aspectos polêmicos e atuais da execução provisória na justiça do trabalho à luz das recentes...

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ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA NO PROCESSO DO TRABALHO À LUZ DAS RECENTES ALTERAÇÕES DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Mauro Schiavi 1 Ensina Pontes de Miranda 2 que a execução provisória é aquela a que se procede se pende recurso no efeito somente devolutivo e do recurso interposto se conhece. Assevera o artigo 899, da CLT: “Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora”. No nosso sentir a execução provisória caracteriza-se como a execução de um título executivo judicial que está sendo objeto de recurso, recebido apenas no efeito devolutivo. A execução provisória se fundamenta numa presunção favorável ao autor dada pela decisão pendente de julgamento de recurso recebido apenas no efeito devolutivo, e na efetividade da jurisdição. Não 1 Juiz do Trabalho na 2ª Região. Pós-Graduado em Direito Processual do Trabalho. Mestre em Direito do Trabalho pela PUC/SP. Professor Universitário (Graduação e Pós-Graduação). Professor de Cursos Preparatórios para Magistratura e Ministério Público do Trabalho). Autor dos livros: A revelia no Direito Processual do Trabalho. Ações de Reparação por Danos Morais Decorrentes da Relação de Trabalho; Competência Material da Justiça do Trabalho Brasileira; Comentários às Questões Polêmicas e Atuais dos Concursos da Magistratura e Ministério Público do Trabalho, Volume I, ambos publicados pela Editora LTr. 2 MIRANDA, Pontes. Comentários ao CPC. Tomo IX., 1979, p. 31. 1

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Page 1: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA NO PROCESSO DO TRABALHO À LUZ DAS RECENTES ALTERAÇÕES

DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Mauro Schiavi1

Ensina Pontes de Miranda2 que a execução provisória

é aquela a que se procede se pende recurso no efeito somente devolutivo e do

recurso interposto se conhece.

Assevera o artigo 899, da CLT: “Os recursos serão

interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as

exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora”.

No nosso sentir a execução provisória caracteriza-se

como a execução de um título executivo judicial que está sendo objeto de

recurso, recebido apenas no efeito devolutivo.

A execução provisória se fundamenta numa

presunção favorável ao autor dada pela decisão pendente de julgamento de

recurso recebido apenas no efeito devolutivo, e na efetividade da jurisdição. Não

obstante, por não haver o estado de certeza, o autor não poderá receber o objeto

da condenação.

Como destaca Antonio Álvares da Silva3, “em nome

da pretensão à sentença, realizam-se atos do processo de conhecimento e, em

nome de sua efetividade, os atos de liquidação, mesmo que estejam reunidos num

único procedimento. O que caracteriza a execução provisória é uma certa

presunção em favor do direito do autor”.

1 Juiz do Trabalho na 2ª Região. Pós-Graduado em Direito Processual do Trabalho. Mestre em Direito do Trabalho pela PUC/SP. Professor Universitário (Graduação e Pós-Graduação). Professor de Cursos Preparatórios para Magistratura e Ministério Público do Trabalho). Autor dos livros: A revelia no Direito Processual do Trabalho. Ações de Reparação por Danos Morais Decorrentes da Relação de Trabalho; Competência Material da Justiça do Trabalho Brasileira; Comentários às Questões Polêmicas e Atuais dos Concursos da Magistratura e Ministério Público do Trabalho, Volume I, ambos publicados pela Editora LTr.2 MIRANDA, Pontes. Comentários ao CPC. Tomo IX., 1979, p. 31.3 SILVA, Antonio Álvares. Execução Provisória Trabalhista depois da Reforma do CPC. São Paulo: LTr, 2007, p. 28.

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Page 2: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

Nos termos do artigo 899, da CLT, a execução

provisória se exaure com a penhora. Esta expressão deve ser interpretada como

garantia do juízo, que significa a constrição de bens suficientes para a cobertura

de todo o crédito que está sendo executado.

Diverge a doutrina trabalhista sobre a execução

provisória trabalhista parar na penhora, ou serem também apreciados os

incidentes da penhora, que são invocados por meio dos embargos à execução.

Pensamos, com suporte na doutrina majoritária e

também da jurisprudência já sedimentada, que a execução provisória vai até a

fase da garantia do juízo, com a apreciação de todos os incidentes da penhora,

como os embargos à execução e, inclusive eventual agravo de petição4.

Nesse diapasão destaca-se a posição de Valentin

Carrion5:

“Na execução provisória, a regra é de que o processo

se detém na penhora (CLT, art. 899), mas os embargos poderão ser interpostos e

julgados: do contrário seria impossível corrigir ilegalidade que permaneceriam

indeterminadamente (...) e que são capazes de causar prejuízo indefinido à parte,

tias como o excesso de penhora ou de execução, remoção ilegal etc. A afirmação

corrente de que a execução provisória vai até a penhora é uma restrição contra o

credor, no sentido de que ele não poderá prosseguir, inclusive para promover atos

de alienação (CPC, art. 588, II), mas não é obstáculo para o direito de defesa do

devedor”.

Nesse sentido, destacamos a seguinte ementa:

Execução provisória – Suspensão dos atos

processuais a partir da penhora. É certo que a execução provisória se encerra

com a penhora, conforme dispõe parte final do caput do art. 899 da CLT.

Entretanto, a determinação contida no referido artigo, não tem o significado de

paralisação dos atos processuais no momento de apreensão judicial dos bens

4 Em sentido contrário Manoel Antonio Teixeira Filho, argumenta a desnecessidade de processamento dos embargos à execução em razão da possibilidade de alteração da decisão que dá suporte à execução pelo Tribunal (Execução no Processo do Trabalho. 9ª Edição. São Paulo: LTr, 2005, p. 210);5 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 30ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 742.

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das agravantes. O que a norma consolidada veda é a prática de atos que

impliquem em alienação do patrimônio do devedor. Constitui uma restrição ao

exeqüente que não poderá promover atos de alienação dos bens penhorados,

pois tal ato traria prejuízos irreparáveis ao executado. Mas, caso interposto

embargos à execução, os mesmos devem ser julgados, posto que é a medida

processual que a parte dispõe para que sejam sanados vícios que,

eventualmente, posam ocorrer no ato da penhora. (TRT 3ª R – 6ª T – AP nº

465/2002.011.03.40-2 – Relª. Maria Perpétua C. F. de Melo – DJMG 4.3.04 – p.

18) RDT nº 4 - Abril de 2004.

O exeqüente fará o requerimento da execução

provisória juntados aos autos cópias do Processo, conforme o § 3º do artigo 475-

O, do CPC que resta aplicável ao Processo do Trabalho. Segundo o citado

dispositivo legal, deve o exeqüente acostar ao requerimento: sentença ou acórdão

exeqüendo; certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;

procurações outorgadas pelas partes; decisão de habilitação, se for o caso e,

facultativamente, outras peças processuais que o exeqüente considere

necessárias.

Após autuado o requerimento da execução provisória,

acompanhado das cópias da peças processuais necessárias, será formada a Carta

de Sentença, que será o instrumento da execução provisória.

A execução provisória pode ser requerida ao Juiz da

causa de primeiro grau e também nos Tribunais.

A Nova execução provisória do Processo Civil e sua

Aplicabilidade no Processo do Trabalho

O Código de Processo Civil passa por constantes

avanços na execução, rumo à efetividade processual. Um desses significativos

avanços se refere à execução provisória de sentença, atualmente disciplina pelo

artigo 475-O, do CPC.

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Page 4: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

Diz o artigo 475-O, do CPC, com a redação dada pela

Lei 11232/05:

“A execução provisória da sentença far-se-á, no que

couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I –

corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a

sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica

sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da

execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais

prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; III – o levantamento de depósito

em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos

quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e

idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1º No caso

do inciso II deste artigo, se a sentença provisória for modificada ou anulada

apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução. § 2º A caução a

que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada: I – quando,

nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o

limite de sessenta vezes o valor do salário mínimo, o exeqüente demonstrar

situação de necessidade; II – nos casos de execução provisória em que penda

agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior

Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente

resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. § 3º Ao requerer a

execução provisória, o exeqüente instruirá a petição com cópias autenticadas das

seguintes peças do processo, podendo o advogado valer-se do disposto na parte

final do art. 544, § 1º: I – sentença ou acórdão exeqüendo; II – certidão de

interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III – procurações

outorgadas pelas partes; IV – decisão de habilitação, se for o caso; V-

facultativamente, outras peças processuais que o exeqüente considere

necessárias.

A execução provisória, tanto no Processo do

Trabalho, como no Processo Civil depende de iniciativa do credor, que se

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Page 5: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

responsabilizará pelos danos causados ao executado, caso o título que

fundamenta a execução for alterado em grau de recurso.

A responsabilidade do exeqüente pelos danos

causados ao executado se houver alteração da decisão é objetiva (artigo 475-O, I,

do CPC), pois independe de culpa. Basta o nexo causal entre a atividade

executiva e os danos causados ao executado para surja o devedor do exeqüente

indenizar o executado.

Segundo a teoria da responsabilidade objetiva, não há

necessidade de demonstração de culpa por parte do ofensor, sendo suficiente a

existência do dano e do nexo causal da conduta do agente e dano. Por isso, a

responsabilidade objetiva funda-se no princípio de eqüidade, pois aquele que

lucra com a situação (exercício da atividade) deve responder pelo risco ou pelas

desvantagens dela resultantes6.

No mesmo diapasão a visão de Luiz Guilherme

Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart7:

“A responsabilidade do exeqüente deriva da

circunstância de a execução ter alterado o patrimônio do executado com base em

decisão que, posteriormente, foi reformada diante da interposição de recurso. A

responsabilidade é independente de culpa ou ânimo subjetivo do exeqüente, mas

decorre apenas da reforma da decisão em que a execução se fundou. Trata-se de

hipótese de responsabilidade objetiva pela prática e ato lícito, uma vez que a

execução da decisão provisória não é apenas expressamente autorizada por lei,

como também encontra respaldo no direito fundamental à duração razoável do

processo (art. 5º, LXXVIII, da CF)”.

Caso a decisão for alterada ou anulada fica sem efeito

a execução provisória, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados

eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento.

Sempre foi tradição no Código de Processo Civil, a

impossibilidade de levantamento de dinheiro, salvo mediante caução. Nesse

6 FERREIRA NETO, Francisco Jorge et alli. Responsabilidade e as Relações de Trabalho, São Paulo: LTR, 1998, p. 29.7 Curso de Direito Processual Civil: Execução. Volume 3. São Paulo: RT, 2007, p. 365.

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sentido é o disposto no inciso III do artigo 575-O, do CPC, que veda o

levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação

de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, sem

prestação de caução por parte do exeqüente, arbitrada de plano pelo juiz e

prestada nos próprios autos.

A caução é uma garantia de natureza processual, por

meio da qual o exeqüente indica um bem (real), ou se compromete a uma

obrigação pessoal (fidejussória), que serão destinados ao ressarcimento dos danos

futuros causados ao executado, caso o título executivo que embasa a execução

seja alterado em grau de recurso.

Conforme Júlio César Bebber8, a caução mencionada

no artigo 475-O, III do CPC não tem natureza cautelar, uma vez que se trata de

ato próprio do processo de execução. Não pode o juiz exigi-la de ofício, sendo

necessário que haja requerimento do executado.

Não obstante, o novel artigo 475-O, § 2º, incisos I e

II do CPC, possibilita o levantamento de dinheiro, sem necessidade de caução em

duas hipóteses, quais sejam:

I-quando, nos casos de crédito de natureza alimentar

ou decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor do salário

mínimo, o exeqüente demonstrar situação de necessidade;

II- nos casos de execução provisória em que penda

agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior

Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente

resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação.

Pode-se questionar sobre a aplicabilidade destas

novas disposições do Código Processo Civil ao Processo do Trabalho, pois, por

previsão do artigo 899, da CLT, a execução provisória vai até a penhora e, sendo

assim, resta inaplicável o disposto no artigo 475-O, § 2º do CPC por não haver

omissão da Consolidação.

8 BEBBER, Júlio César. Cumprimento da Sentença no Processo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 91.

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Page 7: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

Pensamos que são compatíveis com o Processo do

Trabalho o disposto nos incisos do § 2º do artigo 475-O do CPC em razão da

relevante função social da execução trabalhista e do caráter alimentar do crédito

trabalhista. Além disso, acreditamos que o artigo 899, da CLT disciplina a

hipótese de levantamento de dinheiro em execução provisória, havendo espaço

para aplicação do CPC (lacunas ontológicas e axiológicas da CLT).

Nesse sentido è a visão de Antônio Álvares da Silva9:

“A execução provisória é regulada tanto no processo

comum como no trabalhista. A diferença consiste na extensão. No processo

trabalhista a execução provisória vai até a penhora. No CPC, sempre se permitiu

a execução provisória com atos alienatórios, desde que prestada a garantia da

caução. A recente reforma da Lei 11.232/05 aprofundou ainda mais a execução

provisória, permitindo atos alienatórios e levantamento de dinheiro até mesmo

sem caução. Esta situação não é prevista na CLT em execução provisória. Porém,

são plenamente compatíveis com a finalidade do processo social, pois dá

exeqüibilidade imediata à sentença de primeiro grau e permite ao empregado o

acesso parcial ao crédito alimentar. A hipótese é típica de analogia legis. O

instituto, regulamentado pelo CPC, pode perfeitamente ser transportado para o

processo do trabalho, pois complementa a execução provisória nele disciplinada,

aperfeiçoando-o para torná-la um instrumento processual mais eficaz e apto a

cumprir sua finalidade”.

No mesmo diapasão Wolney Cordeiro de Macedo10:

“A autonomia do direito processual do trabalho, no

entanto, não pode servir de empecilho para que o intérprete direcione o sentido

da norma jurídica à realidade vigente. É, por conseguinte, ilusório o argumento

de que a consolidação apresenta regramentos e limites para o instituto da

execução provisória. A postura do legislador é absolutamente omissa em relação

à regulação do instituto(...)”.

9 SILVA, Antônio Álvares. Execução Provisória Trabalhista depois da Reforma do CPC. São Paulo: LTr, 2007, p. 53.10 MACEDO, Wolney Cordeiro de. A execução provisória trabalhista e as novas perpectivas diante da Lei n. 11.232 de 22 de dezembro de 2005. In: Revista LTr 71-04/450.

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Page 8: Aspectos Polêmicos e atuais da execução provisória na Justiça do Trabalho à luz das Recentes Alterações do CPC

Na grande maioria das execuções trabalhistas, o

reclamante postula um crédito alimentar e não pode esperar a longa tramitação do

processo, máxime se houver recursos. No processo do trabalho, é presumido que

o trabalhador esteja em estado de necessidade econômica. O contrário necessita

de prova. Desse modo, o inciso I do § 2º do artigo 475-O do CPC se encaixa

como uma luva ao processo do trabalho, pois possibilita que o reclamante, sem

necessidade de caução, possa levantar a importância até 60 salários mínimos em

execução provisória.

Pode-se questionar eventual possibilidade de se

liberar o dinheiro ao reclamante e, posteriormente, caso a decisão for alterada,

não se conseguir mais recuperar o dinheiro, considerando-se o estado de

hipossuficiência do trabalhador. Não obstante, este problema também é

enfrentado pelo Processo Civil, pois se o autor está em estado de necessidade e o

crédito for de índole alimentar, dificilmente se conseguirá recuperar o dinheiro.

Nota-se que o legislador processual civil priorizou a efetividade processual em

detrimento da cautela processual de proteção do patrimônio do devedor. Por isso,

deve o Juiz do Trabalho sopesar o custo benefício em determinar a liberação do

valor até 60 salários mínimos ao reclamante quando a execução for provisória,

mas sempre atento à efetividade processual. Conforme salienta a melhor

doutrina, não há efetividade processual sem riscos. Além disso, caso a decisão

seja alterada, o exeqüente deve restituir o valor e ainda indenizar o executado

pelos prejuízos decorrentes da execução.

Como bem assevera Nesse mesmo sentido é a visão

de Luciano Athayde Chaves11, referindo-se ao § 2º do artigo 475-O, do CPC:

“Ora, ambas as exceções são de grande alcance no

panorama da jurisdição trabalhista, especialmente a referida no inciso I, em face

da natureza alimentar do crédito trabalhista, e o presumido estado de necessidade

do trabalhador, num regime de produção onde, de regra, ele somente dispõe de

sua força de trabalho como mercadoria a ser ofertada no sistema de trocas.

Embora esse texto já constante do Código por força da Lei n. 10.444/2002, a

11 CHAVES, Luciano Athayde. A recente reforma no Processo Comum: Reflexos no Direito Judiciário do Trabalho. 3ª Edição. São Paulo: LTr, 2007, p. 47-48.

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nova redação do dispositivo incorpora também os créditos decorrentes de ato

ilícito e será de larga utilização pelos Juízes do Trabalho, já que, até então, era

praticamente impossível o levantamento de créditos ou a prática de atos de

alienação de domínio na execução provisória, porquanto o autor da ação,

geralmente trabalhador, não costuma ostentar capacidade econômica para prestar

caução bastante. Hoje, como podemos perceber, a limitação foi arrefecida até o

teto de 60 (sessenta) salários mínimos”.

Diante dos princípios da celeridade e efetividade

processual impulsionados pela EC 45/04, o Juiz do Trabalho não pode fechar os

olhos para os avanços do Processo Civil e aplicá-los ao Processo do Trabalho, a

fim de dar maior cidadania ao trabalhador, prestigiar a Justiça do Trabalho como

sendo um instrumento célere e eficaz para propiciar a efetividade do direito

material do trabalho e garantir a dignidade da pessoa humana do trabalhador.

Como destacam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio

Cruz Arenhart12:

“Quando se pensa em termos reais, fica claro que o

tempo do processo é um ônus, que, por isto mesmo, deve ser distribuído entre as

partes em nome do princípio da isonomia. Aliás, não é por outra razão que a

leitura constitucional do direito de ação sempre fez ver o direito à duração

razoável do processo, agora instituído (pela Emenda Constitucional 45/2005; art.

5º, LXXVIII, da CF) como direito fundamental. Ou seja, não há mais como

admitir que o tempo do processo seja tratado como um mal inevitável ou como

um entrave que naturalmente deve ser suportado por aquele que busca o Poder

Judiciário”.

Quanto ao inciso II do § 2º do artigo 475-O, do CPC,

este também se aplica ao Processo do Trabalho.

Como bem destacam Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart13:

“A dispensa da caução, na hipótese do art. 475-O, §

2º, II, baseia-se na suposição de que os recurso especial e extraordinário, que

12 Curso de Direito Processual Civil. Volume 3. Execução. São Paulo: RT, 2007, p. 342.13 Op. cit. p. 363.

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devem ser fundar em hipóteses excepcionais, têm pouca chance de sucesso após

a decisão que, ao não admiti-los no tribunal de origem, obrigou à interposição de

agravo de instrumento ao Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal

Federal, conforme o caso”.

Adaptado o inciso II do § 2º do artigo 475-O do CPC

ao Processo do Trabalho, pensamos que o Juiz do Trabalho poderá determinar o

levantamento de dinheiro sem caução, quando houver pendência de Agravo de

Instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou junto ao Tribunal Superior do

Trabalho, pois o TST, no âmbito da Justiça do Trabalho, equivale ao STJ para as

justiças federal e estadual.

Pelos mesmos fundamentos que declinados para o

inciso I, com maior razão aplica-se o inciso II do § 2º do artigo 475-O ao

Processo do Trabalho, pois a probabilidade de alteração da decisão trabalhista em

Agravos no TST e STF é muito remota, o que autoriza o Juiz do Trabalho a

liberar ao exeqüente o valor até 60 salários mínimos, como menor probabilidade

de reversão da decisão e de riscos de danos ao executado.

Da Penhora de Dinheiro na Execução Provisória

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho

firmou-se no sentido de ser incabível a penhora de dinheiro e também o bloqueio

de contas bancárias em se tratando da execução provisória, por aplicação do

princípio da execução pelo meio menos oneroso ao executado.

Com efeito, dispõe a Súmula 417 do C. TST, “in

verbis”:

MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA EM

DINHEIRO. (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 60, 61 e 62 da

SDI-2). I – Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que

determina penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para

garantir crédito exeqüendo, uma vez que obedece à gradação prevista no artigo

10

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655 do CPC (ex-OJ nº 60 – inserida em 20.09.00); II – Havendo discordância do

credor, em execução definitiva, não tem o executado direito líquido e certo a que

os valores penhorados em dinheiro fiquem depositados no próprio banco, ainda

que atenda aos requisitos do artigo 666, I, do CPC (ex-OJ nº 61 – inserida em

20.09.00); III – Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e

certo do impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados

outros bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe

da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do artigo 620 do CPC (ex-OJ nº

62 – inserida em 20.09.00). (Res. 137/2005 – DJ 22.08.2005).

No mesmo sentido a seguinte ementa:

Penhora em dinheiro – Execução provisória –

Onerosidade excessiva ao credor. A execução provisória processa-se até a

penhora (art. 899 da CLT) e, existindo outros bens a satisfazer a garantia dos

créditos exeqüendos, a penhora de créditos pode ser afastada, ante a aplicação

do disposto no art. 620 do CPC. Este entendimento se encontra consubstanciado

na Orientação Jurisprudencial nº 62 da SDI-1 do TST. (TRT 12ª R – 1ª T – AG-

PET nº 2022/1999.006.12.00-0 – Ac. nº 8.346/04 – Relª. Sandra M. Wambier –

DJSC 03.08.04 – p. 155)(RDT nº 9 Setembro de 2004)

Não obstante o respeito que merecem os

posicionamentos em contrário, pensamos que a penhora em dinheiro e também o

bloqueio de contas bancárias também se aplicam para a execução provisória.

Com efeito, nem a CLT nem o CPC proíbem que se

faça a penhora de dinheiro em execução provisória, aliás, o dinheiro é o primeiro

bem de ordem de preferência para a penhora (artigo 655, do CPC). Além disso, a

penhora de dinheiro possibilita a liberação do valor ao exeqüente de até 60

salários mínimos quando presentes os requisitos legais. Ora, se não fosse possível

penhora dinheiro em execução provisória, não haverá como se dar efetividade ao

artigo 475-O, § 2º do CPC.

Pensamos não se aplicar aqui o princípio da execução

menos gravosa ao executado (artigo 620 do CPC), pois a execução provisória se

faz no interesse do credor (artigo 612 do CPC). Além disso, o exeqüente se

11

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responsabiliza objetivamente pelos eventuais danos causados ao executado caso a

decisão seja alterada. De outro lado, pensamos que a execução provisória só será

efetiva e cumprirá sua função social no processo do trabalho se houve penhora de

dinheiro.

Como bem adverte Ademar Prisco da Cunha Neto14:

“(...)Quando o executado deixa de obedecer à ordem

legal de preferência, o juiz não deve temer que a persecução de outro dotado de

maior liquidez acarrete ônus ao devedor. Seja porque a liquidez pode ser

necessária para tender necessidade imediata, seja porque, para ser útil, a

execução provisória deve proporcionar que o valor fique à disposição para o

pronto pagamento quando do trânsito em julgado. Não faz sentido para recorrer

se admita sem questionamentos depósito em dinheiro, ao mesmo tempo em que

se alimenta o temor da penhora de dinheiro em execução provisória. Afina, nos

dois casos existe apenas a segurança sem trânsito em julgado. E para completar, a

nova redação do artigo 668, do CPC, conferiu ainda mais força à ordem de

preferência do art. 655. Agora a substituição do bem penhorado exige ‘prova

cabal’ de que o fato não trará prejuízo algum ao exeqüente e de que será menos

onerosa ao devedor, sob expressa cominação de litigância de má-fé”.

É necessária a mudança de mentalidade dos

operadores do direito diante da penhora de dinheiro na execução provisória, pois

a legislação permite que ela seja levada a efeito. Além disso, diante dos novos

rumos da execução no Processo Civil, inclusive com a possibilidade de liberação

de numerário na execução provisória, acreditamos ser necessário repensar a

Súmula 417 do C. TST para se permitir a penhora em dinheiro na execução

provisória ao menos até o montante de 60 salários mínimos, a fim de dar

aplicabilidade ao § 2º do artigo 475 do CPC ao Processo do Trabalho.

Nesse sentido destacamos as seguintes ementas:

Mandado de segurança determinação de penhora em

tempo real mediante utilização do sistema Bacen Jud – Execução Provisória. É

legítima a determinação judicial de penhora em conta corrente bancária

14 CUNHA NETO, Adhemar Prisco. Em defesa da ‘penhora on line”, na execução provisória. In: Revista LTr, 70-06/714.

12

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mediante a utilização do sistema Bacen Jud quando os bens ofertados pela

empresa não obecedem à gradação legal. Atuação do juiz na execução. Arts. 765

e 878 da CLT. Observância da ordem do art. 655 do CPC. Segurança que se

denega (TRT 2ª R. Ac. 2005030668, Rel. Juiz Carlos Francisco Berardo,

DOE/SP: 4.10.05).

Mandado de segurança – Indeferimento do pedido de

substituição da penhora sobbre móvel por dinheiro – Violação a direito líquido e

certo. O artigo 655 do CPC ao estabelecer a ordem de preferência, a ser

observada pelo devedor, por ocasião da nomeação de bens à penhora, fixa o

dinheiro em primeiro lugar. Al ordem é um diretriz não só de cunho político,

mas também público, uma vez que o elenco do referido artigo está voltado para

o resultado útil do processo, em que se deseja um término expedito da execução,

para que se cumpra a vontade da coisa julgada, especialmente no processo

laboral, face do caráter alimentar do débito. Sendo assim, viola direito líquido e

certo do impetrante o indeferimento, por parte do MM Juiz impetrado, do

pedido de substituição, por dinheiro, da penhora realizada sobre imóvel, ainda

que se trate de execução provisória. Ademais, a substituição viabilizará a

liberação ao reclamante de eventuais valores incontroversos. Mandado de

segurança que se concede, para determinar a substituição, por dinheiro, da

penhora realizada nos autos originários, conforme requerido pelo impetrante

(TRT 2ª R., Ac. n. 2006014445, DOE/SP 9.10.06).

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