as vivÊncias do luto simbÓlico em mulheres … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida;...

102
1 UniSalesiano Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES PASTORA INÊS DO NASCIMENTO AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES MASTECTOMIZADAS: as interveniências psicossociais decorrentes desta ocorrência LINS SP 2017

Upload: others

Post on 20-Jun-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

1

UniSalesiano

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES

GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES

PASTORA INÊS DO NASCIMENTO

AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM

MULHERES MASTECTOMIZADAS: as

interveniências psicossociais decorrentes desta

ocorrência

LINS – SP

2017

Page 2: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES

GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES

PASTORA INÊS DO NASCIMENTO

AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES

MASTECTOMIZADAS: as interveniências psicossociais decorrentes desta

ocorrência

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia, sob a orientação do Profº. Me. Rodrigo Feliciano Caputo e orientação técnica da Profª. Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2017

Page 3: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

Alves, Fernanda de Cássia do Nascimento; Gomes, Graziele Fernanda

Ribeiro; Nascimento, Pastora Inês

As vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas: as

interveniências psicossociais decorrentes desta ocorrência / Fernanda de

Cássia do Nascimento Alves; Graziele Fernanda Ribeiro Gomes; Pastora

Inês do Nascimento. – – Lins, 2017.

102p. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano

Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.

Orientadores: Rodrigo Feliciano Caputo; Jovira Maria Sarraceni

1. Câncer de Mama. 2. Mastectomia. 3. Luto Simbólico. I Título.

CDU 159.9

N193v

Page 4: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

FERNANDA DE CÁSSIA DO NASCIMENTO ALVES

GRAZIELE FERNANDA RIBEIRO GOMES

PASTORA INÊS DO NASCIMENTO

AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES

MASTECTOMIZADAS: as interveniências psicossociais decorrentes desta

ocorrência

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em: ___/___/___

Banca Examinadora:

Profº. Orientador: Rodrigo Feliciano Caputo

Titulação: Mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo – USP

Assinatura: __________________________

1º Prof.: _______________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

Assinatura: __________________________

2º Prof.:________________________________________________________

Titulação: ______________________________________________________

Assinatura: ___________________________

Page 5: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

Dedico esse trabalho a todas as mulheres: lindas e guerreiras que lutam contra

o câncer de mama, estasque contribuíram e enriqueceram nosso trabalho com

suas experiências, dando exemplos e lições de vida a nós!

Ao meu Avô Antônio Alves “Cantão”, sei que dai do céu, está comemorando

essa vitória comigo, o quanto esta orgulhoso. Sempre acreditou em mim e dizia

que eu era guerreira, por trabalhar no campo o dia todo e estudar a noite,

sempre com muita honestidade e dignidade, eu iria vencer. Vô Cantão, o

Senhor, sempre foi e será um exemplo de vida pra mim. Saudades eternas!

Fernanda

A Deus, que em sua infinita bondade nunca me deixou desistir;

A minha mãe Elizabeth e Avó Liana que se dedicaram a vida toda para que eu

pudesse ter um futuro melhor;

Ao meu esposo pela paciência e companheirismo.

Graziele

A Deus

Que me faz sentir agraciada de poder concluir minha faculdade aos 58 anos

possibilitando a realização de um sonho;

A todas as mulheres que participaram do TCC colaborando na finalização

deste curso, meu muito obrigado! Aprendi muito com o exemplo de vocês. A

maneira de encarar a vida depois da dor mostra que o céu não tem limites.

Pastora

Page 6: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

AGRADECIMENTOS

Meu sonho só pode ser sonhado e realizado por vocês;

Ao meu Deus... Muito obrigada, somente por Ti que nunca me abandonaste

durante minhas tribulações. Deus do impossível, toda honra e toda glória a Ti;

A minha mãe, por toda a paciência, carinho e compreensão. Que sempre me

apoiou e me fortaleceu nas alegrias e nas tristezas. Pois nunca pode cursar

uma faculdade, mas na faculdade da vida, é muito mais que uma Doutora. Ao

meu pai, que sempre me incentivou, acreditou em mim, pelas suas palavras de

apoio e carinho, por me instruir em minha caminhada, por ter possibilitado essa

oportunidade, pois sabemos o quando foi difícil. A vocês, meus pais, Maria e

João, minha base e fortaleza, que cursaram essa faculdade comigo, sonharam

junto, acreditaram em mim e me ajudaram a torna esse sonho uma realidade.

Essa vitória é de vocês;

Minhas irmãs, Gislaine e Gabrieli. Gabi... Por sempre estar ao meu lado me

incentivando e me ajudando. Gi... A você que sempre esteve ao meu lado,

quantas coisas passamos durante esses 5 anos, as aulas de sábados, risos e

choros... Não foi fácil, mas vencemos com garra e honestidade. Amo vocês;

Ao meu noivo, amigo e companheiro sempre estando ao me lado, acreditando

em mim, pela compreensão e palavras de incentivo em todos os momentos,

não deixando que eu desaminasse, o caminho foi árduo, mas vencemos. E a

sua família por todo apoio e orações;

Aos grandes Mestres! A vocês sou eternamente grata por todos os

ensinamentos e aprendizagem, por lições de vida. Tenho cada um em meu

coração;

Aos meus mestres e amigos, Oscar e Rodrigo, pois no momento mais difícil em

minha vida, vocês foram meus guias e estiveram ao meu lado me orientando;

Page 7: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

As minhas companheiras de curso e TCC: Graziele e Pastora, por toda

serenidade e companheirismo ao longo desses 5 anos. Foram muitos risos das

nossas atrapalhadas, choros de tristeza, mas também muitos choros de

alegria, por toda cumplicidade, paciência e compreensão. Obrigada pela

amizade de vocês;

Aos funcionários, sempre muito dedicados e prestativos. Em especial, as

meninas da biblioteca e do setor de Psicologia: Carol e Iasmim, por todo

carinho e amizade;

A professora Jovira Sarraceni, por suas orientações e por sempre ter

acreditado em nós;

E por fim, ao meu Mestre, Orientador e Amigo: Rodrigo Caputo, que mesmo

quanto nós estávamos desacreditadas, nos mostrou o caminho e o quanto

éramos capazes. Sempre acreditou em nós, em meio às lágrimas, foi a nossa

calmaria!

Fernanda

Minhas grandes amigas e companheiras Fernanda e Pastora, que jamais

deixaram que nada e nem ninguém pudessem destruir tudo que construímos

durante estes cinco anos;

As mulheres mastectomizadas que nos doaram suas experiências para que

nosso TCC pudesse ser realizado;

E meus queridos professores: nosso orientador Rodrigo que acreditou em

nosso projeto e Jovira pela dedicação para conosco. Obrigada!

Graziele

Agradeço primeiramente a Deus, fonte da minha vida, e por sempre estar

comigo na realização deste trabalho;

Page 8: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

Minha família e de modo especial aos meus pais, Tiburtino Rudrigues do

Nascimento e Maria Inês da Silva Nascimento (In memoriam). É em você mãe

que penso nesse momento... Desejara tanto ter um filho doutor!...

Cientificamente falando eu sei que não, mas para você... É como se o fosse

(senso comum), e se alegra comigo na realização desse sonho;

Agradeço a ADI (abordagem Direta do Inconsciente) e ao Método TPI (Terapia

de Integração Pessoal), pois foi na realização dessa terapia que pude

vislumbrar um novo horizonte que veio direcionar o desejo de aprofundar e me

especializar, como forma de contribuir para amenizar o sofrimento humano.

Ao saudoso professor Maurício (In memoriam), que deixou um legado imenso

de sabedoria, profissionalismo, amizade e exemplo de defensor de causas

importantes;

A professora Jovira, por dedicar toda a atenção e carinho. E ao professor

Rodrigo, que prontamente aceitou a orientação deste TCC;Minha eterna

gratidão.

A todos os professores, que me acompanharam desde o inicio, pelo carinho e

atenção. Sou Sempre muito grata.

A todos os colegas de sala (agora amigos...) pelo apoio, carinho e amizade.

Amigo não se conquista... Se faz! De modo especial às queridas amigas e

companheiras do TCC, Fernanda e Graziela, por estarmos sempre Juntas nas

lutas e conquistas durante estes cincos anos.

A todos os amigos que amo tanto e me apoiaram nesta jornada;

Aminha terapeuta Mariângela, pelo incentivo e modelo de profissional. Partilhar

a vidacom alguém é sempre um ato de coragem.

Pastora

Page 9: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo uma investigação sobre as vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas e as interveniências psicossociais decorrentes desta nova condição. Participaram do presente estudo cinco mulheres com idades entre 35 a 70 anos, que tiveram o câncer de mama e passaram pelo procedimento cirúrgico em um tempo de dois anos. Utilizaram-se como meios para fundamentar o estudo, os modelos de pesquisas, exploratória, visando maior conhecimento sobre o assunto abordado e a descritiva, levando a observação da análise, estabelecendo os fatos sem manipulá-los. Para tal ação, foram realizados três encontros, sendo os dois primeiros para o fortalecimento do vínculo e o último procedido de uma entrevista semiestruturada. Como referencial teórico para a compreensão do luto simbólico, fora baseado em Klüber-Ross. Os dados coletados, foram analisados sob a luz da Psicologia Social, para assim compreender melhor o processo de luto simbólico e as interferências nos processos psicossociais enfrentados pelas mulheres que sofreram com a mastectomia. Por meio da entrevista obtivemos as seguintes categorias para análise: o medo da morte concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação da vida a partir da doença, assim como também subcategorias para melhor compreensão, tendo como resultado a compreensão do luto simbólico vivenciado a partir da mastectomia e dos modos de enfrentamento da doença da mulher, assim como as mudanças em seu contexto psicossocial. Fora considerado a família e a religiosidade como forte aliado na luta contra a doença, possibilitando a essas mulheres novas vivências em função condição que se encontra, de ser mastectomizada.

Palavras-chave: Câncer de Mama. Mastectomia. Luto Simbólico.

Page 10: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

ABSTRACT

This workaims a research on the experiences of symbolic mourning in mastectomized women and as psychosocial interventions resulting from this new condition. Five women bet ween the ages of 35 and 70, who had breast cancer and under went surgery there is two years, participated in the present study. They used as means to base the study, there search models, exploratory, see king greater know ledge about the subjectad dressed and the descriptive, takingan observation of analysis, binding the facts without manipulating them. For this action, three meetings were held, the first two to streng then the bond and the last procedure of a semi-structured interview. As a theoretical reference for anunder standing of symbolic mourning, for the Klüber-Ross service. The collected data were analyze dunder the light of Social Psychology, for the best of the process of symbolic grief and as interferences in the psychosocial processes face dby women suffering from a mastéctomy. Through the interview, the yobtain the following categories for analysis: the fear of concrete death; symbolic mourning: as deaths in life; such as psychosocial interventions to help cope with the disease and re-signify life from the disease, as well as subcategories for better under standing, resulting in anunder standing of the symbolic mourning experienced from the mastectomy and the coping ways of the woman's disease, as well as how to change in the ir psychosocial context. A considerations on the Family and religiosity as a strongally in the fight against the disease, making possible these new ones in whichone finds, of being mastectomized. Keywords: Breast Cancer. Mastectomy. Symbolic Grief.

Page 11: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Identificação das participantes

LISTA DE ABREVIATURAS

CEP: Comitê de Ética e Pesquisa

ECM: Exames clínicos da mama

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TNM: Tumor; linfonodos axilares homolaterais e metástase à distância

Page 12: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................14

CAPÍTULO I: CÂNCER DE MAMA: AS IMPLICAÇÕES NA VIDA DA

MULHER. ......................................................................................................... 16

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 16

2 CÂNCER: EPIDEMIOLOGIA ......................................................................... 16

2.1 Classificação dos tipos de câncer................................................................17

2.2 Câncer de mama.........................................................................................19

2.3 Tipos de tratamentos...................................................................................20

2.4 Tipos de cirurgias relacionadas ao câncer de mama..................................21

2.1.4 Procedimentos conservadores.................................................................23

2.5 As implicações psicossociais decorrente da mastectomia na vida da

mulher................................................................................................................23

CAPITULO II: MORTE EM VIDA: O LUTO SIMBÓLICO VIVENCIADO PELA

MULHER MASTECTOMIZADA........................................................................26

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 26

2 A MORTE EM VIDA VIVENCIADA PELA MULHER MASTECTOMIZADA .. 26

3 MORTE .......................................................................................................... 29

4 CONCEITO DE LUTO ................................................................................... 32

4.1 Fases do Luto em Vida................................................................................33

CAPITULO III: METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................. 37

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 37

1.1 PÚBLICO-ALVO ..................................................................................... 39

1.2 Recrutamento e seleção do público-alvo.....................................................39

1.3 Procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de

campo................................................................................................................40

1.3.1 Observação..............................................................................................40

Page 13: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

1.3.2 Entrevista..................................................................................................40

1.4 Tratamentos dos dados...............................................................................41

1.5 Psicologia Social como análise de dados....................................................42

CAPITULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................. 44

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 44

2 O MEDO DA MORTE CONCRETA ............................................................... 45

2.1 Luto simbólico: a morte em vida..................................................................47

2.1.2 A perda dos papeis sociais e as limitações..............................................52

2.2 As interferências psicossociais no auxílio do enfrentamento da doença e

suas consequências..........................................................................................54

2.2.1 O apoio familiar no enfrentamento da doença..........................................54

2.2.2 A fé como artifício de superação..............................................................56

2.3 A ressignificação da vida a partir da doença...............................................58

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 60

CONCLUSÃO ................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63

APÊNDICES ..................................................................................................... 72

ANEXOS ........................................................................................................... 98

Page 14: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

14

INTRODUÇÃO

A palavra câncer tem origem grega karkínos, foi nomeada a primeira vez

por Hipócrates, considerado o pai da medicina. O câncer são células anormais

no corpo humano que crescem de formas desordenadas e se espalham pelo

corpo atingindo outras células saudáveis, tornando uma doença extremamente

maligna.

O câncer não escolhe gênero e nem idade, e por ser uma doença

sorrateira, atinge qualquer parte do corpo de maneira silenciosa e agressiva.

Isso faz com que a doença carregue um estigma muito forte, de ser uma

doença mutiladora, incurável e mortal, afetando o indivíduo em sua integridade

física, emocional e social.

Dentro os vários tipos e classificação do câncer, o câncer de mama é o

mais comum entre as mulheres. Após a descoberta do nódulo, o tipo de

cirurgia e tratamento irá depender do estágio em que a doença se encontra. A

cirurgia de mastectomia, geralmente é a mais indicada, justamente por haver a

remoção da doença, seguido de um tratamento agressivo e doloroso para a

mulher. Mas, dentro de todo esse processo, a mastectomia vai muito além de

um procedimento cirúrgico, e consequentemente, essa experiência envolve os

mais diversos sentimentos negativos, e exige que a mesma vivencie e elabore

um sentimento de luto pelas perdas sofridas, visando assim aceitar e

ressignificar a imagem do novo corpo e as implicações decorrentes desse fato.

O luto não está ligado apenas à morte de um ente querido, mas as

possíveis perdas reais e concretas que acontecem ao decorrer do

desenvolvimento humano, sendo vivenciadas essas perdas no campo psíquico

e físico, e que tenha uma ligação significativa tanto de aspectos pessoais,

sociais, profissionais e familiares.

Em relação ao luto simbólico, essas perdas estão ligadas a extirpação

da mama, a alteração na imagem corporal, as limitações ocasionadas, aos

papéis antes desempenhados em seu cotidiano e outras perdas similares, que

podem vir a interferir em suas relações sociais, por não saberem como lidar

com tal situação.

Page 15: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

15

A relação que a mulher tem com o próprio corpo, esta relacionada à sua

percepção e a construção social. A mama é um símbolo de feminilidade, que

constitui sua integridade e identidade como mulher, tendo relação com sua

sensualidade, erotismo e amamentação. Essa mudança brusca causada em

sua imagem pode provocar sentimentos de vergonha, baixo autoestima,

inferioridade, rejeição, ansiedade e o constante medo da morte. Visando como

objetivo compreender a vivência do processo de luto simbólico da mulher

mastectomizada e as implicações psicossociais decorrentes de tal ocorrência.

O presente trabalho foi construído a fim de investigar “Como a mulher

mastectomizada lida com os lutos simbólicos e as vivências psicossociais

decorrentes desta nova condição”?

Visto que, a mulher mastectomizada entra num processo de sofrimento,

decorrente à perda da mama e o simbolismo que esta detém, além de outros

fatores que implicam tal ocorrência, o que gera o desencadeamento do luto

simbólico e os modos de enfrentamento do mesmo, cuja elaboração ou não,

dependerão dos recursos psicossociais que cada mulher possui.

Para isso, buscou-se conhecimento no primeiro capítulo sobre a

epidemiologia do câncer. No segundo capítulo, aprofundou-se na discussão do

luto simbólico desencadeado nas mulheres mastectomizadas decorrente das

diversas perdas e sofrimentos psicossociais decorrentes deste fato. No terceiro

capítulo, foi descrito a metodologia empregada nesta pesquisa. No quarto

capítulo foi analisado e discutidos os dados coletados nas entrevistas com as

mulheres participantes, tecendo as considerações finais sobre como a mulher

vivência o luto simbólico após mastectomizada e as interferências psicossociais

ocasionadas dessa ocorrência.

Page 16: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

16

CAPÍTULO I

CÂNCER DE MAMA: AS IMPLICAÇÕES NA VIDA DA MULHER

1 INTRODUÇÃO

Estudar sobre a mulher mastectomizada é um tema complexo e temido

na vida da mulher por envolver um processo de luto simbólico, que está ligada

a sua identidade feminina e as vivências psicossociais decorrentes desta nova

condição.

O câncer de mama é muito temido no universo feminino, pois esta

relacionada em nossa cultura a um símbolo da identidade feminina, de sua

sensualidade, sexualidade e autoestima, ligado a uma possível mutilação do

mama, remetendo ao sentimento de morte pelo estigma que a doença carrega,

permeando a vida de angústia e sofrimento.

O presente capítulo trata sobre o câncer de mama, seu diagnóstico,

formas de tratamento e as implicações psicossociais que estão relacionadas à

vida da mulher.

2 CÂNCER: EPIDEMIOLOGIA

O câncer é uma doença conhecida desde os tempos mais remotos,

sendo detectado e comprovado em múmias egípcias há 3.000 anos a. C.. O

termo câncer foi empregado pela primeira vez na Grécia antiga por Hipócrates

(460 e 377 a. C.), o pai da medicina. A palavra câncer tem origem grega

Karkínos, que significa caranguejo (INCA, 2011).

A comparação com o crustáceo deve-se ao aparecimento de feridas

profundas que penetram na pele, fazendo analogia ao comportamento do

caranguejo quando agarrado ao solo. Mas, mesmo tendo o conhecimento da

doença desde a antiguidade, apenas com a conquista do microscópio o estudo

de doenças nocivas pode ser prosseguido. Com o reconhecimento da célula

como a unidade funcional do organismo, foi possível perceber como ocorre o

desenvolvimento das doenças nocivas (HERZBERG; FERRARI, 2007).

Page 17: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

17

O corpo humano é constituído por células que se agrupam em tecidos e

órgãos. Quando essas células normais se fragmentam, tendem madurecer e

morrer, revigorando a cada ciclo. Então, o câncer passa a progredir quando as

células anormais deixam de realizar esse processo natural, assim, causando

alteração em um ou mais genes de apenas uma única célula. Essa alteração

faz com que as células se fragmentam de forma errônea produzindo novas

células anormais, e assim sucessivamente, acarretando em células cancerosas

(INCA, 2006).

Essas células cancerosas constituem-se por duas propriedades

hereditárias, primeiramente, a partir da reprodução desordenada, no qual

ultrapassa os limites normais da divisão celular; e consecutivamente,

acometem e alastram regiões reservadas a outras células, essas duas

propriedades tornam o câncer extremamente perigoso. O tumor ou neoplasia

será originado por meio dessas células anormais que aumentam e multiplicam

de maneira exorbitante. Quando essas células neoplásicas não são agressivas,

o tumor é tido como benigno, e geralmente, neste estágio pode ocorrer uma

retardação ou remoção cirúrgica dessa massa tecidual. Mas, quando há

invasão nos tecidos adjacentes, este tumor é classificado como maligno, sendo

característica das células cancerosas, a célula maligna desloca do tecido e

adentra na corrente sanguínea ou nos vasos linfáticos, gerando tumores

secundários, definido como metástases. Normalmente, quando esse tumor se

espalha, torna-se mais penoso para eliminá-lo, são as metástases que causa a

morte do paciente (ALBERTS et al., 2010).

2.1 Classificação dos tipos de câncer

As células cancerosas são nomeadas por neoplasias, como já dito, é um

aumento desorganizado das células e que não segue o processo natural. Esse

aumento é considerado benigno ou maligno. Ambas as células, se diferenciam

no desenvolvimento celular e na velocidade do crescimento, incluindo a

capacidade de se tornar uma metástase ou de se alastrar entre as células,

assim causando efeitos gerais e a destruição dos tecidos, como também na

capacidade de causar a morte do indivíduo acometido pela doença (SILVA,

2013).

Page 18: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

18

Os tipos de câncer são classificados e agrupados de acordo com os

tecidos e os tipos celulares, e são denominados como:

a) Leucemia: tem origem na medula óssea e provocam um aumento

excessivo de leucócitos prejudicando todo o corpo, impossibilitando a

criação dos glóbulos vermelhos e brancos, como as plaquetas

(TAMARIN, 2011; SANTOS; RIBEIRO; TEIXEIRA, 2014).

b) Linfomas: também conhecido por doença de Hodgkin e não Hodgkin,

ambos são tumores malignos, que provocam um aumento excessivo de

linfócitos de maneira descontrolada, tem início nos nódulos linfáticos e

no baço, e originam-se de células do sistema imunológico, assim

afetando órgãos e tecidos responsáveis pela imunidade do corpo

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

c) Sarcoma: são tumores de comportamento agressivo que surgem no

músculo, osso e cartilagem, prevalecendo em toda extremidade e pelve,

podendo ocasionar uma variante em outras partes moles do corpo,

surgindo principalmente em indivíduos do sexo masculino com idade

inferior a 30 anos (CATALAN et al., 2005; TAMARIN, 2011).

d) Tumores do sistema central: tem predominância em qualquer parte

anatômica cerebral ou medular, esse tipo de tumor é mais frequente na

infância e adolescência, podendo ter a incidência em idades mais

avançadas é o segundo mais incidente, após a leucemia (MENDES;

ONGARATTI; LIMA, 2014).

e) Carcinoma: são tumores malignos que tem origem no tecido epitelial

ou glandular, e tendem a serem invasivos, pois é o tipo mais comum em

humanos. Entre as áreas do corpo afetadas encontra-se o câncer de

mama, ovário, bexiga, pele, próstata, entre outros, justamente porque o

tecido epitelial é o responsável por recobrir todos os órgãos, assim como

também nossa pele. Podem-se encontrar carcinomas tanto invasivos ou

não invasivos, como o carcinoma mamário ou câncer de mama,

referente ao estudo (TAMARIN, 2011).

As células cancerosas podem se proliferar (manifestar) em qualquer

parte do corpo independentemente, sendo a incidência mais comum em alguns

órgãos do que em outros, podendo ser atingido por diferentes tumores,

considerado mais ou menos agressivo (INCA, 2011).

Page 19: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

19

2.2 Câncer de mama

O câncer de mama ou carcinoma mamário surge em forma de nódulos

na mama ou axila, facilitando em alguns casos a identificação pela própria

mulher por meio do autoexame (DUARTE; ANDRANDE, 2003).

Sendo a doença mais prevalente no meio feminino, raramente acomete

mulheres com idade inferior a 35 anos, podendo multiplicar rapidamente e

evoluir com a idade, prevalecendo em mulheres com idade de 40 a 60 anos.

Este tipo de câncer apresenta sinais e sintomas, e muitas vezes iniciam-se com

surgimento de um nódulo na mama ou na axila, dor e alteração na pele da

mama, como redução ou inchaço com aparência similar a casca de laranja

(SILVA, 2011).

O desenvolvimento do câncer pode estar ligado a vários fatores, tanto

biológico quanto ambiental, endócrinos e genéticos, como também relacionado

à idade. Há uma predisposição genética do câncer de mama ser hereditário,

que condiz de 5 a 10% em alguns casos. Em relação à idade e o fator

endócrino, a elevação do risco condiz ao histórico da menarca precoce, a

menopausa tardia, primeira gestação após os 30 anos ou a nuliparidade,

reposição hormonal pós-menopausa por um longo período, incluindo

alimentação gordurosa, obesidade e ingestão alcoólica (OHL et al., 2016).

Um médico francês criou um sistema para classificar o câncer em fases,

definido por TNM, cujo (T) está relacionada a tumor, (N) a linfonodos axilares

homolaterais, (M) metástase à distância. Em relação ao outro sistema, o câncer

é identificado por estágios, segundo Rodrigues, Silva e Cardoso:

Estágio I: tumores têm menos de 2 cm de diâmetro e estão confinados à mama. Estágio II: os tumores têm menos de 5 cm, ou são menores, com o envolvimento de linfonodos axilares móveis. Estágio III: quando o tumor tem mais de 5 cm e há envolvimento dos gânglios linfáticos da axila do lado da mama afetada; pode aparecer edema, ulceração, comprometimento nodal supra ou intraclaviculares. Estágio IV: todos os tumores com metástase à distância (2016, p. 51).

O câncer de mama quando diagnosticado precocemente, o tratamento

ocorre de maneira oportuna para a mulher, mas quando a doença encontra-se

Page 20: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

20

em estágio avançado, o tratamento passa a ser árduo e mais difícil.

Geralmente, a maioria dos casos encontra-se já em estado avançado, esse

diagnóstico tardio acaba elevando o número de mastectomia (SILVA, 2008).

Este citado pode ser prevenido e dividido em: prevenção primária e

prevenção secundária. Dentro da prevenção primária, destacam-se os hábitos

de vida saudável, alimentação e exercícios físicos, aliado à auto palpação das

mamas mensalmente após o sétimo dia da menstruação, é por meio do

autoexame que a mulher pode vir a detectar qualquer alteração na mama. Mas,

ainda existem algumas barreiras, pois o câncer não tem uma causa definida.

Na prevenção secundária, inclui os Exames Clínicos das Mamas (ECM),

realizado por uma equipe preparada, médicos e enfermeiros e por

monitoramento através da mamografia, em que toda a mulher deve fazer

anualmente após os 40 anos. No caso mulheres que se encontram no grupo de

risco, deve realizar ECM anualmente a partir dos 35 anos (OHL et al., 2016).

2.3 Tipos de tratamentos

Após o diagnóstico do câncer de mama o tratamento a ser realizado,

dependerá da proporção da doença, suas características e classificação. Entre

os tipos de tratamentos que são utilizados destacam-se a quimioterapia,

radioterapia, terapia hormonal, imunoterapia e diferentes tipos de cirurgia de

acordo com o local da doença. Visto que este tratamento possa ser aplicado

individualmente ou ambos ao mesmo tempo (ALMEIDA, 2006).

O tratamento acontecerá após uma avaliação criteriosa sobre cada caso

e estágio que a doença se encontra.

a) Radioterapia: é utilizada há muito tempo em pacientes oncológicos

para tratar diversos tipos de câncer. Visa eliminar as células do tumor

por radiação, tentando impedir a destruição de células saudáveis. Na

maioria dos casos de câncer, os pacientes são expostos à radiação em

alguma parte do tratamento. No momento atual, existem máquinas

modernas influenciadas na tomografia computadorizada que expelem

radiação em todo corpo do paciente, aumentando a chance de diminuir

os efeitos colaterais do tratamento, pois assim o foco da radiação fica

somente no tumor. Isso consiste em emitir uma alta quantidade de

Page 21: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

21

radiação no tumor, para sua eliminação, e ao mesmo tempo diminuir a

radiação na região mais próxima, onde há tecidos saudáveis

(BARBOZA; OLIVEIRA, 2006).

b) Quimioterapia: utiliza medicamentos orais ou pelas veias, com o

objetivo de destruir, controlar ou inibir o crescimento das células

doentes. A quimioterapia constitui-se de medicamentos que restringem

ou eliminam a doença, agindo para acabar com as células malignas,

impossibilitando uma nova formação do DNA (ácido desoxirribonucleico),

obstruindo atividades fundamentais da célula ou impulsionando a morte

da célula. Todos os tecidos podem ser afetados, mesmo que em

diferentes graus. A quimioterapia traz um incomodo estomacal, enjoos,

vômitos, inflamação das membranas da mucosa, diarreia, retardo do

intestino (TARTARI; BUSNELLO; NUNES, 2010).

c) Hormonioterapia: tem o objetivo de impedir a ação dos hormônios que

fazem as células cancerígenas crescerem, obstruindo ou suprimindo os

efeitos do hormônio sobre o órgão afetado. Sendo adequada e

recomendada para pacientes após a menopausa, tendo que fazer uma

associação com a quimioterapia quando se tem o linfoma positivo

(VIEIRA et al., 2012).

d) Imunoterapia: um estudo mais avançado sobre as células tumorais e

o sistema imunológico, possibilitou o desenvolvimento da imunoterapia.

A imunoterapia age direto no tumor, impossibilitando que as células

doentes se dividam. Esse tipo de tratamento, ainda está sendo testado

para os diversos tipos de câncer, e vem ocorrendo à comprovação de

sua eficácia, sendo discutido o alto custo desse tratamento em países

desenvolvidos (KALIKS, 2016).

2.4 Tipos de cirurgias relacionadas ao câncer de mama

Entre os tipos de cirurgias, a mastectomia é um dos tratamentos

cirúrgicos mais invasivos para tratar o câncer de mama, causando

modificações na vida da mulher. Quando a mulher é submetida a esse tipo de

cirurgia, indo de acordo com seu diagnóstico, atinge toda sua esfera emocional,

Page 22: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

22

abalando não somente a imagem física, mas principalmente, a imagem

psíquica que a mulher tem de si mesma (PEREIRA; BRAGA, 2016).

O tratamento para o câncer de mama relacionado com a extirpação da

mama está relacionado a diversos tipos de cirurgia. A mastectomia é uma

cirurgia com retirada total ou parcial da mama, sendo necessária uma

avaliação específica em cada paciente para saber qual melhor procedimento a

ser adotado.

a) Mastectomia – Conservadora: na maioria das mulheres com o câncer

de mama nos estágios I e II, são requerentes da cirurgia conservadora.

O volume da mama por tamanho do tumor é a condição anatômica que

restringe para que ocorra a cirurgia. Se não houver contraindicação a

esse procedimento, a mesma será indicada, se o volume da

mama/tamanho do tumor permite a extirpação do órgão tendo um

resultado satisfatório dentro dos preceitos da cirurgia oncológica. É

extremamente importante a efetuação da mamografia antes da cirurgia,

para que ocorra uma programação da cirurgia, assim, trazer as

informações sobre a proporção da lesão e se existem mais lesões. O

tratamento conservador consiste na retirada de uma porção de tecido

mamário sadio, o bastante que possa alcançar margem cirúrgica sem

neoplasia. Quanto maior a quantidade de tecido sadio retirado, menor a

perspectiva de remoção incompleta da neoplasia e menor a perspectiva

de repetição local consecutivo do crescimento de neoplasia restante ao

tratamento local. Entretanto, quanto mais tecido mamário é retirado,

menor chance de um resultado esteticamente satisfatório (TIEZZI, 2007).

b) Mastectomia radical: foi a primeira a ser utilizada, mas seu resultado

estético é muito limitado. A mastectomia radical inicia com a remoção da

glândula mamária (aponeurose), é uma membrana fibrosa branca que

serve especialmente como revestimento de músculo, ou como ligação

de músculo ao tendão, antes e depois dos músculos do grande peitoral,

esvaziamento axilar, é adequado para os tumores invasivos, podendo

trazer complicações e limitações dos movimentos dos membros e

também dores nos membros do mesmo lado (VASCONCELOS;

RIBEIRO; TORRES, 2012).

Page 23: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

23

2.1.4 Procedimentos conservadores

Entre os procedimentos cirúrgicos conservadores, encontram-se:

a) Tumorectomia: é uma cirurgia mais acessível; é a retirada do tumor

com margens livres, o corte é feito principalmente sobre a região do

tumor. Ocorre sua retirada completa, não é retirada nenhuma parte da

pele, é indicada para tumores de porte pequeno ou que apesar de

maiores, preservam a relação tumor/mama. É parte de qualquer

tratamento que conserve a mama (BARROS et al., 1999; AVELAR et al.,

2000).

b) Quadrantectomia: cirurgia conservadora que retira todo o quadrante

do setor mamário onde fica o tumor e também da pele que fica em cima

da área do tumor (AVELAR et al., 2000).

A possibilidade de uma cirurgia mutiladora da mama, associada ao

tratamento extremamente agressivo para o organismo, ocasiona mudanças em

toda vida da mulher, interferindo no seu comportamento de maneira negativa,

com sentimentos de inferioridade e mudança na autoestima (AMÂNCIO;

SANTANA; COSTA, 2007).

2.5 As implicações psicossociais decorrentes da mastectomia na vida da

mulher

O câncer de mama é uma das doenças mais temidas pelas mulheres,

pois reflete diretamente no campo físico, social e emocional. O medo da morte

e da mutilação são fixamente presentes, vivenciado pelas pacientes e

familiares como um momento de intensa angústia. É esperada a vivência de

diversos sentimentos, entre eles: raiva, tristeza, inquietação, ansiedade,

angústia, medo e luto. Sendo vivenciado de forma individualmente para cada

mulher, dependendo de seu diagnóstico e fatores psicossociais envolvidos

(RAMOS; LUSTOSA, 2009).

Para Silva (2008) este diagnóstico de câncer de mama, causa um

impacto muito forte na vida da mulher, decorrentes do medo pela mutilação e a

desfiguração que os tratamentos podem vir a causar, pelas perdas suscetíveis

como: alopecia, a mama, a inversão de papéis em que a mulher de cuidadora,

Page 24: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

24

passa a ser cuidada e o medo constante da morte. Trataremos melhor dessas

perdas simbólicas e reais no próximo capítulo.

As mamas têm fundamental importância fisiológica no desenvolvimento

feminino, em nossa cultura constitui um símbolo da identidade feminina, um

órgão ligado a sua feminilidade por representar a maternidade, sensualidade e

sexualidade. Mesmo com o avanço da medicina, desde a relação diagnóstico

até tratamento, essa doença é considerada como uma “sentença de morte”

pela maioria das mulheres acometidas pelo câncer (DUARTE; ANDRADE,

2003).

O corpo feminino está fragmentado nos seus símbolos (mama, vagina), naquilo que o diferencia do corpo masculino. Ao mesmo tempo, esses símbolos 'cercam' a sua identidade enquanto pessoa na valorização daquilo que a define enquanto mulher, sobre tudo na nossa sociedade onde existe a celebração do corpo feminino perfeito e erótico (AURELIANO, 2009, p. 60).

Desta forma, a mutilação da mama constitui a uma perda irreparável em

certas situações da vida da mulher, referindo-se à integridade física, como

também na construção da própria autoimagem podendo ficar abalada,

alterando sua identidade feminina, como também os aspectos sociais e sexuais

(AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).

Ao longo do processo da doença, do diagnóstico ao tratamento, a

mulher começa a refletir e questionar sobre a vida passada, presente e futuro

em relação à doença, podendo acarretar mudanças no modo de vida e no

comportamento em relação a si mesmo e aos outros, como no relacionamento

marital se existente, família e amigos, podendo vir a se afastar de seu convívio

social (MACHADO; BERGMANN, 2012).

Essas mudanças significativas na vida da mulher após a mastectomia,

afeta de maneira inadequada suas relações sociais, dificultando o próprio

ajustamento social e sua reabilitação, causando a morte dos papéis sociais

devido à transformação brusca em sua rotina vivida antes da doença, sendo

inevitável uma adaptação continua para o tratamento e ao novo estilo de vida,

decorrente das limitações causada pela cirurgia (ALMEIDA, 2006).

Todo esse processo vivenciado por essas mulheres acometidas pelo

câncer de mama, seguido da mastectomia e das outras perdas referentes, a

Page 25: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

25

mulher começa a passar por um processo de elaboração do luto,

extremamente necessário, acarretando deste uma tristeza a uma profunda

depressão, sendo vivenciado de maneira individual para cada mulher. Essas

perdas estão relacionadas à essência da feminilidade, a uma simbologia criada

e imposta por nossa sociedade, influenciando em seus papéis

complementares, e principalmente, o de ser mulher (MALUF; MORI; BARROS,

2005; SILVA, 2010).

A mulher submetida à mastectomia vivência crises e alterações internas

e externas, ligadas aos seus sentimentos e a própria percepção de si no

decorrer do processo da doença. Na busca de adaptar-se a essa nova

condição, a busca por auxilio psicológico é muito importante, pois o profissional

da psicologia pode auxiliar durante todo esse processo de forma a acolher,

dando o suporte necessário para uma vivência menos sofrida para poder

ressignificar essa perda da mama (ALVES, 2016).

Page 26: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

26

CAPÍTULO II

MORTE EM VIDA: O LUTO SIMBÓLICO VIVENCIADO PELA MULHER

MASTECTOMIZADA

“Assim que o homem começa a viver, tem idade suficiente para morrer”.

Martin Heidegger

1 INTRODUÇÃO

Todos têm direito à vida, mas nem todos gozam desse direito. Vivemos

em um mundo com grande disparidade socioeconômica, onde muitos morrem

por falta de acesso a cuidados médicos e por não ter uma boa qualidade de

vida, antes mesmo de passar pelo curso natural da vida.

Está na essência do ser humano em se preocupar com a morte e essa

consciência, faz com que o homem repugna ou tenta adiar a morte, uma vez

que todos passam por este processo. Entrar em contato com esse sentimento

remete-se à desvinculação dos entes queridos, sonhos e desejos, e isso causa

muito sofrimento, tendo presente o temor da morte.

O diagnóstico de uma doença severa, muitas vezes remete ao estigma

da morte. Porém, o câncer não é o fim e sim uma chance de encontrar em

meio ao sofrimento, um sentido maior da existência, vivenciado entre as fases

do luto simbólico, encontrando um alívio na imensa sede de plenificação

humana.

Refletiremos neste capítulo sobre a morte em vida, o conceito de morte,

e as fases do luto simbólico.

2 A MORTE EM VIDA VIVENCIADA PELA MULHER MASTECTOMIZADA

Em algum momento da vida, todos sofrem diversas rupturas e tristezas

relacionadas a percas sejam simbólicas ou reais. O fato de estar com câncer

ou qualquer outra doença crônica faz com que o indivíduo entre em contato

com os mais variados sentimentos, entre eles, o medo da morte, no qual faz

Page 27: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

27

com que o próprio indivíduo repense sobre suas atitudes, seus valores e a

maneira de viver. Essas experiências possibilitam a ressignificação da vida.

Caputo (2012) amparado em Kovács (1996) descreve que:

A existência humana é marcada pela presença da morte em vida, o que de certa maneira acaba remetendo o indivíduo à ideia de finitude. A partir das vivências das mortes em vida o indivíduo projeta representações sobre a fim de sua vida, tais como: dor, ruptura, tristeza, perda, medo do desconhecido, interrupção (p. 37).

Essas experiências estão relacionadas a doenças e separações,

permeadas de sofrimento. Mas, mesmo as experiências festivas, como

nascimento, adolescência, casamento, entre outras, onde a alegria é a palavra

que predomina, envolve, de certo modo, sentimentos de tristezas e perdas,

medo do desconhecido justamente por ser algo novo a ser vivenciado. Todas

essas experiências estão finalizando um ciclo ou estado, e que envolve as

nuances da morte (KOVÁCS, 1996).

Estamos em contato com a morte do outro, vivemos o morrer, mas a

morte em si, essa é uma experiência única e definitiva. Para Kovács (1996),

morremos várias vezes ao longo da vida; as mortes simbólicas se presentificam

a todo o momento na existência humana. Mas, a morte sendo considerada

como “fim da vida”, esta é universal e irreversível para a humanidade e esta

consciência de finitude é o que dá significado para a vida.

As doenças que carregam o estigma da morte, no caso, o câncer de

mama, deixam sequelas que provocam mudanças na vida da mulher. Essas

mudanças são influências de diversos fatores: a personalidade e o estágio de

desenvolvimento em que se encontra cada mulher, o grau e a severidade da

doença, a energia libidinal investida na atividade ou em determinada função

que não pode ser mais desempenhada, todas as experiências vividas e as

possibilidades de enfrentamento da doença. Neste caso, as mulheres ao

encerrar seu ciclo menstrual com a menopausa não sofreram tanto quando a

mulher mastectomizada, pois a carreira sexual está sendo encerrada de acordo

com sua natureza (KOVÁCS, 1996).

Os sentimentos de ansiedade, desesperança, angústia e medo frente ao

tratamento, são comuns por envolver mutilações e haver a possibilidade da

Page 28: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

28

morte. A mulher portadora desta enfermidade vivência vários lutos simbólicos

ao longo do processo do tratamento, iniciando com a possibilidade da

existência de um câncer, acarretado pelo diagnóstico, seguido pelo tratamento

cirúrgico, que envolve o luto pela imagem corporal e similar, possível limitações

em decorrência das cirurgias muitas vezes mutiladoras e por último, o luto

causado pelo tratamento que muitas vezes são agressivos e invasivos (ALVES,

2010; MALUF; MORI; BARROS, 2005).

No decorrer do processo da doença que envolve, desde o diagnóstico

até o tratamento, essas mulheres sofrem muitas perdas significativas, sendo

longa e dolorosa a fase de elaboração do luto. Essa mulher se depara com a

aceitação e convivência de um novo corpo, sendo esse corpo marcado por

uma nova imagem, manifestando assim, uma insatisfação, compreensível

(RAMOS; LUSTOSA, 2009).

Este processo de luto que a mulher com câncer de mama passa,

possibilita a ela, entrar em contato com seus conflitos internos ao se deparar

com a nova condição, de modo a engendrar e refazer sua autoimagem

psiquicamente, por meio dessa nova realidade, o câncer de mama. Todo esse

processo é doloroso, e acarreta profundos sentimentos, desde uma tristeza até

uma depressão, assim como a angústia e o medo (MALUF; MORI; BARROS,

2005).

A mastectomia faz com que a mulher elabore o luto da perda do objeto

amado, que integra e constitui sua essência e identidade feminina, e tudo que

envolve esse universo: erotismo, sensualidade e amamentação. Isso pode

provocar sentimentos de vergonha, baixo autoestima, inferioridade e rejeição. A

relação que o indivíduo cria com o próprio corpo, constitui a própria

individualidade como ser (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007; OLIVEIRA,

2010).

Para Alves et al. (2010), a identidade da mulher passa a ser alterada

com a retirada da mama no que diz respeito os aspectos psicossociais, como

também sexuais, podendo refletir na relação marital. Ao se depara com esse

momento complexo em sua vida, o real sentimento vivenciado por essas

mulheres é que a vida está acabando. Após o diagnóstico do câncer de mama,

a mutilação é dada como certa e o amanhã passa a ser um enigma. Em

relação aos tratamentos, Maluf, Mori e Barros, descrevem:

Page 29: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

29

O tratamento quimioterápico, seja pré e, principalmente, pós-operatório, provoca reações de luto pelo impacto nas mudanças corpóreas como a queda de cabelo, muitas vezes expressa como maior preocupação (no íntimo espelha o que a alopecia representa na psique da paciente: a diminuição da feminilidade, o estigma do câncer, o estigma da morte, a rejeição do sentimento de piedade, o preconceito, autodefesa, uma fase de rejeição). Outras mudanças corpóreas e não fisiológicas incluem, mal-estar geral (inclusive na possibilidade de diminuição da imunidade e infecções oportunistas), náuseas e vômitos importantes, diminuição da função cognitiva (como alterações na memória entre outras), quadro clínico decorrente de hipoestrogeinismo por diminuição da função ovariana (principalmente em pacientes pré-menopausada, podendo desenvolver diminuição da lubrificação vaginal, atrofia vaginal, fogachos, amenorréia). (2005, p.153).

Em relação ao seu cotidiano, a mulher desempenha diversos papéis,

diante das barreiras que são impostas pela doença para o desempenho de

suas funções. Todo esse processo da doença deixa sequelas, limitações,

incapacidades, que traduzem a ideia de uma morte, a perda dos papéis e das

funções, como o desempenho para a realização de tarefas, à interrupção de

sonhos e carreira profissional, podem perder o convívio social, por amigos não

saberem como lidar com determinada situação (KOVÁCS, 1996).

3 MORTE

A vida e a morte são duas facetas distinguíveis na humanidade. A morte

como parte do desenvolvimento humano, muitas vezes é mascarada ou se

quer mencionada, principalmente quando o sujeito é portador de alguma

enfermidade. Sendo assim, dentro do imaginário social, uma das doenças mais

severas associadas à questão da morte é o câncer. Essa doença é

considerada pela sociedade, desde os tempos mais remotos, como uma

doença maldita, sendo incurável e permeada pelo estigma da morte, que abala

as duas esferas na existência da humanidade.

Assim, para Maranhão (1985), a sexualidade, o riso, a fome e a sede, a

morte e o nascimento são acontecimentos naturais na vida. Perante a morte

todo ser humano se iguala. No entanto, a concepção do fenômeno da morte vai

além da proporção natural ou biológica. Ela também procede como qualquer

Page 30: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

30

acontecimento da vida do ser humano, em uma dimensão social representando

assim, uma ocorrência em diferentes classes sociais inerente aos mortos.

Para Heidegger a morte pertence à própria estrutura essencial da existência. Ela não é um acidente, não vem de fora. A existência humana é um ser-para-a-morte (Sein-zum Tode). Assim que um homem começa a viver, tem idade suficiente para morrer (MARANHÃO, 1985, p. 69).

Para Borges et al. (2006), a morte é considerada inevitável e parte da

nossa história de vida, onde todos irão vivenciar ao longo do desenvolvimento

humano. O indivíduo acometido pela doença começa a se envolver e a lidar

com questões mais profundas sobre a morte e o morrer, levantando questões

sobre a própria existência, fazendo-se constante o medo e a possibilidade de

tal fato ocorrer. Então, Martins (1983) descreve que: “a finitude da vida possui

sempre duas representativas: uma física e outra social, a morte de um corpo

(biológica) e a morte de uma pessoa” (apud RIBEIRO, 2008).

No decorrer do desenvolvimento humano, desde a infância até a velhice,

a morte é compreendida de acordo com cada fase. Na infância, mesmo a morte

sendo algo provável de acontecer, desde um animal de estimação ou alguém

próximo, não é negada por ela, mas haverá uma dificuldade em separá-la da

vida, pois para ela a morte é compreendida como algo que não é definitivo e

nem irreversível. Na adolescência, a libido está direcionada para a sua

construção de mundo, na busca de uma nova identidade. Nesse período, o

adolescente compreende a essência da morte como definitiva irreversível e

universal, mas não há tempo para pensar em sua própria morte. Na idade

adulta, estamos propensos a esse fato a qualquer momento, mesmo diante da

construção de família e profissão, a morte é considerada uma possibilidade

pessoal. Mas é na velhice, que a morte parece ser mais aceita por nossa

sociedade, talvez por ser esse a última fase do ciclo vital, é também a mais

estigmatizada e carregada de atributos negativos, por haver mudanças em

seus papéis sociais, em suas funções e uma saúde mais fragilizada (KOVÁCS,

1992).

No entanto, para Borges et al. (2006), no decorrer do tempo a

compreensão das experiências da morte e do morrer tem passado por

transições, acompanhando as mudanças da sociedade no que está relacionada

Page 31: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

31

à morte, passando de uma experiência serena na Idade Média, para uma

experiência carregada de dor, medo e angústia nos tempos atuais. Então,

Medeiros e Lustosa (2011), descrevem que:

Paralelo ao fascínio instaura-se o medo da morte, a repugnância ao cadáver e a interdição do olhar. O homem durante séculos conseguiu dominar o medo da morte e traduzi-lo em palavras. A sociedade permitia os ritos familiares, e a brevidade melancólica de um fim anunciado era tratada com dignidade sem fugas ou falsificações (p. 204).

A morte e o morrer são assuntos em que as pessoas tentam evitar o

máximo, mas esse evitar faz com abrimos mão das mais diversas técnicas

possíveis existentes para manter vivo um paciente, mesmo não havendo mais

sentido. A morte se deu lugar nos hospitais, e não mais em casa, longe das

pessoas mais próximas. Ver um corpo morto é repugnante e incomodo, pois

traz a ideia da nossa própria finitude (CARVALHO, 1996).

Para o homem ocidental moderno, a morte passou a ser vista como um

tabu, estigmatizada pelo sinônimo de derrota, vergonha e fracasso, que deve

ser vencida de qualquer maneira, mas quando tal ato não é possível, a morte

passa a ser escondida e negada (COMBINATO; QUEIROZ, 2006). Em Kovács

(2005) encontramos que:

Negar a morte é uma das formas de não entrar em contato com as experiências dolorosas. A grande dádiva da negação e da repressão é permitir que se viva num mundo de fantasia onde há ilusão da imortalidade. Se o medo da morte estivesse constantemente presente, não conseguiríamos realizar os sonhos e projetos. Existe, no ser humano, o desejo de se sentir único, criando obras que não permitam o seu esquecimento, dando a ilusão de que a morte e a decadência não ocorrerão. Essa couraça de força é uma mentira que esconde uma fragilidade interna, a finitude e a vulnerabilidade (p. 494).

Então, o indivíduo portador de uma doença maligna, como o câncer,

passa a duvidar de sua própria existência, fazendo uma interpretação da

doença e do tratamento, muitas vezes agressivo. O medo torna-se realidade

por atribuir ao câncer à ideia de fim da vida e tudo que a permeia, trazendo

sofrimento. Para esses indivíduos a morte não é um infortúnio, mas os

sentimentos que acompanham o medo de morrer, a desesperança, a intensa

agonia, a dor e a solidão (BORGES et al., 2006).

Page 32: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

32

4 CONCEITO DE LUTO

No desenvolvimento humano a elaboração do luto é constante e

inevitável. Por isso, a morte do outro, nada, mas é do que a experiência da

morte em vida, pois é como se perdêssemos algo também. Essa perda e sua

ressignificação são chamadas de morte consciente e morte vivida. É um

vínculo que se rompe de forma irreversível, pelo fato da morte concreta.

Improvável achar alguém que não tenha passado por essa experiência. A

morte reproduz uma série de sentimentos, mas a perda, seja ela, concreta ou

simbólica, é a única que pode ser experienciada. Ocultar os sentimentos, ver

essa perda como uma fatalidade, eliminando essa dor apontando um possível

crescimento diante dela, são formas de negar para não sofrer. A expressão dos

sentimentos nessa perda é indispensável no desenvolvimento do processo de

luto (KOVÁCS, 1992).

Para Cavalcanti, Samczuk e Bonfim (2013), o luto é definido como perda

de uma junção significativa entre o indivíduo e seu objeto, sendo considerado

um episódio natural e seguido durante todo o desenvolvimento humano;

interfere em outros campos profissionais diretamente, no qual torna-se

fundamental um conhecimento para o respaldo adequado para aqueles

indivíduos que sofrem em torno desta perda. O luto não esta ligado apenas à

morte, mas no embate contínuo das perdas reais e simbólicas no decorrer do

desenvolvimento humano, e que venham a serem vivenciadas essas perdas

que movimentam o campo psíquico e físico, como as junções significativas nos

aspectos pessoais, sociais, profissionais e familiares.

Segundo Freud (1996), dentro do período de luto, a libido que

anteriormente era investida no objeto amado não existe mais, e exige a retirada

de suas ligações para que o ego possa vir a investir em outro objeto. Mas,

quando isso necessariamente não ocorre, o ego vai continuar a investir a libido

no objeto que foi perdido. Quando ocorre um desinteresse e a inibição, o

trabalho do luto começa a desenvolver, onde o ego é absorvido. Então, o luto é

a reação à perda de um objeto amado, em que o ego tenta superar a essa

perda. É um processo longo e penoso, seguido de uma tristeza profunda, é que

provoca o desinteresse por qualquer atividade do mundo externo, de modo

semelhante à capacidade de acolher um novo objeto de amor.

Page 33: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

33

O luto normal vem a ser superado após determinado tempo, mesmo que

haja um caráter patológico. Mas quando esse luto é mal elaborado, tornando-

se prejudicial ao indivíduo com características obsessivas e profunda tristeza,

transgrida para um processo patológico, denominado melancolia ou depressão.

Para Kovács (1996):

A melancolia ou depressão ocorrem em pessoas com uma disposição patológica, quando os mesmos sintomas do luto normal vêm acompanhados de um rebaixamento da auto-estima, com auto-recriminação e expectativa de punição. Nem sempre é claro aquilo que foi perdido, podendo não ter havido uma morte concreta. Ocorre, segundo Freud, um empobrecimento do Ego, que se torna vazio, desprezível com necessidade de ser castigado. Parece, neste caso, que o prazer é derivado da situação de sofrimento. Há sentimentos ambivalentes e muita culpa. O ódio que deveria ser dirigido ao outro que abandonou, volta-se para si próprio e é como se uma parte do Ego ficasse contra a outra, os impulsos destrutivos, que deveriam ser expressos, voltam-se para dentro, num caso mais extremo há o suicídio, quando o indivíduo, ao tentar destruir esta parte negativa, destrói o todo (p. 16-17).

O luto rodeia um teste de realidade, para que possa comprovar a não

existência do objeto amado, ocorrendo em alguns momentos uma fantasia de

que o objeto ainda esteja vivo, por isso considerado longo e penoso. Pois todo

esse processo envolve lembranças e perspectivas em torno do objeto perdido e

começa promover um investimento em torno delas, quando todo esse processo

termina, e o ego torna-se livre e desinibido para os possíveis vínculos que

surgirem (KOVÁCS, 1992).

Para as mulheres mastectomizadas, essa fase de elaboração do luto da

perda da mama e outras perdas decorrentes com o tratamento irão depender

da personalidade de cada uma, de como a energia libidinal é investida no

objeto amado que foi perdido.

4.1 Fases do luto em vida

O paciente enfermo no decorrer de sua doença, elabora diversos lutos

no que diz respeito à doença, mesmo não havendo a “morte concreta”. O

paciente irá vivenciar os estágios do processo do morrer, mas nem todos vão

passar por essa experiência na devida sequência em que se apresentam, isso

Page 34: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

34

vai depender da personalidade e as experiências vividas de acordo com cada

paciente.

Os estágios do processo do morrer são descritos em cinco estágios:

negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação, veremos:

a) Negação e isolamento: a negação é procedente da notícia de um

diagnóstico sobre determinada doença. Frequente em pacientes quando

recebe a notícia de forma imatura, não levando em consideração a

preparação adequada desse paciente para tal diagnóstico. A negação é

como uma “arma” utilizada por quase todos os pacientes, geralmente

logo após o diagnóstico da doença. A negação é como se fosse um

“amortecedor”, após a notícia inesperada e assustadora, por ser muito

traumático, fazendo com que o paciente se reestabeleça com o tempo,

estimulando outras medidas mais tranquilas. Entretanto, não significa

que o mesmo paciente algum tempo depois não poderá querer falar

sobre sua morte próxima, ou até mesmo possa sentir-se feliz e aliviado

em poder contar para alguém. Isso só poderá ocorrer quando o paciente

achar conveniente, quando sentir-se preparado, e também pode terminar

quando o paciente não conseguir mais olhar os fatos, voltando a deixar a

negação assumir a posição.

Um indivíduo em plena saúde conseguirá lidar melhor com o

assunto da morte, isto é, ela estando longe dele, diferentemente quando

a morte já esta mais próxima. Para a família também é mais fácil falar

sobre esses assuntos em tempos de saúde e bem estar, mas para o

paciente, não é uma questão agradável para ser abordado.

Geralmente, essa negação é uma defesa provisória, seguida de

uma aceitação parcial. Assumir a negação, nem sempre irá aumentar a

tristeza. Em alguns casos a negação pode acompanhar o paciente até o

fim, mas isso é uma raridade. A negação é temporária, pois logo o

paciente tem a necessidade de falar sobre seu real estado, mas

repentinamente, passa a demonstrar uma incapacidade de encarar sua

realidade. Apenas mais tarde é que o isolamento toma lugar da

negação, pois o paciente aborda assuntos que envolvem sua doença,

sua morte, a mortalidade e a imortalidade, assumindo de vez a morte,

por vezes, sem perder suas esperanças.

Page 35: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

35

Em nosso inconsciente somos seres imortais, e por isso, a

dificuldade de encarar a morte depende de alguns fatores para essa

aceitação, de como se deu a notícia sobre a doença, do tempo para que

possa haver uma conscientização desse desfecho e de como foi

preparado durante a vida para lutar com situações de sucesso.

b) Raiva: a raiva aparece quando já não é mais possível manter o

estágio de negação, que é a primeira a ser apresentada, logo a negação

é sucedida pela raiva, inveja, revolta e ressentimentos. É extremamente

dificultoso para a família e equipe hospitalar lidar com essa fase, pois

essa raiva é multiplicada em todos à sua volta, na maioria das vezes

sem razão alguma.

A dificuldade é que a maioria das pessoas não consegue

entender esta raiva, surgindo então, a importância da tolerância com a

raiva demonstrada por esses pacientes. Aprender a ouvir, suportar a

raiva desses pacientes, faz com que contribuímos para aceitação do que

poderá ser suas horas finais.

c) Barganha: a barganha costuma ser o estágio menos popular, mesmo

sendo breve, mas também muito útil para o paciente. O paciente sabe,

por fatos já ocorridos, que pode existir uma probabilidade de ser

gratificado por ter um bom comportamento e ganhar um prêmio. Ele

praticamente anseia por dias sem dores e males físicos, e até mesmo

uma extensão de sua vida.

Na verdade, a barganha é uma maneira de adiar a morte,

“incluindo um prêmio oferecido”, é algo oferecido em troca de mais dias

de vida, incluindo uma promessa velada. Caso seja concedido, o

paciente não solicitara outro pedido.

Em grande parte, as barganhas são feitas com Deus, e deixadas

em segredo, faladas em meias palavras ou no confessionário. Essas

promessas psicologicamente poderão estar ligadas a remorsos e culpas;

por esse fato as observações que esses pacientes fazem não podem ser

desprezadas pela equipe multidisciplinar.

d) Depressão: o paciente já não consegue mais esconder sua doença,

sua revolta e raiva passa a dar lugar para outro sentimento: o de perda,

que inclui à perda da família, a vida profissional e social, a própria vida.

Page 36: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

36

A depressão é um estado no qual o paciente está se preparando para

todas as perdas relacionadas ao objeto amado.

Essa fase é muito importante e difícil para os familiares, pois é a

preparação do luto de perdas que já foram vividas pelo paciente. Um

paciente flexível não terá problemas em descobrir a causa da

depressão, e se desprender das culpas irreais que costuma acompanhar

a depressão. Essa depressão costuma acabar rapidamente quando

pequenos problemas vitais em que era responsável passa a ser ouvido e

cuidado por outras pessoas.

e) Aceitação: a fase de aceitação não deve ser comparada com uma

fase de felicidade. Quando o paciente recebe algum tipo de ajuda para

ultrapassar todos os estágios, já ditos anteriormente, passará a não

sentir mais depressão nem a raiva, já terá falado sobre seus

sentimentos, expressado sua inveja de quem goza de boa saúde e raiva

pelos que tem que passar pela morte mais cedo. Começará a olhar com

um grau de tranquilidade para a própria morte após ter despedido de

seus entes queridos.

Neste momento, os problemas do mundo lá fora, já não

interessam mais, o paciente não tem a vontade de conversar, estará

mais enfraquecido e certamente dormirá mais, não como esquiva, mas

como um repouso derradeiro para o momento da partida, a luta chegou

ao fim. Esta, sem dúvida, é a fase mais difícil para a família, em que ela

necessita de mais ajuda e apoio do que o próprio paciente.

Nem sempre este estágio é atingido por todos os pacientes,

alguns lutam exaustivamente, não perdem a esperança. Mas, essa

tentativa de negar o próprio fim, torna muito mais difícil de alcançar o

estágio final, com serenidade e dignidade.

Todas essas fases da morte descritas acima foram baseadas de acordo

com o livro “Sobre a Morte e o Morrer” de KÜBLER-ROSS (1998).

Page 37: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

37

CAPÍTULO III

METODOLOGIA DA PESQUISA

1 INTRODUÇÃO

Para apreciação da presente pesquisa, o trabalho foi submetido à

Plataforma Brasil em 19/05/2017, conforme a Resolução CNS nº 466/12, com

aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário

Católico Salesiano Auxilium Lins em 22/06/2017, com o parecer de nº 2134122

(APÊNDICE A) e CAAE de nº 68974017.0.0000.5379.

O interesse pelo tema justifica-se da relevância em engendrar

conhecimento acadêmico-científico sobre luto simbólico decorrente da cirurgia

de mastectomia em mulheres, assim, buscar compreender sobre as

implicações psicossociais decorrentes de tal fato; bem como sobre seus modos

de enfrentamento a nova condição, referente às perdas simbólicas e reais.

Entende-se que essa pesquisa possa contribuir em uma melhor compreensão

do luto simbólico sofrido pela mulher mastectomizada e, quiçá, possa subsidiar

programas e tratamentos que visem auxiliar tais mulheres no enfrentamento e

elaboração do luto, levando-as a ressignificar essas perdas, conforme fora

apontado no segundo capítulo, e propiciando uma melhor qualidade de vida

para essas mulheres.

Partindo do pressuposto como problema de pesquisa “Como a mulher

mastectomizada lida com os lutos simbólicos e as vivências psicossociais

decorrentes desta nova condição”? Visto que, a mulher mastectomizada entra

num processo de sofrimento, decorrente à perda da mama e o simbolismo que

esta detém, além de outros fatores que implicam tal ocorrência, o que gera o

desencadeamento do luto simbólico e os modos de enfrentamento do mesmo,

cuja elaboração ou não, dependerão dos recursos psicossociais que cada

mulher possui.

Utilizou-se como meios para fundamentar o estudo, os tipos pesquisas:

exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória, para Gil (2007), tem o

objetivo de promover maior conhecimento do problema, tornando-o mais claro

e possibilitando a formulação de hipóteses sobre o assunto pesquisado. O

Page 38: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

38

objetivo principal deste tipo de pesquisa é o aperfeiçoamento de ideias ou a

descoberta de intuições. Portanto, seu planejamento, é muito flexível, no qual

possibilita a reflexão de variados aspectos que estejam relacionados ao fato

estudado. A pesquisa exploratória possibilitou a familiarização e maior

conhecimento sobre o assunto explorado, de modo a compreender o fenômeno

do luto simbólico e as implicações psicossociais que envolvem a mulher

mastectomizada.

A pesquisa descritiva viabilizou observar, registrar, analisar e

estabelecer uma relação entre os fatos ou fenômenos a serem estudados sem

manipulá-los. Assim, procura encontrar com maior exatidão possível, como

ocorrem determinados acontecimentos, sua relação, natureza e suas

características. Busca compreender por meio de várias situações e relações

que coincidem na vida social, política, econômica, incluindo o comportamento

humano, tanto do indivíduo isoladamente, quanto em grupos e comunidades

(CERVO; BERVIN; DA SILVA, 2007).

A abordagem qualitativa tem como foco no caráter subjetivo de

determinado objeto a ser analisado, visando suas particularidades, como

também experiências individuais (TRIVIÑOS, 1987), no que se refere à

vivência de cada mulher mastectomizada.

A pesquisa propõe uma escuta qualificada e um acolhimento através das

pesquisadoras por meio de 3 encontros semanais, em que o primeiro encontro

visa conhecer as participantes e esclarecer os objetivos da pesquisa, assim

como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE; ANEXO A) e

Carta de Informação ao Participante (ANEXO B). No segundo encontro,

fortalecer o vínculo com as participantes e por fim, no último encontro, a

realização da entrevista individualmente, embasada na abordagem da

Psicologia Social, de modo a investigar a vivência do luto simbólico e as

vivências psicossociais, buscando deixar os encontros mais harmoniosos

possíveis para que essas mulheres possam falar sobre seus sentimentos em

relação a todo esse processo. Pois, muitas vezes, esses sentimentos são

ocultados dentro da sociedade e da família, em decorrência do estigma que a

doença carrega.

A vivência do luto simbólico, muitas vezes é gerador de angústias, assim

como também o medo que, consequentemente, será vivenciado por essas

Page 39: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

39

mulheres após a mastectomia. A pesquisa também visa compreender e

contribuir no processo do luto simbólico que a mulher mastectomizada vivência,

levando a ressignificar essa perda, buscando uma melhor qualidade de vida

para essas mulheres que lidam com diversas mudanças psicossociais.

1.1 Público-alvo

A pesquisa foi restringida a mulheres moradoras de Lins-SP e região,

com idades entre 35 anos e 70 anos e que realizaram a cirurgia de

mastectomia em um período máximo de dois anos em decorrência ao câncer

de mama. Esse período está relacionado às principais vivências que a mulher

enfrentara após a cirurgia, ligada às recorrentes perdas simbólicas e reais, e

como ela irá lidar com isso em seu cotidiano. Visto que após a cirurgia, segue-

se um tratamento agressivo no que diz respeito ao câncer de mama e que

exige da mulher uma reabilitação física, emocional e psicossocial, para que a

mesma venha a reorganizar e ressignificar todo esse processo de elaboração

do luto, de acordo com a vivência de cada mulher.

1.2 Recrutamento e seleção do público-alvo

Para o recrutamento das participantes, o primeiro contato ocorreu na

Clínica de Fisioterapia – UniSalesiano – Lins, com a responsável pelo setor

Saúde da Mulher, para obter informações sobre as mulheres que estiveram ou

estão em processo de reabilitação após serem submetidas à cirurgia de

mastectomia.

Após as informações colhidas, esse contato com as participantes

ocorreu por telefone através da responsável do setor, juntamente com as

pesquisadoras, em que esclareceu a finalidade da pesquisa, marcando o

primeiro encontro para o esclarecimento os objetivos e as possíveis dúvidas

que surgiram.

A partir da adesão dessas mulheres, foi entregue o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e Carta de Informação ao

Participante, onde marcou-se um segundo encontro para fortalecer o vínculo

antes da entrevista individual.

Page 40: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

40

1.3 Procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica e pesquisa de campo

A revisão bibliográfica é um meio de acrescentar à pesquisa

conhecimento sobre o tema estudado, acrescentando novas obras e artigos

publicados para melhor desenvolvimento teórico da pesquisa (MARCONI;

LAKATOS, 2010).

O levantamento de dados é necessário para adquirir conhecimento

sobre determinado assunto a ser estudado, saindo de uma visão geral para dar

direcionamento a um foco em meio a tantas informações obtidas.

As pesquisas por meio de fontes bibliográficas permitiram que

comtemplássemos o devido assunto a ser estudado: mastectomia, luto

simbólico e o enfrentamento psicossocial da mulher após a cirurgia,

impulsionando e dando amparo teórico para sanar as dúvidas que surgiram do

tema pesquisado, ampliando o conhecimento no enfoque abordado.

Também foi realizada a pesquisa de campo, que consiste em buscar

informações e conhecimentos de um problema, procurando uma resposta ou

uma hipótese, a fim de comprovar, ou até mesmo descobrir novos fenômenos

ou as relações existentes entre elas, formados por meio de observações de

fatos ocorridos espontaneamente dentro desse grupo de mulheres pesquisadas

(TRUJILLO, 1982 apud MARCONI; LAKATOS, 2010).

1.3.1 Observação

Para os encontros com as participantes, utilizou a técnica de

observação, a fim de captar as significações e expressões subjetivas de cada

mulher, para uma melhor compressão e adequação no meio do grupo

participante em que o pesquisador está inserido, assim possibilitando a

compilação de informações dentro do que está sendo pesquisado. Por meio da

observação, os fatos podem ser percebidos diretamente como ocorrem de

modo natural, sem qualquer intervenção, sendo também utilizado para

obtenção de dados, como um meio de investigação (GIL, 2008).

1.3.2 Entrevista

Page 41: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

41

A entrevista fora semiestruturada, possibilitando uma maior

compreensão e aprofundamento no respectivo assunto abordado.

Bosi (2003, p.60) descreve que: “a entrevista ideal é aquela que permite

a formação de laços de amizade; tenhamos sempre na lembrança que a

relação não deveria ser efêmera”. Portanto, o envolvimento e a

responsabilidade pelo outro deverá ser mantido enquanto durar esses laços. A

qualidade da entrevista dependerá da qualidade de vínculo que será criado

com as participantes.

A entrevista consiste em um encontro com duas pessoas, com o intuito

de que uma delas possa obter informações sobre determinado assunto, frente

a um colóquio de caráter profissional. Em geral, é uma técnica utilizada na

investigação social, a fim de coletar dados, obter um diagnóstico ou até mesmo

no tratamento de um problema social. Para a entrevista, mantém-se uma

conversa face a face, com o objetivo de coletar verbalmente as informações

necessárias, no qual se busca para compreender os problemas sociais. Na

entrevista semiestruturada, o entrevistador tem a autonomia para construir a

direção adequada, de forma a explorar mais o assunto abordado (LAKATOS;

MARCONI, 2010). Então, para Triviños (1987), a entrevista semiestruturada é:

(...) em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (p. 146).

As entrevistas (APÊNDICE C) possibilitaram a compreensão dos

sentimentos do luto simbólico na mulher mastectomizada, e todo esse

processo ligado em suas relações psicossociais vivenciado de modo particular,

mantendo o sigilo da identidade e a integridade das participantes dentro da

pesquisa. Para isso, usaram-se nomes fictícios na entrevista para não

identificar as participantes.

1.4 Tratamento dos dados

Page 42: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

42

Os dados coletados foram tratados por meio da história oral. Para Meihy

(2002), a história oral é um método de tratamento muito dinâmico e criativo,

que utiliza como material, gravações de narrativas pessoais, utilizando

gravadores de voz e vídeos. Tem sido utilizada para elaboração de

documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de

pessoas e de grupos. Há diversos modos de utilização da história oral: nesta

pesquisa utilizaremos a história oral temática, a qual consiste em uma técnica,

que aborda o esclarecimento, assim como esclarecimento de determinado

evento decorrente de uma situação vivida pelo indivíduo. Na maioria das vezes,

a história oral temática se aproxima de soluções triviais e tradicionais, de

apresentações de trabalhos analíticos em diversas áreas a nível acadêmico.

Quase sempre, assemelha o uso da documentação oral ao o uso das fontes

escritas.

Há uma diferença entre a língua falada e língua escrita, o importante na

entrevista não é a forma de como as palavras foram ditas, mas sim o seu

significado dentro da mensagem que é passada. As entrevistas coletadas

foram tratadas e inspiradas na história oral, deste modo realizamos apenas

dois passos: transcrição, a entrevista é redigida com as mesmas palavras das

participantes e o segundo passo foi à textualização são eliminados erros

ortográficos, repetições e sons, deixando a entrevista escrita de forma mais

sucinta e clara. Enquanto a transcrição é a transposição do conteúdo, deixando

de forma mais literária e a conferência feita pela depoente, na qual após a

entrevista transcriada, deve ser lida e autorizada pelas depoentes, embora

conhecêssemos a importância de tal procedimento, não utilizamos na pesquisa

(MEIHY, 2002).

Por meio das observações, entrevistas e da história oral temática, os

instrumentos utilizados foram, gravadores de voz e vídeo, para que possam ser

armazenados de forma segura para não ser esquecido nenhum detalhe.

1.5 Psicologia Social como análise de dados

A Psicologia Social é um campo de saber articulador, que trabalha em

função do sujeito e do espaço, fazendo surgir como uma ciência charneira, em

que indivíduos pensam, interage e se relacionam em determinados grupos, em

Page 43: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

43

um campo em que a Psicologia e a Sociologia não deixam de se encontrar.

Para Maisonneuve:

Sua emergência e seu crescente desenvolvimento provem da incapacidade de a sociologia, ou a psicologia, sozinhas, explicarem a integralidade das condutas humanas concretas (1977, p.2).

Recorrendo concomitantemente aos conceitos psicológicos e

sociológicos, a Psicologia Social permite cingir a interação de determinações

psíquicas e sociais. Isso viabiliza a Psicologia Social realizar uma análise da

realidade, na qual se destina a estudar, em um nível geral, no que diz a

respeito ao sujeito na sua coletividade como também na individualidade

(CAPUTO, 2014).

A Psicologia Social contribui dentro de um mundo de significados e

pretensões, valores e atitudes, que estão intrinsicamente ligados às relações e

fenômenos, de modo que não podem ser diminuídos, mas abarcando novos

conhecimentos dentro de uma realidade social (GIL, 2008; MINAYO, 2004).

Dentro da pesquisa a Psicologia Social possibilitou o estudo dos

processos interacionais no nível individual a interação de processos sociais e

psíquicos, permitindo investigar as condutas humanas, e no caso desta

pesquisa, propiciou a compreensão do luto das mulheres mastectomizadas e

as implicações psíquicas e sociais de tais vivências, principalmente em seu

cotidiano. Os dados coletados, portanto, foram analisados sob a luz da

Psicologia Social, para assim poder compreender melhor o processo de luto

simbólico enfrentados pelas mulheres mastectomizadas investigadas nesta

pesquisa.

Page 44: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

44

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

1 INTRODUÇÃO

A pesquisa realizada nos possibilitou compreender como que as

mulheres participantes lidam com o luto simbólico após a cirurgia de

mastectomia e vivência essa experiência. Para isso, foram entrevistas 5

mulheres e realizados 3 encontros. Os dois primeiros encontros que

antecederam a entrevista individual foram realizados em grupo, visando o

fortalecimento dos vínculos, esclarecendo os termos e as possíveis dúvidas

que surgissem. Enquanto que as entrevistas individuais, após serem

realizadas, passaram pelo processo de transcrição, e foram lidas

exaustivamente.

As leituras nos possibilitou chegar as seguintes categorias para análise:

o medo da morte concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as

interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e suas

consequências e a ressignificação da vida a partir da doença, obtendo também

algumas subcategorias provenientes das categorias já mencionadas.

Assim, permitindo compreender os modos de enfrentamento da doença,

as mudanças em seu contexto social e psicológico, considerando a família e a

religiosidade como forte aliado na luta contra a doença, possibilitando essas

mulheres participantes novas vivências em função da nova condição, de ser

mastectomizada.

As vivências do luto simbólico foram vividas de modo particular por cada

mulher participante e de acordo com a fase em que cada uma estava vivendo,

tendo relações com filhos e estado civil. Os nomes utilizados são fictícios, a fim

de preservar e manter o sigilo das participantes. Veremos algumas informações

no quadro abaixo, com relação às mulheres participantes:

Quadro 1: Identificação das participantes

Page 45: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

45

DADOS COLETADOS

NOME IDADE ESTADO CIVIL FILHOS

FLOR DE LÓTUS 42 ANOS DIVORCIADA 1

LÍRIO 45 ANOS SOLTEIRA NENHUM

BORBOLETA 47 ANOS CASADA 2

IRÍS 64 ANOS VIÚVA 3

BEIJA-FLOR 68 ANOS DIVORCIADA 4

Fonte: elaborado pelas autoras, 2017.

2 O MEDO DA MORTE CONCRETA

O medo da morte é fixado no consciente da mulher participante desde o

diagnóstico até após o término do tratamento, sendo possível perceber por

meio dos relatos das participantes nos encontros que antecederam as

entrevistas, que mesmo havendo uma possível cura por parte médica, quando

há alguma dor ou o surgimento de uma mancha no corpo remete a essa mulher

uma recidiva da doença. O diagnóstico de uma doença maligna emerge a

fragilidade humana e uma proximidade com a própria finitude, tornando a morte

cada vez mais próxima (KOVÁCS, 1996).

A gente tem medo quando fala câncer. Você... A primeira

coisa que se pensa, “à vou morrer”! Principalmente

quando você já viu casos na família, tanto do meu lado,

como do meu esposo também. Eu também vivenciei junto

com meu esposo a perda do irmão dele, que também

faleceu de câncer. Logo em seguida teve outro irmão dele

que teve câncer, mais graças a Deus foi curado! Então

é... Gente muito próxima a nós, próximo mesmo! Assim...

Tanto minha irmã, meus cunhados, a gente sempre

estava junta (Borboleta, 47 anos).

Primeiro o diagnóstico de morte, que eu iria morrer.

Depois eu pedi pra Deus que... eu queria viver... e que eu

tinha que cuida da minha filha (Flor de Lótus, 42 anos).

Page 46: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

46

A mulher mastectomizada carrega diversas lembranças e experiências

dolorosas, entre essas experiências é inevitável não pensar na morte concreta

e de tudo que a envolve. Para essas mulheres o medo de morrer se faz

presente desde o primeiro momento (a descoberta do nódulo em casa), e após

o diagnóstico preciso dado por um médico.

Para cada mulher esse diagnóstico é vivenciado de modo particular,

gerando diversos sentimentos. A angústia e a incerteza de um futuro que

caminha para morte estão presentes constantemente diante de uma doença

maligna (HOFFMANN; MULLER; RUBIN, 2006).

Eu queria... eu queria... que acabasse o câncer. (...) Por

que eu sei que com o tempo o câncer volta, e eu não

queria passar pelo sofrimento de outra cirurgia na outra

mama. Mas, ele disse que até faria, se não fosse o caso,

como eu já estava em metástase, que não adiantava

passa por uma cirurgia grande dessa e porque metástase,

já não... Tinha mais o que fazer... Uma vez que a

metástase está na corrente sanguínea e a qualquer

momento podia desenvolver em outro lugar (Flor de

Lótus, 42 anos).

Como descrito no relato acima, o sofrimento e o medo são inevitáveis

diante do estigma de que a doença é incurável e mortal. O modo de como a

doença progride, torna-se irreversível, sorrateiro, irremediável, totalmente

arrasador e vai se alojando no “silêncio dos órgãos”, se ramificando pelo corpo,

uma ameaça à integridade física, psíquica e social do indivíduo (AMBRÓSIO;

SANTOS, 2011).

Pode-se observar entre as mulheres participantes que o primeiro

sentimento vivenciado frente ao diagnóstico, é o medo da morte concreta,

seguido de diversos sentimentos que se instaura. Visto que a palavra câncer

em nossa sociedade carrega essa crença de dor, sofrimento, mutilação e

principalmente, de morte. Para KOVÁCS (1992, p. 15) a própria morte é “a

Page 47: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

47

consciência da própria finitude, a fantasia de como será o fim e quando

ocorrerá”.

Diante da consciência da própria morte e das incertezas que toma conta

após o diagnóstico, é comum nesse primeiro momento vivenciar uma negação,

sendo notado nas participantes como a primeira reação.

Quando ele falou pra mim que iria repetir os exames, iria

fazer pra ver como que estava e falou que estava em

metástase no fígado e três nódulos, eu não acreditei... Eu

acho que eu não acredito até hoje, apesar de ver os

exames ali, eu entender perfeitamente como que é,

parece que eu não acredito ou eu não quero acreditar. Eu

não acredito... Eu sei que tem o câncer ali, está ali, mais

não sei... Parece que... Não sei, parece que não é

comigo. Todo mundo fala o câncer! Tem pessoas que não

fala nem a palavra câncer, uma doença que... que as

pessoas morrem e eu não acredito que tenho câncer. É

meio louco, (risos) é louco... (Flor de Lótus, 42 anos).

Como visto no capítulo II, a negação é a primeira fase da morte, um

poderoso mecanismo de defesa que funciona como um “amortecedor”, após

um diagnóstico inesperado e temido, por ser muito traumático, faz com que o

paciente se reestabeleça com o tempo. É uma defesa provisória, que pode ser

seguida de uma aceitação parcial, mas nem sempre ao ser assumido irá

aumentar a tristeza.

2.1 Luto simbólico: a morte em vida

A mulher é conhecedora do próprio corpo. Ao se deparar com um nódulo

na mama, após o autoexame periódico, a mulher entra em um mundo sombrio

de incertezas, impregnado de dúvidas, angústias e medo em relação ao

achado, de ser ou não um câncer. Após uma constatação médica, um

diagnóstico mais preciso, levando a possibilidade de uma cirurgia mutiladora e

o tratamento muitas vezes agressivo, os mais diversos sentimentos se

misturam diante da incerteza de seu futuro.

Page 48: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

48

Ah... O sentimento de tudo... de... Assim, meu chão abriu

para mim quando eu fiquei sabendo. É... Porque assim,

como eu tinha... Vivi caso na família, minha irmã que é

mais próxima, eu tinha perdido ela há pouco tempo, aí eu

achei que... eu ia passar por tudo que ela passou. Que iria

ser... É... Tudo... Tudo que ela passou, pelo problema que

ela teve, com o câncer que ela teve, eu achei que iria

passa pela mesma situação. Mais graças a Deus foi

diferente! No meu caso eu fui curada, e ela não teve a

chance e infelizmente faleceu (Borboleta, 47 anos).

O desespero após o diagnóstico é certeiro, principalmente quando houve

causos da doença em pessoas na família. Essa experiência remete a mulher

participante, assimilar a vivência da pessoa que foi acometida pela doença e

que não teve uma chance de cura, vindo à morte. Isso remete a ela a

associação de passar pelas mesmas experiências, sendo o medo um

sentimento constante, principalmente quando há a necessidade de uma

intervenção cirúrgica, havendo a mutilação do órgão afetado.

A mastectomia, é uma das cirurgias indicadas no caso de câncer de

mama por haver uma erradicação maior da doença, ocorrerá de acordo com o

grau e o estágio da doença. Mas, quando a mastectomia é indicada, a mulher

começa a vivenciar uma experiência dolorosa, agora perpetuada pelo

sentimento da perda da mama e outras perdas decorrentes, que certamente

atinge a sua identidade feminina (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).

Ah isso eu acho que mudou tudo (risos)... Essa é a parte

mais difícil. Eu acho que mudou bastante por que, é...

Você não se, é... Quando você vai para espelho, você

veja que... Um corpo diferente. Então você vê que é uma

parte tua que não tem, nunca mais vai ser igual. Então,

isso doí lá no fundo, e... Isso acha que é o mais difícil (...)

(Lírio, 45 anos).

Page 49: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

49

Não, não porque ainda está faltando um pedaço de mim.

Tanto que eu estou bem ansiosa para poder fazer a

reconstrução da mama. Assim... Não que vai se igual, por

que eu já andei vendo como que é... Que nem a aréola, o

bico do seio não vai ser igual. Tem que fazer tipo uma

tatuagem para ficar parecido. Não tenho data ainda,

semana que vem, eu vou passar pelo mastologista e a

gente vai começa a conversar sobre isso, ele falou o ano

que vem, mais não tem data ainda. Eu fico envergonha

até hoje, não me troco perto de ninguém, eu uso uma

prótese, tipo um... Que põe no sutiã. Mais assim perto de

ninguém, nem meu esposo, perto dele não. Entre mim e

ele não mudou nada, mais é da minha parte, eu fico

constrangida, com vergonha de me mostrar, tanto na

relação sexual, eu procuro está coberta pelo menos a

parte de cima (risos). Mais graças a Deus ele me entende,

meu marido foi uma benção pra mim gente, até hoje, ele

me entende! (Borboleta, 47 anos).

Como pode ser notada, a consciência e a percepção que a mulher tem

do próprio corpo, está relacionado à construção social, a autoimagem e a

própria individualidade como ser e que passa a ser modificada após a cirurgia

frente a um corpo desconhecido. A retirada da mama e as perdas recorrentes,

ameaça à identidade feminina em seus aspectos psicossociais, e esse luto

simbólico vivenciado implica sentimentos de inferioridade, vergonha de si e do

outro, insatisfação, rejeição e tristeza (ALVES et al., 2010).

Ao longo do tratamento, a mulher aceita de modo parcial a retirada do

seio como uma possível “chance de vida”, mas os sentimentos negativos ainda

vão muito além da mastectomia, pois em função dos tratamentos agressivos

(quimioterapias e radioterapias – os mais usados) em que pacientes

oncológicos são submetidos, a mutilação do seio não é a única perda como já

mencionado, mas há outras em decorrência a todo esse processo, e que

também ocasionam o luto, relacionadas ao aspecto físico e emocional.

Page 50: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

50

Eu acho que foi a fase mais crítica mesmo. Por que a

gente tem o cabelo... Meu cabelo era no ombro, era

cumprido e assim... Que a primeira coisa que eu perguntei

para o médico, quando ele falou que tinha que fazer a

químio: “e meu cabelo Doutor vai cair?” Ele falou: “cabelo

cai e nasce, e vai nascer ainda mais bonito”. Acho que

não sei... pra toda mulher. Eu falo, por que como eu sou...

Aqui no salão a gente lida com cabelos de cliente mulher

a todo o momento. E a gente vê, que elas tem muita

vaidade com o cabelo. Então, assim... pra mim... a todo

momento eu fala assim: “acho que não vai cair, por que

tem gente que não cai, não é (risos)?!” E eu não queria

acreditar, até que eu comecei a passar a mão no cabelo e

vi que estava saindo, e eu falei: “não, vou te que corta”.

Eu cortei ele curtinho, mesmo assim não para... a gente

ah... pensa que cortar curtinho vai para de cair, mas não

parou de cair. No mesmo dia eu cortei ele curtinho, e eu

raspei. Já raspei logo, por que é chato fica caindo muito

cabelo assim. É... pela casa, se vai lavar passa a mão ele

sai. Por que quando você está na fase da quimioterapia

é... ele não nasce, aí depois que você termina a

quimioterapia, já começa a cresce! Aí... depois acho que

de 6 meses mais ou menos, resolvi colocar um aplique,

ele já estava uns 4 dedos crescido, e eu coloquei aplique.

Ah... (suspiro) cabelo é... (Borboleta, 47 anos).

(...) a perca do cabelo, que a gente sofre, pela mulher ser

um pouco vaidosa e a gente acaba sofrendo bastante, e...

Achei que isso é a parte mais triste da história. Mais

assim, todo momento tem que agradecer a Deus por que

eu tive uma nova chance de vida, enquanto muitas

pessoas não tem essa oportunidade eu tive (Lírio, 45

anos).

Page 51: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

51

Durante os encontros pode-se notar que a fase mais crítica e

angustiante do tratamento é a queda do cabelo, sendo relatado por uma

participante como pior que o diagnóstico do câncer. A alopecia causa um efeito

devastador, justamente por ser mais visível é comum ver o uso de perucas,

lenços e outros acessórios, e afeta diretamente a autoestima da mulher

(FERREIRA et al., 2011).

Diante às outras perdas similares, a dor física e psíquica, ambas se

sobrepõem, intensificando ao longo do tratamento, como no caso da Flor de

Lótus que teve infecção nas unhas como um dos efeitos colaterais do

tratamento:

Na época sim, a unha por que a unha doía muito, demais,

muita dor e o cabelo não... O cabelo não sofreu, me

adaptei bem com os lenços, os cílios que eu não

enxergava direito por causa da claridade, o pelo da narina

por que pra respira doía, a sobrancelha eu passava um

lápis e contava os fios com a minha filha (risos)... Filha

tem três... Filha tem dois, mãe não tem nem um... Está

horrível (risos). Então... (Flor de Lótus, 42 anos).

Outro efeito colateral do tratamento vivenciado pelas mulheres está

relacionado à menopausa precoce, tornando a identidade feminina mais frágil e

vulnerável.

Ah... Então... Quando eu recebi essa notícia eu fiquei

sabendo lá em Jaú mesmo, e não foi por médico, nem por

enfermeiro, foi por pessoas que faziam a radio mesmo e

aí realmente eu fiquei bem abalada. Quando sai de lá e

que fui para pousada, eu chorava muito (Lírio, 45 anos).

O modo no qual a mulher enfrenta essa notícia irá depender muito se a

mesma já tem filhos, pois foi possível verificar esse dado entre as participantes

que tem filhos e a que não tem, a qual mencionou nos encontros que

antecederam a entrevista individual, que “filhos era um sonho, projeto de vida e

que infelizmente não poderá realizar”. Todas as mulheres participantes

Page 52: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

52

sofreram e sofrem os efeitos colaterais advindos do tratamento e estão

vivenciando o luto simbólico decorrente às perdas, mas de modo individual, de

acordo com a personalidade e o momento em que cada uma encontra-se na

vida, sendo discutido isso nos encontros.

2.1.2 A perda dos papéis sociais e as limitações

A mastectomia não se limita apenas na retirada total da mama, mas

também na remoção dos linfonodos axilares para evitar uma recidiva. Sendo

esse processo tão doloroso em todos os aspectos, é necessária a elaboração

do luto, afim de ressignificar todas essas perdas. Mas, em decorrência do

processo cirúrgico, além das mudanças já mencionadas, o cotidiano dessa

mulher também é alterado imobilizando-a totalmente ou parcialmente em suas

tarefas antes realizadas (ZIGUER; BORTOLI; PRATES, 2016).

Ah, esse... foi mais os procedimentos de vida, que você

tem que regrar o que se vai fazer. Muitas vezes não podia

por uma roupa no varal. Hoje eu estou super feliz por que

eu consigo levantar a mão, eu não conseguia... Isso aqui

pra mim o médico disse que era o máximo e pra mim o

máximo é isso... (risos) (Íris, 64 anos).

Então, é... Não tem muita coisa que muda. Assim, no meu

serviço graças a Deus, tudo continua o mesmo jeito. Aí...

Pegar peso, não posso mais pegar peso, não posso fazer

muita força com o braço, por que foi esvaziado a axila

procuro não fazer muita força. No meu serviço eu procuro

fazer menos tempo, menos hora do que fazia antes, para

não esforçar tanto, mais eu faço tudo normal (Borboleta,

47 anos).

Com a mudança em seu cotidiano, a mulher fica impedida de

desempenhar papéis que antes cabia somente a ela, como o cuidado com a

casa, filhos e família. As atividades domésticas mais simples, quanto às sociais

Page 53: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

53

passam a serem restritas em decorrência do tratamento cirúrgico, os

movimentos e atividades antes desempenhadas com facilidade, passam a ser

reduzidos em função da força do braço que foi submetido à cirurgia

(AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007).

Mudou... Ah... Mudou, era muito elétrica. Então, eu podia

fazer tudo e hoje não posso de vida alergia, devido ter

feito o esvaziamento das axilas, e tirar os linfonodos,

então isso incha muito. Então, atrapalha. Então, tipo

assim, às vezes até quero estar num lugar, mas eu não

consigo ficar muito tempo, devido... a cirurgia e também o

medicamento que eu faço o uso dele contínuo (Lírio, 45

anos).

(...) eu não podia ter contato com ninguém. Por causa do

meu tratamento, da quimioterapia, eu não podia está em

lugares cheios de gente, eu não podia está em lugar

contaminado. Então quer dizer, pra mim, fui privada de

bastante coisa, de não sair e de não ir, por não poder ter

contato, por que se alguém tivesse alguma doença eu

estava (pausa), pronta pra pegar. Então, eu não podia ir,

eu tinha que ficar em casa. Para igreja mesmo, eu só fui...

acho que comecei ir em abril, depois de três meses que

eu comecei, isso lá no fundo sozinha, nem para frente,

nem ficava no meio do pessoal, não ficava. Ainda a turma

me chamava: “vem pra cá!”. Eu dizia: “não posso, eu

tenho que ficar aqui sozinha”. Por que se a pessoa

respira, espirra, então você pega o vírus, e ele falou pra

mim: “você não pode frequentar lugares lotados.” Quer

dizer que foi uma exclusão da sociedade por que... pra

mim mesmo, pro meu bem (Íris, 64 anos).

Essas mudanças e limitações sociais ocorridas pelo processo de

tratamento podem ser observadas na fala das participantes. O sentimento de

Page 54: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

54

preocupação passa a tomar conta da mulher, o medo de atrapalhar ou de ser

um incômodo se instala, já que estando em tratamento a mulher depende de

outra pessoa para ser cuidada, até mesmo nas atividades mais simples, papel

que antes dependia somente dela.

Então, a limitação física provoca uma limitação social, a mulher se sente

frágil diante todo o processo de tratamento e pela alteração causada em seus

papéis, necessitando de uma reabilitação para se adaptar à nova condição,

que por vezes poder haver certa limitação na sua vida social e que pode vir a

provocar um isolamento social (ARAÚJO; FERNANDES, 2008).

2.2 As interveniências psicossociais no auxílio do enfrentamento da doença e

suas consequências

Dentro dos processos psicossociais, encontraram-se elementos que

auxiliam essas mulheres participantes no enfrentamento do processo da

doença, como também na elaboração do luto simbólico, que foram

evidenciados durante os encontros, tendo maior respaldo nas entrevistas pelas

mesmas. Para tal, foi encontrado duas subcategorias: o apoio familiar no

enfrentamento da doença e a fé como artifício da doença.

2.2.1 O apoio familiar no enfrentamento da doença

O apoio familiar é um aspecto muito valorizado pela mulher, de extrema

relevância nesse momento tão difícil. A família também vivência diversos

sentimentos negativos diante da incerteza do tratamento, mas é a família que

possibilita um suporte emocional e um melhor ajustamento para a mulher frente

a sua nova condição.

Sim, sim... Primeiramente a Deus. Depois a família, as amigas que a gente tem, (...). Apoiaram-me bastante, principalmente meu marido, meu marido sempre do meu lado todo tempo, foi primordial... foi tudo, família! (Borboleta, 47 anos).

Uma das participantes mencionou a importância da família e

principalmente do cônjuge diante todo processo, e que após a doença o

esposo passou a ser muito mais afetuoso e preocupado. O apoio do cônjuge é

Page 55: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

55

fundamental para a mulher, visto que a autoestima da mulher é atingida pela a

mutilação e o constrangimento frente ao parceiro, já que a mama simboliza sua

feminilidade, sensualidade, erotismo. Neste caso, a compreensão, o carinho, o

acompanhamento no tratamento entre outras trocas de afeto, é de fundamental

importância para a mulher (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007; SILVA,

2010). Ao ser questionado sobre a família, Beija-Flor de 68 anos, relatou ter

recebido “muito apoio, muito apoio”.

Sim, se não fosse eles! Tem muito apoio, me ajuda o

tempo todo, muito apoio mesmo! Ah... foi tudo! Foi tudo,

foi meu porto seguro. Porto seguro! (Lírio, 45 anos).

Nossa... a minha irmã foi quem me carregou no colo, foi

primeira pessoa que contei. Perto de mim, ela... ela... é

igual... Igual eu faço. Longe da minha família eu banco...

eu fico triste, perto da minha família eu banco a fortona.

Ela perto de mim, ela banca a super poderosa e ela que

resolveu tudo pra mim... ela que foi contar para meu

irmãos, ela que contou para minha mãe, ela que ficou

correndo atrás de tudo... de tudo pra mim. Então a minha

família, meus irmãos, minha mãe! (...) Então eu falo

assim: “carinho... carinho cura, carinho cura”, por que isso

foi me fortalecendo, eu fui... Eu consegui enxergar que eu

não estava sozinha e tanta gente se aproximou de mim,

umas amigas que se tornaram mais amigas, família,

parecem que fica... Fica tudo melhor! Então o câncer não

é... Tudo ruim, eu consigo ver o lado do câncer... Passo.

Parece que a parte ruim, eu esqueci... As dores, o mal

estar depois da quimioterapia. Eu lembro, mas eu não

lembro triste... A minha unha que doía, ficou tudo “fudida”

(risos), não posso fala... ficou tudo estragada. Eu lembro

disso, mas eu não fico triste, eu consigo lembra as coisas

boas, as pessoas que chegavam perto, as pessoas que

iam me visita... eu lembro disso! (Flor de Lótus, 42 anos).

Page 56: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

56

O apoio familiar, bem como de outros membros da família e amigos,

assume um papel importante de amparo e proteção nos momentos mais

críticos, tal apoio ajuda na superação da doença. Para Amâncio; Santana e

Costa (2007), essa demonstração de afeto, esperança e carinho por parte da

família e pessoas próximas, auxilia a mulher no tratamento e na recuperação

de maneira menos traumática.

Entre as mulheres participantes, mesmo após o choque inicial da notícia

o apoio familiar, filhos e pessoas próximas, foram constantes e auxiliaram no

enfrentamento de todo o processo, sendo essencial para a superação.

2.2.2 A fé como artifício de superação

A fé e a crença em Deus possibilitam a pessoa enferma um

empoderamento na vivência dessas experiências, é um dos meios de

enfrentamento, de modo que ambas auxiliam, confortam e motivam essas

mulheres no enfrentamento da doença. A fé em Deus traz uma sensação de

esperança e confiança diante daquilo que é almejado, nesse caso, a cura.

Sendo também uma forte fonte de apoio para a superação, como também de

ressignificação de todo o processo (PEREIRA; BRAGA, 2016).

Com certeza foi à fé que eu tive em Deus, tudo que eu

fazia primeiramente eu buscava em Deus! Eu orava

muito, eu pedia muito, usava muito minha fé e depois

minha família! (Borboleta, 47 anos).

Olha... É... Na verdade assim... Eu tentava me acalmar,

pra passar tranquilidade para minha família também e

confia... tive o tempo todo a minha fé, muita fé que tudo

iria correr bem. Então, foi o que eu me apeguei, não tinha

outra coisa assim, que eu sabia que eu tinha que tirar e

tinha que se tirado todo e não apenas o quadrante. Mais

então foi isso que fiz, é... Até o dia da cirurgia (Lírio, 45

anos).

Page 57: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

57

Durante as pesquisa, pode-se observa o quanto a religiosidade estava

presente em todas as mulheres. A religiosidade pode ser usada também como

uma forma de barganha, mas isso irá depender da fase do luto em que o

indivíduo esta vivenciando. Nas entrevistas, foi possível perceber que as

mulheres participantes utilizaram a fé como uma forma de superação e ajuda

de uma possível cura e aceitação de todo o processo da doença.

Eu penso que estou curada! Estou bem, mas se voltar eu

estou aberta. Apoio em Deus, sabia que Deus estava na

frente. Hoje sou a mesma, fico em casa, eu só queria

andar. Voz tem como substituir, agora andar não (Beija-

Flor, 68 anos).

A fé é um poderoso artifício usado por essas mulheres na luta contra a

doença, como forma de se restabelecer e neutralizar a forte carga de estresse

e tensão diante das incertezas. Ao longo de todo processo, essas mulheres

participantes tornam-se resilientes juntamente com a fé, fazendo do sofrimento

vivido uma forma de aprendizagem e reorganização. A religiosidade é um

modo de encontrar o sentido frente à dor vivenciada (AMARO, 2013). Pode-se

perceber nessas mulheres participantes durante os encontros e na entrevista a

constante busca por Deus, que quanto maior a fé, maior a resiliência, que

apesar da doença, a fé fez com que elas pudessem ter um olhar diferente

tornando-as mais fortes no enfrentamento da doença e respectivas perdas

associadas ao luto simbólico.

Muito mais... Muito mais... e parece assim que... Antes eu

conversava com Deus, mas Deus estava tão longe e hoje

não, parece que ele está tão pertinho. Eu converso ali, ele

está ali... já me atende. Ele me escuta como eu estou

conversando com vocês, eu converso com Deus, e ele me

ouve, por que eu estou aqui... (Flor de Lótus, 42 anos).

A minha força maior foi Deus! E eu sempre tive uma fé

muito grande por que só com essa revelação que eu tive

Page 58: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

58

dentro da igreja, pra mim foi assim... por que você sendo

católica, você tendo uma fé firme em Deus, Deus não

desampara você, em momento algum! Você só cai por

que você não tem fé em Deus! (Íris, 68 anos).

2.3 A ressignificação da vida a partir da doença

Dentro de todo esse processo em que é permeado de angústias e medo,

o adoecimento possibilita uma reflexão de valores e nova conduta no modo de

viver. Essa experiência possibilita um crescimento pessoal, a valorização da

religiosidade e direciona o indivíduo dar um novo sentido em sua vida.

Nossa é difícil... Ah... (choro) bem... eu acho assim depois

que se passa por uma dificuldade dessa (choro) você

está, você aprende muita coisa... Você veja que você não

é ninguém nesse mundo e que você tem que ter muito

mais amor pelo próximo, que você tem que valoriza cada

minuto que você vive... Por que depois você não sabe o

que vai acontecer com você, não é? Por que queira sim,

queira não, a nossa vida modifica, é outra vida. Então a

vida que passou, não vai ter mais, então cada um tem que

aproveitar seu dia, tem que fazer aquilo que você gosta,

aproveitar ao máximo, por que realmente você tem que

aproveitar o máximo! (Lírio, 45 anos).

Após o diagnóstico... a princípio eu fiquei muito triste, mas

depois eu... eu me tornei uma pessoa feliz, eu acho que

hoje eu sou mais feliz, eu acho que eu não era feliz e eu

acho que hoje eu sou... Não sei... (...) Hoje eu me sinto

mais feliz, mesmo com câncer! Eu me sinto! (Flor de

Lótus, 42 anos).

Uma mulher mais forte, eu me sinto mais forte do que era

antes. É... Assim... Lógico que tem momentos assim,

Page 59: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

59

que... a gente fica meio assim, pra baixo. Parece que vem

aquela... aquela, meio depressão, você pensa em tudo.

Que nem eu penso em tudo que eu passei e estou aqui

hoje. Que nem a minha irmã mesmo, não teve essa

chance, ela foi embora muito cedo, mais nova que eu. E

eu tenho assim... um sentimento de agradecimento a

Deus, as pessoas que me apoiaram, as meninas aqui,

meu esposo, minha família, gratidão! E... é isso!

(Borboleta, 47 anos).

Mesmo diante das cicatrizes deixadas pela mastectomia na alma

feminina, o medo de uma recidiva e a constante possibilidade da morte tende a

permanecer (AMÂNCIO; SANTANA; COSTA, 2007). Mas há uma busca

incessante por aproveitar cada momento da vida como se fosse único,

vivenciando um sentimento de gratidão a Deus por mais uma nova chance de

vida.

Page 60: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

60

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Podemos perceber na análise dos dados a necessidade da existência de

intervenções voltadas às mulheres mastectomizadas. As mulheres demonstram

necessidade de falar sobre sua doença e suas vivências com alguém que não

seja do meio familiar. Isso pode ser notado nos encontros, em que uma das

participantes relatou ser a primeira vez que conseguiu falar sobre sua doença e

também chorar perto de outras pessoas, pois sempre se manteve “forte” em

frente a sua família, pra que os mesmo achassem que ela estava bem.

Entendemos então, a necessidade de um trabalho voltado ao

acolhimento dessas mulheres nesse processo de elaboração do luto simbólico,

para que as mesmas possam falar de suas vivências em relação aos seus

sentimentos e às perdas sofridas. Pois como percebemos todas passam por

um processo doloroso que se inicia com o diagnóstico, e continua em outras

etapas tais como: a cirurgia de mastectomia, seguido do tratamento muitas

vezes traumático, assim, suscetivelmente, as perdas reais e concretas.

Esse trabalho sugere que seja iniciado um acolhimento, seguido de uma

intervenção com essas mulheres quando há o diagnóstico do câncer de mama.

Além do tratamento farmacológico que faz parte do tratamento como forma de

erradicação da doença, também se faz necessário devido ser extremamente

importante um trabalho psicológico para auxiliar e orientar essas mulheres a

lidar com esse processo de luto simbólico e as possíveis mudanças corporais,

psicológicas e sociais que venha a acontecer, colaborando para uma melhor

qualidade de vida dessas mulheres e de seus familiares.

Page 61: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

61

CONCLUSÃO

O ser humano é o único ser que tem a consciência da própria finitude e

essa consciência faz com que o homem tente driblar a própria morte, sendo

inevitável esse processo. Diante do diagnóstico de uma doença maligna como

o câncer, e que tem fortemente o estigma de ser mutilador, incurável e mortal,

os mais diversos sentimentos negativos e lutos simbólicos (reais ou concretos)

serão vivenciados.

Neste contexto, buscou compreender como a mulher lida com o luto

simbólico e suas vivências psicossociais após a mastectomia, ocasionada pelo

câncer de mama, de modo que nem todas as fases podem vir a ser

vivenciadas.

A vivência do luto se inicia após o diagnóstico preciso de um médico,

permanecendo ao longo do tratamento, devido às várias perdas que são

ocasionadas. Os mais diversos sentimentos frente às incertezas de uma

possível cura são experienciados por essa mulher, entre eles, a negação após

o impacto da notícia. Sendo, a negação uma poderosa “arma” usada como

defesa no enfretamento da doença para que essa mulher venha a se

reestabelecer no decorrer do tempo.

Assim, o modo de lidar com esse luto simbólico e as vivências

psicossociais, estão relacionadas à personalidade, bem como o meio em que

está inserida e a fase em que cada mulher encontra-se na vida, levando em

conta esses fatores: idade, estado civil e se tem filhos. Esses fatores vão

influenciar a mulher no decorrer de todo esse processo da doença, nas

mudanças significativas em seu cotidiano e nos aspectos tanto físico,

emocional e social.

O apoio familiar, como de pessoas próximas também são essências

nesse momento, visto que elas atribuíram o carinho recebido como

fundamental para a superação da doença. Assim, como a fé e crença em Deus,

tornam essas mulheres mais resilientes, a religiosidade é um poderoso meio de

enfrentamento e na busca pela possível cura.

Os encontros que antecederam, bem como as entrevistas, possibilitou-

nos enxergar, que mesmo diante das angústias, a fragilidade, a identidade

feminina abalada, o choro muitas vezes sufocado para não passar sofrimento

Page 62: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

62

para seus familiares e a incerteza da cura, adentrar no âmago dessas

mulheres, por meio de um acolhimento e escuta qualificada, possibilitou

compreender a necessidade existente das mesmas em expressarem seus

sentimentos. O vínculo estabelecido com essas mulheres, fez com que

emergissem vários conteúdos e que fossem expressos seus sentimentos e

emoções, havendo uma troca de vivências entre as mulheres e pesquisadoras.

Page 63: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

63

REFERÊNCIAS

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

ALVES, E. V. O câncer de mama e suas implicações biopsicossociais: um estudo bibliográfico. Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal de Roraima. Boa Vista, 2016. Disponível em: <https://ufrr.br/psicologia/index.php?option=com_phocadownload&view=cate ry&download=86:elizabeth-alves&id=13:2015-2>. Acesso em: 22 maio 2017.

ALMEIDA, R. A. Impacto da mastectomia na vida da mulher. Revista SBPH. Rio de Janeiro, v.9, n.2, dez., 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v9n2/v9n2a07.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

ALMEIDA, A. R.A (re) construção da identidade/ diversidade feminina em mulheres mastectomizadas. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, UNESP. Franca, 2008. Disponível em: <http://www.franca.unesp.br/Home/Posgraduacao/ServicoSocial/Dissertacoes / drianaalmeida.pdf>. Acesso em 22 maio 2017.

AMARO, L. S. Resiliência em pacientes com câncer de mama: o sentido da vida como mecanismo de proteção. Logos & Existência - revista da associação brasileira de logoterapia e análise existencial. v. 2, n.2, p. 147-161, 2013. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/index.php/le/article/view/15923>. Acesso em: 24 nov. 2017.

AMBRÓSIO, D. C. M.; SANTOS, M. A. Vivências de familiares de mulheres com câncer de mama: uma compreensão fenomenológica. Psic.: Teor. e Pesq. Brasília, v.27, n.4, p.475-484, out./dez., 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102377220110004011>. Acesso em: 25 nov. 2017.

63

Page 64: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

64

AMÂNCIO, V. M.; SANTANA, N.; COSTA, S. Mulher mastectomizada e sua imagem corporal. Revista Baiana de Enfermagem. Salvador, v.21, n.1, p.41-53, jan/abr, 2007. Disponívelem: <https://portalseer.ufba.br/index.php/ enfermagem/article/view/3911/2880>. Acesso em: 26 maio 2017.

ALVES, P. C. et al. Conhecimento e expectativas de mulheresno pré-operatório da mastectomia. Rev. EcsEnferm. USP. v.44, n.4, p.989-995, 2010.Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n4/19.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2017.

ARAÚJO, I. M. A.; FERNANDES, A. F. C. O significado do diagnóstico do câncer de mama para a mulher. Esc Anna Nery Rev. Enferm. Rio de Janeiro, v.12, n.4, dez., p-664-671, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ean/v12n4/v12n4a09.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2017.

AURELIANO, W. A. “... e Deus criou a mulher”: reconstruindo o corpo feminino na experiência do câncer de mama. Estudos Feministas. Florianópolis. v.17, n.1, jan./ abr., 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ref/v17 n1/a04v17n1.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2017.

AVELAR et al. Câncer de mama: orientações práticas para o paciente e a família. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.

BARROS et al. Mastologia: condutas. Rio de Janeiro: Revinter, 1999.

BARBOZA, C. B.; OLIVEIRA, A. R. L. Planejamento do tratamento por radioterapia através de métodos de pontos interiores. Pesquisa Operacional. v.26, n.1, p.1-24, jan./abri., 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pope/v26n1/29472.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/abc_do_ cancer_2ed.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação e Prevenção Vigilância. A situação do câncer no Brasil.Rio de Janeiro: INCA, 2006. Disponível em: <http://bvsms

Page 65: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

65

.saude.gov.br/bvs/publicacoes/situacao_cancer_brasil.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

______. Ministério as Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas em oncologia/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_ clinicos_diretrizes_terapeuticas_oncologia.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

BORGES et al. Percepção da morte pelo paciente oncológico ao longo do desenvolvimento. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 2, p. 361-369, mai./ago., 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n2/v11n2a14>. Acesso em: 02 jul. 2017.

BOSI, E. O tempo vivo na memoria: ensaios de psicología social. São Paulo: Atêlie editorial, 2003.

BROMBERG, M. H. P. F. et al. Vida e morte: laços da existência. In. KOVÁCS, M. J. A morte em vida. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996, p.11-33.

CARVALHO, M.M.J.; A vida que há na morte. In. BROMBERG, M. H. P. F. Vida e morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996, p.35-75.

CATALAN et al. Sarcoma de Ewing:aspectos clínicos e radiográficos de 226 casos. Radiol. Bras. v.38, n.5, p.333-336, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rb/v38n5/a05v38n5.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2017.

CAVALCANTI, A. K. S.; SAMCZUK, M. L.; BONFIM, T. E. O conceito psicanalítico do luto: uma perspectiva a partir de Freud e Klein. Psicólogo inFormação, ano 17, n.17, jan./dez., 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoinfo/v17n17/v17n17a07.pdf>. Acesso em 06 jul. 2017.

Page 66: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

66

CAPUTO, R. F. A morte e os vivos: um estudo comparativo dos Sistemas TanatológicosLinense e Bororo e suas interveniências nas interações sociais nestes dois grupos sociais. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P.A.; DA SILVA, R. Metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Pearson, 2007.

COMBINATO, D. S.; QUEIROZ, M. S. Morte: uma visão psicossocial. Estudos de Psicologia, v.11, n.2, p.209-216, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v11n2/a10v11n2.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2017.

DUARTE, T. P.; ANDRANDE, A. N. Enfrentando a mastectomia: análise dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas à sexualidade. Estudos de Psicologia. v.8, n.1, p.155- 163, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n1/17245.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2017.

FERREIRA, D. B. et al. Nossa vida após o câncer de mama: percepções e repercussões sob o olhar do casal. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v.64, n.3, p.536-544, mai./jun., 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003471672011000300018&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 25 nov. 2017.

FREUD, S. Luto e Melancolia (1917 [1915]). In:______. A história do Movimento Psicanalítico. Tradução de James Salomão. Artigos sobre a Metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v. 14, Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 245-263.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2007.

______, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

Page 67: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

67

HERZBERG, V.; FERRARI, C. L. Tenho câncer e agora? Enfrentando o câncer sem medos ou fantasias. Disponível em: <http://www.neoplasiaslitoral.com.br/informacoes/tenho_cancer_e_agora.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

HOFFMANN, F. S.; MÜLLER, M. C.; RUBIN, R. A mulher com câncer de mama: apoio social e espiritualidade. Mudanças – Psicologia da Saúde, v.14, n.2, p.143-150, jul./dez., 2006. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/MUD/article/viewFile/645/645>. Acesso em: 25 nov. 2017.

HOHENDORFF, J. V.; MELO, W. V. Compreensão da morte e desenvolvimento humano: contribuições à psicologia hospitalar. Estudos e Pesquisas em Psicologia: UERJ, Rio de Janeiro, n. 2, p. 480-492, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v9n2/v9n2a14.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2017.

KALIKS, R. A. Avanços em oncologia para o não oncologista. Einstein. v.14, n.2, p. 294-299, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/eins/v14n2/pt_ 1679-4508-eins-14-2-0294.pdf>. Acesso em: 05 de jun. 2017.

______, M. J. Educação para a morte. Psicologia Ciência e Profissão. v. 25, n.3, p.484-497, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v25n3/v25n3a12.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2017.

KOVÁCS, M. J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

KLUBER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios parentes. Tradução Paulo Menezes. 8.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MACHADO, S. M. B.; BERGMANN, A. Qualidade de vida de mulheres brasileiras com câncer de mama: revisão sistemática da literatura. Corpus et Scientia. Rio de Janeiro. v.8, n.3, p.139-153, dez., 2012. Disponível em:

Page 68: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

68

<http://apl.unisuam.edu.br/revistas/index.php/corpusetscientia/article/view/15/62>. Acesso em: 05 jun. 2017.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MALUF, M. F. M.; MORI, L. J.; BARROS, A. C. S. D. O impacto psicológico do câncer de mama. Revista Brasileira de Cancerologia. São Paulo, v.51, n.2, p. 149-154, 2005. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_51/v02/pdf /revisao1.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2017.

MAISONNEUVE, J. Introdução a psicossociologia. São Paulo: Nacional, 1977.

MARANHÃO, J. L. S. O que é morte. São Paulo: Brasiliense, 1985.

MEDEIROS, L. A.; LUSTOSA, M. A. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v.14, n.2, jul./dez., 2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v14n2/v14n2a13.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2017.

MENDES, G. A.; ONGARATTI, B. R.; LIMA, J. F. S. P. Epidemiologia de uma série de tumores primários do sistema nervosa central. Arq. Bras. Neurocir. v. 33, n.4, p. 279-283, 2014. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/0103-5355/2014/v33n4/a5506.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017.

MEIHY, J. C. S. B. Manual de história oral. 4.ed. São Paulo: Loyola, 2002.

MINAYO, C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 23.ed. Petrópolis: Vozes, 2004. OLIVEIRA, C. L. et al.Câncer e imagem corporal: perda da identidade feminina. Rev. Rene, v.11, p. 53-60, 2010. Disponível em:

Page 69: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

69

<http://www.revistarene.ufc.br/edicaoespecial/a06v11esp_n4.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2017. OHL, I. C. B. et al. Ações públicas para o controle do câncer de mama no Brasil: revisão integrativa. Rev. Bras. Enferm. v.69, n.4, p. 793-803, jul./ago., 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n4/0034-7167-reben-69-04-0793.pdf>. Acesso em: 25 maio 2017.

PEREIRA, D.; BRAGA, A. A. M. A mastectomia e a ressignificação do corpo no feminino. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde. Salvador, v.5, n.1, p.47-64, 2016. Disponível em: <https://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/ article/view/601/592>. Acesso em: 06 jun. 2017.

RAMOS, B. F.; LUSTOSA, M. A. Câncer de mama feminino e psicologia. Revista. SBPH. Rio de Janeiro, v.12, n.1, jun. 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rsbph/v12n1/v12n1a07.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2017.

RIBEIRO, E. E. Tanatologia: vida e finitude. Informações gerais para os módulos: velhice e morte, medicina e morte, cuidados paliativos e bioética. Rio de Janeiro: UERJ, UnATI, 2008. Disponível em: <http://www.crde-unati.uerj.br/liv_pdf/tanatologia.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2017.

RODRIGUES, J. C. J.; SILVA, L. C.; CARDOSO, R. A. Câncer de mama: do diagnóstico ao tratamento. Revista Master. Araguari: Minas Gerais. v.1, n.1, jan./jun., 2016. Disponível em: <http://imepac.edu.br/public/assetsrevista/ artigos/Artigo4.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2017.

SANTOS, C. C.; RIBEIRO, J. T.; TEIXEIRA, J. Leucemia: sociedade em risco. Faculdade de São Paulo: 2014. Disponível em: <http://facsaopaulo.edu.br/media/files/2/2_384.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017.

SILVA, L. C. Câncer de mama e sofrimento psicológico: aspectos relacionados ao feminino. Psicologia em Estudo. Maringá, v.13, n.2, p. 231-237, abr./jun., 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a05v13n2>. Acesso em: 03 jun. 2017.

Page 70: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

70

SILVA, P. A.; RIUL, S. S. Câncer de mama: fatores de risco e detecção precoce. Rev. Bras, Enferm. Brasília, v.64, n.6, p. 1016-1021, nov./dez., 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n6/v64n6a05.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017.

SILVA, P. L. N. et al. O significado do câncer: percepção de pacientes. Rev. Enferm. UFPE on line. Recife, v.7, n.12, p. 6828-6833, dez., 2013.Disponível em: <http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article /view/4751/pdf_4124>. Acesso em: 03 jun. 2017.

SILVA et al. Representações sociais de mulheres mastectomizadas e suas implicações para o autocuidado. Rev. Bras. Enferm. Brasília. v.63, n.5, p.727-734, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n5/06.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2017.

TARTARI, R. F.; BUSNELLO, F. M.; NUNES, C. H. A. Perfil nutricional de pacientes em tratamentos quimioterápico em ambulatório especializado em quimioterapia. Revista Brasileira de Cancerologia. v.56, n.1, p. 43-50, 2010. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_56/v01/pdf/07_artigo_perfil_ nutricional_paciente_oncologico.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017.

TAMARIN, R. H. Princípios de genética. Tradução Iulo Feliciano Afonso. 7.ed. Ribeirão Preto, SP: FUNPEC, 2011.

TIEZZI, D. G. Cirurgia conservadora no câncer de mama. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. v.29, n.8, p. 428-434, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v29n8/a08v29n8.pdf>. Aceso em: 06 jun. 2017.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VASCONCELOS, A. P. B.; RIBEIRO, F. G.; TORRES, M. W. C. Câncer de mama: mastectomia e suas complicações pós-operatórias: um enfoque no linfedema e na drenagem linfática manual/ DLM. 2012. Disponível em:

Page 71: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

71

<http://www.ipirangaeducacional.com.br/banco_arquivo/download/7ef55bff555.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2017. VIERA et al. Oncologia básica.1.ed. Teresina, PI: Fundação Quixote, 2012. ZIGUER, M. L. P. S.; BORTOLI, C.F. C.; PRATES, L. A. Sentimentos e expectativas de mulheres após diagnóstico de câncer de mama. ESPAÇO PARA A SAÚDE – REVISTA DE SAÚDE PÚBLICADO. Londrina, v. 17, n. 1, p.107-112, jul., 2016. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/espacoparasaude/article/view/25366/14>. Acesso em: 24 de nov. 2017.

Page 72: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

72

APÊNDICES

Page 73: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

73

APÊNDICE A – TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

(T.C.L.E)

Eu ......................................................................................................................... ,

portador do RG n°. ............................................................, atualmente com ............. anos,

residindo na ................................................................................................................................... ,

após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA,

devidamente explicada pela equipe de pesquisadores .............................................. , apresento

meu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e

concordo com os procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados, preservando a minha

identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou ciente de que todo

trabalho realizado torna-se informação confidencial guardada por força do sigilo profissional e

que a qualquer momento, posso solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo, assino o presente termo.

Lins, ............. de ............... de 20.....

.............................................................

Assinatura do Participante da Pesquisa

.............................................................

Pesquisador Responsável

Endereço:

Telefone:

73

Page 74: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

74

APÊNDICE B – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE

CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DE PESQUISA

Prezada Senhora,

Estamos realizando um estudo, cujo objetivo é investigar a vivência do

processo de luto simbólico da mulher que realiza a cirurgia de mastectomia e

as implicações psicossociais decorrentes desta ocorrência. Sua participação é

muito importante, pois possibilitará compreender as vivências do processo de

luto simbólico vivenciado pela mulher após a retirada da mama e suas

interferências em sua vida particular e social em decorrência deste processo.

Em relação à pesquisa, este luto simbólico esta relacionado à mastectomia,

cirurgia de retirada da mama decorrente do câncer de mama. Será realizado

encontros com as participantes, com um tempo previsto de 50 minutos, na

Clínica de Psicologia UniSalesiano-Lins, para conhecer o histórico da paciente

com câncer de mama e suas vivências após a mastectomia.

Terá como benefício, uma escuta qualificada e um acolhimento através

das pesquisadoras, no qual essas mulheres possam falar sobre seus

sentimentos, muitas vezes escondido dentro da sociedade e da família pelo

preconceito que o câncer carrega. Assim, auxiliando na vivência desse luto

simbólico que, muitas vezes é gerador de angústias e medo para essas

mulheres e, de modo que a mesma venha a ressignificar todo esse processo

vivenciado após a mastectomia. E consequentemente, por meio da escuta

qualificada e o acolhimento, essas mulheres venha a compreender os próprios

sentimentos e a expressá-los.

A pesquisa esta sendo coordenada pelas discentes: Fernanda de Cássia

do Nascimento Alves; Graziele Fernanda Ribeiro Gomes e Pastora Inês do

Nascimento, sob orientação do Professor Me. Rodrigo Feliciano Caputo (CRP

06/94.185).

Page 75: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

75

Faça a leitura atenciosa desta carta e das instruções oferecidas pela

Equipe e/ou pesquisador e, caso concorde com os termos e condições

apresentados, uma vez que os dados obtidos serão utilizados para pesquisa e

ensino (respeitando sempre sua identidade), você ou seu representante legal

deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esta Carta de

Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que você tem total

liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem

ônus ou prejuízo algum.

Por estarem entendidos, assinam o presente termo.

Lins, ............. de ............... de 20.....

......................................................................................................................

Assinatura do Participante da Pesquisa Pesquisador Responsável

Page 76: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

76

APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Pesquisa:As vivências do luto simbólico em mulheres mastectomizadas: as

interveniências psicossociais decorrentes desta ocorrência.

Dados de Identificação

Nome:______________________________Idade:______________

Ocupação profissional___________________________________

Estado civil:__________________________________________

Tem filhos? Quantos?

Data da mastectomia.

Você tem algum histórico de câncer na família? Grau do parentesco?

Quais os sentimentos que você vivenciou após o diagnóstico do câncer de

mama?

Como você enfrentou a notícia da cirurgia da mastectomia?

O que mudou em sua vida após a mastectomia?

Você teve e tem apoio da sua família em relação à doença?

Teve mudanças em sua vida social, afetiva e sexual? Se sim, quais?

Você enfrentou algum preconceito no meio social? De que tipo?

Após a cirurgia, você é satisfeita com seu corpo? Se não, por quê?

Quais os meios que você buscou para enfrentar a doença, deste seu

diagnóstico até a mastectomia?

76

Page 77: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

77

APÊNDICE D – TRANSCRIÇÔES DAS ENTREVISTAS INDIVIDUAIS

Entrevista 1 - “Flor de Lótus”

Meu nome é Flor de Lótus. Tenho 42 anos, e minha ocupação

profissional é técnica de enfermagem, mas atualmente de licença médica. Sou

divorciada e tenho uma filha, todo mundo já conhece a minha filha (risos)?! Ela

tem 12 anos.

A realização da cirurgia foi julho do ano passado, que eu tirei apenas o

tumor. Não chegou ser a mastectomia. Só o tumor mesmo, em julho de 2016.

Na minha família não tem ninguém com o histórico da doença e espero que

pare em mim. Ao ser diagnosticado com câncer de mama, primeiro vivenciei o

sentimento de diagnóstico de morte, que eu iria morrer. Depois eu pedi pra

Deus que... eu queria viver... e que eu tinha que cuida da minha filha. Então,

acho que a fé. No momento da notícia, eu queria... Eu queria... Que acabasse

o câncer. Então na hora que ele falou de tirar um quadrante, eu falei que podia

retirar a mama toda, inclusive a outra. Por que eu sei que com o tempo o

câncer volta, e eu não queria passar pelo sofrimento de outra cirurgia na outra

mama. Mas, ele disse que até faria, se não fosse o caso, como eu já estava em

metástase, que não adiantava passa por uma cirurgia grande dessa e porque

metástase, já não... Tinha mais o que fazer... Uma vez que a metástase está

na corrente sanguínea e a qualquer momento podia desenvolver em outro

lugar. Então, pra que passar por uma cirurgia grande de retirada da mama.

Então, não tinha necessidade e que iria retirar só o tumor.Quando ele falou pra

mim que iria repetir os exames, iria fazer pra ver como que estava e falou que

estava em metástase no fígado e três nódulos, eu não acreditei... Eu acho que

eu não acredito até hoje, apesar de ver os exames ali, eu entender

perfeitamente como que é, parece que eu não acredito ou eu não quero

acreditar. Eu não acredito... eu sei que tem o câncer ali, está ali, mais não sei...

Parece que... Não sei, parece que não é comigo. Todo mundo fala o

câncer!Tem pessoas que não fala nem a palavra câncer, uma doença que...

Que as pessoas morrem e eu não acredito que tenho câncer. É meio louco,

(risos) é louco... Por que tenho a consciência que o câncer está no meu corpo,

eu preciso do meu corpo pra estar viva, mas eu não sinto que está em mim.

77

Page 78: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

78

Então eu falo que não está na minha alma, está no corpo. Por que os exames

mostram! Mas eu não sinto!

A mudança maior foi após o diagnóstico e não da cirurgia. Então, após o

diagnóstico... a princípio eu fiquei muito triste, mas depois eu... eu me tornei

uma pessoa feliz, eu acho que hoje eu sou mais feliz, eu acho que eu não era

feliz e eu acho que hoje eu sou... Não sei... Então eu aproveito cada momento

como se fosse único, eu aproveito... Eu aproveito, estou aqui estudando, nem

sei se eu vou terminar, mas eu estou aqui. Hoje... Eu estou.

Tudo isso foi uma mudança muito grande, muito, muito... Eu faço uma

comparação antes e depois do câncer. Eu era uma pessoa triste... eu era triste.

Eu só trabalhava, cuidava da minha filha, tinha um relacionamento que... não

dava muito certo, mais eu queria ficar nesse relacionamento, achava que... eu

não conseguia ficar sozinha, que eu tinha que ficar com ele, só que com ele eu

estava mais sozinha do que... Sei lá. Hoje eu sou sozinha, estou sozinha, mas

eu não sinto que estou sozinha. É meio louco gente, não dá pra explicar (risos).

É louco, não sei, acho que... Minha cabeça fala assim, “é bom você não sabe

que você tem câncer, por que você fica louca (risos)”. Então, eu acho que é um

bloqueio, não sei... eu não sei por que eu não acredito nisso.

Nessa época, estava em um relacionamento, mais não tive mudança na

minha vida afetiva por conta da doença, acho que foi um motivo já pra separar,

porque já não vinha bem o relacionamento. Mas, mesmo assim eu queria ficar

com ele, e eu tive que tomar a decisão, que eu já tinha que te tomado à

decisão antes. Mas, eu queria... eu queria ficar com ele! Estava ruim, mas

estava com ele... Assim... Euo via, assim..., parecia que ele tinha nojo de mim,

não queria tocar na minha pele. Por que a gente estava separada e ele ficou

sabendo que eu podia... Estar com esse diagnóstico, por que ele conversou

com a minha irmã e eu fui para o centro cirúrgico, hora que eu acordei da

anestesia do centro cirúrgico ele estava dentro do quarto. Hora que eu abri os

olhos e vi ele dentro do quarto, eu não estava entendendo nada... Eu falei:“meu

Deus será que eu vou morrer mesmo” (risos)?! Aí como ele veio atrás sabendo

que eu estava com câncer, achei que ele gostava de mim. Até hoje eu não

entendendo o porquê que ele veio? O porquê Deus? Por que ele veio atrás de

mim?! (risos) Eu achei que era o amor da minha vida... não era! Naquele

momento, foi... estava muito triste, ele chegou parece que eu senti assim, como

Page 79: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

79

um apoio. Só que depois, dele está fazendo isso que ele fez comigo, que ele já

estava com outra pessoa, ele me chamou para morar com ele, falou até de

casamento, pensei “meu Deus casamento?! Aí já é demais (risos)”. Mas estava

uma coisa assim, que como não estava antes e de repente ele começa se

afasta e parecia que ele estava com nojo de mim e eu saí da casa dele, e ele

não se importou, e eu voltei pra casa dele. Quando eu vi que ele não queria

mesmo, eu saí da casa dele. E quando eu saí mesmo sem intenção de volta,

eu fiquei sabendo que ele já estava com outra pessoa. Nessa fase foi triste,

acho que foi pior ou igual quando o médico falou que era câncer, foi aonde eu

repeti os exames e o tumor tinha aumentado de tamanho. Eu fiquei muito,

muito triste, achei que eu não iria conseguir ficar sozinha. E hoje eu estou

sozinha, não por que eu quero (risos). Mas, por um lado, assim acho que eu...

eu não confio mais nas pessoas, meu medo é... Relacionar-me de novo e daqui

a pouco eu desenvolver o câncer de novo, passar por tudo de novo e o cara

me abandonar de novo. Então, não sei... Ou é por que ninguém chegou de

novo ainda ou se chegar não sabe se eu vou ter tanto medo assim. Não sei,

tem que deixa acontecer. Não sei (risos). Então, é muito louco, tem coisas

assim que eu não consigo entender, um monte de coisa (risos).

O apoio da minha família em relação a doença, nossa... a minha irmã foi

quem me carregou no colo, foi primeira pessoa que contei. Perto de mim, ela...

ela... é igual... Igual eu faço. Longe da minha família eu banco... eu fico triste,

perto da minha família eu banco a fortona. Ela perto de mim, ela banca a super

poderosa e ela que resolveu tudo pra mim... ela que foi contar para meu

irmãos, ela que contou para minha mãe, ela que ficou correndo atrás de tudo...

de tudo pra mim. Então a minha família, meus irmãos, minha mãe! “Meu irmão

falou: “Flor de Lótus”, sai da casa do seu namorado e vem morar em casa”, por

que minha casa na época estava alugada, por que eu estava morando aqui em

Lins com a minha mãe, a minha casa em Pirajuí estava alugada, e meus

irmãos virão que com meu namorado não estava dando certo e todos os três

irmãos falaram, vem morar em casa e eu falava, “não... quero ficar com meu

namorado”. Eu queria que meu namorado me trouxesse na quimioterapia, eu

queria a companhia dele. Ele me trazia, mais assim por obrigação, hoje eu

consigo ver a obrigação que era trazer. Por que ele vinha de Pirajuí a Lins, ele

não abria a boca e vinha somente dirigindo o carro, ele vinha com aquela cara

Page 80: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

80

fechada dele, eu lembro vezes que eu falava assim: “Namorado, conversa

comigo, eu estou indo fazer uma quimioterapia, eu não estou indo pra tomar

um remédio pra dor de cabeça”, eu implorava o carinho dele e mesmo assim

eu queria ficar com ele. Nas últimas quimioterapias ele nem veio, mas eu

queria que ele viesse. Meus irmãos falavam, “eu ti levo”, minhas amigas me

paravam na rua, “Flor de Lótus eu ti levo”, e eu não queria gente, aí como a

gente é besta, eu queria ele (risos). E assim, as pessoas, como as pessoas

são...solidarias... tinha umas amigas, umas colegas, pessoas que nem me

conhecia e me paravam na rua e falavam assim, “eu coloquei seu nome na

minha igreja, estou orando por você, estou rezando por você”, nossa isso dava

uma força... eu percebia que tinha amigas que me viam, quando eu andava

assim... que eu estava na rua e elas me viam, faziam de conta que elas não me

viam, as que não conseguiam chega perto de mim. Lembro uma prima que um

dia fui na fazendinha, depois de passado dois anos, ela falou: “Flor de Lótus, fui

na fazendinha, e eu ti vi lá, mas eu não tive coragem de chega perto de você”.

E ela só chorava, só chorava... eu falava: “para de chora (risos)”. Então, tinha

pessoas que não conseguia chega perto de mim, outras que chegavam e

falavam que estava rezando, orando, que estava na igreja, de todas as igrejas,

eu falava: “não... continue”.

Então isso dava uma força! Era tão gostoso... lá na UNIMED também, eu

chegava, por que eu trabalho lá, eu já entrava lá na UTI para cumprimentar

minhas amigas, meus amigos me abraçavam, me beijavam, a moça da

portaria... a moça da faxina...a moça da cozinha, todo mundo vinha e me

abraçava e isso era tão gostoso! Então eu falo assim: “carinho... carinho cura,

carinho cura”, por que isso foi me fortalecendo, eu fui... eu consegui enxergar

que eu não estava sozinha e tanta gente se aproximou de mim, umas amigas

que se tornaram mais amigas, família, parece que fica... fica tudo melhor!

Então o câncer não é... tudo ruim, eu consigo ver o lado do câncer... passo.

Parece que a parte ruim, eu esqueci... as dores, o mal estar depois da

quimioterapia. Eu lembro, mas eu não lembro triste... a minha unha que doía,

ficou tudo fudida (risos), não posso fala... ficou tudo estragada. Eu me lembro

disso, mas eu não fico triste, eu consigo lembra as coisas boas, as pessoas

que chegavam perto, as pessoas que iam me visita... eu lembro disso!

Page 81: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

81

Minha filha nesse momento, nossa... foi por causa da minha filha que eu

estouaqui hoje, se não fosse a minha filha eu não estava aqui não, eu tinha

desistido, eu tinha... Eu tinha... Tenho certeza que eu tinha desistido. Quando

minha unha apodreceu, que eu fiquei com infecção, que o médico achava que

já estava na circulação, infecção generalizada, eu não tinha lutado não... eu

não tinha se não fosse minha filha. Por que todos os dias eu pedia pra Deus!

“Deus, deixa eu vive por que eu preciso cuidar da minha filha, por que ela é tão

pequenininha, eu tenho tanta coisa pra ensinar pra ela”. Então a minha filha foi

motivo pra eu lutar e continua sendo, minha filha... Euestou aqui estudando,

quem sabe eu termino mais hoje o que eu aprendo aqui na faculdade, eu

chego e falo pra minha filha: “o filha faz isso, por que quando você estiver na

faculdade”, eu não sei até quando eu vou conseguir, mas hoje eu consigo fala

pra ela... o que eu aprendi hoje na faculdade eu falo pra minha filha, por que

não é simplesmente a matéria que o professor falou ali na sala de aula que eu

vou me tornar uma enfermeira, é pra minha vida, eu consigo pegar essa

matéria e transformar em uma coisa pra minha vida hoje e eu consigo leva pra

minha filha. Então... Juntou aminha filha, a faculdade... Motivos pra eu

continuar! Motivos, por que se não for esses motivos e o carinho de pessoas

que me querem bem, o abraço, o beijo, isso... Isso... Motiva continuar.

Na minha vida social, teve muita mudança... Antes eu só trabalhava,

tinha meus amigos de serviço. Eu não saia, quase não saia, não me divertia e

hoje eu saio mais, parece que hoje eu tenho mais amigos. No começo eu fiquei

pensando?! São pessoas que tem dó de mim, mais depois nós fiquei

pensando?! Que a gente fica louca pensando assim, mais não, se fosse dó,

eles não iriam continuar perto de mim, eles tão perto de mim por que eles

gostam de mim de verdade. Por que quando tem dó, fica ali naquela... Naquele

período que se está sofrendo e a pessoa fica ali perto de você, com dó... Mais

se continua e por que gosta de você de verdade. E hoje, eu vejo assim tanta

gente que tá por perto. Na vida afetiva... Tenho medo... é tenho... Mais parece

que os caras não quer nada não... Ou não sei (risos). Talvez olhe pra mim,

ahh... Não vou ficar com aquela moça não, ela tem câncer! Daqui a pouco ela

morre, não sei... Tem hora que eu penso nisso. Mas, todo mundo já sabe

(risos), não adiante nem disfarça, o cara já vai saber (risos). Eu falo

naturalmente, tranquilo, eu não me preocupo não. Não sei se chegar um cara

Page 82: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

82

assim... eu falo, se ele quiser ficar conversando comigo e depois continuar, eu

falo... eu acho ou não (risos). É que não chegou nenhum e os que chegaram já

sabiam de toda minha história.

Já na vida sexual! Assim, eu casei, com o pai da minha filha, me separei.

Eu casei com o pai da minha filha, eu achei que eu iria ficar com ele velhinha.

Quando me separei e conheci o ex-namorado. Aí eu me separei dele, por que

na época, eleestava assim, com nojo de mim, então, eu estava me sentindo

feia, eu estava me sentindo... Arrasada. E aí, apareceu um amigo, apareceu

um amigo (risos) e ele falou assim pra mim, eu contava tudo a história pra ele,

e ele falou assim pra mim: “Flor de Lótus”, eu lembro disso que marcou minha

vida (risos). Por que eu estava achando, o ex-namorado não, por que o ex-

namorado me deixou por que eu estava careca, feia e esse meu amigo chegou,

na época eu estava careca, sem cílios, sem sobrancelha, sem unha e ele

chegou e falou assim: “Flor de Lótus”... “Você é linda, com cabelo ou sem

cabelo”. E ele queria tirar meu lenço e eu não deixavatirar meu lenço... Aquilo

eu amarrava... Amarrava pra não cair da cabeça e uma vez ele tirou meu lenço

e eu fiquei tão sem graça e catei o lenço e amarrei de novo. E ele falou: “você é

linda”... e eu pensei, será?! E ele foi me cativando, foi me cativando, e... de vez

enquanto, a gente se encontra ainda (risos). Então ele... ele me deu muita

força, até hoje... Muita força, muita... Então eu agradeço a Deus, que ele

chegou nessa fase, por que... eu acho que eu estava precisando disso. Eu

achava que o ex-namorado, mas o ex-namorado já não queria mesmo e

chegou esse cara!

Então em decorrência ao câncer de mama, eu precisei fazer a retirada

do ovário também, mas isso não influenciounada, nada. Eu não posso ter

filhos, mais eu já tenho a minha filha, não tem intenção, mais não tinha mesmo

a intenção. Então não, nada... Enquanto ao preconceito no meio social?! Acho

que não... Não. Não sei, acho que não. Só às vezes um olhar assim parece

que de dó. Eu olhava assim, aí a pessoa estava me olhando assim, aí que dó.

Sei lá... Parece que... Dó?! (risos) estou bem, estou andando, estou viva, não

precisa ter dó.

Após a cirurgia, eu estou satisfeita com meu corpo. Estou! Eu estou

andando... Então, eu estou bem! Eu pedi pra Deus que eu não queria ficar em

cima de uma cama. Então, enquanto eu estiver andando, mesmo com as dores

Page 83: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

83

nas costas, eu estou bem...Tive muitas mudanças no processo do tratamento...

eu não tinha me preparado... Acho que ninguém se prepara pra ter um

câncer... E... Passo... Eu não... Sei lá... Eume lembro disso, mas eu não fico

triste... hoje eu estou com cabelo, cresceu a sobrancelha, cresceu a unha. E eu

falo assim, que antes eu economizava pra caramba com cabelereiro, com

manicure (risos) eu me lembro disso e não fico triste.Em decorrência as essas

perdas, na época, a unha por que a unha doía muito, demais, muita dor e o

cabelo não... o cabelo não sofri, me adaptei bem com os lenços, os cílios que

eu não enxergava direito por causa da claridade, o pelo da narina por que pra

respira doía, a sobrancelha eu passava um lápis e contava os fios com a minha

filha (risos)... Filha tem três... Filha tem dois, mãe não tem nem um... Está

horrível (risos). Então...

A minha filha foi quem me ajudou a enfrentar a doença... eu pedi pra

Deus que eu queria viver pra cuidar da minha filha e eu peço todos os dias isso

para Deus... é o que eu peço pra Deus, deixa eu fica viva mais um pouco aí! A

minha filha... ainda não ensinei tudo pra ela (risos)... e ele tá permitindo.Nesse

momento tive mais fé... Muito mais... Muito mais... e parece assim que... Antes

eu conversava com Deus, mas Deus estava tão longe e hoje não, parece que

ele está tão pertinho. Eu converso ali, ele está ali... já me atende. Ele me

escuta como eu estou conversando com vocês, eu converso com Deus, e ele

me ouve, por que eu estou aqui...

Então busquei esses dois motivos,minha fé e a minha filha, exatamente!

E Deus é maravilhoso! Eu pedi pra ele colocar pessoas no meu caminho! Na

época que eu não podia cuidar da minha filha, pra ajudar cuidar da minha filha

e pessoas pra me orientar como eu iria viver e como eu iria fazer... e eu

percebo... que Deus coloca todo dia tem uma pessoa na minha vida, e eu

consigo ver que são pessoas que eu pedi pra Deus, de um jeito ou de outro

eles me ajudam... veio uma pessoadaqui da faculdade, primeiro foi a

professora, depois veio a outra, outro dia veio o professor, sabe?! Todos os

professores que me ajudam de um jeito ou de outro. E... e toda a hora vem

uma pessoa pra me orientar, pra dá aquele empurrão, na hora que estou meio

assim...meio triste, vem uma pessoa e me da aquele empurrão, aí eu acordo e

falo não! Então sempre tá parecendo alguém... é isso... Sempre parece alguém

pra me ajudar, pra lembrar que eu continue que é... pra eu continuar. Quando

Page 84: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

84

eu estou muito triste, acontece alguma coisa, é incrível?! Eu falo assim, que

quando a gente pede pra Deus, a gente tem que pedir pra Deus. Quando a

gente quer muito uma coisa, pedi pra Deus que ele permiti. Então eu peço

quando eu estou muito triste e parece alguém pra me falar uma coisa, é

incrível! É... é... só sentindo, não dá mim explicar pra vocês, eu consigo

entender que aquela pessoa chegou pra me fortalecer, pra mim continuar e não

é por acaso, nada é por caso, nada...

Infelizmente no trabalho, tem que se afastar pra fazer o tratamento e

depois de um ano, fevereiro de 2016, fez um ano. Eu voltei toda feliz da vida

pra... Pra UNIMED, eu iria passa pelo Dr. e fui conversar com a enfermeira que

eu tinha certeza absoluta que eu iria voltar a trabalhar e ela falou que eu não ia

voltar a trabalhar. Por que fica com baixa imunidade, têm as outras coisas, o

próprio ambiente por ser no hospital e ela falou que eu não iria voltar. Eu fiquei

arrasada, arrasada... Arrasada... Por que eu tinha a certeza absoluta que eu

iria voltar, eu estava contando os meses pra voltar a trabalhar, aí foi aonde que

nada é por acaso e eu não voltei a trabalhar, mas eu comecei a estudar. Então,

estou ocupando meu tempo, hoje... Hoje eu fui ao médico e ele falou assim é...

por que sempre pergunto: “Quando tempo eu tenho de vida”? E ele falou:“que

não importa quando tempo você tem de vida, o que importa o que você esta

fazendo com seu tempo de vida”. Então, que é pra eu viver o hoje... Fui no Dr.

e no cárdio, por que o coração depois de uma quimioterapia, o coração

também fica enfraquecido, ele fez os exames realmente está enfraquecido e

passou uma medicação. Aí falei que não iria tomar remédio não, que não...

Que eu não quero, passa uma atividade, passa alguma coisa alternativa. “Flor

de Lótus não tem mais o que fazer, você já faz uma atividade física, seu

coração já ficou enfraquecido por causa da quimioterapia é uma coisa

irreversível”.

Então agora tem que entrar com uma medicação. Mas estou pensando

ainda se eu vou tomar medicação.Depois que você perguntou com o tempo de

trabalho, ai eu voltei... Com dois anos, eu falei, eu já estava até me

programando, vou voltar trabalhar, continuar estudando até aonde eu

conseguirestudar, por que trabalhar e estudar, por que eu trabalho em dois

hospitais vai ser difícil, mais eu vou tentar, até aonde... Eu já estava me

programando, já estava isso na minha cabeça. Aí eu volto no Dr, repetindo os

Page 85: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

85

exames, o câncer voltou, aí não... eu não acredito. Então eu estou de licença

por causa disso ainda, hoje eu levei os exames pro Dr., o tumor continua lá e

por se hospital tem uma baixa imunidade e então não vou voltar trabalhar. E

hoje ele falou até de uma cirurgia no fígado e eu falei que não quero fazer

cirurgia, por que no primeiro momento que ele falou de câncer no fígado, ele

falou que não gostava de fazer uma cirurgia no fígado por se um órgão bem

vascularizado e é meio complicado, por mais que tem a regeneração do fígado,

é muito vascularizado, podia causar uma hemorragia, que é complicado e que

ele não faria. Aí hoje, ele falou de faze uma cirurgia no fígado e lembrei que ele

falou isso, e eu não quero fazer (risos)... Ah Dr. vamos esperar mais um pouco,

então vamosver até onde vai.

A princípio, eu busquei outros diagnósticos... Eu fui pra Campinas,

passei acho que em três médicos lá. Eu tenho uma tia que mora lá, me levou e

passei nos médicos eles falaram que faríamos mesmo que o Dr. fez aqui. Voltei

pro Dr. quando o Dr. falou pra mim que não tinha mais o que fazer que a

metástase tinha voltado, eu fui pra Barretos e fiz todos os exames em Barretos,

conversei com vários médicos lá e eles falaram que era pra eu continuar aqui

em Lins com o Dr., que mesmo que o Dr. fez, eles fariam lá. Então eu estou

aqui... eu procurei outras opiniões e todos falaram a mesma coisa. Por que o

problema é a metástase e o câncer desde quando descobri, comecei lê um

pouquinho e o tratamento é o mesmo. Como os outros oncologistas disseram o

médico que vai determinar uma diferença aqui, uma diferença ali, se vai fazer

uma cirurgia primeira ou se vai fazer uma quimio. Oque que vai fazer primeiro,

vai depender de médico pra médico. Então o padrão fica sendo tudo a mesma

coisa. Então, aí eu preferi ficar aqui em Lins, por que aqui em Lins eu vou

sozinha, eu pego meu carro, eu marco, eu conheço o Dr., converso com ele,

vou sozinha, ninguém precisa me acompanhar. Em Campinas minha irmã foi

junto, meu irmão foi junto, em Barretos um monte de amiga, cada dia ia uma

amiga junto, então aqui eu me viro sozinha e a gente não quer dá trabalho pra

as pessoas. Então eu pensei, já que o tratamento vai se tudo igual, eu fico aqui

em Lins, por que na hora que eu estou mal, eu pego meu carro eu vou pra

UNIMED, eu mesmo vou lá faço uma internação, fico internada, é... Eu me viro

(risos). E se eu for pra outro lugar vou ter que fica pedindo pra um, pedindo pra

outro. Enquanto eu estive dirigindo, enquanto Deus estiver permitindo, por que

Page 86: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

86

eu pedi pra Deus que eu não quero ficar em cima de uma cama. Então...

Tudo... Tudo... Quando eu entro no meu carro eu lembro que eu pedi isso pra

Deus e eu agradeço, “Aí Deus obrigada, estou dirigindo ainda”. Todo dia, é...

Gratidão, né?! Todo dia, acordo... na hora que acordo, eu acordei... (risos)

obrigada Deus! E eu só tenho agradecer mesmo, as pessoas que chegam

perto, vocês, todo mundo que chega perto é gente boa.

Hoje, após todo esse processo... a Flor... Por mais que seja uma pessoa

sozinha, esta sozinha, eu não me sinto sozinha, por que eu acho que isso é o

que mais eu ficava preocupada, antes eu não queria ficar sozinha, eu não

quero ficar sozinha e hoje eu estou sozinha, hoje eu me viro sozinha, não que

isso é bom... se aparecer um namorado, que pode aparecer, mais eu consigo

me virar sozinha. Antes eu implorava para ex-namorado vim na quimioterapia

comigo e um monte de gente que realmente gostava de mim e queria vim eu

não deixei. Mas hoje se precisar fazer uma quimioterapia eu vou sozinha e não

vou triste, eu vou. Então eu acho que aprendi a ficar comigo mesmo, antes eu

não conseguia ficar sozinha, eu fico em casa sozinha, eu tinha que sair e hoje

eu fico sozinha e não fico triste. Eu aprendi que a gente não precisa implorar o

carinho de ninguém, quem gosta da gente vai ficar, vai dar um jeito. Hoje eu

me sinto mais feliz, mesmo com câncer! Eu me sinto!

Entrevista 2 - Lírio

Meu nome é Lírio. Tenho 45 anos. Eu trabalhava como monitora depois

passou para cuidadora e agora no momento eu estou encostada. Sou solteira e

não tenho filhos.

A minha mastectomia foi realizada no dia 17 de setembro de 2016, e na

minha família tem o histórico de câncer, é uma prima do meu pai de 2º grau.

Então após o diagnóstico de câncer de mama, eu vivenciei sentimentos de...

Ah... eu fiquei assim, mais preocupada com a cirurgia em si no momento.

Mais... eu me apeguei a Deus e fui firme crendo que ele iria fazer o melhor pra

minha vida... Ah, desde o momento que descobri eu já... O médico já me

informou da cirurgia. E aí eu... Eu encarei assim com toda a força e coragem.

E assim, na vida após a cirurgia... Ah, isso eu acho que mudou tudo

(risos)... Essa é a parte mais difícil. Eu acho que mudou bastante por que, é...

Page 87: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

87

Você não se, é... Quando você vai para espelho, você veja que... Um corpo

diferente. Então você vê que é uma parte tua que não tem, nunca mais vai ser

igual. Então, isso doí lá no fundo, e... Isso acha que é o mais difícil, e também a

perca do cabelo, que a gente sofre pela mulher ser um pouco vaidosa e a

gente acaba sofrendo bastante, e... Achei que isso é a parte mais triste da

história. Mais assim, todo momento tem que agradecer a Deus por que eu tive

uma nova chance de vida, enquanto muitas pessoas não tem essa

oportunidade eu tive. E não houve nenhum momento, nunca questionei por

isso.

A minha rotina mudou. Ah... Mudou, era muito elétrica. Então, eu podia

fazer tudo e hoje não possodevida alergia, devido ter feito o esvaziamento das

axilas, e tirar os linfonodos, então isso incha muito. Então, atrapalha. Então,

tipo assim, às vezes até quero estar num lugar, mas eu não consigo ficar muito

tempo, devido... a cirurgia e também o medicamento que eu faço o uso dele

contínuo.Ah... e a notícia da menopausa precoce?! Então...Quando eu recebi

essa notícia eu fiquei sabendo lá em Jaú mesmo, e não foi por médico, nem

por enfermeiro, foi por pessoas que faziam a radio mesmo e aí realmente eu

fiquei bem abalada. Quando eu sai de lá e que fui para pousada, eu chorava

muito.

A minha família me deu todo apoio. Sim, se não fosse eles! Tem muito

apoio, me ajuda o tempo todo, muito apoio mesmo!Ah... Foi tudo! Foi tudo, foi

meu porto seguro. Porto seguro!

Já na minha vida social, afetiva e sexual nunca tive mudanças,

euconsigo, consigo. E nessa época eu estava sozinha... Mais isso eu tiro de

boa, não teve mudança nenhuma.

E nunca enfrentei preconceito em relação a doença, não... não enfrentei

não. É... Eu sinto assim que a pessoa pensa: “poxa que dó”. Mas assim, por te

amizade comigo mesmo, por ser minhas conhecidas, minhas amigas ficaram

chocadas, teve gente que não conseguiu vir aqui em casa me visita, então

encontrava na rua. Mas assim, não como um preconceito.

E, ah... No momento eu não sou satisfeita com meu corpo,

provavelmente o ano que vem sim. Mas no momento não, ainda não, fiz a

reconstrução. Eu já fiz a reconstrução, mas como é... o tumor era maior do que

o esperado, então vou ter que fazer novamente, ficou para o ano que vem.

Page 88: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

88

Além disso, você engorda demais, engorda muito (risos) e... tipo assim, o seio

ele não fica mais igual, diferente. Então, quer dizer, sei que não fica igual

nunca mais, como eles mesmo falam que não vai ficar igual nunca mais. Mas

aí então... acho que vai ficar um pouquinho melhor, o ano que vem, é minha

esperança (risos). Em relação ao cabelo?! Ah... do cabelo incomoda, bastante.

É, então... Incomoda assim que eu gosto de cabelo cumprido, não gosto de

cabelo curto, por isso que incomoda, por que sempre tive o cabelo cumprido,

então é isso que incomoda. Mais... Isso é o de menos também.

Na verdade assim, desde o diagnóstico até a mastectomia... eu tentava

me acalma, pra passar tranquilidade para minha família também e confia... tive

o tempo todo a minha fé, muita fé que tudo iria correr bem. Então, foi o que eu

me apeguei, não tinha outra coisa assim, que eu sabia que eu tinha que tirar e

tinha que se tirado todo e não apenas o quadrante. Mais então foi isso que fiz,

é... até o dia da cirurgia. Fiquei ansiosa, mas eu queria que os dias passassem

assim muito rápido, para chegar logo o momento da cirurgia, mesmo por que

não era certeza de fazer quimio ou não. Eles não tinham essa certeza, eles

falaram que era mais provável que não, do que sim. Mais depois tive que fazer.

Todo o processo é doloroso, mais assim... eu acho assim, que o

tratamento que eu fiz, as quimios, as rádios. Assim a quimio não foi muito

difícil, a radio já foi mais difícil, eu sofri mais com a radio. Por que eu comecei a

entrar num quadro depressivo, mais devido assim, ficar ouvindo muita gente,

ficar ouvindo muitos casos, ver pessoas falecendo, ver pessoas que fizeram a

cirurgia e assim depois de três meses apareceu em outra parte do corpo. Então

isso realmente começou a me deixar um pouco depressiva e que depois tive

que viajar todos os dias, por que eu comecei, eu não estava dando conta de

fica lá, como eu ficava antes. Eu fiquei três semanas, duas semanas e meia e

depois comecei a viajar todos os dias.

Então, o Lírio, após todo esse processo... Nossa é difícil... Ah... (choro)

bem... eu acho assim depois que se passa por uma dificuldade dessa (choro)

você está, você aprende muita coisa... Você veja que você não é ninguém

nesse mundo e que você tem que ter muito mais amor pelo próximo, que você

tem que valoriza cada minuto que você vive... Por que depois você não sabe o

que vai acontecer com você, não é? Por que queira sim, queira não, a nossa

vida modifica, é outra vida. Então a vida que passou, não vai ter mais, então

Page 89: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

89

cada um tem que aproveitar seu dia, tem que fazer aquilo que você gosta

aproveitar o máximo, por que realmente você tem que aproveitar o máximo!

Entrevista 3 – “Borboleta”

Meu nome é Borboleta. Tenho 47 anos e trabalho como cabeleireira.

Sou casada e tenho 2 filhos. Minha mastectomia foi realizada no dia 04 de

maio de 2016 e eu tenho histórico da doença na minha família, a minha irmã,

tem prima, tio da parte do meu pai.

No primeiro momento, após o diagnóstico eu vivenciei sentimentos, ah...

o sentimento de tudo...de... Assim, meu chão abriu para mim quando eu fiquei

sabendo. É... Porque assim, como eu tinha... Vivi caso na família, minha irmã

que é mais próxima, eu tinha perdido ela há pouco tempo, aí eu achei que... eu

ia passar por tudo que ela passou. Que iria ser... É... Tudo... Tudo que ela

passou, pelo problema que ela teve, com o câncer que ela teve, eu achei que

iria passa pela mesma situação. Mais graças a Deus foi diferente! No meu caso

eu fui curada, e ela não teve a chance e infelizmente faleceu.

Eu tive medo da morte. A gente tem quando fala câncer. Você... A

primeira coisa que se pensa, “a vou morrer”! Principalmente quando você já viu

casos na família, tanto do meu lado, como do meu esposo também. Eu

também vivenciei junto com meu esposo a perda do irmão dele, que também

faleceu de câncer. Logo em seguida teve outro irmão dele que teve câncer,

mais graças a Deus foi curado! Então é...Gente muito próxima a nós, próximo

mesmo! Assim... Tanto minha irmã, meus cunhados, agente sempre estava

juntos.

E após a mastectomia, vivenciei sentimentos de assim... foi... tristeza ao

mesmo tempo alegria, porque eu... o médico... me... Ele falou pra mim que eu

já não tinha mais líquido, que já tinham tirado de mim, e pelos exames que fez

da axila que tiram, eles esvaziaram a axila para ver se tinha também algum

câncer ali, mais graças a Deus não tinha nada! Era só naquele local mesmo.

Então, assim, ao mesmo tempo de tristeza por que eu... Eu perdi meu seio,

né?! Teve que fazer a mastectomia radical que eles falam, e ao mesmo tempo,

saber que eu estava quase que livre daquela doença.

Page 90: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

90

É... Assim, engraçado que assim, eu sabia que eu iria ter que passar

por todas as etapas. Mesmo que meu médico mastologista, disse: “é bom, você

vai precisar só da radio, por que o que tinha que fazer a gente fez, tirou, então

acho que não vai precisar de quimio”. Ele até ficou surpreso quando eu falei

que... que eu fiz a quimio, eu passo no mastologista e ele que me encaminhou

para o oncologista, e quando o oncologista optou por fazer a quimio, achou

melhor fazer, mesmo por que ele falou: “a operação foi um sucesso, mas para

não... você tem caso na família e assim... para prevenção, como prevenção

gente vamos fazer a quimio e talvez nem precise da radio”. No final eu tive que

fazer os dois (risos). Aí... é... A radiologista é outro e a quimio é um, e o

oncologista da quimio e o radiologista da radio, por que ainda ficou pele, fez a

radical mais ficou pele, ela achou melhor fazer a radioterapia também.

E diante dessas perdas, eu senti sentimentos... Assim, eu sabia que eu

tinha que passar por isso para... por que era para meu melhor. Mais assim... a

gente fica triste, às vezes da aquele sentimento, fica meio desanimada, parece

que... Que bate uma depressão. Mais aí, bom... Tem que passar por isso, não

é ninguém que vai passar no meu lugar, e eu que tenho que passa. Mais

assim... a gente vai vivendo.

A minha família me deu muito apoio. Primeiramente a Deus, depois a

família, as amigas que a gente tem as meninas que aqui trabalho até o tempo

que eu fiquei afastada daqui eu... eu sabia que eu podia deixar nas mãos

delas, que iria está bem cuidado que iria está em boas mãos. Apoiaram-me

bastante, principalmente meu marido, meu marido sempre do meu lado todo

tempo, foi primordial... Foi tudo, família!

Na minha vida após a mastectomia, então é... Não tem muita coisa que

muda. Assim, no meu serviço graças a Deus, tudo continua o mesmo jeito. Aí...

pegar peso, não posso mais pegar peso, não posso fazer muita força com o

braço, por que foi esvaziado a axila procuro não fazer muita força. No meu

serviço eu procuro fazer menos tempo, menos hora do que fazia antes, para

não esforçar tanto, mais eu faço tudo normal.

Na vida social, afetiva e sexual, não, nenhuma, normal. Às vezes as

pessoas até falam pra mim, nossa nem parece que você é... Teve um câncer,

não parece! Assim, o jeito de você agir é normal, natural, em momento nenhum

me atrapalhou em nada. Assim... na minha convivência, no meu trabalho, só

Page 91: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

91

mesmo no período que tem que ficar afastada, mais depois... (risos). E, graças

a Deus, não enfrentei nenhum tipo de preconceito, não, não.

Após a mastectomia ainda não estou satisfeita com meu corpo, porque

ainda está faltando um pedaço de mim. Tanto que eu estou bem ansiosa para

poder fazer a reconstrução da mama. Assim... Não que vai se igual, por que eu

já andei vendo como que é... Que nem a aréola, o bico do seio não vai se igual.

Tem que fazer tipo uma tatuagem para ficar parecido. Não tenho data ainda,

semana que vem, eu vou passar pelo mastologista e a gente vai começa a

conversar sobre isso, ele falou o ano que vem, mais não tem data ainda. Eu

fico envergonha até hoje, não me troco perto de ninguém, eu uso uma prótese,

tipo um... que põe no sutiã. Mais assim perto de ninguém, nem meu esposo,

perto dele não. Entre mim e ele não mudou nada, mais é da minha parte, eu

fico constrangida, com vergonha de me mostrar, tanto na relação sexual, eu

procuro está coberta pelo menos a parte de cima (risos). Mais graças a Deus

ele me entende, meu marido foi uma benção pra mim gente, até hoje, ele me

entende!

E os meios que eu busquei para enfrentar a mastectomia?! Com certeza

foi à fé que eu tive em Deus, tudo que eu fazia primeiramente eu buscava em

Deus! Eu orava muito, eu pedia muito, usava muito minha fé e depois minha

família!

Já q queda do cabelo, eu acho que foi a fase mais crítica mesmo. Por

que a gente tem o cabelo... Meu cabelo era no ombro, eracumprido e assim...

que a primeira coisa que eu perguntei para o médico, quando ele falou que

tinha que fazer aquimio: “e meu cabelo Doutor vai cair?” Ele falou: “cabelo cai e

nasce, e vai nascer ainda mais bonito”. Acho que não sei... pra toda mulher. Eu

falo, por que como eu sou... aqui no salão a gente lida com cabelos de cliente

mulher a todo momento. E a gente vê, que elas tem muita vaidade com o

cabelo. Então, assim... pra mim... a todo momento eu fala assim: acho que não

vai cair, por que tem gente que não cai, não é (risos)?! E eu não queria

acreditar, até que eu comecei a passar a mão no cabelo e vi que estava

saindo, e eu falei: “não, vou ter que corta”. Eu cortei ele curtinho, mesmo assim

não para... a gente ah... pensa que cortar curtinho vai para de cair, mas não

parou de cair. No mesmo dia eu cortei ele curtinho, e eu raspei. Já raspei logo,

por que é chato fica caindo muito cabelo assim. É... pela casa, se vai lavar

Page 92: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

92

passa a mão ele sai. Por que quando você está na fase da quimioterapia é...

ele não nasce, aí depois que você termina a quimioterapia, já começa a cresce!

Aí... depois acho que de 6 meses mais ou menos, resolvi colocar um aplique,

ele já estava uns 4 dedos crescido, e eu coloquei aplique. Ah... (suspiro) cabelo

é...

Hoje, a Borboleta, após todo esse processo, é uma mulher mais forte, eu

me sinto mais forte do que era antes. É... Assim... Lógico que tem momentos

assim, que... a gente fica meio assim, pra baixo. Parece que vem aquela...

aquela, meio depressão, você pensa em tudo. Que nem eu penso em tudo que

eu passei e estou aqui hoje. Que nem a minha irmã mesmo, não teve essa

chance, ela foi embora muito cedo, mais nova que eu. E eu tenho assim... um

sentimento de agradecimento a Deus, as pessoas que me apoiaram, as

meninas aqui, meu esposo, minha família, gratidão! E... É isso!

Entrevista 4 – “Íris”

Meu nome éÍris. Tenho 64 anos. Sou aposentada, no momento do lar.

Sou viúva, nem sei fala essa palavra direito... (risos). Tenho 3 filhos. A minha

mastectomia foi realizada no dia 18 de novembro de 2016, mais na minha

família não tem ninguém como histórico da doença, ninguém, ninguém.

Após o diagnóstico do câncer de mama você sabe, eu praticamente

assim, não vivenciei nada pelo fato de... de eu estar muito em Deus! Eu tive

muito em Deus! Eu pedia muito pra Deus, mesmo na hora da ciru... Encontrei

um, um médico também que era católico, vivia com a imagem de Nossa

Senhora na roupa. Então aquilo pra mim foi um conforto, de ver que ele

também era de Deus! Então eu falei: “quem vai agir aqui vai ser Deus na minha

vida!” Então, eu não senti nada, não senti dor, eu não senti desespero... A

única coisa que falei pra você, foi esse dia que eu senti no fundo do poço, mas

por causa ter perdido muito sangue, muito... fora disso nada, nada... Fala para

vocês que senti alguma dor que quando saí do centro cirúrgico!... Não...! Pois

eles me chamavam para levantar e eu só falava assim: “quero comer” (risos).

A notícia da cirurgia da mastectomia, aí... Eu... Normalmente! Pra mim

não tinha diferença por que eu pensava assim: “já estou de idade!” E depois

logo que cheguei no hospital, o médico falou pra mim: “nós estamos com uma

Page 93: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

93

equipe grande aí, e nós vamos retirar sua mama e já vamos colocar...” Então,

quer dizer, não é uma coisa que você fala assim, eu vou ficar sem mama, sem

nada. Então, ele já fez a retirada e já colocou. Então pra mim não... não me

afetou em nada. Pra mim foi assim... Normal.

Após a mastectomia a mudança na minha vida foi...Ah, esse... Foi mais

os procedimentos de vida, que você tem que regrar o que se vai fazer. Muitas

vezes não podia por uma roupa no varal. Hoje eu estou super feliz por que eu

consigo levantar a mão, eu não conseguia... Isso aqui pra mim o médico disse

que era o máximo e pra mim o máximo é isso... (risos). Então eu acho assim...

que pra mim não... Não teve. Assim, mudança por causa do tratamento, que

você vai lá, não tinha sossego, era toda semana, era toda semana, era toda

semana...Mais os afazeres do dia-dia eu continue fazendo mesmo! Doía um

pouquinho, eu parava mais fazia. Não deixei ninguém fazer nada. Eu mesmo

fazia comida, fazia tudo... Quando ele me liberou... Eu enfrentei mesmo! Ah!

Como dizer, eu não posso dizer que sou sozinha, eu vou fala que sou

sozinha?! Eu tenho um Deus! Eu tenho um Deus maravilhoso que está sempre

me ajudando, então...

E tive sim apoio da minha família. Tive meus filhos que ficaram muito

assim, sabe?! Ficaram bem sensíveis a isso e tiveram carinho comigo. Minha

filha até queria que eu fosse embora com ela... Eu falei: “ah... vou sai da minha

casa pra ir embora... não vou. E depois, filho é filho, genro é genro”. Então, eu

preferi... Fiquei sim! Fiquei uns cinquenta dias na casa desse meu filho. Por

que minha nora é aquela assim: tanto faz, como tanto fez. Se ela tiver que

conversar com você ela conversar, se ela não tiver, ela entra no quarto dela e

fica. Então... Fazia-me o que eu precisava, se eu precisava ir aqui e ali, ela

levava, nunca achou ruim. Ela fazia curativo no meu seio quando ficou aberto,

ela quase desmaiava, mais fazia (risos). Ela ia para o hospital e eles retiravam,

por que deu gangrena, deu aquela massa preta, e o médico a tirava quase

desmaiava lá dentro vendo aquilo. Ela falou assim: “a senhora não sente dor?”

Não sinto nada! Meninas, incrível, incrível, incrível! Por isso que eu falo pra

vocês, se a mão de Deus não estava ali?! Eles costuravam a minha mama sem

anestesia, sem anestesia... por que disse que isso daqui não dói, ele fala que

não doía. Apertou de um lado, outro do outro, e assim, o outro foi costurando e

puxando, só senti que puxava assim. E quando chegou aqui em baixo assim,

Page 94: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

94

que ele desceu, “eu estou sentindo”. Ele fez duas anestesias locais, e termino a

cirurgia. Mais ela me ajudava. Ela que olhava. Muitas vezes, esses dias mesmo

que eu estava queimada, eu tenho coragem de mostra pra ela, não para os

meus filhos, pra filha sim, mais os filhos não! Ela olhou e falou: “tá realmente, tá

queimado, precisa se cuida...” Ela é muito boa, uma mulher muito boa!

Na minha vida social as mudanças... Ah fala pra você... Eu não tenho

vida social, por que eu não podia ter contato com ninguém. Por causa do meu

tratamento, da quimioterapia, eu não podia está em lugares cheios de gente,

eu não podia está em lugar contaminado. Então quer dizer, pra mim, fui privada

de bastante coisa, de não sair e de não ir, por não poder ter contato, por que se

alguém tivesse alguma doença eu estava (pausa), pronta pra pegar. Então, eu

não podia ir, eu tinha que ficar em casa. Para igreja mesmo, eu só fui... acho

que comecei ir em abril, depois de três meses que eu comecei, isso lá no fundo

sozinha, nem para frente, nem ficava no meio do pessoal, não ficava. Ainda a

turma me chamava: “vem pra cá!”. Eu dizia: “não posso, eu tenho que ficar aqui

sozinha”. Por que se a pessoa respira, espirra, então você pega o vírus, e ele

falou pra mim: “você não pode frequentar lugares lotados.” Quer dizer que foi

uma exclusão da sociedade por que... Pra mim mesmo, pro meu bem. Já na

vida afetiva e sexual não, eu não tenho vida sexual por que sou viúva. Já não

tinha... ele morreu já vai fazer três anos. Então quer dizer, no próximo ano já

apareceu minha cirurgia, minha doença. Então... e nem penso, não quero

homem na minha vida. Eu quero Deus! Eu falava pra ele que eu tenho um

homem lindo, lindo na minha vida, só eu que vejo (risos).

Assim, o preconceito no meio social, ah... Eu trouxe assim, por que a

indiferença é muito grande por que as pessoas olham pra você já com aquele

olhar de curiosidade, ou de muitas vezes, eu assim... é... Penso comigo: “ah,

essa aí mereceu, essa aí não presta, não é verdade?!” Muitas vezes a pessoa

pode não falar pra você, mas dentro de si! Observa que você está sem cabelo,

observa um monte de situação, mais só que eu, no meu físico assim, pedir a

cor do rosto. Então eu acho assim, que eu fiquei muito curada. Por que eu fazia

tratamento certinho, eu não saia de dentro casa. Só vivia dentro de casa, eu

nunca nem saia pra fora. Ficava dentro de casa o tempo inteiro, era bordando,

era deitada, era assistindo um programa de televisão, mais eu não saía não.

Muitas vezes meus filhos chamavam: “vamos mãe em tal lugar”, e eu falava:

Page 95: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

95

“não vou”. No aniversário dos netos também, não fui, por que tinha gente

diferente. Eu me cuidei o tempo todo, e como diz assim... turma me olha na

igreja: “se você não tivesse sem cabelo, ninguém falava que você teve câncer”,

por que sempre me mostrei assim.... Mostrei-me alto astral, nunca lá embaixo.

Por que pra me deixar lá embaixo precisa muito!

Eu estou satisfeita com meu corpo após a cirurgia, por que só assim...

só de saber que eu já não estou... Que a doença foi retirada, pra mim foi uma

glória, por que você já pensou?! Não tive metástase, eu não tive nada. Por que

muita gente que tem tudo isso. Isso aí é um teste, como diz... É um teste muito

triste na vida da gente, quando muitas vezes você vai lá no hospital e a pessoa

fala “eu tenho metástase”. Gente é terrível, por que você corta num canto, abre

num outro, tira de um canto... e eu não. Graças a Deus, a única parte que veio,

veio para o braço e ele nem veio para o braço por que ficou encapsulado. Meus

três nódulos ficaram encapsulados. Então, não teve jeito veio pro braço por que

já era, por que de certo já era ramificação daqui. Mais foi retirado dez, tirou o

linfático inteiro do braço, diz que não ficou nada! O médico falou pra mim, você

não tem mais nada. E meu câncer era um câncer mais simples, por que tem o

que é... dos piores. Por que tem três fases o câncer, e ele falou para minha

filha que o meu era do mais simples. Então eu fiquei satisfeita! O importante é

que quando eu soube eu queria retira, não importava que eu ficasse sem

mama, não importava nada, por que eu não tenho essas coisas não! Eu acho

assim, como diz, eu quero entrar no céu (risos), com minha alma limpa, sem

língua, sem pé, sem mão, mas... (risos).

A minha força maior foi Deus! E eu sempre tive uma fé muito grande por

que só com essa revelação que eu tive dentro da igreja, pra mim foi assim...

por que você sendo católica, você tendo uma fé firme em Deus, Deus não

desampara você, em momento algum! Você só cai por que você não tem fé em

Deus! Por que tudo você vence! Eu por mim, eu pensava, por que foi a doença

da minha mãe, doença do meu marido, doença do meu padrasto e depois, logo

minha?! Então, quero dizer, foi um teste bem duro pra mim. Mas eu... eu me

sentia sozinha, me sentia vazia, mas depois eu pensava assim... Aí um dia na

igreja o padre falou assim: “tem uma pessoa que está sentindo tão sozinha,

mas Deus mandou falar pra ela que ele pôs um anjo lá pra tomar conta dela”.

Então aquilo me preencheu. Nossa! Se Deus colocou um anjo pra mim, o que

Page 96: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

96

eu quero mais?! Não preciso de mais nada! Pra mim... se não tenho medo?!

Medo do que?! Tranco a minha casa, deito, apago todas as luzes, deito e

durmo muito bem. E não gosto que ninguém vem tirar a minha paz, os outros

falam: “ah, vou dormir na sua casa!” Eu digo: “não vem não, pelo amor de

Deus! Deixo-me fica sozinha (risos).” Isso desde que meu marido faleceu. Tem

gente que sai de casa, fica fazendo tudo àquela cena. Eu não, eu já encarei de

cara. Tratei dele até o fim, morreu nos meus braços, minha mãe morreu nos

meus braços. Eu fiz a minha parte, não abandonei um segundo sequer. Então,

eu não posso ter sentimento nenhum de culpa. É ele que não se tratou, é ele

que não se cuidou, então... Eu não tinha nada de fala assim... Engraçado, por

que eu já tinha feito um implante dentário, e eu brincando, vindo da ginástica,

que eu frequentava muito ali.

Eu fiz computação, eu sou uma pessoa de interagir, eu não quero ficar

parada, e brinquei com minha amiga, só faltava agora eu tirar um pouco do

meu seio, por que meu seio estava arrastando aqui, por que deu mama. Ela

falou assim pra mim: “sabe o que acontece? Isso aí o, veio pra você por que

você falou você vai ter que pedir perdão pra Deus”. Daí eu fui confessar, falei

pra Deus, que Deus me desculpasse por que eu queria uma cirurgia Senhor,

mas não por inteiro (risos). Não precisava ser por inteiro assim, Senhor. Eu

pedi do nada e o Senhor me deu inteiro, já me deu com problema (risos)?!

Todo mundo falava que foi uma loucura tirar tudo. Ele reconstituiu essa mama,

por que reconstituindo ele vê se tem alguma coisa. E aí já colocou a prótese.

Ficou meio torta, tudo, mas ninguém vai ver. A gente tem mais que louvar e

agradecer que eu estou com vida, não sabem até quando que eu vou viver,

mas quero viver intensamente pra Deus, para os meus filhos, para os meus

netos e bola pra frente!

Entrevista 5 – “Beija-Flor”

Meu nome é Beija-Flor. Tenho 68 anos. Eu fui professora e secretaria,

hoje estou aposentada. Soudivorciada e tenho 4 filhos. A mastectomia foi

realizada em abril de 2015. Na minha família não tem nenhum histórico da

doença, a não ser a família mais distante, mais irmão não, prima teve.

Page 97: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

97

No momento do diagnóstico de câncer de mama eu fui forte, o médico já

explicou tudo, já sabia. E pra mim foi normal, tudo normal. A minha família me

deu muito apoio, muito apoio.

Na vida social, afetiva e sexual não tive mudanças. Na sexual não, por

que não tinha marido. Não, ah... Nãoser assim, por não andar, mais tive que

ficar em casa. E nunca enfrentei preconceito no meio social não, graças a Deus

não!

Hoje após a cirurgia sou satisfeita com meu corpo, eu penso que estou

curada! Estou bem, mas se voltar eu estou aberta.

E sempre busquei o apoio em Deus, sabia que Deus estava na frente.

Hoje sou a mesma, fico em casa, eu só queria andar. Voz tem como substituir,

agora andar não.

Observação: Beija-Flor teve um AVC, que deixou sequelas, como dificuldade

para andar e falar. Devido a essas limitações, a entrevista foi seguida seu

roteiro, mas respeitando os limites da participante.

Page 98: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

98

ANEXOS

Page 99: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

99

ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

Page 100: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

100

Page 101: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

101

Page 102: AS VIVÊNCIAS DO LUTO SIMBÓLICO EM MULHERES … · concreta; o luto simbólico: as mortes em vida; as interveniências psicossociais no auxilio do enfrentamento da doença e a ressignificação

102