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Aula 01 Direito Aplicado III - Jair Vanderlei Krewer - UNIGRAN Olá pessoal! Sejam bem-vindos a nossa primeira aula de Direito Aplicado III. Temos muito trabalho pela frente para familiarizar o futuro contador com os institutos que regulamentam as relações individuais de trabalho. Para compreendermos esses institutos precisamos saber como surgiram, quais as fontes legais e regulamentares que as os disciplinam e quais os princípios aplicáveis. Então, não percamos tempo e vamos direito ao trabalho. Mas antes, vamos analisar os objetivos e verificar as seções que serão desenvolvidas ao longo desta aula. Bom trabalho a todos! NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer os acontecimentos que marcaram o surgimento do Direito do Trabalho no Brasil e no mundo; • identificar as principais fontes do Direito do Trabalho; • compreender os princípios que informam o Direito do Trabalho. Seções de estudo Seção 1 História geral do Direito do Trabalho Seção 2 Fontes do Direito do Trabalho Seção 3 Princípios de Direito do Trabalho 11

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  • Aula01Direito Aplicado III - Jair Vanderlei Krewer - UNIGRAN

    Ol pessoal! Sejam bem-vindos a nossa primeira aula de Direito Aplicado III. Temos muito trabalho pela frente para familiarizar o futuro contador com os institutos que regulamentam as relaes individuais de trabalho. Para compreendermos esses institutos precisamos saber como surgiram, quais as fontes legais e regulamentares que as os disciplinam e quais os princpios aplicveis. Ento, no percamos tempo e vamos direito ao trabalho. Mas antes, vamos analisar os objetivos e verifi car as sees que sero desenvolvidas ao longo desta aula.

    Bom trabalho a todos!

    NOESINTRODUTRIAS

    Objetivos de aprendizagem

    Ao trmino desta aula, vocs sero capazes de:

    conhecer os acontecimentos que marcaram o surgimento do Direito do Trabalho no Brasil e no mundo;

    identificar as principais fontes do Direito do Trabalho; compreender os princpios que informam o Direito do Trabalho.

    Sees de estudo

    Seo 1 Histria geral do Direito do Trabalho Seo 2 Fontes do Direito do Trabalho Seo 3 Princpios de Direito do Trabalho

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  • Direito Aplicado III - Jair Vanderlei Krewer - UNIGRAN

    SEO 1 Histria geral do Direito do Trabalho

    Antes de iniciar a apresentao deste histrico quero tranquiliza-los, pois acredito que em um primeiro momento podem estar preocupados com a quantidade de datas e informaes sobre a origem do Direito do Trabalho. No entanto, as datas aqui apresentadas no necessitam de memorizao, tendo em vista que o objetivo deste histrico o de apontar um norte a vocs, evitando, dessa forma, que caiam de paraquedas no estudo do Direito do Trabalho. Neste prisma, minha maior preocupao o entendimento de cada um de vocs.

    Diante disso, quero enfatizar que as normas do direito dos trabalhadores no surgiram de uma efmera descoberta de um legislador subitamente despertado por um senso de justia. Essas normas, devidamente garantidas, na sua coercibilidade pelo Estado, so frutos de um longo e complexo desenvolvimento e maturao do capitalismo. Sua origem aponta para o Cdigo de Hamurabi, prescrevendo salrios profissionais, at mesmo a Bblia, que dispe sobre o repouso no stimo dia.

    Sabemos que o homem sempre trabalhou, seja para obter seus alimentos, pois no tinha outras necessidades em face do primitivo modo de vida, seja para se defender dos animais ferozes e de outros homens, quando se iniciou na fabricao de armas e instrumentos de defesa. Entretanto, o nosso estudo, no pretende retroagir a tal ponto.

    Ns nos ocuparemos de um cenrio histrico mais atual, que surgiu com o capitalismo dentro das estruturas feudais cujos germes mais constitudos eram as corporaes de ofcio.

    Para efeitos didticos, esta aula foi dividida em dois pontos especficos da histria do Direito do Trabalho: o primeiro, tratando da histria geral, abordando os aspectos mais importantes no cenrio internacional e o segundo, sobre a histria do Direito do Trabalho no Brasil.

    Histria GeralA Sociedade Pr-industrialNa sociedade pr-industrial no h um sistema de normas jurdicas

    de direito do trabalho. Predominada a escravido, na qual o trabalhador era considerado simplesmente uma coisa, um bem, sem qualquer direito trabalhista.

    Na servido no era diferente, embora os trabalhadores recebessem alguma proteo, no tinham uma condio livre, pois eram obrigados a trabalhar nas terras pertencente aos seus senhores (feudalismo).

    Com o advento das corporaes de ofcio, houve uma transformao, dando maior liberdade ao trabalhador. Nas corporaes de arteses agrupavam-se todos os arteses do mesmo ramo em uma localidade. Seus membros eram os

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    mestres, os companheiros e os aprendizes. Possuam, com os seus trabalhadores, uma relao de tipo bastante autoritrio, na qual visavam mais a realizao dos seus interesses do que proteo dos seus trabalhadores. Houve, no entanto, uma transformao: a maior liberdade do trabalhador.

    Os mestres eram os proprietrios das oficinas, que chegavam a essa condio depois de aprovados na confeco de uma obra mestra (so os empregadores de hoje). Os companheiros eram trabalhadores livres que ganhavam salrios dos mestres. Os aprendizes eram os menores que recebiam dos mestres os ensinamentos metdicos do oficio ou da profisso.

    A locao era outro tipo de relao de trabalho. Podia ser: locao de servios, que era um contrato pelo qual uma pessoa se obriga a prestar servio a outra durante certo tempo mediante remunerao ( apontada como precedente da relao de emprego moderna) locao de obra ou empreitada, que o contrato pelo qual algum se obriga a executar uma obra a outra pessoa mediante remunerao.

    A sociedade industrial e o trabalho assalariadoA inveno da mquina e sua aplicao na indstria provocaram a

    revoluo dos mtodos de trabalho e, consequentemente, nas relaes entre patres e trabalhadores. A mquina de fiar, o tear mecnico, a mquina a vapor multiplicando a fora de trabalho, tudo isso importou na reduo da mo-de-obra porque, mesmo com o aparecimento das grandes oficinas e fbricas, para obter determinado resultado na produo no era necessrio to grande nmero de operrios.

    Diante dessa situao, verificaram-se movimentos de protesto e at mesmo verdadeiras rebelies, com a destruio das mquinas, mas, posteriormente, com o desenvolvimento dos sistemas de comrcio, em especial, com a adoo da mquina a vapor nas embarcaes, estenderam-se os mercados e, consequentemente, as indstrias se desenvolveram, admitindo um maior nmero de trabalhadores, mas seus salrios eram baixos porque, com o antigo sistema de artesanato, cada pea custava muito mais caro do que com a produo em srie.

    Nesse sentido, em relao a sociedade pr-industrial, a completa libertao do trabalhador veio a se fazer mais tarde, como consequncia da Revoluo Industrial e da generalizao do trabalho assalariado, numa nova luta, no mais contra o senhor da terra nem contra o mestre da corporao, e sim contra um poder muito maior, o patro, o capitalista amparado pelo Estado.

    No mesmo contexto, surgem os direitos individuais, ditos de primeira gerao, primando pela liberdade e igualdade dos indivduos, sendo, a Revoluo Francesa foi o primeiro grande movimento genuinamente popular e de massa na articulao de reivindicaes cadentes, situando-se no plano poltico e econmico, se vinculando, de modo estreito ao trabalho, sendo responsvel historicamente pelo

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    advento do trabalho livre. Nesse sentido, acentua Russomano (2002, p. 16), que foi graas Revoluo Francesa, nas suas consequncias histricas, o trabalho se tornou livre e foi possvel admitir-se sua prestao, em proveito de outrem, mediante contrato, isto , sem nenhuma subordinao pessoal, sem nenhuma subordinao do trabalhador a no ser aquela que resulta do dever de cumprir as obrigaes espontaneamente assumidas, dentro do esquema hierrquico da empresa de que participa.

    No obstante, a liberdade e a igualdade no passavam de conceitos abstratos e permitiram que se institusse uma nova forma de escravido, com o crescimento da fora dos privilegiados da fortuna e a servido e a opresso dos mais dbeis.

    Os operrios trabalhavam diariamente muito alm da capacidade normal do indivduo, percebendo salrios completamente insignificantes, que aviltavam a dignidade da pessoa humana. Como consequncia, criou-se um inframundo da populao operria, que vivia margem do Estado e da sociedade, sem o mnimo de dignidade.

    Diante dessa situao, o Estado Liberal portava-se como um mero espectador, pois sua funo seria apenas de garantir a ordem social e poltica, com a fora organizada, com os tribunais distribuindo justia e dando aos particulares ampla liberdade de ao econmica. Com essa inrcia do Estado, instalou-se a ditadura do capitalismo, que, em nome da liberdade e igualdade, tornou-se o senhor supremo de toda a sociedade trabalhadora.

    Comearam, ento, os movimentos no sentido de sobrepor o coletivismo ao individualismo, onde se deixou de considerar o homem economicamente isolado, para focalizar o homem social, cujo verdadeiro estado na natureza o estado em sociedade. Surgiram, ento, os direitos coletivos, chamados de direitos de segunda gerao.

    Surge, ento, o Estado Social, que comeou a mitigar a diferena entre classes e grupos sociais, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do interesse individual, quando este contrariasse o interesse da coletividade.

    Temos, ento, a figura do Estado intervencionista, que impem regras de interesse geral sobre o particular, sem que, contudo, se anule o indivduo. As primeiras medidas marcantes visavam principalmente problemas de sade, higiene e salrios. Assim, na Frana suprimiu-se a priso por dividas, tornou-se impenhorveis os salrios, assegurou-se s vitimas de acidentes o direito a uma indenizao e protegeu-se o trabalhador contra a explorao industrial no mercado de trabalho. No mesmo sentido, na Inglaterra, diminuiu-se a idade com que as crianas podiam trabalhar nas fbricas, criou-se a inspeo nas oficinas, foram aprovadas as primeiras medidas de segurana no trabalho e estabeleceu-se meia jornada de trabalho paras as crianas.

    No plano do Direito Constitucional, dois importantes diplomas marcaram profundamente a histria dos direitos trabalhistas: a Constituio Mexicana de 1917 e a famosa Constituio Alem de Weimar, em 1919, que se fez no modelo das Constituies Sociais europeias.

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    Alm desse arcabouo legislativo que vinha despontando, a ao da Igreja foi marcante para a materializao das normas trabalhistas. Foi por meio do Papa Leo XIII, que publicou a Encclica Rerum Novarum, proclamando a necessidade da unio entre as classes do capital e do trabalho, que necessitam uma da outra, no podendo haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital (NASCIMENTO, 2004).

    Amide, os trabalhadores tambm tomavam posio para pleitear os benefcios que lhes eram devidos. Provocaram-se greves, criaram-se organizaes proletrias, travaram-se por vezes choques violentos entre essas massas e as foras policiais. No campo poltico a voz dos trabalhadores se fez ouvir em parlamentos, quer atravs de lideres operrios, quer atravs de polticos que se fizeram porta-vozes de seus anseios.

    Finalmente surge o Tratado de Versalhes, diploma que pretendia estabelecer algumas diretrizes universais sobre o trabalho, que foram, de uma parte, conquistas gerais oriundas da luta de classes travada, at ento, nos pases industrializados e, de outra parte, constituram regras mnimas a serem observadas na concorrncia entre o capitalismo dos diversos pases, para que seus produtos tivessem um mnimo de custos idnticos, no mercado internacional, quanto remunerao do trabalho.

    Diante deste arcabouo de ideias, podemos concluir que o direito do trabalho nasce com a sociedade industrial e o trabalho assalariado e as principais causas que determinaram o seu aparecimento so econmicas (Revoluo Industrial), polticas (o Estado passou a regulamentar as relaes de trabalho) e jurdicas (o sindicalismo e o direito de greve).

    Histria do Direito do Trabalho no BrasilEncontramos no Imprio e at mesmo nos tempos de colnia leis com

    dispositivos e contedo de carter trabalhista, mas nenhuma delas pode ser considerada como fonte de nossa atual legislao, porque nem representavam um sistema, nem tiveram qualquer encadeamento com as leis que muito mais tarde apareceram.

    A legislao social do Brasil comeou, decididamente, aps a revoluo de 1930, que trouxe em seu bojo uma srie de reformas sociais e estabeleceu um programa com vastos benefcios aos trabalhadores. O Governo Provisrio, que foi constitudo sob a chefia do ento Presidente da Repblica, Getlio Vargas, criou o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, que principiou realmente a elaborao das nossas leis.

    A partir da, sob a orientao poltica de Getlio Vargas, comeou-se a pr em execuo uma srie de medidas legais destinadas a colocar nossa legislao em consonncia no s com nosso estgio econmico-social como com a legislao trabalhista vigente nos pases em que o proletariado era mais beneficiado.

    Surgiu, ento, uma multiplicidade de normas legais no campo do trabalho, sancionadas e decretadas em distintas fases da nossa evoluo jurdico-poltica, confundindo seus destinatrios, interpretes e aplicadores. O quadro estava a exigir o ordenamento das respectivas disposies num nico texto.

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    Fonte:

    Nesse sentido, foi aprovada, em 1 de maio de 1943, a Consolidao das Leis do Trabalho - CLT (Decreto-lei n 5.452), englobando num nico documento normativo todas as normas trabalhistas. Isso proporcionou o conhecimento amplo dos direitos e obrigaes trabalhistas, tanto aos interpretes e aplicadores das leis, quanto aos seus destinatrios, quais sejam, os empregadores e empregados.

    A CLT cumpriu, assim, importante misso educativa, a par de ter gerado o clima propcio industrializao do Pas, sem conflitos trabalhistas violentos.

    Convm analisarmos aqui, os principais reflexos do movimento de 1964, que se fizeram sentir imediatamente sobre as leis trabalhistas, que passaram a ter um carter econmico, subordinadas s metas prioritrias que se estenderam desde essa poca at os nossos dias, dentre as quais o combate inflao.

    Durante esse perodo merece destaque a criao da famosa poltica salarial do Governo, na qual os aumentos salariais, antes ajustados em negociaes coletivas ou arbitrados pela justia do Trabalho a fatores de reajustamento, passaram a ser padronizados segundo o modelo oficial ditado pelo governo.

    Foi nesse perodo, tambm, que foi institudo, pela lei n 5.107, de 1966, o Fundo de Garantia do Tempo de Servio (FGTS), destinado a promover o desenvolvimento de recursos captados para aplicao do sistema habitacional e que repercutir sobre a indenizao e a estabilidade no emprego. Foi criado tambm o Programa de Integrao Social, cujo fim a regulamentao da participao do trabalhador no desenvolvimento global das empresas, sem que possa definir-se como um sistema de participao nos lucros.

    Finalmente, merece destaque a Constituio Federal de 1988. Um dos aspectos positivos foi o redimensionamento das relaes entre os sindicatos e o Estado atravs da adoo de dois princpios bsicos, a auto-organizao sindical e a autonomia de administrao dos sindicatos, o primeiro permitindo a livre criao dos sindicatos, sem a necessidade de previa autorizao do Estado, o segundo assegurando aos sindicatos liberdade para que possam praticar, segundo as prprias decises, os atos de interesse interno.

    Alm disso, a negociao coletiva foi incentivada como meio apto para soluo de questes sobre novas condies de trabalho e o direito de greve assumiu dimenses at ento desconhecida em nosso direito positivo.

    Concluindo esse ponto, podemos afirmar que os fatores que influram na formao do direito do trabalho no Brasil so externos e internos.

    Entre as influncias advindas de outros pases e que exerceram, de certo modo, alguma presso no sentido de levar o Brasil a elaborar leis trabalhistas,

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    So fontes do Direito do Trabalho:

    A Cons tuio Federal de 1988; A Consolidao das Leis do Trabalho; As diversas leis esparsas que tratam de matria trabalhista; Os decretos, medidas provisrias e portarias; As sentenas norma vas da jus a do trabalho; A jurisprudncia; As convenes e acordos cole vos; O regulamento interno das empresas; O laudo arbitral; Os usos e costumes; Os tratados internacionais; As convenes da Organizao Internacional do Trabalho (OlT).

    merecem destaque as transformaes ocorridas na Europa e a crescente elaborao legislativa de proteo ao trabalhador em muitos pases. Tambm pesou o compromisso internacional assumido pelo nosso Pas ao ingressar na Organizao Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes (1919), propondo-se a observar normas trabalhistas.

    Os fatores internos mais influentes foram o movimento operrio de que participaram imigrantes com aspiraes anarquistas, caracterizado por inmeras greves em fins do sculo XIX e inicio do sculo XX; o surto industrial, efeito da primeira Grande Guerra Mundial, com a elevao do nmero de fbricas e de operrios e a poltica trabalhista de Getlio Vargas.

    SEO 2 Fontes do Direito do Trabalho

    Fonte, numa concepo bastante simples, significa nascente, origem, causa. Podemos considerar como fontes do Direito do Trabalho todas as formas de manifestao, aceitas ou criadas, dessa modalidade do direito, que contribuam para a criao de suas normas jurdicas. A Constituio Federal, por exemplo, uma fonte de Direito do Trabalho, pois, entre seus dispositivos, despontam diversas normas relativas ao trabalho. As fontes do Direito do Trabalho do origem e formam a base de sustentao das normas jurdicas trabalhistas, e de sua plena interpretao.

    As fontes costumam ser classificadas de diversas maneiras pelos diferentes autores. De maneira geral, elas podem ser divididas em fontes materiais e formais (RUSSOMANO, 2002).

    Fontes materiais so aquelas que emanam dos chamados fatores sociais, econmicos, polticos, enfim, histricos. Tais fatores no se constituem geradores diretos das normas jurdicas, mas exercem grande influncia no seu desenvolvimento.

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    ATENO: A sentena prolatada no dissdio cole vo, quando a Jus a do Trabalho exercita o poder norma vo, ir produzir efeitos que a ngem todos os que, no momento, eram empregados das empresas, bem como os que ainda o sero, durante a vigncia da sentena.

    Fontes formais, como o prprio nome indica, dizem respeito s formas pelas quais as normas so criadas. Dentro das fontes formais podem-se classificar as fontes quanto sua origem, isto , de direito interno e de direito internacional. As primeiras podem ser, por sua vez, estatais e no estatais, sendo elemento diferenciador a participao, ou no, do Estado, na produo da norma. Tambm quando se fala em fontes estatais, significa que estas foram produzidas pelo Poder Pblico, que as originou pelas atuaes legislativas, executivas e judicirias.

    Assim, as fontes formais de direito interno de produo estatal so aquelas que emanam dos poderes constitudos.

    O Poder Legislativo contribui com a Constituio Federal e leis relativas matria trabalhista. A Constituio traz dezenas de princpios fundamentais do Direito do Trabalho, em especial, no artigo 7 (Direito Individual do Trabalho); no artigo 8 ao 11 (Direito Coletivo do Trabalho); e no artigo 111 ao 117 (Direito Processual do Trabalho), sem se olvidar do artigo 10 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (ADCT), que nos apresenta algumas regras especiais de estabilidade.

    A Consolidao das Leis do Trabalho, que doravante ns chamaremos apenas de CLT, no um cdigo, como j explicamos na seo anterior, mas a reunio organizada e sistematizada de diversas leis preexistentes, relativas ao trabalho. At hoje o principal diploma legal, no obstante as inmeras alteraes nas relaes de trabalho, o que a torna objeto de inmeras crticas. A CLT traz, em seus 922 artigos, matria relativa ao Direito Individual, ao Direito Coletivo, ao Direito Processual e ao Direito Administrativo do Trabalho.

    Diante da velocidade das transformaes do mercado de trabalho, h a necessidade de novas leis que possam regular as novas situaes, surgindo da as leis esparsas, por exemplo, a Lei do Descanso Semanal Remunerado (DSR), n 605/49, do Fundo de Garantia do Tempo de Servio, FGTS, n 5.107/66, do trabalho do domstico, n 5.859/72, do trabalho temporrio, n 6.019/74, dentre outras.

    Por seu turno, o Poder Executivo cria decretos, medidas provisrias e portarias ministeriais, que tambm so meios de normatizar sobre relaes de trabalho.

    O Poder Judicirio prolata sentenas normativas, que so decises dos Tribunais Regionais ou do Tribunal Superior do Trabalho (TST), proferidas em dissdios coletivos, decorrentes do exerccio do poder normativo conferido Justia do Trabalho (artigo 114, 2, CF).

    Com efeito, o poder normativo peculiar Justia do Trabalho, que, utilizando-se dele, pode criar normas e condies para a soluo de conflitos coletivos.

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    A jurisprudncia, tambm considerada fonte de Direito do Trabalho, emanada do Poder Judicirio, representada pelo conjunto de decises reiteradas sobre a mesma questo, e que serve de diretriz para soluo de casos futuros e iguais.

    Esta, por sua vez, uma das formas mais importantes de manifestao do Direito do Trabalho, e se expressa por meio das inmeras smulas do TST e dos demais Tribunais Superiores. inegvel a vantagem que a jurisprudncia tem sobre as demais fontes de Direito do Trabalho, ao menos no que tange s estatais, pois os tribunais podem oferecer solues s aspiraes sociais com inigualvel velocidade.

    As fontes formais de Direito Privado, de produo no estatal, so representadas pelas convenes e acordos coletivos, tambm peculiares do Direito do Trabalho, que se originam diretamente das prprias partes envolvidas, sem a interferncia do poder estatal, e que so modos de soluo de conflitos entre o empregado e o empregador, representados, ou no, pelos seus respectivos sindicatos.

    Tais instrumentos tm a natureza normativa e se diferenciam pelas partes e pelo mbito de aplicao das clusulas institudas. As normas produzidas pelas convenes e acordos so imperativas (obrigatrias) e atingem os grupos de trabalhadores e as empresas de cada categoria econmico-profissional, com fora de lei (artigo 611 e pargrafos da CLT).

    Ilustrando tais diferenas entre conveno coletiva e acordo coletivo, Amauri Mascaro Nascimento (2004, p. 516) ensina que os entendimentos so feitos diretamente com um empregador ou com dois ou mais empregadores. O acordo coletivo no ajuste intersindical porque num dos lados, o patronal, no atua o sindicato. Em consequncia, o mbito de aplicao das convenes coletivas maior que o dos acordos coletivos, uma vez que se reflete sobre todos os membros da categoria, enquanto que os acordos coletivos envolvem apenas o pessoal da empresa que o fez com o sindicato dos trabalhadores. A conveno destinada matria mais gera e o acordo matria mais especfica. Como se v uma instrumento normativo de efeitos sobre a categoria e outra sobre uma ou mais de uma empresa da categoria, mas no sobre toda a categoria. O acordo coletivo destina-se a resolver problemas na empresa. A conveno coletiva na categoria.

    Os regulamentos internos das empresas so fontes no estatais de Direito do Trabalho por estabelecerem, de modo normativo, as condies em que o trabalho ser executado, a conduta profissional e outros procedimentos, em geral criados unilateralmente. Tais regulamentos integram as condies de trabalho; portanto, sofrem as mesmas restries no que tange a possvel alterao, isto , suas alteraes somente sero vlidas se decorrentes do mtuo consentimento e, ainda assim, no causarem prejuzos ao empregado, conforme se depreende do artigo 468 da CLT. Os chamados planos de cargos e salrios das empresas constituem-se, tambm, em fonte de Direito do Trabalho, por fazerem parte integrante do contrato de trabalho, como se fossem componentes dos regulamentos internos.

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    J o laudo arbitral deciso de terceiro, indicado pelas partes, com fora normativa. Os conflitos coletivos podem ser solucionados por laudo arbitral, hiptese que exige compromisso estipulado entre as partes.

    Os usos e costumes tambm so fonte do Direito do Trabalho, mas de mbito restrito. Constitudos por procedimentos comuns em determinado grupo, empresa ou local, ganham a condio de normas pela repetio continuada e da submisso espontnea com que seus agentes os aceitam. Algumas normas legais atuais so fruto de usos ou costumes longamente praticados, como a gratificao natalina, que por muito tempo foi concedida pela maioria das empresas como um ato voluntrio, incorporando-se aos costumes, tornando-se, por fim, uma norma obrigatria; alis, os usos e costumes trazem intrinsecamente a habitualidade como elemento caracterstico.

    Por fim, os tratados e convenes internacionais so fontes de Direito Internacional. As convenes internacionais, a rigor, no so fontes diretas nem coercitivas, mas a sua natureza exortativa, com carter de sugesto ou recomendao, tem levado as autoridades e os legisladores dos pases a acatarem suas propostas, tornando-se normas obrigatrias, desde que tenham seu regular ingresso no ordenamento jurdico ptrio.

    O principal destaque so as Convenes Internacionais da OIT, que tem sede em Genebra, na Sua, e foi criada pelo Tratado de Versalhes, em 1919. Durante esses anos, seu trabalho de formar uma conscincia mundial quanto aos direitos do trabalhador tem sido muito eficaz, motivo pelo qual reconhecida como uma fonte inspiradora e promotora do Direito do Trabalho, embora no interfira na soberania dos pases-membros. As suas Convenes, no obstante o pas-membro t-las firmado tm a sua validade dependente da ratificao pelo Congresso Nacional para integrarem o ordenamento jurdico nacional, inclusive com fora coercitiva.

    A doutrina no considerada fonte formal de Direito, mas inegvel a sua contribuio como nascedouro dos argumentos que daro suporte criao das fontes at aqui vistas. A doutrina o estudo do Direito pelo mtodo cientfico: procura estabelecer os princpios tericos contidos nas normas jurdicas e nas regras para o seu uso. Tal estudo no cria nem impe deveres e obrigaes, apenas os interpreta. Por tal motivo, muitos mestres no a consideram como uma fonte para o Direito do Trabalho. Outros h que lhe reconhecem um valor prtico, na verificao da eficcia das normas em relao aos princpios que as motivaram. Assim, a doutrina no seria propriamente uma fonte, mas um instrumento de aferio da validade das normas.

    Quanto ao contrato de trabalho, este tambm no fonte formal do Direito do Trabalho, pois falta-lhe o carter normativo, porquanto estabelece condies de trabalho no mbito individual dessas relaes. As clusulas dos contratos individuas de trabalho estabelecem deveres e direitos de empregado e empregador.

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    CONCEITO

    O contrato individual de trabalho uma relao jurdica pela qual uma pessoa (empregado) obriga-se a prestar a outra (empregador) trabalho pessoal de natureza no-eventual, subordinado e mediante salrio.

    Francisco Antnio de Oliveira (1993, p. 50) afirma que o contrato individual de trabalho se traduz na clula mter que d origem ao vnculo empregatcio. Nele, o empregado e o empregador, individualmente considerados, pactuam a prestao de servios, a paga como contraprestao. Vale dizer, o empregado entra com a fora do seu trabalho, com deveres de obedincia, fidelidade e diligncia, identificando-se com os objetivos da empresa. J o empregador, detentor dos meios de produo, assume o risco do negcio, tendo a obrigao de remunerar o empregado e proporcionar-lhe um ambiente seguro e sadio para a prestao do servio.

    Hierarquia das fontes: conflitos e suas solues A hierarquia significa dispor as

    coisas em ordem de preferncia por algum critrio determinado. Por exemplo, pelo seu grau de importncia ou abrangncia, como ilustra a pirmide ao lado.

    No que tange hierarquia das normas jurdicas, natural que exista uma prevalncia de uma fonte sobre as outras, mesmo que no esteja prevista pela Constituio. Como exemplo simples, basta lembrar que uma clusula de conveno coletiva no pode ferir uma imposio constitucional, como se depreende da leitura do artigo 623 da CLT. Para que no ocorram conflitos entre as normas produzidas por diferentes fontes de Direito, preciso reconhecer e aceitar uma hierarquia natural entre elas. Como critrio geral, pode-se dizer que uma norma superior a outra quando o fundamento da segunda est contido na primeira. Exemplificando: o contrato individual de trabalho est subordinado conveno ou acordo coletivo de trabalho. A CLT est subordinada Constituio Federal. No caso de normas conflitantes, prevalece a que for hierarquicamente superior, como regra geral.

    A fonte superior a Constituio Federal. A CLT, como j visto, uma organizao de leis preexistentes, relativas ao trabalho, que em tudo esto subordinadas e coerentes com a Lei Maior, da qual extrai seus fundamentos e princpios. Outras normas, mesmo que no includas na Consolidao, no podem estar em conflito com a Constituio.

    Fonte:

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    No Brasil, a competncia para legislar sobre Direito do Trabalho da Unio, razo pela qual no existem leis trabalhistas estaduais ou municipais.

    H, contudo, um princpio fundamental no Direito do Trabalho: o da norma mais favorvel ao trabalhador, que prevalece sobre qualquer outra norma de qualquer fonte, inclusive a prpria Constituio. Supondo-se que uma conveno coletiva de trabalho estabelea condies mais favorveis que as previstas pela legislao para uma determinada questo, aquelas tero prevalncia sobre as segundas. O princpio da norma mais favorvel emana da necessidade de melhoria das condies sociais dos trabalhadores, diante da sua reconhecida hipossuficincia. Veremos esse assunto mais detalhadamente na prxima seo, quando tratarmos dos princpios de Direito do Trabalho.

    Como visto, s fontes originadas do Poder Legislativo seguem-se as fontes geradas pelo Poder Executivo, iniciando pelos decretos e medidas provisrias. As normas internas dos rgos da Administrao Pblica expressas por meio de portarias, circulares e instrues, seguem-lhe em hierarquia. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) emite instrues normativas, smulas, entre outros, de carter normativo, destinados interpretao e aplicao das demais normas. As sentenas normativas, convenes e acordos coletivos esto tambm hierarquicamente abaixo das fontes aqui mencionadas. Os contratos individuais de trabalho esto abaixo das convenes e acordos coletivos, pois so estes ltimos que regem os primeiros, conforme previsto no art. 619 da CLT.

    A norma mais favorvel ao trabalhador vem em primeiro lugar, porm podem ocorrer excees, como as leis proibitivas (art. 623 da CLT) e a flexibilizao do Direito do Trabalho, podendo-se citar como exemplo, a irredutibilidade salarial, salvo negociao coletiva (art. 7,, inc. VI, CF/88). A norma mais favorvel seria no reduzir o salrio, do ponto de vista absoluto, mas manter o emprego mais favorvel do ponto de vista relativo.

    A vontade das partes, quando expressa de modo livre e consciente, pode tornar-se soberana, acima de todas as demais normas. A voluntariedade dos contratantes, em estado de pleno conhecimento, sem qualquer forma de coao, a forma por excelncia do exerccio de direito, nada obstante tal assertiva deva ser interpretada sem se olvidar dos demais princpios adiante estudados.

    Resumindo, a hierarquia a disposio ordenada das fontes segundo uma preferncia; inegvel que existe urna hierarquia entre as fontes do Direito do Trabalho; todavia, no h uma distribuio esttica entre as normas jurdicas, de tal forma que, como regra geral, a norma que for mais favorvel ao empregado, ou a norma que garanta condio mais benfica ao trabalhador, prevalecer sobre as demais, configurando o que se pode chamar de hierarquia dinmica.

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    Pessoal, no esqueam que, em caso de confl ito entre duas ou mais normas de direito, ser aplicada a que oferecer maiores vantagens ou bene cios ao trabalhador.

    CONCEITO

    Inicialmente pode-se dizer que principio onde comea algo. o incio, a origem, o comeo, a causa. So as proposies bsicas fundamentais, picas, que condicionam todas as estruturaes subsequentes. So, portanto, os princpios as proposies bsicas que fundamentam a cincia. Para o direito, o principio o seu fundamento, a base que ir informar e inspirar as normas jurdicas.

    SEO 3 Princpios de Direito do Trabalho

    Existem princpios que fazem parte do Direito como um todo, e que se estendem a todos os seus ramos indistintamente. A dignidade da pessoa humana, a boa-f, a honra, o nome, uso no abusivo do direito, o direito universal de defesa, entre tantos outros princpios, amparam igualmente os sujeitos das relaes de trabalho. O princpio pacta sunt servanda, ou seja, os acordos devem ser cumpridos, que vem do Direito Civil, igualmente se aplica aos contratos no Direito do Trabalho, por expressar a vontade livre entre as partes.

    O Direito do Trabalho, como cincia autnoma, possui princpios prprios, dada a natureza da relao de foras desiguais que rege a relao de emprego, mais favorvel ao empregador, que detm o poder diretivo. Destacam-se o princpio da proteo, da irrenunciabilidade, da continuidade da relao de emprego, da primazia da realidade, da razoabilidade, da boa-f e da isonomia.

    Princpio da ProteoO princpio protetor justifica a existncia do Direito do Trabalho. Diante

    disso, Nei Frederico Cano Martins (in revista LTr, v.64, n 7, p. 847) afirma que o Direito do Trabalho nasce e se desenvolve merc da excessiva explorao dos trabalhadores, especialmente aps o surgimento da Primeira Revoluo Industrial (sculo XVIII), que adveio do descobrimento do vapor como fonte de energia, provocando uma grande expanso da indstria e do comrcio, com a substituio do trabalho escravo, servil e corporativo pelo assalariado.

    O princpio protetor justifica-se pela natural desigualdade em que se encontram os partcipes da relao de emprego: de um lado o trabalhador, subordinado e hipossuficiente, contratando com o empregador, normalmente de maior poderio econmico e detentor do mando.

    O Direito do Trabalho surge como meio de buscar uma compensao

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    CURIOSIDADE

    Por esse princpio, se o empregado renunciar s frias legais, tal fato no ter validade alguma. O mesmo se diga se o empregado vender as frias. Entretanto o empregado pode renunciar a um bene cio voluntrio do empregador, como uma gra fi cao ou prmio, justamente por no serem obrigatrios.

    para essa natural desigualdade e, dentro dele, o princpio protetor o auxilia nesse mister.O princpio protetor visa atenuar a desigualdade entre o trabalhador e o

    empregador. De acordo como Amrico Pla Rodriguez (2004), tm-se trs ideias bsicas:

    a) in dbio pro operrio - na dvida, a interpretao a favor do trabalhador. A sua origem repousa no princpio geral in dubio pro ru. Segundo Mauricio Godinho Delgado (1999, p.152), o empregador que se constitui em devedor na relao de emprego (e ru na relao processual trabalhista), adaptou-se o princpio parmia in dbio pr misero (ou pr operrio). Nesse antigo princpio estaria englobada no somente a dimenso de interpretao normativa (hoje referenciada pelo princpio da norma mais favorvel), como tambm uma dimenso de aferio e valorao dos fatos trazidos a exame e combinada dimenso do princpio in dbio pr msero (exame de fatos e provas), propunha-se que a deciso do operador jurdico deveria dirigir-se em benefcio do trabalhador em caso de dvida no exame de situaes fticas concretas.

    b) norma mais favorvel - quando se interpreta duas ou mais normas jurdicas trabalhistas em relao ao mesmo tema, aplica-se a que seja mais benfica ao trabalhador;

    c) a condio mais benfica - ou seja, uma condio de trabalho j conquistada no pode ser substituda por outra menos vantajosa, na mesma relao de emprego (art. 468, CLT). A jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho agasalha tal entendimento, consoante o teor da Smula n 51: As clusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, s atingiro os trabalhadores admitidos aps a revogao ou alterao do regulamento.

    Princpio da irrenunciabilidadeOs direitos trabalhistas no so renunciveis, uma vez que, permitida

    livremente a renncia, a posio econmica de sujeio do trabalhador ao empregador o levaria a abrir mo dos direitos aos quais, livremente no abdicaria conforme enuncia o artigo 9, CLT.

    Supondo-se que renuncie s frias legais, tal fato no tem validade. Entretanto, pode ocorrer renncia de um benefcio voluntrio do empregador, por no ser obrigatrio, como uma gratificao ou prmio.

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    Princpio da continuidade da relao de empregoEm face do princpio da continuidade, as relaes para o Direito do

    Trabalho so vinculaes que se desenvolvem, no se permitindo a sua resciso a no ser em casos justificados e de relevante motivo social, dado que o emprego necessrio para a subsistncia do ser humano.

    Por outro lado, tambm por aplicao do referido princpio, tem-se a integrao do trabalhador na estrutura e dinmica empresariais, logo, a alterao na estrutura jurdica da empresa no ir afetar os direitos adquiridos dos seus empregados, segundo estabelece os artigos 10 e 448 da CLT. Em face do fenmeno da sucesso trabalhista, os contratos de trabalho permanecem inalterados.

    Por esse princpio, o intrprete considera que o empregado o que menos tem interesse em rescindir o contrato, de tal sorte que, em havendo resciso, caber ao empregador provar que no foi ele quem dispensou o empregado, mas, sim, que este pediu demisso voluntariamente.

    Princpio da primazia da realidade Pelo princpio da primazia da realidade, no caso de discordncia entre o

    que ocorre de fato e o que est nos documentos trabalhistas, haver a prevalncia do sucedido no plano dos fatos.

    Assim, no que concerne ao contedo do contrato de emprego, no interessa saber se o empregado fora classificado como escriturrio ou motorista. Se ele presta trabalho como digitador, legtima a sua pretenso de ver equiparado o seu salrio ao dos demais digitadores, por exemplo.

    Para o Direito do Trabalho, os documentos so vlidos desde que estejam em sintonia com a realidade diria do contrato individual de trabalho.

    Princpio da Razoabilidade De acordo com o princpio da razoabilidade, deve-se partir do pressuposto

    de que o ser humano, em suas relaes trabalhistas, procede e deve proceder conforme a razo do homem comum, atuando segundo determinados padres de conduta que so frequentes e lgicos (MARTINS, 2010).

    Exemplifica-se: como o salrio necessrio para a subsistncia do ser humano, no razovel que um empregado, sem motivo, abandone o emprego. Portanto, a temtica do abandono de emprego deve estar bem evidenciada para ser acolhida, conforme orienta a smula n 212 do TST.

    Princpio da boa-fO princpio da boa-f consiste na afirmao de que as partes na relao de

    emprego devem agir com lealdade, cumprindo honestamente as obrigaes assumidas.

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    Empregado e empregador devem ser sinceros, leais e honestos, no s no ato da contratao, como no desenrolar da prestao dos servios, pois toda relao de emprego esta assentada na confiana entre empregado e empregador. Uma vez abaladas essa confiana, no subsiste a relao de emprego.

    Princpio da isonomia Em face do princpio da igualdade, a lei no deve ser fonte de privilgios de

    uns em detrimento de outros, mas um instrumento que regula a vida em sociedade, tratando de forma equitativa todos os cidados. Da aplicao do princpio da igualdade surge para o legislador a obrigao de criar condies que assegurem uma igual dignidade social em todos os aspectos. Por outro lado, cotejando-se o referido princpio com as ordens econmica e social, conclumos que o exerccio de toda e qualquer atividade econmica visa, tambm, uma igualdade social. A efetividade da igualdade implica a busca da justia real, concreta ou material, deixando-se de lado os aspectos formais. Na busca da justia real, nem sempre possvel aplicar a lei de forma igualitria, pois necessrio que os desiguais sejam tratados de forma desigual.

    O Direito do Trabalho repousa no pressuposto inarredvel de proteo ao trabalhador. A histria, a partir do sculo XIX, precipuamente, d exemplos da explorao desmesurada da fora de trabalho.

    Para o equilbrio efetivo da oposio capital e trabalho, surge o Direito do Trabalho, traando normas pblicas reguladoras do contedo material dessas relaes jurdicas, impondo direitos e obrigaes. O escopo foi privilegiar o trabalhador no campo jurdico, traando restries ao poder econmico, estabelecendo regras mnimas quanto jornada, ao salrio, forma de contratao, ao trabalho do menor e da mulher etc.

    O princpio da isonomia est inserido em vrios dispositivos legais relativos s relaes jurdico-trabalhistas.

    O art. 7, XXX, XXXI, XXXII, XXXIV, da Carta Poltica de 1988 determina:

    a) proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;b) proibio de qualquer discriminao no tocante a salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de defi cincia;c) proibio de distino entre trabalho manual, tcnico e intelectual ou entre os profi ssionais respectivos;d) igualdade de direitos entre o trabalhador com vnculo empregatcio permanente e o trabalhador avulso.

    O artigo 5 da CLT reza: A todo trabalho de igual valor corresponder salrio igual, sem distino de sexo. Se o trabalhador executa trabalho idntico, o salrio ser o mesmo, desde que guardadas suas propores legais, segundo entendimento do artigo 461 da CLT.

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    Agora, para consolidar os conhecimentos adquiridos, vamos relembrar os principais pontos dessa aula.

    Por derradeiro, vale ressaltar que o princpio constitucional da igualdade revela um valor a ser alcanado, desafiando o Estado Democrtico de Direito. Quando lhe atribumos fora normativa, apresenta-se o princpio no apenas como um item na pauta do legislador, mas, sobretudo como uma meta a ser atingida pelos que atuam o direito positivo, sempre visando sociedade ideal.

    Retomando a Conversa Inicial

    SEO 1 Histria geral do Direito do TrabalhoNessa primeira seo, ns vimos que o Direito do Trabalho nasceu

    com a sociedade industrial e o trabalho assalariado e as principais causas que determinaram o seu aparecimento so econmicas (Revoluo Industrial), polticas (o Estado passou a regulamentar as relaes de trabalho) e jurdicas (o sindicalismo e o direito de greve).

    J a legislao social no Brasil comeou, decididamente, aps a revoluo de 1930, que trouxe em seu bojo uma srie de reformas sociais e estabeleceu um programa com vastos benefcios aos trabalhadores. O principal destaque foi a aprovao, em 1 de maio de 1943, da Consolidao das Leis do Trabalho, que enfeixou num nico texto todas as normas disciplinadoras das relaes individuais e coletivas de trabalho, alm das concernentes a procedimentos administrativos e Justia do Trabalho, proporcionou o conhecimento global dos direitos e obrigaes trabalhistas, no s aos interpretes e aplicadores das leis, mas, sobretudo, aos seus destinatrios: os empregadores e empregados.

    SEO 2 Fontes do Direito do TrabalhoNesse ponto, ns vimos que as fontes do Direito do Trabalho so:

    A Constituio Federal de 1988; A Consolidao das Leis do Trabalho; As diversas leis esparsas que tratam de matria trabalhista; Os decretos, medidas provisrias e portarias; As sentenas normativas da justia do trabalho; A jurisprudncia; As convenes e acordos coletivos;

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    Se ao fi nal desta aula surgirem dvidas, voc poder san-las atravs das ferramentas frum ou quadro de avisos e chat.

    O regulamento interno das empresas; O laudo arbitral; Os usos e costumes; Os tratados internacionais; As convenes da Organizao Internacional do Trabalho (OlT).

    Aprendemos ainda, que caso haja conflito entre duas ou mais normas de direito, ser aplicada a que oferecer maiores vantagens ou benefcios ao trabalhador.

    SEO 3 Princpios de Direito do TrabalhoA terceira seo teve como meta a apresentao do Direito do Trabalho,

    como cincia autnoma. Este, por sua vez, possui princpios prprios, uma vez que a natureza da relao de foras desiguais que rege a relao de emprego, mais favorvel ao empregador, que detm o poder diretivo. Destacando-se o princpio da proteo, da irrenunciabilidade, da continuidade da relao de emprego, da primazia da realidade, da razoabilidade, da boa-f e da isonomia.

    Apenas para reforar, no esqueam que, entre todos os princpios estudados, merece destaque o princpio da proteo, pois ele visa atenuar a desigualdade entre o trabalhador e o empregador.

    Sugesto de leituras

    Leituras:

    NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciao ao Direito do Trabalho. So Paulo: Editora LTR, pp. 41-58, 79-126.

    Sites:

    Tribunal Superior do Trabalho Disponvel em: www.tst.jus.br Ministrio do Trabalho e Emprego Disponvel em: www.mte.gov.br

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