aspectos histÓricos, polÍticos e ideolÓgicos da leitura edimar sartoro e-mail:...
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Objetivo: refletir sobre alguns aspectos da história da leitura e, à luz da atual valorização das práticas de leitura e do desenfreado consumo material e intelectual, discutir que lugar o leitor e a leitora ocupam nesse universo.
A história da escrita revela-se como produto da prática social dos homens, mediados pela linguagem;
Premissas para o surgimento a linguagem escrita: Sociabilidade; Linguagem; Trabalho.
Pré-história da linguagem escrita
Inicialmente, para se comunicar, os grupos sociais serviam-se de diversos meios de expressão tais como gestos de mão, ruídos de tambores, sinais de fumaça etc;
Essa forma comunicação era imediata e não pretendia, ainda, representar a linguagem verbal.
Conforme Manguel (1997), a história da Escrita começa com placas pictográficas de argila, na Síria, datando de 40 séculos antes de Cristo.
Seus inventores perceberam que havia nessa tecnologia inúmeros benefícios: Em primeiro lugar, a quantidade de informações
armazenável nas peças de argila era infinita; Em segundo, o/a leitor/a para recuperar o
conteúdo das tabuletas não necessitava da presença física de quem havia produzido a escrita.
Motivos da escrita
A escrita provavelmente foi criada por motivos comerciais: “Um sinal escrito servia de dispositivo
mnemônico: a figura de um boi significava um boi, para lembrar ao leitor que a transação era em bois, quantos bois estavam em jogo e, talvez, os nomes do comprador e do vendedor” (Manguel, p. 206).
De acordo com Tezzari (2005), a escrita como representação gráfica da linguagem passou por inúmeros estágios: A escrita pictográfica ou pictórica representou o
estágio mais elementar. Nessa forma de expressão figuras e desenhos eram utilizados para representar o meio em que viviam.
3.300 aC.
Evolução da escrita
Escrita cuneiforme; Sinais em forma de cunha que representavam
sons, não objetos; foi desenvolvida pelos sumérios.
Por meio desta forma de expressão era possível apreender pela materialidade da escrita; não só representações de objetos, mas pensamentos, sonhos, experiências etc.
2.100 a.C
1.200 anos entre uma forma e outra de escrita
Logogrifo: sistema de escrita que representa uma palavra na forma de desenhos e/ou símbolos;
Símbolos que representam um som – isso marcou o início da escrita silábica;
Os sinais sozinhos não tem significados, mas juntos forma uma palavra.
Os pictogramas expressava o pensamento concreto;
Já a escrita cuneiforme e os logogrifos manifestam uma evolução do pensamento, o pensamento abstrato.
Essa forma de escrita abstrata podia representar não apenas os objetivo retratados, mas também idéias associadas a eles (MANGUEL, p. 210);
Dessa invenção, fez nascer o livro, a escola e os códigos de leis;
Revoluções na história da leitura
Conforme Chartier (1999), os historiadores da cultura escrita designaram diversas revoluções nesse campo, algumas têm a ver com a técnica de reprodução dos textos, outras com a forma do próprio livro, o suporte em suas estruturas fundamentais.
1º revolução
A primeira revolução ocorreu na Idade Média e esteve vinculada à passagem da prática oral de leitura, à prática silenciosa;
“Embora ambos os estilos de leitura tivessem coexistido na antiguidade grega e romana, foi durante a Idade Média que a habilidade de ler em silêncio foi conquistada pelos leitores ocidentais” (CHARTIER, p. 23);
Permitiu ao leitor/a um contato mais íntimo com a escrita.
2º revolução A segunda revolução ocorreu durante a era da
imprensa: a sucessão da leitura intensiva para extensiva é o marco principal dessa revolução;
O leitor intensivo interagia com um número pequeno de livros que eram lidos, relidos e transmitidos de geração a geração;
Já, o leitor extensivo tinha obsessão por ler. “Eles liam rapidamente e avidamente, submetendo o que tinham lido a um julgamento crítico imediato” (CHARTIER, p. 25).
3º Revolução Texto eletrônico: a transmissão eletrônica dos
textos e as maneiras de ler que se originam dessa modalidade de suporte apontam, atualmente, para uma terceira revolução.
A imaterialidade das obras, nesse contexto, altera a relação física que existia entre objeto impresso e o leitor.
Nas palavras de Chartier: “A passagem dos textos do livro impresso para a tela do computador é uma mudança tão grande quanto a passagem do rolo para o códex durante os primeiros anos da era cristã” (p. 28).
Conceito de leitura O que é leitura? Para Fachinetto e Ramos (2010, p. 2):
“O ato de ler constrói-se a partir da relação que o homem estabelece com textos em seus diferentes suportes”.
Ler é sempre uma construção: A leitura não está determinada diretamente pelos
signos, nem por seu suporte. Lemos a partir de nossa história de vida, das experiências, dos conhecimentos que possuímos etc.
Paulino (2001), discute o conceito de leitura a partir da etimologia da palavra ler que vem do latim legere:
[…] na origem do vocábulo, encontram-se três significados: 1) ler significa soletrar, agrupar as letras em sílabas; 2) ler está relacionado ao ato de colher, a leitura passa a
ser a busca de sentidos no interior do texto, nessa concepção os sentidos vivem no texto, basta que eles sejam retirados, colhidos como uvas no vinhedo;
3) ler vinculado ao ato de roubar. Isto é, o leitor tem a possibilidade de tirar do texto sentidos que estavam ocultos, o leitor cria até significados que, em princípio, não tinha autorização para construir.
Manguel (2007): “Toda a escrita depende da generosidade do leitor.”
Interdições à leitura Muitos autores tiveram seus livros proibidos ou queimados
por governos totalitários: Hitler, por considerar certas leituras perigosas, mandou
queimar, em maio de 1933, 20 mil livros; Pinochet em 1981, baniu o livro Dom Quixote, porque achava que ele, continha forte apelo a liberdade individual e ataque à autoridade constituída (MANGUEL, 1997).
Tezzari (2005), afirma que nessa história, as mulheres foram as que mais sofreram interdições: A mulher japonesa, na época de Heian, estava proibida de
ler o que se considerava literatura ‘séria’; Em Roma dizia-se: “é melhor que uma mulher ‘não
compreenda muito do que lê nos livros’, pois nada é mais insuportável do que uma mulher instruída” (CAVALHO apud TEZZARI, 2005, p. 21).
Que força contém o livro para abalar as estruturas de poder?
Por que a leitura, em todos os tempos e lugares causou apreensão, suspeita e medo?
“A leitura não é prática neutra. Ela é campo de disputa, é espaço de poder” (ABREU, 1999, p. 15):
Os discursos ideológicos sobre a leitura
Atualmente há grande valorização da leitura, na sociedade capitalista ela assume papel “redentor”;
Abreu (1999), questionado essa mistificação, afirma que a leitura é considerada como: [...] fator determinante para o sucesso (individual) das
pessoas, sendo capaz de minimizar os efeitos da pobreza, da cor, do gênero. [...] é capaz de proporcionar os mais variados benefícios: tornar os sujeitos mais cultos e, por consequência, mais críticos, mais cidadãos, mais verdadeiros” (ABREU, 1999, p. 10).
A leitura não tem um fim em si mesma - ela é um instrumento a serviço da humanização.
Contradições
Matos (2006), afirma, porém, que vivemos em uma sociedade cheia de imagens e ruídos que nos impedem de “imaginar e pensar”. Da universidade ao parlamento, da imprensa às
organizações políticas, a leitura deixou de ser referência, pois não pode circunscrever-se na contração do tempo do mercado, do consumo e das tecnologias (2006, p. 10).
A lógica utilitarista e pragmática da sociedade capitalista tem influenciado diretamente a maneira de ler , afirma Matos;
Produção de “semileitores”: Por conseguinte conclui a autora: “Semileitores,
somos também pseudoformados no pensamento e na vida” (MATOS, p. 9).
Ver documentário: A história da palavra: o nascimento da escrita. (27min)
Bibliografia BREU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas/
SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999.
DARNTON, Robert. História da leitura. In: BURKE, Peter (Org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo. UNESP, 1992.
FACHINETTO, Eliane Arbusti; RAMOS, Flávia, Brocchetto. Reflexões Sobre a Leitura: Estudo de caso. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/online/vsemanaletras/Artigos%20e%20Notas_PDF/Eliane%20Arbusti%20Fachinetto%20e%20Fl%E1via%20Broccheto%20Ramos.pdf >. Acessado em: 28/05/2010.
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
MATOS, Olgária. Discretas esperanças: reflexões filosóficas sobre o mundo contemporâneo. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2006.