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Introdução à Educação Digital 166 Atividade 5.1 - O computador vai substituir o professor? No contexto da sociedade da informação (conhecimento?), tem sido recorrente o questionamento: “Será que o computador irá substituir o professor?” Precisamos su- perar essa dúvida antes que possamos avançar. Assim, sugerimos a leitura da respos- ta elaborada por Andréa Cecília Ramal (2000), que incluímos a seguir neste material. A atividade, então, consiste em ler o texto “O computador vai substituir o profes- sor?”, e ao final da leitura escolher uma palavra que sintetize a sua ideia central. O computador vai substituir o professor? O diálogo que vou propor nesta coluna é sobre a escola. Acho que precisamos conversar sobre isso. A Internet está trazendo consigo um novo modelo de educação, uma forma diferente de aprendizagem, e precisamos entendê-lo, apropriar-nos disso, ser protago- nistas da mudança. Precisamos conversar principalmente porque a existência dessa grande rede nos faz pensar na escola que temos, ainda tão fechada, limitada, desconectada do mundo, da vida do aluno; ainda tão distante da realidade de imagens, sons, cores e palavras em hipermídia que constitui a nossa vida hoje. Precisamos conversar sobre nossos sonhos para a escola, pois, se vocês não sa- bem, há séculos nós, pedagogos, acumulamos sonhos sobre a sala de aula. Ivan Illich sonhava com uma educação que não fosse limitada às instituições, que for- malizam tudo. Jean-Jacques Rousseau pensava numa escola que não corrompesse o homem, deixando simplesmente vir à tona o que temos de melhor. Jean Piaget queria que os níveis mentais fossem respeitados, sem pular etapas, para que não tivéssemos que aprender aos saltos, ou decorar o que não entendemos. Freinet so- nhava com uma escola que permitisse o prazer, a aprendizagem agradável e diver- tida. Paulo Freire sonhava com um lugar em que o saber do aluno fosse valorizado,

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Atividade 5.1 - O computador vai substituir o professor?

No contexto da sociedade da informação (conhecimento?), tem sido recorrente o questionamento: “Será que o computador irá substituir o professor?” Precisamos su-perar essa dúvida antes que possamos avançar. Assim, sugerimos a leitura da respos-ta elaborada por Andréa Cecília Ramal (2000), que incluímos a seguir neste material.

A atividade, então, consiste em ler o texto “O computador vai substituir o profes-sor?”, e ao final da leitura escolher uma palavra que sintetize a sua ideia central.

O computador vai substituir o professor?

O diálogo que vou propor nesta coluna é sobre a escola. Acho que precisamos conversar sobre isso. A Internet está trazendo consigo um novo modelo de educação, uma forma diferente de aprendizagem, e precisamos entendê-lo, apropriar-nos disso, ser protago-nistas da mudança.

Precisamos conversar principalmente porque a existência dessa grande rede nos faz pensar na escola que temos, ainda tão fechada, limitada, desconectada do mundo, da vida do aluno; ainda tão distante da realidade de imagens, sons, cores e palavras em hipermídia que constitui a nossa vida hoje.

Precisamos conversar sobre nossos sonhos para a escola, pois, se vocês não sa-bem, há séculos nós, pedagogos, acumulamos sonhos sobre a sala de aula. Ivan Illich sonhava com uma educação que não fosse limitada às instituições, que for-malizam tudo. Jean-Jacques Rousseau pensava numa escola que não corrompesse o homem, deixando simplesmente vir à tona o que temos de melhor. Jean Piaget queria que os níveis mentais fossem respeitados, sem pular etapas, para que não tivéssemos que aprender aos saltos, ou decorar o que não entendemos. Freinet so-nhava com uma escola que permitisse o prazer, a aprendizagem agradável e diver-tida. Paulo Freire sonhava com um lugar em que o saber do aluno fosse valorizado,

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onde a relação vivida nas aulas fosse o ponto de partida para uma grande transfor-mação do mundo. Goleman escreve sobre uma escola que permita desenvolver o lado emocional, que tenha espaço para as artes, a música, as coisas que, enfim, nos fazem mais humanos.

Mas não soubemos concretizar muitos desses sonhos. Talvez ainda não tivemos tempo, porque era preciso primeiro preparar aulas, corrigir provas, anotar no quadro e nos cadernos tantas e tantas explicações.

De repente a tecnologia entra na escola e nos obriga a recuperar tudo isso. A pre-sença da máquina leva todo professor a se perguntar: como é a minha aula? Do que decorre: será que o professor vai ser substituído pelo computador? E sabemos que a resposta é sim, não temos a menor dúvida.

Explico: é que o pior de nós vai ser substituído.

A nossa pior aula, o lado repetitivo, burocrático e por vezes até acomodado da escola, esse vamos deixar para o computador. Ele saberá transformar nossas ex-posições maçantes em aulas multimídia interativas, em hipertextos fascinantes, em telas coloridas e interfaces amigáveis preparadas para a construção do saber. Então poderemos, finalmente, ficar com a melhor parte, aquela para a qual não nos sobra-va tempo, porque pensávamos que devíamos transmitir conhecimentos.

Vamos receber de herança os sonhos de todas as outras gerações, redimi-las reali-zando tudo o que não puderam conhecer. Agora sim, está em nossas mãos a derru-bada dos muros para fazer conexões com o mundo, a criação do espaço para a arte e a poesia, o tempo para o diálogo amigo, o trabalho cooperativo, a discussão cole-tiva, a partilha dos sentidos. Está em nossas mãos a construção de uma escola mais feliz, feita por mestres e alunos que saibam, juntos, propor links e janelas para a sala de aula, onde aprender não seja uma tarefa árdua e penosa, mas sim uma aventura.

Então será preciso que cada mestre se despeça da figura de professor transmissor de conteúdos que há em si mesmo, e que os alunos abandonem seu papel de recep-tores passivos. Isso é o pior de todos nós, não nos daremos mais a conhecer assim.

Vamos tentar construir juntos algo novo. É claro que nós, professores, vamos precisar de

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Qual foi para você a palavra-chave escolhida? Discuta com seus colegas a respeito.

Andréa Cecilia Ramal (2000) destaca no texto acima que é inútil tentar concorrer com a quantidade e qualidade de informações disponível na Internet. E nós já sabemos que tam-bém não podemos simplesmente ignorar a sua existência. A mesma autora, em outro artigo, “Ler e escrever na cultura digital” (que já mencionamos e citamos na Unidade 2), avança ain-da mais na busca da compreensão do novo papel do professor nesse momento tão especial que vivemos. Ao final do seu artigo ela afirma que precisamos reinventar a nossa profissão e articula sua proposta com os três eixos de conteúdos apontados pelos PCNs: conceituais, procedimentais e atitudinais. A autora então propõe que um professor deve atuar:

Nos conteúdos conceituais, como arquiteto cognitivo, responsável por traçar as estratégias e definir os métodos mais adequados para que o aluno chegue a uma construção ativa do conhecimento;

nos conteúdos procedimentais, como dinamizador de grupos, ao ajudar os estudantes a des-cobrirem as formas pelas quais se chega ao saber, os processos mais eficazes e o diálogo possível entre as disciplinas, gerenciando uma sala de aula na qual os estudantes, com suas diversas competências, dialogam com respeito entre si e estabelecem parcerias produtivas; e,

nos conteúdos atitudinais, como educador, comprometendo-se com o desafio de estimular a consciência crítica para que todos os recursos desse novo mundo sejam utilizados a serviço da construção de uma humanidade também nova, com base nos critérios de justiça social e respeito à dignidade humana. (RAMAL, 2000).

A autora nos conclama ao maior dos nossos desafios, que será o da construção de

ajuda: os alunos saberão nos dizer como fazer. Será que eles aceitam ser nossos mes-tres? Acho que sim, é só por este próximo milênio. Nessa nova sala de aula, na verdade todos serão mestres.

E, curiosamente, a gente vai aprender como nunca.

RAMAL, Andrea Cecília.