aula 01

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Professor Eduardo Contar Página 1 DESENHO TÉCNICO: INTRODUÇÃO O que é o Desenho Técnico? O desenho técnico é uma forma de expressão gráfica que tem por finalidade a representação de forma, dimensão e posição de objetos de acordo com as diferentes necessidades requeridas pelas diversas modalidades de engenharia e também da arquitetura. Utilizando-se de um conjunto constituído por linhas, números, símbolos e indicações escritas normalizadas internacionalmente, o desenho técnico é definido como linguagem gráfica universal da engenharia e da arquitetura. Assim como a linguagem verbal escrita exige alfabetização, a execução e a interpretação da linguagem gráfica do desenho técnico exige treinamento específico, porque são utilizadas figuras planas (bidimensionais) para representar formas espaciais. A Figura 4 está exemplificando a representação de forma espacial por meio de figuras planas, donde pode-se concluir que: 1. Para os leigos a figura é a representação de três quadrados. 2. Na linguagem gráfica do desenho técnico a figura corresponde à representação de um determinado cubo. Conhecendo-se a metodologia utilizada para elaboração do desenho bidimensional é possível entender e conceber mentalmente a forma espacial representada na figura plana. Na prática pode-se dizer que, para interpretar um desenho técnico, é necessário enxergar o que não é visível e a capacidade de entender uma forma espacial a partir de uma figura plana é chamada visão espacial. Definição de Visão Espacial Visão espacial é um dom que, em princípio todos têm, dá a capacidade de percepção mental das formas espaciais. Perceber mentalmente uma forma espacial significa ter o sentimento da forma espacial sem estar vendo o objeto. Por exemplo, fechando os olhos pode-se ter o sentimento da forma espacial de um copo, de um determinado carro, da sua casa etc.. Ou seja, a visão espacial permite a percepção (o entendimento) de formas espaciais, sem estar vendo fisicamente os objetos. Apesar de a visão espacial ser um dom que todos têm, algumas pessoas têm mais facilidade para entender as formas espaciais a partir das figuras planas, como mostra a Figura 3. Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4

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  • Professor Eduardo Contar Pgina 1

    DESENHO TCNICO: INTRODUO

    O que o Desenho Tcnico?

    O desenho tcnico

    uma forma de

    expresso grfica que

    tem por finalidade a

    representao de

    forma, dimenso e

    posio de objetos de acordo com as diferentes

    necessidades requeridas pelas diversas

    modalidades de engenharia e tambm da

    arquitetura.

    Utilizando-se de um conjunto constitudo por

    linhas, nmeros, smbolos e indicaes escritas

    normalizadas internacionalmente, o desenho

    tcnico definido como linguagem grfica

    universal da

    engenharia e da

    arquitetura.

    Assim como a

    linguagem verbal

    escrita exige

    alfabetizao, a

    execuo e a

    interpretao da linguagem grfica do desenho

    tcnico exige treinamento especfico, porque so

    utilizadas figuras planas (bidimensionais) para

    representar formas espaciais.

    A Figura 4 est

    exemplificando a

    representao de

    forma espacial por

    meio de figuras

    planas, donde pode-se

    concluir que:

    1. Para os leigos a figura a representao de

    trs quadrados.

    2. Na linguagem grfica do desenho tcnico a

    figura corresponde representao de um

    determinado cubo.

    Conhecendo-se a metodologia utilizada para

    elaborao do desenho bidimensional possvel

    entender e conceber mentalmente a forma

    espacial representada na figura plana.

    Na prtica pode-se dizer que, para interpretar um

    desenho tcnico, necessrio enxergar o que no

    visvel e a capacidade de entender uma forma

    espacial a partir de uma figura plana chamada

    viso espacial.

    Definio de Viso Espacial

    Viso espacial um dom que, em princpio todos

    tm, d a capacidade de percepo mental das

    formas espaciais. Perceber mentalmente uma

    forma espacial significa ter o sentimento da

    forma espacial sem estar vendo o objeto.

    Por exemplo, fechando os olhos pode-se ter o

    sentimento da forma espacial de um copo, de um

    determinado carro, da sua casa etc..

    Ou seja, a viso

    espacial permite a

    percepo (o

    entendimento) de

    formas espaciais, sem

    estar vendo fisicamente

    os objetos. Apesar de a

    viso espacial ser um

    dom que todos tm,

    algumas pessoas tm mais facilidade para

    entender as formas espaciais a partir das figuras

    planas, como mostra a Figura 3.

    Figura 1

    Figura 2

    Figura 3

    Figura 4

  • Professor Eduardo Contar Pgina 2

    Onde e quando se iniciou o Desenho Tcnico?

    A representao de

    objetos tridimensionais

    em superfcies

    bidimensionais evoluiu

    gradualmente atravs

    dos tempos. Conforme

    histrico feito por

    HOELSCHER,

    SPRINGER E

    DOBROVOLNY

    (1978) um dos exemplos mais antigos do uso de

    planta e elevao est includo no lbum de

    desenhos na Livraria do Vaticano desenhado por

    Giuliano de Sangalo (Figura 5) no ano de 1490.

    No sculo XVII, por patriotismo e visando

    facilitar as construes de fortificaes, o

    matemtico francs Gaspar Monge, que alm de

    sbio era dotado de extraordinria habilidade

    como desenhista, criou, utilizando projees

    ortogonais, um sistema com correspondncia

    biunvoca entre os elementos do plano e do

    espao.

    O sistema criado por

    Gaspar Monge,

    publicado em 1795 com

    o ttulo Geometrie

    Descriptive (Exemplo

    Figura 6) a base da

    linguagem utilizada

    pelo Desenho Tcnico.

    No sculo XIX, com a

    exploso mundial do desenvolvimento industrial,

    foi necessrio normalizar a forma de utilizao

    da Geometria Descritiva para transform-la

    numa linguagem grfica que, a nvel

    internacional, simplificasse a comunicao e

    viabilizasse o intercmbio de informaes

    tecnolgicas. Desta forma, a Comisso Tcnica

    TC 10 da International Organization for

    Standardization ISO normalizou a forma de

    utilizao da Geometria Descritiva como

    linguagem grfica da engenharia e da

    arquitetura, chamando-a de Desenho Tcnico.

    Nos dias de hoje a expresso desenho tcnico

    representa todos os tipos de desenhos utilizados

    pela engenharia incorporando tambm os

    desenhos no projetivos (grficos, diagramas,

    fluxogramas etc.).

    O Desenho Tcnico e a Engenharia

    Nos trabalhos que envolvem os conhecimentos

    tecnolgicos de engenharia, a viabilizao de

    boas ideias depende de clculos exaustivos,

    estudos econmicos, anlise de riscos etc. que,

    na maioria dos casos, so resumidos em

    desenhos que representam o que deve ser

    executado ou construdo ou apresentados em

    grficos e diagramas que mostram os resultados

    dos estudos feitos, como exemplificado na

    Figura 7.

    Todo o processo de desenvolvimento e criao

    dentro da engenharia est intimamente ligado

    expresso grfica. O desenho tcnico uma

    ferramenta que pode ser utilizada no s para

    apresentar resultados como tambm para

    solues grficas que podem substituir clculos

    complicados.

    Figura 5

    Figura 6 Figura 7

  • Professor Eduardo Contar Pgina 3

    Apesar da evoluo tecnolgica e dos meios

    disponveis pela computao grfica, o ensino de

    Desenho Tcnico ainda imprescindvel na

    formao de qualquer modalidade de

    engenheiro, pois, alm do aspecto da linguagem

    grfica que permite que as ideias concebidas por

    algum sejam executadas por terceiros, o

    desenho tcnico desenvolve o raciocnio, o senso

    de rigor geomtrico, o esprito de iniciativa e de

    organizao.

    Assim, o aprendizado ou o exerccio de qualquer

    modalidade de engenharia ir depender de uma

    forma ou de outra, do desenho tcnico.

    Descrio dos tipos de Desenho Tcnico

    O desenho tcnico dividido em dois grandes

    grupos:

    Desenho projetivo so os desenhos

    resultantes de projees do objeto em um ou

    mais planos de projeo e correspondem s

    vistas ortogrficas e s perspectivas.

    Desenho no-projetivo na maioria dos casos

    corresponde a desenhos resultantes dos clculos

    algbricos e compreendem os desenhos de

    grficos, diagramas etc..

    Como elaborar e apresentar o Desenho

    Tcnico?

    Atualmente, na maioria dos casos, os desenhos

    so elaborados por computadores, pois existem

    vrios softwares que facilitam a elaborao e

    apresentao de desenhos tcnicos.

    Nas reas de atuao das diversas especialidades

    de engenharias, os primeiros desenhos que daro

    incio viabilizao das idias so desenhos

    elaborados mo livre, chamados de esboos.

    A partir dos esboos, j utilizando

    computadores, so elaborados os desenhos

    preliminares que correspondem ao estgio

    intermedirio dos estudos que so chamados de

    anteprojeto.

    Finalmente, a partir dos anteprojetos

    devidamente modificados e corrigidos so

    elaborados os desenhos definitivos que serviro

    para execuo dos estudos feitos.

    Os desenhos definitivos so completos,

    elaborados de acordo com a normalizao

    envolvida, e contm todas as informaes

    necessrias execuo do projeto.

    Figura 9

    Figura 8

    Figura 10

  • Professor Eduardo Contar Pgina 4

    REGRAS DOS DESENHOS TCNICOS

    Para transformar o desenho tcnico em uma

    linguagem grfica foi necessrio padronizar seus

    procedimentos de representao grfica. Essa

    padronizao feita por meio de normas tcnicas

    seguidas e respeitadas internacionalmente.

    As normas tcnicas so resultantes do esforo

    cooperativo dos interessados em estabelecer

    cdigos tcnicos que regulem relaes entre

    produtores e consumidores, engenheiros,

    empreiteiros e clientes. Cada pas elabora suas

    normas tcnicas e estas so acatadas em todo o

    seu territrio por todos os que esto ligados,

    direta ou indiretamente, a este setor.

    No Brasil as normas so

    aprovadas e editadas

    pela Associao

    Brasileira de Normas Tcnicas ABNT, fundada

    em 1940. Para favorecer o desenvolvimento da

    padronizao internacional e facilitar o

    intercmbio de produtos e servios entre as

    naes, os rgos responsveis

    pela normalizao em cada pas,

    reunidos em Londres, criaram em

    1947 a Organizao Internacional

    de Normalizao (International

    Organization for Standardization ISO).

    Quando uma norma tcnica proposta por

    qualquer pas membro aprovada por todos os

    pases que compem a ISO, essa norma

    organizada e editada como norma internacional.

    As normas tcnicas que regulam o desenho

    tcnico so normas editadas pela ABNT,

    registradas pelo INMETRO (Instituto Nacional

    de Metrologia, Normalizao e Qualidade

    Industrial) como normas brasileiras -NBR e

    esto em consonncia com as normas

    internacionais aprovadas pela ISO.

    ABNT e o Desenho Tcnico

    A execuo de desenhos tcnicos inteiramente

    normalizada pela ABNT. Os procedimentos para

    execuo de desenhos tcnicos aparecem em

    normas gerais que abordam desde a

    denominao e classificao dos desenhos at as

    formas de representao grfica, como o caso

    da NBR 5984 NORMA GERAL DE

    DESENHO TCNICO (Antiga NB 8) e da NBR

    6402 EXECUO DE DESENHOS

    TCNICOS DE MQUINAS E ESTRUTURAS

    METLICAS (Antiga NB 13), bem como em

    normas especficas que tratam os assuntos

    separadamente, conforme os exemplos seguintes:

    NBR 10647 DESENHO TCNICO

    NORMA GERAL, cujo objetivo definir os

    termos empregados em desenho tcnico. A

    norma define os tipos de desenho quanto aos

    seus aspectos geomtricos (Desenho Projetivo e

    No-Projetivo), quanto ao grau de elaborao

    (Esboo, Desenho Preliminar e Definitivo),

    quanto ao grau de pormenorizao (Desenho de

    Detalhes e Conjuntos) e quanto tcnica de

    execuo ( mo livre ou utilizando

    computador)

    NBR 10068 FOLHA DE DESENHO LAY-

    OUT E DIMENSES, cujo objetivo

    padronizar as dimenses das folhas utilizadas na

    execuo de

    desenhos tcnicos e

    definir seu lay-out

    com suas respectivas

    margens e legenda.

    As folhas podem ser utilizadas tanto na posio

    vertical como na posio horizontal, conforme

  • Professor Eduardo Contar Pgina 5

    seguem os Formatos da srie A, e o desenho

    deve ser executado no menor formato possvel,

    desde que no comprometa a sua interpretao.

    Tabela 1 - Os Formatos da srie A seguem as seguintes dimenses em milmetros:

    Os formatos da srie A tm como base o

    formato A0, cujas dimenses guardam entre si a

    mesma relao que existe entre o lado de um

    quadrado e sua diagonal (841 2 =1189), e que

    corresponde a um retngulo de rea igual a 1 m2.

    Havendo necessidade de utilizar formatos fora

    dos padres mostrados na tabela 1,

    recomendada a utilizao de folhas com

    dimenses de comprimentos ou larguras

    correspondentes a mltiplos ou a submltiplos

    dos citados padres.

    A legenda deve conter todos os dados para

    identificao do desenho (nmero, origem,

    ttulo, executor etc.) e sempre estar situada no

    canto inferior direito da folha, conforme mostra

    a Figura 11.

    NBR 10582 APRESENTAO DA FOLHA

    PARA DESENHO TCNICO, que normaliza a

    distribuio do espao da folha de desenho,

    definindo a rea para texto, o espao para

    desenho etc.. Como regra geral deve-se

    organizar os desenhos distribudos na folha, de

    modo a ocupar toda a rea, e organizar os textos

    acima da legenda junto margem direita, ou

    esquerda da legenda logo acima da margem

    inferior.

    NBR 13142 DESENHO TCNICO

    DOBRAMENTO DE CPIAS, que fixa a forma

    de dobramento de todos os formatos de folhas de

    desenho: para facilitar a fixao em pastas, eles

    so dobrados at as dimenses do formato A4.

    NBR 8402 EXECUO DE CARACTERES

    PARA ESCRITA EM DESENHOS TCNICOS

    que, visando uniformidade e legibilidade para

    evitar prejuzos na clareza do desenho e evitar a

    possibilidade de interpretaes erradas, fixou as

    caractersticas de escrita em desenhos tcnicos.

    Alm das normas citadas acima, como exemplos,

    os assuntos abordados nos captulos seguintes

    estaro em consonncia com outras normas

    referentes s larguras de linhas, representao

    em desenho tcnico, escalas e cotagem.

    Existem normas que regulam a elaborao dos

    desenhos e tm a finalidade de atender a uma

    determinada modalidade de engenharia. Como

    exemplo, pode-se citar: a NBR 6409, que

    normaliza a execuo dos desenhos de

    eletrnica; NBR 11534, que normaliza a

    representao de engrenagens em desenho

    tcnico.

    Uma consulta aos catlogos da ABNT mostrar

    muitas outras normas vinculadas execuo de

    algum tipo ou alguma especificidade de desenho

    tcnico.

  • Professor Eduardo Contar Pgina 6

    DESENHO TCNICO: TEORIA DO

    DESENHO PROJETIVO

    Projeo Ortogonal

    Nos desenhos projetivos, a representao de

    qualquer objeto ou figura ser feita por sua

    projeo sobre um plano. A Figura 11 mostra o

    desenho resultante da projeo de uma forma

    retangular sobre um plano de projeo.

    Os raios projetantes tangenciam o retngulo e

    atingem o plano de projeo formando a

    projeo resultante.

    Como os raios projetantes, em relao ao plano

    de projeo, so paralelos e perpendiculares, a

    projeo resultante representa a forma e a

    verdadeira grandeza do retngulo projetado.

    Este tipo de projeo denominado Projeo

    Ortogonal (do grego ortho = reto + gonal =

    ngulo), pois os raios projetantes so

    perpendiculares ao plano de projeo.

    Das projees ortogonais surgem as seguintes

    concluses:

    Figura 12

    Figura 13

    Figura 14

    Toda superfcie paralela a um plano de projeo

    se projeta neste plano exatamente na sua forma e

    em sua verdadeira grandeza, conforme mostra a

    Figura 12.

    A Figura 13 mostra que quando a superfcie

    perpendicular ao plano de projeo, a projeo

    resultante uma linha.

    As arestas resultantes das intersees de

    superfcies so representadas por linhas,

    conforme mostra a Figura 14.

    Utilizando Projees Ortogonais

    Como os slidos so constitudos de vrias

    superfcies, as projees ortogonais so

    utilizadas para representar as formas

    tridimensionais atravs de figuras planas.

    Figura 11

  • Professor Eduardo Contar Pgina 7

    Figura 15

    A Figura 15 mostra a aplicao das projees

    ortogonais na representao das superfcies que

    compem, respectivamente, um cilindro, um

    paraleleppedo e um prisma de base triangular.

    Pode-se observar que as projees resultantes

    so constitudas de figuras iguais.

    Figura 16

    Olhando para a Figura 16, na qual aparecem

    somente as projees resultantes da Figura 15,

    impossvel identificar as formas espaciais

    representadas, pois cada uma das projees pode

    corresponder a qualquer um dos trs slidos.

    Isto acontece porque a terceira dimenso de cada

    slido no est representada pela projeo

    ortogonal.

    Para fazer aparecer a terceira dimenso

    necessrio fazer uma segunda projeo ortogonal

    olhando os slidos por outro lado.

    Figura 17

    A Figura 17 mostra os trs slidos anteriores

    sendo projetados nos planos vertical e horizontal

    e fazendo-se, posteriormente, o rebatimento do

    plano horizontal at a formao de um nico

    plano na posio vertical.

    Figura 18

    Olhando para cada um dos pares de projees

    ortogonais, representados na Figura 18, e

    sabendo que eles correspondem,

    respectivamente, s representaes dos trs

    slidos vistos por posies diferentes, pode-se

    obter a partir das figuras planas o entendimento

    da forma espacial de cada um dos slidos

    representados.

    Figura 19

  • Professor Eduardo Contar Pgina 8

    Os desenhos resultantes das projees nos planos

    vertical e horizontal resultam na representao

    do objeto visto por lados diferentes e as

    projees resultantes, desenhadas em um nico

    plano, conforme mostra a Figura 19 (b)

    representam as trs dimenses do objeto.

    Na projeo feita no plano vertical aparecem o

    comprimento e a altura do objeto e na projeo

    feita no plano horizontal aparecem o

    comprimento e a largura do mesmo objeto.

    Figura 20

    Os desenhos mostrados na Figura 19 (b) tambm

    correspondem s projees do prisma triangular

    desenhado na Figura 20.

    Assim sendo, pode-se concluir que duas vistas,

    apesar de representarem as trs dimenses,

    podem no ser suficientes para representar a

    forma do objeto desenhado.

    Uma forma mais simples de raciocnio para

    utilizao das projees ortogonais em planos

    perpendiculares entre si obter as vistas

    (projees resultantes) fazendo-se o rebatimento

    direto da pea que est sendo desenhada. A

    Figura 21 mostra que, raciocinando com o

    rebatimento da pea, pode-se obter o mesmo

    resultado do rebatimento do plano horizontal.

    Figura 21

    Assim como na Figura 19, em que as projees

    resultantes no definem a forma da pea, a

    Figura 22 mostra que as duas vistas (projees

    resultantes) obtidas na Figura 21 tambm podem

    corresponder a formas espaciais completamente

    diferentes.

    Figura 22

    Mais uma vez se conclui que duas vistas, apesar

    de representarem as trs dimenses do objeto,

    no garantem a representao da forma da pea.

    A representao das formas espaciais resolvida

    com a utilizao de uma terceira projeo. A

    Figura 23 mostra a utilizao de um plano lateral

    para obteno de uma terceira projeo,

    resultando em trs vistas da pea por lados

    diferentes.

  • Professor Eduardo Contar Pgina 9

    Figura 23

    Para que o desenho resultante se transforme em

    uma linguagem grfica, os planos de projeo

    horizontal e lateral tm os sentidos de

    rebatimento convencionados, e sempre se

    rebatem sobre o plano vertical.

    Mantendo o sentido dos rebatimentos dos planos

    horizontal e lateral resultar sempre nas mesmas

    posies relativas entre as vistas.

    O lado da pea que for projetado no plano

    vertical sempre ser considerado como sendo a

    frente da pea. Assim sendo, em funo dos

    rebatimentos convencionados, o lado superior da

    pea sempre ser representado abaixo da vista de

    frente e o lado esquerdo da pea aparecer

    desenhado direita da vista de frente.

    A manuteno das mesmas posies relativas

    das vistas permite que a partir dos desenhos

    bidimensionais, resultantes das projees

    ortogonais, se entenda (visualize) a forma

    espacial do objeto representado.

    Os desenhos da Figura 24 mostram as trs vistas

    das quatro peas que anteriormente haviam sido

    representadas por somente duas vistas na Figuras

    19(b), 20 e 22. Observe-se que no existe mais

    indefinio de forma espacial, cada conjunto de

    vistas corresponde somente a uma pea.

    Figura 24

    importante considerar que cada vista

    representa a pea sendo observada de uma

    determinada posio. Ou seja, nas projees

    ortogonais, apesar de estarmos vendo desenhos

    planos (bidimensionais), em cada vista h uma

    profundidade, no visvel, que determina a forma

    tridimensional da pea representada.

    Para entender a forma da pea representada pelas

    projees ortogonais preciso exercitar a

    imaginao e a capacidade de visualizao

    espacial fazendo a associao das projees

    ortogonais feitas por lados diferentes.

    Cada superfcie que compe a forma espacial da

    pea estar representada em cada uma das trs

    projees ortogonais, conforme mostra a figura

    25, onde os planos que compem a forma

    espacial da pea foram identificados com letras e

    nas projees pode-se analisar os rebatimentos

    de cada um destes planos.

    Figura 25

    Observe, na Figura 25, que as vistas resultantes

    so consequentes das concluses mostradas nas

    Figuras 12, 13 e 14. Por exemplo, o plano A,

  • Professor Eduardo Contar Pgina 10

    sendo paralelo ao plano vertical de projeo,

    aparece na vista de frente na sua forma e em sua

    verdadeira grandeza, enquanto nas vistas

    superior e lateral, o plano A representado por

    uma linha devido sua perpendicularidade aos

    respectivos planos de projeo.

    Representao de Arestas Ocultas

    Como a representao de objetos

    tridimensionais, por meio de projees

    ortogonais, feita por vistas tomadas por lados

    diferentes, dependendo da forma espacial do

    objeto, algumas de suas superfcies podero ficar

    ocultas em relao ao sentido de observao.

    Observando a Figura 26 v-se que a superfcie

    A est oculta quando a pea vista

    lateralmente (direo 3), enquanto a superfcie

    B est oculta quando a pea vista por cima

    (direo 2). Nestes casos, as arestas que esto

    ocultas em um determinado sentido de

    observao so representadas por linhas

    tracejadas.

    As linhas tracejadas so constitudas de

    pequenos traos de comprimento uniforme,

    espaados de um tero de seu comprimento e

    levemente mais finas que as linhas cheias.

    Figura 26

    Deve-se procurar evitar o aparecimento de linhas

    tracejadas, porque a visualizao da forma

    espacial muito mais fcil mediante as linhas

    cheias que representam as arestas visveis.

    importante destacar que evitar o aparecimento

    de linhas tracejadas no significa omiti-las, pois,

    em relao ao sentido de observao, as linhas

    tracejadas so vitais para compreenso das partes

    ocultas do objeto.

    As linhas tracejadas podem ser evitadas

    invertendo-se a posio da pea em relao aos

    planos de projeo (mudar a posio da vista de

    frente).

    As Figuras 2.17 e 2.18 mostram exemplos da

    mudana de posio da pea em relao vista

    de frente para evitar linhas tracejadas.

    Figura 27

    Figura 28

    ELABORAO DE ESBOOS

    (DESENHOS MO LIVRE)

    Ainda que o objetivo deste livro seja o de ensinar

    a interpretar a linguagem grfica do desenho

    tcnico para os estudantes de engenharia,

    muito importante desenvolver a habilidade de

    desenhar mo livre.

    A elaborao de esboos, alm favorecer a

    anlise grfica das projees ortogonais, ajuda a

    desenvolver o sentido de proporcionalidade.

    Os materiais necessrios para elaborao de

    esboos so: lpis, borracha e papel.

  • Professor Eduardo Contar Pgina 11

    Na elaborao de desenhos mo livre, ainda

    que a perfeio dos traos seja importante,

    muito mais importante o rigor das propores e a

    correta aplicao das normas e convenes de

    representao.

    tendncia dos principiantes dedicar excessiva

    ateno perfeio dos traos em detrimento das

    outras condies.

    Para desenhar mo livre no necessrio

    possuir dons especiais, basta dominar os

    msculos do pulso e dos dedos e praticar com

    persistncia e coerncia que a habilidade para

    esboar ser adquirida naturalmente com a

    prtica.

    Existem algumas recomendaes que devem ser

    seguidas para facilitar a elaborao de desenhos

    mo livre.

    Figura 29

    O antebrao deve estar totalmente apoiado sobre

    a prancheta. A mo deve segurar o lpis

    naturalmente, sem forar, e tambm estar

    apoiada na prancheta.

    Deve-se evitar desenhar prximo s beiradas da

    prancheta, sem o apoio do antebrao.

    O antebrao no estando apoiado acarretar um

    maior esforo muscular, e, em consequncia,

    imperfeio no desenho.

    Os traos verticais, inclinados ou no, so

    geralmente desenhados de cima para baixo e os

    traos horizontais so feitos da esquerda para a

    direita.

    Traado de Retas

    Para traar um segmento de reta que une dois

    pontos, deve-se colocar o lpis em um dos

    pontos e manter o olhar sobre o outro ponto

    (para onde se dirige o trao). No se deve

    acompanhar com a vista o movimento do lpis.

    Inicialmente desenha-se uma linha leve para, em

    seguida, reforar o trao corrigindo,

    eventualmente, a linha traada.

    No se pode pretender que um segmento reto

    traado mo livre seja absolutamente reto, sem

    qualquer sinuosidade. Como j foi destacado,

    muito mais importante que a perfeio do

    traado a exatido e as propores do desenho.

    Traado de Arcos

    O melhor caminho para desenhar circunferncias

    (arcos) marcar previamente, sobre linhas

    perpendiculares entre si, as distncias radiais, e a

    partir da fazer o traado do arco, conforme

    mostra a Figura 30.

    Figura 30

    Traado das Projees (VISTAS)

    Para desenhar mo livre as projees

    ortogonais de qualquer objeto, conveniente

    seguir as recomendaes seguintes:

    Analisar previamente qual a melhor

    combinao de vistas que representa a pea, de

  • Professor Eduardo Contar Pgina 12

    modo que no aparea ou que aparea o menor

    nmero possvel de linhas tracejadas.

    Esboar, com trao muito leve e fino o lugar de

    cada projeo, observando que as distncias

    entre as vistas devem ser visualmente iguais.

    A escolha da distncia entre as vistas

    importante porque, vistas excessivamente

    prximas ou excessivamente afastadas umas das

    outras, tiram a clareza e dificultam a

    interpretao do desenho.

    Desenhar os detalhes resultantes das projees

    ortogonais, trabalhando simultaneamente nas trs

    vistas.

    Reforar com trao definitivo (trao contnuo e

    forte) os contornos de cada vista.

    Com o mesmo trao (contnuo e forte) acentuar

    em cada vista os detalhes visveis.

    Desenhar em cada vista, com trao mdio, as

    linhas tracejadas correspondentes s arestas

    invisveis.

    Apagar as linhas de guia feitas no incio do

    desenho.

    Conferir cuidadosamente o desenho resultante.

    A Figura 31 mostra as sucessivas fases para

    elaborao de um desenho mo livre.

    Figura 31

    Como projees desenhadas representam uma

    mesma pea sendo vista por lados diferentes, o

    desenho deve resguardar, visualmente, as

    propores da pea, deste modo, os lados que

    aparecem em mais de uma vista no podem ter

    tamanhos diferentes.

    Na Figura 31, pode-se ver que: as dimenses de

    largura da pea aparecem nas vistas lateral e

    superior, as dimenses de altura aparecem nas

    vistas de frente e lateral e as dimenses de

    comprimento aparecem nas vistas de frente e

    superior.

    Assim sendo, as vistas devem preservar:

    Os mesmos comprimentos nas vistas de frente

    e superior.

    As mesmas alturas nas vistas de frente e lateral.

    As mesmas larguras nas vistas lateral e

    superior.

    Representao de Superfcies Inclinadas

    A representao de superfcies inclinadas pode

    ser dividida em dois casos distintos:

    1 Quando a superfcie perpendicular a um

    dos planos de projeo e inclinada em relao

    aos outros planos de projeo.

    Figura 32

    A projeo resultante no plano que

    perpendicular superfcie inclinada ser um

    segmento de reta que corresponde verdadeira

    grandeza da dimenso representada. Nos outros

    dois planos a superfcie inclinada mantm a sua

    forma, mas sofre alterao da verdadeira

    grandeza em uma das direes da projeo

    resultante.

    A representao mantendo a forma e a

    verdadeira grandeza de qualquer superfcie

  • Professor Eduardo Contar Pgina 13

    inclinada s ser possvel se o plano de projeo

    for paralelo superfcie.

    As Figuras 33, 34 e 35 mostram exemplos de

    representao de peas com superfcies

    inclinadas, porm, perpendiculares a um dos

    planos de projeo.

    Figura 33

    Figura 34

    Figura 35

    2 Superfcie Inclinada em Relao aos Trs

    Planos de Projeo

    As projees resultantes nos trs planos de

    projeo mantero a forma da superfcie

    inclinada, contudo, no correspondero sua

    verdadeira grandeza.

    Figura 36

    importante ressaltar que, mesmo que as

    projees resultantes no correspondam

    verdadeira grandeza da superfcie representada,

    seu contorno no sofre alteraes, pois, em todas

    as vistas, uma determinada linha sempre manter

    sua posio primitiva em relao as outras linhas

    que contornam a superfcie inclinada. As Figuras

    36 e 37 mostram exemplos de representao de

    superfcies inclinadas em relao aos trs planos

    de projeo.

    Figura 37

    Na Figura 37 pode-se observar que o paralelismo

    existente entre as arestas representadas pelos

    segmentos de retas [(1,2) ; (3,4)] e [(1,5);(2,3)]

    so mantidos nas trs projees.

    Representao de Superfcies Curvas

    As Figuras 38, 39 e 40 mostram as projees

    ortogonais de superfcies planas, circulares e

    paralelas a um dos trs planos de projeo.

    Observe que no plano paralelo superfcie, a

    projeo resultante mantm a forma e a

    verdadeira grandeza do crculo, enquanto nos

    outros dois planos a projeo resultante um

    segmento de reta, cujo comprimento corresponde

    ao dimetro do crculo.

    Figura 38

  • Professor Eduardo Contar Pgina 14

    Figura 39

    Figura 40

    Se a superfcie circular no possuir paralelismo

    com nenhum dos trs planos de projeo, mas

    for perpendicular em relao a um deles, as

    projees resultantes tero dimenses em funo

    do ngulo de inclinao da superfcie.

    Figura 41

    No plano cuja superfcie circular

    perpendicular, a projeo resultante um

    segmento de reta, cujo comprimento igual ao

    dimetro do crculo.

    Nos outros planos, a projeo ortogonal diminui

    um dos eixos da superfcie inclinada e,

    consequentemente, a figura circular

    representada por uma elipse.

    Na Figura 41(b), alm das trs vistas, mostrada

    uma projeo auxiliar, executada em um plano

    de projeo paralelo superfcie inclinada, com

    a representao da forma e da verdadeira

    grandeza da superfcie circular, onde foram

    identificados 12 pontos no contorno do crculo.

    Na vista de frente, a superfcie representada

    por um segmento de reta, cujo comprimento

    corresponde verdadeira grandeza do eixo

    central AB.

    O eixo central CD aparece na vista de frente

    representado por um ponto, localizado no meio

    do segmento AB.

    Nas vistas superior e lateral o eixo central CD

    aparece em sua verdadeira grandeza, enquanto o

    eixo central AB aparece reduzido, em

    consequncia da projeo ortogonal e da

    inclinao da superfcie.

    Todas as cordas ( EF, GH, IJ e KL), que so

    paralelas ao eixo central CD, tambm aparecem

    nas suas verdadeiras grandezas nas vistas

    superior e lateral.

    A partir das projees ortogonais dos planos

    circulares executa-se com facilidade as projees

    ortogonais de corpos cilndricos, como mostra a

    Figura 42

    Figura 42

  • Professor Eduardo Contar Pgina 15

    Como regra para representao, pode-se dizer

    que, quando no houver arestas, uma superfcie

    curva gera linha na projeo resultante quando o

    raio da curva for perpendicular ao sentido de

    observao.

    Se houver interseo da superfcie curva com

    qualquer outra superfcie, haver aresta

    resultante e, onde tem interseo tem canto

    (aresta) e onde tem canto na pea, tem linha na

    projeo ortogonal.

    A forma cilndrica muito comum de ser

    encontrada como furos. As Figuras 43 e 44

    mostram a representao de peas com furos.

    Figura 43

    Figura 44

    Linhas de Centro

    Nos desenhos em que aparecem as superfcies

    curvas utilizado um novo tipo de linha,

    composta de traos e pontos que denominada

    linha de centro. As linhas de centro so usadas

    para indicar os eixos em corpos de rotao e

    tambm para assinalar formas simtricas

    secundrias.

    As linhas de centro so representadas por traos

    finos separados por pontos (o comprimento do

    trao da linha de centro deve ser de trs a quatro

    vezes maior que o trao da linha tracejada).

    a partir da linha de centro que se faz a

    localizao de furos, rasgos e partes cilndricas

    existentes nas peas.

    Os desenhos da Figura 45 mostram aplicaes

    das linhas de centro.

    Figura 45

    Representao de Arestas Coincidentes

    Quando na tomada de vista, em um determinado

    sentido de observao, ocorrer a sobreposio de

    arestas (superfcies coincidentes), representa-se

    aquela que est mais prxima do observador.

  • Professor Eduardo Contar Pgina 16

    Figura 46

    Da Figura 46 pode-se concluir que uma linha

    cheia, que representa uma superfcie visvel,

    sempre ir se sobrepor uma linha tracejada, que

    representa uma superfcie invisvel. Ou seja, a

    linha cheia prevalece sobre a linha tracejada.

    As linhas que representam arestas (linha cheia ou

    linha tracejada) prevalecem sobre as linhas

    auxiliares (linha de centro).