atividades lÚdicas: distraÇÃo ou promoÇÃo do...

12
ATIVIDADES LÚDICAS: DISTRAÇÃO OU PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO COGNITVO E AFETIVO? Ana Carolina Laet Gomes; Bárbara Cristina Vaiano; Carla Adriane Arrieira dos Santos; Franciele Bento Caputti; Lis Amanda Darróz; Luana Paula Pereira da Silva; Luciane Cristina Gonçalves Ribeiro; Maria Rita Sefrian de Souza Peinado; Miriam Cristina da Silva Salomão; Neusa Pereira de Mendonça; Rita de Cássia de Araújo; Renata de Almeida Vieira; Sheila Maria Rosin (orientadora). Universidade Estadual de Maringá – UEM [email protected] RESUMO Embora atualmente ainda exista a idéia de que as atividades lúdicas devem servir apenas como distração, como passatempo que ocupe a criança, estudos tem mostrado a importância destas atividades para o adequado desenvolvimento psicológico, afetivo e cognitivo do ser humano. Desta forma, o presente trabalho realizado pelo PET/PEDAGOGIA, tem como objetivo desenvolver atividades pedagógicas com respaldo no lúdico com crianças moradoras no Lar Betânia, instituição não-governamental que abriga crianças vítimas de negligência e violência doméstica. O trabalho se desenvolverá por meio de estudos de teorias que abordam a questão e da realização de atividades lúdicas como teatro, literatura, brincadeiras, oficinas e desenhos junto a essas crianças. Pretende ajudá-las a desenvolver ou recuperar funções importantes para o desenvolvimento dos processos afetivos e cognitivos como: auto-estima, confiança, imaginação, criatividade, raciocínio abstrato, entre outras. PALAVRAS -CHAVES: Educação, cognição, afetividade e ludicidade. INTRODUÇÃO

Upload: dohanh

Post on 19-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

ATIVIDADES LÚDICAS: DISTRAÇÃO OU PROMOÇÃO DO

DESENVOLVIMENTO COGNITVO E AFETIVO? 

Ana Carolina Laet Gomes; Bárbara Cristina Vaiano; Carla Adriane Arrieira dos

Santos; Franciele Bento Caputti; Lis Amanda Darróz; Luana Paula Pereira da Silva;

Luciane Cristina Gonçalves Ribeiro; Maria Rita Sefrian de Souza Peinado; Miriam Cristina

da Silva Salomão; Neusa Pereira de Mendonça; Rita de Cássia de Araújo; Renata de

Almeida Vieira; Sheila Maria Rosin (orientadora).

Universidade Estadual de Maringá – UEM

[email protected]

RESUMO

Embora atualmente ainda exista a idéia de que as atividades lúdicas devem servir apenascomo   distração,   como   passatempo   que   ocupe   a   criança,   estudos   tem   mostrado   aimportância destas atividades para o adequado desenvolvimento psicológico,  afetivo ecognitivo   do   ser   humano.   Desta   forma,   o   presente   trabalho   realizado   peloPET/PEDAGOGIA, tem como objetivo desenvolver atividades pedagógicas com respaldono  lúdico com crianças moradoras  no Lar  Betânia,   instituição não­governamental  queabriga crianças vítimas de negligência e violência doméstica. O trabalho se desenvolverápor meio de estudos de teorias que abordam a questão e da realização de atividadeslúdicas como teatro, literatura, brincadeiras, oficinas e desenhos junto a essas crianças.Pretende   ajudá­las   a   desenvolver   ou   recuperar   funções   importantes   para   odesenvolvimento   dos   processos   afetivos   e   cognitivos   como:   auto­estima,   confiança,imaginação, criatividade, raciocínio abstrato, entre outras.

PALAVRAS ­CHAVES: Educação, cognição, afetividade e ludicidade.

INTRODUÇÃO

Embora atualmente ainda exista a idéia de que as atividades lúdicas devem servir

apenas como distração, como passatempo que ocupe o tempo da criança, estudos tem

mostrado a importância destas atividades para o desenvolvimento sadio do ser humano.

A  importância  da atividade  lúdica  foi   reconhecida pela própria  legislação e em

1959 a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), redigiu a Declaração Universal dos

Direitos Humanos que no artigo 7º afirma: “[...]   toda criança terá  o direito de brincar e

divertir­se cabendo à sociedade e às autoridades públicas garantir a ela o exercício pleno

desse direito” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1959). A Constituição do Brasil

(1988) assegura no art. 227 o direito à educação e ao lazer as crianças brasileiras. Tal

direito é coroado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1991, p. 11) que

no art. 4º afirma ser 

[...] dever da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Públicoassegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes àvida,   à   saúde,   à   alimentação,   à   educação,   ao   esporte,  ao   lazer,   àprofissionalização e à cultura, à dignidade, ao respeito, à  liberdade e àconvivência familiar e comunitária. (grifo nosso)

A conduta lúdica, caracterizada pelo prazer e pela alegria, pode ser desenvolvida

por meio de muitas atividades, entre elas: o teatro, a literatura, o desenho, o jogo e o

brincar. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância

da atividade lúdica para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança, especialmente

da criança vítima da miséria e da violência familiar.

Para   fundamentarmos   teoricamente   a   discussão   utilizaremos   autores   que

abordam o brincar em sua dimensão cognitiva e afetiva. Entre os autores destacam­se

Vygotsky, Donald Winnicott, Aberastury,entre outros.

O LÚDICO: ALGUMAS REFLEXÕES

Atualmente várias áreas do conhecimento têm a atividade lúdica como objeto de

estudo: a Pedagogia, a Psicologia, a Antropologia, Educação Física, entre outras.

Segundo Almeida (1998, p.35), as atividades lúdicas explicitam “[...]  as relações

múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social, cultural, psicológico, enfatizam

a   libertação   das   relações   reflexivas,   criadoras,   inteligentes,   socializadoras”.   Estudos

apontam a ludicidade como uma necessidade humana que não pode ser vista apenas

como uma diversão.

O   desenvolvimento   do   aspecto   lúdico   facilita   a   aprendizagem,   odesenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para a saúde mental,prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,comunicação, expressão e construção do conhecimento (SANTOS, 1997,p.12)

De acordo com Prado (1991, p. 78, apud SCHAEFFER, 2006) lúdico é a forma de

adjetivar uma atividade socialmente construída e diferenciada em cada cultura, é “[...] um

conjunto complexo de elementos especificamente humanos que cria espaço de jogo entre

o real e o imaginário, sendo que sua natureza se transforma conforme a cultura, a história

e as condições objetivas em que o indivíduo e o grupo se inserem”.

O autor  (apud SCHAEFFER, 2006) define ainda alguns elementos do  lúdico:  o

desejo (enquanto motivação intrínseca do sujeito); a afetividade; a situação imaginária e a

interação  criativa   (reciprocidade  não  passiva  e  criadora).  Para  o  autor,   a  atividade é

aquela na qual a motivação está na própria ação do sujeito e não em seus efeitos ou

resultados externos. Sua finalidade real encontra­se nas vivências de diversos aspectos

da realidade, que são significativos para o sujeito que age ludicamente.

O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Pesquisadores   como   Piaget   e   Vygotsky,   entre   outros,   trazem   importantes

contribuições   á   Psicologia   Infantil   com   seus   estudos   sobre   o   desenvolvimento   do

psiquismo e/ou da  inteligência humana. Couberam a estes autores relevantes estudos

que   forneceram   os   ”[...]   pressupostos   para   a   construção   de   representações   infantis

relacionadas às diversas áreas do conteúdo, influenciando as atividades curriculares dos

novos tempos” (KISHIMOTO s/d).

Em   relação   ao   brinquedo   Vygotsky   (1991)   tece   algumas   importantes

considerações,  afirmando que defini­lo  como uma atividade que sempre dá  prazer  às

crianças está errado por duas razões: primeiro porque existem outras atividades que dão

mais   prazer   a   criança   do   que   o   brinquedo,   como   por   exemplo,   chupar   chupetas   e,

segundo, porque atividades que são acompanhadas pelo “ganhar’ ou pelo “perder”, como

os jogos com regras, podem vir acompanhadas de muito “desprazer” quando o resultado

for desfavorável a criança.

Vygostsky  (1991)  afirma que as  teorias sobre o brinquedo desconsideram que

este tem a função de preencher necessidades nem sempre possíveis de serem satisfeitas

pela criança de outra   forma,  como por exemplo,  a vontade que ela sente  de realizar

atividades pertinentes ao mundo adulto: dirigir, cozinhar, cuidar de bebês. Conclui o autor

“[...] é  impossível ignorar que a criança satisfaz certas necessidades no brinquedo”. Se

não   entendermos  o   caráter  especial   dessas  necessidades,   não  podemos  entender  a

singularidade como uma forma de atividade (VYGOTSKY, 1991, p. 106).

Assim,   completa   Vygotsky   (1991,   p.126)   é   “[...]   no   brinquedo   que   a   criança

aprende   a   agir   numa   esfera   cognitiva,   ao   invés   de   uma   esfera   visual   externa,

dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos

objetos externos”.

Para   este   educador   (1991,   p.106),   o   brinquedo   atua   na   resolução   da   tensão

gerada na criança pela vontade de satisfazer um desejo  imediato e a  impossibilidade

(física e mental) desta realização: “Para resolver esta tensão a criança em idade pré­

escolar  envolve­se num mundo  ilusório  e  imaginário  onde os  desejos  não  realizáveis

podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo”.

A imaginação é, segundo o autor, um processo psicológico inteiramente novo para

a criança pré­escolar e que não pode ser encontrado ainda nas crianças com menos de

três anos, ainda incapazes de postergar a realização de um desejo. Segundo Vygotsky

(1991),  o que distingue a brincadeira de outras atividades  infantis,  é  que esta possui

regras e imaginação, sejam elas explícitas ou não. Assim, na brincadeira do faz­de­conta,

própria da idade pré­escolar, a imaginação está explícita e as regras implícitas.

Vejamos o exemplo de brincar de casinha, nesta a criança precisa da imaginação

para transformar­se em mãe, em filhinha ou em papai, mas, ao mesmo tempo, precisa

obedecer   regras   inerentes   ao   papel   assumido.   Nos   jogos,   que   aparecem   na   idade

escolar, por outro lado, as regras estão explícitas, mas a imaginação implícita. O jogo de

futebol pode servir para exemplificar o que o autor quer dizer, assim ao iniciar a partida o

jogador se submete às regras pré­fixadas, mas vai precisar da imaginação para realizar

suas jogadas e ter uma boa atuação no jogo. Vygotsky (1991) afirma que a importância

do brinquedo está no fato deste criar Zonas de Desenvolvimento Proximal na criança,

pois ao brincar ela realiza, mesmo de forma imaginativa, atividades e funções que muitas

vezes estão acima de suas reais capacidades, mas que são possíveis na situação do

brinquedo.

O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO AFETIVO

Pode­se afirmar que o ato de brincar já se faz presente no ser humano desde o

período fetal, quando algumas atividades como sugar o dedo, chutar, entre outras, coisas

são realizadas.

Após nascer, o brincar se realiza quando a criança sozinha reconhece e brinca

com o seu próprio  corpo  (reação circular  primária)  e,  depois,  com brinquedos,  de  tal

forma que nesses atos ela interage e reagi por meio de seus olhos, boca e o toque da

pele.

O primeiro contato com o mundo externo se dá por meio da mãe. O seio materno

e a forma como ele é oferecido a criança nos primeiros meses de vida são fundamentais

para seu desenvolvimento  físico e afetivo.  O contato amoroso e caloroso enriquece e

favorece   o   bebê,   no   que   diz   respeito   ao   amadurecimento   psíquico,   pois   fortalece   e

protege o seu ego.

Estudos demonstram que nos três primeiros meses de vida o interesse do bebê

volta­se para o rosto humano, com maior inclinação para o de sua mãe ou o da pessoa

que permanecer por mais tempo ao seu lado. É neste período que o mesmo passa a

receber estímulos por meio dos toques e sons como o da voz humana. Ao final desta fase

ele começa responder aos estímulos ambientais por meio de sorrisos.

Entre os quatro e seis meses de vida  idade,   inicia­se no bebê  a diferenciação

entre o eu e o não eu,  ou seja,  ele começa a perceber  que o mundo exterior  não é

extensão de seu próprio corpo. Além disso, tem início a função de preensão diferenciada

do reflexo de preensão, o que permite a ele pegar e segurar os objetos.

Neste   ínterim,   o   bebê   começa   a   sentar   com   apoio   e   logo   se   apropria   dos

brinquedos que estão em sua volta, como o chocalho, a bola, a boneca. Destaca­se que

os brinquedos sonoros estimulam o bebê,   fazendo­o rir  e  também ajudam a vencer o

medo na medida em que produzem novas experiências, como a de utilizá­los para bater

contra algo ou alguém.

Outra  “novidade” que aparece neste período do desenvolvimento é  bebê  atirar

seus brinquedos no chão para ver se alguém pega para ela repetidas vezes (reação

circular secundária). De acordo com Aberastury (apud NOVAES,1998, p.69) este brincar

é um jogo de perder algo que se ama para logo recuperá­lo, no qual o bebê elabora, ao

repetir incessantemente a brincadeira, a angústia de separação desse momento.

Com o desenvolvimento afetivo e cognitivo,  a mãe passa a ser para a criança

muito mais que uma pessoa que lhe amamenta, sendo assim é necessário sempre tê­la

por perto,  caso  contrário,  começa a chorar.  A criança até  os oito meses de vida não

consegue ainda perceber que os objetos continuam existir mesmo que não estejam mais

no seu campo visual.

Segundo Aberastury (apud NOVAES,1998, p.69) ao final dos seis meses a fase da

angústia   relacionada   à   perda   sai   de   foco,   tendo   início   à   agressividade   por   meio   do

aparecimento   dos   dentes.   É   neste   momento   que   o   pai   começa   entrar   em   suas

brincadeiras. Dos sete aos oito meses o bebê tende a se interessar por orifícios no corpo

que possa inserir algo, como a boca, nariz, ouvido e não só em seu corpo, mas de outras

pessoas também. Aos nove meses, quando geralmente começa a engatinhar, os espaços

tornam­se pequenos e tudo que até então era alcançado apenas pela visão passa agora

a ser também pelas suas mãos, tornando­se mais opções de brinquedo.

No final do primeiro ano de vida o interesse da criança volta­se para os brinquedos

de encaixar, desmontar, abrir, fechar. Observa­se neste período também, de acordo com

Aberastury (apud NOVAES, 1998, p.70) diferenças nos tipos de brincadeiras realizadas

por meninos e meninas, tendo em vista que os primeiros tendem a realizar brincadeiras

em que possa haver penetração de algo em alguma coisa, enquanto que as meninas

depositam coisas. Ainda, no primeiro ano de vida a criança costuma a brincar com areia,

água e massa de modelar, as quais a lembram conteúdos fisiológicos como as fezes e a

urina.

Até   o   domínio   pleno   da   palavra   a   criança   utiliza­se   total   o   parcialmente   da

linguagem pré­verbal para se comunicar com as pessoas a sua volta. Segundo Soifer

(1982),  o  lúdico e o corporal   (gestual)  são os meios de expressão da  linguagem pré­

verbal. O jogo, explica a autora, começa com o contato com o corpo da mãe, continua

com as atividades lúdicas em relação ao seu próprio corpo e culmina na utilização dos

brinquedos. Afirma Soifer (1982, p.29) 

Durante   a   atividade   lúdica   se   vai   gestando   o   hábito   do   trabalho,   através   do

exercício da atenção, concentração, memória, reprodução, discriminação e organização

mental. O prazer obtido com o jogo se transfere posteriormente para o trabalho. Ambos

representam a concretização de fantasias.

Desta forma, conclui a autora, a aprendizagem passa por estágios que vão desde

o   jogo   com   o   corpo   materno,   o   brincar   com   brinquedos,   a   execução   de   atividades

domésticas, o aprendizado escolar até chegar ao trabalho. 

No segundo ano de vida tem­se o desenvolvimento da linguagem na criança, e um

dos   fatores   determinantes   para   este   desenvolvimento   é   a   comunicação   que   ela

estabelece com seus pais por meio das brincadeiras.

Aos três anos de idade já é notório o desenvolvimento de sua capacidade motora.

A criança torna­se capaz de correr, pular, subir escadas e andar de bicicletas de forma

bem mais coordenada e segura. Nesta fase, também apresentam maior habilidade nos

desenhos, bem como começam a se interessar pelos livros.

O estudioso Lever (apud NOVAES,1998, p.73) acredita que os meninos são em

suas   brincadeiras   mais   audaciosos,   independentes,   confiantes,   com   um   controle

emocional   maior;   já   as   meninas   apresentar­se­iam   educadas,   contidas,   doces,

obedientes. Este mesmo autor  justifica o brincar da menina de casinha, de mamãe, a

partir   das   características   citadas   acima,   pressupondo   um   papel   social   de   pouca

participação   corporal,   sem   uso   de   forças,   com   um   caráter   de   socialização   mais

doméstica,  pois estaria sendo preparada para atuar em grupos menores,   restritos,  no

futuro.  Os meninos com suas brincadeiras que envolvem o uso da força, grande  jogo

corporal e com relacionamentos sociais mais amplos, estariam sendo preparados para

assumirem papéis mais complexos no grupo social.

Na idade dos quatro anos começa os porquês, na qual a criança demonstra muita

curiosidade, principalmente em relação ao seu próprio corpo e ao corpo dos outros, ela

percebe as diferenças anatômicas entre os sexos. As primeiras perguntas das crianças

na fase dos porquês, geralmente estão associadas às curiosidades de ordem sexual.

Na idade escolar,  a criança volta seu  interesse ás questões do aprendizado, a

socialização e a  novas brincadeiras,  que admitem a participação do outro,  como por

exemplo, os jogos com regras.

Na pré­adolescência os grupos são determinados pelo sexo.  A  transição desta

fase para a adolescência ocorre por meio do luto, devido ao abandono dos brinquedos,

para retornarem aos seus corpos que foram no início de suas vidas objeto de prazer, uma

vez que se dão início às primeiras trocas afetivas e experiências amorosas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a inegável importância da atividade lúdica para o desenvolvimento

global da criança o Programa de Educação Tutorial ­ PET Pedagogia –resolveu realizar

suas  atividades  de extensão  com o  objetivo  de  desenvolver  um  trabalho  pedagógico

respaldado no lúdico. Convém, salientar que o lúdico foi escolhido, visto que, além de

envolver   as   atividades   cognitivas   da   criança,   abrange   também   sua   forma   de

experimentar­se,   relacionar­se,   imaginar­se,  expressar­se,  confrontar­se,  compreender­

se, transformar­se e ser.

A partir destes pressupostos, após algumas visitas e observações em instituições

públicas e não governamentais, elegeu­se o Lar Betânia para realizar o presente projeto

de extensão. O Lar Betânia, fundado no ano de 1965 pela Igreja Missionária de Maringá,

é uma Instituição de caráter filantrópico, isto é, sem fins lucrativos. A Instituição tem por

finalidade acolher e amparar pelo sistema de casa­lar, crianças órfãs e abandonadas ou

que estejam em situação de risco objetivando seu desenvolvimento e educação completa.

O Lar atende crianças de zero a doze anos, oferecendo:

• refeições diárias;

• acompanhamento na realização das tarefas escolares;

• acompanhamento na realização dos afazeres domésticos, por uma família;

Deste  modo,  objetiva­se ainda  “[...]  ajudar  estas  crianças na  formação  de seu

caráter social e cristão, dando­lhes estrutura, para serem reintegradas a sua família e

para   serem   bons   cidadãos,   respeitadores   das   leis   e   conscientes   de   seu   papel   na

sociedade” (PLANO DE AÇÃO E TRABALHO, 2000, p. 01).

Localizado num espaço de dois alqueires e meio com sete casas, salão social,

campo de futebol suíço, quadra esportiva, pomar, horta, e uma pequena plantação de

grãos o Lar, que atualmente atende a 20 crianças da comunidade entre dois a treze anos,

realiza ações que proporcione as crianças “[...] uma estrutura familiar saudável, por isso

modelo de casa­lar, mãe social, ambiente onde elas encontram lugar para lazer e para

viver em sociedade” (PLANO DE AÇÃO E TRABALHO, 2000, p. 02).

A instituição é mantida por grandes empresas e doações esporádicas de pessoas

da   comunidade   e   pela   prefeitura   do   município   de   Maringá,   que   além   de   colaborar

mensalmente com auxílio financeiro também fornece dois funcionários que auxiliam nos

serviços gerais.

As crianças chegam até  o Lar,  por meio do conselho tutelar.  São crianças em

situação de abandono, ou seja, são retiradas da convivência familiar por serem vítimas da

negligência   doméstica.   A   violência,   a   exploração   (pedintes),   o   abuso   sexual,   a

dependência química dos pais, são os principais motivos para o encaminhamento das

crianças à entidade.

No Lar, as crianças moram numa casa com outras crianças, com um casal (mãe

social  e o seu marido) e uma mãe auxiliar social,  contratados pela  instituição. A mãe

titular e a auxiliar cuidam da casa e de todas as crianças, enquanto que o pai tem um

serviço fixo fora da  instituição, mas ajuda  também nos afazeres do  local.  As crianças

recebem   atendimentos   psicológicos   e   psicopedagógicos,   se   necessário.   Todos   estes

atendimentos são realizados por voluntários.

Para   desenvolver   tal   trabalho   com   as   crianças,   primeiramente   o   Grupo   Pet­

Pedagogia realizou um período de observação e, posteriormente, fez um planejamento

de atividades lúdicas que atendesse as necessidades educacionais das crianças. Desta

forma,   o   grupo   procurou   bibliografias   referentes   ao   lúdico   e   ao   brinquedo,   realizou

entrevistas e participou de palestras com educadores que abordam o assunto, participou

de oficinas de teatro,  de  técnicas de pintura,  de cursos para aprender contar história,

entre outros, com o propósito de aperfeiçoar os conhecimentos para realizar com esmero

um trabalho pedagógico que tivesse como princípio à atividade lúdica. 

REFERÊNCIA

ALMEIDA, P. N.  Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo:

Loyola,1998.

BRASIL,   Constituição   (1988).   Constituição   da   Republica   Federativa   do   Brasil.

Brasília: Senado Federal. 1988.

BRASIL.  Ministério  da Saúde, Ministério  da Criança.  Estatuto  da Criança e do

Adolescente. Brasília, 1991.

CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedo, desafio e descoberta: subsídios para

autilização   e   confecção   de   brinquedos.   Rio   de   Janeiro:   FAE,   1988.   Alegre:   Artes

Médicas, 1993.

FRIEDMAN,  Adriana   (org).  O Direito  de  Brincar:  a Brinquedoteca.  4ªed.  São

Paulo: Scritta Editorial,1998.

KISHIMOTO,   Tizuko   Morchida   (org).  Jogo,   brinquedo,   brincadeira   e   a

educação. São Paulo, Cortez, 1997.

_____.  O brinquedo na educação: considerações históricas.  Disponível  em

http://www.crmario   covas.sp.gov.br/pdf/ideias_07_p.039.045_c.pdf#search='kishimoto'.

Acessoem 30/04/2006

NOVAES, Luiza Helena Vinholes Siqueira. Brincar é saúde: o alívio do estresse

na criança hospitalizada. Pelotas: EDUCAT, 1998.

PLANO DE AÇÃO E TRABALHO, L.B.M – Lar Betânia de Maringá – Maringá ao

encontro com Deus. 2000.

SCHAEFFER, E. H. O jogo matemático como experiência de diálogo: análise

fenomenológica da percepção de professores de matemática. Maringá: UEM,

2006 (dissertação de mestrado)

SANTOS, S, M. P. dos. (org). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Rio

de Janiero: Vozes, 1997.

SOIFER, R. Psicodinamismo da família com crianças. Petrópolis: Vozes, 1982.

VYGOTSKY,  L.  S.  A  formação social  da mente.  São Paulo:  Martins  Fontes,

1991.

WINNICOTT, Donald.W. O Brincar &a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.