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1 Atuação Sustentável para o Desenvolvimento de Inovações Sociais: Um Estudo com Negócios de Impacto Social Autoria: Priscila Rezende da Costa, Lucimar da Silva Itelvino Resumo: A concepção da inovação social como um processo aberto, colaborativo e de transformação social abre espaço para reforçar a necessidade de legitimação dos negócios de impacto social e de ampliação de parcerias em prol da mudança social, bem como denota a urgência de se estabelecer um ambiente de inovação social profissional e mais sustentável. Considerando esse contexto, buscou-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como a atuação dos negócios de impacto social pode potencializar o desenvolvimento de inovações sociais? Para tal, adotou-se a abordagem indutiva fundamentada nos dados empíricos (grounded theory) a partir do paradigma qualitativo e foram investigados 24 negócios de impacto social considerados referência na geração de inovações sociais segundo o Prêmio Empreendedor Social (organização Folha de São Paulo e Fundação Schwab). Além disso, destaca-se a adoção do software ATLAS Ti na organização e recuperação dos dados. Os resultados agregados possibilitaram a proposição de um modelo conceitual explicativo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social a partir das seguintes proposições: a atuação sustentável tanto nos processos quanto na inovação social propriamente dita, a prevalência de um contexto cooperativo para resolver questões sociais, a governança profissionalizada como condicionante causal à geração de inovações sociais, o desenvolvimento de ações de interesse público como condicionante interveniente à geração de inovações sociais, a avaliação técnica e científica do impacto social como estratégia de mensuração dos resultados das inovações geradas e a expansão do impacto social como consequência da atuação autoescalável dos negócios sociais. Palavras-chave: atuação sustentável; inovação social; negócios de impacto social. 1. Introdução Na sociedade pós-moderna é essencial a reflexão sobre novas formas de pensar e de criar estruturas, padrões e conexões que agreguem valor para todos a partir da transformação social (JULIANI et al, 2014). No entanto, surge o desafio de reconstruir os sistemas de relações sociais e reagrupar os recursos que os reproduzem. Desse modo, pode-se falar da necessidade latente de inovação social a partir do momento em que as mudanças e inovações precisam alterar processos, relações sociais e estruturas de poder preexistentes (SOUSA et al, 2014; MULGAN et al, 2007). Assim, o conceito de inovação surge na área social como ponto de motivação para a construção de um novo modelo para atendimento às demandas sociais com respeito à diversidade e à unidade humana, contribuindo para a promoção da igualdade. A inovação social pode ser, então, definida como um conjunto de processos, produtos e metodologias que resulta na melhoria da qualidade de vida do outro e diminui as desigualdades (FARFUS; ROCHA, 2007). Essa concepção articulada da inovação social, como um processo aberto e colaborativo que resulta na transformação social, abre espaço para reforçar a necessidade de legitimação dos negócios de impacto social e de ampliação de parcerias em prol da mudança social, bem como denota a urgência de se estabelecer um ambiente de inovação social profissional e mais sustentável. Considerando esse contexto, busca-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como a atuação dos negócios de impacto social pode potencializar o desenvolvimento de inovações sociais? A partir dessa problemática, objetiva-se, especificamente: (a) descrever a atuação gerencial e relacional dos negócios de impacto social; (b) explicar as dimensões

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Atuação Sustentável para o Desenvolvimento de Inovações Sociais: Um Estudo com Negócios de Impacto Social

Autoria: Priscila Rezende da Costa, Lucimar da Silva Itelvino

Resumo: A concepção da inovação social como um processo aberto, colaborativo e de transformação social abre espaço para reforçar a necessidade de legitimação dos negócios de impacto social e de ampliação de parcerias em prol da mudança social, bem como denota a urgência de se estabelecer um ambiente de inovação social profissional e mais sustentável. Considerando esse contexto, buscou-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como a atuação dos negócios de impacto social pode potencializar o desenvolvimento de inovações sociais? Para tal, adotou-se a abordagem indutiva fundamentada nos dados empíricos (grounded theory) a partir do paradigma qualitativo e foram investigados 24 negócios de impacto social considerados referência na geração de inovações sociais segundo o Prêmio Empreendedor Social (organização Folha de São Paulo e Fundação Schwab). Além disso, destaca-se a adoção do software ATLAS Ti na organização e recuperação dos dados. Os resultados agregados possibilitaram a proposição de um modelo conceitual explicativo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social a partir das seguintes proposições: a atuação sustentável tanto nos processos quanto na inovação social propriamente dita, a prevalência de um contexto cooperativo para resolver questões sociais, a governança profissionalizada como condicionante causal à geração de inovações sociais, o desenvolvimento de ações de interesse público como condicionante interveniente à geração de inovações sociais, a avaliação técnica e científica do impacto social como estratégia de mensuração dos resultados das inovações geradas e a expansão do impacto social como consequência da atuação autoescalável dos negócios sociais. Palavras-chave: atuação sustentável; inovação social; negócios de impacto social. 1. Introdução

Na sociedade pós-moderna é essencial a reflexão sobre novas formas de pensar e de

criar estruturas, padrões e conexões que agreguem valor para todos a partir da transformação social (JULIANI et al, 2014). No entanto, surge o desafio de reconstruir os sistemas de relações sociais e reagrupar os recursos que os reproduzem. Desse modo, pode-se falar da necessidade latente de inovação social a partir do momento em que as mudanças e inovações precisam alterar processos, relações sociais e estruturas de poder preexistentes (SOUSA et al, 2014; MULGAN et al, 2007).

Assim, o conceito de inovação surge na área social como ponto de motivação para a construção de um novo modelo para atendimento às demandas sociais com respeito à diversidade e à unidade humana, contribuindo para a promoção da igualdade. A inovação social pode ser, então, definida como um conjunto de processos, produtos e metodologias que resulta na melhoria da qualidade de vida do outro e diminui as desigualdades (FARFUS; ROCHA, 2007).

Essa concepção articulada da inovação social, como um processo aberto e colaborativo que resulta na transformação social, abre espaço para reforçar a necessidade de legitimação dos negócios de impacto social e de ampliação de parcerias em prol da mudança social, bem como denota a urgência de se estabelecer um ambiente de inovação social profissional e mais sustentável.

Considerando esse contexto, busca-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como a atuação dos negócios de impacto social pode potencializar o desenvolvimento de inovações sociais? A partir dessa problemática, objetiva-se, especificamente: (a) descrever a atuação gerencial e relacional dos negócios de impacto social; (b) explicar as dimensões

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sustentáveis de atuação dos negócios de impacto social; e (c) propor um modelo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social.

Um aspecto relevante deste estudo está no fato de investigar 24 negócios de impacto social considerados referência na geração de inovações sociais que foram apontados pelo Prêmio Empreendedor Social no período de 2010 a 2015 (organização Folha de São Paulo e Fundação Schwab). Acrescenta-se a isso a importância da inovação social enquanto temática de política pública, que tem sido pauta recorrente de discussões em diferentes estratos da sociedade como proposta de melhoria da qualidade de vida das pessoas, contribuindo para a geração de desenvolvimento sustentável. Particularmente no contexto acadêmico, a pesquisa apresentou relevância metodológica e teórica pela utilização da abordagem indutiva fundamentada nos dados empíricos (grounded theory) a partir do paradigma qualitativo, além disso, destaca-se a adoção do software ATLAS Ti na organização e recuperação dos dados.

Em relação à estrutura do artigo, a seção 2 apresenta uma reflexão sobre inovações sociais e atuação sustentável. Na seção 3 constam os aspectos metodológicos, incluindo o detalhamento do método, as fontes dos dados e as técnicas de análise utilizadas. Já a seção 4 concentra a apresentação dos resultados. A seção final sintetiza os principais resultados alcançados e esboça as limitações do estudo e as possibilidades de estudos futuros.

2. Referencial Teórico

Em anos recentes, um esforço acadêmico significativo foi direcionado ao estudo da

inovação social, do empreendedorismo social e dos negócios de impacto social (PHILLIPS, et al, 2015; SHAW; DE BRUIN, 2013; BIGNETTI, 2011; CHELL et al, 2010; NICHOLLS, 2010; CHELL, 2007; DEES; ANDERSON, 2006).

Deve-se considerar ainda que a economia social ganha espaço na atualidade, dado que as estruturas e as políticas existentes se mostram muitas vezes ineficientes diante das desigualdades sociais, das mudanças climáticas e das epidemias mundiais (MURRAY et al, 2010). Dessa forma, a inovação social surge como uma alternativa viável ao futuro da sociedade humana no que tange a geração de soluções para problemas negligenciados (SANTOS, 2012; BIGNETTI, 2011; MULGAN et al, 2007; MOULAERT et al, 2005; DEES et al, 2004; CLOUTIER, 2003).

Para Bignetti (2011) a inovação social se dá pela participação e cooperação de atores envolvidos na aplicação de conhecimento frente às necessidades sociais, resultando em soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral. Já Moulaert et al (2007) conceituam a inovação social como um instrumento alternativo de desenvolvimento social, focada na satisfação de necessidades humanas a partir da inovação nas relações de governança comunitária. Mulgan et al (2007) acrescenta que se trata de atividades inovadoras e serviços predominantemente desenvolvidos e difundidos por organizações, cujos propósitos primários são sociais. Phills et al (2008) entende que o propósito da inovação social é solucionar um problema social de forma mais efetiva, eficiente, sustentável e justa do que as soluções existentes, resultando na criação de valor social que atinge a sociedade como todo e não indivíduos em particular. Por sua vez, Murray et al (2010) sintetizam que a inovação social parte da aplicação de novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais, ou seja, geram resultados positivos à sociedade e potencializam a sua capacidade de agir.

A inovação social também é estudada por Dees et al (2004) como um modelo organizacional, como programa ou como princípios. As inovações sociais são replicadas muitas vezes como uma eficiente estrutura de mobilização de pessoas e recursos fundamentada em um objetivo comum, assumindo as características de um modelo

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organizacional. Destaca-se também que a difusão de inovações sociais pode se dar a partir de um conjunto integrado de projetos e ações com propósitos previamente definidos e articulados que são agregados em programas de alcance local, nacional ou internacional. Por fim, as inovações sociais são consolidadas por princípios e valores no que tange a resolução de problemas sociais negligenciados. A seguir, são sintetizadas as características fundamentais da inovação social.

Já a abordagem de Cloutier (2003) está relacionada as inovações sociais centradas no indivíduo, ou seja, nas ações que promovem mudanças duradouras no indivíduo, dotando-o de empoderamento necessário para conduzir mudanças. Nesse contexto, as inovações sociais são resultado de iniciativas pessoais de empreendedores motivados por uma missão social (BESSANT; TIDD, 2009; DEES, 2001). Em uma segunda linha de estudo de Cloutier (2003), as inovações sociais também são orientadas pelos negócios de impacto social, dado que instituições são criadas ou modificadas com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das comunidades ou de grupos de indivíduos.

Cabe pontuar que nas últimas décadas as organizações não governamentais enfrentaram dificuldades na manutenção de suas atividades e projetos utilizando apenas doações e subvenções, o que vem demandando práticas gerenciais e estratégias voltadas para a profissionalização e autossustentabilidade financeira, emergindo, assim, os negócios de impacto social que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais (EMERSON; TWERSKY, 1996). Sobre a atuação dos negócios de impacto social, cabe destacar que as suas estratégias, estruturas, normas e valores configuram-se uma inovação, comparativamente, às organizações sem fins lucrativos, mais voluntaristas, pró-sociais e que tradicionalmente dependem de doações e de subvenções (DART, 2004). Dessa forma, destacam-se as seguintes características gerenciais da atuação dos negócios de impacto social: (a) são estruturados conforme as necessidades e características da população de baixa renda; (b) possuem missão explícita de causar impacto social; (c) são administrados por empreendedores sociais; (d) podem ampliar o alcance das inovações sociais geradas a partir da expansão do próprio negócio, pela replicação em outras regiões por outros atores e ainda pela disseminação de elementos inerentes à inovação por outros empreendedores, organizações e políticas públicas; (e) buscam a autossustentabilidade financeira; (f) a atividade principal do negócio é a oferta de produto ou serviço de alto impacto social; (g) e podem ou não distribuir dividendos a acionistas (ARTEMISIA, 2016).

Itens Características Valor Social. Interesse Dos grupos sociais e da comunidade.

Objetivo Buscar a resolução de problemas sociais negligenciados pelas políticas públicas e pela sociedade, demandando o rearranjo dos papéis sociais e a mudança das estruturas sociais.

Lócus As relações sociais estabelecidas e, especificamente, a aprendizagem coletiva gerada a partir do potencial dos indivíduos e dos grupos que buscam as capacidades necessárias para as transformações sociais.

Forma Intangível, associando-se mais à concepção de “serviço”.

Atores

Diversidade de intervenientes que demandam processos de conciliação e ajustamento, incluindo empreendedores sociais, agentes governamentais, empresários e empresas, organizações não governamentais, trabalhadores sociais, representantes da sociedade civil, movimentos sociais, comunidades e beneficiários.

Resultados Novas combinações ou hibridização de soluções sociais já existentes que avançam as fronteiras organizacionais, setoriais ou disciplinares, gerando novas relações sociais entre indivíduos e grupos anteriormente separados.

Figura 1. Síntese das características centrais da inovação social. Fonte: Santos (2012), Bignetti (2011), Goldsmith (2010), Heiscala (2007), Rodrigues (2006), Cloutier (2003), Cloutier (2003), Bouchard (1997) e Chambon et al (1982).

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Segundo Dacin e Dacin (2010), Dacin e Tracey (2011), Muñoz e Kibler (2015) e Phillips et al (2015), os negócios de impacto social devem buscar o equilíbrio entre valor social e econômico, uma vez que o valor econômico é crucial para a sustentabilidade dos empreendimentos sociais e para a criação inovadora de valor social. No que tange, especificamente, as diferenças entre as empresas voltadas exclusivamente para o lucro e os negócios de impacto social, Austin et al (2006) destacam as seguintes dimensão para diferenciação:

a) Falha de mercado: ocorre quando a iniciativa privada não é capaz de atender uma necessidade ou quando os resultados gerados pelos agentes econômicos são ineficientes, configurando-se uma oportunidade para os negócios de impacto social.

b) Missão dos negócios de impacto social: sustentada pela gestão participativa e pela motivação social e de empoderamento dos colaboradores, o que não se aplica às empresas exclusivamente comerciais.

c) Mobilização de recursos: geração de resultados distintos, dado que o sistema de recompensa adotado pelos negócios de impacto social difere de uma empresa exclusivamente comercial, sendo que a contrapartida não pecuniária tende a superar a contrapartida financeira no caso dos empreendimentos sociais.

d) Medida de desempenho: configura-se como diferenciador, uma vez que o foco central dos negócios de impacto social são todos os stakeholders, ou seja, todos os que influenciam ou são influenciados pelo negócio.

A partir dessas distinções perante as empresas exclusivamente comerciais, os negócios de impacto social estabelecem arranjos cooperativos formais em que os propósitos individuais se alinham aos propósitos coletivos, para tal, são desenvolvidos novos modelos organizacionais, resultando em novas relações sociais que potencializam processos de criação de conhecimentos e tecnologias sociais (BARNARD, 1968).

Cabe destacar que os negócios de impacto social concebem as suas ações a partir de processos de inovação aberta e em contextos colaborativos com limites tênues e fluidos entre os parceiros, visando o compartilhamento de ideias, sujeitos e tecnologias (LEADBEATER, 2009). Esses contextos colaborativos foram ampliados substancialmente pela proliferação da internet e pelo estabelecimento de plataformas virtuais e abertas de conhecimento, gerando uma tendência global de colaboração criativa e de cocriação sem precedentes. Dessa forma, os negócios de impacto social fazem uso frequente da cocriação, da aprendizagem e do planejamento colaborativo (HEALEY, 1997; HULGARD; FERRARINI, 2010).

Em uma perceptiva mais integrada, Mulgan (2007) e Murray et al (2010) reforçam que a inovação social se deve ao aspecto participativo da inovação aberta e depende também da dimensão colaborativa da aprendizagem, enfatizando que a inovação social é social tanto nos fins quanto nos meios, bem como uma combinação de processo e resultado (YOUNG, 2006). Diante dessa discussão, nota-se que a legitimidade, o desenvolvimento e a profissionalização são condições essenciais à sustentabilidade dos negócios de impacto social. No entanto, apesar do consenso sobre a necessidade de fortalecimento dos negócios de impacto social, não há concordância substancial sobre como designar esse movimento. No esforço de suprir essa lacuna, Armani (2003) estruturou dois enfoques: o enfoque gerencial e o sistêmico.

De forma específica, o enfoque gerencial preocupa-se com a profissionalização do negócio, incluindo planejamento, sistema de monitoramento, avaliação com base em indicadores, captação de recursos, marketing, gestão administrativa e financeira e capacitação técnica dos recursos humanos (ARMANI, 2003).

O outro enfoque estabelecido por Armani (2003) é o sistêmico, aquele que garante a integração entre a dimensão gerencial e a dimensão sociopolítica dos negócios de impacto social, envolvendo, então, a base social e legitimidade do negócio, sua transparência, sua

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credibilidade, sua rede de parcerias, sua autonomia e sua capacidade de ofertar produtos e serviços de alto impacto social. A partir desses enfoques (gerencial e sistêmico), Armani (2003) estruturou vetores que podem promover o desenvolvimento sustentável nos negócios de impacto social, sendo eles (a) o vetor de desenvolvimento institucional e (b) o vetor de desenvolvimento institucional coletivo, cujos detalhes são apresentados a seguir.

Vetores Dimensões Descrição

Desenvolvimento Institucional

Base social, legitimidade e relevância da missão

Envolve a amplitude da base social dos negócios e das suas alianças, envolvendo a relevância social e a consistência da missão e dos valores que determinam as ações institucionais e são apropriados pelos integrantes.

Autonomia e credibilidade

Aborda as formas de responsabilização pública do negócio, ou seja, a transparência, suas formas de prestação de contas para a sociedade, sua autonomia e o quanto é referência pública para questões específicas.

Sustentabilidade

Refere-se à compatibilidade entre o nível da receita e as necessidades do negócio, assim como os tipos de receitas e de financiadores e seus condicionantes, o nível de recursos próprios, a relação entre financiamento institucional e por projeto, o grau de financiamento nacional, e as potenciais tensões entre missão e sustentabilidade.

Organização do trabalho e gestão democrática e eficiente

Envolvem a adequação e a eficiência das formas de organização do trabalho, o processo de tomada de decisão e seus aspectos participativos e democráticos, o grau de delegação de responsabilidades e a eficiência dos instrumentos da gestão administrativa e financeira.

Quadro de recursos humanos adequados

Aborda a adequação da quantidade, do perfil (ético, político, de gênero etc.) e da qualificação técnica dos recursos humanos no negócio, as oportunidades de capacitação, os níveis salariais, as condições de trabalho, bem como as formas alternativas de agregar colaboradores (voluntários, estagiários, cooperantes etc.).

Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação participativo e eficiente

Trata-se do grau de desenvolvimento e consolidação do sistema de planejamento, monitoramento, avaliação e adequação do trabalho; a flexibilidade e inovação no uso de ferramenta, e estímulo ao aprendizado contínuo; utilização de indicadores; e nível de participação dos beneficiários e de outros parceiros nos processos.

Capacidade de produção e sistematização de informações e conhecimentos

Aborda a capacidade de pesquisa e de produção de dados e informações relevantes socialmente, assim como a capacidade de sistematizar e de socializar experiências, bem como o grau de contribuição à construção de argumentos para o debate público e acadêmico sobre questões sociais e de desenvolvimento.

Poder para influenciar processos sociais e políticas públicas

Envolve a capacidade de planejar, promover e influenciar processos de mobilização, organização e articulação sociais, particularmente a capacidade de incidir sobre o processo de constituição de atores e seus movimentos, bem como sobre as políticas públicas.

Capacidade para estabelecer parcerias e ações conjuntas

Tratam das iniciativas e da consolidação de parcerias na sociedade civil, participação em redes de intercâmbio, atuação conjunta com outros atores de forma consorciada, além disso, envolvem a capacidade de interlocução com o poder público, com órgãos de pesquisa, com a mídia e com o setor privado.

Desenvolvimento Institucional Coletivo

Grau de articulação setorial

É o nível de articulação no setor (rede) de atuação, seja sobre atividades–fim, seja sobre a agenda do setor para um determinado contexto e período histórico, abordando também os mecanismos de informação e comunicação, e de ação e representação conjunta.

Constituição de identidade coletiva

Trata-se da consolidação de uma identidade coletiva no setor, revelando as visões, os interesses e as agendas comuns perante os negócios que o compõem, incorporando também a relação entre as diferentes identidades dentro da rede, suas formas de expressão e tensões decorrentes.

Visibilidade e credibilidade do setor

Refere-se à visibilidade do setor perante a sociedade em geral e os setores público e privado, absorvendo a capacidade de atrair quadros qualificados e de angariar apoio.

Capacidade de influenciar fatores contextuais e sustentabilidade do setor

É o grau de interlocução com o poder público, o setor privado, a mídia, as igrejas e universidades e as agências de cooperação internacional no que tange as condições jurídicas, políticas, de financiamento e operacionais de existência e funcionamento do setor de atuação do negócio.

Figura 2. Vetores propulsores do desenvolvimento sustentável nos negócios de impacto social. Fonte: Adaptado de Armani (2003).

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Por fim, cabe destacar que a acumulação econômica, o funcionamento do Estado e da

sociedade apontam para o desafio de conceber o desenvolvimento como um processo de mudança social, cujos resultados também devem ser aproveitados socialmente. Dessa forma, os negócios de impacto social são desafiados a desenvolver inovações de forma a atender necessidades negligenciadas, visando a geração de valor social. Assim, se faz relevante o entendimento sobre o desenvolvimento de inovações sociais nos negócios de impacto social a partir de uma atuação que deverá priorizar a profissionalização e a sustentabilidade. 3. Metodologia

Adotou-se a abordagem indutiva fundamentada nos dados empíricos (grounded theory) a partir do paradigma qualitativo que segundo Richardson (2004) oferece uma compreensão detalhada dos significados e das características situacionais apresentadas pelos objetos da investigação. Em relação à grounded theory, Strauss e Corbin (2008) destacam que se trata de uma metodologia pesquisa de criação de teorias substantivas a partir de uma análise indutiva de dados empíricos, sendo, portanto, adequada ao estudo de problemas de pesquisa ainda não consolidados na literatura e que demandam tratamento contextual (FREZATTI et al, 2011). Dessa forma, nota-se que o paradigma qualitativo e a grounded theory são aderentes e abordam uma perspectiva naturalista, dado que a realidade subjetiva analisada é resultado das interações entre os atores participantes (FURLANETTI; BARROS, 2013; FREZATTI et al, 2011; AHRENS; CHAPMAN, 2007; BERRY; OTLEY, 2004; BAXTER; CHUA, 2003;).

Ainda sobre a grounded theory, Straus e Corbin (2008) e Charmaz (2009) enfatizam que a abordagem requer pensamento criativo no processo de teorização, sendo assim, o pesquisador deve colocar em prática a capacidade de retroceder e analisar situações de forma crítica e reflexiva e ter sensibilidade às palavras e às ações dos sujeitos investigados. Destaca-se ainda que o processo da grounded theory envolve conceituar e reduzir dados, elaborar categorias em termos de suas propriedades e dimensões e relaciona-las a partir de proposições e, para tal, recorre-se a codificação aberta, axial e seletiva (STRAUS; CORBIN, 2008).

Para Strauss e Corbin (2008), na codificação aberta, também denominada de substantiva, deve-se examinar minuciosamente dos dados brutos (microanálise), a partir das palavras, frases ou parágrafos, visando a identificação dos códigos preliminares (códigos substantivos) que irão compor as categorias em suas propriedades e dimensões (subcategorias). Já na codificação axial, as categorias são relacionadas às suas subcategorias, sendo axial porque ocorre ao redor de um eixo, formulando explicações sobre o fenômeno a partir da integração de categorias quanto às suas propriedades (características gerais ou específicas de uma categoria, que define e dá significado) e dimensões (localização de uma propriedade).

Depois de construídas, as categorias são então comparadas, relacionadas e interconectadas, envolvendo, portanto: fenômeno, contexto, condições, estratégias de ação e interação e consequências (FURLANETTI; BARROS, 2013; DANTAS, 2009; STRAUSS; CORBIN, 2002). Por fim, na codificação seletiva tem-se a delimitação de uma categoria central a partir das categorias e suas relações sistemáticas e, para tal, adota-se um grau mais elevado de abstração dos dados para integrar as categorias, cujos resultados assumem a forma de teoria substantiva, modelo conceitual explicativo ou matriz teórica. Em relação ao modelo de pesquisa, adotou-se a abordagem de Strauss e Corbin (2008), dado que a pergunta de pesquisa e o referencial teórico foram desenvolvidos antecipadamente à operacionalização do estudo, além disso, foi realizado o reducionismo dos dados a partir de comandos do software ATLAS Ti, que segundo Lee e Esterhuizen (2000), possibilita a organização e a recuperação de informações relacionadas à ideia ou ao conceito

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subjacente ao fenômeno investigado, o que é importante para estruturar e validar empiricamente os códigos (codes) no processo de retorno aos dados qualitativos. Sobre as etapas de operacionalização do estudo, destaca-se que na primeira etapa foram consideradas as histórias de vida dos empreendedores responsáveis pelos negócios de impacto social investigados. Vale frisar que as histórias de vida consideradas foram estruturadas em narrativas autobiográficas produzidas pelos próprios empreendedores sociais no âmbito do concurso “Empreendedor Social”, nas quais eles relataram suas atuações profissionais e experiências de vida. Sendo assim, as narrativas analisadas podem ser consideradas materiais autobiográficos, portanto, devem ser vistas como material precioso, uma vez que revelam conhecimento tácito, importante para ser compreendido e refletem a não separação entre pensamento e ação (GALVÃO, 2005).

Alberti (2004) também reforça que a análise de histórias de vida permite ao pesquisador: extrair informações e conhecimentos que o indivíduo detém; reconstruir fatos que não estão registrados em outros tipos de fontes; identificar elementos de como as pessoas efetuam e elaboram suas experiências; relacionar situações de aprendizagem e decisões; entender como pessoas e grupos experimentam o passado e interpretam suas ações cotidianas; e delinear a trajetória de vida com vista a um objeto de estudo. No que tange a segunda etapa de operacionalização do estudo, foram considerados relatórios de atuação sustentável, balanços sociais e depoimentos no âmbito do concurso “Empreendedor Social” e validados pelos empreendedores sociais e pelos atores beneficiados pela atuação dos negócios investigados, dessa forma, destacam-se nessa etapa os procedimentos de avaliação e validação de dados a partir da triangulação conceitual e de dados, o que proporcionou, posteriormente, a codificação seletiva (construção de proposições e articulação de modelo conceitual explicativo).

Cabe destacar que foram investigados negócios de impacto social considerados referência na geração de inovações sociais segundo Prêmio Empreendedor Social no período de 2010 a 2015 (organização Folha de São Paulo e Fundação Schwab), sendo que na primeira etapa de operacionalização do estudo foram considerados 6 negócios a fim de se realizar a codificação substantiva, sendo eles: Cies, Cren, Educar, Geekie, Imaflora e Noos. Já na segunda etapa, utilizou-se a codificação substantiva desses 6 negócios como base para a codificação axial de 24 negócios de impacto social, ampliando, assim, o foco de análise do estudo conforme apresentado a seguir.

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Quanto ao desenho do estudo, destaca-se a seguir a sequência de procedimentos

metodológicos que pode ser adotada como parâmetro para se replicar o estudo, ou aplicá-lo em outro caso.

Organização Nome do empreendedor 1 ABRALE, ABRASTA e Alianza Latina Merula Anargyrou Steagall 2 Agenda Pública Sérgio Andrade 3 Associação dos Amigos e Pais de Pessoas Especiais (Aappe) Iraê Cardoso 4 Associação Ebenézer e Centro de Integração Educação e Saúde (Cies)* Roberto Kunimassa Kikawa 5 Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho Dagmar Rivieri Garroux 6 Associação Vaga Lume Sylvia Guimarães 7 Banco de Alimentos Luciana Chinaglia Quintão 8 Casa da Arte de Educar (Educar)* Sueli de Lima Moreira 9 Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs) José Dias Campos 10 Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren)* Gisela Maria Bernardes Solymos

11 Geekie Desenvolvimento de Software (Geekie)* Cláudio Sassaki / Eduardo Bontempo

12 Grupo Cultural AfroReggae José Pereira de Oliveira Junior 13 Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Cancêr (Graacc) Antonio Sergio Petrilli 14 Instituto Brasil Solidário (IBS) Luis Salvatore 15 Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Paulo Moutinho 16 Instituto de Manejo e Certificação Florestal Agrícola (Imaflora)* Luís Fernando Guedes Pinto

17 Instituto de Pesquisas Sistêmicas e Desenv. de Redes Sociais Noos (Noos)* Carlos Eduardo Zuma

18 Instituto Fazendo História Claudia de Freitas Vidigal 19 Instituto Homem Pantaneiro e Escola de Artes Moinho Cultural Márcia Raquel Rolon 20 Instituto Rumo Náutico e Projeto Grael Axel Schmidt Grael 21 Kanindé Associação de Defesa Etnoambiental e Associação Metareilá Ivaneide Cardozo / Almir N. Suruí 22 Projeto Chapada e Instituto Chapada de Educação Cybele Oliveira 23 Rede Asta Alice Freitas 24 Redes da Maré Eliana Sousa Silva

Figura 3. Negócios de impacto social investigados e seus empreendedores. Legenda: *Negócios considerados na primeira e na segunda etapa de operacionalização do estudo, sendo que os demais negócios foram considerados a partir da segunda etapa. Fontes: Dados da pesquisa.

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Figura 4. Desenho do estudo. Fonte: Adaptado de Frezatti et al. (2011). 4. Resultados obtidos

Para a análise dos resultados realizou-se inicialmente a organização dos dados brutos de 6 negócios de impacto social, em seguida, eles foram submetidos a uma codificação substantiva (subitem 4.1 Codificação Substantiva). Em um segundo momento, adotou-se a codificação axial e os códigos substantivos deram origem às categorias (suas propriedades e dimensões), para tal, realizou-se a triangulação conceitual e de dados de 24 negócios de impacto social (subitem 4.2 Codificação Axial). Por fim, foi realizada a codificação seletiva e delimitou-se categoria central do estudo o que proporcionou a construção de proposições e sustentou a articulação de um modelo conceitual explicativo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social (subitem 4.3 Codificação Seletiva).

Necessidade de legitimação dos negócios de impacto social e de ampliação das suas parcerias em prol da mudança social, bem como a urgência de se estabelecer um

ambiente de inovação social profissional e mais sustentável.

Contexto

Como a atuação sustentável pode potencializar o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social?

Pergunta de pesquisa

Elaboração do referencial teórico

Abordagem indutiva fundamentada nos dados empíricos (grounded theory) a partir do paradigma qualitativo.

MétodoSeleção de negócios de impacto social

(NIS)Foram considerados como materiais autobiográficos as narrativas de historia de vida

dos empreendedores sociais (6 casos).Etapa 1 de execução da pesquisa

CATEGORIZAÇÃO CONCEITUAL

Propriedades

Dimensões

Propriedades

Dimensões

Propriedades

Dimensões

Propriedades

Dimensões

ANÁLISE E REDUÇÃO DOS CONCEITOS

Foram considerados os relatórios de atuação sustentável, balanços sociais e depoimentos para verificação, integração e triangulação de dados (24 casos).

Etapa 2 de execução da pesquisa

ABSTRAÇÃO DAS CATEGORIAS CENTRAIS

AVALIAÇÃO, VALIDAÇÃO E TRIANGULAÇÃO CONCEITUAL

PROPOSIÇÃO DE MODELO CONCEITUAL EXPLICATIVO

Codificação Substantiva

Codificação Axial

Codificação Seletiva

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4.1 Codificação Substantiva

Inicialmente os dados brutos (narrativa de história de vida dos empreendedores

sociais) foram organizados em quadros de acordo com os seis negócios de impacto social investigados, em seguida, os dados brutos passaram por codificação substantiva. Os quadros são resultados adaptados do comando de geração de Network do ATLAS Ti., neles são descritos os códigos substantivos, representados por Eventos (code) e Memorandos (memos).

Especificamente sobre os negócios de impacto social investigados com atuação na saúde o Cies e o Cren assumiram destaque. Cabe destacar que o Cies demostrou pioneirismo nacional ao levar atendimento médico-preventivo especializado, humanizado e de alta tecnologia a comunidades carentes por meio de um centro médico móvel avançado, reforçando, dessa forma, os conceitos de Farfus e Rocha (2007) de que a inovação social envolve um conjunto de processos, produtos e metodologias que resulta na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Em relação à atuação do Cies, destacam-se a gestão compartilhada e autossustentabilidade financeira na forma de prestação de serviços ao poder público; as parcerias institucionais (público e privado); a análise crítica da atuação pública visando a identificação de focos de ociosidade e de investimento inoperante; a adoção de processos de segurança e de qualidade estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores e de acreditação; e, por fim, a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias sociais para aumentar a flexibilidade, o impacto e a eficiência operacional. Dessa forma, nota-se que essa atuação organizacional corrobora os preceitos de Moulaert et al (2007) no que tange o desenvolvimento social a partir da inovação nas relações de governança e parceria comunitária (figura 5).

Por sua vez, o Cren assumiu pioneirismo nacional em metodologias e práticas efetivas de recuperação e educação nutricional de crianças e adolescentes por meio de avaliação e triagem em comunidades pobres, atendimento ambulatorial, semi-internato e oficinas nutricionais, alinhando-se às reflexões de Mulgan et al (2007) de que a inovação social possibilita a geração de soluções viáveis para problemas negligenciados. Em relação a atuação do Cren, destacam-se a elaboração de projetos para captação de recursos, a compilação de conhecimentos e procedimentos técnicos adotando-se o rigor do método científico e o embasamento científico também na mensuração e avaliação dos impactos qualitativos e quantitativos das inovações sociais geradas, reforçando os achados de Bignetti (2011) de que a inovação social se dá pela participação e cooperação de atores envolvidos na aplicação de conhecimento frente às necessidades sociais (figura 5).

Já os negócios de impacto social investigados com atuação na educação assumiram destaque a Educar, o Geekie e o Noos. Vale mencionar que a Educar demonstrou pioneirismo nacional no desenvolvimento e disseminação de metodologia pedagógica que sistematizou a integração entre os saberes locais e culturais comunitários com os saberes escolares e científicos. Em relação a atuação, a Educar destaca-se pelos mecanismos sucessório de descentralização das decisões, pela articulação de um conselho de administração e pela realização de treinamentos e discussões regionais sobre as inovações sociais geradas, corroborando assim as reflexões de Austin et al (2006) de que a geração de inovações sociais é sustentada pela gestão participativa, pela motivação social e pelo empoderamento dos colaboradores (figura 6).

Em relação ao Geekie, vale mencionar o pioneirismo nacional no desenvolvimento de uma plataforma de educação adaptativa capaz de personalizar e conferir autonomia à experiência de aprendizagem ao aluno e também às escolas. Sobre a sua atuação, destacaram-se a adoção de ferramentas de gestão informatizadas, a contratação de profissionais experientes, a estruturação formal da área de gestão de pessoas e a replicação, em larga

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escala, de inovações sociais em localidades nacionais de forma autônoma. Dessa forma, observa-se que essa atuação organização exemplifica a discussão de Phills et al (2008) de que o propósito da inovação social é solucionar um problema social de forma mais efetiva, eficiente, sustentável e justa do que as soluções existentes, resultando na criação de valor social que atinge a sociedade como todo e não indivíduos em particular (figura 6).

Por sua vez, o Noos promoveu o pioneirismo nacional na sistematização das metodologias para a pesquisa e a prevenção de violência intrafamiliar e de gênero. Sobre a sua atuação, destacaram-se o estabelecimento de parcerias com organizações sociais

Negócios de impacto social

Codificação Substantiva Dados brutos

Eventos Memorandos selecionados

Cies

(1) O projeto foi baseado em uma modelo de autossustentabilidade financeira, em que as principais fontes de receita vêm na forma de prestação de serviços ao poder público baseada na tabela SUS e em doações de empresas com renúncia fiscal; os custos do evento são minimizados por parcerias com empresas locais, governo, associações civis e comunidade; (2) A concepção final e a construção do centro médico avançado ocorreram na cidade de São Paulo, e desde então foram realizados atendimentos em 12 cidades; recebeu procura espontânea de mais de 50 cidades para construção de novas unidades; fora do país, há negociações com Angola, Colômbia, Itália, Níger, Panamá e Venezuela; (3) O projeto registrou mais de 24 mil pessoas atendidas, tendo realizado mais de 40 mil exames e procedimentos cirúrgicos, além de ter dado treinamento a mais de 500 agentes; (4) O Projeto foi concebido com vistas à replicação em grande escala, sobretudo nas regiões mais pobres e com precário atendimento médico, sendo contínuo o esforço de pesquisa e desenvolvimento com contêineres e vans para gerar maior flexibilidade, impacto e eficiência; os procedimentos técnicos de replicação do projeto estão sistematizados em documentos como manuais de montagem e operação, que detalham os processos que devem ser efetuados dentro dos padrões exigidos por órgãos fiscalizadores e de acreditação.; (5) Forte ligação com políticas públicas de saúde a partir de parceria com o governo local; complemento do atendimento das unidades básicas de saúde, dos ambulatórios de especialidades, dos programas de saúde da família e dos programas de internação domiciliar; outra premissa é contribuir para a diminuição das filas de espera nos hospitais; e elaboração de uma análise crítica do sistema de saúde pública local por meio da a identificação de focos de ociosidade e de investimento inoperante.

"Estava com um problema havia mais de dois anos. Ainda não tinha feito exame nenhum e o médico de Lorena me mandou para uma especialista de Taubaté. Lá a médica disse que eu tinha de fazer um exame de colonoscopia. Peguei um ônibus e voltei para Lorena voando, pois, meu marido já tinha feito o mesmo exame na carreta. O doutor me examinou e disse que eu tinha dois nódulos no intestino e que iria me operar na carreta mesmo. Só tenho o que agradecer, meu problema foi resolvido na hora. Só a boa vontade de fazer a operação ali na carreta já bastou. No outro dia ele passou medicação e me orientou a procurar um especialista. Paguei por uma consulta em Guará, levei a biópsia feita na carreta. Estou muito bem, o médico de lá só pediu para que eu repita os exames de cinco em cinco anos. A colonoscopia pelo SUS teria uma previsão de seis a oito meses" (relato de paciente).

Cren

(1) Os recursos são obtidos a partir de parcerias com o poder público municipal, de doações, de projetos incentivados e da venda de produtos em bazares; (2) A origem foi de um projeto de extensão da Unifesp e depois de comprovada a eficiência de sua metodologia, tornou-se referência na prevenção e tratamento de distúrbios nutricionais; hoje conta com duas unidades prestadoras de serviço em São Paulo, equipe de campo em Jundiaí e uma unidade em Maceió (AL); academicamente, a organização trabalhou em cooperação com instituições nacionais e internacionais; (3) Benefício direto a mais de 50 mil pessoas desde seu início, segundo dados quantitativos e qualitativos devidamente registrados e com embasamento científico de mensuração de impacto decorrente de projeto acadêmico da Unifesp; os impactos gerados pela intervenção superam os ganhos na saúde dos atendidos e geram também mudanças estruturais e sociais nas famílias atendidas; (4) Compilação de conhecimentos, iniciativas e resultados com rigor científico em planos de trabalho político-pedagógico e em artigos científicos; como exemplo, destaca-se o lançamento da coleção e do portal Vencendo a Desnutrição com recursos do BNDES; cabe também citar a parceria com a Fundação Avsi, da Itália, para o desenvolvimento de um projeto de e-learning com 32 Centros de Educação Infantil em cinco cidades brasileiras; vale pontuar ainda a replicação autônoma das metodologias inovadoras do instituto em outros países, como Haiti, Honduras, Itália, México, Moçambique e Peru; (5) Realização de curso de especialização aos gestores de saúde para tutorar a aplicação da metodologia do censo antropométrico nas campanhas de vacinação; destaca-se também que a atuação do instituto complementa o Programa Saúde da Família e em São Paulo, vale mencionar a implantação da educação nutricional em centros de educação infantil, usando a metodologia de oficinas práticas.

"Só comecei a ter ideia de que havia algo errado depois de uma internação do filho mais novo. Ele estava em fase terminal. Lá, fiquei sabendo do Cren e levei dois filhos que estavam desnutridos e foi uma recuperação lenta. Eles me ensinavam o que fazer e muitas vezes eu não tinha como cumprir. Foi um período difícil, meu ex-marido me batia na boca. Sem dentes, ele dizia, ninguém olharia para mim. Trabalhava catando lixo. Sustentava a casa com R$ 800. Uma vez, a coordenadora me chamou. Mas o Cren não cuidava só dos meus filhos. Eu também recebia atenção. Quando decidi pela separação, todos me ajudaram. Tive curso de culinária e passei a me olhar de outra forma. Hoje trabalho na limpeza de um instituto, um dos filhos recebeu alta da semi-internação dois anos depois e o outro não vive mais no hospital, mas ainda não está recuperado..." (relato de uma ajudante de serviços gerais e mãe de paciente).

Figura 5. Codificação substantiva e dados brutos da atuação do Cies e do Cren. Fonte: Dados da pesquisa.

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brasileiras e estrangeiras, a capacitação social de gestores públicos e a difusão de conhecimentos técnicos e científicos a partir de publicações, corroborando os achados de Leadbeater (2009) de que os negócios de impacto social concebem as suas ações a partir de processos de inovação aberta e em contextos colaborativos com limites tênues e fluidos entre os parceiros, visando o compartilhamento de ideias, sujeitos e tecnologias (figura 6).

Negócios de impacto social

Codificação Substantiva Dados brutos

Eventos Memorandos selecionados

Educar

(1) Além de repasses governamentais, são estabelecidas parcerias com a iniciativa privada e associações para potencializar a fonte própria futura; busca-se profissionalização contínua da gestão e mecanismos sucessórios e de descentralização das decisões são implantado e destaca-se o estabelecimento recente de um conselho de administração; (2) Atuação direta nas comunidades do Rio de Janeiros e em 2008 a metodologia Mandala dos Saberes assumiu alcance nacional e foi implantada na rede de 10.042 escolas ligadas ao Programa Federal Mais Educação; em anos recentes, a metodologia Pontos de Cultura foi aplicada também em cinco cidades brasileiras (Belém, Brasília, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro); (3) A iniciativa beneficia diretamente cerca de 360 crianças e adolescentes por ano; o projeto também atinge de forma indireta cerca de 2.000 indivíduos; ao longo dos anos foram realizados cerca de 23 projetos, com 16 empresas parcerias, cinco órgãos governamentais apoiadores, atingindo diretamente 5.200 crianças e, indiretamente, outros 19 mil jovens; (4) As metodologias sociais são desenvolvidas e testadas nas unidades centrais de Mangueira e de Macacos, em seguida, são convertidas em publicações que auxiliam a replicação; são também desenvolvidos seminários de formação para professores e são organizados fóruns virtuais de forma que cada escola possa construir projetos pedagógicos customizados; (5) As parcerias governamentais e a disseminação das metodologias desenvolvidas influenciam as políticas nacionais da rede pública de ensino; a empreendedora social também participa de debates, engaja-se em redes de gestores de ensino e professores e lança livros relatando suas experiências.

"Existe uma linha invisível que separa o saber da escola e o saber do menino de periferia. Se a gente começa a criar essa conectividade, a educação avança. Não é porque cresci em frente a uma favela que quis mudar as coisas. Aqui é a minha casa, onde posso contribuir para a minha comunidade. Conheço todas as crianças e todas as suas histórias. É preciso dar bastante carinho, para que tenham força de novo, tenham vontade de aprender de novo. As crianças têm suas histórias de vidas mudadas aqui. Com a Mandala, a gente consegue ter mobilidade. Posso fazer um carinho na cabeça dele, algo que nunca sentiu, e ainda estar educando. As pessoas às vezes acham que dar aula é sentar na sala e dizer: 'Pega o caderno, todo mundo' e encher o quadro. Não é assim. Aqui, a criança participa com o professor, tem voz". (relato de ex-aluna e atual pedagoga atual do projeto).

Geekie

(1) Investimento do público e privado; contratação de profissionais experientes, profissionalização da equipe, adoção de sistema de gestão e área formal de gestão de pessoas; (2) O Geekie Games foi utilizado por alunos de todos os Estados, sendo que 80% dos 2 milhões de alunos cadastrados vieram de escolas públicas; (3) A plataforma de preparação para o Enem é utilizada por, aproximadamente, 40% dos estudantes que realizaram a prova; contratos estabelecidos com cerca de 500 escolas sob a premissa "one pay, one free" (cada aluno pago gera oportunidade para outro estudante de escola pública); estabelecidas parcerias com secretarias de ensino para o alcance integrado de mais de 100 mil alunos, fornecendo também as escolas recursos de avaliação diagnóstica e gestão da aprendizagem; (4) Plataforma de preparação gratuita para o Enem é altamente replicável, promovendo a democratização do ensino em nível federal; destaca-se também a personalização da aprendizagem ao contexto educativo das escolas parcerias; (5) A organização foi certificada pelo Inep como tecnologia confiável de simulação do Enem; em 2014, o Geekie Games atingiu 19 dos 26 Estados, impactando mais de 17 mil escolas.

"Estudei minha vida inteira em colégio público e precário no interior do Ceará. Hoje sou acadêmico e sonho fazer mestrado e doutorado. Quero ser um pesquisador e ajudar muitas pessoas. Tudo isso eu devo à Geekie, que ajudou e continua ajudando milhões de estudantes e tem o dom NATO de mudar a vida das pessoas em todos os lugares do país". (relato de uma estudante). "A Geekie é um divisor de águas na educação brasileira. É importante para o gestor da escola, seja privada ou pública, para professores e principalmente para alunos”. (relato de diretor e instituição de insino).

Noos

(1) Patrocínios e geração própria de recursos, advindos das mensalidades dos cursos, das vendas de publicações, dos honorários por palestras e das sublocações de salas da escola para o atendimento de psicólogos; ressalta-se ainda que a organização tem conseguido custear parte de sua estrutura fixa por meio de taxas de administração dos projetos, com isso a geração própria de receita chega a 67% do orçamento; (2) A experiência nasceu na cidade do Rio de Janeiro, onde realiza atualmente o atendimento direto de cerca de 400 pessoas por mês e hoje atende outros 15 municípios cariocas e foram realizadas também capacitações e palestras em 12 municípios brasileiros e dois municípios de Portugal; (3) Estima-se que foram diretamente beneficiadas 2.845 pessoas; (4) Sistematização das experiências e difusão a partir de publicações; (5) A metodologia criada de grupos reflexivos de gênero influenciou a Lei Maria da Penha; é referência de capacitação em terapia comunitária no Estado do Rio de Janeiro; atuação nas discussões que tornaram a terapia comunitária política pública nacional e também na aprovação da chamada Lei da Palmada, que estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados sem palmadas e beliscões.

“Atendo crianças e adolescentes que passaram por agressões e ao final de um atendimento perguntei se uma ela gostaria de passar por terapia e assistência, se ela já tinha feito algo, e que isso poderia ajuda-la. Foi ai que adolescente acabou revelando que uma das coisas que tinha ajudado muito na recuperação era um telefone que ela ligava e era atendida por pessoas que a instruía e conversava. Foi então que mencionou o atendimento do Noos 123Alô. Acho que isso reforça ainda mais a continuidade desse Projeto como um caminho de ajuda e de apoio à crianças e adolescentes que sofreram agressões”. (relato de psicóloga).

Figura 6. Codificação substantiva e dados brutos da atuação da Educar, do Geekie e do Noos. Fonte: Dados da pesquisa.

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Em relação os negócios de impacto social investigados com atuação ambiental o Imaflora assumiu destaque, dado que demostrou pioneirismo nacional na elaboração e aplicação de metodologias de certificação socioambiental, no desenvolvimento local participativo e na criação de fundos sociais para certificação de pequenos produtores agrícolas. No que tange a sua atuação, vale mencionar a implementação de conselhos consultivos, diretor e fiscal; o embasamento científico na mensuração e avaliação dos impactos qualitativos e quantitativos das inovações sociais geradas; a elaboração de balanço social; a atuação direta na elaboração e implementação da leis e programas governamentais com impacto socioambiental; revelando, portanto, a aderência dessa atuação organizacional aos preceitos de Barnard (1968) de que os negócios de impacto social estabelecem arranjos cooperativos formais e sistematizam novos modelos organizacionais visando o alinhamento dos propósitos individuais e coletivos (figura 7).

4.2 Codificação Axial

A partir da codificação substantiva (aberta) realizada no item anterior, adotou-se a codificação axial em que as fases e eventos substanciados deram origem às categorias e suas propriedades e dimensões. Para tal, realizou-se triangulação conceitual e também triangulação de dados processada pelos comandos de análise cruzada do ATLAS.ti “code cooccurrence table” e “cluster quotations before calculating co-occurrence”, tendo-se como referência 24 negócios de impacto social. Esses comandos do ATLAS Ti. proporcionaram a visualização (áreas acinzentadas) das categorias descritoras da atuação dos negócios de impacto social investigados, bem como suas propriedades que influenciaram a adoção de inovações sociais, considerando as dimensões de incidência (alta, média e baixa). As categorias descritoras

Negócios de impacto social

Codificação Substantiva Dados brutos

Eventos Memorandos selecionados

Imaflora

(1) Parcerias com empresas, órgãos públicos, instituições de ensino e organizações do terceiro setor; diversificação e a boa gestão permitem bom nível de solidez/fidelidade nas parcerias; atuações do Conselho Diretor e da Assembleia Geral de Associados com responsabilidades deliberativas; há um Conselho Consultivo e um Conselho Fiscal que fornecem subsídios para o Conselho Diretor, para a Assembleia Geral e para a Secretaria Executiva tomarem decisões estratégicas; (2) Conduz certificações a nível nacional, atingindo 25 Estados; desenvolveu projetos comunitários e de manejo no Amapá, no Pará, na Bahia, em São Paulo e também de cooperação internacional com Gana e Camarõe; (3) é referências no país em certificação socioambiental e a área de atuação é de cerca de 15,2 milhões hectares, conduziu certificações em cerca de 140 empreendimentos, beneficiou 120.000 trabalhadores florestais e agrícolas e 410 famílias nos projetos; (4) As metodologias construídas de certificação socioambiental e de desenvolvimento local participativo são replicadas a partir de um processo sistematizado de aprendizado por parte das organizações receptoras; as metodologias são difundidas em diversas publicações, priorizando públicos com pouco acesso a informação; (5) estabelecimento de parcerias com órgãos ambientais nos níveis federal e também projetos colaborativos com prefeituras locais e universidades em prol da conservação das florestas; representação no Conselho Consultivo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal; participação em discussões públicas na Câmara e no Senado com vistas à formulação de propostas sobre Códigos florestais; coordenação de um processo nacional para a definição de salvaguardas socioambientais a projetos de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD), que foi, posteriormente, incorporado pelo governo federal, o método foi sistematizado e tem sido replicado em países da África; o empreendedor social participou da elaboração e implementação da Lei Nacional de Gestão de Florestas Públicas, influenciou diretamente a criação de um mosaico de florestas estaduais no Pará e exerce influência sobre as legislações municipais.

"O processo de certificação teve início em 2007. Agora todos os trabalhadores passam por treinamentos especializados para não sofrer acidentes. Todas as casas foram reformadas, implementou-se sistema de esgoto com fossas sépticas. É um investimento alto, mas tudo isso agrega valor ao produto final. E também aos funcionários, que, com a certificação, passaram a se dar mais valor" (relato de um técnico que atua em propriedade certificada). "Eu nasci e cresci no seringal. Até cheguei a ser preso, para defender a terra, pois a gente não era dono do que produzia. Por isso o manejo florestal e a certificação foram decisivos para nós. Hoje temos outra identidade" (relato de um seringueiro que atua em projeto de assentamento).

Figura 7. Codificação substantiva e dados brutos da atuação da Imaflora. Fonte: Dados da pesquisa.

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foram: formas de alcance, diversificação das fontes de recursos, governança, ações de interesse público, avaliação do impacto social e expansão do impacto social (figura 8).

Portanto, a partir da codificação Axial foi possível representar na figura 8 as categorias

e suas respectivas propriedades descritoras da geração de inovações sociais e, para tal, considerou-se as dimensões de alta incidência (áreas com cinza escuro) e média incidência (áreas com cinza médio). Essas propriedades descritoras revelam essencialmente o enfoque de desenvolvimento institucional gerencial descrito por Armani (2003), envolvendo: captação de

Categorias Propriedades

Formas de alcance

Atuação direta em municípios brasileiros Atuação colaborativa em países estrangeiros

Atuação direta em todos os estados brasileiros

Diversificação das fontes de

recursos

Parcerias e contratos com empresas Subvenção governamental

Parcerias e contratos com o poder público Parcerias com associações e organizações sociais

Doações de pessoas físicas e jurídicas Fonte própria de receita

Projetos de captação de recursos estaduais e federais Parcerias com instituições de ensino

Governança

Profissionalização da equipe Contratação de profissionais experientes

Estruturação formal da área de gestão de pessoas Adoção de ferramentas de gestão informatizadas

Elaboração sistematizada de relatórios de prestação de contas Autossustentabilidade financeira

Criação de mecanismos de descentralização das decisões Criação de mecanismos sucessórios

Implementação de conselho consultivo, diretor e fiscal Elaboração de balanço social

Ações de interesse público

Desenvolvimento interno de atividades que complementam programas de interesse público Atuação na capacitação social de gestores públicos

Engajamento em discussões públicas locais, regionais e federais Atuação em conselhos consultivos e associações que visam o interesse público

Atuação direta na elaboração e implementação das leis com impacto social Atuação direta na elaboração e implementação de programas governamentais com impacto social

Análise crítica da atuação pública para identificação de focos de ociosidade e de investimento inoperante

Avaliação do impacto social

Embasamento empírico dos critérios de avaliação das inovações sociais Mensuração do impacto quantitativo das inovações sociais Mensuração do impacto qualitativo das inovações sociais

Embasamento científico para os critérios de avaliação das inovações sociais Desenvolvimento de ferramentas informatizadas e de integração dos impactos quantitativos e

qualitativos das inovações sociais

Expansão do impacto social

Sistematização e difusão de conhecimentos técnicos e científicos a partir de publicações Replicação de inovações sociais personalizadas mediante acompanhamento a distância Replicação de inovações sociais personalizadas mediante acompanhamento presencial Replicação das inovações sociais personalizadas a partir de aprendizado sistematizado

Treinamento e discussões regionais sobre as inovações sociais geradas Disseminação das inovações sociais a partir de parceria direta com o poder público

Pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias sociais para aumentar a flexibilidade, o impacto e a eficiência operacional

Adoção de processos de segurança e de qualidade estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores e de acreditação

Replicação de inovações sociais padronizadas de forma autônoma e aberta Figura 8. Categorias e propriedades da geração de inovações sociais nos negócios de impacto social. Legenda: Dimensões de incidência alta (áreas cinza escuro), incidência média (áreas cinza médio) e incidência baixa, porém emergente (áreas cinza claro). Fonte: Dados da pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa.

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recursos a partir de parcerias e contratos com poder público, empresas e associações; subvenção econômica; doações; gestão de pessoas; informatização da gestão; elaboração de relatórios de prestação de contas; desenvolvimento interno de atividades que complementam programas de interesse público; capacitação social de gestores públicos; engajamento em discussões públicas e conselhos; embasamento empírico na definição de critérios avaliativos e na mensuração dos impactos (quantitativo e qualitativo) das inovações sociais geradas; sistematização e difusão de conhecimentos técnicos e científicos a partir de publicações; atividades de replicação de inovações sociais personalizadas mediante aprendizado sistematizado, acompanhamento presencial ou a distância; e treinamento e discussões regionais sobre as inovações sociais geradas.

Cabe ressaltar que as propriedades com dimensões de baixa incidência (áreas com cinza claro) representadas na figura 8 evidenciam a emergência, ainda que baixa, da profissionalização e da integração gerencial e sociopolítica dos negócios, com vistas a proporcionar o alinhamento dos vetores institucionais gerenciais e coletivos propostos por Armani (2003). Deve-se enfatizar ainda que, apesar da baixa incidência dessas propriedades nos 24 negócios investigados, é fato que elas apresentam grande potencial de desenvolvimento. Portanto, são definidas como propriedades de baixa incidência, porém, emergentes (quadro x). 4.3 Codificação Seletiva A partir das categorias e suas relações sistemáticas apresentadas no item anterior (codificação axial) foi realizada uma codificação seletiva (grau mais elevado de abstração dos dados para integrar as categorias) o que proporcionou a articulação de um modelo conceitual explicativo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social representado pela figura 9 e sustentado por seis proposições (P) relatadas a seguir.

a) (P01) A categoria central do estudo baseia-se na atuação sustentável, tanto nos processos quanto na inovação social propriamente dita, como forma de potencializar a geração de inovações sociais nos negócios de impacto social, assumindo, portanto, que se trata de um fenômeno de integração e sustentabilidade, ou seja, de desenvolvimento inovador e gerencial com sustentabilidade e unicidade. Portanto, pressupõe-se que o produto da inovação não pode ser analisado isoladamente, deve-se também compreender a forma como foi processado e gerenciado.

b) (P02) A prevalência de um contexto cooperativo para resolver questões sociais, enfatizando-se a vinculação permanente e a cooperação intensa entre os atores para obtenção de mudanças sociais duradouras e de impacto a partir da diversificação de fontes de recursos, incluindo as usuais (subvenção governamental, doações, parcerias e contratos com empresas, poder público, associações e organizações sociais) e também as emergentes (fonte própria de receita, projetos de captação de recursos e parcerias com instituições de ensino).

c) (P03) A governança profissionalizada como condicionante causal à geração de inovações sociais nos negócios de impacto social, incluindo tanto as práticas usuais (contratação de profissionais experientes, capacitação da equipe, estruturação formal da área de gestão de pessoas, adoção de ferramentas de gestão informatizadas e elaboração sistematizada de relatórios de prestação de contas) quanto as práticas emergentes (autossustentabilidade financeira, criação de mecanismos sucessórios e de descentralização das decisões, implementação de conselho consultivo, diretor e fiscal e elaboração de balanço social). Dessa forma, pressupõe-se que a profissionalização do negócio é uma condição causal da sustentabilidade nas instituições sociais,

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incluindo sistema de monitoramento, captação de recursos, gestão administrativa e financeira e capacitação técnica dos recursos humanos.

d) (P02) O desenvolvimento de ações de interesse público como condicionante interveniente à geração de inovações sociais nos negócios de impacto social, incluindo tanto as práticas usuais (desenvolvimento interno de atividades que complementam programas de interesse público; atuação na capacitação social de gestores públicos; engajamento em discussões públicas locais, regionais e federais; a atuação em conselhos consultivos e associações que visam o interesse público) quanto as emergentes (atuação direta na elaboração e implementação de leis e programas governamentais com impacto social e análise crítica da atuação pública visando a identificação de focos de ociosidade e de investimento inoperante). Assim, pressupõe-se a integração sistêmica e sociopolítica, os quais abordam a legitimidade, a transferência e a autonomia dos negócios, bem como a sua rede de parcerias e sua capacidade de ofertar produtos e serviços de alto impacto social.

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Figura 9. Modelo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais. Fonte: Dados da pesquisa.

e) (P05) A avaliação técnica e científica do impacto social como estratégia de mensuração dos resultados das inovações geradas, incluindo tanto práticas usuais (embasamento empírico dos critérios avaliativos e, posterior, mensuração dos impactos quantitativos e qualitativos das inovações sociais) quanto emergentes (embasamento científico de critérios avaliativos para as inovações sociais e desenvolvimento de ferramentas informatizadas e de integração dos impactos quantitativos e qualitativos das inovações

FENÔMENOAtuação

sustentável tanto nos processos quanto na

inovação social propriamente

dita.

PROPOSIÇÕES

MODELO DE ATUAÇÃO SUSTENTÁVEL PARA O DESENVOLVIMENTO DE INOVAÇÕES SOCIAIS EM NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL

CONTEXTOPrevalência de

um contexto cooperativo

para resolver questões sociais.

CONDIÇÃO CAUSALGovernança

profissionalizada como condicionante causal à geração de inovações

sociais.

CONDIÇÃO INTERVENIENTE

Desenvolvimento de ações de interesse

público como condicionante

interveniente à geração de inovações sociais.

ESTRATÉGIAAvaliação técnica e científica do impacto

social como estratégia de mensuração dos

resultados das inovações geradas.

CONSEQUÊNCIASExpansão do impacto

social como consequência da

atuação autoescalável dos negócios sociais.

Autossustentabilidade financeira, criação de

mecanismos sucessórios e de descentralização das

decisões, implementação de conselho consultivo, diretor e

fiscal e elaboração de balanço social.

Atuação direta na elaboração e implementação de leis e programas governamentais

com impacto social e análise crítica da atuação pública visando a identificação de focos de ociosidade e de investimento inoperante.

Embasamento científico de critérios avaliativos para as

inovações socais e desenvolvimento de

ferramentas informatizadas e de integração dos impactos quantitativos e qualitativos

das inovações sociais..

Disseminação das inovações sociais por parceria direta

com o poder público; P&D de tecnologias sociais para

aumentar flexibilidade, impacto e eficiência; adoção de processos de segurança e de qualidade estabelecidos

pelos órgãos fiscalizadores e de acreditação; e replicação

de inovações sociais padronizadas de forma

autônoma e aberta.

ATUAÇÃOUSUAL

ATUAÇÃO EMERGENTE

Contratação de profissionais experientes, capacitação da equipe, estruturação formal

da área de gestão de pessoas, adoção de ferramentas de gestão informatizadas e

elaboração sistematizada de relatórios de prestação de

contas.

Desenvolvimento interno de atividades que

complementam programas de interesse público; atuação na

capacitação social de gestores públicos;

engajamento em discussões públicas locais, regionais e

federais; a atuação em conselhos consultivos e associações que visam o

interesse público.

Embasamento empírico dos critérios avaliativos e,

posterior, mensuração dos impactos quantitativos e

qualitativos das inovações sociais.

Sistematização e difusão de conhecimentos científicos e

técnicos a partir de publicações; treinamento e

discussões regionais sobre as inovações sociais geradas; replicação de inovações sociais personalizadas mediante aprendizado

sistematizado e acompanhamento presencial

ou a distância.

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sociais). Sendo assim, pressupõe-se que a os resultados das inovações sociais são essencialmente intangíveis, associando-se mais à concepção de “serviço”, o que torna primordial o estabelecimento de critério tanto quantitativos quanto qualitativos no processo de mensuração dos impactos social gerados.

f) (P06) A expansão do impacto social como consequência da atuação autoescalável dos negócios sociais (crescimento gerencial com autonomia e unicidade), perpassando as esferas municipais, estaduais e federais a partir de práticas usuais (sistematização e difusão de conhecimentos científicos e técnicos por meio de publicações; treinamento e discussões regionais sobre as inovações sociais geradas; replicação de inovações sociais personalizadas mediante aprendizado sistematizado e acompanhamento presencial ou a distância) e também emergentes (disseminação das inovações sociais mediante parceria direta com o poder público; pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias sociais para aumentar a flexibilidade, o impacto e a eficiência operacional; adoção de processos de segurança e de qualidade estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores e de acreditação; e replicação de inovações sociais padronizadas de forma autônoma e aberta). Portanto, pressupõe-se que os negócios de impacto social devem oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais.

5. Considerações Finais

Os resultados agregados possibilitaram a proposição de um modelo conceitual explicativo de atuação sustentável para o desenvolvimento de inovações sociais em negócios de impacto social com base nas seguintes proposições: a atuação sustentável tanto nos processos quanto na inovação social propriamente dita; a prevalência de um contexto cooperativo para resolver questões sociais; a governança profissionalizada como condicionante causal à geração de inovações sociais; o desenvolvimento de ações de interesse público como condicionante interveniente à geração de inovações sociais; a avaliação técnica e científica do impacto social como estratégia de mensuração dos resultados das inovações geradas; e a expansão do impacto social como consequência da atuação autoescalável dos negócios sociais.

Especificamente, constatou-se que a atuação dos negócios de impacto social investigados pode ser descrita a partir de um enfoque institucional essencialmente gerencial, tendo-se a geração de inovações sociais como contexto de análise e as seguintes categorias como descritoras: formas de alcance, diversificação das fontes de recursos, governança, ações de interesse público, avaliação do impacto social e expansão do impacto social. No entanto, observou-se que ainda é baixa a incidência de atuações sistêmicas e de integração gerencial e sociopolítica no que tange a geração de inovações sociais nesses negócios.

Por fim, destaca-se a necessidade de pesquisas científicas futuras e também reflexões institucionais e governamentais sobre a emergente profissionalização dos negócios de impacto social e a decorrente necessidade de se instituir práticas mais integradas, sustentáveis e escaláveis.

Em relação às limitações da presente pesquisa, fica estabelecida a necessidade de um olhar com a devida parcimônia, não sendo possível realizar generalizações acerca dos resultados obtidos que estão explicitamente relacionados aos 24 negócios de impacto social investigados.

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