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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política - Página: A6 e A7 - Publicação: 08/06/20 URL Original: Atos anti-Bolsonaro têm aglomerações e gritos contra racismo Atos anti-Bolsonaro têm aglomerações e gritos contra racismo Manifestações ocorreram em ao menos sete capitais; PM usou bombas para dispersar grupo de manifestantes em SP Atos anti-Bolsonaro em diferentes pontos do país neste domingo (7) ganharam o reforço de gritos contra o racismo, causaram aglomerações e expuseram a cisão entre movimentos e partidos de oposição ao governo. Em São Paulo , em Brasília e no Rio , por exemplo, cartazes e faixas fizeram referência ao “vida negras importam” —o black lives matter, movimento que ganhou corpo nos EUA após a morte de George Floyd por um policial branco . Houve atos contra o governo também em Belo Horizonte, Belém , Goiânia e Salvador, entre outras. Muitos deles marcados por aglomerações, em meio a uma média recente de cerca de mil mortos por dia na pandemia . Os movimentos mantiveram o chamado para os atos mesmo após o questionamento sobre promover aglomeração em meio à pandemia —a estratégia do distanciamento social é a única forma efetiva de prevenção do contágio, segundo orientações médicas. Os protestos, em geral, ocorreram de forma pacífica. Em São Paulo, um pequeno grupo de manifestantes foi dispersado pela tropa de choque da PM na região de Pinheiros cerca de três horas após o término do ato contra o presidente. Policiais lançaram bombas de efeito moral, enquanto moradores do bairro gritavam fascista e jogavam ovos e pedras contra os policiais. No último domingo (31), em São Paulo, um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersado por bombas lançadas pela PM. O conflito ocorreu na avenida Paulista, onde naquele dia também havia uma manifestação a favor de Bolsonaro. O Palácio do Planalto e o Governo do Distrito Federal, por exemplo, trabalhavam com a possibilidade de violência neste final de semana. Desde o início da semana passada, Bolsonaro orientou sua militância a não comparecer à Esplanada dos Ministérios , como costuma fazer todos os domingos. Ao mesmo tempo, procurou elevar a temperatura chamando os manifestantes contrários ao governo de terroristas, maconheiros, marginais e black blocs. Dois dias antes do protesto, Bolsonaro cobrou que as PMs fizessem "seu devido trabalho", caso "estes marginais" extrapolassem os "limites da lei". O presidente chegou a insinuar o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que poderia ser acionada para a proteção do patrimônio. A expectativa de que as manifestações terminasse em violência também se materializou no reforço de grades diante do Palácio do Planalto e na quantidade de policiais militares espalhados pelos cerca de 3 km entre a rodoviária do Plano Piloto e a Praça dos Três Poderes. Em SP, a PM também reforçou o efetivo. "As manifestações são democráticas, como o presidente sempre fala", disse no final da tarde à Folha o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos . No início da noite, diante das imagens de confronto em São Paulo, o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, usou as redes sociais para enaltecer a PM paulista. "Será que, após os acontecimentos de hoje, em São Paulo, muitos jornalistas vão continuar a defender, sem fundamento, que os atos de vândalos, black blocs, MST, skinheads, etc, são democráticos? A PMSP [Polícia Militar de São Paulo] teve comportamento exemplar. Quem essa parte da imprensa quer enganar? Quem quer favorecer???" Em São Paulo, foram dois atos neste domingo. A divisão ocorreu após uma decisão judicial ter proibido a realização de protestos contra e a favor de Bolsonaro no mesmo horário e local. Em reunião na sexta-feira, organizadores de atos de ambos os lados, Polícia Militar e Ministério Público tentaram chegar a um acordo, mas os protestos foram mantidos. Diante do impasse, movimentos de esquerda, integrantes do movimento negro e de torcidas organizadas de times de futebol transferiram o protesto contra Bolsonaro para o Largo da Batata —o ato a favor de Bolsonaro aconteceu na avenida Paulista, com faixas e gritos a favor de intervenção militar. “Ninguém queria estar na rua agora. Todo mundo queria estar em casa se protegendo [da Covid-19 ]”, discursou Guilherme

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SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política -Página: A6 e A7 - Publicação: 08/06/20URL Original:

Atos anti-Bolsonaro têm aglomerações e gritos contraracismoAtos anti-Bolsonaro têm aglomerações e gritos contraracismoManifestações ocorreram em ao menos sete capitais; PM usou bombas paradispersar grupo de manifestantes em SPAtos anti-Bolsonaro em diferentes pontos do país neste domingo (7) ganharam o reforço de gritos contra o racismo, causaramaglomerações e expuseram a cisão entre movimentos e partidos de oposição ao governo.Em São Paulo, em Brasília e no Rio, por exemplo, cartazes e faixas fizeram referência ao “vida negras importam” —o black livesmatter, movimento que ganhou corpo nos EUA após a morte de George Floyd por um policial branco.Houve atos contra o governo também em Belo Horizonte, Belém, Goiânia e Salvador, entre outras. Muitos deles marcados poraglomerações, em meio a uma média recente de cerca de mil mortos por dia na pandemia.Os movimentos mantiveram o chamado para os atos mesmo após o questionamento sobre promover aglomeração em meio àpandemia —a estratégia do distanciamento social é a única forma efetiva de prevenção do contágio, segundo orientaçõesmédicas.Os protestos, em geral, ocorreram de forma pacífica. Em São Paulo, um pequeno grupo de manifestantes foi dispersado pelatropa de choque da PM na região de Pinheiros cerca de três horas após o término do ato contra o presidente. Policiais lançarambombas de efeito moral, enquanto moradores do bairro gritavam fascista e jogavam ovos e pedras contra os policiais.No último domingo (31), em São Paulo, um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersadopor bombas lançadas pela PM. O conflito ocorreu na avenida Paulista, onde naquele dia também havia uma manifestação a favorde Bolsonaro.O Palácio do Planalto e o Governo do Distrito Federal, por exemplo, trabalhavam com a possibilidade de violência neste final desemana.Desde o início da semana passada, Bolsonaro orientou sua militância a não comparecer à Esplanada dos Ministérios, comocostuma fazer todos os domingos. Ao mesmo tempo, procurou elevar a temperatura chamando os manifestantes contrários aogoverno de terroristas, maconheiros, marginais e black blocs.Dois dias antes do protesto, Bolsonaro cobrou que as PMs fizessem "seu devido trabalho", caso "estes marginais" extrapolassemos "limites da lei". O presidente chegou a insinuar o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que poderia ser acionada paraa proteção do patrimônio.A expectativa de que as manifestações terminasse em violência também se materializou no reforço de grades diante do Paláciodo Planalto e na quantidade de policiais militares espalhados pelos cerca de 3 km entre a rodoviária do Plano Piloto e a Praçados Três Poderes. Em SP, a PM também reforçou o efetivo."As manifestações são democráticas, como o presidente sempre fala", disse no final da tarde à Folha o ministro da Secretariade Governo, general Luiz Eduardo Ramos.No início da noite, diante das imagens de confronto em São Paulo, o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), generalAugusto Heleno, usou as redes sociais para enaltecer a PM paulista."Será que, após os acontecimentos de hoje, em São Paulo, muitos jornalistas vão continuar a defender, sem fundamento, que osatos de vândalos, black blocs, MST, skinheads, etc, são democráticos? A PMSP [Polícia Militar de São Paulo] teve comportamentoexemplar. Quem essa parte da imprensa quer enganar? Quem quer favorecer???"Em São Paulo, foram dois atos neste domingo. A divisão ocorreu após uma decisão judicial ter proibido a realização de protestoscontra e a favor de Bolsonaro no mesmo horário e local.Em reunião na sexta-feira, organizadores de atos de ambos os lados, Polícia Militar e Ministério Público tentaram chegar a umacordo, mas os protestos foram mantidos.Diante do impasse, movimentos de esquerda, integrantes do movimento negro e de torcidas organizadas de times de futeboltransferiram o protesto contra Bolsonaro para o Largo da Batata —o ato a favor de Bolsonaro aconteceu na avenida Paulista,com faixas e gritos a favor de intervenção militar.“Ninguém queria estar na rua agora. Todo mundo queria estar em casa se protegendo [da Covid-19]”, discursou Guilherme

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Boulos, líder do MTST (movimento dos sem-teto) e candidato à Presidência em 2018. “O problema é que criou-se uma escaladafascista no Brasil. Por isso essas manifestações têm que acontecer.”Ele afirmou que a organização do ato tomou medidas de precaução contra a transmissão do coronavírus. Entre elas, citou adistribuição de máscaras de proteção e álcool gel pelo MTST e os sinais de “x” inscritos com giz no chão pela brigada de saúdedo MTST e distantes um metro um do outro.Mas, apesar de pedidos vindos do carro de som para que os manifestantes se posicionem sobre essas marcas, a maioria seagrupou em distâncias menores, enquanto entoam gritos contra o presidente e o racismo.Ainda na sexta-feira, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e outrasentidades divulgaram nota contra a realização de atos de rua em meio à pandemia.Doria também classificou como uma total irresponsabilidade a decisão de organizadores de manter as manifestações contra e afavor do presidente.As manifestações contra Bolsonaro deste domingo também expuseram a divisão entre os opositores do governo. A semana quese iniciou sob o símbolo da unidade chegou ao domingo com um quadro de divisões internas.Partidos de esquerda, o PT e o PSOL decidiram ao longo da semana se somar à nova mobilização, assim como a Frente Povosem Medo e coletivos de militância negra.Recebidos com certa euforia por setores críticos a Bolsonaro, os manifestos da sociedade civil que buscaram evocar o clima dasDiretas Já em contraposição ao presidente decidiram ficar fora da convocação. Os organizadores discordam da realização deatos agora por causa da Covid-19.Além disso, a intenção de constituir uma frente ampla contra Bolsonaro, a exemplo da união vista em 1984 em torno do votodireto, teve na segunda-feira (1º) um revés inicial, com a declaração do ex-presidente Lula (PT) de que descartava aderir aosmanifestos.Ele disse que não é "maria vai com as outras" e que se recusa a marchar ao lado de figuras que apoiaram o impeachment deDilma Rousseff (PT). Citou nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que é um dos signatários doEstamos Juntos, assim como o petista Fernando Haddad.

Manifestantes ignoram Bolsonaro e pedem intervençãoem ato na PaulistaFábio Zanini5-6 minutos

Com faixas defendendo intervenção militar, críticas ao governador João Doria e aplausos à Polícia Militar, um grupo de cerca decem pessoas ignorou o pedido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e promove uma manifestação na avenida Paulista, emSão Paulo.“Quem manda no país é o povo, não é o presidente. Estamos aqui porque é preciso prender os 11 ministros do Supremo e nomínimo uns 400 deputados corruptos”, disse o microempreendedor Johnny, que não quis dar o sobrenome.Ele e três colegas mostravam uma faixa pedindo “Intervenção militar com Bolsonaro no poder” e a elaboração de uma novaConstituição com a criminalização do comunismo.“Queremos que seja aplicado o artigo 1 da Constituição, que diz que todo poder emana do povo”, disse seu colega FlávioZaniuth, caminhoneiro.Cerca de 20 policiais militares acompanharam o ato. Não houve presença de opositores de Bolsonaro, com exceção de pessoasque passavam em carros xingando os manifestantes.Portadores de mochilas foram revistados, e faixas com pedaços de madeira não foram permitidas.Outra faixa atacava diretamente Doria. “Doria é um bosta. Bolsonaro tem razão”, diz, repetindo ofensa dirigida ao governadorpelo presidente durante reunião ministerial.O técnico em informática Silvio Luiz Lussari segurava uma faixa dizendo que “nenhum poder vai se sobrepor ao outro”.“O problema não são as instituições, mas as pessoas que estão lá. É como numa firma, tem que trocar o gerente se não estáfuncionando”, diz ele.Ele diz que perdeu 70% de sua clientela em razão da pandemia.“Acho um exagero esse isolamento. Nos primeiros 15 dias eu respeitei, mas já passou do limite”, disse Lussari, que não usavamáscara.Os manifestantes entoavam slogans contra o comunismo e o Foro de São Paulo, que reúne partidos de esquerda da AméricaLatina. Alguns usavam calças e camisas camufladas. Policiais militares foram aplaudidos quando passam pela avenida.Diversos participantes levaram pautas mais específicas. Um pequeno grupo pertencente ao Apostolado Santo Inácio de Loyolapedia que Doria autorize a reabertura de igrejas.“Quem deve reger a igreja é o santo papa. O poder temporal não tem poder sobre o poder espiritual, isso está claro naConstituição”, disse Liham de Oliveira Santos, membro da organização, que é formada por leigos católicos.Todo domingo, o grupo sai em procissão pela Paulista, pedindo o fim da pandemia.

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As cabeleireiras Lucia Xavier e Selma Borges foram à avenida gritar “fora Doria”.“Quem votou em Doria vai pegar corona”, gritava Lucia, envolta na bandeira do estado de São Paulo.Segundo Selma, não é possível pagar R$ 3.500 de aluguel sem renda.“Caixa de mercado não pega Covid também? Por que eles estão abertos? Meu salão é de beleza e saúde”, disse.A manifestação transcorreu de forma pacífica na maior parte do tempo, com algumas situações pontuais mais acaloradas,especialmente de pessoas que passavam xingando de dentro de carros.Numa delas, o semáforo fechou bem em frente à esquina onde o ato ocorria, e o carro foi cercado. Um homem chegou a baterna porta do carro, mas foi contido por outros manifestantes.Também houve hostilidade pontual à imprensa. Uma equipe da rádio Jovem Pan foi obrigado a se afastar do local quandoalgumas pessoas começaram a gritar que faziam “assessoria de imprensa do crime organizado “.No fim da manhã, perto do cruzamento com a rua Augusta, a Polícia Militar apreendeu coquetéis molotov, gasolina, spray egarrafas de vidro. Duas pessoas foram detidas. Até as 15h, a Secretaria de Segurança Pública não tinha mais informações sobreo caso.Pelo Twitter, a deputada federal Carla Zambelli (PSL) parabenizou a polícia pela apreensão e disse: "Protesto democrático",marcando alguns veículos de imprensa e o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM).O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) também comentou o fato na rede social. "Polícia faz apreensões de coquetéismolotov e armas brancas. Mas é tudo pela democracia tá, só iriam incendiar quem merecesse...", escreveu.No Largo da Batata (zona oeste da capital) manifestantes ligados ao movimento negro, ao MTST (Movimento dos TrabalhadoresSem-Teto) e a torcidas organizadas de times de futebol se reúnem na tarde deste domingo (7) para uma manifestação contra ogoverno Bolsonaro e o racismo e a favor da democracia.

Militantes bolsonaristas usam protestos paraimpulsionar candidaturasNomes buscam repetir fenômeno que levou à eleição de políticos, comoCarla Zambelli e Alexandre FrotaAlém da alegada defesa do presidente Jair Bolsonaro, militantes bolsonaristas passaram a usar os protestos semanais emBrasília para impulsionar suas pré-candidaturas nas próximas eleições.São ativistas que, ao discursarem nos caminhões de som ou com transmissões nas redes sociais, buscam repetir agora o mesmofenômeno que levou à eleição de políticos como os deputados Carla Zambelli (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB).A Folha identificou, dentre os militantes mais ativos nos protestos, pré-candidatos em diversas cidades do país —ou que sãoassim apontados pela imprensa local.São nomes que pretendem concorrer para prefeito ou obter vaga nas Câmaras Municipais em cidades como Corumbá (MS),Sinop (MT), Luziânia (GO), Criciúma (SC), Uberlândia (MG), Volta Redonda (RJ), Belo Horizonte (MG) e Anápolis (GO), entreoutras.Os militantes, no entanto, afirmam que a participação nos protestos têm o único objetivo de apoiar Bolsonaro. O ganho depopularidade seria um efeito colateral, do qual não reclamam.O empresário Marcelo Stachin, 34, tornou-se figura conhecida nos protestos em Brasília. O loiro alto, que frequentemente vesteroupas de aspecto militar, chegou a ficar quase um mês na capital federal, marcando presença nas manifestações.Stachin relata que registrou um aumento de 40% a 50% no número de seguidores nas redes sociais. Seu nome foi incluído empesquisas de intenção de voto em sua cidade, Sinop (MT). Sites noticiosos da região também o apontam como provável nomenas urnas.No entanto, afirma que não é pré-candidato a prefeito. "Até a presente data, não há interesse algum de ser. Colocar-se comocandidato neste momento, algumas pessoas entenderiam que eu estou usando esta construção da pátria e de valores para umaconquista individual", disse."Agora, se acontecer de que haja uma necessidade de uma representatividade no município de Sinop, eu estou à disposição",conclui ele, que é o presidente na sua região do PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão.Stachin foi um dos alvos da operação deflagrada no âmbito do inquérito das fake news do STF (Supremo Tribunal Federal). Elenão estava em sua residência no momento da ação de busca e apreensão, mas depois apresentou-se à unidade da PF emCuiabá e se disse "tranquilo".O ativista goiano Téo Gomes é um dos membros do grupo armado de extrema direita 300 do Brasil, que chegou a ter umacampamento em Brasília para treinar militantes para a defesa do governo.Em entrevista à Folha, a líder do movimento, Sara Winter, reconheceu que alguns membros estavam armados, embora tenhadito que as armas eram apenas para defesa do grupo e não para atividades de militância.Em Luziânia (GO), Gomes é apontado como pré-candidato a uma vaga no legislativo municipal. No entanto, ele afirma que nãousa os protestos para promoção pessoal."Eu sou pré-candidato em Luziânia, mas não tem relação entre as manifestações e a minha pré-candidatura", disse em

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entrevista por telefone, para em seguida dizer que não queria ver seu nome publicado e ameaçou processar a reportagem.Dias depois, Gomes pediu para que a entrevista fosse feita por escrito. "Quero deixar claro que não sou líder dos 300 do Brasil,até então, não sou candidato a nada, apenas comungo com algumas ideias das manifestações, dentre elas, a soberanianacional, a defesa da família, o cristianismo, a tripartição dos poderes e a democracia. Sou um cidadão comum exercendo meusdireitos.""Até então, não sou candidato, mas o que ficou em meu coração foi um discurso do papa Francisco no sentido que os católicosdevem se posicionar, contribuindo direta ou indiretamente na política para uma sociedade melhor", acrescentou.Em Corumbá (MS), Elano Holanda de Almeida parte para a sua terceira eleição municipal, mas apenas a primeira ligada aomovimento bolsonarista —as outras candidaturas malsucedidas foram pelo PPS. Almeida também está em Brasília, atuando emum acampamento de militantes.Sites noticiosos de sua cidade destacaram fotografia em que aparece junto com o militante acusado de agredir profissionais deenfermagem, durante ato na praça dos Três Poderes. "Estou focado aqui no apoio ao presidente Bolsonaro, de formaincondicional. Só isso", disse Almeida, recusando-se a responder outras perguntas.O cientista político Carlos Melo, do Insper, afirma que é legítimo que líderes cde protestos busquem espaço na política,fenômeno presente ao longo da história do Brasil. Melo diz que a polarização a nível nacional tem potencial para beneficiarapoiadores do presidente.O professor acrescenta que uma provável estratégia desses futuros candidatos seja abordar na campanha as políticas dedistanciamento social, que promoveram ampla divisão na sociedade."Manifestar-se contra o distanciamento social significa falar em nome do presidente, mas também falar contra o prefeito queadotou essa regra. Com certeza esse discurso atinge uma parte insatisfeita da população."Wagner Cunha, líder do MDC (Movimento Direita Conservadora), é apontado como pré-candidato a prefeito de Uberlândia (MG).Assim como o presidente, ele defende o chamado isolamento vertical –que preserva idosos e pessoas em grupos de risco, maslibera os demais para exercerem suas atividades. Além disso, considera essencial o retorno gradual da economia.Sobre a presença nos atos, Cunha afirma que a participação nos protestos em defesa da democracia é um “direito e um deverde todo patriota no exercício da sua cidadania”.

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