as vivÊncias do luto simbÓlico em mulheres … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida;...
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UniSalesiano
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Psicologia
FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES
GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES
PASTORA INÊS DO NASCIMENTO
AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM
MULHERES MASTECTOMIZADAS: as
interveniências psicossociais decorrentes desta
ocorrência
LINS – SP
2017
FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES
GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES
PASTORA INÊS DO NASCIMENTO
AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES
MASTECTOMIZADAS: as interveniências psicossociais decorrentes desta
ocorrência
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia, sob a orientação do Profº. Me. Rodrigo Feliciano Caputo e orientação técnica da Profª. Ma. Jovira Maria Sarraceni.
LINS – SP
2017
Alves, Fernanda de Cássia do Nascimento; Gomes, Graziele Fernanda
Ribeiro; Nascimento, Pastora Inês
As vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas: as
interveniências psicossociais decorrentes desta ocorrência / Fernanda de
Cássia do Nascimento Alves; Graziele Fernanda Ribeiro Gomes; Pastora
Inês do Nascimento. – – Lins, 2017.
102p. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.
Orientadores: Rodrigo Feliciano Caputo; Jovira Maria Sarraceni
1. Câncer de Mama. 2. Mastectomia. 3. Luto Simbólico. I Título.
CDU 159.9
N193v
FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES
GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES
PASTORA INÊS DO NASCIMENTO
AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES
MASTECTOMIZADAS: as interveniências psicossociais decorrentes desta
ocorrência
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium, para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.
Aprovado em: ___/___/___
Banca Examinadora:
Profº. Orientador: Rodrigo Feliciano Caputo
Titulação: Mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo – USP
Assinatura: __________________________
1º Prof.: _______________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
Assinatura: __________________________
2º Prof.:________________________________________________________
Titulação: ______________________________________________________
Assinatura: ___________________________
Dedico esse trabalho a todas as mulheres: lindas e guerreiras que lutam contra
o câncer de mama, estasque contribuíram e enriqueceram nosso trabalho com
suas experiências, dando exemplos e lições de vida a nós!
Ao meu Avô Antônio Alves “Cantão”, sei que dai do céu, está comemorando
essa vitória comigo, o quanto esta orgulhoso. Sempre acreditou em mim e dizia
que eu era guerreira, por trabalhar no campo o dia todo e estudar a noite,
sempre com muita honestidade e dignidade, eu iria vencer. Vô Cantão, o
Senhor, sempre foi e será um exemplo de vida pra mim. Saudades eternas!
Fernanda
A Deus, que em sua infinita bondade nunca me deixou desistir;
A minha mãe Elizabeth e Avó Liana que se dedicaram a vida toda para que eu
pudesse ter um futuro melhor;
Ao meu esposo pela paciência e companheirismo.
Graziele
A Deus
Que me faz sentir agraciada de poder concluir minha faculdade aos 58 anos
possibilitando a realização de um sonho;
A todas as mulheres que participaram do TCC colaborando na finalização
deste curso, meu muito obrigado! Aprendi muito com o exemplo de vocês. A
maneira de encarar a vida depois da dor mostra que o céu não tem limites.
Pastora
AGRADECIMENTOS
Meu sonho só pode ser sonhado e realizado por vocês;
Ao meu Deus... Muito obrigada, somente por Ti que nunca me abandonaste
durante minhas tribulações. Deus do impossível, toda honra e toda glória a Ti;
A minha mãe, por toda a paciência, carinho e compreensão. Que sempre me
apoiou e me fortaleceu nas alegrias e nas tristezas. Pois nunca pode cursar
uma faculdade, mas na faculdade da vida, é muito mais que uma Doutora. Ao
meu pai, que sempre me incentivou, acreditou em mim, pelas suas palavras de
apoio e carinho, por me instruir em minha caminhada, por ter possibilitado essa
oportunidade, pois sabemos o quando foi difícil. A vocês, meus pais, Maria e
João, minha base e fortaleza, que cursaram essa faculdade comigo, sonharam
junto, acreditaram em mim e me ajudaram a torna esse sonho uma realidade.
Essa vitória é de vocês;
Minhas irmãs, Gislaine e Gabrieli. Gabi... Por sempre estar ao meu lado me
incentivando e me ajudando. Gi... A você que sempre esteve ao meu lado,
quantas coisas passamos durante esses 5 anos, as aulas de sábados, risos e
choros... Não foi fácil, mas vencemos com garra e honestidade. Amo vocês;
Ao meu noivo, amigo e companheiro sempre estando ao me lado, acreditando
em mim, pela compreensão e palavras de incentivo em todos os momentos,
não deixando que eu desaminasse, o caminho foi árduo, mas vencemos. E a
sua família por todo apoio e orações;
Aos grandes Mestres! A vocês sou eternamente grata por todos os
ensinamentos e aprendizagem, por lições de vida. Tenho cada um em meu
coração;
Aos meus mestres e amigos, Oscar e Rodrigo, pois no momento mais difícil em
minha vida, vocês foram meus guias e estiveram ao meu lado me orientando;
As minhas companheiras de curso e TCC: Graziele e Pastora, por toda
serenidade e companheirismo ao longo desses 5 anos. Foram muitos risos das
nossas atrapalhadas, choros de tristeza, mas também muitos choros de
alegria, por toda cumplicidade, paciência e compreensão. Obrigada pela
amizade de vocês;
Aos funcionários, sempre muito dedicados e prestativos. Em especial, as
meninas da biblioteca e do setor de Psicologia: Carol e Iasmim, por todo
carinho e amizade;
A professora Jovira Sarraceni, por suas orientações e por sempre ter
acreditado em nós;
E por fim, ao meu Mestre, Orientador e Amigo: Rodrigo Caputo, que mesmo
quanto nós estávamos desacreditadas, nos mostrou o caminho e o quanto
éramos capazes. Sempre acreditou em nós, em meio às lágrimas, foi a nossa
calmaria!
Fernanda
Minhas grandes amigas e companheiras Fernanda e Pastora, que jamais
deixaram que nada e nem ninguém pudessem destruir tudo que construímos
durante estes cinco anos;
As mulheres mastectomizadas que nos doaram suas experiências para que
nosso TCC pudesse ser realizado;
E meus queridos professores: nosso orientador Rodrigo que acreditou em
nosso projeto e Jovira pela dedicação para conosco. Obrigada!
Graziele
Agradeço primeiramente a Deus, fonte da minha vida, e por sempre estar
comigo na realização deste trabalho;
Minha família e de modo especial aos meus pais, Tiburtino Rudrigues do
Nascimento e Maria Inês da Silva Nascimento (In memoriam). É em você mãe
que penso nesse momento... Desejara tanto ter um filho doutor!...
Cientificamente falando eu sei que não, mas para você... É como se o fosse
(senso comum), e se alegra comigo na realização desse sonho;
Agradeço a ADI (abordagem Direta do Inconsciente) e ao Método TPI (Terapia
de Integração Pessoal), pois foi na realização dessa terapia que pude
vislumbrar um novo horizonte que veio direcionar o desejo de aprofundar e me
especializar, como forma de contribuir para amenizar o sofrimento humano.
Ao saudoso professor Maurício (In memoriam), que deixou um legado imenso
de sabedoria, profissionalismo, amizade e exemplo de defensor de causas
importantes;
A professora Jovira, por dedicar toda a atenção e carinho. E ao professor
Rodrigo, que prontamente aceitou a orientação deste TCC;Minha eterna
gratidão.
A todos os professores, que me acompanharam desde o inicio, pelo carinho e
atenção. Sou Sempre muito grata.
A todos os colegas de sala (agora amigos...) pelo apoio, carinho e amizade.
Amigo não se conquista... Se faz! De modo especial às queridas amigas e
companheiras do TCC, Fernanda e Graziela, por estarmos sempre Juntas nas
lutas e conquistas durante estes cincos anos.
A todos os amigos que amo tanto e me apoiaram nesta jornada;
Aminha terapeuta Mariângela, pelo incentivo e modelo de profissional. Partilhar
a vidacom alguém é sempre um ato de coragem.
Pastora
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo uma investigação sobre as vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas e as interveniências psicossociais decorrentes desta nova condição. Participaram do presente estudo cinco mulheres com idades entre 35 a 70 anos, que tiveram o câncer de mama e passaram pelo procedimento cirúrgico em um tempo de dois anos. Utilizaram-se como meios para fundamentar o estudo, os modelos de pesquisas, exploratória, visando maior conhecimento sobre o assunto abordado e a descritiva, levando a observação da análise, estabelecendo os fatos sem manipulá-los. Para tal ação, foram realizados três encontros, sendo os dois primeiros para o fortalecimento do vínculo e o último procedido de uma entrevista semiestruturada. Como referencial teórico para a compreensão do luto simbólico, fora baseado em Klüber-Ross. Os dados coletados, foram analisados sob a luz da Psicologia Social, para assim compreender melhor o processo de luto simbólico e as interferências nos processos psicossociais enfrentados pelas mulheres que sofreram com a mastectomia. Por meio da entrevista obtivemos as seguintes categorias para análise: o medo da morte concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação da vida a partir da doença, assim como também subcategorias para melhor compreensão, tendo como resultado a compreensão do luto simbólico vivenciado a partir da mastectomia e dos modos de enfrentamento da doença da mulher, assim como as mudanças em seu contexto psicossocial. Fora considerado a família e a religiosidade como forte aliado na luta contra a doença, possibilitando a essas mulheres novas vivências em função condição que se encontra, de ser mastectomizada.
Palavras-chave: Câncer de Mama. Mastectomia. Luto Simbólico.
ABSTRACT
This workaims a research on the experiences of symbolic mourning in mastectomized women and as psychosocial interventions resulting from this new condition. Five women bet ween the ages of 35 and 70, who had breast cancer and under went surgery there is two years, participated in the present study. They used as means to base the study, there search models, exploratory, see king greater know ledge about the subjectad dressed and the descriptive, takingan observation of analysis, binding the facts without manipulating them. For this action, three meetings were held, the first two to streng then the bond and the last procedure of a semi-structured interview. As a theoretical reference for anunder standing of symbolic mourning, for the Klüber-Ross service. The collected data were analyze dunder the light of Social Psychology, for the best of the process of symbolic grief and as interferences in the psychosocial processes face dby women suffering from a mastéctomy. Through the interview, the yobtain the following categories for analysis: the fear of concrete death; symbolic mourning: as deaths in life; such as psychosocial interventions to help cope with the disease and re-signify life from the disease, as well as subcategories for better under standing, resulting in anunder standing of the symbolic mourning experienced from the mastectomy and the coping ways of the woman's disease, as well as how to change in the ir psychosocial context. A considerations on the Family and religiosity as a strongally in the fight against the disease, making possible these new ones in whichone finds, of being mastectomized. Keywords: Breast Cancer. Mastectomy. Symbolic Grief.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Identificação das participantes
LISTA DE ABREVIATURAS
CEP: Comitê de Ética e Pesquisa
ECM: Exames clínicos da mama
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TNM: Tumor; linfonodos axilares homolaterais e metástase à distância
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................14
CAPÍTULO I: CÂNCER DE MAMA: AS IMPLICAÇÕES NA VIDA DA
MULHER. ......................................................................................................... 16
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 16
2 CÂNCER: EPIDEMIOLOGIA ......................................................................... 16
2.1 Classificação dos tipos de câncer................................................................17
2.2 Câncer de mama.........................................................................................19
2.3 Tipos de tratamentos...................................................................................20
2.4 Tipos de cirurgias relacionadas ao câncer de mama..................................21
2.1.4 Procedimentos conservadores.................................................................23
2.5 As implicações psicossociais decorrente da mastectomia na vida da
mulher................................................................................................................23
CAPITULO II: MORTE EM VIDA: O LUTO SIMBÓLICO VIVENCIADO PELA
MULHER MASTECTOMIZADA........................................................................26
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 26
2 A MORTE EM VIDA VIVENCIADA PELA MULHER MASTECTOMIZADA .. 26
3 MORTE .......................................................................................................... 29
4 CONCEITO DE LUTO ................................................................................... 32
4.1 Fases do Luto em Vida................................................................................33
CAPITULO III: METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................. 37
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 37
1.1 PÚBLICO-ALVO ..................................................................................... 39
1.2 Recrutamento e seleção do público-alvo.....................................................39
1.3 Procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de
campo................................................................................................................40
1.3.1 Observação..............................................................................................40
1.3.2 Entrevista..................................................................................................40
1.4 Tratamentos dos dados...............................................................................41
1.5 Psicologia Social como análise de dados....................................................42
CAPITULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................. 44
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 44
2 O MEDO DA MORTE CONCRETA ............................................................... 45
2.1 Luto simbólico: a morte em vida..................................................................47
2.1.2 A perda dos papeis sociais e as limitações..............................................52
2.2 As interferências psicossociais no auxílio do enfrentamento da doença e
suas consequências..........................................................................................54
2.2.1 O apoio familiar no enfrentamento da doença..........................................54
2.2.2 A fé como artifício de superação..............................................................56
2.3 A ressignificação da vida a partir da doença...............................................58
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 60
CONCLUSÃO ................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63
APÊNDICES ..................................................................................................... 72
ANEXOS ........................................................................................................... 98
14
INTRODUÇÃO
A palavra câncer tem origem grega karkínos, foi nomeada a primeira vez
por Hipócrates, considerado o pai da medicina. O câncer são células anormais
no corpo humano que crescem de formas desordenadas e se espalham pelo
corpo atingindo outras células saudáveis, tornando uma doença extremamente
maligna.
O câncer não escolhe gênero e nem idade, e por ser uma doença
sorrateira, atinge qualquer parte do corpo de maneira silenciosa e agressiva.
Isso faz com que a doença carregue um estigma muito forte, de ser uma
doença mutiladora, incurável e mortal, afetando o indivíduo em sua integridade
física, emocional e social.
Dentro os vários tipos e classificação do câncer, o câncer de mama é o
mais comum entre as mulheres. Após a descoberta do nódulo, o tipo de
cirurgia e tratamento irá depender do estágio em que a doença se encontra. A
cirurgia de mastectomia, geralmente é a mais indicada, justamente por haver a
remoção da doença, seguido de um tratamento agressivo e doloroso para a
mulher. Mas, dentro de todo esse processo, a mastectomia vai muito além de
um procedimento cirúrgico, e consequentemente, essa experiência envolve os
mais diversos sentimentos negativos, e exige que a mesma vivencie e elabore
um sentimento de luto pelas perdas sofridas, visando assim aceitar e
ressignificar a imagem do novo corpo e as implicações decorrentes desse fato.
O luto não está ligado apenas à morte de um ente querido, mas as
possíveis perdas reais e concretas que acontecem ao decorrer do
desenvolvimento humano, sendo vivenciadas essas perdas no campo psíquico
e físico, e que tenha uma ligação significativa tanto de aspectos pessoais,
sociais, profissionais e familiares.
Em relação ao luto simbólico, essas perdas estão ligadas a extirpação
da mama, a alteração na imagem corporal, as limitações ocasionadas, aos
papéis antes desempenhados em seu cotidiano e outras perdas similares, que
podem vir a interferir em suas relações sociais, por não saberem como lidar
com tal situação.
15
A relação que a mulher tem com o próprio corpo, esta relacionada à sua
percepção e a construção social. A mama é um símbolo de feminilidade, que
constitui sua integridade e identidade como mulher, tendo relação com sua
sensualidade, erotismo e amamentação. Essa mudança brusca causada em
sua imagem pode provocar sentimentos de vergonha, baixo autoestima,
inferioridade, rejeição, ansiedade e o constante medo da morte. Visando como
objetivo compreender a vivência do processo de luto simbólico da mulher
mastectomizada e as implicações psicossociais decorrentes de tal ocorrência.
O presente trabalho foi construído a fim de investigar “Como a mulher
mastectomizada lida com os lutos simbólicos e as vivências psicossociais
decorrentes desta nova condição”?
Visto que, a mulher mastectomizada entra num processo de sofrimento,
decorrente à perda da mama e o simbolismo que esta detém, além de outros
fatores que implicam tal ocorrência, o que gera o desencadeamento do luto
simbólico e os modos de enfrentamento do mesmo, cuja elaboração ou não,
dependerão dos recursos psicossociais que cada mulher possui.
Para isso, buscou-se conhecimento no primeiro capítulo sobre a
epidemiologia do câncer. No segundo capítulo, aprofundou-se na discussão do
luto simbólico desencadeado nas mulheres mastectomizadas decorrente das
diversas perdas e sofrimentos psicossociais decorrentes deste fato. No terceiro
capítulo, foi descrito a metodologia empregada nesta pesquisa. No quarto
capítulo foi analisado e discutidos os dados coletados nas entrevistas com as
mulheres participantes, tecendo as considerações finais sobre como a mulher
vivência o luto simbólico após mastectomizada e as interferências psicossociais
ocasionadas dessa ocorrência.
16
CAPÍTULO I
CÂNCER DE MAMA: AS IMPLICAÇÕES NA VIDA DA MULHER
1 INTRODUÇÃO
Estudar sobre a mulher mastectomizada é um tema complexo e temido
na vida da mulher por envolver um processo de luto simbólico, que está ligada
a sua identidade feminina e as vivências psicossociais decorrentes desta nova
condição.
O câncer de mama é muito temido no universo feminino, pois esta
relacionada em nossa cultura a um símbolo da identidade feminina, de sua
sensualidade, sexualidade e autoestima, ligado a uma possível mutilação do
mama, remetendo ao sentimento de morte pelo estigma que a doença carrega,
permeando a vida de angústia e sofrimento.
O presente capítulo trata sobre o câncer de mama, seu diagnóstico,
formas de tratamento e as implicações psicossociais que estão relacionadas à
vida da mulher.
2 CÂNCER: EPIDEMIOLOGIA
O câncer é uma doença conhecida desde os tempos mais remotos,
sendo detectado e comprovado em múmias egípcias há 3.000 anos a. C.. O
termo câncer foi empregado pela primeira vez na Grécia antiga por Hipócrates
(460 e 377 a. C.), o pai da medicina. A palavra câncer tem origem grega
Karkínos, que significa caranguejo (INCA, 2011).
A comparação com o crustáceo deve-se ao aparecimento de feridas
profundas que penetram na pele, fazendo analogia ao comportamento do
caranguejo quando agarrado ao solo. Mas, mesmo tendo o conhecimento da
doença desde a antiguidade, apenas com a conquista do microscópio o estudo
de doenças nocivas pode ser prosseguido. Com o reconhecimento da célula
como a unidade funcional do organismo, foi possível perceber como ocorre o
desenvolvimento das doenças nocivas (HERZBERG; FERRARI, 2007).
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O corpo humano é constituído por células que se agrupam em tecidos e
órgãos. Quando essas células normais se fragmentam, tendem madurecer e
morrer, revigorando a cada ciclo. Então, o câncer passa a progredir quando as
células anormais deixam de realizar esse processo natural, assim, causando
alteração em um ou mais genes de apenas uma única célula. Essa alteração
faz com que as células se fragmentam de forma errônea produzindo novas
células anormais, e assim sucessivamente, acarretando em células cancerosas
(INCA, 2006).
Essas células cancerosas constituem-se por duas propriedades
hereditárias, primeiramente, a partir da reprodução desordenada, no qual
ultrapassa os limites normais da divisão celular; e consecutivamente,
acometem e alastram regiões reservadas a outras células, essas duas
propriedades tornam o câncer extremamente perigoso. O tumor ou neoplasia
será originado por meio dessas células anormais que aumentam e multiplicam
de maneira exorbitante. Quando essas células neoplásicas não são agressivas,
o tumor é tido como benigno, e geralmente, neste estágio pode ocorrer uma
retardação ou remoção cirúrgica dessa massa tecidual. Mas, quando há
invasão nos tecidos adjacentes, este tumor é classificado como maligno, sendo
característica das células cancerosas, a célula maligna desloca do tecido e
adentra na corrente sanguínea ou nos vasos linfáticos, gerando tumores
secundários, definido como metástases. Normalmente, quando esse tumor se
espalha, torna-se mais penoso para eliminá-lo, são as metástases que causa a
morte do paciente (ALBERTS et al., 2010).
2.1 Classificação dos tipos de câncer
As células cancerosas são nomeadas por neoplasias, como já dito, é um
aumento desorganizado das células e que não segue o processo natural. Esse
aumento é considerado benigno ou maligno. Ambas as células, se diferenciam
no desenvolvimento celular e na velocidade do crescimento, incluindo a
capacidade de se tornar uma metástase ou de se alastrar entre as células,
assim causando efeitos gerais e a destruição dos tecidos, como também na
capacidade de causar a morte do indivíduo acometido pela doença (SILVA,
2013).
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Os tipos de câncer são classificados e agrupados de acordo com os
tecidos e os tipos celulares, e são denominados como:
a) Leucemia: tem origem na medula óssea e provocam um aumento
excessivo de leucócitos prejudicando todo o corpo, impossibilitando a
criação dos glóbulos vermelhos e brancos, como as plaquetas
(TAMARIN, 2011; SANTOS; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2014).
b) Linfomas: também conhecido por doença de Hodgkin e não Hodgkin,
ambos são tumores malignos, que provocam um aumento excessivo de
linfócitos de maneira descontrolada, tem início nos nódulos linfáticos e
no baço, e originam-se de células do sistema imunológico, assim
afetando órgãos e tecidos responsáveis pela imunidade do corpo
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
c) Sarcoma: são tumores de comportamento agressivo que surgem no
músculo, osso e cartilagem, prevalecendo em toda extremidade e pelve,
podendo ocasionar uma variante em outras partes moles do corpo,
surgindo principalmente em indivíduos do sexo masculino com idade
inferior a 30 anos (CATALAN et al., 2005; TAMARIN, 2011).
d) Tumores do sistema central: tem predominância em qualquer parte
anatômica cerebral ou medular, esse tipo de tumor é mais frequente na
infância e adolescência, podendo ter a incidência em idades mais
avançadas é o segundo mais incidente, após a leucemia (MENDES;
ONGARATTI; LIMA, 2014).
e) Carcinoma: são tumores malignos que tem origem no tecido epitelial
ou glandular, e tendem a serem invasivos, pois é o tipo mais comum em
humanos. Entre as áreas do corpo afetadas encontra-se o câncer de
mama, ovário, bexiga, pele, próstata, entre outros, justamente porque o
tecido epitelial é o responsável por recobrir todos os órgãos, assim como
também nossa pele. Podem-se encontrar carcinomas tanto invasivos ou
não invasivos, como o carcinoma mamário ou câncer de mama,
referente ao estudo (TAMARIN, 2011).
As células cancerosas podem se proliferar (manifestar) em qualquer
parte do corpo independentemente, sendo a incidência mais comum em alguns
órgãos do que em outros, podendo ser atingido por diferentes tumores,
considerado mais ou menos agressivo (INCA, 2011).
19
2.2 Câncer de mama
O câncer de mama ou carcinoma mamário surge em forma de nódulos
na mama ou axila, facilitando em alguns casos a identificação pela própria
mulher por meio do autoexame (DUARTE; ANDRANDE, 2003).
Sendo a doença mais prevalente no meio feminino, raramente acomete
mulheres com idade inferior a 35 anos, podendo multiplicar rapidamente e
evoluir com a idade, prevalecendo em mulheres com idade de 40 a 60 anos.
Este tipo de câncer apresenta sinais e sintomas, e muitas vezes iniciam-se com
surgimento de um nódulo na mama ou na axila, dor e alteração na pele da
mama, como redução ou inchaço com aparência similar a casca de laranja
(SILVA, 2011).
O desenvolvimento do câncer pode estar ligado a vários fatores, tanto
biológico quanto ambiental, endócrinos e genéticos, como também relacionado
à idade. Há uma predisposição genética do câncer de mama ser hereditário,
que condiz de 5 a 10% em alguns casos. Em relação à idade e o fator
endócrino, a elevação do risco condiz ao histórico da menarca precoce, a
menopausa tardia, primeira gestação após os 30 anos ou a nuliparidade,
reposição hormonal pós-menopausa por um longo período, incluindo
alimentação gordurosa, obesidade e ingestão alcoólica (OHL et al., 2016).
Um médico francês criou um sistema para classificar o câncer em fases,
definido por TNM, cujo (T) está relacionada a tumor, (N) a linfonodos axilares
homolaterais, (M) metástase à distância. Em relação ao outro sistema, o câncer
é identificado por estágios, segundo Rodrigues, Silva e Cardoso:
Estágio I: tumores têm menos de 2 cm de diâmetro e estão confinados à mama. Estágio II: os tumores têm menos de 5 cm, ou são menores, com o envolvimento de linfonodos axilares móveis. Estágio III: quando o tumor tem mais de 5 cm e há envolvimento dos gânglios linfáticos da axila do lado da mama afetada; pode aparecer edema, ulceração, comprometimento nodal supra ou intraclaviculares. Estágio IV: todos os tumores com metástase à distância (2016, p. 51).
O câncer de mama quando diagnosticado precocemente, o tratamento
ocorre de maneira oportuna para a mulher, mas quando a doença encontra-se
20
em estágio avançado, o tratamento passa a ser árduo e mais difícil.
Geralmente, a maioria dos casos encontra-se já em estado avançado, esse
diagnóstico tardio acaba elevando o número de mastectomia (SILVA, 2008).
Este citado pode ser prevenido e dividido em: prevenção primária e
prevenção secundária. Dentro da prevenção primária, destacam-se os hábitos
de vida saudável, alimentação e exercícios físicos, aliado à auto palpação das
mamas mensalmente após o sétimo dia da menstruação, é por meio do
autoexame que a mulher pode vir a detectar qualquer alteração na mama. Mas,
ainda existem algumas barreiras, pois o câncer não tem uma causa definida.
Na prevenção secundária, inclui os Exames Clínicos das Mamas (ECM),
realizado por uma equipe preparada, médicos e enfermeiros e por
monitoramento através da mamografia, em que toda a mulher deve fazer
anualmente após os 40 anos. No caso mulheres que se encontram no grupo de
risco, deve realizar ECM anualmente a partir dos 35 anos (OHL et al., 2016).
2.3 Tipos de tratamentos
Após o diagnóstico do câncer de mama o tratamento a ser realizado,
dependerá da proporção da doença, suas características e classificação. Entre
os tipos de tratamentos que são utilizados destacam-se a quimioterapia,
radioterapia, terapia hormonal, imunoterapia e diferentes tipos de cirurgia de
acordo com o local da doença. Visto que este tratamento possa ser aplicado
individualmente ou ambos ao mesmo tempo (ALMEIDA, 2006).
O tratamento acontecerá após uma avaliação criteriosa sobre cada caso
e estágio que a doença se encontra.
a) Radioterapia: é utilizada há muito tempo em pacientes oncológicos
para tratar diversos tipos de câncer. Visa eliminar as células do tumor
por radiação, tentando impedir a destruição de células saudáveis. Na
maioria dos casos de câncer, os pacientes são expostos à radiação em
alguma parte do tratamento. No momento atual, existem máquinas
modernas influenciadas na tomografia computadorizada que expelem
radiação em todo corpo do paciente, aumentando a chance de diminuir
os efeitos colaterais do tratamento, pois assim o foco da radiação fica
somente no tumor. Isso consiste em emitir uma alta quantidade de
21
radiação no tumor, para sua eliminação, e ao mesmo tempo diminuir a
radiação na região mais próxima, onde há tecidos saudáveis
(BARBOZA; OLIVEIRA, 2006).
b) Quimioterapia: utiliza medicamentos orais ou pelas veias, com o
objetivo de destruir, controlar ou inibir o crescimento das células
doentes. A quimioterapia constitui-se de medicamentos que restringem
ou eliminam a doença, agindo para acabar com as células malignas,
impossibilitando uma nova formação do DNA (ácido desoxirribonucleico),
obstruindo atividades fundamentais da célula ou impulsionando a morte
da célula. Todos os tecidos podem ser afetados, mesmo que em
diferentes graus. A quimioterapia traz um incomodo estomacal, enjoos,
vômitos, inflamação das membranas da mucosa, diarreia, retardo do
intestino (TARTARI; BUSNELLO; NUNES, 2010).
c) Hormonioterapia: tem o objetivo de impedir a ação dos hormônios que
fazem as células cancerígenas crescerem, obstruindo ou suprimindo os
efeitos do hormônio sobre o órgão afetado. Sendo adequada e
recomendada para pacientes após a menopausa, tendo que fazer uma
associação com a quimioterapia quando se tem o linfoma positivo
(VIEIRA et al., 2012).
d) Imunoterapia: um estudo mais avançado sobre as células tumorais e
o sistema imunológico, possibilitou o desenvolvimento da imunoterapia.
A imunoterapia age direto no tumor, impossibilitando que as células
doentes se dividam. Esse tipo de tratamento, ainda está sendo testado
para os diversos tipos de câncer, e vem ocorrendo à comprovação de
sua eficácia, sendo discutido o alto custo desse tratamento em países
desenvolvidos (KALIKS, 2016).
2.4 Tipos de cirurgias relacionadas ao câncer de mama
Entre os tipos de cirurgias, a mastectomia é um dos tratamentos
cirúrgicos mais invasivos para tratar o câncer de mama, causando
modificações na vida da mulher. Quando a mulher é submetida a esse tipo de
cirurgia, indo de acordo com seu diagnóstico, atinge toda sua esfera emocional,
22
abalando não somente a imagem física, mas principalmente, a imagem
psíquica que a mulher tem de si mesma (PEREIRA; BRAGA, 2016).
O tratamento para o câncer de mama relacionado com a extirpação da
mama está relacionado a diversos tipos de cirurgia. A mastectomia é uma
cirurgia com retirada total ou parcial da mama, sendo necessária uma
avaliação específica em cada paciente para saber qual melhor procedimento a
ser adotado.
a) Mastectomia – Conservadora: na maioria das mulheres com o câncer
de mama nos estágios I e II, são requerentes da cirurgia conservadora.
O volume da mama por tamanho do tumor é a condição anatômica que
restringe para que ocorra a cirurgia. Se não houver contraindicação a
esse procedimento, a mesma será indicada, se o volume da
mama/tamanho do tumor permite a extirpação do órgão tendo um
resultado satisfatório dentro dos preceitos da cirurgia oncológica. É
extremamente importante a efetuação da mamografia antes da cirurgia,
para que ocorra uma programação da cirurgia, assim, trazer as
informações sobre a proporção da lesão e se existem mais lesões. O
tratamento conservador consiste na retirada de uma porção de tecido
mamário sadio, o bastante que possa alcançar margem cirúrgica sem
neoplasia. Quanto maior a quantidade de tecido sadio retirado, menor a
perspectiva de remoção incompleta da neoplasia e menor a perspectiva
de repetição local consecutivo do crescimento de neoplasia restante ao
tratamento local. Entretanto, quanto mais tecido mamário é retirado,
menor chance de um resultado esteticamente satisfatório (TIEZZI, 2007).
b) Mastectomia radical: foi a primeira a ser utilizada, mas seu resultado
estético é muito limitado. A mastectomia radical inicia com a remoção da
glândula mamária (aponeurose), é uma membrana fibrosa branca que
serve especialmente como revestimento de músculo, ou como ligação
de músculo ao tendão, antes e depois dos músculos do grande peitoral,
esvaziamento axilar, é adequado para os tumores invasivos, podendo
trazer complicações e limitações dos movimentos dos membros e
também dores nos membros do mesmo lado (VASCONCELOS;
RIBEIRO; TORRES, 2012).
23
2.1.4 Procedimentos conservadores
Entre os procedimentos cirúrgicos conservadores, encontram-se:
a) Tumorectomia: é uma cirurgia mais acessível; é a retirada do tumor
com margens livres, o corte é feito principalmente sobre a região do
tumor. Ocorre sua retirada completa, não é retirada nenhuma parte da
pele, é indicada para tumores de porte pequeno ou que apesar de
maiores, preservam a relação tumor/mama. É parte de qualquer
tratamento que conserve a mama (BARROS et al., 1999; AVELAR et al.,
2000).
b) Quadrantectomia: cirurgia conservadora que retira todo o quadrante
do setor mamário onde fica o tumor e também da pele que fica em cima
da área do tumor (AVELAR et al., 2000).
A possibilidade de uma cirurgia mutiladora da mama, associada ao
tratamento extremamente agressivo para o organismo, ocasiona mudanças em
toda vida da mulher, interferindo no seu comportamento de maneira negativa,
com sentimentos de inferioridade e mudança na autoestima (AMÂNCIO;
SANTANA; COSTA, 2007).
2.5 As implicações psicossociais decorrentes da mastectomia na vida da
mulher
O câncer de mama é uma das doenças mais temidas pelas mulheres,
pois reflete diretamente no campo físico, social e emocional. O medo da morte
e da mutilação são fixamente presentes, vivenciado pelas pacientes e
familiares como um momento de intensa angústia. É esperada a vivência de
diversos sentimentos, entre eles: raiva, tristeza, inquietação, ansiedade,
angústia, medo e luto. Sendo vivenciado de forma individualmente para cada
mulher, dependendo de seu diagnóstico e fatores psicossociais envolvidos
(RAMOS; LUSTOSA, 2009).
Para Silva (2008) este diagnóstico de câncer de mama, causa um
impacto muito forte na vida da mulher, decorrentes do medo pela mutilação e a
desfiguração que os tratamentos podem vir a causar, pelas perdas suscetíveis
como: alopecia, a mama, a inversão de papéis em que a mulher de cuidadora,
24
passa a ser cuidada e o medo constante da morte. Trataremos melhor dessas
perdas simbólicas e reais no próximo capítulo.
As mamas têm fundamental importância fisiológica no desenvolvimento
feminino, em nossa cultura constitui um símbolo da identidade feminina, um
órgão ligado a sua feminilidade por representar a maternidade, sensualidade e
sexualidade. Mesmo com o avanço da medicina, desde a relação diagnóstico
até tratamento, essa doença é considerada como uma “sentença de morte”
pela maioria das mulheres acometidas pelo câncer (DUARTE; ANDRADE,
2003).
O corpo feminino está fragmentado nos seus símbolos (mama, vagina), naquilo que o diferencia do corpo masculino. Ao mesmo tempo, esses símbolos 'cercam' a sua identidade enquanto pessoa na valorização daquilo que a define enquanto mulher, sobre tudo na nossa sociedade onde existe a celebração do corpo feminino perfeito e erótico (AURELIANO, 2009, p. 60).
Desta forma, a mutilação da mama constitui a uma perda irreparável em
certas situações da vida da mulher, referindo-se à integridade física, como
também na construção da própria autoimagem podendo ficar abalada,
alterando sua identidade feminina, como também os aspectos sociais e sexuais
(AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).
Ao longo do processo da doença, do diagnóstico ao tratamento, a
mulher começa a refletir e questionar sobre a vida passada, presente e futuro
em relação à doença, podendo acarretar mudanças no modo de vida e no
comportamento em relação a si mesmo e aos outros, como no relacionamento
marital se existente, família e amigos, podendo vir a se afastar de seu convívio
social (MACHADO; BERGMANN, 2012).
Essas mudanças significativas na vida da mulher após a mastectomia,
afeta de maneira inadequada suas relações sociais, dificultando o próprio
ajustamento social e sua reabilitação, causando a morte dos papéis sociais
devido à transformação brusca em sua rotina vivida antes da doença, sendo
inevitável uma adaptação continua para o tratamento e ao novo estilo de vida,
decorrente das limitações causada pela cirurgia (ALMEIDA, 2006).
Todo esse processo vivenciado por essas mulheres acometidas pelo
câncer de mama, seguido da mastectomia e das outras perdas referentes, a
25
mulher começa a passar por um processo de elaboração do luto,
extremamente necessário, acarretando deste uma tristeza a uma profunda
depressão, sendo vivenciado de maneira individual para cada mulher. Essas
perdas estão relacionadas à essência da feminilidade, a uma simbologia criada
e imposta por nossa sociedade, influenciando em seus papéis
complementares, e principalmente, o de ser mulher (MALUF; MORI; BARROS,
2005; SILVA, 2010).
A mulher submetida à mastectomia vivência crises e alterações internas
e externas, ligadas aos seus sentimentos e a própria percepção de si no
decorrer do processo da doença. Na busca de adaptar-se a essa nova
condição, a busca por auxilio psicológico é muito importante, pois o profissional
da psicologia pode auxiliar durante todo esse processo de forma a acolher,
dando o suporte necessário para uma vivência menos sofrida para poder
ressignificar essa perda da mama (ALVES, 2016).
26
CAPÍTULO II
MORTE EM VIDA: O LUTO SIMBÓLICO VIVENCIADO PELA MULHER
MASTECTOMIZADA
“Assim que o homem começa a viver, tem idade suficiente para morrer”.
Martin Heidegger
1 INTRODUÇÃO
Todos têm direito à vida, mas nem todos gozam desse direito. Vivemos
em um mundo com grande disparidade socioeconômica, onde muitos morrem
por falta de acesso a cuidados médicos e por não ter uma boa qualidade de
vida, antes mesmo de passar pelo curso natural da vida.
Está na essência do ser humano em se preocupar com a morte e essa
consciência, faz com que o homem repugna ou tenta adiar a morte, uma vez
que todos passam por este processo. Entrar em contato com esse sentimento
remete-se à desvinculação dos entes queridos, sonhos e desejos, e isso causa
muito sofrimento, tendo presente o temor da morte.
O diagnóstico de uma doença severa, muitas vezes remete ao estigma
da morte. Porém, o câncer não é o fim e sim uma chance de encontrar em
meio ao sofrimento, um sentido maior da existência, vivenciado entre as fases
do luto simbólico, encontrando um alívio na imensa sede de plenificação
humana.
Refletiremos neste capítulo sobre a morte em vida, o conceito de morte,
e as fases do luto simbólico.
2 A MORTE EM VIDA VIVENCIADA PELA MULHER MASTECTOMIZADA
Em algum momento da vida, todos sofrem diversas rupturas e tristezas
relacionadas a percas sejam simbólicas ou reais. O fato de estar com câncer
ou qualquer outra doença crônica faz com que o indivíduo entre em contato
com os mais variados sentimentos, entre eles, o medo da morte, no qual faz
27
com que o próprio indivíduo repense sobre suas atitudes, seus valores e a
maneira de viver. Essas experiências possibilitam a ressignificação da vida.
Caputo (2012) amparado em Kovács (1996) descreve que:
A existência humana é marcada pela presença da morte em vida, o que de certa maneira acaba remetendo o indivíduo à ideia de finitude. A partir das vivências das mortes em vida o indivíduo projeta representações sobre a fim de sua vida, tais como: dor, ruptura, tristeza, perda, medo do desconhecido, interrupção (p. 37).
Essas experiências estão relacionadas a doenças e separações,
permeadas de sofrimento. Mas, mesmo as experiências festivas, como
nascimento, adolescência, casamento, entre outras, onde a alegria é a palavra
que predomina, envolve, de certo modo, sentimentos de tristezas e perdas,
medo do desconhecido justamente por ser algo novo a ser vivenciado. Todas
essas experiências estão finalizando um ciclo ou estado, e que envolve as
nuances da morte (KOVÁCS, 1996).
Estamos em contato com a morte do outro, vivemos o morrer, mas a
morte em si, essa é uma experiência única e definitiva. Para Kovács (1996),
morremos várias vezes ao longo da vida; as mortes simbólicas se presentificam
a todo o momento na existência humana. Mas, a morte sendo considerada
como “fim da vida”, esta é universal e irreversível para a humanidade e esta
consciência de finitude é o que dá significado para a vida.
As doenças que carregam o estigma da morte, no caso, o câncer de
mama, deixam sequelas que provocam mudanças na vida da mulher. Essas
mudanças são influências de diversos fatores: a personalidade e o estágio de
desenvolvimento em que se encontra cada mulher, o grau e a severidade da
doença, a energia libidinal investida na atividade ou em determinada função
que não pode ser mais desempenhada, todas as experiências vividas e as
possibilidades de enfrentamento da doença. Neste caso, as mulheres ao
encerrar seu ciclo menstrual com a menopausa não sofreram tanto quando a
mulher mastectomizada, pois a carreira sexual está sendo encerrada de acordo
com sua natureza (KOVÁCS, 1996).
Os sentimentos de ansiedade, desesperança, angústia e medo frente ao
tratamento, são comuns por envolver mutilações e haver a possibilidade da
28
morte. A mulher portadora desta enfermidade vivência vários lutos simbólicos
ao longo do processo do tratamento, iniciando com a possibilidade da
existência de um câncer, acarretado pelo diagnóstico, seguido pelo tratamento
cirúrgico, que envolve o luto pela imagem corporal e similar, possível limitações
em decorrência das cirurgias muitas vezes mutiladoras e por último, o luto
causado pelo tratamento que muitas vezes são agressivos e invasivos (ALVES,
2010; MALUF; MORI; BARROS, 2005).
No decorrer do processo da doença que envolve, desde o diagnóstico
até o tratamento, essas mulheres sofrem muitas perdas significativas, sendo
longa e dolorosa a fase de elaboração do luto. Essa mulher se depara com a
aceitação e convivência de um novo corpo, sendo esse corpo marcado por
uma nova imagem, manifestando assim, uma insatisfação, compreensível
(RAMOS; LUSTOSA, 2009).
Este processo de luto que a mulher com câncer de mama passa,
possibilita a ela, entrar em contato com seus conflitos internos ao se deparar
com a nova condição, de modo a engendrar e refazer sua autoimagem
psiquicamente, por meio dessa nova realidade, o câncer de mama. Todo esse
processo é doloroso, e acarreta profundos sentimentos, desde uma tristeza até
uma depressão, assim como a angústia e o medo (MALUF; MORI; BARROS,
2005).
A mastectomia faz com que a mulher elabore o luto da perda do objeto
amado, que integra e constitui sua essência e identidade feminina, e tudo que
envolve esse universo: erotismo, sensualidade e amamentação. Isso pode
provocar sentimentos de vergonha, baixo autoestima, inferioridade e rejeição. A
relação que o indivíduo cria com o próprio corpo, constitui a própria
individualidade como ser (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007; OLIVEIRA,
2010).
Para Alves et al. (2010), a identidade da mulher passa a ser alterada
com a retirada da mama no que diz respeito os aspectos psicossociais, como
também sexuais, podendo refletir na relação marital. Ao se depara com esse
momento complexo em sua vida, o real sentimento vivenciado por essas
mulheres é que a vida está acabando. Após o diagnóstico do câncer de mama,
a mutilação é dada como certa e o amanhã passa a ser um enigma. Em
relação aos tratamentos, Maluf, Mori e Barros, descrevem:
29
O tratamento quimioterápico, seja pré e, principalmente, pós-operatório, provoca reações de luto pelo impacto nas mudanças corpóreas como a queda de cabelo, muitas vezes expressa como maior preocupação (no íntimo espelha o que a alopecia representa na psique da paciente: a diminuição da feminilidade, o estigma do câncer, o estigma da morte, a rejeição do sentimento de piedade, o preconceito, autodefesa, uma fase de rejeição). Outras mudanças corpóreas e não fisiológicas incluem, mal-estar geral (inclusive na possibilidade de diminuição da imunidade e infecções oportunistas), náuseas e vômitos importantes, diminuição da função cognitiva (como alterações na memória entre outras), quadro clínico decorrente de hipoestrogeinismo por diminuição da função ovariana (principalmente em pacientes pré-menopausada, podendo desenvolver diminuição da lubrificação vaginal, atrofia vaginal, fogachos, amenorréia). (2005, p.153).
Em relação ao seu cotidiano, a mulher desempenha diversos papéis,
diante das barreiras que são impostas pela doença para o desempenho de
suas funções. Todo esse processo da doença deixa sequelas, limitações,
incapacidades, que traduzem a ideia de uma morte, a perda dos papéis e das
funções, como o desempenho para a realização de tarefas, à interrupção de
sonhos e carreira profissional, podem perder o convívio social, por amigos não
saberem como lidar com determinada situação (KOVÁCS, 1996).
3 MORTE
A vida e a morte são duas facetas distinguíveis na humanidade. A morte
como parte do desenvolvimento humano, muitas vezes é mascarada ou se
quer mencionada, principalmente quando o sujeito é portador de alguma
enfermidade. Sendo assim, dentro do imaginário social, uma das doenças mais
severas associadas à questão da morte é o câncer. Essa doença é
considerada pela sociedade, desde os tempos mais remotos, como uma
doença maldita, sendo incurável e permeada pelo estigma da morte, que abala
as duas esferas na existência da humanidade.
Assim, para Maranhão (1985), a sexualidade, o riso, a fome e a sede, a
morte e o nascimento são acontecimentos naturais na vida. Perante a morte
todo ser humano se iguala. No entanto, a concepção do fenômeno da morte vai
além da proporção natural ou biológica. Ela também procede como qualquer
30
acontecimento da vida do ser humano, em uma dimensão social representando
assim, uma ocorrência em diferentes classes sociais inerente aos mortos.
Para Heidegger a morte pertence à própria estrutura essencial da existência. Ela não é um acidente, não vem de fora. A existência humana é um ser-para-a-morte (Sein-zum Tode). Assim que um homem começa a viver, tem idade suficiente para morrer (MARANHÃO, 1985, p. 69).
Para Borges et al. (2006), a morte é considerada inevitável e parte da
nossa história de vida, onde todos irão vivenciar ao longo do desenvolvimento
humano. O indivíduo acometido pela doença começa a se envolver e a lidar
com questões mais profundas sobre a morte e o morrer, levantando questões
sobre a própria existência, fazendo-se constante o medo e a possibilidade de
tal fato ocorrer. Então, Martins (1983) descreve que: “a finitude da vida possui
sempre duas representativas: uma física e outra social, a morte de um corpo
(biológica) e a morte de uma pessoa” (apud RIBEIRO, 2008).
No decorrer do desenvolvimento humano, desde a infância até a velhice,
a morte é compreendida de acordo com cada fase. Na infância, mesmo a morte
sendo algo provável de acontecer, desde um animal de estimação ou alguém
próximo, não é negada por ela, mas haverá uma dificuldade em separá-la da
vida, pois para ela a morte é compreendida como algo que não é definitivo e
nem irreversível. Na adolescência, a libido está direcionada para a sua
construção de mundo, na busca de uma nova identidade. Nesse período, o
adolescente compreende a essência da morte como definitiva irreversível e
universal, mas não há tempo para pensar em sua própria morte. Na idade
adulta, estamos propensos a esse fato a qualquer momento, mesmo diante da
construção de família e profissão, a morte é considerada uma possibilidade
pessoal. Mas é na velhice, que a morte parece ser mais aceita por nossa
sociedade, talvez por ser esse a última fase do ciclo vital, é também a mais
estigmatizada e carregada de atributos negativos, por haver mudanças em
seus papéis sociais, em suas funções e uma saúde mais fragilizada (KOVÁCS,
1992).
No entanto, para Borges et al. (2006), no decorrer do tempo a
compreensão das experiências da morte e do morrer tem passado por
transições, acompanhando as mudanças da sociedade no que está relacionada
31
à morte, passando de uma experiência serena na Idade Média, para uma
experiência carregada de dor, medo e angústia nos tempos atuais. Então,
Medeiros e Lustosa (2011), descrevem que:
Paralelo ao fascínio instaura-se o medo da morte, a repugnância ao cadáver e a interdição do olhar. O homem durante séculos conseguiu dominar o medo da morte e traduzi-lo em palavras. A sociedade permitia os ritos familiares, e a brevidade melancólica de um fim anunciado era tratada com dignidade sem fugas ou falsificações (p. 204).
A morte e o morrer são assuntos em que as pessoas tentam evitar o
máximo, mas esse evitar faz com abrimos mão das mais diversas técnicas
possíveis existentes para manter vivo um paciente, mesmo não havendo mais
sentido. A morte se deu lugar nos hospitais, e não mais em casa, longe das
pessoas mais próximas. Ver um corpo morto é repugnante e incomodo, pois
traz a ideia da nossa própria finitude (CARVALHO, 1996).
Para o homem ocidental moderno, a morte passou a ser vista como um
tabu, estigmatizada pelo sinônimo de derrota, vergonha e fracasso, que deve
ser vencida de qualquer maneira, mas quando tal ato não é possível, a morte
passa a ser escondida e negada (COMBINATO; QUEIROZ, 2006). Em Kovács
(2005) encontramos que:
Negar a morte é uma das formas de não entrar em contato com as experiências dolorosas. A grande dádiva da negação e da repressão é permitir que se viva num mundo de fantasia onde há ilusão da imortalidade. Se o medo da morte estivesse constantemente presente, não conseguiríamos realizar os sonhos e projetos. Existe, no ser humano, o desejo de se sentir único, criando obras que não permitam o seu esquecimento, dando a ilusão de que a morte e a decadência não ocorrerão. Essa couraça de força é uma mentira que esconde uma fragilidade interna, a finitude e a vulnerabilidade (p. 494).
Então, o indivíduo portador de uma doença maligna, como o câncer,
passa a duvidar de sua própria existência, fazendo uma interpretação da
doença e do tratamento, muitas vezes agressivo. O medo torna-se realidade
por atribuir ao câncer à ideia de fim da vida e tudo que a permeia, trazendo
sofrimento. Para esses indivíduos a morte não é um infortúnio, mas os
sentimentos que acompanham o medo de morrer, a desesperança, a intensa
agonia, a dor e a solidão (BORGES et al., 2006).
32
4 CONCEITO DE LUTO
No desenvolvimento humano a elaboração do luto é constante e
inevitável. Por isso, a morte do outro, nada, mas é do que a experiência da
morte em vida, pois é como se perdêssemos algo também. Essa perda e sua
ressignificação são chamadas de morte consciente e morte vivida. É um
vínculo que se rompe de forma irreversível, pelo fato da morte concreta.
Improvável achar alguém que não tenha passado por essa experiência. A
morte reproduz uma série de sentimentos, mas a perda, seja ela, concreta ou
simbólica, é a única que pode ser experienciada. Ocultar os sentimentos, ver
essa perda como uma fatalidade, eliminando essa dor apontando um possível
crescimento diante dela, são formas de negar para não sofrer. A expressão dos
sentimentos nessa perda é indispensável no desenvolvimento do processo de
luto (KOVÁCS, 1992).
Para Cavalcanti, Samczuk e Bonfim (2013), o luto é definido como perda
de uma junção significativa entre o indivíduo e seu objeto, sendo considerado
um episódio natural e seguido durante todo o desenvolvimento humano;
interfere em outros campos profissionais diretamente, no qual torna-se
fundamental um conhecimento para o respaldo adequado para aqueles
indivíduos que sofrem em torno desta perda. O luto não esta ligado apenas à
morte, mas no embate contínuo das perdas reais e simbólicas no decorrer do
desenvolvimento humano, e que venham a serem vivenciadas essas perdas
que movimentam o campo psíquico e físico, como as junções significativas nos
aspectos pessoais, sociais, profissionais e familiares.
Segundo Freud (1996), dentro do período de luto, a libido que
anteriormente era investida no objeto amado não existe mais, e exige a retirada
de suas ligações para que o ego possa vir a investir em outro objeto. Mas,
quando isso necessariamente não ocorre, o ego vai continuar a investir a libido
no objeto que foi perdido. Quando ocorre um desinteresse e a inibição, o
trabalho do luto começa a desenvolver, onde o ego é absorvido. Então, o luto é
a reação à perda de um objeto amado, em que o ego tenta superar a essa
perda. É um processo longo e penoso, seguido de uma tristeza profunda, é que
provoca o desinteresse por qualquer atividade do mundo externo, de modo
semelhante à capacidade de acolher um novo objeto de amor.
33
O luto normal vem a ser superado após determinado tempo, mesmo que
haja um caráter patológico. Mas quando esse luto é mal elaborado, tornando-
se prejudicial ao indivíduo com características obsessivas e profunda tristeza,
transgrida para um processo patológico, denominado melancolia ou depressão.
Para Kovács (1996):
A melancolia ou depressão ocorrem em pessoas com uma disposição patológica, quando os mesmos sintomas do luto normal vêm acompanhados de um rebaixamento da auto-estima, com auto-recriminação e expectativa de punição. Nem sempre é claro aquilo que foi perdido, podendo não ter havido uma morte concreta. Ocorre, segundo Freud, um empobrecimento do Ego, que se torna vazio, desprezível com necessidade de ser castigado. Parece, neste caso, que o prazer é derivado da situação de sofrimento. Há sentimentos ambivalentes e muita culpa. O ódio que deveria ser dirigido ao outro que abandonou, volta-se para si próprio e é como se uma parte do Ego ficasse contra a outra, os impulsos destrutivos, que deveriam ser expressos, voltam-se para dentro, num caso mais extremo há o suicídio, quando o indivíduo, ao tentar destruir esta parte negativa, destrói o todo (p. 16-17).
O luto rodeia um teste de realidade, para que possa comprovar a não
existência do objeto amado, ocorrendo em alguns momentos uma fantasia de
que o objeto ainda esteja vivo, por isso considerado longo e penoso. Pois todo
esse processo envolve lembranças e perspectivas em torno do objeto perdido e
começa promover um investimento em torno delas, quando todo esse processo
termina, e o ego torna-se livre e desinibido para os possíveis vínculos que
surgirem (KOVÁCS, 1992).
Para as mulheres mastectomizadas, essa fase de elaboração do luto da
perda da mama e outras perdas decorrentes com o tratamento irão depender
da personalidade de cada uma, de como a energia libidinal é investida no
objeto amado que foi perdido.
4.1 Fases do luto em vida
O paciente enfermo no decorrer de sua doença, elabora diversos lutos
no que diz respeito à doença, mesmo não havendo a “morte concreta”. O
paciente irá vivenciar os estágios do processo do morrer, mas nem todos vão
passar por essa experiência na devida sequência em que se apresentam, isso
34
vai depender da personalidade e as experiências vividas de acordo com cada
paciente.
Os estágios do processo do morrer são descritos em cinco estágios:
negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação, veremos:
a) Negação e isolamento: a negação é procedente da notícia de um
diagnóstico sobre determinada doença. Frequente em pacientes quando
recebe a notícia de forma imatura, não levando em consideração a
preparação adequada desse paciente para tal diagnóstico. A negação é
como uma “arma” utilizada por quase todos os pacientes, geralmente
logo após o diagnóstico da doença. A negação é como se fosse um
“amortecedor”, após a notícia inesperada e assustadora, por ser muito
traumático, fazendo com que o paciente se reestabeleça com o tempo,
estimulando outras medidas mais tranquilas. Entretanto, não significa
que o mesmo paciente algum tempo depois não poderá querer falar
sobre sua morte próxima, ou até mesmo possa sentir-se feliz e aliviado
em poder contar para alguém. Isso só poderá ocorrer quando o paciente
achar conveniente, quando sentir-se preparado, e também pode terminar
quando o paciente não conseguir mais olhar os fatos, voltando a deixar a
negação assumir a posição.
Um indivíduo em plena saúde conseguirá lidar melhor com o
assunto da morte, isto é, ela estando longe dele, diferentemente quando
a morte já esta mais próxima. Para a família também é mais fácil falar
sobre esses assuntos em tempos de saúde e bem estar, mas para o
paciente, não é uma questão agradável para ser abordado.
Geralmente, essa negação é uma defesa provisória, seguida de
uma aceitação parcial. Assumir a negação, nem sempre irá aumentar a
tristeza. Em alguns casos a negação pode acompanhar o paciente até o
fim, mas isso é uma raridade. A negação é temporária, pois logo o
paciente tem a necessidade de falar sobre seu real estado, mas
repentinamente, passa a demonstrar uma incapacidade de encarar sua
realidade. Apenas mais tarde é que o isolamento toma lugar da
negação, pois o paciente aborda assuntos que envolvem sua doença,
sua morte, a mortalidade e a imortalidade, assumindo de vez a morte,
por vezes, sem perder suas esperanças.
35
Em nosso inconsciente somos seres imortais, e por isso, a
dificuldade de encarar a morte depende de alguns fatores para essa
aceitação, de como se deu a notícia sobre a doença, do tempo para que
possa haver uma conscientização desse desfecho e de como foi
preparado durante a vida para lutar com situações de sucesso.
b) Raiva: a raiva aparece quando já não é mais possível manter o
estágio de negação, que é a primeira a ser apresentada, logo a negação
é sucedida pela raiva, inveja, revolta e ressentimentos. É extremamente
dificultoso para a família e equipe hospitalar lidar com essa fase, pois
essa raiva é multiplicada em todos à sua volta, na maioria das vezes
sem razão alguma.
A dificuldade é que a maioria das pessoas não consegue
entender esta raiva, surgindo então, a importância da tolerância com a
raiva demonstrada por esses pacientes. Aprender a ouvir, suportar a
raiva desses pacientes, faz com que contribuímos para aceitação do que
poderá ser suas horas finais.
c) Barganha: a barganha costuma ser o estágio menos popular, mesmo
sendo breve, mas também muito útil para o paciente. O paciente sabe,
por fatos já ocorridos, que pode existir uma probabilidade de ser
gratificado por ter um bom comportamento e ganhar um prêmio. Ele
praticamente anseia por dias sem dores e males físicos, e até mesmo
uma extensão de sua vida.
Na verdade, a barganha é uma maneira de adiar a morte,
“incluindo um prêmio oferecido”, é algo oferecido em troca de mais dias
de vida, incluindo uma promessa velada. Caso seja concedido, o
paciente não solicitara outro pedido.
Em grande parte, as barganhas são feitas com Deus, e deixadas
em segredo, faladas em meias palavras ou no confessionário. Essas
promessas psicologicamente poderão estar ligadas a remorsos e culpas;
por esse fato as observações que esses pacientes fazem não podem ser
desprezadas pela equipe multidisciplinar.
d) Depressão: o paciente já não consegue mais esconder sua doença,
sua revolta e raiva passa a dar lugar para outro sentimento: o de perda,
que inclui à perda da família, a vida profissional e social, a própria vida.
36
A depressão é um estado no qual o paciente está se preparando para
todas as perdas relacionadas ao objeto amado.
Essa fase é muito importante e difícil para os familiares, pois é a
preparação do luto de perdas que já foram vividas pelo paciente. Um
paciente flexível não terá problemas em descobrir a causa da
depressão, e se desprender das culpas irreais que costuma acompanhar
a depressão. Essa depressão costuma acabar rapidamente quando
pequenos problemas vitais em que era responsável passa a ser ouvido e
cuidado por outras pessoas.
e) Aceitação: a fase de aceitação não deve ser comparada com uma
fase de felicidade. Quando o paciente recebe algum tipo de ajuda para
ultrapassar todos os estágios, já ditos anteriormente, passará a não
sentir mais depressão nem a raiva, já terá falado sobre seus
sentimentos, expressado sua inveja de quem goza de boa saúde e raiva
pelos que tem que passar pela morte mais cedo. Começará a olhar com
um grau de tranquilidade para a própria morte após ter despedido de
seus entes queridos.
Neste momento, os problemas do mundo lá fora, já não
interessam mais, o paciente não tem a vontade de conversar, estará
mais enfraquecido e certamente dormirá mais, não como esquiva, mas
como um repouso derradeiro para o momento da partida, a luta chegou
ao fim. Esta, sem dúvida, é a fase mais difícil para a família, em que ela
necessita de mais ajuda e apoio do que o próprio paciente.
Nem sempre este estágio é atingido por todos os pacientes,
alguns lutam exaustivamente, não perdem a esperança. Mas, essa
tentativa de negar o próprio fim, torna muito mais difícil de alcançar o
estágio final, com serenidade e dignidade.
Todas essas fases da morte descritas acima foram baseadas de acordo
com o livro “Sobre a Morte e o Morrer” de KÜBLER-ROSS (1998).
37
CAPÍTULO III
METODOLOGIA DA PESQUISA
1 INTRODUÇÃO
Para apreciação da presente pesquisa, o trabalho foi submetido à
Plataforma Brasil em 19/05/2017, conforme a Resolução CNS nº 466/12, com
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium Lins em 22/06/2017, com o parecer de nº 2134122
(APÊNDICE A) e CAAE de nº 68974017.0.0000.5379.
O interesse pelo tema justifica-se da relevância em engendrar
conhecimento acadêmico-científico sobre luto simbólico decorrente da cirurgia
de mastectomia em mulheres, assim, buscar compreender sobre as
implicações psicossociais decorrentes de tal fato; bem como sobre seus modos
de enfrentamento a nova condição, referente às perdas simbólicas e reais.
Entende-se que essa pesquisa possa contribuir em uma melhor compreensão
do luto simbólico sofrido pela mulher mastectomizada e, quiçá, possa subsidiar
programas e tratamentos que visem auxiliar tais mulheres no enfrentamento e
elaboração do luto, levando-as a ressignificar essas perdas, conforme fora
apontado no segundo capítulo, e propiciando uma melhor qualidade de vida
para essas mulheres.
Partindo do pressuposto como problema de pesquisa “Como a mulher
mastectomizada lida com os lutos simbólicos e as vivências psicossociais
decorrentes desta nova condição”? Visto que, a mulher mastectomizada entra
num processo de sofrimento, decorrente à perda da mama e o simbolismo que
esta detém, além de outros fatores que implicam tal ocorrência, o que gera o
desencadeamento do luto simbólico e os modos de enfrentamento do mesmo,
cuja elaboração ou não, dependerão dos recursos psicossociais que cada
mulher possui.
Utilizou-se como meios para fundamentar o estudo, os tipos pesquisas:
exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória, para Gil (2007), tem o
objetivo de promover maior conhecimento do problema, tornando-o mais claro
e possibilitando a formulação de hipóteses sobre o assunto pesquisado. O
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objetivo principal deste tipo de pesquisa é o aperfeiçoamento de ideias ou a
descoberta de intuições. Portanto, seu planejamento, é muito flexível, no qual
possibilita a reflexão de variados aspectos que estejam relacionados ao fato
estudado. A pesquisa exploratória possibilitou a familiarização e maior
conhecimento sobre o assunto explorado, de modo a compreender o fenômeno
do luto simbólico e as implicações psicossociais que envolvem a mulher
mastectomizada.
A pesquisa descritiva viabilizou observar, registrar, analisar e
estabelecer uma relação entre os fatos ou fenômenos a serem estudados sem
manipulá-los. Assim, procura encontrar com maior exatidão possível, como
ocorrem determinados acontecimentos, sua relação, natureza e suas
características. Busca compreender por meio de várias situações e relações
que coincidem na vida social, política, econômica, incluindo o comportamento
humano, tanto do indivíduo isoladamente, quanto em grupos e comunidades
(CERVO; BERVIN; DA SILVA, 2007).
A abordagem qualitativa tem como foco no caráter subjetivo de
determinado objeto a ser analisado, visando suas particularidades, como
também experiências individuais (TRIVIÑOS, 1987), no que se refere à
vivência de cada mulher mastectomizada.
A pesquisa propõe uma escuta qualificada e um acolhimento através das
pesquisadoras por meio de 3 encontros semanais, em que o primeiro encontro
visa conhecer as participantes e esclarecer os objetivos da pesquisa, assim
como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE; ANEXO A) e
Carta de Informação ao Participante (ANEXO B). No segundo encontro,
fortalecer o vínculo com as participantes e por fim, no último encontro, a
realização da entrevista individualmente, embasada na abordagem da
Psicologia Social, de modo a investigar a vivência do luto simbólico e as
vivências psicossociais, buscando deixar os encontros mais harmoniosos
possíveis para que essas mulheres possam falar sobre seus sentimentos em
relação a todo esse processo. Pois, muitas vezes, esses sentimentos são
ocultados dentro da sociedade e da família, em decorrência do estigma que a
doença carrega.
A vivência do luto simbólico, muitas vezes é gerador de angústias, assim
como também o medo que, consequentemente, será vivenciado por essas
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mulheres após a mastectomia. A pesquisa também visa compreender e
contribuir no processo do luto simbólico que a mulher mastectomizada vivência,
levando a ressignificar essa perda, buscando uma melhor qualidade de vida
para essas mulheres que lidam com diversas mudanças psicossociais.
1.1 Público-alvo
A pesquisa foi restringida a mulheres moradoras de Lins-SP e região,
com idades entre 35 anos e 70 anos e que realizaram a cirurgia de
mastectomia em um período máximo de dois anos em decorrência ao câncer
de mama. Esse período está relacionado às principais vivências que a mulher
enfrentara após a cirurgia, ligada às recorrentes perdas simbólicas e reais, e
como ela irá lidar com isso em seu cotidiano. Visto que após a cirurgia, segue-
se um tratamento agressivo no que diz respeito ao câncer de mama e que
exige da mulher uma reabilitação física, emocional e psicossocial, para que a
mesma venha a reorganizar e ressignificar todo esse processo de elaboração
do luto, de acordo com a vivência de cada mulher.
1.2 Recrutamento e seleção do público-alvo
Para o recrutamento das participantes, o primeiro contato ocorreu na
Clínica de Fisioterapia – UniSalesiano – Lins, com a responsável pelo setor
Saúde da Mulher, para obter informações sobre as mulheres que estiveram ou
estão em processo de reabilitação após serem submetidas à cirurgia de
mastectomia.
Após as informações colhidas, esse contato com as participantes
ocorreu por telefone através da responsável do setor, juntamente com as
pesquisadoras, em que esclareceu a finalidade da pesquisa, marcando o
primeiro encontro para o esclarecimento os objetivos e as possíveis dúvidas
que surgiram.
A partir da adesão dessas mulheres, foi entregue o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e Carta de Informação ao
Participante, onde marcou-se um segundo encontro para fortalecer o vínculo
antes da entrevista individual.
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1.3 Procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de campo
A revisão bibliográfica é um meio de acrescentar à pesquisa
conhecimento sobre o tema estudado, acrescentando novas obras e artigos
publicados para melhor desenvolvimento teórico da pesquisa (MARCONI;
LAKATOS, 2010).
O levantamento de dados é necessário para adquirir conhecimento
sobre determinado assunto a ser estudado, saindo de uma visão geral para dar
direcionamento a um foco em meio a tantas informações obtidas.
As pesquisas por meio de fontes bibliográficas permitiram que
comtemplássemos o devido assunto a ser estudado: mastectomia, luto
simbólico e o enfrentamento psicossocial da mulher após a cirurgia,
impulsionando e dando amparo teórico para sanar as dúvidas que surgiram do
tema pesquisado, ampliando o conhecimento no enfoque abordado.
Também foi realizada a pesquisa de campo, que consiste em buscar
informações e conhecimentos de um problema, procurando uma resposta ou
uma hipótese, a fim de comprovar, ou até mesmo descobrir novos fenômenos
ou as relações existentes entre elas, formados por meio de observações de
fatos ocorridos espontaneamente dentro desse grupo de mulheres pesquisadas
(TRUJILLO, 1982 apud MARCONI; LAKATOS, 2010).
1.3.1 Observação
Para os encontros com as participantes, utilizou a técnica de
observação, a fim de captar as significações e expressões subjetivas de cada
mulher, para uma melhor compressão e adequação no meio do grupo
participante em que o pesquisador está inserido, assim possibilitando a
compilação de informações dentro do que está sendo pesquisado. Por meio da
observação, os fatos podem ser percebidos diretamente como ocorrem de
modo natural, sem qualquer intervenção, sendo também utilizado para
obtenção de dados, como um meio de investigação (GIL, 2008).
1.3.2 Entrevista
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A entrevista fora semiestruturada, possibilitando uma maior
compreensão e aprofundamento no respectivo assunto abordado.
Bosi (2003, p.60) descreve que: “a entrevista ideal é aquela que permite
a formação de laços de amizade; tenhamos sempre na lembrança que a
relação não deveria ser efêmera”. Portanto, o envolvimento e a
responsabilidade pelo outro deverá ser mantido enquanto durar esses laços. A
qualidade da entrevista dependerá da qualidade de vínculo que será criado
com as participantes.
A entrevista consiste em um encontro com duas pessoas, com o intuito
de que uma delas possa obter informações sobre determinado assunto, frente
a um colóquio de caráter profissional. Em geral, é uma técnica utilizada na
investigação social, a fim de coletar dados, obter um diagnóstico ou até mesmo
no tratamento de um problema social. Para a entrevista, mantém-se uma
conversa face a face, com o objetivo de coletar verbalmente as informações
necessárias, no qual se busca para compreender os problemas sociais. Na
entrevista semiestruturada, o entrevistador tem a autonomia para construir a
direção adequada, de forma a explorar mais o assunto abordado (LAKATOS;
MARCONI, 2010). Então, para Triviños (1987), a entrevista semiestruturada é:
(...) em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (p. 146).
As entrevistas (APÊNDICE C) possibilitaram a compreensão dos
sentimentos do luto simbólico na mulher mastectomizada, e todo esse
processo ligado em suas relações psicossociais vivenciado de modo particular,
mantendo o sigilo da identidade e a integridade das participantes dentro da
pesquisa. Para isso, usaram-se nomes fictícios na entrevista para não
identificar as participantes.
1.4 Tratamento dos dados
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Os dados coletados foram tratados por meio da história oral. Para Meihy
(2002), a história oral é um método de tratamento muito dinâmico e criativo,
que utiliza como material, gravações de narrativas pessoais, utilizando
gravadores de voz e vídeos. Tem sido utilizada para elaboração de
documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de
pessoas e de grupos. Há diversos modos de utilização da história oral: nesta
pesquisa utilizaremos a história oral temática, a qual consiste em uma técnica,
que aborda o esclarecimento, assim como esclarecimento de determinado
evento decorrente de uma situação vivida pelo indivíduo. Na maioria das vezes,
a história oral temática se aproxima de soluções triviais e tradicionais, de
apresentações de trabalhos analíticos em diversas áreas a nível acadêmico.
Quase sempre, assemelha o uso da documentação oral ao o uso das fontes
escritas.
Há uma diferença entre a língua falada e língua escrita, o importante na
entrevista não é a forma de como as palavras foram ditas, mas sim o seu
significado dentro da mensagem que é passada. As entrevistas coletadas
foram tratadas e inspiradas na história oral, deste modo realizamos apenas
dois passos: transcrição, a entrevista é redigida com as mesmas palavras das
participantes e o segundo passo foi à textualização são eliminados erros
ortográficos, repetições e sons, deixando a entrevista escrita de forma mais
sucinta e clara. Enquanto a transcrição é a transposição do conteúdo, deixando
de forma mais literária e a conferência feita pela depoente, na qual após a
entrevista transcriada, deve ser lida e autorizada pelas depoentes, embora
conhecêssemos a importância de tal procedimento, não utilizamos na pesquisa
(MEIHY, 2002).
Por meio das observações, entrevistas e da história oral temática, os
instrumentos utilizados foram, gravadores de voz e vídeo, para que possam ser
armazenados de forma segura para não ser esquecido nenhum detalhe.
1.5 Psicologia Social como análise de dados
A Psicologia Social é um campo de saber articulador, que trabalha em
função do sujeito e do espaço, fazendo surgir como uma ciência charneira, em
que indivíduos pensam, interage e se relacionam em determinados grupos, em
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um campo em que a Psicologia e a Sociologia não deixam de se encontrar.
Para Maisonneuve:
Sua emergência e seu crescente desenvolvimento provem da incapacidade de a sociologia, ou a psicologia, sozinhas, explicarem a integralidade das condutas humanas concretas (1977, p.2).
Recorrendo concomitantemente aos conceitos psicológicos e
sociológicos, a Psicologia Social permite cingir a interação de determinações
psíquicas e sociais. Isso viabiliza a Psicologia Social realizar uma análise da
realidade, na qual se destina a estudar, em um nível geral, no que diz a
respeito ao sujeito na sua coletividade como também na individualidade
(CAPUTO, 2014).
A Psicologia Social contribui dentro de um mundo de significados e
pretensões, valores e atitudes, que estão intrinsicamente ligados às relações e
fenômenos, de modo que não podem ser diminuídos, mas abarcando novos
conhecimentos dentro de uma realidade social (GIL, 2008; MINAYO, 2004).
Dentro da pesquisa a Psicologia Social possibilitou o estudo dos
processos interacionais no nível individual a interação de processos sociais e
psíquicos, permitindo investigar as condutas humanas, e no caso desta
pesquisa, propiciou a compreensão do luto das mulheres mastectomizadas e
as implicações psíquicas e sociais de tais vivências, principalmente em seu
cotidiano. Os dados coletados, portanto, foram analisados sob a luz da
Psicologia Social, para assim poder compreender melhor o processo de luto
simbólico enfrentados pelas mulheres mastectomizadas investigadas nesta
pesquisa.
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CAPÍTULO IV
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada nos possibilitou compreender como que as
mulheres participantes lidam com o luto simbólico após a cirurgia de
mastectomia e vivência essa experiência. Para isso, foram entrevistas 5
mulheres e realizados 3 encontros. Os dois primeiros encontros que
antecederam a entrevista individual foram realizados em grupo, visando o
fortalecimento dos vínculos, esclarecendo os termos e as possíveis dúvidas
que surgissem. Enquanto que as entrevistas individuais, após serem
realizadas, passaram pelo processo de transcrição, e foram lidas
exaustivamente.
As leituras nos possibilitou chegar as seguintes categorias para análise:
o medo da morte concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as
interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e suas
consequências e a ressignificação da vida a partir da doença, obtendo também
algumas subcategorias provenientes das categorias já mencionadas.
Assim, permitindo compreender os modos de enfrentamento da doença,
as mudanças em seu contexto social e psicológico, considerando a família e a
religiosidade como forte aliado na luta contra a doença, possibilitando essas
mulheres participantes novas vivências em função da nova condição, de ser
mastectomizada.
As vivências do luto simbólico foram vividas de modo particular por cada
mulher participante e de acordo com a fase em que cada uma estava vivendo,
tendo relações com filhos e estado civil. Os nomes utilizados são fictícios, a fim
de preservar e manter o sigilo das participantes. Veremos algumas informações
no quadro abaixo, com relação às mulheres participantes:
Quadro 1: Identificação das participantes
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DADOS COLETADOS
NOME IDADE ESTADO CIVIL FILHOS
FLOR DE LÓTUS 42 ANOS DIVORCIADA 1
LÍRIO 45 ANOS SOLTEIRA NENHUM
BORBOLETA 47 ANOS CASADA 2
IRÍS 64 ANOS VIÚVA 3
BEIJA-FLOR 68 ANOS DIVORCIADA 4
Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.
2 O MEDO DA MORTE CONCRETA
O medo da morte é fixado no consciente da mulher participante desde o
diagnóstico até após o término do tratamento, sendo possível perceber por
meio dos relatos das participantes nos encontros que antecederam as
entrevistas, que mesmo havendo uma possível cura por parte médica, quando
há alguma dor ou o surgimento de uma mancha no corpo remete a essa mulher
uma recidiva da doença. O diagnóstico de uma doença maligna emerge a
fragilidade humana e uma proximidade com a própria finitude, tornando a morte
cada vez mais próxima (KOVÁCS, 1996).
A gente tem medo quando fala câncer. Você... A primeira
coisa que se pensa, “à vou morrer”! Principalmente
quando você já viu casos na família, tanto do meu lado,
como do meu esposo também. Eu também vivenciei junto
com meu esposo a perda do irmão dele, que também
faleceu de câncer. Logo em seguida teve outro irmão dele
que teve câncer, mais graças a Deus foi curado! Então
é... Gente muito próxima a nós, próximo mesmo! Assim...
Tanto minha irmã, meus cunhados, a gente sempre
estava junta (Borboleta, 47 anos).
Primeiro o diagnóstico de morte, que eu iria morrer.
Depois eu pedi pra Deus que... eu queria viver... e que eu
tinha que cuida da minha filha (Flor de Lótus, 42 anos).
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A mulher mastectomizada carrega diversas lembranças e experiências
dolorosas, entre essas experiências é inevitável não pensar na morte concreta
e de tudo que a envolve. Para essas mulheres o medo de morrer se faz
presente desde o primeiro momento (a descoberta do nódulo em casa), e após
o diagnóstico preciso dado por um médico.
Para cada mulher esse diagnóstico é vivenciado de modo particular,
gerando diversos sentimentos. A angústia e a incerteza de um futuro que
caminha para morte estão presentes constantemente diante de uma doença
maligna (HOFFMANN; MULLER; RUBIN, 2006).
Eu queria... eu queria... que acabasse o câncer. (...) Por
que eu sei que com o tempo o câncer volta, e eu não
queria passar pelo sofrimento de outra cirurgia na outra
mama. Mas, ele disse que até faria, se não fosse o caso,
como eu já estava em metástase, que não adiantava
passa por uma cirurgia grande dessa e porque metástase,
já não... Tinha mais o que fazer... Uma vez que a
metástase está na corrente sanguínea e a qualquer
momento podia desenvolver em outro lugar (Flor de
Lótus, 42 anos).
Como descrito no relato acima, o sofrimento e o medo são inevitáveis
diante do estigma de que a doença é incurável e mortal. O modo de como a
doença progride, torna-se irreversível, sorrateiro, irremediável, totalmente
arrasador e vai se alojando no “silêncio dos órgãos”, se ramificando pelo corpo,
uma ameaça à integridade física, psíquica e social do indivíduo (AMBRÓSIO;
SANTOS, 2011).
Pode-se observar entre as mulheres participantes que o primeiro
sentimento vivenciado frente ao diagnóstico, é o medo da morte concreta,
seguido de diversos sentimentos que se instaura. Visto que a palavra câncer
em nossa sociedade carrega essa crença de dor, sofrimento, mutilação e
principalmente, de morte. Para KOVÁCS (1992, p. 15) a própria morte é “a
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consciência da própria finitude, a fantasia de como será o fim e quando
ocorrerá”.
Diante da consciência da própria morte e das incertezas que toma conta
após o diagnóstico, é comum nesse primeiro momento vivenciar uma negação,
sendo notado nas participantes como a primeira reação.
Quando ele falou pra mim que iria repetir os exames, iria
fazer pra ver como que estava e falou que estava em
metástase no fígado e três nódulos, eu não acreditei... Eu
acho que eu não acredito até hoje, apesar de ver os
exames ali, eu entender perfeitamente como que é,
parece que eu não acredito ou eu não quero acreditar. Eu
não acredito... Eu sei que tem o câncer ali, está ali, mais
não sei... Parece que... Não sei, parece que não é
comigo. Todo mundo fala o câncer! Tem pessoas que não
fala nem a palavra câncer, uma doença que... que as
pessoas morrem e eu não acredito que tenho câncer. É
meio louco, (risos) é louco... (Flor de Lótus, 42 anos).
Como visto no capítulo II, a negação é a primeira fase da morte, um
poderoso mecanismo de defesa que funciona como um “amortecedor”, após
um diagnóstico inesperado e temido, por ser muito traumático, faz com que o
paciente se reestabeleça com o tempo. É uma defesa provisória, que pode ser
seguida de uma aceitação parcial, mas nem sempre ao ser assumido irá
aumentar a tristeza.
2.1 Luto simbólico: a morte em vida
A mulher é conhecedora do próprio corpo. Ao se deparar com um nódulo
na mama, após o autoexame periódico, a mulher entra em um mundo sombrio
de incertezas, impregnado de dúvidas, angústias e medo em relação ao
achado, de ser ou não um câncer. Após uma constatação médica, um
diagnóstico mais preciso, levando a possibilidade de uma cirurgia mutiladora e
o tratamento muitas vezes agressivo, os mais diversos sentimentos se
misturam diante da incerteza de seu futuro.
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Ah... O sentimento de tudo... de... Assim, meu chão abriu
para mim quando eu fiquei sabendo. É... Porque assim,
como eu tinha... Vivi caso na família, minha irmã que é
mais próxima, eu tinha perdido ela há pouco tempo, aí eu
achei que... eu ia passar por tudo que ela passou. Que iria
ser... É... Tudo... Tudo que ela passou, pelo problema que
ela teve, com o câncer que ela teve, eu achei que iria
passa pela mesma situação. Mais graças a Deus foi
diferente! No meu caso eu fui curada, e ela não teve a
chance e infelizmente faleceu (Borboleta, 47 anos).
O desespero após o diagnóstico é certeiro, principalmente quando houve
causos da doença em pessoas na família. Essa experiência remete a mulher
participante, assimilar a vivência da pessoa que foi acometida pela doença e
que não teve uma chance de cura, vindo à morte. Isso remete a ela a
associação de passar pelas mesmas experiências, sendo o medo um
sentimento constante, principalmente quando há a necessidade de uma
intervenção cirúrgica, havendo a mutilação do órgão afetado.
A mastectomia, é uma das cirurgias indicadas no caso de câncer de
mama por haver uma erradicação maior da doença, ocorrerá de acordo com o
grau e o estágio da doença. Mas, quando a mastectomia é indicada, a mulher
começa a vivenciar uma experiência dolorosa, agora perpetuada pelo
sentimento da perda da mama e outras perdas decorrentes, que certamente
atinge a sua identidade feminina (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).
Ah isso eu acho que mudou tudo (risos)... Essa é a parte
mais difícil. Eu acho que mudou bastante por que, é...
Você não se, é... Quando você vai para espelho, você
veja que... Um corpo diferente. Então você vê que é uma
parte tua que não tem, nunca mais vai ser igual. Então,
isso doí lá no fundo, e... Isso acha que é o mais difícil (...)
(Lírio, 45 anos).
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Não, não porque ainda está faltando um pedaço de mim.
Tanto que eu estou bem ansiosa para poder fazer a
reconstrução da mama. Assim... Não que vai se igual, por
que eu já andei vendo como que é... Que nem a aréola, o
bico do seio não vai ser igual. Tem que fazer tipo uma
tatuagem para ficar parecido. Não tenho data ainda,
semana que vem, eu vou passar pelo mastologista e a
gente vai começa a conversar sobre isso, ele falou o ano
que vem, mais não tem data ainda. Eu fico envergonha
até hoje, não me troco perto de ninguém, eu uso uma
prótese, tipo um... Que põe no sutiã. Mais assim perto de
ninguém, nem meu esposo, perto dele não. Entre mim e
ele não mudou nada, mais é da minha parte, eu fico
constrangida, com vergonha de me mostrar, tanto na
relação sexual, eu procuro está coberta pelo menos a
parte de cima (risos). Mais graças a Deus ele me entende,
meu marido foi uma benção pra mim gente, até hoje, ele
me entende! (Borboleta, 47 anos).
Como pode ser notada, a consciência e a percepção que a mulher tem
do próprio corpo, está relacionado à construção social, a autoimagem e a
própria individualidade como ser e que passa a ser modificada após a cirurgia
frente a um corpo desconhecido. A retirada da mama e as perdas recorrentes,
ameaça à identidade feminina em seus aspectos psicossociais, e esse luto
simbólico vivenciado implica sentimentos de inferioridade, vergonha de si e do
outro, insatisfação, rejeição e tristeza (ALVES et al., 2010).
Ao longo do tratamento, a mulher aceita de modo parcial a retirada do
seio como uma possível “chance de vida”, mas os sentimentos negativos ainda
vão muito além da mastectomia, pois em função dos tratamentos agressivos
(quimioterapias e radioterapias – os mais usados) em que pacientes
oncológicos são submetidos, a mutilação do seio não é a única perda como já
mencionado, mas há outras em decorrência a todo esse processo, e que
também ocasionam o luto, relacionadas ao aspecto físico e emocional.
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Eu acho que foi a fase mais crítica mesmo. Por que a
gente tem o cabelo... Meu cabelo era no ombro, era
cumprido e assim... Que a primeira coisa que eu perguntei
para o médico, quando ele falou que tinha que fazer a
químio: “e meu cabelo Doutor vai cair?” Ele falou: “cabelo
cai e nasce, e vai nascer ainda mais bonito”. Acho que
não sei... pra toda mulher. Eu falo, por que como eu sou...
Aqui no salão a gente lida com cabelos de cliente mulher
a todo o momento. E a gente vê, que elas tem muita
vaidade com o cabelo. Então, assim... pra mim... a todo
momento eu fala assim: “acho que não vai cair, por que
tem gente que não cai, não é (risos)?!” E eu não queria
acreditar, até que eu comecei a passar a mão no cabelo e
vi que estava saindo, e eu falei: “não, vou te que corta”.
Eu cortei ele curtinho, mesmo assim não para... a gente
ah... pensa que cortar curtinho vai para de cair, mas não
parou de cair. No mesmo dia eu cortei ele curtinho, e eu
raspei. Já raspei logo, por que é chato fica caindo muito
cabelo assim. É... pela casa, se vai lavar passa a mão ele
sai. Por que quando você está na fase da quimioterapia
é... ele não nasce, aí depois que você termina a
quimioterapia, já começa a cresce! Aí... depois acho que
de 6 meses mais ou menos, resolvi colocar um aplique,
ele já estava uns 4 dedos crescido, e eu coloquei aplique.
Ah... (suspiro) cabelo é... (Borboleta, 47 anos).
(...) a perca do cabelo, que a gente sofre, pela mulher ser
um pouco vaidosa e a gente acaba sofrendo bastante, e...
Achei que isso é a parte mais triste da história. Mais
assim, todo momento tem que agradecer a Deus por que
eu tive uma nova chance de vida, enquanto muitas
pessoas não tem essa oportunidade eu tive (Lírio, 45
anos).
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Durante os encontros pode-se notar que a fase mais crítica e
angustiante do tratamento é a queda do cabelo, sendo relatado por uma
participante como pior que o diagnóstico do câncer. A alopecia causa um efeito
devastador, justamente por ser mais visível é comum ver o uso de perucas,
lenços e outros acessórios, e afeta diretamente a autoestima da mulher
(FERREIRA et al., 2011).
Diante às outras perdas similares, a dor física e psíquica, ambas se
sobrepõem, intensificando ao longo do tratamento, como no caso da Flor de
Lótus que teve infecção nas unhas como um dos efeitos colaterais do
tratamento:
Na época sim, a unha por que a unha doía muito, demais,
muita dor e o cabelo não... O cabelo não sofreu, me
adaptei bem com os lenços, os cílios que eu não
enxergava direito por causa da claridade, o pelo da narina
por que pra respira doía, a sobrancelha eu passava um
lápis e contava os fios com a minha filha (risos)... Filha
tem três... Filha tem dois, mãe não tem nem um... Está
horrível (risos). Então... (Flor de Lótus, 42 anos).
Outro efeito colateral do tratamento vivenciado pelas mulheres está
relacionado à menopausa precoce, tornando a identidade feminina mais frágil e
vulnerável.
Ah... Então... Quando eu recebi essa notícia eu fiquei
sabendo lá em Jaú mesmo, e não foi por médico, nem por
enfermeiro, foi por pessoas que faziam a radio mesmo e
aí realmente eu fiquei bem abalada. Quando sai de lá e
que fui para pousada, eu chorava muito (Lírio, 45 anos).
O modo no qual a mulher enfrenta essa notícia irá depender muito se a
mesma já tem filhos, pois foi possível verificar esse dado entre as participantes
que tem filhos e a que não tem, a qual mencionou nos encontros que
antecederam a entrevista individual, que “filhos era um sonho, projeto de vida e
que infelizmente não poderá realizar”. Todas as mulheres participantes
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sofreram e sofrem os efeitos colaterais advindos do tratamento e estão
vivenciando o luto simbólico decorrente às perdas, mas de modo individual, de
acordo com a personalidade e o momento em que cada uma encontra-se na
vida, sendo discutido isso nos encontros.
2.1.2 A perda dos papéis sociais e as limitações
A mastectomia não se limita apenas na retirada total da mama, mas
também na remoção dos linfonodos axilares para evitar uma recidiva. Sendo
esse processo tão doloroso em todos os aspectos, é necessária a elaboração
do luto, afim de ressignificar todas essas perdas. Mas, em decorrência do
processo cirúrgico, além das mudanças já mencionadas, o cotidiano dessa
mulher também é alterado imobilizando-a totalmente ou parcialmente em suas
tarefas antes realizadas (ZIGUER; BORTOLI; PRATES, 2016).
Ah, esse... foi mais os procedimentos de vida, que você
tem que regrar o que se vai fazer. Muitas vezes não podia
por uma roupa no varal. Hoje eu estou super feliz por que
eu consigo levantar a mão, eu não conseguia... Isso aqui
pra mim o médico disse que era o máximo e pra mim o
máximo é isso... (risos) (Íris, 64 anos).
Então, é... Não tem muita coisa que muda. Assim, no meu
serviço graças a Deus, tudo continua o mesmo jeito. Aí...
Pegar peso, não posso mais pegar peso, não posso fazer
muita força com o braço, por que foi esvaziado a axila
procuro não fazer muita força. No meu serviço eu procuro
fazer menos tempo, menos hora do que fazia antes, para
não esforçar tanto, mais eu faço tudo normal (Borboleta,
47 anos).
Com a mudança em seu cotidiano, a mulher fica impedida de
desempenhar papéis que antes cabia somente a ela, como o cuidado com a
casa, filhos e família. As atividades domésticas mais simples, quanto às sociais
53
passam a serem restritas em decorrência do tratamento cirúrgico, os
movimentos e atividades antes desempenhadas com facilidade, passam a ser
reduzidos em função da força do braço que foi submetido à cirurgia
(AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).
Mudou... Ah... Mudou, era muito elétrica. Então, eu podia
fazer tudo e hoje não posso de vida alergia, devido ter
feito o esvaziamento das axilas, e tirar os linfonodos,
então isso incha muito. Então, atrapalha. Então, tipo
assim, às vezes até quero estar num lugar, mas eu não
consigo ficar muito tempo, devido... a cirurgia e também o
medicamento que eu faço o uso dele contínuo (Lírio, 45
anos).
(...) eu não podia ter contato com ninguém. Por causa do
meu tratamento, da quimioterapia, eu não podia está em
lugares cheios de gente, eu não podia está em lugar
contaminado. Então quer dizer, pra mim, fui privada de
bastante coisa, de não sair e de não ir, por não poder ter
contato, por que se alguém tivesse alguma doença eu
estava (pausa), pronta pra pegar. Então, eu não podia ir,
eu tinha que ficar em casa. Para igreja mesmo, eu só fui...
acho que comecei ir em abril, depois de três meses que
eu comecei, isso lá no fundo sozinha, nem para frente,
nem ficava no meio do pessoal, não ficava. Ainda a turma
me chamava: “vem pra cá!”. Eu dizia: “não posso, eu
tenho que ficar aqui sozinha”. Por que se a pessoa
respira, espirra, então você pega o vírus, e ele falou pra
mim: “você não pode frequentar lugares lotados.” Quer
dizer que foi uma exclusão da sociedade por que... pra
mim mesmo, pro meu bem (Íris, 64 anos).
Essas mudanças e limitações sociais ocorridas pelo processo de
tratamento podem ser observadas na fala das participantes. O sentimento de
54
preocupação passa a tomar conta da mulher, o medo de atrapalhar ou de ser
um incômodo se instala, já que estando em tratamento a mulher depende de
outra pessoa para ser cuidada, até mesmo nas atividades mais simples, papel
que antes dependia somente dela.
Então, a limitação física provoca uma limitação social, a mulher se sente
frágil diante todo o processo de tratamento e pela alteração causada em seus
papéis, necessitando de uma reabilitação para se adaptar à nova condição,
que por vezes poder haver certa limitação na sua vida social e que pode vir a
provocar um isolamento social (ARAÚJO; FERNANDES, 2008).
2.2 As interveniências psicossociais no auxílio do enfrentamento da doença e
suas consequências
Dentro dos processos psicossociais, encontraram-se elementos que
auxiliam essas mulheres participantes no enfrentamento do processo da
doença, como também na elaboração do luto simbólico, que foram
evidenciados durante os encontros, tendo maior respaldo nas entrevistas pelas
mesmas. Para tal, foi encontrado duas subcategorias: o apoio familiar no
enfrentamento da doença e a fé como artifício da doença.
2.2.1 O apoio familiar no enfrentamento da doença
O apoio familiar é um aspecto muito valorizado pela mulher, de extrema
relevância nesse momento tão difícil. A família também vivência diversos
sentimentos negativos diante da incerteza do tratamento, mas é a família que
possibilita um suporte emocional e um melhor ajustamento para a mulher frente
a sua nova condição.
Sim, sim... Primeiramente a Deus. Depois a família, as amigas que a gente tem, (...). Apoiaram-me bastante, principalmente meu marido, meu marido sempre do meu lado todo tempo, foi primordial... foi tudo, família! (Borboleta, 47 anos).
Uma das participantes mencionou a importância da família e
principalmente do cônjuge diante todo processo, e que após a doença o
esposo passou a ser muito mais afetuoso e preocupado. O apoio do cônjuge é
55
fundamental para a mulher, visto que a autoestima da mulher é atingida pela a
mutilação e o constrangimento frente ao parceiro, já que a mama simboliza sua
feminilidade, sensualidade, erotismo. Neste caso, a compreensão, o carinho, o
acompanhamento no tratamento entre outras trocas de afeto, é de fundamental
importância para a mulher (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007; SILVA,
2010). Ao ser questionado sobre a família, Beija-Flor de 68 anos, relatou ter
recebido “muito apoio, muito apoio”.
Sim, se não fosse eles! Tem muito apoio, me ajuda o
tempo todo, muito apoio mesmo! Ah... foi tudo! Foi tudo,
foi meu porto seguro. Porto seguro! (Lírio, 45 anos).
Nossa... a minha irmã foi quem me carregou no colo, foi
primeira pessoa que contei. Perto de mim, ela... ela... é
igual... Igual eu faço. Longe da minha família eu banco...
eu fico triste, perto da minha família eu banco a fortona.
Ela perto de mim, ela banca a super poderosa e ela que
resolveu tudo pra mim... ela que foi contar para meu
irmãos, ela que contou para minha mãe, ela que ficou
correndo atrás de tudo... de tudo pra mim. Então a minha
família, meus irmãos, minha mãe! (...) Então eu falo
assim: “carinho... carinho cura, carinho cura”, por que isso
foi me fortalecendo, eu fui... Eu consegui enxergar que eu
não estava sozinha e tanta gente se aproximou de mim,
umas amigas que se tornaram mais amigas, família,
parecem que fica... Fica tudo melhor! Então o câncer não
é... Tudo ruim, eu consigo ver o lado do câncer... Passo.
Parece que a parte ruim, eu esqueci... As dores, o mal
estar depois da quimioterapia. Eu lembro, mas eu não
lembro triste... A minha unha que doía, ficou tudo “fudida”
(risos), não posso fala... ficou tudo estragada. Eu lembro
disso, mas eu não fico triste, eu consigo lembra as coisas
boas, as pessoas que chegavam perto, as pessoas que
iam me visita... eu lembro disso! (Flor de Lótus, 42 anos).
56
O apoio familiar, bem como de outros membros da família e amigos,
assume um papel importante de amparo e proteção nos momentos mais
críticos, tal apoio ajuda na superação da doença. Para Amâncio; Santana e
Costa (2007), essa demonstração de afeto, esperança e carinho por parte da
família e pessoas próximas, auxilia a mulher no tratamento e na recuperação
de maneira menos traumática.
Entre as mulheres participantes, mesmo após o choque inicial da notícia
o apoio familiar, filhos e pessoas próximas, foram constantes e auxiliaram no
enfrentamento de todo o processo, sendo essencial para a superação.
2.2.2 A fé como artifício de superação
A fé e a crença em Deus possibilitam a pessoa enferma um
empoderamento na vivência dessas experiências, é um dos meios de
enfrentamento, de modo que ambas auxiliam, confortam e motivam essas
mulheres no enfrentamento da doença. A fé em Deus traz uma sensação de
esperança e confiança diante daquilo que é almejado, nesse caso, a cura.
Sendo também uma forte fonte de apoio para a superação, como também de
ressignificação de todo o processo (PEREIRA; BRAGA, 2016).
Com certeza foi à fé que eu tive em Deus, tudo que eu
fazia primeiramente eu buscava em Deus! Eu orava
muito, eu pedia muito, usava muito minha fé e depois
minha família! (Borboleta, 47 anos).
Olha... É... Na verdade assim... Eu tentava me acalmar,
pra passar tranquilidade para minha família também e
confia... tive o tempo todo a minha fé, muita fé que tudo
iria correr bem. Então, foi o que eu me apeguei, não tinha
outra coisa assim, que eu sabia que eu tinha que tirar e
tinha que se tirado todo e não apenas o quadrante. Mais
então foi isso que fiz, é... Até o dia da cirurgia (Lírio, 45
anos).
57
Durante as pesquisa, pode-se observa o quanto a religiosidade estava
presente em todas as mulheres. A religiosidade pode ser usada também como
uma forma de barganha, mas isso irá depender da fase do luto em que o
indivíduo esta vivenciando. Nas entrevistas, foi possível perceber que as
mulheres participantes utilizaram a fé como uma forma de superação e ajuda
de uma possível cura e aceitação de todo o processo da doença.
Eu penso que estou curada! Estou bem, mas se voltar eu
estou aberta. Apoio em Deus, sabia que Deus estava na
frente. Hoje sou a mesma, fico em casa, eu só queria
andar. Voz tem como substituir, agora andar não (Beija-
Flor, 68 anos).
A fé é um poderoso artifício usado por essas mulheres na luta contra a
doença, como forma de se restabelecer e neutralizar a forte carga de estresse
e tensão diante das incertezas. Ao longo de todo processo, essas mulheres
participantes tornam-se resilientes juntamente com a fé, fazendo do sofrimento
vivido uma forma de aprendizagem e reorganização. A religiosidade é um
modo de encontrar o sentido frente à dor vivenciada (AMARO, 2013). Pode-se
perceber nessas mulheres participantes durante os encontros e na entrevista a
constante busca por Deus, que quanto maior a fé, maior a resiliência, que
apesar da doença, a fé fez com que elas pudessem ter um olhar diferente
tornando-as mais fortes no enfrentamento da doença e respectivas perdas
associadas ao luto simbólico.
Muito mais... Muito mais... e parece assim que... Antes eu
conversava com Deus, mas Deus estava tão longe e hoje
não, parece que ele está tão pertinho. Eu converso ali, ele
está ali... já me atende. Ele me escuta como eu estou
conversando com vocês, eu converso com Deus, e ele me
ouve, por que eu estou aqui... (Flor de Lótus, 42 anos).
A minha força maior foi Deus! E eu sempre tive uma fé
muito grande por que só com essa revelação que eu tive
58
dentro da igreja, pra mim foi assim... por que você sendo
católica, você tendo uma fé firme em Deus, Deus não
desampara você, em momento algum! Você só cai por
que você não tem fé em Deus! (Íris, 68 anos).
2.3 A ressignificação da vida a partir da doença
Dentro de todo esse processo em que é permeado de angústias e medo,
o adoecimento possibilita uma reflexão de valores e nova conduta no modo de
viver. Essa experiência possibilita um crescimento pessoal, a valorização da
religiosidade e direciona o indivíduo dar um novo sentido em sua vida.
Nossa é difícil... Ah... (choro) bem... eu acho assim depois
que se passa por uma dificuldade dessa (choro) você
está, você aprende muita coisa... Você veja que você não
é ninguém nesse mundo e que você tem que ter muito
mais amor pelo próximo, que você tem que valoriza cada
minuto que você vive... Por que depois você não sabe o
que vai acontecer com você, não é? Por que queira sim,
queira não, a nossa vida modifica, é outra vida. Então a
vida que passou, não vai ter mais, então cada um tem que
aproveitar seu dia, tem que fazer aquilo que você gosta,
aproveitar ao máximo, por que realmente você tem que
aproveitar o máximo! (Lírio, 45 anos).
Após o diagnóstico... a princípio eu fiquei muito triste, mas
depois eu... eu me tornei uma pessoa feliz, eu acho que
hoje eu sou mais feliz, eu acho que eu não era feliz e eu
acho que hoje eu sou... Não sei... (...) Hoje eu me sinto
mais feliz, mesmo com câncer! Eu me sinto! (Flor de
Lótus, 42 anos).
Uma mulher mais forte, eu me sinto mais forte do que era
antes. É... Assim... Lógico que tem momentos assim,
59
que... a gente fica meio assim, pra baixo. Parece que vem
aquela... aquela, meio depressão, você pensa em tudo.
Que nem eu penso em tudo que eu passei e estou aqui
hoje. Que nem a minha irmã mesmo, não teve essa
chance, ela foi embora muito cedo, mais nova que eu. E
eu tenho assim... um sentimento de agradecimento a
Deus, as pessoas que me apoiaram, as meninas aqui,
meu esposo, minha família, gratidão! E... é isso!
(Borboleta, 47 anos).
Mesmo diante das cicatrizes deixadas pela mastectomia na alma
feminina, o medo de uma recidiva e a constante possibilidade da morte tende a
permanecer (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007). Mas há uma busca
incessante por aproveitar cada momento da vida como se fosse único,
vivenciando um sentimento de gratidão a Deus por mais uma nova chance de
vida.
60
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Podemos perceber na análise dos dados a necessidade da existência de
intervenções voltadas às mulheres mastectomizadas. As mulheres demonstram
necessidade de falar sobre sua doença e suas vivências com alguém que não
seja do meio familiar. Isso pode ser notado nos encontros, em que uma das
participantes relatou ser a primeira vez que conseguiu falar sobre sua doença e
também chorar perto de outras pessoas, pois sempre se manteve “forte” em
frente a sua família, pra que os mesmo achassem que ela estava bem.
Entendemos então, a necessidade de um trabalho voltado ao
acolhimento dessas mulheres nesse processo de elaboração do luto simbólico,
para que as mesmas possam falar de suas vivências em relação aos seus
sentimentos e às perdas sofridas. Pois como percebemos todas passam por
um processo doloroso que se inicia com o diagnóstico, e continua em outras
etapas tais como: a cirurgia de mastectomia, seguido do tratamento muitas
vezes traumático, assim, suscetivelmente, as perdas reais e concretas.
Esse trabalho sugere que seja iniciado um acolhimento, seguido de uma
intervenção com essas mulheres quando há o diagnóstico do câncer de mama.
Além do tratamento farmacológico que faz parte do tratamento como forma de
erradicação da doença, também se faz necessário devido ser extremamente
importante um trabalho psicológico para auxiliar e orientar essas mulheres a
lidar com esse processo de luto simbólico e as possíveis mudanças corporais,
psicológicas e sociais que venha a acontecer, colaborando para uma melhor
qualidade de vida dessas mulheres e de seus familiares.
61
CONCLUSÃO
O ser humano é o único ser que tem a consciência da própria finitude e
essa consciência faz com que o homem tente driblar a própria morte, sendo
inevitável esse processo. Diante do diagnóstico de uma doença maligna como
o câncer, e que tem fortemente o estigma de ser mutilador, incurável e mortal,
os mais diversos sentimentos negativos e lutos simbólicos (reais ou concretos)
serão vivenciados.
Neste contexto, buscou compreender como a mulher lida com o luto
simbólico e suas vivências psicossociais após a mastectomia, ocasionada pelo
câncer de mama, de modo que nem todas as fases podem vir a ser
vivenciadas.
A vivência do luto se inicia após o diagnóstico preciso de um médico,
permanecendo ao longo do tratamento, devido às várias perdas que são
ocasionadas. Os mais diversos sentimentos frente às incertezas de uma
possível cura são experienciados por essa mulher, entre eles, a negação após
o impacto da notícia. Sendo, a negação uma poderosa “arma” usada como
defesa no enfretamento da doença para que essa mulher venha a se
reestabelecer no decorrer do tempo.
Assim, o modo de lidar com esse luto simbólico e as vivências
psicossociais, estão relacionadas à personalidade, bem como o meio em que
está inserida e a fase em que cada mulher encontra-se na vida, levando em
conta esses fatores: idade, estado civil e se tem filhos. Esses fatores vão
influenciar a mulher no decorrer de todo esse processo da doença, nas
mudanças significativas em seu cotidiano e nos aspectos tanto físico,
emocional e social.
O apoio familiar, como de pessoas próximas também são essências
nesse momento, visto que elas atribuíram o carinho recebido como
fundamental para a superação da doença. Assim, como a fé e crença em Deus,
tornam essas mulheres mais resilientes, a religiosidade é um poderoso meio de
enfrentamento e na busca pela possível cura.
Os encontros que antecederam, bem como as entrevistas, possibilitou-
nos enxergar, que mesmo diante das angústias, a fragilidade, a identidade
feminina abalada, o choro muitas vezes sufocado para não passar sofrimento
62
para seus familiares e a incerteza da cura, adentrar no âmago dessas
mulheres, por meio de um acolhimento e escuta qualificada, possibilitou
compreender a necessidade existente das mesmas em expressarem seus
sentimentos. O vínculo estabelecido com essas mulheres, fez com que
emergissem vários conteúdos e que fossem expressos seus sentimentos e
emoções, havendo uma troca de vivências entre as mulheres e pesquisadoras.
63
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72
APÊNDICES
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APÊNDICE A – TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
(T.C.L.E)
Eu ......................................................................................................................... ,
portador do RG n°. ............................................................, atualmente com ............. anos,
residindo na ................................................................................................................................... ,
após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA,
devidamente explicada pela equipe de pesquisadores .............................................. , apresento
meu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e
concordo com os procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.
Concordo também com o uso científico e didático dos dados, preservando a minha
identidade.
Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou ciente de que todo
trabalho realizado torna-se informação confidencial guardada por força do sigilo profissional e
que a qualquer momento, posso solicitar a minha exclusão da pesquisa.
Ciente do conteúdo, assino o presente termo.
Lins, ............. de ............... de 20.....
.............................................................
Assinatura do Participante da Pesquisa
.............................................................
Pesquisador Responsável
Endereço:
Telefone:
73
74
APÊNDICE B – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE
CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DE PESQUISA
Prezada Senhora,
Estamos realizando um estudo, cujo objetivo é investigar a vivência do
processo de luto simbólico da mulher que realiza a cirurgia de mastectomia e
as implicações psicossociais decorrentes desta ocorrência. Sua participação é
muito importante, pois possibilitará compreender as vivências do processo de
luto simbólico vivenciado pela mulher após a retirada da mama e suas
interferências em sua vida particular e social em decorrência deste processo.
Em relação à pesquisa, este luto simbólico esta relacionado à mastectomia,
cirurgia de retirada da mama decorrente do câncer de mama. Será realizado
encontros com as participantes, com um tempo previsto de 50 minutos, na
Clínica de Psicologia UniSalesiano-Lins, para conhecer o histórico da paciente
com câncer de mama e suas vivências após a mastectomia.
Terá como benefício, uma escuta qualificada e um acolhimento através
das pesquisadoras, no qual essas mulheres possam falar sobre seus
sentimentos, muitas vezes escondido dentro da sociedade e da família pelo
preconceito que o câncer carrega. Assim, auxiliando na vivência desse luto
simbólico que, muitas vezes é gerador de angústias e medo para essas
mulheres e, de modo que a mesma venha a ressignificar todo esse processo
vivenciado após a mastectomia. E consequentemente, por meio da escuta
qualificada e o acolhimento, essas mulheres venha a compreender os próprios
sentimentos e a expressá-los.
A pesquisa esta sendo coordenada pelas discentes: Fernanda de Cássia
do Nascimento Alves; Graziele Fernanda Ribeiro Gomes e Pastora Inês do
Nascimento, sob orientação do Professor Me. Rodrigo Feliciano Caputo (CRP
06/94.185).
75
Faça a leitura atenciosa desta carta e das instruções oferecidas pela
Equipe e/ou pesquisador e, caso concorde com os termos e condições
apresentados, uma vez que os dados obtidos serão utilizados para pesquisa e
ensino (respeitando sempre sua identidade), você ou seu representante legal
deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esta Carta de
Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que você tem total
liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem
ônus ou prejuízo algum.
Por estarem entendidos, assinam o presente termo.
Lins, ............. de ............... de 20.....
......................................................................................................................
Assinatura do Participante da Pesquisa Pesquisador Responsável
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APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
Pesquisa:As vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas: as
interveniências psicossociais decorrentes desta ocorrência.
Dados de Identificação
Nome:______________________________Idade:______________
Ocupação profissional___________________________________
Estado civil:__________________________________________
Tem filhos? Quantos?
Data da mastectomia.
Você tem algum histórico de câncer na família? Grau do parentesco?
Quais os sentimentos que você vivenciou após o diagnóstico do câncer de
mama?
Como você enfrentou a notícia da cirurgia da mastectomia?
O que mudou em sua vida após a mastectomia?
Você teve e tem apoio da sua família em relação à doença?
Teve mudanças em sua vida social, afetiva e sexual? Se sim, quais?
Você enfrentou algum preconceito no meio social? De que tipo?
Após a cirurgia, você é satisfeita com seu corpo? Se não, por quê?
Quais os meios que você buscou para enfrentar a doença, deste seu
diagnóstico até a mastectomia?
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APÊNDICE D – TRANSCRIÇÔES DAS ENTREVISTAS INDIVIDUAIS
Entrevista 1 - “Flor de Lótus”
Meu nome é Flor de Lótus. Tenho 42 anos, e minha ocupação
profissional é técnica de enfermagem, mas atualmente de licença médica. Sou
divorciada e tenho uma filha, todo mundo já conhece a minha filha (risos)?! Ela
tem 12 anos.
A realização da cirurgia foi julho do ano passado, que eu tirei apenas o
tumor. Não chegou ser a mastectomia. Só o tumor mesmo, em julho de 2016.
Na minha família não tem ninguém com o histórico da doença e espero que
pare em mim. Ao ser diagnosticado com câncer de mama, primeiro vivenciei o
sentimento de diagnóstico de morte, que eu iria morrer. Depois eu pedi pra
Deus que... eu queria viver... e que eu tinha que cuida da minha filha. Então,
acho que a fé. No momento da notícia, eu queria... Eu queria... Que acabasse
o câncer. Então na hora que ele falou de tirar um quadrante, eu falei que podia
retirar a mama toda, inclusive a outra. Por que eu sei que com o tempo o
câncer volta, e eu não queria passar pelo sofrimento de outra cirurgia na outra
mama. Mas, ele disse que até faria, se não fosse o caso, como eu já estava em
metástase, que não adiantava passa por uma cirurgia grande dessa e porque
metástase, já não... Tinha mais o que fazer... Uma vez que a metástase está
na corrente sanguínea e a qualquer momento podia desenvolver em outro
lugar. Então, pra que passar por uma cirurgia grande de retirada da mama.
Então, não tinha necessidade e que iria retirar só o tumor.Quando ele falou pra
mim que iria repetir os exames, iria fazer pra ver como que estava e falou que
estava em metástase no fígado e três nódulos, eu não acreditei... Eu acho que
eu não acredito até hoje, apesar de ver os exames ali, eu entender
perfeitamente como que é, parece que eu não acredito ou eu não quero
acreditar. Eu não acredito... eu sei que tem o câncer ali, está ali, mais não sei...
Parece que... Não sei, parece que não é comigo. Todo mundo fala o
câncer!Tem pessoas que não fala nem a palavra câncer, uma doença que...
Que as pessoas morrem e eu não acredito que tenho câncer. É meio louco,
(risos) é louco... Por que tenho a consciência que o câncer está no meu corpo,
eu preciso do meu corpo pra estar viva, mas eu não sinto que está em mim.
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78
Então eu falo que não está na minha alma, está no corpo. Por que os exames
mostram! Mas eu não sinto!
A mudança maior foi após o diagnóstico e não da cirurgia. Então, após o
diagnóstico... a princípio eu fiquei muito triste, mas depois eu... eu me tornei
uma pessoa feliz, eu acho que hoje eu sou mais feliz, eu acho que eu não era
feliz e eu acho que hoje eu sou... Não sei... Então eu aproveito cada momento
como se fosse único, eu aproveito... Eu aproveito, estou aqui estudando, nem
sei se eu vou terminar, mas eu estou aqui. Hoje... Eu estou.
Tudo isso foi uma mudança muito grande, muito, muito... Eu faço uma
comparação antes e depois do câncer. Eu era uma pessoa triste... eu era triste.
Eu só trabalhava, cuidava da minha filha, tinha um relacionamento que... não
dava muito certo, mais eu queria ficar nesse relacionamento, achava que... eu
não conseguia ficar sozinha, que eu tinha que ficar com ele, só que com ele eu
estava mais sozinha do que... Sei lá. Hoje eu sou sozinha, estou sozinha, mas
eu não sinto que estou sozinha. É meio louco gente, não dá pra explicar (risos).
É louco, não sei, acho que... Minha cabeça fala assim, “é bom você não sabe
que você tem câncer, por que você fica louca (risos)”. Então, eu acho que é um
bloqueio, não sei... eu não sei por que eu não acredito nisso.
Nessa época, estava em um relacionamento, mais não tive mudança na
minha vida afetiva por conta da doença, acho que foi um motivo já pra separar,
porque já não vinha bem o relacionamento. Mas, mesmo assim eu queria ficar
com ele, e eu tive que tomar a decisão, que eu já tinha que te tomado à
decisão antes. Mas, eu queria... eu queria ficar com ele! Estava ruim, mas
estava com ele... Assim... Euo via, assim..., parecia que ele tinha nojo de mim,
não queria tocar na minha pele. Por que a gente estava separada e ele ficou
sabendo que eu podia... Estar com esse diagnóstico, por que ele conversou
com a minha irmã e eu fui para o centro cirúrgico, hora que eu acordei da
anestesia do centro cirúrgico ele estava dentro do quarto. Hora que eu abri os
olhos e vi ele dentro do quarto, eu não estava entendendo nada... Eu falei:“meu
Deus será que eu vou morrer mesmo” (risos)?! Aí como ele veio atrás sabendo
que eu estava com câncer, achei que ele gostava de mim. Até hoje eu não
entendendo o porquê que ele veio? O porquê Deus? Por que ele veio atrás de
mim?! (risos) Eu achei que era o amor da minha vida... não era! Naquele
momento, foi... estava muito triste, ele chegou parece que eu senti assim, como
79
um apoio. Só que depois, dele está fazendo isso que ele fez comigo, que ele já
estava com outra pessoa, ele me chamou para morar com ele, falou até de
casamento, pensei “meu Deus casamento?! Aí já é demais (risos)”. Mas estava
uma coisa assim, que como não estava antes e de repente ele começa se
afasta e parecia que ele estava com nojo de mim e eu saí da casa dele, e ele
não se importou, e eu voltei pra casa dele. Quando eu vi que ele não queria
mesmo, eu saí da casa dele. E quando eu saí mesmo sem intenção de volta,
eu fiquei sabendo que ele já estava com outra pessoa. Nessa fase foi triste,
acho que foi pior ou igual quando o médico falou que era câncer, foi aonde eu
repeti os exames e o tumor tinha aumentado de tamanho. Eu fiquei muito,
muito triste, achei que eu não iria conseguir ficar sozinha. E hoje eu estou
sozinha, não por que eu quero (risos). Mas, por um lado, assim acho que eu...
eu não confio mais nas pessoas, meu medo é... Relacionar-me de novo e daqui
a pouco eu desenvolver o câncer de novo, passar por tudo de novo e o cara
me abandonar de novo. Então, não sei... Ou é por que ninguém chegou de
novo ainda ou se chegar não sabe se eu vou ter tanto medo assim. Não sei,
tem que deixa acontecer. Não sei (risos). Então, é muito louco, tem coisas
assim que eu não consigo entender, um monte de coisa (risos).
O apoio da minha família em relação a doença, nossa... a minha irmã foi
quem me carregou no colo, foi primeira pessoa que contei. Perto de mim, ela...
ela... é igual... Igual eu faço. Longe da minha família eu banco... eu fico triste,
perto da minha família eu banco a fortona. Ela perto de mim, ela banca a super
poderosa e ela que resolveu tudo pra mim... ela que foi contar para meu
irmãos, ela que contou para minha mãe, ela que ficou correndo atrás de tudo...
de tudo pra mim. Então a minha família, meus irmãos, minha mãe! “Meu irmão
falou: “Flor de Lótus”, sai da casa do seu namorado e vem morar em casa”, por
que minha casa na época estava alugada, por que eu estava morando aqui em
Lins com a minha mãe, a minha casa em Pirajuí estava alugada, e meus
irmãos virão que com meu namorado não estava dando certo e todos os três
irmãos falaram, vem morar em casa e eu falava, “não... quero ficar com meu
namorado”. Eu queria que meu namorado me trouxesse na quimioterapia, eu
queria a companhia dele. Ele me trazia, mais assim por obrigação, hoje eu
consigo ver a obrigação que era trazer. Por que ele vinha de Pirajuí a Lins, ele
não abria a boca e vinha somente dirigindo o carro, ele vinha com aquela cara
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fechada dele, eu lembro vezes que eu falava assim: “Namorado, conversa
comigo, eu estou indo fazer uma quimioterapia, eu não estou indo pra tomar
um remédio pra dor de cabeça”, eu implorava o carinho dele e mesmo assim
eu queria ficar com ele. Nas últimas quimioterapias ele nem veio, mas eu
queria que ele viesse. Meus irmãos falavam, “eu ti levo”, minhas amigas me
paravam na rua, “Flor de Lótus eu ti levo”, e eu não queria gente, aí como a
gente é besta, eu queria ele (risos). E assim, as pessoas, como as pessoas
são...solidarias... tinha umas amigas, umas colegas, pessoas que nem me
conhecia e me paravam na rua e falavam assim, “eu coloquei seu nome na
minha igreja, estou orando por você, estou rezando por você”, nossa isso dava
uma força... eu percebia que tinha amigas que me viam, quando eu andava
assim... que eu estava na rua e elas me viam, faziam de conta que elas não me
viam, as que não conseguiam chega perto de mim. Lembro uma prima que um
dia fui na fazendinha, depois de passado dois anos, ela falou: “Flor de Lótus, fui
na fazendinha, e eu ti vi lá, mas eu não tive coragem de chega perto de você”.
E ela só chorava, só chorava... eu falava: “para de chora (risos)”. Então, tinha
pessoas que não conseguia chega perto de mim, outras que chegavam e
falavam que estava rezando, orando, que estava na igreja, de todas as igrejas,
eu falava: “não... continue”.
Então isso dava uma força! Era tão gostoso... lá na UNIMED também, eu
chegava, por que eu trabalho lá, eu já entrava lá na UTI para cumprimentar
minhas amigas, meus amigos me abraçavam, me beijavam, a moça da
portaria... a moça da faxina...a moça da cozinha, todo mundo vinha e me
abraçava e isso era tão gostoso! Então eu falo assim: “carinho... carinho cura,
carinho cura”, por que isso foi me fortalecendo, eu fui... eu consegui enxergar
que eu não estava sozinha e tanta gente se aproximou de mim, umas amigas
que se tornaram mais amigas, família, parece que fica... fica tudo melhor!
Então o câncer não é... tudo ruim, eu consigo ver o lado do câncer... passo.
Parece que a parte ruim, eu esqueci... as dores, o mal estar depois da
quimioterapia. Eu lembro, mas eu não lembro triste... a minha unha que doía,
ficou tudo fudida (risos), não posso fala... ficou tudo estragada. Eu me lembro
disso, mas eu não fico triste, eu consigo lembra as coisas boas, as pessoas
que chegavam perto, as pessoas que iam me visita... eu lembro disso!
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Minha filha nesse momento, nossa... foi por causa da minha filha que eu
estouaqui hoje, se não fosse a minha filha eu não estava aqui não, eu tinha
desistido, eu tinha... Eu tinha... Tenho certeza que eu tinha desistido. Quando
minha unha apodreceu, que eu fiquei com infecção, que o médico achava que
já estava na circulação, infecção generalizada, eu não tinha lutado não... eu
não tinha se não fosse minha filha. Por que todos os dias eu pedia pra Deus!
“Deus, deixa eu vive por que eu preciso cuidar da minha filha, por que ela é tão
pequenininha, eu tenho tanta coisa pra ensinar pra ela”. Então a minha filha foi
motivo pra eu lutar e continua sendo, minha filha... Euestou aqui estudando,
quem sabe eu termino mais hoje o que eu aprendo aqui na faculdade, eu
chego e falo pra minha filha: “o filha faz isso, por que quando você estiver na
faculdade”, eu não sei até quando eu vou conseguir, mas hoje eu consigo fala
pra ela... o que eu aprendi hoje na faculdade eu falo pra minha filha, por que
não é simplesmente a matéria que o professor falou ali na sala de aula que eu
vou me tornar uma enfermeira, é pra minha vida, eu consigo pegar essa
matéria e transformar em uma coisa pra minha vida hoje e eu consigo leva pra
minha filha. Então... Juntou aminha filha, a faculdade... Motivos pra eu
continuar! Motivos, por que se não for esses motivos e o carinho de pessoas
que me querem bem, o abraço, o beijo, isso... Isso... Motiva continuar.
Na minha vida social, teve muita mudança... Antes eu só trabalhava,
tinha meus amigos de serviço. Eu não saia, quase não saia, não me divertia e
hoje eu saio mais, parece que hoje eu tenho mais amigos. No começo eu fiquei
pensando?! São pessoas que tem dó de mim, mais depois nós fiquei
pensando?! Que a gente fica louca pensando assim, mais não, se fosse dó,
eles não iriam continuar perto de mim, eles tão perto de mim por que eles
gostam de mim de verdade. Por que quando tem dó, fica ali naquela... Naquele
período que se está sofrendo e a pessoa fica ali perto de você, com dó... Mais
se continua e por que gosta de você de verdade. E hoje, eu vejo assim tanta
gente que tá por perto. Na vida afetiva... Tenho medo... é tenho... Mais parece
que os caras não quer nada não... Ou não sei (risos). Talvez olhe pra mim,
ahh... Não vou ficar com aquela moça não, ela tem câncer! Daqui a pouco ela
morre, não sei... Tem hora que eu penso nisso. Mas, todo mundo já sabe
(risos), não adiante nem disfarça, o cara já vai saber (risos). Eu falo
naturalmente, tranquilo, eu não me preocupo não. Não sei se chegar um cara
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assim... eu falo, se ele quiser ficar conversando comigo e depois continuar, eu
falo... eu acho ou não (risos). É que não chegou nenhum e os que chegaram já
sabiam de toda minha história.
Já na vida sexual! Assim, eu casei, com o pai da minha filha, me separei.
Eu casei com o pai da minha filha, eu achei que eu iria ficar com ele velhinha.
Quando me separei e conheci o ex-namorado. Aí eu me separei dele, por que
na época, eleestava assim, com nojo de mim, então, eu estava me sentindo
feia, eu estava me sentindo... Arrasada. E aí, apareceu um amigo, apareceu
um amigo (risos) e ele falou assim pra mim, eu contava tudo a história pra ele,
e ele falou assim pra mim: “Flor de Lótus”, eu lembro disso que marcou minha
vida (risos). Por que eu estava achando, o ex-namorado não, por que o ex-
namorado me deixou por que eu estava careca, feia e esse meu amigo chegou,
na época eu estava careca, sem cílios, sem sobrancelha, sem unha e ele
chegou e falou assim: “Flor de Lótus”... “Você é linda, com cabelo ou sem
cabelo”. E ele queria tirar meu lenço e eu não deixavatirar meu lenço... Aquilo
eu amarrava... Amarrava pra não cair da cabeça e uma vez ele tirou meu lenço
e eu fiquei tão sem graça e catei o lenço e amarrei de novo. E ele falou: “você é
linda”... e eu pensei, será?! E ele foi me cativando, foi me cativando, e... de vez
enquanto, a gente se encontra ainda (risos). Então ele... ele me deu muita
força, até hoje... Muita força, muita... Então eu agradeço a Deus, que ele
chegou nessa fase, por que... eu acho que eu estava precisando disso. Eu
achava que o ex-namorado, mas o ex-namorado já não queria mesmo e
chegou esse cara!
Então em decorrência ao câncer de mama, eu precisei fazer a retirada
do ovário também, mas isso não influenciounada, nada. Eu não posso ter
filhos, mais eu já tenho a minha filha, não tem intenção, mais não tinha mesmo
a intenção. Então não, nada... Enquanto ao preconceito no meio social?! Acho
que não... Não. Não sei, acho que não. Só às vezes um olhar assim parece
que de dó. Eu olhava assim, aí a pessoa estava me olhando assim, aí que dó.
Sei lá... Parece que... Dó?! (risos) estou bem, estou andando, estou viva, não
precisa ter dó.
Após a cirurgia, eu estou satisfeita com meu corpo. Estou! Eu estou
andando... Então, eu estou bem! Eu pedi pra Deus que eu não queria ficar em
cima de uma cama. Então, enquanto eu estiver andando, mesmo com as dores
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nas costas, eu estou bem...Tive muitas mudanças no processo do tratamento...
eu não tinha me preparado... Acho que ninguém se prepara pra ter um
câncer... E... Passo... Eu não... Sei lá... Eume lembro disso, mas eu não fico
triste... hoje eu estou com cabelo, cresceu a sobrancelha, cresceu a unha. E eu
falo assim, que antes eu economizava pra caramba com cabelereiro, com
manicure (risos) eu me lembro disso e não fico triste.Em decorrência as essas
perdas, na época, a unha por que a unha doía muito, demais, muita dor e o
cabelo não... o cabelo não sofri, me adaptei bem com os lenços, os cílios que
eu não enxergava direito por causa da claridade, o pelo da narina por que pra
respira doía, a sobrancelha eu passava um lápis e contava os fios com a minha
filha (risos)... Filha tem três... Filha tem dois, mãe não tem nem um... Está
horrível (risos). Então...
A minha filha foi quem me ajudou a enfrentar a doença... eu pedi pra
Deus que eu queria viver pra cuidar da minha filha e eu peço todos os dias isso
para Deus... é o que eu peço pra Deus, deixa eu fica viva mais um pouco aí! A
minha filha... ainda não ensinei tudo pra ela (risos)... e ele tá permitindo.Nesse
momento tive mais fé... Muito mais... Muito mais... e parece assim que... Antes
eu conversava com Deus, mas Deus estava tão longe e hoje não, parece que
ele está tão pertinho. Eu converso ali, ele está ali... já me atende. Ele me
escuta como eu estou conversando com vocês, eu converso com Deus, e ele
me ouve, por que eu estou aqui...
Então busquei esses dois motivos,minha fé e a minha filha, exatamente!
E Deus é maravilhoso! Eu pedi pra ele colocar pessoas no meu caminho! Na
época que eu não podia cuidar da minha filha, pra ajudar cuidar da minha filha
e pessoas pra me orientar como eu iria viver e como eu iria fazer... e eu
percebo... que Deus coloca todo dia tem uma pessoa na minha vida, e eu
consigo ver que são pessoas que eu pedi pra Deus, de um jeito ou de outro
eles me ajudam... veio uma pessoadaqui da faculdade, primeiro foi a
professora, depois veio a outra, outro dia veio o professor, sabe?! Todos os
professores que me ajudam de um jeito ou de outro. E... e toda a hora vem
uma pessoa pra me orientar, pra dá aquele empurrão, na hora que estou meio
assim...meio triste, vem uma pessoa e me da aquele empurrão, aí eu acordo e
falo não! Então sempre tá parecendo alguém... é isso... Sempre parece alguém
pra me ajudar, pra lembrar que eu continue que é... pra eu continuar. Quando
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eu estou muito triste, acontece alguma coisa, é incrível?! Eu falo assim, que
quando a gente pede pra Deus, a gente tem que pedir pra Deus. Quando a
gente quer muito uma coisa, pedi pra Deus que ele permiti. Então eu peço
quando eu estou muito triste e parece alguém pra me falar uma coisa, é
incrível! É... é... só sentindo, não dá mim explicar pra vocês, eu consigo
entender que aquela pessoa chegou pra me fortalecer, pra mim continuar e não
é por acaso, nada é por caso, nada...
Infelizmente no trabalho, tem que se afastar pra fazer o tratamento e
depois de um ano, fevereiro de 2016, fez um ano. Eu voltei toda feliz da vida
pra... Pra UNIMED, eu iria passa pelo Dr. e fui conversar com a enfermeira que
eu tinha certeza absoluta que eu iria voltar a trabalhar e ela falou que eu não ia
voltar a trabalhar. Por que fica com baixa imunidade, têm as outras coisas, o
próprio ambiente por ser no hospital e ela falou que eu não iria voltar. Eu fiquei
arrasada, arrasada... Arrasada... Por que eu tinha a certeza absoluta que eu
iria voltar, eu estava contando os meses pra voltar a trabalhar, aí foi aonde que
nada é por acaso e eu não voltei a trabalhar, mas eu comecei a estudar. Então,
estou ocupando meu tempo, hoje... Hoje eu fui ao médico e ele falou assim é...
por que sempre pergunto: “Quando tempo eu tenho de vida”? E ele falou:“que
não importa quando tempo você tem de vida, o que importa o que você esta
fazendo com seu tempo de vida”. Então, que é pra eu viver o hoje... Fui no Dr.
e no cárdio, por que o coração depois de uma quimioterapia, o coração
também fica enfraquecido, ele fez os exames realmente está enfraquecido e
passou uma medicação. Aí falei que não iria tomar remédio não, que não...
Que eu não quero, passa uma atividade, passa alguma coisa alternativa. “Flor
de Lótus não tem mais o que fazer, você já faz uma atividade física, seu
coração já ficou enfraquecido por causa da quimioterapia é uma coisa
irreversível”.
Então agora tem que entrar com uma medicação. Mas estou pensando
ainda se eu vou tomar medicação.Depois que você perguntou com o tempo de
trabalho, ai eu voltei... Com dois anos, eu falei, eu já estava até me
programando, vou voltar trabalhar, continuar estudando até aonde eu
conseguirestudar, por que trabalhar e estudar, por que eu trabalho em dois
hospitais vai ser difícil, mais eu vou tentar, até aonde... Eu já estava me
programando, já estava isso na minha cabeça. Aí eu volto no Dr, repetindo os
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exames, o câncer voltou, aí não... eu não acredito. Então eu estou de licença
por causa disso ainda, hoje eu levei os exames pro Dr., o tumor continua lá e
por se hospital tem uma baixa imunidade e então não vou voltar trabalhar. E
hoje ele falou até de uma cirurgia no fígado e eu falei que não quero fazer
cirurgia, por que no primeiro momento que ele falou de câncer no fígado, ele
falou que não gostava de fazer uma cirurgia no fígado por se um órgão bem
vascularizado e é meio complicado, por mais que tem a regeneração do fígado,
é muito vascularizado, podia causar uma hemorragia, que é complicado e que
ele não faria. Aí hoje, ele falou de faze uma cirurgia no fígado e lembrei que ele
falou isso, e eu não quero fazer (risos)... Ah Dr. vamos esperar mais um pouco,
então vamosver até onde vai.
A princípio, eu busquei outros diagnósticos... Eu fui pra Campinas,
passei acho que em três médicos lá. Eu tenho uma tia que mora lá, me levou e
passei nos médicos eles falaram que faríamos mesmo que o Dr. fez aqui. Voltei
pro Dr. quando o Dr. falou pra mim que não tinha mais o que fazer que a
metástase tinha voltado, eu fui pra Barretos e fiz todos os exames em Barretos,
conversei com vários médicos lá e eles falaram que era pra eu continuar aqui
em Lins com o Dr., que mesmo que o Dr. fez, eles fariam lá. Então eu estou
aqui... eu procurei outras opiniões e todos falaram a mesma coisa. Por que o
problema é a metástase e o câncer desde quando descobri, comecei lê um
pouquinho e o tratamento é o mesmo. Como os outros oncologistas disseram o
médico que vai determinar uma diferença aqui, uma diferença ali, se vai fazer
uma cirurgia primeira ou se vai fazer uma quimio. Oque que vai fazer primeiro,
vai depender de médico pra médico. Então o padrão fica sendo tudo a mesma
coisa. Então, aí eu preferi ficar aqui em Lins, por que aqui em Lins eu vou
sozinha, eu pego meu carro, eu marco, eu conheço o Dr., converso com ele,
vou sozinha, ninguém precisa me acompanhar. Em Campinas minha irmã foi
junto, meu irmão foi junto, em Barretos um monte de amiga, cada dia ia uma
amiga junto, então aqui eu me viro sozinha e a gente não quer dá trabalho pra
as pessoas. Então eu pensei, já que o tratamento vai se tudo igual, eu fico aqui
em Lins, por que na hora que eu estou mal, eu pego meu carro eu vou pra
UNIMED, eu mesmo vou lá faço uma internação, fico internada, é... Eu me viro
(risos). E se eu for pra outro lugar vou ter que fica pedindo pra um, pedindo pra
outro. Enquanto eu estive dirigindo, enquanto Deus estiver permitindo, por que
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eu pedi pra Deus que eu não quero ficar em cima de uma cama. Então...
Tudo... Tudo... Quando eu entro no meu carro eu lembro que eu pedi isso pra
Deus e eu agradeço, “Aí Deus obrigada, estou dirigindo ainda”. Todo dia, é...
Gratidão, né?! Todo dia, acordo... na hora que acordo, eu acordei... (risos)
obrigada Deus! E eu só tenho agradecer mesmo, as pessoas que chegam
perto, vocês, todo mundo que chega perto é gente boa.
Hoje, após todo esse processo... a Flor... Por mais que seja uma pessoa
sozinha, esta sozinha, eu não me sinto sozinha, por que eu acho que isso é o
que mais eu ficava preocupada, antes eu não queria ficar sozinha, eu não
quero ficar sozinha e hoje eu estou sozinha, hoje eu me viro sozinha, não que
isso é bom... se aparecer um namorado, que pode aparecer, mais eu consigo
me virar sozinha. Antes eu implorava para ex-namorado vim na quimioterapia
comigo e um monte de gente que realmente gostava de mim e queria vim eu
não deixei. Mas hoje se precisar fazer uma quimioterapia eu vou sozinha e não
vou triste, eu vou. Então eu acho que aprendi a ficar comigo mesmo, antes eu
não conseguia ficar sozinha, eu fico em casa sozinha, eu tinha que sair e hoje
eu fico sozinha e não fico triste. Eu aprendi que a gente não precisa implorar o
carinho de ninguém, quem gosta da gente vai ficar, vai dar um jeito. Hoje eu
me sinto mais feliz, mesmo com câncer! Eu me sinto!
Entrevista 2 - Lírio
Meu nome é Lírio. Tenho 45 anos. Eu trabalhava como monitora depois
passou para cuidadora e agora no momento eu estou encostada. Sou solteira e
não tenho filhos.
A minha mastectomia foi realizada no dia 17 de setembro de 2016, e na
minha família tem o histórico de câncer, é uma prima do meu pai de 2º grau.
Então após o diagnóstico de câncer de mama, eu vivenciei sentimentos de...
Ah... eu fiquei assim, mais preocupada com a cirurgia em si no momento.
Mais... eu me apeguei a Deus e fui firme crendo que ele iria fazer o melhor pra
minha vida... Ah, desde o momento que descobri eu já... O médico já me
informou da cirurgia. E aí eu... Eu encarei assim com toda a força e coragem.
E assim, na vida após a cirurgia... Ah, isso eu acho que mudou tudo
(risos)... Essa é a parte mais difícil. Eu acho que mudou bastante por que, é...
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Você não se, é... Quando você vai para espelho, você veja que... Um corpo
diferente. Então você vê que é uma parte tua que não tem, nunca mais vai ser
igual. Então, isso doí lá no fundo, e... Isso acha que é o mais difícil, e também a
perca do cabelo, que a gente sofre pela mulher ser um pouco vaidosa e a
gente acaba sofrendo bastante, e... Achei que isso é a parte mais triste da
história. Mais assim, todo momento tem que agradecer a Deus por que eu tive
uma nova chance de vida, enquanto muitas pessoas não tem essa
oportunidade eu tive. E não houve nenhum momento, nunca questionei por
isso.
A minha rotina mudou. Ah... Mudou, era muito elétrica. Então, eu podia
fazer tudo e hoje não possodevida alergia, devido ter feito o esvaziamento das
axilas, e tirar os linfonodos, então isso incha muito. Então, atrapalha. Então,
tipo assim, às vezes até quero estar num lugar, mas eu não consigo ficar muito
tempo, devido... a cirurgia e também o medicamento que eu faço o uso dele
contínuo.Ah... e a notícia da menopausa precoce?! Então...Quando eu recebi
essa notícia eu fiquei sabendo lá em Jaú mesmo, e não foi por médico, nem
por enfermeiro, foi por pessoas que faziam a radio mesmo e aí realmente eu
fiquei bem abalada. Quando eu sai de lá e que fui para pousada, eu chorava
muito.
A minha família me deu todo apoio. Sim, se não fosse eles! Tem muito
apoio, me ajuda o tempo todo, muito apoio mesmo!Ah... Foi tudo! Foi tudo, foi
meu porto seguro. Porto seguro!
Já na minha vida social, afetiva e sexual nunca tive mudanças,
euconsigo, consigo. E nessa época eu estava sozinha... Mais isso eu tiro de
boa, não teve mudança nenhuma.
E nunca enfrentei preconceito em relação a doença, não... não enfrentei
não. É... Eu sinto assim que a pessoa pensa: “poxa que dó”. Mas assim, por te
amizade comigo mesmo, por ser minhas conhecidas, minhas amigas ficaram
chocadas, teve gente que não conseguiu vir aqui em casa me visita, então
encontrava na rua. Mas assim, não como um preconceito.
E, ah... No momento eu não sou satisfeita com meu corpo,
provavelmente o ano que vem sim. Mas no momento não, ainda não, fiz a
reconstrução. Eu já fiz a reconstrução, mas como é... o tumor era maior do que
o esperado, então vou ter que fazer novamente, ficou para o ano que vem.
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Além disso, você engorda demais, engorda muito (risos) e... tipo assim, o seio
ele não fica mais igual, diferente. Então, quer dizer, sei que não fica igual
nunca mais, como eles mesmo falam que não vai ficar igual nunca mais. Mas
aí então... acho que vai ficar um pouquinho melhor, o ano que vem, é minha
esperança (risos). Em relação ao cabelo?! Ah... do cabelo incomoda, bastante.
É, então... Incomoda assim que eu gosto de cabelo cumprido, não gosto de
cabelo curto, por isso que incomoda, por que sempre tive o cabelo cumprido,
então é isso que incomoda. Mais... Isso é o de menos também.
Na verdade assim, desde o diagnóstico até a mastectomia... eu tentava
me acalma, pra passar tranquilidade para minha família também e confia... tive
o tempo todo a minha fé, muita fé que tudo iria correr bem. Então, foi o que eu
me apeguei, não tinha outra coisa assim, que eu sabia que eu tinha que tirar e
tinha que se tirado todo e não apenas o quadrante. Mais então foi isso que fiz,
é... até o dia da cirurgia. Fiquei ansiosa, mas eu queria que os dias passassem
assim muito rápido, para chegar logo o momento da cirurgia, mesmo por que
não era certeza de fazer quimio ou não. Eles não tinham essa certeza, eles
falaram que era mais provável que não, do que sim. Mais depois tive que fazer.
Todo o processo é doloroso, mais assim... eu acho assim, que o
tratamento que eu fiz, as quimios, as rádios. Assim a quimio não foi muito
difícil, a radio já foi mais difícil, eu sofri mais com a radio. Por que eu comecei a
entrar num quadro depressivo, mais devido assim, ficar ouvindo muita gente,
ficar ouvindo muitos casos, ver pessoas falecendo, ver pessoas que fizeram a
cirurgia e assim depois de três meses apareceu em outra parte do corpo. Então
isso realmente começou a me deixar um pouco depressiva e que depois tive
que viajar todos os dias, por que eu comecei, eu não estava dando conta de
fica lá, como eu ficava antes. Eu fiquei três semanas, duas semanas e meia e
depois comecei a viajar todos os dias.
Então, o Lírio, após todo esse processo... Nossa é difícil... Ah... (choro)
bem... eu acho assim depois que se passa por uma dificuldade dessa (choro)
você está, você aprende muita coisa... Você veja que você não é ninguém
nesse mundo e que você tem que ter muito mais amor pelo próximo, que você
tem que valoriza cada minuto que você vive... Por que depois você não sabe o
que vai acontecer com você, não é? Por que queira sim, queira não, a nossa
vida modifica, é outra vida. Então a vida que passou, não vai ter mais, então
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cada um tem que aproveitar seu dia, tem que fazer aquilo que você gosta
aproveitar o máximo, por que realmente você tem que aproveitar o máximo!
Entrevista 3 – “Borboleta”
Meu nome é Borboleta. Tenho 47 anos e trabalho como cabeleireira.
Sou casada e tenho 2 filhos. Minha mastectomia foi realizada no dia 04 de
maio de 2016 e eu tenho histórico da doença na minha família, a minha irmã,
tem prima, tio da parte do meu pai.
No primeiro momento, após o diagnóstico eu vivenciei sentimentos, ah...
o sentimento de tudo...de... Assim, meu chão abriu para mim quando eu fiquei
sabendo. É... Porque assim, como eu tinha... Vivi caso na família, minha irmã
que é mais próxima, eu tinha perdido ela há pouco tempo, aí eu achei que... eu
ia passar por tudo que ela passou. Que iria ser... É... Tudo... Tudo que ela
passou, pelo problema que ela teve, com o câncer que ela teve, eu achei que
iria passa pela mesma situação. Mais graças a Deus foi diferente! No meu caso
eu fui curada, e ela não teve a chance e infelizmente faleceu.
Eu tive medo da morte. A gente tem quando fala câncer. Você... A
primeira coisa que se pensa, “a vou morrer”! Principalmente quando você já viu
casos na família, tanto do meu lado, como do meu esposo também. Eu
também vivenciei junto com meu esposo a perda do irmão dele, que também
faleceu de câncer. Logo em seguida teve outro irmão dele que teve câncer,
mais graças a Deus foi curado! Então é...Gente muito próxima a nós, próximo
mesmo! Assim... Tanto minha irmã, meus cunhados, agente sempre estava
juntos.
E após a mastectomia, vivenciei sentimentos de assim... foi... tristeza ao
mesmo tempo alegria, porque eu... o médico... me... Ele falou pra mim que eu
já não tinha mais líquido, que já tinham tirado de mim, e pelos exames que fez
da axila que tiram, eles esvaziaram a axila para ver se tinha também algum
câncer ali, mais graças a Deus não tinha nada! Era só naquele local mesmo.
Então, assim, ao mesmo tempo de tristeza por que eu... Eu perdi meu seio,
né?! Teve que fazer a mastectomia radical que eles falam, e ao mesmo tempo,
saber que eu estava quase que livre daquela doença.
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É... Assim, engraçado que assim, eu sabia que eu iria ter que passar
por todas as etapas. Mesmo que meu médico mastologista, disse: “é bom, você
vai precisar só da radio, por que o que tinha que fazer a gente fez, tirou, então
acho que não vai precisar de quimio”. Ele até ficou surpreso quando eu falei
que... que eu fiz a quimio, eu passo no mastologista e ele que me encaminhou
para o oncologista, e quando o oncologista optou por fazer a quimio, achou
melhor fazer, mesmo por que ele falou: “a operação foi um sucesso, mas para
não... você tem caso na família e assim... para prevenção, como prevenção
gente vamos fazer a quimio e talvez nem precise da radio”. No final eu tive que
fazer os dois (risos). Aí... é... A radiologista é outro e a quimio é um, e o
oncologista da quimio e o radiologista da radio, por que ainda ficou pele, fez a
radical mais ficou pele, ela achou melhor fazer a radioterapia também.
E diante dessas perdas, eu senti sentimentos... Assim, eu sabia que eu
tinha que passar por isso para... por que era para meu melhor. Mais assim... a
gente fica triste, às vezes da aquele sentimento, fica meio desanimada, parece
que... Que bate uma depressão. Mais aí, bom... Tem que passar por isso, não
é ninguém que vai passar no meu lugar, e eu que tenho que passa. Mais
assim... a gente vai vivendo.
A minha família me deu muito apoio. Primeiramente a Deus, depois a
família, as amigas que a gente tem as meninas que aqui trabalho até o tempo
que eu fiquei afastada daqui eu... eu sabia que eu podia deixar nas mãos
delas, que iria está bem cuidado que iria está em boas mãos. Apoiaram-me
bastante, principalmente meu marido, meu marido sempre do meu lado todo
tempo, foi primordial... Foi tudo, família!
Na minha vida após a mastectomia, então é... Não tem muita coisa que
muda. Assim, no meu serviço graças a Deus, tudo continua o mesmo jeito. Aí...
pegar peso, não posso mais pegar peso, não posso fazer muita força com o
braço, por que foi esvaziado a axila procuro não fazer muita força. No meu
serviço eu procuro fazer menos tempo, menos hora do que fazia antes, para
não esforçar tanto, mais eu faço tudo normal.
Na vida social, afetiva e sexual, não, nenhuma, normal. Às vezes as
pessoas até falam pra mim, nossa nem parece que você é... Teve um câncer,
não parece! Assim, o jeito de você agir é normal, natural, em momento nenhum
me atrapalhou em nada. Assim... na minha convivência, no meu trabalho, só
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mesmo no período que tem que ficar afastada, mais depois... (risos). E, graças
a Deus, não enfrentei nenhum tipo de preconceito, não, não.
Após a mastectomia ainda não estou satisfeita com meu corpo, porque
ainda está faltando um pedaço de mim. Tanto que eu estou bem ansiosa para
poder fazer a reconstrução da mama. Assim... Não que vai se igual, por que eu
já andei vendo como que é... Que nem a aréola, o bico do seio não vai se igual.
Tem que fazer tipo uma tatuagem para ficar parecido. Não tenho data ainda,
semana que vem, eu vou passar pelo mastologista e a gente vai começa a
conversar sobre isso, ele falou o ano que vem, mais não tem data ainda. Eu
fico envergonha até hoje, não me troco perto de ninguém, eu uso uma prótese,
tipo um... que põe no sutiã. Mais assim perto de ninguém, nem meu esposo,
perto dele não. Entre mim e ele não mudou nada, mais é da minha parte, eu
fico constrangida, com vergonha de me mostrar, tanto na relação sexual, eu
procuro está coberta pelo menos a parte de cima (risos). Mais graças a Deus
ele me entende, meu marido foi uma benção pra mim gente, até hoje, ele me
entende!
E os meios que eu busquei para enfrentar a mastectomia?! Com certeza
foi à fé que eu tive em Deus, tudo que eu fazia primeiramente eu buscava em
Deus! Eu orava muito, eu pedia muito, usava muito minha fé e depois minha
família!
Já q queda do cabelo, eu acho que foi a fase mais crítica mesmo. Por
que a gente tem o cabelo... Meu cabelo era no ombro, eracumprido e assim...
que a primeira coisa que eu perguntei para o médico, quando ele falou que
tinha que fazer aquimio: “e meu cabelo Doutor vai cair?” Ele falou: “cabelo cai e
nasce, e vai nascer ainda mais bonito”. Acho que não sei... pra toda mulher. Eu
falo, por que como eu sou... aqui no salão a gente lida com cabelos de cliente
mulher a todo momento. E a gente vê, que elas tem muita vaidade com o
cabelo. Então, assim... pra mim... a todo momento eu fala assim: acho que não
vai cair, por que tem gente que não cai, não é (risos)?! E eu não queria
acreditar, até que eu comecei a passar a mão no cabelo e vi que estava
saindo, e eu falei: “não, vou ter que corta”. Eu cortei ele curtinho, mesmo assim
não para... a gente ah... pensa que cortar curtinho vai para de cair, mas não
parou de cair. No mesmo dia eu cortei ele curtinho, e eu raspei. Já raspei logo,
por que é chato fica caindo muito cabelo assim. É... pela casa, se vai lavar
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passa a mão ele sai. Por que quando você está na fase da quimioterapia é...
ele não nasce, aí depois que você termina a quimioterapia, já começa a cresce!
Aí... depois acho que de 6 meses mais ou menos, resolvi colocar um aplique,
ele já estava uns 4 dedos crescido, e eu coloquei aplique. Ah... (suspiro) cabelo
é...
Hoje, a Borboleta, após todo esse processo, é uma mulher mais forte, eu
me sinto mais forte do que era antes. É... Assim... Lógico que tem momentos
assim, que... a gente fica meio assim, pra baixo. Parece que vem aquela...
aquela, meio depressão, você pensa em tudo. Que nem eu penso em tudo que
eu passei e estou aqui hoje. Que nem a minha irmã mesmo, não teve essa
chance, ela foi embora muito cedo, mais nova que eu. E eu tenho assim... um
sentimento de agradecimento a Deus, as pessoas que me apoiaram, as
meninas aqui, meu esposo, minha família, gratidão! E... É isso!
Entrevista 4 – “Íris”
Meu nome éÍris. Tenho 64 anos. Sou aposentada, no momento do lar.
Sou viúva, nem sei fala essa palavra direito... (risos). Tenho 3 filhos. A minha
mastectomia foi realizada no dia 18 de novembro de 2016, mais na minha
família não tem ninguém como histórico da doença, ninguém, ninguém.
Após o diagnóstico do câncer de mama você sabe, eu praticamente
assim, não vivenciei nada pelo fato de... de eu estar muito em Deus! Eu tive
muito em Deus! Eu pedia muito pra Deus, mesmo na hora da ciru... Encontrei
um, um médico também que era católico, vivia com a imagem de Nossa
Senhora na roupa. Então aquilo pra mim foi um conforto, de ver que ele
também era de Deus! Então eu falei: “quem vai agir aqui vai ser Deus na minha
vida!” Então, eu não senti nada, não senti dor, eu não senti desespero... A
única coisa que falei pra você, foi esse dia que eu senti no fundo do poço, mas
por causa ter perdido muito sangue, muito... fora disso nada, nada... Fala para
vocês que senti alguma dor que quando saí do centro cirúrgico!... Não...! Pois
eles me chamavam para levantar e eu só falava assim: “quero comer” (risos).
A notícia da cirurgia da mastectomia, aí... Eu... Normalmente! Pra mim
não tinha diferença por que eu pensava assim: “já estou de idade!” E depois
logo que cheguei no hospital, o médico falou pra mim: “nós estamos com uma
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equipe grande aí, e nós vamos retirar sua mama e já vamos colocar...” Então,
quer dizer, não é uma coisa que você fala assim, eu vou ficar sem mama, sem
nada. Então, ele já fez a retirada e já colocou. Então pra mim não... não me
afetou em nada. Pra mim foi assim... Normal.
Após a mastectomia a mudança na minha vida foi...Ah, esse... Foi mais
os procedimentos de vida, que você tem que regrar o que se vai fazer. Muitas
vezes não podia por uma roupa no varal. Hoje eu estou super feliz por que eu
consigo levantar a mão, eu não conseguia... Isso aqui pra mim o médico disse
que era o máximo e pra mim o máximo é isso... (risos). Então eu acho assim...
que pra mim não... Não teve. Assim, mudança por causa do tratamento, que
você vai lá, não tinha sossego, era toda semana, era toda semana, era toda
semana...Mais os afazeres do dia-dia eu continue fazendo mesmo! Doía um
pouquinho, eu parava mais fazia. Não deixei ninguém fazer nada. Eu mesmo
fazia comida, fazia tudo... Quando ele me liberou... Eu enfrentei mesmo! Ah!
Como dizer, eu não posso dizer que sou sozinha, eu vou fala que sou
sozinha?! Eu tenho um Deus! Eu tenho um Deus maravilhoso que está sempre
me ajudando, então...
E tive sim apoio da minha família. Tive meus filhos que ficaram muito
assim, sabe?! Ficaram bem sensíveis a isso e tiveram carinho comigo. Minha
filha até queria que eu fosse embora com ela... Eu falei: “ah... vou sai da minha
casa pra ir embora... não vou. E depois, filho é filho, genro é genro”. Então, eu
preferi... Fiquei sim! Fiquei uns cinquenta dias na casa desse meu filho. Por
que minha nora é aquela assim: tanto faz, como tanto fez. Se ela tiver que
conversar com você ela conversar, se ela não tiver, ela entra no quarto dela e
fica. Então... Fazia-me o que eu precisava, se eu precisava ir aqui e ali, ela
levava, nunca achou ruim. Ela fazia curativo no meu seio quando ficou aberto,
ela quase desmaiava, mais fazia (risos). Ela ia para o hospital e eles retiravam,
por que deu gangrena, deu aquela massa preta, e o médico a tirava quase
desmaiava lá dentro vendo aquilo. Ela falou assim: “a senhora não sente dor?”
Não sinto nada! Meninas, incrível, incrível, incrível! Por isso que eu falo pra
vocês, se a mão de Deus não estava ali?! Eles costuravam a minha mama sem
anestesia, sem anestesia... por que disse que isso daqui não dói, ele fala que
não doía. Apertou de um lado, outro do outro, e assim, o outro foi costurando e
puxando, só senti que puxava assim. E quando chegou aqui em baixo assim,
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que ele desceu, “eu estou sentindo”. Ele fez duas anestesias locais, e termino a
cirurgia. Mais ela me ajudava. Ela que olhava. Muitas vezes, esses dias mesmo
que eu estava queimada, eu tenho coragem de mostra pra ela, não para os
meus filhos, pra filha sim, mais os filhos não! Ela olhou e falou: “tá realmente, tá
queimado, precisa se cuida...” Ela é muito boa, uma mulher muito boa!
Na minha vida social as mudanças... Ah fala pra você... Eu não tenho
vida social, por que eu não podia ter contato com ninguém. Por causa do meu
tratamento, da quimioterapia, eu não podia está em lugares cheios de gente,
eu não podia está em lugar contaminado. Então quer dizer, pra mim, fui privada
de bastante coisa, de não sair e de não ir, por não poder ter contato, por que se
alguém tivesse alguma doença eu estava (pausa), pronta pra pegar. Então, eu
não podia ir, eu tinha que ficar em casa. Para igreja mesmo, eu só fui... acho
que comecei ir em abril, depois de três meses que eu comecei, isso lá no fundo
sozinha, nem para frente, nem ficava no meio do pessoal, não ficava. Ainda a
turma me chamava: “vem pra cá!”. Eu dizia: “não posso, eu tenho que ficar aqui
sozinha”. Por que se a pessoa respira, espirra, então você pega o vírus, e ele
falou pra mim: “você não pode frequentar lugares lotados.” Quer dizer que foi
uma exclusão da sociedade por que... Pra mim mesmo, pro meu bem. Já na
vida afetiva e sexual não, eu não tenho vida sexual por que sou viúva. Já não
tinha... ele morreu já vai fazer três anos. Então quer dizer, no próximo ano já
apareceu minha cirurgia, minha doença. Então... e nem penso, não quero
homem na minha vida. Eu quero Deus! Eu falava pra ele que eu tenho um
homem lindo, lindo na minha vida, só eu que vejo (risos).
Assim, o preconceito no meio social, ah... Eu trouxe assim, por que a
indiferença é muito grande por que as pessoas olham pra você já com aquele
olhar de curiosidade, ou de muitas vezes, eu assim... é... Penso comigo: “ah,
essa aí mereceu, essa aí não presta, não é verdade?!” Muitas vezes a pessoa
pode não falar pra você, mas dentro de si! Observa que você está sem cabelo,
observa um monte de situação, mais só que eu, no meu físico assim, pedir a
cor do rosto. Então eu acho assim, que eu fiquei muito curada. Por que eu fazia
tratamento certinho, eu não saia de dentro casa. Só vivia dentro de casa, eu
nunca nem saia pra fora. Ficava dentro de casa o tempo inteiro, era bordando,
era deitada, era assistindo um programa de televisão, mais eu não saía não.
Muitas vezes meus filhos chamavam: “vamos mãe em tal lugar”, e eu falava:
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“não vou”. No aniversário dos netos também, não fui, por que tinha gente
diferente. Eu me cuidei o tempo todo, e como diz assim... turma me olha na
igreja: “se você não tivesse sem cabelo, ninguém falava que você teve câncer”,
por que sempre me mostrei assim.... Mostrei-me alto astral, nunca lá embaixo.
Por que pra me deixar lá embaixo precisa muito!
Eu estou satisfeita com meu corpo após a cirurgia, por que só assim...
só de saber que eu já não estou... Que a doença foi retirada, pra mim foi uma
glória, por que você já pensou?! Não tive metástase, eu não tive nada. Por que
muita gente que tem tudo isso. Isso aí é um teste, como diz... É um teste muito
triste na vida da gente, quando muitas vezes você vai lá no hospital e a pessoa
fala “eu tenho metástase”. Gente é terrível, por que você corta num canto, abre
num outro, tira de um canto... e eu não. Graças a Deus, a única parte que veio,
veio para o braço e ele nem veio para o braço por que ficou encapsulado. Meus
três nódulos ficaram encapsulados. Então, não teve jeito veio pro braço por que
já era, por que de certo já era ramificação daqui. Mais foi retirado dez, tirou o
linfático inteiro do braço, diz que não ficou nada! O médico falou pra mim, você
não tem mais nada. E meu câncer era um câncer mais simples, por que tem o
que é... dos piores. Por que tem três fases o câncer, e ele falou para minha
filha que o meu era do mais simples. Então eu fiquei satisfeita! O importante é
que quando eu soube eu queria retira, não importava que eu ficasse sem
mama, não importava nada, por que eu não tenho essas coisas não! Eu acho
assim, como diz, eu quero entrar no céu (risos), com minha alma limpa, sem
língua, sem pé, sem mão, mas... (risos).
A minha força maior foi Deus! E eu sempre tive uma fé muito grande por
que só com essa revelação que eu tive dentro da igreja, pra mim foi assim...
por que você sendo católica, você tendo uma fé firme em Deus, Deus não
desampara você, em momento algum! Você só cai por que você não tem fé em
Deus! Por que tudo você vence! Eu por mim, eu pensava, por que foi a doença
da minha mãe, doença do meu marido, doença do meu padrasto e depois, logo
minha?! Então, quero dizer, foi um teste bem duro pra mim. Mas eu... eu me
sentia sozinha, me sentia vazia, mas depois eu pensava assim... Aí um dia na
igreja o padre falou assim: “tem uma pessoa que está sentindo tão sozinha,
mas Deus mandou falar pra ela que ele pôs um anjo lá pra tomar conta dela”.
Então aquilo me preencheu. Nossa! Se Deus colocou um anjo pra mim, o que
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eu quero mais?! Não preciso de mais nada! Pra mim... se não tenho medo?!
Medo do que?! Tranco a minha casa, deito, apago todas as luzes, deito e
durmo muito bem. E não gosto que ninguém vem tirar a minha paz, os outros
falam: “ah, vou dormir na sua casa!” Eu digo: “não vem não, pelo amor de
Deus! Deixo-me fica sozinha (risos).” Isso desde que meu marido faleceu. Tem
gente que sai de casa, fica fazendo tudo àquela cena. Eu não, eu já encarei de
cara. Tratei dele até o fim, morreu nos meus braços, minha mãe morreu nos
meus braços. Eu fiz a minha parte, não abandonei um segundo sequer. Então,
eu não posso ter sentimento nenhum de culpa. É ele que não se tratou, é ele
que não se cuidou, então... Eu não tinha nada de fala assim... Engraçado, por
que eu já tinha feito um implante dentário, e eu brincando, vindo da ginástica,
que eu frequentava muito ali.
Eu fiz computação, eu sou uma pessoa de interagir, eu não quero ficar
parada, e brinquei com minha amiga, só faltava agora eu tirar um pouco do
meu seio, por que meu seio estava arrastando aqui, por que deu mama. Ela
falou assim pra mim: “sabe o que acontece? Isso aí o, veio pra você por que
você falou você vai ter que pedir perdão pra Deus”. Daí eu fui confessar, falei
pra Deus, que Deus me desculpasse por que eu queria uma cirurgia Senhor,
mas não por inteiro (risos). Não precisava ser por inteiro assim, Senhor. Eu
pedi do nada e o Senhor me deu inteiro, já me deu com problema (risos)?!
Todo mundo falava que foi uma loucura tirar tudo. Ele reconstituiu essa mama,
por que reconstituindo ele vê se tem alguma coisa. E aí já colocou a prótese.
Ficou meio torta, tudo, mas ninguém vai ver. A gente tem mais que louvar e
agradecer que eu estou com vida, não sabem até quando que eu vou viver,
mas quero viver intensamente pra Deus, para os meus filhos, para os meus
netos e bola pra frente!
Entrevista 5 – “Beija-Flor”
Meu nome é Beija-Flor. Tenho 68 anos. Eu fui professora e secretaria,
hoje estou aposentada. Soudivorciada e tenho 4 filhos. A mastectomia foi
realizada em abril de 2015. Na minha família não tem nenhum histórico da
doença, a não ser a família mais distante, mais irmão não, prima teve.
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No momento do diagnóstico de câncer de mama eu fui forte, o médico já
explicou tudo, já sabia. E pra mim foi normal, tudo normal. A minha família me
deu muito apoio, muito apoio.
Na vida social, afetiva e sexual não tive mudanças. Na sexual não, por
que não tinha marido. Não, ah... Nãoser assim, por não andar, mais tive que
ficar em casa. E nunca enfrentei preconceito no meio social não, graças a Deus
não!
Hoje após a cirurgia sou satisfeita com meu corpo, eu penso que estou
curada! Estou bem, mas se voltar eu estou aberta.
E sempre busquei o apoio em Deus, sabia que Deus estava na frente.
Hoje sou a mesma, fico em casa, eu só queria andar. Voz tem como substituir,
agora andar não.
Observação: Beija-Flor teve um AVC, que deixou sequelas, como dificuldade
para andar e falar. Devido a essas limitações, a entrevista foi seguida seu
roteiro, mas respeitando os limites da participante.
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ANEXOS
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ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
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