8/3/2019 As Vantagens da Sociedade Aberta, José Pio Martins
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As Vantagens da Sociedade AbertaJosé Pio Martins
A liberdade é a única condição de organização social capaz de cumprir quatro objetivos: o
respeito ao ser humano, o desenvolvimento das potencialidades individuais, a prosperidade
material e a justiça social.
A liberdade é um valor e pode ser definida como a ausência de coerção de indivíduos sobre
indivíduos. A coerção é a pressão que obriga os indivíduos a agir em função de interesses
alheios e, portanto, em detrimento dos seus próprios interesses. Friederich Hayek dizia que
“a coerção é má porque anula o indivíduo como ser que pensa, avalia e decide, já que o
transforma em mero instrumento dos interesses e fins de outrem”.
Para organizar uma sociedade aberta, pautada pelo ideal de liberdade, a humanidade dispõe
de três instrumentos: a democracia política, o estado de direito e a economia de mercado. A
vantagem deste tripé reside na sua compatibilidade com as duas principais características
humanas: a imperfeição e a diferença individual. As formas de organização social que, para
funcionar, precisam pôr fim às imperfeições dos homens e às diferenças individuais estão
condenadas a fracassar sempre. Sendo o homem um ser imperfeito, imperfeitas são, e
sempre serão, todas as instituições humanas. A democracia não é perfeita, como também o
mercado não o é. Um dos dilemas não resolvidos da humanidade é que a intervenção para
corrigir as “falhas de mercado” é feita pelo Estado, cujas imperfeições são por demais exageradas. Esta é a razão pela qual os poderes do governo devem ser limitados, sob pena
da intervenção gerar uma falha maior do que aquela que pretende corrigir.
No tocante à democracia, ela não é um método para conduzir os melhores ao poder, mas
para impedir que os piores lá permaneçam. A superioridade do regime democrático vem de
cinco atributos: a separação dos poderes, a liberdade de opinião, o rodízio de lideranças, o
voto e a oposição. Afora isso, é o totalitarismo. Assim sendo, não há similaridade entre um
governo de esquerda em uma ditadura e um governo de esquerda em uma sociedade livre.
Como governante, não se pode confundir Lula com Fidel Castro. Conquanto haja afinidade
pessoal entre eles, são governos totalmente diferentes. Lula passou duas décadas se submetendo ao julgamento do povo e perdendo eleições. Elegeu-se legitimamente, depende
das decisões de um parlamento, submete-se a um poder judiciário independente e, após
quatro anos, será julgado pela nação. Se o povo não aprovar seu governo, ele vai para casa
normalmente, sem tanques nem baionetas. Fidel Castro é um ditador. Nenhum dos cinco
atributos democráticos está presente naquele país.
O mercado também não é perfeito, mas é a melhor forma de que a humanidade dispõe para
organizar a produção e cumprir os quatro objetivos citados no início deste texto. O mercado
é um sistema de voto, que funciona para dizer quais projetos são corretos e quais não são;
1 Economista, professor e vice-reitor do Centro Universitário Positivo – UnicenP.
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quais atividades devem continuar e quais devem cessar. O consumidor, ao decidir como
gastar a sua renda, exerce um voto diário, livre e soberano, e a ele o produtor deve
obediência. O consumidor é o juiz das decisões empresariais. Na Europa, mais de 100 mil
produtos são lançados anualmente no mercado. Em cinco anos, apenas 20% desses
produtos sobrevivem.
Erroneamente, muitos vêem o empresário como um homem que manda, desmanda e faz o
que quer. Não é assim. O papel do empresário é identificar necessidades, descobrir
oportunidades, organizar a produção e submeter-se ao julgamento do mercado, que é uma
arena implacável. O prêmio vai para aquele que produzir o que o consumidor quer, com a
melhor qualidade e ao menor custo. Há uma espada de Dâmocles que pende sobre o
pescoço do empreendedor. Se ele acerta, o mercado confia-lhe uma massa de dinheiro em
troca de quantidades de um produto. O empresário reparte o dinheiro entre os fatores
participantes da produção (matérias-primas, trabalho e capital), reservando uma parte para
si, o lucro, que remunera a descoberta e o risco. Se ele erra, a falência bate à sua porta
inapelavelmente.
A sociedade aberta, fundada sob os auspícios da liberdade e do respeito aos direitos
individuais, é uma instituição tão flexível que mesmo os que a combatem foram por ela
“incluídos” e beneficiados: os socialistas. A maior “inclusão social” da história, expressão
tão na moda, é a leniência com que a economia nas sociedades livres entrega mais de um
terço de toda a sua produção para o Estado, a fim de que este faça o que quiser, inclusive
perturbar a liberdade. O Estado é necessário e há intervenções positivas, como aquelas
destinadas a preservar a concorrência e proteger o meio ambiente. Mas, os governos vêm
se esmerando em fazer intervenções perturbadoras, que reduzem a eficiência do sistema,
embora nunca se culpem por isso.
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