aula 3 contas nacionais e macroeconomia - identidade e teoria-parte ii_1398295151 (1).pdf

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1 AULA 3 CONTAS NACIONAIS E MACROECONOMIA: IDENTIDADES E TEORIA parte 2 2. As Identidades Contábeis presentes no sistema de Contas Nacionais Identidades básicas: produto=dispêndio=renda e poupança=investimento (não esquecer que são três tracinhos e não dois) = é sinal de causa e efeito Os três tracinhos expressam as diferentes óticas por meio das quais se pode enxergar e mensurar os agregados econômicos. Na verdade, eles significam tão somente a existência de uma identidade contábil entre os dois elementos. Há outras identidades contábeis que derivam dessas duas identidades básicas e que estão presentes no sistema de contas nacionais. É importante compreender alguns conceitos relativos a agregados econômicos. Os agregados mensurados do ponto de vista interno: total produzido no território, independente da origem dos fatores e os agregados mensurados do ponto de vista nacional: consideram o valor adicionado gerado por fatores de produção de propriedade de residentes, independente do território onde esse valor é gerado. No Sistema de Contabilidade a partir SNA 93, seguindo pelo Brasil desde 1996, não utiliza mais a terminologia PNB ou PNL. A palavra nacional aplica-se apenas a renda, nacionalidade dos proprietários de fatores de produção. O produto interno pode ser bruto ou líquido, a preço de mercado ou a custo de fatores. O produto a preço de mercado é o produto total produzido no território, independentemente de origem. O produto a custo de fatores é o valor adicionado gerado por fatores de produção de proprietários de residentes, independentemente do território onde o valor é gerado.

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    AULA 3 CONTAS NACIONAIS E MACROECONOMIA:

    IDENTIDADES E TEORIA parte 2

    2. As Identidades Contbeis presentes no sistema de Contas Nacionais

    Identidades bsicas: produto=dispndio=renda e

    poupana=investimento

    (no esquecer que so trs tracinhos e no dois)

    = sinal de causa e efeito

    Os trs tracinhos expressam as diferentes ticas por meio das quais se pode

    enxergar e mensurar os agregados econmicos. Na verdade, eles significam

    to somente a existncia de uma identidade contbil entre os dois

    elementos.

    H outras identidades contbeis que derivam dessas duas identidades

    bsicas e que esto presentes no sistema de contas nacionais.

    importante compreender alguns conceitos relativos a agregados

    econmicos. Os agregados mensurados do ponto de vista interno: total

    produzido no territrio, independente da origem dos fatores e os agregados

    mensurados do ponto de vista nacional: consideram o valor adicionado

    gerado por fatores de produo de propriedade de residentes, independente

    do territrio onde esse valor gerado.

    No Sistema de Contabilidade a partir SNA 93, seguindo pelo Brasil desde

    1996, no utiliza mais a terminologia PNB ou PNL. A palavra nacional

    aplica-se apenas a renda, nacionalidade dos proprietrios de fatores de

    produo.

    O produto interno pode ser bruto ou lquido, a preo de mercado ou a custo

    de fatores. O produto a preo de mercado o produto total produzido no

    territrio, independentemente de origem. O produto a custo de fatores o

    valor adicionado gerado por fatores de produo de proprietrios de

    residentes, independentemente do territrio onde o valor gerado.

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    Expresso contbil que deriva da identidade terica inicial

    Renda=produto=dispndio:

    1) RNB = PIB RLEE

    RNB Renda Nacional Bruta PIB Produto Interno Bruto RLEE Renda lquida enviada ao exterior

    PIB > RNB (-)

    PIB < RNB (+)

    a partir do conceito de RNB que se chega, nas contas nacionais, ao

    conceito de renda nacional disponvel bruta (ou RDB). O conceito dela

    importante porque partir dela que se pode determinar a poupana

    bruta ou poupana domstica (SD).

    Como se chega nesse conceito do conceito de RNB ao conceito de RDB? Renda efetiva disponvel para os residentes + governo.

    Disponvel est ligado a consumir ou poupar + transferncias recebidas

    (-) enviadas. Nessas transferncias h incluso de ajuda humanitria,

    remessa de imigrantes, entre outros valores.

    Identidade

    2) RDB = RNB + TUR

    RDB = Renda disponvel bruta

    TUR = Transferncia unilateral lquida recebida

    PIB = RNB + RLEE (identidade 1 reescrita)

    RNB = RDB TUR (identidade 2 reescrita)

    3) PIB = RDB + RLEE TUR ou + TUR

    Pases exportadores de capital

    RDB: Renda do setor privado e Renda do governo ou Renda Lquida do

    Governo (RLG) que a soma dos impostos direito e indiretos e outros

    receitas correntes e menos transferncias (assistncia Social e

    Previdenciria mais juros da dvida pblica) e os subsdios concedidos

    s empresas.

    RLG = Receita Total do Governo menos transferncia mais subsdios

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    4) RDB = RPD + RLG ou RPD = RDB RLG

    RPD = Renda Privada Disponvel

    Depois s completar o quadro das identidades macro do Sistema de

    Contas Nacional, considerar a natureza da demanda que gerou esse

    produto, bem como a locao da renda gerada por tal produo.

    Vamos voltar em uma economia fechada e sem governo.

    Produto (Y) igual demanda por consumo (C) e a demanda por

    investimento (I)

    A Renda (Y) igual a consumo (C) mais poupana (S).

    Y = C + I e Y = C + S que resulta na prxima identidade

    5) I = S

    A introduo do governo as duas expresses que geraram a identidade I

    = S ficam modificadas, pois do ponto de vista da demanda que d

    origem ao produto, temos mais gastos do governo (G) e do ponto de

    vista da renda h introduo da Receita Lquido do Governo (RLG).

    Alm de consumir e poupar, os agentes tambm pagam impostos, taxas

    e outros tributos.

    Y = C + I + G Y = C + S + RLG

    6) I + G = S + RLG ou 6A) I = S + RLG G

    Sg = poupana do governo

    S = poupana privada

    Sg = RLG G (reescrever a identidade 6)

    6b) I = S + Sb

    S + Sg = SD

    6c) I = SD

    SD = Poupana domstica

    S = Poupana Privada

    Introduzir o setor externo na identidade 6c. a identidade 3 pode ser

    reescrita RDB do ponto de vista de sua alocao.

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    Renda disponvel bruta id 3 tambm pode ser escrita, do ponto de vista

    de sua alocao, como o somatrio dos recursos, com aqueles destinados

    poupana e com aqueles destinados ao pagamento de tributos.

    3) PIB = RDB + ELEE TUR e

    RDB = C + X + RLG, donde

    PIB = C + S + RLG + RLEE TUR, como tambm

    PIB + C + I + G + (X M), tem-se

    7) I + G + (X M) = S + RLG + RLEE TUR

    7A) I S + (G - RLG) = (M X) + RLEE - TUR

    Lembra-se que RLG G = Sg, e que

    (M X ) + RLEE TUR = SE (poupana externa)

    7C) I = (trs traos) S + SG + SE

    Ela reescreve em uma economia aberta e com governo a identidade

    bsica entre INVESTIMENTO E POUPANA.

    Ela nos diz que a poupana necessria para suportar o investimento

    bruto feito pela economia como um todo (gov includo) provm de 3

    fontes:

    - setor privado (S),

    - governo (Sg),

    - setor externo (SE)

    Se Sg (-) investimento vem do privado e do externo.

    Se SE (-) a economia foi capaz de financiar o resto do mundo.

    Por que a poupana externa (SE) = (M X) + RLEE TUR?

    SE = poupana externa

    M = importaes de bens e servios no fator

    X = exportaes de bens e servios no fator

    RLEE = renda lquida enviada ao exterior

    TUR = transferncias unilaterais recebidas

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    Resumo

    1. A contabilidade nacional surgiu a partir do advento da teoria keynesiana. Ele escreveu a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da

    Moeda para atacar a teoria ento vigente e mostrar que a economia

    no dispunha de mecanismos automticos para sair de situaes de

    recesso e desemprego.

    2. Ao questionar o automatismo implcito na concepo ortodoxa (hoje conhecida como escola neoclssica), Keynes jogou por terra vrios

    pressupostos tericos ento vigentes, forjou novos conceitos e

    revelou identidades.

    Essas identidades constituram o fundamento a partir do qual pde

    ser desenhado o Sistema de Contas Nacionais.

    3. preciso distinguir entre identidades, que no pressupem nenhuma relao de causa e efeito entre os termos que as constituem,

    e proposies tericas, que pressupem tais relaes.

    4. A identidade entre renda e dispndio demonstrada pela Conta de Produto permite perceber que o nvel de renda e, portanto, de

    emprego em que opera a economia depende do nvel da demanda

    agregada.

    5. A demanda agregada composta por quatro elementos: o Consumo privado, o Investimento, os gastos do governo e as exportaes

    lquidas das importaes.

    6. A conta Produto Interno Bruto do Sistema de Contas, tal como vigorou no Brasil at 1996, permite perceber claramente a

    identidade Produto=dispndio, bem como esses componentes da

    demanda agregada.

    7. A relao entre o consumo agregado e a renda produz o multiplicador keynesiano, que magnifica os impactos da demanda

    agregada sobre os nveis de renda e emprego.

  • 6

    8. Em funo da permanente incerteza quanto ao futuro, o investimento uma varivel extremamente instvel.

    9. A atuao positiva do efeito multiplicador depende do comportamento do investimento, que muito instvel, e da demanda

    externa lquida, varivel cujo controle no est na inteira

    dependncia do pas. Da que cabe ao governo, por meio de seus

    gastos, atuar como regulador do nvel de demanda efetiva e

    impedir a permanncia de situaes recessivas.

    10. O consenso keynesiano foi rompido, em meado da dcada de 1970, pelo advento da teoria das expectativas racionais, que deu nova

    vida aos pressupostos que Keynes atacara e recuperou a primazia da

    teoria ortodoxa.

    A inflao combinada ao desempenho que marcou o final dos anos

    1970 levou a uma onda de questionamentos quanto pertinncia da

    atuao do Estado como regulador do nvel de demanda efetiva e,

    assim, ps na dianteira as polticas associadas quilo que se

    convencionou chamar neoliberalismo (desregulamentao, controle

    dos gastos pblicos, Estado mnimo, privatizaes).