atencao basica e emprego em saúde: elementos e potencialidaes

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ATENÇÃO BÁSICA E EMPREGO EM SAÚDE: ALGUNS ELEMENTOS E POTENCIALIDADES Geraldo Biasoto Junior 1 Resumo O objetivo deste trabalho é discutir alguns dos elementos e das potencialidades do setor saúde na geração de postos de trabalho no Brasil. Para tanto, são discutidos os gastos com saúde e a inserção pública num rol de países e a posição brasileira. Ao mesmo tempo, são avaliados os gastos do Ministério da Saúde, nos últimos anos, em seus grandes segmentos, com destaque para as estratégias da atenção básica, notadamente o PACS/PSF. No campo da geração de empregos são avaliados os números globais do país e focalizados os relativos à saúde da família e agentes comunitários. Por fim, estima-se o custo de geração de postos de trabalho para o setor saúde, a saúde pública e o PACS/PSF. Palavras-chaves: Atenção Básica, Saúde da Família, Financiamento, Emprego, Empregabilidade, Orçamento da Saúde. Primary attention and employment in the health Field: A few elements and potentialities Abstract The objective of this work is discussing some elements and possibilities of the health sector in generating employment in Brazil. Because of this, the expenses with health and the public insertion were discussed in a group of countries, comparing to the Brazilian situation. At the same time, the Heath Ministry’s expenses have been evaluated, in its most important parts, highlighting primary care, especially the PACS/PSF. In the area of employment creation, the country’s global figures and also the ones related to family health and community agents were analyzed. Finally, the 1 Professor de Economia da UNICAMP, Diretor Executivo da FUNDAP e ex-Secretário de Gestão de Investimentos em Saúde do Ministério da Saúde.

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O texto procura discutir e quantificar a geração de empregos a partir de uma política pública na área da saúde

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  • ATENO BSICA E EMPREGO EM SADE: ALGUNS

    ELEMENTOS E POTENCIALIDADES

    Geraldo Biasoto Junior1

    Resumo

    O objetivo deste trabalho discutir alguns dos elementos e das

    potencialidades do setor sade na gerao de postos de trabalho no Brasil. Para tanto,

    so discutidos os gastos com sade e a insero pblica num rol de pases e a posio

    brasileira. Ao mesmo tempo, so avaliados os gastos do Ministrio da Sade, nos

    ltimos anos, em seus grandes segmentos, com destaque para as estratgias da ateno

    bsica, notadamente o PACS/PSF. No campo da gerao de empregos so avaliados

    os nmeros globais do pas e focalizados os relativos sade da famlia e agentes

    comunitrios. Por fim, estima-se o custo de gerao de postos de trabalho para o setor

    sade, a sade pblica e o PACS/PSF.

    Palavras-chaves: Ateno Bsica, Sade da Famlia, Financiamento,

    Emprego, Empregabilidade, Oramento da Sade.

    Primary attention and employment in the health Field: A few elements and

    potentialities

    Abstract

    The objective of this work is discussing some elements and possibilities of the

    health sector in generating employment in Brazil. Because of this, the expenses with

    health and the public insertion were discussed in a group of countries, comparing to

    the Brazilian situation. At the same time, the Heath Ministrys expenses have been

    evaluated, in its most important parts, highlighting primary care, especially the

    PACS/PSF. In the area of employment creation, the countrys global figures and also

    the ones related to family health and community agents were analyzed. Finally, the

    1 Professor de Economia da UNICAMP, Diretor Executivo da FUNDAP e ex-Secretrio de Gesto de Investimentos em Sade do Ministrio da Sade.

  • costs of employment creation for the whole health sector, the public health and the

    PACS/PSF were estimated.

    Keywords: Primary Care, Family Health, Finance, Job, Employment, Health

    Budget.

    Atencin Bsica y Empleo en Salud: algunos elementos y potencialidades

    Resumn

    El objetivo de este trabajo es discutir algunos de los elementos y de las

    potencialidades del sector salud en la generacin de plazas de trabajo en el Brasil.

    Para tanto, son discutidos los gastos con salud y la insercin pblica en un rol de

    pases y la posicin brasilea. Al mismo tiempo, son evaluados los gastos del

    Ministerio da la Salud de Brasil, en los ltimos aos, en sus grandes segmentos, con

    destaque para las estrategias de la atencin bsica, notoriamente el PACS/PSF. En el

    campo de la generacin de empleos son evaluados los nmeros globales del pas y

    focalizados los relativos a la salud da la familia y agentes comunitarios. Por fin, se

    estima el costo de la geracin de plazas de trabajo para el sector de la salud, a la salud

    pblica y el PACS/PSF.

    Palabras claves: Atencin Bsica, Salud de la Familia, Financiamiento,

    Empleo, Presupuesto en Salud.

    CV do autor: Professor de Economia da UNICAMP, Diretor-Executivo da

    FUNDAP, ex-Secretrio de Gesto de Investimentos em Sade do Ministrio da

    Sade, ex-Vice Presidente da Empresa de Urbanizao de So Paulo, ex-Secretrio de

    Finanas de Campinas, ex-Coordenador de Poltica Fiscal do Ministrio da Fazenda,

    ex-Coordenador Nacional do Acordo Brasil-Reino Unido para a Reforma do Setor

    Sade, ex-Coordenador Tcnico da Cmara de Medicamentos do Governo Federal.

  • Introduo

    A preocupao com a manuteno e gerao de postos de trabalho o

    principal elemento das polticas pblicas no mundo atual. De uma forma ou de outra,

    o tema do emprego atravessa campanhas eleitorais, o relacionamento entre o Estado e

    os segmentos organizados dos trabalhadores e as relaes entre os distintos atores

    sociais.

    A mquina industrial, referida ao espao de acumulao capitalista que opera

    em escala global, inequivocamente redutora do volume de oferta de empregos.

    Logicamente, nos servios mais especializados e nas atividades tecnolgicas, uma

    parcela desses postos de trabalho recriada. Em seu conjunto, no h como deixar de

    constatar que uma reduo relativa do emprego concomitante a uma forte

    diferenciao dos postos ofertados, com maior qualificao da mo de obra.

    Para pases de dimenses continentais, com perfil etrio ainda em percurso de

    amadurecimento e dificuldades nas reas de educao e formao profissional, a nova

    realidade aparece como um imenso desafio capacidade de o sistema continuar a

    gerar condies mnimas de absoro da fora de trabalho.

    Diversas vezes, esta preocupao assume a feio das polticas liberalizantes,

    que vm na limitao de regulao estatal s normas contratuais entre empregador e

    empregado, a forma de aumentar a empregabilidade. Por outro caminho, tambm so

    tomadas medidas de estrito controle das relaes de trabalho com a expectativa de que

    garantam a gerao de empregos e boas condies de barganha para os trabalhadores

    nessas relaes.

    O setor sade dever jogar um papel de grande destaque, nas prximas

    dcadas, na definio dos caminhos que devero trilhar a gerao de empregos e as

    relaes de trabalho. Evidentemente, trata-se de um jogo com inmeras alternativas e

    que ser condicionado pelas escolhas nacionais para a gerao de perfis que podero

    ser bastante diferenciados. Talvez duas sejam as maiores decises a serem tomadas

    durante esse processo. A primeira delas guarda relao com as macrodiretrizes do

    gasto pblico. A ampliao do gasto pblico leva, em si, embora no garanta, a

  • possibilidade de uma sade voltada para o conjunto da populao e, muito

    provavelmente, mais intensiva em mo-de-obra de profissionais de sade alm dos

    mdicos. A multiplicao da ateno para contedos relativos preveno e

    promoo da sade, bem como as terapias auxiliares, reduzem a prevalncia das

    especialidades mdicas, gerando demanda mais firme no mercado de trabalho dos

    demais profissionais de sade.

    Ao contrrio, uma escolha de poltica que limite os gastos pblicos implica

    reduo do gasto global em sade, com menores chances de equalizao do gasto em

    sade e maior probabilidade de uma forma extremamente perversa de gasto: a

    efetuada diretamente pelo usurio do sistema, no momento da utilizao. Ao mesmo

    tempo, formas de pr-pagamento imperfeitas e marcadamente nucleadas no cuidado

    hospitalar tendem a prevalecer. A maior concentrao do gasto na atividade

    hospitalar, em detrimento das aes de preveno e promoo e da ateno bsica em

    geral, tem um contedo negativo para a gerao de postos de trabalho no setor sade e

    tende a concentrar rendimento em extratos mdicos, notadamente relativos s

    especialidades.

    A segunda grande questo como formatar o gasto em sade, desde que a

    deciso de incrementar o gasto pblico tenha sido tomada. Novamente, o perfil do

    gasto acaba definindo a estrutura de atendimento e sendo redefinida por esta ltima,

    num processo de retroalimentao. A opo pelo cuidado centrado nas unidades

    hospitalar e ambulatorial repercute no sistema com a prevalncia de intensidade

    tecnolgica e especializao da ateno. Estas tendncias acabam ganhando auto-

    reforo pela prpria dinmica na qual se inserem.

    No h dvida de que a escolha de um modelo de ateno sade mais

    equilibrado na relao entre a ateno bsica e o cuidado ambulatorial-hospitalar

    tende a produzir maior heterogeneidade na estrutura de recursos humanos envolvida

    na prestao de servios de sade. Mais que isto, a reduo do foco nas tecnologias

    mais sofisticadas da alta e mdia complexidade tende a produzir um novo espectro de

    atores dentro do sistema que explicitam interesses mais amplos, na disputa por

    recursos financeiros.

  • Este trabalho visa discutir os impactos do gasto em ateno bsica no mercado

    de trabalho em sade e informa como uma nova configurao dos gastos poderia

    imprimir maior dinmica criao de postos de trabalho e diferenciao da demanda

    por profissionais de sade. Esse o objetivo da discusso das duas partes em que se

    divide este trabalho.

    Os Diferentes Padres de Financiamento da Sade

    A participao dos gastos com sade no PIB expressiva na maioria dos

    pases desenvolvidos e vem crescendo nos chamados pases emergentes. No conjunto

    dos 26 pases da OCDE, a mdia dos gastos per capita globais, pblicos e privados

    atingiu, em 2002, US$ 1.964. A variao entre os pases extremamente forte, sendo

    que Mxico, Repblica Eslovaca, Coria e Hungria apresentam gasto per capita

    inferior mdia em mais de US$ 1.000. Enquanto isso, Estados Unidos, Sua,

    Alemanha, Islndia e Canad, registram gastos per capita superiores em mais de US$

    500 mdia dos 26 pases avaliados. O Brasil permanece longe dessas marcas, com

    cerca de US$ 280 de gasto per capita.

  • No que toca repartio entre o financiamento pblico e privado dos gastos

    com sade, embora existam algumas situaes particulares como Sua, Estados

    Unidos e Mxico, em que a participao privada maior que a pblica, a maioria dos

    pases apresenta um padro compatvel com a mdia dos 26 pases, sendo de mais que

    dois teros a participao pblica dentre os gastos totais com sade. No caso

    brasileiro, tambm temos que observar uma forte distoro. A participao pblica no

    gasto total tem se limitado a 40% do gasto total.

  • As diferenas entre diversos pases ganham maior expresso quando referidas

    aos seus diferentes indicadores de sade. No h dvida de que a variao do gasto

    per capita no entre reflexo nas condies de sade da populao. Em verdade, para o

    conjunto de pases avanados h um consenso de que os indicadores de sade j se

    situam em nveis bastante semelhantes. A explicao das disparidades deve ser

    buscada em alguns elementos que conformam o setor sade e variam de pas para

    pas.

    crucial identificar os principais elementos que impem a dinmica do gasto

    no setor sade. Certamente, o principal deles a velocidade de absoro de novas

    tecnologias s condutas mdicas e s disponibilidades de servios hospitalares e

  • ambulatoriais. Do mesmo modo, a prescrio de novos medicamentos influi

    sobremaneira no gasto realizado com sade. A avaliao do custo efetividade da

    incorporao de novas tecnologias extremamente complexa, principalmente porque,

    em grande parte das situaes, trata-se de melhorias de acuidade do diagnstico e

    qualidade de vida do paciente, aspectos de mensurao complexa.

    Um segundo elemento de grande importncia o gerenciamento das aes

    mdicas e a existncia e amplitude dos protocolos clnicos em uso no sistema.

    diferena de todas as outras formas de mercado, no sistema de sade, o consumidor

    est submetido deciso de um terceiro agente sobre os bens e servios que sero

    demandados para o tratamento. Dessa forma, os padres de comportamento dos

    mdicos impactam decisivamente no patamar de gastos em sade, especialmente

    quando a descentralizao das decises maior. Como foras contrrias colocam-se

    planos e seguros privados e governos, estabelecendo protocolos e formas de controle

    dos gastos, o que no raro gera enormes tenses dentro do sistema. Ao mesmo tempo,

    no h como deixar de se levar em conta que h criao de demanda endgena ao

    sistema, na medida em que as unidades de sade e os mdicos, como agentes de

    deciso do gasto, podem gerar necessidades de maneira diferenciada.

    Um terceiro elemento de grande importncia no sistema a renda mdia da

    sociedade e a sua distribuio da as famlias. H uma tendncia a que sociedades mais

    ricas, cuja satisfaam das necessidades bsicas est bem atendida, aloque maior parte

    de seus recursos em sade. Neste movimento, a cesta de necessidades sociais em

    termos de servios de sade experimenta incrementos justamente em termos de novas

    tecnologias, tratamentos estticos, comodidades, melhor hotelaria nas internaes,

    dentre outros. Em sociedades de renda mdia elevada e distribuio de renda mais

    equilibrada, os gastos com sade devem ser ainda mais elevados, justamente porque

    as despesas de sade desfrutam de grande participao nos oramentos familiares

    especialmente nas faixas de renda mdia e mdia-alta.

    A grande deciso , na realidade, de poltica pblica. Est na formatao dos

    gastos pblicos a varivel definidora do perfil da insero do Estado na dinmica de

    criao de empregos do setor sade. A alocao de recursos oramentrios pelos

    diversos programas e instituies define o perfil do gasto e indica os seus

  • beneficirios. As aes contempladas demandam recursos tecnolgicos e de pessoal

    que levam, em si, as opes realizadas.

    O oramento federal brasileiro pode sintetizar as tendncias dos gastos em

    sade no Brasil. Conquanto os dados abaixo no demonstrem a totalidade do gasto

    pblico das trs esferas de governo, como o Ministrio da Sade tem forte poder de

    indicao de polticas, geralmente inscritas nas transferncias financeiras, os recursos

    federais indicam tendncias seguidas pela maioria dos agentes descentralizados.

    A anlise dos dados do Ministrio da Sade, no perodo que se estende de

    1995 a 2007, pode ser realiza por meio do grfico 1. O crescimento dos gastos com a

    ateno bsica bastante expressivo, assim como os outros custeios e investimentos,

    enquanto os gastos com pessoal perdem vigor, o que se explica pela diretiva de

    descentralizao das aes diretas. No entanto, tambm no h como deixar de indicar

    que a expanso relativa dos recursos da mdia e alta complexidade tambm

    aumentaram com grande velocidade, registrando, em 2007, patamar que quase duplica

    os recursos aplicados na ateno bsica.

  • Grfico 1

    GASTOS EM SAUDE

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    Anos

    R$

    milh

    es

    ATENO BSICA MDIA E ALTA COMPLEXIDADE

    OUTROS - (CUSTEIO E INVESTIMENTO PESSOAL E ENGARGOS SOCIAIS

    Fonte: BGU

    O grfico 2 mostra os percentuais de uma forma mais abrangente,

    incorporando os gastos com saneamento, pagamento de dvidas e pessoal em um

    mesmo bloco, que teve o melhor comportamento no perodo, subindo de 10,4% para

    22,5%. Na comparao entre 1995 e o oramento para 2007, a ateno bsica subiu de

    10,5% para 18,6%. Enquanto isso, as despesas com alta e mdia complexidade caram

    de 44,3% para 39,1%.

  • Grfico 2

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

    PART. DOS GASTOS EM SADE - MS

    Pessoal+Dv+SaneamOutros Custeios e InvestMdiaAlta Complex.Ateno Bsica

    Fonte: BGU

    Na anlise dos componentes identificados pelo Ministrio da Sade como

    ateno bsica, o grfico 3 pode demonstrar, de forma inequvoca, a tendncia que

    abrangeu todos os 12 anos da srie em foco. Os gastos com o Programa de Agentes

    Comunitrios em Sade e o Programa de Sade da Famlia tiveram comportamento

    altamente favorvel, chegando, em 2007, aos R$ 4 bilhes. O PAB fixo logrou a

    segunda colocao, em termos de volume global. No entanto, seu comportamento foi

    muito inferior do ponto de vista da trajetria de crescimento, perdendo o primeiro

    posto e chegando a cerca de R$ 3 bilhes, na previso oramentria de 2007.

    Esses elementos do cores favorveis s decises governamentais, do ponto de

    vista das escolhas que beneficiam um maior equilbrio do sistema entre os gastos com

    as reas de maior intensidade tecnolgica e as de grande intensividade em mo-de-

    obra. Desse modo, a supra aludida maior absoro de mo-de-obra de diferentes

    profisses da sade e a ampliao do leque de profissionais e remuneraes tm

    indicativos de estar, como tendncia, ocorrendo. Logicamente, os nmeros mostram

    que ainda grande a prevalncia do cuidado hospitalar-ambulatorial, analisando-se

    sob a tica da alocao de recursos por parte do Ministrio da Sade.

  • Grfico 3

    GASTOS EM ATENO BSICA

    0500

    10001500200025003000350040004500

    1995

    1997

    1999

    2001

    2003

    2005

    2007

    Em

    R$

    milh

    es

    PAB fxo

    PACS/PSF

    Car. Nutric.BolsaAlimFarm. Bsica, Hpert.DiabetesVacinas

    Comb a Endemias

    Fonte: Ministrio da Sade

    O Emprego em Sade e a Ateno Bsica

    Uma breve avaliao do emprego gerado pelo setor sade pode ser realizada

    por meio da tabela 3. No Brasil todo, em 2005, somavam dois milhes e meio as

    pessoas que exercem atividades remuneradas, sob diversos tipos de vnculos de

    trabalho, nas diversas atividades relacionadas ao setor sade. Note-se que a se

    inserem tanto os trabalhadores diretamente vinculados prestao de servios aos

    usurios, quanto atividades industriais e comerciais relacionadas produo de bens

    como medicamentos e insumos hospitalares. A Regio Sudeste possui a maior

    participao dentre as macro-regies, com um milho e duzentos mil trabalhadores. A

    Regio Norte contabilizava pouco menos de 167 mil trabalhadores em sade.

  • Tabela 3 Empregos em Sade por Entidade Mantenedora 2005

    Proporo de Empregos

    Total de Empregos pblicos privados

    BRASIL 2.566.694 56,4 43,6 Regio Norte 166.939 81,3 18,7 Regio Nordeste 635.449 67,7 32,3 Regio Sudeste 1.199.637 50,0 50,0 Regio Sul 370.709 45,5 54,5 Regio Centro-Oeste 193.960 59,0 41,0

    Fonte: PROGESUS

    Importante notar outra caracterstica do setor sade brasileiro derivada

    diretamente da realidade socioeconmica heterognea entre as macro-regies. Nas

    regies em que os nveis de riqueza so menores, a atividade empresarial no to

    desenvolvida e a classe mdia tem menor participao relativa, a proporo de

    empregos pblicos superior, refletindo a dependncia da ateno proporcionada pela

    rede pblica. Ao contrrio, a Regio Sul mostra participao superior dos empregos

    proporcionados pelo setor privado (54,5%) e a Regio Sudeste apresenta uma diviso

    perfeita (50% para cada setor).

    possvel fazer, embora de forma bastante precria, uma avaliao do custo

    de gerao de um posto de trabalho no setor sade. Tomando-se o ano de 2005, o

    gasto global teria sido de R$ 178 bilhes (cerca de 8,3% do PIB), frente aos dois

    milhes e meio de trabalhadores, tem-se que cada posto de trabalho gerado implica

    gastos de R$ 69.460. Esse o valor para a criao de um posto de trabalho no

    conjunto entre setor pblico e setor privado.

    Com algumas novas suposies, possvel definir um valor aproximado da

    gerao de um posto de trabalho no mbito pblico. Excluindo-se quatro quintos dos

    24,9% dos postos de trabalhado vinculados a entidades com fins lucrativos e um tero

    dos 18,6% dos postos de trabalho vinculados a entidades privadas sem fins

    lucrativos2, teramos 1.896.433 trabalhadores diretamente relacionados ao setor

    2 No caso das entidades privadas com fins lucrativos, a suposio de que 20% seriam trabalhadores em hospitais e clnicas contratados pelo SUS. No caso do setor privado sem fins lucrativos, a hiptese de que 66% sejam relativos a entidades majoritariamente contratadas pelo SUS para prestao de servios, tal como a rede de Santas Casas.

  • pblico. Nesse caso, a gerao de um posto de trabalho custa R$ 38.356,00, tendo

    como base a participao do setor pblico em 40,2% das despesas globais em sade.

    O Programa de Sade da Famlia e a estratgia de agentes comunitrios de

    sade configuraram-se, ao longo dos anos, como vigorosas promotoras do emprego

    em sade. Em meados de 2007, o Brasil possua mais de 220 mil agentes

    comunitrios devidamente implantados, capacitados e vinculados aos programas de

    sade. Ao mesmo tempo, mais de 27 mil Equipes de Sade da Famlia j estavam

    implantadas em todo o territrio nacional, garantindo cobertura a 46,7% da populao

    total do pas.

    Uma estimativa da gerao de empregos no campo do PACS/PSF pode dar

    uma idia do potencial de gerao de empregos do programa. Como as equipes devem

    ser compostas de um mnimo de mdico, enfermeira e auxiliar de enfermagem, pode-

    se dizer, de forma conservadora, que 81 mil postos de trabalho foram gerados de

    forma acumulada at meados de 2007. Somando-se aos agentes comunitrios, temos

    que 300 mil postos de trabalho foram gerados pelo Programa.

    Os gastos do programa, relativos transferncia do Ministrio da Sade aos

    executores, em sua grande maioria municpios, registraram o valor de R$ 4,064

    bilhes, em 2007. Para uma estimativa de gasto no programa necessrio adicionar

    uma parcela de recursos dos outros nveis de governo. Uma suposio de gastos

    adicionais de 50% parece-nos confivel, conquanto seja grande a heterogeneidade de

    situaes pelo pas. Dessa forma, teramos um custo do programa de cerca de R$ 6,1

    bilhes. Para manter a comparabilidade com os nmeros anteriores, seriam R$ 5,65, a

    preos mdios de 2005. Com a referncia nesse montante de gastos, o custo de

    gerao de um posto de trabalho no PACS/PSF seria, a preos de 2005, de R$ 18.840.

    A tabela 4 mostra a sntese das estimativas de custo por gerao de postos de

    trabalho acima realizadas.

  • Tabela 4 COMPARATIVO DE CUSTOS DE GERAO DE POSTOS DE TRABALHO 2005 Setor Pblico e Privado R$ 69.460,00

    Setor Pblico R$ 38.356,00

    PACS/PSF R$ 18.840,00

    Concluses

    As reflexes e estimativas apresentadas neste trabalho permitem dizer que as

    polticas calcadas em estratgias de ateno bsica possibilitam a gerao de um

    contingente expressivo de postos de trabalho, que se estendem por um leque

    diferenciado de profissionais de sade, viabilizando grande absoro de mo-de-obra.

    O desenho das polticas e a configurao dos oramentos pblicos, com

    maiores ou menores compromissos com o setor sade, so, tambm, definidores da

    capacidade de gerao de emprego. Vale dizer que o modelo de gesto e a

    participao estatal so elementos determinantes na gerao de empregos por parte do

    setor sade.

    Sem dvida, ao lado de todos os outros atributos sistmicos das polticas

    estruturantes da ateno bsica, ela significa uma grande alternativa para a gerao de

    empregos pelo setor sade, frente a todos os limitantes de ordem financeira e

    oramentria que se colocam ao Sistema nico de Sade e ao conjunto do setor sade

    brasileiro.

  • Refernicas Bibliogrficas

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