as vÁrias faces de beyoncÉ: a construção de um ídolo e sua transformação midiática
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Este trabalho busca desenvolver uma análise sobre a construção do ídolo Beyoncé e o reflexo disso em sua imagem perante a seu fã-clube e à mídia. Baseando-se em entrevistas, matérias sobre a cantora, pesquisas de campo com os fãs e textos teóricos sobre celebridades, ídolos e fã-clubes, esse estudo faz uma relação da trajetória da cantora com sua imagem. Observando os passos da artista ao longo da carreira, é possível fazer uma análise seguindo e relacionando conceitos de idolatria, mito, indústria do entretenimento, celebridade e pós-modernidade.TRANSCRIPT
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ:
A construção de um ídolo e sua transformação midiática.
Alexandre Levy Gomes de Sá
Matrícula: 1211885
Monografia apresentada como exigência
parcial para conclusão do curso de
graduação em Comunicação Social,
habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Profª Drª Cláudia Pereira.
Rio de Janeiro,
2015.
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RESUMO
Este trabalho busca desenvolver uma análise sobre a construção do ídolo
Beyoncé e o reflexo disso em sua imagem perante a seu fã-clube e à mídia. Baseando-se
em entrevistas, matérias sobre a cantora, pesquisas de campo com os fãs e textos
teóricos sobre celebridades, ídolos e fã-clubes, esse estudo faz uma relação da trajetória
da cantora com sua imagem. Observando os passos da artista ao longo da carreira, é
possível fazer uma análise seguindo e relacionando conceitos de idolatria, mito,
indústria do entretenimento, celebridade e pós-modernidade.
Palavras-chave: Beyoncé, Idolatria, Mito, Indústria do entretenimento, Cultura pop,
Internet, Celebridade.
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
CAPÍTULO 1: ÍDOLOS, ESTRELAS, MITOS E CELEBRIDADES ........................... 7
CAPÍTULO 2: A TRAJETÓRIA DE BEYONCÉ ....................................................... 10
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DE SUAS ESTRATÉGIAS ............................................... 21
3.1 O ALTEREGO SASHA FIERCE ...................................................................... 21
3.2 O DISTANCIAMENTO DOS FÃS E DA MÍDIA............................................. 25
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 35
3
INTRODUÇÃO
As pessoas veem as celebridades e acham que a
vida delas é incrível, que eles têm dinheiro,
fama, fãs e que quase são intocáveis. Mas eu sou
um ser humano. Eu choro, sou extremamente
sensível, eu me magoo e tenho medo. Fico
nervosa como todo mundo. Sempre foi um
conflito pra mim, quanto de mim devo revelar?
Como mantenho a minha humildade? Como
mantenho o meu astral e a realidade? Como
continuo a ser generosa com meus fãs e minha obra? Como me mantenho atualizada mas com
sentimento? Este é o conflito da minha vida.
(Beyoncé sobre a sua vida de celebridade em seu
documentário biográfico Life Is But A Dream,
EUA, 2013).
O trabalho busca analisar de que maneira se constrói um ídolo, uma celebridade,
com contextos relacionados aos usos e práticas dos indivíduos com a mídia.
Compreende-se que as estrelas, os ídolos e as celebridades são, antes de tudo, produtos
midiáticos. Produtos midiáticos estes que precisam se transformar na tentativa de se
destacar e eternizar sua figura nos meios de comunicação e na sociedade.
Um ídolo é reconhecido através da construção de sua imagem pela mídia. Ele
precisa ter algum feito na sociedade para ser reconhecido e alcançar a posição de
idolatria, para ser digno de celebração, reconhecimento e reverência (HELAL, 1999)
(MORIN, 1989) (FRANÇA, 2014). Esta construção depende da sociedade e dos seus
costumes. Cobrar que eles sejam autênticos é uma construção recente na história. Após
o romantismo, a qualidade deixou de ser associada à imitação e passou a ser diretamente
ligada a autenticidade (INGLIS, 2012). Ainda sim, desde a mitologia grega, a palavra
“diva”, que hoje é relacionada à condição de um ídolo feminino poderoso, possui uma
definição que possui a mesma origem do significado até hoje.
4
“Diva – substantivo feminino.
1. divindade feminina; deusa.
2. fig. mulher da qual alguém fez sua musa inspiradora.”1
Por ter quase 20 anos de carreira, a cantora Beyoncé acompanhou grandes
diferenças de comportamento com relação à mídia e ao comportamento da sociedade. A
artista se lançou no mercado quando seu público comprava álbuns em lojas físicas, a
pirataria era uma prática mais rara e era extremamente necessário dar entrevistas e fazer
aparições em mídias de massa para a divulgação de seus lançamentos. Para alcançar os
seus objetivos de vendas, os artistas tinham que divulgar o seu trabalho de forma maciça
para o seu público. A análise prossegue a partir da construção de imagem de uma
menina de Houston em uma diva dos dias atuais e como os seu público acompanhou
esta mudança. A transformação de discurso e postura da cantora com relação à mídia, as
estratégias de lançamentos, o uso de sua imagem são alguns dos objetos a serem
citados.
Desde os anos 90 até os dias atuais, Beyoncé mudou completamente sua posição
diante aos fãs e mídia. A relação da cantora com os admiradores e como isso influencia
na imagem que ela passa também faz parte do estudo. Aqui é realizada uma pesquisa
documental para analisar esta transformação e uma comparação de sua relação com a
mídia.
Por obter uma carreira de sucesso na indústria fonográfica desde seus quinze
anos até os dias atuais, a construção de sua imagem foi moldada passando por diferentes
fases que mostram a sua força midiática. Com passos calculados, a cantora transformou-
se ao longo de sua carreira mostrando diversas faces como: a líder do grupo Destiny’s
Child, a própria Beyoncé (solo), a Queen Bey, a Sasha Fierce, até a atual Beysus
(comparação feita pelos fãs da cantora com uma figura religiosa). A análise é embasada
com conteúdos de diferentes fases da superstar para reforçar os conceitos teóricos
apresentados.
1 Definição a partir do link
https://www.google.com.br/search?q=dicionario&oq=dicionario&aqs=chrome..69i57j69i59j69i60l3.1601
j0j7&sourceid=chrome&es_sm=93&ie=UTF-8#q=diva+defini%C3%A7%C3%A3o
5
Conceitos como idolatria, celebridade, mitos, ídolos e estrelas são importantes
para compreender como as celebridades constroem a sua imagem utilizando as mídias.
Dentre diversos autores, destacam-se Ana Maria Tepedino (2011), Edgar Morin (1989),
Fred Inglis (2012), Lígia Lana (2012), Maria Claudia Coelho (2003), Patricia Coralis
(2014) e Vera França (2014).
Para a análise do tema, este estudo é baseado em três capítulos. O primeiro
capítulo possui um caráter introdutório ao assunto. Ao falar sobre um ídolo, é
importante conceituar o termo e compreender a sua origem. O surgimento dos primeiros
ídolos e o significado deste conceito são pontuais formas de entender como uma figura
humana pode se aproximar de divindades a partir de uma projeção de imagem. O
capítulo também conceitua termos como “Estrelas”, “Astros”, “Mitos” e
“Celebridades”, a sua importância social, além da diferença entre cada um. Nesta parte é
importante compreender o papel do ídolo na sociedade atual e como ele é visto pela
mídia e pelo público.
O segundo capítulo situa a história de Beyoncé. Com caráter biográfico, este
ponto é necessário para entender sua trajetória e o porquê de sua figura ter sido
escolhida como objeto de análise. Durante esta seção são detalhados os principais
lançamentos da cantora, os seus resultados e como isso influenciou o resto de sua
estratégia. Suas peculiaridades e características são colocadas em discussão durante esta
fase do estudo. Após a apresentação dos conceitos e a descrição de sua carreira, é
possível ter a base para o entendimento da figura da artista, para que assim comece a
análise dos objetos de pesquisa.
No terceiro capítulo temos a análise de duas fases importantes na carreira da
cantora: o alterego Sasha Fierce e sua fase de distanciamento da mídia e dos fãs.
Durante esta parte do estudo há um aprofundamento nas questões de sua construção na
condição de ídolo e como isso reflete na sua imagem atual. Os conceitos teóricos são
colocados para a compreensão de estratégias utilizadas em certas situações por Beyoncé
e sua equipe. Nesta fase do estudo também é possível fazer um breve comparativo da
artista com outras cantoras.
6
Nas considerações finais, é feita uma sucinta síntese geral das ideias
apresentadas durante o estudo. Após compreender os conceitos teóricos e colocá-los nas
situações de carreira da cantora, é feita a conclusão do raciocínio. Ao finalizar o tema,
são colocadas algumas questões para possíveis futuras pesquisas e alguns
questionamentos para autorreflexão. Durante esta seção também são colocados os
desafios e as questões pessoais que surgiram durante o trabalho.
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CAPÍTULO 1: ÍDOLOS, ESTRELAS, MITOS E CELEBRIDADES
É comprovado antropologicamente que o ser humano precisa de um sentido para
a vida (TEPEDINO, 2011). Esse sentido é por muitas vezes, realizado pela adoração e
pelo culto a deus, ídolos e/ou natureza. Se não Deus, o culto pode ser transformado de
uma figura religiosa para uma pública. A adoração de uma figura humana pode trazer
diversos frutos da imaginação transformando o real em situações imaginárias. “Um mito
é um conjunto de condutas e situações imaginárias. Essas condutas e situações podem
ter por protagonistas personagens sobre-humanas” (MORIN, 1989, p. 26). Ao definir
mito, Edgar Morin demonstra que personagens que estão rodeados do imaginário
humano possuem uma imagem de divindade, acima dos mortais ou seres humanos
comuns.
Figuras públicas e pessoas famosas são construções que existiram durante todos
os momentos da história humana (FRANÇA, 2014). As figuras públicas são pessoas
que ocupam cargos ou posições que dizem respeito à vida coletiva de uma sociedade
(FRANÇA, 2014). Já ao falar de celebridades, estaremos lidando com um fenômeno
que acontece há não mais de 250 anos. Este conceito é relativamente recente na história
da sociedade. Com as transformações sociais do século XVIII, começaram a surgir os
novos meios e figuras de culto (INGLIS, 2012). A celebrização era ligada às pessoas
das elites de poder político, econômico, religioso e cultural (TORRES, 2014). Com a
invenção da indústria da moda, um novo consumismo e o começo da circulação de
jornais em massa, o culto às celebridades passou a ser um novo produto. A invenção da
moda, principalmente em Paris, começa a gerar curiosidade naqueles que criam
tendências. O novo consumismo, principalmente em Londres, tornou a forma de
consumir produtos mais descartável e instantânea. Já a circulação de uma mídia em
massa, com suas novas colunas de fofocas, ajuda a disseminar o imediatismo dos cultos
às figuras públicas. Até então, as primeiras celebridades autênticas eram formadores de
opinião em jornalismo literário, cientistas e amigos de poetas (INGLIS, 2012).
Após as transformações sociais do século XVIII, as celebridades passaram a ser
aquelas que eram referência de tendências ou aquelas que estavam nas mídias de massa.
A partir de então temos o conceito de celebridade mais próximo daquele que
conhecemos nos dias atuais. A vida polêmica do Príncipe Jorge IV, futuro Rei da
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Inglaterra, no Pavilhão Real, por exemplo, contribuiu para que a sua figura de herdeiro
passasse para uma figura de celebridade, o que o tornou digno de culto (INGLIS, 2012).
Com o surgimento do cinema e do rádio, a massificação e o imediatismo
passaram a ser as prioridades da informação. A narrativa humana começou a se tornar
popular, e com a criação de Hollywood surgiram os termos “Astro” e “Estrela”. A ideia
de tornar a vida privada em uma história a ser acompanhada passou a ser uma
ferramenta de incentivo ao desejo. Desejo este que passa a transformar as sensações
humanas, como: paixão, aspiração e expectativa. Se com o cinema mudo os estúdios
controlavam de forma cuidadosa cada detalhe da vida privada da equipe dos estúdios de
gravação, após a introdução do cinema sonoro, essas informações eram necessárias para
a publicidade, a divulgações do filme (MORIN, 1989). De acordo com Edgar Morin
(1989), os atores se tornam astros durante esta época de transformação da indústria
cinematográfica, e assim, eles se tornam mais próximos aos espectadores. John Potts
(2009) destaca o surgimento dos paparazzi nessa época com o fortalecimento da mídia
como instituição. A partir de então, os ídolos do entretenimento e do consumo se
tornam as maiores figuras de culto (LOWENTHAL, 2006) e por si passa a sustentar a
existência da instituição por meio da criação de heróis (LANA, 2012).
Na antiguidade, a palavra ídolo se referia a estátua, imagem que se presta ao
culto e à adoração (FRANÇA, 2014). Seu significado deixou de ter cunho religioso e
sagrado para as pessoas tornarem-se mais admiradas e conhecidas naquilo que
representavam. Ou seja, o ídolo é originário de uma pessoa famosa, porém não
necessariamente a figura pública é um ídolo (FRANÇA, 2014).
Na visibilidade midiática, a construção das celebridades requer preparação,
exigindo uma atuação teatral que resulta em um espetáculo para ser visto (LANA,
2012). Cada passo, ação, visual e resposta devem ser milimetricamente pensados na
construção de uma celebridade. A equipe de assessoria da personalidade pública
trabalha junto com as mídias, as relações públicas, o cabeleireiro, o maquiador, o
estilista e o resto da equipe para a construção transformação ou fixação de imagem do
artista. Quanto mais consolidada é a celebridade, mais profissionalizada é sua equipe
(LANA, 2012).
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O que é dito ao público deve ser pensado para que não haja uma má
interpretação, uma compreensão errada de palavras e, consequentemente, isso afete a
imagem do ídolo. A mídia legitima o ídolo. Ela faz uma ponte entre o fã e o ídolo
(HELAL, 1999). Em relação à vida privada, as celebridades fazem um jogo de mostrar e
se esconder. Muitas afirmam que não falam sobre a vida pessoal, mas acabam revelando
alguns fatos íntimos (propositalmente) de vez em quando (LANA, 2012). Estes fatos
íntimos são importantes para a legitimação da existência do ídolo como ser humano. Ou
seja, a humanização do ídolo é importante para mitificá-lo (HELAL, 1999).
Para uma celebridade ser considerada um herói, ela deve ter um feito que as
destacam (HELAL, 1999). A diferença entre a celebridade e a estrela é que a estrela
possui um mérito (filme, feito histórico ou recorde) para estar em evidência, já a
celebridade precisa estar em destaque na mídia. Mesmo que efêmera, a celebridade
constrói a sua fama a partir de mitos, ou seja, por realidades distorcidas (BARTHES,
2001).
A visão da celebridade como produto a transforma em um assunto de estudo
publicitário e midiático. O papel da mídia na construção de celebridades é evidente.
Ainda sim, não é possível afirmar que tudo o que aparece na mídia é dotado de fama
(FRANÇA, 2014). Para tornar-se uma celebridade é necessário ser bem-sucedido de
alguma forma durante a exposição. O conceito de celebridade é proveniente de três
fontes: o lugar de destaque, o desempenho e o culto pela exposição (FRANÇA, 2014).
Utilizando teorias de marketing, é possível concluir que assim como produtos, as
figuras da mídia podem não alcançar o sucesso de público (FRANÇA, 2014).
A formação de um ídolo na sociedade moderna é pensada e calculada a partir de
mitos reproduzidos pelas mídias e pelas reações do público, e dias atuais, os ídolos são
da música, da moda, dos esportes, da política e das artes. (HELAL, 1999)
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CAPÍTULO 2: A TRAJETÓRIA DE BEYONCÉ
Beyoncé Giselle Knowles nasceu no dia 4 de setembro de 1981. Desde então, a
artista consagrada nos dias atuais, foi treinada pelo pai para se tornar uma grande diva
pop. Em um bairro de classe alta em Houston, no Texas, Beyoncé ensaiava arduamente
dentro de casa junto com outras cinco meninas para que juntas se tornassem um novo
grupo de R&B (HURST, 2010).
O grupo Destiny’s Child era agenciado pelo pai da cantora, que tinha grandes
interesses em tornar este sonho em realidade. Fortemente inspirado em Michael Jackson
e Jackson 5, assim como Diana Ross e The Supremes, a cantora que liderava um grupo
de sucesso iniciaria um longo caminho ao estrelato. Certa vez, Kelly Rowland, uma das
integrantes do grupo, disse para a Revista What que todas as suas companheiras faziam
aulas para aprender como se comportar em entrevistas, além de ter que ensaiar mais de
oito horas todos os dias. (HURST, 2010) Este tipo de comportamento mostra a ideia de
Matthew Knowles, pai de Beyoncé, em transformá-las em pessoas da mídia.
Na verdade, eu não gostava muito de brincar, de ficar lá na rua com os
amigos, eu nem mesmo pensava naquilo. Eu só queria era ficar lá em casa
assistindo vídeos e cantando, aquilo era a melhor coisa do mundo. Aquele era
o nosso único sonho; era nossa vida. Não nos sentíamos realizadas quando
não estávamos em cima de um palco. (Beyoncé apud HURST, 2010, p. 24)
Nos dias atuais, o Destiny’s Child ainda é o grupo feminino que mais vendeu2 na
história. Após mais de seis anos de sucesso, com o grupo, Beyoncé seguiu carreira solo
e começou a investir no título de popstar solo.
Beyoncé conquistou fãs desde a origem do grupo. Com a separação dos
integrantes, em 2004, a maioria dos fãs se manteve fiel à líder e a segue até hoje.
Embora tenha fases diferentes durante sua carreira, a cantora procurou manter aqueles
que sustentam a sua imagem sempre por perto e de forma organizada. No ano de 2012,
2 Em 2006, o World Music Awards afirmou que Destiny’s Child é o grupo feminino que mais vendeu
discos de todos os tempos. O título permanece até os dias atuais. Disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Girl_group, acessado em 18/11/15.
11
Beyoncé nomeou3 o seu grupo de seguidores por “Beyhive” (em inglês, significa algo
como “colmeia da Bey”). Além do nome, ela publicou em seu site um vocabulário
especial para os fãs se comunicarem e se identificarem entre si. A partir de então, estes
seus seguidores passaram a ficar ainda mais unidos e fiéis. O conceito de colmeia
constrói uma imagem de cooperatividade entre os fãs e a superioridade de uma “abelha-
rainha”, no caso, Beyoncé.
Enquanto cantava em grupo, pode-se entender a imagem de Beyoncé como uma
preparação para aquilo que vinha a seguir, sua carreira solo. No Destiny’s Child, ela era
a cantora principal, logo a que tinha mais exposição na mídia também. Com este
destaque, ela era alvo de polêmicas e a responsável - junto com seu pai - por diversas
trocas de integrantes do grupo e favorecimento de imagem.
Em 2003, para o início de sua construção como artista solo, Beyoncé reuniu sua
equipe formada por um coreógrafo, um estilista, uma diretora de criação e uma
profissional de relações públicas 4 que permanecem com ela até os dias atuais e lançou
um álbum com músicas de autoria própria. “Eu queria mostrar meu amadurecimento
como artista, cantora e compositora”, disse Beyoncé à United Press International
(Beyoncé apud HURST, 2010, p.75).
Figura 1: Capa do álbum Dangerously In Love, primeiro álbum da cantora em carreira solo.
Fonte: http://www.outrapagina.com/blog/wp-content/uploads/2013/06/Beyonce-original-album-cover.jpg
3 Disponível em http://www.beyoncenow.net/2012/04/beyhive-tem-seu-proprio-vocabulario-agora-confira/, acessado em 23/09/2015
4 Frank Gatson Jr., Ty Hunter, Kim Burse e Yvette Noel Schure, respectivamente fazem parte da equipe
criativa da cantora há quase duas décadas. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Frank_Gatson,_Jr., http://www.allure.com/beauty-trends/blogs/daily-
beauty-reporter/2015/05/beyonce-stylist-ty-hunter.html, https://www.linkedin.com/in/kim-burse-
4892ab12/pt, http://www.out.com/beyout/2014/04/08/meet-people-behind-beyonc%C3%A9-yvette-noel-
schure acessado em 15/11/15.
12
Conforme observado na figura 1, a capa do álbum foi produzida a partir de uma
foto de Beyoncé em um estúdio fotográfico. A capa tem o objetivo de marcar a imagem
solo da cantora para que assim ela passasse a ser reconhecida como Beyoncé e não
apenas como uma das ex-integrantes das Destiny’s Child. O figurino utilizado, embora
tenha bastante brilho, é visualmente simples. Um conjunto de brilhos que serviria como
blusa mesmo deixando-a seminua, e uma calça jeans do fotógrafo Markus Klinko, que
foi escolhido como figurino de última hora.5 O conjunto de peças criava um visual
casual e sensual, e marca a carreira solo da cantora com o apelo sexual.
Mesmo alcançando cinco hits na parada de sucesso Billboard6 com Dangerously
In Love, Beyoncé resolveu se reunir com grupo pela última vez antes de partir com sua
carreira solo. Este passo inicial de ida e volta como artista solo foi como um teste. Com
os resultados de sua independência satisfatórios, a artista voltou com o grupo para esta
despedida até 2005, quando seguiu definitivamente sem o grupo.
Em 2006, Beyoncé iniciou as gravações do filme Dreamgirls para interpretar
Deena Jones, personagem inspirada em Diana Ross. Embora tenha sido inspirada na
cantora dos anos 70, Beyoncé tinha muito com o que se identificar com o papel, visto
que Deena participava de um grupo e decidia seguir carreira solo. Deena Jones também
possuía uma história marcante de abuso emocional com características de submissão e
sensibilidade. Enquanto focava na produção do filme, a cantora preferiu não visitar
estúdios de gravações fonográficos se não fosse para os materiais da produção
cinematográfica. Após meses no projeto, Beyoncé estava inspirada para lançar um
álbum exaltando o empoderamento feminino. “Após interpretar uma mulher que
aceitava ser submissa, eu tinha tanto para dizer que eu gravei o meu álbum seguinte em
duas semanas”, disse a cantora em seu show Live At Roseland, em 2011.
Assim, ela lançou o seu segundo álbum: B’Day. Desta vez bem mais madura e
com um discurso feminista de empoderamento, o disco traz as primeiras características
de Beyoncé como uma mulher independente. Neste álbum, era necessário investir nesse
característica da cantora. Embora seu lançamento anterior tenha tido um forte destaque
na indústria fonográfica, o nome da cantora ainda era associado pelo público com o
nome do grupo ou com o rapper Jay-Z (com quem produziu o seu primeiro hit solo de
5 Disponível em http://www.intouchweekly.com/posts/britney-beyonce-and-gaga-get-shot-double-
exposure-stars-tell-all-21228, acessado em 19/10/2015 6 Disponível em http://www.billboard.com/artist/281569/beyonce/chart, acessado em 23/09/2015
13
sucesso, Crazy In Love). O B’Day estreou em primeiro lugar na Billboard, assim como
seu primeiro disco.
Com uma temática de mulher poderosa somado ao fato do álbum ser lançado no
dia de seu aniversário7 e com detalhes visuais que reforçam o apelo Bee, após este
álbum, Beyoncé recebeu o apelido de Queen Bey. O apelido acabou se tornando de uso
universal já que a união de seu nome com a palavra “rainha”, em inglês, e reforçava a
sua superioridade e poder. Além disso, as palavras Queen e Bey apresentavam o perfeito
conflito de personalidade da cantora. O encurtamento de seu nome dá um toque
delicado ao apelido, enquanto a palavra “rainha”, em inglês, lhe traz o empoderamento.
Ao unir os dois, confirma-se a dualidade de mito e humano da personalidade da cantora,
o que não funcionaria caso seu apelido fosse Queen Beyoncé, “Rainha Beyoncé”, de
forma traduzida.
Uma das faixas do álbum, Welcome To Hollywood8, é a apresentação de um
mundo de glamour e fama. Beyoncé iniciou o seu caminho ao estrelato dando boas
vindas a esta nova vida nesta faixa. Durante este disco, a cantora destacou a sua imagem
de poderosa e introduziu-se no mundo das maiores celebridades do mundo aparecendo
nas listas da revista Forbes.
A turnê deste álbum, The Beyoncé Experience (2007), tem um grande
investimento de produção e rendeu um DVD. Com mais de dez trocas de figurinos que
reforçavam a silhueta da cantora, o cabelo cacheado e bem volumoso, a maquiagem
mais luminosa, uma banda exclusiva formada apenas por mulheres e um palco
grandioso com uma escadaria e monitores de LED, Beyoncé investiu em um show com
muita coreografia e técnica vocal. Neste material, ela apresenta uma figura mais
madura, independente e com personalidade. Foi nesta fase que ela começou a ser
denominada de Diva.
7 O álbum B’day foi lançado mundialmente no dia 05 de setembro de 2006, em comemoração ao
aniversário de 25 anos da cantora. Explorando a temática de aniversário e amadurecimento da cantora,
Beyoncé foi convidada para comemorar e lançar no programa 106 and Park do canal BET o seu segundo
álbum solo. Disponível em http://www.tv.com/shows/106-and-park/beyonce-interview-and-birthday-
celebration-album-release-1215800/, acessado 07/11/2015. 8 Faixa disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VFekqd_V764, acessado em 18/11/15.
14
Figura 2: Beyoncé na abertura da turnê The Beyoncé Experience.
Fonte: http://www.etoday.ru/2007/07/22/concert03.jpg
Como pode ser observada na figura 2, a face passou a ser caracterizada por
expressões mais fortes, a maquiagem mais pesada e o cabelo chamando mais atenção
pela produção. Os figurinos a partir desta época começaram a ser planejados para
marcar mais sua presença. Beyoncé além de começar a usar peças exclusivas de grandes
estilistas, ela lançou sua própria marca de roupa House Of Deréon. Pela capa do álbum
é possível perceber a mudança de maturidade na imagem da artista. Beyoncé, nesta fase,
queria firmar o seu lugar na indústria fonográfica, e ao mesmo tempo mostrar que era
uma artista de qualidade independentemente de suas antigas companheiras de grupo. O
culto à performance passou a ser a prioridade da cantora.
No ano de 2008, Beyoncé lançou o seu álbum I Am... Sasha Fierce. Durante este
trabalho, o foco foi explorar o conceito de seu alterego Sasha Fierce e sua carreira
mundial. Com o objetivo de se firmar ainda mais como um ídolo superior, ela dividiu
sua própria personalidade em duas.
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Figura 3: Montagem da face de Beyoncé e de Sasha Fierce.
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-9s7dINWWKtI/VU_4KCw-
LRI/AAAAAAAABC0/e1nlUMwlErk/s1600/beyonce___i_am___sasha_fierce_by_fabianopcampos-
d36qqdv.png
A personagem criada, Sasha Fierce, era agressiva, cantava músicas uptempos9
com batidas mais pesadas. Além de ter mais liberdade sexual, ela possuía presença
marcante no palco, uma personalidade forte e destacava-se onde estivesse. Já Beyoncé
seria a menina tímida, com músicas de melodias mais lentas que falavam de paixões e
desilusões amorosas. Em entrevista para a apresentadora Oprah Winfrey10
, Beyoncé
explicou o significado da dupla personalidade. “Eu queria revelar mais sobre quem eu
sou. Algumas músicas são pessoais e íntimas, como as baladas românticas. E eu tenho a
Sasha Fierce para os fãs.” Ela também explica que a Sasha Fierce aparece em momentos
em que ela está nervosa, pronta para subir ao palco com cílios postiços e salto alto. Ao
fazer essa divisão, era possível compreender as duas personagens e ainda sim afirmar
que no final, a famosa Beyoncé é a mistura das duas. A cantora admitiu em entrevista
para a apresentadora Ellen Degeneres, em 2008, que a criação do alterego servia para
culpá-lo de atitudes ruins de sua real personalidade. A mulher meiga e admirável pela
sua voz poderia ser a Diva com um grande ego que ninguém se incomodaria.
9 Uptempo é um estilo de música com um ritmo acelerado, ou seja, acima de 120 bmp. Definição pelo site
https://pt.wikipedia.org/wiki/Uptempo , acessado em 22/10/2015 10 Entrevista para a Oprah. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=KrMl_eW9P6w, acessado
em 23/09/2015
16
Eu tenho dois lados diferentes na minha personalidade: aquele quando estou
no palco e aquele que realmente sou. Então eu decidi dar aos meus fãs o que
eles queriam e o que estavam acostumados. Que era aquela pessoa que estava
nos meus clipes como em Crazy In Love, que é a Sasha Fierce. Mas eu
também queria os apresentar quem eu realmente sou e dar a eles uma
conexão mais profunda com os meus sentimentos, com a minha sensibilidade
e com a minha vulnerabilidade. Quanto mais eu me acostumo, mais eu uso a
Sasha Fierce quando eu fico com medo ou quando eu preciso ser forte ou
mais dura. Então eu estou misturando as duas. (Beyoncé sobre sua personalidade dupla em entrevista para o MySpace11, de 11/11/2008)
Para reforçar essa divisão, Beyoncé passou três anos trabalhando neste conceito.
Como divulgação do I Am... Sasha Fierce, foram escolhidos dois singles12
para um
lançamento simultâneo: If I Were A Boy 13
e Single Ladies14
. O primeiro é uma balada
pop15
em que conta a história de uma mulher que está sofrendo na relação amorosa e
que tudo se resolveria caso ela invertesse os papéis. No videoclipe, Beyoncé aparece se
colocando no papel de seu companheiro. Já em Single Ladies, Sasha Fierce está de maiô
preto acompanhada de duas dançarinas. Seus topetes enormes, maquiagens pesadas e
roupas curtas mostravam um lado completamente diferente do outro clipe. Enquanto os
dois clipes possuíam efeito de imagem em preto e branco, os dois singles ao mesmo
tempo em que se contrastavam, estavam unificados em uma única pessoa: Beyoncé. If I
Were A Boy era um lado mais pessoal e romântico enquanto Single Ladies era mais
divertido e superficial, ambos lançados com videoclipe no dia 12 de outubro de 2008.
A terceira música de trabalho deste álbum foi Diva16
. A música bastante
agressiva descreve uma personagem descolada, famosa, com personalidade forte e que
está fazendo o próprio dinheiro. Com o refrão que diz “Eu sou uma diva”, Beyoncé
investiu em uma grande produção para o clipe da música. As roupas e maquiagens
extravagantes, a explosão de um carro, as coreografias bem marcadas e o efeito preto e
branco caracterizaram o terceiro clipe do álbum.
11 Entrevista para a divulgação do álbum I Am... Sasha Fierce em novembro de 2008. Disponível em
https://myspace.com/433223937/videos, acessado 23/09/15. 12 Single é também uma expressão popular usada como sinônimo da antiga expressão música de trabalho
ou música de divulgação, sendo uma canção gravada pelo artista que é normalmente considerada uma das mais comerciais de um já lançado ou futuro álbum, para ser lançada em rádios e outros veículos de
divulgação. A expressão é originada dos Estados Unidos. Definição disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Single, acessado em 29/10/15. 13 Videoclipe de If I Were A Boy https://youtu.be/AWpsOqh8q0M, acessado em 23/09/2015 14
Videoclipe de Single Ladies https://youtu.be/4m1EFMoRFvY, acessado em 23/09/15 15 Pop ballads (ou baladas pop) são músicas românticas com um bpm baixo e que geralmente falam de um
relacionamento romântico ou sexual. Definição pelo site Wikipédia.
https://en.wikipedia.org/wiki/Sentimental_ballad#Pop_and_R.26B_ballads, acessado em 22/10/15. 16 Videoclipe disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rNM5HW13_O8, acessado em 18/11/15.
17
A partir desta fase, Beyoncé contratou17
uma equipe para acompanhá-la no seu
dia a dia a registrar toda a sua rotina. Tendo este material em mãos, ela poderia
controlar o que ela gostaria e o que não queria que fosse divulgado. Durante o
lançamento do álbum 4, em 2011, Beyoncé divulgou um curta-metragem documental
sobre a produção do material e um longa-metragem sobre a sua vida pessoal chamado
Life Is But A Dream ( Beyoncé, Ed Burke e Ilan Y. Benatar, EUA, 2013)
O longa foi produzido intercalando imagens pessoais da cantora com seus
momentos marcantes ocorridos durante o ano anterior. “A Vida Nada Mais É Que Um
Sonho”, tradução de Life Is But A Dream foi uma fala dita pela própria cantora durante
uma parte do filme. Em um momento de descontração e felicidade da vida pessoal, ela
agradece a Deus pela vida que tem. O título do documentário remete a justamente essa
comparação do que é real e do que é sonho. Sua vida de sucesso profissional e
felicidade pessoal confundem Beyoncé do que é real e do que é imaginário. Em uma
interpretação de Erin Meyers (2009), Tatiane Costa ressalta que a celebridade não deve
ser compreendida em um discurso de verdadeiro-falso, já que todos os aspectos da
imagem de uma celebridade são produzidos e construídos.
O filme inicia-se tratando sua independência em relação a seu pai. A partir do
ano de 2011, Beyoncé anunciou que seria a responsável pela sua carreira e não mais seu
pai, Matthew Knowles. Com seu relacionamento paternal desgastado graças ao divórcio
com sua mãe e com novos objetivos profissionais, ela seguiu um novo caminho. “Eu
defini um objetivo. Minha meta era independência.”, afirma a cantora. A independência
de Beyoncé em relação ao pai fortalece a sua imagem de mulher independente. Desde as
Destiny’s Child, Beyoncé exalta o Girl Power e este passo que ela deu em 2011 ajudou
ainda mais a ressaltar sua característica empreendedora. Segundo a leitura de Genz e
Barbon pela autora Tatiane Costa, o girl power procura construir sujeitos femininos
independentes e confiantes na exibição de sua feminilidade, além de promover a
assertividade feminina, a autonomia no estilo de vida e na sexualidade e a celebração da
diversão e da amizade entre as mulheres.
Ao mostrar a produção de seu novo álbum, 4, e detalhes de sua vida pessoal,
Beyoncé inicia também uma reflexão sobre a indústria fonográfica e o desenvolvimento
17
Por seus lançamentos posteriores, é possível perceber que a equipe a acompanhava em lojas, shoppings, reuniões com a gravadora, no backstage da turnê e durante suas produções.
18
de sua carreira. Além de se comparar com o mercado atual e como sua forma de
consumo influencia em sua vida. “Sou uma artista que grava álbuns. As pessoas não
gravam mais álbuns. Elas só tentam vender singles rapidamente. E então, elas se
esgotam e lançam um novo. As pessoas nem ouvem mais uma obra completa”, declara
Beyoncé. Sobre a indústria de entretenimento, a cantora afirma que
Quando eu comecei, não tinha internet, pessoas tirando foto de você e
explorando sua vida pessoal como entretenimento. As pessoas passam por
uma lavagem cerebral. Você acorda de manhã, liga o computador e vê várias
fotos. E tudo o que você consegue pensar é nessas fotos. Você não vê o ser
humano. Eu acho que quando Nina Simone lançava uma música, todos
amavam a sua voz. Essa era a intenção dela. A voz era seu instrumento. Você não ficava obcecado com a rotina dela, o que seu filho vestia, com quem ele
estava namorando e tudo o que não era da sua conta. E não deveria
influenciar a forma com que a voz e a arte dela são ouvidas mas influencia.
(Life Is But A Dream, EUA, 2013).
A produção foi fortemente utilizada para mostrar o lado pessoal da cantora tão
desconhecido pela mídia. Ao citar sua relação com seu pai e revelar um aborto
espontâneo jamais antes citado, Beyoncé expôs sua vida íntima de uma forma nunca
feita anteriormente. Ela também comentou sobre o “quão ridículos” eram os rumores
sobre sua gravidez ser falsa. Por esconder a gestação até os cinco meses e por sair
apenas uma vez com a barriga à mostra, jornais do mundo inteiro replicaram um rumor
de que Beyoncé e Jay-Z utilizariam uma barriga de aluguel em segredo para terem um
filho. Mesmo que meses depois, ela fez algo que não faz com frequência – negar um
rumor de sua vida pessoal.
Desde este documentário, filmes que revelam detalhes pessoais passaram a ser
recorrentes em sua carreira. A cantora percebeu que com este tipo de material – que era
editado e divulgado por ela – poderia ter total controle sobre a sua imagem. Conforme
citado anteriormente, algumas celebridades afirmam que “não falam sobre a vida
pessoal”, mas acabam revelando alguns fatos íntimos de vez em quando (LANA, 2012).
Esta estratégia de revelar suas intimidades eventualmente passou a ser recorrente na
carreira de Beyoncé com o uso desses vídeos. As edições e os roteiros desses filmes
costumam ser parciais e venerando o seu esforço na vida profissional.
19
Nós não estamos por dentro de detalhes na vida da Beyoncé, mas Beyoncé
controla para que dê ao público apenas o suficiente para satisfazer as nossas
necessidades por celebridade. Ela faz seus próprios termos, e para uma
celebridade negra e mulher, ter esse controle, é impressionante e admirável.
(ARCENEAUX, 2015).
Com o lançamento do quarto álbum, Beyoncé começou a adotar uma postura
mais distante de seus fãs. Participou de não mais de dez entrevistas para divulgação do
disco, foi em poucos programas televisivos e deixou a mídia de massa de lado. Além da
mídia, Beyoncé também deixou de realizar Meet & Greet18
com seus fãs, atendendo
apenas ganhadores de promoções de patrocinadores.
Com o álbum BEYONCÉ, o quinto de sua carreira solo, adotou uma postura
completamente distante. Ela deixou de fazer entrevistas e apenas divulgou os filmes
documentais da produção do álbum em suas redes sociais. Essa estratégia de
distanciamento de fãs e da grande mídia é utilizada para adotar uma postura de
superioridade já que o difícil acesso ao artista ajuda na sua mitificação.
Figura 4: Capa do álbum BEYONCÉ, quinto álbum da cantora em carreira solo.
Fonte: http://www.portalpopline.com.br/wp-content/uploads/2014/03/beyonce_album_cover.jpg
É perceptível tal mudança ao analisar a capa do álbum. Conforme observado na
Figura 4, a capa é composta por um fundo preto e seu nome estampado em rosa. Ao
18 Evento onde os fãs podem conhecer e cumprimentar seus ídolos como um político famoso, um atleta,
uma estrela de filme ou um músico. Definição pelo site Wikipédia. https://en.wiktionary.org/wiki/meet-
and-greet, acessado em 23/10/15
20
utilizar estes poucos elementos, ficou claro que ela não queria destacar a uma foto de
corpo, como feito em todos os seus álbuns anteriores, mas sim, a sua qualidade do
material. O lançamento surpresa do álbum com 14 faixas e 17 videoclipes trazia um
conceito diferente para a indústria fonográfica. “A visão que está na minha cabeça é o
que eu quero que as pessoas passem pela experiência pela primeira vez ao ouvir o
álbum” (Beyoncé em entrevista19
ao anunciar o álbum autointitulado em vídeo no
Youtube, de 13/12/2013). A cantora estava propondo que seus fãs assistissem aos clipes
quando fossem ouvir suas novas músicas pela primeira vez para que assim entendam o
que passa na cabeça dela ao gravar suas faixas. O chamado Álbum Visual passa o
conceito que chama atenção para seu material interno, como o álbum completo e
imagens, e não externo, como o encarte ou lançamento de singles.
19 Disponível em https://youtu.be/IcN6Ke2V-rQ, acessado em 29/10/15
21
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DE SUAS ESTRATÉGIAS
3.1 O ALTEREGO SASHA FIERCE
Explorando essa dualidade, Beyoncé poderia ser Diva dos fãs e humana. Isso é
favorável para ela como celebridade, pois ao mesmo tempo em que ela é cultuada como
divindade, ela é humanizada. Em 2009, enquanto Beyoncé estava em turnê, ela marcou
uma visita ao Hospital Infantil do Câncer em Singapura e cantou três músicas: Halo,
Irreplaceable e Radio. Todas foram apresentadas nas versões acústicas que destacavam
o seu lado mais pessoal. “Profundamente humana, a estrela está sempre disposta a
manifestar sua ternura maternal com os inocentes, fracos e desprotegidos.” (MORIN,
1989) Para o mito, humanizar-se é garantir credibilidade e superioridade. (CORALIS,
2014) Os momentos foram registrados com filmagem profissional por sua equipe de
cinegrafistas. De qualquer forma, não era necessário, já que havia diversas crianças e
familiares gravando o momento. Ao postarem na internet, os vídeos se tornaram notícia
no mundo todo. Todos comentavam a ternura e solidariedade da cantora.
O conceito de dualidade de personalidade pode ser analisado como uma grande
estratégia de formação de imagem que acompanha a cantora até os dias atuais. Nas
biografias de ídolos, geralmente destacam a infância repleta de dificuldades e
simplicidade enquanto o talento é colocado como algo natural enquanto isso ajuda a
humanizar e mitificar a figura (HELAL,1999). Como a infância de Beyoncé não sofreu
por muitas dificuldades financeiras, já que era de classe média alta, a sua maior
dificuldade era a de se tornar uma artista de sucesso. Quando Beyoncé fala de sua
infância, ela destaca sua dificuldade em substituir a diversão por ensaios e a imaturidade
para o sucesso. (HURST, 2010).
A habilidade de Beyoncé em não ter muitas polêmicas na carreira e a sua
imagem de “boa moça norte-americana” é misturada à imagem de uma mulher que se
esforça nas suas produções e traz qualidade aos seus lançamentos. Para manter esta
imagem de ídolo perfeito, é preciso torná-la acessível, ao mesmo tempo que intocável.
Humana e Deusa.
A construção do endeusamento da cantora iniciada em 1997 prossegue até os
dias atuais. O título de Diva já é global e agrega às características da artista, como: o
22
empoderamento feminino, a poder de persuasão nos seus discursos e sua imagem
distantemente humana. “O amor e a admiração pelas estrelas só se transformam em
religião, portanto, para uma parcela do público” (MORIN, 1989). Os fãs da cantora
costumam venerar seu ídolo de forma tão exacerbada que muitas vezes ela é comparada
com Deus, Jesus entre outras figuras religiosas. A cantora chega a ser apelidada de
‘Beysus’ (neologismo entre o nome da cantora e Jesus) pelos mais fanáticos que
também desejam “Feliz Natal”20
no dia do aniversário da cantora. Isso comprova a
transformação da admiração dos maiores fãs em uma religião.
Nas aberturas dos últimos DVDs é notório, que com ferramentas de edição,
desde 2010, Beyoncé quer tornar esta imagem ainda mais forte. No DVD I Am... World
Tour, lançado em 2010, há diversos cortes para a plateia exaltando emoções fortes como
desmaio e choro de emoção, câmera lenta e jogos de luzes que geram contraste em sua
silhueta durante a abertura do show. Por alguns segundos, ela fica estática no palco de
frente para a plateia, enquanto esta aparece cultuando desesperadamente a imagem que
ali está presente. Com reações exageradas, seus fãs aparecem chorando e desmaiando
apenas por ver a figura da cantora em cima do palco. A mesma estratégia de abertura foi
utilizada nas turnês seguintes (The Mrs Carter Show Tour, 2013 e On The Run Tour,
2014). Este ritual de culto durante a abertura do show foi inspirada no Big Toaster de
Michael Jackson. Durante a abertura21
da Dangerous World Tour, em 1992, Michael
utilizou a ferramenta que o impulsionava para cima do palco e assim permanecia
estático por em torno de dois minutos. O público dos shows gritava histericamente a
cada pequeno movimento corporal. Este ritual e culto à performance reforça a imagem
de divindade e distanciamento do ídolo assim como a força de sua figura.
Outro destaque do DVD I Am... World Tour são as cenas inseridas no meio do
material em vídeo sobre a sua turnê. Beyoncé, ao redor do mundo, falando com sua
câmera sobre a sua vida pessoal e como estava se sentindo em cada fase daquele ano.
Como jamais visto antes, ela começou a divulgar momentos íntimos na sua vida
profissional. Dentre elas, é possível destacar três partes: Tomorrow I Am Sasha Fierce,
20 Fãs da cantora desejam “Feliz Natal” no dia do aniversário da cantora como uma comparação ao dia de
nascimento de Jesus. Disponível em https://twitter.com/beyoncenow/status/639634028757450752 ,
acessado em 23/09/2015 e https://www.facebook.com/memeonce/posts/1004708729550690, acessado em
23/09/2015 21 Vídeo da Dangerous World Tour de Michael Jackson em Buenos Aires no ano de 1993.
https://www.youtube.com/watch?v=0djtkhJrDOI, acessado em 23/09/2015
23
Smash Into You e Why God Gave Me This Life?. Em Tomorrow I Am Sasha Fierce,
Beyoncé aparece sem maquiagem e deitada em sua cama.
Estou no meu local preferido do mundo agora, ou seja, na minha casa. Estou muito empolgada, pois farei uma turnê mundial e também por causa deste
show. Mal posso esperar para mostrá-lo. Ao mesmo tempo, adoro minha casa
e sei que sentirei falta dela. Então, é melhor eu dormir como um bebê esta
noite porque, amanhã, eu serei Sasha Fierce, e não terá como voltar atrás.
Mas como ficarei fora por tanto tempo é melhor começar a ser Sasha Fierce
esta noite. (I Am... World Tour, EUA,2010).
Mostrando seu lado humano, ela deixa claro que a Sasha Fierce fará parte de sua
personalidade enquanto estiver em turnê. O seu olhar inocente com a cara de sono, seu
cabelo natural, seu rosto sem maquiagem e sua posição vulnerável em sua cama
mostram o lado humano da cantora. Em seguida, como uma forma de transformação, é
passado a cena da performance de Freakum Dress, uma das músicas mais fortes da
cantora já que fala sobre liberdade e independência feminina.
Durante a apresentação de Smash Into You, a cantora começa com vários vídeos
de Beyoncé em quartos de hotéis dizendo os nomes das cidades que está no momento.
“Eu estou na Romênia, e eu estou indo pra casa, porque eu sinto falta do meu amor”
(Beyoncé, I Am... World Tour, 2010). E então começa a performance da cantora. As
cenas dela fazendo uma contagem regressiva de forma animada para ver o seu marido
são alternadas com a cantora no palco cantando a música romântica que diz “Eu quero
correr em direção a você”. No final da performance, Jay-Z, o marido da cantora, aparece
assistindo a um de seus shows.
O lado pessoal da cantora dificilmente aberto a público passou a ser uma
ferramenta para a demonstração de sua dualidade. Mostrar as suas características
íntimas e pessoais é importante para a formação de sua imagem como uma estrela. Para
Morin (1989), as estrelas beiram entre feitos heroicos e traços ordinários, eles “são,
simultaneamente, magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente, ideais
imutáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga à dupla natureza teológica
do herói-deus da religião cristã”.
24
Já no final do show, um vídeo gravado pela câmera do computador da cantora
mostra em momento de fragilidade e sensibilidade. A cena Why God Gave Me This
Life? é um questionamento sobre o porquê dela ser tão sortuda e o porquê de Deus ter
dado este talento e esta vida a ela. No fim do vídeo, ela afirma que está vivendo seus
sonhos, o que reporta um lado pessoal e íntimo de Beyoncé.
Por que Deus me deu essa vida? Às vezes, é muito cansativo. Porque Deus
me deu o meu talento, minha dávida, minha família? Mas eu sei que não devo
questionar Deus. Então eu sou grata pela vida que ele me deu. Eu sou tão
grata. Eu estou viva e eu estou vivendo um sonho. Eu estou vivendo os meus
sonhos. (Beyoncé, I Am... World Tour, EUA, 2010).
Durante o encerramento, Beyoncé fez uma homenagem ao seu ídolo Michael
Jackson que faleceu naquele ano de 2009. Um vídeo mostrando a cantora na infância
dizendo que estava indo a um concerto de Michael acompanhado da música Halo que
ela dedica a ele. Vendo Beyoncé venerar seu ídolo, temos a cantora como reverente,
humana e como uma mulher comum. “É o extraordinário, o mito, juntando-se ao
ordinário, ao “homem comum” que tem seus ídolos e os reverencia” (HELAL, 1999).
Ao mesmo tempo, a sua postura de estrela não era deixada de lado. Estes dois lados de
sua personalidade foram importantes para a fase I Am... Sasha Fierce. “De fato, os
ídolos tem que conviver constantemente com o drama de ser dois: o homem e o mito”
(HELAL, 1999). “Eu olho a plateia e vejo a menininha que eu era quando via Michael,
Janet ou Tina Turner. E é impossível eu não dar 100%, pois eu me lembro de ser essa
garotinha. E ainda sou essa garotinha.” (Life Is But A Dream, EUA, 2013).
A “garotinha” citada pela cantora ressalta a sua inocência na infância e sua
humanização graças a essa pessoa presente até hoje dentro de si. Assim, fica claro após
diversas entrevistas e materiais que Beyoncé é o ídolo completo: perfeita sendo próxima
às divindades – o mito - e simples como qualquer ser humano – o homem.
25
3.2 O DISTANCIAMENTO DOS FÃS E DA MÍDIA
Em maio de 2014, Beyoncé se envolveu em uma polêmica que é conhecida
atualmente como a maior de sua carreira. Um vídeo vazado na internet pelo site de
fofocas TMZ22
mostrava imagens do marido de Beyoncé, Jay-Z sendo agredido
fisicamente pela irmã da cantora, Solange Knowles dentro de um elevador durante o
evento MET Gala 2014. Durante as imagens, Beyoncé permanece intacta enquanto seu
segurança tenta apartar a briga do dois. Por estarem em um dos eventos de moda mais
comentados do ano, ao saírem do elevador, haviam ali diversos paparazzi registrando o
momento. Beyoncé saiu sorrindo em todas as fotos sem deixar nenhuma margem para a
mídia sobre o acontecimento. Ou seja, se o vídeo não tivesse sido vazado, ninguém
saberia do ocorrido. As imagens sem som circularam o mundo inteiro e criou diversas
especulações sobre o casal e o motivo da briga, dentre elas um possível divórcio.
Beyoncé sofreu acusações de ser falsa por conseguir pensar primeiramente em sua
imagem durante um momento delicado como aquele.
A grande polêmica serviu de alerta para o público sobre a vida pessoal de
Beyoncé e quão polêmica ela pode ser, mesmo que ninguém saiba. Durante todo o ano,
a mídia aproveitou o acontecimento e a tornou capas de várias revistas de fofoca com
especulações e rumores de diversos níveis. Desde então, Beyoncé se afastou ainda mais
de entrevistas e o assunto só foi comentado por parte por ela apenas uma vez, alguns
dias após o ocorrido, quando foi divulgado um comunicado23
em seu nome, no de Jay-Z
e no de Solange.
Como resultado da divulgação pública das imagens de segurança do
elevador, na última segunda-feira 5 de maio, houve uma grande especulação
sobre o que provocou o incidente infeliz. Mas a coisa mais importante é que a
nossa família já superou isso. Jay e Solange assumem cada um sua parcela de
responsabilidade pelo que ocorreu. Ambos reconhecem seus papeis neste
assunto privado que foi jogado ao público. Ambos pediram desculpas um ao
outro e seguimos em frente como uma família unida (Comunicado à
imprensa assinado por Beyoncé, Jay-Z e Solange).
22 Vídeo disponível em http://www.tmz.com/2014/05/12/jay-z-solange-fight-elevator-video-beyonce-met-
gala/, acessado em 15/11/15. 23 Disponível em http://extra.globo.com/famosos/jay-beyonce-solange-divulgam-nota-sobre-briga-em-
elevador-nos-nos-amamos-12500787.html, acessado em 15/11/15.
26
Entre junho e agosto de 2015, Beyoncé foi um forte alvo de questionamentos24
sobre sua falta de proximidade com a mídia. Durante uma noite de junho, um
comercial25
para a manhã de teor sensacionalista de 15 segundos anunciando um
“grande pronunciamento” de Beyoncé seguinte causou grande comoção nas redes
sociais. Os fãs começaram a especular novos lançamentos, uma nova turnê e até uma
gravidez. O anúncio feito durante o programa Good Morning America, na verdade foi
gravado pela própria equipe da cantora e abordava uma indicação pessoal de um livro
vegano. Os fãs e a própria mídia acabaram se decepcionando com a situação.
Um artigo do jornal New York Times publicado em agosto questionou a sua
ausência na mídia e a falta de entrevista com Beyoncé. Nunca havia ocorrido antes na
história da revista Vogue uma edição de setembro sem a entrevista da pessoa em
destaque na capa. Outro artigo, publicado pelo site do VH126
(ARCENEAUX, 2015)
pergunta se Beyoncé voltará a fazer entrevistas algumas vez futuramente. “Porém, se o
presidente Obama pode fazer entrevistas no Youtube e no Reddit, por que Beyoncé não
poderia voltar aos talk shows ou à entrevistas comandadas por fãs para responder
algumas perguntas?” (ARCENEAUX, 2015).
A personagem de diva criada anteriormente pela cantora passou a dominá-la
midiaticamente e o lado pessoal de Beyoncé passou a ser mais sigiloso nos últimos
anos. Isso pode ser relacionado com a segunda fase da construção do ídolo para Ana
Maria Tepedino: a cosmética. “[Na cosmética] É muito forte o trabalho da Mídia sobre
a população. Nosso herói começa a ter uma imagem colada a eles mesmos, a tal ponto
que não se sabe mais distinguir quem é a pessoa, quem é o personagem.” (TEPEDINO,
2011).
Por não dar mais entrevistas, Beyoncé passou a ter o distanciamento e o difícil
acesso reforçando sua imagem de mito e a tornando uma figura ainda mais
reverenciada. Em tempos de reprodutibilidade técnica da arte, ser exclusiva é um
24 Artigo “Beyoncé é vista, porém não escutada” publicado e disponível em
http://www.nytimes.com/2015/08/20/fashion/beyonce-is-seen-but-not-heard.html?_r=0, acessado em
01/11/15. 25
Comercial disponível em http://www.dailymail.co.uk/video/tvshowbiz/video-1190389/GMA-teases-
AMAZING-Beyonce-announcement.html, acessado em 15/11/15. 26 Artigo “O anúncio de Beyoncé no GMA nos fez pensar: Será que ela fará uma entrevista verdadeira
novamente?”. Publicado em 12/06/2015. Disponível em http://www.vh1.com/news/27257/will-beyonce-
ever-do-a-real-interview-again/, acessado em 01/11/15.
27
privilégio, e isso aumenta seu valor como produto cultural. “Ainda que as novas
condições assim criadas pela técnica de reprodução não alterassem o próprio conteúdo
da obra de arte, de qualquer modo desvalorizam seu hic et nunc27” (BENJAMIN, 1936).
Lígia Lana (2012) cita as interações entre a mídia e a visibilidade da celebridade
classificadas por John B. Thompson em seu clássico A mídia e a modernidade (1995).
Os reis da antiguidade, por exemplo, permaneciam distantes de seus súditos. Após o
surgimento dos meios de comunicação, o que era distante passa a estar mais próximo.
“Os mandantes mais poderosos eram raramente vistos” (THOMPSON, 2008). Ao
perceber a distância de Beyoncé nos últimos anos, é possível destacar que ela mantém
essa estratégia de se manter exclusiva a fim de tentar firmar uma imagem de
superioridade e de difícil acesso.
Edgar Morin (1979) e Joseph Campbell (1995) observam a diferença entre herói
e ídolo. O herói deve enfrentar o sobrenatural e voltar para servir à sociedade. Enquanto
o ídolo vive para si. Com o objetivo de se manter um ídolo atemporal e eterno, nos dias
atuais, é importante ter um lado heroico. (HELAL, 1999) Humanizar-se é justamente
seguir este caminho para a eternidade como um ídolo, conforme citado anteriormente.
Nos dias atuais, as narrativas heroicas precisam ter um ponto de distanciamento e
impessoalidade para que haja a veneração da figura midiática como algo digno de culto.
Estas narrativas da vida e saga dos heróis, antes “elaboradas” a partir de uma
relação mais “próxima”, “amadora” e “pessoal” com o público, são, hoje em
dia, “midiatizadas” e “elaboradas” de uma forma mais “distante”,
“profissional” e “impessoal”. (HELAL, 1999)
Ao fugir diretamente da mídia de massa e divulgar filmes documentais
produzidos por ela mesma é possível além de controlar o que se quer mostrar, como
construir a sua imagem de herói na modernidade e aumentar o seu branding pessoal28
como um ídolo moderno.
27 Hic et nunc é o conceito de Benjamin para a autenticidade que só a obra original possui. 28 Branding pessoal é o processo pelo qual você constrói o seu nome profissional como uma marca.
Definição disponível em http://brandingpessoal.com.br/o-que-e-branding-pessoal/, acessado em
23/10/2015.
28
O afastamento de Beyoncé das mídias tradicionais traz também um resultado
positivo em suas mídias sociais. Em artigo da revista Cosmopolitan deste ano29
, a autora
Jenna Wortham comenta o caminho contramão que Beyoncé segue. De acordo com a
ela, as celebridades do mundo atual atualizam suas redes sociais com fotos do seu dia-a-
dia, já Beyoncé se recusa a seguir este fluxo. O Instagram da cantora é composto por
fotos tiradas com câmeras profissionais e legendas breves. Jenna Wortham acredita que
as redes sociais da cantora servem para passar a mensagem “Eu estou no controle, eu
tenho o poder e você terá o que eu te darei”. “Qualquer coisa que você veja postado ao
público passou pela aprovação dela. Cada pequeno detalhe.” (Lauren Wirtzer-Seawood
sobre as redes sociais de Beyoncé em entrevista para o jornalista Stuart Dredge).
Para a Wortham, se a interatividade nas mídias sociais serve de indicador das
vendas de um artista, o triunfo de Beyoncé é uma surpresa. Ela é uma das artistas com
mais sucesso e mais bem pagas em 2015. Ganhou cerca de 115 milhões de dólares no
ano passado e ficou no topo da lista das celebridades mais poderosas da revista Forbes.
Sua existência online é um contraste com outras artistas pop contemporâneas, como
Taylor Swift, que é engajada de forma direta com seus fãs – dando festas online,
criando listas de músicas para os fãs no Tumblr – e aumentando suas vendas de álbum e
ingressos para seus shows como um resultado deste comportamento. Beyoncé vive em
um planeta completamente diferente de outras como Rihanna e Nicki Minaj, que
regularmente postam piadas e se sentem com prazer respondendo fãs no Twitter e no
Instagram, publicando artes de seus fãs.
Com o lançamento de seu quarto álbum de esútdio, 4, em 2011, seguido de sua
gravidez, Beyoncé voltou à mídia com uma apresentação no show de intervalo do XLVII
Super Bowl, em fevereiro de 2012. Uma apresentação no intervalo da final da liga de
futebol americano é uma das maiores exposições mundiais que um cantor pop pode ter
atualmente. De acordo com uma pesquisa da Nielsen30
, a Billboard estimou que a
performance de Beyoncé foi assistida por 104 milhões de telespectadores
mundialmente. Após esta superexposição, Beyoncé anunciou uma turnê mundial na
tentativa de continuar seu trabalho se afastando da mídia e descansando a sua imagem.
29
“Beyoncé Exercises Control in All Instagram) Things — and the Result Is Flawless” Disponível em
http://www.cosmopolitan.com/entertainment/a39831/beyonce-internets-most-fascinating/ , acessado em
01/11/15) 30 Disponível em http://www.billboard.com/biz/articles/news/tv-film/1537723/beyonces-super-bowl-
halftime-show-draws-estimated-104-million, acessado em 06/11/2015.
29
Durante os anos de 2012 e 2013, o público de Beyoncé ficou especulando e criando
expectativa sobre o lançamento de seu quinto álbum.
O afastamento de Beyoncé das mídias também é uma estratégia para seus
últimos lançamentos. Visto que o afastamento é necessário para que o herói “volte
renascido, grandioso e pleno de poder criador” (Campbell, 1995), a cantora utiliza desta
estratégia para que o público sinta sua falta. Após o distanciamento ter seu tempo
necessário para a construção do endeusamento, a artista realiza um lançamento surpresa
e conquista o público novamente. O álbum BEYONCÉ foi lançado em dezembro de
2013, após um longo tempo afastada da mídia.
Durante a madrugada de 13 de dezembro de 2013, Beyoncé lançou seu quinto
álbum de surpresa exclusivamente na iTunes Store31
. Sem anúncio prévio, o lançamento
completamente inesperado, já que Beyoncé estava sem aparecer na mídia, foi divulgado
de forma online. Com um vídeo gravado 32
pela cantora dizendo que não queria que
ninguém desse a notícia do lançamento de seu álbum, se não ela, a cantora surpreendeu
ao mundo. Por ter sido um lançamento surpresa, seu quinto álbum bateu diversos
recordes33
de venda. Além de se tornar o álbum da cantora que mais vendeu na primeira
semana com 617 mil cópias. O álbum autointitulado foi o álbum feminino que teve a
melhor venda na semana de lançamento durante o ano de 2013. Estes recordes provam
que seu afastamento de Beyoncé das mídias foi uma estratégia de sucesso que ela
continua seguindo atualmente.
As pessoas precisam de um Deus para dar sentido às suas vidas. Quando não
acreditam em um Deus, as pessoas colocam um ser humano para substituí-lo.
(TEPEDINO, 2011). A partir dos exemplos dados anteriormente, é possível afirmar que,
nos dias atuais, os fãs da Beyoncé enxergam uma divindade na figura dela. Assim, é
cada vez mais difícil de alcançar sua figura. Os próprios fãs possuem dificuldades de
manter contato com a cantora, os paparazzi não conseguem registrar suas polêmicas, e
31 Loja virtual online de música e vídeo operado pela Apple Inc. Atualmente a loja mais importante do
mercado fonográfico. Definição pelo Wikipédia disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/ITunes_Store, acessado em 06/11/2015. 32 Vídeo “Self-titled: Part 1. The Visual Album”. Disponível em https://youtu.be/IcN6Ke2V-rQ acessado
em 09/11/2015. 33Recordes disponíveis em http://www.billboard.com/articles/news/5840086/its-official-beyonce-makes-
history-with-fifth-no-1-album , acessado em 06/11/2015.
30
suas produções passam a ser aclamadas pela mídia ao ser intitulada a Maior Artista do
Milênio34
em 2011.
Beyoncé está ciente de que no mundo do entretenimento atual é necessário estar
na mídia e abrir mão de sua privacidade para vender a sua arte. Diferentemente de
quando ela começou sua carreira, nos dias atuais a vida pessoal do artista se sobressai a
sua arte.
Acho que as pessoas têm uma ideia em mente dos artistas e celebridades. Acho que elas acham que a vida deles é perfeita. E é difícil passar por
experiências dolorosas quando se está sob os holofotes, pois é difícil ter
privacidade. (Life Is But A Dream, EUA, 2013).
Algumas artistas como Taylor Swift, Demi Lovato e até mesmo a brasileira
Anitta, que assim como ela no início da carreira, estão sempre presentes em diversos
canais de comunicação com os fãs, se encontram com eles após os shows, dão
entrevistas para a mídia e saem na rua publicamente. Beyoncé faz o oposto. Suas raras
aparições públicas são em suas férias, onde é geralmente registrada por câmeras
amadoras. Nos eventos considerados mais importantes do ano, sua presença é uma das
mais requisitadas e sabendo disso, ela aparece sempre nos últimos minutos de tapete
vermelho.
“No cenário mainstream35
da música pop comercial, a celebrização quase
instantânea de um cantor ou banda, acompanhada de uma sensação de onipresença de
seus hits e de sua imagem na mídia não é novidade” (COSTA, 2013). Com isso, seus fãs
criam uma distância, e ao invés de perderem interesse por falta de contato, passam a
venerá-la como uma figura divina de difícil contato. O contato da Beyhive com
Beyoncé, assim como os mitos, só pode ser realizado através de rituais. Esses rituais são
identificados como ouvir suas músicas, ver seus clipes, ir a seus shows, conversar com
outros fãs, ler notícias sobre ela e comentar nas redes sociais – mesmo que seja para
defendê-la de alguma forma. Como seus shows não são tão comuns, geralmente com
34 Disponível em http://www.billboard.com/articles/news/471664/beyonce-to-be-honored-with-billboard-
millennium-award-at-billboard-music-awards , acessado em 23/09/2015. 35 Mainstream é um conceito que expressa uma tendência ou moda principal e dominante. Definição
disponível em http://www.significados.com.br/mainstream/.
31
intervalos de anos em uma cidade, seus fãs costumam dar festas onde convidam outros
fãs e contratam DJs para tocarem as músicas da cantora.
Por criarem uma distância da cantora, ela passa a ser considerada intocável e
diva. Com isso, apelido de Beysus36
se torna cada vez mais comum entre os fãs. Na
internet, Beyoncé é apelidada desta forma pelos mais fanáticos que a veneram como
uma deusa contemporânea.
Figura5: Montagem de Beyoncé como Beysus
Fonte: http://www.musedmagonline.com/wp-content/uploads/2012/09/beysus.png
Mesmo não sendo uma celebridade que costuma divulgar suas intimidades,
Beyoncé acumula milhões de seguidores em suas redes sociais. São 14 milhões de
seguidores em seu Twitter37
com apenas quatro publicações no microblog. É a 5ª conta38
mais seguida no Instagram39
com 51 milhões de seguidores, onde diferentemente das
outras celebridades, publica fotos editadas profissionalmente, em sua maioria, e não
segue ninguém. No Facebook40
são 63 milhões de curtidas em sua página oficial, o que
a torna a 5ª cantora41
mais seguida na rede social.
36 Um dicionário informal dá a definição do apelido como “Nosso lorde, nosso salvador Beyoncé Giselle Knowles”. Disponível em http://pt.urbandictionary.com/define.php?term=Beysus, acessado em 18/11/15. 37 Perfil oficial de Beyoncé no Twitter disponível em https://twitter.com/Beyonce, acessado em 22/11/15 38 Dado disponível em http://socialblade.com/instagram/top/100/followers, acessado em 22/11/15. 39 Perfil oficial de Beyoncé no Instagram disponível em https://www.instagram.com/beyonce/, acessado
em 22/11/15. 40 Perfil oficial de Beyoncé no Facebook disponível em https://www.facebook.com/beyonce, acessado em
22/11/15. 41 Dado disponível em http://fanpagelist.com/category/top_users/view/list/sort/fans/page1, acessado em
22/11/15.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após analisar a construção de imagem do ídolo Beyoncé, é possível fazer uma
síntese geral do tema com algumas breves considerações. Desde o inicio de sua carreira,
a cantora foi treinada e moldada para ser um exemplo de figura midiática. O seu
comportamento, suas poses diante às câmeras, seus cabelos e suas maquiagens
combinadas à sua vestimenta eram excessivamente pensadas para a aparição pública
desde esta época. Ao compreender o papel da celebridade na mídia, ela reuniu uma
equipe que se mantém a mesma por quase duas décadas até os dias atuais. Este ato
mostra o seu desejo em se tornar um ídolo e em manter uma continuidade em seu
discurso artístico.
Analisando a carreira de Beyoncé durante este estudo, é possível concluir que
embora a cantora tenha lançado diversos materiais em diferentes épocas, ela seguiu uma
trajetória contínua e ascendente. Se a artista vive o seu auge quebrando recordes mesmo
após vinte anos de sucesso, é possível afirmar que sua estratégia obteve resultados
satisfatórios. Ao aprender a lidar com a mídia, ela alcançou um patamar diferente de
outras cantoras do ramo.
Enquanto estava iniciando a sua carreira no grupo Destiny’s Child, Beyoncé
tinha uma imagem de celebridade. Ao passar dos anos, com o planejamento midiático e
a carreira solo, ela se tornou um ídolo. Esta transição mitificadora tornou a fama de
Beyoncé de efêmera para algo eternizado. Mesmo que a cantora não faça mais sucesso,
continuará aparecendo na mídia, mesmo que esporadicamente, por aquilo que representa
nos dias atuais. Este processo de mitificação não ocorre de forma repentina e nem
apenas por um único acontecimento. A construção de um ídolo leva anos e pode ser
interrompida facilmente com apenas um pequeno erro de gestão de imagem.
A recepção do ídolo pelo público também é uma importante vertente a ser levada
em conta. Por demonstrar talento, esforço e carisma, o público do segmento possui
facilidade em aceitá-la positivamente. Durante toda sua carreira, Beyoncé alcançou os
topos das listas dos favoritos, o que confirma esta aceitação.
Aceitação tão positiva que atualmente surgem algumas críticas sobre seu
perfeccionismo e sua vontade de estar sempre no topo. O seu distanciamento da mídia,
33
ao mesmo tempo em que a torna intocável, a torna distante de seus fãs. Diante dessas
duas possibilidades, a atual é que ela é quase uma deusa, visto que seus fãs a comparam
com figuras religiosas dignas de culto. A grande questão é que na realidade Beyoncé
não é intocável. Ela é um ser humano e caso continue a se distanciar, pode tornar-se um
mito tão grande que seus fãs desistam de cultuá-la. Na era digital, os outros artistas do
ramo estão cada vez mais próximos de seus seguidores tanto virtualmente quanto
fisicamente. A maioria dos concorrentes da cantora pelo topo é vista como mais
acessíveis, até mesmo Madonna, a aclamada atual Rainha do pop.
Assim como apresentado durante o estudo, o ídolo precisa humanizar-se às
vezes para que ele seja cultuado como um mito. Em seus próximos lançamentos, como
seu próximo álbum, que está em produção atualmente, diga-se de passagem, Beyoncé
deve realizar alguma ação com o objetivo de humanizar-se. Caso contrário, seguindo os
teóricos estudados, ela pode vir a ter sua primeira grande crise de imagem de sua
carreira.
Algumas questões para futuras pesquisas podem ser destacas. Em uma época em
que cada vez mais é exigido o imediatismo e a proximidade, até que ponto este
distanciamento vai funcionar como uma estratégia? Até quando Beyoncé será capaz de
total controle de sua imagem? Será que o público vai se cansar deste perfeccionismo ou
vai venerá-la por estar sempre perfeita? Manter contato com o ídolo diariamente,
mesmo que não seja de forma pessoal, é uma rotina para um fã. Ler notícias, comentar
em redes sociais suas paixões e discutir os lançamentos com outros fãs são alguns dos
ritos para cultuar um ídolo. Ter o olhar imparcial e conseguir julgar as ações da figura
de culto é um desafio para o fã. Diferente de outros fãs, eu, fã da Beyoncé, tive certa
facilidade. Graças ao meu olhar de publicitário, desde que entrei na faculdade aprendi
que apenas sabendo separar os dois lados, eu poderia estudar e trabalhar no ramo. Ainda
sim, foi um desafio deixar os elogios de lado. Fazer um estudo sobre a construção de
seu ídolo, além de ser um estímulo, é uma pesquisa interessante e que faz você ter outra
visão sobre a mídia e sobre a própria personalidade.
34
Após a conclusão deste trabalho, é praticamente impossível não reagir de forma
completamente diferente a um comportamento ou anúncio da Beyoncé. O papel do
ídolo é fazer o fã não enxergar esta construção como algo calculado, e sim como um
processo natural e espontâneo. Hoje, mesmo que ela continue sendo um ídolo, posso
dizer que se todos os fãs da Beyoncé tivessem um mesmo olhar midiático, ela
provavelmente perderia um pouco desta aura que possui atualmente.
35
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