar os limites que impedem determinadas mudanças. O intuito não é substituir o tratamento clínico aplicado pelos profissionais de saúde empenhados em desvendar e tratar o autismo, mas fazer com que os pais interajam com o problema e o enfrentem de maneira participativa. Como muitos se deparam com tratamentos 1 Trabalho realizado a partir da monografia pré-requisito da Especialização em Psicopedagogia. 2 Mestre em Letras pela UFPB, Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela CINTEP. Editora da Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança – FACENE/FAMENE. End.: Rua Professor Francisco S. Rangel, 235, Jaguaribe. João Pessoa-PB. CEP: 58015-730. Tel.: (83) 8801-3073.

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51Facene/Famene - 9(2)2011

Artigo de RevisãoAUTISMO E FAMÍLIA: PARTICIPAÇÃO

DOS PAIS NO TRATAMENTO E DESENVOLVIMENTODOS FILHOS AUTISTAS1

Cyelle Carmem Vasconcelos Pereira2

RESUMOO Autismo é uma síndrome manifestada antes dos três anos de idade, que apresenta atrasos nacomunicação, na linguagem e na interação social. Além da contribuição da escola, dos profissionaisespecializados em detectar, diagnosticar e tratar o autismo, os pais têm um papel muito importante naevolução da aprendizagem dos portadores de autismo. O objetivo da pesquisa é acompanhar o trabalhodos pais diretamente envolvidos no tratamento dos autistas, a começar das suspeitas do problema, dodiagnóstico e da utilização dos métodos TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças comDeficiências Relacionadas à Comunicação), ABA (Análise Aplicada do Comportamento) e PECS(Comunicação através de Figuras), trabalhados em casa e nas associações de pais e amigos do autista,melhorando a interação do autista com o meio social e estimulando a independência. A pesquisa trata-sede uma revisão de literatura a respeito do autismo, no que se refere aos métodos aplicados no tratamento.Assim, conclui-se o quanto é importante a participação dos pais no diagnóstico, no tratamento e naevolução do quadro clínico da criança e o quanto ainda há a ser feito no que diz respeito a pesquisas sobreo assunto a fim de acelerar o diagnóstico precoce e tratamento eficaz, que minimizem as estereotipias eestimulem a independência das crianças.Palavras-chave: Autismo. Psicopedagogia. Psicologia Infantil. Deficiência Cognitiva.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho de pesquisa é analisar o tratamento do autismo no âmbito familiar.Dessa forma, a pesquisa aborda o quão é importante a participação, o amor e a dedicação

da família para o tratamento de crianças autistas em casa e nas associações formadas pelospais, como saída para driblar a falta de recursos financeiros para pagar tratamentos caros,a falta de informação sobre o assunto e a escassez de profissionais especializados em autismo,usando métodos testados e comprovados, cientificamente eficazes, com resultados benéficospara o desenvolvimento dos autistas.

A afetividade é um fator primordial para alcançar sucesso no acompanhamento dessascrianças, uma vez que é necessário comprometimento, dedicação, persistência e sacrifíciosda família para adequar a vida social, o ambiente de casa e a rotina em prol das necessidadese respeitar os limites que impedem determinadas mudanças.

O intuito não é substituir o tratamento clínico aplicado pelos profissionais de saúdeempenhados em desvendar e tratar o autismo, mas fazer com que os pais interajam com oproblema e o enfrentem de maneira participativa. Como muitos se deparam com tratamentos

1 Trabalho realizado a partir da monografia pré-requisito da Especialização em Psicopedagogia.2 Mestre em Letras pela UFPB, Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela CINTEP.Editora da Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança – FACENE/FAMENE. End.: Rua ProfessorFrancisco S. Rangel, 235, Jaguaribe. João Pessoa-PB. CEP: 58015-730. Tel.: (83) 8801-3073.

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caros, a ideia é buscar conhecimentos sobreos métodos, que vêm sendo utilizados e quetêm demonstrado resultados satisfatórios, eutilizá-los em casa, nas associações.

Os objetivos são acompanhar otrabalho dos pais de autistas na educação eno tratamento dos filhos; capacitar a famíliapara lidar com as limitações dos autistas;aplicar os métodos TEACCH, ABA e PECSem casa, ultrapassando os limites dosconsultórios; utilizar as cenas do cotidianopara tentar integrar o autista na sociedade eajudá-lo a compreender os contextos sociais,nas áreas educativas, familiares e lúdicas.

MATERIAL E JUSTIFICATIVA

A pesquisa foi baseada em estudo comabordagem exploratória, através de levanta-mento bibliográfico de livros e artigos on-linerecentes que tratam sobre o assunto. Livrosestes lançados e apresentados no VIIICongresso Brasileiro de Autismo realizadono Auditório da Estação de Ciência CaboBranco, no período de 28 a 30 de outubro de2010.

O interesse pelo tema surgiu danecessidade de buscar informações, trata-mento e auxílio para meu sobrinho autista,cujo diagnóstico foi dado aos 18 meses deidade.

A ONU – Organização das NaçõesUnidas – estabeleceu o dia 2 de abril como oDia Mundial de Conscientização doAutismo. O primeiro evento foi realizado em2 de abril de 2008 com participação doSecretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, umdos maiores incentivadores para a propostade criação do dia, pelos esforços de chamara atenção sobre o autismo. Neste dia, prédiospúblicos iluminam-se de azul, com o intuitode lembrar à população sobre a importânciade discussão do problema e conscientização.O Cristo Redentor no Rio de Janeiro, oSenado Federal em Brasília e a Praça dos TrêsPoderes em João Pessoa já participaram domovimento.

REVISÃO DE LITERATURA

O termo autista vem do grego autós,que significa “de si mesmo”. Foi introduzidona psiquiatria por Plouller, após estudar

pacientes que tinham o diagnóstico dedemência precoce, mudando para esquizo-frenia. Em 1943, Leo Kanner definiu oautismo para designar o quadro apresentadopor 11 crianças cujas tendências ao re-traimento foram observadas ainda noprimeiro ano de vida e tinham certascaracterísticas comuns. A mais notável eraa dificuldade de relacionamento compessoas. Ele considerou, a princípio, a causacomo física, depois psicológica e poste-riormente física.

Calcula-se que, no Brasil, possamexistir aproximadamente 68 a 195 mil au-tistas. Aproximadamente, 60% dos autistasapresentam valores de QI abaixo de 50, 20%oscilam entre 50 e 70 e apenas 20% teminteligência acima de 70 pontos.

O autismo apresenta também asseguintes características:

1. Respostas anormais a estímulosauditivos;

2. Pouco contato visual com aspessoas;

3. Ausência ou atraso de linguagemnos primeiros anos de vida;

4. O comportamento baseado emrotinas; resistência a mudanças;

5. Dificuldades no desenvolvimentodas habilidades físicas, sociais e deaprendizagem;

6. Autodestruição ou comporta-mentos agressivos com outraspessoas;

7. Fascinação por objetos rotativos,como ventiladores, piões etc.;

8. Choro ou riso incontroláveis e semmotivo;

9. Reação exagerada a estímulossensoriais, como luz, dor ou som.

Vale salientar que nem todas ascrianças possuem todas as característicasacima citadas. Portanto, deve-se ficar claroque apenas explanamos as possibilidadescomportamentais num campo geral para queseja possível identificar ou estudá-las deforma ampla.

Inicialmente, acreditava-se que os paispoderiam ser os responsáveis pela síndromedo autismo em seus filhos e, por isso, foramestudados e examinados psicologicamente.Pensou-se que uma alternativa para tratar oautismo seria a remoção da criança do meiofamiliar, incluindo atendimento psicote-rapêutico aos pais.

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Vários mitos giravam em torno dasfamílias que possuíam pelo menos ummembro com autismo. Uma das dificuldadesera chegar ao diagnóstico a tempo de iniciaro tratamento, que não permitisse sequelasirreversíveis na criança.

A fisionomia do autista não demonstraqualquer alteração comportamental, sendoum dos motivos dos pais encontraremdificuldade em encontrar um diagnósticopreciso ou suposição de possíveis problemas.Há três caminhos pelos quais as famíliaspassam: primeiro, conhecer o autismo;segundo, admitir o autismo e, por fim, buscarapoio de pessoas que convivam ou estãoenvolvidas com o autismo1. Assim, é de sumaimportância ficar atento ao comportamentodiário da criança em casa, comparar suasatitudes com as atitudes de crianças damesma idade, verificar o desenvolvimentoda fala, a capacidade de ouvir, compreendere interpretar sinais, sejam eles visuais ouauditivos, acompanhar aprendizados bási-cos como comer sozinho, por exemplo. Casoestas etapas estejam sendo afetadas dealguma maneira, é importante estimulá-la adesenvolver tal comportamento ou enca-minhá-la a um profissional que possadiagnosticar um simples atraso de desen-volvimento e, em último caso, diagnosticaruma síndrome como o autismo ou umadeficiência neurológica.

Uma das primeiras e principaissuspeitas de anormalidade nos filhos quelevam os pais aos consultórios é a ausênciada fala aos dois e três anos de idade. Durantea observação, os pais devem ficar atentos aalguns sinais. Nesta fase, são de extremaimportância a curiosidade e a observação dospais aos gestos, atitudes e manias dos filhos.A aquisição da linguagem por volta dos 14aos 24 meses é um exemplo de desen-volvimento normal de uma criança sadia.Nessa faixa etária, a criança começa abalbuciar sons como tentativa de secomunicar com os pais, outros membros dafamília e até estranhos. Tais sons, muitasvezes, não são compreendidos, mas são osprimeiros sinais de que a criança estácomeçando a dar os primeiros passos naaquisição da comunicação social. Quandoessa fase não existe, os pais devem começara se preocupar, pois possivelmente podeestar havendo algum problema ou bloqueioque impeça seu filho de tentar se comunicar.

Mesmo que não se possam combateras causas, até hoje desconhecidas,combatem-se os sintomas a fim de minimizaros efeitos e melhorar o relacionamento doautista com o mundo exterior a ele. “Ademora no diagnóstico pode desenvolversérios problemas de conduta, mais tarde,difíceis de corrigir”2:68. O diagnóstico precoceé de essencial importância para iniciar otratamento o mais rápido possível.

Para tanto, há algumas questões quesão aplicadas aos pais e à própria criança afim de ter respostas mais concretas a respeitodas dúvidas que vêm ocorrendo em casa. Umquestionário muito utilizado pelo Ministérioda Saúde é o baseado nas DiretrizesDiagnósticas para Autismo Infantil (CID-10)3 e no manual diagnóstico e estatístico detranstornos mentais (DSM-IV)4, métodosbastante utilizados como meio de pesquisapara os pais e para os profissionais que estãose especializando nessa área. O terceirosistema aplicado, que antecede o diagnósticodo autismo é o CHAT (Checklist for Autismin Toddlers)5, questionário para verificaçãode autismo em crianças pequenas, atravésde uma escala com nove perguntas objetivasfeitas aos pais.

O questionário CHAT não forma umdiagnóstico final apenas ajuda aos pais aobservarem melhor e identificarem possíveisdesvios de desenvolvimento natural paraessa faixa etária. O objetivo do CHAT éidentificar crianças em riscos de transtornosna comunicação social. Ao contrário dasdemais crianças, o cérebro e os sentidos doautista nem sempre tornam as informaçõesem conhecimento.

Após o diagnóstico, um dos principaisproblemas enfrentados pelos pais é de ordememocional, por exemplo, ao comparar seufilho autista, de desenvolvimento compro-metido em algumas áreas, como a fala e ainteração social, com crianças normais, queatingem metas esperadas para cada faixaetária.

Após o diagnóstico, os pais devem tiraras dúvidas com o médico sobre o que é oautismo, o que esperar da síndrome e com-partilhar experiências com outras famíliasque enfrentam o mesmo problema. Para isso,é necessário o apoio dos pais e dos familiarespara incentivar, acompanhar e comemorarcada conquista.

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DISCUSSÃO

Sabemos que a educação inclusiva noBrasil ainda é muito deficiente e deixalacunas às quais as crianças autistas nãopodem esperar para saná-las. Para tanto, afamília assume o papel de incluir e permitirque seu filho seja acompanhado e se desen-volva gradativamente, apesar das falhas dapolítica pública.

A falta ou a escassez de especialistas,aptos para diagnosticar o autismo, e ademora em começar os tratamentos preju-dicam e comprometem a evolução dacriança. Na maioria dos casos, o autista étratado com crianças com outros tipos dedeficiências, ou seja, não recebem umaatenção específica para sua síndrome. Dian-te dessa realidade, os pais se veem levados aformar associações, buscar profissionais quepossam cuidar e orientar seus filhos, focandonos sintomas próprios da síndrome.

A família é o termômetro que mede aeficácia, a evolução do tratamento recebidopelo autista, seja através da fala, da capa-cidade de relacionar-se, de realização deatividades domésticas corriqueiras comoescovar os dentes, fazer xixi, alimentar-se,tomar banho, vestir-se. A família é extre-mamente importante, pois ajuda a incluir ofilho autista num mundo onde ele não se vê,onde não se encontra e onde acha difícilcomunicar-se. O interesse dos pais reflete nosfilhos segurança, motivação e amenizaçãode possíveis dificuldades. A inclusão devecomeçar ainda em casa, aceitando o pro-blema, estimulando as melhoras e traba-lhando diariamente para que o quadroautístico tenha o mínimo de estereotipias ecomprometimentos.

É importante que a criança seja inse-rida num ambiente estimulador de interaçãosocial, obviamente ultrapassando os limitesdo convívio familiar, o que pode acentuarmanias, excitação emocional e agressi-vidade. “O grau de desenvolvimento doautista está diretamente ligado às questõesde estimulação, atendimento especializadoe conhecimento adequado de como lidar comas situações do seu cotidiano. 6:34” O autistaprecisa adquirir sua independência, atravésda valorização de experiências habituais, decontato social, aprendendo habilidadespessoais e domésticas, como calçar ossapatos, organizar os próprios brinquedos,

arrumar a mesa antes das refeições. Sãoatitudes simples que têm um grandediferencial para a evolução do quadro deautismo, pois tira a criança do isolamento ea influencia a interagir socialmente.

Há vários níveis e estágios do autismoque variam, por exemplo, a capacidade inte-lectual, uso da linguagem, nível de persona-lidade, grau de gravidade da doença, climae estrutura familiar. Por este motivo, osmétodos e tratamentos aplicados podemfuncionar para uma criança e não funcionarpara outra. Estes podem melhorar umsintoma específico, mas não eliminá-lo.

As técnicas de modificação de com-portamento utilizam estímulos positivos parainduzir melhorias, como um elogio ou umalimento.

As abordagens pedagógicas em pessoascom autismo são de base comportamental.No entanto, não visam aprisioná-las acondicionamentos específicos, antes,tentam livrá-las das limitações comporta-mentais que lhes trazem dano.7:13

As evoluções ocorrem, mas são limi-tadas, como na mudança do comportamentoautoestimulativo e na fala ecolálica, e estudosconstataram que o sucesso não durou pormuito tempo. Mesmo assim, as técnicas sãouma tentativa de minimizar, mesmo quetemporariamente, alguns comportamentos.

A rotina da criança deve ser bem estru-turada, pois a previsibilidade é importantepara que ela se mantenha sob controle eaceite novos conhecimentos. Quanto maisbaixo o nível de estruturação da criança,mais o ambiente terá de ser cuidadosamenteestruturado. A sala de aula para o autistadeve ser bem estruturada, organizada emespaços divididos, visando o atendimentoindividual. Numa mesa, o aluno executa asatividades ensinadas anteriormente peloprofessor, através de um sistema visual, noqual os autistas têm bom desempenho,através de cartões com instruções simples,como uma sequência de representações cominstruções para ir ao banheiro. Cada rotinadeve ser percebida como útil para a vida doaluno. A ação participativa dos pais re-presenta um ponto positivo na organizaçãoda consciência do autista sobre si mesmo eda consciência de que existem outras pessoasatuando junto a ele.

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No caso de crianças extremamenteansiosas, os métodos como o TEACCH, oABA e o PECS8,9 têm diminuído signifi-cativamente o grau de irritação, ocasionadopela incapacidade de se comunicar satis-fatoriamente, sendo a família incluída naatuação psicopedagógica. Os métodosTEACCH, ABA e PECS devem ser utilizadostanto na escola quanto no ambiente familiar,lembrando que a forma de aplicação deveser a mesma, a fim de estabelecer o reforçona educação7.

O ensino estruturado centra-se nasáreas onde o autista melhor se expressa,processamento visual, memorização derotinas funcionais e interesses especiais, comadaptação às necessidades individuais e aosníveis de funcionamento.

A educação cognitiva envolve a capa-cidade de aprender a aprender e a capa-cidade de resolver problemas. São nessesaspectos que a educação voltada para porta-dores de autismo focam. A criança aprenderáque pode adquirir conhecimentos com aajuda dos pais e profissionais e pode adquiri-los também sozinha.

RESULTADOS

Pais de autistas veem desde cedoalterações ou ausências de comportamentosem seus filhos que nenhum profissionalenxergaria em poucos minutos de contato.A afetividade, dessa forma, é um importantefator que auxilia o processo de aprendi-zagem. E não há pessoas mais capacitadaspara colocar em prática a afetividade do queos próprios pais.

No caso dos autistas, principalmente,o que realmente importa é a execução daatividade, tornar a criança capaz de, con-quistando a total ou parcial independência.“No processo de aprender, variáveis afetivase cognitivas são consideradas como impor-tantes na compreensão e no envolvimentoda criança, influenciando o desempenhoescolar.”9:41 Direcionando o aprendizado, ospais estão, simultaneamente, passandosegurança aos filhos, possibilitando o sucessona aquisição de significado, de autonomia ede capacidade de aprender ainda mais.“Tanto a inteligência quanto a afetividadesão mecanismos de adaptação, permitindoao indivíduo construir noções sobre os

objetivos, as pessoas e as situações, con-ferindo-lhes atributos, qualidade e valo-res.”9:45 A criança, ao nascer, procurainteragir com os adultos ao seu redor. Noato de sobrevivência, tenta estabelecer umarelação estável, através de padrões afetivosque dão subsídios para transformar ocomportamento da criança. A segurançapassada através do afeto é a mola que im-pulsiona qualquer aluno a progredir, é oestimulador da aprendizagem e principal-mente incita a curiosidade, a busca de novosconhecimentos.

MÉTODOS DE TRATAMENTO:TEACCH, PECS e ABA

O TEACCH (Treatment and Educationof Autistic and Related CommunicationHandicapped Children) é um programa deintervenção terapêutica educacional eclínica, que adapta o ambiente para que acriança o compreenda com mais facilidade.O método foi desenvolvido pelo Dr. EricSchopler e sua equipe na Universidade daCarolina do Norte em 1966.

O método psicoeducacional foi criadopara atender crianças portadoras de autismoou psicose infantil. Acreditavam que, apartir da observação comportamental dosautistas e estes, conscientizando-se do êxitode sua expressão verbal e gestual, é possívelmodificar os distúrbios de comportamento.A partir dessa análise, percebeu-se que ascrianças são capazes de aprender através deatividades estruturadas, embasando-se emtécnicas comportamentais que organizam avida do autista a fim de fazê-lo entender oque querem dele e possa expressar suasnecessidades, apesar das limitações epotencialidades. O programa visa à reduçãoe à eliminação de comportamentos inade-quados através de estímulos visuais parapromover a comunicação.

O método PECS (Picture ExchangeCommunication System), significa sistemade comunicação através da troca de figuras,ou seja, é uma avaliação utilizada peloTEACCH, bastante utilizada como canal decomunicação, que aponta os pontos fortes eas maiores dificuldades da criança,

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permitindo um programa individualizado.É um método barato, fácil de aprender epode ser aplicado em qualquer lugar,inclusive pelos pais em casa.

Muitas vezes, para manter a criançana atividade, é necessário um apoio físico e/ou um estímulo primário, como um alimentoque a criança goste muito. Havendo oprogresso nas atividades, o estímulo primáriopode ser retirado, com o intuito de tornarum hábito e não uma obrigação, possi-bilitando o máximo de independência.

ABA – Análise Aplicada do Com-portamento - é feita com a finalidade deidentificar habilidades que o autista jádomina e ensinar aquelas que ele ainda nãodomina. O método analisa, com detalhes,dados e fatos da relação ensino-aprendi-zagem, com registro de resultados e tenta-tivas, descobrindo os eventos que funcionamcomo reforço positivo ou negativo. Asrespostas negativas não são estimuladas,pelo contrário, a criança deve trabalharapenas os comportamentos positivos.

No estímulo de conhecimentos jáadquiridos, é utilizada a base fundamentalna teoria Estímulo-Resposta, o Reforço.Quando há reforço num evento particular,o indivíduo é condicionado a reagir,tendendo a repetir as respostas adequadasao bom desempenho do processo deaprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o autismo tem um grauespecífico de deficiência cognitiva que requertratamentos próprios para cada caso. Essestratamentos surgiram de pesquisas científicascujos resultados ainda são testados emclínicas especializadas, por profissionaisenvolvidos com o autismo. No entanto, ospais não podem esperar que os profissionaistomem a responsabilidade para si, devemassumir parte do compromisso em cuidar etratar dos seus filhos autistas.

Criar associações e começar a aplicaros métodos já existentes em casa são umaparte da participação da família no desen-volvimento cognitivo. A dedicação aplicadaà criança, a observação cuidadosa das

deficiências podem e fazem uma grandediferença no tratamento. Se a família nãotem um olhar minucioso para o desen-volvimento dos filhos, a possibilidade doproblema perdurar sem tratamento podeprejudicar as crianças. O amor dos pais é abase fortalecedora do processo ensino-aprendizagem, pois enfatiza o fato de queos filhos não podem ficar excluídos tanto dasociedade quanto da escola.

Deve-se ficar claro que a inclusãoescolar não é apenas inserir uma criança comdeficiência numa escola normal. Inclusão épossibilitar que esta criança adquiraconhecimentos utilizando métodos quefacilitem ou auxiliem seus limites. O processode inclusão requer amor dos pais, persis-tência e força de vontade para enfrentardesafios diários, no entanto, os resultadostêm dado bons frutos. A aceitação dos paistambém é um aspecto delicado quesurpreende após um diagnóstico de autismo.Portanto, buscar ajuda de profissionais, demétodos e apoio de instituições são passosprimordiais para que os autistas possam sairdo círculo vicioso de isolamento social, faltade comunicação e falta de compreensão. Aoinvestir numa criança autista, teremos umadulto com menos conflitos, mais integradoà família e aos amigos, com o campo decomunicação menos afetado e um cidadãodigno como qualquer outro. Além do mais,é necessário investir em mais pesquisas sobrea síndrome, cuja causa ainda é um enigma,e em divulgação para uma sociedade quedesconhece sequer a existência da defi-ciência.

Pior do que a inexistência de cura épermitir que uma criança com autismopermaneça isolada da sociedade, incapaz dese comunicar, incapaz de compreender e sercompreendida. Portanto, a inclusão devecomeçar em casa, no seio familiar, quandoos pais decidem tomar uma atitude, deixarde lado o preconceito e apatia de umdiagnóstico de deficiência e sair em buscados direitos de cidadania para seus filhos etratá-los com os melhores profissionais e comos métodos mais eficientes até então.

Preparar material para atividades, amaneira de aplicação, conhecer o grau dedificuldade para cada nível e buscar

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resultados a longo prazo são algumas açõesque os pais podem fazer em casa ou nasassociações criadas por pais e amigos deautistas.

Fica evidente que o tratamento para oautismo não se limita aos métodos TEACCH,ABA e PECS, estendendo-se a dietas,intervenções medicamentosas e terapiaspsicopedagógicas. O foco nos métodos detratamento e prevenção tem a intenção demostrar que os pais podem atuar noacompanhamento e participar da evolução

clínica de seus filhos a fim de formar criançasautônomas e adultos independentes.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Associação de Pais,Amigos e Simpatizantes do Autista – ASAS– por cuidar e tratar nossas crianças autistascom dedicação e esperança para que suasvidas possam ser leves.

AUTISM AND FAMILY: PARENTS ENVOLVMENT IN THE TREATMENTAND DEVELOPMENT OF AUTISTIC CHILDREN

ABSTRACTAutism is a syndrome that occurs before three years old, which displays delays in communication,language and social interaction. Beyond the school contribution, professionals specialized in notice it,make a diagnosis and treat the autism, parents have a very important hole in the evolution of learningprocess by those with autism. The goal of this research is to attend the parents work that are directlyinvolved in the treatment of those with autism, to start by the suspicion of the problem, the diagnose andalso the use of the methods: TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related CommunicationHandicapped Children), ABA ( Analyze Behavior Applied ) and PECS (Picture Exchange CommunicationSystem), Works at home, autism parents and friends’ associations, improving the autistic’s interactionwith the social environment and encouraging his/her independence. The research it is a review of literatureon autism, regarding the methods used in the treatment. Thus, we conclude how important parentparticipation in diagnosis, treatment and clinical evolution of the child and how much there is to be donewith regard to research on the subject in order to expedite the early diagnosis and effective treatment thatwill minimize the stereotypes and encourage the independence of children.keywords: Autism. Psycho-pedagogy. Infant psychology. Cognitive deficiency.

REFERÊNCIAS

1. Mello AMSR. Autismo: guia prático. 4ª Ed. SãoPaulo: AMA; 2004.2. Szabo C. Autismo em questão. 1ª Ed. São Paulo:MAGEART; 1995.3. Organização Mundial de Saúde – Classificaçãodos transtornos mentais e de comportamento daCID-10: descrições clínicas e diretrizesdiagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993.

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7. Cunha E. Autismo e Inclusão: psicopedagogia epráticas educativas na escola e na família. 2ª Ed.Rio de Janeiro: Wak Editora; 2010.8. Lucena Filho EL. A Aplicação do métodoTEACCH como intervenção psicoeducacional.Disponível em: < http://www.redepsi.com.br/p o r t a l / m o d u l e s / s m a r t s e c t i o n /item.php?itemid=1233> Acesso em 14/02/2011.

9. Porto O. Psicopedagogia Institucional: teoria,prática e assessoramento psicopedagógico. 3ª Ed.Rio de Janeiro: Wak; 2009.

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