aula 03 - ação de nunciação de obra nova

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Unidade de Ensino Superior Vale Do Iguaçu Estágio Supervisionado IV – Prática Civil. Professor: Cainã Domit Vieira. Aula 03 – Ação de nunciação de obra nova. Definição: De acordo com o artigo 1.299 do Código Civil, o proprietário pode construir em seu terreno o que lhe aprouver, todavia deve resguardar os direitos dos vizinhos, bem como, respeitar os regulamentos administrativos, o que indica a limitação ao direito de construir. Se alguém se sentir lesado pela obra que esteja ainda sendo construída no prédio vizinho, é possível a propositura da Ação de Nunciação de Obra Nova (também denominada como “Embargo de Obra Nova”) a fim de que possa resguardar os seus direitos. Portanto, é possível impedir que o prédio de sua propriedade, ou posse, seja prejudicado, em sua natureza, substância, servidão ou fins, por obra em prédio vizinho. Permitindo-se que requeira o embargo da referida obra, para que fique suspensa e, a final, caso procedente seu pedido, seja demolida, modificada às custas do demandado o que tiver sido feito em prejuízo do demandante. Cabimento: Em conformidade com o artigo 934 do Código de Processo Civil, é cabível o ajuizamento da ação de nunciação de obra nova: I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em imóvel vizinho Ihe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado; De acordo com a redação deste inciso, não só o proprietário como prescreve o art. 1301 do novo Código Civil, mas também o possuidor tem legitimidade para propor a ação de nunciação de obra nova. 1

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Page 1: Aula 03 - Ação de Nunciação de Obra Nova

Unidade de Ensino Superior Vale Do Iguaçu

Estágio Supervisionado IV – Prática Civil. Professor: Cainã Domit Vieira.

Aula 03 – Ação de nunciação de obra nova.

Definição:

De acordo com o artigo 1.299 do Código Civil, o proprietário pode construir em seu terreno o que lhe aprouver, todavia deve resguardar os direitos dos vizinhos, bem como, respeitar os regulamentos administrativos, o que indica a limitação ao direito de construir.

Se alguém se sentir lesado pela obra que esteja ainda sendo construída no prédio vizinho, é possível a propositura da Ação de Nunciação de Obra Nova (também denominada como “Embargo de Obra Nova”) a fim de que possa resguardar os seus direitos. Portanto, é possível impedir que o prédio de sua propriedade, ou posse, seja prejudicado, em sua natureza, substância, servidão ou fins, por obra em prédio vizinho. Permitindo-se que requeira o embargo da referida obra, para que fique suspensa e, a final, caso procedente seu pedido, seja demolida, modificada às custas do demandado o que tiver sido feito em prejuízo do demandante.

Cabimento:

Em conformidade com o artigo 934 do Código de Processo Civil, é cabível o ajuizamento da ação de nunciação de obra nova:

I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em imóvel vizinho Ihe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado;

De acordo com a redação deste inciso, não só o proprietário como prescreve o art. 1301 do novo Código Civil, mas também o possuidor tem legitimidade para propor a ação de nunciação de obra nova.

A doutrina tem reconhecido legitimidade ativa para tal ação ao proprietário ou possuidor, que possa ser prejudicado pela obra nova, bem como, ao titular do domínio, enfiteuta, o usufrutuário, o usuário, o habitacionário, o comodatário, ou qualquer outro titular de direito real do uso ou fruição, o testamenteiro, o inventariante, o curador de ausentes, o depositário, o administrador.

II - ao condômino, para impedir que o coproprietário execute alguma obra com prejuízo ou alteração da coisa comum;

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Na hipótese de a referida obra ter sido autorizada pela assembleia de condôminos, será necessário que seja cumulada na referida ação o pedido de anulação da referida autorização, alegando-se por exemplo algum vício formal na sua convocação. Da mesma forma, quando a obra tenha sido licenciada pelo Poder Público, deverá de haver o pedido de anulação do referido alvará, com a respectiva inclusão do ente público no polo passivo.

III - ao Município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, do regulamento ou de postura.

Ovídio Baptista da Silva sustenta a posição que não só o município está legitimado para propor esta ação, mas também o particular, a União ou o Estado. Assim, embora a redação do referido inciso mencione apenas o município, admite-se também, que a União, o Estado ou o particular, tenham legitimidade ativa, pois devem de ser levados em conta também os interesses dessas pessoas referidas, e não só o interesse do ente público municipal.

Embargo:

O artigo 935 do Código de Processo Civil autoriza, em caso de urgência, o embargo extrajudicial por meio de notificação do prejudicado ao proprietário ou construtor, perante duas testemunhas, para a obra não prosseguir, sendo necessário postular a ratificação em juízo em até três dias, sob pena de cessar o efeito do embargo.

O juiz pode conceder o embargo liminarmente ou, se entender necessário, exigir justificação prévia. Deferido o embargo, o Oficial de Justiça lavrará auto circunstanciado, descrevendo o estado em que se encontra a obra; e, ato contínuo, intimará o construtor e os operários a que não continuem a obra sob pena de desobediência e citará o proprietário a contestar em 5 (cinco) dias a ação.

Petição Inicial:

Art. 936. Na petição inicial, elaborada com observância dos requisitos do art. 282, requererá o nunciante:I - o embargo para que fique suspensa a obra e se mande afinal reconstituir, modificar ou demolir o que estiver feito em seu detrimento;II - a cominação de pena para o caso de inobservância do preceito;III - a condenação em perdas e danos.Parágrafo único. Tratando-se de demolição, colheita, corte de madeiras, extração de minérios e obras semelhantes, pode incluir-se o pedido de apreensão e depósito dos materiais e produtos já retirados.

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Resposta do réu:

Com a citação, o nunciado poderá, no prazo de cinco dias, apresentar resposta, versando sobre qualquer desses fundamentos: (a) idoneidade ou competência do autor ou nunciante; (b) não veracidade dos fatos alegados pelo nunciante; (c) que a obra não é nova, mas tão-somente conserto ou reedificação da antiga, guardada a mesma forma; (d) intempestividade do embargo, se a obra já estava concluída quando embargada; (e) que no caso do art. 576 do CC já está constituída a servidão pelo lapso de ano e dia; (f) prescrição da ação; (g) que a obra nova não acarreta prejuízo.

Procedimento:

O artigo 939 do Código de Processo Civil prevê a aplicação do artigo 803 à ação de nunciação de obra nova. Desta forma, não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente, caso em que o juiz decidirá em cinco dias.

Em caso de contestação tempestiva e necessidade de produção de provas, o juiz designará data para audiência de instrução. Ressalte-se que o artigo 940 permite que o nunciado, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, postule o prosseguimento da obra, desde que preste caução e demonstre prejuízo resultante da suspensão dela.

Contudo, em nenhuma hipótese será possível o prosseguimento tratando-se de obra nova levantada contra determinação de regulamentos administrativos.

Noção de “obra nova” e “prédio vizinho”:

Obra nova é aquela que representa uma inovação no estado anterior do prédio, quer nele colocando uma construção que não tinha, quer destruindo uma construção que tinha quer alterando a construção existente, dela retirando o que havia, ou nela introduzindo o que não havia, isto é diminuindo ou aumentando.

Para o efeito da ação nunciativa, obra nova é toda e qualquer modificação introduzida no prédio, em relação ao seu estado anterior, por meio de trabalhos materiais do homem, sendo imprescindível que tenha sido iniciada e ainda não esteja concluída.

Ovídio Baptista da Silva define “obra nova” e “prédio vizinho” da seguinte forma:

“o critério que deverá orientar a distinção entre uma ‘obra acabada’ e outra a que falte ainda algum trabalho de conclusão, de modo a permitir o embargo, será o de investigar se a obra, no estado em que se encontra,

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seria perfeitamente utilizável para o fim a que se destina, ou se os trabalhos por realizar deixam-na ainda imprópria para seu uso normal”.

Sendo assim, a noção de prédio vizinho não está restrita a noção de prédio contíguo, confrontante ou limítrofe, abrangendo os prédios próximos, desde que atingidos pela lesividade da obra.

Caso simulado :

João é proprietário de prédio residencial localizado no Bairro de Santana, na capital de São Paulo. O prédio vizinho ao seu é de propriedade de Flávio, que reside na cidade de Campinas. Há dois meses, Flávio iniciou a construção de uma edícula nos fundos de seu terreno. Ao invés de implantar novos alicerces para a estrutura, Flávio aproveitou antigas colunas que faziam parte do terreno, tornando temerária a construção, que ameaça cair sobre o prédio de João.

QUESTÃO: Como advogado de João, promova a medida judicial cabível para obstar a construção e garantir que o mesmo não terá prejuízos no caso de ruína dos prédios.

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