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Entenda o dialeto no Brasil. Afinal ele realmente existe?

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Dialeto no Brasil

Dialeto no Brasil Página 1

O DIALETO NA LÍNGUA

PORTUGUESA

Por Vânia Macul

No dicionário Larousse de

língua portuguesa, a definição para

dialeto é: variante regional ou social de

uma língua. Será que no Brasil existe

mesmo essa variante, ou possuímos

uma língua homogênea?

Na obra Preconceito Lingüístico, de

Marcos Bagno, o primeiro mito

apresentado pelo autor é justamente

esse, a falsa idéia de que a língua

portuguesa brasileira possui uma

unidade defendida até por intelectuais

de renome. A sociolínguista Tânia

Alkimin afirma que o próprio conceito

de “língua” transmite essa idéia de

uniformidade, porém esse conceito não

deve ser considerado como uniforme,

já que a língua possui fatores que

determinam sua diferenciação.

Mas afinal, se é um mito e de

fato existe um dialeto brasileiro dentro

do nosso português, quais seriam?

Segundo a professora de língua

Portuguesa, Paula Senatore “definir o

que é dialeto já é complicado por si só,

e analisar o caso do Brasil, é um

complicação ainda maior, porém a

primeira idéia da definição do termo

em si, é que a diferença entre uma

língua e um dialeto é um exercito.

Então se você tem um exercito por trás

de uma variante, essa variante se torna

a língua oficial e não um dialeto.”

Explica a professora.

Para o professor Eduardo

Guimarães, da Unicamp, a definição de

dialeto é algo que causa ainda muito

questionamento entre os lingüistas, já

que cada pessoa pode falar o que

quiser. O professor explica que o

dialeto é um fenômeno com o qual não

estamos acostumados, por isso, não

existe ainda uma definição concreta

para

dialeto no Brasil. Como se trata de

uma língua que não é homogênea e

além do mais, ela está inserida em um

país que é muito grande, a língua acaba

dividindo-se em várias outras, porém

Dialeto no Brasil Página 2

essa variação na fala possui uma

proximidade entre os diversos falares

do Brasil e é por esse motivo que para

muitos lingüistas é o que faz com que

não exista a definição de dialeto no

país.

Em Dialeto Caipira, obra de

Amadeu Amaral, o autor irá definir as

zonas a que pertencem às matizes

dialetais diferentes. Segundo a obra de

Amaral, “o “dialeto brasileiro” é uma

expressão já consagrada até por autores

notáveis, porém até hoje não se sabe ao

certo em que consiste semelhante

dialetação, cuja existência é por assim

dizer evidente, mas cujos caracteres

ainda não foram discriminados.”

Para muitos estudiosos da

língua explicar o que é um dialeto não

é uma missão fácil. Em entrevista, o

autor Marcos Bagno explica que a

noção de "dialeto" existe desde a

Grécia Antiga e o termo vem sendo

usado sem muita consistência desde

então. “Quase sempre, no uso leigo,

"dialeto" assume uma conotação

pejorativa como uma espécie de

"sublíngua", um jeito "errado" de falar

a língua. Outro uso ainda mais

complicado do termo é o que chama as

línguas de povos, supostamente

"primitivos", como índios e africanos,

de "dialetos", como se fossem línguas

"defeituosas", que não dão conta de

expressar todas as sutilezas do

pensamento. "Línguas" seriam apenas

as dos colonizadores "civilizados"”,

afirmou. Por ser um termo complexo,

segundo Bagno “na sociolingüística,

preferimos falar de "variedades

lingüísticas", variedades e não

"variantes", para evitar os usos

pejorativos seculares de "dialeto".”

Tradicionalmente, nos estudos

lingüísticos, antes da linguística

moderna, se usava o termo "dialeto"

para designar uma variedade regional,

sobretudo rural, de alguma língua.

Porém atualmente esse termo

incorporou outros significados.

Com o desenvolvimento da

sociolingüística, desde a década de 60,

houve uma preocupação em verificar as

diferenças lingüísticas a partir de outros

critérios que não fosse apenas arraigado

a concepção antiga de dialeto

geográfico. Segundo a sociolingüista e

pesquisadora da Unicamp, Vandersi

Sant’Ana Castro, o dialeto não deve ser

Dialeto no Brasil Página 3

considerado uma variedade vulgar da

língua.

Muitas pessoas associam o

dialeto apenas à idéia do falar regional,

porém existem outros fatores que

influenciam na variação da língua. No

Brasil, a escolaridade está de certa

forma associada a uma situação

financeira, a fala culta difere-se da fala

popular, a partir dessa análise, os

pesquisadores também chamaram essa

variação de dialetal, ou dialeto social.

Para quem entende o que é

dialeto apenas se

baseando na realidade

européia, onde as

diferenças regionais são

bem marcadas, acaba

estranhando a

concepção de dialeto

social, que aqui existe.

Além do dialeto geográfico e do

dialeto social há também no Brasil, o

dialeto etário, que é o modo de falar de

pessoas que possuem diferentes idades

e o dialeto de gênero (sexo), que é a

diferença da fala do homem com a fala

da mulher, por exemplo, a linguagem

feminina costuma ser mais afetiva do

que a masculina, aqui no país, essa

diferença existe, mas não é tão

evidente. Em geral as pessoas têm uma

concepção de dialeto muito rígida e

para a pesquisadora é preciso abrir essa

concepção. “Na sociedade existe uma

rejeição por certas pronuncias, certas

estruturas sintáticas, como nois foi,

nois vai, que são vistas, entre aspas,

como erradas, mas na verdade não se

pode chamar de errado nada do que se

faz em língua, dentro de uma

comunidade. No português popular isso

é usual é a maneira que ele tem e a

língua comporta isso, pois o português

é isso também, é claro que esse tipo de

pronuncia é estigmatizada porque se

toma como

referencia o

português culto.

Há uma idéia

errônea de que o

português é

apenas o

português culto, mas não é. Os falantes,

não são os falantes da língua? Então

não há razão nenhuma para dizer que

os falantes do português popular são

menos dignos de usar a língua do que

os falantes cultos, porém existe o

preconceito”, afirma Castro.

A sociolinguista Tânia Alkimin

vai dizer que a primeira idéia que

temos que ter clara é que nenhuma

língua é igual e que em todas as

comunidades do mundo há variação na

fala. Apesar da à idéia de uniformidade

Dialeto no Brasil Página 4

que o termo “língua” carrega, ele na

verdade é um conceito geral para

nomear um conjunto de variedades, que

são conhecidas tecnicamente como

dialeto. Assim como Marcos Bagno,

Alkimim aponta o surgimento do termo

dialeto vindo da Grécia.

Dialeto, palavra grega, era

inicialmente utilizado na Grécia para

designar as variedades contidades na

fala grega. A língua na Grecia, não era

entendida como uma unidade, pois

cada republica independente possuía

sua forma particular

de fala, ou seja, cada

Estado diferente

possuía um tipo de

grego distinto.

Quando o termo

“dialeto” passou a

ser utilizado como conceito técnico e

cientifico aplicado ao uso da língua, ele

passou a ter um significado ambíguo

aplicável a outros usos.

Para Alkimin, as regiões que

concentram o poder econômico, o

predomínio cultural, o poder político e

os grupos letrados é as que são vistas e

usadas como a referência correta e a

mais elegante do uso da língua, assim

as outras formas dialetais são vistas

como erradas e inferiores.

O dialeto no Brasil não deve ser

encarado como um problema de

inadequação da fala e sim como

variedades que existem na língua e que

são determinadas culturalmente,

socialmente, economicamente e

politicamente. O dialeto pode

constituir-se em problema se for

analisado pelos professores como um

erro da fala a ser eliminado do

vocábulo dos alunos em fase de

alfabetização.

Para Tânia Alkimin é nas

escolas primárias e

nas escolas de

periferia, no período

de alfabetização,

onde o conflito da

língua é evidente, já

que a língua

ensinada, que é classificada como a

culta e a padrão é a mesma utilizada

pelos grupos de letrados, aos quais

essas crianças não têm acesso, pois

pertencem à outra variedade de língua,

ou seja, o dialeto que elas falam

contrasta de maneira muito forte com o

que é ensinado na escola. Alkimin

explica que não é impossível fazer esse

percurso e existe uma solução, mas é

necessário “[...] ter uma política de

ensino de língua educacional em geral,

porque na verdade, o maior preconceito

Dialeto no Brasil Página 5

está nos professores, que no fundo

desprezam e acham que as crianças

falam errado, que aquela fala é feia e

que deve ser concertada,” afirma. Esse

conflito na alfabetização não é um

problema específico do Brasil, isso

acontece com qualquer país e contrasta

sempre de modo significativo.

Segundo o livro A língua falada

e o ensino do português, escrito pelo

Prof. Ataliba T. de Castilho, USP, “[...]

os recortes lingüísticos devem ilustrar

as variedades socioculturais da Língua

Portuguesa, sem discriminação contra a

fala vernácula do aluno, isto é, de sua

fala familiar. A escola é o primeiro

contato do cidadão com o Estado, e

seria bom que ela não se assemelhasse

a “um bicho estranho”, a um lugar onde

se cuida de coisas fora da realidade

cotidiana. Com o tempo o aluno

entenderá que para cada situação se

requer uma variedade lingüística, e será

assim iniciado no padrão culto, caso já

não tenha trazido de casa.”

Como vimos a língua

portuguesa falada no Brasil não é

homogênea, pois possui variações

internas e muitas divisões são

atribuídas a ela. Talvez a melhor

maneira para que se possa conviver

com essa multiplicidade da fala é

analisar como e quando essas

diferenças são mais acentuadas e

classificá-las adequadamente em seu

contexto, seja elas por região ou de

acordo com seu aspecto variável

específico, o importante é saber

determinar quais os fatores causou essa

forma dialetal. Dessa forma pode-se

afirmar que, essa compreensão de

dialeto é algo complexo e específico

que só pode ser analisado mediante a

um estudo sistemático não apenas do

idioma, mas também dos fatores

externos e internos que o influenciam

diretamente ou indiretamente na fala de

qualquer grupo.

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Assista ao vídeo e descubra algumas

variedades da língua portuguesa falado no

Brasil

Vídeo