as vantagens da sociedade aberta, josé pio martins

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As Vantagens da Sociedade Aberta José Pio Martin s A liberdade é a única condição de organização social capaz de cumprir quatro obj etivos: o  respei to ao ser humano, o desen volvi me nt o das po te ncialidade s indi vidu ai s, a prosperidad e  mate rial e a justiç a social. A liberdade é um valo r e po de ser de fi ni da como a ausência de coe rção d e indivíduos sobre  indi duos. A coerçã o é a pressã o que obri ga os indi duos aagir em fu nção de in teresses  al he io s e, po rtanto, em de tri ment o do s seu s pró pri os in te resses. Frie de rich Haye k d izia qu e  a coerçã o é má porque anul a o i ndi duo como ser que pensa, ava l i ae deci de, já que o  transforma em me ro instrumento dos interesses e fins de outrem”. Para organi zar uma sociedade aberta, pautada pelo ideal de li berdade, a humanidade dispõe  de três instrum ent os: a de mocracia política, o e stado de direito e a economia de m ercado . A  vantagem deste tripé reside na sua compat ibilidade com as duas principais características  humana s: a imperfeição e a di fe rença individual. As for mas de organizaçã o social qu e, para  fu ncionar, precisam pôr fim às imperf eições dos homens e às di fe renças indivi duais estão  condenadas a fracassar sempre. Sendo o homem um se r imperf eito, imperf eitas são, e  semp re serão, todas as instit uiçõe s humana s. A dem ocracia não é pe rfeit a, com o ta mb ém o  merca do não o é. Um do s dil emas nã o resolvid os da hu man id ade é qu e a in te rve ão par a  corrigi ras “f al has de mercadoé fei ta pel o Est ado, cu j as i mperf ei çõ es o por demai s  exage rada s. Esta é a razão pe la qu al os pod eres do go verno de vem ser limitad os, sob pen a  da intervenção gerar uma falha maior do que aquela que pretende corrigir. No toca nte à democraci a, ela não é um método para conduzi r os melhore s ao poder, mas  para impedir que os piores lá perman am. A superioridad e do regime democráti co vem de  cinco atr ibutos: a separação do s poder es, a liberd ade de opinião, o ro dízio de li de ranças, o  voto e a oposi ção. Af ora isso, é o totalitarismo. Assim sendo, não há simil aridade entr e um  governo de esquerda em uma ditadu ra e um go verno de esqu erda em u ma sociedad e li vre.  Co mo go vernante, não se pode confu nd ir Lul a com Fi de l Ca stro. Co nquanto ha ja af in id ad e  pessoal entre el es, são gove rnos total mente diferentes. Lul a passou duas déca das se  subm ete ndo ao jul gam ent o do povo e perd end o ele ições. Ele geu -se legi tim ament e, de pen de  das deci es de um parl amento, su bmete -se a um poder j udi ci ári o i ndependente e, após  quatro anos, será julga do p ela nação. Se o po vo não aprovar seu governo, ele vai para casa  norm almente , sem tanques nem baioneta s. Fidel Castro é um ditador. Nenhum dos cinco  atributo s democráticos está presente naquele país. O mercado ta mbém não é perfeito, mas é a melhor fo rma de que a humanidade dispõe p ara  organ izar a produção e cumprir os qu atro ob je tivo s c it ad os no in ício deste texto . O merca do  é um si ste ma de voto, qu e fu ncio na par a dize r qua is pr oje to s o corre to s e qu ais nã o são;  1 Economista, professor e vice-reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP. 1 1

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8/3/2019 As Vantagens da Sociedade Aberta, José Pio Martins

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As Vantagens da Sociedade AbertaJosé Pio Martins

A liberdade é a única condição de organização social capaz de cumprir quatro objetivos: o 

respeito ao ser humano, o desenvolvimento das potencialidades individuais, a prosperidade 

material e a justiça social.

A liberdade é um valor e pode ser definida como a ausência de coerção de indivíduos sobre 

indivíduos. A coerção é a pressão que obriga os indivíduos a agir em função de interesses 

alheios e, portanto, em detrimento dos seus próprios interesses. Friederich Hayek dizia que 

“a coerção é má porque anula o indivíduo como ser que pensa, avalia e decide, já que o 

transforma em mero instrumento dos interesses e fins de outrem”.

Para organizar uma sociedade aberta, pautada pelo ideal de liberdade, a humanidade dispõe 

de três instrumentos: a democracia política, o estado de direito e a economia de mercado. A 

vantagem deste tripé reside na sua compatibilidade com as duas principais características 

humanas: a imperfeição e a diferença individual. As formas de organização social que, para 

funcionar, precisam pôr fim às imperfeições dos homens e às diferenças individuais estão 

condenadas a fracassar sempre. Sendo o homem um ser imperfeito, imperfeitas são, e 

sempre serão, todas as instituições humanas. A democracia não é perfeita, como também o 

mercado não o é. Um dos dilemas não resolvidos da humanidade é que a intervenção para 

corrigir as “falhas de mercado” é feita pelo Estado, cujas imperfeições são por demais exageradas. Esta é a razão pela qual os poderes do governo devem ser limitados, sob pena 

da intervenção gerar uma falha maior do que aquela que pretende corrigir.

No tocante à democracia, ela não é um método para conduzir os melhores ao poder, mas 

para impedir que os piores lá permaneçam. A superioridade do regime democrático vem de 

cinco atributos: a separação dos poderes, a liberdade de opinião, o rodízio de lideranças, o 

voto e a oposição. Afora isso, é o totalitarismo. Assim sendo, não há similaridade entre um 

governo de esquerda em uma ditadura e um governo de esquerda em uma sociedade livre. 

Como governante, não se pode confundir Lula com Fidel Castro. Conquanto haja afinidade 

pessoal entre eles, são governos totalmente diferentes. Lula passou duas décadas se submetendo ao julgamento do povo e perdendo eleições. Elegeu-se legitimamente, depende 

das decisões de um parlamento, submete-se a um poder judiciário independente e, após 

quatro anos, será julgado pela nação. Se o povo não aprovar seu governo, ele vai para casa 

normalmente, sem tanques nem baionetas. Fidel Castro é um ditador. Nenhum dos cinco 

atributos democráticos está presente naquele país.

O mercado também não é perfeito, mas é a melhor forma de que a humanidade dispõe para 

organizar a produção e cumprir os quatro objetivos citados no início deste texto. O mercado 

é um sistema de voto, que funciona para dizer quais projetos são corretos e quais não são; 

1 Economista, professor e vice-reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP.

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8/3/2019 As Vantagens da Sociedade Aberta, José Pio Martins

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quais atividades devem continuar e quais devem cessar. O consumidor, ao decidir como 

gastar a sua renda, exerce um voto diário, livre e soberano, e a ele o produtor deve 

obediência. O consumidor é o juiz das decisões empresariais. Na Europa, mais de 100 mil 

produtos são lançados anualmente no mercado. Em cinco anos, apenas 20% desses 

produtos sobrevivem.

Erroneamente, muitos vêem o empresário como um homem que manda, desmanda e faz o 

que quer. Não é assim. O papel do empresário é identificar necessidades, descobrir  

oportunidades, organizar a produção e submeter-se ao julgamento do mercado, que é uma 

arena implacável. O prêmio vai para aquele que produzir o que o consumidor quer, com a 

melhor qualidade e ao menor custo. Há uma espada de Dâmocles que pende sobre o 

pescoço do empreendedor. Se ele acerta, o mercado confia-lhe uma massa de dinheiro em 

troca de quantidades de um produto. O empresário reparte o dinheiro entre os fatores 

participantes da produção (matérias-primas, trabalho e capital), reservando uma parte para 

si, o lucro, que remunera a descoberta e o risco. Se ele erra, a falência bate à sua porta 

inapelavelmente.

A sociedade aberta, fundada sob os auspícios da liberdade e do respeito aos direitos 

individuais, é uma instituição tão flexível que mesmo os que a combatem foram por ela 

“incluídos” e beneficiados: os socialistas. A maior “inclusão social” da história, expressão 

tão na moda, é a leniência com que a economia nas sociedades livres entrega mais de um 

terço de toda a sua produção para o Estado, a fim de que este faça o que quiser, inclusive 

perturbar a liberdade. O Estado é necessário e há intervenções positivas, como aquelas 

destinadas a preservar a concorrência e proteger o meio ambiente. Mas, os governos vêm 

se esmerando em fazer intervenções perturbadoras, que reduzem a eficiência do sistema, 

embora nunca se culpem por isso.

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