aula- análises de discurso em ciências sociais

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UNEB- DEDC I –CIÊNCIAS SOCIAIS DISCIPLINA: ANALISE DE DADOS QUALITATIVOS, PROFA. DRA. CLEIDE MAGÁLI . DISCURSO E ANALISES DE DISCURSO EM CIÊNCIAS SOCIAIS 1

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UNEB- DEDC I –CIÊNCIAS SOCIAISDISCIPLINA: ANALISE DE DADOS QUALITATIVOS, PROFA. DRA. CLEIDE MAGÁLI

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DISCURSO E

ANALISES DE DISCURSO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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• SOBRE DISCURSO

Discurso = conjunto de praticas linguísticas que mantêm e estimulam relações sociais(Assim: Análise de Discurso =estudo das práticas linguísticas para esclarecer as relações sociais estimuladas e mantidas pelo discurso)

Todo discurso é uma prática social (Foucault)

A palavra discurso emerge da tentativa de se estabelecer a clara distinção entre significado e sentido (SARGENTINI, 2009).

O significado sustenta‐se na crença de que as palavras são convenções tácitas (SAUSSURE, 1991) firmadas entre os falantes de uma língua, enquanto o sentido apoia‐se na crença de que a convenção linguística, que pretende dar um caráter universal ao significado, pode assumir matizes. Em outras palavras, um mesmo significado se manifesta em sentidos circunscritos a produções discursivas oriundas de inserções no mundo social.  

OBS.: o processo de interpretação não consiste apenas em captação do sentido

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O DISCURSO é um suporte abstrato que sustenta os vários TEXTOS (concretos) que circulam em uma sociedade. Ele é responsável pela concretização, em termos de figuras e temas, das estruturas semio-narrativas. Através da Análise do Discurso é possível realizarmos uma análise interna (o que este texto diz?, como ele diz?) e uma análise externa (por que este texto diz o que ele diz?).

Texto=conjunto de enunciados produzidos em contextos sociais a partir de posições de enunciação.

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Concepções mais comuns de discurso nas c. humanas e sociais:

1-discurso como enunciado ou conjunto de enunciados efetivamente falados por um/a falante2-discurso como conjunto de enunciados que constroem um objeto3-discurso como conjunto de enunciados falados em um contexto de interação – nessa concepção ressalta-se o poder da ação do discurso sobre outra ou outras pessoas, o tipo de contexto (sujeito que fala, momento e espaço, historia etc.)4- discurso como conjunto de enunciados em um contexto conversacional (e, portanto normativo)5-discurso como conjunto de restrições que explicam a produção de um conjunto de enunciados a partir de uma posição social ou ideológica especifica6-discurso como conjunto de enunciados em que é possível definir as condições de sua produção.

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ANALISE DE DISCURSO X

ANALISE DE CONTEUDO

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ANÁLISE DE DISCURSO ≠ ANÁLISE DE CONTEÚDO

LEMBRANDO: Foucault chama a atenção:“Mas uma coisa é o enunciado e outra é o discurso” (FOUCAULT,

1979, p 233)

A Análise de Conteúdo (AC) surgiu no início do século XX nos Estados Unidos para analisar o material jornalístico, ocorrendo um impulso entre 1940 e 1950, quando os cientistas começaram a se interessar pelos símbolos políticos.

≠Análise de Discurso (AD)- Barthes (1997, p. 1) resgata, com singularidade, a etimologia do termo discurso. Ele observa, no horizonte da generalidade, que “Dis-cur-sus é, originalmente, a ação de correr para todo lado, são idas e vindas ‘démarches’, ‘intrigas’”. Brandão (1994, p. 12) estabelece um conceito, que particulariza a anotação etimológica de Barthes. Ela estipula o Discurso, como a “articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos”. Na sua concepção, a discursividade depende de suas relações com o contexto sócio histórico.

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ANALISE DE CONTEUDO (AC) ANALISE DE DISCURSO (AD)Origem:1940-1950 (EUA)interesse por símbolos políticos/ 1950-1960 se estendeu para varias áreas. L . Bardin

Modo de acesso ao objeto: materiais textuais escritoscorpus do arquivo: material já existentes (docs., jornais, livros etc.)

Trabalha com Conteúdo: signos linguísticos (palavra) são unidades – codificação/categorização

Quantitativo: frequência das características que se repetem no conteúdoQualitativo: ausência ou presença de uma dada característica num fragmento de mensagem

Origem: A AD, por sua vez, pode ser dividida em três fases, cuja transformação Michel Pêcheux chama de conversão filosófica do olhar: 1) A primeira fase é caracterizada pelo esforço de teorização de uma máquina estrutural-discursiva automática. Essa proposta de análise do discurso é inaugurada em 1969 com o lançamento do livro Análise Automática do Discurso de Pêcheux; 2) A segunda fase, AD-2, começa em 1975 com o lançamento de Les Vérités de la Palice de Pêcheux, aprimorando conceitos e introduzindo novidades fundamentais para a teoria: a noção de formação discursiva heterogênea, trabalhada na arqueologia de Foucault, aparece para fazer explodir a noção de maquinaria estrutural fechada (PÊCHEUX, 1990)e também interdiscursividade; 3) terceira fase, período no qual a teoria do discurso assumiu a sua forma atual: discurso como o encontro da estrutura e do acontecimento. Na AD-3, uma inovação metodológica e uma sofisticação no tratamento do sujeito foi introduzida, fase de hoje. Origem: linguística (deslocando a noção de fala)+ materialismo histórico (ideologia) + psicanalise (inconsciente que em AD é de-centramento do sujeito) linguagem + historia + ideologia Pêcheau- AD francesa

Modo de acesso ao objeto: escritos ou nãocorpus do arquivo material já existentes (docs., jornais, livros etc.) + corpus empírico (produzido para a pesquisa ex. entrevista)Trabalha com Sentido:  Memória coletiva construída socialmente(interdiscurso) e intradiscurso

--------------------Só Qualitativo: capturar a marca linguística e relaciona-la ao contexto sócio histórico.Também o analista faz uma leitura discursiva.

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ANALISE DISCURSIVA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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TRADIÇÕES DAS ANALISES DISCURSIVAS EM C.SOCIAISLinha francesa –Analise de Discurso (AD)

Linha anglo-saxônica- Analise do Discurso Critica (ADC)

Principais referências são Michel Pêcheux e, no Brasil, Eni OrlandiA AD, por sua vez, pode ser dividida em três fases, cuja transformação Michel Pêcheux chama de conversão filosófica do olhar: 1) A primeira fase é caracterizada pelo esforço de teorização de uma máquina estrutural-discursiva automática. Essa proposta de análise do discurso é inaugurada em 1969 com o lançamento do livro Análise Automática do Discurso de Pêcheux; 2) A segunda fase, AD-2, começa em 1975 com o lançamento de Les Vérités de la Palice de Pêcheux, aprimorando conceitos e introduzindo novidades fundamentais para a teoria: a noção de formação discursiva heterogênea, trabalhada na arqueologia de Foucault, aparece para fazer explodir a noção de maquinaria estrutural fechada (PÊCHEUX, 1990)e também interdiscursividade; 3) terceira fase, período no qual a teoria do discurso assumiu a sua forma atual: discurso como o encontro da estrutura e do acontecimento. Na AD-3, uma inovação metodológica e uma sofisticação no tratamento do sujeito foi introduzida, fase de hoje. Noção de Memória Discursiva, pois, como diz Orlandi (1993), é através da memória discursiva que o sujeito busca no seu interdiscurso as palavras do outro, aquelas já proferidasPêcheux defendia uma tomada de posição pelo marxismo-leninismo

Talvez principal referencia Norman Fairclough, (neomarxista filiado às leituras da obras de Marx pela Escola de Frankfurt; Pechêux, filiado ao que se convencionou chamar "althusserianos de segunda geração", aqueles que sobreviveram aos Elementos de autocrítica de 1974 de Althusser. Fairclough se coloca hoje entre os neomarxistas que procuram dar conta das transformações do capitalismo face à globalização)Nos diz Fairclough, proponho considerar o uso da linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais (FAIRCLOUGH, 1994). O discurso deve ser visto como um modo de ação, como uma prática que altera o mundo e altera os outros indivíduos no mundo: 1) o discurso contribui para a construção do que é referido como "identidades sociais" e posições de sujeito, para o sujeito social e os tipos de EU; 2) O discurso contribui para a construção das relações sociais; 3) o discurso contribui para a construção de sistemas de conhecimento e crença.Tentativa de reunir três domínios: a teoria linguística, a macrossociológica e a microssociologia.Podemos destacar o deslocamento promovido por Fairclough da noção de poder em Foucault para a noção de hegemonia em Gramsci. Fairclough, neomarxista filiado às leituras da obras de Marx pela Escola de Frankfurt; Pechêux, filiado ao que se convencionou chamar "althusserianos de segunda geração", aqueles que sobreviveram aos Elementos de autocrítica de 1974 de Althusser. Fairclough se coloca hoje entre os neomarxistas que procuram dar conta das transformações do capitalismo face à globalização

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ANALISE DE DISCURSO (AD)

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Foucault chama a atenção:“Mas uma coisa é o enunciado e outra é o discurso”

(FOUCAULT , 1979, p 233)

“Eis um exemplo para o qual as condições gerais de enunciação não trazem explicações suficientes, sendo necessário um outro saber especifico para explicar os discursos.”(POSSENTI, 1993, p.31)

aqui a ideia de para se analisar um discurso se faz necessário uma teoria auxiliar (além da linguística)...seja historia, sociologia, politica etc.

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Para AD a linguagem é simultaneamente um indicador da realidade social e uma forma de criar essa realidade.

Para AD a linguagem não está na “cabeça” e sim no mundo. A linguagem é vista mais como uma forma de construção do que como uma descrição de nós mesmo/as e do nosso mundo.

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57 variedades de Analise de discurso

A AD não é uma metodologia, é uma disciplina de interpretação fundada pela intersecção de epistemologias distintas, pertencentes a áreas da linguística, do materialismo histórico e da psicanálise. Essa contribuição ocorreu da seguinte forma: da linguística deslocou-se a noção de fala para discurso; do materialismo histórico emergiu a teoria da ideologia; e finalmente da psicanálise veio a noção de inconsciente que a AD trabalha com o decentramento do sujeito. “articula -o linguístico com o social e o histórico

séries textuais (orais ou escritas) ou imagens (fotografias) ou linguagem corporal (dança)

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COMO FAZER ANALISE DE DISCURSO EM CIENCIAS SOCIAIS

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“...a recolha dos dados e a análise são uma parte vital da AD, mas, por si só, não constituem a sua globalidade. Enquanto método tem semelhanças com outras abordagens qualitativas (Denzin & Lincoln, citados por Iñiguez, 2004) e sob o rótulo geral de AD tem-se estudado temas tão diversos como as interacções quotidianas, a memória, o pensamento, as emoções assim como problemas sociais como a exclusão social, o género ou o racismo (para uma revisão mais extensa destes estudos ver trabalhos citados em Potter, Wetherell, Gill & Edwar)” ( NOGUEIRA , 2002, p. )

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A AD não vai trabalhar com a forma e o conteúdo, mas irá buscar os efeitos de sentido que se pode apreender mediante interpretação

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Definição do tema Construção da pergunta de partida (empírico) Elaboração da Problemática (Problematização) – Já

começa aqui a definição do quadro teórico porque já se vai em busca de balanço dos principais pontos de referencia teóricos sobre o fenômeno foco – Objeto (ruptura do senso comum através da observação exploratória - empírico e teórico)

Definição dos aportes metodológicos: aqui a definição pela Análise de Discurso

Definição do corpus da pesquisa Coleta Trabalho Analítico

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EXEMPLO: STRAPASSON, Adelaide. A construção de sentidos sobre a mulher em

enunciados de jurisprudência penal: uma perspectiva da análise do discurso. 2005. 143 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, UFSC, Florianópolis. Esta pesquisa tem por objetivo delimitar as estratégias linguístico-discursivas utilizadas pelos operadores do Direito em relação à mulher, em enunciados de jurisprudência penal, nos crimes passionais e nos crimes contra os costumes. Para isso, verifica quais são os sentidos já- ditos (discurso citado) que perpassam os enunciados produzidos na jurisprudência penal sobre a mulher; identifica termos, expressões e palavras que os operadores do Direito utilizam para se referir à mulher nos enunciados que produzem; e detecta se, na implementação das estratégias linguístico-discursivas, ocorre ou não a isonomia de tratamento entre o homem e a mulher, conforme está previsto na Constituição Federal, que os tornou iguais em direitos e em obrigações. O corpus da pesquisa consiste na coletânea de jurisprudência dos tribunais recursais sobre os crimes passionais e os crimes contra os costumes, no período de 1990 a 2004. Para a análise, assumimos as reflexões de Bakhtin – e do círculo bakhtiniano – acerca do discurso e da influência dele no grupo social, bem como as refrações ideológicas que refletem e refratam o horizonte apreciativo e axiológico de uma época nesse dado grupo social. Os resultados apresentam, nos crimes passionais, a mulher discursivizada por meio de adjetivos, sendo vítima ou autora; nos crimes contra os costumes, sempre a vítima, a construção de sentidos sobre a mulher se faz em torno de sua postura sexual. O discurso jurídico exibe uma linguagem que expressa o horizonte apreciativo e axiológico dos operadores do Direito. Palavras-chave: análise do discurso; discurso jurídico sobre a mulher; crimes passionais; crimes contra os costumes.

Fonte: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/102549/228772.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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Para AD são necessárias 3 operações:

A diferenciação entre texto-discurso A distinção entre locutor/a e enunciador/a Operacionalização do corpus

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A diferenciação entre texto-discurso

Nem todo texto pode ser considerado um discurso. Para que isso aconteça:

Constituirão um texto aqueles enunciados q tiverem sido produzidos no marco de instituições que restrinjam fortemente a própria enunciação, ou seja, enunciados a partir de posições determinadas, inscritos em um contexto interdiscursivo especifico e reveladores de condições históricas, sociais, intelectuais etc.

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A distinção entre locutor/a e enunciador/aLocutor/a (o emissor material)

Enunciador/a (autor textual)

Enunciador =lugar a partir do qual o enunciado é produzido (autor textual). Pode ou não coincidir com o locutor (o emissor material de um enunciado)OU AINDA: Ducrot (1984) considera três entidades: 

– sujeito falante: “indivíduo do mundo” que pronuncia o enunciado; – locutor: entidade abstra(c)ta responsável pela enunciação; tem como correspondente o alocutário, aquele ao qual se dirige a enunciação; – enunciador: responsável pelos a(c)tos ilocutórios cumpridos na enunciação; tem como correspondente o destinatário.

Ex.: Está frio aqui. Sujeito falante: aquele que pronuncia a frase «Está frio aqui». 

Locutor: entidade à qual é atribuído o enunciado «Está frio aqui». Enunciador: responsável pelo a(c)to dire(c)tivo não impositivo: «Fecha a janela.»

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Operacionalização do corpus (o que deve ser analisado)

Corpus=qualquer conjunto de enunciados em um meio material. Pode se tratar de transcrições de enunciados orais,

reproduções de elementos gráficos e textos previamente escritos

Corpus = materialização do textoUma ferramenta deve ser usada na totalidade do corpus para sua analise!!!!

Quando os materiais são documentais é essencial realizar sua catalogação sistemática e sua colocação em um formato manipulável (como fotocopia ou arquivo informatizado). Quando os materiais têm fontes verbais, como entrevistas, reuniões de grupos ou conversas cotidianas, deve ser transcrito com o maior detalhe possível para qualquer interação sutil , incidência ou circunstancia possa ser identificada. Assim, a transcrição deve incluir, além das palavras emitidas, as interrupções, as respirações, as pausas etc.“Não dá pra acreditar”“Pois...hum...eu...eu não...hum... não dá pra acreditar”“Não dá pra acreditar!”“Não!... Não dá pra acreditar!”

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O TRABALHO ANALITICO

Análise do discurso tem alguns elementos:Na análise do discurso podemos observar as projeções da enunciação no enunciado; os recursos de persuasão utilizados para criar a "verdade" do texto (relação enunciador/enunciatário) e os temas e figuras utilizados.

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A enunciação pode ser reconstruída pelas "marcas" espalhadas no enunciado; é no discurso que se percebem com mais clareza os valores sobre os quais se assenta o texto. Analisar o discurso é, por isso, determinar as condições de produção do texto.

O enunciador quer fazer o enunciatário crer na verdade do discurso. Por isso, ele tem um fazer persuasivo. o enunciador constrói no discurso todo um dispositivo veridictório, espalha marcas que devem ser encontradase interpretadas pelo enunciatário. Nessas marcas estão embutidas as imagens de ambos (os seus sistemas de crenças, as imagens recíprocas etc.). São estratégias discursivas, por exemplo, a implicitação e/ou a explicitação de conteúdos, que constroem o texto por meio de pressupostos e de subentendidos. Segundo Ducrot (1977; 1987), os subentendidos são um recurso utilizado para que possamos "dizer sem dizer", para que possamos afirmar algo sem assumir a responsabilidade de termosdito.

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ANÁLISE DO DISCURSO CRÍTICA (ADC)(Analise Critica do Discurso)

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A Análise do Discurso Crítica (ou ainda Analise Critica do Discurso) pretende mostrar o modo como as práticas linguístico-discursivas estão imbricadas com as estruturas sociopolíticas mais abrangentes, de poder e dominação.

Norman Faircloud considera que as relações e lutas de poder como formadoras ideológicas dos referidos textos, eventos e práticas, e coloca a análise crítica a serviço da investigação da maneira com que a opacidade das relações entre discurso e sociedade opera como um dos fatores que garantem o poder e a hegemonia

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Exemplo: SANTOS, Cleide Magali dos. Da Ordem e das Desordens: sobre manutenção da ordem pela PM nas ações coletivas de protestos em Salvador na primeira década do século XXI . 2014. 228f. TESE (Doutorado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. UFBA, Salvador. Este trabalho trata da segurança pública no estado democrático de direito brasileiro, os estudos se concentram nos sentidos e significados que compõem as ações de manutenção da ordem pública nos momentos de protestos em espaços públicos. Em um recorte histórico mais detalhado, centra-se nos protestos protagonizados por jovens nos dez primeiros anos do século XXI, nas ruas de Salvador-Bahia. A tese defendida é que a repressão de ações coletivas de protestos por parte da polícia militar não pode ser explicada exclusivamente pelo passado ditatorial (ainda com impactos na atuação das forças de segurança pública no país) como expressão de uma política de controle social, mas também como expressão de uma noção de ordem (e desordem) decorrente de julgamentos ideológicos pautados em estereótipos e preconceitos sobre a conduta (in)desejada de determinados indivíduos - julgamentos estes, constituídos pelo intercruzamento de variáveis relacionadas aos valores quanto às questões raciais/étnicas, geracionais, de classe e gênero. Valores socioculturais também expressos quando do uso do poder discricionário do policial para definição de quem, quando e como se provoca a des(ordem), na margem deixada pela Constituição Brasileira. Aqui, não se trata de desonerar (ou desculpabilizar) a estrutura ou uma instituição nela inserida para onerar indivíduos por “atos mal feitos”, antes, a questão é alcançar as variáveis e seus intercruzamentos nos momentos de ações e assim contribuir para reflexão sobre uso e abuso da força, ampliando a compreensão do fenômeno. Assim, a investigação enfrenta uma permanente tensão entre estrutura e situação, entre explicação de ordem estrutural e explicação de ordem situacional - de um lado, está o campo da segurança pública que expressa a própria estrutura com uma dinâmica mais resistente às mudanças sociais e, por outro lado, está o campo dos movimentos sociais, que expressa na maioria das vezes o questionamento das estruturas e organizações sociais e por isso são inovadores, indicadores de mudanças sociais e pulsadores da sociedade. Como tema que ainda carece de um campo próprio constituído, tomam-se como fluídas as fronteiras das disciplinais (ciência política, sociologia, antropologia, história, direito) e recorre-se às teorias e teóricos agregados em quatro grandes grupos não unanimes nas abordagens e visões, mas que orientaram a investigação, a saber: teorização sobre estado democrático de direito; teorização sobre o sistema cidadão de segurança pública no estado democrático de direito; teorização sobre a criminalização das ações coletivas de protestos em espaços públicos no estado democrático de direito e, por fim, a teorização sobre os ciclos de protestos. A pesquisa empírica adotou a abordagem metodológica qualitativa, analisando representações sociais, cujo acesso se deu através da captura de discursos oficiais apreendidos via documentos; discursos mediáticos e discursos dos próprios agentes policiais militares.

Fonte: https://universidadedoestadodabahia.academia.edu/CleideMag%C3%A1liSantos

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ADC NA CONTEMPORANEIDADE

Fairclough contribuiu muito para esclarecer a conexão entre discurso e as variáveis macrossociais: a estrutura social determina as condições de produção do discurso

Diferentes discursos são diversas perspectivas do mundo, associadas a diferentes relações que as pessoas estabelecem com o mundo e que dependem das posições que ocupam e das relações que estabelecem com outras pessoas (Fairclough, 2003 apud SANTOS, 2014)

As práticas são constitutivas da vida social, nos domínios da economia, da política e da cultura, incluindo a vida cotidiana (Fairclough, 2006). Em análise de discurso, práticas sociais, são conceituadas como caracterizadas pela articulação de quatro elementos, a saber: discurso, relações sociais, fenômeno mental (crenças, valores, desejos, ideologias) e atividade material. (SANTOS, 2014, p.35)

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A VALIDEZ da AD

o/a analista deve estabelecer uma relação ativa com os/as leitores/as de seu trabalho e tentar mostrar como realizou a leitura do corpus ( o texto). Assim a AD se converte em um exercício mais de negociação do que de exposição, no sentido de estar sempre aberta ao debate e à discussão das interpretações realizadas.

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REFERENCIAS

BARTHES, Roland. A Aula. São Paulo: Cultrix, 1997.BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise de discurso. 3. ed. Campinas: Unicamp, 1994.DUCROT, Oswald. Dizer e não dizer. Princípios de Linguística Semântica. SP: Cultrix, 1977.______  Le diré et le dit, Paris, Minuit, 1984_______ O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.FOUCAULT, M. não ao sexo rei in Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal pp 229-42INIGUEZ, Lupicínio (coord.). Analise de Discurso em Ciências Sociais. Petrópolis: Ed. Vozes, 2004.MARTINS, Izabella dos Santos. Reflexões Sobre a Crítica Análise do discurso. DELTA, São Paulo, v. 21, n. 2, p. 313-321, Dezembro de 2005. Disponível a partir <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502005000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 11 de setembro de 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44502005000200007NOGUEIRA, Conceição. Análise (s) do discurso: Diferentes concepções na Prática de Pesquisa em psicologia social. Psic .: Teor. e Pesq. , Brasília, v. 24, n. 2, p. 235-242, Junho de 2008. Disponível a partir <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722008000200014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 11 de setembro de 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722008000200014.

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REFERENCIAS (cont.)

POSSENTI, Sírio. Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes, 1993SARGENTINI, Vanice M. Oliveira. A noção de formação discursiva: Uma relação estreita com o corpus na análise de discurso. Disponível em http://www.ufrgs.br/analisedodiscurso/anaisdosead/2SEAD/SIMPOSIOS/VaniceMariaOliveiraSargentini.pdf .Acesso em agosto de 2016.  SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 1991.SANTOS, Cleide Magali dos Da Ordem e das Desordens: sobre manutenção da ordem pela PM nas ações coletivas de protestos em Salvador na primeira década do século XXI. Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Victoria Espiñeira Gonzalez TESE (doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2014. Disponível em https://universidadedoestadodabahia.academia.edu/CleideMag%C3%A1liSantos. Acesso agosto 2016.

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SUGESTÕES

http://www.ufrgs.br/infotec/teses00-02/assunto_ANALISE_DO_DISCURSO.html

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/74645/browse?order=ASC&rpp=20&sort_by=-1&value=Analise+do+discurso&etal=-1&offset=20&type=subject

https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/102549/228772.pdf?sequence=1&isAllowed=y

https://universidadedoestadodabahia.academia.edu/CleideMag%C3%A1liSantos