aula 6 - uma história do negro no brasil (p63-91)

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Uma história do negro no Brasil 63 Capítulo III ESCRAVOS E ESCRAVIDÃO NO BRASIL

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Texto sobre negros no Brasil

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  • Uma histria do negro no Brasil 63

    Captulo III

    ESCRAVOS E ESCRAVIDO

    NO BRASIL

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  • 64 Uma histria do negro no Brasil

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  • Uma histria do negro no Brasil 65

    De africano a escravo

    Depois da longa travessia atlntica e do desembarque em algum

    porto das grandes cidades do Brasil, ou em alguma praia deserta

    aps a proibio, os africanos logo percebiam que sobreviver era

    o grande desafio que tinham pela frente. Dali por diante teriam

    que conviver com o trauma do desenraizamento das terras dos

    ancestrais e com a falta de amigos e parentes que deixaram do

    outro lado do Atlntico. Logo percebiam que viver sob a escravi-

    do significava submeter-se condio de propriedade e, portan-

    to, passveis de serem leiloados, vendidos, comprados, permuta-

    dos por outras mercadorias, doados e legados. Significava, sobre-

    tudo, ser submetido ao domnio de seus senhores e trabalhar de

    sol a sol nas mais diversas ocupaes.

    Por mais de trezentos anos a maior parte da riqueza produzi-

    da, consumida no Brasil ou exportada foi fruto da explorao do

    trabalho escravo. As mos escravas extraram ouro e diamantes das

    minas, plantaram e colheram cana, caf, cacau, algodo e outros

    produtos tropicais de exportao. Os escravos tambm trabalha-

    vam na agricultura de subsistncia, na criao de gado, na produo

    de charque, nos ofcios manuais e nos servios domsticos. Nas

    cidades, eram eles que se encarregavam do transporte de objetos e

    pessoas e constituam a mo-de-obra mais numerosa empregada na

    construo de casas, pontes, fbricas, estradas e diversos servios

    urbanos. Eram tambm os responsveis pela distribuio de alimen-

    tos, como vendedores ambulantes e quitandeiras que povoaram as

    ruas das grandes e pequenas cidades brasileiras.

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  • 66 Uma histria do negro no Brasil

    Por isso, o nmero de cativos foi sempre representativo noconjunto da populao brasileira, sobretudo nas regies que ex-portavam gneros tropicais. No incio do sculo XIX, o Brasiltinha uma populao de 3.818.000 pessoas, das quais 1.930.000eram escravas. Em algumas partes do Brasil, o nmero de escra-vos chegou a superar o nmero de pessoas livres. Em 1872, nomunicpio de Campinas, So Paulo, ento grande produtor de caf,a populao escrava era de 13.685 pessoas, enquanto a livre era de8.281 pessoas. At meados daquele sculo, quando foi abolido otrfico, a maior parte dos escravos era nascida na frica. Para seter uma idia, os africanos representavam 63 por cento da popula-o escrava de Salvador. No Rio de Janeiro, os nascidos na fricaconstituam cerca de 70 por cento.

    Possuir escravos no era privilgio apenas dos grandes senho-res de engenho, fazendeiros de caf ou de pessoas ricas das cidades.At a primeira metade do sculo XIX, a propriedade escrava estavabastante disseminada entre as diversas camadas da sociedade, inclusi-ve pobres e remediados. Padres, militares, funcionrios pblicos,artesos, taverneiros, comerciantes e pequenos lavradores investiamem escravos. At ex-escravos possuam escravos. Nas cidades, a mai-oria dos cativos pertencia a pequenos escravistas, gente que no mxi-mo possua um ou dois escravos. Por isso, no eram apenas os gran-des senhores que tinham interesse na manuteno da escravido.

    A convergncia de interesses entre grandes e pequenosescravistas foi fundamental para garantir a sobrevivncia da escra-vido no Brasil por mais de trs sculos. Em 1822, quando o pastornou-se independente de Portugal, o grande esforo das elitesnativas foi promover a modernizao das instituies sem acabarcom a escravido. A primeira constituio do Brasil, promulgadaem 1824, em alguns aspectos considerada uma das mais modernase liberais das Amricas, manteve intacto o direito de propriedadedos senhores sobre seus escravos. Defender os princpios do libe-ralismo segundo os quais todos os homens eram livres e iguais, eao mesmo tempo manter a escravido, foi o grande dilema vividopelo pas durante todo o sculo XIX.

    A escravido foi muito mais do que um sistema econmico.Ela moldou condutas, definiu desigualdades sociais e raciais, for-

    Impresses de um viajante alemo, Robert Ave-

    Lallemant, admirado com a grande populao negra

    nas ruas de Salvador:

    Quando se desembarca na Bahia, o povo que se mo-

    vimenta nas ruas corresponde perfeitamente confu-

    so das casas e vielas. De feito, poucas cidades pode

    haver to originalmente povoadas como a Bahia. Se

    no se soubesse que ela fica no Brasil, poder-se-ia

    tom-la sem muita imaginao, por uma capital africa-

    na, residncia de poderoso prncipe negro, na qual

    passa inteiramente despercebida uma populao de fo-

    rasteiros brancos puros. Tudo parece negro: negros na

    praia, negros na cidade, negros na parte baixa, negros

    nos bairros altos. Tudo que corre, grita, trabalha, tudo

    que transporta e carrega negro; at os cavalos dos

    carros na Bahia so negros.

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  • Uma histria do negro no Brasil 67

    Castigo de escravos em pelourinho, Rio de Janeiro, dcada de 1820.

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  • 68 Uma histria do negro no Brasil

    jou sentimentos, valores e etiquetas de mando e obedincia. A

    partir dela instituram-se os lugares que os indivduos deveriam

    ocupar na sociedade, quem mandava e quem devia obedecer. Os

    cativos representavam o grupo mais oprimido da sociedade, pois

    eram impossibilitados legalmente de firmar contratos, dispor de

    suas vidas e possuir bens, testemunhar em processos judiciais con-

    tra pessoas livres, escolher trabalho e empregador.

    Por isso, pode-se caracterizar o Brasil colonial e imperial

    como uma sociedade escravista, e no apenas uma que possua

    escravos. Podemos dizer tambm sociedade racista, na medida em

    que negros e mestios, escravos, libertos e livres, eram tratados

    como inferiores aos brancos europeus ou nascidos no Brasil.

    Assim, ao se criar o escravismo estava-se tambm criando simul-

    taneamente o racismo. Dito de outra forma, a escravido foi mon-

    tada para a explorao econmica, ou de classe, mas ao mesmo

    tempo ela criou a opresso racial.

    A relao entre senhores e escravos era fundamentada na

    dominao pessoal e estava determinada principalmente pela co-

    ao. Assim, os castigos fsicos e as punies eram aspectos es-

    senciais da escravido. Os cativos tinham pouqussimos recursos

    contra os castigos recebidos. A menos que a punio resultasse

    em morte e algum se dispusesse a delatar s autoridades, pouco

    ou nada podia ser feito. Apesar da legislao colonial permitir que

    escravos e livres denunciassem senhores cruis s autoridades ci-

    vis ou eclesisticas, pouqussimos senhores responderam perante

    os juzes por acusaes de crueldade contra escravos. A maioria

    dos acusados terminou perdoada ou absolvida por juzes que, em

    geral, pertenciam mesma classe dos senhores.

    Autores leigos e religiosos que escreveram sobre a escravi-

    do no Brasil colonial condenaram o tratamento cruel dispensa-

    do aos escravos, mas nenhum deles chegou a condenar a legalida-

    de dos castigos. O jesuta italiano Jorge Benci, que viveu na Bahia

    em princpios do sculo XVIII, instrua os senhores a tratarem

    humanamente seus cativos, alimentando, vestindo, fazendo-os tra-

    balhar, mas tambm punindo-os com caridade crist.

    Entretanto, os senhores logo perceberam que no dava para

    manter a escravido apenas com violncia fsica. O castigo

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  • Uma histria do negro no Brasil 69

    injustificado podia resultar em fugas e ameaas vida do senhor,seus auxiliares e familiares. O escravo no era um ser passivo cujaobedincia podia ser mantida exclusivamente atravs do chicote.Em suas lutas cotidianas, os escravos impuseram limites domi-nao escravista e jamais se acomodaram. Em todos os lugaresem que existiu escravido, os senhores buscaram temperar a pol-tica de domnio com incentivos ao trabalho. Nos engenhos doNordeste, nas minas e nas fazendas de caf do Sudeste brasileiro,os senhores adotaram uma ideologia paternalista que consistia emcolocar o escravo sob proteo familiar. Aos senhores, claro,cabia o arbtrio de castigar e perdoar faltas porventura cometidas.Humildade, obedincia e fidelidade eram as expectativas dos se-nhores em relao a seus cativos.

    Por isso, em terra de branco, a sobrevivncia significou abrircaminhos para tornar a vida mais suportvel. E isso significavaesforo cotidiano para modificar e mesmo subverter as condiesde domnio escravista. Atravs de diversas e criativas maneiras, osescravos buscaram tirar proveito da ideologia paternalista dos se-nhores ludibriando suas vontades e caprichos e, s vezes, inver-tendo a direo que eles pretendiam imprimir s suas vidas. Comoveremos ao longo deste livro, alm das fugas e revoltas, os escra-vos desenvolveram formas sutis de resistncia cotidiana, e foi as-sim que interferiram no seu prprio destino e modificaram omundo sua volta.

    Era preciso fugir condio de pea produtiva impostapelo escravismo e criar espaos prprios para amar, constituir fa-mlias, criar filhos, brincar, folgar, cultuar deuses africanos e osque passaram a venerar no Novo Mundo. E, alm disso, era preci-so criar possibilidades de cair fora da escravido por meio da fuga,revolta ou alforria. Para sobreviver e modificar sua sorte no mun-do da escravido, os escravos tiveram de recorrer s lembranasdo que haviam vivido na frica e s experincias acumuladas aolongo da vida no cativeiro.

    Para comearmos a entender as experincias do povo negrosob a escravido no Brasil, vejamos suas condies de vida.

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  • 70 Uma histria do negro no Brasil

    Condies de vida

    As condies de vida dos homens e mulheres que viveram sob ocativeiro so fundamentais para compreendermos as bases da so-ciedade escravista e como os escravos buscaram superar a domi-nao. Comecemos pelos escravos da grande lavoura, setor queem geral concentrava a maior parte da populao escrava.

    O nmero de escravos necessrios para operar um engenhovariava muito de acordo com o tamanho da propriedade e com osaltos e baixos da exportao de acar. No sculo XIX, a maioriados engenhos baianos possua entre sessenta e oitenta escravos,mas havia propriedades operando com mais de duzentos cativos.A maioria dos escravos dos engenhos de acar do Nordeste pas-sava a maior parte do tempo nos canaviais. Era um trabalho rduoe contnuo, que comeava logo ao amanhecer e terminava no fimda tarde.

    Normalmente, os cativos levantavam-se por volta das cincohoras da manh e ao toque do sino do feitor se reuniam no terrei-ro para receberem as ordens do dia. Em alguns engenhos, e so-bretudo nos pertencentes a ordens religiosas, os escravos eramobrigados a fazer uma orao matinal antes de seguir para o traba-lho no canavial. Em geral trabalhavam em turmas que reuniamdez ou quinze cativos. A labuta era s vezes embalada por cantospara manter o ritmo do grupo. s nove horas os cativos paravampara uma pequena refeio e trs ou quatro horas depois almoa-vam ali mesmo no campo. Depois disso, continuavam trabalhan-do at o anoitecer.

    Preparar o campo, abrir sulcos para o plantio e depois afas-tar as ervas daninhas do canavial, a chamada limpa, eram tarefaspenosas, especialmente em solo pesado como eram os destinadosao cultivo da cana. A limpa era feita de sol a sol e muitas vezes osescravos eram obrigados a realiz-la depois de terem cumpridooutras tarefas. A colheita era feita por homens, mulheres e crian-as. Os homens cortavam cana e retiravam as folhas, as mulherese crianas reuniam as canas em feixes para serem transportadas. Ocorte da cana era feito na base de cotas, cada escravo era obrigadoa cortar certa quantidade de cana. Aps completar sua tarefa, oescravo estava livre para usar o tempo como quisesse.

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  • Uma histria do negro no Brasil 71

    Escravos no canavial.

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  • 72 Uma histria do negro no Brasil

    Meninos de 10 ou 12 anos trabalhavam tambm como con-

    dutores de carros de boi, transportando cana do canavial para a

    casa de moenda do engenho. Para concluir as tarefas com mais

    rapidez os pais levavam os filhos mais crescidos para ajud-los na

    lavoura. As crianas menores tambm no estavam isentas de tra-

    balho. Tarefas domsticas realizadas nas casas dos senhores, culti-

    vo de alimento e a caa de animais silvestres podiam ocup-las

    durante todo o dia.

    Nos engenhos o ndice de mortalidade era alto e o de nasci-

    mentos baixo, por isso havia necessidade permanente de adquirir

    novos escravos para substituir os que morriam ou envelheciam. No

    sculo XIX, cerca de 6 por cento dos escravos e escravas dos enge-

    nhos padeciam de cansao, possivelmente uma doena relacio-

    nada ao desgaste ou exausto que os impedia de trabalhar. No enge-

    nho Sergipe do Conde, no Recncavo baiano, entre 1622 e 1653,

    cerca de cinco escravos eram comprados por ano para manter o

    grupo de aproximadamente setenta cativos.

    O trabalho na lavoura era extremamente penoso para as

    mulheres, especialmente se estivessem em perodo de gestao ou

    amamentando. As altas taxas de aborto e mortalidade infantil nos

    engenhos estavam relacionadas sobrecarga de trabalho, princi-

    palmente nas pocas de colheita, quando se intensificavam as ati-

    vidades.

    Com o incio da safra, a carga de trabalho aumentava, a la-

    buta era contnua e por vezes se estendia at noite. A moenda

    no podia parar, pois a cana colhida tinha que ser logo processada

    para no estragar. Nesse perodo, a moenda ficava em funciona-

    mento ininterrupto de dezoito a vinte horas. Esse ritmo intenso

    de trabalho ia de agosto a maio, quando chegavam as chuvas de

    inverno, impossibilitando as atividades nos canaviais. Na moagem,

    certas tarefas eram exercidas quase sempre por mulheres. Algu-

    mas eram encarregadas de trazer as canas para serem modas e

    outras para recolherem o bagao. Duas ou trs escravas eram ocu-

    padas em enfiar as canas nas moendas. O servio na moenda exi-

    gia muito cuidado, pois o mnimo descuido podia custar a perda

    de uma mo ou brao esmagado pelos possantes cilindros que

    prensavam a cana para fazer o suco.

    Sermo em que o padre Antnio Vieira equipara a vida

    dos escravos nos engenhos ao martrio de Cristo, pro-

    ferido em 1633 em um engenho baiano:

    No se pudera nem melhor nem mais altamente des-

    crever que coisa ser escravo em um engenho do Bra-

    sil. No h trabalho nem gnero de vida no mundo mais

    parecido Cruz e Paixo de Cristo que o vosso em um

    destes engenhos. Bem aventurados vs, se soubreis

    conhecer a fortuna do vosso estado, e, com a confor-

    midade e imitao de to alta e divina semelhana,

    aproveitar o santificado trabalho.

    Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado,

    porque padeceis em um modo muito semelhante o que

    o Senhor padeceu na cruz e em toda a sua paixo. A

    cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um

    engenho de trs. Tambm ali no faltaram as canas,

    porque duas vezes entraram na Paixo: uma vez ser-

    vindo para o cetro do escrnio, e outra vez para a es-

    ponja em que lhe deram fel. A Paixo de Cristo foi de

    noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais

    so as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido,

    e vs despidos; Cristo sem comer, e vs famintos; Cristo

    em tudo maltratado, e vs maltratados em tudo. Os fer-

    ros, as prises, os aoites, as chagas, os nomes

    afrontosos, de tudo isto se compe a vossa imitao,

    que, se for acompanhada de pacincia, tambm ter

    merecimento de martrio.

    Padre Antnio Vieira justifica o trabalho infernal nos

    engenhos como forma de salvao das almas dos es-

    cravos, em 1633:

    E que coisa h na confuso deste mundo mais seme-

    lhante ao inferno que qualquer destes vossos engenhos,

    e tanto mais quanto de maior fbrica? Por isso foi to

    bem recebida aquela breve e discreta definio de

    quem chamou a um engenho de acar doce inferno.

    E, verdadeiramente, quem vir na escuridade da noite

    aquelas fornalhas tremendas perpetuamente ardentes;

    as labaredas que esto saindo a borbotes de cada

    uma, pelas duas bocas ou ventas por onde respiram o

    incndio; os etopes ou ciclopes banhados em suor, to

    negros como robustos, que soministram a grossa e dura

    matria ao fogo, e os forcados com que revolvem e

    atiam; as caldeiras, ou lagos ferventes, com os

    caches sempre batidos e rebatidos, j vomitando es-

    cumas, j exalando nuvens de vapores mais de calor

    que de fumo, e tornando-os a chover para outra vez os

    exalar; o rudo das rodas, das cadeias, da gente toda

    da corda mesma noite, trabalhando vivamente, e ge-

    mendo tudo ao mesmo tempo, sem momento de tr-

    guas nem de descanso; quem vir, enfim, toda a mqui-

    na e aparato confuso e estrondoso daquela Babilnia,

    no poder duvidar, ainda que tenha visto Etnas e

    Vesvio, que uma semelhana de inferno. Mas, se

    entre todo esse rudo, as vozes que se ouvirem forem

    as do Rosrio, orando e meditando os mistrios dolo-

    rosos, todo esse inferno se converter em paraso, o

    rudo em harmonia celestial, e os homens, posto que

    pretos, em anjos.

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  • Uma histria do negro no Brasil 73

    Trabalho escravo vigiado pelo senhor do alto da casa-grande.

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  • 74 Uma histria do negro no Brasil

    Todas as etapas de produo do acar eram acompanha-

    das por supervisores e feitores. Nos canaviais, os escravos de cada

    partido de cana trabalhavam sob a superviso de um feitor de

    partido ou de servio, que muitas vezes era escravo ou negro livre.

    Em algumas propriedades, mulheres exerciam a funo de feito-

    ras, possivelmente supervisionando outras mulheres. O feitor de

    partido estava submetido ao feitor-mor ou administrador, e era

    este que normalmente cuidava da disciplina dos escravos. Na casa

    de engenho, o feitor da moenda cuidava da moagem e era respon-

    svel por garantir que a cana fosse prensada adequadamente, e

    que a mquina fosse parada em caso de acidente. Na casa das cal-

    deiras, o mestre de acar dirigia as operaes de beneficiamento

    do caldo de modo a garantir a boa qualidade do produto. Muitos

    escravos aprenderam e aperfeioaram tcnicas de fabrico e se tor-

    naram mestres de acar famosos. Isso mostra que o escravismo

    no se beneficiou apenas das mos e dos braos dos cativos, ex-

    plorou tambm sua inteligncia e criatividade.

    Mas os trabalhos na lavoura e no engenho no representa-

    vam a totalidade do que era exigido dos cativos. Os escravos eram

    tambm obrigados a construir e reparar cercas, cavar fossos, con-

    sertar estradas e pontes, prover a casa-grande de lenha, reparar os

    barcos e os carros de boi, pastorear o gado, cuidar do pomar e das

    criaes dos senhores. Alm disso, tinham que providenciar parte

    do seu prprio alimento caando, pescando ou cuidando da pr-

    pria roa.

    A produo no engenho podia ser facilmente sabotada.

    Bastava espremer um limo em uma caldeira de melado para im-

    pedir a sua cristalizao em acar. Da que, trabalhadores negli-

    gentes e rebeldes no eram selecionados para as tarefas mais

    especializadas. Para conseguir a colaborao dos escravos era pre-

    ciso recorrer a incentivos. Os senhores costumavam pagar os es-

    cravos especializados com pequenas quantidades de acar, aguar-

    dente, melao, roupa ou mesmo em dinheiro.

    Os senhores gratificavam em dinheiro e concediam privil-

    gios a escravos que exerciam funes de superviso, especialmen-

    te os feitores de servio. Essa era uma forma de hierarquizar a

    mo-de-obra e obter a colaborao de membros da senzala. Po-

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  • Uma histria do negro no Brasil 75

    rm, isso no garantia colaborao irrestrita. Feitores e mestres deacar freqentemente escondiam as pequenas transgresses eassim impediam represlias senhoriais sobre parceiros de senzalaque cometiam furtos ou se afastavam do trabalho por alguma ra-zo. No podemos esquecer que escravos especializados, feitorese domsticos muitas vezes se transformavam em lderes altivos derevoltas.

    Nas fazendas de caf do sudeste brasileiro, os escravos tra-balhavam de quinze a dezoito horas dirias sob as vistas do feitor.Logo ao amanhecer apresentavam-se em fila para receber as tare-fas do dia. Os carros de boi os levavam para as plantaes maisdistantes. Assim como os escravos dos engenhos, embalavam oritmo do trabalho nos cafezais com cantigas. s nove ou dez ho-ras os cativos paravam para as refeies, que geralmente consistiade feijo, angu, farinha de mandioca e algum pedao de carne secaou charque. s quatro horas da tarde paravam novamente paramais uma refeio e voltavam a trabalhar at o pr-do-sol, quandoretornavam sede da fazenda. Mas o trabalho no cessava ainda.Era preciso preparar a farinha de mandioca, o fub que deveriamcomer no dia seguinte. Por volta das dez horas os cativos final-mente recolhiam-se s senzalas.

    Nas regies de minerao a escravido constitua a principalforma de organizao do trabalho. Em meados do sculo XVIII,no auge da explorao aurfera, os escravos representavam cercade 30 por cento da populao das Minas Gerais. Tanto ali comonas reas de minerao do Mato Grosso e de Gois, o escravoestava ligado s tarefas contnuas de construo de audes, tan-ques e represas de crregos para facilitar a explorao do ouro.Nessas regies os senhores possuam dez ou vinte escravos em-pregados na garimpagem dos rios. Mas na dcada de 1860, umamineradora inglesa, a Companhia de Minerao de So Joo DelRei, chegou a empregar 1.700 cativos, a maioria alugada de outrossenhores.

    As condies de trabalho nas minas eram extremamentedesgastantes. O escravo garimpeiro ficava muito tempo com par-te do corpo mergulhada na gua dos rios e crregos. O escravoquase que no tinha tempo para si mesmo. Suspeita-se que o es-

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  • 76 Uma histria do negro no Brasil

    cravo das minas vivia menos do que seus parceiros dos engenhos

    e fazendas de caf. Para evitar a morte prematura de seus cativos,

    os senhores mineiros freqentemente contratavam enfermeiros

    ou enfermeiras negros para cuidar dos que labutavam no garimpo.

    Para muitas doenas recorria-se s ervas tpicas da medicina afri-

    cana ou indgena.

    Na minerao os cativos ficavam sob a superviso constan-

    te do vigia de canoas, que era geralmente branco ou mulato. Os

    cativos eram obrigados a trabalhar curvados, de frente para o ca-

    pataz, para que no ocultassem ouro ou diamante encontrado

    durante o peneiramento do cascalho. Ao trmino de cada tarefa

    eram revistados. Mesmo assim, os escravos desenvolveram for-

    mas sutis de ocultar algum achado precioso para comprar a to

    sonhada alforria. A alforria freqentemente era tambm compra-

    da com o trabalho rduo de prospeco, autorizada ou no pelo

    senhor, nas reas abandonadas por outros garimpeiros.

    No Rio Grande do Sul os escravos foram largamente utili-

    zados na criao e pastoreio de gado e na produo de charque.

    No sculo XVIII, com o aumento das exportaes do charque

    gacho para outras regies do Brasil, o nmero de escravos assu-

    miu grandes propores. No sculo XIX, as charqueadas reuniam

    em mdia sessenta cativos; algumas chegavam a ter mais de cem.

    Ali, o abate do gado, o corte e o armazenamento das carnes e do

    couro exigiam trabalho intenso e prolongado. Nos perodos de

    maior atividade, entre outubro e maio, os cativos chegavam a tra-

    balhar dezesseis horas seguidas sob vigilncia dos capatazes, como

    eram chamados os feitores gachos. O trabalho normalmente se

    estendia noite e os senhores costumavam fornecer aguardente

    aos cativos para estimul-los.

    Nas charqueadas, minas e engenhos, os escravos elabora-

    ram formas diversas de resistncia cotidiana obrigao de traba-

    lhar por muitas horas seguidas. Diante da sobrecarga de trabalho,

    eles simulavam doenas ou realizavam pequenas fugas. Em 1933,

    no interior da Bahia, um ex-escravo de engenho recordou que

    muitas vezes fugia para evitar trabalho excessivo, pois era o ni-

    co meio da gente descansar. Essas fugas serviam tambm para

    visitar parentes em propriedades prximas.

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  • Uma histria do negro no Brasil 77

    Escravos numa fazenda de caf.

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  • 78 Uma histria do negro no Brasil

    Sabe-se que nos engenhos e fazendas de caf os cativos au-

    mentavam o ritmo de trabalho na presena de senhores e feito-

    res, mas assim que estes se afastavam procuravam fazer pequenas

    pausas para descansar. Nos cafezais do Sudeste, os escravos cos-

    tumavam entoar cnticos improvisados, chamados de jongos, que

    serviam para ritmar o trabalho e, quando preciso, alertar os com-

    panheiros da aproximao dos senhores e feitores. Alis, nas la-

    vouras de cana e caf os conflitos entre os escravos e seus senho-

    res muitas vezes estavam relacionados reduo da jornada de

    trabalho. Em 1789, escravos do engenho Santana, em Ilhus, Bahia,

    se rebelaram e redigiram um documento contendo vrias reivindi-

    caes, e numa delas exigiam a reduo do tempo de trabalho na

    lavoura de cana e o direito ao lazer.

    Vestir, morar e comer

    Tanto nos engenhos como nas fazendas de caf, charqueadas e nas

    minas, as condies de moradia eram bastante precrias. Como sa-

    bemos, a morada dos escravos era chamada senzala, palavra de ori-

    gem quimbundo que significa residncia de serviais em proprieda-

    de agrcola, ou morada separada da casa principal. No sculo XIX

    existiam nas grandes propriedades rurais dois modelos de senzalas.

    A primeira, estilo barraco, consistia de uma nica construo re-

    tangular e alongada, internamente repartida em vrios cubculos.

    Eram projetadas e construdas pelos senhores e quase sempre loca-

    lizadas ao lado ou atrs das casas-grandes, a residncia senhorial, de

    forma a manter a escravaria ao alcance da vista. Geralmente existia

    um barraco para homens e outro para mulheres, mas havia tam-

    bm compartimentos em que eram alojados casais com filhos. Es-

    tas senzalas eram trancadas noite pelos feitores, uma medida em

    geral insuficiente para impedir as fugas, mas importante para esta-

    belecer a disciplina, porque determinava o horrio de recolher-se

    noite e de comear a trabalhar ao amanhecer.

    O segundo modelo era formado por barracos separados,

    construdos com paredes de barro batido e cobertas de sap ou

    telhas de cermica. Eram construdas pelos prprios cativos. Nes-

    sas habitaes eles tinham a oportunidade de organizar o espao

    Tratado proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seus

    escravos durante o tempo em que se rebelaram (por

    volta de 1789):

    Meu Senhor, ns queremos paz e no queremos guer-

    ra; se meu senhor tambm quiser nossa paz h de ser

    nessa conformidade, se quiser estar pelo que ns qui-

    sermos a saber. Em cada semana nos h de dar os

    dias de sexta-feira e de sbado para trabalharmos para

    ns no tirando um destes dias por causa de dia santo.

    Para podermos viver nos h de dar rede, tarrafa e ca-

    noas. No nos h de obrigar a fazer camboas, nem a

    mariscar, e quando quiser fazer camboas e mariscar

    mande os seus pretos Minas. Faa uma barca grande

    para quando for para Bahia ns metermos as nossas

    cargas para no pagarmos fretes.(...) A tarefa de cana

    h de ser de cinco mos, e no de seis, e a dez canas

    em cada feixe.(...) Os atuais feitores no os queremos,

    faa a eleio de outros com a nossa aprovao.(...)

    Os marinheiros que andam na lancha alm de camisa

    de baeta que se lhe d, ho de ter gibo de baeta, e

    todo vesturio necessrio. O canavial do Jabir o ire-

    mos aproveitar por esta vez, e depois h de ficar para

    pasto porque no podemos andar tirando canas por

    entre mangues. Poderemos plantar nosso arroz onde

    quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso

    peamos licena, e poderemos cada um tirar jacaran-

    ds ou qualquer pau sem darmos parte para isso. A

    estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar

    sempre de posse da ferramenta, estamos prontos para

    o servirmos como dantes, porque no queremos se-

    guir os maus costumes dos mais Engenhos. Podere-

    mos brincar, folgar, e cantar em todos os tempos que

    quisermos sem que nos impea e nem seja preciso li-

    cena.

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0878

  • Uma histria do negro no Brasil 79

    e dot-lo de elementos culturais aprendidos na frica. Os escra-vos deviam valorizar bastante a construo do prprio barraco,porque l era possvel dispor de maior privacidade e liberdade parasua vida domstica. Ali era possvel cozinhar a prpria comida ealimentar-se longe da vista do senhor.

    Nos engenhos do Nordeste coexistiam os dois modelos dehabitao, mas era mais comum as cabanas dispostas em filas elocalizadas a certa distncia da casa-grande. Nos engenhos daParaba, o espao entre uma fileira e outra de senzalas era chama-do de rua, uma forma de demarcar e distinguir o mundo dassenzalas e o mundo da casa-grande. No interior das senzalas haviauns poucos objetos de uso pessoal, um ba para guardar as rou-pas, camas rudimentares ou esteiras para dormir, s vezes algunstamboretes, panelas e pratos de barro e fogo a lenha.

    Nas regies de minerao, os escravos moravam em chou-panas chamadas de ranchos. Eram habitaes simples que podi-am ser facilmente desmontadas e transportadas para outros lo-cais, conforme a necessidade de deslocamento da exploraomineradora.

    Para terem acesso a bens que normalmente no lhes chega-riam s mos pela obrigao ou generosidade dos senhores, osescravos envolviam-se em vrias atividades suplementares ao tra-balho na grande propriedade. Para conseguir dinheiro trabalha-vam nos dias de folga para seus senhores ou outros empregado-res. Outra fonte de ganho era a manufatura de objetos para a ven-da: cortar e costurar roupa, tranar cestos de cip e palha, fazerpanelas e utenslios de barro que eram vendidos na feira.

    Nas regies de minerao, os escravos aproveitavam as ho-ras e dias vagos para procurar refugos de ouro ou diamante emlocais j explorados pelos garimpeiros. Por volta de 1850, na cida-de de Cuiab, quando a extrao de ouro j se encontrava emdeclnio, escravos e livres pobres podiam ser vistos catando peda-os minsculos de ouro em meio ao cascalho que se espalhavapelas ruas, principalmente depois de chuvas torrenciais.

    Como em outras regies escravistas das Amricas, algunsescravos brasileiros desenvolveram atividades independentes e al-ternativas grande lavoura. Sabe-se de escravos que tinham cria-

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0879

  • 80 Uma histria do negro no Brasil

    o de animais, especialmente bois, porcos, galinhas, para consu-

    mo prprio e para a venda. Muitos desses animais eram criados

    nos pastos e terrenos dos senhores ou em outras propriedades

    sob o sistema de meia. Vamos a um exemplo, entre dezenas de

    outros. Ao ser ferido acidentalmente por arma de fogo em uma

    roa de cana, o escravo Daniel, africano, trabalhador na lavoura

    do engenho So Pedro, na vila de So Francisco, no Recncavo

    baiano, confessou que estava retornando de uma visita que fez a

    outro engenho para tratar de uns porcos que criava em socieda-

    de com uma mulher chamada Virgnia. Para no comparecer ao

    servio do senhor, ele disse que fingiu doena.

    Nas fazendas de caf do Rio de Janeiro e So Paulo, muitos

    escravos se apropriavam furtivamente de uma parte do caf que

    produziam. Os vendeiros de beira de estrada eram muitas vezes

    receptadores de galinhas, porcos e caf desviados das fazendas. O

    produto do furto podia ser utilizado na compra de roupas e ou-

    tros bens que lhes faltavam.

    As vestimentas dos escravos eram extremamente precrias.

    Os senhores de engenho costumavam distribuir roupas prontas e

    tecidos duas vezes ao ano, no incio e no fim do perodo de corte

    e moagem da cana. No sculo XVIII, fornecia-se um par de cami-

    sas e calas para os homens e saias de algodo cru para as mulhe-

    res. No sculo XIX, nas plantaes de caf do Sudeste, os escra-

    vos recebiam em geral trs camisas, trs pares de cala e os respec-

    tivos casacos, um chapu e dois cobertores por ano. As mulheres

    recebiam saias e xales de algodo grosseiro.

    Em Minas Gerais o trabalho de explorao do ouro e do

    diamante exigia pouca roupa. Como passava a maior parte do dia

    com as pernas mergulhadas na gua, o escravo mineiro geralmen-

    te vestia calo curto e usava o costumeiro chapu. Do ponto de

    vista do senhor, o pouco vesturio favorecia o controle, pois difi-

    cultava a ocultao de ouro ou alguma pedra preciosa. Os escra-

    vos que exerciam funes de superviso usavam camisas. Mas os

    senhores mineiros costumavam premiar com camisas e calas os

    que encontravam alguma pedra preciosa. Para complementar o

    vesturio, os escravos podiam lanar mo das quantias acumula-

    das nos trabalhos extras que realizavam para os senhores. No s-

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0880

  • Uma histria do negro no Brasil 81

    culo XIX vendedores ambulantes e mascates freqentavam as reas

    rurais vendendo casacos de chita, cales de cetim, veludo, panos

    da costa e outros tecidos que eram apreciados pela escravaria dos

    engenhos e minas.

    As gravuras e os comentrios de viajantes estrangeiros que

    visitaram o Brasil no sculo XIX mostram que o vesturio refletia

    as diferentes ocupaes e a hierarquia interna da senzala. Os es-

    cravos artesos e domsticos possuam vestimentas melhores e

    mais diversificadas do que os escravos da lavoura.

    Alm de vestir e cuidar dos que adoeciam, os senhores deviam

    alimentar seus cativos. Mas nem sempre cumpriam satisfatoria-

    mente seus deveres e, muitas vezes, a falta de alimentos ou a sua

    pssima qualidade podia desencadear reaes violentas dos cati-

    vos. Em 1871, na cidade de Campinas, provncia de So Paulo, o

    escravo Gregrio, acusado de assassinar o senhor, denunciou que

    este s dava uma muda de roupa por ano; que s dava almoo e

    jantar, isto em pouca quantidade; que no lhe permitia plantar e

    nem criar e que proibindo-os ultimamente de trabalhar para vizi-

    nhos lhes remunerava muito mal o trabalho dos domingos.

    Todos os observadores da escravido foram unnimes em

    denunciar a m qualidade da alimentao fornecida aos escravos.

    Foi a precria alimentao uma das causas principais da curta ex-

    pectativa de vida dos cativos e das camadas mais pobres da popu-

    lao livre. Ao longo do perodo colonial e imperial, diversas leis e

    decretos foram criados para obrigar os senhores a fornecer ali-

    mentao suficiente ou reservar parte de suas terras ao cultivo de

    gneros de subsistncia, em particular a mandioca. Com freqn-

    cia, os momentos de crescimento das exportaes de acar ou

    caf resultavam em carestia e escassez de alimentos. Nos enge-

    nhos de acar os senhores forneciam rao diria aos cativos,

    geralmente composta de farinha de mandioca, feijo, peixe ou carne

    seca. Durante a safra de cana os cativos recebiam aguardente e

    subprodutos do acar, que eram fontes de energia para estimular

    o trabalho.

    Em alguns engenhos os escravos dependiam exclusivamen-

    te da rao fornecida pelos senhores. Em outros permitia-se que

    os escravos preparassem o prprio alimento em suas senzalas. Mas,

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0881

  • 82 Uma histria do negro no Brasil

    comumente, os engenhos combinavam as duas formas. A raoquase sempre era parca e os escravos eram obrigados a suplement-la com alimentos produzidos por eles prprios.

    A parca alimentao podia ser complementada com caa epesca, freqentemente praticadas nas horas vagas. Nas regies deminerao os senhores mandavam os escravos caarem a fim dediminurem gastos. Os povos da frica Central conheciam umagrande variedade de armadilhas usadas na caa e sem dvidas al-gumas delas foram adaptadas s condies de vida no Brasil.

    O acesso a uma roa era outro meio de ampliarem as fontesde sustento. Em muitas propriedades permitia-se aos escravoscultivarem suas prprias roas e disporem dos produtos comobem entendessem. Nas minas muitos senhores permitiam aos es-cravos cultivar hortas e criar porcos e aves domsticas nos dias emque no estavam no garimpo. O cultivo de roas aliviava parcial-mente os mineiros dos gastos com comida e isso era importantenuma regio em que a maior parte dos alimentos vinha de fora.

    Do ponto de vista dos senhores, a concesso de espaospara cultivo era uma forma de obter a cooperao dos escravos.Mas para estes era a oportunidade de diversificar os alimentos quelevavam para a senzala e, quando possvel, acumular algum dinhei-ro com a venda do excedente da produo. Com esse dinheiro erapossvel comear a pensar na prpria alforria e na dos filhos. Aroa tambm servia como forma de mobilizao da comunidadeem torno do direito ao acesso terra.

    Importante observar que, ao ampliar as fontes de sustento,os escravos abriram a possibilidade de melhorar a qualidade dacomida e conferir-lhe um sentido cultural prprio, preparando-ascom receitas relembradas da frica.

    Sobreviver nas cidades

    Embora a economia escravista estivesse baseada principalmentena agricultura, os centros urbanos tiveram papel de destaque nautilizao de mo-de-obra escrava. Os escravos desempenharampapel fundamental no dia-a-dia das cidades. Os chamados escra-vos de ganho ocupavam-se do transporte de pessoas e mercado-

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0882

  • Uma histria do negro no Brasil 83

    rias nas ruas e portos. No sculo XIX, na cidade de Cuiab, pro-

    vncia de Mato Grosso, onde era problemtico o abastecimento

    de gua, grande parte dos escravos de ganho se ocupava em trans-

    portar gua das fontes pblicas para as cozinhas e banheiros dos

    sobrados. Esse cenrio repetia-se nas grandes cidades Salvador,

    Rio de Janeiro, So Paulo, Vila Rica durante a maior parte do

    sculo XIX.

    Alm dos carregadores, havia os pedreiros, pintores, carpin-

    teiros, estivadores, marinheiros, canoeiros, cocheiros, carroceiros,

    sapateiros, barbeiros, alfaiates, ferreiros, costureiras, bordadeiras, par-

    teiras, enfermeiras e uma infinidade de outros profissionais espe-

    cializados, sem os quais as cidades no funcionariam. Nas grandes

    cidades essas atividades eram exercidas majoritariamente por ne-

    gros e pardos, escravos e libertos, pois eram geralmente rejeitadas

    pela populao branca. Na sociedade escravista o trabalho que

    exigisse algum esforo fsico era considerado aviltante. No final

    do sculo XIX, este quadro modificou-se nas cidades do Sudeste,

    quando os imigrantes europeus, principalmente portugueses, j

    disputavam com os escravos e libertos aquelas ocupaes, inclusi-

    ve a de transporte de cargas.

    Nos sobrados urbanos encontravam-se as domsticas, cozi-

    nheiras, amas secas, amas-de-leite que limpavam, arrumavam, lava-

    vam, engomavam e passavam roupa, cozinhavam, amamentavam e

    cuidavam das crianas. As escravas domsticas se encarregavam tam-

    bm de inmeros afazeres fora das casas dos senhores. O servio

    comeava cedo, antes que os senhores acordassem, pois era preciso

    abastecer a casa de gua potvel, muitas vezes carregada das fontes

    pblicas. Se pertencessem a senhores com dificuldade financeira,

    eram obrigadas a trabalhar em outras casas como alugadas.

    As escravas eram utilizadas tambm no servio de venda-

    gem de doces, mingaus, bolos, caldo de cana, caruru e outras re-

    ceitas africanas. As quitandeiras e ganhadeiras enchiam as ruas

    com suas maneiras caractersticas de cativar os fregueses. Elas

    muitas vezes levavam para as ruas os filhos pequenos presos s

    costas ou, quando mais crescidos, mantinham-nos prximos aos

    locais em que trabalhavam. Havia ainda, nas cidades porturias e

    mineradoras, a explorao do trabalho feminino nos prostbulos.

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0883

  • 84 Uma histria do negro no Brasil

    Parte da escravaria das cidades trabalhava em grandes e pe-quenas fbricas. No sculo XIX provncias como Minas Gerais,por exemplo, sediaram inmeras fbricas de diferentes ramos queutilizavam o trabalhador cativo. Em Cuiab, provncia de MatoGrosso, escravos trabalhavam em fbricas de plvora. Na cidadedo Rio de Janeiro muitos cativos eram empregados na fabricaode tecidos, sabo, chapus e outros artigos de consumo. Em 1836,a fbrica de ferro So Joo de Ipanema, sediada em So Paulo,chegou a empregar 141 escravos.

    importante observar que nas cidades os escravos e escra-vas normalmente pulavam de uma ocupao para outra por inte-resse prprio ou por imposio dos senhores. Assim, uma escravadomstica podia, nas horas vagas, se transformar numa vendedorade doces nas ruas. No mundo urbano a utilizao da mo-de-obraescrava era muito flexvel e dinmica.

    A escravido nas cidades diferia em aspectos importantesdaquela do mundo rural. O nmero mdio de escravos por se-nhores era bem menor, por exemplo. At a primeira metade dosculo XIX, principalmente, a propriedade escrava estava difundi-da entre as mais diversas categorias sociais.

    O escravo urbano passava a maior parte do tempo longe dasvistas dos senhores, trabalhando nas ruas, portos e construes.Desfrutava de uma liberdade de movimento bem maior do que seuparceiro do campo. Os escravos de ganho faziam alguns serviosnas casas dos senhores e iam para as ruas em busca de trabalho.Alugavam seu tempo a um e a outro, e ao final do dia ou da semanadeviam entregar uma determinada soma a seu senhor ou senhora.O que passava disso os escravos embolsavam. O senhor podiatambm alugar o servio de seu escravo a terceiros por um perodode tempo eram os negros de aluguel.

    Os escravos de ganho e aluguel, que exerciam seus serviosna rua, muitas vezes moravam fora da casa do senhor. Geralmentehabitavam os stos ou os subsolos dos sobrados, chamados lojas.Eram espcie de senzalas urbanas. Muitos residiam em grandes so-brados localizados nos centros das cidades, espaos abandonadospelas elites, sublocando pequenos cubculos, dividindo-os com par-ceiros de trabalho, com libertos ou com suas mulheres. Essas habi-

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  • Uma histria do negro no Brasil 85

    Carregadores de cadeiras e condutores de carruagens.

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  • 86 Uma histria do negro no Brasil

    taes conhecidas como cortios reuniam pessoas de condies di-

    versas, escravos, libertos e livres. Ao longo do sculo XIX estes

    locais eram vigiados permanentemente pelas autoridades policias.

    A princpio poder-se-ia pensar que, longe das vistas dos se-

    nhores, os escravos seriam menos vigiados e controlados. Contudo,

    escravos e escravas das cidades viviam permanentemente sob as

    vistas dos policiais e dos vizinhos. Cotidianamente chegavam ao

    conhecimento da polcia denncias de festas, batuques, bebedeiras,

    cantigas e vozerias nas casas habitadas por escravos e escravas.

    No por acaso, organizar e aprimorar a atuao das foras po-

    liciais foi nas cidades a grande preocupao dos governantes brasilei-

    ros durante a Colnia e o Imprio. A legislao foi farta em alvars,

    cartas rgias, cdigo criminal, leis municipais (posturas) e provinciais

    estabelecendo os limites de liberdade dos escravos urbanos, definin-

    do os espaos onde podiam circular, exercer seus ofcios, divertir-se,

    jogar capoeira, freqentar tabernas e fazer batuques.

    Aos escravos eram proibidos o uso de armas e a circulao

    pelas ruas das cidades durante a noite. A presena deles nas ruas

    durante a noite era estritamente controlada pela polcia. Temia-se

    que camuflados pela escurido poderiam cometer crimes, fugas e

    preparar revoltas. O escravo que vagasse noite sem autorizao de

    seus senhores podia ser preso como suspeito de fugido. Em 1829, a

    cmara municipal da cidade de Vitria, provncia do Esprito Santo,

    determinou: todo escravo que for encontrado na cidade sem bi-

    lhete do senhor ser conduzido cadeia e no dia seguinte castigado

    no Pelourinho com cinqenta aoites; se for mulher, receber qua-

    tro dzias de palmatoadas e, se reincidente, ser at seis dzias.

    Em todos os centros urbanos do pas, depois do toque de

    recolher, s oito horas, os cativos s podiam circular pelas ruas

    com licenas escritas pelos senhores ou por autoridades policiais.

    As patrulhas e rondas policiais vigiavam tambm os locais de cul-

    to afro-brasileiro, freqentemente prendendo seus membros e

    destruindo ou apreendendo objetos e instrumentos rituais. As leis

    coloniais e imperiais previam que os divertimentos da populao

    negra, fosse ela escrava ou liberta, deveriam ser vigiados de perto

    pela polcia. Vez por outra, os vereadores aprovavam posturas proi-

    bindo batuques, maracatus e ajuntamentos de negros. Em 1831,

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  • Uma histria do negro no Brasil 87

    Escravos trabalhando em obras pblicas.

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  • 88 Uma histria do negro no Brasil

    a cmara de Recife, provncia de Pernambuco, proibiu vozerias,

    alaridos e gritos pelas ruas, restrio que atingia os africanos em

    suas manifestaes religiosas. Proibiu tambm que os carregado-

    res andassem pelas ruas cantando desde o recolher at o sol nas-

    cer, algo severo e que buscava coibir o costume de ritmar o tra-

    balho com cantos.

    A despeito das proibies e das medidas de controle, os

    escravos iam e vinham pelas ruas durante a noite e no deixaram

    de participar de festas, de juntarem-se para batucar ou jogar capo-

    eira, freqentar as tabernas e casas de jogos. Por medo e precon-

    ceito, a elite evitava circular pelas ruas e isso permitia aos escravos

    ocuparem determinados pontos das cidades sem serem importu-

    nados. Os escravos eram os grandes conhecedores das cidades,

    sabiam de seus segredos e recantos.

    Embora fossem essenciais para o funcionamento da cidade

    e para a comodidade dos seus habitantes, os escravos eram temi-

    dos e vigiados permanentemente. Os muitos que circulavam pelas

    ruas levantavam suspeita de que a qualquer momento pudessem

    se rebelar. Alis, suspeita no de todo infundada, j que os escra-

    vos urbanos protagonizaram as mais organizadas rebelies do

    perodo imperial. Mas a suspeita freqentemente se transformava

    em parania, algo que tornava os negros fossem escravos, liber-

    tos ou livres alvo de medidas abusivas de controle policial.

    Nas cidades os senhores podiam recorrer ao poder pblico

    para castigar os escravos desobedientes ou que no cumpriam suas

    obrigaes. Durante a colnia o castigo era aplicado publicamen-

    te, em local determinado pela municipalidade. Este local era cha-

    mado de pelourinho. Mas, em torno de meados do sculo XIX, quan-

    do a escravido passou a ser condenada abertamente por alguns

    setores da sociedade, o castigo veio a ser aplicado em locais fecha-

    dos e que no despertassem a ateno das pessoas. Para punir os

    cativos desobedientes ou que fugiam, os senhores pagavam uma

    taxa polcia para executar o castigo no interior das cadeias pbli-

    cas, geralmente aoites e palmatoadas.

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0988

  • Uma histria do negro no Brasil 89

    Solidariedades no mundo do trabalho

    Tanto nas grandes propriedades rurais, quanto nas minas e cida-

    des, os escravos buscaram fazer do trabalho um momento especi-

    al para forjar laos de solidariedade. Para o africano novo, o traba-

    lho era o primeiro canal de entrada na comunidade escrava. Dos

    mais velhos aprenderia os rudimentos da lngua do branco e intei-

    rava-se da vida escrava e das estratgias para sobreviver. Entre os

    companheiros buscariam alguma cumplicidade quando precisas-

    sem fugir das vistas dos senhores e feitores para descansar, visitar

    parentes em outras localidades, divertir-se ou cumprir alguma obri-

    gao religiosa. Era com os companheiros de trabalho que fre-

    qentemente contavam quando faziam escolhas mais arrojadas,

    como fugir para um quilombo ou rebelar.

    Nas cidades os escravos de ganho se reuniam em torno dos

    cantos de trabalho. O canto era como se denominava em Salvador

    o grupo de trabalho reunido em determinado local. Organizaes

    semelhantes existiram em outras cidades movimentadas pelo traba-

    lho escravo, como Recife, So Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

    Geralmente os negros se reuniam em largos, praas ou esquinas pr-

    ximas zona porturia, estradas ou ferrovias. Os cantos chegavam a

    reunir dezenas de escravos da mesma etnia ou nao. Com o tempo,

    o exclusivismo tnico dos cantos foi diminuindo e vrias etnias afri-

    canas, alm de negros e mestios brasileiros, passaram a trabalhar

    lado a lado. Isso foi muito comum no final do sculo XIX. Cada

    canto estava sob a liderana de um chefe, chamado capito do canto,

    que era escolhido pelos prprios membros do grupo.

    Enquanto aguardavam a clientela para realizar algum servi-

    o, os ganhadores, sentados em tamboretes ou na calada, trana-

    vam pequenos cestos, esteiras e chapus, faziam gaiolas e pulsei-

    ras. Por vezes os barbeiros ambulantes vinham fazer-lhes a barba,

    as negras lhes vendiam mingau de milho e de tapioca. Aos forros

    juntavam-se sempre os escravos do mesmo ofcio e as amizades

    assim forjadas no trabalho eram slidas, duradouras e estiveram

    na origem de inmeras sociedades religiosas que promoviam a

    alforria e amparavam os mais idosos e doentes.

    Em Salvador existiam as juntas, que eram associaes cri-

    adas com o fim de formar uma poupana em dinheiro para em-

    historia.pmd 11/5/2006, 10:0989

  • 90 Uma histria do negro no Brasil

    prstimo aos que se encontravam em dificuldade financeira ouprecisassem comprar carta de alforria. Estas organizaes foramfundamentais tambm para que muitos destes trabalhadores nocassem na mendicncia quando perdiam as foras para trabalhar.A junta era presidida por um lder que cuidava de guardar e anotaras quantias depositadas e retiradas. Os membros se reuniam, ge-ralmente aos domingos, para retirar e depositar dinheiro e discutirnegcios. Muitos africanos utilizaram essas associaes pararetornar frica. No sculo XIX os negros de ganho que traba-lhavam na zona porturia da cidade do Rio de Janeiro, inclusivecarregadores de caf, tambm se reuniam em torno de associa-es com o fim de promoverem a liberdade de seus membros.

    Alm da identidade tnica, o que muitas vezes unia os escra-vos era o fato de compartilharem os mesmos locais de trabalho epertencerem ao mesmo senhor. Assim, as lavadeiras congrega-vam-se em torno das fontes e rios. As fontes pblicas que abaste-ciam as casas nas grandes e pequenas cidades eram locais de en-contro de escravos domsticos, lavadeiras, aguadeiros e ganhado-res. Carregadores e estivadores formavam grupos de trabalho quese reuniam nas reas porturias. No Rio de Janeiro os escravos daAlfndega dividiam-se em grupo de cinco ou seis para puxar,empurrar e transportar cargas pesadas. Os escravos que trabalha-vam em grupo cuidavam uns dos outros e se ajudavam mutua-mente para cumprir as exigncias dos senhores ou dos clientes.Era nesses locais que ocorriam os contatos, circulavam as notci-as, conversava-se sobre os caprichos e birras dos senhores, e sediscutia principalmente sobre a escravido no Brasil.

    As comunidades negras dividiam-se, assim, em diversos gru-pos, que em alguns casos hostis em relao aos outros. A adminis-trao pblica muitas vezes acirrou essas rivalidades, tentando im-pedir a criao de uma frente comum contra a sociedade escravista.Entretanto, o mundo das ruas e do trabalho criava possibilidadesimensas de alianas entre escravos de origens e profisses diversas.

    Como veremos no captulo V, essas alianas contaram muitoquando os escravos fugiam para os quilombos ou se rebelaram contraa dominao escravista. Mas, antes disso, discutiremos as vivnciasescravas no interior das famlias e das comunidades religiosas.

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  • Uma histria do negro no Brasil 91

    EXERCCIOS:

    1. Discuta a importncia da mo-de-obra escrava parao sucesso da indstria aucareira no Brasil.

    2. Fale sobre o cotidiano dos escravos empregadosnas fazendas de caf.

    3. Comente sobre as condies de vida dos escravosnas cidades.

    4. Qual a importncia das redes de solidariedade navida dos escravos?

    Bibliografia:

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