escolarizaÇÃo de alunos com necessidades ......também foram realizados levantamentos e análises...
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Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
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ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES
EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO SISTEMA REGULAR DE
ENSINO: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES DA EDUCAÇÃO
DO ESTADO DO PARANÁ
SILVA, Patrícia Oliveira da (UEL)
MELETTI, Silvia Márcia Ferreira (Orientadora/UEL)
Introdução
A educação de crianças com necessidades educacionais especiais permaneceu
permeada por um caráter médico-psicossocial e assistencial até meados da década de
80, sendo secundárias no processo questões educacionais. Assim o atendimento
especializado a essa população consistia em princípios de reabilitação voltados a
cuidados físicos para uma integração social.
Em 1978 foi estruturada uma parceria entre os Ministérios da Educação e
Cultura (MEC) e da Providência e Assistência Social, com intuito de planejar e
implementar um atendimento especializado aos excepcionais, a partir dessa parceria foi
formulada a Portaria Interministerial nº 186/78 com objetivo de “ampliar oportunidades
de atendimento especializado, de natureza médico-psicossocial e educacional para
excepcionais, a fim de possibilitar sua integração social” (BRASIL, 1978, cap. I, art. 1º,
I, apud REBELO, 2012).
Nesse período, mais especificamente, com a implementação da Portaria
nº186/78, fica evidenciado que o atendimento destinado aos sujeitos considerados
excepcionais não passava de processos de reabilitação que lhes permitisse o mínimo de
integração social, mediante independência em atividades cotidianas, como higiene e
alimentação.
Como o intuito era de oferecer ao alunado com deficiência um atendimento
especializado que contemplasse questões referentes à sua inserção nos processos sociais
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esperava-se que aspectos concernentes a educação estivesse presente. Mas o que se
percebe é que a Portaria reafirma a negação de acesso à escolarização para um grupo de
pessoas.
[...] o encaminhamento de excepcionais para atendimento especializado deverá ser feito com base em diagnóstico, compreendendo a avaliação das condições físicas, mentais, psicossociais e educacionais do excepcional, visando a estabelecer prognóstico e programação terapêutica e/ou educacional (BRASIL, 1978, apud REBELO, 2012).
Não havia uma parceria entre sistemas educacionais e serviços especializados,
de modo que um pudesse complementar o outro com a finalidade de oferecer um
completo atendimento ao aluno com deficiência, possibilitando o desenvolvimento em
todos os seus aspectos. Havia sim uma clara distinção entre aqueles que receberiam
atendimento terapêutico, compondo o grupo dos mais comprometidos, e aqueles que
receberiam atendimento educacional, compondo o grupo dos menos comprometidos.
Demarcando o não cumprimento da parceria estabelecida entre os ministérios.
Na década de 80 inicia-se uma intensificação no sentido de reafirmar que as
pessoas com deficiência também são detentoras de direitos. Em 1986 o Centro Nacional
de Educação Especial (CENESP) publica o documento Portaria 69/86, onde há
especificado pela primeira vez o termo “atendimento educacional especializado”, sendo
um meio para integrar o aluno com deficiência.
[...] a educação especial é parte integrante da Educação e visa proporcionar, através de atendimento educacional especializado, o desenvolvimento pleno das potencialidades do educando com necessidades especiais, como fator de autorealização, qualificação para o trabalho e integração social (BRASIL, 1986, art. 1°, apud REBELO, 2012).
Nesse espírito, no final da década de 80 ocorre a promulgação da Constituição
Federal de 1988, onde observamos o reconhecimento legal do direito de escolarização
pública a todos, inclusive ao aluno com algum tipo de deficiência, preferencialmente na
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rede regular de ensino. Há também a garantia de “atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 igualmente expõe a garantia do
atendimento especializado no âmbito educacional.
Somente da década de 1990 com a adesão do país a Declaração de Salamanca
(1994) e a partir das orientações internacionais é que o discurso da educação especial
passou a incorporar uma perspectiva mais inclusiva. A Declaração passou a influenciar
na formação das políticas públicas de educação inclusiva, no Brasil.
Em 1994 é publicada a Política Nacional de Educação Especial, que conceitua a
educação especial da seguinte maneira:
[...] um processo que visa promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas portadoras de deficiências, condutas típicas ou de altas habilidades, e que abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino. Fundamenta-se em referenciais teóricos e práticos compatíveis com as necessidades específicas de seu alunado. O processo deve ser integral, fluindo desde a estimulação essencial até os graus superiores de ensino. Sob o enfoque sistêmico, a educação especial integra o sistema educacional vigente, identificando-se com sua finalidade, que é a de formar cidadãos conscientes e participativos (BRASIL, 1994, p. 17).
Em ambos os documentos mencionados acima não há identificação explícita da
maneira que se desenvolverá o atendimento especializado da educação especial no
sistema regular de ensino.
Em 1996 com promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), ocorre uma mudança no enfoque da educação especial. Como marco da
legislação brasileira que contempla um caráter inclusivo, define a educação especial
como modalidade da educação escolar a alunos com necessidades educacionais
especiais, preferencialmente da rede regular de ensino.
Não há menção na legislação do atendimento especializado voltado ao alunado
da educação especial. O termo é apenas citado quando referido a formação dos
professores para atuarem no atendimento especial, sem nenhuma especificação de como
deva ocorrer esse atendimento.
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No final da década de 90 as discussões sobre a escolarização das pessoas com
deficiência voltam em cena, sendo elaborado em 2001 Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica, definindo a educação especial como,
[...] um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2001b, art. 3º).
Mediante todas as discussões a respeito do atendimento educacional
especializado voltado aos alunos com necessidades educacionais especiais,
concordamos com Meletti (2010, p.17), na questão da necessidade de investigações que
priorizem a análise do atendimento educacional para o aluno com deficiência em seus
aspectos quantitativos e qualitativos com vistas a conhecer as condições de acesso,
permanência e inserção em processos efetivos de escolarização desta população.
Metodologia
Para identificar como o movimento de inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais está sendo implementado em escolas no Paraná, os dados foram
coletados a partir do banco de microdados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Anísio Teixeira (INEP), nos anos de 2007 a 2010.
Para tratamento e análise dos dados, utilizamos como recurso, o software de
estatística PASW Statistics (SPSS/17).
A análise dos microdados foi realizada da seguinte maneira: primeiramente
coletamos os dados das matrículas, ano a ano, no site do INEP, posteriormente com
auxilio do software tratamos essas matrículas de acordo com as variáveis1 que foram
estabelecidas, sendo:
- Modalidade de ensino:
1As nomenclaturas das variáveis são de acordo com o INEP.
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regular: refere-se às matrículas em classes regulares, com ou sem sala de
recurso ou apoio especializado e educação especial;
- Tipo de deficiência:
deficiência mental: refere-se à soma das matrículas de alunos com
deficiência intelectual e com Síndrome de Down, nos anos de 2007 e 2008, e dos alunos
com deficiência intelectual nos anos de 2009 e 2010. A coleta de dados do Censo
Escolar separou a Síndrome de Down da deficiência mental nos anos de 2005 a 2008.
deficiência física;
deficiência auditiva: refere-se à soma das matrículas de alunos surdos e
com deficiência auditiva
deficiência visual: refere-se à soma das matrículas de alunos cegos e com
baixa visão;
- Dependência administrativa: refere-se às matriculas em estabelecimentos de
ensino estadual, municipal e privada.
Em seguida, após a primeira seleção dos dados (dada as suas múltiplas opções),
isolamos o Estado do Paraná e realizamos o cruzamento desses dados com modalidade
de ensino com os tipos de deficiências selecionados (mental, física, auditiva e visual).
Em um terceiro momento, cruzamos dependência administrativa com os tipos de
deficiência. Todos esses dados constituíram o banco de dados que nos forneceu respaldo
para a presente pesquisa.
Também foram realizados levantamentos e análises de indicadores sociais. Para
a análise dos indicadores sociais acerca das condições de vida da pessoa com
deficiência consideramos o conceito “Indicador Social” apresentado por Jannuzzi (2006,
p.15):
Um Indicador Social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo (...). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma.
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Os Indicadores Sociais são construídos a partir de estatísticas públicas tais como
dados censitários, estimativas amostrais e registros administrativos.
Desta maneira, buscaremos apreender a realidade da Educação Inclusiva no
Estado estabelecido segundo as variáveis de análise e a partir dos Indicadores Sociais
que especificam as dimensões do tema: inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais em processos efetivos de escolarização em classes regulares.
Desenvolvimento
Em análises tecidas a respeito da trajetória histórica da educação especial no
Brasil constata-se que esta emergiu em meio a um amplo contexto de discriminação e
exclusão social.
A educação especial se responsabilizou pela educação dos alunos com
deficiência, sendo esta em sua maioria em instituições privadas de caráter filantrópico.
As instituições públicas se evadiram da responsabilidade por esse alunado, assim como
as instituições privadas não matriculavam alunos com deficiência graves, ficando dessa
maneira sem nenhum atendimento institucional, ou seja, eram segregados de toda e
qualquer forma de participação.
O Estado incentivava técnica e financeiramente as instituições privadas de
caráter filantrópico a assumirem os cuidados das crianças com deficiência.
No final do século XX o atendimento a esse alunado ocorria em concomitância
entre o poder público e instituições privadas assistenciais, assim os alunos com quadros
mais leves eram atendidos em classes especiais nas escolas públicas e os quadros mais
severos em instituições especiais. Segundo Jannuzzi (1997, apud Meletti 2010) “a
relação entre os setores público e privado, no que se refere ao atendimento de alunos
com deficiências, chega a se caracterizar como uma ‘parcial simbiose’, permitindo que
o setor privado tenha exercido influência na determinação das políticas públicas
brasileiras”.
No final da década de 80 acorreram movimentos em prol desse atendimento,
desta maneira ocorreu o início de formulações de aparatos legais normativos
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estabelecendo e reafirmando o direito de educação a todos. Por essa razão que a
segregação cedeu lugar a integração.
As políticas públicas e a preocupação pedagógica voltam-se para o sentido de
normalização, ou seja, criar ambientes sociais onde o deficiente possa ter condições de
vida tão semelhantes quanto aos ditos “normais”. E podemos ver que a escola
constituiu-se em um ambiente propício a essa normalização.
O movimento ocorrido foi um aumento significativo das classes especiais nas
escolas públicas, por mais que as matrículas estavam em escolas regulares e não mais
em grande escala nas instituições filantrópicas, continuava havendo segregação desse
alunado, que sequer tinha o direito de estar nas classes regulares juntamente com os
demais.
A partir da década de 90 o quadro relativo à educação das crianças com
deficiência sofreu algumas mudanças, principalmente após a adesão do Brasil na
Declaração de Salamanca em 1994. Nesse período, as políticas educacionais brasileiras
foram surgindo mediante influência dos documentos internacionais que impulsionaram
na adoção do plano educacional inclusivo, ou seja, um plano educacional que indique o
direito de todos à educação pública.
Proclamava como princípio fundamental que [...] as escolas devem acolher todas as crianças, independente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. [...] As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive com deficiências graves. (apud DUTRA, 2006, p.68).
O movimento em prol da inclusão foi aumentando no país conforme as políticas
de educação eram formuladas, ganhando uma conotação além de suas atribuições,
depositavam na inclusão escolar um aspecto salvacionista que iria livrar a sociedade de
todas as mazelas a muito vividas. Uma inclusão escolar seria uma posterior inclusão
social.
A educação especial assume o objetivo de que a educação da pessoa com
deficiência deve ocorrer em ambientes regulares, ou seja, a inclusão desse alunado deve
ocorrer em escolas regulares. “A indicação é a de que o acesso e permanência na escola
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regular são a via de ruptura com a condição de segregação e de exclusão social
historicamente imposta a essa população” (MELETTI, 2010, p.7).
Desta forma, a educação especial passa a ser identificada como uma modalidade
da educação escolar que deve ser ofertada desde a educação infantil preferencialmente
na rede regular de ensino.
Como marco da legislação brasileira que contempla um caráter inclusivo e
estabelecendo uma perspectiva mais educacional a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9.394/96 aponta que
[...] os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender as suas necessidades; terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; (CURY, 2002, p.47).
Um conceito mais amplo sobre quem são os alunos atendidos pela educação
especial é definido apenas em 2001 nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
na Educação Básica (CNE/2001), que em seu art. 5º expõe:
consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; aquelas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciada dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III- altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.
Com a amplitude da definição do público alvo da educação especial o termo
deficiência ficou diluído no conceito de necessidades educacionais especiais. De acordo
com análises realizadas por Bueno (1997) percebe-se que essa amplitude do termo ao
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mesmo tempo em que auxilia na diminuição da estigmatização e do preconceito em
relação aos alunos atendidos pela educação especial, perde na questão precisão, pois não
se sabe ao certo quem são os alunos que realmente necessitam desse atendimento
especializado, podendo assim ocorrer rotulações em massa.
No que tange a escolarização dos alunos com necessidades educacionais
especiais percebe-se que esse aspecto permaneceu ao longo dos tempos como uma
questão secundária, não havia crença no potencial desses alunos, restando-lhes
atividades de socialização e quando muito um currículo esvaziado de conteúdo.
Por esta razão que permaneceu por muito tempo a ideia que era o aluno que
deveria se adequar a escola para poder acompanhar as atividades escolares e as demais
crianças. A partir das políticas de inclusão, percebeu-se que seria a escola que teria que
adequar suas atividades, seu conteúdo e métodos para o atendimento do novo aluno.
Com intuito de observar esse movimento de inclusão realizamos (como já
explicitamos acima) uma análise dos dados apresentados pelo INEP referentes ao total
de matrículas na educação básica do Brasil. Para tanto, analisaremos como vem
acontecendo o movimento de matrículas em escolas do Brasil e do Estado do Paraná.
A tabela 1 apresenta os dados gerais de matrículas no Brasil e no Paraná,
referentes ao total de matrículas e do percentual de alunos que possuem necessidades
educacionais especiais (NEE).
Tabela 1 - Total geral de matrículas e total de matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no Brasil e no Estado do Paraná (2007 a 2010)
BRASIL PARANÁ Ano
Total Possui NEE Total Possui NEE
2007 52 179 530 654 606 2 711 966 77 885
2008 52 321 667 657 272 2 711 486 54 478
2009 52 580 452 604 884 2 706 018 47 095
2010 51 549 889 702 603 2 687 406 54 029
Fonte: Tabela elaborada com base nos dados extraídos do banco de Microdados do MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: 2007, 2008, 2009, 2010.
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A partir da análise dos dados da tabela 1, verificamos que no Brasil, o número de
matrículas manteve-se quase que de forma análoga de 2007 a 2009, porém no ano de
2010 houve uma redução de 1,2% se comparado ao ano de 2007. Em contraste
verificamos que, nas matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais
(NEE), houve um aumento de 7,3% no mesmo período. O que não pode ser considerado
uma melhoria se observarmos que o número de alunos com NEE matriculados na
educação básica no Brasil é baixíssimo, enfatizando que uma parcela considerável desta
população não frequenta a escola.
No âmbito do Paraná, verificamos um decréscimo tanto do número de matrículas
geral, quanto do número de matrículas de alunos com NEE. Do número total de
matrículas no estado, houve uma redução de 2 711 966 matrículas em 2007 para 2 687
406 matrículas em 2010, resultando em uma redução de 3,9%. Já nas matrículas de
alunos com NEE, houve uma redução de 20% no mesmo período. Em 2007 foram 77
885 matrículas decrescendo em 2010 para 54 029 matrículas.
A tabela 2 apresenta os dados referentes à modalidade de ensino (regular), por
dependência administrativa (Estadual, Municipal e Privada) das escolas do Estado do
Paraná.
Tabela 2 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no Estado do Paraná por modalidade de ensino e dependência administrativa (2007 a 2010)
Dependência Administrativa Estadual Municipal Privado Ano Modalidade
Total Possui NEE Total
Possui NEE Total
Possui NEE
2007 Regular 11.958.09 10.015 10.058.81 16.637 286.729 1.043
2008 Regular 11.942.32 7.390 997.860 9.980 308.775 877
2009 Regular 11.849.87 7.686 990.934 8.454 325.550 657
2010 Regular 11.747.03 11.459 975.099 13.448 333.848 988
Fonte: Tabela elaborada com base nos dados extraídos do banco de Microdados do MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: 2007, 2008, 2009, 2010.
Analisando os dados da tabela 2, verificamos que na esfera estadual, houve nos
anos que se seguem entre 2007 e 2010 um decréscimo do número total de matrículas,
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enquanto que o mesmo não ocorre com o número de matrículas de alunos com NEE.
Entre 2007 e 2008 esse número diminui de 10 015 para 7 390 matrículas, computando
uma redução de 26,2%. Em 2009 o número de matrículas aumenta para 7 686, um
aumento de 3,8% em relação ao ano anterior. Contudo, em 2010 houve um significativo
aumento de 33% se comparado ao ano de 2009. Porém este aumento não é tão
expressivo se comparado ao ano base (2007), uma vez que em relação ao mesmo o
aumento representa apenas 12,6% das matrículas.
Nos dados da esfera municipal verificamos que houve uma pequena, porém
constante diminuição do número de matrículas em todos os anos, terminando no último
ano do período analisado com uma redução de 3% em relação ao primeiro ano do
mesmo período. Em relação às matrículas de alunos com NEE, houve um decréscimo
entre os anos de 2007 e 2009 representando 49,2%. Em 2010 o número de matrículas
aumenta expressivamente em relação ao ano anterior, saltando de 8 454 para 13 448
matrículas, o que representa aumento de 37,1%. Porém o número de matrículas em 2010
não superou o número de matrículas em 2007, resultando em relação a este primeiro ano
do período analisado, uma redução de 19,2%.
Na esfera privada, o numero geral de matrículas aumenta ano a ano,
contabilizando no final deste período o aumento total de 14,1%. De forma semelhante
às esferas Estadual e Municipal, (ainda que em menor escala) na esfera privada também
ocorre uma redução do número de matrículas de alunos com NEE entre o ano de 2007 e
o ano de 2009, e posteriormente um aumento entre o ano de 2009 e 2010. Em 2007 o
número de matrículas foi de 1 043 enquanto que em 2009 foi de 657, redução de 37%.
Já em 2010 as matrículas aumentam para 988 superando o ano anterior em 33%, porém
em relação ao ano de 2007 houve redução de 5,3%.
A tabela 3 apresenta os dados referentes à dependência administrativa (Estadual,
Municipal e Privada), por tipo de deficiência (deficiência visual, deficiência auditiva,
deficiência física e deficiência mental) das escolas do Estado do Paraná.
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Tabela 3 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por dependência administrativa e tipo de deficiência na modalidade regular de ensino do
Estado do Paraná (2007 a 2010)
Dependência Tipo de deficiência Administrativa
Ano DV DA DF DM
2007 871 1.165 427 6.040
2008 1.083 1.308 601 3.690
2009 1.321 1.196 746 4.296 Estadual
2010 2.004 1.509 888 6.894
2007 913 716 463 12.449
2008 858 659 591 6.538
2009 845 611 685 6.033 Municipal
2010 1.507 786 1.012 9.942
2007 136 233 106 356
2008 141 192 118 228
2009 108 72 130 231 Privado
2010 206 101 181 409
Fonte: Tabela elaborada com base nos dados extraídos do banco de Microdados do MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: 2007, 2008, 2009, 2010.
De acordo com a tabela 3 e analisando a dependência estadual, constatamos que
no ano de 2007 do número total de matrículas, 11% representam os alunos com
deficiência visual, 13,% alunos com deficiência auditiva, 5% alunos com deficiência
física e 71% alunos com deficiência mental. No ano de 2008, de um total de 6682
matrículas, 16,3% foram de alunos com deficiência visual, 19,7% de alunos com
deficiência auditiva, 9% de alunos com deficiência física e 55% de alunos com
deficiência mental. No ano de 2009 as matrículas de alunos com deficiência visual
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representam 17,5% do numero total de 7559 matrículas. Os alunos com deficiência
auditiva representam 15,9%, os alunos com deficiência física representam 9,8% e os
alunos com deficiência mental representam 56,8%. Já no ano de 2010, do total de 11295
matrículas, os alunos com deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência física e
deficiência mental representam concomitantemente, 17,8%, 13,4%, 7,8% e 61% das
matrículas.
Na esfera municipal, no ano de 2007, o total de matrículas foi de 14541. Destas,
pertencem aos alunos com deficiência visual 6,3% das matrículas, aos alunos com
deficiência auditiva pertencem 4,9%, aos alunos com deficiência física 3,2% e aos
alunos com deficiência mental 85,6%. Em 2008 alunos com deficiência visual tiveram
9,9%, os alunos com deficiência auditiva tiveram 7,6%, os alunos com deficiência física
tiveram 6,9% e os alunos com deficiência mental tiveram 75,6%. O total de matrículas
neste mesmo ano foi de 8646. No ano seguinte o total de matrículas foi de 8174, e os
alunos com deficiência visual constituem 10,3%, os alunos com deficiência auditiva
7,4%, os alunos com deficiência física 8,4% e os alunos com deficiência mental 73,9%.
No ano de 2010, o total foi de 13247 matrículas. Do número total de 12247 matrículas,
aos alunos com deficiência visual, auditiva, física e mental pertence respectivamente
11,3%, 6%, 7,7% e 75%.
Na rede privada verificamos que no ano de 2007, os alunos com deficiência
visual constituem 16,4% das matrículas. Os alunos com deficiência auditiva constituem
28%, os alunos com deficiência física 12,8% e os alunos com deficiência mental 42,8%.
Em 2008 para os mesmos tipos de deficiência as matrículas constituem respectivamente
20,8%, 28,3%, 17,3% e 33,5%, sendo que o total foi de 679 matrículas. Em 2009, do
total de 541 matrículas, os alunos com deficiência visual, auditiva, física e mental
representam 20%, 13,3%, 24% e 42,7% das matrículas gerais. E finalmente no ano de
2010 as matrículas da rede privada totalizam 897. Destas, 23% são de alunos com
deficiência visual, 28,3% de alunos com deficiência auditiva, 20,1% de alunos com
deficiência física e 45,6% de alunos com deficiência mental.
Verificamos que na instância estadual, assim como nas outras o número maior
de matrículas é o de alunos com deficiência mental, chegando ao total de 20 920 que
representa 61,5% das matrículas de alunos com NEE, entre os anos de 2007 e 2010. Na
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esfera municipal os matriculados com deficiência mental representam 78,3%. E na
esfera privada os mesmos representam 41,5% do total de matrículas. Quanto aos demais
tipos de deficiência o número de matrículas é ínfimo se comparado ao de alunos com
deficiência mental, que foi mais baixo na rede privada em 2008, constituindo ainda
33,5% do número total de matrículas de alunos com NEE nesta esfera de dependência
administrativa. Único momento em que podemos verificar certa proximidade com outro
tipo de deficiência no mesmo ano e dependência, em que os alunos com deficiência
auditiva constituem 28,3% das matrículas.
Ao analisarmos em que esferas as matrículas de alunos com deficiência visual se
concentraram no ano de 2007, verificamos que houve maior número de matrículas deste
tipo de deficiência na esfera municipal com 913 matrículas. Nos anos seguintes o maior
número de matrículas esteve na esfera estadual. Os alunos com deficiência auditiva
foram matriculados em maior número na rede estadual em todos os anos do período
analisado. Os alunos com deficiência física no ano de 2007 foram em maior número
matriculados na rede municipal, porém em 2008, 2009 e 2010, o maior número de
matrículas para este tipo de deficiência, concentrou-se na rede estadual. Quanto aos
alunos com deficiência mental o maior índice de matrículas foi encontrado na rede
municipal em todos os anos de 2007 a 2010.
Considerações finais
Mediante análises de pesquisas da área percebe-se que a escolarização dos
alunos com necessidades educacionais especiais continuam ocorrendo de maneira
precária, muito aquém da forma que deveria ocorrer por direito.
O presente estudo demonstrou que o índice de matrículas de alunos na educação
regular no Estado do Paraná está ano a ano aumentando em grande escala na rede
privada de ensino, em detrimento dos alunos com necessidade educacional especial que
continuam com uma demanda alta de matriculas na rede estadual e municipal de ensino,
mais especificamente na esfera municipal.
Um fator que muito se destacou em nossa análise foi a questão de que de 2007 a
2009 os números de matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais
diminuem, porém em 2010 eles voltam a apresentar um aumento significativo em
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relação ao ano anterior. Em análises realizadas por Meletti e Bueno (2011), fica
esclarecido que esse desenvolvimento da inclusão aconteceu principalmente nos últimos
dois anos e podem estar relacionados com o estabelecimento em 2008 da Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que priorizam a
inclusão de alunos com deficiência no ensino regular e não mais em espaços
segregados.
O estudo demonstrou em síntese que, do ano de 2007 a 2009 o número de alunos
com necessidades educacionais especiais matriculados no sistema regular de ensino
sofreu um decréscimo significativo seguido de um aumento, também relevante, entre
2009 e 2010. E que o número de alunos com deficiência visual, auditiva e física,
mostrou-se ínfimo em relação ao número de alunos com deficiência mental em todos os
anos do período analisado e também em todas as esferas de dependência administrativa.
Vale destacar que a grande incidência de matrículas de alunos com deficiência mental
encontram-se em sua maioria no sistema municipal de ensino, fato que requer estudos e
pesquisas mais aprofundadas, que analisem o motivo das matriculas desse alunado não
passarem do nível da escolarização inicial, ou seja, das séries iniciais da escolarização
básica.
Por mais que a legislação determine que é direito do aluno com necessidade
educacional especial estar matriculado no sistema regular de ensino, esse dever pode
não estar sendo assegurado de maneira sensata. Não podemos ignorar que a inclusão
deve contemplar: acesso, permanência e inserção em processos efetivos de
escolarização.
Referência
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