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Aulas UNIVESP – CURSO BRASIL COLÔNIA II – MINERAÇÃO Aula 1: Ouro como forma de regulação de valores em escala mundial: Até o início do séc.XX, até a Primeira Guerra Mundial esteve em vigência o padrão ouro na economia mundial. O padrão ouro estabelecia que com a generalização das notas e moedas de valor simbólico (símbolo ao qual é atribuído o valor). Até a primeira guerra havia a convenção de que os detentores de moedas simbólicas poderiam trocar pelo valor real correspondente (=ouro) imediatamente. Assim, todas as economias deveriam ter reservas de ouro suficiente para converter os papéis moedas. O ouro passou a ser uma espécie de padrão regulador da economia, da riqueza real. Após a primeira guerra mundial esse sistema econômico financeiro (padrão ouro) sofreu um colapso e foi substituído pelo novo sistema definido nas Convenções de Breton Woods (1944), nas quais ficou estabelecido que o padrão ouro seria articulado ao padrão dólar. O valor do dólar passou a ser o instrumento de regulação do valor das outras moedas, mas o dólar, por seu turno, estaria condicionado ao valor ouro – assim, fez-se uma mescla do sistema antigo com inovações. O sistema de Breton Woods foi abandonado em 1971, mas há resquícios dele (por exemplo, hoje quando viajamos para qualquer país trocamos a moeda nacional pelo dólar e, por sua vez, trocamos este pela moeda do país de destino. Mas isso não é necessário, pois é possível fazer a conversão direta da moeda nacional na moeda do país de destino sem a intermediação do dólar). Livro: O longo século XX: dinheiro, poder... (Giovani Arrighi): Sistema de hegemonias: séc.XV-XVI hegemonia das cidades-estados italianas: Veneza, Gênova e Florença -> séc. XVII-XVIII hegemonia da Holanda -> séc.XIX (1801) hegemonia da Grã-Bretanha -> XX hegemonia dos EUA. A história do advento da mineração na América portuguesa (séc.XVII) se relaciona com o exercício de um determinado poder político. Segundo o sistema apresentado por Giovani Arrigue, o

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Aulas UNIVESP – CURSO BRASIL COLÔNIA II – MINERAÇÃO

Aula 1:

Ouro como forma de regulação de valores em escala mundial:

Até o início do séc.XX, até a Primeira Guerra Mundial esteve em vigência o padrão ouro na economia mundial. O padrão ouro estabelecia que com a generalização das notas e moedas de valor simbólico (símbolo ao qual é atribuído o valor). Até a primeira guerra havia a convenção de que os detentores de moedas simbólicas poderiam trocar pelo valor real correspondente (=ouro) imediatamente. Assim, todas as economias deveriam ter reservas de ouro suficiente para converter os papéis moedas. O ouro passou a ser uma espécie de padrão regulador da economia, da riqueza real.

Após a primeira guerra mundial esse sistema econômico financeiro (padrão ouro) sofreu um colapso e foi substituído pelo novo sistema definido nas Convenções de Breton Woods (1944), nas quais ficou estabelecido que o padrão ouro seria articulado ao padrão dólar. O valor do dólar passou a ser o instrumento de regulação do valor das outras moedas, mas o dólar, por seu turno, estaria condicionado ao valor ouro – assim, fez-se uma mescla do sistema antigo com inovações. O sistema de Breton Woods foi abandonado em 1971, mas há resquícios dele (por exemplo, hoje quando viajamos para qualquer país trocamos a moeda nacional pelo dólar e, por sua vez, trocamos este pela moeda do país de destino. Mas isso não é necessário, pois é possível fazer a conversão direta da moeda nacional na moeda do país de destino sem a intermediação do dólar).

Livro: O longo século XX: dinheiro, poder... (Giovani Arrighi): Sistema de hegemonias: séc.XV-XVI hegemonia das cidades-estados italianas: Veneza, Gênova e Florença -> séc. XVII-XVIII hegemonia da Holanda -> séc.XIX (1801) hegemonia da Grã-Bretanha -> XX hegemonia dos EUA.

A história do advento da mineração na América portuguesa (séc.XVII) se relaciona com o exercício de um determinado poder político. Segundo o sistema apresentado por Giovani Arrigue, o período da mineração no Brasil não se relaciona com o período de hegemonia da Grã-Bretanha.

A descoberta das minas de prata de Potosí (hoje na Bolívia) em 1545 no império espanhol acirra a expectativa portuguesa de descoberta de minério no Brasil. Em 1549, instaura o primeiro governo geral no Brasil – tentativa de colonização efetiva – sistema de colonização duradoura, coisa que o sistema de capitanias hereditárias não tinha logrado ser. As datas mencionadas não foi coincidência.

Entre 1693-1695 (final do séc.XVII) foram descobertas as primeiras jazidas na região das Minas Gerais. Por que as descobertas ocorreram apenas no séc.XVII? Alguns autores relacionam esse fato com uma ‘crise generalizada’ nesse século. Essa crise não foi uniforme em todas as partes. Alguns autores falam apenas em contração da atividade econômica: declínio das atividades comerciais. A que mais reage à diminuição do ritmo do comércio

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mundial é a Inglaterra que reage aos efeitos negativos de uma situação geral. O ciclo revolucionário inglês que vai de 1640 a 1688 é de suma importância para a recuperação da Inglaterra – desenvolvimento via comércio (atos de navegação, governo de Crowell, tratados com Portugal). Esse desenvolvimento provoca uma nova procura por metais preciosos que haviam sido desvalorizados devido à crise. A Crise havia diminuído a procura por metais na América portuguesa, mas após a recuperação da Inglaterra a procura retorna. a expansão comercial inglesa aumenta a necessidade de metais preciosos.

1580-1640: União Ibérica: depois de 1640 Portugal retorna ao cenário internacional em uma situação subordinada, incapaz de usufruir de todo o seu potencial.

Em 1719 são descobertas as primeiras jazidas no Mato Grosso, em torno a Cuiabá.

Em 1722 são descobertas as jazidas em Goiás, região de Goiás Velho.

Já em 1729 são descobertas as jazidas de Diamantes no Serro Frio, em Minas Gerais.

O Tratado de Methuen, de 1703, é um marco nas relações desiguais do séc.XVIII. Esse tratado estabelecia a prioridade dos vinhos portugueses no mercado inglês e a prioridade dos tecidos ingleses no mercado português. O peso da produção têxtil na Inglaterra é muito maior do que o peso da produção de vinhos em Portugal.

A sociedade das minas:

A descoberta de ouro nas Minas Gerais implica crescimento demográfico, ocupação de território, a abertura de um mercado consumidor para gêneros de subsistência (gêneros alimentícios vindo do nordeste e do RJ), aumento do abastecimento de escravos, esvaziamento parcial de outros setores produtivos da colônia (ex.: setor açucareiro perde recursos, mão de obra), inflação (aumento dos preços dos escravos, de alimentos), crises de subsistência.

Auge da mineração – 1750-1760.

A decadência da mineração não corresponderá à decadência das sociedades das Minas Gerais, pois a economia das Minas foi diversificada: agricultura, pecuária.

A economia mineira tinha um potencial altamente dinamizador: movimentou o comércio de escravos, de manufaturados, de gêneros alimentícios. Por outro lado, a mineração apresenta baixa produtividade, pois não é capaz de fomentar produções locais atreladas à mineração, por exemplo, uma agricultura extensiva. A produção local será basicamente a extração e refino do ouro. A atividade mineradora tinha altos custos: mão de obra, tributos. Apesar de a possibilidade de extração ser mais ampla, mais ‘democrática’ que a plantation, mas o lucro era mais baixo.

Barroco na Minas Gerais:

Barroco: estilo artístico arquitetônico.

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Mas pode ser a manifestação de uma sociedade que quer externalizar suas características para projetá-las na esfera pública.

Aula 3 – O reformismo ilustrado e a América portuguesa

No final do séc.XVII (1675-90), ainda no reinado de D.Pedro II em Portugal, alguns estadistas portugueses diagnosticaram as mazelas da situação de Portugal frente às demais potências como, por exemplo, a sua grande dependência de produtos estrangeiros (tecidos e ferro) e a sua balança comercial desfavorável. A partir daí, propuseram a redefinição desse quadro a partir do desenvolvimento de uma política de industrialização no país – idéia do Conde de Ericeia. Entretanto, tal política não foi levada a cabo, pois logo foram descobertas as minas de ouro no Brasil e Portugal vislumbrou a possibilidade de enriquecimento imediato.

Já no reinado de Dom João V (1706-1750), o seu diplomata Alexandre de Gusmão diagnostica as mazelas dos conflitos coloniais com a Espanha e a França (invasões francesas no Rio de Janeiro em 1711; pretensões francesas na Amazônia; conflito com a Espanha após a fundação da colônia do Sacramento no Rio da Prata, hoje corresponde à cidade de Colônia no Uruguai; a colônia do Sacramento foi fundada pelos portugueses em 1680 e consiste numa praça fortificada, mas nunca consegue se consolidar como uma possessão portuguesa). Alexandre de Gusmão será o principal mediador da assinatura do Tratado de Madri de1750 (fins do reinado de Dom João V) que consistiu numa forma de atenuar as pressões exercidas pelo bloco França-Espanha nos domínios coloniais portugueses, pois estas já eram vistas como essenciais para a recuperação de Portugal.

Na primeira metade do séc.XVIII o comércio colonial de Portugal era feito, principalmente, por comerciantes ingleses.

No reinado de D.José I, que se inicia em 1750, persistem as análises de que Portugal precisava superar a grande dependência na qual se encontrava e, agora, tais perspectivas impregnarão a Corte e se tornarão prioritárias. Em 1750, estamos no auge da exploração aurífera. O homem forte do reinado de D.José I será seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (=Marquês de Pombal, a obtenção desse título é de 1769).

Após o terremoto que atingiu Lisboa em 1755, Pombal foi visto com o reconstrutor de Lisboa. Há uma simbologia da reconstrução de Lisboa como a reconstrução do próprio Império. Esse ‘reformismo ilustrado’ português terá em Pombal sua figura central.

Pombal expulsa os jesuítas de Portugal e de seus domínios em 1759.

Adendo: o conceito moderno de ‘Revolução’ foi cunhado entre a Revolução Francesa 1789 e a revolução russa de 1917. Antes ‘revolução’ era sinônimo de ‘reforma’ que por sua vez significa melhorar para manter a essência, para não mudar substancialmente.

O reformismo ilustrado consistiu em políticas imperiais levadas a diante pelas monarquias para manter seu poderio. Essas políticas eram embasadas em uma racionalidade. Os políticos se apropriam da lógica do pensamento iluminista para aplicá-lo na gestão dos impérios. Assim, essas políticas estão assentadas em uma inspiração filosófica.

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O Rio de Janeiro se torna capital do Brasil em 1763, pois está mais próximo às minas, é uma região de grande desenvolvimento econômico, está mais próximo da embocadura do Rio da Prata e pode ajudar na defesa da Colônia do Sacramento.

Companhias de comércio são criadas para monopolizar o comércio dos produtos da colônia.

Uma vez que Pombal havia sido embaixador do Brasil em Londres tinha ciência de como a submissão de Portugal a Inglaterra era danosa. Dessa forma, traça sua política de forma a nacionalizar o comércio da colônia, já que este estava nas mãos de comerciantes ingleses.

Por que os jesuítas são expulsos do império português em 1759 e, depois, do império espanhol?

Porque os jesuítas eram vistos como detentores de um poder concorrente. Desde a criação da Companhia de Jesus em 1530, eles são parceiros da expansão imperial das monarquias. Atuaram no Brasil desde 1549 (os primeiros chegaram junto com Tomé de Sousa).No séc.XVIII essa lógica se modifica, eles serão vistos como concorrentes, pois não interessa à política regalista (=concentração do poder nas mãos do rei) a existência de um grupo que detém não apenas uma grande autonomia, mas também um poder autônomo. Eram visto como um Estado dentro do Estado.

A Companhia de Jesus foi extinta formalmente pelo Papa em 1773. Os jesuítas continuaram a existir na prática e se refugiaram na Rússia. Após, em 1814, no contexto de uma Europa contra-revolucionária, reacionária, pós-napoleônica, o Vaticano legaliza novamente a Companhia de Jesus.

D.José I morre, o sucede a sua filha Dona Maria I. Pombal é afastado. O reformismo em Portugal continua após a morte de D.José. Dona Maria só declarada incapacitada em 1792, quando passa a governar seu filho o Príncipe Regente João. Só será D.João VI em 1818 com a morte de sua mãe.

No reinado de Dona Maria as linhas gerais do reformismo se mantiveram, pelo menos até 1808 (até a vinda para o Brasil): recuperar o poderio, aproveitar melhor as colônias. Os ministros desse reinado foram Martim de Melo Castro e Rodrigo de Sousa Coutinho.

Aula 4: