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Janeiro / Fevereiro / Março 2013 Nº 18 Mais qualidade com menos informações O padrão IFRS encerra 2012 com desafios a superar, em especial no que diz respeito à maior concisão nas informações divulgadas ao mercado. Entenda o porquê em entrevista com Paul Sutcliffe, sócio de Auditoria da Ernst & Young Terco Página 3 NORMAS ATUALIDADES TENDÊNCIAS MERCADO Avaliação de atletas Saiba quais fatores impactam os cálculos feitos por clubes e empresários para chegar a um ‘preço’ justo em uma negociação Página 7 Rentabilidade verde Estudo mostra que a rentabilidade de investimentos sustentáveis é igual – ou mesmo superior – à dos fundos tradicionais Página 15 Assurance Journal Profissionais em alta Procura por profissionais de finanças e contabilidade está em alta. Na mira estão contadores, controllers e até CFOs Página 10 TM Rio 2016

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Mais qualidade com menos informações O padrão IFRS encerra 2012 com desafios a superar, em especial no que diz respeito à maior concisão nas informações divulgadas ao mercado. Entenda o porquê em entrevista com Paul Sutcliffe, sócio de Auditoria da Ernst & Young TercoPágina 3

N O R M A S • A T U A L I D A D E S • T E N D Ê N C I A S • M E R C A D O

A va l i a çã o d e a t l e ta s Saiba quais fatores impactam os cálculos feitos por clubes e

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Re nta b i l i d a d e ve rd e Estudo mostra que a rentabilidade de investimentos sustentáveis

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P rof i ss i o n a i s e m a l ta Procura por profissionais de finanças e contabilidade está em alta. Na mira estão contadores, controllers e até CFOs

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IFRS: revelações importantes

Assurance Journal é uma publicação do Departamento de Marketing destinada a profissionais ligados à administração de empresas e colaboradores da Ernst & Young Terco que aborda questões relevantes na migração para os padrões internacionais de contabilidade IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas de maneira isolada para a tomada de decisão por parte das empresas. Isso porque existem particularidades pertinentes a cada empresa que podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido. Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada, as empresas discutam esses pontos de vista com seus consultores. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso.

Mais informações com:

Sócio-líder de IFRS: Paul Sutcliffe [email protected]

Sócio-líder de FAAS: Fernando Magalhães [email protected]

Revisão técnica: Idésio Coelho [email protected]

Diretora de Marketing: Marly Parra

Jornalista responsável: Clarissa Wahl (MTb 23.575/SP)

Reportagem: Andrea Allabi e Felipe Datt

Revisão: João Hélio de Moraes

Projeto gráfico e edição visual: Alex Rossetto e Mariana Batista

Jan / Fev / Mar de 2013 • Nº 18

A cada final de ano, é comum empresas e mercado fazerem uma avaliação do período – seus sucessos, pontos a melhorar, exemplos a serem seguidos. Em relação à adoção do IFRS, o ano de 2012 trouxe algumas revelações importantes, como a de que o processo de transição gerou dúvidas e fez com que as empresas brasileiras divulgassem um grande volume de informações - o que é normal durante o processo de aprendizagem. A afirmação é de Paul Sutcliffe, sócio de Auditoria, líder da prática de IFRS da Ernst & Young Terco e entrevistado desta edição do Assurance Journal, citando o natural processo de aprendizado como vilão para a conquista desse objetivo.

Outro assunto de destaque nesta edição é que, sim, alinhar o bolso com princípios socioambientais é uma decisão rentável. A afirmação consta de estudo conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro que avaliou risco e retorno de fundos de investimento durante 60 meses e revelou que a rentabilidade desses fundos é igual – se não maior – no longo prazo. Boa notícia para os investidores, as companhias e o planeta.

Aproveite para ler também a reportagem “Transformando atletas em ativos”, que fala sobre o processo de avaliação de atletas. Como chegar ao cálculo milionário da carreira dos jogadores de futebol, por exemplo? Damos algumas pistas.

Nas próximas páginas, você irá encontrar ainda notas, artigo e entrevistas que abordam as últimas novidades do cenário contábil e financeiro e podem ajudá-lo no planejamento estratégico de sua empresa.

Boa leitura!

Sergio Romani I Sócio-líder de Auditoria [email protected]

Assurance Journal

IFRS:E n t r e v i s t a

Diretora de Marketing: Marly Parra

Jornalista responsável: Clarissa Wahl (MTb 23.575/SP)

Reportagem: Andrea Allabi e Felipe Datt

Revisão: João Hélio de Moraes

Projeto gráfico e edição visual: Alex Rossetto e Mariana Batista

A chegada da Lei 11.638/07, que alterou a Lei das SAs, tinha como principal objetivo - além de tornar o reporte das demonstrações financeiras mais transparente e realista - facilitar a comparabilidade de dados entre organizações que adotam o padrão do International Accounting Standards Board (IASB), em qualquer parte do planeta. No entanto, a quebra de paradigmas representa a necessidade de suplantar desafios.

Segundo Paul Sutcliffe, sócio de Auditoria da Ernst & Young Terco e entrevistado desta edição do Assurance Journal, essa transição gerou dúvidas e fez com que as empresas brasileiras divulgassem informações em excesso - o que é normal durante o processo de aprendizagem. Afinal, essas companhias tiveram de se adaptar a um modelo contábil muito mais interpretativo e subjetivo, diferente do antigo BR GAAP, que era fundamentado em regras. Para resolver a questão, na opinião de Sutcliffe, as companhias devem ficar atentas à quantidade e à qualidade dos dados prestados.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Brasil passa por curva de aprendizado Companhias que seguem o padrão IFRS estão divulgando DFs extensas e complexas, em vez de conteúdos mais simples. Entenda o porquê nessa entrevista com Paul Sutcliffe, sócio de Auditoria da Ernst & Young Terco

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Assurance Journal • Uma das conclusões a que chegou o estudo “Análises sobre o IFRS no Brasil” foi que as empresas continuam publicando uma grande quantidade de informações, tendo em vista o grau de detalhamento exigido pelo IFRS. No entanto, o novo padrão contábil tinha o objetivo inicial de tornar mais simples as DFs. Houve um descompasso entre o objetivo inicial e o resultado final?

Paul Sutcliffe • Um dos motivos para se adotar o padrão internacional de contabilidade - o International Financial Reporting Standards (IFRS) - foi facilitar a comparabilidade dos dados. Porém, todo mundo já sabia que esse modelo apresentava características mais complexas e haveria novas exigências de divulgação das informações. Outro fator que determinou a aplicabilidade do IFRS foi a possibilidade de integrar o mercado contábil global, já que era muito importante para as empresas brasileiras que atuam globalmente ter seus resultados compreendidos por qualquer pessoa em qualquer país. Se as empresas continuassem aplicando o BR GAAP, ninguém de fora do Brasil entenderia as DFs. O que está acontecendo é que existe um processo natural de aprendizagem pelo qual as empresas estão passando, e os contadores brasileiros ainda estão aprendendo como aplicar as novas

regras e como proceder para atender a todos os requisitos. O aprendizado será constante, e as empresas irão se aperfeiçoar ao longo do tempo. Na verdade, não há erros significativos. O que existe são informações cujo reporte deve ser melhorado em relação à qualidade e à quantidade.

Assurance Journal • Já que algumas empresas ainda não acertaram a forma de reportar seus dados, o que pode ser feito para melhorar esse quadro?

Paul Sutcliffe • Acredito que as empresas têm de realizar um trabalho forte junto aos seus auditores e consultores. Além disso, é muito importante fazer benchmarking com as áreas financeiras de grandes companhias no exterior, realizar treinamentos constantes e trocar experiências com os investidores e analistas das demonstrações financeiras – que, na verdade, são os seus maiores usuários.

Assurance Journal • O estudo também aponta que a forma de aplicação de algumas normas IFRS ainda não é consenso entre os participantes do mercado, o que de certa forma levantaria dúvidas sobre a comparabilidade das DFs. Pode-se afirmar que o mercado ainda vive um período de adaptação a esse novo padrão contábil?

Paul Sutcliffe • As empresas brasileiras estão transitando em um ambiente novo. Não é fácil deixar de lado um padrão contábil utilizado por décadas, baseado em regras, por outro modelo mais interpretativo e subjetivo – que é o caso do IFRS –, pelo qual os profissionais têm de exercitar mais o seu poder de julgamento e utilizar princípios. As regras atuais são mais complexas e, portanto, a alteração de todo o sistema contábil está sendo trabalhosa. Além disso, os profissionais estão se deparando com novos conceitos. Um dos conceitos que as companhias estão tendo de aprender a interpretar é o de valor justo, que

ajuda a analisar o valor de uma empresa e os acontecimentos passados, para fazer um prognóstico de seu futuro. Temos de lembrar também que todas as empresas, de qualquer tamanho e valor de faturamento, são obrigadas a adotar as regras atualizadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que nada mais são do que uma tradução das normas IFRS. Pequenas e médias empresas ainda podem optar pelas regras CPC-PME, cuja leitura e aplicação são mais simples em relação ao CPC pleno. Portanto, o excesso de informação que está ocorrendo atualmente nas demonstrações financeiras, principalmente no que se refere a notas explicativas, faz parte do processo de maturidade pelo qual as companhias estão passando. Ou seja, diz respeito à nossa curva de aprendizado.

Assurance Journal • Na adoção do IFRS, a indústria imobiliária foi uma das mais afetadas, por conta do chamado reconhecimento de receita. É esperada alguma novidade para o setor em 2013?

Paul Sutcliffe • Há uma norma sobre reconhecimento de receita que está em audiência pública e será publicada já em 2013. O atual texto deixa várias dúvidas para a indústria imobiliária. Ao ler a norma, muitas pessoas acham que a transferência de riscos e benefícios continua sendo um critério para reconhecer receita, principalmente em contratos de longo prazo. Elas acreditam que a nova norma permite o reconhecimento da receita ao longo da obra. Outras pessoas pensam que a norma permitirá esse reconhecimento na entrega das chaves. Diante desse fato, a equipe global da Ernst & Young enviou, em julho do ano passado, um comentário de dezenas de páginas para o IASB (International Accounting Standards Board), responsável pela publicação e atualização das normas IFRS. Com os inputs que receber, o IASB deve decidir o que pode fazer para melhorar o entendimento da norma final. Pelo menos, é a nossa esperança.

O excesso de informação

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Assurance Journal • O que esperar da aplicação do IFRS em 2012 e 2013? Há tendências que já podem ser observadas?

Paul Sutcliffe • 2012 não foi um ano com novidades significativas referentes às normas IFRS. Acredito que agora é uma grande oportunidade para as empresas respirarem fundo e entenderem como podem melhorar o reporte das informações financeiras, aplicar as últimas mudanças, rever as divulgações do IASB e fazer as DFs de uma maneira mais simplificada. Em termos gerais, seria importante que as empresas colhessem mais informações relacionadas às demonstrações financeiras.

Assurance Journal • A pesquisa também conclui que as normas de Instrumentos Financeiros (CPC 38, 39 e 40) são as que mais geram dúvidas entre os profissionais de contabilidade. Por qual motivo isso ocorreu?

Paul Sutcliffe • Essas normas causam controvérsias porque o sistema financeiro é muito complexo. Os profissionais precisam aprender a aplicar conceitos e princípios gerais a respeito de um tema que envolve muitas variáveis. Além disso, a literatura que trata do assunto é densa e complicada. Outra regra que gerou dúvidas entre os profissionais de contabilidade foi referente à nova forma de cálculo do ágio, um erro bastante frequente observado nas demonstrações financeiras. Acredito que as pessoas precisam se aprofundar mais no assunto, ler bastante e aprender o conteúdo dessas normas para evitar erros.

Assurance Journal • Como você avalia a qualificação da mão de obra no Brasil? A falta dela é uma barreira a ser superada para a adoção das normas IFRS no País?

Paul Sutcliffe • O problema está em treinar esses profissionais. As empresas precisam fazer mais treinamentos, e novos estudos sobre o assunto precisam ser elaborados

e publicados. Por isso fizemos esse estudo. Há necessidade de qualificar melhor esses profissionais, mas não só isso. Temos de ter mais material, livros e publicações em língua portuguesa sobre o assunto. Faltam material de estudo para o público brasileiro e também bons profissionais que possam ensinar o conteúdo. Apesar desses entraves, os profissionais de contabilidade sempre mostraram garra e interesse em aprender. Não tenho dúvida de que esses profissionais conseguirão atingir um grau de conhecimento satisfatório.

Assurance Journal • Você acredita que treinar esses profissionais com os do setor financeiro poderia ser uma solução?

Paul Sutcliffe • Com certeza seria útil, mas quem domina o conhecimento do IFRS ainda é um número restrito de pessoas. Por isso, há necessidade de fazermos mais intercâmbio no exterior e fazer com que os profissionais adquiram um profundo conhecimento nesse tema. No decorrer desses anos, o perfil do contador vem mudando. Ele deverá cada vez mais ter uma participação mais ativa nas decisões da empresa, mostrar disponibilidade para uma aprendizagem contínua e compreender os negócios da companhia como um todo.

Assurance Journal • A adoção do IFRS proporciona maior segurança às empresas que querem se expandir geograficamente, seja por meio de parcerias no exterior, seja por representações ou negócios com fornecedores de outros países. Você acredita que a adoção do IFRS vai ajudar no desenvolvimento da economia do Brasil no longo prazo?

Paul Sutcliffe • Logicamente, quando as empresas utilizam um sistema financeiro que apresenta um entendimento mundial, as empresas têm uma possibilidade maior de expandir seus negócios para além de suas fronteiras originais. Se a intenção delas é fazer negócios no exterior, a adoção do IFRS só vai ajudar. n

Quando as empresas

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A adoção do padrão internacional IFRS no Brasil tinha como objetivo tornar os balanços e resultados mais informativos e mais representativos da realidade econômica das empresas. Em razão disso, houve em 2011 um grande aumento no volume das informações prestadas, principalmente via notas explicativas. O problema está no excesso dessas notas, já que, aparentemente, está havendo exageros nas interpretações das exigências do que deve ser reportado e do que não precisa.

Pode-se dizer que existe, talvez, um excesso de palavras e ainda falta de informação por parte das empresas. Há notas explicativas que simplesmente descrevem os Pronunciamentos Técnicos em vez de só se reportar ao que a empresa efetivamente aplica; tem sido muitas vezes dada a mesma importância às notas de práticas contábeis relevantes para a companhia, porque se aplicam a elementos patrimoniais de grande montante, quanto às notas que se referem a valores bem menos relevantes. Também tem havido muita qualificação do que ocorre, quando o importante é mostrar o que ocorre.

Acredito que todos deveriam parar para pensar no que está escrito no item B2 do IFRS 12 e que, na realidade, vale para todas as divulgações: “B2 - A entidade deve decidir, à luz de suas circunstâncias, o quanto de detalhe deve fornecer para satisfazer as necessidades de informações dos usuários, quanta ênfase deve colocar nos diferentes aspectos das exigências e como agregar as informações. É necessário alcançar um equilíbrio entre sobrecarregar as demonstrações contábeis com detalhes excessivos, que podem não auxiliar os usuários de demonstrações contábeis, e omitir informações como resultado da excessiva agregação”. A simples observância a esses princípios seria suficiente para uma grande redução do volumoso conjunto de hoje das demonstrações financeiras em muitas companhias.

Alguns levantamentos na União Europeia mostram que lá foram quatro anos para que os níveis de

reelaborações e reapresentações de demonstrações financeiras, incluindo as voluntárias, voltassem ao que eram antes da adoção das normas IFRS. Ou seja, estamos ainda na metade desse tempo, o que mostra que o processo de aprendizado vai ainda continuar.

Parece que quando aplicamos reavaliação no Brasil, por exemplo, com a Lei das SAs de 1976, não houve uma grande gama de variações de entendimentos. Também não houve uma enormidade de diferenças quando começamos a publicar a Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (aliás, neste último caso, diferenças persistiram até 2007, último ano de sua adoção obrigatória). Ou quando tivemos de fazer a aplicação dos ajustes de exercícios anteriores e do conceito de Resultados de Exercícios Anteriores (nossa, quantos problemas à época). E assim podemos citar muitos outros exemplos. Ocorre que isso já faz tempo e nos esquecemos dessas situações; ou então a maior parte dos profissionais nem passou por isso.

Os julgamentos e as interpretações estão realmente maiores porque estamos adotando diversas práticas novas de uma vez, às quais não estávamos acostumados. Mas isso é totalmente normal e era esperado.

Há algumas alterações que poderão ser significativas para algumas empresas em 2013, como no caso de investimentos em joint ventures. Mas as tendências, acredito, serão no sentido de um certo enxugamento dos volumes divulgados, melhor qualidade nas estimativas e aumento das informações que ainda estão sem a divulgação necessária. E os desafios serão os de sempre quando se adotam as normas IFRS: “Estas demonstrações evidenciam da melhor maneira possível o estado patrimonial da empresa nesta data e as mutações no último período?”. Essa deveria sempre ser a pergunta do controlador, do gestor, do contador e do auditor. Só se evolui perseguindo essa melhoria. n

ativosEstamos na metade do processoPor Eliseu Martins*

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*Eliseu Martins | professor da USP - Fipecafi

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Cinco anos após ser eleito o melhor jogador do mundo e atingir o ápice de 65 milhões de euros em valor de mercado, Ricardo Izecson dos Santos, o Kaká, entrou em uma fase difícil na carreira. Do auge como estrela do Milan, o brasileiro teve um fraco desempenho com o Brasil na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, tornou-se coadjuvante de luxo em seu novo time, o Real Madrid, e passou a conviver com uma série de contusões que o tiraram dos principais jogos da equipe e, consequentemente, o alijaram da seleção brasileira. O resultado é que, em 2012, seu valor de mercado despencou para 17,2 milhões de euros, queda de 74% diante ao que valia em 2007.

A compreensão da mensuração do “ativo Kaká” passa por análises que envolvem fatores objetivos, subjetivos e as expectativas em relação ao seu futuro nos campos de futebol. Entram nessa conta desde o desempenho em fundamentos básicos (cabeceio, chutes a gol, lançamentos), passando por qualidade técnica e encantamento (dribles, qualidade do passe quando pressionado pelo adversário), até aspectos como disciplina, espírito de equipe, conquistas, experiência internacional, número de clubes que defendeu na carreira, condição clínica, retorno de marketing e relação com a torcida.

“O mercado de atletas, sobretudo de jogadores de futebol, é subjetivo e carece de um mínimo de referência para investidores e patrocinadores poderem balizar uma valuation. O jogador de futebol, até pelas questões de direitos econômicos, representa um ativo”, explica Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri Consultoria, empresa com sede em Curitiba cujo escopo é trazer elementos de análises econômico-financeiras para aferir o valor de mercado de atletas.

A composição do valor de um atleta é um tema que ganhou força nos últimos anos, sobretudo nos mercados da Europa e dos Estados Unidos, e que cada vez se torna mais relevante no Brasil pela proximidade com as duas maiores competições esportivas do planeta: a Copa do Mundo da Fifa, em 2014, e os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. A leitura de que um atleta também representa um

Desempenho de atletas integra cálculos feitos por clubes e empresários do setor com o objetivo de chegar a um ‘preço’ justo, no caso de uma negociação. Entenda quais fatores impactam essa avaliação

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ainda são muito subjetivos, e a dificuldade em acertar um valor justo recai sobre a própria percepção de compradores e vendedores, ou ainda de dois clubes concorrentes, no momento de negociar um atleta. “Os critérios de precificação talvez sejam mais subjetivos dos que os de uma avaliação de empresa, já que neste caso assumimos premissas comprováveis e observáveis. A previsibilidade é maior do que simplesmente o comportamento humano de um atleta ou um risco de lesão que nunca teve e pode vir a ter. O risco nesse caso é muito maior”, pondera.

No caso da Pluri Consultoria, responsável pela avaliação de Kaká, a metodologia envolve uma composição de valor

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ativo, aliada à crescente necessidade de se buscar um valor justo para o investimento, impactará não apenas o valor de salários e luvas que o atleta negociará em uma eventual transferência, mas quanto investidores e patrocinadores desembolsarão naquele ativo específico, bem como o impacto de seu desempenho dentro e fora do esporte nas futuras demonstrações financeiras dessas empresas.

Os Jogos Olímpicos de Londres são um bom exemplo. Nem bem terminou a edição de 2012 e os preparativos para a etapa brasileira da competição já estão a todo vapor. Até o momento, faltando quatro anos para a competição, o evento já tem patrocínio oficial de seis empresas nacionais: Bradesco,

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Ernst & Young Terco, Bradesco Seguros, Nissan, Claro e Embratel. Parece precipitado, mas esses grupos já perceberam que ligar marcas consagradas com a centenária competição esportiva traz benefícios econômicos e comerciais no curto prazo que impactam positivamente os negócios.

No caso de Londres, que contou com 42 patrocinadores e desembolsos próximos a 1 bilhão de libras (R$ 3,5 bilhões), uma pesquisa conduzida pela Havas Sports & Entertainment (HS&E) com amostras separadas de mil moradores da capital britânica aponta para um aumento entre 20% e 50% na percepção positiva dos consumidores em relação aos patrocinadores. Intitulada “Olympic Sponsorship Study”, a pesquisa indica que, após a marca se aliar aos Jogos, há cerca de 50% mais chances de o consumidor a considerar “confiável” e “inspiradora”, além de 25% mais propensão a avaliar os patrocinadores como “admiráveis”. De mais concreto, há a evidência de que 50% dos consumidores estão dispostos a comprar algum produto do patrocinador oficial.

A pesquisa da HS&E continuará ao longo de 2013, em nove diferentes etapas, buscando medir o impacto dos patrocínios nas vendas e na imagem dessas empresas, um ano após o término da competição. Os números preliminares positivos, ao indicarem ganhos às empresas que se aliam a competições ou atletas, não levantam duas das principais questões a ser levadas em consideração antes de qualquer investimento: como escolher em quem investir e como avaliar o risco-retorno desse investimento?

Otavio Bachir, da área de Valuation da Ernst & Young Terco, explica que os critérios utilizados para precificação de atletas

feita por fatores objetivos, subjetivos e expectativas, em um total de 15 critérios que posteriormente são subdivididos em 64 categorias. Com um estudo em mãos, o investidor ou patrocinador pode entender por que um jogador como Hulk, avaliado em 39 milhões de euros, foi vendido há menos de um mês por 55 milhões, preço atual de mercado de Neymar, a grande esperança do Brasil para a próxima Copa do Mundo. No caso, o investidor que apostar em Hulk deve levar em consideração o chamado “efeito vitrine”, ou seja, o fato de o jogador já atuar na Europa, ser consagrado e contar com características valiosas para aquele público, como resistência e bom chute. “Sem contar que ele foi para a Rússia, um mercado periférico. Faz sentido o prêmio de 40% pago pelo seu novo clube”, interpreta Ferreira.

Pesquisas de mercado mostram que um atleta atinge o auge do valor de mercado na faixa entre 26 e 27 anos. A partir dos 28 anos, e sobretudo depois dos 30, é necessária uma análise caso a caso, já que há uma natural “pressão de baixa” e o processo de desvalorização do atleta é acelerado. O interesse do investidor também cai porque percebe que a chance de retorno (uma negociação futura) é menor e o risco (uma contusão que encerre a carreira do atleta) é maior. Para os patrocinadores, com poucas exceções, a capacidade de retorno de marketing e de venda de produtos também se deteriora.

Ferreira entende que, assim como acontece no dia a dia das empresas com investimentos em qualquer outro ativo, é necessário adotar critérios objetivos de mensuração de um atleta. O especialista classifica como extremamente amador um mercado que movimenta recursos tão volumosos

O mercado de atletas, sobretudo de jogadores de futebol, é subjetivo e carece de um mínimo de referência para investidores e patrocinadores poderem balizar uma valuation. O jogador de futebol, até pelas questões de direitos econômicos, representa um ativo”Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri Consultoria

não ter qualquer baliza de preços objetiva ou no mínimo um referencial de preços.

A crítica é indiretamente voltada para os clubes de futebol brasileiros, que ainda não se habituaram a utilizar mecanismos de valuation e outras métricas de retorno de investimento para a instituição, investidores e patrocinadores, levando em conta o impacto de determinado jogador em aspectos intangíveis como aumento da torcida, de venda de camisas ou de produtos licenciados. Tome como exemplo o caso do São Paulo Futebol Clube, que por nove meses buscou um patrocínio máster para sua camisa com valores em torno de R$ 50 milhões. Fechou recentemente com a fabricante de eletroeletrônicos Semp-Toshiba por metade do preço. “O mercado de patrocínio é diferente e leva em consideração risco e retorno. Se o clube não mostrar os benefícios de uma maneira quantificada, terá um patrocínio bem abaixo do que poderia”, conta.

A mensuração do valor de um atleta, bem como a análise de risco-retorno desse investimento, acabará por influenciar a forma como essas aplicações refletirão nos balanços financeiros dos envolvidos. No caso do patrocinador, a conta é mais fácil porque o registro basicamente segue o contrato que estipula quanto a empresa desembolsa por aquele determinado ativo – incluindo eventuais prêmios.

No caso dos clubes, até há pouco tempo não existia uma padronização contábil. Simone Lahorgue Nunes, sócia do Levy & Salomão Advogados, explica que, em 2004, a Resolução 1.005 do Conselho Federal de Contabilidade estabeleceu regras para o registro de ativos intangíveis (os jogadores) pelas entidades esportivas, em linha com uma alteração da chamada Lei Pelé, de 2002, que estabelece que as demonstrações financeiras das entidades esportivas precisam ser auditadas (artigo 46A).

A norma trouxe novidades na forma de registro dos direitos econômicos dos atletas e na estruturação das demonstrações contábeis. “Todos os custos com a formação dos cerca de 170 atletas de nossa categoria de base, como alimentação, fisioterapia e acomodação, entre outros, fazem parte do nosso balanço. Temos o controle de custos individualizado de quanto custa cada atleta”, relata Paulo Salerno, responsável há 25 anos pelo departamento contábil do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (RS).

Salerno refere-se a um artigo da norma que estabelece que os valores gastos diretamente com a formação de atletas devem ser registrados no ativo imobilizado, em conta específica para esse fim. Quando da profissionalização do atleta, os custos devem ser transferidos para a conta específica de atleta formado, para amortização no resultado do exercício pelo prazo contratual firmado. A norma determina que, no encerramento do exercício, no mínimo,

deve ser avaliada a possibilidade de recuperação econômico-financeira do valor líquido contábil do custo de formação de cada atleta registrado no imobilizado. Além disso, os direitos contratuais registrados no ativo imobilizado devem ser amortizados de acordo com o prazo do contrato.

Simone Lahorgue atenta para alguns detalhes no momento de registro do atleta. Seja formado nas categorias de base ou vindo de outro clube, todo atleta deve ter um vínculo federativo com o clube, um vínculo meramente trabalhista, que será registrado na federação esportiva da qual faz parte aquela entidade. O vínculo econômico, ou direito econômico (que representa quanto custa um atleta), é o que transforma o atleta em ativo do clube. “Mas em algum momento esse vínculo pode se descolar. O clube pode não ter que registrar como benefício futuro daquele jogador o direito econômico, que pode estar nas mãos, em parte ou na totalidade, do investidor”, explica.

A advogada classifica as mudanças na Lei Pelé e a publicação da norma do CFC como “marcos”, mas ressalta a importância de uma melhor padronização no registro desses custos pelos diversos clubes brasileiros. Isso porque os clubes seguem as normas vigentes, mas cada um as interpreta de maneira diferente. Um dos principais gargalos ainda recai no registro do valor da marca do clube. Variáveis influenciam na questão de avaliação dos ativos, tanto no patrocinador quanto no próprio clube. Um jogador com vínculo com um clube obviamente influencia nas bilheterias e na venda de produtos licenciados – em suma, no intangível “marca” do clube.

A dificuldade do registro desse intangível se deve a uma série de direitos ligados que são mais intangíveis ainda. Como avaliar quanto um jogador como Neymar aumenta o valor do licenciamento de uma marca ou quantas pessoas passarão a comprar mais camisetas do clube? É difícil apurar, até porque existem os altos e baixos da carreira. “O registro contábil dessas oscilações torna isso muito volátil”, explica Simone, que considera que não existe um ativo intangível tão complexo quanto um jogador.

Ferreira, da Pluri, também conta que é muito comum os clubes contabilizarem em seus balanços o valor de um atleta com base não nos direitos econômicos, mas no preço de sua multa contratual, que na prática funciona como uma indenização para o clube em caso de quebra de contrato e transferência do atleta para outra agremiação. Um erro absurdo, diz, uma vez que a multa não foi criada para gerar parâmetro de valor, mas para proteger o clube de uma oferta hostil. Para ele, a tendência no Brasil é seguir os passos de países como a Inglaterra, mais avançados na avaliação desses tipos de ativos. “É como em uma negociação de compra e venda de empresa, de uma fusão e aquisição. Chegará o momento em que dificilmente haverá negociação de valor sem que as partes contratem um serviço de valuation”, opina. n 9

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Empresas brasileiras reforçam departamentos financeirosdemandas por esses profissionais em 19 países, o Brasil perdeu apenas para a China e os Emirados Árabes Unidos na oferta de vagas. Na média global, a perspectiva é de estabilidade e a tendência é de a maioria das empresas manterem suas equipes nos próximos meses. Em países como a França, entretanto, 31% das empresas planejavam até mesmo demitir funcionários desses departamentos em 2012.

Os motivos que colocam o Brasil em um patamar de destaque na pauta de contratações são diversos. O primeiro e mais evidente é o cenário econômico interno. De acordo com o governo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deverá ser de 3% a 4% em 2013 – o que é considerado um luxo em face das perspectivas de nova recessão nas economias da zona do euro e da ainda cambaleante recuperação da economia norte-americana.

Enquanto empresas europeias falam em demissões em seus departamentos financeiros, companhias com atuação no Brasil - muitas com matrizes sediadas em países severamente afetados pela crise - relatam que as principais razões para o aumento das contratações são a expansão dos negócios e, por consequência, o aumento na carga de trabalho. “Ao contrário do Brasil, ao analisarmos o desempenho dos escritórios da Robert Half globalmente, notamos um ritmo menos acelerado de contratações impactando os departamentos financeiros. Há um enxugamento de custos pela visão tradicional de que eles não geram receitas para as empresas”, afirma Hayakawa.

Economia brasileira à parte, outras razões apontam para o reforço desses departamentos. O fator “complexidade

O levantamento mais recente da Right Management, consultoria especializada em gestão de talentos e carreiras que pertence ao ManpowerGroup, mostra que o total de novas vagas criadas para profissionais da área financeira nas corporações brasileiras cresceu 16,89% de janeiro a junho de 2012, em comparação com igual período do ano passado. O aumento foi menor apenas do que na área comercial (alta de 28,33%) e maior do que em outras áreas tradicionais como Recursos Humanos (crescimento de 7,31%). Na análise por setores, as empresas com atuação na área industrial absorveram a maior fatia das contratações desses profissionais (46%), seguidas pelo setor de serviços (30%).

O aumento de dois dígitos na oferta de vagas para profissionais como contadores, controladores e até mesmo CFOs, considerando o momento de incerteza econômica em que muitas empresas represam seus planos de investimentos - incluindo também os reforços de times -, não impressiona a consultora em transição de carreira da Right Management, Telma Guido. “O aumento de oportunidades na área financeira vem se apresentando ao longo dos anos. Não diria que é uma tendência, mas uma constância”, pontua a especialista.

Longe de representarem uma situação passageira, estatísticas como as da Right Management reforçam um movimento crescente de corporações

Em razão do aquecimento da economia, a demanda por profissionais das áreas de finanças e contabilidade deve seguir em alta. Na mira, estão contadores, controllers e até CFOs

de diversos segmentos da economia aumentando os investimentos em seus departamentos financeiros e fazendo, por tabela, com que profissionais da área de finanças e contabilidade estejam cada vez mais requisitados no mercado. Esse bom momento foi detectado ainda no primeiro semestre de 2012. Um levantamento da empresa norte-americana de recrutamento Robert Half com 2.528 executivos de finanças mostra que 49% das empresas com atuação no Brasil tinham o objetivo de aumentar suas equipes de finanças e contabilidade nos primeiros seis meses do ano.

O movimento não acontece por acaso. As transformações trazidas com a recessão global de 2008 fizeram com que profissionais como contadores e controllers passassem a ter uma importância estratégica que vai muito além dos departamentos financeiros, afinando cada vez mais a relação com a alta administração. “Antes havia a visão de que finanças e contabilidade eram áreas de suporte, e isso não acontece mais. Agora existe a imagem de que os profissionais dessas áreas são parceiros do negócio e precisam estar perto do core business da empresa. É uma tendência que se desenvolveu nos últimos anos e que se manterá pelos próximos anos”, pontua Danylo Hayakawa, gerente da Divisão de Finanças e Contabilidade do grupo Robert Half.

O estudo da empresa de recrutamento mostra que, na comparação das

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Empresas brasileiras reforçam departamentos financeiros

da operação” no Brasil, sobretudo na comparação com os Estados Unidos e a Europa, é cada vez mais levado em conta no momento da montagem ou do reforço dos times. É por essas razões que cresce cada vez mais a demanda por profissionais com conhecimentos de legislação societária, tax (área fiscal e tributária), auditoria e compliance e contadores afinados com as normas internacionais de contabilidade (IFRS, na sigla em inglês), adotadas oficialmente no Brasil há dois anos. Em outras palavras, as empresas nacionais já atentaram para o fato de que a legislação está cada vez mais complexa e é preciso estar atualizado, se reinventando, e preparado para um volume de trabalho cada vez maior e mais sofisticado.

A modernização da contabilidade brasileira, a maior participação das empresas brasileiras no mercado internacional, produtos financeiros e regulações cada vez mais sofisticadas não apenas trouxeram maiores desafios na gestão financeira das empresas brasileiras, como passaram a exigir profissionais cada vez mais preparados para lidar com um novo ambiente de negócios. O sócio de Auditoria da Ernst & Young Terco Gregory Gobetti pontua que existe uma demanda crescente por uma melhor gestão financeira e de riscos das empresas,

e consequentemente os departamentos financeiros precisam de profissionais capacitados para produzir análises mais efetivas e sofisticadas.

Ele cita como exemplo o IFRS, que passou a exigir das empresas uma série de disclosures, ou notas explicativas, que elencam uma série de aspectos da gestão financeira da empresa que antes nem sequer eram divulgados ao mercado.

Caminho sem voltaOutra razão para o reforço nos departamentos de finanças é o grande volume de fusões e aquisições envolvendo grandes grupos no Brasil nos últimos anos. “Quando há fusão ou aquisição o departamento financeiro é um dos mais afetados”, conta Telma Guido, da Right Management.

A ampliação dos times de finanças e contabilidade deve se manter aquecida pelo menos nos próximos cinco anos, período em que o País será alvo de investimentos em diferentes setores. Na conta entram todos os investimentos dos Jogos Olímpicos, da Copa do Mundo de 2014, sem contar os vultosos planos de expansão de empresas de setores como óleo e gás e construção civil. Para 2013, as perspectivas - calcadas em um desempenho melhor da economia brasileira - são otimistas. “Muitas multinacionais americanas com negócios no Brasil, por exemplo, iniciarão seus planos de contratação e de negócios que estavam em banho-maria. A perspectiva é de mercado aquecido para cinco anos”, diz Hayakawa, da Robert Half.

A pesquisa da Robert Half mostra que a maior demanda das empresas se dá por profissionais da área contábil. Um detalhe chama a atenção: 39% das empresas entrevistadas reclamaram da falta de pessoal para preencher

essas funções. Os dois cenários – alta demanda e baixa oferta – não surpreendem o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícia, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), José Maria Chapina Alcazar.

Segundo Alcazar, com o avanço tecnológico e a implantação de mecanismos como o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), a adoção da nota fiscal eletrônica, o aumento da fiscalização e a queda na informalidade, muitas empresas de pequeno e médio porte passaram a mirar as melhores práticas das grandes corporações, e a contabilidade se tornou um instrumento estratégico de avaliação e medição de resultados. Não há mais espaço para erros e amadorismo nas empresas, diz Alcazar, para quem a alta demanda deve-se, sobretudo, a fatores técnicos, uma vez que uma simples falha operacional na contabilidade que não for consistente com a administração pode gerar multas pesadas que inviabilizariam um negócio.

O cenário leva a outra constatação do presidente do Sescon-SP: há uma demanda crescente por profissionais de excelência e uma oferta qualificada ainda muito pequena. Além do alto grau de especialização exigido pelas empresas, outro fator que desequilibra oferta e demanda é o ainda insípido número de profissionais formados anualmente pelas cerca de 1.200 faculdades com cursos de ciências contábeis no Brasil.

São aproximadamente 24 mil novos profissionais graduados todos os anos. Para Alcazar, é preciso, pelo menos, triplicar esse número para estabilizar a relação oferta-demanda. “A realidade é que um bom profissional de contabilidade não fica desempregado sequer uma hora”, finaliza. n

Muitas multinacionais americanas com negócios no Brasil, por exemplo, iniciarão seus planos de contratação e de negócios que estavam em banho-maria. A perspectiva é de mercado aquecido para cinco anos”

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Mais agilidade no julgamento do Cade O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) prevê que passará a julgar os processos que recebe, em média, em 40 dias. Vinícius Carvalho, presidente do órgão, fez essa afirmação ao realizar um balanço dos primeiros meses de vigência da aplicação da nova Lei do Cade. Caso o órgão ultrapasse o prazo máximo definido pela nova lei, que é de 240 dias – prorrogáveis por mais 90 –, as operações poderão ser aprovadas de forma automática. Ao menos essa é a intenção de Carvalho, completando que isso deverá acontecer mesmo com o início da realização dos julgamentos dos casos mais complexos. Pela lei anterior, as companhias notificavam o órgão após ocorridas fusões e aquisições e, em alguns casos mais complexos, demorava cerca de dois anos para haver o julgamento. n

Você já pode ter acesso a mais de 500 publicações (entre estudos, newsletters e levantamentos) produzidos pela Ernst & Young em seu celular ou tablet. Basta baixar o aplicativo EY Insights, disponível para aparelhos móveis que utilizam os sistemas operacionais Android ou iOS (Apple). O conteúdo do aplicativo é atualizado constantemente com as últimas tendências nos mercados global e local e, entre as publicações que podem

ser encontradas, estão Competing for Growth, DNA of the CFO, Exceptional e Capital Confidence Barometer. Os usuários têm ainda a opção de personalizar o aplicativo, priorizando por assunto, indústria ou área geográfica de seu interesse, e até de entrar em contato com os profissionais responsáveis pela produção de determinado conteúdo, de forma a obter mais informações. Saiba mais em: www.ey.com/br/apps n

A norma contábil do IFRS sobre seguros será submetida mais uma vez a audiência pública antes de sua publicação final. A decisão foi do IASB, que colocará em discussão o texto relacionado à contabilidade de contratos de seguros, com destaque para o tema referente à conta de “outros resultados abrangentes”, que fica dentro do patrimônio líquido.

Isto é, será discutida a maneira como são realizados e apresentados os lançamentos nessa conta. “Essa minuta é polêmica porque propõe, entre outras mudanças, alterações fundamentais no cálculo das obrigações atuariais relativas a tais contratos, bem como na lógica de reconhecimento de seus resultados ao longo do tempo. No entanto, o cerne da polêmica reside mesmo sobre a mensuração e o reconhecimento do valor justo das provisões técnicas de seguros. Até uma posição definitiva, espera-se que as discussões se prolonguem ainda mais”, pondera Ricardo Pacheco, sócio de Advisory da Ernst & Young Terco.

“O cronograma para a entrada em vigor do novo padrão contábil trabalha com uma data tentativa para o início do ano de 2015”, finaliza. n

Norma contábil do IFRS voltará para discussão

Ernst & Young Terco na ponta dos dedos

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O método pelo qual os bancos podem admitir de forma antecipada todas as perdas calculadas com base na concessão de empréstimos de difícil recuperação está sendo duramente criticado pelo International Accounting Standards Board (IASB). A nova abordagem pode fazer com que as instituições financeiras reduzam a concessão de empréstimos e ampliem os lucros por meio do corte de novos créditos. Tudo isso, segundo o IASB, em um período de adversidade financeira global. Ainda de acordo com o órgão internacional, os bancos deveriam reservar provisões para as perdas previstas com seus empréstimos no ano e desenvolver baixas contábeis mais irrefutáveis no caso de surgirem evidências específicas de inadimplência. n

Nova regra para banco gera críticas

Duas minutas de deliberação que aprovam pronunciamentos técnicos – o CPC 19 (Negócios em Conjunto) e o CPC 35 (Demonstrações Separadas) – foram emitidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Com relação ao CPC 19, a norma inclui compatibilizações de texto buscando produzir os mesmos reflexos contábeis que a aplicação do IFRS 11 (joint arrangements).

“O CPC 19 vai impactar bastante a forma como as DFs de entidades controladas em conjunto são reconhecidas pelos empreendedores. Antes de sua aprovação, adotávamos a consolidação proporcional e, agora, será pelo método de equivalência patrimonial. Em suma, os números deixam de ser consolidados linha a linha e passa-se a reconhecer somente uma linha de investimento no balanço e uma linha de equivalência patrimonial do resultado. É uma mudança grande para o mercado, analistas e bancos, e vai afetar principalmente as incorporadoras, as imobiliárias e a indústria de óleo e gás”, diz Silvio Takahashi, diretor executivo de Auditoria da Ernst & Young Terco.

Já para o CPC 35, o objetivo é garantir a produção dos mesmos reflexos contábeis que a aplicação da IAS 27 (separate financial statements). n

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Concorrência para auditoria externa no Reino Unido

O Financial Reporting Council (FRC) – responsável pela regulamentação das empresas de capital aberto no Reino Unido – divulgou documento recomendando que as companhias de grande porte façam concorrência a cada período de dez anos para a contratação de auditoria externa. A autoridade britânica sugere que sejam formados comitês compostos por três conselheiros independentes para supervisionar a alternância das empresas de auditoria nesse período. Essa orientação não tem de ser seguida, mas a companhia que se recusar terá de prestar explicações. É o que eles chamam de “pratique ou explique”. No Brasil e na Itália, o rodízio de auditores é obrigatório. No restante da Europa, sua obrigatoriedade ainda está sendo discutida – e o prazo em análise é de seis ou nove anos. n

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A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pretende aperfeiçoar a fiscalização das pequenas corretoras de valores e distribuidoras de valores mobiliários e de títulos que operam por meio da utilização de serviços de corretoras maiores. De acordo com a CVM, existem atualmente 106 corretoras no mercado - entre pequeno, médio e grande porte. Com essa medida, a CVM busca oferecer maior segurança aos investidores e saber, entre outras coisas, se esses players do mercado estão fazendo corretamente os registros de ordens. O órgão afirmou ainda que o aumento da fiscalização poderá se refletir em aumento de custos para essas instituições financeiras, mas que o tema será levado ao Banco Central. n

Até novembro, as empresas puderam enviar seus comentários sobre o IFRS – Informações por Segmento, para o IASB. A revisão teve o objetivo de obter um feedback das empresas para saber se a norma está funcionando como previsto. Além disso, o órgão buscou obter informações sobre os desafios e os custos associados à implementação da regra.

“Integro um grupo de trabalho do Comitê de Pronunciamentos Contábeis no Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e, nos últimos meses, observamos que esse tema vem sendo discutido com cuidado não só no Brasil como em todos os países onde o IFRS é aplicado. A razão é simples: sua aplicação tem sido onerosa e trabalhosa para as empresas, as quais nem sempre fornecem informações reais”, relata Silvio Takahashi, diretor executivo de Auditoria da Ernst & Young Terco.

Desde 2007, o IASB é obrigado a realizar revisões pós-implementação de cada nova norma que emite ou a cada alteração expressiva que realiza no texto, com o intuito de utilizar os comentários para aperfeiçoar a sua metodologia em revisões futuras. n

IFRS 8 sob consulta pública

Cade avalia mudança na lei para fundos de investimentoApós reclamações de que a nova regra para fundos de investimento é muito ampla, o Cade estuda fazer algumas alterações. De acordo com a recente regulamentação, os fundos precisam avisar o órgão caso o cotista ou o gestor do fundo possua receita acima de R$ 750 milhões. O Cade está colhendo dúvidas recebidas por entidades do mercado de capitais e advogados com o intuito de esclarecê-las e, conforme for, irá avaliar alteração na lei. Segundo a autoridade antitruste, foram notificados 41 casos depois da entrada em vigor da nova lei, sendo que 17 envolveram fundos de investimento. O prazo médio foi de 17 dias para cada decisão. Também há a possibilidade de o órgão fazer mudanças em relação aos fundos de venture capital. n

De olho nas pequenas corretoras e distribuidoras de títulos

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Na metade do ano passado, foi observada uma queda no número de fusões e aquisições no Brasil, devido à vigência da nova Lei de Concorrência do Cade. Isso porque muitas empresas ficaram receosas em relação ao funcionamento dessas novas regras. Mas agora a conjunção de alguns fatores está mudando esse cenário, fazendo com que o volume de transações seja retomado: um maior conhecimento da nova lei e o maior crescimento econômico do País – gerado pela queda da taxa de juros, realização de grandes obras de infraestrutura e dos megaeventos. Desde a entrada em vigor da Lei 12.529 em maio, foram apresentados à autoridade antitruste 37 casos de fusões e aquisições, dos quais 21 foram aprovados, em média, em 18 dias. n

Número de fusões deverá crescer

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Fundos sustentáveis na mira dos investidores

Estudo comprova que a rentabilidade dos investimentos sustentáveis é igual – ou mesmo superior – à dos fundos tradicionais no longo prazo

Por Felipe Datt

Está comprovado: alinhar o bolso com princípios socioambientais é, sim, uma tarefa possível. A constatação é fruto de uma tese de mestrado de um estudante do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead) da UFRJ, que avaliou risco e retorno de 11 fundos de investimento que têm em comum a seleção de ativos sob critérios socioambientais ao longo de 60 meses – entre janeiro de 2006 e dezembro de 2010. O resultado é que há evidências de que a rentabilidade desses fundos é pelo menos igual à dos fundos tradicionais, se não maior, no longo prazo.

“É um empate técnico, à semelhança das margens de erro estatístico das eleições”, resume Celso Lemme, professor do Coppead e orientador da tese de mestrado. Para entender a teoria do “empate”, tome como exemplo os números mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), os quais apontam que, de janeiro a agosto de 2012, os fundos de ações da categoria de sustentabilidade e governança renderam 13,69%, muito mais do que o dobro do Ibovespa tradicional – que cresceram 5,55%.

Os números acima mostram que os fundos socialmente responsáveis têm grande vantagem sobre os que seguem índices gerais do mercado acionário. Na teoria de Lemme, essa leitura é equivalente à do copo “metade cheio”, por abranger um período de análise bastante curto. “Analisando outros períodos, encontraremos ganhos em determinados momentos – como agora – e perdas em outros, mas sem relevância tanto em um caso quanto no outro”, afirma. Como prova, nos cinco anos que compreenderam o período da pesquisa do Coppead, o retorno médio mensal ajustado ao risco dos fundos de investimentos socialmente responsáveis (ISR) foi de 1,52%, pouco acima do verificado nos fundos Ibovespa (1,38%).

A equivalência na relação de risco e retorno dos ISR na comparação com fundos tradicionais é o que Lemme classifica como a “boa notícia” do estudo.

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Na prática, significa dizer que, se por um lado o investidor que tem como princípios questões ambientais, sociais e éticas não encontra uma prova clara de que investir em empresas socialmente engajadas traz ganhos muito superiores em suas aplicações, ao mesmo tempo também inexiste qualquer evidência de perdas financeiras relevantes. O resultado livra o investidor da principal preocupação que ele poderia ter: a de que ao tentar alinhar princípios socioambientais às decisões de investimentos ele estaria perdendo dinheiro. Ao mesmo tempo, abre espaço para investidores tradicionais começarem a considerar em suas estratégias de investimento aplicações em modelos de negócios com visão de longo prazo envolvendo seus impactos na sociedade e no meio ambiente.

A tese de mestrado do estudante Dimas Hartz Pinto, orientada por Lemme, segue a linha de uma série de estudos internacionais sobre o tema envolvendo os mercados norte-americano, europeu e até mesmo o australiano e que foram analisados na pesquisa do Coppead. Alguns desses levantamentos indicam vantagem para os fundos socialmente responsáveis diante dos fundos de ações tradicionais. Outros estudos mostram que os fundos sociais são perdedores e alguns apontam - caso da pesquisa do Coppead - para uma indiferença estatística nos resultados. Em suma, os resultados flutuam dependendo do período de amostragem, do país ou dos países analisados, e do momento da economia dos players que fazem parte da amostragem.

Lemme entende que o resultado de “empate técnico” na rentabilidade de fundos socialmente responsáveis

perante os tradicionais é um sinal para que o investidor brasileiro comece a considerar aplicar em ações de empresas que têm em temas como sustentabilidade, meio ambiente e sociedade seu norte na administração. Nos Estados Unidos, 11% das carteiras administradas por gestão profissional de fundos de ações estão nessa categoria, algo em torno de US$ 1 a cada US$ 9 aplicados. Na Europa, esse percentual chega a 17%. No Brasil, não existem sequer estatísticas para medir a participação desses fundos no total da indústria - ainda é considerado um mercado de nicho.

Uma das explicações para a ainda baixa popularidade desses fundos é seu relativo pouco tempo no mercado. O mais antigo – Ethical, do Santander – completou dez anos recentemente. Foi seguido, em 2004, pelo Excelência Social, do Itaú. O grande marco para esse segmento no Brasil foi a estreia do ISE, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa, em 2005, que logo se tornou referência para os outros fundos no mercado.

Em suma, um mercado que ainda engatinha. “A experiência com esse tipo de investimento, particularmente no Brasil, mas em geral no mundo, é ainda curta e pode ser que a incapacidade de diferenciar resultados decorra do horizonte de tempo”, pontua Lemme.

Um dos desafios para a popularização desses fundos no Brasil é desfazer a preocupação ou “o quase preconceito” da comunidade financeira com esse tipo de investimento. Ao mostrar que a relação risco-retorno dos fundos socialmente responsáveis não difere de outros produtos do mercado, o estudo

do Coppead busca apontar para os investidores - e gestores - no Brasil que essa preocupação parece exagerada.

Lemme entende que um argumento válido para quem ainda tem restrições em investimentos em papéis de empresas socialmente engajadas é que não se trata de restringir o investimento mantendo um mesmo padrão de risco. Na prática, empresas que se anteciparam a questões éticas, sociais e ambientais em suas plataformas de negócios estão alterando suas próprias gestões de risco. “Elas estão reduzindo suas exposições de longo prazo a riscos com clientes, fornecedores, com as comunidades no entorno da operação e com os órgãos reguladores. Não se trata de manter um padrão de risco e restringir a escolha do que investir, mas de incorporar nas carteiras dos investidores um novo conceito de gestão de risco”, resume.

Mercado traz desafios O desempenho dos fundos sustentáveis em 2008, no auge da crise financeira internacional, mostra outra vantagem adicional: esses fundos mostraram-se menos voláteis do que os pares tradicionais em momentos instáveis. Para Celso Lemme, ainda é preciso mais tempo e pesquisa, mas há indícios que sinalizam que o gerenciamento do risco de empresas engajadas em questões sociais e ambientais, e consequentemente das carteiras socialmente responsáveis, pode representar uma boa alternativa para investimentos de gestão de longo prazo. Nos momentos de turbulência essas empresas se protegem melhor, e isso é uma mensagem importante para os investidores. “Nos EUA, esse tipo de investimento não apenas cresceu mais do que o investimento tradicional, como aumentou em momentos em que o outro estagnou, como a crise de 2008”, diz.

A maior parte dos investidores – pessoas físicas com pequenas carteiras de ações ou mesmo os gestores profissionais – ainda mantém certa distância e desconfiança em relação a esses papéis. Compatibilizar modelos de negócios com a evolução da sociedade, de um lado, e mostrar que esses modelos podem representar mais oportunidades de ganhos do que riscos é outro desafio do setor. O sucesso

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Nos cinco anos que compreenderam o período da pesquisa do Coppead, o retorno médio mensal ajustado ao risco dos fundos de investimentos socialmente responsáveis (ISR) foi de 1,52%, pouco acima do verificado nos fundos Ibovespa (1,38%)”

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da empreitada passa, necessariamente, pela própria atuação das empresas.

Lemme explica que muitos gestores e analistas de investimentos ainda não incorporaram as questões éticas e ambientais em seus laudos de valuation (avaliação) das empresas. Segundo ele, a educação do investidor e do analista para entender a forma de incorporar e tratar essas questões sociais e éticas no seu processo de montagem de carteiras é tão importante quanto as empresas fornecerem informações consistentes de forma a embasar - qualitativamente e quantitativamente - essas decisões.

“A tendência é de popularização desses fundos, em um processo natural de composição do que é valor para o acionista. Hoje ainda estamos muito focados no valor financeiro, mas conforme os temas socioambientais avançam, outros fatores passarão a compor essa geração de valor. É um processo de amadurecimento”, avalia Zunara Carvalho, sócia de Program Management & Sustainability da Ernst & Young Terco.

De fato, um estudo de 2005 do Fórum Econômico Mundial, batizado de Mainstreaming Responsible Investment, apontou quais são as barreiras para que investidores, analistas e gestores possam separar o joio do trigo, ou seja, detectar as empresas que têm iniciativas socioambientais inseridas no modelo de negócio como vantagem competitiva e estratégica em meio àquelas que apostam na sustentabilidade apenas como ação de marketing. A conclusão é que é preciso melhorar a qualidade das informações fornecidas ao mercado, que precisam ser mais específicas, detalhadas, quantificadas, com consistência no tempo, e não apenas informações pontuais sobre projetos isolados.

Sete anos após a publicação do relatório, é fato que a adoção de reportes que integram a contabilidade das corporações ao desempenho nas áreas social, ambiental e de governança ainda está em estágio inicial, mas já caminha para ganhar caráter oficial. O programa-piloto de relatórios integrados do International Integrated Reporting Council (IIRC), ONG que defende o reporte de indicadores como emissão de gases, tratamento

de resíduos e consumo de água e energia nas corporações, foi lançado em 2011 com 50 grandes empresas globais. No Brasil, a representante é a fabricante de cosméticos Natura. A expectativa é que a integração dos relatórios aconteça oficialmente na virada de 2013 para 2014.

Além da integração dos relatórios, a unificação de ciclos de divulgação é de vital importância, explica Zunara, para auxiliar o investidor ou acionista em seu processo de decisão. A publicação de demonstrações financeiras de empresas abertas, por exemplo, no primeiro trimestre de cada ano fiscal, deve vir acompanhada dos relatórios de sustentabilidade. “Se esse relatório for divulgado mais tarde, o investidor nem sequer vai procurar essa informação”, sinaliza.

Enquanto um modelo de relatórios integrados não é definido, algumas ações pontuais já são testadas no Brasil. O Banco Central colocou em consulta pública, recentemente, o Edital 41, que visa desenvolver políticas socioambientais e implantar um relatório de responsabilidade socioambiental por parte das instituições financeiras reguladas pelo BC. Na mesma linha, a BM&FBovespa divulgou recentemente os resultados do programa “Relate ou Explique”, iniciativa que busca estimular as empresas listadas a reportar aos acionistas informações relacionadas à sustentabilidade. De um total de 448 empresas de capital aberto analisadas, 96 publicam relatórios de sustentabilidade ou similares (21,43%); 107 não publicam, mas explicaram por que não o fazem (23,88%); e 245 não se manifestaram (54,69%).

Mais do que a necessidade dos reportes sustentáveis, a qualidade das informações também começa a ser questionada. A Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) começa em breve a selecionar relatórios para a terceira edição do estudo “Rumo à Credibilidade”, com previsão de publicação em 2013. As duas primeiras edições – em 2008 e 2010 – apontam para uma melhora significativa na qualidade dos relatórios de sustentabilidade, mas ainda

colocam as empresas brasileiras em um patamar inferior na comparação com suas pares internacionais.

No ranking do último estudo a Natura aparece na liderança, ao lado de um número significativo de empresas de energia, refletindo tanto os requisitos regulatórios quanto as iniciativas setoriais. No top 10 o destaque é a presença de empresas de menor porte, que não lideram seus setores da economia, caso da Celulose Irani, em nono lugar na classificação geral de melhores relatórios.

A diretora-executiva da FBDS, Clarissa Lins, explica que a conclusão dos estudos até o momento é que cada vez mais as empresas brasileiras estão cientes da necessidade de relatar de forma ordenada suas informações “não financeiras”. Entretanto, um número ainda pequeno atenta para a qualidade desses relatos. Para ela, o ponto fraco ainda está na falta de foco nas questões materiais, ou seja, nos aspectos mais relevantes para o negócio e os acionistas. “Os relatórios querem abordar todas as ações socioambientais, benfeitorias e iniciativas de voluntariado, em vez de representar uma discussão dos impactos que a empresa gera nas comunidades e, portanto, dos riscos que ela está efetivamente gerenciando”, finaliza. n

Nos EUA, esse tipo de investimento não apenas cresceu mais do que o investimento tradicional, como aumentou em momentos em que o outro estagnou, como a crise de 2008”

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Mercado de auditoria independente no Brasil

A obrigatoriedade de auditoria independente sobre as demonstrações financeiras é um conceito bastante difundido no mundo como uma forma de incentivar as boas práticas de governança corporativa, prover maior transparência aos dados financeiros divulgados no mercado, ou até mesmo auxiliar as autoridades fiscais na fiscalização do recolhimento de tributos. Tomando-se somente dois países como exemplo, Reino Unido e Canadá, a importância dada ao processo de auditoria se torna bastante clara. No Reino Unido, cerca de 225 mil empresas tiveram seus números auditados, enquanto que, no Canadá, 155 mil empresas foram auditadas nos anos de 2009 e 2010.

A obrigatoriedade das companhias terem suas demonstrações financeiras auditadas no Brasil se resume basicamente às companhias de capital aberto e registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), às instituições reguladas pelo Banco Central do Brasil (Bacen), Superintendência de Seguros Privados (Susep), e às empresas consideradas de grande porte pela Lei no 11.638/07, que apresentem total de ativos superior a R$ 240 milhões ou faturamento bruto anual superior a R$ 300 milhões. Cabe lembrar que, embora não seja obrigatório, muitas empresas multinacionais com

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Por Silvio Takahashi Diretor de Auditoria da Ernst & Young Terco

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Mercado de auditoria independente no Brasil

subsidiária no Brasil requerem que os auditores corporativos executem auditoria ou determinados procedimentos de revisão nos relatórios submetidos à matriz para consolidação.

Existem atualmente no Brasil 525 companhias de capital aberto listadas na BM&FBovespa, 123 entidades reguladas pelo Banco Central, 116 seguradoras reguladas pela Susep, e em torno de 1.000 empresas de grande porte segundo o critério da Lei no 11.638. Esses números dão ideia do tamanho do mercado de auditoria obrigatória no Brasil. Considerando as incertezas no mercado mundial, não se espera que o número de registros na CVM aumente de forma substancial no curto prazo, embora as perspectivas para que ocorram mais ofertas públicas de ações no futuro ainda sejam favoráveis.

Da mesma forma, embora em um ritmo mais lento, o País continua recebendo um montante considerável de investimento estrangeiro (cerca de R$ 8,4 bilhões em julho de 2012), constituído em parte por investimentos de fundos de private equity aplicados na aquisição de empresas emergentes, que, via de regra, passam a ser auditadas.

Esses dados podem demonstrar uma aparente limitação à penetração do

trabalho de auditoria independente. No entanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conceitua empresa de grande porte como sendo aquela que possui mais de 100 funcionários. Seguindo-se esse critério, segundo o último levantamento do IBGE, de 2009, havia 32.000 empresas de grande porte no Brasil, comparado com 15.000 empresas em 2002. Esse vultoso crescimento se deu em função do crescimento médio do Produto Interno Bruto de 4,6% ao ano somente no período de 2005 a 2008.

Em termos práticos, as firmas de auditoria no Brasil possuem um imenso mercado a ser explorado, notadamente entre as pequenas e médias empresas, que também adotaram as normas internacionais de contabilidade específicas para seu porte, denominadas CPC para pequenas e médias empresas (CPC PME), e que não possuem obrigatoriedade legal de serem auditadas. Esse pronunciamento, em vigor desde 2010, ainda não está plenamente difundido entre os profissionais da área contábil e usuários das demonstrações financeiras, o que faz com que o papel do auditor independente seja ainda mais importante para sedimentação de seus conceitos no mercado.

Por outro lado, as firmas de auditoria devem entender as necessidades de

seus potenciais clientes. Nem todas as pequenas e médias empresas apresentam condições ou preparam demonstrações financeiras auditáveis, de forma que o escopo dos serviços pode variar, incluindo serviços como diagnóstico contábil, assessoria em governança corporativa, auxílio em transações corporativas e emissão de títulos públicos, ou trabalhos de identificação de riscos. Mantidos os requisitos de independência profissional, esses serviços podem pavimentar o caminho para que haja um futuro trabalho de auditoria das demonstrações financeiras.

Uma questão final que poderia ser levantada seria se o Brasil é “um país pouco auditado”. Comparativamente a outros países, o alcance da auditoria obrigatória é bastante restrito, conforme demonstrado nos dados acima, mas também há serviços - que vão além da auditoria de demonstrações financeiras - que o auditor pode prestar às entidades com o intuito de disseminar boas práticas de governança e auxiliar potenciais investidores, provedores de linhas de crédito, fornecedores e usuários em geral a terem acesso a informações financeiras adequadas. Esses serviços aumentarão ainda mais a percepção da importância da auditoria na sociedade. n

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