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IBET CURSO DE TEORIA GERAL DO DIREITO AULA 5 SEMIÓTICA COMO TÉCNICA DE ESTUDO DO DIREITO Profa. Dra. Clarice von Oertzen de Araujo

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Page 1: Aula do dia 02 10 - dra. clarice von

IBET – CURSO DE TEORIA GERAL DO

DIREITO

AULA 5 – SEMIÓTICA COMO TÉCNICA DE

ESTUDO DO DIREITO

Profa. Dra. Clarice von Oertzen de Araujo

Page 2: Aula do dia 02 10 - dra. clarice von

LÍNGUA - CONCEITO

A língua é o conjunto de formas concordantes que

o fenômeno da linguagem assume numa

coletividade de indivíduos, numa época

determinada. A linguagem é ao mesmo

tempo, produtora e aplicadora da língua. Há

reciprocidade permanente entre os atos de

linguagem (atos de fala) e a língua.

A língua tem um caráter marcadamente

convencional, um contrato primitivo, uma

convenção de partida, partilhada por todos os

falantes. É um sistema de signos simbólicos. É a

linguagem menos a fala (R. Barthes).

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LÍNGUA X FALA

A fala é um fato da língua, uma seleção, articulação

a atualização individual da língua. Não pode haver

a língua sem a fala e vice versa. Ex: línguas mortas

como o latim.

A fala, como fato linguístico, tem um caráter

pessoal, evidenciado pela seleção e articulação

das palavras por um sujeito falante.

As seleções que caracterizam a concretude dos

atos de fala vão atualizando a língua como um

código abstrato.

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LÍNGUA X LINGUAGEM

A língua não é a única e exclusiva forma delinguagem que somos capazes de produzir.As sociedades humanas são mediadas porredes complexas e plurais de linguagenscomo danças, músicas, cerimoniais, jogos,arquitetura, moda e arte: desenhos,pinturas, esculturas, cenografia. Há umaenorme variedade de linguagens que seconstituem como sistemas sociais ehistóricos de representação do mundo eque podem estar simultaneamentepresentes em uma única mensagem,graças a convergência das tecnologiasdigitais.

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LINGUAGEM NÃO VERBAL

Qual é a extensão que um conceito de linguagem

pode cobrir? Todo fenômeno de cultura só funciona

culturalmente porque é também um fenômeno de

comunicação que se estrutura como linguagem.

Todo e qualquer fato cultural, atividade ou prática

social envolve signos e implicam a produção de

linguagem e de sentido.

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SAUSSURE (1857-1913) E A SEMIOLOGIA

Ferdinand de Saussure é um linguista suíço quepublicou pouco durante a vida. Em 1916, três anosapós a sua morte, dois alunos seus, C. Bailly e A.Séchehaye, escrevem, a partir de anotações deaula e notas pessoais de Saussure, o Curso deLinguística Geral.

Saussure é o fundador da linguística geral modernae o pai do estruturalismo. Segundo ele, a linguísticamantém relações privilegiadas com a semiologia,ciência que viria a estudar “a vida dos signos noseio da vida social”.

Concebe a língua como o mais importante sistemade signos, um modelo epistemológico para estesoutros sistemas.

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SAUSSURE: PARADIGMA E SINTAGMA

O signo linguístico une uma imagem acústica (a

representação mental é uma sequência sonora) e

um conceito: um significante e um significado.

Concebe os planos sincrônico/paradigmático e

diacrônico/sintagmático de organização da

linguagem.

No plano diacrônico ou sintagmático estão as

relações combinatórias decorrentes do caráter

linear mantido por unidades consecutivas num

sintagma. As relações sintagmáticas são relações

de sucessão, in praesentia, que aparecem

efetivamente na cadeia da fala.

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SAUSSURE: PARADIGMA E SINTAGMA

No plano sincrônico ou paradigmático estão asrelações associativas que aproximam termos comcaracterísticas em comum, os quais mantém entresi uma relação virtual de substituibilidade. Sendoobjetos de escolha, eles constituem paradigmascujos elementos são ligados in absentia (nãopresentes no enunciado considerado).

As relações paradigmáticas são relações virtuaisexistentes entre as unidades da língua.

A organização dos eixos da linguagem foi retomadapor Jakobson em seus estudos sobre a afasia (umadisfunção de linguagem).

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EIXOS DE EXPRESSÃO DA LINGUAGEM

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A ESTRUTURA SINTAGMÁTICA DAS

NORMAS JURÍDICAS

A norma jurídica tem a estrutura de um sintagma pois

consiste em um juízo hipotético condicional (se ocorrer o fato

X, então deve ser a prestação Y): a hipótese (H) descreve um

fato de possível ocorrência. A conseqüência (C) prescreve

uma relação jurídica em que a conduta vem regulada sob a

forma de uma obrigação, uma proibição ou uma permissão.

Os enunciados prescritivos são as unidades relacionadas in

presentia compondo uma sequência que constitui o mínimo

de significação deôntica.

H C

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Fato lícito obr/perm/proib fato ilícito sanção

Estado-juiz

H C H C

OUTRO SINTAGMA: A ESTRUTURA

DA NORMA JURÍDICA COMPLETA

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IMUNIZAÇÃO: TÉCNICAS DE VALIDAÇÃO

Uma norma imuniza a outra:

a) Disciplinando-lhe a edição: são estabelecidas as

condições em que a edição de outra norma deve

ocorrer. Há a disciplina de edição de uma norma

por outra norma – IMUNIZAÇÃO CONDICIONAL

b) Delimitando-lhe o relato: são definidos os fins que

devem ser atingidos, liberando a escolha dos

meios. Ocorre a determinação dos efeitos a

serem atingidos – IMUNIZAÇÃO FINALISTA

(Ferraz Junior, Teoria da Norma Jurídica)

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PREDOMINÂNCIA DO EIXO SINTAGMÁTICO NA

IMUNIZAÇÃO CONDICIONAL

Na imunização condicional a norma constitcional define a relação de

competências legislativas e procedimentos que devem ser

observados pelo legislador na positivação.

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3° Trim.

PREDOMINÂNCIA DO EIXO PARADIGMÁTICO NA

IMUNIZAÇÃO FINALISTA

Na imunização finalista o legislador é livre para selecionar o modo

como perseguirá os objetivos prescritos nas normas constitucionais.

As relações entre as normas são in absentia

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A SEMIÓTICA

O vocábulo “semiótica” provém do gregosemeion, (signo). Outra palavra com estaraiz: semáforo

Toda e qualquer coisa que se organize outenda a organizar-se sob a forma delinguagem, verbal ou não, é objeto deestudo da Semiótica.

Peirce era um lógico-matemático e umfilósofo e não um lingüista. Concebeu oestudo da linguagem enquanto lógica –uma lógica dialética e não aristotélica.Formulou a semiótica como uma lógica dossignos.

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A SEMIÓTICA

A semiótica é a ciência que tem

por objeto de investigação todas

as linguagens possíveis, ou seja,

que tem por objetivo o exame dos

modos de constituição de todo e

qualquer fenômeno como

fenômeno de produção de

significação e de sentido.

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O SIGNO COMO RELAÇÃO TRIÁDICA

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Significação (Husserl)

Interpretante (Peirce)

Referência (Ogden e Richards)

Sentido (Frege)

Intensão (Carnap)

Designatum (Morris, 1938)

Significatum (Morris 1946)

Conceito (Saussure)

Conotação, Connotatum (Stuart Mill)

Imagem mental (Saussure, Peirce)

Conteúdo (Hjelmslev)

Estado de consciência (Buyssens)

Significado (Eco)

Significado (Husserl)

Objeto (Frege, Peirce)

Denotatum (Morris)

Significado (Frege)

Denotação (Russell)

Extensão (Carnap)

Referente (Eco)

Suporte físico (Husserl)

Signo, representamem (Peirce)

Símbolo (Ogden e Richards)

Veículo sígnico (Morris)

Expressão (Hjelmslev)

Sema (Buyssens)

Significante (Eco)

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CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914) E A

SEMIÓTICA

Filósofo e lógico americano, fundador do

pragmatismo e da semiótica. É um pensador

enciclopédico, pois escreveu em matemática,

epistemologia, história das ciências, psicologia,

cosmologia, ontologia, ética, estética, história, etc.

Peirce é um filósofo sistemático e acima de tudo

um metafísico. O pragmatismo é um método de

clarificação conceitual encarregado de desentulhar

a metafísica para dar lugar a uma filosofia

purificada, com base no modelo arquitetônico de

uma metafísica científica e realista (TIERCELIN,

C.).

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CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914) E A

SEMIÓTICA

Peirce inscreve a lógica numa perspectivasemiótica .

A lógica transformada em semiótica confere aoprocesso de geração das cadeias de signos umcaráter necessariamente aberto e indefinido, que,porém, escapa à indeterminação absoluta, pois osresultados interpretativos se aproximam idealmentedo interpretante final.

A semiótica peirceana é, na realidade, uma filosofiacientífica da linguagem sustentada em basesinovadoras (fenomenológicas) que revolucionam,nos alicerces, 25 séculos de filosofia ocidental(Santaella).

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CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914) E A

SEMIÓTICA

A semiótica ou lógica de divide em:

a) Gramática pura: doutrina das condições gerais

gerais dos símbolos e outros signos aos seus que

têm caráter significante;

b) Lógica crítica: teoria das condições gerais da

referência dos símbolos e outros signos aos seus

objetos manifestos, teoria das condições da

verdade;

c) Retórica pura: doutrina das condições gerais da

referência dos símbolos e outros signos aos

interpretantes que pretendem determinar (CP

2.93).

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NOMENCLATURA DE PEIRCE

Retórica especulativa

Lógica crítica

Gramática

especulativa

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ÍCONE

O ícone se caracteriza como a mais tenra e rudimentarforma de signo: o objeto só vem a existir na medida emque surge um interpretante que passa a funcionar, emtermos de possibilidade, como objeto daquele signo. Oobjeto, nesse caso, só pode ser algo a ser criado pelopróprio signo, determinando o signo a posteriori, o queo faz, aliás, funcionar como signo, caso contrário, elenão teria, em si mesmo, nenhum poder para funcionarcomo tal (Santaella).

“O ícone não tem conexão dinâmica alguma com oobjeto que representa: simplesmente acontece quesuas qualidades se assemelham às do objeto e excitamsensações análogas na mente para a qual é umasemelhança. Mas, na verdade, não mantêm conexãocom elas” (CP 2.299).

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ÍNDICE

“Um índice envolve a existência de seu objeto (2.315).

Um indicador é um signo que se refere ao Objeto que

denota em razão de se ver realmente afetado por

aquele Objeto (2.248).

São representações cujas relações com seus objetos

consistem numa correspondência de fato (1.558).

Índice: um signo ou representação que se refere ao

Objeto não tanto em virtude de uma similaridade ou

analogia qualquer com ele, nem pelo fato de estar

associado a caracteres gerais que esse objeto acontece

ter, mas sim por estar numa conexão dinâmica

(espacial, inclusive) com o Objeto [...](2.305).

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SÍMBOLO

Para Peirce, “um símbolo é um signo que serefere ao Objeto que denota em virtude de umalei, normalmente uma associação de idéiasgerais que opera no sentido de fazer com queo símbolo seja interpretado como se referindoàquele objeto. (...) Como tal, atua através deuma Réplica.” (CP 2.249).

“Os símbolos crescem. Retiram seu ser dodesenvolvimento de outrossignos, especialmente dos ícones, ou designos misturados que compartilham danatureza dos ícones e símbolos” (CP 2.302).

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CHARLES MORRIS, SEMIÓTICA E

POSITIVISMO

Charles Morris era especialista em lingüística e

tentou combinar as idéias do Círculo de Viena

(neopositivismo lógico) com a de seus mestres G.

H. Mead (pragmatismo behaviorista) e C. S. Peirce

(pragmatismo lógico). Cindiu a semiótica nos três

principais planos, conhecidos como:

a) planos sintático: relações formais e estruturais dos

signos entre si;

b) Plano semântico: relações entre os signos e aquilo

que designam (objetos);

c) Plano pragmático: reções dos usuários diante dos

signos.

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Pragmática

Semântica

Sintaxe

NOMENCLATURA CHARLES MORRIS Pragmática: signo x interpretanteSemântica: signo x objetoSintaxe: signo x signo

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Peirce Morris Estática Dinâmica

signoGramática

Especulativasintaxe validade incidência

objeto Lógica

Crítica

semântica vigência existência

Inter

pretante

Retórica

Especulativa

pragmática eficácia aplicação

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BIBLIOGRAFIA:

ARAUJO, Clarice Von Oertzen. Semiótica doDireito. São Paulo, Quartier Latin, 2005.

CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de TeoriaGeral do Direito (o Constructivismo Lógico-Semântico). São Paulo: Noeses, 2009.

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário,Linguagem e Método. São Paulo: Noeses, 2008.

SAUSSURE, Ferdinand. Escritos de LinguísticaGeral. São Paulo, Cultrix, 2004.