as vÁrias faces de beyoncÉ: a construção de um ídolo e sua transformação midiática

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0 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática. Alexandre Levy Gomes de Sá Matrícula: 1211885 Monografia apresentada como exigência parcial para conclusão do curso de graduação em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Profª Drª Cláudia Pereira. Rio de Janeiro, 2015.

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Este trabalho busca desenvolver uma análise sobre a construção do ídolo Beyoncé e o reflexo disso em sua imagem perante a seu fã-clube e à mídia. Baseando-se em entrevistas, matérias sobre a cantora, pesquisas de campo com os fãs e textos teóricos sobre celebridades, ídolos e fã-clubes, esse estudo faz uma relação da trajetória da cantora com sua imagem. Observando os passos da artista ao longo da carreira, é possível fazer uma análise seguindo e relacionando conceitos de idolatria, mito, indústria do entretenimento, celebridade e pós-modernidade.

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Page 1: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ:

A construção de um ídolo e sua transformação midiática.

Alexandre Levy Gomes de Sá

Matrícula: 1211885

Monografia apresentada como exigência

parcial para conclusão do curso de

graduação em Comunicação Social,

habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Profª Drª Cláudia Pereira.

Rio de Janeiro,

2015.

Page 2: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

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RESUMO

Este trabalho busca desenvolver uma análise sobre a construção do ídolo

Beyoncé e o reflexo disso em sua imagem perante a seu fã-clube e à mídia. Baseando-se

em entrevistas, matérias sobre a cantora, pesquisas de campo com os fãs e textos

teóricos sobre celebridades, ídolos e fã-clubes, esse estudo faz uma relação da trajetória

da cantora com sua imagem. Observando os passos da artista ao longo da carreira, é

possível fazer uma análise seguindo e relacionando conceitos de idolatria, mito,

indústria do entretenimento, celebridade e pós-modernidade.

Palavras-chave: Beyoncé, Idolatria, Mito, Indústria do entretenimento, Cultura pop,

Internet, Celebridade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3

CAPÍTULO 1: ÍDOLOS, ESTRELAS, MITOS E CELEBRIDADES ........................... 7

CAPÍTULO 2: A TRAJETÓRIA DE BEYONCÉ ....................................................... 10

CAPÍTULO 3: ANÁLISE DE SUAS ESTRATÉGIAS ............................................... 21

3.1 O ALTEREGO SASHA FIERCE ...................................................................... 21

3.2 O DISTANCIAMENTO DOS FÃS E DA MÍDIA............................................. 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 35

Page 4: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

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INTRODUÇÃO

As pessoas veem as celebridades e acham que a

vida delas é incrível, que eles têm dinheiro,

fama, fãs e que quase são intocáveis. Mas eu sou

um ser humano. Eu choro, sou extremamente

sensível, eu me magoo e tenho medo. Fico

nervosa como todo mundo. Sempre foi um

conflito pra mim, quanto de mim devo revelar?

Como mantenho a minha humildade? Como

mantenho o meu astral e a realidade? Como

continuo a ser generosa com meus fãs e minha obra? Como me mantenho atualizada mas com

sentimento? Este é o conflito da minha vida.

(Beyoncé sobre a sua vida de celebridade em seu

documentário biográfico Life Is But A Dream,

EUA, 2013).

O trabalho busca analisar de que maneira se constrói um ídolo, uma celebridade,

com contextos relacionados aos usos e práticas dos indivíduos com a mídia.

Compreende-se que as estrelas, os ídolos e as celebridades são, antes de tudo, produtos

midiáticos. Produtos midiáticos estes que precisam se transformar na tentativa de se

destacar e eternizar sua figura nos meios de comunicação e na sociedade.

Um ídolo é reconhecido através da construção de sua imagem pela mídia. Ele

precisa ter algum feito na sociedade para ser reconhecido e alcançar a posição de

idolatria, para ser digno de celebração, reconhecimento e reverência (HELAL, 1999)

(MORIN, 1989) (FRANÇA, 2014). Esta construção depende da sociedade e dos seus

costumes. Cobrar que eles sejam autênticos é uma construção recente na história. Após

o romantismo, a qualidade deixou de ser associada à imitação e passou a ser diretamente

ligada a autenticidade (INGLIS, 2012). Ainda sim, desde a mitologia grega, a palavra

“diva”, que hoje é relacionada à condição de um ídolo feminino poderoso, possui uma

definição que possui a mesma origem do significado até hoje.

Page 5: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

4

“Diva – substantivo feminino.

1. divindade feminina; deusa.

2. fig. mulher da qual alguém fez sua musa inspiradora.”1

Por ter quase 20 anos de carreira, a cantora Beyoncé acompanhou grandes

diferenças de comportamento com relação à mídia e ao comportamento da sociedade. A

artista se lançou no mercado quando seu público comprava álbuns em lojas físicas, a

pirataria era uma prática mais rara e era extremamente necessário dar entrevistas e fazer

aparições em mídias de massa para a divulgação de seus lançamentos. Para alcançar os

seus objetivos de vendas, os artistas tinham que divulgar o seu trabalho de forma maciça

para o seu público. A análise prossegue a partir da construção de imagem de uma

menina de Houston em uma diva dos dias atuais e como os seu público acompanhou

esta mudança. A transformação de discurso e postura da cantora com relação à mídia, as

estratégias de lançamentos, o uso de sua imagem são alguns dos objetos a serem

citados.

Desde os anos 90 até os dias atuais, Beyoncé mudou completamente sua posição

diante aos fãs e mídia. A relação da cantora com os admiradores e como isso influencia

na imagem que ela passa também faz parte do estudo. Aqui é realizada uma pesquisa

documental para analisar esta transformação e uma comparação de sua relação com a

mídia.

Por obter uma carreira de sucesso na indústria fonográfica desde seus quinze

anos até os dias atuais, a construção de sua imagem foi moldada passando por diferentes

fases que mostram a sua força midiática. Com passos calculados, a cantora transformou-

se ao longo de sua carreira mostrando diversas faces como: a líder do grupo Destiny’s

Child, a própria Beyoncé (solo), a Queen Bey, a Sasha Fierce, até a atual Beysus

(comparação feita pelos fãs da cantora com uma figura religiosa). A análise é embasada

com conteúdos de diferentes fases da superstar para reforçar os conceitos teóricos

apresentados.

1 Definição a partir do link

https://www.google.com.br/search?q=dicionario&oq=dicionario&aqs=chrome..69i57j69i59j69i60l3.1601

j0j7&sourceid=chrome&es_sm=93&ie=UTF-8#q=diva+defini%C3%A7%C3%A3o

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Conceitos como idolatria, celebridade, mitos, ídolos e estrelas são importantes

para compreender como as celebridades constroem a sua imagem utilizando as mídias.

Dentre diversos autores, destacam-se Ana Maria Tepedino (2011), Edgar Morin (1989),

Fred Inglis (2012), Lígia Lana (2012), Maria Claudia Coelho (2003), Patricia Coralis

(2014) e Vera França (2014).

Para a análise do tema, este estudo é baseado em três capítulos. O primeiro

capítulo possui um caráter introdutório ao assunto. Ao falar sobre um ídolo, é

importante conceituar o termo e compreender a sua origem. O surgimento dos primeiros

ídolos e o significado deste conceito são pontuais formas de entender como uma figura

humana pode se aproximar de divindades a partir de uma projeção de imagem. O

capítulo também conceitua termos como “Estrelas”, “Astros”, “Mitos” e

“Celebridades”, a sua importância social, além da diferença entre cada um. Nesta parte é

importante compreender o papel do ídolo na sociedade atual e como ele é visto pela

mídia e pelo público.

O segundo capítulo situa a história de Beyoncé. Com caráter biográfico, este

ponto é necessário para entender sua trajetória e o porquê de sua figura ter sido

escolhida como objeto de análise. Durante esta seção são detalhados os principais

lançamentos da cantora, os seus resultados e como isso influenciou o resto de sua

estratégia. Suas peculiaridades e características são colocadas em discussão durante esta

fase do estudo. Após a apresentação dos conceitos e a descrição de sua carreira, é

possível ter a base para o entendimento da figura da artista, para que assim comece a

análise dos objetos de pesquisa.

No terceiro capítulo temos a análise de duas fases importantes na carreira da

cantora: o alterego Sasha Fierce e sua fase de distanciamento da mídia e dos fãs.

Durante esta parte do estudo há um aprofundamento nas questões de sua construção na

condição de ídolo e como isso reflete na sua imagem atual. Os conceitos teóricos são

colocados para a compreensão de estratégias utilizadas em certas situações por Beyoncé

e sua equipe. Nesta fase do estudo também é possível fazer um breve comparativo da

artista com outras cantoras.

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Nas considerações finais, é feita uma sucinta síntese geral das ideias

apresentadas durante o estudo. Após compreender os conceitos teóricos e colocá-los nas

situações de carreira da cantora, é feita a conclusão do raciocínio. Ao finalizar o tema,

são colocadas algumas questões para possíveis futuras pesquisas e alguns

questionamentos para autorreflexão. Durante esta seção também são colocados os

desafios e as questões pessoais que surgiram durante o trabalho.

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CAPÍTULO 1: ÍDOLOS, ESTRELAS, MITOS E CELEBRIDADES

É comprovado antropologicamente que o ser humano precisa de um sentido para

a vida (TEPEDINO, 2011). Esse sentido é por muitas vezes, realizado pela adoração e

pelo culto a deus, ídolos e/ou natureza. Se não Deus, o culto pode ser transformado de

uma figura religiosa para uma pública. A adoração de uma figura humana pode trazer

diversos frutos da imaginação transformando o real em situações imaginárias. “Um mito

é um conjunto de condutas e situações imaginárias. Essas condutas e situações podem

ter por protagonistas personagens sobre-humanas” (MORIN, 1989, p. 26). Ao definir

mito, Edgar Morin demonstra que personagens que estão rodeados do imaginário

humano possuem uma imagem de divindade, acima dos mortais ou seres humanos

comuns.

Figuras públicas e pessoas famosas são construções que existiram durante todos

os momentos da história humana (FRANÇA, 2014). As figuras públicas são pessoas

que ocupam cargos ou posições que dizem respeito à vida coletiva de uma sociedade

(FRANÇA, 2014). Já ao falar de celebridades, estaremos lidando com um fenômeno

que acontece há não mais de 250 anos. Este conceito é relativamente recente na história

da sociedade. Com as transformações sociais do século XVIII, começaram a surgir os

novos meios e figuras de culto (INGLIS, 2012). A celebrização era ligada às pessoas

das elites de poder político, econômico, religioso e cultural (TORRES, 2014). Com a

invenção da indústria da moda, um novo consumismo e o começo da circulação de

jornais em massa, o culto às celebridades passou a ser um novo produto. A invenção da

moda, principalmente em Paris, começa a gerar curiosidade naqueles que criam

tendências. O novo consumismo, principalmente em Londres, tornou a forma de

consumir produtos mais descartável e instantânea. Já a circulação de uma mídia em

massa, com suas novas colunas de fofocas, ajuda a disseminar o imediatismo dos cultos

às figuras públicas. Até então, as primeiras celebridades autênticas eram formadores de

opinião em jornalismo literário, cientistas e amigos de poetas (INGLIS, 2012).

Após as transformações sociais do século XVIII, as celebridades passaram a ser

aquelas que eram referência de tendências ou aquelas que estavam nas mídias de massa.

A partir de então temos o conceito de celebridade mais próximo daquele que

conhecemos nos dias atuais. A vida polêmica do Príncipe Jorge IV, futuro Rei da

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Inglaterra, no Pavilhão Real, por exemplo, contribuiu para que a sua figura de herdeiro

passasse para uma figura de celebridade, o que o tornou digno de culto (INGLIS, 2012).

Com o surgimento do cinema e do rádio, a massificação e o imediatismo

passaram a ser as prioridades da informação. A narrativa humana começou a se tornar

popular, e com a criação de Hollywood surgiram os termos “Astro” e “Estrela”. A ideia

de tornar a vida privada em uma história a ser acompanhada passou a ser uma

ferramenta de incentivo ao desejo. Desejo este que passa a transformar as sensações

humanas, como: paixão, aspiração e expectativa. Se com o cinema mudo os estúdios

controlavam de forma cuidadosa cada detalhe da vida privada da equipe dos estúdios de

gravação, após a introdução do cinema sonoro, essas informações eram necessárias para

a publicidade, a divulgações do filme (MORIN, 1989). De acordo com Edgar Morin

(1989), os atores se tornam astros durante esta época de transformação da indústria

cinematográfica, e assim, eles se tornam mais próximos aos espectadores. John Potts

(2009) destaca o surgimento dos paparazzi nessa época com o fortalecimento da mídia

como instituição. A partir de então, os ídolos do entretenimento e do consumo se

tornam as maiores figuras de culto (LOWENTHAL, 2006) e por si passa a sustentar a

existência da instituição por meio da criação de heróis (LANA, 2012).

Na antiguidade, a palavra ídolo se referia a estátua, imagem que se presta ao

culto e à adoração (FRANÇA, 2014). Seu significado deixou de ter cunho religioso e

sagrado para as pessoas tornarem-se mais admiradas e conhecidas naquilo que

representavam. Ou seja, o ídolo é originário de uma pessoa famosa, porém não

necessariamente a figura pública é um ídolo (FRANÇA, 2014).

Na visibilidade midiática, a construção das celebridades requer preparação,

exigindo uma atuação teatral que resulta em um espetáculo para ser visto (LANA,

2012). Cada passo, ação, visual e resposta devem ser milimetricamente pensados na

construção de uma celebridade. A equipe de assessoria da personalidade pública

trabalha junto com as mídias, as relações públicas, o cabeleireiro, o maquiador, o

estilista e o resto da equipe para a construção transformação ou fixação de imagem do

artista. Quanto mais consolidada é a celebridade, mais profissionalizada é sua equipe

(LANA, 2012).

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O que é dito ao público deve ser pensado para que não haja uma má

interpretação, uma compreensão errada de palavras e, consequentemente, isso afete a

imagem do ídolo. A mídia legitima o ídolo. Ela faz uma ponte entre o fã e o ídolo

(HELAL, 1999). Em relação à vida privada, as celebridades fazem um jogo de mostrar e

se esconder. Muitas afirmam que não falam sobre a vida pessoal, mas acabam revelando

alguns fatos íntimos (propositalmente) de vez em quando (LANA, 2012). Estes fatos

íntimos são importantes para a legitimação da existência do ídolo como ser humano. Ou

seja, a humanização do ídolo é importante para mitificá-lo (HELAL, 1999).

Para uma celebridade ser considerada um herói, ela deve ter um feito que as

destacam (HELAL, 1999). A diferença entre a celebridade e a estrela é que a estrela

possui um mérito (filme, feito histórico ou recorde) para estar em evidência, já a

celebridade precisa estar em destaque na mídia. Mesmo que efêmera, a celebridade

constrói a sua fama a partir de mitos, ou seja, por realidades distorcidas (BARTHES,

2001).

A visão da celebridade como produto a transforma em um assunto de estudo

publicitário e midiático. O papel da mídia na construção de celebridades é evidente.

Ainda sim, não é possível afirmar que tudo o que aparece na mídia é dotado de fama

(FRANÇA, 2014). Para tornar-se uma celebridade é necessário ser bem-sucedido de

alguma forma durante a exposição. O conceito de celebridade é proveniente de três

fontes: o lugar de destaque, o desempenho e o culto pela exposição (FRANÇA, 2014).

Utilizando teorias de marketing, é possível concluir que assim como produtos, as

figuras da mídia podem não alcançar o sucesso de público (FRANÇA, 2014).

A formação de um ídolo na sociedade moderna é pensada e calculada a partir de

mitos reproduzidos pelas mídias e pelas reações do público, e dias atuais, os ídolos são

da música, da moda, dos esportes, da política e das artes. (HELAL, 1999)

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CAPÍTULO 2: A TRAJETÓRIA DE BEYONCÉ

Beyoncé Giselle Knowles nasceu no dia 4 de setembro de 1981. Desde então, a

artista consagrada nos dias atuais, foi treinada pelo pai para se tornar uma grande diva

pop. Em um bairro de classe alta em Houston, no Texas, Beyoncé ensaiava arduamente

dentro de casa junto com outras cinco meninas para que juntas se tornassem um novo

grupo de R&B (HURST, 2010).

O grupo Destiny’s Child era agenciado pelo pai da cantora, que tinha grandes

interesses em tornar este sonho em realidade. Fortemente inspirado em Michael Jackson

e Jackson 5, assim como Diana Ross e The Supremes, a cantora que liderava um grupo

de sucesso iniciaria um longo caminho ao estrelato. Certa vez, Kelly Rowland, uma das

integrantes do grupo, disse para a Revista What que todas as suas companheiras faziam

aulas para aprender como se comportar em entrevistas, além de ter que ensaiar mais de

oito horas todos os dias. (HURST, 2010) Este tipo de comportamento mostra a ideia de

Matthew Knowles, pai de Beyoncé, em transformá-las em pessoas da mídia.

Na verdade, eu não gostava muito de brincar, de ficar lá na rua com os

amigos, eu nem mesmo pensava naquilo. Eu só queria era ficar lá em casa

assistindo vídeos e cantando, aquilo era a melhor coisa do mundo. Aquele era

o nosso único sonho; era nossa vida. Não nos sentíamos realizadas quando

não estávamos em cima de um palco. (Beyoncé apud HURST, 2010, p. 24)

Nos dias atuais, o Destiny’s Child ainda é o grupo feminino que mais vendeu2 na

história. Após mais de seis anos de sucesso, com o grupo, Beyoncé seguiu carreira solo

e começou a investir no título de popstar solo.

Beyoncé conquistou fãs desde a origem do grupo. Com a separação dos

integrantes, em 2004, a maioria dos fãs se manteve fiel à líder e a segue até hoje.

Embora tenha fases diferentes durante sua carreira, a cantora procurou manter aqueles

que sustentam a sua imagem sempre por perto e de forma organizada. No ano de 2012,

2 Em 2006, o World Music Awards afirmou que Destiny’s Child é o grupo feminino que mais vendeu

discos de todos os tempos. O título permanece até os dias atuais. Disponível em

https://pt.wikipedia.org/wiki/Girl_group, acessado em 18/11/15.

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Beyoncé nomeou3 o seu grupo de seguidores por “Beyhive” (em inglês, significa algo

como “colmeia da Bey”). Além do nome, ela publicou em seu site um vocabulário

especial para os fãs se comunicarem e se identificarem entre si. A partir de então, estes

seus seguidores passaram a ficar ainda mais unidos e fiéis. O conceito de colmeia

constrói uma imagem de cooperatividade entre os fãs e a superioridade de uma “abelha-

rainha”, no caso, Beyoncé.

Enquanto cantava em grupo, pode-se entender a imagem de Beyoncé como uma

preparação para aquilo que vinha a seguir, sua carreira solo. No Destiny’s Child, ela era

a cantora principal, logo a que tinha mais exposição na mídia também. Com este

destaque, ela era alvo de polêmicas e a responsável - junto com seu pai - por diversas

trocas de integrantes do grupo e favorecimento de imagem.

Em 2003, para o início de sua construção como artista solo, Beyoncé reuniu sua

equipe formada por um coreógrafo, um estilista, uma diretora de criação e uma

profissional de relações públicas 4 que permanecem com ela até os dias atuais e lançou

um álbum com músicas de autoria própria. “Eu queria mostrar meu amadurecimento

como artista, cantora e compositora”, disse Beyoncé à United Press International

(Beyoncé apud HURST, 2010, p.75).

Figura 1: Capa do álbum Dangerously In Love, primeiro álbum da cantora em carreira solo.

Fonte: http://www.outrapagina.com/blog/wp-content/uploads/2013/06/Beyonce-original-album-cover.jpg

3 Disponível em http://www.beyoncenow.net/2012/04/beyhive-tem-seu-proprio-vocabulario-agora-confira/, acessado em 23/09/2015

4 Frank Gatson Jr., Ty Hunter, Kim Burse e Yvette Noel Schure, respectivamente fazem parte da equipe

criativa da cantora há quase duas décadas. Disponível em:

https://en.wikipedia.org/wiki/Frank_Gatson,_Jr., http://www.allure.com/beauty-trends/blogs/daily-

beauty-reporter/2015/05/beyonce-stylist-ty-hunter.html, https://www.linkedin.com/in/kim-burse-

4892ab12/pt, http://www.out.com/beyout/2014/04/08/meet-people-behind-beyonc%C3%A9-yvette-noel-

schure acessado em 15/11/15.

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Conforme observado na figura 1, a capa do álbum foi produzida a partir de uma

foto de Beyoncé em um estúdio fotográfico. A capa tem o objetivo de marcar a imagem

solo da cantora para que assim ela passasse a ser reconhecida como Beyoncé e não

apenas como uma das ex-integrantes das Destiny’s Child. O figurino utilizado, embora

tenha bastante brilho, é visualmente simples. Um conjunto de brilhos que serviria como

blusa mesmo deixando-a seminua, e uma calça jeans do fotógrafo Markus Klinko, que

foi escolhido como figurino de última hora.5 O conjunto de peças criava um visual

casual e sensual, e marca a carreira solo da cantora com o apelo sexual.

Mesmo alcançando cinco hits na parada de sucesso Billboard6 com Dangerously

In Love, Beyoncé resolveu se reunir com grupo pela última vez antes de partir com sua

carreira solo. Este passo inicial de ida e volta como artista solo foi como um teste. Com

os resultados de sua independência satisfatórios, a artista voltou com o grupo para esta

despedida até 2005, quando seguiu definitivamente sem o grupo.

Em 2006, Beyoncé iniciou as gravações do filme Dreamgirls para interpretar

Deena Jones, personagem inspirada em Diana Ross. Embora tenha sido inspirada na

cantora dos anos 70, Beyoncé tinha muito com o que se identificar com o papel, visto

que Deena participava de um grupo e decidia seguir carreira solo. Deena Jones também

possuía uma história marcante de abuso emocional com características de submissão e

sensibilidade. Enquanto focava na produção do filme, a cantora preferiu não visitar

estúdios de gravações fonográficos se não fosse para os materiais da produção

cinematográfica. Após meses no projeto, Beyoncé estava inspirada para lançar um

álbum exaltando o empoderamento feminino. “Após interpretar uma mulher que

aceitava ser submissa, eu tinha tanto para dizer que eu gravei o meu álbum seguinte em

duas semanas”, disse a cantora em seu show Live At Roseland, em 2011.

Assim, ela lançou o seu segundo álbum: B’Day. Desta vez bem mais madura e

com um discurso feminista de empoderamento, o disco traz as primeiras características

de Beyoncé como uma mulher independente. Neste álbum, era necessário investir nesse

característica da cantora. Embora seu lançamento anterior tenha tido um forte destaque

na indústria fonográfica, o nome da cantora ainda era associado pelo público com o

nome do grupo ou com o rapper Jay-Z (com quem produziu o seu primeiro hit solo de

5 Disponível em http://www.intouchweekly.com/posts/britney-beyonce-and-gaga-get-shot-double-

exposure-stars-tell-all-21228, acessado em 19/10/2015 6 Disponível em http://www.billboard.com/artist/281569/beyonce/chart, acessado em 23/09/2015

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sucesso, Crazy In Love). O B’Day estreou em primeiro lugar na Billboard, assim como

seu primeiro disco.

Com uma temática de mulher poderosa somado ao fato do álbum ser lançado no

dia de seu aniversário7 e com detalhes visuais que reforçam o apelo Bee, após este

álbum, Beyoncé recebeu o apelido de Queen Bey. O apelido acabou se tornando de uso

universal já que a união de seu nome com a palavra “rainha”, em inglês, e reforçava a

sua superioridade e poder. Além disso, as palavras Queen e Bey apresentavam o perfeito

conflito de personalidade da cantora. O encurtamento de seu nome dá um toque

delicado ao apelido, enquanto a palavra “rainha”, em inglês, lhe traz o empoderamento.

Ao unir os dois, confirma-se a dualidade de mito e humano da personalidade da cantora,

o que não funcionaria caso seu apelido fosse Queen Beyoncé, “Rainha Beyoncé”, de

forma traduzida.

Uma das faixas do álbum, Welcome To Hollywood8, é a apresentação de um

mundo de glamour e fama. Beyoncé iniciou o seu caminho ao estrelato dando boas

vindas a esta nova vida nesta faixa. Durante este disco, a cantora destacou a sua imagem

de poderosa e introduziu-se no mundo das maiores celebridades do mundo aparecendo

nas listas da revista Forbes.

A turnê deste álbum, The Beyoncé Experience (2007), tem um grande

investimento de produção e rendeu um DVD. Com mais de dez trocas de figurinos que

reforçavam a silhueta da cantora, o cabelo cacheado e bem volumoso, a maquiagem

mais luminosa, uma banda exclusiva formada apenas por mulheres e um palco

grandioso com uma escadaria e monitores de LED, Beyoncé investiu em um show com

muita coreografia e técnica vocal. Neste material, ela apresenta uma figura mais

madura, independente e com personalidade. Foi nesta fase que ela começou a ser

denominada de Diva.

7 O álbum B’day foi lançado mundialmente no dia 05 de setembro de 2006, em comemoração ao

aniversário de 25 anos da cantora. Explorando a temática de aniversário e amadurecimento da cantora,

Beyoncé foi convidada para comemorar e lançar no programa 106 and Park do canal BET o seu segundo

álbum solo. Disponível em http://www.tv.com/shows/106-and-park/beyonce-interview-and-birthday-

celebration-album-release-1215800/, acessado 07/11/2015. 8 Faixa disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VFekqd_V764, acessado em 18/11/15.

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Figura 2: Beyoncé na abertura da turnê The Beyoncé Experience.

Fonte: http://www.etoday.ru/2007/07/22/concert03.jpg

Como pode ser observada na figura 2, a face passou a ser caracterizada por

expressões mais fortes, a maquiagem mais pesada e o cabelo chamando mais atenção

pela produção. Os figurinos a partir desta época começaram a ser planejados para

marcar mais sua presença. Beyoncé além de começar a usar peças exclusivas de grandes

estilistas, ela lançou sua própria marca de roupa House Of Deréon. Pela capa do álbum

é possível perceber a mudança de maturidade na imagem da artista. Beyoncé, nesta fase,

queria firmar o seu lugar na indústria fonográfica, e ao mesmo tempo mostrar que era

uma artista de qualidade independentemente de suas antigas companheiras de grupo. O

culto à performance passou a ser a prioridade da cantora.

No ano de 2008, Beyoncé lançou o seu álbum I Am... Sasha Fierce. Durante este

trabalho, o foco foi explorar o conceito de seu alterego Sasha Fierce e sua carreira

mundial. Com o objetivo de se firmar ainda mais como um ídolo superior, ela dividiu

sua própria personalidade em duas.

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Figura 3: Montagem da face de Beyoncé e de Sasha Fierce.

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-9s7dINWWKtI/VU_4KCw-

LRI/AAAAAAAABC0/e1nlUMwlErk/s1600/beyonce___i_am___sasha_fierce_by_fabianopcampos-

d36qqdv.png

A personagem criada, Sasha Fierce, era agressiva, cantava músicas uptempos9

com batidas mais pesadas. Além de ter mais liberdade sexual, ela possuía presença

marcante no palco, uma personalidade forte e destacava-se onde estivesse. Já Beyoncé

seria a menina tímida, com músicas de melodias mais lentas que falavam de paixões e

desilusões amorosas. Em entrevista para a apresentadora Oprah Winfrey10

, Beyoncé

explicou o significado da dupla personalidade. “Eu queria revelar mais sobre quem eu

sou. Algumas músicas são pessoais e íntimas, como as baladas românticas. E eu tenho a

Sasha Fierce para os fãs.” Ela também explica que a Sasha Fierce aparece em momentos

em que ela está nervosa, pronta para subir ao palco com cílios postiços e salto alto. Ao

fazer essa divisão, era possível compreender as duas personagens e ainda sim afirmar

que no final, a famosa Beyoncé é a mistura das duas. A cantora admitiu em entrevista

para a apresentadora Ellen Degeneres, em 2008, que a criação do alterego servia para

culpá-lo de atitudes ruins de sua real personalidade. A mulher meiga e admirável pela

sua voz poderia ser a Diva com um grande ego que ninguém se incomodaria.

9 Uptempo é um estilo de música com um ritmo acelerado, ou seja, acima de 120 bmp. Definição pelo site

https://pt.wikipedia.org/wiki/Uptempo , acessado em 22/10/2015 10 Entrevista para a Oprah. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=KrMl_eW9P6w, acessado

em 23/09/2015

Page 17: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

16

Eu tenho dois lados diferentes na minha personalidade: aquele quando estou

no palco e aquele que realmente sou. Então eu decidi dar aos meus fãs o que

eles queriam e o que estavam acostumados. Que era aquela pessoa que estava

nos meus clipes como em Crazy In Love, que é a Sasha Fierce. Mas eu

também queria os apresentar quem eu realmente sou e dar a eles uma

conexão mais profunda com os meus sentimentos, com a minha sensibilidade

e com a minha vulnerabilidade. Quanto mais eu me acostumo, mais eu uso a

Sasha Fierce quando eu fico com medo ou quando eu preciso ser forte ou

mais dura. Então eu estou misturando as duas. (Beyoncé sobre sua personalidade dupla em entrevista para o MySpace11, de 11/11/2008)

Para reforçar essa divisão, Beyoncé passou três anos trabalhando neste conceito.

Como divulgação do I Am... Sasha Fierce, foram escolhidos dois singles12

para um

lançamento simultâneo: If I Were A Boy 13

e Single Ladies14

. O primeiro é uma balada

pop15

em que conta a história de uma mulher que está sofrendo na relação amorosa e

que tudo se resolveria caso ela invertesse os papéis. No videoclipe, Beyoncé aparece se

colocando no papel de seu companheiro. Já em Single Ladies, Sasha Fierce está de maiô

preto acompanhada de duas dançarinas. Seus topetes enormes, maquiagens pesadas e

roupas curtas mostravam um lado completamente diferente do outro clipe. Enquanto os

dois clipes possuíam efeito de imagem em preto e branco, os dois singles ao mesmo

tempo em que se contrastavam, estavam unificados em uma única pessoa: Beyoncé. If I

Were A Boy era um lado mais pessoal e romântico enquanto Single Ladies era mais

divertido e superficial, ambos lançados com videoclipe no dia 12 de outubro de 2008.

A terceira música de trabalho deste álbum foi Diva16

. A música bastante

agressiva descreve uma personagem descolada, famosa, com personalidade forte e que

está fazendo o próprio dinheiro. Com o refrão que diz “Eu sou uma diva”, Beyoncé

investiu em uma grande produção para o clipe da música. As roupas e maquiagens

extravagantes, a explosão de um carro, as coreografias bem marcadas e o efeito preto e

branco caracterizaram o terceiro clipe do álbum.

11 Entrevista para a divulgação do álbum I Am... Sasha Fierce em novembro de 2008. Disponível em

https://myspace.com/433223937/videos, acessado 23/09/15. 12 Single é também uma expressão popular usada como sinônimo da antiga expressão música de trabalho

ou música de divulgação, sendo uma canção gravada pelo artista que é normalmente considerada uma das mais comerciais de um já lançado ou futuro álbum, para ser lançada em rádios e outros veículos de

divulgação. A expressão é originada dos Estados Unidos. Definição disponível em

https://pt.wikipedia.org/wiki/Single, acessado em 29/10/15. 13 Videoclipe de If I Were A Boy https://youtu.be/AWpsOqh8q0M, acessado em 23/09/2015 14

Videoclipe de Single Ladies https://youtu.be/4m1EFMoRFvY, acessado em 23/09/15 15 Pop ballads (ou baladas pop) são músicas românticas com um bpm baixo e que geralmente falam de um

relacionamento romântico ou sexual. Definição pelo site Wikipédia.

https://en.wikipedia.org/wiki/Sentimental_ballad#Pop_and_R.26B_ballads, acessado em 22/10/15. 16 Videoclipe disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rNM5HW13_O8, acessado em 18/11/15.

Page 18: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

17

A partir desta fase, Beyoncé contratou17

uma equipe para acompanhá-la no seu

dia a dia a registrar toda a sua rotina. Tendo este material em mãos, ela poderia

controlar o que ela gostaria e o que não queria que fosse divulgado. Durante o

lançamento do álbum 4, em 2011, Beyoncé divulgou um curta-metragem documental

sobre a produção do material e um longa-metragem sobre a sua vida pessoal chamado

Life Is But A Dream ( Beyoncé, Ed Burke e Ilan Y. Benatar, EUA, 2013)

O longa foi produzido intercalando imagens pessoais da cantora com seus

momentos marcantes ocorridos durante o ano anterior. “A Vida Nada Mais É Que Um

Sonho”, tradução de Life Is But A Dream foi uma fala dita pela própria cantora durante

uma parte do filme. Em um momento de descontração e felicidade da vida pessoal, ela

agradece a Deus pela vida que tem. O título do documentário remete a justamente essa

comparação do que é real e do que é sonho. Sua vida de sucesso profissional e

felicidade pessoal confundem Beyoncé do que é real e do que é imaginário. Em uma

interpretação de Erin Meyers (2009), Tatiane Costa ressalta que a celebridade não deve

ser compreendida em um discurso de verdadeiro-falso, já que todos os aspectos da

imagem de uma celebridade são produzidos e construídos.

O filme inicia-se tratando sua independência em relação a seu pai. A partir do

ano de 2011, Beyoncé anunciou que seria a responsável pela sua carreira e não mais seu

pai, Matthew Knowles. Com seu relacionamento paternal desgastado graças ao divórcio

com sua mãe e com novos objetivos profissionais, ela seguiu um novo caminho. “Eu

defini um objetivo. Minha meta era independência.”, afirma a cantora. A independência

de Beyoncé em relação ao pai fortalece a sua imagem de mulher independente. Desde as

Destiny’s Child, Beyoncé exalta o Girl Power e este passo que ela deu em 2011 ajudou

ainda mais a ressaltar sua característica empreendedora. Segundo a leitura de Genz e

Barbon pela autora Tatiane Costa, o girl power procura construir sujeitos femininos

independentes e confiantes na exibição de sua feminilidade, além de promover a

assertividade feminina, a autonomia no estilo de vida e na sexualidade e a celebração da

diversão e da amizade entre as mulheres.

Ao mostrar a produção de seu novo álbum, 4, e detalhes de sua vida pessoal,

Beyoncé inicia também uma reflexão sobre a indústria fonográfica e o desenvolvimento

17

Por seus lançamentos posteriores, é possível perceber que a equipe a acompanhava em lojas, shoppings, reuniões com a gravadora, no backstage da turnê e durante suas produções.

Page 19: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

18

de sua carreira. Além de se comparar com o mercado atual e como sua forma de

consumo influencia em sua vida. “Sou uma artista que grava álbuns. As pessoas não

gravam mais álbuns. Elas só tentam vender singles rapidamente. E então, elas se

esgotam e lançam um novo. As pessoas nem ouvem mais uma obra completa”, declara

Beyoncé. Sobre a indústria de entretenimento, a cantora afirma que

Quando eu comecei, não tinha internet, pessoas tirando foto de você e

explorando sua vida pessoal como entretenimento. As pessoas passam por

uma lavagem cerebral. Você acorda de manhã, liga o computador e vê várias

fotos. E tudo o que você consegue pensar é nessas fotos. Você não vê o ser

humano. Eu acho que quando Nina Simone lançava uma música, todos

amavam a sua voz. Essa era a intenção dela. A voz era seu instrumento. Você não ficava obcecado com a rotina dela, o que seu filho vestia, com quem ele

estava namorando e tudo o que não era da sua conta. E não deveria

influenciar a forma com que a voz e a arte dela são ouvidas mas influencia.

(Life Is But A Dream, EUA, 2013).

A produção foi fortemente utilizada para mostrar o lado pessoal da cantora tão

desconhecido pela mídia. Ao citar sua relação com seu pai e revelar um aborto

espontâneo jamais antes citado, Beyoncé expôs sua vida íntima de uma forma nunca

feita anteriormente. Ela também comentou sobre o “quão ridículos” eram os rumores

sobre sua gravidez ser falsa. Por esconder a gestação até os cinco meses e por sair

apenas uma vez com a barriga à mostra, jornais do mundo inteiro replicaram um rumor

de que Beyoncé e Jay-Z utilizariam uma barriga de aluguel em segredo para terem um

filho. Mesmo que meses depois, ela fez algo que não faz com frequência – negar um

rumor de sua vida pessoal.

Desde este documentário, filmes que revelam detalhes pessoais passaram a ser

recorrentes em sua carreira. A cantora percebeu que com este tipo de material – que era

editado e divulgado por ela – poderia ter total controle sobre a sua imagem. Conforme

citado anteriormente, algumas celebridades afirmam que “não falam sobre a vida

pessoal”, mas acabam revelando alguns fatos íntimos de vez em quando (LANA, 2012).

Esta estratégia de revelar suas intimidades eventualmente passou a ser recorrente na

carreira de Beyoncé com o uso desses vídeos. As edições e os roteiros desses filmes

costumam ser parciais e venerando o seu esforço na vida profissional.

Page 20: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

19

Nós não estamos por dentro de detalhes na vida da Beyoncé, mas Beyoncé

controla para que dê ao público apenas o suficiente para satisfazer as nossas

necessidades por celebridade. Ela faz seus próprios termos, e para uma

celebridade negra e mulher, ter esse controle, é impressionante e admirável.

(ARCENEAUX, 2015).

Com o lançamento do quarto álbum, Beyoncé começou a adotar uma postura

mais distante de seus fãs. Participou de não mais de dez entrevistas para divulgação do

disco, foi em poucos programas televisivos e deixou a mídia de massa de lado. Além da

mídia, Beyoncé também deixou de realizar Meet & Greet18

com seus fãs, atendendo

apenas ganhadores de promoções de patrocinadores.

Com o álbum BEYONCÉ, o quinto de sua carreira solo, adotou uma postura

completamente distante. Ela deixou de fazer entrevistas e apenas divulgou os filmes

documentais da produção do álbum em suas redes sociais. Essa estratégia de

distanciamento de fãs e da grande mídia é utilizada para adotar uma postura de

superioridade já que o difícil acesso ao artista ajuda na sua mitificação.

Figura 4: Capa do álbum BEYONCÉ, quinto álbum da cantora em carreira solo.

Fonte: http://www.portalpopline.com.br/wp-content/uploads/2014/03/beyonce_album_cover.jpg

É perceptível tal mudança ao analisar a capa do álbum. Conforme observado na

Figura 4, a capa é composta por um fundo preto e seu nome estampado em rosa. Ao

18 Evento onde os fãs podem conhecer e cumprimentar seus ídolos como um político famoso, um atleta,

uma estrela de filme ou um músico. Definição pelo site Wikipédia. https://en.wiktionary.org/wiki/meet-

and-greet, acessado em 23/10/15

Page 21: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

20

utilizar estes poucos elementos, ficou claro que ela não queria destacar a uma foto de

corpo, como feito em todos os seus álbuns anteriores, mas sim, a sua qualidade do

material. O lançamento surpresa do álbum com 14 faixas e 17 videoclipes trazia um

conceito diferente para a indústria fonográfica. “A visão que está na minha cabeça é o

que eu quero que as pessoas passem pela experiência pela primeira vez ao ouvir o

álbum” (Beyoncé em entrevista19

ao anunciar o álbum autointitulado em vídeo no

Youtube, de 13/12/2013). A cantora estava propondo que seus fãs assistissem aos clipes

quando fossem ouvir suas novas músicas pela primeira vez para que assim entendam o

que passa na cabeça dela ao gravar suas faixas. O chamado Álbum Visual passa o

conceito que chama atenção para seu material interno, como o álbum completo e

imagens, e não externo, como o encarte ou lançamento de singles.

19 Disponível em https://youtu.be/IcN6Ke2V-rQ, acessado em 29/10/15

Page 22: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

21

CAPÍTULO 3: ANÁLISE DE SUAS ESTRATÉGIAS

3.1 O ALTEREGO SASHA FIERCE

Explorando essa dualidade, Beyoncé poderia ser Diva dos fãs e humana. Isso é

favorável para ela como celebridade, pois ao mesmo tempo em que ela é cultuada como

divindade, ela é humanizada. Em 2009, enquanto Beyoncé estava em turnê, ela marcou

uma visita ao Hospital Infantil do Câncer em Singapura e cantou três músicas: Halo,

Irreplaceable e Radio. Todas foram apresentadas nas versões acústicas que destacavam

o seu lado mais pessoal. “Profundamente humana, a estrela está sempre disposta a

manifestar sua ternura maternal com os inocentes, fracos e desprotegidos.” (MORIN,

1989) Para o mito, humanizar-se é garantir credibilidade e superioridade. (CORALIS,

2014) Os momentos foram registrados com filmagem profissional por sua equipe de

cinegrafistas. De qualquer forma, não era necessário, já que havia diversas crianças e

familiares gravando o momento. Ao postarem na internet, os vídeos se tornaram notícia

no mundo todo. Todos comentavam a ternura e solidariedade da cantora.

O conceito de dualidade de personalidade pode ser analisado como uma grande

estratégia de formação de imagem que acompanha a cantora até os dias atuais. Nas

biografias de ídolos, geralmente destacam a infância repleta de dificuldades e

simplicidade enquanto o talento é colocado como algo natural enquanto isso ajuda a

humanizar e mitificar a figura (HELAL,1999). Como a infância de Beyoncé não sofreu

por muitas dificuldades financeiras, já que era de classe média alta, a sua maior

dificuldade era a de se tornar uma artista de sucesso. Quando Beyoncé fala de sua

infância, ela destaca sua dificuldade em substituir a diversão por ensaios e a imaturidade

para o sucesso. (HURST, 2010).

A habilidade de Beyoncé em não ter muitas polêmicas na carreira e a sua

imagem de “boa moça norte-americana” é misturada à imagem de uma mulher que se

esforça nas suas produções e traz qualidade aos seus lançamentos. Para manter esta

imagem de ídolo perfeito, é preciso torná-la acessível, ao mesmo tempo que intocável.

Humana e Deusa.

A construção do endeusamento da cantora iniciada em 1997 prossegue até os

dias atuais. O título de Diva já é global e agrega às características da artista, como: o

Page 23: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

22

empoderamento feminino, a poder de persuasão nos seus discursos e sua imagem

distantemente humana. “O amor e a admiração pelas estrelas só se transformam em

religião, portanto, para uma parcela do público” (MORIN, 1989). Os fãs da cantora

costumam venerar seu ídolo de forma tão exacerbada que muitas vezes ela é comparada

com Deus, Jesus entre outras figuras religiosas. A cantora chega a ser apelidada de

‘Beysus’ (neologismo entre o nome da cantora e Jesus) pelos mais fanáticos que

também desejam “Feliz Natal”20

no dia do aniversário da cantora. Isso comprova a

transformação da admiração dos maiores fãs em uma religião.

Nas aberturas dos últimos DVDs é notório, que com ferramentas de edição,

desde 2010, Beyoncé quer tornar esta imagem ainda mais forte. No DVD I Am... World

Tour, lançado em 2010, há diversos cortes para a plateia exaltando emoções fortes como

desmaio e choro de emoção, câmera lenta e jogos de luzes que geram contraste em sua

silhueta durante a abertura do show. Por alguns segundos, ela fica estática no palco de

frente para a plateia, enquanto esta aparece cultuando desesperadamente a imagem que

ali está presente. Com reações exageradas, seus fãs aparecem chorando e desmaiando

apenas por ver a figura da cantora em cima do palco. A mesma estratégia de abertura foi

utilizada nas turnês seguintes (The Mrs Carter Show Tour, 2013 e On The Run Tour,

2014). Este ritual de culto durante a abertura do show foi inspirada no Big Toaster de

Michael Jackson. Durante a abertura21

da Dangerous World Tour, em 1992, Michael

utilizou a ferramenta que o impulsionava para cima do palco e assim permanecia

estático por em torno de dois minutos. O público dos shows gritava histericamente a

cada pequeno movimento corporal. Este ritual e culto à performance reforça a imagem

de divindade e distanciamento do ídolo assim como a força de sua figura.

Outro destaque do DVD I Am... World Tour são as cenas inseridas no meio do

material em vídeo sobre a sua turnê. Beyoncé, ao redor do mundo, falando com sua

câmera sobre a sua vida pessoal e como estava se sentindo em cada fase daquele ano.

Como jamais visto antes, ela começou a divulgar momentos íntimos na sua vida

profissional. Dentre elas, é possível destacar três partes: Tomorrow I Am Sasha Fierce,

20 Fãs da cantora desejam “Feliz Natal” no dia do aniversário da cantora como uma comparação ao dia de

nascimento de Jesus. Disponível em https://twitter.com/beyoncenow/status/639634028757450752 ,

acessado em 23/09/2015 e https://www.facebook.com/memeonce/posts/1004708729550690, acessado em

23/09/2015 21 Vídeo da Dangerous World Tour de Michael Jackson em Buenos Aires no ano de 1993.

https://www.youtube.com/watch?v=0djtkhJrDOI, acessado em 23/09/2015

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23

Smash Into You e Why God Gave Me This Life?. Em Tomorrow I Am Sasha Fierce,

Beyoncé aparece sem maquiagem e deitada em sua cama.

Estou no meu local preferido do mundo agora, ou seja, na minha casa. Estou muito empolgada, pois farei uma turnê mundial e também por causa deste

show. Mal posso esperar para mostrá-lo. Ao mesmo tempo, adoro minha casa

e sei que sentirei falta dela. Então, é melhor eu dormir como um bebê esta

noite porque, amanhã, eu serei Sasha Fierce, e não terá como voltar atrás.

Mas como ficarei fora por tanto tempo é melhor começar a ser Sasha Fierce

esta noite. (I Am... World Tour, EUA,2010).

Mostrando seu lado humano, ela deixa claro que a Sasha Fierce fará parte de sua

personalidade enquanto estiver em turnê. O seu olhar inocente com a cara de sono, seu

cabelo natural, seu rosto sem maquiagem e sua posição vulnerável em sua cama

mostram o lado humano da cantora. Em seguida, como uma forma de transformação, é

passado a cena da performance de Freakum Dress, uma das músicas mais fortes da

cantora já que fala sobre liberdade e independência feminina.

Durante a apresentação de Smash Into You, a cantora começa com vários vídeos

de Beyoncé em quartos de hotéis dizendo os nomes das cidades que está no momento.

“Eu estou na Romênia, e eu estou indo pra casa, porque eu sinto falta do meu amor”

(Beyoncé, I Am... World Tour, 2010). E então começa a performance da cantora. As

cenas dela fazendo uma contagem regressiva de forma animada para ver o seu marido

são alternadas com a cantora no palco cantando a música romântica que diz “Eu quero

correr em direção a você”. No final da performance, Jay-Z, o marido da cantora, aparece

assistindo a um de seus shows.

O lado pessoal da cantora dificilmente aberto a público passou a ser uma

ferramenta para a demonstração de sua dualidade. Mostrar as suas características

íntimas e pessoais é importante para a formação de sua imagem como uma estrela. Para

Morin (1989), as estrelas beiram entre feitos heroicos e traços ordinários, eles “são,

simultaneamente, magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente, ideais

imutáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga à dupla natureza teológica

do herói-deus da religião cristã”.

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24

Já no final do show, um vídeo gravado pela câmera do computador da cantora

mostra em momento de fragilidade e sensibilidade. A cena Why God Gave Me This

Life? é um questionamento sobre o porquê dela ser tão sortuda e o porquê de Deus ter

dado este talento e esta vida a ela. No fim do vídeo, ela afirma que está vivendo seus

sonhos, o que reporta um lado pessoal e íntimo de Beyoncé.

Por que Deus me deu essa vida? Às vezes, é muito cansativo. Porque Deus

me deu o meu talento, minha dávida, minha família? Mas eu sei que não devo

questionar Deus. Então eu sou grata pela vida que ele me deu. Eu sou tão

grata. Eu estou viva e eu estou vivendo um sonho. Eu estou vivendo os meus

sonhos. (Beyoncé, I Am... World Tour, EUA, 2010).

Durante o encerramento, Beyoncé fez uma homenagem ao seu ídolo Michael

Jackson que faleceu naquele ano de 2009. Um vídeo mostrando a cantora na infância

dizendo que estava indo a um concerto de Michael acompanhado da música Halo que

ela dedica a ele. Vendo Beyoncé venerar seu ídolo, temos a cantora como reverente,

humana e como uma mulher comum. “É o extraordinário, o mito, juntando-se ao

ordinário, ao “homem comum” que tem seus ídolos e os reverencia” (HELAL, 1999).

Ao mesmo tempo, a sua postura de estrela não era deixada de lado. Estes dois lados de

sua personalidade foram importantes para a fase I Am... Sasha Fierce. “De fato, os

ídolos tem que conviver constantemente com o drama de ser dois: o homem e o mito”

(HELAL, 1999). “Eu olho a plateia e vejo a menininha que eu era quando via Michael,

Janet ou Tina Turner. E é impossível eu não dar 100%, pois eu me lembro de ser essa

garotinha. E ainda sou essa garotinha.” (Life Is But A Dream, EUA, 2013).

A “garotinha” citada pela cantora ressalta a sua inocência na infância e sua

humanização graças a essa pessoa presente até hoje dentro de si. Assim, fica claro após

diversas entrevistas e materiais que Beyoncé é o ídolo completo: perfeita sendo próxima

às divindades – o mito - e simples como qualquer ser humano – o homem.

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25

3.2 O DISTANCIAMENTO DOS FÃS E DA MÍDIA

Em maio de 2014, Beyoncé se envolveu em uma polêmica que é conhecida

atualmente como a maior de sua carreira. Um vídeo vazado na internet pelo site de

fofocas TMZ22

mostrava imagens do marido de Beyoncé, Jay-Z sendo agredido

fisicamente pela irmã da cantora, Solange Knowles dentro de um elevador durante o

evento MET Gala 2014. Durante as imagens, Beyoncé permanece intacta enquanto seu

segurança tenta apartar a briga do dois. Por estarem em um dos eventos de moda mais

comentados do ano, ao saírem do elevador, haviam ali diversos paparazzi registrando o

momento. Beyoncé saiu sorrindo em todas as fotos sem deixar nenhuma margem para a

mídia sobre o acontecimento. Ou seja, se o vídeo não tivesse sido vazado, ninguém

saberia do ocorrido. As imagens sem som circularam o mundo inteiro e criou diversas

especulações sobre o casal e o motivo da briga, dentre elas um possível divórcio.

Beyoncé sofreu acusações de ser falsa por conseguir pensar primeiramente em sua

imagem durante um momento delicado como aquele.

A grande polêmica serviu de alerta para o público sobre a vida pessoal de

Beyoncé e quão polêmica ela pode ser, mesmo que ninguém saiba. Durante todo o ano,

a mídia aproveitou o acontecimento e a tornou capas de várias revistas de fofoca com

especulações e rumores de diversos níveis. Desde então, Beyoncé se afastou ainda mais

de entrevistas e o assunto só foi comentado por parte por ela apenas uma vez, alguns

dias após o ocorrido, quando foi divulgado um comunicado23

em seu nome, no de Jay-Z

e no de Solange.

Como resultado da divulgação pública das imagens de segurança do

elevador, na última segunda-feira 5 de maio, houve uma grande especulação

sobre o que provocou o incidente infeliz. Mas a coisa mais importante é que a

nossa família já superou isso. Jay e Solange assumem cada um sua parcela de

responsabilidade pelo que ocorreu. Ambos reconhecem seus papeis neste

assunto privado que foi jogado ao público. Ambos pediram desculpas um ao

outro e seguimos em frente como uma família unida (Comunicado à

imprensa assinado por Beyoncé, Jay-Z e Solange).

22 Vídeo disponível em http://www.tmz.com/2014/05/12/jay-z-solange-fight-elevator-video-beyonce-met-

gala/, acessado em 15/11/15. 23 Disponível em http://extra.globo.com/famosos/jay-beyonce-solange-divulgam-nota-sobre-briga-em-

elevador-nos-nos-amamos-12500787.html, acessado em 15/11/15.

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26

Entre junho e agosto de 2015, Beyoncé foi um forte alvo de questionamentos24

sobre sua falta de proximidade com a mídia. Durante uma noite de junho, um

comercial25

para a manhã de teor sensacionalista de 15 segundos anunciando um

“grande pronunciamento” de Beyoncé seguinte causou grande comoção nas redes

sociais. Os fãs começaram a especular novos lançamentos, uma nova turnê e até uma

gravidez. O anúncio feito durante o programa Good Morning America, na verdade foi

gravado pela própria equipe da cantora e abordava uma indicação pessoal de um livro

vegano. Os fãs e a própria mídia acabaram se decepcionando com a situação.

Um artigo do jornal New York Times publicado em agosto questionou a sua

ausência na mídia e a falta de entrevista com Beyoncé. Nunca havia ocorrido antes na

história da revista Vogue uma edição de setembro sem a entrevista da pessoa em

destaque na capa. Outro artigo, publicado pelo site do VH126

(ARCENEAUX, 2015)

pergunta se Beyoncé voltará a fazer entrevistas algumas vez futuramente. “Porém, se o

presidente Obama pode fazer entrevistas no Youtube e no Reddit, por que Beyoncé não

poderia voltar aos talk shows ou à entrevistas comandadas por fãs para responder

algumas perguntas?” (ARCENEAUX, 2015).

A personagem de diva criada anteriormente pela cantora passou a dominá-la

midiaticamente e o lado pessoal de Beyoncé passou a ser mais sigiloso nos últimos

anos. Isso pode ser relacionado com a segunda fase da construção do ídolo para Ana

Maria Tepedino: a cosmética. “[Na cosmética] É muito forte o trabalho da Mídia sobre

a população. Nosso herói começa a ter uma imagem colada a eles mesmos, a tal ponto

que não se sabe mais distinguir quem é a pessoa, quem é o personagem.” (TEPEDINO,

2011).

Por não dar mais entrevistas, Beyoncé passou a ter o distanciamento e o difícil

acesso reforçando sua imagem de mito e a tornando uma figura ainda mais

reverenciada. Em tempos de reprodutibilidade técnica da arte, ser exclusiva é um

24 Artigo “Beyoncé é vista, porém não escutada” publicado e disponível em

http://www.nytimes.com/2015/08/20/fashion/beyonce-is-seen-but-not-heard.html?_r=0, acessado em

01/11/15. 25

Comercial disponível em http://www.dailymail.co.uk/video/tvshowbiz/video-1190389/GMA-teases-

AMAZING-Beyonce-announcement.html, acessado em 15/11/15. 26 Artigo “O anúncio de Beyoncé no GMA nos fez pensar: Será que ela fará uma entrevista verdadeira

novamente?”. Publicado em 12/06/2015. Disponível em http://www.vh1.com/news/27257/will-beyonce-

ever-do-a-real-interview-again/, acessado em 01/11/15.

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27

privilégio, e isso aumenta seu valor como produto cultural. “Ainda que as novas

condições assim criadas pela técnica de reprodução não alterassem o próprio conteúdo

da obra de arte, de qualquer modo desvalorizam seu hic et nunc27” (BENJAMIN, 1936).

Lígia Lana (2012) cita as interações entre a mídia e a visibilidade da celebridade

classificadas por John B. Thompson em seu clássico A mídia e a modernidade (1995).

Os reis da antiguidade, por exemplo, permaneciam distantes de seus súditos. Após o

surgimento dos meios de comunicação, o que era distante passa a estar mais próximo.

“Os mandantes mais poderosos eram raramente vistos” (THOMPSON, 2008). Ao

perceber a distância de Beyoncé nos últimos anos, é possível destacar que ela mantém

essa estratégia de se manter exclusiva a fim de tentar firmar uma imagem de

superioridade e de difícil acesso.

Edgar Morin (1979) e Joseph Campbell (1995) observam a diferença entre herói

e ídolo. O herói deve enfrentar o sobrenatural e voltar para servir à sociedade. Enquanto

o ídolo vive para si. Com o objetivo de se manter um ídolo atemporal e eterno, nos dias

atuais, é importante ter um lado heroico. (HELAL, 1999) Humanizar-se é justamente

seguir este caminho para a eternidade como um ídolo, conforme citado anteriormente.

Nos dias atuais, as narrativas heroicas precisam ter um ponto de distanciamento e

impessoalidade para que haja a veneração da figura midiática como algo digno de culto.

Estas narrativas da vida e saga dos heróis, antes “elaboradas” a partir de uma

relação mais “próxima”, “amadora” e “pessoal” com o público, são, hoje em

dia, “midiatizadas” e “elaboradas” de uma forma mais “distante”,

“profissional” e “impessoal”. (HELAL, 1999)

Ao fugir diretamente da mídia de massa e divulgar filmes documentais

produzidos por ela mesma é possível além de controlar o que se quer mostrar, como

construir a sua imagem de herói na modernidade e aumentar o seu branding pessoal28

como um ídolo moderno.

27 Hic et nunc é o conceito de Benjamin para a autenticidade que só a obra original possui. 28 Branding pessoal é o processo pelo qual você constrói o seu nome profissional como uma marca.

Definição disponível em http://brandingpessoal.com.br/o-que-e-branding-pessoal/, acessado em

23/10/2015.

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28

O afastamento de Beyoncé das mídias tradicionais traz também um resultado

positivo em suas mídias sociais. Em artigo da revista Cosmopolitan deste ano29

, a autora

Jenna Wortham comenta o caminho contramão que Beyoncé segue. De acordo com a

ela, as celebridades do mundo atual atualizam suas redes sociais com fotos do seu dia-a-

dia, já Beyoncé se recusa a seguir este fluxo. O Instagram da cantora é composto por

fotos tiradas com câmeras profissionais e legendas breves. Jenna Wortham acredita que

as redes sociais da cantora servem para passar a mensagem “Eu estou no controle, eu

tenho o poder e você terá o que eu te darei”. “Qualquer coisa que você veja postado ao

público passou pela aprovação dela. Cada pequeno detalhe.” (Lauren Wirtzer-Seawood

sobre as redes sociais de Beyoncé em entrevista para o jornalista Stuart Dredge).

Para a Wortham, se a interatividade nas mídias sociais serve de indicador das

vendas de um artista, o triunfo de Beyoncé é uma surpresa. Ela é uma das artistas com

mais sucesso e mais bem pagas em 2015. Ganhou cerca de 115 milhões de dólares no

ano passado e ficou no topo da lista das celebridades mais poderosas da revista Forbes.

Sua existência online é um contraste com outras artistas pop contemporâneas, como

Taylor Swift, que é engajada de forma direta com seus fãs – dando festas online,

criando listas de músicas para os fãs no Tumblr – e aumentando suas vendas de álbum e

ingressos para seus shows como um resultado deste comportamento. Beyoncé vive em

um planeta completamente diferente de outras como Rihanna e Nicki Minaj, que

regularmente postam piadas e se sentem com prazer respondendo fãs no Twitter e no

Instagram, publicando artes de seus fãs.

Com o lançamento de seu quarto álbum de esútdio, 4, em 2011, seguido de sua

gravidez, Beyoncé voltou à mídia com uma apresentação no show de intervalo do XLVII

Super Bowl, em fevereiro de 2012. Uma apresentação no intervalo da final da liga de

futebol americano é uma das maiores exposições mundiais que um cantor pop pode ter

atualmente. De acordo com uma pesquisa da Nielsen30

, a Billboard estimou que a

performance de Beyoncé foi assistida por 104 milhões de telespectadores

mundialmente. Após esta superexposição, Beyoncé anunciou uma turnê mundial na

tentativa de continuar seu trabalho se afastando da mídia e descansando a sua imagem.

29

“Beyoncé Exercises Control in All Instagram) Things — and the Result Is Flawless” Disponível em

http://www.cosmopolitan.com/entertainment/a39831/beyonce-internets-most-fascinating/ , acessado em

01/11/15) 30 Disponível em http://www.billboard.com/biz/articles/news/tv-film/1537723/beyonces-super-bowl-

halftime-show-draws-estimated-104-million, acessado em 06/11/2015.

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29

Durante os anos de 2012 e 2013, o público de Beyoncé ficou especulando e criando

expectativa sobre o lançamento de seu quinto álbum.

O afastamento de Beyoncé das mídias também é uma estratégia para seus

últimos lançamentos. Visto que o afastamento é necessário para que o herói “volte

renascido, grandioso e pleno de poder criador” (Campbell, 1995), a cantora utiliza desta

estratégia para que o público sinta sua falta. Após o distanciamento ter seu tempo

necessário para a construção do endeusamento, a artista realiza um lançamento surpresa

e conquista o público novamente. O álbum BEYONCÉ foi lançado em dezembro de

2013, após um longo tempo afastada da mídia.

Durante a madrugada de 13 de dezembro de 2013, Beyoncé lançou seu quinto

álbum de surpresa exclusivamente na iTunes Store31

. Sem anúncio prévio, o lançamento

completamente inesperado, já que Beyoncé estava sem aparecer na mídia, foi divulgado

de forma online. Com um vídeo gravado 32

pela cantora dizendo que não queria que

ninguém desse a notícia do lançamento de seu álbum, se não ela, a cantora surpreendeu

ao mundo. Por ter sido um lançamento surpresa, seu quinto álbum bateu diversos

recordes33

de venda. Além de se tornar o álbum da cantora que mais vendeu na primeira

semana com 617 mil cópias. O álbum autointitulado foi o álbum feminino que teve a

melhor venda na semana de lançamento durante o ano de 2013. Estes recordes provam

que seu afastamento de Beyoncé das mídias foi uma estratégia de sucesso que ela

continua seguindo atualmente.

As pessoas precisam de um Deus para dar sentido às suas vidas. Quando não

acreditam em um Deus, as pessoas colocam um ser humano para substituí-lo.

(TEPEDINO, 2011). A partir dos exemplos dados anteriormente, é possível afirmar que,

nos dias atuais, os fãs da Beyoncé enxergam uma divindade na figura dela. Assim, é

cada vez mais difícil de alcançar sua figura. Os próprios fãs possuem dificuldades de

manter contato com a cantora, os paparazzi não conseguem registrar suas polêmicas, e

31 Loja virtual online de música e vídeo operado pela Apple Inc. Atualmente a loja mais importante do

mercado fonográfico. Definição pelo Wikipédia disponível em

https://pt.wikipedia.org/wiki/ITunes_Store, acessado em 06/11/2015. 32 Vídeo “Self-titled: Part 1. The Visual Album”. Disponível em https://youtu.be/IcN6Ke2V-rQ acessado

em 09/11/2015. 33Recordes disponíveis em http://www.billboard.com/articles/news/5840086/its-official-beyonce-makes-

history-with-fifth-no-1-album , acessado em 06/11/2015.

Page 31: AS VÁRIAS FACES DE BEYONCÉ: A construção de um ídolo e sua transformação midiática

30

suas produções passam a ser aclamadas pela mídia ao ser intitulada a Maior Artista do

Milênio34

em 2011.

Beyoncé está ciente de que no mundo do entretenimento atual é necessário estar

na mídia e abrir mão de sua privacidade para vender a sua arte. Diferentemente de

quando ela começou sua carreira, nos dias atuais a vida pessoal do artista se sobressai a

sua arte.

Acho que as pessoas têm uma ideia em mente dos artistas e celebridades. Acho que elas acham que a vida deles é perfeita. E é difícil passar por

experiências dolorosas quando se está sob os holofotes, pois é difícil ter

privacidade. (Life Is But A Dream, EUA, 2013).

Algumas artistas como Taylor Swift, Demi Lovato e até mesmo a brasileira

Anitta, que assim como ela no início da carreira, estão sempre presentes em diversos

canais de comunicação com os fãs, se encontram com eles após os shows, dão

entrevistas para a mídia e saem na rua publicamente. Beyoncé faz o oposto. Suas raras

aparições públicas são em suas férias, onde é geralmente registrada por câmeras

amadoras. Nos eventos considerados mais importantes do ano, sua presença é uma das

mais requisitadas e sabendo disso, ela aparece sempre nos últimos minutos de tapete

vermelho.

“No cenário mainstream35

da música pop comercial, a celebrização quase

instantânea de um cantor ou banda, acompanhada de uma sensação de onipresença de

seus hits e de sua imagem na mídia não é novidade” (COSTA, 2013). Com isso, seus fãs

criam uma distância, e ao invés de perderem interesse por falta de contato, passam a

venerá-la como uma figura divina de difícil contato. O contato da Beyhive com

Beyoncé, assim como os mitos, só pode ser realizado através de rituais. Esses rituais são

identificados como ouvir suas músicas, ver seus clipes, ir a seus shows, conversar com

outros fãs, ler notícias sobre ela e comentar nas redes sociais – mesmo que seja para

defendê-la de alguma forma. Como seus shows não são tão comuns, geralmente com

34 Disponível em http://www.billboard.com/articles/news/471664/beyonce-to-be-honored-with-billboard-

millennium-award-at-billboard-music-awards , acessado em 23/09/2015. 35 Mainstream é um conceito que expressa uma tendência ou moda principal e dominante. Definição

disponível em http://www.significados.com.br/mainstream/.

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31

intervalos de anos em uma cidade, seus fãs costumam dar festas onde convidam outros

fãs e contratam DJs para tocarem as músicas da cantora.

Por criarem uma distância da cantora, ela passa a ser considerada intocável e

diva. Com isso, apelido de Beysus36

se torna cada vez mais comum entre os fãs. Na

internet, Beyoncé é apelidada desta forma pelos mais fanáticos que a veneram como

uma deusa contemporânea.

Figura5: Montagem de Beyoncé como Beysus

Fonte: http://www.musedmagonline.com/wp-content/uploads/2012/09/beysus.png

Mesmo não sendo uma celebridade que costuma divulgar suas intimidades,

Beyoncé acumula milhões de seguidores em suas redes sociais. São 14 milhões de

seguidores em seu Twitter37

com apenas quatro publicações no microblog. É a 5ª conta38

mais seguida no Instagram39

com 51 milhões de seguidores, onde diferentemente das

outras celebridades, publica fotos editadas profissionalmente, em sua maioria, e não

segue ninguém. No Facebook40

são 63 milhões de curtidas em sua página oficial, o que

a torna a 5ª cantora41

mais seguida na rede social.

36 Um dicionário informal dá a definição do apelido como “Nosso lorde, nosso salvador Beyoncé Giselle Knowles”. Disponível em http://pt.urbandictionary.com/define.php?term=Beysus, acessado em 18/11/15. 37 Perfil oficial de Beyoncé no Twitter disponível em https://twitter.com/Beyonce, acessado em 22/11/15 38 Dado disponível em http://socialblade.com/instagram/top/100/followers, acessado em 22/11/15. 39 Perfil oficial de Beyoncé no Instagram disponível em https://www.instagram.com/beyonce/, acessado

em 22/11/15. 40 Perfil oficial de Beyoncé no Facebook disponível em https://www.facebook.com/beyonce, acessado em

22/11/15. 41 Dado disponível em http://fanpagelist.com/category/top_users/view/list/sort/fans/page1, acessado em

22/11/15.

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32

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após analisar a construção de imagem do ídolo Beyoncé, é possível fazer uma

síntese geral do tema com algumas breves considerações. Desde o inicio de sua carreira,

a cantora foi treinada e moldada para ser um exemplo de figura midiática. O seu

comportamento, suas poses diante às câmeras, seus cabelos e suas maquiagens

combinadas à sua vestimenta eram excessivamente pensadas para a aparição pública

desde esta época. Ao compreender o papel da celebridade na mídia, ela reuniu uma

equipe que se mantém a mesma por quase duas décadas até os dias atuais. Este ato

mostra o seu desejo em se tornar um ídolo e em manter uma continuidade em seu

discurso artístico.

Analisando a carreira de Beyoncé durante este estudo, é possível concluir que

embora a cantora tenha lançado diversos materiais em diferentes épocas, ela seguiu uma

trajetória contínua e ascendente. Se a artista vive o seu auge quebrando recordes mesmo

após vinte anos de sucesso, é possível afirmar que sua estratégia obteve resultados

satisfatórios. Ao aprender a lidar com a mídia, ela alcançou um patamar diferente de

outras cantoras do ramo.

Enquanto estava iniciando a sua carreira no grupo Destiny’s Child, Beyoncé

tinha uma imagem de celebridade. Ao passar dos anos, com o planejamento midiático e

a carreira solo, ela se tornou um ídolo. Esta transição mitificadora tornou a fama de

Beyoncé de efêmera para algo eternizado. Mesmo que a cantora não faça mais sucesso,

continuará aparecendo na mídia, mesmo que esporadicamente, por aquilo que representa

nos dias atuais. Este processo de mitificação não ocorre de forma repentina e nem

apenas por um único acontecimento. A construção de um ídolo leva anos e pode ser

interrompida facilmente com apenas um pequeno erro de gestão de imagem.

A recepção do ídolo pelo público também é uma importante vertente a ser levada

em conta. Por demonstrar talento, esforço e carisma, o público do segmento possui

facilidade em aceitá-la positivamente. Durante toda sua carreira, Beyoncé alcançou os

topos das listas dos favoritos, o que confirma esta aceitação.

Aceitação tão positiva que atualmente surgem algumas críticas sobre seu

perfeccionismo e sua vontade de estar sempre no topo. O seu distanciamento da mídia,

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33

ao mesmo tempo em que a torna intocável, a torna distante de seus fãs. Diante dessas

duas possibilidades, a atual é que ela é quase uma deusa, visto que seus fãs a comparam

com figuras religiosas dignas de culto. A grande questão é que na realidade Beyoncé

não é intocável. Ela é um ser humano e caso continue a se distanciar, pode tornar-se um

mito tão grande que seus fãs desistam de cultuá-la. Na era digital, os outros artistas do

ramo estão cada vez mais próximos de seus seguidores tanto virtualmente quanto

fisicamente. A maioria dos concorrentes da cantora pelo topo é vista como mais

acessíveis, até mesmo Madonna, a aclamada atual Rainha do pop.

Assim como apresentado durante o estudo, o ídolo precisa humanizar-se às

vezes para que ele seja cultuado como um mito. Em seus próximos lançamentos, como

seu próximo álbum, que está em produção atualmente, diga-se de passagem, Beyoncé

deve realizar alguma ação com o objetivo de humanizar-se. Caso contrário, seguindo os

teóricos estudados, ela pode vir a ter sua primeira grande crise de imagem de sua

carreira.

Algumas questões para futuras pesquisas podem ser destacas. Em uma época em

que cada vez mais é exigido o imediatismo e a proximidade, até que ponto este

distanciamento vai funcionar como uma estratégia? Até quando Beyoncé será capaz de

total controle de sua imagem? Será que o público vai se cansar deste perfeccionismo ou

vai venerá-la por estar sempre perfeita? Manter contato com o ídolo diariamente,

mesmo que não seja de forma pessoal, é uma rotina para um fã. Ler notícias, comentar

em redes sociais suas paixões e discutir os lançamentos com outros fãs são alguns dos

ritos para cultuar um ídolo. Ter o olhar imparcial e conseguir julgar as ações da figura

de culto é um desafio para o fã. Diferente de outros fãs, eu, fã da Beyoncé, tive certa

facilidade. Graças ao meu olhar de publicitário, desde que entrei na faculdade aprendi

que apenas sabendo separar os dois lados, eu poderia estudar e trabalhar no ramo. Ainda

sim, foi um desafio deixar os elogios de lado. Fazer um estudo sobre a construção de

seu ídolo, além de ser um estímulo, é uma pesquisa interessante e que faz você ter outra

visão sobre a mídia e sobre a própria personalidade.

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34

Após a conclusão deste trabalho, é praticamente impossível não reagir de forma

completamente diferente a um comportamento ou anúncio da Beyoncé. O papel do

ídolo é fazer o fã não enxergar esta construção como algo calculado, e sim como um

processo natural e espontâneo. Hoje, mesmo que ela continue sendo um ídolo, posso

dizer que se todos os fãs da Beyoncé tivessem um mesmo olhar midiático, ela

provavelmente perderia um pouco desta aura que possui atualmente.

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35

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