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127 PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DE ORIENTAÇÃO TUTELAR * **Márcia Cristina Greco Ohuschi RESUMO: O artigo relata uma experiência de orientação tutelar com alunos pré-vestibulandos, interferindo pessoalmente em cada texto produzido e refletindo sobre suas alterações, a partir da metodologia de seleção de argumentos, aprofundamendo com explicações e exemplificações pessoais, sempre extrapolando o texto de apoio. Os resultados demonstraram que a interven- ção do professor cria uma metodologia eficaz no ensino de produção de texto, propiciando ao aluno a possibilidade de reconhecer suas dificuldades e ao professor a reflexão sobre sua prática pedagógica no trato com o texto. PALAVRAS-CHAVE: Produção de textos; orientação tutelar; ensino. ABSTRACT: The article pictures a tutorial guidance experience with students preparing for university entrance examinations, personally interfering in each text produced, and reflecting about the alterations made, from the start point of argument selection methodology, improving it with explanations and personal exampling, going beyond the original text. The results have shown that the intervention of the teacher creates an efficient methodology in the text production teaching, giving the students the possibility of recognizing their difficulties and the teacher a chance to reflect about his pedagogical practice in dealing with the text. KEY-WORDS: Text production; tutorial guidance; teaching. Considerações iniciais O interesse em realizar este trabalho surgiu no decorrer da experiência docente num curso de redação preparatório para concurso vestibular, numa escola não-regular, situada em Maringá–PR. Observando-se que alguns alunos desse curso possuíam grande dificuldade em expor suas idéias nos textos dissertativos e que, conseqüentemente, não obteriam uma boa nota na prova de Redação do concurso vestibular, propôs-se adotar a metodologia de orientação tutelar, para detectar quais eram as carências dos textos desses alunos e poder ajudá-los a superá-las através de intervenções com aulas particulares. Com essa metodologia, diferente da utilizada numa sala de aula comum, em que o professor é impossibilitado de atender, individualmente, seus alunos, pôde-se realizar intervenções para apontar os problemas encontrados nos textos produzidos pelos sujeitos da pesquisa, bem como orientá-los em como poderiam solucionar esses problemas, propondo-lhes a reestruturação de seus textos através da reescrita. MATHESIS - Rev. de Educação - v. 5, n. 1 - p. 127 - 148 - jan./jun. 2004

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Page 1: Assim, aqui são relatadas essas experiências, analisando ... · na prova de Redação do concurso vestibular, ... assunto, tema e enfoque temático; ... o qual abordava o assunto

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PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DEORIENTAÇÃO TUTELAR*

**Márcia Cristina Greco Ohuschi

RESUMO: O artigo relata uma experiência de orientação tutelar com alunos pré-vestibulandos,interferindo pessoalmente em cada texto produzido e refletindo sobre suas alterações, a partirda metodologia de seleção de argumentos, aprofundamendo com explicações e exemplificaçõespessoais, sempre extrapolando o texto de apoio. Os resultados demonstraram que a interven-ção do professor cria uma metodologia eficaz no ensino de produção de texto, propiciando aoaluno a possibilidade de reconhecer suas dificuldades e ao professor a reflexão sobre suaprática pedagógica no trato com o texto.PALAVRAS-CHAVE: Produção de textos; orientação tutelar; ensino.

ABSTRACT: The article pictures a tutorial guidance experience with students preparing foruniversity entrance examinations, personally interfering in each text produced, and reflectingabout the alterations made, from the start point of argument selection methodology, improvingit with explanations and personal exampling, going beyond the original text. The results haveshown that the intervention of the teacher creates an efficient methodology in the text productionteaching, giving the students the possibility of recognizing their difficulties and the teacher achance to reflect about his pedagogical practice in dealing with the text.KEY-WORDS: Text production; tutorial guidance; teaching.

Considerações iniciais

O interesse em realizar este trabalho surgiu no decorrer da experiênciadocente num curso de redação preparatório para concurso vestibular, numaescola não-regular, situada em Maringá–PR. Observando-se que algunsalunos desse curso possuíam grande dificuldade em expor suas idéias nostextos dissertativos e que, conseqüentemente, não obteriam uma boa notana prova de Redação do concurso vestibular, propôs-se adotar ametodologia de orientação tutelar, para detectar quais eram as carênciasdos textos desses alunos e poder ajudá-los a superá-las através deintervenções com aulas particulares.

Com essa metodologia, diferente da utilizada numa sala de aula comum,em que o professor é impossibilitado de atender, individualmente, seus alunos,pôde-se realizar intervenções para apontar os problemas encontrados nostextos produzidos pelos sujeitos da pesquisa, bem como orientá-los em comopoderiam solucionar esses problemas, propondo-lhes a reestruturação deseus textos através da reescrita.

MATHESIS - Rev. de Educação - v. 5, n. 1 - p. 127 - 148 - jan./jun. 2004

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Assim, aqui são relatadas essas experiências, analisando-se os textosproduzidos nessa situação específica.

A produção textual na escola

Assim como o mundo sofre constantes transformações (mudançastecnológicas, culturais, políticas etc.), o ensino também precisou evoluir paraser capaz de formar cidadãos críticos e criativos, prontos para enfrentaremesse mundo, cada vez mais competitivo. Com essa evolução, de acordocom Marinho (1997), repensou-se o modo de ensinar a Língua Portuguesanas escolas. Propôs-se o seu ensino não mais centrado na teoria gramatical(ensino de metalinguagens) e sim nas práticas de leitura e produção textual.Segundo Geraldi (1997), essa transformação ocorreu a partir da década de80, época em que surgiram várias pesquisas voltadas para a sala de aula,discutindo-se o estabelecimento de uma interação social, e propondo-se odiscurso e o texto como unidades de ensino.

Desta forma, Geraldi (1993) declara que por meio do discurso, oaluno pode expressar seu ponto de vista sobre o mundo e, por meio dotexto, aprender a língua materna. Por isso, ele considera “a produção detextos (orais e escritos) como ponto de partida (e ponto de chegada) detodo o processo de ensino/aprendizado da língua”(p.135). Assim, o textodeve ser a base da língua materna, sendo que Geraldi (1997) o define comoo lugar das correlações, isto é, da intertextualidade, a qual proporcionará osurgimento de novos textos.

Os novos textos produzidos pelos alunos eram conhecidos nas escolasapenas como redação. Há pouco tempo, passou-se a utilizar a terminologiaprodução textual. Geraldi (1993, p.136) as difere no âmbito escolar,declarando que na redação “produzem-se textos para a escola”e na produçãotextual “produzem-se textos na escola”. Isto significa que naquela o alunoescrevia para o professor ler e este não era o sujeito Idea; já nesta espera-se que o aluno escreva algo para alguém ler, num processo de ir e vir.

A esse processo, Geraldi (1993, p. 136) apresenta as condições deprodução do texto, ou seja, fatores indispensáveis para se produzir um texto.Assim, é necessário que:

a) “Se tenha o que dizer”, ou seja, que o aluno transmita a sua visãosobre o tema proposto a partir de suas experiências de vida;

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b) “Se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer”, isto é, porque está dizendo aquilo, o que dependerá dos valores que traz consigo;

c) “Se tenha para quem dizer o que se tem a dizer”, um interlocutor,que no caso do texto produzido na escola é o professor;

d) “O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que dizpara quem diz”, que se comprometa com o que diz, utilizando argumentosconcretos para comprovar o que está dizendo;

e) “Se escolham estratégias para realizar (a), (b), (c ) e (d)”. Essasestratégias dependerão da intenção do produtor.

Na escola, o professor deverá propiciar uma reflexão sobre ascondições de produção do texto, além de motivar os alunos a escrever,como propõe Marinho (1997), levando-os a pensar sobre os temas,realizando levantamento de idéias, promovendo discussões etc. Ele não devemais se colocar como simples avaliador dos textos de seus alunos. Naredação, os textos corrigidos são devolvidos sem ao menos seremcomentados. Na produção textual, segundo Geraldi (1993, p.164), oprofessor deve apontar “caminhos possíveis para o aluno dizer o que querdizer na forma como escolheu.”

Entretanto, sabe-se que em uma sala de aula com uma média de 40alunos esse trabalho torna-se muito difícil. Portanto, de acordo com Marinho(1997, p. 91) o professor “deve definir os critérios qualitativos para a análisedos mesmos, explicá-los aos alunos e, [...] usar marcas gráficas convencionaisque se refiram tanto a seu aspecto formal, quanto a seu aspecto conceitual”,possibilitando, assim, o trabalho de revisão e reescrita.

Esse trabalho, denominado processo de refacção do texto, é de sumaimportância para a formação de produtores de textos, pois, conformeexpõem os PCNs (Brasil, 1998, p. 97) “permite que o aluno se distanciede seu próprio texto, de maneira a poder atuar sobre ele criticamente,possibilita que o professor possa elaborar atividades e exercícios queforneçam os instrumentos lingüísticos para o aluno poder revisar o texto”.

Desta forma, o objetivo dessa técnica é que o aluno aprenda areestruturar seu texto, com a ajuda do professor, adquirindo, assim, noçõespráticas de revisão que os levam, aos poucos, à autocorreção. Porém, nãobasta apenas o processo de refacção para se formar produtores de textos.

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Segundo Geraldi (1993, p. 160), é preciso que se recupere professor ealunos como sujeitos “que compartilham, no discurso de sala de aula,contribuições exploratórias na construção do conhecimento.” Segundo oautor, a necessidade dessas mudanças deve-se ao fato de ainda existirem,na escola, diálogos proporcionados com mero intuito de aferição dasrespostas, em que a contribuição do aluno é desqualificada, pois só cabemas respostas prontas. Conseqüentemente, o aluno conclui que só se deveresponder quando se tem a resposta desejada pelo professor, o detentor dosaber, aquele que tem sempre a primeira e a última palavra.

Para Meserani (1995), os textos escolares possuem o discurso doprofessor como modelo básico, pois os alunos optam pelo que o professorgosta e fixam, além dos conteúdos apresentados por ele, a sua estruturaformal, ou seja, seu estilo, principalmente nos textos dissertativos, que é ogênero da aula. Assim, de tanto ouvir e reproduzir nos cadernos as aulas, oaluno acaba encaixando seus textos dentro desses modelos, ficando preso aeles, não conseguindo produzir uma redação criativa, pelo contrário, produzum “discurso vazio”. Por isso, a recuperação de ambos os sujeitos sugeridapor Geraldi é um ponto fundamental para se conseguir reverter esse quadro,formando cidadãos capazes de produzir textos dessa natureza na escola,produzindo seus próprios textos, desde cedo, mesmo que estes não sejamgrafados de forma convencional.

Para se formar escritores competentes, supõe-se “uma práticacontinuada de produção de textos na sala de aula, situações de produçãode uma grande variedade de textos de fato e uma aproximação dascondições de produção às circunstâncias nas quais se produzem essestextos” (BRASIL, 1997, p. 58).

O contexto da pesquisa

A escola, em que a pesquisa foi realizada, situa-se em um bairro declasse média/baixa de Maringá-PR e, portanto, atende principalmente a estaclientela. Trata-se de uma escola de línguas, em que predominam cursos deLíngua Inglesa. No entanto, ela também oferece cursos de gramática, alémdo curso de redação preparatório para concurso vestibular, através do qualpôde-se realizar esta pesquisa.

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Esse curso foi realizado aos sábados, com duração de 1 hora e 30minutos, com o objetivo de proporcionar, aos alunos, o desenvolvimento dehabilidades de composição de textos dissertativos e narrativos, visandoespecificamente o concurso vestibular.

No programa do curso, constavam os seguintes conteúdos: etapas doprocesso de leitura; assunto, tema e enfoque temático; construção deparágrafos; coesão e coerência textuais; estruturas dos textos narrativo edissertativo; breve estudo sobre alguns aspectos gramaticais. O embasamentoteórico foi retirado de livros de redação, de Lingüística Textual, assim comode estudos de Menegassi & Zanini (1997), os quais norteiam a planilha deavaliação do vestibular da UEM. A metodologia utilizada contemplavaatividades de exposição, exercícios e debates sobre textos a serem estudadoscomo motivação para produção de novos textos, os quais eram corrigidos edesenvolvidos com notas, de acordo com a planilha proposta por Menegassi& Zanini (1997), além de anotações e comentários da professora, a qual setornou autora e pesquisadora.

Os alunos participantes

Esta pesquisa foi realizada com dois alunos (A., F.). A aluna A. tinhadezoito anos e cursava o 3º ano do Ensino Médio em uma escola da RedePública em Maringá. Ela nunca havia prestado vestibular e almejava umavaga no curso de Letras-Licenciatura Plena, pois era formada em LínguaInglesa (tendo cursado por 9 anos) e já era professora de inglês, ministravaaulas para crianças e adolescentes. Interessou-se pelo curso de Redaçãopara aprender a construir textos dissertativos, pois possuía apenas algumasnoções que adquirira na Língua Inglesa, as quais não eram específicas para aprova de Redação do Concurso Vestibular.

A aluna F. tinha dezessete anos e cursava o 3º ano do Ensino Médio,também em escola da Rede Pública. Assim como A., nunca havia prestadovestibular, no entanto almejava uma vaga no curso de História. Ela nuncahavia feito um curso extracurricular e não trabalhava. Interessou-se pelo cursode redação por apresentar dificuldades na construção de textos e por nãoconcordar com as notas altas que tirava nas redações da escola.

Neste artigo, apenas serão utilizados exemplos da aluna A.

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Instrumentos de pesquisa

Utilizaram-se três temas para a construção das redações, os quais,além de não serem considerados de difícil compreensão, por serem assuntosdo cotidiano, foram temas recentes do Concurso Vestibular da UniversidadeEstadual de Maringá.

O primeiro texto trabalhado foi Atração Perigosa (Tema 1 doConcurso Vestibular Verão 2002 da UEM), o qual abordava o assunto sobreautomedicação. O texto foi trabalhado após algumas atividades de pré-leitura,dentre elas, a apresentação de um vídeo com uma propaganda demedicamentos da marca Zurita, feita pelo apresentador Raul Gil, em seuprograma de televisão do dia 10/08/02.

O segundo texto foi Alerta Geral (tema 1 do Concurso VestibularVerão 2001), sobre a influência da televisão nos finais de semana, o qual foiprecedido por um texto não-verbal Quem te viu, quem te TV, charge deCaulos, extraída da obra de Gilberto Dimenstein: Aprendiz do Futuro:cidadania hoje e amanhã (1998) e pelos textos A televisão – uma novaEra, A importância da televisão e A televisão e você extraídos de umaapostila de Redação do Curso Águia Pré-Vestibular - Maringá PR. - osquais apresentavam diferentes pontos de vista sobre o assunto televisão.

O terceiro texto foi Comida é o que não falta (Tema 2 do ConcursoVestibular Verão 2002) sobre o desperdício de alimentos, precedido pelotexto A fome (Melhem Adas, 1988).

Com esses textos de apoio, pretendeu-se oferecer ao aluno umvislumbre do tema, fazendo-o evocar, em seu acervo pessoal, dadosrelacionados ao assunto, para que pudessem construir textos criativos.

As orientações tutelares

A orientação tutelar consiste em atendimentos específicos e individuaisque visam mostrar, aos alunos, as dificuldades apresentadas em seus textose orientá-los em como solucioná-las. Desta forma, o educando pode sanarsuas dúvidas e contar com as intervenções e sugestões do orientador. Este,por sua vez, além de auxiliá-lo, tem a oportunidade de conhecer melhor suasdificuldades e fobias pessoais frente à construção de um texto, o que contribuicom o direcionamento de seu trabalho.

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Sabe-se, no entanto, que em uma sala de aula comum, o professorfica impossibilitado de adotar esse tipo de metodologia, pois não consegueorientar, individualmente, os quarenta alunos que aproximadamente possuiem cada turma. Contudo, ele não deve se isentar de sua responsabilidadede orientar e ajudar seus alunos a sanarem suas dúvidas. Cabe a eleprocurar a melhor estratégia de intervenção, podendo ser através deanotações, desde que sejam claras e eficientes, análise da reescrita eacompanhamento do processo da aprendizagem, sendo o mediador daconstrução do conhecimento e da formação de produtores de textos.

Assim, após a avaliação das redações sobre o tema AtraçãoPerigosa, ocorreu a primeira orientação tutelar. Esses primeiros textosserviram de “pré-teste” para a pesquisa, pois com eles pôde-se levantarquais eram as maiores dificuldades apresentadas e conhecer em que nívelos alunos estavam como produtores de seus discursos. Esse encontro foicoletivo e teve a duração de 30 minutos, em que a pesquisadora mostrou,em forma de tópicos, todos os argumentos utilizados em cada uma dasredações. Desta forma, fê-los perceber a grande quantidade deargumentos que utilizaram para a construção de seus textos, mostrandoque não mantinham relações entre si, ficando soltos nos textos, e queeram tratados de forma superficial, não mantendo consistência naargumentação. Após essa conversa, a pesquisadora propôs, aos sujeitos,que fizessem novos textos e solicitou-lhes que selecionassem apenas umdos argumentos, ou dois, caso fossem extraídos do texto de apoio, e queos explicassem a partir de seu conhecimento de mundo, relatando exemplosde sua vida pessoal de seu convívio social, como forma de permitir efacilitar a exposição dos argumentos. Também lhes mostrou a importânciado processo de refacção do texto, cujo objetivo é aprender a reestruturaros textos, em princípio com a ajuda do orientador, para adquirirem noçõespráticas de revisão que, aos poucos, os levariam à autocorreção.

Os demais encontros, com suas orientações, seguiram omesmo esquema.

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Levantamento dos argumentos discutidos na primeira intervenção

O levantamento dos argumentos do texto produzido a partir do tema“Atração Perigosa” foi realizado durante um momento de discussão e reflexãosobre o assunto, do qual obteve-se o seguinte resultado (proveniente dagravação e transcrição das falas):

Argumentos dapesquisadora

Farmacêutico semformação.

Indicação de leigos.

Lançamento dosgenéricos.

Indicação do similar.

Médico da família.

Influência da mídia(Vídeo).

Medicina natural(raizeiros).

Argumentos do textode apoio

O brasileiro exageranos remédios.

Deficiência do sistemapúblico de saúde.

Prática daempurroterapia.

Vocação do brasileiropela pajelança.

Falta de fiscalizaçãoeficaz.

No Brasil, há 3 milfarmácias porhabitantes.

A automedicação éuma praga.

Argumentos daaluna A.

Como não se consegueconsulta no SUS, procura-se o farmacêutico.

Algumas pré-escolas nãopossuem pedagogas,como acontece com asfarmácias.

“Meu pai toma remédio,por conta, todos os dias(...) se não tomar, ficadoente.”

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Levantamento dos argumentos inseridos nas redações

Avaliando-se as redações, realizou-se um levantamento dos argumentosque cada aluno inseriu em seu texto, observando se estes foram coletadosda apresentação da pesquisadora, do texto de apoio, do discurso do produtorou do discurso dos colegas.

ARGUMENTOS UTILIZADOS NA REDAÇÃO DA ALUNA A.

Esses quadros comprovam que os sujeitos optaram pelos argumentos

coletados na apresentação da pesquisadora. Isso comprova que ainda

escrevem para o professor, pois, segundo Meserani (1995), na escola, os

alunos optam pelo que o professor gosta e ainda fixam a sua estrutura formal

e o seu estilo, não conseguindo produzir uma redação original e criativa, o

que acarreta na produção de “discursos vazios”.

Observa-se também que a quantidade de argumentos inseridos nos

textos é muito grande, por isso foram tratados de forma superficial, além de

serem apenas lançados no texto, não mantendo relações entre si, como

pode ser exemplificado com a redação da aluna A.

Argumentos dotexto de apoio

Sistema público desaúde.

Fiscalização.

Argumentos dapesquisadora

Indicação de leigos.

Influência da mídia(vídeo).

Genéricos.

Raizeiros.

Argumentos daaluna A.

NÃO UTILIZOU

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Redação da aluna A - Primeira versão

As conseqüências são grandes

Cada vez que nos sentimos um pouco indispostos corremos afarmácia mais próxima e compramos algum medicamento indicadopor um vizinho, amigo, farmacêutico ou os que mais aparecem namídia. Porém não nos lembramos, que quem deve receitar algumtipo de medicamento deve se um médico, sendo assim nosautomedicamos sem percebermos o mal que isso pode nos causar.

A mídia tem grande influência neste processo deautomedicação pois primeiramente apresentam o remédio e depoisexibem a frase: se os sintomas persistirem, o médico deverá serconsultado, sendo que a frase deveria ser: Procure orientaçãomédica ANTES de tomar qualquer tipo de medicamento. Pois aautomedicação pode acarretar grandes consequências para o nossoorganismo.

Um outro grande problema que acarreta à automedicação éo Sistema Público de Saúde, o chamado SUS. Muitas vezes épreferível se automedicar, do que esperar por dias ou semanas paraser atendido pelo SUS. O pior é que quando somos atendidos,geralmente não existem vagas para internações e a grande falta demedicamentos é constante.

Como no Brasil a falta de fiscalização é grande, os genericos(deram um “mãozinha por serem mais baratos) e quaisquer outrosremédios podem ser adquiridos facilmente. Sem contar os chamados“raizeiros”que vendem vários tipos de “matos”como se fossemremédios e sem a fiscalização não podemos ter conhecimento dosmales que poderam trazer a nossa saúde.

A automedicação pode trazer nos problemas maiores do queos que já temos, sendo assim é melhor procurar um médico quandonão se sentir muito disposto ou estiver com algum problema de saúde.

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A aluna inicia sua redação com um exemplo de automedicação (linhas1-3), porém, percebe-se que se trata de uma paráfrase da introdução dotexto de apoio, construída a partir da seleção de suas expressões-chave(“foi até a farmácia”; “comprar um medicamento”; “receitado por um amigo”),acrescentando a indicação do farmacêutico e da mídia, os quais foramcoletados da apresentação da pesquisadora.

Ainda na introdução, há a tentativa de se introduzir uma tese (linhas 3-6), porém não adequada, pois não expressa o ponto de vista da aluna,apenas aponta o fato de que todo medicamento deve ser receitado pelomédico e que a automedicação pode causar males. Que males são esses? Aaluna não explica nem exemplifica tais males no decorrer do texto.

No segundo parágrafo, observa-se a retomada da questão da mídia(linhas 3-7), citada na introdução, no entanto, esse argumento não foi bemexplorado. Houve apenas uma tentativa de citação da advertência mostradano vídeo apresentado pela pesquisadora “Ao persistirem os sintomas, omédico deverá ser consultado”, seguida por uma sugestão de alteraçãodessa advertência (linhas 9-10), sem explicar o seu significado, ou seja,que as propagandas de medicamentos incentivam a automedicaçãoanteriormente à visita ao médico.

Na seqüência, termina o segundo parágrafo sem explicar ou exemplificarquais são as conseqüências da automedicação: “Pois a automedicação podeacarretar grandes conseqüências para o nosso organismo.” (linhas 11-13)

No terceiro parágrafo, tem-se um novo argumento, o qual se refere aosistema público de saúde (coletado do texto de apoio). Ao compará-lo como argumento anterior, percebe-se que este foi explicado com maior clareza,porém a aluna poderia ter se aprofundado mais, citando fatos ocorridos econseqüências. Percebe-se que o parágrafo aparece solto no texto, nãomantendo relações com os parágrafos anterior e posterior a ele. Trata-seapenas de uma idéia isolada e abordada superficialmente.

Isso também ocorre com o parágrafo seguinte (linhas 20-25), em quehá uma relação de causa (falta de fiscalização) e conseqüências (remédiosadquiridos facilmente; raizeiros receitam matos), contudo, esta relação étambém apenas lançada no texto. Assim, existem três idéias em um únicoparágrafo, mas todas sem exemplos ou maiores explicações, como a questão

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dos genéricos, a qual poderia ser um forte argumento, se tivesse sidoexplorada com mais eficiência. Nota-se ainda a falta de originalidade, poisdas três idéias apresentadas no parágrafo, duas foram coletadas daapresentação da pesquisadora durante as atividades prévias à escrita(medicamentos genéricos e medicina natural / raizeiros) e uma foi coletadado texto de apoio (fiscalização).

Na conclusão, nota-se que a aluna procurou retomar a suposta teseexposta na introdução: “A automedicação pode trazer nos problemas maioresdo que os que já temos, sendo assim é melhor procurar um médico quandonão se sentir muito disposto ou estiver com algum problema de saúde.” (linhas26-28), porém, além de não ser adequada, nota-se que fora extraída dosubtítulo do texto de apoio: “O brasileiro exagera nos remédios, consumindo-os sem consultar o médico e colocando a sua saúde em risco.”

Portanto, a aluna poderia ter elaborado melhor sua tese, deixando-amais explícita e, principalmente, retomando-a em todo o texto, através deuma argumentação sofisticada, que pudesse comprová-la e justificá-la, a fimde convencer o leitor sobre o seu ponto de vista.

Ao analisar o título, As conseqüências são grandes, questiona-se: queconseqüências são essas? A aluna não as explica no texto, apenas mencionaque são grandes, como pode ser observado nas linhas (4-6; 10-12; 23-25;26). Assim, mais uma vez, comprova-se a superficialidade encontrada no texto,pois não há nele nenhum exemplo de conseqüência da automedicação.

O texto contém muitos argumentos e, além de serem tratados de formasuperficial, não se apresentam interligados, portanto não mantêm um ajusteseqüencial de idéias, o que prejudica a consistência do raciocínio. Além disso,percebe-se a falta de originalidade, pois os argumentos que não foram extraídosdo texto de apoio foram coletados da apresentação da pesquisadora. Faltou,portanto, desenvolver suas idéias, através de seu conhecimento de mundo,utilizando-se explicações e exemplos do seu dia-a-dia.

Quanto à tipologia da dissertação, a qual ainda não havia sido estudadano curso de redação, observa-se que a aluna apresenta uma certa noção, jáque procura lançar uma idéia na introdução e retomá-la na conclusão, contudo,prejudica-se pela falta de argumentação sofisticada.

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A segunda redação sobre o tema da automedicação foi o resultado daprimeira orientação tutelar, cujo objetivo foi demonstrar a grande quantidadede argumentos utilizados no texto e a superficialidade em que foram tratados.Assim, o sujeito refez seu texto com o propósito de escolher apenas um dosargumentos, ou dois, caso fossem retirados do texto de apoio, e explicá-loscom exemplos do seu dia-a-dia, a fim de facilitar a exposição desses argumentosno texto. Trata-se, portanto, do resultado de uma refacção textual, etapa desuma importância no processo de ensino/aprendizagem, o qual poderá serobservado através da análise da segunda versão da redação da aluna A.:

As consequências podem ser grandes

Cada vez que nos sentimos um poucos indispostos corremos àfarmácia mais próxima e compramos algum medicamento indicadopor um vizinho amigo, farmacêutico ou os que mais aparecem namídia. Porém não nos lembramos que quem deve receitar algum tipode remédio deve ser um médico, sendo assim, nos automedicamossem perceber o mal que isso pode nos causar.

A mídia possui grande influência nesse processo deautomedicação, pois primeiramente apresenta o remédio e só depoisexibe a frase: “Se os sintomas persistirem, o médico deverá serconsultado”, assim, incentiva o consumidor a se automedicar antesde procurar o médico.

Um exemplo disso são as propagandas sobre resfriados egripes. Essas propagandas iludem os expectadores, além de fazercom que eles não procurem orientação médica antes de seautomedicar, fazem com que corram o risco de obter um problemamaior, pois muitas pessoas podem possuir alergia a alguns compostose não saber.

Portanto, a automedicação pode trazer-nos problemasmaiores do que os que já temos, sendo assim é melhor procurar ummédico quando não se sentir muito disposto ou estiver com algumproblema de saúde.

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Em princípio, não se observam alterações no texto, pois o conteúdoda introdução fora mantido em sua íntegra, portanto, não houve progressosna introdução do texto, nem na explicitação da tese.

No segundo parágrafo, a aluna mantém a mesma idéia e algumassentenças do segundo parágrafo da primeira versão, nota-se que houve umamelhora, pois explicou qual a relação da automedicação com a frase deadvertência que aparece nas propagandas de medicamentos. Assim, oargumento foi exposto de maneira mais clara para o leitor (linhas 7-11).

Observa-se, ainda, a exclusão do último período, que apenasmencionava as conseqüências da automedicação, as quais foram abordadasno parágrafo seguinte. Percebe-se também uma melhora em relação aoterceiro parágrafo, pois houve a exclusão do argumento sobre o sistemapúblico de saúde e inclusão de uma informação relacionada com a influênciada mídia (linhas 12-17). Nesse parágrafo, nota-se que a aluna procurouaprofundar-se em sua argumentação, trazendo um exemplo (propagandassobre resfriados e gripes), mostrando sua causa (iludir o expectador a seautomedicar) e conseqüência (correr o risco de possuir alergia aos compostosdo medicamento). Outro fator positivo desse parágrafo foi a sua ligaçãocom o parágrafo anterior, através de conectores “Um exemplo disso”, oque, além de contribuir com a coesão textual, ajuda a manter a consistênciado raciocínio, através de um ajuste seqüencial das idéias. Diferente da primeiraversão, cujos parágrafos apareciam totalmente soltos no texto.

Houve também a exclusão do quarto parágrafo da primeira versão, oqual abordava a falta de fiscalização, expondo as questões dos medicamentosgenéricos e da medicina natural. No entanto, não houve substituição desseparágrafo. A aluna poderia ter elaborado um quarto parágrafo paraaprofundar-se mais em sua argumentação sobre a influência da mídia noprocesso de automedicação.

Assim como a introdução, a conclusão do texto (linhas 18-21) tambémfoi mantida em sua íntegra, acrescentando apenas o conectivo “portanto”, oqual permitiu uma melhora na coesão textual, como comentado na análisedo terceiro parágrafo. Quanto à tese não houve progressos, uma vez que aaluna não alterou a introdução e a conclusão de seu texto.

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O título também continuou impertinente. Nota-se que a aluna apenasacrescentou um verbo, formando uma locução verbal “podem ser” queexpressa dúvida ou que expõe menos o autor. Contudo, apesar de seremexemplificadas no terceiro parágrafo, as conseqüências da automedicaçãonão aparecem em todo o texto. A aluna poderia ter relacionado seu títulocom a questão da mídia e o elaborado de forma que se tornasse convidativo,que atraísse o leitor.

Apesar de o texto ainda apresentar deficiências, houve progresso emrelação ao objetivo da primeira orientação tutelar, a aluna selecionou apenasum dos argumentos expostos na primeira versão, procurou explicá-lo melhore apresentar exemplos, além de manter uma certa coesão textual, o que nãoexistia no primeiro texto. Obviamente não se esperava uma melhora em 100%do texto, uma vez que esta só acontece quando o aluno toma consciência deseus erros. Por isso a importância das orientações tutelares, as quais auxiliarãoos alunos a desenvolver essa consciência.

Levantamento dos argumentos discutidos na segunda intervenção

Durante as atividades prévias à segunda produção textual, trabalhou-se com um texto não-verbal e três textos verbais, que abordavam diferentespontos de vista sobre o assunto televisão. Esses textos contribuíram com aatividade de discussão sobre o assunto, pois os alunos puderam aflorar suasidéias, tendo maior participação. Assim, a pesquisadora pôde inferir menose conduziu a discussão por meio de questionamentos, os quais levaram aaluna a refletir e falar mais sobre o assunto.

Após essa atividade, trabalhou-se o texto Alerta Geral, o qualserviu de texto de apoio para a produção da redação.

Após a atividade de discussão e reflexão sobre o assunto, realizou-se um levantamento dos argumentos, do qual obteve-se o resultado expostono quadro abaixo (proveniente da gravação e transcrição das falas).

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Levantamento dos argumentos inseridos nas redações

Assim como na primeira redação, realizou-se um levantamento dosargumentos que a aluna inseriu em seu texto, observando qual era a sua procedência.

Argumentos do textode apoio

Há um vírus nasprogramações televisivasde domingo.

O vírus causa sonolência,sensação de vazio, irritação,angústia, cara feia, mau-humor, impressão de que ofim de semana não aconteceue de que perdeu o tempo.

Deve-se reagir, saindo dafrente da TV e fazendoalgo de útil.

Argumentos dapesquisadora

O povo assiste aprogramas medíocresporque tratam de coisascorriqueiras, da realidade.

A TV transporta otelespectador de sua vidareal para um mundoimaginário, como nasnovelas sentimentais.

Enquanto o povo estáassistindo esses programas“vazios”, os preços docombustível, dos alimentosestão subindo

Argumentos daaluna A.

O homem está manipuladopela televisão.

A TV se tornou irresistível,pois traz divertimento.

A TV é um forte veículopara divulgar idéias.

Transmite divertimento semsair de casa.

A TV traz conseqüências paraas crianças, pois os programassão violentos.

Deveria haver maisprogramas culturais.

O Telecurso passa muitocedo e o Programa do Jô,muito tarde.

Os filmes do Domingo àtarde são sempre repetidos.

Assistimos bobagens aoinvés de ir ao bosque, na casade um amigo, ou passear.

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Argumentos utilizados na redação da aluna A

Com esses quadros, pode-se afirmar que houve um progresso, uma

vez que a aluna não inseriu os argumentos expostos pela pesquisadora, nem

os argumentos contidos no texto de apoio. Esse progresso pode ser apontado

com um dos resultados positivos da primeira orientação tutelar, pois a aluna

percebeu que deve extrapolar o texto de apoio e que não deve adotar o

discurso do professor como modelo básico para sua produção.

Levantamento dos argumentos discutidos na terceira intervenção

Para instigar os alunos sobre o assunto e contribuir com a discussão

sobre o tema proposto, trabalhou-se o texto A fome (Melhem, 1988) durante

as atividades prévias à terceira produção textual. Nesse texto, há um

questionamento sobre a aceitação do desperdício de uma minoria acarretando

a miséria da maioria. A partir desse questionamento, trabalhou-se o texto

Comida é o que não falta, que serviu como texto de apoio para a terceira

intervenção da pesquisadora.

Novamente, realizou-se um levantamento dos argumentos após a

discussão e reflexão sobre o assunto, o qual resultou no seguinte quadro:

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Levantamento dos argumentos inseridos nas redações

Mais uma vez, realizou-se um levantamento dos argumentos que cadaaluno inseriu em seu texto, verificando se foram abstraídos dos discursosapresentados no momento da discussão sobre o tema:

Argumentos utilizados na redação da aluna A.

Observa-se que o sujeito utilizou argumentos do texto de apoio, umavez que esse era muito rico em informações e que o comando da provapermitia que o aluno as utilizasse (principalmente os dados contidos no gráfico).Entretanto, esses dados deveriam servir apenas como um apoio para o alunoe não como fonte de seus principais argumentos, como se percebe nolevantamento dos argumentos inseridos na redação da aluna A., devido aogrande número de informações retiradas do texto de apoio.

Nota-se que o discurso da pesquisadora já não é a principal fonte derecursos para a aluna. Isso demonstra que os alunos estavam conseguindose desprender desse cordão umbilical e que estavam procurando escreveratravés de seu conhecimento de mundo, ou seja, utilizando a bagagem deinformações que trazem consigo.

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Considerações finais

Ao analisar a construção da argumentação nos textos dissertativos,pôde-se confirmar a afirmação de Garcia (1974) de que a argumentação éum fator indispensável para se persuadir o leitor, por isso, ela utiliza recursoslingüísticos que possibilitam uma construção mais retórica, como a utilizaçãode argumentos adequados que ofereçam credibilidade ao texto.

Dessa forma, verifica-se que esse aprendizado não se adquire de repente,mas é fruto de um processo contínuo do ensino/aprendizagem, o qual deveriaser adquirido na escola. Entretanto, trabalhando-se com alunos pré-vestibulandos, na verdade, egressos do Ensino Médio, observa-se a deficiênciada escola na formação de produtores de textos, pois os alunos produzemapenas “discursos vazios”, porque, conforme Meserani (1995), tomam odiscurso do professor como modelo básico, o que se pôde constatar duranteas análises das redações dos sujeitos. Logo, sabe-se que é difícil para essesalunos adquirirem, em curto prazo, aquilo que lhes fora privado no ensinoregular, mas, mesmo assim, pôde-se observar um grande progresso naargumentação de seus textos, que, certamente, foi fruto das orientações tutelares.

A partir das orientações tutelares, base metodológica da pesquisa, osalunos puderam, com a ajuda do orientador, tomar consciência de seusequívocos na construção textual, refletir sobre eles e procurar alternativaspara solucioná-los. Percebe-se, então, a importância da interferência doprofessor, o qual não deve se privar desse contato frente ao aluno, pois é omomento que lhe proporciona a possibilidade de crescimento. Contudo,sabe-se que devido ao grande número de alunos, os professores, e o própriosistema escolar, não pensam nessa hipótese e, também, não procuram outraalternativa. Por isso, concorda-se com Geraldi (1997), em sua afirmação deque se deve recuperar professor e alunos como sujeitos que compartilhaminformações, sendo necessário que aqueles reflitam sobre sua prática dentroe fora da sala de aula, interagindo com seus alunos, em seus textos, tentandouma maior aproximação e contribuindo com a construção do conhecimento.

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Com esse trabalho tutelar, atuando como professora-orientadora, pôde-se quebrar inúmeras barreiras, como o distanciamento entre professor-aluno,o hábito de apenas corrigir a redação e devolvê-la a seu produtor, a ansiedadeem saber orientar coletiva e individualmente e a falta de solicitar, sempre, arefacção textual, processo visto com descaso por muitos professores, porser um trabalho a mais, porém, conforme constatado na pesquisa, trata-sede uma importante estratégia que, realmente, leva os alunos à autocorreção,conforme expõe os PCNs (BRASIL, 1998). Portanto, frente às análises dasrefacções produzidas após cada orientação tutelar, pôde-se sentir orgulhodo trabalho, observando-se o resultado positivo de cada uma.

Obviamente, não se esperava uma melhora em 100% nos textosdesses alunos, tendo em vista a grande dificuldade que apresentavam e opouco tempo que se teve para realizar o trabalho. Talvez se eles soubessemque estavam participando como sujeitos de uma pesquisa, poderiam ter sededicado um pouco mais e disponibilizado um tempo maior para asorientações. Entretanto, o propósito era que o trabalho transcorresse deforma natural, para que os textos fossem produzidos naturalmente, comode fato aconteceu.

Os objetivos deste trabalho, que eram o de oferecer aos alunosorientações promenorizadas de construção de texto dissertativo com vistasao concurso vestibular, evidenciar os problemas nos textos dos alunos,contribuindo para que pudessem saná-los e acompanhar todo o processopara demonstrar o resultado final do trabalho, foram cumpridos pois, a partirdas orientações tutelares, os alunos obtiveram crescimento na construção deseus textos, solucionando os principais problemas apresentados: selecionandopoucos argumentos, procurando abordá-los com maior profundidade,explicando-os a partir de seu conhecimento de mundo, extrapolando o textode apoio e mantendo a clareza na exposição das idéias e a consistência doraciocínio, como demonstrado nas análises das redações.

Portanto, os resultados do trabalho foram positivos para ambas aspartes: sujeitos e pesquisadora. Aqueles, por adquirirem crescimento naconstrução da argumentação em seus textos, esta, pelo crescimentoprofissional, pela oportunidade de ter atuado como pesquisadora e por teraprendido uma nova arte, que é orientar, a qual contribui com a formaçãode cidadãos críticos, construtivos e criativos.

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Referências bibliográficas

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BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. (1998) ParâmetrosCurriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria deEducação Fundamental.

GARCIA, Othon M. ( 1974) Comunicação em prosa moderna. 2. ed.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.

GERALDI, J.W. (1993) Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes.GERALDI, J.W.; CITELLI, B. (1997) Aprender e ensinar com textos de

alunos. vol. 1. São Paulo: Cortez.MARINHO, J.H.C. ( 1997) A produção de textos escritos. In:

DELL’ISOLA, R.L.P; MENDES, E.A.M. Reflexões sobre a línguaportuguesa: ensino e pesquisa. Campinas: Pontes, p. 87-95.

MENEGASSI, R.J.; ZANINI, M.(1997) Avaliação de Redação: critériosdo vestibular da UEM. In: ENCONTRO DE ESTUDOSLINGÜÍSTICOS DO SUL, 1, 1995, Florianópolis, Anais...Florianópolis: UFSC.

MESERANI, S. (1995) O intertexto escolar: sobre leitura, aula e redação.São Paulo: Cortez.

* Orientador: Professor Dr. Renilson José Menegassi - UEM**Aluna não-regular do Programa de Pós-Graduação em Letras (UEM)

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