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ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL PÓS-GRADUAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA LATO SENSU LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: revisão de literatura SALVADOR 2010

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ATUALIZA ASSOCIACcedilAtildeO CULTURAL

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

LATO SENSU

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM

UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

SALVADOR 2010

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM

UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia apresentada a Atualiza Associaccedilatildeo Cultural-Lato Sensu como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

especialista em Enfermagem em UTI sob a orientaccedilatildeo do profordm Fernando Reis do

Espiacuterito Santo

SALVADOR 2010

S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira

Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia

intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm

Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu

em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010

1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3

Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo

CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI

Salvador 10 de maio de 2010

EXAMINADOR

Nome _________________________________________

Titulaccedilatildeo _________________________________________

PARECER FINAL

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

________________________________________

AGRADECIMENTOS

A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei

Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa

DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM

UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia apresentada a Atualiza Associaccedilatildeo Cultural-Lato Sensu como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

especialista em Enfermagem em UTI sob a orientaccedilatildeo do profordm Fernando Reis do

Espiacuterito Santo

SALVADOR 2010

S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira

Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia

intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm

Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu

em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010

1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3

Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo

CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI

Salvador 10 de maio de 2010

EXAMINADOR

Nome _________________________________________

Titulaccedilatildeo _________________________________________

PARECER FINAL

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei

Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa

DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

S237h Santos Luzinete Bispo Oliveira

Humanizaccedilatildeo no processo da morte em unidades de terapia

intensiva Luzinete Bispo Oliveira Santos ndash Salvador 2010 36f 30 cm

Orientador Prof Dr Fernando Reis do Espiacuterito Santo Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Especializaccedilatildeo Lato Sensu

em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo 2010

1 Enfermagem em UTI 2 Humanizaccedilatildeo da assistecircncia 3

Morte 4 Paciente I Espiacuterito Santo Fernando Reis II Atualiza Poacutes-graduaccedilatildeo III Tiacutetulo

CDU 616-083 Ficha catalograacutefica elaborada pela Bibliotecaacuteria Adriana Sena Gomes CRB 5 1568

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI

Salvador 10 de maio de 2010

EXAMINADOR

Nome _________________________________________

Titulaccedilatildeo _________________________________________

PARECER FINAL

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______________________________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei

Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa

DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

LUZINETE BISPO OLIVEIRA SANTOS

HUMANIZACcedilAtildeO NO PROCESSO DA MORTE EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA revisatildeo de literatura

Monografia para obtenccedilatildeo do grau de Especialista em Enfermagem em UTI

Salvador 10 de maio de 2010

EXAMINADOR

Nome _________________________________________

Titulaccedilatildeo _________________________________________

PARECER FINAL

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______________________________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei

Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa

DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

AGRADECIMENTOS

A Deus nosso Pai pela graccedila que me concedeu para transpor os obstaacuteculos e chegar onde cheguei

Aos meus pais Antonieta e Joatildeo (in memoacuteriam) pelo exemplo de vida incentivo sacrifiacutecio apoio e dedicaccedilatildeo durante toda a minha vida Aos meus nove irmatildeos pela torcida e incentivo Aos pacientes que satildeo os grandes motivadores da minha vida profissional Agrave colega Adriana Sena Gomes Bibliotecaacuteria o meu reconhecimento e sincero agradecimento pelo apoio nesse meu caminhar cientiacutefico Ao professor Fernando Reis do Espiacuterito Santo Orientador pela competecircncia tranquumlilidade espontaneidade e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento dessa pesquisa

DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus filhos Davi e Joatildeo

pelo estiacutemulo para continuar lutando por meus ideais

Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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Eu me importo com o fato de vocecirc ser vocecirc me importo ateacute o uacuteltimo momento de sua vida e faremos tudo o que estaacute ao nosso alcance natildeo somente para ajudar vocecirc a morrer em paz mas tambeacutem para vocecirc viver ateacute o dia da morte

Cicely Saunder

RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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RESUMO

A unidade de terapia Intensiva (UTI) muitas vezes eacute vista como um setor desumanizante e frio onde a tecnologia prevalece em relaccedilatildeo agraves accedilotildees humaniacutesticas Eacute nesse ambiente afastados dos seus entes que os pacientes em processo de morte passam seus uacuteltimos momentos em companhia de estranhos normalmente profissionais da enfermagem ou meacutedicos Esse estudo teve por objetivo analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais humana em UTI Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica de caraacuteter qualitativo e exploratoacuterio A busca do material foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e perioacutedicos da aacuterea Os resultados demonstram que os trabalhos realizados por enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo proposto satildeo incipientes e a temaacutetica em foco eacute constantemente abordada por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Considerando-se a anaacutelises dos textos identificados e as observaccedilotildees pessoais relacionadas ao estudo conclue-se que a morte de uma pessoa sem probabilidade de cura pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina paliativa cuidados centrados na famiacutelia e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no processo de mortemorrer forem trazido para o ambiente de UTI PALAVRAS-CHAVE Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Unidade de terapia Intensiva Morte Paciente

ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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ABSTRACT

The intensive care unit (ICU) is often seen as a dehumanizing and cold sector where technology prevails in relation to humanistic actions It is in this environment away from their loved that patients undergoing death spend their last moments in the company of strangers usually nursing or medical professionals This study aimed to analyze the literature and proposed initiatives to a more humane and dignified death in the ICU This is a review of qualitative and exploratory The pursuit of material was done in computerized databases and books and journals The results demonstrate that the work done by nurses that meet the proposed goal is rarely in focus and the theme is constantly approached by medical professionals and psychologists Considering the analysis of texts identified and personal observations related to the study concludes that the death of a person with no chance of cure can be dignified and humane if the basic principles of palliative medicine family-centered care and training of professionals involved in case of death dying are brought to the ICU environment KEYWORDS Humanization of Assistance the Intensive Care Unit Death Patie

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

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Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

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Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO09

2 REVISAtildeO DA LITERATURA12

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA12

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER14

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE

MORTEMORRER19

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

(UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER24

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA29

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS32

REFEREcircNCIAS34

1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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1 INTRODUCcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DO OBJETO DE ESTUDO

Na rotina do profissional de sauacutede o tema morte eacute pouco comentado atuam na

perspectiva de promover a sauacutede prolongar e manter a vida Segundo estudos

ao longo da graduaccedilatildeo os assuntos abordados satildeo no acircmbito da fisiopatologia

e nos procedimentos teacutecnicos utilizados na atenccedilatildeo a paciente grave Aspectos

relacionados ao preparo emocional e psicoloacutegico necessaacuterios no atendimento

desses e aos seus familiares satildeo negligenciados observando-se uma

ldquodesumanizaccedilatildeordquo no atendimento ao paciente terminal (BALSANELLI

SANTOS SOLER 2002)

Eacute do conhecimento que no decorrer dos uacuteltimos seacuteculos a partir do surgimento

dos hospitais e unidades complexas e especializadas como as Unidades de

Terapia Intensivas (UTI) as pessoas doentes ou em estado grave da doenccedila

destinam-se para essas unidades em busca da cura ou tratamento de sauacutede

Entretanto diante do insucesso da terapecircutica empreendida e falta de

perspectiva de sobrevivecircncia o doente entra no processo de morte Assim

afastados dos seus entes passam seus uacuteltimos dias num leito hospitalar em

companhia de estranhos Encontram-se soacutes com seu sofrimento e noacutes

profissionais responsaacuteveis pelo cuidado assumimos em alguns casos o papel

da famiacutelia permanecendo aacute beira do leito nos seus uacuteltimos momento

JUSTIFICATIVA

No meu cotidiano de trabalho em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enquanto

profissional de enfermagem de niacutevel meacutedio prestei assistecircncia agrave beira do leito

a vaacuterios pacientes moribundos nos seus uacuteltimos momentos de vida Apesar de

lidar com a morte cotidianamente e atuar de acordo com os valores eacuteticos

cultuando o respeito ao ser humano sob meus cuidados sentia-me

despreparada ao lidar com a situaccedilatildeo tambeacutem percebia o mesmo com os

demais colegas da equipe Imaginava que durante a graduaccedilatildeo em

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

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Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

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Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

enfermagem teria o aprendizado necessaacuterio para assistir de forma adequada o

paciente no processo de mortemorrer Isso natildeo ocorreu o assunto foi pouco

discutido na disciplina de psicologia Assim surgiu meu interesse pelo

embasamento literaacuterio e consequentemente adquirir habilidades para prestar

uma assistecircncia de qualidade diferenciada e humanizada a fim de

proporcionar uma morte ldquomais dignardquo aos clientes sob meus cuidados

PROBLEMA

Que iniciativas podem ser tomadas para tornar a morte mais digna e mais

humana dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI)

OBJETIVO

Analisar na literatura propostas e iniciativas que visem uma morte digna e mais

humana em Unidade de Terapia Intensiva

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisatildeo bibliograacutefica tendo como base a anaacutelise e

interpretaccedilatildeo de literaturas especiacuteficas dissertaccedilotildees teses perioacutedicos artigos

livros e outras publicaccedilotildees nacionais em consonacircncia com o objetivo proposto

Os descritores utilizados foram morte enfermagem UTI e humanizaccedilatildeo da

assistecircncia

Segundo Tognetti (2006) a pesquisa bibliograacutefica eacute fundamentada nos

conhecimentos de biblioteconomia documentaccedilatildeo e bibliografia sua finalidade

eacute colocar o pesquisador em contato com o que jaacute se produziu a respeito do seu

tema de pesquisa Trata-se de uma pesquisa com caraacuteter exploratoacuterio e

qualitativo De acordo com Godoy (1995 p21) ldquo[] a pesquisa qualitativa

ocupa um reconhecido lugar entre as vaacuterias possibilidades de se estudar os

fenocircmenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relaccedilotildees sociais

estabelecidas em diversos ambientesrdquo Jaacute para Richardson (1999 p17) visa

descobrir as semelhanccedilas entre fenocircmenos ldquoos pressupostos teoacutericos natildeo

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

estatildeo claros ou satildeo difiacuteceis de encontrar Nessa situaccedilatildeo faz-se uma pesquisa

natildeo apenas para conhecer o tipo de relaccedilatildeo existente mas sobretudo para

determinar a existecircncia de relaccedilatildeordquo

A pesquisa exploratoacuteria eacute ideal quando se deseja explorar o novo ainda natildeo

considerado como ciecircncia mas que serve de base agrave mesma Pode-se basear

neste tipo de pesquisa na ocorrecircncia de bibliografia escassa sobre o tema em

estudo (LEITE 2008)

Apoacutes leitura na iacutentegra e interpretaccedilatildeo dos textos selecionados buscou-se obter

a resposta do problema da pesquisa

ESTRUTURA

Organizei este estudo em trecircs momentos nos quais procurei descrever sobre o

assunto proposto de forma simples e coerente

No primeiro momento apresento o objeto de estudo relato meu interesse em

discorrer sobre o tema descrevo tambeacutem o objetivo com base no problema em

questatildeo

Logo apoacutes no segundo momento faccedilo consideraccedilotildees sobre humanizaccedilatildeo da

assistecircncia apresento tambeacutem uma concisatildeo sobre o morrer e faccedilo alguns

comentaacuterios acerca do paciente moribundo em UTI Em seguida comento

sobre a equipe de enfermagem e a assistecircncia durante o processo

mortemorrer

Prosseguindo no terceiro momento apresento a anaacutelise dos dados

pesquisados

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 HUMANIZACcedilAtildeO DA ASSISTEcircNCIA

Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano dar condiccedilatildeo

humana tornar afaacutevel e trataacutevel A humanizaccedilatildeo da assistecircncia requer

conscientizaccedilatildeo e preparo da equipe para um cuidado diferenciado

entendendo o paciente como um ser humano

Alguns estudos na aacuterea da medicina intensivista apontam para a necessidade

de mudar o enfoque predominantemente tecnicista paciente-doenccedila para uma

abordagem mais humana que engloba o paciente de forma holiacutestica ou seja

percebendo-o como um ser inserido num contexto e que necessita ser

atendido nos aspectos fiacutesicos psicoloacutegicos sociais e espirituais A medicina

paliativa vem sendo destacada nas literaturas em geral na aacuterea de oncologia

entretanto tem ganhado destaque tambeacutem nas literaturas pertinentes ao

intensivismo (GARROS 2003)

ldquoA medicina paliativa se desenvolveu como uma reaccedilatildeo agrave medicina moderna

altamente tecnicista que prioriza a cura em vez do cuidadordquo (PESSINI 2006)

A filosofia dos cuidados paliativos a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal b) natildeo apressa nem adia a morte c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes d) integra os aspectos psicoloacutegicos e espirituais nos cuidados com o paciente e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o maacuteximo possiacutevel ateacute a morte f) oferece um sistema de apoio para ajudar a famiacutelia a lidar com a doenccedila do paciente e seu proacuteprio luto (PESSINI 2003 apud PESSINI 2006)

Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de sauacutede visto

que o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada si

pode fazer e passa a ser considerado como aquele que natildeo responde mais as

medidas terapecircuticas de cura Desta forma sob a filosofia dos cuidados

paliativos temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna

decente ou aceitaacutevel para um ser humano A humanizaccedilatildeo do morrer apoacuteia a

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

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Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

concepccedilatildeo de que a morte natildeo eacute um inimigo a ser combatido ela faz parte do

ciclo vital e do adoecer

A proposta dos cuidados paliativos eacute permitir que a pessoa viva intensamente

seus dias finais de vida com controle da dor e sendo assistido de forma

holiacutestica Partindo da ideacuteia de que ldquomais vale acrescentar vida ao tempo do que

tempo agrave vidardquo

O Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo Hospitalar - PNHAH foi instituiacutedo pelo

Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes da portaria nordm 881 de 19 06 2001 no acircmbito do

Sistema Uacutenico de Sauacutede (BRASIL 2002) O PNHAH faz parte de um processo

de discussatildeo e implementaccedilatildeo de projetos de humanizaccedilatildeo do atendimento a

sauacutede e de melhoria da qualidade do vinculo estabelecido entre trabalhador da

sauacutede pacientes e familiares

A famiacutelia enquanto extensatildeo do paciente deveraacute ser incluiacuteda no processo de

cuidado deste poreacutem natildeo como auxiliar ao nosso trabalho mas como

indiviacuteduos a serem cuidados tambeacutem pela enfermagem Essa deveraacute oferecer

o suporte necessaacuterio esclarecer as duacutevidas atender e acolher prontamente e

de maneira empaacutetica esse suporte primaacuterio do paciente conquistando assim

sua confianccedila A inclusatildeo da famiacutelia no processo de cuidado em Unidade de

terapia Intensiva (UTI) eacute indispensaacutevel para podermos atender o paciente de

forma holiacutestica (NASCIMENTO MARTINS 2000)

Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito

com o outro acolher o desconhecido e reconhecer os limites A humanizaccedilatildeo

requer uma interaccedilatildeo harmoniosa entre o cuidado teacutecnico e cientiacutefico Requer

tambeacutem compromisso eacutetico de todos os profissionais envolvidos na assistecircncia

desde os atendentes da recepccedilatildeo ateacute a equipe envolvida diretamente com a

assistecircncia do paciente e famiacutelia O processo do cuidado de enfermagem por

se soacute constitui um ato humanizado visto que os objetivos do cuidar envolvem

aliviar confortar ajudar favorecer promover entre outros (MORAES

GARDA FONSECA 2004) Segundo esses autores

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

Humanizar de acordo com os valores eacuteticos consiste fundamentalmente em tornar uma praacutetica bela por mais que ela lide com o que tem de mais degradante doloroso e triste na natureza humana o sofrimento a deterioraccedilatildeo e a morte Refere-se portanto a possibilidade de assumir uma posiccedilatildeo eacutetica de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites O ponto chave do trabalho de humanizaccedilatildeo estaacute no fortalecimento desta posiccedilatildeo eacutetica de articulaccedilatildeo do cuidado teacutecnico cientifico jaacute construiacutedo conhecido e dominado ao cuidado que incorpora a necessidade a exploraccedilatildeo e o acolhimento do imprevisiacutevel do incontrolaacutevel ao indiferente e singular

Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se

repensar a formaccedilatildeo profissional na aacuterea de sauacutede Para esse autor apesar

das propostas de mudanccedilas de modelo de atenccedilatildeo da sauacutede que prega a

integralidade e a humanizaccedilatildeo da assistecircncia e da crise da ciecircncia racionalista

predomina ainda o aprendizado teacutecnico racional e individualizado empregado

muitas vezesrdquo sem o exerciacutecio da criacutetica criatividade e sensibilidaderdquo

Refletindo portanto no despreparo dos profissionais em proporcionar um

cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviccedilos que utilizam alta

tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva

Felizmente percebemos uma seacuterie de estudos relacionados agrave necessidade de

humanizaccedilatildeo desses serviccedilos por forccedila do efeito negativo do ambiente sobre

pacientes famiacutelia e equipe multiprofissional Os estudos mostram tambeacutem que

os profissionais de sauacutede tecircm consciecircncia de que humanizaccedilatildeo eacute uma palavra

aparentemente faacutecil de entender poreacutem no dia-a-dia natildeo eacute tatildeo faacutecil praticaacute-la

22 CONCISOtildeES SOBRE O MORRER

A compreensatildeo sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na

forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer

Ao pesquisar sobre a definiccedilatildeo das palavras morte e morrer no dicionaacuterio de

liacutengua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinocircnimos

atribuiacutedos a elas

Morte significa cessaccedilatildeo da vida fim Jaacute a palavra morrer significa rdquoperder a

vida falecer finar-se fenecer expirar desaparecer descansar desencarnar

ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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ir perecer sucumbir espichar esticar estinguir-se acabar (-se)rdquo (FERREIRA

2000)

Jaacute no dicionaacuterio meacutedico traz as seguintes consideraccedilotildees

1-Cessaccedilatildeo total e irreversiacutevel da funccedilatildeo cerebral funccedilatildeo espontacircnea dos sistemas respiratoacuterio e circulatoacuterio 2 - A cessaccedilatildeo final e irreversiacutevel dos batimentos cardiacuteacos e respiraccedilotildees perceptiacuteveis [] o principal sinal de morte eacute a cessaccedilatildeo da accedilatildeo do coraccedilatildeo Outras indicaccedilotildees satildeo ausecircncia de reflexos cessaccedilatildeo da atividade eleacutetrica do ceacuterebro determinada pelo eletro encefalograma (EEC) manifestaccedilatildeo de rigor mortis e uma descoloraccedilatildeo mosqueada no corpo (THOMAS 2000)

Como podemos observar existem vaacuterias denominaccedilotildees para substituir a

palavra morte talvez o objetivo real seja ldquosuavizarrdquo a sua pronuacutencia tornando-a

menos temiacutevel

A Tanatologia eacute a ciecircncia que estuda a morte Segundo este saber o homem eacute

o uacutenico ser sobre a terra que tem consciecircncia da sua finitude o uacutenico a ter

consciecircncia de que sua passagem neste mundo eacute transitoacuteria e deve terminar

um dia Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivecircncia com

a morte no decorrer da histoacuteria

A seguir pontuarei de forma sinteacutetica as diferentes interpretaccedilotildees da morte

segundo algumas das grandes correntes religiosas

Para os judeus e cristatildeos que acreditava na ressurreiccedilatildeo apoacutes a morte esta

seria o acesso para outra dimensatildeo da vida que poderia ser no inferno ou no

paraiacuteso conforme os seus feitos terrenos a partir da observacircncia dos

mandamentos de Deus

De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) ldquoo catolicismo prega que

os esforccedilos para manter a vida fiacutesica podem ser encerrados caso a

continuaccedilatildeo da vida bioloacutegica ao inveacutes de promover a integraccedilatildeo da vida

espiritual e moral do indiviacuteduo torne-se vatilderdquo

O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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O budismo natildeo encara a morte como o fim da vida mas sim como uma

transiccedilatildeo defendendo o direito do indiviacuteduo de determinar o momento em que

deseja passar desta existecircncia para a seguinte Enfatiza que o importante no

momento da morte eacute que a mente permaneccedila em paz e harmonia consigo

mesmo

No islamismo a concepccedilatildeo de vida eacute sagrada a morte eacute interpretada como a

conclusatildeo de uma vida e o comeccedilo de outra

Apesar das diferentes interpretaccedilotildees das diversas correntes religiosas haacute

consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente

no processo de morrer

A morte eacute parte integrante do processo de desenvolvimento humano e estaacute

presente no cotidiano diaacuterio de nossas vidas A forma de percepccedilatildeo

significaccedilatildeo e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme

o contexto soacutecio-cultural e histoacuterico e vem sofrendo alteraccedilotildees atraveacutes das

diferentes civilizaccedilotildees ateacute os dias atuais

[] Os povos mesopotacircmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa sendo o cadaacutever cuidadosamente acompanhado de todas as marcas mais distintas de sua identidade pessoal e familiar como seus pertences insiacutegnias e objetos de uso suas vestimentas e ateacute mesmo de suas comidas

prediletas (GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Para essa civilizaccedilatildeo a morte seria uma espeacutecie de rebaixamento da vida o

apagamento dessa mesma existecircncia

Os antigos egiacutepcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os

alimentos para que continuassem felizes e da mesma forma os antigos iacutendios

americanos que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia

Esses falavam dos espiacuteritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentaacute-los

Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura que

natildeo podia ser tocada (KUumlBLER-ROSS 2008)

Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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Paulo Manoele 2000

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Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lanccediladas ao

vento ou nas aacuteguas dos rios sendo o morto despojado de todos os seus

traccedilos de identidade

Para os antigos gregos a incineraccedilatildeo determinava dois tipos de mortos o cadaacutever do homem comum e o cadaacutever dos grandes heroacuteis Ao anocircnimo cabia o crematoacuterio coletivo e o depoacutesito de suas cinzas em vala comum Os corpos falecidos dos heroacuteis eram cremados na cerimocircnia da bela morte onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos A proacutepria morte seria a prova de sua virtude tornando-o um indiviacuteduo cuja vida eacute digna de ser lembrada

(GIACOIA JUacuteNIOR 2005 p15 apud AGRA ALBUQUERQUE 2008)

Os primeiros cemiteacuterios surgiram a partir do seacuteculo V e eram localizados junto

agraves igrejas cristatildes Esses cemiteacuterios faziam parte do cenaacuterio de vida das

pessoas tinham papel de praccedila puacuteblica eram lugares de julgamentos das

execuccedilotildees e dos encontros amorosos

Na Idade Meacutedia a morte era entendida com naturalidade fazendo parte do

ambiente domeacutestico O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer

como os seus parentes e amigos Naquela eacutepoca os nobres eram enterrados

no interior das igrejas enquanto os pobres erram colocados em covas

coletivas

Tanto a famiacutelia como os amigos do morto manifestavam o processo do luto

atraveacutes do uso de roupas pretas e da natildeo participaccedilatildeo na vida social ateacute que

natildeo acontecesse a elaboraccedilatildeo do oacutebito As pessoas que sabiam que iam

morrer protagonizavam todo o ritual despedindo-se dos entes queridos

fazendo o testamento buscando se reconciliar com as pessoas e superar as

maacutegoas A comunidade participava ativamente de todo esse processo (AGRA

ALBUQUERQUE 2008)

Gutierrez (2003) tomando como referencial o estudo de Pessini (1999) fez

uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade

meacutedia ateacute a deacutecada de 70 do seacuteculo XX

Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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Durante os seacuteculos XI e XII iniciaram-se mudanccedilas sutis na maneira

tradicional de o homem atuar diante da morte

No periacuteodo entre os seacuteculos XII a XV houve uma maior conscientizaccedilatildeo

do homem em relaccedilatildeo aacute sua proacutepria morte

Jaacute no seacuteculo XVI a morte distanciou-se das situaccedilotildees mais corriqueiras

e passou a representar uma separaccedilatildeo inaceitaacutevel iniciando um

processo de visualizaccedilatildeo da morte do outro que passou a ser dramaacutetica

e mais complexa

No final do seacuteculo XVIII surgiram duas mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave morte A

benevolecircncia com a ideacuteia da morte e a relaccedilatildeo entre moribundo e seus

familiares O termo benevolecircncia significa boa vontade para com todos

Na primeira metade do seacuteculo XIX a morte era um fenocircmeno bastante

presente e encarado como fato social e puacuteblico em que parentes e

amigos vizinhos e ateacute mesmo crianccedilas permaneciam no quarto do

moribundo Nessa eacutepoca os ritos que acompanhavam a morte eram

realizados com tranquumlilidade e aceitaccedilatildeo

No decorrer dos anos a atitude do homem em relaccedilatildeo agrave morte sofreu

modificaccedilotildees e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaccediladora

Poupa-se o moribundo de saber sobre suas reais condiccedilotildees de sauacutede A

verdade eacute negada com o intuito de privar o doente do sofrimento A

extrema unccedilatildeo que era oferecida ao moribundo em meados do seacuteculo

XX passou a ser dada somente apoacutes sua morte

A partir da segunda metade do seacuteculo XX a morte foi transferida para os

hospitais e passou a ser vista como um fenocircmeno teacutecnico agraves vezes

adiada ou antecipada a depender dos interesses dos que tentavam

domina-la O Meacutedico transformou-se em heroacutei na luta contra a morte

Atualmente os avanccedilos tecnoloacutegicos e cientiacuteficos tornaram a morte um

evento institucionalizado Eacute cada vez mais comum as pessoas morrerem

no hospital O doente perde o direito de opinar sobre sua morte o

meacutedico tornou-se personagem principal e a famiacutelia passou a sentir-se

protegida por natildeo ter que presenciar a morte de um ente querido Nesse

contexto a morte passa a ocorrer em cenaacuterio composto por fios

maacutequinas aparelhos e pessoas estranhas geralmente equipe meacutedica e

de enfermagem

A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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A definiccedilatildeo de Hospital em dicionaacuterio de termos meacutedicos eacute a seguinte uma

instituiccedilatildeo destinada ao tratamento cuidado e cura dos doentes e feridos para

o estudo das doenccedilas e para o treinamento de meacutedicos e enfermeiras

Sobre a minha trajetoacuteria pessoal diante do processo da morte e morrer

acredito que acumulei experiecircncias muito ricas no decorrer da minha vida Tive

a oportunidade de participar de veloacuterios no interior do estado em fazendas e

na capital Constatei que os costumes satildeo bem diferentes Por exemplo meu

avocirc morava em um pequeno sitio e ficou doente em decorrecircncia de um cacircncer

de esocircfago permaneceu em sua residecircncia na maior parte do tempo

conduzindo sua vida na medida do possiacutevel ateacute o momento de sua morte em

seu lar Seu veloacuterio aconteceu em dois momentos em casa na presenccedila de

familiares e amigos com direito agrave reza e despedidas E no outro momento foi

encaminhado para a igreja catoacutelica onde recebeu a unccedilatildeo e tambeacutem foi

celebrada uma missa de corpo presente

Em seguida num contexto totalmente diferente faleceu o meu pai em

ambiente hospitalar viacutetima de um infarto fulminante Nesse caso por conta de

fatores burocraacuteticos diversos o corpo fio encaminhado para o cemiteacuterio com

breve despedida de familiares e amigos Os dois casos serviram para ilustra

que a morte fora do contexto familiar torna-se de certa forma impessoal e

desumanizante nessa uacuteltima etapa da vida

23 CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO PACIENTE NO PROCESSO DE MORTEMORRER

O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa

maturidade adquirida com o tempo e exame consciente da nossa posiccedilatildeo

diante desse contexto O doente moribundo possue necessidades muito

especiais que podem ser atendidas se tivermos tempo para nos sentar ouvir e

descobrir quais satildeo Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais seraacute

dispensaacutevel ou substituiacutedo pela tecnologia de ponta ndash como as que

encontramos hoje nas nossas UTIs ndash Pois este passa ldquo pela comunicaccedilatildeo

humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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humanizadora que ouve acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas

verdades nos seus valores fundamentais e nas suas opccedilotildees de vidardquo

Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de Kuumlbler-

Ross (2008) onde descreve os estaacutegios que o ser humano passa quando estaacute

em fase terminal a saber

Primeiro estaacutegio negaccedilatildeo e isolamento ndash ocorre uma reaccedilatildeo de descreacutedito do

doente quanto agrave gravidade da doenccedila e agrave possibilidade da morte Normalmente

ocorre a seguinte frase ldquonatildeo natildeo eacute verdade isso natildeo pode acontecer comigordquo

Noacutes pessoas que acompanhamos pacientes moribundos devemos nos

comportar de maneira tranquumlila durante essa fase Sabe-se que eacute saudaacutevel que

algum grau de negaccedilatildeo ocorra posto que eacute difiacutecil lidar com a morte o tempo

todo

Segundo estaacutegio a raiva - manifestaccedilatildeo de raiva oacutedio ressentimento inveja

O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade

(famiacutelia ou equipe) Eacute preciso pois que natildeo levemos a expressatildeo do oacutedio e da

raiva para o lado pessoal Nesse estagio surge a pergunta ldquopor que eurdquo

Terceiro estaacutegio barganha ndash a pessoa aceita a morte mas propotildee alguma

coisa de volta exemplo pede para viver ateacute a formatura do filho Eacute o estaacutegio

mais indicado para cuidar de assuntos praacuteticos como o testamento

Quarto estaacutegio depressatildeo ndash Expressatildeo de sentimento de tristeza a princiacutepio

Satildeo dois tipos de depressatildeo a reagente pela perda do emprego da

capacidade do auto-cuidado etc e a prepatoacuteria pela perda da famiacutelia e da

vida

Quinto estaacutegio aceitaccedilatildeo ndash o doente se mostra calado em paz sem manifestar

depressatildeo nem raiva Eacute o momento para contemplar o fim que se aproxima

com certo grau de ansiedade silenciosa Eacute comum dormir mais nessa fase

mas natildeo como fuga e sim como um repouso antes da grande viagem Suas

preocupaccedilotildees jaacute natildeo dizem respeito ao mundo exterior Essa atitude pode ser

confundida como rejeiccedilatildeo pelas pessoas da famiacutelia e pelos profissionais Eacute

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

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Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma

desistecircncia precoce de lutar contra a doenccedila e a morte e quando se trata da

chegada ao fim em paz

Esses cinco estaacutegios nem sempre acontecem em sequumlecircncia pois podem se

sobrepor um ao outro Eacute natural que toda pessoa a beira da morte reconheccedila

algum dos sinais de que algo natildeo transcorre normalmente e desenvolva esses

estaacutegios ou parte deles Precisamos adquirir habilidade e preparaccedilatildeo

psicoloacutegica para identificar as reaccedilotildees apresentadas pelo doente nesses

estaacutegios e assim podermos ajudaacute-los a enfrentar a situaccedilotildees de morte

iminente

Por diversas vezes durante a assistecircncia a pacientes moribundo presenciei

algumas dessas fases Inclusive tive oportunidade de ldquoajudarrdquo digamos assim

uma paciente a resolver uma ldquopendecircnciardquo sua antes da sua partida Percebi

sua preocupaccedilatildeo e encorajei-a a externar o que a afligia apoacutes conquistar sua

confianccedila ela pediu-me para dar um recado um parente proacuteximo que natildeo

poderia visitaacute-la naqueles uacuteltimos momentos Percebi que apoacutes minha

confirmaccedilatildeo de que daria o seu recado essa paciente externava uma sensaccedilatildeo

de paz vindo a falecer pouco tempo depois A partir desse episoacutedio apesar de

ainda natildeo ter conhecimento das reaccedilotildees dos pacientes durante o processo de

morte passei a prestar mais atenccedilatildeo nas manifestaccedilotildees apresentadas por eles

no intuito de ajudaacute-los de alguma forma naqueles uacuteltimos momentos

Sobre esse assunto Kuumlble-Ross (2008) comenta

Egrave impressionante como uma sessatildeo pode aliviar um paciente de uma carga pesada e sempre nos perguntamos por que eacute tatildeo difiacutecil para a equipe hospitalar e para a famiacutelia perceberem as necessidades do paciente quando geralmente bastaria apenas uma pergunta sincera e franca

De acordo com a autora alguns pacientes terminais agarram-se agrave vida por

causa de algum assunto pendente por exemplo a preocupaccedilatildeo em conseguir

algueacutem para tomar conta de uma irmatilde doente mental sob a qual tem

responsabilidade uma diacutevida financeira ou outras demandas inacabadas

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

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NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

Precisam comunicar a algueacutem essas preocupaccedilotildees e sentem-se bastante

aliviados quando encontram a oportunidade de confessar seus assuntos e

geralmente morrem logo apoacutes resolvecirc-los

Pessini (2006) tece alguns comentaacuterios a serem considerados diante do

paciente moribundo Normalmente ocorre uma reduccedilatildeo da ingestatildeo de comida

e fluidos e natildeo devemos forccedilar o paciente a recebecirc-los caso inexista vontade

ou interesse do mesmo De acordo com o autor os esforccedilos para alimentar

esse doente oralmente poderatildeo agravar o seu quadro atraveacutes da ocorrecircncia de

vocircmito seguido de aspiraccedilatildeo e morte A reidrataccedilatildeo seria a alternativa quando

na ocorrecircncia de secura da boca apesar do bom cuidado de higiene oral

Acrescenta ainda que fluidos intravenosos possam ser indicados nos casos de

deliacuterio por causa da desidrataccedilatildeo apesar do risco de possiacuteveis consequumlecircncias

como inchaccedilo naacuteusea e dor

Ainda de acordo com este mesmo autor a falta de comunicaccedilatildeo tratamentos

agressivos desnecessaacuterios subdoses de medicaccedilotildees analgeacutesicas fazendo o

paciente padecerem de dor fiacutesica nos seus uacuteltimos momentos informaccedilotildees

conflitantes de seus meacutedicos e enfermeiros sobre o melhor curso de accedilatildeo

deixando-o confuso e ansioso Tais aspectos satildeo considerados obstaacuteculos

para uma morte digna e sem sofrimento

Pessini (2006) aconselha as famiacutelias a natildeo esperarem as uacuteltimas horas de vida

para comunicar-se com seus entes queridos que esteja na fase final Utilizou

como base o estudo de Brody onde num total de 100 pacientes terminais de

cacircncer 56 estavam acordados uma semana antes de morrerem 44 estavam

sonolentos mas nenhum em coma Nas uacuteltimas seis horas apenas 8 estavam

despertos 42 sonolentos e 50 em coma impedindo qualquer comunicaccedilatildeo

Ressalta que ldquoapesar de um paciente natildeo reagir mais ao que vecirc ou ouve a

audiccedilatildeo eacute o uacuteltimo sentido a deixar o corpordquo entatildeo natildeo se deve dizer nada

perto do paciente que ele natildeo gostaria de ouvir

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

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GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

Haacute um consenso entre vaacuterios autores que a comunicaccedilatildeo eacute um instrumento de

alto valor no trabalho pois quando bem feita aumenta a satisfaccedilatildeo de todas as

pessoas envolvidas

Devido a nossas dificuldades pessoais de lidar com a morte muitas vezes

optamos pelo ldquopacto do silecircnciordquo deixamos nossos pacientes viver sua morte

sozinho angustiado Eacute importante destacar que devemos nos preparar para

estar com o paciente a partir das necessidades dele Mesmo que ele natildeo fale

ou que esteja inconsciente podemos nos doar alguns momentos

proporcionando nossa companhia falar cantar contar histoacuterias ou

simplesmente romper o isolamento com a oferta do nosso calor humano

trabalhar em silecircncio De acordo com Gutierrez (2003) devemos considerar as

informaccedilotildees dadas pelos familiares do paciente sobre seus haacutebitos costumes

crenccedilas e valores visto que a partir desse conhecimento podemos assistir esse

doente de forma holiacutestica e consequentemente oferecer um cuidado mais

humanizado

Precisamos refletir sobre a nossa assistecircncia a pacientes no processo de

morte nas Unidades de Terapia Intensiva Acredito que a citaccedilatildeo a seguir

poderaacute nos auxiliar nesse processo

Carta dos Pacientes Terminais

- Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana ateacute que

eu morra

- Tenho o direito de ter esperanccedila natildeo importa que mudanccedilas

possam acontecer

- tenho o direito de ser cuidado por pessoas que mantecircm o

sentido da esperanccedila mesmo que ocorram mudanccedilas

- Tenho o direito de expressar agrave minha maneira sentimentos e

emoccedilotildees diante da minha morte

- Tenho o direito de participar das decisotildees referentes a meus

cuidados e tratamentos

- Tenho direito de receber cuidados meacutedicos e de enfermagem

mesmo que os objetivos ldquode curardquo mudem para objetivos ldquode

confortordquo

- Tenho o direito de natildeo morrer sozinho

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

- Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto

- Tenho do direito que o meu corpo humano seja respeitado

- Tenho o direito de que minhas questotildees sejam respondidas

honestamente

- Tenho o direito de natildeo ser enganado

- Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religiatildeoou

experiecircncias religiosas seja qual for o seu significado aos

demais

- Tenho o direito de conservar minha individualidade e natildeo ser

julgado por minhas decisotildees que possam ser contraacuterias agraves

crenccedilas dos demais

- Tenho o direito de aceitar a minha morte de receber ajuda de

meus familiares e que estes tambeacutem sejam ajudados

- Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensiacuteveis

humanas e competentes que procuraratildeo responder agraves minhas

necessidades e me ajudar a enfrentar a morte e garantir a

minha privacidade

- Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade (PESSINI

1996 APUD GUTIERREZ 2003)

24 A EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) E O PROCESSO MORTEMORRER

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nasceu de uma necessidade logiacutestica

Florence Nightingale durante a guerra da Crimeacutelia selecionava os pacientes

mais graves colocando-os numa situaccedilatildeo que favorecesse o cuidado imediato

e a observaccedilatildeo constante

Assim ao longo do tempo vaacuterias tentativas de organizaccedilatildeo do cuidado meacutedico

e de enfermagem foram desenvolvidas tais como aproximar os doentes com

alto grau de complexidade para proacuteximo do posto de enfermagem a

elaboraccedilatildeo de quartos especializados de acordo com as patologias entre

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

outras ateacute o surgimento das Unidades de Terapia Intensiva tais como satildeo

atualmente

Nos uacuteltimos seacuteculos vivenciamos grandes avanccedilos no setor sauacutede

descobertas cientiacuteficas avanccedilos tecnoloacutegicos e na medicina A perspectiva eacute

de prolongar e proporcionar melhores condiccedilotildees de vida para a sociedade

Neste contexto as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) tem por finalidade

proporcionar assistecircncia a pacientes graves com instabilidade hemodinacircmica

de um ou mais sistemas orgacircnicos ou com alteraccedilotildees agudas ou agudizadas

que ameaccedilam a vida (SILVA 2006) Trata-se de um dos setores mais

complexo do ambiente hospitalar que propicia supervisatildeo e assistecircncia meacutedica

e de enfermagem interruptas e especializada aleacutem de forte aparato tecnoloacutegico

e recursos humanos especializados

Todo esforccedilo eacute empregado na perspectiva de manter o paciente com todos os

paracircmetros vitais estaacuteveis hemodinamicamente e de monitorar a evoluccedilatildeo do

tratamento Poreacutem quando os recursos falham no propoacutesito de manter a vida

prima-se por uma assistecircncia humanizada a fim de minimizar o sofrimento da

famiacutelia e do cliente

As Unidades de Terapia Intensiva - UTIs atendem clinicamente a esses

pacientes atraveacutes de uma assistecircncia multidisciplinar interrupta e

extremamente especializada tendo como propoacutesito a garantia do direito agrave

manutenccedilatildeo da vida e estabilidade de seus paracircmetros vitais monitorando e

adequando as necessidades do cliente (HUDAK GALLO 1997 apud SILVA

2006) Ressaltamos poreacutem que essas unidades exibem caracteriacutesticas

ambientais que podem interferir de forma negativa tanto no processo de

interaccedilatildeo paciente-profissional-famiacutelia quanto para o conforto necessaacuterio ao

paciente moribundo Nesse sentido destacamos os seguintes fatores

relacionados ao este ambiente local desconhecido impessoal estressante

tecnicista e com estigma de unidade para paciente de morte iminente sons

monoacutetonos planta fiacutesica comum o que faz com que o paciente visualize e

ouccedila tudo o que ocorre ao seu redor iluminaccedilatildeo e aeraccedilatildeo permanentes entre

outros Entendemos que uma comunicaccedilatildeo efetiva o respeito a sua

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

privacidade e o agir com respeito humanismo e dignidade possa minimizar

esses efeitos elevando a capacidade do paciente em adaptar-se agrave situaccedilatildeo

vivenciada e consequumlentemente aliviar seu desconforto e medo

Nesse sentido atuar em Unidade de terapia Intensiva exige do profissional

muito mais que competecircncia teacutecnica - cientifica Por acolher pacientes em

estado extremamente grave tornam-se necessaacuterios requisitos como agilidade

criatividade controle emocional competecircncia relacional capacitaccedilatildeo

profissional e um amparo espiritual para oferecer um atendimento melhor ao

paciente no processo de morte

A enfermagem destaca-se em relaccedilatildeo aos demais membros da equipe

multiprofissional visto que eacute responsaacutevel pelo cuidado e permanece agrave beira do

leito durante vinte e quatro horas de forma ininterrupta Deveraacute portanto

discernir entre prestar ldquoapenasrdquo os procedimentos teacutecnicos ou se vai atuar no

intuito de manter a dignidade do doente preocupando-se com sua integridade

fiacutesica necessidades humanas baacutesicas necessidades de compensaccedilatildeo

conforto percebendo-o como ser uacutenico e possuidor de uma histoacuteria de vida

(SILVA 2001)

Destacamos que o conhecimento da dimensatildeo da comunicaccedilatildeo natildeo ndash verbal

durante o processo de interaccedilatildeo com o outro poderaacute subsidiar no referido

contexto Visto que uma grande maioria dos pacientes graves encontra-se

impossibilitados de falar por motivos diversos tais como sedaccedilatildeo entubaccedilatildeo

endotraqueal traqueotomia afasia entre outros O enfermeiro e demais

membros da equipe deve preocupar-se com o uso adequado das teacutecnicas de

comunicaccedilatildeo interpessoal (SILVA 1996) Segundo essa autora a accedilatildeo

profissional soacute eacute possiacutevel quando o profissional leva em consideraccedilatildeo a

importacircncia do processo comunicativo pessoa-a pessoa que pode ser atraveacutes

da escrita da fala da comunicaccedilatildeo natildeo-verbal (expressotildees faciais gestos

postura orientaccedilotildees do corpo singularidades somaacuteticas naturais e artificiais

organizaccedilatildeo dos objetos no espaccedilo e ateacute pela relaccedilatildeo de distancia mantida

entre os indiviacuteduos aleacutem da audiccedilatildeo e o tato)

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

Para Gutierrez (2003) os membros da equipe de enfermagem esboccedilam

diferentes tipos de reaccedilotildees no enfrentamento do processo de morte dos

pacientes Segundo a autora cada um traz suas representaccedilotildees de morte para

o cotidiano da UTI ressalta tambeacutem sua percepccedilatildeo de que todos sofrem

sobremaneira ao presenciar o sofrimento e anguacutestia do doente e seus

familiares diante da finitude da vida

De acordo com Silva (2006) a equipe de sauacutede sofre por desestabilizaccedilatildeo

emocional aleacutem de desenvolverem sentimentos que variam entre a culpa

depressatildeo tristeza ansiedade e ateacute mesmo identificaccedilatildeo exagerada com o

paciente podendo ocorrer uma confrontaccedilatildeo com sua proacutepria mortalidade

Visto que o processo sauacutede-doenccedila-morte eacute conformado pelas raiacutezes histoacutericas

e culturais socialmente construiacutedas e reinterpretadas pelos indiviacuteduos e grupos

sociais de acordo com suas concepccedilotildees de mundo suas condiccedilotildees de

existecircncia seus interesses especiacuteficos e sua inserccedilatildeo na organizaccedilatildeo de uma

determinada sociedade (ASSIS VILLA NASCIMENTO 2003) Torna-se

necessaacuterio portanto refletir sobre a morte a fim de desmistificarem tabus e

preparar adequadamente o profissional para assistir o cliente nesse estaacutegio de

forma humanizada

Sobre o assunto Pinheiro (2004 apud Silva 2006) comenta

[] buscando aceitar inicialmente a sua proacutepria morte passaraacute a ter condiccedilotildees de assistir os pacientes terminais e ou seus familiares da melhor maneira possiacutevel sem gerar anguacutestias e ou tensotildees comuns nesta ocasiatildeo para si proacuteprio ou para as pessoas envolvidas nesse processo

Ainda de acordo com Ribeiro Baraldi Silva (1998) citado por Gutierrez (2003)

ldquoeacute muito difiacutecil para os trabalhadores de enfermagem observarem a

deterioraccedilatildeo progressiva de cada parte do corpo de seus pacientes

consideram o ldquodescanso do pacienterdquo como a uacutenica saiacuteda para o seu

sofrimentordquo

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

Na rotina da UTI enquanto fazia parte da equipe de enfermagem confesso

que lanccedilava matildeo de algumas teacutecnicas de defesa na tentativa de me manter

firme e natildeo desestabilizar emocionalmente pois na condiccedilatildeo de teacutecnica de

enfermagem permanecia a maior parte do tempo agrave beira do leito prestando

assistecircncia de forma mais direta ao paciente Procurava natildeo me envolver

excessivamente com esses poreacutem procurava oferecer um cuidado solidaacuterio

de forma carinhosa e afetuosa sempre procurando estabelecer contato

estando estes conscientes ou natildeo na tentativa de tornar aqueles momentos

menos sofridos e angustiantes Entretanto muitas vezes ao presenciar a

deterioraccedilatildeo do paciente com alteraccedilotildees fiacutesicas como uacutelceras de decuacutebito

profundas e infectadas drenagens de secreccedilotildees purulentas entre outras no

meu iacutentimo considerava que o ldquodescansordquo do paciente seria a melhor mane ira

de amenizar seu sofrimento e da sua famiacutelia

A morte eacute teoricamente considerada como parte integrante da vida tatildeo natural

e previsiacutevel quanto nascer De acordo com Kuumlbler-Ross (1996) considerada

como uma das maiores estudiosas do assunto

A morte eacute parte da existecircncia humana do seu crescimento e desenvolvimento tanto quanto o nascimento Ela natildeo eacute um mal a ser eliminado um inimigo a ser combatido ou uma prisatildeo de onde devemos fugir mas sim parte integrante de nossa vida e que proporciona significado agrave existecircncia humana Um significado marcado pela paz crescimento luz forccedila interior beleza sentimentos de amor e ampliaccedilatildeo da consciecircncia de si e do mundo Deve-se viver verdadeiramente ateacute o momento da morte pois ao cindir o processo de morrer da vida eacute deixar de viver antes da morte

A partir desse conhecimento acredita-se que o enfermeiro (a) e demais

membros da equipe multiprofissional teraacute melhor preparo para planejar uma

assistecircncia individualizada ao paciente entendendo melhor suas reais

necessidades e estaacutegios apresentados pelo doente nessa fase da vida

Ressaltamos a importacircncia de um cuidado humanizado estando o paciente

consciente ou natildeo considerando-o como ser bioloacutegico psiacutequico-soacutecio-

espiritual

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

3 ANAacuteLISE LITERAacuteRIA

A partir deste ponto apresento os dados coletados a partir do levantamento

bibliograacutefico realizado no intuito de atingir o objetivo proposto

Garros (2003) concluiu em estudo na aacuterea de pediatria que eacute possiacutevel

proporcionar uma morte dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos de

medicina paliativa e cuidados centrados na famiacutelia fossem trazidos para dentro

do ambiente de Terapia Intensiva De acordo com esse autor essa nova

perspectiva ocorre por conta do reconhecimento de que o cuidado meacutedico no

final da vida envolve ldquouso excessivo e inapropriado da tecnologia ou medida de

suporte de vida (MSV)rdquo Esse autor traduz ainda o que seria uma ldquomorte idealrdquo

baseado em estudo na aacuterea de adulto com grupos de doentes terminais

meacutedicos e familiares a saber

Controle dos sintomas (morte sem dor e sem desconforto fiacutesico)

preparaccedilatildeo adequada para morrer envolvendo rituais religiosos etc

Estreitamento dos laccedilos fraternos (oportunidade para se despedir da

famiacutelia amigos e demais entes queridos)

Oportunidade para revisar sua proacutepria vida e relembrar momentos

importantes

Oportunidade para resolver negoacutecios ainda natildeo terminados (ex

testamentos venda de propriedade etc)

Evitar um processo longo de morte

Os cuidados paliativos estatildeo previstos no novo coacutedigo de eacutetica meacutedica

brasileiro que entrou em vigor no dia 13042010 Entre os muitos avanccedilos na

medicina propotildee uma melhor relaccedilatildeo meacutedico-paciente De acordo com o novo

coacutedigo nos casos de doenccedilas irreversiacuteveis e terminais o meacutedico deve oferecer

todos os cuidados paliativos mas tambeacutem deveraacute evitar accedilotildees inuacuteteis e

obstinadas ou seja inflexiacuteveis As quais soacute prolongam em vatildeo uma vida que

estaacute no fim Consta no novo coacutedigo que nesses momentos o paciente deveraacute

receber todos os cuidados a fim de que o seu sofrer seja o miacutenimo possiacutevel

Parece que finalmente houve um consenso na medicina de que existe limites

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

de cura mas natildeo do cuidado A partir desse avanccedilo da medicina a equipe

envolvida no processo de morte desses pacientes teraacute o respaldo legal e

poderaacute operacionalizar na praacutetica a filosofia do morrer com dignidade e em paz

sem abreviaccedilatildeo ou prolongamento artificial da vida (Novo coacutedigo de eacutetica

meacutedica)

Gutierrez (2003) considera importante e necessaacuterio atender as necessidades

espirituais das pessoas envolvidas no processo de morrer visto que o assistir

holisticamente o paciente abrange as necessidades relacionadas aos aspectos

fiacutesicos emocionais sociais e espiritual Na percepccedilatildeo dessa autora os

profissionais de sauacutede refugiam-se nos aspectos espirituais e religiosos para

confortarem pacientes e familiares e tambeacutem aliviar seu proacuteprio sofrimento

diante do processo de morte

A mesma autora acredita que estrateacutegias como cursos palestras e atividade de

sensibilizaccedilatildeo preparam todas as pessoas principalmente a enfermagem que

lidam com o sofrimento dos pacientes e familiares no processo de morrer Visto

que esses momentos favorecem reflexatildeo aprofundamento e discussatildeo sobre

as suas atitudes diante da morte esperam-se portanto um cuidado alicerccedilado

na solidariedade humana valorizando o afeto e o sentimento de auto-ajuda

Mularski Bascon Osborne (2001) citados por Gutierrez (2003) consideram o

envolvimento da interdisciplinaridade durante a trajetoacuteria da doenccedila do

paciente crocircnico relevante posto que ldquoproporciona maior ecircnfase na qualidade

de vida alivia os sintomas da dor do pesar e do luto do paciente e de seus

familiaresrdquo

Nessa perspectiva Gutierrez (2003) comenta sobre a equipe multidisciplinar

que compotildee o grupo de Apoio ao Profissional de Sauacutede e Pacientes Criacuteticos

(GRAPPAC) do Hospital Universitaacuterio da Universidade de Satildeo Paulo O grupo

segundo a autora egrave composto por enfermeiras Meacutedicos Intensivistas

neurologistas psiquiatras assistente social e psicoacuteloga que por objetivo

avaliar o conhecimento dos pacientes e de seus responsaacuteveis a respeito do

quadro cliacutenico e prognoacutestico do paciente verificar o grau de conhecimento dos

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

profissionais de sauacutede sobre o prognoacutestico do paciente auxiliar essas pessoas

a se prepararem para enfrentar o processo de morte providenciar cuidados

paliativos e evitar tratamentos inuacuteteis facilitar o acesso das visitas do paciente

no ambiente hospitalar O grupo do (GRAPPAC) considera a comunicaccedilatildeo

instrumento de alto valor no trabalho pos quando se comunica de forma

efetiva aumenta o grau de satisfaccedilatildeo das pessoas envolvidas

Na atualidade o trabalho em equipe desponta como fator iacutempar na qualificaccedilatildeo

da assistecircncia agrave sauacutede no acircmbito hospitalar Com harmonia e respeito entre

esses profissionais torna-se possiacutevel compartilhar diversos conhecimentos

pois o saber natildeo se encerra em uma determinada categoria profissional

complementam-se tornando o ambiente profissional mais harmonioso

Eacute importante ressaltar a importacircncia de continuarmos humanizando a nossa

assistecircncia mesmo quando esvai o uacuteltimo suspiro do paciente e a morte se faz

presente De acordo com o coacutedigo de eacutetica de enfermagem eacute nosso dever e

responsabilidade ldquorespeitar o pudor a privacidade e a intimidade do ser

humano em todo seu ciclo vital inclusive nas situaccedilotildees de morte e poacutes morterdquo

Portanto apoacutes a constataccedilatildeo do oacutebito pelo meacutedico temos que permanecer

firmes nos apoiar no suporte religioso que julgarmos necessaacuterios e proceder

ao preparo do corpo Lembrar que o respeito deve prevalecer nesse momento

tatildeo difiacutecil considerar que o ser humano agora sem vida terrena possui

identidade uma histoacuteria deixa uma famiacutelia enfim

Nesse sentido torna-se essencial prover privacidade evitar comentaacuterios

inapropriados e desrespeitosos evitar exposiccedilatildeo do corpo providenciar

biombos e tornar o ambiente o mais sereno possiacutevel O momento em que se

comunica o oacutebito a famiacutelia deveraacute ser considerado como momento de dor e

sofrimento Assim eacute prudente que o profissional responsaacutevel por esse

comunicado se utilize de todos os instrumentos possiacuteveis visando uma

comunicaccedilatildeo direta poreacutem natildeo fria que garanta um pouco de conforto para

esse indiviacuteduo

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A literatura apresentada mostra que resgatar o humano no processo de morte e

morrer natildeo eacute tarefa faacutecil Requer compreensatildeo individual dos sujeitos

envolvidos a partir de um relacionamento interpessoal de valorizaccedilatildeo da

pessoa humana aleacutem disso requer o envolvimento de uma equipe

multidisciplinar comprometida e atuante O preparo das pessoas envolvidas

atraveacutes de cursos palestras representam estrateacutegias a serem consideradas

nesse estudo

Nesse contexto a busca de melhoria da qualidade da assistecircncia contribuiu

para que novos modelos fossem adotados e a medicina paliativa vem

ganhando destaque cada vez maior quando se questiona o que seria uma

morte digna decente ou aceitaacutevel ao ser humano

Os textos selecionados para a realizaccedilatildeo deste trabalho permitiram relacionar

aspectos importantes sobre a temaacutetica em foco Poreacutem foram constantemente

abordados por profissionais meacutedicos e psicoacutelogos Os trabalhos publicados por

Enfermeiros que vatildeo de encontro ao objetivo desta pesquisa ainda satildeo

incipientes A maioria refere-se agraves suas concepccedilotildees dificuldades e

enfrentamentos diante do processo de morte morrer no seu cotidiano de

trabalho Daiacute a relevacircncia do tema em questatildeo posto que noacutes profissionais da

enfermagem assistimos a esses doentes nos seus uacuteltimos momentos de vida

deveriacuteamos portanto estar preocupados com o tipo de assistecircncia que

estamos dispensando a esses indiviacuteduos no ambiente da UTI

Sob a perspectiva do cuidado acredito que a habilidade soacute se adquira

cuidando e descobrindo novas maneiras do cuidado mesmo que esse seja

prestado ao indiviacuteduo que se encontra em processo de morrer

Nesse sentido ficou evidente neste trabalho que para melhorar o cuidado no

processo de morrer inexiste foacutermula entretanto considerando-se um setor tatildeo

especializado que tende ao mecanicismo impregnado por normas e rotinas

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

riacutegidas como a UTI faz-se necessaacuterio repensar nosso processo de trabalho

considerar a relatividade e sermos mais flexiacuteveis considerando cada

particularidade dos sujeitos envolvidos na assistecircncia do paciente em foco

Conclue-se que a morte de uma pessoa fora de possibilidades terapecircuticas

pode ser dignificada e humanizada caso princiacutepios baacutesicos da medicina

paliativa cuidados centrados na famiacutelia e melhor capacitaccedilatildeo dos profissionais

envolvidos no processo de morte forem incorporados na rotina de trabalho de

uma Unidade de terapia Intensiva

Trabalhar com essa temaacutetica proporcionou reflexotildees que transcendem o

aspecto bioloacutegico da morte Contribuiu para reafirmar minha percepccedilatildeo de que

eacute possiacutevel sim proporcionar uma morte mais digna e mais humana em um setor

considerado como desumanizante e frio

Enfim acredito que este material subsidie o profissional enfermeiro e demais

profissionais de sauacutede levando-os a refletir sobre o tema abordado

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

REFEREcircNCIAS

AGRA Luacutecia Maacutercia Cruz ALBUQUERQUE Luciana Herdy Machado de Tanatologia uma reflexatildeo sobre a morte e o morrer Pesquisa Psicoloacutegica (Online) Maceioacute ano 1 n 2 jan 2008 Disponiacutevel em

lthttpwwwpesquisapsicologicaprobrgt Acesso em 31 mar 2010 ASSIS Marluce Maria Arauacutejo VILLA Tereza Cristina Scatena NASCIMENTO Maria Angela Alves do Acesso aos Serviccedilos de Sauacutede uma possibilidade a ser construiacuteda na praacutetica Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 8 n 3 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielosporgscielo phpscript=sci_arttextamppid=S1413- 81232003000300016amplng=enampnrm=isogt Acesso em 04 Nov 2007 AMORA Antocircnio Soares Minidicionaacuterio Soares Amora da liacutengua portuguesa 19 ed Satildeo Paulo Saraiva 2009 BALSANELLI AP SANTOS KJ SOLER ZOSG O Trabalho do Enfermeiro em Unidades Complexas um enfoque sobre os sentimentos para o cuidado diaacuterio de pacientes com risco de morteRevista Nursing Satildeo Paulo5(44)P23-28jan2002 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Manual do Programa Nacional de Humanizaccedilatildeo da Assistecircncia Hospitalar ndash PNHAH Brasiacutelia PNHAH 2002 Disponiacutevel em http wwwsaudespgovbrresourcesgestormanual_PNHAHpdf Acesso em 10 abr 2010 Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica Confianccedila para o meacutedico seguranccedila para o paciente Disponiacutevel em lthttpwwwportalmedicoorgbrnovocodigointegraaspgt Acesso em 19 abr2010 Coacutedigo de eacutetica da Enfermagem brasileira Disponiacutevel em lthttpwwwportalcoren-rsgovbr php gt Acesso em 10 maio 2010 FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Mine Aureacutelio seacuteculo xx

minidicionaacuterio da liacutengua portuguesa 4 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 GUTIERREZ Beatriz Aparecida Ozello O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva 2003 228p Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem da USP

Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwtesesuspbrtesesdisponiveis8383131tde-26102005-123431 gtAcesso em 02 fev2010

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

Paulo Manoele 2000

TOGNETTI Rodrigues A Marilza Etapas da Pesquisa Cientiacutefica

metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

GARROS D Uma ldquoboardquo morte em UTI pediaacutetrica eacute isso possiacutevelJornal de pediatria v79 supl 2 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfjpedv79s2v79s2 Acesso em 4 fev 2010 GODOY Arlinda Schmidt Pesquisa qualitativa tipos fundamentais Revista de Administraccedilatildeo de Empresas Satildeo Paulo v 35 n 3 p20-29 1995 Kuumlbler-Ross E Sobre a morte e o morrer Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 Kuumlbler-Ross Sobre a morte e o morrer o que os doentes terminais tecircm para ensinar a meacutedicos enfermeiras religiosos e aos seus proacuteprios parentes 9 ed Satildeo PauloMartins Fontes 2008 LEITE Francisco Tarciso Metodologia cientiacutefica meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa monografias dissertaccedilotildees teses e livro Satildeo Paulo Ideacuteias amp Letras 2008 MORAES JC GARDA V da G FONSECA A da S Assistecircncia prestada na Unidade de Terapia Intensiva adulto visatildeo dos clientes Revista Nursing Satildeo

Paulo v79 n7 dez 2004 MINAYO M C de S Dilemas do setor sauacutede diante de suas propostas humanistas Ciecircncias e Sauacutede coletiva V9 n1 p17-20 2004

NASCIMENTO ER MARTINS J J Reflexotildees acerca do Trabalho da Enfermagem em UTI e a Relaccedilatildeo deste com o indiviacuteduo hospitalizado e sua famiacutelia Revista Nursing Satildeo Paulo n29 p26-36 out 2000

PESSINI LBioeacutetica e cuidados Paliativos alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas In PIMENTA CAM de MOTA DDCFde CRUZDde A L M C da Dor e cuidados Paliativos enfermagem Medicina e Psicologia

Barueri Satildeo Paulo Manoele 2006 p45-65 RICHARDSON RJ Pesquisa Social meacutetodos e teacutecnicas 3 edSatildeo Paulo Atlas1999 SILVA AKS Sentimentos experenciados pelos (as) enfermeiros (as) das Unidades de Terapia Intensiva no processo de morte e morrer 2006 33f Monografia (poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Universidade castelo Branco ndash Atualiza Salvador 2006 SILVA M J da Percebendo o Ser Humano Aleacutem da doenccedila o natildeo - verbal detectado pelo Enfermeiro Nursing Satildeo Paulo v 4 n4 p 14-20 out2001 SILVA MJPComunicaccedilatildeo tem remeacutedio a comunicaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais em sauacutede 4 ed Satildeo Paulo Gente 1996 THOMAS C L (Coord) Dicionaacuterio Meacutedico Enciclopeacutedico Faber 17 ed Satildeo

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metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003

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metodologia Como se procederaacute a pesquisa Caminhos para se chegar aos objetivos propostos Disponiacutevel em lthttpwwwsbi_webifscuspbrmetodologia_pesquisa_cientificapdfgt - Acesso em 20 maio 2009 ZINN GR SILVAMJPTELLES SCRComunicaccedilatildeo com o paciente sedado vivecircncia de quem cuida Rev Lat Am Enferm Satildeo Paulo v 11 n3 2003