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Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS Reitora

Ana Dayse Rezende Dorea Vice-reitor

Eurico de Barros Lobo Filho Diretora da Edufal Sheila Diab Maluf

Conselho Editorial Sheila DiaD Maluf (Presidente)

Cícero Péricles de Oliveira Carvalho Maria do Socorro Aguiar de Oliveira Cavalcante

Roberto Sarmento Lima Iracilda Maria de Moura Lima

Lindemberg Medeiros de Araújo Flávio Antônio Miranda de Souza

Eurico Pinto de Lemos Antonio de Pádua Cavalcante

Cristiane Cyrino Estevão Oliveira

Supervisão gráfica: Márcio Roberto Vieira de Melo Projeto grafico e diagramação: Vivían Rocha

Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas

Biblioteca Central - Divisão de Tratamento Técnico Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale

L768c Lira, Fernando José de. Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas / Fernando Lira. - Maceió:

EDUFAL, 2007. 320p. : II., grafs., tabs.

Bibliografia: p. 313-320.

1. Economia regional - Alagoas. 3. Alagoas - Aspectos sociais. 3. Riqueza -Alagoas. 4. Pobreza - Alagoas. I. Título.

CDU: 332.1(813.5)

ISBN 85-7177-313-4

Direitos desta edição reservados à Edutal - Editora da Universidade Federal de Alagoas

Campus A. C. Simões. BR 104, Km, 97,6 - Fone/Fax: (82) 3214,1111 Tabuleiro do Martins - CEP: 57.072-970 - Maceió - Alagoas E-mail:[email protected] - Site: www.edufal.ufal.br

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À minha mãe Aliete e ao meu pai João.

À Adeilda e a milha querida filha liana.

Aos meus irmãos e irmãs, especialmente a Petrúcio.

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Agradecimentos

Este trabalho é fruto de pesquisas feitas com estudantes de graduação, em trabalho de iniciação científica, com mestrandos do Programa Regional de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), em dissertação de mestrado e, portanto, a essas pessoas, que contribuíram direta e indire tamente , os nossos agradecimentos . Agradecimentos especiais aos colegas professores Cícero Péricles de Carvalho e Rodrigo Ramalho Filho que leram os originais. O conteúdo apresentado e os erros cometidos são de minha inteira responsabilidade. Agradecemos, ainda o SEBRAE pelo apoio fornecido, particularmente ao Marcos Vieira.

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Sumário

Introdução, 1 Capítulo I: Formação do paraíso sucroalcooleiro, 9 1.1 - A conquista da terra, 15 1.2 - Reprodução e subordinação da força de trabalho, 39 Capítulo II: O poder de base agrária, 51 2.1 - As raízes do poder ení alagoas, 52 2.2 - Os proprietários do poder, 80 2.3 - Um padrão de crescimento excludente, 87 2.4 - O aumento da riqueza, 93 2.5 - O modo latifundiário de produção, 97 Capítulo III: A ilusão da inclusão, 103 3 .1 - Características locais, 105

3.1.1 - Leste, 109 3.1.2 - Agreste, 110 3.1.3 - Sertão, 111

3.3 - Formas de ocupação, 113 3.4 - A indústria do Estado de Alagoas, 123

3.4.1 - Caracterização tecnológica, 124 3.4.2 - Estratégias de gestão da produção, 126 3.4.3 - Estratégias voltadas ao meio ambiente, 130 3.4.4 - Emprego e recursos humanos, 132 3.4.5 - Treinamento e educação formal, 150 3.4.6 - Caracterização geral das empresas inovadoras, 156

3.5 - A economia dos serviços em Alagoas, 158 3.6 - Emprego e recursos humanos, 164 3.7 - Requisitos de escolaridade formal, 173

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Capítulo IV 4.1 - Ocupação, renda e exclusão, 179 4.2 - Retrato dos sem futuro, 193 4.3 - Os trabalhadores fora da lei, 211 Capítulo V: Alagoas aos pedaços, 221 5.1 - Caracterização socioeconómicas das sub-regiões, 224 5.2 - Dinâmica econômica, 225 5.3 - Aspectos sociais, 225 Capítulo VI: Estrutura produção monopolista, 251 6.1 - Emprego e renda, 281 6.2 - Natureza e realidade das empresas nas sub-regiões, 285 Considerações finais, 305 Blibiografia consultada, 313

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Introdução

Em Alagoas , as sesmarias doadas aos futuros senhores de engenhos localizavam-se nas melhores terras. Favorecida por solos de massapé, várzeas, encostas e rios todos caudalosos e navegáveis, a atividade açucareira encontrou, nessa província, condições excelentes para a implantação e expansão dos engenhos de açúcar. Os engenhos, a princípio, localizados em Porto Calvo, logo aumentaram em área e número, alcançando todo o litoral e Zona da Mata alagoana.

Assim, com o apoio imperial, que tinha o açúcar como o grande negócio estabelecido na colônia, a partir do século XVIII, Alagoas transformou-se numa província de predominância absoluta da cana-de-açúcar. Os amigos do governo provincial e do Imperador recebiam sesmarias, recursos financeiros e escravos para avançarem nas ocupações da região a lagoana e, conseqüentemente, produzirem mais açúcar para ser exportado para a Europa.

No intuito de aumentarem a produção e a exportação de açúcar, os senhores de engenho derrubavam as matas , expulsavam os índios, confinando-os em aldeia, de modo a permitir que o avanço da plantação de cana, na forma de monocultura, fizesse de Alagoas a segunda região mais produtora de açúcar, no Brasil colonial.

Esse domínio da monocultura da cana-de-açúcar, baseada na doação de sesmaria e na mão-de-obra escrava, fazia dos senhores de engenhos grandes latifundiários e possuidores de poder econômico e político na província alagoana. A terra, doada

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em abundância, para os senhores de engenho plantarem cana, era de difícil acesso aos pequenos produtores de culturas voltadas à produção de al imento para abastecer a população. Por conseguinte, toda a população de Alagoas vivia na dependência da importação de alimentos e dos grandes latifundiários, que usavam a terra como um forte instrumento de poder.

Então, como senhores de engenho e do poder absoluto, receberam todo o apoio da Corte Portuguesa, do governo impe­rial brasileiro, bem como dos governos republicano e estadual. Por mais de três séculos, o engenho de açúcar era a única unidade de produção socialmente dominante e economicamente viável que existia em Alagoas. As outras atividades surgiram derivadas das necessidades do engenho. Assim foi com a pecuária, com a produção de a l imentos , com os pequenos produtores independentes e com os comerciantes.

Nesse sentido, a formação econômica, social e política de Alagoas tem raízes profundas no modo de implantação da atividade canavieira, no Estado. Por conseguinte, do século XVI ao século XX, a história de Alagoas tem como núcleo a história da agroindústria do açúcar.

Nessas condições históricas, o padrão adotado é o agrário tradicional que, pela sua importância econômica e política, acaba por definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor serviço, do setor público e da sociedade em geral. Nesse modelo, a prioridade é a grande empresa - com mais de 100 empregados, onde existe pouca diferenciação da produção, baixa competi t ividade s istêmica e relações de trabalho predo­minantemente informais, gerando forte exclusão social e um ambiente desfavorável aos pequenos e microempreendedores.

No setor agrícola, como já destacamos, predomina a cultura da^çana^clê^açúcar e a pecuária. de_ leite praticadas em grandes propriedades - acima de 1.000 hectares de terras - ocupando uma área de 538 mil e 295 mil hectares respectivamente e, por conseguinte,

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a cana-de-açúcar ocupa 69,3% da área cultivada, sendo que sua predominância está na Zona da Mata e nos Tabuleiros Costeiros. A pecuária de leite no Sertão, principalmente em torno do município de Batalha, representa 97,7% da área com pecuária.

Quanto à ocupação de mão-de-obra em 2000, a tabela 1 deixa claro que as culturas da cana-de-açúcar, mandioca e milho foram as que mais empregaram. Na pecuária, a bovinocultura de leite demandou 80% dos ocupados nessa atividade. As culturas de mandioca, milho, arroz e feijão, cultivadas por pequenos produtores - com até 100 ha de terras - foram responsáveis por 12,3%, 10,2%, 4,6% e 3,4%, respectivamente, do total de mão-de-obra.

Juntas, essas culturas demandaram quase um terço dos ocupados agrícolas. Localizadas principalmente no Agreste e na região do Baixo São Francisco, são cultivadas em sistemas agrícolas de baixo nível tecnológico e destinadas ao abastecimento do mercado interno.

A cultura do fumo é uma atividade de alta produtividade e, no passado recente, também de alta rentabilidade, além de grande empregadora de mão-de-obra. A região fumageira fica situada no Agreste, tendo por base o município de Arapiraca, centro produtor, industrializador e distribuidor do produto. En­tre 1973 e 1983, a taxa de crescimento da produção de fumo foi de 5% ao ano, praticamente como resultado da expansão da área plantada. Já no período de 1984 a 1994, a produção caiu 3,4% ao ano, tanto na área cultivada como no rendimento da terra. Atualmente, o fumo apresenta baixo dinamismo, devido à insuficiência em pesquisa, controle de qualidade e assistência técnica, além de baixo preço.

No setor industrial, destacam-se as grandes unidades agroindustriais das atividades sucroalcooleiras, representadas por alimentos e bebidas que, em 1999, possuíam 49 unidades industriais, ocupavam 39,5% do total e 81,3% da mão-de-obra do setor. A indústria intermediária, de bens de capital e de consumo

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duráveis, é pouco representativa e é basicamente indústria química e de combustíveis que ocupa 68,5% dos empregados do total das indústrias desse ramo.

Em suma, a característica mais marcante da indústria alagoana é a enorme importância da divisão de alimentos e bebidas decorrente da produção de açúcar. Essas. indústrias_ empregam 81 % de todas as pessoas ocupadas na indústria e junto com os 9% dos trabalhadores empregados no segmento de química e combustíveis, que também contém a produção de álcool combustível, demonstram a verdadeira importância econômica e política do complexo sucroalcooleiro.

A distribuição espacial desse tipo de indústria não privilegia a microrregião de Maceió, uma vez que a usina de açúcar e a destilaria de álcool localizam-se junto à fonte de matéria-prima e mão-de-obra, contribuindo para o emprego de mão-de-obra agrícola não qualificada e gerando muitas ocupações não-agrícolas no meio rural.

Portanto, a agropecuária e a indústria alagoana, ao contrário do que ocorre em Santa Catarina e nos demais Estados brasileiros, são constituídas, principalmente, por unidades de grande porte, o que se deve ao tipo de produção das usinas de açúcar que demandam áreas de grande tamanho. E possível, todavia, que pequenos produtores, organizados em cooperativas, possam cul­tivar a cana-de-açúcar com grandes possibilidades de sucesso.

Em relação às condições de trabalho, em 2001, eram bastante precárias , pois 86 ,8% dos ocupados na agricultura eram trabalhadores informais. Na indústria, a informalidade chegava a 60,5% dos empregados e, no setor serviço, mais de 72% não tinham carteira de trabalho assinada e não contribuíam para a previdência social.

Quanto ao nível de informalidade das ocupações, de forma desagregada, a construção civil é o ramo que possui a maior proporção de ocupados informais, 97,4%; seguida da agricultura

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com 86,8%; outras atividades com 81,2%; o comércio de mercadoria apresentando 76,6% e, nos serviços auxiliares da

de trabalho assinada. Por seu turno, as atividades com maior grau de formalidade eram o setor público, com 81,8% dos ocupados; serviços, 76,5%; transportes e comunicação, 74,8%; e outras atividades industriais nas quais 69,4% das pessoas tinham carteira

Assim, o padrão de desenvolvimento adotado partiu da premissa de que o crescimento econômico seria capaz de promover o desenvolvimento humano. Sabemos, hoje, pela experiência de três décadas de aumento vigoroso da riqueza, que esse modelo não se mostrou eficaz no que se propunha, entre outros motivos, porque, oferecendo nível mínimo de desenvolvimento social às sociedades, acarreta dificuldades para se expandirem de forma sustentável. De acordo com Franco (2001), para uma sociedade atingir o estágio de desenvolvimento, a acumulação do capital humano e do capital social são dois fatores decisivos.

Nesse padrão adotado, o crescimento do Produto Interno Bruto consegue acumular-se por um período limitado, mas não alcança um nível de desenvolvimento sustentável. Esse é justamente o caso de Alagoas, onde o capital social e o humano ficam muito abaixo da média do Nordeste, estando entre os mais desfavoráveis do Brasil.

Franco (2001) argumenta, ainda, que, do ponto de vista do capital social, a cooperação é o primeiro fator que cria um ambiente favorável ao desenvolvimento. E, para que esse desenvolvimento seja sustentável, é necessário que se instale, na coletividade, uma cultura de cooperação sistêmica. O padrão vertical de organização mais a subordinação e dependência que existem em Alagoas, no setor agropecuário, impedem a geração, a acumulação e a reprodução do capital humano e do social em condições favoráveis ao desenvolvimento da sociedade como um todo.

atividade econômica, existiam 55,2% dos ocupados sem carteira

de trabalho assinada.

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Ainda de acordo com Franco (2000), a acumulação de capital social se dá num ambiente de cooperação em formação de rede, ou seja, numa cultura de netxoork e de democracia, significando dizer que a democracia é, juntamente com a rede, um ambiente necessário ao desenvolvimento.

Assim, criar um ambiente favorável ao desenvolvimento so­cial e humano sustentável é começar investindo no capital social e no capital humano, sobretudo nas atividades de natureza familiar.

Alagoas é um espaço político, econômico e social que garante certas especificidades no desenvolvimento social e humano. Sua identidade foi construída através das imposições de um setor agroindustrial dominante, cuja elite desenvolveu formas de controle rígido e antidemocrático, apropriado a seus

L__interesses econômicos e de poder.

Esse poder político que, ao definir suas prioridades, privilegiou uns poucos e excluiu o grosso da população da riqueza gerada, é um poder autocrático, porque gera um ambiente económico, social e político que dificulta a acumulação de capital social e humano, bem como o acesso aos meios de sobrevivência à maioria da população.

Nesse sentido, o modelo de produção não-agrícola e agrícola dominante na microrregião de Maceió e no restante do Estado é um padrão fechado, de consenso muito restrito, mas que subordina toda a economia de Alagoas no que diz respeito à produção, relações de trabalho, ocupação, cooperação, inovação tecnológica, criação de redes e capacidade empreendedora, etc.

O Estado, fora da microrregião de Maceió e daquelas dominadas pela cana-de-açúcar, é um vazio econômico que ainda está por ser explorado de forma produtiva e empreendedora.

O modelo agrícola adotado pela maioria dos pequenos produtores é herdado do período colonial, e, na verdade, vem sofrendo apenas pequenas transformações. As práticas agrícolas quase feudais, cujas ferramentas de trabalho são a enxada, o

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machado e o facão, perduram até os dias atuais. São pequenos produtores com até 2 empregados , na sua maior parte analfabetos funcionais e com baixa acumulação de capital social, mas passíveis de se transformarem em pequenos empreendedores em atividades agrícolas e não-agrícolas no meio rural.

Na seqüência, no primeiro capítulo, trataremos da forma de implantação e avanço da cana-de-açúcar, desde o período co­lonial até os dias atuais. No capítulo II, faremos uma abordagem sobre o modo de produção da atividade açucareira e das relações de propriedade, de produção, de trabalho e sociais, que esse modo de produção engendrou. No capítulo III, faremos a análise do modelo de desenvolvimento econômico e social adotado em Alagoas, bem como do papel das elites canavieiras na formação e sustentação desse modelo. F ina lmente , na conc lusão , mostraremos que a economia e a sociedade alagoana estão umbilicalmente dependentes das atividades geradas pela agroindústria canavieira.

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Capítulo I

Formação do paraíso sucroalcooleiro Os portugueses que, em 1500, viviam a fase do

capitalismo mercantil, ao chegarem à Bahia, estavam mais preocupados com encontrar, no Brasil, produtos comerciais possíveis de serem exportados para Europa, que lhes permitissem fazer fortuna. Inicialmente, exploraram o pau-brasil que, em abundância e facilmente extraído no litoral brasileiro, tinha grande aceitação no mercado externo, como matéria-prima para fabricação de tintas corantes.

Assim, a descoberta de uma nova colônia promissora estimulou o governo português a enviar ao Brasil outras expedições importantes no processo de colonização. A expedição de Martins Afonso de Souza estava interessada em explorar atividades comerciais que, além de gerarem produtos aceitos no mercado externo, contribuíssem para a efetiva ocupação da nova colônia, no sentido de consolidar a presença portuguesa em território brasileiro.

Para alcançar os dois objetivos, um imediato, que era a exportação de produtos da terra, e outro - mais de médio e longo prazos - a colonização, a Corte Portuguesa via, no açúcar produzido a partir da cana, o produto ideal para garantir seus objetivos. Informada da abundância de terras no Brasil, propícias à cana-de-açúcar, a Corte Portuguesa proporcionou apoio à implantação e exploração da atividade açucareira em escala comercial.

Introduzida no Brasil, no século XVI, é, principalmente na Bahia, em Pernambuco e São Vicente, que a cana-de-açúcar vai

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encontrar as condições de clima, solo e mão-de-obra capazes de impulsionarem 6ua expansão. Além disso, como produto comercialmente aceito no mundo inteiro e como atividade agrícola e agroindustrial, que ocupa muita terra e mão-de-obra, foi considerada prioritária para o processo de povoamento e ocupação da nova colônia.

Dividido o Brasil em capitanias hereditárias, nos séculos XVI e XVII, as capitanias da Bahia e Pernambuco foram as que mais prosperaram. Seus donatários, sob orientação da Corte Portuguesa, criaram as chamadas sesmarias, que compreendiam vasta extensão de terras cultiváveis. Essas sesmarias eram doadas às pessoas amigas ou próximas ao poder de um donatário e do Imperador, preferencialmente para o cultivo de cana-de-açúcar.

A política de Portugal consistia no estímulo à empresa comercial com base em poucos produtos exportáveis, produzidos em grande escala e baseados na grande propriedade. Conforme afirma Mendes Jr. (1976, p.68), no século XV, o açúcar era uma especiaria utilizada como remédio ou condimento exótico. Somente no século XVI, passou a ser um produto de consumo de massa e de alto valor comercial no mercado europeu.

Não se sabe bem a data em que a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil, todavia nas décadas de 1530 e 1540 a sua produção já era importante. Já em 1532, Martins Afonso de Souza, em expedição ao Brasil, trouxe portugueses, italianos e flamengos com experiência na atividade açucareira, adquirida na Ilha da Madeira, que era uma colônia portuguesa com grande sucesso no cultivo da cana e fabrico do açúcar de boa qualidade, aceito em todo o continente europeu.

A partir da década de trinta, do século XVI, plantou-se cana em todas as capitanias brasileiras. Porém, na verdade, os grandes centros açucareiros da colônia foram Pernambuco]j\lagoas^Ba-hia e São Vicente, em São Paulo. Fatores climáticos, geográficos, políticos e econômicos justificam essa localização.

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As capitanias de Pernambuco e da Bahia possuíam boa qualidade de solo, um adequado regime de chuvas e estavam localizadas mais perto dos centros importadores da Europa. Contavam, também, com relativa facilidade de escoamento da produção, pois Salvador e Recife se tornariam, como se sabe, importantes portos de exportação.

Para atingir essa expansão, a cana necessitou de muita terra, mão-de-obra e vias de escoamento. A terra foi doada aos produtores na forma de sesmarias muitas vezes sem limites definidos. Havia algumas cujos limites eram os rios, já_outras possuíam em torno de 32 mil quüômgtojs quadrados. Por essas dimensões, percebe-se o tamanho exageradamente grande da propriedade onde a cana-de-açúcar começou a ser cultivada.

Essas grandes áreas de terra, aparentemente livres, não eram tão livres assim. Em muitas delas, os seus proprietários, que as recebiam como doação, tinham que conquistar, na prática, cada quilômetro da propriedade, pois os índios que ali v i v i a m t a m b é m s e c o n s i d e r a v a m d o n o s . E les n ã o aceitavam pacificamente a sua expropriação, resistindo com os meios que possuíam.

Acostumados a viverem na mata, os índios conheciam como ninguém os seus esconderijos e se embrenhavam na floresta em posições de ataque ou defesa, todavia suas armas eram muito primitivas e de pequeno alcance. Quanto aos europeus, estavam bem armados e viam os índios como grandes inimigos pessoais e do progresso, portanto usavam de todos os meios para eliminá-los ou expulsá-los para lugares mais distantes, até forçar a desocupação das terras pertencentes aos sesmeiros.

Nessas condições, muitos índios morreram de fome ou se suicidaram. Aqueles que suportaram o aldeamento eram discriminados e perseguidos pelos colonos. Por tudo isso, o avanço da cana-de-açúcar representou uma grande tragédia à população indígena do Nordeste.

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De acordo com Bóris Fausto (2000, p.155) a escravidão dos índios enfrentou uma série de dificuldades, tendo em vista os objetivos dos plantadores de cana. Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e regular que era exigido pela atividade açucareira, principalmente se esse trabalho fosse prestado na forma de escravidão.

Como os colonizadores queriam cultivar a cana-de-açúcar num modo de produção racional, a escravidão dos índios teria que ser feita também nesse modelo econômico de fluxos de despesas, receitas e lucros, sem qualquer respeito à cultura indígena, obrigando-os a trabalharem de sol a sol e a viverem em condições de habi tação , saúde, transporte e trabalho extremamente difíceis.

Os custos de captura, a recusa do trabalho forçado, a fuga relativamente fácil e a resistência pela guerra faziam dos índios uma força de trabalho de custo baixo, mas totalmente desajustada ao modo capitalista de produção que prevalecia no caso da cana-de-açúcar.

Outro fator desfavorável à escravidão dos índios, apontado por ^Carlos^ Fausto (1992, p.80), diz respeito às epidemias adquiridas com o contato com os colonizadores. Sem possuírem imunidade às doenças dos brancos, eles foram vítimas fáceis, pelo menos do sarampo, da varíola e, principalmente, da gripe.

Em face dessa forte limitação do trabalho escravo prestado pelos índios, a partir da década de 1570, a coroa portuguesa incentivou a adoção de escravos africanos, e foram feitas várias leis, proibindo a escravidão indígena. Em 1758 (quase dois séculos depois), foi determinada a liberdade definitiva dos índios.

A partir de 1574, iniciou-se a escravidão africana, jgm 1638, africajios_e-3fro»brasilÊÍros, compunham a força_de trabalho. Esse tipo de mão-de-obra veio substituir a escravidão indígena, pois, por serem mais disciplinados no trabalho, mais produtivos e por estarem em terras estranhas, os negros produziam muito mais que os índios.

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No século XVI, a Guiné e a Costa do Marfim forneceram o maior número de escravos. A partir do século XVII, Congo e Angola tornaram-se os centros de exportação mais importantes. Entre 1550 e 1855, entraram pelos portos brasileiros milhões deles. Alagoas recebeu muitos de Angola.

Em 1860, a população de Alagoas era de 249.704 habitantes. Desse total, 44.418 eram escravos, sendo que 88,5% desses estavam no meio rural e trabalhavam na cana-de-açúcar. Na verdade, o povoamento de Alagoas iniciou-se no século XVII, concentrando sua população em Porto Calvo, Alagoas do Sul, Alagoas do Norte, Penedo e Atalaia. A cana-de-açúcar e, associado a ela, o negro, foram responsáveis por assegurar o povoamento da província.

O senhor de engenho achava-se dono do escravo, pois tinha pago preço elevado por cada africano. Exigia que trabalhasse além do limite de sua capacidade física e, por isso, muitos ficavam doentes ou inválidos. Por qualquer falha cometida, o escravo recebia punição.

Quanto às terras, essas eram doadas aos senhores de engenho para que plantassem cana e povoassem toda a área. Para Diégues J ú n i o r , ^ 9 7 6 ^ 7 ^ , o_povoamenio_de Alagoas começou efetivamente ajDartJrxle.Cristóvão T.ins. Sua expedição, realizada em Í S j ^ j i O J i ^ u j3 jTQrj£_de Alagoas. A cana-de-açúcar se tornaria, portanto, o principal produto comercial que veio assegurar o povoamento e a vida econômica, social e política da província de Alagoas. Esse povoa mento e essa formação dão-se inicialmente em torno de rios e lagoas.

Por outro lado, o p-ovoamen-to do Sertão dar-se- ia , principalmente, através do Rio São Francisco. Fixando-se nas suas margens e aproveitando-se da riqueza dos seus vales, iria desenvolver-se a colonização da província de Alagoas, baseada na cultura da cana-de-açúcar, tendo como figura central a chamada de senhor de engenho.

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Em Alagoas, aproximadamente dez famílias de senhores de engenho, que eram donas de quase todas as terras do Estado e que, na época, cultivavam cana, eram, também, as responsáveis pelo povoamento das principais vilas e cidades do Estado.

Nesse sentido, o senhor de engenho está no núcleo da formação econômica, social e política do Estado, portanto a história do açúcar, em Alagoas, confunde-se com a própria história da sua formação. A formação e o crescimento dos principais municípios do Litoral, da Zona da Mata, do Baixo São Francisco e até do Sertão alagoano devem-se ao avanço do senhor de engenho na apropriação de novas terras, aumentando a produção de açúcar e pecuária.

A atividade canavieira, com o sistema de produção que adotou, não conseguiu conviver harmoniosamente com outras atividades agrícolas e não-agrícolas, que não estivessem em colaboração estreita com o seu modo de produção. Assim foi, por exemplo, com a pecuária. Os senhores de engenho, necessitando de muitos animais para exercerem várias tarefas nos canaviais, passaram a criar cavalos, burros e bovinos, mas o feijão, o milho e a mandioca tinham suas áreas limitadas pela cana.

No século XIX, no Brasil e no Nordeste, passou-se a culti­var muito algodão por muito tempo, pois o seu preço no mercado internacional foi bastante atrativo. Essa grande rentabilidade econômica do algodão não chegou, todavia, a afetar a atividade canavieira. Apenas num período muito curto, imaginou-se que o algodão poderia vir a ser uma segunda alternativa à cana, mas, com a concorrência americana, logo esse surto de exportação de algodão reduziu-se drasticamente.

Várias foram as crises da falta de alimentos na província. Escassez de feijão e farinha foram as principais. Em algumas dessas crises, o presidente da província, reconhecendo as dificuldades por que passava a população, tomava a decisão de importar os produtos de outros países, e o próprio Estado fazia a

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distribuição nos engenhos. Em 1723, por exemplo, houve uma grave crise de falta de farinha. O presidente teve que adotar medidas especiais para importar esse produto.

A dependência da província de Alagoas do Estado de / Pernambuco trazia uma série de problemas políticos, econômicos [ e adniinistrativos para os senhores de engenho, o que motivou um movimento de independência, conquistada em 1817.

Assim, em 1817, Alagoas tornou-se independente de Pernambuco, entretanto, completamente dependente da atividade açucareira.

Com a independência, o poder político dos senhores de engenho irradiou-se por todo o Estado. Vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores eram senhores de engenho, ou membros de sua família. O modo de vida social e cultural da população estadual era ditado pela unidade familiar, que representava o senhor de engenho.

De acordo com Diégues Júnior fll986Íp.60), "o engenho era o núcleo político e social do Estado. Foi nos engenhos que se assentou a formação da família e sociedade alagoana, e o senhor de engenho era a grande figura da paisagem social de Alagoas. É nele que se centraliza a organização social da família alagoana."

Portanto, o senhor de engenho não era apenas o chefe de sua propriedade. Seu prestígio dominava todo o espaço que o cercava. Ele gerava um modelo de desenvolvimento que definiu as linhas básicas de um sistema de produção, baseado na grande propriedade e no escravo que, após a sua libertação, marcou definitivamente a história do Estado.

1.1 - A conquista da terra Considerações de ordem política, tais como possibilidade

de invasões de outros países e da própria França, que só reconhecia como dono da terra aquele país que efetivamente a

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ocupasse, a Coroa Portuguesa passou a ter a convicção de que era necessário colonizar a nova terra descoberta. A partir de 1530, Portugal, temendo perder o controle da colônia, resolveu fazer uma política de povoamento.

Em Alagoas, Duarte Coelho foi o primeiro colonizador a pjantar^cana e também doar terras aos amigos. Procurou escravizar os índios e conseguiu financiamento para instalação de engenho, mas, de acordo com Andrade (1998, p.50), as sesmarias podiam ter dimensões ilimitadas. A partir de 1695, porém, passaram a ter extensões máximas de 4 léguas de comprimento por uma légua de largura. No século XIX, passaram a ser de uma légua em quadrado.

Na realidade, Duarte Coelho, num período de 20 anos, conquistou poucas terras, e "coube a Geronimo de Albuquerque, após 1553, a conquista das várzeas, ampliando consideravelmente a_áj£Ap_lantada com cana. Os filhos do donatário, Jorge e Duarte Coelho de Albuquerque realizaram, na sétima década do século XVI, a conquista das várzeas dos rios Jaboatão, Ipojuca, Serin.e 1 Paramarim, além de estenderem o povoamento europeu quase até à foz do Rio São Francisco.

Para Andrade (1998, p.40), essa expansão fulminante para o sul do Estado foi resultado do fortalecimento dos colonizadores e da necessidade de terra para plantar cana. Esse avanço pelo território indígena era feito com grande energia. Ao mesmo tempo em que lhes tomavam a terra, aprisionavam-nos, colhiam-lhes as lavouras encontradas e plantavam cana.

Considerando que, no início do processo de colonização, o Brasil não tinha concorrente na produção de açúcar no mercado internacional, e os preços eram muito favoráveis, esses fatores serviam de estímulo para que os senhores de engenho ocupassem novas terras na província de Alagoas.

Assim, o senhor de engenho vai se transformando num símbolo da propriedade, confundindo-se com o latifúndio que,

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até nossos dias, caracteriza atividade canavieira. Com esse sistema de produção à base da grande propriedade, o engenho tornou-se o sustentáculo da colonização de Alagoas. Ser grande proprietário e bem-sucedido significava plantar cana e possuir engenho de açúcar. A tabela 1.1 mostra a forte concentração de terra registrada em 1950 pelo IBGE, resultado da má distribuição da propriedade da terra, iniciada a partir das sesmarias e fortalecida com a Lei de Terra, de 1850, que só permitiu a posse da terra, através da compra ou herança.

TABELA 1.1 - Alagoas: Distribuição percentual do número de estabelecimentos agropecuários e de sua área correspondente, no ano de 1950.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1950

EM HECTARES NÚMERO EM % ÁREA EM %

MENOS DE 10 72% 8,4%

DE 10 AMENOS DE 100 23% 23% J DE 100 A MAIS 5% 8,6% J TOTAL 100% 100%

Como se vê, foi através da atividade açucareira feita à base da grande propriedade que se expandiu a economia.

O período democrático, que vai de 1945 a 1963, foi também muito favorável à atividade canavieira. A18 de setembro de 1945, era promulgada a nova Constituição Brasileira, com base na

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ideologia liberal democrática. O Brasil foi definido como uma República Federativa, estabelecendo as atribuições à União, Estados e Municípios. A representação política favorecia mais os Estados menores, como Alagoas, Sergipe e o Espírito Santo, etc.

No início da década de cinqüenta, o governo federal promoveu várias medidas dest inadas a incentivaram^ o desenvolvimento econômico nacional , c o m ênfase na industrialização. Uma delas, a fundação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), em 1952, para cuidar da infra-esn-utura de estradas, energia e comunicação.

O desenvolv imento industrial era es t imulado pela concessão de crédito fácil ao setor privado, por parte dos bancos oficiais, especialmente do Banco do Brasil. Esse interesse pela industrial ização não afastou Getúlio Vargas dos grupos econômicos dominantes em âmbito regional e local, como o do café em São Paulo e o do açúcar no Nordeste.

A partir de 1956, Juscelino Kubstchek assume o governo com as mesmas preocupações de Getúlio, no tocante ao processo de industrialização. Também faz uma aliança com as oligarquias regionais, garantindo privilégios e poder para os produtores de açúcar do Nordeste.

O governo João Goulart era populista e defendia as reformas de base, entre elas a reforma agrária, que deveria proteger a população do campo, aumentar a produção de alimentos e gerar uma nova demanda para os produtos industriais. Por isso, a elite nacional, principalmente os grandes latifundiários do açúcar, deixa de apoiar o governo, muito contribuindo para a sua queda, de forma que, em 31 de março de 1964, os militares assumem o poder, num golpe de Estado.

A criação do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), no governo Vargas, aprofundou a relação do Estado com o complexo canavieiro de Alagoas. Ao determinar os preços vantajosos e ao buscar também um desenvolvimento equilibrado, no sentido de que a produção de açúcar de São Paulo não inviabilizasse a

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produção nordestina, o IAA acabou beneficiando duplamente os usineiros do Nordeste.

Com o crescimento da produção paulista, desde os anos de 1930, já na safra de 1951/52, São Paulo passou a superar o princi­pal produtor, que era Pernambuco. Assim pressionou o IAA para que liberasse as cotas.

Aproveitando-se do clima democrático no país, os paulistas conseguiram aumentar sua participação no mercado de São Paulo. Tanto Alagoas como Pernambuco ficaram abastecendo o Distrito Federal, e o excedente era exportado. V

Com apoios favoráveis, a produção de açúcar de Alagoas e Pernambuco continuou crescendo, como vinha ocorrendo antes, mediante incorporação de novas terras antes ocupadas por moradores, fornecedores, foreiros, arrendatários, que cultivavam produtos consumidos no mercado local.

Em face dessa expropriação de terra, feita pelos usineiros, houve vários sinais de descontentamentos no meio rural, principalmente com a criação das ligas camponesas, dos sindicatos rurais e das cooperativas de fornecedores.

Para acalmar a situação do campo, foram garantidas cotas de produção de açúcar para os fornecedores e idealizou-se o Estatuto do Trabalhador Rural, que estendia aos desse meio os mesmos benefícios que a legislação outorgava aos do meio urbano.

Esse estatuto não teve o efeito esperado. Ao contrário, muitos usineiros procuraram preterir o trabalhador permanente e contratar pessoas sem qualquer vínculo empregatício, através do empreiteiro, que recrutava trabalhadores temporários, o que dificultou, ainda mais, as condições de vida dos trabalhadores rurais de Alagoas.

As condições favoráveis oferecidas pelo governo à atividade açucareira não davam margem a qualquer risco de preço e de demanda do açúcar. Foi um forte estímulo para que houvesse uma grande concorrência entre os usineiros de Alagoas em adquirirem mais terras para a produção de cana e, por conseguinte, de açúcar.

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Com a concorrência acirrada, os usineiros começaram a adquirir terras, muitas delas fazendas consideradas inapropriadas para o plantio de cana, as quais, entretanto, depois de altos investimentos agrícolas em adubação e mecanização, transformaram-se nas melhores terras para essa produção.

Para Andrade (1997, p.55), quando o grupo pernambucano dos irmãos Coutinho comprou a Usina Sinimbu, ela estava condenada a ser uma pequena usina, por falta de terras. Todavia, quando o governo ofereceu as condições privilegiadas à cana, garantindo preço e compra da produção, os Coutinhos, entusiasmados, resolveram investir nos tabuleiros e passaram a derrubar florestas, expulsar colonos e sitiantes e a plantar cana.

A partir daí, com o aumento da área cultivada, a usina começou a ser viável. Avançou muito em expansão de terra com cana plantada. Essa expansão em direção aos tabuleiros, iniciada pela Usina Sinimbu e, também, seguida por outras usinas, provocou um grande desmatamento e a desapropriação de terras de pequenos agricultores que, expulsos da Zona da Mata, do Litoral e do Sertão, haviam buscado refúgio naquelas terras onde imaginavam que a cana nunca pudesse chegar.

Foi através dessa expansão das usinas nas terras dos tabuleiros, na primeira metade do século XX, que Alagoas transformou-se no maior produtor de açúcar do Nordeste, chegando a ocupar o segundo lugar no país.

Essa forte expansão veio completar a ocupação das terras de Alagoas. Assim, além de estender-se pelo Litoral, Zona da Mata, Baixo São Francisco, parte do Sertão e Agreste, a atividade canavieira passou também a ocupar o planalto alagoano, porque, plantada na forma de monocultura, acarretava a eliminação dos produtores agrícolas de alimentos, obrigando o Estado a importar a maioria dos produtos agrícolas de primeira necessidade para a população faminta.

Na visão de Andrade (1998, p.60), o que estava ocorrendo era que as usinas, com elevada capacidade de esmagamento de

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cana, tratavam de adquirir mais terras para satisfazer a fome de cana de suas moendas. A ampliação das terras das usinas iria incentivar, cada vez mais, a concentração da propriedade da terra, iniciada no período colonial, com a doação das sesmarias.

Essa concentração aprofundou-se a partir de 1890 e se intensificou com a criação do IA A, na década de 1930. De 1930 a 1950, avançou muito em Alagoas e no Nordeste. Levando-se em conta que o principal, senão o único, meio de vida da população estava na agricultura, a falta de terra deixa a sobrevivência do grosso da população de Alagoas subordinada à vontade dos usineiros.

Em face desse avanço desmedido e da destruição dos pequenos e médios produtores de cana, em 1941, o governo resolveu, ainda que tardiamente, estabelecer o Estatuto da Lavoura Canavieira. Tinha como objetivo principal fortalecer os pequenos fornecedores e engenhos que ainda resistiam à expropriação, durante mais de três décadas de destruição.

Para Ramos (1999, p.90), a Lei número 3855, de 21 de novembro de 1941, dizia que os usineiros não poderiam moer mais do que 60% de cana própria, e os outros 40% deveriam ser de cana de fornecedores. Com essa lei, o governo procurava preservar da extinção a média propriedade produtora de cana. Esse avanço da compra e concentração da propriedade da terra vinha ocorrendo desde os anos de 1850, com a Lei da Terra. No caso de Alagoas, a Lei n° 3855 veio tarde, pois já havia sido destruída a possibilidade de se criar uma classe média no meio rural e, por conseguinte, inviabilizada a formação de um mercado interno importante, capaz de dar suporte a um vigoroso processo de industrialização do Estado, bem como às outras atividades auxiliares da indústria e à área do setor serviço.

Na verdade, mesmo havendo preocupação com o aumento descontrolado da produção de açúcar, nunca se conseguiu deter o seu avanço. Produzir mais cana significava ter mais recursos subsidiados do governo para comprar mais terra.

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Conseqüentemente, apesar de toda a legislação feita para proteger os fornecedores de cana e para conter o excesso de produção, na prática, essa legislação nunca produziu os resultados pretendidos. Os usineiros eram os principais beneficiários da legislação.

O maior incremento da produção de açúcar ocorreu nas décadas de 50 e 60, quando, mesmo aumentando o seu consumo, a produção gerava um excesso significativo, que era comprado pelo governo. Por conseguinte, o apoio do Estado à produção e, como conseqüência, o avanço do lat i fúndio aumentaram independentemente da capacidade de absorção de açúcar no mercado interno ou externo.

A década de 50 foi, particularmente, muito favorável para os usineiros de Alagoas, pois passam a ocupar os tabuleiros que, como dissemos, nos anos 1930, eram tidos como área imprópria para o plantio de cana. Nesse período, alguns usineiros de Pernambuco não perderam a oportunidade de expansão e se transferiram para Alagoas. Viam, no Estado, a possibilidade de aumentarem suas terras e até mesmo de comprarem usinas inteiras.

De acordo com Andrade (1997, p.100), essa transformação iniciou-se, principalmente, com os irmãos Coutinho, que foram seguidos pelas famílias Assis, Inojosa, Maranhão, Brito, Bezerra de Melo, Grupo Sampaio e pelos Lyra, fazendo aumentar muito a disputa e valorização das terras férteis do Estado. O crescimento da atividade canavieira e da produção de açúcar dependia, mais e mais, de terras a serem incorporadas às usinas.

Para se ter idéia do avanço das usinas em território alagoano, em 1965, o Estado já contava com29 usinas. Essas aumentaram muito a produção, o que significa passar a incorporar mais terras na forma de latifúndio. O Mapa 1 mostra (em vermelho) a grande área cultivada com cana-de-açúcar por produtores que possuem mais de 100 hec­tares. Só a usina Caeté, dispondo de grandes extensões de terra de várzea e tabuleiro em São Miguel dos Campos, chegou a ultrapassar a produção de 1 milhão de sacos de açúcar na safra 1976/77.

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FIGURA 1.1 - No primeiro plano, notam-se as instalações da usina Caeté e, no segundo, ao fundo, observa-se a cidade de São Miguel dos Campos.

FIGURA 1.2 - Cana-de-açúcar plantada pela usina Caeté em área de Tabuleiro. Observa-se a grande extensão da área cultivada, pois a topografia plana permite maior mecanização.

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MAPA 1 - Alagoas Área em cinza escuro: propriedades com áreas plantadas com cana-de-açúcar, em 1995/96

FONTE: IBGE, Censo agropecuário, 1995/96.

Como vimos, a forte expansão das usinas deu-se sob grande incentivo do governo à mecanização e ao uso de pesticidas, o que eliminou um considerável número de postos de trabalho temporários e de moradores, substituídos por trabalhadores eventuais, que ficavam ocupados menos tempo.

Isso gerou grande excedente de mão-de-obra no campo, que cresceu à medida que as usinas expropriavam os pequenos produtores e sitiantes, com suas culturas de subsistência. Não encontrando espaço no campo, passaram a migrar para o meio urbano, particularmente para Maceió.

Mesmo aqueles que passaram a prestar serviços temporários nos canaviais foram residir na periferia das cidades. Percebeu-se, portanto, que o avanço da cana mudou significativamente as relações de trabalho bem como o espaço urbano. Agora, o trabalhador presta serviço à usina, mas está subordinado a um empreiteiro que, na maioria das vezes, era empregado ou morador

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da usina e que, com a expropriação de sua terra, também foi morar nas cidades próximas das usinas, com todas as conseqüências que essa migração gera no meio urbano.

As aglomerações urbanas, e não mais as fazendas, passaram a ser os novos locais de residência de trabalhadores rurais, sitiantes e ex-empregados das usinas, ex-pequenos produtores e ex-sitiantes. Para Beatriz (1998, p.40), os pequenos produtores tinham origem nas sucessivas fragmentações das terras, em decorrência, principalmente, da partilha de médias e grandes propriedades, por motivo de herança.

O processo de expropriação a que foram submetidos nas décadas de 60, 70 e 80, contemplava a compra da terra, pois, no pequeno Estado de Alagoas, já não havia terras desocupadas.

Como, inicialmente, as terras não tinham muito valor, os pequenos produtores vendiam-nas para comprarem áreas maiores, em locais mais distantes e menos férteis. Ocorre que o avanço da cana chegou, também, a essas loca l idades , impossibilitando aos pequenos produtores a compra de novas áreas, pois os preços eram muito superiores aos que lhes tinham sido pagos, fato que os fez transformarem-se em trabalhadores das usinas.

Assim, o aumento das usinas, no Estado de Alagoas, além de gerar uma forte concentração de terra e grandes conseqüências sociais - incluindo a dificuldade de sobrevivência de ex-pequenos proprietários, que lidavam com produtos de subsistência, e de moradores e sitiantes dentro da própria propriedade da usina -causou, também, irreparáveis danos à fauna e à flora alagoanas.

De acordo com Andrade (1999, p.lOO), os herbicidas e pesticidas usados em grande escala mataram animais e plantas. As poucas florestas que ainda existiam na década de 60, nos tabuleiros, foram totalmente derrubadas. A tiborna das usinas, que jogavam nos leitos dos rios, acabou por contaminar todos °s que banhavam a Zona da Mata, Litoral e Tabuleiros.

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Essas condições ambientais desfavoráveis dificultaram a vida de várias comunidades do Estado, que necessitavam de água potável para uso doméstico, bem como inviabilizaram a criação de peixes e crustáceos em escala comercial ou de subsistência.

A poluição dos rios prejudicou bastante as populações ribeirinhas que, além de ficarem privadas do uso da água e da criação de peixe, passaram a contrair muitas doenças endêmicas, sobretudo as verminoses, incluindo a esquistossomose. Esse problema de poluição foi particularmente importante no período de implantação do Proálcool.

Segundo Ramos (1999, p.lOO), para 1 litro de álcool, gastam-se 35 litros de água potável e produzem-se 13 litros de vinhoto, dos quais só uma pequena parcela pode ser utilizada em adubação do solo dos tabuleiros. Sua maior parte é jogada nos rios do Estado, causando a degradação do meio ambiente.

De acordo com Lima (1998, p.60), de todos os programas lançados pelo governo federal nos anos 50, para expandir a produção e oferecer condições privilegiadas aos usineiros, o Proálcool foi o que proporcionou o maior aumento da produção de cana e, conseqüentemente, resultou no mais intensivo processo de poluição ambiental já registrado desde 1930. O aumento da produção de álcool não foi conseqüência do aumento da produtividade, mas tão somente de crescimento da área plantada, com a lavoura canavieira. O gráfico 1.1 mostra que, enquanto 59% de toda área agricultavel de Alagoas são cultivadas com cana-de-açúcar, as outras culturas, principalmente o algodão, o coco e o fumo, utilizam uma área de tamanho irrisório.

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GRÁFICO 1.1- Alagoas: Área colhida das principais culturas temporárias e permanentes, em 2001.

3 0 %

ÁREA CULTIVADA DAS PRINCIPAIS CULTURAS TEMPORÁRIAS E PERMANENTES

O CANA-DE-AÇÚCAR • FEIJÃO • MILHO • MANDIOCA W ALGODÃO • COCO-DA-BAÍA • BANANA •LARANJA

FONTE: IBGE-SIDRA, 2002.

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Na década de noventa, entre as permanentes, predomina o coco-da-baía, havendo uma queda significativa na área colhida, que passou de 68,6%, em 1990, para 54,5%. A banana, de importância relativa para o Estado, sofreu queda da área plantada em toda a década, ao contrário da laranja, que apresentou um crescimento vigoroso, registrando de 2,4% da área colhida, em 1990, para 18,2%, em 2001.

Em relação às culturas temporár ias , percebeu-se , c laramente, o predomínio da cana-de-açúcar , mantendo praticamente um percentual de área colhida próximo dos 70%, seguida do feijão, com um comportamento muito inferior a esse, crescendo de 1991 a 1995, para depois cair e permanecer na faixa entre 12% e 13% da área colhida.

O que vale ressaltar é o fato de que, mesmo após duas décadas de crise financeira profunda que afetou todos os produtores agropecuários, a cana-de-açúcar não registra queda da área colhida. Ao contrário, a partir da segunda metade da década de 90, apresenta crescimento vigoroso, enquanto a mandioca, o algodão, o milho e o fumo são culturas pouco expressivas em termos de área colhida, observando-se, quanto ao seu comportamento, pequenas variações nos dois primeiros e queda drástica nos dois últimos anos, no final do período abordado.

Em Alagoas, em 1975, foram cultivados 228 mil hectares de terra com cana, o que corresponde a 65% de toda a área de cultivo agrícola. Em 1987, passou-se a plantar 688 mil hectares, o que representa aproximadamente 80% de toda a área cultivada do Estado, e um aumento de área de 302%.

A crise econômica e financeira que vem afetando Alagoas, a partir da segunda metade da década de 80, decorreu da crise que deprimiu drasticamente a agroindústria açucareira. O Brasil, a partir da segunda metade dos anos 80, também entra em crise financeira. Não dispondo de recursos internacionais e nacionais, cortou quase todos os subsídios agrícolas em todo o território nacional, deixando

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as atividades da produção de cana-de-açúcar e álcool em extrema dificuldade.Assim, segundo Lima (1998, p.40), não dispondo mais de recursos e subsídios oferecidos pelo Proálcool, a atividade canavieira entra em crise, diminuindo os impostos pagos ao Estado.

Vitoriosos em ação judicial em todo o Brasil, os usineiros deixaram de pagar o Imposto de Circulação de Mercadoria (ICMS) sobre a cana própria. Mas, em Alagoas, além de não pagar o ICMS, receberam de volta o montante já pago. Em comum acordo com o governo da época, os usineiros deveriam receber o montante em 120 parcelas corrigidas monetariamente. Portanto, como mostra a tabela 1.2, a receita de ICMS das atividades sucroalcooleiras foi decrescendo e, a partir de 1989, caiu vertiginosamente.

TABELA 1.2 - Alagoas: Participação das atividades sucroalcooleiras na arrecadação de ICMS, no período de 1983 a 1991.

EM PERCENTAGEM

ANO ARRECADAÇÃO DE ICMS EM PERCENTAGEM (%)

1983 58,02% 1984 51,46% 1985 43,86% 1986 31,95% 1987 33,21% 1988 16,84% 1989 4,48% 1990 6,12% 1991 1,48%

FONTE: Ministério da Fazenda, 1995.

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Como a economia e a receita do Estado de Alagoas dependiam, em quase 60%, da atividade açucareira, a crise que essa agroindústria passou a sofrer a partir de 1985, com o fim do Proálcool, teve reflexos catastróficos em todos os setores da economia alagoana, muito particularmente na manutenção dos serviços públicos essenciais à população mais pobre, bem como no custeio da folha de pagamento dos servidores públicos.

Lima (1998, p.40) confirma que, no período de 1983 a 1991, houve uma severa redução de impostos pagos pelos usineiros que, em 1983, contribuíam com 58,02% do ICMS pago ao Estado de Alagoas; em 1988, passaram a contribuir com apenas 16,84% e, em 1991, pagaram tão somente 1,48%.

O fato de Alagoas não ter diversificado suas atividades econômicas agr ícolas e não-agrícolas deixou o Estado completamente dependente de uma única at ividade, concentradora de terra, também a principal responsável pela elevada concentração de renda do Estado e pela formação de uma elite com poderes enraizados em todos os setores da vida social de Alagoas.

Assim, quando a agroindústria açucareira vai bem, a riqueza gerada beneficia apenas 24 famílias detentoras de grandes extensões de terras e de capital, bem como dos meios de produção necessários à sobrevivência de toda a população do Estado ao qual não traz maior proveito. Todavia, quando vai mal ou enfrenta crises prolongadas, a população fica em situação desesperadora, pois o emprego, o comércio, a receita do Estado e o pagamento dos funcionários públicos ficam comprometidos.

Essa é uma armadilha econômica, social e política que tem afetado o Estado de Alagoas desde a época colonial, pois, até os dias de hoje , o Estado continua dependente quase que exclusivamente da atividade canavieira.

Como sabemos, essa é uma situação muito peculiar, porque, tanto em Pernambuco como em São Paulo, há uma diversificação

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das atividades agrícolas e não-agrícolas, e a cana, ao contrário do que ocorre em Alagoas, é apenas uma dentre tantas outras atividades agroindustriais.

No Estado de São Paulo - que é o maior produtor de álcool do Brasil - observaram-se as seguintes diferenças básicas relativamente ao modelo praticado em Alagoas: o plantio da cana-de-açúcar iniciou-se nas áreas do planalto, não no Litoral; a propriedade da terra também se dava na forma de latifúndio nos municípios onde essa cultura foi mais importante, mas a estrutura de posse da terra permitia sua utilização para o cultivo de alimentos, atividade praticamente inviabilizada pelo padrão adotado em Alagoas.

No Nordeste, o próprio Estado da Bahia logo percebeu as dificuldades que enfrentaria, se dependesse exclusivamente da produção de açúcar. A partir dos anos 30 e, muito particularmente, dos anos 60, passou a diversificar sua produção agrícola, plantando, também em escala comercial, outros produtos como soja, feijão, cacau, café, etc.

Este espaço privilegiado de atuação das usinas, que tem sido o Estado de Alagoas, pode ser explicado pela singularidade da força política da atividade açucareira, que tem demonstrado uma grande capacidade de organização interna, formando um poderoso grupo de pressão, capaz de garantir o apoio do Estado para se manter. Como afirma Carvalho (2000, p.14), "essa manutenção de uma boa performance política organizacional tem conferido ao capital sucroalcooleiro do Nordeste um grande poder de lobby, para pressionar e assegurar a proteção e o apoio do Estado para compensar sua base econômica diferente ou pouco competitiva".

Como vimos, desde o período imperial, a at ividade açucareira vem tendo o apoio do Estado. O perdão da dívida dos senhores de engenho, a prorrogação dos prazos de pagamento dos empréstimos, feitos junto aos estabelecimentos bancários

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federais e estaduais, foram práticas constantes nas décadas de 50, 60 e 70. Com investimento maciço nessa atividade, faltavam ao Estado meios para estimular a germinação de outras atividades agrícolas e não-agrícolas, concentrando a maioria dos recursos públicos nas mãos de, aproximadamente, 24 famílias de produtores de açúcar.

A forte concentração da terra, a baixa produtividade e o sistema de monocultura causaram, inevitavelmente, uma forte concentração de recursos públicos e privados nas mãos de uma p e q u e n a f ração da p o p u l a ç ã o . C o m essa base produtiva, 10% dos maiores produtores agrícolas do Estado detêm mais da metade da receita agrícola, ou seja, 54%. Por outro lado, 40% dos menores produtores detêm apenas 7% do total da receita agrícola do Estado.

Está, portanto, na concentração de renda, a origem de todos os p r o b l e m a s e c o n ô m i c o s , s o c i a i s , e c o l ó g i c o s e políticos que, há séculos, assolam o Estado de Alagoas. O analfabetismo, a miséria (com mais de 44 ,3% da população vivendo abaixo da linha de pobreza), a mortalidade infantil elevada e a baixa expectativa de vida dos alagoanos (em torno de 60 anos de idade) denunciam, claramente, a baixa eficiência social do carro-chefe da economia alagoana, que é a atividade açucareira.

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FIGURA 1.3 - Vista parcial da cidade de Branquinha. O município é totalmente dependente da cana-de-açúcar. Nota-se, na figura, que esse plantio obrigou a população a construir suas casas à margem do rio Mundaú. um dos mais poluídos de Alagoas.

FIGURA 1.4 - Vista parcial de uma das ruas da cidade de Branquinha, onde se nota, claramente, que as condições de vida da população estão entre as mais precárias de Alagoas.

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Por isso mesmo, a partir de 1990, com a crise do setor açucareiro, o quadro social se agrava progressivamente, chegando, em 1997, à situação praticamente de calamidade pública. Com a queda de preços nos mercados nacional e internacional, a agroindústria do açúcar não consegue pagar impostos e dívidas junto ao Estado e às estatais, principalmente à Companhia Energética de Alagoas (Ceai), nem criar os empregos socialmente necessários.

Segundo Carvalho (2000, p.20), a partir de 1985, a Ceai passou a sofrer graves conseqüências com a inadimplência de 40 milhões devidos pelos produtores de açúcar. O banco estadual (Produban) não recebeu dos usineiros uma soma calculada em torno de 76 milhões em empréstimos vencidos. Para completar o quadro da crise estadual, um acordo fiscal, assinado em 1989, transferiu para as usinas, durante seus 8 anos de duração, aproximadamente 800 milhões de reais.

Para Lima (1998, p.20), também nas décadas de setenta e oitenta, o endividamento dos usineiros junto aos órgãos federais e estaduais foi sempre elevado. Na década de noventa, com a crise aberta na atividade açucareira, os usineiros aprofundaram essa dívida no Banco do Brasil, Tesouro Nacional, Receita Fede­ral, INSS, Banco do Estado de Alagoas e no IA A. Só em 1993, alcançava o montante de 1,02 bilhões de dólares.

Ainda segundo Lima (1998, p.60), a crise da atividade açucareira, iniciada na segunda metade da década de oitenta, provocou uma grande sangria de recursos públicos. No período de 1986 a 1995, no início da crise, a receita tributária, em Alagoas, atingiu um patamar negativo da ordem de 0,98%, deixando o Estado impossibilitado de cumprir com seus deveres sociais, financeiros e econômicos básicos, gerando uma crise sem precedente na história recente da economia alagoana.

Atualmente, ainda dependente da cana e exposto aos reflexos da crise da agroindústria canavieira, o Estado começa a

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pensar em outras alternativas de produção agrícola e não-agrícola. Na agricultura, pensa-se na diversif icação c o m produção de cereais, olericultura e fruticultura; no meio urbano, a prioridade do governo estadual tem sido o turismo.

Como vimos, nas décadas de setenta e oitenta, Alagoas passou a ter 70% de sua área agricultável com cana. Além disso, essa área é composta das melhores terras do Estado, que estão na Zona da Mata, Planalto e Litoral, onde o clima é mais favorável do que o do Agreste e do Sertão. Essas terras são de propriedade dos usineiros que, com a sua concepção de grande latifúndio, não disponibilizam parte delas para a prática de outras culturas, que não sejam a cana ou a pecuária. Esse elevado índice de concentração dificulta uma ação forte do Estado na diversificação das atividades agrícolas, cuja conseqüência seria a fixação do homem no meio rural onde acarretaria o surgimento de uma classe média significativa.

A tabela 1.3 mostra a grande concentração da posse da terra em Alagoas. Da observação direta de seus dados percebe-se que, em 1995, os pequenos proprietários, que possuem menos de 10 hectares de terra, representavam cerca de 8 1 % do total de produtores, todavia detinham uma exígua área de apenas 13% da área total do Estado. Por outro lado, os grandes latifundiários, com áreas superiores a 100 hectares, eram, em 1995, 3% do total dos proprietários, mas possuíam 62% de toda área agricultável do Estado.

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TABELA 1.3 - Alagoas: Distribuição percentual do número de estabelecimentos agropecuários e de sua área correspondente, no ano de 1995.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1995 HECTARES (ha) NÚMERO % ÁREA % MENOS DE 10 8 Po 13% DE 10 A MENOS DE 100 16% 25% DE 100 A MAIS 3% 62% TOTAL 100% 100%

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários.

Reduzir essa má distribuição da posse da terra é a medida prioritária para melhorar as condições de vida no meio rural e urbano do Estado. A divisão da propriedade da terra em frações menores, quando associada à assistência técnica de qualidade e ao crédito agrícola subsidiado, motivará maior diversificação da produção, melhoria na produtividade por hectare e efetiva criação de emprego no campo. Na cidade, melhor conservação do meio ambiente e, sobretudo, menor dependência da população rural e urbana em relação aos usineiros que pensam e agem como grandes latifundiários, não como industriais, segundo os parâmetros modernos concebidos em administração.

Essa desconcentração da propriedade da terra levará, ainda, a uma desconcentração da renda que, por sua vez, terá um efeito multiplicador muito maior na economia estadual, pois a maior distribuição dos meios de produção gerará várias atividades agrícolas e não-agrícolas no meio rural, dotando uma maior fração da população do campo e da cidade de melhores condições de vida.

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Para Beatriz (1986, p.40), as feiras públicas das áreas de usinas têm uma movimentação de recursos financeiros e de produtos vendidos em menor escala, se comparadas com as feiras do Agreste. Isso ocorre, porque a Zona da Mata e o Litoral são áreas de predominancia do grande latifundiário que, além de empregar pouca mão-de-obra, paga salários irrisorios. No Agreste, onde a posse da terra é mais bem distribuída, há um maior número de pequenos produtores com maior capacidade de renda e certa variedade na produção agrícola e não-agrícola. Por conseguinte, as suas feiras livres são mais dinâmicas, como a de Caruaru e de Arapiraca, onde ocorre melhor circulação da riqueza gerada.

Portanto , a posse dos meios de produção, mui to particularmente a da terra, submetida a uma distribuição adequada, sob o enfoque de uma administração eficaz, abre perspectivas para a germinação de um conjunto de atividades agrícolas, difíceis de serem praticadas no regime de grandes propriedades, bem como para o surgimento de outras não-agrícolas e de todos os benefícios que esse cenário oferece.

Em Alagoas, como vemos na tabela 1.4, a posse da terra está distribuída na forma de extremos. De um lado, têm-se poucos proprietários dominando grandes áreas, chamadas de latifúndios e, de outro, grande número de pequenos produtores, com áreas inferiores a 10 hectares, chamadas de minifúndios. Essa situação gera uma grande injustiça e ineficiência na alocação dos recursos públicos e privados, nos meios urbano e rural, ressentido-se este, principalmente, de recursos financeiros.

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TABELA 1.4 - Alagoas: Distribuição percentual do número de estabelecimentos agropecuários e de sua área correspondente, no período de 1970/1985.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1970 1985 HECTARES (ha) NÚM. % ÁREA % NÚM. % AREA % MENOS DE 10 75% 10% 82% 11% DE 10 A MENOS DE 100 21,6% 28,6% 15% 27% DE 100 A MAIS 3,4% 61,4% 3% 61% TOTAL 100% 100% 100% 100%

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários.

Os fatos mostram que essa distribuição e a concentração da propriedade da terra não surgiram do dia para a noite. São o fruto de um processo histórico, que se inicia no século XVI, e vem avançando ao longo de quase quatro séculos. Considerando que o Estado é, essencialmente, agrícola, sua dependência do latifúndio também é muito forte.

Foram os próprios latifundiários que mais lutaram pela independência do Estado, visando a atender a seus interesses locais. Dessa forma, poderiam mais facilmente dominar as instituições estaduais e federais e direcionar os recursos do Estado para benefício próprio. Com essa hegemonia da burguesia agrária no aparelho estadual, o planejamento das ações do Estado orienta-se para atender às necessidades dos grandes latifundiários, em detrimento de uma atuação socialmente justa que beneficiasse a maior fração da população.

E assim que as rodovias, as ferrovias e as hidrovias de Alagoas foram e são construídas para atender, prioritariamente,

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às necessidades do senhor de engenho e dos usineiros. As áreas que não eram e não são de interesse da atividade canavieira nunca foram prioridades do poder público.

Com isso, os pequenos e médios produtores do Agreste e do Sertão sempre viveram no mais absoluto isolamento. A falta de assistência técnica, de estradas, de energia e de comunicação faz com que suas atividades agrícolas sejam marginais ou de pura subsistência, pouco contribuindo para o desenvolvimento estadual.

Nesse sentido, a dependência do Estado em relação à atividade canavieira era e continua sendo quase que total. Atualmente, a forte crise por que passa essa atividade abre boas perspectivas na direção da geração de novas oportunidades de produção, de emprego e de renda.

1.2 - Reprodução e subordinação da força de trabalho

Durante todo o século XVI, XVII e até a metade do século XVIII, os índios faziam parte da maior fração da força de trabalho no engenho. Muitos indígenas, ao serem libertos, permaneceram no engenho. A derrubada da mata, a poluição dos rios e a dificuldade de encontrar peixes e caças não lhes permitiam encontrarem os alimentos necessários à subsistência nas terras que passaram a ser de propriedade dos senhores de engenho.

A partir de 1758, os senhores de engenho procuraram substituir os índios pelos negros, pois os portugueses já tinham experiência com escravos africanos nas ilhas do Atlântico onde esses demonstravam uma produtividade muito maior do que a obtida aqui, com aqueles. Além disso, os escravos negros não tinham as mesmas facilidades de fuga como possuíamos indígenas.

Mesmo demandando um maior investimento, entre 1550 e 1815 entrou pela costa brasileira um elevado número de escravos

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africanos, mais do que o suficiente para suprir as exigências de trabalho da cana. A partir desse período, a atividade açucareira iria passar por três séculos de uso dessa mão-de-obra que vai constituir-se na principal força de geração de fortuna para os senhores de engenho bem como de miséria, discriminação e perseguição ao negro africano, ao afro-brasileiro e aos pobres em geral, constituídos dessa raça e de uma miscigenação em sua maior parte.

Ao contrário do ocorrido com os índios, nem a igreja nem a coroa se opuseram à escravidão do negro. As ordens religiosas, como as beneditinas, estiveram até mesmo entre os grandes latifundiários de terra, que exploravam o trabalho escravo.

Outro fator favorável ao trabalho desses escravos era uma certa imunidade que tinham às doenças tropicais dos brancos, o que não ocorria com os índios. Todavia, apesar da resistência imunológica e física dos negros, as condições de trabalho, de habitação, alimentação e subordinação ao senhor de engenho eram tão desumanas que, na segunda metade do século XIX, enquanto no Brasil um escravo masculino tinha uma expectativa média de vida de 18 anos, nos Estados Unidos essa expectativa era supe­rior a 35 anos.

Quase todos os escravos de que o Brasil necessitava eram importados, pois as condições de vida desfavoráveis faziam com que as escravas tivessem uma baixa fertilidade. Criar uma criança por 12 ou 14 anos, nas condições desumanas da escravidão, era considerado um investimento elevado e de alto risco, a que o senhor de engenho não queria submeter-se.

Com essa mão-de-obra abundante, o cultivo da cana e a produção de açúcar aumentaram assustadoramente. Na verdade, o negro era representante de uma civilização agrícola e já estava acostumado ao regime servil na África. Daí a preferência, apesar do elevado custo, por essa opção de força de trabalho. Mesmo com a alta mortalidade, devida aos fatores já mencionados e aos

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castigos severos, o alto preço e os quilombos não impediram os senhores de engenho de continuarem a importar negros da África.

Cada engenho era uma unidade econômica na forma de complexo rural. Em um engenho médio, existiam de 50 a 60 escravos, que vinham de Angola ou da Guiné. Os negros eram obrigados a trabalhar todo o dia. Reunidos, formavam um verdadeiro exército e recebiam ordem de um feitor. Só lhes era permitido o descanso aos domingos e dias santificados.

Assim, a expansão da cana à base do trabalho escravo e da grande propriedade definiu as linhas básicas de um sistema de produção que caracterizou o Estado, marcando- lhe , definitivamente, os aspectos políticos, sociais e econômicos. Nesse sentido, o escravo negro deu uma grande contribuição para o aumento da riqueza dos senhores de engenho e para a formação econômica e social do Estado, que perdura até hoje.

Como diz Diégues I únior (1976, p. 100), o negro foi a princi­pal força que permitiu o aumento da produção no meio rural e a formação de centros urbanos importantes. Tornou-se essencial às fazendas dos senhores de engenho, malgrado o tratamento desumano que lhe davam. Sabiam que, sem os mesmos, não se poderia aumentar a riqueza na forma de grande propriedade.

Desempenhando papel tão relevante na economia de Alagoas, quando, no século XVIII, iniciou-se, na Europa, um movimento de libertação dos escravos, os senhores de engenho do Nordeste ficaram desesperados, pois afinal haviam empregado grande soma de recursos na compra do negro.

No final do período colonial, Alagoas tinha uma população de 111.973 habitantes, dos quais 42.879 eram livres e 69.094, escravos. Esses números demonstram, claramente, a importância que teve o negro no povoamento , na produção e no desenvolvimento econômico, social e cultural do Estado.

Com o rígido controle do processo de libertação dos negros, e m 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários, que concedia

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liberdade aos cativos maiores de sessenta anos e estabelecia normas para a libertação gradual de todos os escravos, mediante a indenização do Estado ao senhor de engenho. Somente em 13 de maio de 1888 - após indenizar todos os senhores de engenho que tinham comprado escravos, foi aprovada a Lei Áurea.

Os escravos libertos, que não foram indenizados e não dispunham de meios de produção ou de recursos para bancarem sua subsistência, foram obrigados a permanecer no engenho como moradores ou, simplesmente, como mão-de-obra livre, assalariada, responsabilizando-se pela própria sobrevivência, o que os obrigava a trabalharem todos os dias, exceto, pelo menos, nos dias santos e feriados. Isso evidencia a ineficácia da Lei para mudar a mentalidade dos senhores e a insuficiência desse ato legal, como medida solitária, para transformar esse histórico cenário.

Como trabalhadores livres, a remuneração que recebiam não dava para manterem seu próprio sustento. Portanto, reservavam os finais de semana para cultivarem, num pequeno sítio, os produtos básicos de alimentação, a exemplo do feijão, milho e mandioca, etc.

Dessa forma, a libertação dos escravos contribuiu para aumentar, significativamente, a produtividade do trabalho no plantio, nos tratos culturais, na colheita da cana, bem como no fabrico do açúcar. Com isso foi possível aumentar, ainda mais, a área cul t ivada com cana e, conseqüentemente , e levar a acumulação de capital do senhor de engenho.

O processo de libertação dos escravos e a expropriação do pequeno produtor formaram um enorme contingente de mão-de-obra disponível. Essa força de trabalho excedia a quantidade de braços necessários nos engenhos, obrigando o trabalhador a submeter-se a baixas remunerações e a condições de trabalho excessivamente precárias, visto que a cana-de-açúcar foi a primeira atividade econômica praticada em grande escala, nos períodos colonial, imperial e republicano.

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Com a Independência do País, os Reis Dom Pedro I e Dom pedro II cont inuaram apoiando a at ividade açucare ira , principalmente no âmbito financeiro, com créditos fornecidos pelo Banco do Brasil que, criado em 1808, era uma instituição poderosa no auxílio aos senhores de engenho, sobretudo l iberando empréstimos para comprarem terra e aumentarem a produção.

Com a República, esperava-se que as elites locais perdessem força, todavia isso não ocorreu. Ao contrário, a burguesia agrária estadual manteve o seu poder e a cana-de-açúcar continuou avançando do litoral em direção à Zona da Mata, daí chegando até o Sertão do São Francisco.

Durante essa conjuntura, que nasceu no período colonial e atravessou o imperial e o republicano, os trabalhadores não possuíam qualquer direito trabalhista. O senhor de engenho pagava-lhes como salário aquilo que lhe convinha e que, quase sempre, ficava abaixo do necessário para a manutenção fisiológica da família.

Nesse período, a expansão da cana-de-açúcar foi tal que, a partir do início do século XX, Alagoas era uma espécie de paraíso da cana. Possuía mais de 90% da Zona da Mata cultivada com cana-de-açúcar. Para isso, usou quatro modalidades de trabalho: o trabalhador morador, o trabalhador sitiante, o trabalhador permanente e o pequeno produtor, fornecedor de cana.

Para se ter idéia da ocupação da terra de Alagoas com cana, Beatriz (1998, p.20) informa que, a partir da segunda metade do século XVIII, o número de engenhos da Província de Alagoas passou de 73 em 1824, para 234, em 1850, alcançando 360, no início do século XX. Entretanto, embora o controle das terras produtivas fosse condição necessária para o aumento da produção de cana, não era suficiente para assegurar trabalho à massa de trabalhadores disponível, e era insuficiente a quantidade de terra, necessária ao funcionamento dos engenhos.

Para garantir o trabalho a essa massa de assalariados e gerar excedente de mão-de-obra, os senhores de engenhos teriam que

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avançar até as terras não aptas para a cana, as que eram cultivadas pelos pequenos produtores, na forma de culturas de subsistência. Proprietários dessas terras, os senhores de engenho transformaram-nas em pequenos sít ios, cult ivados pelos moradores de engenho. Com isso, ficaram obrigados a prestar serviços para o engenho, na cana e fabricação do açúcar, em condições bastante subordinadas, perdendo a liberdade e as condições de vida razoáveis.

Na medida em que a cana avançou, o trabalhador morador passou a receber uma casa com uma pequena área onde tinha a possibilidade de desenvolver e cultivar seu roçado, prestando, como contrapartida, trabalho ao proprietário.

De acordo com Beatriz (1986, p.60), esse trabalho seria desenvolvido nas condições de tempo e de tudo o mais exigidas pelo senhor de engenho, que requeria do morador entre 4 a 5 dias da semana, reservando-se os demais para cuidar de sua subsistência, sendo que ele só poderia trabalhar no sítio e morar na propriedade, caso se subordinasse às exigências impostas pelo proprietário. Caso contrário, o morador seria dispensado daquele, tendo que se submeter às mesmas condições em outros engenhos de Alagoas ou de Pernambuco.

Como o engenho era a forma social de produção dominante, nas áreas onde se desenvolveu inibiu outras alternativas econômicas de sobrevivência. Eram, portanto, os mesmos pequenos produtores expropriados que procuravam os senhores de engenho para pedir moradia e trabalho. Nessas ocasiões, o próprio senhor de engenho era quem entrevistava o candidato e decidia sua admissão, que só era possível depois de cumpridos alguns requisitos.

Baseavam-se em informações sobre a história de vida do candidato, inclusive sobre as razões pelas quais ele havia abandonado seu últ imo trabalho. Dava-se preferência a moradores que fossem chefes de família, com esposa e filho.

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Nessas condições, ao chegar ao novo engenho, o morador não tinha contraído apenas uma dívida monetária, porque vinha reforçada por uma forte subordinação nas relações de trabalho e moradia no novo engenho, bem como, ainda, por uma obrigação de grande lealdade ao patrão. Aparentemente, ele era bem remunerado, pois, além de receber pagamento pelo trabalho realizado para o senhor de engenho, possuía os produtos cultivados no roçado, que deveriam permitir-lhe saldar sua dívida no barracão, sobrando-lhe o suficiente para adquirir os demais bens necessários ao consumo da semana seguinte. Entretanto, isso nem sempre ocorria. Freqüentemente, o morador permanecia - por muitos anos - em dívida com o patrão.

O morador recém-admitido tinha que internalizar que o trabalho realizado no roçado individual, para proveito pessoal, só era possível como conseqüência do trabalho coletivo e prévio que era feito para o senhor de engenho. Essa relação de dominação material izava-se, também, no armazém da propr iedade, conhecido como barracão.

O senhor de engenho, visando à reprodução da relação morador/senhor, fazia um esforço permanente para intervir de diferentes formas e em todos os níveis na vida dos seus subordinados. Esse esforço incluía a utilização de alguns de sua confiança que, durante a jornada de trabalho, sob ordens, percorriam a propriedade a cavalo, visitavam os moradores isolados nos sítios, ou ainda, nas horas de descanso, na varanda da Casa Grande, observavam o que ocorria no espaço coletivo do engenho.

Para Beatriz (1986, p.60), nos dias de trabalho, ou seja, du­rante a semana, só era permitido ao morador sair do engenho quando autorizado pelo próprio senhor, com exceção dos feriados, quando a saída era livre.

O comprometimento assumido não era somente do chefe da família, mas de toda a família. No conjunto das atividades do engenho e no roçado, com culturas de subsistência, a esposa

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do morador e seus filhos solteiros - enquanto membros do grupo doméstico - contribuíam conjuntamente com o morador para a execução das tarefas exigidas, ainda que de forma diferente, segundo o sexo e a idade.

Só era incorporado ou permanecia como morador do engenho, com direito à casa e ao roçado ou sítio, se fosse chefe de família. Os homens solteiros ou aqueles que ficassem sozinhos por qualquer motivo não tinham esse direito. Eram alojados em galpões, que os acomodavam em grande quantidade e precariamente.

A condição de maioridade só era obtida mediante o casamento, quando o filho tinha a possibilidade de tornar-se, também, morador. Assim, embora significasse, de fato, garantia em termos morais, a família significava, também, a possibilidade de reprodução de novos moradores no seu interior. Dessa forma, assegurava-se a continuidade do próprio engenho. Tendo a responsabilidade de sustentar a família, o morador oferecia, ainda, o resultado da produção de subsistência, como forma de compromisso c o m sua cont inuidade no trabalho, em cumprimento ao conjunto de obrigações que lhe eram impostas.

Com a transformação de alguns engenhos em usinas, mudou também a relação de produção e de trabalho, porque as moendas passaram a exigir muito mais canas. Para satisfazer essa exigência, era necessário o avanço na ocupação das terras da própria usina por todos os lados do território alagoano, o que, num primeiro instante, significou a expulsão dos pequenos produtores sitiantes, roceiros arrendatários e colonos dos tabuleiros, transformando-os, assim, nos primeiros trabalhadores rurais sem-terra. Esse fenômeno e a mecanização adotada em todas as áreas planas de Alagoas contribuíram para o aumento do número de trabalhadores temporários. No segundo momento, estendeu-se o mesmo tratamento aos próprios moradores, sitiantes, pequenos fornecedores da fazenda, impelindo-os da usina para a periferia de cidades e vilas mais próximas.

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Para Loureiro (1970, p.24), a ocupação, em grande escala, dos Tabuleiros com cana iniciou-se em 1960, com a usina Sinimbu, sendo seguida por outras usinas, aumentando as áreas dos grandes proprietários e resultando, com o passar dos anos, na grande expansão do cultivo e na ocupação total dos tabuleiros existentes.

Beatriz (1986, p . l l ) indica que essa ocupação redundou num aumento significativo do número de grandes propriedades e, principalmente, na instalação de novas e grandes usinas e destilarias, aumentando, exponencialmente, a produção de açúcar e a oferta de mão-de-obra.

Com isso, a grande massa de trabalhadores disponíveis, parte dela incorporada às atividades agrícolas de cultivo de cana, passou a não possuir vínculos de trabalho diretamente com os grandes proprietários. Como diz Beatriz (1986, p.30), "essa relação passou a ser mediada por um empreiteiro que recrutava a mão-de-obra necessária às atividades das fazendas. Somente os trabalhadores mais especializados permaneceram com carteira de trabalho assinada".

Os empreiteiros não têm carteira de trabalho assinada e trabalham para grandes usineiros. Eles procuram recrutar os trabalhadores necessários a determinada tarefa e, muitas vezes, permanecem nas propriedades das usinas, junto com os trabalhadores que lá se fixam durante a semana.

Nesse modelo, cada trabalhador recebe por produção, no final da semana. É muito comum o trabalhador receber parte de seu trabalho já realizado na forma de vale a ser descontado no dia do pagamento. Como explica Beatriz (1986, p.50), a existência desse intermediário é considerada uma forma de exploração, que se apresenta mais conflitante quando o empreiteiro é dono do barracão da usina, onde os trabalhadores fazem suas compras. Os preços das mercadorias são freqüentemente muito mais elevados do que os praticados em outros locais de venda.

A presença do empreiteiro é muito favorável para os usineiros, porque lhes assegura f ixação permanente do

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trabalhador na propriedade, sem arcarem com os custos de uma ligação direta e formal, que incluiria a existência de vínculos trabalhistas e das obrigações decorrentes dessa situação.

Alguns moradores remanescentes na propriedade são forçados a executar tarefas rejeitadas pelos trabalhadores do empreiteiro, pois são vistos pelo usineiro como subordinados e, portanto, mais sujeitos às determinações do administrador da fazenda. As casas mostradas abaixo representam as condições da habitação a eles destinada.

FIGURA 1.5- Habitação típica do trabalhador e sua família na atividade canavieira de Porto Calvo.

Quanto à remuneração percebida, os trabalhadores temporários usam-na para pagar dívidas no barracão. Se sobrar algum dinheiro, fazem compras nas feiras próximas às us inas . Q u a n d o t rabalham o mês in te i ro , c h e g a m a ganhar pouco mais do que o salário mínimo, alcançando s o m e n t e dois t e r ç o s de le , se não t i v e r e m o c u p a ç ã o permanente. A renda média dos trabalhadores moradores é

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inferior à dos temporários, atingindo em torno de 50% do salário mínimo por mês trabalhado.

É muito comum pequenos produtores do Agreste e do Sertão prestarem trabalho nos canaviais, para complementar sua renda. Como sua área de terra é muito pequena, principalmente nas crises de produção ou em períodos de pouca chuva, os pequenos produtores migram para as usinas mais próximas para cortar cana. Logo que se inicia o período de chuva, voltam para cultivar seu pequeno pedaço de terra.

FIGURA 1.6 - Trabalhador rural temporário, trabalhando por produção, percebendo rendimento em torno de US$ 3,20 por dia de trabalho.

Conforme afirma Beatriz (1986, p.60), "o trabalhador residente na fazenda das usinas, no momento em que diminui a demanda por trabalho no interior da propriedade, para poder concorrer com os trabalhadores que vêm de fora, vê-se obrigado a *é a dormir no local de trabalho, para garantir o próprio dia de serviço".

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Freqüentemente, a falta de trabalho para os moradores da usina é utilizada pelo usineiro como mecanismo para forçar o abandono da propriedade pelo morador, o que vem ocorrendo muito, desde o início da década de noventa.

Portanto, o trabalho assalariado temporário passou a ser a única fonte de renda para a grande massa de pessoas residentes no campo. Ao submeter-se a isso, o chefe de família, para garantir a sobrevivência, teve que colocar toda a família na atividade canavieira. É sob essas condições que, desde cedo, aparecem as crianças trabalhando nos canaviais, em condições que vêm deteriorando-se ao longo dos anos.

Em suma, todos os fatores referidos geraram um grande excedente de mão-de-obra, que vive no meio rural, na periferia das pequenas, médias e grandes cidades. Em caso de maior necessidade, muitos são chamados a prestar serviços à usina, sem qualquer vínculo.

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Capítulo II

O poder de base agrária A divisão geográfica, social e econômica do território

brasileiro em espaços estaduais deve ser entendida como resultado de uma ação política. E, assim, os espaços nacionais foram organizados e construídos histórica e politicamente. Por conseguinte, as condições peculiares a cada Estado decorrem de um sistema político com relações externas e internas específicas.

Nesse sentido, o processo de manutenção do poder político estadual pode desenvolver suas próprias alternativas de desenvolvimento econômico, que podem estar ou não em consonância com o poder econômico regional ou nacional, mas sempre o estarão com os interesses específicos das elites estaduais e com suas relações com o poder político regional e nacional, no sentido de garantir a preservação desses interesses.

Alagoas é, portanto, um espaço político-social que possui especificidades nos processos político e social e, por conseguinte, deve ser um espaço geográfico da sociedade local em interação parcial ou total com a sociedade global, porém comportancio-se de forma diferenciada. Assim, Alagoas é justamente a expressão autêntica de suas diferenças culturais, sociais e do processo de produção e de diferenciação do espaço geográfico 1. Um Estado, mesmo possuindo relações com outros das regiões do País ao qual pertence, possui vinculações internas autônomas que lhe conferem um caráter próprio e diferenciado.

' A respeito do conceito de região veja-se Lipietz (1980) e Castro (1992:30).

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Um Estado e sua identidade são construídos através das imposições de uma classe dominante, objetivando expandir sua própria base mater ia l , bem como o uso do controle da administração local para alcançar seus efeitos. Por isso, as elites dominantes desenvolvem formas de controle político apropriado a seus interesses econômicos e de poder, fazendo com que o Estado assuma aspecto político peculiar, quando comparado com outros Estados 2. Desse modo, a própria identidade estadual é influenciada pelo comportamento das suas elites em relação à sua região, ao poder nacional e a outros Estados.

2.1 - As raízes do poder em Alagoas Do período colonial até o início da República, ser senhor de

engenho significava ter vastas propriedades, o que deixava muita gente sem terra, dependente desses grandes proprietários.

Esses possuíam muito poder. Quanto maior fosse a área de terra e o número de escravos possuídos, tanto maior era o poder que o senhor detinha, irradiando-se para além dos limites do engenho, alcançando o meio urbano, onde elegia prefeito, vereador, deputado, senador e governador, influendando, ainda, a nomeação de juízes e pessoas do alto escalão do governo estadual e, até, federal.

Esses senhores formavam uma elite quase homogênea, com poderes especiais. Núcleo político-social, o engenho era também um núcleo demográfico, servindo de base à formação da família e da sociedade alagoana. Por conseguinte, qualquer núcleo que se constituiu em Alagoas encontrou a sua base de formação no Engenho Bangüê.

Como diz Diégues Júnior (1976, p.40), "o senhor de engenho é a grande figura da paisagem social de Alagoas. É nele que se centraliza a organização da família. As cidades de Alagoas são, na

2 Conforme Roberts (1981, p.50).

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verdade, um prolongamento do engenho, e o senhor de engenho é o chefe político da família e de toda a gente que vive no engenho".

Na hierarquia social da atividade canavieira, estavam os senhores de engenho e os lavradores, que não podiam ter engenho, embora dispusessem de terras, ou que não tinham terra e, nesse caso, cultivavam a cana nas terras do senhor. Conforme a posse da terra de que dispunham para cultivar cana, o número de escravos que possuíam e as safras que produziam, os lavradores, também chamados de fornecedores, tinham maior ou menor importância social.

A relação entre os lavradores e o senhor de engenho era de muita desconfiança. Freqüentemente, o senhor de engenho proibia aos lavradores a entrada na casa de purgar, durante a moagem de sua cana. Alegava que a sua presença implicava fiscalização e, conseqüentemente, uma desconfiança.

A estrutura econômica dominante no Estado, bem como sua organização político-social dela emanada, permitiam que muitos abusos de autoridade fossem cometidos impunemente pelos senhores de engenho. Nesse sentido, a posse da terra e sua ocupação com a monocultura da cana davam o poder absoluto sobre os lavradores, agregados, trabalhadores e a imensa maioria de pobres livres, que necessitavam de terra para sobrevivência.

Para Diégues júnior (1976, p.80), "a transformação dos engenhos em usinas levou o antigo senhor de engenho a morar na cidade, para onde levou seus hábitos, seus cos­tumes e seu modo de vida, os quais iria transmitir para toda a sociedade".

A mudança tecnológica, que ocorre a partir do início do século XX, com a transformação do engenho numa indústria moderna e com a utilização do arado na agricultura, não altera a estrutura de produção e de poder da atividade canavieira. Ao contrário, os antigos senhores de engenho, transformados

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em usineiros, discriminam seus antigos companheiros que, por não te rem terra e recursos f inance i ros suf ic ientes , permaneceram como senhores de engenho e, com o tempo, tornaram-se fornecedores de cana para as maiores usinas.

Poucos se transformaram em usineiros, já que, nessa nova condição, necessitavam de muita terra para plantarem cana e obterem crédito junto ao governo. Houve usinas que chegaram a incorporar dez engenhos. Todavia, é curioso que as 24 famílias de senhores de engenho tradicionais de Alagoas transformaram-se em usineiros, aumentando muitas vezes as áreas de suas propriedades e o número de fornecedores.

Esse processo de concentração de terra e indústria no meio rural, nas mãos de poucas famílias, teve amplo apoio f inanceiro dos governos federal , es tadual e munic ipa l . Portanto, a história da cana-de-açúcar , em Alagoas, é a história da relação entre propriedade latifundiária e poder. Essa herança histórica é determinante da estrutura agrícola, econômica e social do Estado.

Os senhores de engenho e, depois, os usineiros, que t inham o contro le da propriedade fundiár ia , possuíam também a base do poder político que usavam, muito bem, na obtenção de privilégios, transformando a sociedade alagoana num Estado praticamente dependente de uma única atividade econômica.

Em Alagoas, em 1931, havia 27 usinas, convivendo com 618 engenhos bangüês, que produziam cerca de 3 1 % do açúcar alagoano. Com o novo surto de desenvolvimento das usinas, provocado pela Segunda Guerra Mundia l , e las não só aumentaram a sua produção, como também, devido ao uso do caminhão e ao melhoramento das rodovias, passaram a ampliar sua área de influência, estendendo o plantio.

O governo federal, através do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) , fundado na era Vargas, cria uma série de

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medidas que acabam por f inanciar a compra de terra e, conseqüentemente, o aumento da área cultivada com cana, chegando a atingir a Zona da Mata, o Litoral e o Planalto, também chamado de Tabuleiro.

Como afirma Pedro Ramos (1999, p.80), "entre 1885 a 1890 o governo de Pernambuco e o de Alagoas subsidiaram fortemente a montagem de diversas usinas. As facilidades oferecidas pelo governo republicano, para a montagem dessa unidade fabril isolada, foram tantas que mesmo os médios fornecedores de cana uniram-se e criaram sua própria usina".

Seguindo essa linha de apoio do período republicano, os outros subseqüentes também ofereceram os m e s m o s privilégios e mantiveram intacta a estrutura de dominação vigente na atividade agropecuária, só que mais ampliada, atingindo todos os setores da sociedade alagoana. Essa ação paternalista do Estado, ao criar forte sistema de defesa da atividade açucareira, acabou por reforçar o atraso relativo das a t i v i d a d e s p r a t i c a d a s p e l o s u s i n e i r o s , que t i n h a m mentalidade de grandes latifundiários.

Para Pedro Ramos (1999, p.70), os diversos mecanismos que o Estado utilizou em benefício de um único segmento social serviram tão somente para consolidar uma estrutura de produção, que não se justifica do ponto de vista social. Como se sabe, a estrutura fundiária concentrada, herdada do passado colonial, foi fortalecida pelos sucessivos governos que têm marcado a sociedade alagoana.

Com os subsídios estatais e a concentração da propriedade da terra, os senhores de engenho, desde o século XVIII, e os usineiros, a partir do final do século XIX, usam sua força política (transferida de pais para filhos), fazendo valer seus interesses e mantendo o comportamento típico da classe senhorial, com reflexos profundos na sociedade alagoana, inibindo, inclusive, quaisquer reformas e mudanças.

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Para Pedro Ramos (1999, p.80), o poder político dos senhores de engenho e, em tempos mais modernos, o dos usineiros decorre do fato de serem grandes proprietários de terra, numa espécie de monopolio da posse dos meios de produção.

Mesmo as reformas modernizantes das atividades agrícolas e não-agrícolas foram bloqueadas. A idéia de criação dos engenhos centrais, que separava a propriedade da indústria da propriedade da terra, logo foi inviabilizada pelos senhores de engenho, que temiam perder o poder de latifundiário, passando a serem simples fornecedores de cana.

Com a crise decorrente da grande concorrência do açúcar brasileiro no mercado externo, o governo resolveu modernizar a atividade, procurando aumentar sua produtividade, oferecendo crédito abundante, fácil e de baixo custo no ámbito federal e apoio da infra-estrutura física das esferas estaduais e municipais. Esse incentivo, porém, funcionou contrariamente ao esperado, como estímulo para o usineiro resistir ao processo de modernização da produção açucareira.

Sensível às pressões desse segmento, o governo acabou por concordar em fornecer a lgumas garant ias , como o tabelamento do preço da cana, que favoreceu o usineiro na compra das cotas obrigatórias da produção dos fornecedores, com prejuízo para estes.

Outro fator que demonstrou o poder dos usineiros foi o decoreente do crescimento da produção paulista que ameaçava a do Nordeste, de custo mais elevado. Preocupados em manter seus privilégios, os usineiros dessa região declaram-se ineficientes e exigiram do governo federal não só o estabelecimento de cotas por região, por estado e por usina, como também a equalização de custos. Com o argumento de que seus custos eram mais elevados do que os de São Paulo, reivindicam um preço maior para o açúcar do Nordeste.

Nessa nova fase de concorrência, sobreviveram aquelas usinas que tinham mais condições de possuir mais terra. Os pequenos

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fornecedores, mesmo organizados em cooperativas, foram os primeiros a serem expulsos de suas terras que as usinas passaram a incorporar à sua área de influência, procedendo igualmente com os médios fornecedores que tinham pequenas usinas.

Reconhecendo a crise da baixa produtividade, na segunda metade do século XIX, o governo republicano tratou de modernizar a produção açucareira. Para isso, foi idealizada a implantação dos engenhos centrais, com máquinas modernas capazes de esmagar a cana de vários engenhos bangüês e de fabricar o açúcar de melhor qualidade, mais aceito no mercado externo.

Na sua concepção, os engenhos centrais separariam a atividade industrial da atividade agrícola. Montados e garantidos pelo governo, deveriam pertencer a companhias estrangeiras, que não poderiam cultivar cana, não usariam braços escravos e deveriam construir estradas de ferro para o transporte de cana até a fábrica, substituindo os carros de boi, que se limitariam a levar as canas de áreas distantes das estradas de ferro.

Com essa visão, o Estado também tratou de determinar a localização dos engenhos centrais, a fim de que cada um tivesse a sua zona de influência e de que não houvesse concorrência predatória entre eles.

Em Alagoas, na última década do século XLX, foram implantados os engenhos centrais Brasileiro, Utinga Leão e Sinimbu. Apesar da importância da idéia, essa implantação não recebeu apoio dos senhores de engenho bangüê, que temiam perder o poder de serem donos do açúcar, ficando submetidos a grandes industriais, que iriam utilizar suas canas no fabrico do açúcar. Ou seja, haveria a separação das atividades de produção de cana e de produção do açúcar.

A resistência dos senhores de engenho a essa idéia deu origem à transformação do engenho bangüê em usina, onde o senhor, agora usineiro, passaria a ser dono da cana e do açúcar, continuando, portanto, como industrial e, ao mesmo tempo, como grande latifundiário.

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Para Andrade (1997, p.60), as usinas começaram a ser montadas em Alagoas, a partir de 1892 e, já em 1907, havia seis usinas em funcionamento. Das últimas décadas do século XIX às duas primeiras do século XX, foram construídas 4 usinas em São Luiz do Quitunde, três em Murici, duas em Atalaia, duas em São José da Lage, uma em São Miguel dos Campos, uma em Santa Luzia do Norte e outra em União dos Palmares. Foram montadas com o apoio dos governos fede­ral e estadual que, além de subsidiarem sua construção, criaram uma infra-estrutura de estradas, principalmente de ferrovias, que iria estimular a expansão das usinas por todo o Estado.

Os proprietários das usinas de Alagoas eram, na sua maioria, de famílias tradicionais de senhores de engenho locais. Nas três décadas que vão de 1890 a 1920, o crescimento das usinas, apesar de significativo, foi mais lento do que o ocorrido nas de Pernambuco. Já na safra 1922/23, a produção de açúcar das usinas suplantou a dos engenhos bangüês, indicando que a modernização do setor canavieiro, subsidiada pelos governos federal e estadual, era feita com grande vantagem para aqueles senhores de engenho que queriam e podiam transformar-se em u s i n e i r o s . Os demais , s e m essa p o s s i b i l i d a d e , permaneceram como plantadores de cana, na condição de fornecedores, ficando subordinados aos usineiros.

Nesse processo, a economia do Estado de Alagoas continuou inalterada e totalmente subordinada à atividade da agroindústria do açúcar, durante todo o período colonial e imperial.

Apesar da esperança de mudanças, o período republicano, contrariamente, manteve intactas as estruturas agrícola e agrária de dominação vigente, no interior da atividade açucareira, só que mais ampliada, atingindo agora todos os setores da sociedade alagoana, dificultando o acesso à terra e estimulando a extinção das outras atividades agrícolas.

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Dessa forma, as transições do trabalho escravo para o livre e do engenho para a usina ocorreram sem outras alterações em Alagoas e Pernambuco, garantindo os privilégios dos usinciros, que incluíam a posse dos latifúndios, dos meios de produção, dos recursos financeiros e do poder político.

Isso foi muito importante, porque, nos períodos colonial e imperial até 1850, a terra não tinha valor comercial, vindo a tê-lo com a Lei de Terra, que lhe garantiu a função de reserva de valor, passando o acesso à sua posse a ser feito através da compra ou herança. Isso permitiu também que o senhor de engenho financiasse a modernização da atividade canavieira, hipotecando a terra como garantia do financiamento, operação que era feita antes hipotecando-se os escravos.

Apoiando decisivamente as usinas, os governos federal e estadual construíram estradas de rodagem e de ferro que, partindo de Maceió, dirigiam-se para o interior, para as áreas produtoras de cana e de açúcar. As primeiras, que foram construídas a partir de 1858, iriam facilitar a atividade canavieira em áreas, antes, consideradas de difícil acesso.

Ancorada por uma infra-estrutura de estradas, portos, energia elétrica e melhoria da comunicação, a cana apossava-se das terras, conquistando as várzeas de massapé, as grotas de barro vermelho e os tabuleiros. Destruíram-se as matas, afugentando os animais e permitindo que outras culturas se desenvolvessem somente nas áreas em que ela não podia chegar . Dessa maneira , em pouco tempo, os u s i n e i r o s passaram a ser donos de quase todo o litoral, Zona da Mata e dos tabuleiros de Alagoas, como mostra o mapa 1.

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MAPA 2 - Alagoas Área em cinza escuro: propriedades com mais de 100 hectares de terra, plantadas com cana-de-açúcar, em 1995/96

FONTE: IBGE, Censo agropecuário, 1995/96.

Para Andrade (1998, p.90), o período que vai de 1890 a 1900 registrou esse grande crescimento das usinas e produção de açúcar, em face também da grande elevação de preços no mercado internacional. Todavia, de 1901 a 1914, a queda de preços no mercado europeu não diminuiu o número de usinas, tampouco a produção de açúcar. Entre 1910 a 1920, Alagoas passou de 6 para 15 usinas.

Com a superação dos engenhos centrais, o governo passou a apoiar a construção das usinas com crédito do Banco do Brasil, que lhes financiava as instalações e fornecia recursos para viabilizá-las economicamente. Isso significava financiar a compra de engenho para que a usina tivesse uma produção mínima, que compensasse o investimento em máquinas modernas.

Com tantas facilidades, a criação das usinas veio aumentar a concentração da propriedade da terra, pois a demanda por cana era tão superior à do engenho que uma usina média, de maquinaria moderna, esmagava cana correspondente à produção de dez engenhos bangüês.

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Como afirma Andrade (1997, p.80), "no período de 1930 a 1950, Alagoas possuía quatro grupos de usinas. As grandes usinas, em número de três, se mantiveram em ascensão até os anos 50. Um segundo grupo de médias usinas, que estavam em crescimento. Um terceiro, de pequenas e miniusinas com produção inferior a 10.000 sacas de açúcar".

A forte intervenção do governo no setor açucareiro, estabelecendo cotas, comercialização da produção e estipulando preço, comprando açúcar excedente e proporcionando subsídios, fez com que os usineiros mais beneficiados pelos recursos governamentais crescessem. Algumas usinas médias transformaram-se em grandes, mas a maioria das médias e todas as pequenas e miniusinas foram absorvidas pelas grandes, que necessitavam de terra para permanecer competindo com a produção internacional ou com a produção paulista.

Os usineiros eram industriais, cujo sucesso provinha mais. Q u a n t o maiores f o s s e m suas f a z e n d a s , mais possibi l idades teriam de serem bem-sucedidos. Por isso mesmo, m u i t o s p r o c u r a v a m ter mais terras do que as realmente necessárias. Isso poderia ser a garantia de sua sobrevivência futura, já que o açúcar nordestino, além de sofrer a concorrência internacional, agora se defrontava com outro poderoso concorrente, o Estado de São Paulo.

Como já foi salientado, a partir do século XVIII, o Brasil deixou de ser o único produtor de açúcar, o que não lhe garantia mais poder exclusivo no mercado europeu. A concorrência com outras colônias e países foi se fortalecendo, e os preços começaram a cair em todo o mundo.

Nessas condições, a atividade açucareira do Brasil, muito particularmente no Nordeste, fica em situação econômica desfavorável com a perda do mercado externo, voltando-se mais Para o mercado interno, que se localiza no Sudeste do País, basicamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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Junto com a perda do mercado externo, que originou uma disputa pelo interno, na primeira metade do século XX, ocorreu igualmente o início da produção de forma comercial em outras regiões do País, como no nordeste de São Paulo, por exemplo, que começa a destacar-se como grande concorrente do Nordeste brasileiro.

Essa disputa acirrada de Alagoas e de Pernambuco com São Paulo, pelo mercado interno, fez com que os usineiros nordestinos temessem pelo futuro. Passaram a exigir dos governos de Alagoas e de Pernambuco solução para o problema da baixa de preços do mercado interno, já que não era possível influenciar nos preços externos.

A alternativa mais atraente para os usineiros do Nordeste era a de que o governo federal, em comum acordo com os governos estaduais, procurasse limitar a produção nacional. Com a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, essa idéia ganhou apoio e força. Sob as pressões dos governos de Pernambuco e Alagoas, surgiram as primeiras providências legais, destinadas a incentivar a produção de álcool e a compra, pelo governo federal, do excesso de açúcar produzido no mercado.

Para viabilizar esses interesses dos usineiros nordestinos foi criada, em 1931, a Comissão de Defesa do Açúcar. Em 1933, os us ineiros , insatisfeitos com o poder da C o m i s s ã o , pressionaram, mais uma vez, o governo para criar um órgão federal específico para tratar dos problemas da atividade da agroindústria açucareira. Assim, nesse mesmo ano, foi criado o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), que passou a preocupar-se com a baixa dos preços do açúcar no mercado brasileiro.

Segundo Ramos (1999, p.50), o governo federal, para atender basicamente às reivindicações do Nordeste, passou a proteger a produção nordestina. Estabeleceu cotas de produção regional, incentivando o aumento da produção de álcool-carburante, que era visto pelos usineiros como uma possível alternativa capaz de superar os problemas de superprodução de açúcar.

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Na defesa da atividade açucareira, a opção pela limitação da produção foi posta em prática em meados da década de 1930, estimulando ainda mais as práticas agrícolas tradicionais, largamente utilizadas para expandir a produção de cana, o que exigia cada vez mais terras.

Para Ramos (1999, p.80), como o preço estipulado pelo governo era bem favorável, os usineiros utilizaram esse incentivo para comprar mais terras para plantar cana, sem qualquer planejamento, várias vezes para evitar a concorrência. Estavam muito pouco interessados no aumento da produção por área cultivada e, por conseguinte, nos custos de produção da cana e do açúcar.

A política regional privilegiou o Nordeste com recursos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e com programas agrícolas especiais voltados para atender aos grandes produtores, cuja expressiva maioria era constituída de deputados, senadores, governadores e prefeitos. Apoiando irrestritamente o governo militar, esses homens representavam a principal base de sustentação da política econômica do regime centralizado. Em compensação a esse apoio, foram garantidas a reserva de mercado, a compra da própria produção e a fixação de preços para cana, álcool e açúcar, assegurando margem de lucro acima do normal.

A concessão de subsídios, especialmente na forma de crédito, estimulou a produção por meio do mecanismo de equalização de custos, cuja diferença entre os produtores do Nordeste e os do Centio-Sul era coberta pela contribuição sobre a produção nacional de açúcar, criada com o objetivo de proteger as regiões potencialmente menos competitivas, como Alagoas e Pernambuco, para onde era transferida.

O Nordeste e, particularmente, Alagoas beneficiaram-se bastante dos subsídios dos diversos programas agrícolas, utilizados basicamente para a compra de terras. Até se desviaram recursos para outras atividades econômicas, notadamente na área imobiliária.

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Visando tornar a atividade mais competitiva, o governo fortaleceu o IAA e priorizou a aplicação de recursos na agroindústr ia canavieira do Nordeste , no tadamente na pesquisa agrícola, bem como no melhoramento dos portos de Recife e M a c e i ó . O f inanc iamento da modern ização da atividade açucareira tanto se material izava nos recursos destinados à compra de terra, como na isenção dos impostos de importação de máquinas necessár ias ao processo de racionalização, cobrindo, ainda, a concessão de empréstimos para aquisição desses implementos, concedidos a juros baixos e a prazos longos, com isenção da correção monetária, o que constituiu forte incentivo.

Essas medidas provocaram um enorme impacto na estrutura produtiva, desativando 36 usinas localizadas no Nordeste brasileiro, sobretudo as pequenas, estimulando, ainda mais, a concentração da terra e de capital na atividade c a n a v i e i r a , r e d u z i n d o o n ú m e r o de f o r n e c e d o r e s e e x p r o p r i a n d o p e q u e n o s e médios p r o d u t o r e s r u r a i s , localizados em áreas ainda sem cana.

Os programas agravavam a situação social no campo, ao tempo em que beneficiavam amplamente os grandes usineiros, pois contavam com 11 linhas de créditos a juros bastante subsidiados. Essas medidas contribuíram para o avanço rápido das usinas nas terras dos Tabuleiros, que eram planas e facilmente mecanizáveis, garantindo, assim, aumento da produtividade, redução de custos e, por conseguinte, maior competitividade da produção do açúcar alagoano.

Graças aos estímulos fornecidos pelos governos federal, estadual e municipal no período de 1970 a 1980, a agroindústria do açúcar cresceu 146%. Alagoas, apesar de ser um Estado pequeno, igualando-se nisso a Pernambuco, foi o maior produtor de açúcar e álcool do Nordeste em 1981, possuindo 31 usinas e produzindo 24 milhões de sacas de açúcar.

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Para se ter idéia da expansão da atividade açucareira no período militar, a tabela 2.1 mostra que, em 1971, Alagoas produzia quase 10 milhões de sacas. Cinco anos depois , aproximava-se de 12 milhões e, em 1981, com 31 usinas, alcançava mais de 24 milhões de sacas de açúcar.

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TABELA 2.1 - Alagoas: evolução da produção de açúcar no período de 1970 a 1980.

continuação

PRODUÇÃO EM SACAS DE 60 kg

USINA 1971 1976 1981

224.577 222.833 685.333

B1TIT1NGA 305.353 546.504 742.469

BOA SORTE 145.261 -

CACHOEIRA

DO MEIR1M 169.070 175.800 482.703

CAMARAGIBE 312023 226.180 847.871

CAMPO VERDE 218.103 -

CAETÉ 312.460 682.756 1.326.574

CANSANÇÃO

DE SINIMBU 504.238 507.020 1.121.568

CAPRICHO 528.454 535.526 847.871

CENTRAL LEÃO 708.841 644.950 1.502.224

CONCEIÇÃO DO PELXE 305.360 333.775 359.206

CORURIPE 675.810 838.096 2.OOI.505

GUAXUMA 305.952 1.021.207

JOÃO DE DEUS 286.830 314.190 503.106

LAGINHA 620.540 662.845 1.101.207

0URICLR1 502.496 394.590 1.014,261

PORTO RICO IO9.225 127.940 795.881

ROÇADINIIO - - -

SANTA AMÁLIA 228.313 - -

SANTA CLOTILDE 360.188 314.720 811.230

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conclusõo

USINA 1971 1 9 - 6 1981

SANTAN\ 471.852 447.230 332.443

SANTO ANTONIO 313 253 850.157 1.385.467

SÃ0S1MEÃ0 ¡72.110 391.945 SOS.- IH)

SERESTA 256.827 1.014.322

SERR\ GRANDE 553 900 558.900 782.536

SUMAÚMA 84.352 293 735 414.420

TAQUARA 186.680 265.600 89.900

TERRANOVA 213.150 241.046 761.469

TRIUNFO 726.105 560.967 1.474.902

URDBA 30" 186 358.812 843.477

TOTAL 9.856.120 11.820.917 24.317.811

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FIGURA 2.1 - Vista das instalações da usina Porto Rico, localizada no município de Campo Alegre.

FIGURA 2.2- Cana-de-açúcar plantada pela usina Porto Rico em área plana do Agreste de Alagoas. A facilidade de financiamento permitiu essa expansão.

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Outro programa de subsídio à cana-de-açúcar, criado pelo governo federal em 1971, para modernizar a atividade açucareira, foi o chamado Programa de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR). Ele estaria mais voltado para atender às necessidades da modernização da atividade açucareira do Nordeste, que não era competitiva em face da produtividade paulista e internacional.

Para essa tarefa, foram criadas estações experimentais em todos os Estados produtores, destinadas a pesquisas industriais e agrícolas para o aumento da produtividade. O programa, porém, estava voltado para atender aos grandes latifundiários que, gozando de altos subsídios, não tinham qualquer interesse em modernizar suas atividades, pois não estavam preocupados com produtividade, mas, sim, com compra de terra que, além de aumentar a produção, servia de reserva de valor.

Esse programa (financeiramente caro para o País) partia do principio dc que o Brasil era um dos poucos países em condições de atender à nova demanda mundial de açúcar, que começava a aumentar significativamente. Estimava-se que, em 1980, o mundo precisaria de pelo menos 24 milhões de toneladas a mais do produto do que em 1970. Contrariamente ao pressuposto, essa demanda começou a cair no mercado internacional. Não tendo o que fazer com o grande excedente de produção, a partir do início da segunda metade da década de 70, os usineiros pressionaram o governo para a criação do Proálcool.

Criado em 1975, o Proálcool serviu apenas para absorver esse excedente que, na visão do IAA, deveria ser colocado no mercado internacional. Como essa produção era obtida em condições de baixa eficiência, só poderia ser absorvida se o álcool fosse vendido a preços elevados.

Isso foi perfeitamente possível porque o preço da gasolina dobrou no mercado internacional e, nessas condições, o Proálcool viabilizou-se como um programa de salvação da agroindústria

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canavieira nacional, muito particularmente dos Estados e das regiões de baixa produtividade agrícola e industrial.

Assim, a agroindústria canavieira foi, no Brasil, a grande beneficiária dos elevados aumentos dos preços do petróleo, ocorridos em 1974 e em 1979. Tanto isso é verdade, que quase toda a produção de álcool passou a ser derivada da cana. Para Carvalho (2000, p.80), o Proálcool teve três períodos claros. O primeiro, de 1975 a 1979, com expansão moderada da produção, quando, através do financiamento da montagem e ampliação das desti larias anexas às usinas exis tentes , aumentou-se significativamente a área tradicional de açúcar e destilação de álcool anidro, para ser misturado à gasolina.

No segundo período, que vai de 1980 a 1985, elevou-se substancialmente a produção de álcool hidratado para uso em motores a álcool, porque houve a montagem de destilarias autônomas, localizadas nas novas plantações de cana, em regiões anteriormente ocupadas por outra cultura.

O terceiro momento diz respeito ao período de 1986 a 1990, quando ocorreu uma forte e crescente desaceleração do programa, pois o governo federal já havia gasto 7 bilhões de dólares com o Proálcool , obtendo resultados econômicos e sociais excessivamente limitados.

Como afirma Carvalho (2000, p.24), durante o período de 1975 a 1990, o setor alcooleiro alagoano ampliou sua capacidade produtiva com mais de 20 destilarias anexas e 9 autônomas e triplicou sua área plantada com cana-de-açúcar.

O Proálcool veio, assim, estimular a criação de destilarias anexas e autônomas. O financiamento altamente subsidiado fez com que a produção de cana para álcool passasse de 666 mil toneladas, em 1976, para 19 milhões de toneladas, em 1981.

Essa produção de cana para álcool ficou quase que restrita aos grandes usineiros, porque a expansão fundiária que fizeram, de 1930 a 1970, permitia-lhes uma grande capacidade de extensão

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dos seus canaviais e a construção de destilarias autônomas em suas propriedades, ou de destilarias anexas em usinas já existentes.

No caso de Alagoas e Pernambuco, a produção de cana saiu dos limites da Zona da Mata e chegou a avançar em direção ao Agreste, onde gerou os mesmos problemas sociais que já havia causado na Zona da Mata e em parte do Litoral.

Portanto, durante aproximadamente dez anos, o Proálcool foi o programa que, através de recursos subsidiados e da abertura do m e r c a d o interno, permit iu uma nova expansão dos latifundiários. Muito particularmente no Estado de Alagoas, onde não havendo muita terra ociosa, esse processo decorreu com a expropriação de pequenos e médios produtores do Agreste, que se ocupavam na cultura de produtos agrícolas de subsistência, a exemplo do feijão e milho.

O Proálcool, que nasceu decorrente daqueles dois grandes aumentos do petróleo no mercado internacional, tinha como objetivos reduzir a compra de gasolina pelo governo brasileiro e criar mais empregos no Brasil, no Nordeste e em Alagoas.

A realidade foi bem diferente: não foi aprovada nenhuma proposta para que Alagoas produzisse álcool a partir da mandioca. Até mesmo as minidestilarias tornaram-se inviáveis, mas foram numerosos os projetos de produção de álcool em grandes destilarias anexas às usinas ou autônomas. Com todos esses incentivos, Alagoas passou, em pouco tempo, a ser o primeiro produtor de cana do Nordeste, superando Pernambuco.

De acordo com Andrade (1999, p.150), o crescimento das usinas de Alagoas foi tão grande, nas décadas de 70 e 80, que as safras de 1987/1988, no Estado, produziram mais de 26 milhões de sacas de açúcar de 50kg, sem um competente planejamento. Esse avanço sobre as terras agricultáveis do Estado foi tal, que as usinas passaram, também, a possuir terras no Agreste, onde os índices pluviométricos são inferiores a 1500mm de chuvas por ano, acarretando sérios problemas nos anos de seca.

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Ainda de acordo com Andrade (1997, p.82), toda a produção de açúcar, bem como as terras que produziam a maior parte desse açúcar, eram de propriedade de apenas 24 famílias. Em 1988, a família Bezerra de Melo era dona da Usina Santana e da destilaria Santana; a farnília Canuto, dona da Usina Terra Nova; a família Coutinho Dias Lins tinha a Usina e destilaria Sinimbu; os Jatobás tinham a Usina Serra Grande; a Leão era dona da destilaria Roteiro, bem como da Central Leão e destilaria Leão; a Lyra, dona das Usinas Taquara e Ouricuri e destilaria Ouricuri, a quem pertenciam a Usina e destilaria Mirim, Usina e destilaria Cachoeira, Usina e destilaria Caeté, Usina e destilaria Guaxuma, Usina e destilaria Laginha; a família Maranhão possuía a Usina Uruba, a Usina e destilaria Santo Antônio e a Usina Camaragibe; a família Moreira tinha a Usina João de Deus; a família Oiticica, dona da Usina e destilaria Santa Clotilde; a família Omena, dona das Usinas e destilaria Alegria, São Simeão e Bititinga; os Sarmentos tinham a Usina e destilaria Conceição e Usina Peixe; os Sampaios eram donos da Usina e destilaria Roçadinho; os Tenórios tinham as Usinas e destilarias Triunfo e Porto Rico; os Toledos eram donos das Usinas Capricho e Sumaúma, que também eram destilarias e eram ainda donos das destilarias Paisa e Massiape; as famílias Uchoa e Wanderlei, donas da Usina e destilaria Coruripe e das destilarias Camaçari e São Geraldo; os Vasconcelos, os Vilelas e Gomes de Barros, donos da Usina e destilaria Seresta.

Assim, em 1988, em Alagoas, 24 famílias eram donas de mais de 70% de todas as terras agricultáveis do Estado, de 27 usinas e de 30 destilarias. Em todo o Estado existia apenas uma destilaria que não era propriedade de famílias tradicionais de senhor de engenho de Alagoas e Pernambuco, a destilaria de Pindorama, que pertencia a uma cooperativa de pequenos produtores.

Como vimos, a produção açucareira do Nordeste defrontou-se basicamente com três grandes dificuldades: a primeira diz respeito à perda do mercado internacional, que foi substituído

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pelo mercado interno; a segunda deriva da expansão da produção de açúcar em São Paulo, que passa a concorrer com o açúcar nordestino. Finalmente, a terceira decorre da incapacidade secular de se modernizar nos padrões da competitividade internacional. Para manter-se como atividade agroindustrial, tem necessitado de ajuda permanente dos governos federal, estadual e até municipal.

Como sabemos, a partir de 1985, na conjuntura de divida externa elevada, gastos excessivos com subsídios, inflação alta e dívida interna crescentemente assustadora, associada à crise internacional de escassez de recursos, o governo federal não tinha como financiar, sequer, as suas despesas correntes e iniciou um processo de corte de gastos, alcançando a agricultura de modo particular.

Como a agroindústria do açúcar do Nordeste não soube aplicar o volumoso montante de recursos que foi colocado à sua disposição, nos diversos programas adotados pelo governo fed­eral, a atividade permaneceu com baixa produtividade. Aumentou a área plantada, mas passou a sofrer a concorrência do açúcar do Sudeste, que entrou no mercado nordestino.

Nesse sentido, o fim do IAA e do Proálcool, a extinção do Planalsucar, a liberação das cotas e a possibilidade de liberação de preços levaram a agroindústria açucareira a uma crise longa e sem precedente, nos últimos 50 anos, somente mais grave no Estado de Alagoas, que depende basicamente da cana-de-açúcar para manter o comércio, a indústria, a infra-estrutura, o emprego e os serviços essenciais demandados pela população.

Como a crise está na estrutura da produção açucareira do Nordeste, à medida que o governo vai liberando o mercado de açúcar, reduzindo os subsídios e permitindo uma maior concorrência, aumentam as dificuldades para encontrar-lhe alternativas, a não ser usar o velho argumento dos benefícios sociais que a atividade gera, pressionando o governo a voltar a subsidiar especificamente a produção de açúcar ou de álcool.

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Suas reivindicações de cunho excessivamente protecio­nista não cabem mais num ambiente nacional de elevada competitividade e modernização da atuação do setor público. Principalmente, frente a um processo de globalização, que exige uma crescente abertura comercial e um novo padrão de atuação do Estado.

É sabido que, a partir de 1990, o governo vem intensificando a abertura comercial, acabando com os subsídios, reduzindo drast icamente a part ic ipação do Estado, descentralizando suas ações e adotando os critérios universais de desenvolvimento. Isso significa a criação de um ambiente lib­eral para as empresas e consumidores, onde o mercado e a competição são os grandes responsáveis pela orientação do comportamento das atividades agrícolas e não-agrícolas, bem como do desenvolvimento nacional.

Assim, a partir do governo Collor e, principalmente, do de Fernando Henrique Cardoso, o setor agrícola vem sendo liberado à competição e o Estado vem deixando de atuar de forma paternalista. Como a agroindústria do açúcar vinha adotando um sistema de produção em que os lucros e sobrevivência de suas atividades dependiam da ampla e irrestrita proteção do Estado sua crise vem se aprofundando e, aproximadamente há 15 anos, o setor vem debatendo-se com dificuldades, sem condições de se moldar ao novo ambiente econômico liberal e globalizado. Nos períodos de recuperação dos preços internacionais favoráveis ao açúcar, essa crise é temporariamente aliviada.

Carvalho (2000, p.27) afirma que "a falta de recursos do governo federal põe em cheque o modelo de sobrevivência da agroindústria açucareira, que tinha como principal pilar as subvenções, inviabilizando as políticas de transferência de recursos públicos para outras atividades agrícolas e não-agrícolas".

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FIGURA 2.2- Cana-de-açúcar plantada pela Usina Porto Rico em área plana do Agreste de Alagoas. A facilidade de financiamento permitiu essa expansão, 88.

FIGURA 2.3- Fazenda São Luiz, pertencente à Usina Ouricuri, no município de Atalaia, considerada pelo INCRA como terra improdutiva, pois, com o fim do Proálcool, entrou em crise financeira, deixou de produzir cana-de-açúcar e, em 1999, foi ocupada pelos trabalhadores rurais sem-terra.

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A importância desses subsídios para a sobrevivência da atividade açucareira pode ser medida pelo valor total transferido para a região Nordeste, entre os anos 1974 a 1985, da ordem de U$$ 2,2 bilhões de dólares, a título de recursos para equalização de custos.

O novo ambiente institucional, criado a partir da inserção do Brasil na economia globalizada, obriga a agroindústria açucareira a adotar novas medidas estratégicas, diferentes das que eram praticadas nos períodos colonial, republicano e militar.

O modo usineiro de produzir tem raízes que começaram a formar-se no século XVI e se aprofundaram nos períodos colonial, republicano e militar, baseado na mão-de-obra escrava, livre, abundante e barata, com estoque de terras que geravam os latifúndios, com uma única mercadoria, o açúcar, e com comércio e preços garantidos pelo governo, sem correr qualquer risco de prejuízo.

A passagem do engenho bangüê para a usina de açúcar preservou o modo de produção, as relações com a terra, relações de trabalho e relações de produção. Estimulou-se uma atitude conservadora, impedindo que se adotasse, no campo, estratégia empresarial baseada na inovação tecnológica e, portanto, dificultou que fossem incorporados novos métodos de produção e relações de trabalho. Por conseguinte, coibiu que se criassem as condições de melhoria da qualidade de vida da população e de emancipação do Estado dessa dependência da monocultura.

Como Estado de uma só cultura lat i fundiária , não diversificou suas atividades agrícolas, inibindo a diversificação das at ividades não-agrícolas nos meios rural e urbano e bloqueando a possibilidade de formação de um mercado interno, inclusive para absorver o próprio açúcar produzido na região.

O processo que Pedro Ramos (1999) chama de usineiro eliminou a alternativa promissora de gerar, no meio rural, uma classe média importante, além de expulsar um grande número de pessoas do campo, que passaram a viver no ambiente urbano e a contribuir para a degradação desse ambiente.

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Com essa visão, como demonstra Carvalho (2000, p.50), o usineiro tem dificuldades de conviver com a desregulamentação do setor, ocorrida a partir de 1990, ainda que mantidas antigas práticas, como a fixação de cotas, o planejamento de safra e a equalização de custos.

Nesse novo cenário econômico de liberação de preços do açúcar cristal, do álcool e da cana e de eliminação das reservas de mercado para o açúcar nordestino, colocando os principais centros produtores em competição aberta, os usineiros de Alagoas começaram a reduzir sua produção. Algumas usinas faliram, agravando a situação econômica, social e financeira do Estado.

Nesse período de 1990 a 1999, enquanto o Brasil aumentou sua produção e suas exportações de açúcar, Alagoas começou a perder espaço, principalmente para São Paulo, que não chega a ter produtividade competitiva na esfera internacional.

Para Carvalho (2000, p.40) , na safra de 1990/1991 , Alagoas produziu 648 mil toneladas de açúcar, caindo na safra de 1997/1998 para uma produção de apenas 1 mil toneladas. Isso demonstra claramente que, sem a âncora protetora do Estado e com preços internacionais baixos , a a t iv idade canavieira de Alagoas não está preparada para enfrentar a produção paulista e muito menos a de outros países que começaram a produzir açúcar de cana muito depois de a cultura ser instalada em Alagoas.

Portanto, com uma produtividade medíocre que, em alguns anos, como nos de 1997/1998, chega a 40 toneladas por hectare, a agroindústria do açúcar não consegue ter vida e musculatura própria para enfrentar seus concorrentes e contribuir efetivamente para o desenvolvimento estadual.

Como argumenta Carvalho (2000, p.45), com graves problemas de endividamentos e competitividade, com média de rendimento industrial muito menor do que a de São Paulo e com produtividade agrícola média significativamente mais baixa do

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que a registrada no Centro-Sul, a atividade açucareira alagoana passou a viver dias difíceis, com reflexos em todo o Estado.

A desativação de algumas usinas é o primeiro sinal das dificuldades dos novos tempos, mas o usineiro, mesmo sabendo que o processo de globalização e desregulamentação é irreversível, ainda insiste em permanecer atrelado ao modelo de produção tradicional, derivado do velho engenho bangüê.

Essa concepção resiste a qualquer processo de reestruturação, como a diversificação das atividades, na qual a indústria, separada do processo de produção agrícola, força a modernização das at ividades agr ícolas e a divisão das propriedades rurais, visando aumentar a eficiência da gerência, da produtividade, do emprego, da renda, bem como favorecendo a criação de uma classe média no campo e na cidade.

O modo como estão enfrentando a crise não pode ser chamado de reestruturação. Fazem-no, ainda, numa visão da década de trinta, quando o aumento da área cultivada seria a solução para transformar o engenho bangüê em usina, salvando os senhores de engenho da nova crise dos antigos paradigmas de produção.

A fusão de usinas, a concentração da produção via associação cooperativa ou o aumento da área cultivada, através da compra de usinas menores, não resolvem a questão de fundo da crise da agroindústr ia açucareira que é a de baixa produtividade agrícola e industrial, decorrente de práticas agrícolas e gerenciais atrasadas, bem como da ausência de variedades de cana mais adaptadas e produtivas.

A g lobal ização , que se assenta numa nova matr iz tecnológica, na desregulamentação dos mercados e na produção flexível, mudou completamente os paradigmas de gestão, produção e, sobretudo, de comerc ia l ização . A inovação tecnológica e a diversificação das atividades competitivas são as novas bases dessas mudanças. Muitos autores chegam a afirmar

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que estamos vivendo uma terceira revolução industrial e de cos­tumes. Significa dizer que saímos da fase de extração de riqueza para a de utilização de inovações capazes de produzir riqueza.

O método extrativista, baseado no grande latifúndio, utilizado em larga escala pelos usineiros de Alagoas, está ultrapassado desde a década de 50. Portanto, o desafio que se coloca para os usineiros e, por extensão, para a sociedade alagoana é o de encontrarem meios que lhes permitam a redução drástica de custos, através da geração, adaptação e adoção de novas tecnologias, capazes de modernizarem a produção, diversificarem os produtos e melhorarem a gestão. Esse é um esforço de reestruturação produtiva e gerencial que, para obter resultados satisfatórios, exige muitos investimentos em ciência e tecnologia, além de requerer um tempo mínimo à sua maturação.

Considerando que o governo criou, nos anos 60, 70 e 80, os vários programas de modernização da atividade canavieira, visando um aumento da produtividade para atender à demanda do mercado internacional, mas que os usineiros de Alagoas usaram os recursos para comprarem terras e, assim, aumentarem a produção com métodos ultrapassados, fica difícil acreditar que o setor privado da área açucareira use os próprios recursos para bancar pesquisa agrícola e industrial, viabilizando o aumento da produtividade e a diversificação das atividades, com todos os riscos que esse processo de criação, adaptação e adoção de tecnologia assume.

As práticas dos usineiros, longe de serem um verdadeiro processo de reestruturação, têm sido a via tradicional de usarem seu poder político local, regional e nacional para exigirem do governo proteção dos seus interesses. Para isso, têm colocado o problema estrutural da sobrevivência da atividade canavieira como uma questão eminentemente social e como principal contribuinte do Estado.

Essa justificativa, por mais absurda que possa parecer à visão técnico-científica baseada nos novos paradigmas é, em

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parte, verdadeira. A crise crescente da produção de açúcar tem reflexos absolutamente indesejáveis para o Estado e para o conjunto da sociedade.

Todavia, não podemos cair nesse ciclo vicioso de que o Estado tem dificuldade de se desenvolver porque vive da monocultura da cana-de-açúcar que, com suas práticas agrícolas atrasadas e forma de produção à base do latifúndio, bloqueia outras alternativas mais viáveis de uso dos recursos naturais e financeiros de modo mais desejável. Por seu turno, a crise estrutural desse modelo tradicional de produção pode ser mais danosa à sociedade alagoana do que a sobrevivência artificial dele.

2.2 - Os proprietários do poder Em Alagoas, as elites têm desempenhado um papel bastante

claro, quando da definição do caráter estadual como sendo uma projeção de sua imagem, conforme Silveira (1984, p.30).

Quanto ao conceito de elite, ele pressupõe poder, influência, responsabilidade pelos resultados de suas decisões e ações, sendo que é a classe que dispõe dos meios de acelerar ou retardar os processos de mudanças sociais (CASTRO, 1992, p.52).

Considerando que a prática das elites insere-se na determinação da consciência de sua classe social, temos que, em sendo dotada dessa consciência, ela desenvolve uma ação histórica importante, em termos de seus interesses (MOTTA, 1979, p.10). Quanto maior for sua autonomia em relação ao conjunto da sociedade, mais facilmente determinará sua ação, conduzindo os fatos políticos e econômicos no sentido de atender a seus interesses.

Desde que foi emancipada, Alagoas sempre representou o grande guarda-chuva protetor de suas elites. Assim, logo após sua emancipação, a elite agrária capturou o Estado num processo com a qual ele quase se confunde, manipulando-o largamente e sendo acobertada pelo manto da proteção estatal. Desse modo,

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os recursos federais e estaduais são apropriados e controlados por essa elite local, com o intuito de manter suas atividades econômicas e consolidar o seu poder político, pois objetiva a manutenção de um sistema arcaico de produção e dominação, assentado no coronelismo.

Logo, com a emancipação política do Estado de Alagoas, o poder agrário assume também o poder polít ico, pois o latifundiário, com o poder econômico, social e religioso que ostentava, determinou sua área de interesse e dominação, o que lhe permitia o privilégio de impor o modo de produção e de vida à sociedade de todo o Estado, inclusive indicando os candidatos a serem votados. Desse modo, nasce em Alagoas uma for te e l i te po l í t i ca , l igada b a s i c a m e n t e ao poder agropecuár io dos c o r o n é i s , ob je t ivando d e f e n d e r seus interesses imediatos.

O sistema imposto por essa minoria sobre uma maioria dominada elabora um conjunto de padrões soc ia is que corresponde aos seus ideais, interesses e aspirações, utilizando o aparelho do Estado para fazer a legitimação deles.

Como o modelo político presente em todo o Estado apoia-se na oligarquia ligada, basicamente, ao poder agrário, essa forte aliança tácita elimina toda e qualquer ação voltada para o aumento da produtividade, para a distribuição da renda, bem como da educação no campo e na cidade. Trata-se, na verdade, de uma elite cuja visão dominante é aquela presente no período colonial, que se encontra totalmente alheia às mudanças que estão ocorrendo no Brasil e no mundo, na produção e comercialização de bens e serviços, nas relações de trabalho, na distribuição de renda e no desenvolvimento humano.

Como se vê, da Colônia à República de hoje, a elite agrária constitui-se numa importante força dominadora, presa à sua reprodução econômica por mecanismos de controle exclusivo da terra, do anal fabet ismo e de incentivos es ta ta is , não

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desempenhando, propriamente, uma força social com um projeto de desenvolvimento para o Estado.

Esse poder agrário, que tem uma participação importante na definição das prioridades econômicas e sociais, na realidade nunca se preocupou em possuir sequer um projeto agroindustrial moderno e, portanto, não faz parte das suas preocupações produzir mais e melhor, por ser detentor dos instrumentos tradicionais de poder.

Assim, o processo de produção do espaço de Alagoas é feito em benefício de uma pequena fração da população, de uma oligarquia que estruturou o seu sistema de poder a partir do período colonial, revelando-se bastante hábil para permitir a possibi l idade de ascensão de pessoas ou grupos sociais enriquecidos para conviver com eles, desde que não ameacem a sua estrutura de poder.

Nas relações da classe proprietária com a não-proprietária dos meios de produção agrícola, está a base do poder político agrário que orienta a reprodução do espaço sob sua dominação, de acordo com a lógica dos interesses dessa elite dominante (CAVALCANTE, 1981, p.21).

Nesse sentido, o modelo agrícola adotado em quase todo o interior de Alagoas, herdado do período colonial, é, também, um modelo fechado, com pequena ou quase nenhuma capacidade de absorver tecnologia, o que, mesmo nas condições de existência de crédito abundante e subsidiado, não permitiu que a grande maioria dos agricultores deixasse a condição de subsistência e avançasse para uma agricultura moderna, agroindustiializada, capitalizada e competitiva.

Com esse consenso , o poder polít ico o l igárquico , espraiando-se por todo o Estado de Alagoas, constitui-se numa forte camisa-de-força que, historicamente, tem condenado a região a uma situação de relativo atraso econômico e social. Como se trata de um poder com raízes profundas no coronelismo, o modo

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de produção, as relações de trabalho e sociais não mudam e, por isso mesmo, têm hoje os mesmos grandes e graves problemas que existiam no século passado.

Essa ol igarquia polí t ica que, há séculos , v e m determinando os destinos de Alagoas, ainda hoje possui um poder político muito forte, mas, na verdade, esgotado nas suas possibilidades de propor soluções minimamente viáveis, frente aos novos paradigmas que norteiam a economia mundial e as sociedades modernas. Fechado em si mesmo e firmado em um consenso restrito a um pequeno segmento da população, pouco pode fazer para dotar Alagoas de um processo de modernização amplo e irrestr i to , que e l imine os principais pontos de estrangulamento, tais como: alta taxa de analfabetismo; elevada concentração da terra; baixa produtividade; mau gerenciamento das propriedades agrícolas e das empresas; aumento progressivo da concentração de renda; falta de oportunidade de emprego para os jovens e para os trabalhadores em geral; miséria e pobreza que afetam o grosso da população, alcançando principalmente as crianças e as mulheres.

Ao longo da história econômica e política de Alagoas, a preservação da estrutura agrária e de poder político mostra que sua elite soube tirar proveito das mudanças históricas, abrindo novos espaços políticos na dependência interna, de forma que as mudanças económicas centralizadas e promovidas no Nordeste pelos capitalistas do Sudeste, no período de 1960 a 1990, não lhe afetassem tal estrutura.

Esse poder político, que privilegia uns poucos e marginaliza mais da metade do grosso da população, no que diz respeito aos resultados da riqueza gerada no Estado, é essencialmente um poder arbitrário, porque gera todo tipo de violência e de discriminação no seio da sociedade. Desse modo, a estrutura so­cial, marcada historicamente pela elevada concentração de riqueza e de poder político, quase não se tem alterado, garantindo a

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predominância de suas elites de tal modo que todos os poderes constituídos estão subordinados aos antigos interesses, não cumprindo a função social que lhes cabe, diferentemente do que ocorre em outros Estados do País.

Ass im sendo, podemos dizer que a persistência das condições estruturais, apesar da modernização de alguns setores e da recente elevação da taxa de crescimento do seu produto, regis t rada nos úl t imos trinta e c inco anos, decorre da conservação da estrutura de poder da classe dominante. Este quadro de poder sustenta-se graças a uma clara aliança entre as elites estaduais e regionais, que acaba por definir a estrutura política e social que mantém o equilíbrio da região.

O Estado de Alagoas é, historicamente, visto como carente de recursos, o que implica na solução freqüentemente proposta da necessidade de apoio e recursos do governo federal. Essas reivindicações são dirigidas à União e têm como destino o fortalecimento dos órgãos de desenvolvimento regional que atuam no Estado, bem como das elites.

Essa elite política, que é formada predominantemente por empresários agrícolas e profissionais liberais (CASTRO, 1992, p.60), tem o controle, na esfera local, da burocracia municipal, estadual e federal e, desse modo, tem desempenhado um papel importante no processo histórico e na formação social de Alagoas, também se fazendo presente nos órgãos de ação regional, visando defender seus interesses.

Considerando que a visão do homem comum, na sua maioria analfabeto, é extremamente limitada e facilmente manipulada, as elites, ao definirem seus interesses, passam à sociedade a idéia de que os maiores beneficiários de suas reivindicações são as pessoas necessitadas e a sociedade como um todo.

Nesse sentido, as elites agrárias e quase todo o empresariado fazem valer o poder que possuem para serem os primeiros beneficiários das políticas dos governos federal, estaduais e

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municipais, porque fazem a população acreditar que sem eles estariam todos perdidos, sem emprego, sem renda, sem habitação e sem saúde, etc.

Por outro lado, os políticos de Alagoas atr ibuem as diferenças entre as regiões mais desenvolvidas economicamente e o Nordeste às relações desvantajosas que este mantém com aquelas e à maior atenção que o governo federal dispensa ao Sudeste, em detrimento do Nordeste. Para eles, as disparidades regionais são causadas pelas perdas impostas a esta região, em benefício daquelas outras.

Como o governo federal é, na verdade, a fonte de onde provêm as verbas, o canal uti l izado para conduzi r as reivindicações de recursos, de investimento ou de créditos especiais para as necessidades de Alagoas, colocado de uma perspectiva regional, teria muito mais impacto. Desse modo, a força da abrangência regional, nas solicitações diversas ao governo federal, é coerente com a forma de participação do segmento dominante no poder.

Assim, a burguesia agrária do Estado de Alagoas percebeu claramente, a partir dos anos cinqüenta, que a abordagem dos seus problemas, nesse molde, impunha-se como condição de contrapartida política, pois, como o apoio ao governo federal só tinha sentido em bloco, as reivindicações feitas pela região ganhavam mais visibilidade e responsabilidade por parte do governo federal do que as encaminhadas solitariamente.

É assim que os problemas do setor agrícola são colocados com freqüência, como questão das mais importantes no âmbito da União. À medida em que o tempo vai passando, a discussão deles vai perdendo a importância municipal e estadual, para ser tratada regionalmente. Nesse sentido, a problemática agrícola foge da esfera particular dos interesses localizados e dirige-se para a dos interesses de classe, pois diante do contexto das disparidades regionais, passou a ter cada vez mais importância no cenário

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político do País. A municipalização ou estadualização dos interesses econômicos significava um enfraquecimento das elites de cada Estado.

Cons iderando ainda que , a partir dos anos 60 , a modernização da agricultura brasileira não teve a mesma intensidade em todo o território nacional, o Nordeste que, tecnicamente, ficava cada vez mais defasado em relação ao Sudeste, estabeleceu progressivamente as suas reivindicações regionais, como veículo político mais adequado para conduzir as reclamações de uma classe produtora, emaranhada nos problemas de uma economia agrícola de produtividade muito baixa, pouco rentável e socialmente perversa.

Assim, a explicação para a pobreza, analfabetismo, baixa produtividade, seca e enchentes afasta-se das relações sociais da produção ou das condições climáticas e de educação, sendo o quadro composto por um forte argumento de que são problemas da região e, portanto, os apelos, solicitações e exigências de recursos devem ser ancorados por uma atuação política junto ao governo federal.

No Nordeste, as secas têm-se revelado como o melhor pano de fundo para o jogo de cena das articulações políticas das elites. Na verdade, desde o século passado, os representantes nordestinos aproveitam e usam as secas como meio de conseguir recursos e investimentos governamentais para a região Ferreira (1982, p.30). Essa é, porém, apenas uma face da indústria da seca. A outra, de dimensão local, é o desvio direto das verbas de socorro às vítimas da seca, que passam a ter as mais diferentes aplicações, segundo Ferreira (1982, p.30). O fenômeno da seca respaldou, historicamente, as relações políticas regionais, que definiram, internamente, na região, a direção dos favores e privilégios e, externamente, a inclinação dos acordos e adesões políticas no plano nacional.

Os períodos de seca são aqueles em que se fazem mais solicitações de recursos. Isto seria perfeitamente justificável se já

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não houvesse soluções técnicas para as questões climáticas da região; se os recursos fossem solicitados para resolvê-las de fato; se fossem efetivamente aplicados para solucionar os problemas dos grupos sociais mais atingidos pela falta d'água e de educação; e se a problemática estadual fosse realmente provocada pelas estiagens periódicas.

Segundo Iná de Castro (1992, p.80), em estudo que realizou sobre o Nordeste em 1992, desde 1946, o tema mais freqüente nos discursos dos pol í t icos foi a seca que, junto com o analfabetismo, faz parte das estratégias de reivindicação de recursos junto ao governo federal.

Para a União, no entanto, a variedade de órgãos, planos e programas e a propaganda de destinação de recursos aos flagelados da seca e ao combate ao analfabetismo servem para prestar contas à Nação e para demonstrar a preocupação com essa parte do território nacional, ao mesmo tempo em que assegura a essa esfera governamental o apoio político necessário.

Assim sendo, a elite de Alagoas e suas coalizões formam um quadro regional cuja composição pode variar do clientelismo à concentração de renda, passando pelo paternalismo e o analfabetismo, sem que qualquer tipo de dirigismo transformador tenha real possibilidade de se impor.

2.3 - Um padrão de crescimento excludente Sabemos que o desenvolvimento de uma economia nacional,

regional ou estadual deve ser compreendido como sendo um processo em que sua estrutura esteja sofrendo transformações importantes e, associado a isso, também se registre um incremento quantitativo do produto ou da renda per capita. Assim sendo, essa estrutura em transformação diferencia o desenvolvimento do crescimento econômico, que nada mais é do que o incremento Quantitativo do produto ou da renda, sem registro de mudanças

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estruturais na economia. Foi isso justamente o que ocorreu com a economia de Alagoas no período 1600 a 2000.

Portanto, pode-se afirmar que, apesar de o processo de destruição, criação e recriação ser próprio do desenvolvimento capitalista, a forma como ele se efetiva apresenta especificidades decorrentes de diferentes formações históricas, econômicas e políticas, e de graus de modernização. Desse modo, mesmo considerando que as formas de atividades pouco desenvolvidas resultam do movimento do capital e são explicadas por esse movimento, o desenvolvimento desses sistemas de produção dá-se diferenciadamente, de acordo com determinantes políticas e es t rutura is da economia local , pois um p a d r ã o de desenvolv imento const i tui -se numa opção es trutura l socioeconómica concreta. E, ao mesmo tempo em que possui determinantes gerais próprias do modo de produção capitalista, apresenta determinantes específicas, ditadas pela conformação política, histórica, estrutural, ou seja, do ponto de vista da organização e distribuição da produção, pode-se dizer que suas conformações atuais são resul tado dos p a d r õ e s de desenvolvimento do passado, definidos pelas elites (DEDECCA, 1990, p.40).

Possuindo um quadro econômico, político, social, religioso e cultural bastante limitado, Alagoas tem muita dificuldade de definir um padrão de desenvolvimento que resulte num processo de homogeneização da produção, do emprego e da renda. O padrão adotado em todo o Estado é o modelo agrícola herdado do coronelismo, assentado basicamente na monocultura de exportação. Nesse modelo, a produção é extensiva, a produtividade muito baixa, as relações de trabalho são praticamente feudais, e a participação do Estado é indispensável, sob as formas de apoio político e de todo tipo de estímulo agrícola e financeiro.

O Estado de Alagoas ainda é um espaço essencialmente agrícola, e a monocultura para exportação é a at ividade

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predominante no meio rural . As outras at ividades agropecuárias, quando não são praticadas para subsistência, têm presença muito limitada. A monocultura da cana-de-açúcar, pela sua própria natureza , exige terras fér te is e só é economicamente v iáve l , quando cult ivada em grandes extensões. Ela é responsável pela consolidação do padrão elevado de concentração da posse da terra, que por sua vez gerou, na sociedade alagoana, uma grande desigualdade social, um baixo nível de emprego e um excess ivo grau de analfabetismo.

Concentrada na Zona da Mata, na forma de grandes propriedades, emprega os trabalhadores de modo muito precário, pagando-lhes salário que não permite sequer adquirirem os gêneros básicos de subsistência, pois 61,5 % das pessoas ocupadas nessa atividade recebem renda de até um salário-mínimo. Por conseguinte, é uma atividade agrícola que, apesar de proporcionar uma contribuição significativa na composição do produto estadual, gera empregos de baixa qualidade e tem um efeito na renda muito baixo.

Essa sub-região, t radic ionalmente vol tada para a monocultura da cana-de-açúcar, atualmente enfrenta grave crise econômica e social, decorrente de fatores estruturais. Sua participação na produção brasileira caiu nas safras 1986/1987 e 1992/1993, enquanto que o Centro-Sul ampliou a sua participação de 68,72% para 78,69%, nesse mesmo período. A economia canavieira da Zona da Mata vem perdendo competitividade com relação ao Sudeste do País, principalmente nas safras 1993/96, o que vem provocando o desmantelamento parcial da economia dessa Zona, aumentando o desemprego estrutural e agravando os problemas sociais do Estado como um todo.

A agricultura, de modo geral, teve um fraco desempenho na manutenção e criação de emprego, no período 1960/1995. Enquanto a população total cresceu 1,1% ao ano, entre 1960/

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1970, o nível de emprego teve um incremento de apenas 0,6%. Em 1970/1980, esses números foram de 0,53 e 0,4% ao ano, respectivamente. Isso mostra claramente o fraco desempenho da agricultura de Alagoas, quanto à geração de emprego e renda.

Logo, esse modelo coronelista fechado, bastante concentrador de renda e poder, quando associado à monocultura, transforma-se, na verdade, no principal obstáculo ao processo de desenvolvimento endógeno, sustentado e justo. Por ser um modelo de consenso muito restrito e de um nível de poupança muito baixo, acaba por inibir o próprio desenvolvimento capitalista e concorre para aumentar a defasagem estadual em relação a outros Estados do Nordeste e do País, pois as oportunidades de emprego, de renda, de novos investimentos produtivos e de novos mercados são extremamente limitadas, visto que, de certa maneira, o empresariado estritamente local é constituído pelos usineiros que, quando diversificam seus investimentos, voltam-se mais para a especulação imobiliária e para o mercado financeiro de títulos públicos do governo federal.

Esses fatores característicos, que fazem de Alagoas um dos Estados mais atrasados do País, são elementos fortes na sua própria formação econômica e política e, por isso mesmo, muito dificilmente poderão ser removidos. Os próprios políticos e empresários gestados nessa estrutura não têm interesse em alterá-la. Por outro lado, a população analfabeta, resignada, subserviente e pobre não possui consciência crítica e condições de estimular a criação de movimentos sociais capazes de romper com essa estrutura arcaica e perversa. Portanto, essa situação cria uma miopia generalizada que não permite à sociedade em geral enxergar saídas factíveis. Assim, a possibilidade de Alagoas vir a possuir um projeto de desenvolvimento que seja novo é, praticamente, rrunima.

Nessas condições, a sociedade alagoana, em plena era da nova revolução tecnológica, que está colocando ao alcance da soc iedade a informática , a telemática e os a v a n ç o s da

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biotecnologia, dos novos materiais e de novos paradigmas de desenvolvimento, parece estar condenada a viver sob o comando de uma estrutura política, administrativa, produtiva e social que remonta à época colonial. Não há saídas à vista, a não ser que choques externos venham provocar transformações estruturais, capazes de salvar Alagoas dessa armadilha que, há séculos, vem reproduzindo o analfabetismo, a pobreza, a ignorância, as desigualdades produtivas e sociais persistentemente.

É possível que os novos paradigmas de desenvolvimento, ao exigirem a reforma do Estado, a abertura democrática, a formação de grandes blocos econômicos, a globalização dos mercados, a revolução tecnológica, a abertura dos mercados à concorrência; ao promoverem a competitividade em todo o sistema; ao reduzirem a importância das elites e do poder político local; ao imporem novos processos de produção e a reestruturação da administração dos setores público e privado, possam representar um choque externo que venha contribuir eficazmente, tanto para modificar a base produtiva de Alagoas e eliminar o modo coronelista de educar, de produzir, de administrar, de distribuir e de empregar os fatores produtivos, como para afastar, do novo cenário, os políticos ligados às velhas oligarquias.

Nessa perspectiva, as transformações estruturais de natureza econômica, política e social, que estão ocorrendo no mundo moderno, quando associadas ao processo de modernização e reestruturação produtiva e social que toma força na economia brasileira, poderão configurar-se num grande choque externo, de natureza e intensidade capazes de exigirem da sociedade alagoana uma nova visão dos problemas locais e, por conseguinte, uma nova base produtiva e distributiva.

A história recente tem demonstrado que as taxas elevadas de crescimento do produto estadual devem-se a choques de natureza externa, pois o perdão fiscal, os subsídios e as facilidades, que o governo federal ofereceu no período 1 9 6 0 / 1 9 9 0 ,

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contribuíram de modo decisivo para efetuar uma relativa transformação na economia urbana. Todavia, parte significativa dos recursos e os elementos necessários para gerarem esse elevado crescimento vieram de fora e, nesse sentido, as poucas indústrias modernas, ao chegarem ao Estado, não conseguem integrar-se aos outros setores da economia, gerando poucos empregos e, ao mesmo tempo, aprofundando os problemas de natureza estrutural responsáveis pelo atraso social crônico.

Nesse sentido, os recursos altamente subsidiados, que assumem a liderança do mais vigoroso processo de crescimento já registrado na história econômica recente de Alagoas, não tinham como objetivo alterar a sua estrutura produtiva, social e política. Ao contrário, vieram fortalecer as oligarquias políticas, o coronelismo e o setor agrícola baseado na monocultura. Nessa perspectiva, recebem incentivos aquelas atividades quase exclusivamente voltadas para promover o crescimento econômico, mas com ação muito limitada no campo social, em relação à transformação da estrutura produtiva e, sobretudo, no cenário político.

A partir da década de oitenta, com a crise da dívida externa, o aumento da dívida interna e o início daquilo que viria a ser um longo processo de inflação com estagnação econômica, o Brasil entra em déficit fiscal agudo, o Estado brasileiro começa a dar sinais de esgotamento e, já em 1990, encontra-se completamente falido. Alagoas (que durante o período de 1960/1986 registrou taxas de crescimento do Produto Interno Bruto que se assemelhavam às alcançadas pelo País), quando o Brasil e o re­gime militar entram em dificuldades, tem o seu padrão de crescimento profundamente afetado por um franco processo de recessão e, em 1995, com a abertura comercial e a reestruturação produtiva do setor privado e do aparelho do Estado, esse padrão entra em colapso e reaparece a velha Alagoas praticamente com os mesmos problemas que possuía na década de cinqüenta.

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Portanto, fica claro que qualquer modelo de desenvolvimento, que não altere de modo significativo a estrutura produtiva e, conseqüentemente, o seu quadro político e social, está fadado ao fracasso, visto que, em Alagoas, há uma ou duas famílias tradicionais que se revezam no poder e, há séculos, inibem o desenvolvimento das forças produtivas, preservando um modo de produção e dominação coronelista que favorece as elites e penaliza severamente a sociedade como um todo.

2.4- O aumento da riqueza Alagoas é um dos poucos Estados do Nordeste que

apresentam um grande potencial de recursos naturais e humanos capaz de fazer de sua população uma das mais desenvolvidas do País: possui um litoral extenso e dos mais admiráveis do mundo; o subsolo é um dos mais ricos em petróleo, gás natural e outros; a Zona da Mata é uma das mais férteis do Nordeste; o Agreste é todo ele agricultável, com terras planas e férteis. Comparado com outros Estados, a área semi-árida é relativamente pequena.

Em Alagoas, a natureza é pródiga, não se registram terremotos, maremotos, tornados, vulcões ou qualquer anomalia natural que afete o seu potencial de desenvolvimento. Praticamente só se conta com fatores naturais favoráveis.

Em relação aos recursos humanos, existe um potencial importante. Desse Estado saem, todos os anos, milhares de pessoas que, tangidas pela alta concentração da propriedade da terra, pela elevada concentração de renda e pela ausência de ocupação, vão gerar riquezas em outros Estados brasileiros. O número de alagoanos residentes em São Paulo e Rio de Janeiro é quase igual ao dos que permanecem em Maceió.

Os gráficos 2.1 e 2.2 mostram que, nos últimos 50 anos, a economia alagoana tem experimentado um crescimento econômico vigoroso. Segundo estudos realizados pelo professor

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da FEA /USP Alvaro Zini, de 1939 a 1994, a renda per capita cresceu 6,2 vezes, um aumento maior do que o registrado em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que elevaram suas rendas em 4,5, 3,3 e 5,1 vezes, respectivamente. No Nordeste, superou Pernambuco com 4,1, Piauí, 3,4 e Maranhão, 4.5 vezes.

GRÁFICO 2.1 - Taxa anual de crescimento do PIB de Alagoas, 1970/2000.

1996/2000 I _J 1.6

T A X A D E C R E S C I M E N T O A N U A L

I B T A X A D E C R E S C I M E N T O I

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GRÁFICO 2.2 - Crescimento da renda PER CAPITA no Brasil, 1939 a 1994.

BRENDA PER CAPITA QFONTE: ÁLVARO A. ZINI JR.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas

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Em termos de aumento da renda per capita, Alagoas é um dos Estados mais bem-posicionados no Brasil. Por conseguinte, quando comparado com o Brasil e, muito particularmente, com o Nordeste, o Estado experimentou um crescimento econômico bastante significativo.

Analisando o período mais recente e de maior crescimento da economia brasileira, que vai de 1970 a 1990, a renda per capita de Alagoas também elevou-se de modo importante: cresceu 2,7 vezes, chegando a quase triplicar em vinte anos. É um dos maiores crescimentos registrados na esfera regional, pois a Paraíba aumentou 2,4, Pernambuco, 2,5, o Nordeste, 2,1 e o próprio Brasil teve, nesse período, um crescimento de sua renda per capita de 2,1 vezes.

Em relação ao Nordeste, a renda per capita está entre as melhores: 1.300 dólares; Sergipe, a melhor, representa 2.200 dólares, e o Piauí, a pior, é de apenas 700 dólares, quase a metade da renda de Alagoas.

Portanto, nos últimos 50 anos e, muito particularmente, no período que vai de 1970 a 1990, Alagoas registrou um crescimento econômico (medido pelo aumento de sua renda per capita) bastante acelerado. Foi um dos poucos Estados do Brasil que mais enriqueceram no período, chegando a multiplicar sua renda por habitante em 6,2 vezes.

Isso não só vem confirmar as potencialidades que apresenta, mas, sobretudo, mostra que, se esse crescimento tivesse sido resultado de um projeto de desenvolvimento que promovesse a distribuição de renda, emprego, distribuição da terra e educação, o Estado, com certeza, teria alterado substancialmente o seu quadro social, e, por conseguinte, adotado uma estratégia de desenvolvimento autônomo, ou seja, menos dependente dos recursos federais. Na verdade, todo esse crescimento foi gerado, principalmente, pela cana-de-açúcar, fumo e pecuária, algumas indústrias instaladas e pelo vigor da atividade comercial que, num

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momento econômico extremamente favorável , operavam altamente subsidiados por uma massa de recursos federais, estaduais e municipais.

Como observamos, do ponto de vista puramente econômico, Alagoas apresenta uma situação bastante favorável. Todavia, os indicadores sociais demonstram que as condições econômicas favoráveis não produziram qualquer melhoria da qualidade de vida ou dos serviços prestados à maioria da população. Ao contrário, mesmo no período de maior crescimento da economia brasileira e, portanto, da renda per capita, a situação social e os serviços oferecidos são considerados muito precários.

2.5 - O modo latifundiário de produção O modelo agrícola adotado em quase todo o interior de

Alagoas é herdado do período colonial e, na verdade, vem sofrendo apenas pequenas transformações. Não é muito raro encontrarmos agricultores que fazem suas práticas agrícolas orientados pelas fases da lua, e outros que procuram combater as doenças dos animais utilizando práticas de curandeirismo.

Essas práticas agrícolas feudais, que perduram até os dias atuais, são utilizadas, principalmente, pelos agricultores de subsistência que, quase sempre, são analfabetos e têm dificuldades em assimilar outros métodos, que não sejam aqueles passados de pais para filhos.

Por outro lado, a agricultura de exportação, que recebeu grande montante de recursos para suas transformações nas décadas de 40, 50 e 60, praticamente ficou estagnada em termos de aumento de produtividade. Atualmente, Alagoas perdeu importância no conjunto das exportações de açúcar e na competitividade.

Esse baixo nível tecnológico presente na agricultura alagoana compromete até a subsistência da maioria da população rural.

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Mesmo para manter essa subsistência mínima necessária, sua produção ainda é insuficiente, uma vez que se importa grande parte dos produtos de origem agrícola e animal consumidos no Estado.

Infere-se, portanto, que as precárias condições de vida detectadas no campo resultam da estagnação da agricultura de exportação, do. baixo nível tecnológico na agricultura de subsistência, da elevada concentração da propriedade da terra, do grande número de trabalhadores i n f o r m a i s , da descapitalização dos agricultores e da perda de competitividade das pequenas, médias e grandes propriedades.

Na verdade, mesmo nas décadas de 60 e 70, quando o crédito agrícola para custeio e investimento era abundante e barato, a produção e a produtividade agrícolas eram muito baixas. Além disso, nessa época, não houve, como foi a tendência mais geral da agricultura brasileira, um avanço da tecnologia e do capital no meio rural, o que não permitiu uma dinamização de suas atividades agropecuárias e a capitalização dos pequenos e médios produtores.

Na realidade, esse modelo agrícola é fechado e com pequena, ou quase nenhuma, capacidade de absorver tecnologia, motivos pelos quais, mesmo vivenciado num período de existência de crédito abundante, não permitiu que a grande maioria dos agricultores deixasse a condição de subsistência e avançasse para uma agricultura moderna, capitalizada e competitiva.

Assim sendo, para os pequenos e médios produtores, a sobrevivência era garantida não pelo aumento da produtividade, mas tão somente pela abundância de crédito fácil e subsidiado. Quanto aos grandes proprietár ios , a garant ia de sua rentabilidade teve a mesma origem.

Portanto, nas décadas de 70 e 80, a sobrevivência e a lucratividade da agricultura de Alagoas eram asseguradas, basicamente, pelo grande montante de recursos subsidiados, pois, nas expectativas dos agricultores, esse subsídio seria uma ajuda permanente à agricultura, e não haveria razão para preocupação

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com a modernização de suas atividades, já que os subsídios eram mais do que suficientes para garantirem a alta lucratividade da grande propriedade e elevarem as condições de subsistência dos pequenos produtores.

Todavia, a partir de 1980 e até os dias atuais, com a crise fiscal do Estado brasileiro, inicia-se um forte e prolongado período de cortes de créditos subsidiados a agricultura. Já em 1990, o setor agrícola de Alagoas, não suportando a crise, entra em estado de falência, e as atividades de subsistência (mandioca, milho, feijão, etc) apresentam uma produção que não chega a atender às necessidades de sobrevivência do próprio agricultor, portanto a miséria se propaga por todas as microrregiões do Estado, alcançando microrregiões ricas, como a de Arapiraca.

Mesmo as culturas consideradas rentáveis, como a cana-de-açúcar, o coco, o algodão e o fumo, diminuíram sua produção e produtividade, transformando-se quase em culturas de subsistência, pois o valor da produção, em muitos casos, não chega a cobrir os custos.

Essa crise, que já dura aproximadamente 23 anos, tem provocado uma grande descapitalização dos produtores , aumentado muito o número de desempregados, baixado o nível de renda e levado as microrregiões a sofrerem um rápido processo de estagnação e pauperização. Microrregião próspera como a de São Miguel dos Campos, por exemplo, transformou-se em um grande bolsão de miséria.

Nessas condições, o problema social, no meio rural, só será equacionado quando for realizada uma transformação estrutural da base produtiva, que reoriente a agricultura na direção de uma reestruturação fundiária, voltada prioritariamente para as formas associativas e comunitárias de organização; uma redução da vulnerabilidade climática, através de programas de irrigação; uma consolidação de pólos agroindustriais; uma diversificação e ruodernização da produção agropecuária de pequenos, médios

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grandes produtores; um revigoramento da pequena produção e da pecuária de pequeno porte em áreas típicas do semi-árido; e u m a promoção de novos empreendimentos no setor agroindustrial, como alternativa à crise estrutural em que se encontra a Zona da Mata canavieira. Mas tudo isso só será possível através de uma política arrojada de educação inclusiva.

A Universidade Federal de Alagoas, fundada pela elite, que apoiou, sem restrição, o regime militar, não tinha qualquer compromisso social e não participava das soluções para erradicar o analfabetismo e promover a inclusão social, apenas servindo, por muito tempo, como cabide de emprego para os filhos e parentes das elites. Isto marcava profundamente a ausência de um ambiente científico que produzisse ciência e tecnologia para o desenvolvimento do Estado.

Assim, qualquer política que vise efetivamente melhorar o quadro produtivo no meio rural não pode ignorar a influência decis iva que têm a c iência e a tecnologia , b e m c o m o a produtividade do setor agrícola e o crescimento relativo dos preços dos alimentos que formam a dieta básica da nossa população. Nessa perspectiva, a produção e aumento da produtividade dos alimentos é um elemento importante na elevação da renda real do homem do campo e da cidade.

As políticas de ciência e tecnologia agrícola, agrária, educacional e agroindustrial que visam à criação de bases estáveis para a diversificação e modernização produtiva, geração de emprego, melhoria na distribuição de renda, além de estimularem a produção de alimentos, ampliarem os mercados e promoverem a desconcentração da propriedade da terra, transformarão a agricultura num setor competitivo, de grande ocupação de mão-de-obra, interrompendo o ciclo de atraso e de elevado grau de marginalização social que se observa em todo interior de Alagoas.

A política agrária deve, assim, fomentar a propriedade famili­ar, adotando medidas que contenham o avanço das grandes

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propriedades agrícolas, sob pena de limitar os objetivos dessa proposta de maior geração de emprego e distribuição de renda no campo.

A política agrícola deve definir ações como crédito, modern ização tecno lóg ica , c o m e r c i a l i z a ç ã o , i r r igação , desenvolvimento de comunidades, assistência técnica e preços mínimos.

A política de apoio à capacitação e à agroindústria deve considerar que, atualmente, os pequenos e médios agricultores quase não participam das atividades de beneficiamento e industrialização de seus produtos. Normalmente, essas atividades estão localizadas nos centros urbanos, controladas por outros setores da economia, que já desfrutam de renda bastante elevada. É preciso, pois, reverter essa tendência, de modo que parte do valor agregado dessas atividades fique retida no campo, e que o lucro auferido beneficie os produtores.

Nessa perspectiva, a decisão de apoiar os pequenos produtores e torná-los competitivos reside na convicção de que o problema do desemprego urbano e rural será reduzido, se essa política conseguir criar um ambiente favorável para o aumento da produção e produtividade e, por conseguinte, gerar condições de mantê-los no campo. Atendidas essas necessidades, eles terão um padrão de vida seguramente melhor do que o que enfrentam quando se sentem obrigados a emigrar, tangidos pela baixa produtividade e pela desocupação. Portanto, é no campo que se encontra grande parte das soluções dos problemas de ocupação e renda em Alagoas.

Uma das contradições que se observam na Zona da Mata é a existência de um grande potencial de seus recursos naturais e a situação subhumana em que vive a grande maioria de sua população. É evidente que esse quadro, que persiste há séculos e que vem agravando-se nos últimos 20 anos, está a exigir uma ação eficaz e urgente por parte do governo.

Como a atividade da agroindústria canavieira ainda é um eixo niais importante da economia alagoana, deve-se procurar viabilizar

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projetos de pesquisa científica e tecnológica, de gestão empresarial e de modernização das relações de trabalho. Paralelamente a isso, na Zona da Mata, deve-se estimular uma diversificação produtiva, incentivar o associativismo, fornecer linhas de crédito a pequenos produtores rurais, fortalecer a agricultura de base familiar, promover a sua integração à economia de mercado, bem como aprimorar a capacitação gerencial e tecnológica dos pequenos e médios produtores, qualificar a mão-de-obra, além de incentivar os agricultores a fornecerem aos mercados produtos de qualidade, de alto valor agregado e competitivo.

Em suma, numa economia aberta e altamente concorrencial como a atual, aqueles agricultores e/ou empresas agrícolas que não se reestruturarem terão muita dificuldade de se inserir nesse novo e exigente processo de modernização da agricultura brasileira, onde os valores agregados dos produtos são, sobretudo, valores intangíveis.

Alagoas terá que erguerá sua agricultura dentro não só de uma nova realidade de dotação de recursos, mercados abertos, nível tecnológico avançado, como de um novo padrão de atuação do Estado. Isso exigirá o abandono do assistencialismo, de paternalismo e da ineficiência, direcionando-se para um Estado mediador e estimulador da criação de associações de pequenos, médios e grandes produtores, capazes de promoverem a inovação tecnológica, a educação voltada para as atividades praticadas na propriedade agrícola, a assistência técnica e a oferta de crédito, no sentido de aumentar a produtividade agrícola e capitalizar os agricultores, tornando-os independentes do Estado e competitivos.

Adicionalmente, deve ser feita uma reforma institucional em todos os órgãos de apoio ao desenvolvimento agrícola. Assim, entre outras coisas, deve-se procurar reformar e fortalecer as instituições, protegendo-as não somente das pressões políticas fisiológicas, clientelistas, que quase sempre conseguem desvirtuar o papel desses órgãos junto aos agricultores, como também do corporativismo que acaba por prejudicar a agricultura de base familiar.

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Capítulo III3

A ilusão da inclusão O Estado de Alagoas está localizado na Região

Nordeste do Brasil, ocupando uma superfície de 27.933 km, que representa 0,32% do território brasileiro. Segundo dados do Censo 2001 do IBGE, possui uma população de 2.819.172 pessoas, das quais 1.917.922 residem no meio urbano, e 901.250, no rural.

Historicamente, a economia alagoana está centrada na agropecuária. A partir da década de 60, com os vários programas de incentivos, a cana-de-açúcar e a lavoura canavieira vêm destacando-se no cenário nacional, e a pecuária leiteira, com incentivos mais predominantemente estaduais, sobressai-se no Nordeste como a maior produtora de leite.

De acordo com o Censo Agropecuário de 1995/96, a estrutura da distribuição da posse da terra mostra-se fortemente concentrada. Em 1995, mais de 96% dos estabelecimentos agropecuários tinham menos de 100 ha e controlavam pouco mais de 35% da área total. No outro extremo, os estabelecimentos com mais de 1.000 ha, que representavam apenas 0,2% do total, controlavam mais de 19% da área total.

O setor industrial é pouco representativo e basicamente constituído por usinas de açúcar. A indústria açucareira existe desde o início do século XX. Em 1907, já estavam instaladas no território alagoano 6 plantas industriais, 15, em 1920, e 27, em 1932.

1 Parte desse capítulo foi elaborado com dados a ... com SEADE/DIESE.

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As fábricas de beneficiamento de algodão, sisal e tecidos apresentaram desenvolvimento relativamente pequeno. A indústria têxtil também se destacou, mas sua importância econômica esgotou-se com a perda da competitividade nos anos cinqüenta.

Tendo sua base produtiva assentada nos recursos naturais e humanos locais, o setor produtivo, muito particularmente os pequenos produtores, até os anos 80, viviam na fase extiativista, quando a educação não era, como é atualmente, um grande instrumento de agregação de valor aos produtos, de diferenciação da produção e de criação de novas atividades produtivas.

Os pequenos produtores - com até dois empregados -somavam 13 mil famílias, e os trabalhadores por conta própria correspondiam a 375 mil, perfazendo um total de 388 mil famílias que necessitavam de apoio de políticas públicas e de parcerias voltadas para despertar a visão empreendedora.

O padrão de desenvolvimento adotado tem privilegiado as atividades agrícolas e não-agrícolas de caráter patronal, as grandes unidades produtivas e de prestadores de serviços, em detrimento dos pequenos empreendedores familiares.

Assim, enquanto temos 514 mil pessoas ocupadas em grandes unidades locais, como trabalhadores assalariados, os empreendedores familiares alcançam apenas 388 mil. Todavia, a renda média da maioria dos empregados e dos empreendedores com até dois empregados não ultrapassava dois salários mínimos, enquanto a dos empreendedores com mais de 2 empregados, chegava a 13,1 salários.

Nessa perspectiva, as políticas públicas adotadas até 1909 estavam voltadas, quase exclusivamente, às atividades de natureza patronal, inibindo a diversificação da base produtiva e as variadas formas de empreendimentos familiares que, alocados em diversas camadas do processo produtivo, distributivo e de comercialização, gerariam mais ocupações e renda, resultando numa sociedade socialmente mais homogênea.

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As atividades sucroalcooleiras são hegemônicas em Alagoas, sendo que juntas contribuem com 40% do PIB estadual. É perfeitamente possível que os pequenos produtores, que possuem capital social, financeiro e humano acumulados, possam integrar-se a essas atividades de forma produtiva e sustentável, proporcionando maior diversificação das atividades agrícolas e não-agrícolas no campo e nas cidades.

3.1 - Características locais De acordo com o IBGE 2000, o Estado de Alagoas possuía

2.819.172 pessoas distribuídas em 102 municípios. Em 1999, os homens somavam 1.131.585, e as mulheres, 1.407.488. No meio rural, ainda residia mais de um terço da população.

A população economicamente ativa (PEA) era de pouco mais de 1.079 mil pessoas, e a ocupada, de 920 mil, alocando-se 585 mil na cidade e 335 mil no campo. A participação das mulheres, na população economicamente ativa (PEA), vem aumentando. Em 1999, representava 40,4% e os homens, 59,6%.

Alagoas linha a taxa de atividade por situação de domicílio mais baixa do Nordeste, 54,9%, significando que pouco mais da metade da população em idade ativa (PIA) consegue ocupação ou inserção no mercado de trabalho. O gráfico 3.1 e a tabela 3.1 vêm comprovar essa posição desfavorável.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 105

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Tabela 3.1 - Taxa de Atividade, por Grupos de Idade, segundo as Grandes Regiões.Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas - 2001 .

Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas.

Taxa de atividade (%) Grandes Regiões, Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas. Total

Brasil (1) 60,5 Nordeste 59,0

Maranhão 62,8 Piauí 59,8 Ceará 60,3 Rio Grande do Norte 54,5 Paraíba 52,8 Pernambuco 58,0 Alagoas 57,8 Sergipe 58,5 Bahia 59,9 NOTA: Compreendem as pessoas de 10 anos e mais de idade.

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GRÁFICO 3.1 - Taxa de Atividade da População de 10 anos ou mais Idade por Domicílio e por Estados em 2001.

a.

>

MA

BR

CE

BA

NE

SE

PE

AL

RN

62,8

• 60,5

§60,3

]59,9

¡58,5

J58

157,8

Taxa de Atividade em Percentagem

E3 FONTE: PNAD 2 0 0 1

FONTE: Pesquisa nacional por amostra de domicîlios 2001: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. I CD-ROM.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 107

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A regionalização de Alagoas baseia-se na metodologia sistematicamente adotada pelo IBGE, que consiste na divisão do Estado nas mesorregiões: Leste (Litoral e Zona da Mata), Agreste e Sertão.

A mesorregião menos populosa é o Sertão, com 14,5% do total de residentes; em seguida, está o Agreste com 20,8%, e a Leste (Litoral e Mata), mais populosa, representa 64,7% da população total. Nesta mesorregião está a cidade de Maceió co 796.842 habitantes, em 2001.

O segundo município mais populoso é Arapiraca, com 186.350 residentes, o único na faixa entre 100 a 500 mil habitantes, situado na mesorregião do Agreste. Arapiraca é um importante pólo regional, localizado numa mancha territorial ocupada pela cultura do fumo. Atualmente, tenta diversificar suas atividade 0

agrícolas e não-agrícolas.

Palmeira dos índios, com 68.002; Rio Largo, com 62.408, União dos Palmares, com 58.608 e Penedo, com 56.970, estavam na faixa entre 50 a 100 mil. O primeiro está localizado na mesorregião do Agreste, e os outros três, no Leste alagoano.

A população de Alagoas cresceu à taxa de 2,18% ao ano, no período de 1980 e de 1 %, de 1992 a 1999, enquanto o Brasil cresceu 1,93 e 1,3% ao ano nos dois períodos. A mesorregião que obteve as maiores taxas de crescimento foi a Leste, com taxas acima das médias estaduais. No ano de 1999, Alagoas possuía um grau de urbanização superior a 60%, e a taxa de urbanização era maior na mesorregião Leste e menor no Sertão.

Por falta de oportunidade de ocupação, o Estado tem se caracterizado como área de evasão populacional para outras localidades da região ou nacionais. Mesmo na década de 70, quando mais cresceu o seu produto interno produto (PIB), elevando-se a taxas superiores às do Nordeste e às do Brasil, a evasão populacional foi superior à do Nordeste. Com sua população rural e urbana dependentes do desempenho do setor

108 Fernando José de Lira

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sucroalcooleiro, a modernização agrícola, industrial e do setor serviço, observada nos anos 70, 80 e 90, forçou a emigração.

3.1.1 - Leste A mesorregião Leste abriga a produção canavieira do

Estado. Sua área é constituída por grandes propriedades - acima de 100 ha, e a cana-de-açúcar ocupa mais de 90% das terras cultiváveis e mais férteis. Existem, todavia, pequenas diferenças na própria Zona da Mata, quanto ao potencial para a produção de cana.

Na área norte, a topografia é ruim, porém a precipitação e a fertilidade dos solos são muito boas; já na área central, a topografia, a fertilidade e a precipitação pluviométrica são boas, enquanto ao sul a topografia é adequada, a fertilidade, baixa, e a precipitação, a mais irregular.

Com o processo de concentração e reestruturação das atividades sucroalcooleiras, houve uma redução no número de usinas e destilarias, gerando, nessa mesorregião, um excesso de mão-de-obra que permite melhor seleção dos trabalhadores com idade entre 25 a 30 anos, os quais cortam em torno de 8 a 10 toneladas de cana/dia.

Em decorrência dessa diferenciação e da reestruturação produtiva da atividade canavieira, principalmente com a introdução da colheita mecanizada, a área norte da Zona da Mata vem abandonando a produção de cana e tornando-se um importante pólo estadual produtor de leite, criação de caprinos e ovinos. Além disso, dentro das áreas produtoras de cana, tem aumentado a profissionalização da produção, o que gera novas oportunidades para diversificação das atividades, nas terras mais inapropriadas ao cultivo dessa cultura.

Por outro lado, nessa área, a água, que está tornando-se uma questão crucial à sobrevivência da atividade canavieira e é

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 109

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usada para irrigação complementar de outubro a fevereiro, pode perrrütir a liberação de terra para outras atividades agrícolas.

Considerando que Alagoas é um grande importador de alimentos, a agricultura de base familiar pode estar presente nessa mesorregião, produzindo alimentos, matéria-prima e ocupando mão-de-obra.

3.1.2 - Agreste No Agreste, estão concentradas as pequenas propriedades

de tipo familiar e com qualidade de vida da população ocupada superior à da população do Sertão, em face da melhor precipitação e da qualidade dos solos, que permitem uma produção mais diversificada na área central.

Na microrregião de Arapiraca existe u m a grande quantidade de pequenos produtores de fumo, voltados à produção de fumo em corda e ao fabrico do charuto. Em sua maioria, esses produtores, em torno de 75% do total, possuíam, em 1995/96, uma área inferior a 5 hectares, enquanto o módulo rural mede entre 15 e 35 hectares. Pesquisa realizada em 1999, pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), indica que os produtores com propriedades abaixo de 5 ha passam por grandes dificuldades de sobrevivência.

A região produtora de fumo compreende 13 municípios, com destaque para nove deles. A atividade fumageira detém o segundo lugar na ocupação de mão-de-obra. Todavia, essa atividade está em crise, devido à cotação dos preços de exportação e à redução da demanda interna. Para parte dos pequenos produtores, principalmente para aqueles que produzem folha para capa de charuto, o valor recebido não cobre os custos de produção, que aumentaram muito com a desvalorização da moeda brasileira, no final de 1998.

No ano de 1998, a fumicultura empregava por volta de 35 mil trabalhadores assalariados. Em 2000, o emprego cai para 21

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mil. Essa cr ise , associada à reestruturação da atividade fumageira, tem e levado o número de t rabalhadores e microprodutores que, não encontrando ocupação, emigram no período de colheita da cana, para os Estados de São Paulo, Minas, Goiás e Espírito Santo.

3.1.3 - Sertão A mesorregião sertaneja tem pouca importância econômica,

mas abriga a principal bacia leiteira do Estado, envolvendo um contingente de 2.500 proprietários. Irradiando-se a partir do município de Batalha, essa atividade também está em crise e vem sendo substituída pela criação de pequenos animais que, segundo a Fundação SEADE, é economicamente mais vantajosa do que a atividade de gado leiteiro. Na mesorregião, existem várias pequenas indústrias e quatro de grande porte, comprando a produção leiteira: a Parmalat, a Vale Dourado, a Batalha e a São Domingos.

As áreas úmidas da microrregião de Maceió, São Miguel dos Campos, Mata Alagoana e Litoral Norte geravam 80% do PIB do Estado, mas é justamente nessas áreas, exclusive Maceió, que se concentra a atividade sucroalcooleira do Estado. Nessa mesorregião Leste, existe, também, o maior percentual de pessoas formalmente empregadas por setor, atingindo mais de 80% dos empregados com carteira de trabalho assinada e contribuição para previdência social. As outras mesorregiões apresentam baixa proporção de empregos formais, exceto na atividade de serviços industriais e de utilidade pública, no Sertão, com 44,4%. Ver tabela 3.2.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 111

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TABELA 3.2 - ALAGOAS: Distribuição do Emprego Formal e de Unidades Locais por Setor de Atividade, Segundo Mesorregiões do Estado de Alagoas 1997.

EM PERCENTAGEM

Mesorregião FAlração Mineral

Indústria de Transformação

Serviços Utilidade Pública

Ind. de Construção CM

Comércio Serviço Administração Pública

Agropecuária Outros Ignorados

PO PO PO PO PO PO PO PO PO

Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Siii.ii) Alagoano 11,6 1,2 44,4 2,1 3,7 1,2 9,5 0,2 1>3

Agreste Alagoano 7,4 3,2 0.0 2,6 17,8 22,9 13,8 5,7 42,8

Leste Alagoano 81,0 95,6 95,6 95,3 78,5 75,9 76,7 94,1 55,9

FONTE: RAIS 1997,

PO-S igni f ica: População Ocupada.

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A grande participação dos empregos formais nessa área deve-se ao fato de aquela mesorregião ter concentradas quase todas as atividades de administração do setor sucroalcooleiro, das indústrias de bens intermediários e de capital, bem como grande fração dos serviços sociais e administrativos do setor público e de estatais. Nas demais, até mesmo o poder público tem presença exígua.

3.3 - Formas de ocupação Possuindo esse quadro econômico, educacional, social,

político, religioso e cultural bastante limitado, com o mais baixo capital humano do País e com uma acumulação de capital social historicamente pouco expressiva, Alagoas tem muita dificuldade em adotar um padrão de inclusão que resulte num processo de maior homogeneização da produção, das ocupações e da renda.

O padrão adotado é o agrário tradicional que, pela sua importância econômica e polít ica, acaba por def inir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor serviço e a atuação do setor público. Nesse modelo, a prioridade é a grande empresa, com mais de 100 empregados, pouca diferenciação da produção, baixa competitividade sistêmica e relações de trabalho predominantemente informais, gerando forte exclusão social e um ambiente desfavorável aos pequenos e microempreendedores.

Dados do IBGE de 2001 mostram que, no setor agrícola, predominam a cultura da cana-de-açúcar e a pecuária de leite praticadas em grandes propriedades - acima de 1.000 hectares de terras - ocupando uma área de 538 mil e 295 mil hectares respectivamente e, por conseguinte, a cana-de-açúcar ocupa 6 9 3 % da área cultivada, sendo que sua predominância está na Zona da Mata e nos Tabuleiros Costeiros. A pecuária de leite no Sertão, principalmente em torno do município de Batalha, representa 97,7% da área com pecuária. Ver tabelas 3.3 e 3.4.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 113

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Quanto à ocupação de mão-de-obra em 2000, as tabelas 3.3 e 3.4 deixam claro que as culturas da cana-de-açúcar, mandioca e milho foram as que mais empregaram. Na pecuária, a bovinocultura de leite demandou 80% dos ocupados nessa atividade. As culturas de mandioca, milho, arroz e feijão, cultivadas por pequenos produtores - com até 100 ha de terras -foram responsáveis por, respectivamente, 12,3%, 10,2%, 4,6% e 3,4% do total de ocupação de mão-de-obra.

TABELA 3.3 - Demanda da Força de Trabalho Agrícola Anual e Área Cultivada das Principais Culturas Estado de Alagoas, 1999-2000.

Prindpais Culturas EHA 2000 Área (1.000 ha) 2000

1999 2000 (%) 1999 2000 (%)

Total 115.019 110.051 100,0 764,4 775,5 100,0

Abacaxi 566 804 0,7 0,9 1,2 0,2

Algodão Herbáceo 2.469 2.212 2,0 5,2 4,7 0,6

Arroz 4.799 5.114 4,6 7,8 8,3 1,1 Banana 1.73 1.912 1,7 3,6 4.0 0,5

Cana-de-açúcar 54.718 54.702 49,7 541,7 537,6 69,3

Coco 1.621 1.607 1,5 13,6 13,5 1,7

Feijão 3.610 3.697 3,4 86,9 89,0 11,5

Fumo 22.501 13.947 12,7 28,6 17,7 2,3

Laranja 1.263 1.317 1,2 3,5 3,6 0,5

Mandioca 14.527 13.536 12,3 27,2 25,4 3,3

Milho 7.207 11.202 10,2 45,5 70,7 9,1

114 Fernando José de Lira

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TABELA 3.4 - Demanda da Força de Trabalho Anual na Pecuária. pecuária EHA 2000 Área/ Produção / Rebanho

1999 2000 (%) 1999 2000 Total 13.830 14.467 100,0 - -Reforma 1.881 1.881 13,0 37,3 37,3 de Pastagem

(1) Bovinocultura 866 833 5,8 421 405 de Corte

(2) Bovinocultura 10.907 11.572 80,0 278. 276 295.252 de Leite

(3) Suinocultura 113 117 0,8 81 84

(2) Avicultura 18 19 0,1 5.431 5.596 de Corte (2) Avicultura 45 45 0,3 174 174 de Postura (2)

FONTE: Fundação Seade. EHA = Equivalentes-Homens-Ano. (1) Área em mil hectares. (2) Rebanho em mil cabeças. (3) Produção em mil litros.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 115

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Juntas, essas culturas demandaram quase um terço dos ocupados agrícolas. Localizadas principalmente no Agreste e na Região do Baixo São Francisco, são cultivadas em sistemas agrícolas de baixo nível tecnológico e destinadas ao abastecimento do mercado interno.

A cultura do fumo é uma atividade de alta produtividade e, no passado recente, também de alta rentabilidade, além de grande empregadora de mão-de-obra. A região fumageira fica situada no Agreste, tendo por base o município de Arapiraca, centro produtor, industrializador e distribuidor do produto. Entre 1973 e 1983, a taxa de crescimento da produção de fumo foi de 5% ao ano, praticamente como resultado da expansão da área plantada. Já no período de 1984 a 1994, a produção caiu 3,4% ao ano, com queda tanto na área cultivada como no rendimento da terra. Atualmente, o fumo apresenta baixo dinamismo, devido à insuficiência em pesquisa, controle de qualidade e assistência técnica e baixo preço.

Como ilustra a tabela 3.5, no setor industrial se destacam as grandes unidades agroindustr ia is das a t iv idades sucroalcooleiras, representadas por alimentos e bebidas que, em 1999, possuíam 49 unidades industriais, ocupavam 39,5% do total e 81,3% da mão-de-obra do setor. A indústria intermediária de bens de capital e de consumo duráveis é pouco representativa e é basicamente indústria química e de combustíveis, que ocupam 68,5% dos empregados do total das indústrias deste ramo.

Em suma, a característica mais marcante da indústria alagoana é a enorme importância da divisão de alimentos e bebidas, decorrente da produção de açúcar. Essas indústrias empregam 81 % de todas as pessoas ocupadas na indústria, o que, junto com os 9% dos trabalhadores empregados no segmento de química e combustíveis, que também contém a produção de álcool combustível, demonstra a verdadeira importância econômica e política do complexo sucroalcooleiro.

116 Fernando José de Lira

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TABELA 3.5- Unidades Locais e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, Microrregião de Maceió e Demais Regiões do Estado, 1999.

Em percentagem

Atividades Selecionadas Microrregião de Maceió

Demais Regiões do Estado

Total do listado

U L PO U L PO U L PO

Total Bens de Consumo 5 9 , 7 28,9 40,3 71,1 100,0 100,0

não Duráveis 55,2 28,2 44,8 71,8 100,0 100,0

Alimentação e bebidas 51,0 27,0 49,0 73,0 100,0 100,0 Demais 66,7 45,7 33,3 54,3 100,0 100,0 Bens Intermediários, de Ca­pital e de Consumo Duráveis 64,9 33,4 35,1 66,6 100,0 100,0

Borracha e plástico 75,0 64,6 25,0 35.4 100,0 100,0

Minerais não metálicos Produtos de metal

30,0 23,2 70,0 76.8 100,0 100,0

(exceto máq. e equip.) 75,0 73,9 25,0 26,1 100,0 100,0 Química e combustíveis 69,2 22,7 30.8 77,3 100,0 100,0 Demais 71,4 68.7 28,6 31,4 100,0 100.0

F O N T E : Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

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A distribuição espacial desse tipo de indústr ia não privilegia a microrregião de Maceió, uma vez que a usina de açúcar e a destilaria de álcool localizam-se junto à fonte de matéria-prima e mão-de-obra, contribuindo para o emprego de mão-de-obra agrícola não-qual i f icada e gerando muitas ocupações não-agrícolas no meio rural.

Em relação às condições de trabalho, em 1999 eram bastante precárias , pois 86 ,8% dos ocupados na agricultura eram trabalhadores informais. Na indústria, a informalidade chegava a 60,5% dos empregados e, no setor serviço, mais de 72% não tinham carteira de trabalho assinada e não contribuíam para a previdência social. Ver gráfico 4.5.

O gráf ico 4 .5 revela o nível de in formal idade das ocupações, de forma desagregada. A construção civil é o ramo que possui a maior proporção de ocupados informais, 97,4%; seguido da agricultura com 86,8%; outras atividades com 81,2%; comércio de mercadoria, registrando 76,6% e, nos serviços auxiliares da atividade econômica, existiam 55,2% dos ocupados sem carteira de trabalho assinada. Por seu turno, as atividades com maior nível de formalidade eram o setor público, com 81,8% dos ocupados; serviços, 76,5%; transportes e comunicação, 74,8%; e outras atividades industriais, nas quais 69,4% das pessoas tinham carteira de trabalho assinada.

Quanto aos salários, percebemos, na tabela 3.6, que, na agricultura, 72,5% dos ocupados percebiam até um salário mínimo; na indústria, 26,0% e, no setor serviço, alcançavam 38 ,1% dos ocupados. Ganhando até 2 salários mínimos, na agricultura, havia 95,6% dos trabalhadores; na indústria, 72,5% e, no setor serviço, 64,5% dos ocupados estavam nessa faixa de renda. Essa proporção elevada de pessoas que ganham até 2 salários mínimos demonstra que a renda do trabalho assalariado era muito baixa, ficando aquém da cobertura das necessidades básicas do trabalhador.

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Portanto, a agricultura, a indústria e o setor serviço, apesar da importância econômica, têm gerado empregos de baixa qualificação e, por conseguinte, o efeito renda na dinâmica geral da economia é pouco expressivo.

TABELA 3.6 - Alagoas: participação das pessoas ocupadas por classe de rendimento e por setores das atividades em 1999.

Em percentagem

Rendimento em Salário Mínimo (S.M) Se lores de Total Até 1 +1 a 2 +2 a 5 + de 5 Atividade % S.M.% S.M.% S.M % S.M % A /avicultura 100% 72,5 23,1 3,9 0,5 Indústria 100% 26,7 45,8 20,8 6,7 Serviço 100% 38,1 26,4 24,8 10,7

FONTE: PNAD-IBGE, 2000.

Como na indústr ia , a agricultura teve um fraco desempenho na manutenção e geração de empregos, no período de 1960/1999, pois, enquanto a população agrícola cresceu 1,1% ao ano, entre 1960/1970, o nível de emprego teve um incremento de apenas 0,6%. No anos 1970/1980, a população cresceu menos que na década anterior, aumentando apenas 0,53% ao ano, e as ocupações caíram para 0,4% de aumento anual; no sub-período de 1981/1999, a população agrícola aumenta 0,2% ao ano, e o emprego teve uma redução de 1%.

Isso contrasta com a base de recursos naturais e a área agricultável, pois é justamente no setor agrícola que o Estado tem mais condições de expandir o nível de ocupação em

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 119

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atividades agrícolas e não-agrícolas, evitando o êxodo rural historicamente elevado.

Mesmo com esse quadro de ocupação e renda desfavorável, Alagoas, de 1970 a 1999, teve um crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB) maior do que o do Nordeste e o do Brasil. Entretanto, os dados indicam que esse desempenho ocorreu de forma assimétrica, no espaço geoeconómico alagoano.

A tabela 3.7 indica que a microrregião de Maceió, por exemplo, passou de uma participação de 42,0% do PIB estadual, em 1970, para 52,0%, em 1985, aumentando em 1996 para 53,8%. Observa-se , ainda, que a economia do Estado, em 1970, concentrava-se nas áreas úmidas de Maceió, São Miguel dos Campos, Mata Alagoana e Litoral Norte, onde eram gestados 65 ,9% do Produto Interno Bruto. Em 1995, essas mesmas microrregiões produziam 77 ,3% do PIB e no ano 2000, participaram com 80,2% de toda a riqueza anualmente gerada.

As explicações para esse desempenho estão nas presenças do setor público e das atividades não-agrícolas em Maceió, e dos ramos agrícolas e não-agrícolas ligados à produção e administração do setor sucroalcooleiro.

Vale destacar que todas as microrregiões localizadas no semi-árido da Zona da Mata de Alagoas vêm, a partir de 1975, persistentemente reduzindo sua participação no PIB estadual, mas, mesmo assim, a economia é muito dependente dessas microrregiões, pois parte importante do Interior do Estado é um vazio económico.

Assim, esse padrão de desenvolvimento autocrático, fechado, bastante concentrador de renda e poder, quando associado às atividades agrícolas e não-agrícolas praticadas, basicamente, por grandes unidades empresariais, não tem sustentabilidade econômica, mesmo com o forte sacrifício social que vem impondo aos ocupados e à maioria da população do Estado.

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TABELA 3.7. Alagoas: Participação do PIB das microrregiões homogêneas em percentual, 1970-1996.

Microrregiões 1970 1975 1980 1985 1990 1996 Sertão Alagoano 3,1 5,0 2,5 2,8 1,6 1,6 Batalha 8,6 8,6 4,3 4,7 3,2 3,4 Palmeira dos índios 5,6 8,9 3,1 4,2 2,0 2,0 Mata Alagoana 18,6 15,8 11,6 10,5 9,9 9,3 Litoral N. Alagoano 5,1 4,6 3,7 4,0 3,8 3,6 Arapiraca 7,6 9,5 9,9 8,6 13,3 13,0 S. M. dos Campos 7,2 7,5 9,1 11,6 11,7 10,4 Maceió 42,0 36,9 53,4 52,0 51,2 53,8 Penedo 2,3 3,1 2,4 1,7 3,3 2,8

FONTE: VERGOLINO & MONTEIRO NETO (1997, p.21).

Dados da Sudene, de 1999, constatam que a economia alagoana cresceu à taxa de 9,10% ao ano, na década de 70; 5,2%, nos anos 80. Na década de 90, com o fim dos subsídios e a abertura do mercado interno, essa economia é afetada por uma crise pro­funda, e seu produto interno cai para menos de um quarto do registrado durante o milagre dos anos 70. Em 1999, é o único Estado do Nordeste e do Brasil a registrar crescimento negativo de 1%, sendo que o setor agropecuário teve um incremento de apenas 0,3%, a indústria reduziu seu crescimento em -2,8%, e o setor serviço teve uma participação nula no PIB.

Por conseguinte, a crise econômica da década de 90 agravou consideravelmente o quadro social, de modo que, em 2000, 44,43% da população percebia até RS 80,00 e Alagoas estava classificada como o quarto Estado a apresentar o maior nível de pobreza no Brasil.

O padrão de desenvolvimento adotado partiu da premissa de que o crescimento econômico das atividades sucroalcooleiras

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 121

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seria capaz de promover o desenvolvimento humano. Sabemos hoje, pela experiência de três décadas de aumento vigoroso d riqueza, que esse desenvolvimento prometido não foi alcançado, entre outros motivos, porque, oferecendo nível mínimo de ocupação, tem grandes dificuldades para se expandir de forma sustentável. De acordo com Franco (2001), para uma sociedade atingir o estágio de desenvolvimento, a acumulação do capital humano e do capital social são dois fatores decisivos.

Nesse sentido, o crescimento do Produto Interno Bruto consegue acumular-se por um período limitado, mas não alcança um nível de ocupação e renda que provoque o desenvolvimento sustentável. Este é justamente o caso de Alagoas, onde o capital social e humano fica muito abaixo da média do Nordeste, estando entre os mais desfavoráveis do Brasil.

Alagoas é um espaço político, econômico e social que garante certas especificidades no desenvolvimento social e humano. Sua identidade foi construída através das imposições de um setor agroindustrial dominante, cuja elite desenvolveu formas de controles apropriados a seus interesses econômicos e de poder.

Por isso, o modelo de produção não-agrícola e agrícola dominante na microrregião de Maceió e no restante do Estado é um padrão fechado, de consenso muito restrito, mas que subordina toda a economia de Alagoas no que diz respeito à produção, ao emprego e às relações de trabalho.

O Estado, fora da microrregião de Maceió e daquelas dominadas pela cana-de-açúcar, é um vazio econômico que ainda está por ser explorado de forma produtiva e empreendedora.

122 Fernando José de Lira

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3.4 - A indústria do Estado de Alagoas Segundo dados do IBGE4, a indústria de Alagoas contribui

com 16,5% do total do Produto Interno Bruto do Estado, no entanto representa uma pequena parcela da indústria de transformação nacional, que varia de 0,4%, em 1995, a 0,5%, em 1998.

TABELA 3 .8 - Unidades Locais e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Atividades Selecionadas Unidades Pessoal Locais Ocupado

N°. Abs. % N°. Abs. % Total 124 100,0 50.557 100,0 Bens de Consumo não Duráveis 67 54,0 44.061 87,2 Alimentação e bebidas 49 39,5 41.096 81,3 Demais 18 14,5 2.965 5,9 Bens Intermediários, dc Capital e de Consume Duráveis 57 46,0 6.496 12,9 Borracha e plástico 12 9,7 618 1,2 Minerais não metálicos 10 8,1 522 1,0 Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 8 6,52 64 0,5 Química e combustíveis 13 10,5 4.449 8,9 Demais 14 11,3 643 1,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

4 IBGE. Contas Regionais do Brasil, 1998, série "Contas Nacionais", n. 5, Rio de Janeiro, 2000.

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Reitera-se que a distribuição espacial desse tipo de industria não privilegia a região de Maceió, localizando-se junto à fonte de seu insumo básico - a plantação de cana. De fato, 71 % dos empregos industriais encontram-se nas demais regiões do Estado (73% dos de alimentos e bebidas e 77% dos de química e combustíveis).

Existem pequenos complexos industriais no interior do Estado - como o têxtil, em Delmiro Gouveia, São Miguel dos Campos e Rio Largo, e o de fumo, em Arapiraca - mas têm diminuta relevância no total da indústria a lagoana . Na microrregião de Maceió, predomina o pessoal ocupado nas divisões de borracha, plástico e produtos de metal, mais afeitas às estruturas urbanas adensadas.

3.4.1 - Caracterização tecnológica A indústria de Alagoas ocupa posição de destaque

relativamente à dos Estados da Região Nordeste, no que diz respeito à difusão de Tecnologias de Informação (TI). No total do Estado, há uma porcentagem expressiva de unidades usuárias de computadores (93%), e alta difusão de micros modernos (91%), pertencentes à família de processadores Pentium (I e II).

Dentre as unidades usuárias de computadores, todas as que estão integradas em rede (64%) possuem acesso à Internet. O mesmo desempenho não se confirma, contudo, na difusão de redes de longa distância: somente 2 1 % dessas unidades estabelecem troca e consulta eletrônica de dados externamente.

Ainda com relação ao total do Estado, as indústrias produtoras de bens intermediários, de capital e de consumo duráveis respondem por uma densidade no uso de computador, quase quatro vezes maior que a das unidades industriais da categoria de bens de consumo não-duráveis (0,03). Esse diferencial pode ser explicado, em grande medida, pela maior propensão a utilizar equipamentos no processo de produção das primeiras indústrias, em contrapartida a um menor uso de recursos humanos.

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Uma particularidade de Alagoas é a distribuição regional mais equitativa da difusão de TI, ou seja, à exceção da alta densidade de computadores na categoria de bens intermediários, de capital e de consumo duráveis da microrregião de Maceió, verificam-se proporções semelhantes de microcomputadores Pentium e, principalmente, de unidades usuárias de TI em ambas as regiões do Estado. Ver tabela 3.9.

TABELA 3.9 - Difusão de Tecnologias de Informação, por Região de Análise, segundo Tipo de Indicador, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Tipo de Indicador Total

do Estado

Região de Análise Tipo de Indicador Total

do Estado Microrregião

de Maceió

Demais Regiões

do Estado

Unidades Usuárias

de Computadores (%) 92,7 93,2 92,0

Microcomputadores

Pentium (I e II) (%) 90,9 90,5 91,5

Densidade de Computadores

(Micro por Empregado)

Bens de Consumo

Níão-Duráveis 0,03 0,05 0,03

Bens Intermediários,

de Capital e Cons. Duráveis 0,11 0,26 0,03

Unidades Integradas

em Rede (%) 64,2 61,6 68,0

Unidades com Acesso

à Internet (%) 64,2 67,1 60,0

Unidades com Rede

de Longa Distância (%) 28,5 27,4 30,0

PONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 125

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3.4.2 - Estratégias de gestão da produção O processo de globalização vem impondo novos padrões

de concorrência às empresas. Para se manterem competitivas no mercado, elas precisam redefinir suas estratégias e elevar a produtividade. Isso ocorre a partir, principalmente, da adoção de novos métodos de organização do trabalho, do aumento da escala de produção, da ampliação do número de produtos comercializados e do crescimento da automação industrial. Segundo os dados do IBGE, essas têm sido as práticas mais utilizadas pelas empresas para ganharem maiores vantagens e ampliarem sua atuação no mercado.

A tendência confirma-se também no Estado de Alagoas. Entre as estratégias de gestão citadas na pesquisa que realizamos, a mais difundida é a adoção de novos métodos de organização do trabalho e da produção. Cerca de 3/4 das unidades industriais (responsáveis por 91 % do pessoal ocupado) implementaram, no quadriénio 1996-1999, esse tipo de estratégia. As demais técnicas de gestão, também empregadas em larga escala pela indústria de Alagoas, são, em ordem decrescente de importância: aumento da escala de produção, crescimento da automação industrial e ampliação do número de produtos.

O percentual pouco expressivo de unidades que subst i tu í ram parte de sua produção local por produtos importados (7%), em contraste com aquelas que ampliaram o grau de nacionalização dos seus produtos e componentes (35%), sugere que o processo de reestruturação da indústria da região vem desenvolvendo-se mais, a partir do aproveitamento e da otimização dos recursos locais, que dos produtos, matérias-primas ou componentes importados. Além disso, a pequena parcela de unidades que reduziu o número de produtos e/ou desativou linhas de produção (10%) indica que estratégias de racionalização permanecem sendo uma prática pouco difundida no setor. Ver tabela 3.10.

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TABELA 3.10 - Unidades Locais que Adotam Estratégias de Gestão e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Tipo de Estratégia, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem

Tipo de Estratégia Adoção de Estratégias de Gestão Tipo de Estratégia

Unidade Local Pessoal Ocupado

Novos Métodos Org. de Trahalho/Produçãc 75,8 90,6

Aumento da Escala de Produção 60,5 64,7

Crescimento da Automação Industrial 59,7 86,7

Ampliação do Número de Produtos 49,6 21,9

Cresc. Import de Insumos/Componentes 35,5 34,3

Nacionalização Produtos e Componentes 34,7 14,7

Redução do Número de Fornecedores 15,3 5,8

Diminuição da Escala de Produção 12,9 11,2

Redução do Número de Produtos 10,6 8,8

Desativação de Linhas de Produção 9,7 2,0

Substit. Parte Prod. Local p/ Importados 7,3 10,9

Outro 4,0 1,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

A estrutura industrial da região, concentrada na produção de bens de consumo não-duráveis (especialmente alimentos) e intermediários (química e combustíveis, borracha, plástico e minerais não-metálicos), tem importância significativa na definição dos principais programas de qualidade e produtividade utilizados pelas unidades. Nesse sentido, as técnicas mais difundidas são aquelas voltadas à melhoria da qualidade do produto e dos serviços (inspeção final e indicadores de qualidade) e à manutenção preventiva total (MPT), método de controle de qualidade da produção, cuja função é reduzir ou eliminar as

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paradas de máquinas para manutenção. Esses programas requerem, em geral, menores esforços de reorganização da produção e do trabalho, bem como custos mais reduzidos de implementação, em relação aos novos métodos de gestão da produção e aumento da produtividade, como just in time, kaizen e o uso de minifábricas.

A indústria de Alagoas ocupa posição de destaque no ranking de plantas automatizadas entre os Estados da Federação. Ao todo, 47% das suas unidades produtivas, responsáveis por mais de 8 0 % do pessoal ocupado do setor, af irmaram ter utilizado, no ano de 1999, algum equipamento de automação industrial.

Além disso, acompanhando a tendência observada nos outros Estados, o equipamento automatizado com maior difusão é a máquina-ferramenta com controle numérico (MFCN), convencional ou computadorizado, que se encontra em cerca de 1/3 das fábricas automatizadas da região. Ambos os tipos de MFCN indicam um determinado nível de automação industrial na planta, mas a máquina-ferramenta com controle numérico computadorizado - por adicionar ao equipamento um ou mais processadores e permitir que a programação seja feita diretamente em seu painel de comando - confere maior flexibilidade e sofisticação tecnológica à programação que a máquina-ferramenta convencional. No último caso, a programação é feita externamente (em geral em microcomputadores) , sem a intervenção do operador , gerando uma fita ou disquete que é l ido pelo equipamento de controle numérico.

O percentual elevado de pessoas ocupadas, em contraste com a proporção de unidades usuárias de quaisquer equipamentos de automação industrial, sugere que a maior parte dessas plantas é de grande porte. Ver tabela 3.11.

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Tabela 3.11 - Unidades Locais que Utilizam Equipamentos de A u t o m a ç ã o Industrial e R e s p e c t i v o Pessoal O c u p a d o , segundo Tipo de Equipamento, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Adoção de Equipamento de Automação Uso Industrial por Tipo de Equipamento de Equipamentos

Automatizados Unidade Pessoal Local Ocupado

Adoção de Equipamento(s) de Automação Industrial 46,8 81,0 Máq-Ferramenta Contr. Num. Convencional 32,3 55,4 Máq.-Ferramenta Contr. Num. Computador. 31,5 53,4 Computador de Processo - Manufatura 28,2 57,7 Computador de Processo 25,8 58,2 CLP - Controlador Lógico Programável 24,4 59,5 Analisador Digital 24,4 73,2 Sistema Digital de Controle Distribuído 17,9 57,0 Armazém (Estoque) Automatizado 15,3 29,4 Sistema CAD/CAE 15,3 38,9 Sist.Transp. Autom. de Contr. Eletrônico 14,5 38,0 Centro de Usinagem Contr. Numérico 12,9 45,1 Máq.-Ferramenta Retrofitada Contr. Num. 10,5 23,6 Robô Industrial 5,7 25,8

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

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TABELA 3.12 - Unidades Locais e suas Relações com o Meio Ambiente, segundo Tipo de Relação e Categorias de Uso, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Tipo de Relação da Unidade com o Meio Ambiente Categorias de Atividades Industriais Tipo de Relação da Unidade com o Meio Ambiente

Bens Não-Duráveis e Intermediários

Bens Duráveis e de Capital

Desenvolvimento de Produtos e Processos Não-Agressivos ao Meio Ambiente que Constituem Oportunidade de Negócio para a Empresa 40,3 50,9 Impacto Negativo nos Negócios devido aos Prejuízos Causados por sua Atividade sobre o Meio Ambiente: Elevação dos Custos 37,3 22,8

Perda de Mercados Internos e/ou Externos 9,0 3,5 Degradação da Imagem Institucional 20,9 8,8

Invest. p/ Reduzir Problemas Ambientais Causados pela Atividade: Certificação ISO 14000 6,1 14,0 Substituição de Insumos Contaminantes 31,3 14,0 Reutilização/Tratamento de Resíduos 47,8 42,1

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

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3.4.3 - Estratégias voltadas ao meio ambiente Em linhas gerais, os dados sugerem que as indústrias de

bens intermediários que, nesta análise, encontram-se agregadas à categoria de bens de consumo não-duráveis, são as que acarretam os maiores impactos negativos ao meio ambiente e, por esse motivo, as que apresentam maior difusão de estratégias de investimentos voltadas à redução desses prejuízos.

Esses resultados se confirmam, na verdade, na maior parte dos Estados e mostram-se perfeitamente consistentes com o tipo de atividade desenvolvida pelas unidades industriais da categoria. Em geral, trata-se de atividades cujo insumo principal é extraído diretamente da natureza, como minerais e petróleo, ou depende de outros recursos naturais para ser produzido, como madeira e álcool. Por esse motivo, essas indústrias são mais suscetíveis de gerar impactos negativos ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, realizar esforços para reduzir os problemas ambientais causados por sua atividade.

Ao contrário, os benefícios obtidos pela empresa, graças à adoção de inovações voltadas à redução dos impactos negativos de sua produção sobre o meio ambiente , f o r a m mais pronunciados nas indústrias de bens de capital e de consumo duráveis, ou seja, metade das suas unidades desenvolveu produtos e/ou processos não-agressivos ao meio ambiente que, por sua vez, acarretaram oportunidades de negócio para a empresa. No grupo de bens intermediários e de consumo não-duráveis, o percentual se reduz para 40%. ver tabela 3.12.

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3.4.4 - Emprego e recursos humanos A indústria de Alagoas é extremamente concentrada no

segmento de alimentos e bebidas. As características desse setor determinam, portanto, o perfil da indústria geral, tanto nos aspectos produtivos quanto nas políticas de recursos humanos das empresas. O pessoal ocupado divide-se em assalariados (ligados ou não à produção) e não-assalariados (proprietários, sócios, e t c ) . Neste Estado, a maior parcela é constituída de assalariados ligados à produção (91%), participação um pouco superior à verificada em outras regiões do País. A divisão de alimentos e bebidas possui proporcionalmente mais desses profissionais do que o existente no restante da indústria.

Os assalariados não-ligados à produção representam 9% do total, mas esse percentual apresenta variações expressivas entre os segmentos da indústria. A divisão de alimentos e bebidas possui proporcionalmente menos desses profissionais que o contingente do restante da indústria, embora seja líder em números absolutos. Os não-assalariados (proprietários, sócios, etc.) representam apenas 0,2% do pessoal ocupado na indústria, participação que varia de 0,1% a 2,3% entre os segmentos de atividade selecionados. Ver tabela 3.13.

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TABELA 3 .13 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado ou Não, por Tipo de Inserção na Unidade, segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Categorias de Uso e Atividades Selecionadas Assalariados Não-

Assalariados Total

Categorias de Uso e Atividades Selecionadas

Ligados à Produção

Não-Ligados à Produção

Total Não-Assalariados Total

Total da Indústria 90.9 8.9 99,8 0.2 100.0 Bens de Consumo não Duráveis 92,2 7,7 99,9 0,1 100,0 Alimentação e bebida 93,3 6,7 99,9 0,1 100,0 Demais 76,9 22,5 99,4 0,6 100,0 Bens Intermediários, de Capital e de Consumo Duráveis 82,6 16,8 99,4 0,6 100,0 Borracha e plástico 83,0 15,7 98,7 1,3 100,0 Minerais não-metálicos 70,5 28,2 (),X,7 1,3 100,0 Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 76,5 21,2 97,7 2,3 100,0 Química e combustíveis 84,6 15,2 99,8 0,2 100,0 Demais 80,4 18,2 98,6 1,4 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

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O conjunto de trabalhadores ligados à produção e o daqueles ligados às atividades adrninistrativas e gerenciais foi dividido segundo categorias ocupacionais de qualificação. Os ligados diretamente à atividade principal da indústria, a produção, foram distribuídos, segundo o grau de qual i f i cação , em trabalhadores braçais semiqualificados, qualificados, técnicos de nível médio e técnicos de nível superior (a definição de cada uma das categorias de classificação encontra-se em Lira (1998, p.40).

Os trabalhadores braçais e os de menor qualificação estão, na maior parte dos empregos, em ocupações ligadas à produção (66%), seguidos pelos trabalhadores semiqualificados (21%), qualificados (10%), técnicos de nível médio (3,6%) e técnicos de nível superior (0,6%).

A distribuição contraria a tendência mais geral da indústria brasileira cuja categoria mais numerosa é a de semiqualificados. Também aponta para uma baixa participação de técnicos de nível médio e de nível superior. Essa característica capta o baixo grau de qualificação nos postos de trabalho da indústria alagoana e reflete o perfil da indústria local de alimentos e bebidas. Nos demais segmentos, verifica-se menor participação de trabalhadores braçais e maior participação de profissionais mais qualificados.

Em números absolutos, devido à concentração produtiva, o segmento de alimentos e bebidas possui mais da metade dos trabalhadores qualificados, dos técnicos de nível médio e dos técnicos de nível superior. Ver tabela 3.14.

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TABELA 3.14 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado. Ligado à Produção, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Categoria de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Categorias de Uso e Atividades Selecionadas

Pessoal Ocu pado Ligado à Produção Categorias de Uso e Atividades Selecionadas Braçais

de menor qualificarão

semiquali-ficado

qualificado Técnico de nível médio

Nível superior

Total

Total da Indústria A5.fi 20.7 9.5 .3.6 0.6 100.0 Bens de Consumo não Duráveis 69,5 18,4 8,5 3,0 0,6 100,0 Alimentação e bebida 73.fl 15.9 8.0 2.7 0.4 100.0 Demais 10,7 60,9 17,5 7,8 3,2 100,0 Bens Intermediários, de Capital e de Consumo Duráveis 36 1 38 ? 16.5 7 8 1 4 ionn Borracha e plástico 1.0 80.7 15.2 2.5 0.6 100,0 Minerais não metálicos 7,3 70,7 19,0 1,4 1,6 100,0 Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 2,5 51,0 42,6 2.5 1,5 100,0 Química e Combustíveis 50,1 25,9 12,8 9,8 1,5 100,0 Demais 3,1 57,3 33,1 5,2 1.4 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

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O pessoal não-ligado à produção foi distribuído entre administrativo e outros (manutenção, limpeza, segurança, etc.). Para o pessoal administrativo, agruparam-se as categorias conforme o grau de qualificação - básico, técnico de nível médio e profissional de nível superior.

A característica comum a todo o Brasil é que o pessoal não-ligado à produção apresenta grau de qualificação superior ao encontrado no pessoal Hg?do a esse setor, com participação expressiva de técnicos de nível médio e técnicos de nível supe­rior. Em Alagoas, a categoria referente às ocupações relativas a manutenção, limpeza, segurança, entre outras, é a mais numerosa, com 38% do total, seguida pela do administrativo básico, com 33% dos postos de trabalho, pela dos técnicos de nível médio, com 19%, e pela dos profissionais de nível superior, com 10% dos postos de trabalho.

Não existem diferenças expressivas entre a distribuição das ocupações por categoria de uso ou atividades selecionadas, e a maior parte dos trabalhadores encontra-se no segmento de alimentos e bebidas. Ver tabela 3.15.

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TABELA 3.15- Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Não Ligado à Produção, por Categoria de Qualificação, Segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Categorias de Uso e Atividades Selecionadas

Pessoal Ocupado Assalariado Não-Ligado à ^roduçao Categorias de Uso e Atividades Selecionadas Administrativo Outros

(Manut, Limpeza, Segurança)

Total Categorias de Uso e Atividades Selecionadas

Básico Técnico de Nível

Médio

Nível Superior

Outros (Manut, Limpeza, Segurança)

Total

Total da Indústria 32,7 18,5 10,3 38,5 100,0 Bens de Consumo não Duráveis 32,9 19,4 10,0 37,7 100,0 Alimentação e bebida 33,1 19,3 9,9 37,8 100,0 Demais 31,9 20,2 10,8 37,1 100,0 Bens Intermediários, de Capital e de Consumo Duráveis 32,2 15,6 11,2 41,1 100,0 Borracha e plástico 35,1 26,8 10,3 27,8 100,0 Minerais não-metálicos 44,2 6,8 9,5 39,5 100,0 Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 35,7 14,3 16,1 33,9 100,0 Química e combustíveis 26,3 16,3 10,4 47,0 100,0 Demais 47,0 13,7 16,2 23,1 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados.

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Nas unidades industriais de Alagoas, os dados revelaram que os requisitos de escolaridade exigidos para a contratação do pessoal semiqualifiçado ligado à produção são baixos: 31% das unidades, responsáveis por 36% do pessoal ocupado nessa categoria, não requerem nenhum nível de escolaridade para a contratação, e 40% das unidades exigem a quarta série do primeiro grau. Por outro lado, 24% das unidades exigem o Ensino Funda­mental completo.

Os requisitos de escolaridade aumentam de acordo com a qualificação da categoria ocupacional. Para o pessoal qualificado, ligado à produção, a exigência varia bastante entre as empresas: 12% das unidades não exigem escolaridade para a contratação, 30% delas exigem a quarta série do primeiro grau, 29% requerem o Ensino Fundamental completo e 30% exigem o Ensino Médio.

Para o pessoal administrativo básico, o principal nível de escolaridade exigido para contratação é o Ensino Médio completo, requerido por 70% das unidades industriais, que empregam 72% desses profissionais, indicando requisitos de escolaridade bem superiores para o pessoal administrativo. Ver tabela 3.16.

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TABELA 3.16 - Distribuição das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado (1), por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Nível de Escolaridade Exigido para a Contratação da Maior Parte dos Empregados, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Nível de Escolaridade Categorias de Qualificação Ocup acionai

Pessoal Pessoal Administrativo Ligado à Produção Ligado à Produção Básico Semiqualificado Qualificado

LTL PO UL PO UL PO Nenhum 31,1 36,2 11,7 2,6 1,7 2,2 4'1 Série do Ensino Fundamental 40.3 38.8 29.7 37.3 6.1 4.9 Ensino Fundamental Completo 24,4 23,8 28,8 37,9 18,3 20,0 Ensino Médio Completo 4,2 1,1 29,7 22,1 70,4 71,7 Ensino Superior Incompleto 0,0 0,0 0,0 0,0 3,5 1,2 Ensino Superior Completo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades que exigem determinada escolaridade para contratação da maior parte dos empregados, e não ao número de empregados com tal escolaridade.Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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A exigência de cursos profissionalizantes para a contratação também caracteriza a indústria local. O curso de habilitação técnica de nível médio é exigido por 57% das unidades que empregam 71% dos trabalhadores na categoria de técnicos de nível médio. Os cursos livres (curta duração) são requeridos por 39% das unidades, e os cursos técnicos de nível básico, por 27% das unidades.

Para os profissionais semiqualificados, a exigência de cursos é prática pouco difundida, sendo mais exigidos os de nível básico ( 1 3 % das unidades) . Para a categoria dos prof iss ionais qualificados, a exigência de cursos é maior, como esperado, uma vez que suas ocupações exigem maior destreza e conhecimento. Os cursos mais importantes são os de nível básico (24%), nível médio (21%) e de curta duração (19%). Para os profissionais de nível superior, o perfil altera-se, sendo mais exigidos os cursos de curta duração, em 40% das unidades. Ver tabela 3.17.

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TABELA 3.17- Unidades Locais em que a Rotina de Trabalho é Executada pela Maioria dos Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado ( 1 ) , por Categoria de Qualificação Ocupacional do Pessoal Administrativo, segundo Tipos de Rotina, 1999. Indústria, Estado de Alagoas. Pm porcentagem

Tipos de Rotina Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Rotina Básico Técnico de Nível Médio Nível Superior

UL PO UL PO UL PO Uso de Microcomputador 83,5 89,7 94,6 98,2 91,8 97,0 Uso de Língua Estrangeira 1,7 4,7 5,4 7,9 12,2 14,9 Uso de Conhecimento Tecnológico Atualizado 45,2 49,4 58,1 67,2 66,3 75,9 Uso de Técnicas de Qualidade 55,7 64,0 63,4 76,0 67,4 77,4 Uso de Redação Básica 67,8 68,6 76,3 85,5 73,5 80,6 Expressão e Comunicação Verbais 80,0 80,7 82,8 92,9 86,7 89,4 Uso de Matemática Básica 85,2 87,1 88,2 94,1 85,7 91,4 Contato com Clientes 74,8 65,6 77,4 77,3 85,7 81,9 Trabalho em Equipe 91,3 93,2 92,5 97,4 93,9 95,5 Outros 3,5 2,5 4,3 3,6 4,1 2,8

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que a rotina de trabalho é executada pela maioria dos empregados, e não ao número de empregados que realizam tais rotinas. Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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As altas taxas de desemprego, associadas ao processo de modernização produtiva e aos investimentos em novas plantas, na década de 90, trazem em seu bojo a necessidade constante da qualificação da mão-de-obra. Isso, porque uma parte das rotinas de trabalho torna-se obsoleta, e outra, cada vez mais complexa, levando o empregado à defasagem e à incapacidade de inserção nas novas formas de produção. Implementar programas de educação básica e de qualificação específica contribui para o aumento da empregabilidade dos trabalhadores e amplia a possibilidade de inserção e reinserção da força de trabalho. Assim, a identificação das carências de qualificação que prejudicam o desempenho dos empregados torna-se um instrumento poderoso no processo de reforma da educação profissional.

Entre os trabalhadores ligados à produção, essas carências apresentam comportamento oposto ao apresentado pelo pessoal das demais rotinas, ou seja, na maioria dos casos, as carências prejudicam mais as categorias de semiqualificados e qualificados e menos as dos técnicos de nível médio e de nível superior.

A falta de conhecimentos específicos da ocupação, a dificuldade de comunicação e expressão verbais e a falta de capacidade de aprender novas habilidades e funções são as carências que mais prejudicam o desempenho dos empregados ligados à produção. Relacionadas a falhas tanto na formação básica quanto na formação específica, essas carências são maiores para o pessoal semiqualificado e diminuem conforme cresce a hierarquia. Por outro lado, a falta de conhecimento de informática, de habilidade para lidar com clientes e de noções básicas de língua estrangeira prejudica mais o desempenho dos técnicos de nível médio e dos profissionais de nível superior.

As tabelas seguintes possibilitam múltiplas análises, como, por exemplo, comprovar que a falta de conhecimento de informática prejudica mais o desempenho dos empregados de grandes que de pequenas empresas.

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TABELA 3.18 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional da Maioria dos Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Ligado à Produção, Indústria, Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional

Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional Semi-Qualificado Qualificado

de Nível Médio

Técnico Superior

Nível

Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupação 46,2 41,4 34,9 25,0 Falta de Conhecimento de Informática 7,6 18,9 23,3 23,5 Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbais 34,5 34,2 31.4 26,5 Falta de Conhecimento de Matemática Básica 21,0 25,2 19,8 17,7 Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 12,6 5,3 14,0 16,2 Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 24,4 !7,0 30,2 27,9

Dificuldade de Trabalho em Equipe 27,7 !7,9 25,6 27,9

Dificuldade de Aprender Novas I labil. e Funções 37,8 14,2 27,9 26,5

Falta de Noções Básicas de Língua Estrangeira 5,9 6,3 8,1 13,2

Outros 0,8 ),0 o.'.1 0,0

FONTE: F u n d a ç ã o S e a d e . Pesquisa da Atividade E c o n ô m i c a Regional - Paer.

Nota: P e r c e n t u a l de respostas afirmativas em r e l a ç ã o ao total de u n i d a d e s locais em q u e existe a

c a t e g o r i a d e q u a l i f i c a ç ã o o c u p a c i o n a l .

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TABELA 3.19-Pessod Ocupado em Unidades Locais em que Existem Fatores frejudciás ao Desempenho Profissional da Maioria dos Empregados, por Categoria de QuaSficação Ocupacional, segundo Tipos de Fatores Prejudciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Ligado à Produção, Indústria. Estado de Alagoas,! 999.

Em porcentagem Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional

Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional

Semi-Qualificado

Qualificado Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupaçãt i 47.4 31.4 22.9 25.0 Falta de Conhecimento de Informática 14,7 33,3 38,0 33,5 Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbai > 43,8 32,5 47,2 41,2 Falta de Conhecimento de Matemática Básica 19.2 21.8 30.8 16.2 Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 10,2 11,5 30,8 17,2 Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 21,9 13,5 39,8 23,3 Dificuldade de Trabalho em Equipe 33.6 22.8 40.8 34.8 Dificuldade de Aprender Novas Hábil, e Funções 37.9 27.1 40.0 22.3 Falta dp N o r õ p ç Ráçirai de T ínpna Fsrranapira A 1 7 1 1* 1?? Outros 0,2 0,0 0,0 0,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que existem fatores prejudiciais ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam lais fatores.

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A análise das carências do pessoal administrativo também indica, na maioria dos casos, que elas prejudicam mais o desempenho das categorias hierarquicamente inferiores (administrativo básico), depois o dos técnicos de nível médio e, menos, o da categoria de profissionais de nível superior. Quanto a estes, a exceção é a falta de noções básicas de língua estrangeira, carência que lhes traz maior prejuízo que as dos profissionais de outras categorias acarretam àqueles.

Em todas as categorias administrativas, a carência que mais prejudica o desempenho profissional é a falta de conhecimentos de informática, uma habilidade necessária em qualquer posto administrativo, considerando-se a alta utilização de computadores na rotina de trabalho.

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TABELA 3.20 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional da Maioria dos Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado (1), por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Administrativo, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Tipos de Fatores Prejudiciais Pessoal Administrativo

ao Desempenho Profissional Básico Técnico Nível

de Nív. Médio Superior UL PO UL PO UL PO

Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupação 33,0 31,7 30,1 11,4 25,5 14,4 Falta de Conhecimento de Informática 41,7 51,1 40,9 41,0 36,7 45,3 Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbais 37,4 41,6 34,4 36,3 27,6 19,8 Falta de Conhecimento de Matemática Básica 26,1 31,1 28,0 24,0 25,5 21,8 Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 31,3 31,6 32,3 31,3 29,6 29,5 Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 36,5 42,4 36,6 36,7 31,6 28,0 Dificuldade de Trabalho em Equipe 25,2 30,1 25,8 30,5 26,5 24,6 Dificuldade de Aprender Novas Hábil, e Funções 27,0 27,9 23,7 14,9 25,5 17,9 Falta de Noções Básicas de Língua Estrangeira 9,6 14,8 12,9 18,0 15,3 21,3 Outros 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional-Paer. (I) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que existem fatores prejudiciais ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam tais fatores. Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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Quanto aos instrumentos de seleção mais utilizados na contratação de empregados, observando-se a tendência verificada no Brasil, ficou claro, para todas as categorias de qualificação ocupacional, que a entrevista com o contratante é o procedimento mais aplicado.

A recomendação e a indicação dos trabalhadores é o segundo instrumento mais utilizado para os postos de trabalho menos qualificados, perdendo um pouco a importância para as ocupações hierarquicamente mais elevadas. Em contrapartida, o uso da análise de currículo cresce, conforme a qualificação do posto de trabalho, sendo o segundo instrumento mais utilizado para os técnicos de nível médio e de nível superior. O teste de conhecimento prático é importante para todas as categorias, e o uso do teste de conhecimento teórico cresce conforme a hierarquia.

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TABELA 3.21 - Unidades Locais que Utilizam Instrumentos de Seleção da Maior Parte dos Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de Instrumento de Seleção Utilizados, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Pessoal Ligado à Produção Pessoal Administrativo

Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Semi qualificado

Qualificado Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Básico Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Analiso do Currículo 47.1 67.6 8.3.78 5/3 79.8 8.3.9 86.6 Teste de Conhecimento Práticc 59,7 76,6 72,1 72,1 64,0 63,4 65,0 ' 1 'este de Conhecimento Teórico 24,4 35/1 40,74 7,1 47,4 50,5 49,5 Entrevista com Contratante 86,6 90,1 93,0 92,7 91,2 91,4 94,9 Avaliação com Psicólogos 17,7 21,6 27,9 20,6 21,9 25,8 25,8 Recomendação / Indicação 68,9 68,5 67,4 69,1 65,8 62,4 62,9 Outros 7,6 9,9 10,5 10,3 8,8 9,7 9,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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TABELA 3.22 - Pessoal Ocupado em Unidades Locais que Utilizam Instrumentos de Seleção da Maioria dos Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de Instrumento de Seleção Utilizados, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Pessoal Li jado à Produção Pessoal Administrativo

Tipos de Instrumentos de Seleção Utilizados

Semi qualificado

Qualificado Nível Técnico

Nível Superior

Básico Nível Técnico

Nível Superior

Análise de Currículo 43.5 64,8 93.2 90.9 82.0 83,2 78.4 Teste de Conhecimento Práticc 59,5 80,9 90,9 79,1 67,6 70,7 66,1 Teste de Conhecimento Teoria 22,5 40,5 61,0 51,7 58,0 66,6 55,9 Entrevista com Contratante 84.0 87.5 96.2 87.5 91.1 95.7 93.7 Avaliarão rom Psicólogos 16.0 19.7 37.1 36.5 73.7 33.4 25.5 Recomendação / Indicação 59,3 65,7 52,4 55,7 56,9 63,0 68,5 Outros 3,0 1,8 17,5 8,8 5,9 5,5 9,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades que utilizam instrumentos de seleção da maioria dos empregados, e não ao número de empregados selecionados através desses instrumentos.

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No Estado de Alagoas, apesar de a maioria das unidades ser do segmento de alimentos e bebidas, as ocupações com carência de profissionais são típicas de outros segmentos. Sob o aspecto da dificuldade de contratação, as ocupações assinaladas mais vezes pelas unidades são as seguintes: torneiro mecânico, torneiros, fresadores, retificadores e trabalhadores assemelhados, programador de computador, mecânicos de manutenção de máquinas e outras ocupações.

3.4.5 - Treinamento e educação formal O treinamento no posto de trabalho, para o pessoal

administrativo, também é oferecido pela maior parte das unidades, em todas as categorias (61% das unidades para o administrativo básico, 62% para os técnicos de nível médio e 63% para os profissionais de nível superior), embora em proporção um pouco menor do que para o pessoal ligado à produção. As unidades produtoras de alimentos e bebidas destacam-se como as que mais oferecem treinamento no posto de trabalho para o pessoal administrativo.

O treinamento fora do posto de trabalho é, em geral, mais complexo e longo, porque desenvolve e aperfeiçoa novas habi l idades , não se restr ingindo à rotina de trabalho. Normalmente, os conhecimentos são transmitidos por um profissional de fora da unidade. Esse tipo de treinamento é realizado em 56% das unidades locais, responsáveis por 87% do pessoal ocupado. As unidades de médio e grande portes são mais ativas na oferta de treinamento que as de pequeno. A oferta de treinamento fora do posto de trabalho das unidades produtoras de alimentos e bebidas (69% das unidades) é superior à das demais.

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TABELA 3.23 - Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do Posto de Trabalho (1) e Respectivo Pessoal Ocupado (2), segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-99.

Em porcentagem Categorias de Uso e Atividades Ofereceram Treinamento Selecionadas UI. PO Total da Indústria 55,7 87,1 Bens de Consumo não Duráveis 59,7 88,5 Alimentação e bebida 69,4 90,7 Demais 33,3 58,4 Bens Irfeiixxliários, de Capital e de Qnsumo Duráveis 50,9 77,6 Borracha e plástico 33,1 24,3 Minerais não-metálicos 40,0 46,6 Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 25,0 20,1 Química e Combustíveis 76,9 92,3 Demais 64,3 75,7

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) O treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade. (2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento fora do posto de trabalho, e não ao número de empregados treinados.

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Os cursos mais oferecidos pelas empresas - para o pessoal semi-qualificado, qualificado e técnico ligado à produção - são os de segurança e higiene no trabalho e operação de máquinas e equipamentos. A oferta de cursos de controle de qualidade e específicos de curta duração cresce conforme a hierarquia e favorece mais os profissionais de nível superior. Os cursos de métodos e técnicas gerenciais e de coordenação, de relações humanas e de informática também apresentam oferta crescente, conforme a hierarquia.

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TABELA 3.24- Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do Posto de TrabaVno \\) e Respectivo Pessoal Ocupado (2), por Categoria de Qualificação Ocupacional do Pessoai Ligado à Produção, segundo Tipos de Treinamento, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-1999.

Tipos de Treinamento Categorias de Qualificação Ocupacional Tipos de Treinamento Semi qualificado

Qualificado Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Tipos de Treinamento

TIT. PO ITT. PO TIL PO TIT. PO Métodos c Téc. Gerenciais e de Coord 1,7 0,4 3,3 1,5 11,9 23,1 23,5 49,3 Cursos de Controle de Qualidade 14,2 14,4 20,0 31,3 24,8 56,4 28.4 42,2 Cursos de Línguas Estrangeiras 1,7 1,1 1,7 0,7 2,8 4,0 2,9 15,9 Cursos de Relações Humanas 9,2 20,0 12,5 27,0 13,8 43,3 20,6 49,3 Cursos de Informática 5,0 5,9 13,3 29,2 21,1 55,5 19,6 35,1 Cursos Específicos de Curta Duração 11,7 18,9 19,2 28,0 28,4 66,5 28,4 54,1 Segurança e Higiene no Trabalho 23,3 30.6 27,5 46.5 31,2 66.3 97.5 49.3 Operação de Máquinas/ Equipamentos 16,7 32,0 26,7 51,0 30,3 78,0 25,5 63,9 Operação de Processo 10,0 16,9 19,2 38,7 23,9 66,5 25.5 58.5 Outro 4,2 4,0 5,0 4,1 3,7 21,5 2,9 6,4

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (ÍIO treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade. (2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento fora do posto de trabalho, e não ao número de empregados treinados. NOTA: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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1

Para o pessoal administrativo, os tipos de treinamento mais oferecidos em todas as categorias de qualificação são os cursos de informática e os específicos de curta duração. Seguem-se os de controle de qualidade, de relações humanas e de segurança e higiene no trabalho. A oferta do curso de métodos e técnicas gerenciais e coordenação cresce conforme a hierarquia, sendo intensa para os profissionais de nível superior.

Reproduzindo um comportamento brasileiro, ao comparar-se a oferta de cursos para o pessoal administrativo e para o pessoal ligado à produção, os cursos de métodos e técnicas gerenciais, de relações humanas e de informática são mais oferecidos para o primeiro grupo, enquanto os de operação e manuseio de máquinas e equipamentos e de operação de processos favorecem mais o segundo. Importantes tanto para o pessoal ligado quanto para o não-ligado à produção, são os cursos de controle de qualidade, os específicos de curta duração e os de segurança e higiene no trabalho.

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TABELA 3.25 - Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do Posto de Trabalho (1) e Respectivo Pessoal Ocupado (2), por Categoria de Qualificação Ocupacional do Pessoal Administrativo, segundo Tipos de Treinamento, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-

Em porcentagem

Tipos de Treinamento Categorias de Qualificação Ocupacional

Tipos de Treinamento Básico Técnico de Nível Médio Nível Superior Tipos de Treinamento UL PO UL PO UL PO

Métodos e Téc. Gerenciais e de Coord. 11,6 18,8 21,9 33,7 30,7 58,8 Cursos de Controle de Qualidade 20,7 31,9 20,2 21,8 22.8 34.5 Cursos de Línguas Estrangeiras 7,4 19.7 7,9 17,1 9.7 23,9 Cursos de Relações Humanas 20,7 35.9 24,6 45.3 25.4 44,2 Cursos de Informática 33,9 61,9 32.5 50.4 33,3 54,7 Cursos Específicos de Curta Duração 24,0 33,5 29.8 57,9 30.7 51.3 Segurança e Higiene no Trabalho 21.5 29,7 21.9 21,5 22,8 30,0 Operação de Máquinas/Equipamentos 11.6 16,7 11,4 14,4 11,4 20,3 Operação de Processo 9,1 14,6 9.7 16.6 11,4 1 9.6 Outro 3,3 1,4 4.4 2,6 6.1 5,8 FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) O treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade. (2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento fora do posto de trabalho, e não ao número de empregados treinados. Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.

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3.4.6 - Caracterização geral das empresas inovadoras

O Estado de Alagoas apresenta uma indústria pouco diversificada, e sua especialização produtiva está centrada em segmentos de média e baixa intensidade tecnológica. A atividade industrial concentra-se em poucos segmentos, na maior parte produtores de bens intermediários e bens de consumo não-duráveis, enquanto os segmentos de bens de capital e de consumo duráveis estão modestamente representados. As principais divisões da indústria do Estado são as indústrias de alimentação e bebidas, químicas e combustíveis (que contêm a produção de álcool combustível).

Os indicadores de difusão tecnológica são coerentes com esse quadro produtivo, demonstrando, também, o padrão de especialização e de desenvolvimento industrial e tecnológico da região. Por sua vez, as informações sobre o desempenho inovador da indústria alagoana refletem o baixo dinamismo tecnológico da economia industrial regional, expresso no grupo bastante restrito de empresas inovadoras. Comparada ao percentual médio de empresas brasileiras, a indústria de Alagoas ocupa um patamar bastante inferior. Em relação aos Estados do Nordeste, o desempenho inovador da indústria alagoana aproxima-se da Ba­hia e Sergipe, entre outros, e fica bem abaixo do constatado no Ceará e Pernambuco.

A tabela seguinte dimensiona a amostra analisada, situando as empresas que responderam ao questionário de inovação tecnológica e aquelas classificadas como inovadoras no universo das empresas alagoanas. Responderam ao suplemento de inovação tecnológica 40 empresas (38% das empresas alagoanas), sendo que 14 ou, em termos relativos, 1 3 % das empresas afirmaram ter introduzido, no período de 1995-1999, alguma inovação de produto ou processo.

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TABELA 3.26 - Participação das Empresas Inovativas no Universo das Empresas Alagoanas, Estado do Alagoas, 1999.

Tipos de Empresa ISP Abs. % Empresas Unilocais 84 Empresas Multilocais com Sede Alagoas 20 Total de Empresas Alagoanas 104 100,0 Universo de Aplicação do Suplemento 40 38,5 Empresas que Fizeram Alguma Inovação 14 13,5

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

Do total de empresas analisadas, 35% realizaram algum tipo de inovação (em produto e/ou processo) no período de 1995-1999. O comportamento da taxa de inovação demonstra que 43% cias empresas inovaram em produto e processo. Em grandes linhas, esse comportamento sugere que as empresas que já desenvolvem atividades inovativas acumulam capacitação tecnológica e, conseqüentemente, recursos e conhecimentos que serão utilizados para empreender novos tipos de inovação em produto ou em processo.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 157

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TABELA 3.27 - Distribuição das Empresas Inovadoras por Tipo de Inovação, segundo Categorias de Uso e Divisão Selecionada, Estado do Alagoas, 1999.

Em porcentagem

Indústria Realizaram Inovaram Inovaram Inovaram Algum tipo só em só em em Produto de Inovação w Produto | 2 ) Processo ( 2 ) e Processo <*>

Total 35,0 28,6 28,6 42,9

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer. (1) Percentual sobre o total de empresas pesquisadas. (2) Percentual sobre o total de empresas inovadoras. (3) O grupo II, referente à categoria de bens de capital e de consumo duráveis, foi excluído da amostra deste suplemento devido ao fato de nenhuma unidade ter respondido afirmativamente, quanto a ter realizado uma inovação de produto, de processo ou um projeto tecnológico mal sucedido.

O agente mais acionado para o desenvolvimento de inovações de produtos (80%) ou de processo (70%) foi exclusivamente a própria empresa. Muito embora deva ser considerada fraca, houve a interação com as empresas e com outras instituições (empresas ou institutos de pesquisa) no desenvolvimento das atividades relacionadas a P&D e a inovação.

3.5 - A economia dos serviços em Alagoas No setor serviços é o turismo que mobiliza as expectativas de

crescimento econômico. A aglomeração de Maceió vem destacando-se como pólo estadual de atividade turística. Os dados de 1998, da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), registram, na capital, 250 mil hóspedes, constatando a importância dessa atividade.

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Mesmo possuindo um grande potencial agrícola, turístico, recursos naturais e humanos e apresentando crescimento

elevado do seu Produto Interno Bruto (PIB) por um período muito longo, sempre esteve entre os Estados do Brasil que exibiam as piores taxas de ocupação produtiva de sua população. Isso ocorria mesmo nas décadas de 60 e 70, quando os investimentos federais eram altos, a população ocupada formalmente era pequena, os rendimentos eram baixos e a emigração em direção ao Sudeste, muito particularmente para São Paulo, muito elevada. Lira (1998, p.10).

Localizado numa região de baixo nível de acumulação, dependente, heterogêneo, com crescimento econômico muito concentrado, o Estado não tem um projeto de inc lusão econômica próprio e, muito menos, uma política voltada para o emprego produtivo das pessoas em idade ativa. Por isso mesmo, sua força de trabalho é relativamente pequena, a menor do Nordeste, com uma taxa de atividade de apenas 54,9% das pessoas em idade ativa, gerando um quadro de miséria que, de acordo com dados de Marcelo Nere, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2000, chega a 44,43% do total da população com renda de até R$ 80,00.

Na verdade, essa pobreza é historicamente conhecida, mas ela se agrava a partir da segunda metade da década de 80, quando a economia brasileira entra em crise financeira, reduzindo drasticamente as transferências de recursos para o Estado e o setor privado. A partir daí, inicia-se o que viria a ser o mais longo processo de estagnação do setor privado e de crise fiscal do Estado, desaquecendo todas as outras atividades econômicas e inibindo a ação dos setores público e privado na geração de ocupações produtivas.

São cinco os segmentos do setor de serviços avaliados no Estado de Alagoas: alojamento e alimentação; transporte; saúde; distribuição e instalações de energia elétrica, gás, água e

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 159

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telecomunicações; e demais serviços. A tabela 3.7 apresenta informações de 280 unidades locais, com mais de 20 pessoas ocupadas, responsáveis por 17.872 empregados em 31/12/2001, sendo grande parte dessas unidades locais pertencentes ao segmentos de alojamento e alimentação e saúde.

Tabela 3 . 2 8 -Unidades Locais e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas 1999.

Segmento Unidades cocais Pessoal Ocupado Segmento Número % Número %

Total 180 100,0 17.872 100,0 Akjprrertoe Alimentação 62 34,4 3.188 17,8 Transporte 30 16,7 4.879 27,3 Saúde 48 26,7 6.173 34,5 Eletriddade, Gás e Agua e Telecomunicações 21 11,7 2.175 12,2 Demais Serviços 19 10,6 1.457 8,2

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -Paer.

Além de demonstrar relevância em relação ao número de unidades locais, o segmento de saúde é o que mais emprega, 34,5% do pessoal ocupado no setor, seguido pelo transporte, responsável por 27,3% desse pessoal. O menor segmento é o de demais serviços, com 19 unidades locais e 1.457 pessoas ocupadas, que representam 8,2% do total do setor. (Ver tabela 3.28).

A distribuição das unidades e dos empregados do setor de serviços do Estado demonstrou uma grande concentração espacial, com cerca de 82% das unidades e 87% do pessoal ocupado localizados na microrregião de Maceió. A concentração é ainda maior quando se observam os segmentos de alojamento e alimentação, transporte e demais serviços.

160 Femando José de Lira

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TABELA 3.29 - Distribuição Regional das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem Segmento Microrregião

de Maceió Demais Regiões Segmento

UL PO UL PO Total 81,7 87,5 18,3 12,5 Alojamento e Alimentação 91,9 89,9 8,1 10,1 Transporte 86,7 95,0 13,3 5,0 Saúde 70,8 79,9 29,2 20,1 Eletricidade, Gás, Agua e Telecomunicações 66,7 84,2 33,3 15,8 Demais Serviços 84,2 93,9 15,8 6,1

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

Apesar de uma distribuição das unidades locais relativamente igual entre as faixas de porte selecionadas, nota-se que, no segmento de alojamento e alimentação, predominam as unidades de menor porte, com 20 a 29 pessoas ocupadas, ao passo que, no de transporte, 43,3% das unidades possuem 100 ou mais pessoas ocupadas.

Segundo o ano de início de operação da unidade local, nota-se que 42,2% iniciou sua operação a partir de 1990. Já a década de 70 foi a que apresentou menor participação no total das unidades do setor. Os últimos dez anos foram de grande relevância para as empresas do segmento alojamento e alimentação. Nesse período, mais de 6 1 % das unidades deram início às suas operações. Os segmentos saúde e demais serviços são aqueles com maior presença de unidades locais que iniciaram antes de 1970. (Ver tabela 3.29).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 161

Page 169: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 3.30 - Distribuição das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado, por Período de Início de Operação, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem Segmento Período de Início de Operação Segmento

Até 1969 1970 c 1979 Segmento

UL PO UL PO UL PO Total 23,3 37,9 13,9 13,1 20,6 17,2 Alojamento e Alimentação 3,2 1,9 8,1 13,4 27,4 24,5 Transporte 20.0 19.8 6.7 10.7 40.0 39.7 Saúde 41,7 68,7 18,8 7,3 10,4 3,4 Eletricidade, Gás e Agua e Telecomunicações 28,6 53,1 28,6 14,0 4,8 1,6 Demais Serviços 42,1 24,2 15,8 43,7 10,5 7,6

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

Page 170: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 3.31 - Unidades Locais e Respectivo Pessoal O c u p a d o , por Tipo de Empresa, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Segmento Uni

Tipo de Empresa ocal Multilocal

Segmento

UE % PO % III. % PO % Total 122 67,8 13.083 73,2 58 32,2 4.789 26,8 Alojamento e Alimentaçãi ) 48 77,4 2.262 71,0 14 22,6 926 29,1 Transporte 16 .53,3 3.630 74.4 14 46.7 1.249 25,6 Saúde 40 83,3 5.727 92,8 8 16,7 446 7,2 Eletricidade, Gás, Água e T p W n m n n i r a c õ P S 1(1 47.6 5R0 ?f>7 11 52.4 1 595 7.3.3 Demais Serviços 8 42,1 884 60,7 11 57,9 573 39,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: Percentual de respostas afirmativas sobre o total de unidades locais pertencentes a empresas que pretendem investir na mesma atividade da unidade, nos próximos três anos.

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Page 171: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

Como decorrência do investimento, 79,5% das unidades locais pertencentes a empresas que pretendem investir declararam aumento do número de pessoal ocupado. Somente 4,3% afirmam que ocorrerá diminuição do pessoal em certas funções.

3.6 - Emprego e recursos humanos Nos segmentos de serviços no estado de Alagoas, foram

analisadas informações quantitativas e qualitativas de emprego segundo a inserção dos ocupados na unidade e níveis de qualificação profissional. Por sua vez, o pessoal ocupado, ligado à atividade prin­cipal, foi dividido, segundo as exigências de suas ocupações, em quatro categorias: seirúqualificados, qualificados, técnicos de nível médio e técnicos de nível superior (LIRA, 1998, p.40). O pessoal não-ligado à atividade principal está dividido em dois grupos: o dos que trabalham nos departamentos administrativos, gerenciais, de pessoal, contabilidade, vendas, informática e t c , chamado de administrativo, por sua vez subdividido em três categorias: aolministrativo básico, técnico e nível superior; e o dos demais, que engloba várias atividades (manutenção, limpeza etc).

Relativamente a rotinas de trabalho, carências de qualificação dos empregados, requisitos para contratação, instrumentos de seleção e treinamento de empregados, foi feito um levantamento cujos resultados serão apresentados a seguir. Referem-se às sete categorias de qualificação: quatro ligadas à atividade principal e três referentes ao pessoal adrninistrativo, a saber, os trabalhadores qualificados, o pessoal administrativo básico e os técnicos de nível médio.

Cerca de 99% das 17.872 pessoas ocupadas no setor alagoano de serviços são assalariadas, sendo que 12.080 trabalham na atividade principal da empresa e 3.462 têm função administrativa. O segmento de alojamento e alimentação é o que demonstrou maior participação do pessoal não-assalariado no seu quadro, enquanto o segmento de eletricidade, gás, água e telecomunicações é o que possui maior participação de pessoal administrativo.

164 Fernondo José de Lira

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TABELA 3.32 - Pessoal Ocupado Assalariado ou Não, por Tipo de Inserção na Unidade, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Segmento Assalariado Total

Não Assalariado

Total Segmento Ligado à Atividade Principal

Não Ligado à Atividade Principal

Total Não Assalariado

Total Segmento Ligado à Atividade Principal

Administrativo Ontrn (V\

Total Não Assalariado

Total

Tntal I2.N«N 1 4 6 ? ? 1 3 0 17.67? 7 0 0 1 7 . 1 8 ? % 6 7 . 6 1 9 . 4 1 1 . 9 9 8 . 9 1-1 1 0 0 . 0 Alojamento e Alimentarão 7 7 7 4 451 4 7 8 3 10.3 8 5 3 . 1 8 8 0/ Ai 6 9 . 8 1 4 . 2 1 3 . 4 9 7 . 3 2 .7 1 0 0 . 0 0 Transporte 4 . 1 3 8 4 7 6 2 4 4 4 . 8 5 8 21 4 . 8 7 9 0/ /o 8 4 , 8 9 .8 5,0 9 9 . 6 0 .4 1 0 0 . 0 0

ÇaiiHp s .191 1 4 0 ? 1 ? ? ? 6 11."- «•« h \~-\ <-f» 6 ? ? 7 1 9 8 9 9 1 0 9 1 0 0 0 0

Eletriddade, Gás e Agua e Tefexmunicacces 1 . 295 8 0 8 6 6 2 . 1 6 9 6 2 . 1 7 5 0/ In 5 9 .5 3 7 . 7 .3.0 9 9 . 7 0 .3 1 0 0 . 0 Demais Serviços 9 3 2 3 2 5 1 7 0 1 . 4 2 7 30 1 . 475 o/ /o 6 4 , 0 2 2 , 3 11 ,7 9 7 , 9 2 ,1 1 0 0 , 0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) Inclui manutenção, vigilância, limpeza e outras, como cozinha, exclusive as do segmento de alimentação. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

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Considerando as categorias de qualificação ocupacional do pessoal ligado à atividade principal, nota-se que 60,6% são qualificados, com os semiqualificados ocupando a segunda maior categoria do setor. Analisando os segmentos separadamente, percebe-se a relevância do pessoal qualificado, principalmente no segmento de transporte, que tem cerca de 89% do seu pessoal assalariado ligado à atividade, classificado nessa categoria. O pessoal de nível superior, por sua vez, ganha destaque na composição do segmento de demais serviços, na qual 20,5% do pessoal está classificado. O segmento de saúde tem maior participação relativa do pessoal braçal e de menor qualificação. (Ver Tabela 3.33).

166 Fernando José de Lira

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TABELA 3 .33 - Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade Principal, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional Segmento Braçal e de Menor Qualificação

Semi qualificado

Qualificado Técnico de Nível Médio

Nível Superior Total

Total 501 2.433 7.322 1.002 821 12.080 Alojamento c Alimentação 45 879 1.189 81 29 2.224 Transporte 54 345 3.679 49 11 4.138 Saúde 327 589 1.553 541 481 3.491 Eletriddade, Gás, Agua e Telecomunicações 41 483 448 214 109 1.295 Demais Serviços 34 137 453 117 191 932

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

Page 175: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 3.34 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade Principal, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional Segmento

Braçal e de Menor Qualificação

Semi-qualificado

Qualificado Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Total

Total 4,2 20,1 60,6 8,3 6,8 100,0 Alojamento e Alimentação 2,0 39,5 53,5 3,6 1,3 100,0 Transporte 1,3 8,3 88,9 1,2 0,3 100,0 Saúde 9,4 16,9 44,5 15,5 13,8 100,0 Eletricidade, Gás e Água e Telecomunkações 3,2 37,3 34,6 16,5 8,4 100,0 Demais Serviços 3,7 14,7 48,6 12,6 20,5 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

Page 176: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

Observando o papel de cada segmento na absorção de mão-de-obra ligada à atividade principal, segundo a categoria de qualificação ocupacional, nota-se que tendem a destacar-se os segmentos com maior número de empregados. Mesmo assim, percebe-se que, apesar de o segmento de saúde ser o que mais emprega pessoal de nível superior (58,6% dos empregados dessa categoria), os demais serviços (o segmento com menor número de pessoal ocupado) demonstram papel relevante na absorção dessa mão-de-obra, já que ocupam 23,3% das pessoas dessa categoria. Nota-se, também, segundo essa análise, que o segmento de saúde emprega 65,3% do pessoal braçal e de menor qualificação do setor de serviços de Alagoas. (Ver tabela 3.34, 3.35, 3.6 e 3.37).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 169

Page 177: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 3 .35 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade Principal, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001 .

Em porcentagem Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional

Braçal e Semi Qualificado Técnico de Nível Total de Menor qualificado Nível Superior Qualificação Médio

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 AbjamaitD e AKmertíação 9,0 36,1 16,2 8,1 3,5 18,4 Transporte 10,8 14,2 50,3 4,9 1,3 34,3 Saúde 65,3 24,2 21,2 54,0 58,6 28,9 Eletriddade, Gás, Água e Telecomunicações 8,2 19,9 6,1 21,4 13,3 10,7 Demais Serviços 6,8 5,6 6,2 11,7 23,3 7,7

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

Page 178: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

' Sobre a qualificação do pessoal administrativo, nota-se que 67,5% pertencem à categoria ocupacional de nível básico, 19%, à de técnico de nível médio, e 13,5%, à faixa de nível superior.

TABELA 3.36 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, em Atividades Administrativas, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional Segmento

Básico Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Total

Total 67,5 19,0 13,5 100,0 Alojamento e Alimentação 52,8 25,9 21,5 100,0 Transporte 63,2 16,0 20,6 100,0 Saúde 77,8 16,0 6,3 100,0 Eletricidade, Gás, Água e Tdecomunicações 63,2 21,4 15,4 100,0 Demais Serviços 60,9 20,6 18,5 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. NOTA: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 171

Page 179: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

O segmento de saúde, por ser o que mais emprega pessoal administrativo, destacou-se na contratação de pessoal de nível básico e na de técnicos de nível médio. O segmento de distribuição de eletricidade, gás, água e telecomunicações é o que mais emprega pessoal de nível superior na atividade administrativa.

TABELA 3.37 -Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, em Atividades Administrativas, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional Segmento

Básico Técnico de Nível Médio

Nível Superior

Total

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Alojamento e Alimentação 10,2 17,8 20,8 13,0 Transporte 12,9 11,0 21,0 13,8 Saúde 46,6 34,1 18,8 40,5 Eletricidade, Gás, Água e Telexmunica^es 21,9 26,3 26,6 23,3 Demais Serviços 8,5 10,2 12,9 9,4

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. NOTA: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

172 Fernando José de Lira

Page 180: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

3.7 -Requisitos de Escolaridade Formal

Em relação a escolaridade formal dos empregados, as exigências, feitas pelas unidades do setor de serviços para contratação do pessoal semiqualificado e qualificado, ligado à atividade principal, e para a do pessoal administrativo básico estão apontadas na tabela 3.38.

TABELA 3.38 - Distribuição das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado (1), por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento e Nível de Escolaridade Exigido para a Contratação da Maior Parte dos Empregados, Serviços, Estado de Alagoas, 2001.

continuação Lm porcentagem

Segmento e Nivel de Escolaridade

Pessoal Aliv Prii*

Semun

Categoria de Qualificação Ocupacional

Segmento e Nivel de Escolaridade

Pessoal Aliv Prii*

Semun

Ligado 4 idade -ipal -alificado

Pessoal Ligado a Atividade Principal

- Qualificado

Pessoal Nao-Ligado à Atividade Principal -Administrativo Básico Segmento e Nivel de Escolaridade

UL I PO UL ! PO UL 1 PO Tot.il

Nenhum 9,6 6,3 3,0 0,9 0,6 0,1, Quarta Serie do Ensino Fundamental 41,1 37,0 16,2 9,? 5.1 1,? Ensino Fundamental Completo 28,1 43,1 38,3 42,4 20,4 19,31 Ensino Médio Completo 21,2 13.S 41,9 47,2 71,3 76,7 Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,6 0,2 1,9 IS Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0.0 0,6 0,2

Mojjiiiento o Alinu-nt.lt.io Nenhum 12,1 7,! 4,í 3,9 2,1 Quarta Serie do Ensino Fundamental 46.6 55,3 27,4 US,» i2,a 5,c Ensino Fundamental Completo 29,3 23,3 32,3 31,4 31,9 25,2 Ensino Médio Completo 12.1 13,7 35,5 45,9 51,1 62,9 Edueaçflo Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,8 Educação Superior Completa 0,ü iu- 0,0 0,0 0,0 0,C

Transporte Nenhum 15,4 i-1.? 3,3 0.5 0,0 O.Ol Quarta Série do Ensino Fundamental 50.Ü 46.1 23.3 10,6 3,6 4,7 Ensimi lundanu-nlal Completo 23.1 22,6 33,3 48.3 14,3 21,3 Ensino Médio Completo 11.5 16,8 20,0 40.6 78.6 72.S Educação Superior Incompleta 0.Ü 0.0 0,0 0,0 0.0 o.d Educação Superior Completa O.C 0,0 0,0 0.0 3,6 1,3,

Saúde Nenhum 2,7 3,1 0,0 0,1» 0,0 o.c Quarta Série do Ensino Fundamental Ensino Fiiiidamenl.il Completo

32.4 2').',

18,5 64.7

4,9 29.3

1,9 35,<

0,0 13.3

o,c 3,6

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 173

Page 181: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

conclusão Em porcentaueni

Categoria de Qualificação Ocupacional

Segmento e Nível de Escolaridade

Pessoal Ligado a Atividade Principal -•iiq.i >Ji/icacio

Pessoal Ligado a Atividade Principal

-Qualificado

Pessoal Náo-Ligado à Atividade Principal -Administrativo Básico

UL PO UL PO UL PO Ensino Médio Completo 35,1 13,8 65,9 62,1 86,7 96,4 Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 0.C Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 o,c

Eletricidade, Gás, Água e Telecomunicações Nenhum 7,7 3,1 5,6 0,2 0,0 o,c Quarta Série do Ensino Fundamental 38,5 14,1 0,0 0,C 0,0 o,c Ensino Fundamental Completo 30,8 77,2 55,6 69,C 20,0 53,4 Ensino Médio Completo 23,1 5,6 38,9 30,e 75,0 41,7 Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,C 5,0 4,Ç Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 o,c

Demais serviços Nenhum 8,3 3,7 0,( 0,1 0,0 o,c Quarta Série do Ensino Fundamental 25,0 56,2 6,: 7, 5,9 2,C Ensino Fundamental Completo 25,0 8,8 37,: 19, 17,7 7,1 Ensino Médio Completo 41,7 31,4 50,C 69, 70,6 81,8 Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 6,: 3/ 5,9 9,1 Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,C 0,1 0 4 o,c

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) Refere-se ao pessoa! ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades que exigem determinada escolaridade para contratação da maior parte dos empregados, e não, ao número de empregados que apresentam tal escolaridade.

NOTA: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais onde existe a categoria de qualificação ocupacional.

No setor serviços, o requisito mais exigido para contratação do pessoal semiqualifiçado, ligado à atividade principal, é a quarta série do ensino fundamental, seguido pelo ensino fundamental completo. Já o ensino médio completo é o requis i to mais exigido na contratação do pessoal qualificado e do pessoal não-ligado à atividade principal. (Ver tabela 3.39).

174 Fernando José de Lira

Page 182: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

Nos segmentos de saúde e demais serviços, a exigencia para a contratação do pessoal semiqualificado, ligado à atividade principal, é o ensino médio completo.

No segmento de transporte e de distribuição de eletricidade, gás, água e telecomunicações, a exigência para a contratação de pessoal qualificado, ligado à atividade, mostrou-se menor, uma vez que o requisito mais exigido é o ensino fundamental completo. (Ver tabela 3.39).

Nota-se que o trabalho em equipe e o contato com clientes são os tipos de rotinas mais presentes nas unidades pesquisadas, em todas as categorias ocupacionais. A expressão e a comunicação verbais, bem como o conhecimento técnico atualizado incluem-se entre as rotinas muito apontadas pelas unidades locais, com uma menor intensidade na faixa do pessoal semiqualificado, ligado à atividade principal.

Na rotina do pessoal não-ligado à atividade principal, ou seja, o pessoal de área administrativa, o uso de microcom­putadores e o de matemática básica estão bastante presentes. A utilização de língua estrangeira ainda é pequena na rotina dos profissionais do setor serviços, de forma geral.

As carências de noções básicas de língua estrangeira e de conhecimentos de matemática básica são os fatores menos apontados como prejudiciais ao desempenho profissional de todas as categorias de qualificação ocupacional. A falta de capacidade de comunicação por escrito, de conhecimento de informática e a dificuldade de aprender novas habilidades e funções também não foram itens apontados como de grande relevância no desempenho das atividades do pessoal ocupado no setor.

Já a falta de conhecimento específico da ocupação, a dificuldade de expressão e comunicação verbais e a falta de habilidade para lidar com clientes foram os fatores mais apontados como prejudiciais ao desempenho profissional. (Ver tabela 3.20).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 175

Page 183: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 3.39 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional da Maioria dos Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado (1). por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipo de Fator Prejudicial ao Desempenho Profissional, Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

E m porcentagem]

T i p o d e F a t o r Prejudicial a o Desempenhi Profissional

C a t e g o r i a d e Qualif icação O c u p a c i o n a l

Pessoal L i g a d o à A t i v i d a d e Principal

S e m i q u a -lificado

Qualificado

UL I P O

[Técnico de| Nível Medio

H l . I l ' 0

Nível Super ior

UL P O

Pessoal N ã o - L i g a d o à At ividade Principal - Adminis t ra t ivo

Básico

U L I P O

T é c n i c o d e Nível M é d i o

U L P O

Nível Super ior

i ' i . ' l ro Falta de C o n h e c i m e n t o Específico da O c u p a ç ã o Falta d e C o n h e c i m e n t o d e Informática Dificuldade de E x p r e s s ã o e C o m u n i c a ç ã o Verbais Falta de C o n h e c i m e n t o de Matemát ica Básica Falta d e Habi l idade p a r a Lidar c o m Cl ientes Falta d e C a p a c i d a d e d e C o m u n i c a ç ã o p o r Escrito Dificuldade d e T r a b a l h o e m E q u i p e Dificuldade de A p r e n d e r N o v a s HabiL e F u n ç õ e s Falta de Noções Básii as de Língua Estrangeira

46,6 60,8 40,7 35,7 29,0 35,8 31,5 35,0 37,3 37,7 36,8 383 31,7 26,1

13.1 8,4 25,3 15,0 23,7 26,2 22,0 15,7 4 Z 4 36,1 43,1 37,4 39,1 30.Ü

47.3 55,8 41,3 35,5 34,2 37,2 34,8 28,0 40,5 35,2 39,3 35,4 35,3 40,9,

24,0 23,0 23,4 19,0 20,2 11,9 19,6 14,9 26,6 21,9 29,1 23,2 28,1 18,2j 40.4 48,0 43.1 36,8 32,5 32,1 30,4 25,2 39,2 34,4 35,0 26,2 35,3 24,8 32.2 29,3 33,5 32,1 24,6 16,4 21,7 20,7 31,0 27,7 26,5 21,8 27,3 18,4

35.6 40,6 33,5 36,7 30,7 40,1 29,4 28,1 31,0 36,9 28,2 34,5 31,7 20,l|

37.7 44,8 35,3 32,6 26,3 29,7 25,0 25,0 30,4 36,4 29,9 36,3 29,5 20,1

19,2 15.3 19,8 9,3 21,1 10,9 18,5 1 4 3 133 6,7 16,2 11,4 20,1 13,1

FONIE: Fundação Seade. Pesquiso da Atividade Econômica Regional - Paer. (1) Relere-se ao pessoal ocupado, em c a d a categoria de quali f icação ocupacional , das unidades em que existem fatores prejudiciais ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam tais fatores. Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais onde existe a categoria de qualif icação ocupacional.

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As escolas classificadas como "outras" foram as principais fornecedoras de mão-de-obra para as unidades locais que privilegiam escolas profissionalizantes no processo de contratação (28,5% das unidades). No entanto, as escolas técnicas federais, apesar de serem apontadas como fornecedoras de mão-de-obra por um número menor de unidades (15,6%), são responsáveis por um maior número de pessoas ocupadas.

O segmento de alojamento e alimentação privilegia, principalmente, o Senac como fornecedor de mão-de-obra, enquanto as escolas técnicas federais são as principais fornecedoras do segmento de distribuição de eletricidade, gás, água e telecomunicações.

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Capítulo IV

4.1 - Ocupação, renda e exclusão Como já observamos, o padrão de desenvolvimento

adotado no Estado não priorizou a educação como instrumento importante de ocupação, de distribuição e crescimento sustentável da renda. Sabemos que, entre os trabalhadores e pequenos empreendedores rurais e urbanos, a educação é um grande e importante atributo na produção, na organização e na gestão dos negócios. Por isso, quanto mais bem-distribuído esse atributo no interior da população, principalmente na população economicamente ativa, menor será a desocupação e melhor será a renda.

Alagoas registrou, em 1999,32/3% do total das pessoas de 15 anos ou mais de idade como sendo analfabetas. E o Estado que possui a maior taxa de analfabetismo nessa faixa de idade. Na faixa de 10 anos ou mais, 58,4% eram analfabetas funcionais. No meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de 53,04% e, no meio rural, de 79,88%.

Em relação à taxa líquida de escolaridade da população -relação entre o número de alunos na faixa etária adequada, matricula em deterrninado nível de ensino e a população nessa mesma faixa etária - a tabela 4.1 apresenta, em 1998, 86,3% e 11,5% no ensino fundamental e no ensino médio, respectivamente.

Quando comparadas as taxas de escolaridade estaduais às regionais e às nacionais, percebe-se que tanto as do ensino médio como as do fundamental ficaram abaixo das verificadas no Nordeste e no Brasil, constatando-se taxas de 90,0% e 14,5% para o Nordeste e 95,3% e 30,8% para o Brasil.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 179

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TABELA 4.1 - Alagoas: Taxas líquidas de escolaridade por nível de ensino no Brasil, Região Nordeste e Estado de Alagoas, em 1998.

Regiões Educação Ensino Ensino Pré-Escolar Fundamental Médio

1991 1998 1991 1998 1991 1998 Alagoas 29,0 - - 73,4 86,3 9,2 11,5 Nordeste 37,6 - - 72,5 90,0 9,4 14,5 Brasil 34,7 - - 86,1 95,3 17,7 30,8

FONTE: MEC/lnep.

Como demonstram os dados, o padrão de desenvolvimento pouco valorizou a educação, o que concorreu, entre outras coisas, para a elevada desocupação desigualdade da renda e baixa mobilidade social; para a alta incidência de pobreza e pouca acumulação de capital humano na população em idade ativa (PIA).

A educação formal da população é importante porque, além de possibilitar novas perspectivas de ocupação e renda, permite que os ocupados empregados ou pequenos empreendedores agreguem mais valor ao produto, melhorem a organização, a gestão, o processo de produção e, sobretudo, percebam mais facilmente os canais de comercialização dos seus produtos.

A educação também serve de base para uma maior acumulação de capital social, na medida em que os empregados e pequenos empreendedores percebem mais claramente a importância da cooperação, da integração horizontal, da inovação tecnológica, bem como da democratização do saber e das informações, que são elementos-chaves para o aumento e a sustentabilidade dos ocupados e de suas rendas.

180 Fernando José de Lira

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A tabela 4.2 mostra que, em 1999, o Estado tinha 243 mil aposentados e pensionistas que representavam quase 9% da população. Nas cidades, eram 184 mil e, no campo, 59 mil pessoas vivendo nessa condição. Em alguns municípios, a principal fonte de renda familiar vem da aposentadoria de 1 a 2 membros que são clientes preferenciais do comércio local e que sustentam toda a família, a qual se encontra desocupada e sem qualquer perspectiva de inclusão no mercado de trabalho.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 181

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Os dados vêm comprovar, portanto, que parte importante dessa exclusão decorre da falta de oportunidade de ocupação, pois temos uma PIA não ocupada que cresceu à taxa de 3,2% ao ano, aumentando de 939 mil pessoas, em 1992, para 1.167 mil, em 1999. A taxa de desemprego urbano, nos últimos dez anos, teve um incremento de 4,9% ao ano; a do meio rural aumentou em 4 , 1 % ao ano. Atualmente, grande número de pessoas ocupadas como catadores de lixo, alta proporção de trabalhadores de baixa ou nenhuma qualificação e uma perversa política de educação e social assistencialista.

A tabela 4.2 esclarece, ainda, que, em 1999, a população em idade ativa (PIA) de Alagoas era de pouco mais de 2.088 mil pessoas, mas a economicamente ativa (PEA) era quase metade da PIA. Já a população ocupada representava tão somente 44% da PIA, ou seja, quase 60% da população em idade ativa encontrava-se na inatividade, significando dizer que a taxa de atividade era de 54,9%, a mais baixa do Nordeste e, no meio rural, em torno 60%, a quarta mais baixa do Nordeste; e a urbana, de 52,2%, a menor do Nordeste e do Brasil.

No rural, os h o m e n s t inham uma part ic ipação nas ocupações de 74,4%, e as mulheres, de 46,5%. Nas cidades, a proporção cai para 63,9% dos homens, e as mulheres participam com41,9%. Assim, tanto para os homens quanto para as mulheres, a inserção no total dos ocupados é maior no campo do que no meio urbano, comprovando que o número de pessoas em idade ativa que estavam na inatividade era maior no meio urbano. De fato, em 1999, as cidades tinham 624 mil pessoas ativas na inatividade e o rural, apenas 254 mil.

Portanto, as possibilidades de ocupação no meio urbano eram muito menores do que as existentes no meio rural. A tabela 4.2 indica que, além de o ambiente urbano ter um maior número de inativos, a taxa de desemprego era de 18,6%, e a do rural, de 6,9%, indicando a saturação da capacidade de geração de ocupação na área urbana, principalmente na periferia das cidades.

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TABELA 4.2: População não-ocupada segundo a área censitária dos domicílios, situação dos domicílios e Ramos de atividades. Alagoas, 1992-99. População de 10 anos ou mais.

ARKA C E N S I T Á R I A 1992 |W, 1995 1996 1 997 1.998 1999 taxa 1992/99

laxa pi».,, " i

*. *a S I T U A Ç Ã O D O S D O M I C I L I O S

1 997 taxa 1992/99

laxa pi».,, " i

*. *a R A M O S D E A T I V I D A D E S (1000) (1.000) (1.000) (1 000) (1 000) (1.000) d ooo) "a

laxa pi».,, " i

*. *a r< ' I A i 2.538 2.565 2.617 2.642 2.669 2.694 2.719 1,0 1.0

População de 10 .«nos ou mais ] 1.904 1 978 2.024 l o . . : 2.086 1,6 1,0 População ocupada População nto-ocupada

950 892 990 893 959 92h 920 -0,1 (1.5 População ocupada População nto-ocupada »W 1.012 988 1.129 1.108 1 157 I 167 3,1 1.4

Procurando emprego Aposentados e/ou i lu s ion i s tas Outros inabvos

94 111 90 78 83 130 159 4,8 29.5 Procurando emprego Aposentados e/ou i lu s ion i s tas Outros inabvos

154 216 20.. 207 22í> 25.1 243 5,3 5.9 Procurando emprego Aposentados e/ou i lu s ion i s tas Outros inabvos 691 685 693 .-.44 799 778 765 2,2 •3.2

T O T A L U R B A N O 1.541 1 5<>5 1 ,.<«) 1 ool 1.747 1748 1 775 2,0 2,0 População de 10 anos ou mais 1 I S " 1 24.. 1325 1.315 1 177 1-372 1 40S 2,3 2.0

PopiUaçao ocupada População não-ocupada

5o8 551 620 563 605 583 585 0,7 0.8 PopiUaçao ocupada População não-ocupada 617 1,95 704 752 772 r.s.s 822 3,7 1 9

Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos

77 90 71 53 07 106 134 4,9 18, l Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos

106 171 lt.4 14') 17(1 189 1S1 5,8 7,6 Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos 433 434 4...S 550 535 494 504 2.X 35

T O T A L R U R A L 99R 970 927 |979 ¡922 947 944 -0,7 -0 s População de 10 anos ou mais 703 65S (.54 709 089 -12 679 0,3 -1.0

Populaç.io upada População não-ocupada

'.81 341 370 332 353 343 335 -1,2 -0,1 Populaç.io upada População não-ocupada (22 317 284 377 v.„ V.9 .344 1.9 -1,8

Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos

16 21 18 25 16 24 25 4.1 1 d Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos

48 45 41 58 56 , i 59 4,5 1.3 Procurando emprego Aposentados e/ou pensionistas Outros inativos 258 2S1 225 294 ¡264 284 261 I..". -2,9

FONTE: Projeto Urbano.

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A microrregião de Maceió empregava formalmente 53,49% dos ocupados, sendo que 48,63% só na cidade de Maceió, que é o centro do governo estadual, ocupando parte importante da mão-de-obra em serviços públicos e em estatais. Os demais municípios do Estado tinham uma taxa de formalidade nas ocupações dos empregados de apenas 46,51 %, por conseguinte, a formalidade dos empregados em Maceió e, principalmente, nos outros municípios era inferior à taxa de informalidade.

A tabela 4.3 deixou claro que a economia de Alagoas é significativamente patronal, pois o número de ocupados na categoria de empregados em empreendimentos agrícolas e não-agrícolas supera em muito o das outras categorias de ocupados. Percebemos, ainda, que depois dos empregados, a categoria de ocupação por conta própria é a mais representativa, tanto no setor agrícola como no não-agrícola. No período de 1992/99 é a categoria remunerada que mais cresceu, mas é no período de 1996/99 que os por conta própria mais aumentam: no meio ru­ral, cresceu 8,8% ao ano e, nas cidades, 10,6%. Entre os ocupados, remunerados é a única categoria que aumenta nesse período.

Essa crise da agropecuária patronal fica mais clara quando analisamos, na tabela 4.3, o número de pessoas ocupadas, pois, enquanto a ocupação por conta própria aumentou 20%, os trabalhadores rurais caíram 43,8%, e os empregos agrícolas reduziram em 3,2%, indicando um aumento da pequena produção em detrimento das grandes explorações de base patronal.

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TABELA 4.3: População ocupada segundo a área censitária dos domicílios, situação dos domicílios e ramos de atividades.

ÁREA CENSITÁRIA 1992 1993 1995 1996 1.997 1.998 j 1.999 taxa taxa SITUAÇÃO DOS DOMICÍLIOS 1 1992/99 1996/99

RAMOS DE ATIVIDADES (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) % aa "<« "a TOTAL 950 892 990 895 959 926| 920 -0,1 0,5

Agrícola 335 312 380 323 335 318 299 -1,0 -2,8 Empregados 207 140 186 164 154 139 137 -3,9 -6,3

empregados 207 140 186 164 154 139 137 -3,9 -6,3 trab.doméstico - - - - - - -

Conta-própria 63 78 83 68 68 82 85 2,5 8,8 Empregadores 6 10 6 - 4 7 3 Não-remunerados 59 86 106 88 109 90 74 3,0 -6,9 Sem declaração - - - - - - -

Não-Agrícola 615 580 610 572 624 609 621 0,4 2,3 Empregados 448 412 445 429 461 440 430 0,2 -0,3

empregados 393 364 377 376 406 382 376 0,1 -0,6 írab.doméstico 55 48 68 53 55 59 54 0,8 1,6

Conta-própria 128 139 122 113 127 133 155 1,2 10,6

Empregadores 9 9 16 17 17 15 17 10,0 -0,7

Não-remunerados 29 20 27 14 18 20 19 -5,0 10,4 Sem declaração - - - - - - -

FONTE: Projeto Urbano.

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Como o próprio nome sugere, a categoria de trabalhadores por conta própria é tipicamente informal, ou seja, são ocupados autônomos em sua imensa maioria. São, também, pequenos e microempreendedores, com rendimento que alcança até 3 salários mínimos. Na tabela 4.4, nota-se que 86,4% dos ocupados por conta própria ganham até 3 salários rrrínimos; os empregados são mais bem-remunerados, mas existe uma fração de pequenos empreendedores rurais e urbanos, com até 2 empregados, que recebem até 1 salário mínimo. Os trabalhadores domésticos são os mais afetados, pois 79,6% deles percebiam até 1 salário mínimo e nenhum trabalhador pertencente a essa categoria ultrapassava a faixa de 3 salários mínimos.

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TABELA 4.4 - ALAGOAS: Pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas, segundo a posição na ocupação e a classe de rendimento mensal em salário mínimo, em 1999.

CATEGORIA ATE 1 SM + l a 3 S M +3 a 5 SM +5 a 10 SM + de 10 SM % % % % %

EMPREGADO SCTA 27,1 60,0 6,3 5,6 1,0 CONTA PRÓPRIA 38,4 48,0 8,0 4,0 1,6 EMPREGADORES 26,3 21,0 15,0 15,8 22,7 TRAB.DOMÉSTICO 79,6 20,4 — — FONTE: PNAD-IBGE, 1999. Noto: SM - Significa Salário Mínimo.

SCTA - Sem Carteira de Trabalho Assinada.

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O ocupado por conta própria está presente nas cidades mas, sobrenado, no meio rural. No meio urbano, em 1992, eram 12 mil ocupados, crescendo para 15 mil em 1999, com um aumento anual de 0,4%. No município de Maceió, os ocupados em atividades agrícolas por conta própria dispõem de grande espaço para crescerem, pois a abundancia de água e de espaço físico e principalmente, a proximidade do mercado consumidor são fatores de estímulos para que a categoria dos pequenos empreendedores em atividades agrícolas prolifere.

No meio rural, o pequeno e o microprodutor têm presença considerável, e essa presença vem crescendo a taxas importantes. Em 1992, havia 38 mil agricultores por conta própria; em 1999, salta para 58 mil, com aumento anual de 4,9%, nesse período. Quando analisamos o período de 1996/99, percebemos que o aumento foi de 15%, por conseguinte, de três vezes o registrado no período de 1992/99.

Também no setor agrícola, com a crise da cana-de-açúcar, animais de criação, culturas diversas e agropecuária, que caíram 47,9%, 16,6%, 13,4% e 4,4%, respectivamente (Ver tabela 4.5), diminui a hegemonia da agricultura patronal e abrem-se oportunidades para práticas de outras culturas, como é o caso da produção de verduras, milho, rizicultura, pesca e criação de aves, que cresceram a taxas significativas. Merecem destaque a redução das atividades não-agrícolas, (principalmente a indústria de alimentos que reduziu em 19,1%, e os insumos agrícolas que caíram 2%).

Essa crise da agropecuária patronal fica mais clara, quando analisamos o número de pessoas ocupadas no meio rural, pois, enquanto a ocupação por conta própria aumentou 20%, os trabalhadores rurais caíram 43,8%, e os empregos agrícolas reduziram em 3,2%, indicando um aumento da pequena produção, em detrimento das grandes explorações de base patronal.

Quanto às atividades não-agrícolas, elas ocupam pessoas por conta própria, tanto no meio rural como nas cidades, onde a

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presença dessa categoria de ocupados é muito grande. No urbano, os ocupados por conta própria, apenas em atividades de prestação de serviço, aumentaram de 31 mil pessoas para 37 mil e, no meio rural, esses trabalhadores nessa mesma atividade, caíram de 8 mil pessoas para 3 mil.

Em geral, as atividades não-agrícolas do meio rural passaram de 122 mil pessoas ocupadas, em 1992, para 104 mil em 1999, uma queda de 1,4% ao ano. Isso se explica pela crise na agroindústria presente no meio rural, sobretudo pelo fechamento de usinas e destilaria de álcool. Da leitura direta da tabela 4.5, percebe-se, obviamente, que as atividades agrícolas e não-agrícolas mais importantes, que formam o núcleo da economia do Estado, foram as que mais decresceram.

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TABELA 4.5: Relação dos setores que mais crescem e decrescem, segundo a situação do domicílio e ramo de atividade. PEA restrita a Alagoas, 1992-1999.

S I T U A Ç Ã O D O D O M I C Í L I O S E T O R E S

T O T A L R U R A L

A f r i c ó l a S e t o r e s qui'' m a i s c r e s c e m

p r o d , ve rd u r a s m i l h o - c u l t u r a de r i z i c u l t u r a p e s c a a v e s - c r i a ç ã o de

N ã o - a g r í c o l a e s t a b . P ú b l i c o e n s i n o p r i v a d o

A g r í c o l a S e t o r e s q u e m a i s d e c r e s c e m

c a n a - d e - a c ú c a r A n i m a i s - c r i a ç ã o C u l t u r a s d i v e r s a s A jaropeen á r i a

N á o - a g r í c o l a Ind. d e a l i m e n t o s C o m e r c i o d e a l i m e n t o s Insu m os a g r í c o l a s I n d . d e m a d e i r a

FONTE: Projeto Urbano.

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No meio rural de Alagoas, há um enorme espaço para aumentar o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas, mas, sobretudo, em atividades não-agrícolas, à base de pequenos empreendedores.

No meio urbano, as atividades que mais cresceram foram ensino privado, comércio ambulante, comércio de vestuário, fábrica de móveis, pequenos transportes e alimentos caseiros (Ver tabela 4 .6) . Todavia, há uma queda significativa em atividades importantes, como na indústria de transformação e em outras ocupações tipicamente urbanas, como ajudante administrativo, copeiro etc., indicando que novas atividades estão surgindo nesse

meio.

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TABELA 4.6: Relação dos setores que mais crescem e decrescem, segundo a situação do domicílio e ramo de atividade. PEA restrita. Alagoas, 1992-1999.

SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO SETORES 1999-1992 (1.000)

URBANO N.io-agricola

Setores que mais crescem ensino privado 15,5 comércio ambulante 12,5 comércio vestuário 8,1 fabr. móveis 4,(1 pequeno transporte 2,<i alimentos caseiros 2,'.

Agrícola animais de criação 4, f,

Nào-agrícola Setores que mais decrescem

Ind. dc transformação -8,1 Polícia Civil -4,8 Comércio de varejo -4,2 Serviços assistenciais -3,8 Ind.de bebidas -2,7 Transp. terrestre -Z7 Insuino químico -2,7 Serviço contábil -2,7 lixo -2,7

Agrícola Setores que mais decrescem

caiu de-jçúcai -11,7

FONTE: Projeto Urbano.

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Assim, as maiores oportunidades de ocupação na economia alagoana é na categoria de por conta própria, em atividades agrícolas e não-agrícolas, seja no meio rural ou urbano. As transformações, que começam a acontecer no campo e nas cidades, serão aprofundadas e aumentarão de forma geométrica, formando um grande exército de excluídos.

4.2 - Retrato dos sem futuro Em Alagoas, mesmo existindo esse potencial econômico e

humano, a cada dez anos as condições de vida da maior fração da população vêm deteriorando-se. A partir de 1990, com a completa falência do Estado, atingem níveis bastante adversos, e, já em 1995, na Capital e em todos os municípios do interior, as condições gerais de vida são quase insuportáveis.

Os dados do IBGE, de 1995, mostram claramente essa situação. Na análise, percebemos que o mercado de trabalho de Alagoas é pouco expressivo. Em 1995, a quantidade de pessoas empregadas representava 636 mil trabalhadores, para uma oferta de mão-de-obra de 1.132 mil pessoas. Portanto, quase metade das pessoas em idade de trabalho, 496 mil, não encontra emprego e fica a depender de sua família ou se ocupa precariamente, em atividades pouco produtivas, como vigia, agregado, ambulante, etc.

Como vimos, o modelo econômico vigente em Alagoas é o mesmo desde a época do engenho bangüê e mantém a lógica de privilegiar, com educação e emprego, os mais ricos em detrimento dos mais pobres, condenando a maioria da população a viver em permanente estado de miséria. Nem mesmo o aumento da transferência de renda das regiões mais ricas do País tem sido capaz de reverter esse quadro de pobreza endêmica e de indigência so­cial a que está submetida a quase totalidade dos alagoanos.

O padrão econômico tradicional é essencialmente de natureza patronal e concentrador de riqueza e educação, o que

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 193

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leva o Estado a liderar o ranking dos piores indicadores sociais e a ostentar o menor índice de desenvolvimento humano do País, sobretudo no que diz respeito à educação e à renda. Isto acontece porque os sucessivos governos seguem a mesma política coronelista e corporativista dos coronéis que se têm perpetuado no poder pelo clientelismo e outras práticas responsáveis pelo atraso do Estado.

Ao analisar as causas do subdesenvolvimento de Alagoas e as conseqüências dessa política que levou o Estado a ingressar no terceiro milênio com grande parte de sua população na humilhante condição de miseráveis, lembramos que a administração autocrática adotada impõe aos programas resultados pífios, que propiciam a manutenção das indústrias da seca, da fome, do analfabetismo, da violência, da miséria, da corrupção e do corporativismo, necessária para garantir os privilégios dos mais ricos. Vale destacar que, por conta da política paternalista, 56% da população alagoana vivem em condições de risco social. Por maior que seja o volume de recursos federais injetados no Estado, o povo pobre continua padecendo de necessidades elementares para manter o nível fisiológico de subsistência.

Portanto, a concentração da renda e da educação, mais a alocação inócua dos recursos públicos federais, estaduais e municipais não permitem acabar com a miséria alagoana. Do montante de recursos federais repassados ao Estado, nos últimos dez anos, 54% foram apropriados pelos 10% da população mais rica, e apenas 5,6% foram distribuídos de forma concentrada, nos períodos eleitorais, com os 40% mais pobres. Sabe-se, ainda, que as regiões mais ricas do País, particularmente o Sudeste, estão transferindo renda, via pesada carga tributária, para as elites e a classe média alta de Alagoas, na crença de que estão ajudando a quem necessita.

A conseqüência desse modelo concentrador é a vergonhosa situação em que se encontra o Estado em relação aos índices que medem o desenvolvimento humano e a exclusão social. Comparando-

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se o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 1991 ao de 2000, Alagoas é o Estado que apresentou o IDH mais baixo do Pais. Em 1991, era o penúltimo e, em 2000, passou a ser o último. Maceió -depois de ser adniinistrada pelo mesmo partido político durante 13 anos - tinha, em 1991, um IDH de 0,744 e, em 2000, passou para 0,739, apresentando uma variação negativa de -0,005.

Dos 102 municípios alagoanos, 49 apresentaram redução significativa no ranking de 2000, em relação a 1991, principalmente na maioria na região semi-árida. Essa deterioração das condições de vida nada tem a ver com a falta de recursos financeiros. Está relacionada a quatro fatores fundamentais de difícil reversão. O primeiro deles diz respeito à u tilização das verbas federais no Estado, obedecendo a critérios essencialmente políticos que, em Alagoas, representam a pior forma de alocação de recursos. Como segundo fator, a ação pública não é tratada com o mínimo de seriedade, mesmo pelos técnicos, pois as instituições são viciadas e vulneráveis, e o Poder Judiciário não tem apoio nem controle da sociedade. Em terceiro lugar, não há limite entre o público e o privado. Nesse sentido, existem duas modalidades de pedintes (pessoas que vivem à custa do Estado): a elite endinheirada c os 56% de miseráveis que ganham esmolas em anos eleitorais. Finalmente, o quarto fator é que o Estado é totalmente dependente de recursos federais.

A concentração de emprego, renda e educação geram exclusão e pobreza. Nessa perspectiva, o modelo autocrático de gestão pública é responsável pelo permanente estado de miséria a que foi submetida a população alagoana. Isto explica o fato de que, embora possua um grande potencial agrícola, turístico e de recursos naturais e humanos, Alagoas sempre registrou as piores taxas de ocupação produtiva e de educação de sua população . M e s m o nas décadas de 60 e 70 , q u a n d o os invest imentos federais eram altos, a população ocupada formalmente era pequena, os rendimentos, baixos, e a emigração em direção ao Sudeste, muito elevada.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 195

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Vale lembrar que a força de trabalho do Estado é relativamente pequena, com uma taxa de atividade de apenas 54,9% das pessoas em idade ativa, gerando um quadro de miséria que, em 2000, chegou a 44,43% do total da população, com renda de até R$ 80,00. Na verdade, essa pobreza é historicamente conhecida, mas se agravou a partir da segunda metade da década de 80, quando a economia brasileira entrou em crise financeira, reduzindo drasticamente as transferências de recursos para os setores público e privado e, como conseqüência dessa conjuntura, iniciou-se o que viria a ser o mais longo processo de estagnação das atividades sucroalcooleiras e de crise fiscal do Estado, desaquecendo todas as outras atividades econômicas e inibindo a ação dos setores público e privado na geração de ocupações produtivas.

Mas é a partir de 1990 que a crise de emprego e renda se instala em todos os setores da economia alagoana: a agropecuária estagnada, o parque industrial de produtos intermediários e de consumo duráveis pouco expressivo e o setor de serviço, que representava a grande esperança de ocupação e renda da população ativa, não responde às expectativas.

Dados oficiais de 1999 mostram que 79% da população ocupada na prestação de serviços estava em atividade de baixa produtividade e de renda insuficiente. Para completar, de 1992 a 1999, o Estado foi o maior desempregador, dispensando mais de 50 mil trabalhadores formais contra pouco mais de 15 mil do setor privado. Os estudos revelam que, no campo, a informalidade é ainda maior: 86% dos ocupados são trabalhadores de baixa produtividade e 69% dos empregados não têm carteira de trabalho assinada. Do total de ocupados no setor agrícola, 79,5% são trabalhadores temporários e percebem até um salário mínimo. No total, em 1999, a agropecuária tinha a maior proporção de mão-de-obra ocupada em atividades informais.

Além de empregar pouco, Alagoas é também o Estado com maior percentual de analfabetos do país. No meio rural, 45% da

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população economicamente ativa é analfabeta, e 79,88% são analfabetos funcionais. No espaço urbano, existiam 53,04% de analfabetos funcionais em 1999, a lcançando 58 ,4%, se considerarmos toda a população. O Padrão agrário tradicional adotado, que privilegia a grande empresa, representa um forte obstáculo para se adotar um novo padrão de desenvolvimento que resulte num processo de maior homogeneização da educação, da produção, da ocupação, da renda e das relações humanas. Isto porque, pela sua importância econômica e política, acaba por definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor de serviço, bem como a atuação do setor público. Por conseguinte, nesse modelo, a prioridade é a grande empresa - com mais de 100 empregados - pouca diferenciação da produção, baixa competitividade e relações de trabalho predominantemente informais, gerando forte exclusão social e um ambiente desfavorável aos pequenos e microempreendedores.

Vale dizer, ainda, que a crise econômica da década de 90 agravou tanto o quadro social, que, em 2000, mais de 44% da população percebia até R$ 80,00, e Alagoas era o quarto Estado com o maior percentual de pobreza do Brasil. Logo, esse modelo fechado, de consenso muito restrito, concentrador da terra, da educação, da renda e do poder, causador dos baixos índices de diversificação das atividades agrícolas e não-agrícolas e da baixa acumulação de capi­tal social, humano e financeiro, acabou por inibir o dinamismo da economia estadual, subordinado-a a si no que diz respeito à produção, relação de trabalho, ocupação, cooperação, inovação tecnológica, criação de redes e capacitação empreendedora.

E, por isso mesmo, fora da microrregião de Maceió e das áreas dominadas pela cana-de-açúcar, o Estado é um vazio econômico que ainda está por ser explorado de forma produtiva e empreendedora. As políticas públicas vert ical izadas, o analfabetismo e o assistencialismo inibiram, além dos fatores já mencionados, a capacidade de organização dos agricultores, a

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formação de capital humano e um desenvolvimento com base nas condições do ambiente local.

Em Alagoas, tudo depende das políticas macroeconômicas dos governos federal e estadual, que determinam as mesmas soluções de curto, médio e longo prazos, para realidades diferentes. Por isso, um dos aspectos mais relevantes na economia de Alagoas é o elevado grau de desigualdade na distribuição da renda e da educação.

Os números oficiais revelam que, enquanto os 40% mais pobres têm renda média familiar per capita de R$ 38,00, os 10% mais ricos percebem RS 796,00, quantia quase 21 vezes superior à renda dos mais pobres. Numa sociedade mais igualitária, o aceitável é que a renda dos 10% mais ricos não supere 8 vezes a renda dos 40% mais pobres. Esse elevado nível de concentração da riqueza é, em grande parte, responsável pelo também baixo nível de renda, pelas altas taxas de analfabetismo na população e, conseqüentemente, pelo elevado grau de pobreza absoluta.

Em outras palavras, a concentração da renda resulta da diferenciação dos salários pagos pelos setores público e privado, da elevada concentração da propriedade da terra, da ausência de escolas públicas de qualidade, da segmentação do mercado de trabalho e, portanto, do próprio modelo de desenvolvimento.

O padrão de desenvolvimento adotado no Estado, desde o século XVI, não priorizou a educação como instrumento necessário de distribuição e crescimento sustentável da renda. Sabemos que, entre os trabalhadores e pequenos empreendedores rurais e urbanos, a educação é um grande e importante atributo na produção, na organização e na gestão dos negócios. Por isso, quanto mais acessível for esse atributo à população, menor será a desigualdade dos rendimentos do trabalho e maior a capacidade empreendedora.

Outra grande fonte de desigualdade é a posse da terra que assume um caráter, não só de fator de produção, mas de uma extraordinária fonte de obtenção de recursos financeiros

198 Fernando José de Lira

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subsidiados. Tanto isso é verdade que, no período de 1960 a 1985, de cada dólar aplicado na agropecuária, a fração de U$$ 0,95 foi destinada às propriedades com mais de 100 hectares, e apenas a de U$$ 0,05, àqueles produtores que possuíam menos de 100 hectares de área cultivável. Como se pode deduzir, a posse da terra viabilizou e ainda viabiliza a posse de outros meios de produção, contribuindo vigorosamente para a elevada concentração de renda.

Considerando que o carro-chefe da economia de Alagoas é o setor agropecuário e, nele, as atividades sucroalcooleiras, a concentração de renda alcança não apenas o meio rural, mas também as cidades, gerando uma forte heterogeneidade social em todo o Estado. Daí que as duas grandes fontes de desigualdade na distribuição da riqueza são: a primeira e mais relevante é o baixo nível de instrução da população em idade ativa e da população ocupada; e a segunda é a posse da terra.

Apesar de esses fatores limitarem a ação dos pequenos empreendedores agrícolas e não-agrícolas, seus efeitos podem ser minimizados através de uma política de educação agrícola e agrária que contemple atividades voltadas à realidade dos familiares dos pequenos agricultores. É, por conseguinte, possível, no espaço de grande vazio econômico e nas zonas mais dinâmicas, criar redes de pequenos empreendedores, voltados para os mercados local, regional, nacional e internacional.

Evidentemente, haveria a necessidade de capacitá-los para gerarem uma nova (dinâmica econômica que proporcione ocupações e renda em número e condições muito superiores aos atuais. Para tanto, é necessário que a política agrária seja mais decisiva; o financiamento, desburocratizado; a assistência técnica, de qualidade; o treinamento, voltado para cada situação local. Por falta disso, o povo alagoano continua exposto às piores condições de vida e trabalho, com quase metade da população vivendo na condição de indigente e, aproximadamente, 80% das pessoas

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ocupadas vivendo do trabalho informal, com taxa de desemprego urbano beirando os 20%.

As questões do emprego e da renda serão equacionadas quando forem realizadas transformações estruturais da base produtiva, que reorientem a agricultura na direção de uma reestruturação, com prioridade para o pequeno empreendedor -produtor familiar com até dois empregados - que trabalha de forma organizada, associativa ou comunitária.

As políticas agrícolas, agrárias e agroindustriais devem visar à criação de bases produtivas estáveis, por meio da distribuição da terra e da educação, além do estímulo à produção de alimentos, transformando os produtores que atuam por conta própria em empreendedores competitivos.

Nessa perspectiva, a decisão de apoiar os pequenos empreendedores por conta própria reside na convicção de que o problema do desemprego rural e urbano será reduzido, se essas políticas conseguirem gerar um ambiente favorável a que eles deixem de ser altamente subordinados à dinâmica mais geral do núcleo sucroalcooleiro, para se tornarem produtores autônomos.

Para a Zona da Mata, é indispensável a diversificação produtiva, incentivando-se o associativismo, fornecendo-se linhas de crédito, assistência técnica, capacitação gerencial e tecnológica e promovendo-se sua integração à economia de mercado. Há a necessidade de os trabalhadores por conta própria serem inseridos dentro de uma nova realidade econômica de dotação de recursos, mercados abertos, nível tecnológico avançado e de um novo padrão de atuação do Estado, devendo-se abandonar o assistencialismo, o paternalismo e a ineficiência na alocação dos recursos públicos.

Quanto às ocupações informais, por conta própria, de baixa produtividade, carecem de políticas voltadas à realidade de cada segmento, de forma a inseri-los no setor organizado da economia. Um programa dc emprego, educação e renda, entre outras coisas,

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deve promover a capacitação por segmento, que torne possível a formação de cooperativas e associativismo em pólos de desenvolvimento, cuja visão empreendedora será irradiada para os diversos municípios.

A política educacional, que contemple o suprimento das necessidades locais, com objetivos de curto, médio e longo prazos, deverá estar no núcleo duro das prioridades do setor público, pois os baixos rendimentos e a baixa produtividade dos trabalhadores ocupados decorrem do e levado grau de analfabetismo e da ausência de capacitação orientada para o mercado. O combate à pobreza deve estar explicitamente considerado nas formulações e execuções de estratégias econômicas e sociais, e não ser visto de forma subsidiária ou apenas como objeto de medidas compensatórias, pois só com investimentos pesados, destinados à erradicação da pobreza, pode-se promover, efetivamente, o crescimento econômico, so­cial e humano sustentável.

Assim, a grande maioria dos trabalhadores de Alagoas, além de perceber uma renda muito baixa, trabalha em condições precárias. Como, entre as famílias de baixa renda, o rendimento do trabalho representa, em média, 95% da renda da família, conclui-se daí que a miséria e a pobreza generalizadas, que se registram no Estado, decorrem da falta de emprego, dos baixos salários pagos às pessoas empregadas, do elevado número de trabalhadores que vivem do trabalho informal, da grande quantidade e da baixa qualidade da mão-de-obra e da falta de educação. Tudo isso, porém, tem como causa primeira o elevado grau de concentração da propriedade da terra, da educação e da renda.

As tabelas 4.7,4.8,4.9 e 4.10 mostram, que, em 2000, havia ^•449 mil pessoas que percebiam até um salário mínimo, ou seja, 71,1% das pessoas viviam nessas condições humilhantes. Por outro lado, as pessoas que percebem até 3 salários mínimos formam uma legião de 1.834 mil ou 90,1%, percentual muito

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superior ao registrado no Brasil, onde 79,3% dos brasileiros de 10 anos ou mais percebem essa renda. De uma população de 2.795 mil pessoas, apenas 26 mil (ou 1%) têm uma renda igual ou superior a 20 salários mínimos. No Nordeste corresponde a 0,7% e, no Brasil, representa 2,3%. Portanto, Alagoas é o lugar onde predominam os extremos.

Desse modo, se de um lado existe um número muito expressivo de pessoas que são pobres e/ou miseráveis, por outro, uma fração muito pequena da população tem padrão de vida de classe média ou rica. Este fato merece consideração porque, se apenas poucas pessoas têm renda suficiente para consumir produtos e serviços populares, ou de luxo, aquelas atividades agrícolas, industriais, comerciais e de serviços que estão voltadas para o mercado interno defrontam-se com uma demanda muito pequena e, por isso mesmo, não encontram um ambiente econômico que estimule a sua expansão, portanto a geração de emprego e renda fica bem limitada.

Esse cenário de misér ia , pobreza e desemprego generalizados obriga os idosos, as mulheres e as crianças a participarem ativamente no sustento de suas famílias. Segundo dados de 1991, do IBGE, 19,5% dos chefes de família eram pessoas acima de 60 anos de idade. Por outro lado, as mulheres chefes de família têm uma participação bastante elevada, de 23,1 %, e, do total das crianças de 5 a 14 anos de idade, 12% trabalham em atividades insalubres e arriscadas. No Brasil, essa participação é de 21,6% e de 11% respectivamente.

Em Alagoas, existem 441 mil crianças entre 0 e 6 anos de idade. Desse total, 188 mil são tidas como indigentes, o que representa um percentual de 42,6%. No meio rural, são 51,8%-Quanto aos adolescentes indigentes, entre 15 a 17 anos, somam 26,4% das pessoas dessa faixa etária. Portanto, quase metade das crianças e parte significativa dos adolescentes vivem na mais absoluta pobreza. Assim, no Nordeste, Alagoas é o Estado que oferece às suas crianças as condições de vida mais desfavoráveis.

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De acordo com dados do IPEA, os gráficos 4.1, 4.2 e 4.3 revelam que a esperança de vida, ao nascer, está entre as três menores do Brasil e do Nordeste. Ao nascerem, os alagoanos esperam viver 56 anos; os maranhenses e os piauienses, 65 anos; enquanto os gaúchos, em média, 75 anos.

Alagoas também está entre os Estados do Brasil que oferecem as piores condições de vida para a sua população. Ainda segundo o IPEA, em termos de índices de Desenvolvimento Humano, dentre os 26 Estados pesquisados, ocupa o vigésimo quinto lugar, ou seja, é o segundo Estado onde as condições de vida são mais desfavoráveis para a sua população.

Em relação a seus vizinhos, apresenta uma situação social relativamente mais precária do que a de Sergipe, Pernambuco e Bahia, só sendo superado pela Paraíba que, de acordo com o IPEA, é o Estado do Brasil que possui o pior índice de Desenvolvimento Humano.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 203

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Tabela 4.7 - NORDESTE - indicadores sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000.

índice de Pobreza índice de Emprego índice de Exclusão RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000

NE Alagoas 0,056 0,164 0,082 0,217 0,226 0,211 0,250 0,205 0,220 Ni-: Bahia 0,144 0,379 0,119 0,232 0,229 0,218 0,316 0,355 0,328 NI­ Ceará o.oso 0,153 0,117 0,201 0,218 0,181 0,267 0,274 0,289 NE Maranhão 0,010 D,135 D.001 0,070 0,024 0,001 0,219 0,226 0,197 NE Paraíba 0,067 0,086 0,129 0,172 0,180 0,216 0,276 0.231 0 3 1 2 NE Pernambuco 0,130 0,315 0,23-1 0,336 0,317 0,258 0,323 0,299 0,257 NE Piauí 1,002 0,002 0,045 0,129 0,106 k 0,067 0,191 0,213 0,247 NE Rio Grande do Norte 0,144 0,193 0,229 0,216 0,294 0,309 0,289 0,316 0386 NE Sergipe 1,046 0,283 0,187 0,250 1,300 0,2')6 0,280 0,314 0309

Média Brasil**»* 1.1V1 0,659 0,606 0,443 0,548 0.525 0,507 0,571 0,527

• Em 1960 e 1980, os dados do DF e TO estavam incluídos nos dados de GO.

** Em 1960 e 1980, os dados do MS estavam incluídos nos dados do MT.

*** Em 1960, os dados do RJ incluíam os dados da GB.

•••• Média Aritmética Ponderada pela População.

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TABELA 4.8 - Nordeste - Indicadores Sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000. índice de Desigualdade índice de Alfabetização índice de Escolaridade

RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 NE Alagoas 0,085 0,093 0,047 0,085 0,015 0,016 0,032 0,029 0,166 NE Bahia 0,132 0,207 0,037 0,268 0,222 0,384 (1,124 0,098 0,222

NE Ceará 0,121 0,128 0,064 0,199 0,192 0,265 0,080 0,111 0,201 NE Maranhão 0,037 0,039 0,003 0,142 0,090 0,172 0,037 0,010 0,142 NE Paraíba 0,092 0,086 0,049 0,195 0,112 0,209 0,095 0,114 0,186 NE Pernambuco 0,152 0,191 0,094 1,276 0,240 0,343 0,183 0,274 0301 NE Piauí 0,053 1,045 0,019 0,025 0 ,0% 0,135 0,010 0,016 0,124 NE Rio Grande do Norte 0,132 0,138 W>7 0,298 0,244 0,316 0,169 0,205 0,277 NE Sergipe 0,084 0,161 0,074 0,234 0,180 0 3 1 2 0 ,0% 0,127 0,244

Media B r a s i l " " 0 3 5 2 0,503 0,242 0,592 0,637 0,6% 0,430 0,5.10 0,455

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TABELA 4.9 - NORDESTE: Indicadores sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000.

índice de Juventude índice de Violência RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000

NE Alagoas L(),0S3 0,015 0,016 0,032 0,029 0,166 NE Bahia 0,268 0,222 0,384 0,124 0,098 0,222 NE Ceará o , iw 0,192 0,21.3 0,080 0,111 0,201 NE Maranhão 0,142 0,090 0,172 0,037 0,010 (1,1 12 NE Paraíba 0,195 0,112 0,209 0,095 0,114 0,186 NE Pernambuco 0,276 0,240 0,343 0,183 0,274 0,301 NE Piauí 0,025 0,096 0,135 0,010 0,016 0,124 NE Rio Grande do Norte 0,298 0,244 0,316 0,169 0,205 0,277 NE Sergipe 0,234 0,180 0,312 0,096 0,127 0,244

Média Brasil**** 0,592 0,637 0,696 0,430 0,530 0,455

* Em 1960 e 1980, os dados do DF e TO estavam incluídos nos dados de GO, ** Em 1960 e 1980, os dados do AAS estavam incluídos nos dados do MT. *** Em 1960, os dados do RJ incluíam os dados da GB. **** Média Aritmética Ponderada pela População

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GRAFICO 4.1 - NORDESTE: Taxa de mortalidade infantil em 2001.

BR

RN

PI

CE

PE

PB

MA

AL

28,7

1 3 1 , 2

Z ] 3 4 , 6

i 38,1

39,8

41,9

44

1 4 6 , 3

3 4 6 , 8

1 4 7 , 6

PROPORÇÃO POR MIL PESSOAS

1TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL FONTE:Censo Demográfico, 2001.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 207

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GRÁFICO 4.2 - Proporção de pobres em percentagem da população ocupada.

SE r ' : - ' - r - . -V ¡ 4 0

MA i /-- — ~^57 , 4

TAXA DE P O B R E Z A

IB P R O P O R Ç Ã O D E P O B R E S

FONTE: Censo Demogrário, 2001.

FONTE: IBGE-Síntese de Indicadores Sociais, 2001.

208 Fernando José de Lira

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Tabela 4.10 - Alagoas: Síntese de Indicadores Sociais por Número de Pessoas e em Percentagem, em 2001.

Em Milhares de Pessoas e em Percentagem. Indicadores A L A G O A S SERGIPE N O R D E S T E Sociais Número % %

População 2.865 - - -Urbana 1.740 60,7 79,93 70,5 Rural 1.125 39,3 20,07 29,5 PEA 1.287 56,1 45,9 44,0 CCTA 200 54,9 57,3 51,0 SCTA 222 45,1 42,6 48,9 Pop. Ocupada 1.145 40,5 42,4 Desempregro 142 11,0 3,5 9,2

RENDIMENTO EM SALÁRIOS MÍNIMOS DAS FAMÍLIAS ATÉ 1 S.M. 480 41,9 37,1 37,6 ATE 3 S.M. 785 68,5 71,7 66,8

FAMÍLIA Analfabetas 669 30,0 23,0 25,9 Sem Agua 301 43,4 16,3 33,0 Sem Banheiro 131 43,0 9,0 33,0 Sem C/Lixo 250 36,1 29,4 21,1 Sem Sanitário 131 18,9 9,0 21,8 índice de Gini 0,631 0,575 0,585 Renda Média 1,05 S.M. 1,4 S.M. 1,2 S.M.

Fonte: IBGE - PNAD, 1995.

CCTA - Carteira de Trabalho Assinada.

SCTA - Sem Carteira de Trabalho Assinada.

PEA - População Economicamente Ativa.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 209

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GRÁFICO 4.3 - Nordeste e Rio Grande do Sul: esperança de vida ao nascer (em anos) em 2000.

• ESPERANÇA DE VIDA C, FONTE:IPEAONU

FONTE: ONU/IPEA, 2000.

210 Fernando José de Lira

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4.3 - Os trabalhadores fora da lei

O forte dinamismo econômico verificado na história recente do Estado deveria ter criado um grande número de postos de trabalho e de oportunidades de investimento na agricultura, indústria, comércio de mercadorias e na prestação de serviços,

apaz de gerar ocupações que garantissem aos chefes de família uma renda suficiente para atender às suas necessidade básicas, tais como: alimentação, saúde, educação de seus filhos e habitação.

No setor agrícola, o analfabetismo, a ausência de uma política agrícola e agrária clara, a elevada concentração da propriedade da terra e a baixa produtividade têm expulsado do campo muitos trabalhadores e pequenos produtores, que acabam r>or migrar para as cidades grandes e de porte médio. Além disso,

piorado as condições de trabalho e renda daqueles que insistem em permanecer trabalhando na agricultura, forçando os pequenos produtores e trabalhadores rurais a colocarem suas "rianças precocemente em atividades insalubres e arriscadas.

No setor industrial, a situação não é muito diferente. A elevada concentração de capital e a tecnologia poupadora de mão-'e -obra e l iminam postos de trabalho, pequenos e icroempresários, não permitindo, assim, que se gerem os

empregos prometidos. Ao invés disso o que se observou nesse período foi um forte desemprego estrutural.

Quanto ao setor serviço, as condições oferecidas são praticamente mais difíceis do que as da agricultura, pois, em não existindo empregos formais (com carteira de trabalho assinada) no comércio de mercadorias, nos bancos e na prestação de serviço em geral, as pessoas expulsas do campo, da indústria e aquelas que estão procurando seu primeiro emprego são recebidas no mercado de trabalho urbano com a informação explícita: "não há vagas".

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Nessa perspectiva, uma grande fração da população que vive nas cidades, não encontrando ocupação formal na indústria nem no setor serviço, vai ocupar-se informalmente em atividades marginais, sem expressão econômica e de baixa produtividade, pois, na sua luta desesperada para sobreviver, aceita qualquer tipo de ocupação ou procura criar as suas próprias oportunidades de t rabalho , ocupando-se como biscateiros , vendedores ambulantes, vigias, agregados, serviçais e, até, em atividades ilegais, etc.

Assim, mesmo possuindo um alto potencial de crescimento de sua economia, Alagoas apresenta uma baixa capacidade para criar oportunidades de ocupação decente e de postos de trabalho formal. Nessas condições, o grande excedente de mão-de-obra tem como única alternativa buscar ocupações no setor informal da economia (constituído basicamente por trabalhadores autônomos , sem carteira de trabalho ass inada e não-remunerados), principalmente nas atividades comerciais, de serviços, sempre de pouca ou nenhuma importância econômica; particularmente naquelas atividades de mais fácil entrada, que, pelas suas próprias características, são de ocupação e renda muito precárias. (Ver tabela 4.4).

Essa precariedade das relações de trabalho só se explica pela falta generalizada de oportunidades de emprego e, também, pela debilidade do sistema legal que rege as ditas relações de trabalho e dos sindicatos que se tornam impotentes para impor aos empregadores a formalização do emprego da mão-de-obra.

A precarização das relações de trabalho nada mais é do que a substituição de relações formais de emprego, que, no Brasil, expressam-se em registro na Carteira de Trabalho, por relações informais de ocupação que, geralmente, tomam as formas de terce ir ização, de contratação por tempo l imitado, de assalariamento sem registro, de trabalho por conta própria, de trabalho em domicílio e outras.

212 Fernando José de Lira

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Com a precarização dessas relações de trabalho, tende a umentar a jornada de trabalho, cujo limite, em muitos casos, é fadiga física ou mental. À medida que a proporção crescente

de trabalhadores se ocupa informalmente, reduz-se a renda do trabalhador informal e o setor privado reduz a demanda por trabalhadores formais. Trata-se, pois, de um processo cumulativo, cujos efeitos reforçam suas causas. Em outras palavras, a informalidade gera mais informalidade, que acaba por exigir que todos os membros da família, inclusive as crianças, participem, com seu trabalho, na manutenção das famílias.

No setor rural, a informalidade nas relações de produção e de trabalho é quase generalizada: de um total de 388 mil pessoas ocupadas, 363 mil, ou 93,6%, vivem trabalhando em atividades informais: as de subsistência, sem carteira de trabalho assinada e de baixa ou nenhuma remuneração. (Ver tabela 4.4).

No meio urbano, apesar de exibir-se um setor informal menor, a situação é muito mais grave do que a do setor rural, pois, nas cidades, todo e qualquer produto ou serviço que se deseja adquirir tem que ser comprado, muitas das vezes por preços exorbitantes. Por conseguinte, de um total de 595 mil pessoas ocupadas, 341 mil trabalham em atividades ou empregos informais. Assim, o setor informal tem uma participação de 5 7 3 % na economia urbana de Alagoas, portanto, elevada, se comparada com a de outros Estados do Nordeste e do Brasil.

Essa elevada participação do setor informal na economia vem prenunciar dois fatos da maior relevância: o primeiro, a falência do Estado, que perdeu completamente a capacidade de promover políticas explícitas de geração de emprego, educação no meio urbano e rural e de mobilidade no mercado de trabalho; o segundo, a demonstração de que as relações informais de trabalho e de produção vêm expandindo-se a uma taxa elevada, sem qualquer proteção ou controle do Estado, mas totalmente subordinadas ao capital privado e por ele exploradas. Nesse

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 213

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sentido, o avanço do setor informal tem resultado em piores condições de vida e de trabalho para a maioria dos ocupados, maior exclusão social, afetando, mais severamente, aqueles trabalhadores mais desqualificados.

Na tabela 4.4, observa-se, ainda, que, das 2 categorias de trabalhadores informais (trabalhador sem carteira de trabalho assinada, conta própria), as que mais se destacam são os trabalhadores por conta própria ou autônomos e sem carteira de trabalho assinada.

Nas cidades, os trabalhadores que vivem por conta própria ou autônomos representam 4 1 , 3 % de todos os ocupados informais. Essa é, sem dúvida, a maior e mais representativa categoria de trabalhadores informais, presente nos setores agrícola e industrial, mas com uma participação mais vigorosa no setor serviço, pois 80% dos ocupados nesse setor são trabalhadores sem qualquer vínculo empregatício.

Portanto, como mostra o gráfico 4.4 e 4.5, as ocupações informais estão presentes e com representação significativa em todos os setores e atividades da economia alagoana. A agricultura destaca-se com 94,6% de informais; o setor serviço, incluído aí o comércio de mercadorias, representa 74,7%; e o setor industrial, um setor historicamente formalmente construído, chega a ter 50,7% de suas atividades e empregos informais.

Logo, essa alta participação do setor informal na economia alagoana, 69,3%, é importante no sentido de que são pessoas e atividades que vêm ocupando maior espaço com o crescimento econômico, assumindo proporções mais significativas com a recessão econômica e com a falência do Estado. Entretanto, à medida em que mais e mais desempregados tornam-se trabalhadores informais, mais se debilitam o aparelho de Estado e os sindicatos, e, conseqüentemente, mais se amedrontam os trabalhadores que continuam em empregos formais e também aqueles que procuram emprego.

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A tabela 4.4 indica, de forma óbvia, que as atividades e ocupações informais têm uma renda muito baixa e que os trabalhadores, na sua grande maioria, percebem até um salário-mínimo. Nesse sentido, 51,4% das pessoas ocupadas no seu próprio negócio, 91,8% dos trabalhadores domésticos e todos os produtores de subsistência têm uma renda que não chega a ultrapassar 1 salário mínimo. Com esses números, fica claramente demonstrado que não passa de folclore dizer que o trabalhador autônomo vive nos melhores dos mundos.

Do exposto, fica também evidente que a grande maioria das pessoas ocupadas na produção e no mercado de trabalho de Alagoas vive de ocupações instáveis, temporárias e de fluxo de renda incerto e baixo, além de se submeter a relações de trabalho

ra da Lei, e, portanto, muito precárias. Nessas condições, as pessoas expulsas do campo, vítimas

da reestruturação produtiva, que estão defrontando-se com o mercado de trabalho pela primeira vez, ou se submetem às condições adversas das ocupações informais, ou ficam ociosas nas ruas, e/ou sob a proteção de sua família, pois, como se demonstrou aqui, o setor formal privado, além de ser bastante restrito, está enfrentando um forte processo de reestruturação econômica que tem provocado a demissão de muitos trabalhadores.

Vale ressaltar, ainda, que grande parte dos trabalhadores formais de Alagoas é constituída por funcionários públicos ou por empregados das empresas estatais estaduais, municipais ou federais. Assim, das 207 mil pessoas ocupadas no setor público, 144 mil ou 69,6% são trabalhadores formais. Por conseguinte, o Estado apresenta-se como o maior e mais importante empregador dos trabalhadores que possuem carteira de trabalho assinada.

Enfim, mesmo crescendo a uma taxa de 6,2% ao ano no eríodo 70/90, e tendo sua renda per capita aumentada em 6,2 ezes entre 1939 e 1994, a economia de Alagoas não foi capaz de

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gerar a quantidade de empregos formais que a sociedade esperava, e, sendo assim, o grosso da população não tem outra alternativa que não seja a de ocupar toda a sua família, inclusive as crianças, na produção informal, muitas vezes ilegal. Por conseguinte, o setor informal, que cresce a taxas elevadas e de forma desorganizada, atualmente representa quase 70% de toda a economia de Alagoas.

GRÁFICO 4.4 - Alagoas - pessoas de 10 anos ou mais ocupadas segundo setores de atividade e as categorias informal e formal em 1999.

i K O IL 111

TAXA DE INFORMALIDADE E FORMALIDADE POR SETOR DA ECONOMIA

• AGRICULTURA • INDÚSTRIA • SERVIÇO

216 Fernando José de Lira

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GRÁFICO 4.5 - Alagoas - pessoas de 10 anos ou mais ocupadas segundo setores de atividade e por posição formal ou informal em percentagem e em 1999.

Outrât atividades

Administração Pública

Serviços Sociais

I

f

Out. At Industr iais

ai

61,8%

76.5%

Ind.da Construção 97,4%

Agrícola 86,8"/. 113.2%

Taxa de formalidade e informalidade

I FORMAL El INFORMAL

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TABELA 4.11 - Alagoas: Pessoas de 10 anos ou mais, ocupadas por posição na ocupação e por rendimentos - 1993.

EM MILHARES DE PESSOAS OCUPADAS

POSIÇÃO NA O C U P A Ç Ã O

RENDIMENTOS EM SALÁRIOS MÍNIMOS POSIÇÃO NA O C U P A Ç Ã O ATE 1. DEI A3 DE 3 A 5 DE 5 A10 DE 10 A 20 MAIS DE 20

E M P R E G A D O 200 151 29 18 10 4 C O N T A PRÓPRIA 213 80 12 10 3 2 EMPREGADORES 2 8 3 2 2 2 TRAB. DOMÉSTICO 45 4 PRODUT. SUBSISTÊNCIA

66

FONTE: IBGE - PNAD, 1992.

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O alto índice de analfabetos e o nível geral de instrução muito baixo funcionam como verdadeiras amarras que imobilizam o indivíduo e a sociedade frente à realidade, tornando o Estado dependente, submisso e incapaz de construir o seu futuro, com base num modelo endógeno.

Em Relação aos outros indicadores sociais tais como: não possuir água, banheiro, sanitário e coleta de lixo na residência, a tabela 4.10 revela que acima de 1 milhão de pessoas vivem nesse estado de desconforto. Sabemos que há uma relação direta entre a renda do chefe de família e o conforto de sua residência. Em residências tão desconfortáveis, certamente habitam pessoas excluídas.

A experiência internacional demonstra que todos os povos do mundo, desenvolvidos e em acelerado processo de desenvolvimento, estão passando por uma fase de criatividade bastante vigorosa, e esse salto para o futuro está ancorado num projeto arrojado de educação, saúde e conhecimento, saindo da era da extração de riqueza paja o século da produção de riqueza.

A velocidade com que o mundo vem transformando-se e produzindo novas tecnologias, novos processos de trabalho e novos métodos administrativos e comerciais deixa claro que Alagoas está num atraso dificilmente reversível e tem pouco tempo para educar sua população e poder inser i - la , produtivamente, nessa nova ordem econômica global. Resta-lhe remir o tempo, aplicando medidas adequadas, como já se sugeriu, ou resignar-se à exclusão socioeconómica em que se debate.

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Capítulo V

Fernando José de Lira 1

Francisco Rosário 2

Alagoas aos pedaços Diante dos grandes desafios e possibilidades de

desenvolvimento do Estado de Alagoas, o governo estadual, com os órgãos de apoio aos agentes produtivos, vem procurando abrir espaços à diversificação produtiva, na tentativa de reduzir as desigualdades econômicas e sociais, tão acentuadas.

Considerando a necessidade de promover uma maior inserção produtiva das pessoas em idade ativa, o Estado está atuando, através dos arranjos produtivos locais, no sentido de identificar novas oportunidades de negócios nos municípios, de modo a fortalecer e estimular a criação de cadeias produtivas, que ancorem a expansão e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas. Nessa perspectiva, há tentativa de mapear os obstáculos e peculiaridades socioeconómicas dessas sub-regiões, consideradas mais ricas do Estado.

Essas sub-regiões possuem terras férteis, solos profundos e água em abundância, prestando-se, por isso, à pratica de quase todas as at ividades agropecuárias , todavia , seu relevo montanhoso torna mais fácil o exercício das atividades de olericultura, de fruticultura e de piscicultura, podendo contribuir para o melhor uso da terra e da água e, por conseguinte, para o aumento das ocupações e da renda local, bem como para a preservação do meio ambiente.

1 Prof. Dr. da UFAL ! Doutorando em Administração da UFRJ.

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Com exceção da sub-região das Lagoas, as outras são consideradas essencialmente agrícolas e esse alto nível de concentração da propriedade da terra, em favor dos grandes proprietários, representa um grande obstáculo para uma nova dinâmica econômica mais intensiva em mão-de-obra, que seja mais equitativa, pois a concentração do principal meio de produção nas mãos de aproximadamente 24 famílias leva a uma enorme centralização de renda.

Quanto ao setor industrial, é representado pela agroindústria do açúcar. As usinas de açúcar e álcool representam o núcleo duro do desenvolvimento da economia das sub-regiões. Assim sendo, a forma concentrada da posse da terra e a conseqüente acumulação concentrada e centralizada da renda dificultam a formação de um mercado interno forte, o suficiente para germinar novas atividades que potencializem novas alternativas de desenvolvimento. As pequenas agroindústrias de leite, doces, mel, pesca, e t c , têm representação muito pequena, ficando no nível de subsistência.

O setor serviço é basicamente de responsabilidade do poder público, mas, particularmente nas sub-regiões do Litoral Sul, Litoral Norte e Lagoas, é o turismo que mobiliza as expectativas de ocupação e renda. As iniciativas turísticas vêm ganhando expressão, beneficiando as atividades de transportes, bares e restaurantes. Na sub-região da Lagoa, o turismo e a pesca destacam-se pelo número de mão-de-obra ocupada.

Possuindo um grande potencial agropecuário, turístico, pesqueiro e de recursos naturais, e apresentando um crescimento da receita do ICMS, do FPM e do FUNDEF nos últimos 25 anos (1970/1996), o aumento anual do Produto Interno Bruto (PIB) foi considerado relativamente elevado, se comparado com o das outras sub-regiões do Estado, mas sua distribuição muito concentrada leva ao aumento e reprodução da pobreza. Isso fica bem claro na sub-região da Mata Sul, pois, no período de 1970 a 1996, o PIB de São Miguel dos Campos e o do Município de Roteiro

222 Fernando José de Lira

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aumentaram respectivamente na ordem de 14% e 10%, todavia o nível de pobreza, em São Miguel dos Campos, duplicou e, em Roteiro, mais que triplicou nesse período.

Esse cenário de crescimento econômico e aumento da pobreza está associado à crescente concentração da posse de terra, de renda e poder, mais sobretudo à falta de educação e iniciativa empreendedora. Na região das Lagoas, por exemplo, existem problemas de toda ordem que dificultam a sobrevivência, mas o poder público prefere dar o peixe pronto, na forma de cesta básica, a capacitar para uma nova modalidade de pesca. Nessas condições sociais bastante desfavoráveis e na ausência do assistencialismo, é estimulada a emigração. Assim, na ilusão ou por falta de opção, na década de 90, houve uma forte migração para outras cidades de Alagoas, preferencialmente para Maceió, localizadas numa região de pouca diversificação produtiva, bastante dependentes da cana-de-açúcar, ou da pesca, heterogêneas, com crescimento econômico relativamente elevado para um período tão problemático como a década de 90.

Essas sub-regiões não possuem um projeto que envolva todos os seus municípios e muito menos, uma política voltada para a ocupação produtiva das pessoas em idade ativa, com uma taxa de atividade menor do que a registrada em Alagoas e no Nordeste. Em municípios como São Miguel dos Milagres, Paripueira e Barra de Santo Antônio essa taxa é irrisória, não ultrapassando os 14% da população em idade ativa.

Essas condições adversas à pequena produção, associadas à ausência de empreendedorismo, geram um nível de ocupação muito ba ixo , com renda média famil iar correspondente aproximadamente a 40% de um salário mínimo, o que resulta numa situação de quase pobreza absoluta.

Para se ter idéia das condições de vida nas sub-regiões estudadas, exceto na sub-região das Lagoas e em São Miguel dos Campos, que têm aproximadamente 65% das famílias com renda familiar insuficiente, nas outras, essa taxa chega a ser superior

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 223

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a 80%, com destaque para Igreja Nova, onde a percentagem de famílias com renda insuficiente ultrapassa 90% da população. Em Alagoas, esse percentual chega a 44,43%.

Historicamente, a economia desses municípios está centrada na agropecuária, predominantemente no cultivo da cana-de-açúcar, na pecuária e na pesca, três atividades que geram poucas ocupações e, no caso da cana, a demanda maior por mão-de-obra concentra-se em apenas 4 meses do ano, a saber: outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro.

Portanto o padrão de desenvolvimento vigente tem privilegiado as atividades tradicionais de caráter patronal, em detrimento aos pequenos empreendimentos familiares. Esse modelo está esgotado econômica e socialmente. A maior parte dos entrevistados apontaram a pequena produção e a pequena empresa como solução, a exemplo do que ocorre com alguns poucos assentamentos de Alagoas que, mesmo com uma área média exígua em torno de 7 hectares, está provocando um impacto social e econômico bastante visível.

5.1 - Caracterização socioeconómica das sub-regiões

Possuindo um cenário econômico relativamente favorável e um quadro político e social bastante restritivo, com o mais baixo capital humano e com uma acumulação de capital social, historicamente, pouco expressiva, as sub-regiões dos Corais, Litoral Norte, Litoral Sul, Lagoas e Zona da Mata Sul têm muita dificuldade em adotar um novo padrão de desenvolvimento que resulte num processo de maior mobilidade social e que gere mais ocupações e renda.

O padrão adotado é o agrário tradicional, que pela sua importância econômica e política acaba por definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor serviço

224 Fernando José de Lira

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e a atuação do setor público em favor dos 10% mais ricos. Nesse modelo, a prioridade é a grande propriedade - com mais de 1000 hectares pouca diferenciação da produção, baixa compet i t iv idade s istêmica e relações de trabalho predominantemente informais, gerando forte exclusão social e um ambiente desfavorável aos pequenos produtores familiares e a preservação dos recursos naturais.

5.2 - Dinâmica econômica A Região dos Corais teve, na década de 90, um crescimento

do seu Produto Interno Bruto (PIB) relativamente medíocre para esse período. Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas cresceu a uma taxa anual de 9,1%, os Corais cresceram apenas 6,1%, ou seja, muito menor do que o incremento anual ocorrido no Estado. Apenas três municípios, Barra de Santo Antônio, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quitunde, tiveram um aumento expressivo e próximo do de Alagoas, crescendo seu PIB 6,1%, 12,0% e 11,8 % ao ano, respectivamente.

Vale ainda observar que, nesse período, ao contrário do que ocorreu em quase todos os municípios de Alagoas, São Miguel dos Milagres teve incremento negativo (-3,3%) do PIB, pois, estando entre os maiores produtores de coco-da-baía do Estado, com mais de 70% de suas terras agricultáveis produzindo coco, a baixa produtividade da cultura e a falta de modernização das práticas agrícolas, bem como o preço baixo inibiram o avanço da produção e produtividade, deprimindo o PIB municipal.

5.3 - Aspectos sociais Desde 1910 todas as sub-regiões aqui analisada já possuíam

a configuração social e política que têm atualmente. Todavia, em momentos prolongados de crise da agroindústria sucroalcooleira, como o registrado no período de 1985 a 1998, os problemas sociais

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afloram com mais gravidade, em todas as sub-regiões . Aumentando a população em idade ativa e diminuindo o número de pessoas ocupadas, reduzindo a taxa de atividade da população em idade produtiva que, nos Corais, é de apenas 31 %, enquanto, em Alagoas, alcança 54,9% e no Nordeste, essa taxa é de 66,1%, ou seja, duas vezes mais que a registrada nos Corais.

Na zona do Litoral Norte, houve o aumento da população em idade at iva e a redução do número de pessoas economicamente ativas, reduzindo a taxa de atividade da população em idade produtiva que, no Portal Sul e nas Lagoas, são de apenas 22% e 24,3%, respectivamente.

Na Mata Sul, repetiu-se o fenômeno ocorrido no Litoral Norte, reduzindo-se a taxa de atividade da população em idade produtiva para 28,5%.

Dentre os dez municípios do Litoral Norte, apenas Japaratinga possui taxa de participação da população em idade ativa no mercado de trabalho igual à de Alagoas e pouco menor que a do Nordeste. Isso ocorre também com Coruripe e São Miguel dos Campos.

No período de 1985 a 2000, os problemas sociais do Vale do Mundaú afloram com mais gravidade e se reproduz o cenário do Litoral Norte e da Mata Sul, reduzindo a taxa de atividade da população em idade ativa para 38%, enquanto a de Alagoas alcança 54,9% e a do no Nordeste, 66,1%, ou seja, quase duas vezes a registrada no Vale. Dentre seus seis municípios, apenas Santana do Mundaú tem uma taxa de part ic ipação da população em idade ativa no mercado de trabalho superior à de Alagoas e pouco menor que a do Nordeste.

Percebe-se então que o nível de ocupação registrado em todas as sub-regiões é muito baixo. Mesmo nos municípios onde estão localizadas as usinas de açúcar e álcool, a taxa de atividade é pouco expressiva, obrigando grande parte da população em idade ativa a viver na inatividade, significando dizer que

226 Fernando José de Lira

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aproximadamente 80% da população em idade de trabalho não tem qualquer ocupação ou renda.

Outra característica forte das sub-regiões é a sua estrutura da propriedade da terra muito concentrada nas grandes propriedades. Considerando que são áreas essencialmente agropecuária, a forma como a terra foi distribuída definiu, também, a posse dos outros meios de produção, em especial o financeiro.

Nesses municípios estudados, 80% ou mais da população tem renda considerada insuficiente. Em Porto de Pedras e Par ipueira , esse percentual eleva-se para 9 0 % e 92%, respectivamente, disso se infere um índice de qualidade de vida, cujos valores são determinados pelas variáveis de Renda, Produto Interno Bruto, Saúde, Educação e Habitação, claramente muito baixo em todos os municípios, o que significa dizer que não são oferecidas as condições mínimas básicas, ficando a população submetida a um nível de vida inferior ao do suprimento das necessidades mínimas para se manter o nível fisiológico de vida.

A falta de telefones é grave em todos os municípios, com exceção de Barra de São Miguel, onde existem muitas casas de veraneio. Outro grande problema que marca todas as sub-regiões é o baixo nível de renda do chefe da família, em torno de 1,5 salário mínimo, daí a mortalidade infantil ser também bastante elevada. Com exceção de Boca da Mata e São Miguel dos Campos, os outros municípios têm índice de qualidade de vida muito reduzido.

A região do Vale do Mundaú ocupa uma área de 2.174 quilómetros quadrados, correspondendo a aproximadamente 8% do território alagoano, com uma densidade demográfica de 93 habitantes por quilômetro quadrado, mais baixa do que a média registrada no Estado, com 110 habitantes por quilômetro quadrado.

O vale do Mundaú possui um quadro econômico de estagnação no crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas cresceu a uma taxa anual de 9,1%, o Vale cresceu apenas 5,5%, ou seja, quase

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TABELA 5.1 - Litoral Norte - Evolução do PIB Municipal em US$ de 1998, na Região dos Corais.

Taxa

Em mil Dólar + Em percentagem

Taxa Taxa 96/85

Taxa 96/90

Taxa 96/70

Município l')7l) 1980 80/70 1985 1990 1996 ao Ano

ao Ano

ao Ano

Barra de Santo Antonio 8730 115728 6,1 15" Hl 11356! 8516 -5,1 -4,h -0.1 Japaratinga 2338 ^285 3,4 22547 17844 18680 -1,7 0,7 8,3 Maragogi 7341 10577 3,7 18470 18887 22827 1,9 3,2 4,4 Matriz do Camaragibe 14200 2,11 22982 42289 441)'.4 6,1 0,7 4,4 Porto Calvo 22153 3827« 5,6 51642 62947 37975 1,8 -8,1 2,1 Porto de Pedras 5968 8991 4,1 12802 10158 hc>h9 -5,7 -6,7 0,4 Paripueira 2740 Passo do Camaragibe Wh ^ 12042 12,1) 11037 20938

7658 22841 6,8 1,4

4,0 7,1

Sao Luiz do Quitunde 21957 67140 11,8 44335 7588(1 43713 -0,1 -8,8 2,7 Sao Miguel dos Milagres 2809 2000 -3,3 146« 5662 5434 1,8 -0,7 2,5 lotai 92099 175490 6,7 203983 265961 218347 0,6 -\2 VI

FONTE: IBGE. Dados Básicos.

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metade do incremento anual ocorrido no Estado. Apenas dois municípios, São José da Lage e Messias tiveram um aumento expressivo e maior que o de Alagoas, crescendo seu PIB 14,6% e

9,1% ao ano, respectivamente. No período de 1970 a 1996, o Vale cresceu apenas 1,4% ao

ano, contra um aumento de 6,2% do Estado, pois, no sub-período de 1985 a 1996, metade dos seus municípios tiveram taxa negativa de crescimento e a outra metade, um crescimento inexpressivo, o que caracteriza uma região em plena estagnação econômica. (Ver tabela 5.4).

As três principais cidades do Vale - São José da Lage, União dos Pa lmares e Rio Largo - onde ficam local izadas , respectivamente, as usinas Serra Grande, Laginha e Santa Clotilde, tiveram crescimento econômico negativo ou nulo, com a redução dos incentivos federais após 1985 com o fim do Proálcool, demonstrando mais uma vez a estagnação do padrão de desenvolvimento.

A tabela 5.1 apresenta a evolução do PIB no período de 1970 a 1996 e mostra que a sub-região do Litoral Norte cresceu 3,4% ao ano, pois, no sub-período de 1985 a 1996, metade dos seus munic ípios registraram valores negativos, e outros municípios como Passo de Camaragibe e Matriz de Camaragibe cresceram à taxa anual superior a 6,0%, o que caracteriza uma região de crescimento econômico heterogêneo.

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É importante ressaltar que, no período de 1970 a 1990, o Estado de Alagoas foi a unidade federativa nordestina que mais cresceu economicamente. Suas altas taxas de incremento do PIB estiveram fortemente relacionadas com os investimentos federais no setor sucroalcooleiro, de 1975 a 1990, na vigência do PROÁLCOOL. Isso possibilitou um aumento de 25 vezes na produção de álcool e quase duplicou a produção de açúcar, triplicando a área plantada com cana-de-açúcar.

Já na década de 80, a situação econômica não foi pior, por causa, principalmente, dos grandes investimentos federais relacionados à produção de açúcar e de álcool. Todavia, seu padrão de desenvolvimento, sustentado pela monocultura da cana e pela pecuária, praticadas, basicamente, em propriedades acima de 1000 hectares, não permitiu que seu desempenho econômico alcançasse a metade do registrado em Alagoas. (Ver tabela 5.2).

Esse padrão de crescimento teve uma baixa resposta aos elevados investimentos federais, pois, já em 1930, quase toda'área agricultável estava ocupada com cana e pecuária, demonstrando o seu esgotamento econômico, que fica mais evidente durante a década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstra claramente não ser sustentável fora de uma política agrícola fortemente subsidiada.

As quatro principais cidades da região dos Corais -Maragogi, Porto Calvo, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quitunde - tiveram crescimento econômico negativo ou nulo. Com a redução dos incentivos federais, após 1985, e com o fim do Proálcool, fica demonstrada mais uma vez, a estagnação do padrão de desenvolvimento.

Quanto às sub-regiões Portal Sul e das Lagoas, têm certa importância na dinâmica econômica . A partir de 1970, apresentaram uma evolução significativa do PIB, alcançando a década de 90, num período considerado muito difícil. No período de 1970/1980, essas áreas cresceram 10,92%, ou seja, maior in-

230 Fernando José de Lira

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cremento do que o anual ocorrido no Estado. No Portal Sul, Penedo, Feliz Deserto, Coruripe e Igreja Nova tiveram um aumento expressivo e maior do que o de Alagoas, 8,14%, 11,17%, 14,81 % e 12,2% ao ano, respectivamente. Vale ainda observar que, nesse período, mesmo Piaçabuçu teve incremento moderado de 4,77% do PIB, pois está entre os maiores produtores de coco-da-baía do Estado (mais de 70% de suas terras agricultáveis produzem coco). Na sub-região das Lagoas, muito influenciada pela economia de Maceió, apenas Satuba teve um PIB pouco expressivo, 4,95%, mas mesmo assim elevado.

A tabela 5.2 apresenta a evolução do PIB no período de 1970 a 1996 e mostra que as sub-regiões do Portal Sul e das Lagoas, juntas cresceram 12,68% ao ano, contra um aumento de 6,2% do Estado, pois, no sub-período de 1985 a 1996, o crescimento foi moderado com PIA anual de 4,93%. Houve municípios que, nesse mesmo período, cresceram à taxa anual superior a 8,0%, o que caracteriza uma região de crescimento econômico dinâmico.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 231

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Portanto, mesmo na crise, de modo geral as sub-regiões apresentaram elevadas respostas aos grandes investimentos federais, pois nem toda a área agricultável já estava ocupada com cana e pecuária. Esse crescimento fica mais evidente durante a década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstra claramente só ser sustentável, sem essa política fortemente subsidiada, em áreas de alta produtividade e de grande oferta de mão-de-obra barata.

A maioria dos municípios do Portal Sul teve crescimento econômico importante nesse período. Mesmo com a redução dos incentivos federais, após 1985 e sobretudo com o fim do Proálcool, essa área demonstrou que, em ambiente de condições climáticas, e edafológicas favoráveis, o padrão de crescimento é, do ponto de vista puramente econômico, bastante dinâmico.

A sub-região da Mata Sul apresenta uma importante dinâmica econômica. A partir de 1970, registrou-se uma evolução significativa do PIB. Na década de 90 apresentou crescimento bastante favorável para esse período desfavorável. No período de 1970/1980, São Miguel dos Campos, Campo Alegre, Roteiro e Junqueiro tiveram um aumento expressivo e maior do que o de Alagoas, crescendo seu PIB 11,4%, 13,3%, 38,7% e 2 4 , 3 % respectivamente, apenas Boca da Mata aumentou seu PIB em 8%, portanto esse período revela-se como sendo época de ouro para a Mata Sul. Ver tabela 5.3.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 233

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TABELA 5.2: Litoral Sul - PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, no período de 1970 a 1996.

M u n i c í p i o PIB 1970 PIB 1980 80/70 PIB 1985 PIB 1996 ! 96/85 96/70

Piaçabuçu 5308 ,037 8 1 4 9 3 5 3 4,47 9230 ,101 16653 ,271 5,59 7,46

P e n e d o 2 2 9 3 2 , 6 6 9 4 9 7 6 5 , 6 7 8 [8,14 4 2 9 5 2 , 2 1 7 9 6 4 1 8 , 7 1 9 7 ,60 9,33 Feliz Deserto 910 ,268 ¡2623,446 1 1,17 3 9 8 0 , 0 1 7 9 5 9 0 , 9 4 3 8 ,28 15 ,81 Corur ipe 3 1 6 7 6 , 7 1 8 126535,07«-) 14,81 1 6 4 7 1 3 , 5 6 0 1 7 3 6 1 6 , 4 9 4 0,42 1 1,24 Igreja N o v a 5 0 0 1 , 1 4 2 15985,578 12 ,2 22250 ,072 5 6 5 4 2 , 9 7 9 8 ,73 16,31 Barra de S. Miguel 1 5 4 5 , 1 8 5 3648 ,854 8 ,89 6624 ,867 7328 ,394 0,84 10 ,12

L a g o a s / Municípios PIB 11970 PIB 1980 SO/70 P I B 1 9 8 5 PIB 1 9 % 96/85 96/70

Marechal D e o d o r o 1 1 8 6 6 , 3 0 2 2 1 3 4 9 , 4 7 6 6 ,17 6 3 2 5 6 , 0 1 5 1 5 2 7 6 5 , 1 0 3 8 ,28 1 7 , 3 2

Coqueiro Seco 1632 ,157 3 8 2 2 , 9 6 5 8,89 3 6 3 7 , 0 9 7 5 1 8 6 , 9 2 0 3 ,19 7 ,46 Santa Luzia do N o r t e 1007 ,737 6 6 5 7 3 0 7 20,78 16256,1 (»5 49122,01)1. 10,57 27 ,53 Saruba 4 7 6 7 , 5 6 6 7724,391 4 , 9 5 15023 ,296 1 6 3 1 9 , 7 8 0 0 ,84 7 ,92 Total 86647 ,781 2 4 6 2 6 2 , 1 2 7 10,42 347923 ,407 5 8 3 5 4 4 , 6 0 9 4,93 12 ,68

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.

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TABELA 5.3- PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, no Período 1970 a 1996.

Município PIB 1970 PIB 1980 Tx. Cresc. 80/70 PIB 1985 PIB 1996

Tx. Cresc. 96/85

Tx. Cresc.96/

70 Boca da Mata 23.322.184 50.646.815 8,00 53.604.571 43.640.371 -1,80 2,40 Campo Alegre 5.690.198 19.864.890 13,30 46.970.969 47.196.027 0,10 8,50 Junqueiro 7.367.329 65.096.153 24,30 24.789.953,00 25.443.673 0,20 4,90 Roteiro 465.999 12.297.557 38,70 9.571.830 16.674.841 5,20 14,70 São M. dos Campo

51.334.214 151.091.314 11,40 215.221.297 544.841.182 8,80 9,50

Total 88.179.924 298.996.729 13,00 350.158.620 677.796.094 6,20 8,20

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.

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TABELA 5.4 - PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, No Período 1970 a 1996.

Município PIB 1970 PIB 1980 80/70 PIB 1985 PIB 1996 96/85 96/70

Branquinha 9.000 9.107 0,11 6.445 9.041 3,11 0 , 0 2

vlessias 8.126 19,494 9,14 14.479 14.128 -0,22 2,15 São José da Lage 12.780 49.707 14,55 25.803 24.338 -0,53 2,51 Santana do Mundaú 7.499 10.313 3,24 12.992 14.704 1,13 2,60 União dos Palmares 49.560 62.642 2,37 74.071 64.931 -1,19 1,04 Murici 26.736 38.003 3,58 24.842 21.106 -1,47 -0,90 \io 1 .argo 65.544 103.010 4,62 94.475 97.125 0,25 1,50

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.

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A sub-região da Mata Sul, seguindo a tendência das outras sub-regiões, deu elevadas respostas aos grandes investimentos federais, pois nem toda área agricultável já estava ocupada com cana e pecuária, demonstrando o seu crescimento, que fica mais evidente durante a década de 90. Portanto, todos os municípios da Mata Sul tiveram crescimento econômico significativo.A taxa de atividade registrada no Vale é muito baixa. Mesmo nos municípios onde estão localizadas as usinas de açúcar e álcool é pouco expressiva, obrigando grande parte da população em idade ativa a viver na inatividade, significando dizer que 62% não têm qualquer ocupação ou renda.

Outra característica forte da região do Vale, já constatada em outras sub-regiões, é a sua estrutura da propriedade da terra muito concentrada nas grandes propriedades. Para se ter idéia disso, 9,8% de todos os produtores detêm 64,4% das terras da região e, por outro lado, os 90,2% dos outros produtores possuem apenas 35,6% da área total.

A pobreza extrema a que está submetida a região pode ser vista na tabela 5.4 e gráfico 3, onde se observa que a renda familiar per capita está abaixo de meio salário mínimo em 6 dos 7 municípios e, somente em Rio Largo, que se localiza na microrregião de Maceió, essa renda é pouco maior que meio salário mínimo, exatamente 0,51 salário mínimo.

No Litoral Norte, os índices repetem-se. Quanto ao grau de concentração da posse da terra, 17% de todos os produtores detêm 90% das terras da região e, por outro lado, 83% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 10% da área total.

O Portal Sul ostenta situação similar, onde 2,5% de todos os produtores detêm 65% das terras da região e, por outro lado, 65% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 6% da área total. Na sub-região das Lagoas, não é muito diferente, todavia é menos concentrada, pois 15% dos grandes proprietários detêm 60% da área total, e 35% dos pequenos possuem 1,7%.

236 Fernando José de Lira

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Na Mata Sul, 7,97% de todos os produtores com mais de 100 hectares detêm 85,62% das terras da região e, por outro lado, 75,59% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 3,38% da área total.

Conclui-se que essa concentrada estrutura de posse da terra, nas regiões agropecuárias, tem sido extremamente desfavorável aos pequenos produtores, confinando-os aos interstícios das grandes

ropriedades de plantação de cana, ou de pecuária de corte e de ite. Além disso, a forma como a terra foi distribuída definiu a ropriedade dos outros meios de produção, tornando-se o princi-

fator de concentração da renda e poder, com fortes reflexos no nível de pobreza do meio urbano e, sobretudo, do rural.

O cenário social precário de todas essas sub-regiões é onstatado nos baixos salários pagos aos chefes de família, o índice de m o r t a l i d a d e infantil , na a u s ê n c i a de b a s t e c i m e n t o de á g u a , que são graves em t o d o s os unicípios. As condições de habitação e educação deixam uito a desejar, bem c o m o o nível geral de instrução

bastante baixo. Em Paripueira, esse nível está entre os mais baixos do Estado. Mesmo se tratando de uma cidade muito

róxima a Maceió, o efeito dinâmico da educação da capi-al não a lcança , como era de se esperar , o município .

Todavia, a fração da população de 7 a 14 anos de idade tem uma freqüência significativa no ensino básico e fundamen­tal, o que, a médio prazo, gera expectativas positivas em relação à melhoria do nível de vida da sub-região.

No Portal Sul, como nas Lagoas, a percentagem de pessoas com renda insuficiente é muito elevada para os padrões nacional, regional e estadual, ou seja, 79,55% e 71,2%, respectivamente.

O Litoral Norte registra apenas três municípios com hospitais e leitos. São eles: Porto Calvo, Passo de Camaragibe e São Luiz do Quitunde, que, com 150 leitos, atendem a sub-região. O atendimento na região não é especializado. Apesar disso há,

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 237

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por outro lado, situação de saúde pública ainda mais crítica nos 7 municípios que não possuem hospitais.

No Litoral Sul existem apenas três municípios com hospitais e leitos. São eles: Coruripe, Penedo e Marechal Deodoro, com 502 leitos no Portal Sul e apenas 14 leitos nas Lagoas. Mas a pequena classe média desses municípios procura atendimento médico em Maceió, pois o atendimento na região também não é especializado. Novamente, a situação de saúde pública é mais crítica nos 7 municípios que não possuem hospitais. Nesses locais, os agentes de saúde fazem o trabalho de paramédicos.

Na Mata Sul, apenas um município sem hospital e leitos. Os outros são relativamente bem servidos com um total de 197 leitos, mas, mesmo assim, a baixa qualidade dos serviços faz a pequena classe média desses municípios procurar atendimento médico em Maceió. A situação de saúde pública é mais crítica em Roteiro que não possui hospitais. Nesse município, os agentes de saúde fazem o trabalho assistencial.

Assim, de modo geral, o baixo nível de renda per capita do chefe do domicílio, o elevado percentual de pessoas com renda insuficiente, as precárias condições de saúde e de habitação, além do elevado nível de analfabetismo, contribuem, de forma sistêmica, para o elevado grau de exclusão social na região: de sete em cada dez pessoas têm renda insuficiente. Paradoxalmente, o PIB desses municípios cresceu bastante.

Maragogi, Porto Calvo e São Luiz do Quitunde, por serem cidades pólos, possuem maior dinâmica econômica entre os municípios dos Corais. Suas condições de vida são relativamente melhores, porém insuficientes para estimularem o desenvol­vimento regional.

O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais é Maragogi, pois, nos últimos 25 anos, 1970/1996, essa localidade apresentou um crescimento econômico de 4,4% ao ano. Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada dinâmica

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social, pois sua taxa de atividade de 31% fica muito abaixo da taxa de Alagoas (54,9%).

A renda familiar per capita de Maragogi é muito baixa, 1,6 salário mínimo; igualmente é baixo o índice de qualidade de vida municipal. Mais de 80% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Com esses indicadores sua dinâmica social é pouco expressiva, contr ibuindo muito pouco para o desenvolvimento econômico e social da região. Em outras palavras, os problemas que enfrenta a região dos Corais estão presentes em Maragogi, também, de modo significativo.

As cidades das Lagoas, por serem muito próximas de Maceió , possuem maior dinâmica econômica e entre os municípios. Suas condições de vida são relativamente melhores, porém insuficientes para estimularem o desenvolvimento local sustentável.

No Litoral Sul, os municípios cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais são Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro. Nos últimos 25 anos, 1970/1996, essas localidades apresentaram um crescimento econômico de 933%, 11,24% e 17,32 ao ano. Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada mobilidade social, pois suas taxas de atividade e salário médio do chefe das famílias ficaram muito abaixo das taxas de Alagoas.

Penedo apresenta renda familiar muito baixa, 1,9 salário mínimo e um baixo índice de qualidade de vida municipal, pois mais de 72% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Marechal Deodoro registra renda familiar de 1,7 salário mínimo, e 76% das pessoas têm renda insuficiente.

Na Mata Sul, Boca da Mata e São Miguel dos Campos, pela proximidade com Maceió, possuem maior dinâmica econômica entre os municípios. Suas condições de vida equiparam-se às encontradas na sub-região das Lagoas.

O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais é São Miguel dos Campos, pois, nos últimos 25 anos, 1970/1996,

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 239

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essa localidade apresentou um crescimento econômico de 9,5% ao ano. Todavia, isso não produziu resultados importantes nos outros municípios. No próprio município de São Miguel dos Campos, não houve a esperada mobilidade social, pois suas taxas de atividade e o salário médio dos chefes de família ficaram muito abaixo das taxas de Alagoas, do Nordeste e do Brasil.

Em São Miguel, a situação é semelhante à de Penedo, com renda de 1,3 salário mínimo e um baixo índice de qualidade de vida municipal. Mais de 72% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. Boca da Mata registra renda familiar de 1,5 salário mínimo e 85% das pessoas têm renda insuficiente.

Em Rio largo, o chefe de família tem, em média, quase 4 anos de estudos. Nos outros municípios, a escolaridade fica em torno de 2 anos. Em Branquinha, é de 1,1 ano. Em União dos Palmares, considerado o município pólo da região, a cobertura do ensino fundamental é a terceira mais baixa da região, só superando Murici e Branquinha, e os chefes de família têm, em média, pouco mais de 2 anos de estudo.

Os demais indicadores de União dos Palmares, como educação, abastecimento de água, fornecimento de energia, mortalidade infantil, estão também em sintonia com os dos outros municípios. Registra três municípios sem hospitais e leitos. São eles: Branquinha, Santana do Mundaú e Messias. Rio Largo e União dos Palmares possuem dois hospitais, sendo que este município, por ser mais distante de Maceió do que Rio Largo, possui 132 leitos hospitalares que atendem a toda a região do Vale , notadamente àqueles municípios sem hospitais.

Rio Largo, que está entre as cidades de maior dinâmica econômica do Estado, sobressai-se entre os municípios do Vale. Suas condições de vida são relativamente melhores. Localizado na microrregião de Maceió, possui um acesso à escola, bem como uma mão-de-obra mais qualificada, e oferece melhores condições

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de vida à população, gerando uma classe média maior que a dos outros municípios da região.

O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais do Vale é União dos Palmares, porém, nos últimos 25 anos, 1970/1996, essa cidade apresentou um crescimento econômico de apenas 1,0%. Possui uma taxa de atividade de 53,7%, aproximando-se da de Alagoas (54,9%), mas bastante in­ferior à do Nordeste, que é de 66,1 % da população em idade ativa.

Por outro lado, a renda familiar per capita de União dos Palmares é muito baixa, 0,42% do salário mínimo, menos que metade. Possui baixo índice de qualidade de vida, e mais de 80% das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. No período de 1997 a 2000, teve uma taxa anual negativa de -3,2% na arrecadação de ICMS, e sua estrutura fundiária é a mais concentrada do Vale. A tabela 5.10 vem conf i rmar essa afirmativa, quanto ao Vale do Mundaú, pois, no período de 1997 a 2000, a arrecadação de ICMS caiu ou teve elevação anual pequena. A única exceção foi o município de São José da Lage, que registrou um aumento anual de 17,8%.

Com esses indicadores, a dinâmica econômica dos municípios abordados é de pequena expressividade, contribuindo muito pouco para o desenvolvimento econômico e social das regiões. Em outras palavras, os problemas econômicos e sociais apresentados estão presentes em todos os municípios do Estado, com maior ou menor gravidade, mas sempre de modo significativo.

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TABELA 5.5 - Litoral Norte - População, população em idade ativa, taxa de atividade + população ocupada 2000.

Em milhares de pessoas

Município População PIA PEA População Ocupada

Taxa de Atividade % Desempregados

Barra de Santo Antonio 11351 4973 725 614 14 72 Japaratinga 6868 4443 2471 2224 55 247 Maragogi 21832 9261 2926 2634 31 292 Matriz do Camaragibe 24016 12920 3462 3116 27 346 Porto C alvo 23951 13173 5629 5012 43 683 Porto de Pedras 10235 5528 1799 1600 32 197 Paripueira 8049 4668 498 474 11 24 Passo do Camaragibe 13755 7152 1548 1440 22 108 São Luiz do Quitunde 29543 16839 6453 5679 38 274 São Miguel dos Milagres 3860 3281 287 273 8 14

FONTE: IBGE - Contagem da população.

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TABELA 3.6 - LITORAL NORTE - Renda familiar per capita, IQVM, Pessoas com renda insuficiente, 1996.

Município Renda Média

Familiar Per capta (SM)

IQVM Municipal

Nível IQVM

Percentagem de pessoas com renda insuficiente

Barra Santo Antônio 0,27 0,425 Baixo 89 Japaratinga 0,3b 0,368 Baixo 86 Maragogi 0,32 0,423 Baixo 84 Matriz do Camaragibe 0,30 0,370 Baixo 86 Porto Calvo 0,44 0,400 Baixo 79 Porto de Pedras 0,26 0,380 Baixo 90 Paripueira 0,21 0,391 Baixo 92 Passo de Camaragibe 0,20 0,368 Baixo 80 São Luiz do Quitunde 0,30 0,387 Baixo 84 Sào Miguel dos Milagres 0,31 0,387 Baixo 79

Fonte: IBGE

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TABELA 5.7 LITORAL SUL - População, População em Idade Ativa, Ocupada, Taxa de Atividade, em 1999.

Município PIA PEA

847

População Ocupada

Taxa de Atividade %

Piaçabuçu 10874

PEA

847 — 777

7,90 Penedo 38142 5169 5069 13,50 Feliz Deserto 2491 226 202 9,10 Coruripe 33081 15634 14213 47,30 Igreja Nova 13139 2222 2020 16,90 Barra de São Miguel 4202 519 472 12,30

Lagoas/Municípios PIA PEA População ocupada Taxa de

Atividade % Marechal Deodoro 20095 6447 5861 32,10 Coqueiro Seco 3530 276 251 7,80 Santa Luzia do Norte 4466 361 329 8.1 Sa tuba 4942 938 8 5 3 18,90

Fonte: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 5.8 - Vale do Mundaú - População, População em Idade Ativa, Ocupada, taxa de atividade, 1999.

Em Milhares de Pessoas

Município População PEA P.O. Taxa de

Atividade %

Branquinha 11 5 1,5 30 Messias 12 6 0,9 15 São José da Lage 21 12 6,9 57,5 Santana do Mundaú 12 6 3,9 65 Jnião dos Palmares 58 30 16,1 53,7 \ hi ria 25 13 1,7 13,1 Rio Largo 62 35 9,6 27,4 ALAGOAS 2.818 54,9 NORDESTE 66,1

Fonte: IBGE

244 Fernando José de Lira

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TABELA 5.9 LITORAL SUL - Alagoas, IQMV, Pessoas com Renda Insuficiente, 1996.

Município IQMV

Municipal Nível IQMC

Percentagem de Pessoas com Renda Insuficiente

Piaçabuju 0,3% baixo 76,30 Penedo 0,455 médio 71,91 Feliz Deserto 0,439 baixo 86,89 Coruripe 0,451 médio 70,87 Igreja Nova 0,36-1 baixo 91,47 Sarra de Sâo Miguel 0,33" médio 79,90

Lagoas/Municípios IQMV Municipal Nível IQMV Percentagem de Pessoas com Renda Insuficiente

Marechal 1 )eodoro 0,497 médio 75,99 Couueiro Seco 0.395 baixo 73,65 Santa Luzia do Norte 0,450 médio 67,39 Samba 0.493 médio 67.83

FONTE: Secretaria de Planejamento do Estado de Alagoas - SEPLAN / AL.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 245

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TABELA 5.10 - Vale do Mundaú -Alagoas Renda Familiar Per capita, IQVM, Pessoas com Renda Insuficiente, 1996.

Município Renda Familiar Per capita média (SM)

IQVM Municipal

Nível IQVM

Percentagem de Pessoas com Renda Insuficiente

Branquinha a 23 0,315 Baixo 90,42 Messias 0,45 0,453 Médio 79,58 São José da Lage 0,38 0,385 Baixo 79,57 Santana do Mundaú 0,32 0,342 Baixo 84,34 União dos Palmares 0,42 0,394 Baixo 80,39 Murici 0,34 0,386 Baixo 83,38 Rio Largo 0,51 0,495 Médio 67,38

Fonte: IBGE

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TABELA 5.11 MATA SUL - População, População em Idade Ativa, Ocupada, Taxa de atividade, 1999.

Município

Em milhares de Pessoas

Município População

16.963

PIA

12.780

PEA P . O Taxa de

Atividade %

Boca da Mata

População

16.963

PIA

12.780 4601 4.183 36,0% Campo Alegre 28.969 24.707 4883 4.257 19,8% Junqueiro 16.355 15.588 3043 767 19,5% Roteiro 4.750 4.553

25.741

697 197 16,2% São Miguel dos Campos

36.236

4.553

25.741 12069 10.495 48,9%

onte: IBGE

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 247

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TABELA 5.12 MATA SUL - Domicílios Particulares Permanentes, com Ligação de Água, Energia, Telefone, Taxa de mortalidade Infantil e Renda Média do Chefe, 1996.

População em Domicílio Particular

Município Domicílios Água Energia Telefone

Ativo Mortalidade

Infantil IQVM

Municipal Renda Média

do Chefe S .M.

Boca da Mata 100 11,52 13,22 0,98 92 0,422 1,564 Campo Alegre 100 2,83 10,46 0,34 91 0,332 1,699 lunqueiro 100 5,45 17,6 0,99 90,0 0,391 1,278 Koleiro 100 7,31 12,2 0,14 92,1 0,367 1,577 São Miguel dos Campos 100 15,74 13,87 1,8 80,2 0,435 1,335

Fonte: IBGE

Page 254: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 5.13- Mata Sul - Domicílios Particulares Permanentes, Com Ligação de Agu Energia, Telefone, Taxa de Mortalidade Infantil e Renda Média do Chefe, 1996.

Q •O Qi O a D

c CD M O CD Cl Q

"D O U a> Ni Q O-0) > o

K j o Q

População em Domicílio Particular em %

Município Domicílios Água Energia Telefone Ativo Mortalidade Infantil

Renda Média do Chefe S.M.

Branquinha 1.848 5,65 8,54 0,0 83 1,1 Messias 2.122 12,6 13,3 0,9 83 1,9 São José tia Lage 5.013 10,4 13,7 1,0 109 1,3 Santana do Mundaú 2.676 6,4 12,3 0,4 109 1 União dos Palmares 9.123 14,2 15,5 1,3 109 1,5 Murici 4.747 10,2 11,6 0,8 83 1,3 Rio Largo 13.320 13,3 16,3 L5 54 1,9 ALAGOAS 26

FONTE: IBGE - Contagem da População.

IO -O

Page 255: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

^ Capítulo VI

Fernando José de Lira 1

Francisco Rosário 2

Estrutura da produção monopolista O padrão de desenvolvimento da economia das duas sub-

regiões, Litoral Norte e Sul, segundo o Censo Agropecuário de 1995/96, e a Produção Agrícola Municipal (PAM/IBGE), estão concentrados na agricultura, apresentando um desenvolvimento industrial relativamente pouco diversificado. A exceção é Marechal Deodoro que além de usina de açúcar, possui indústrias de bens intermediários.

Mesmo com esse perfil industrial as sub-regiões têm predominância da agricultura, que sempre foi e continua sendo a atividade mais importante. É através dela que as famílias mais pobres têm buscado novas alternativas para sua economia, mas 0 processo simultâneo de cultivo da cana-de-açúcar e coco, na forma de monocultura, é inibidor da introdução de novas atividades agropecuárias, por causa da estrutura concentrada e consolidada da propriedade da terra, a partir de 1850, associada à recente expansão da pecuária no Portal Sul.

A estrutura da distr ibuição dos es tabe lec imentos agropecuários do Litoral Norte mostra-se fortemente concentrada. Em 1995, 83% dos estabelecimentos tinham menos de 100 hect-

y

ares e controlavam 10% da área total. No outro extremo, dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 17%, do to­tal, controlavam mais de 90% da área total. A área média dos 1 Prof. Dr. da Ufal. 2 Doutorando em Administração UFRJ.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 251

Page 256: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

estabelecimentos pequenos - de menos de 10 hectares - foi de 3,5 hectares, e a dos grandes - mais de 100 hectares - foi de 473,6 hectares. O Portal Sul e Lagoas mostram-se fortemente concentrados. Em 1995,96% dos estabelecimentos tinham menos de 100 hectares e controlavam 31% da área total. No outro extremo, dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 4% controlavam 69% do total.

Na Mata Sul a distribuição se mostra fortemente concentrada. Em 1995, 76% dos estabelecimentos tinham menos de 100 hectares e controlavam 3% da área total. No outro extremo, dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 8% do total dos proprietários controlavam 86% da área total. A área média dos estabelecimentos pequenos - de menos de 10 hectares - é de 2,4 hectares, e a dos grandes, mais de 100 hectares, de 612 hectares.

Essa centralização da posse da terra é muito superior à registrada em Alagoas - considerado um dos Estados de maior concentração da propriedade da terra - pois, no Estado, 96% dos pequenos estabelecimentos possuem 35% da área total, e 3,2% dos grandes controlam 64,2% dessa área. Há, portanto, uma estrutura fundiária mais favorável ao pequeno produtor do que a existente na região do Litoral Norte, visto que a área média dos grandes estabelecimentos de Alagoas era, em 1995, 122 vezes maior do que a dos pequenos, enquanto no Litoral Norte essa diferença é de 135 vezes; no Portal Sul, é de 166 vezes; nas Lagoas, de 100 e, na Mata Sul, chega a 255 vezes.

Essa forte concentração da posse da terra foi decisiva na definição do padrão do desenvolvimento da região, assentado no coco e nas grandes plantações de cana-de-açúcar. Esta última, entrou em crise profunda a partir de 1985, com o fim do Proálcool e, mais especificamente a partir de 1990, com os processos de abertura comercial, a globalização dos mercados e a reestruturação produtiva, na busca da competitividade de outras regiões mais adiantadas. Essa crise abriu espaços e possibilidades não aproveitadas de

252 Fernando José de Lira

Page 257: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

diversificação das atividades agrícolas e não-agrícolas no meio rural e das atividades não-agrícolas no meio urbano.

No âmbito dos municípios das sub-regiões estudadas a estrutura agrária mostrou-se ainda mais concentrada, ver nas tabelas 6.1, 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5. A proporção do número e área dos estabelecimentos por município, bem como sua área média por extrato de área. Na tabela 6.1, Matriz de Camaragibe, Porto de Pedra, Paripueira e Passo de Camaragibe são os municípios que apresentam o maior nível de concentração da propriedade, com os pequenos produtores controlando menos de 1% da área total e os grandes proprietários detendo mais de 90% de toda a área cultivável.

Já no âmbito dos municípios do Portal Sul, a estrutura agrária mostrou-se ainda mais concentrada. A tabela 6.2 mostra que Penedo, Coruripe e Igreja Nova possuem área média dos grandes produtores muito elevada.

Nos municípios, da Mata Sul, a estrutura agrária mostrou-se mais concentrada nos Municípios de Boca da Mata, São Miguel dos Campos e Campo Alegre, com área média dos grandes produtores bastante alta.

Nessa mesma tabela 6.2 nota-se que Satuba e Marechal Deodoro são dois municípios das áreas de Lagoas com maior área média dos grandes proprietários.

A área média dos pequenos produtores é pouco mais de 2,5 hectares, enquanto os grandes agricultores possuem uma área média superior a 400 hectares, significando dizer que essa área é 160 vezes maior do que a que cabe a cada pequeno produtor. Por conseguinte, nessa sub-região, praticamente não existe pequeno produtor, portanto sua agropecuária está fundamentalmente baseada nas grandes propriedades.

A estrutura da distr ibuição dos es tabelec imentos agropecuários do Vale do Mundaú mostra-se fortemente concentrada . Na tabela 6.3, em 1995 , mais de 9 0 % dos estabelecimentos tinham menos de 100 hectares e controlavam

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 253

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TABELA 6.1 LITORAL NORTE - Área média dos estabelecimentos agropecuários, por grupo de área total.

Município Grupo de Area total

Município Menos de 10 há Área media

De 10 a 100 há Área média

Mais de 100 há Área média

Barra Santo Antonio 4 47,7 515,8 Japa ra tinga 2,5 10,1 483,2 Maragogi 3,4 30/1 440,3 Matriz do Camaragibe 5,1 92,7 561,5 Porto Calvo 4,3 34,3 407,6 Porto (lo Pedras 3,6 .38,0 350 Paripueira 4,3 21,8 658 Passo de Camaragibe 2.9 35,0 392 São Luiz do Quitunde 2,4 51,0 453 Sào Miguel dos Milagros 2,1 31,0 487

FONTE: Censo demográfico. 2000 .

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14,8% da área total. No outro extremo, o dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 9,8% do total controlavam mais de 85% da área total. A área média dos estabelecimentos pequenos - de menos de 10 hectares - foi de 3,3 hectares, e a dos grandes, mais de 100 hectares, foi de 529 hectares.

Ao âmbito dos municípios do Vale, a estrutura agrária é muito concentrada. A tabela 6.3 mostra a proporção do número e área dos estabelecimentos por município, bem como sua área média por extrato de área. Nessa tabela, Rio Largo é o município que apresenta o maior nível de concentração da propriedade, com os pequenos produtores controlando apenas 1,3% da área total e os grandes proprietários, 98,7% de toda a área cultivável.

A área média dos pequenos produtores é pouco mais de meio hectare, enquanto os grandes agricultores possuem uma área média superior a 1.602 hectares, significando dizer que essa área é 2.136 vezes maior do que a que cabe a cada pequeno produtor. Por conseguinte, Rio Largo, praticamente não possui pequeno produtor e, portanto, sua agropecuária está fundamentalmente baseada nas grandes propriedades.

Outro município importante, onde a posse da terra tem distribuição muito concentrada, é União dos Palmares. Na tabela 6.3, observa-se que, nesse município, 79,4% dos produtores possuem menos de 10 hectares de terra, utilizando apenas 16,6% de toda a área; já os grandes proprietários representam somente 4% do total de produtores, porém controlam quase dois terços da área total. A tabela 6.3 vem confirmar essa concentração, pois, enquanto os pequenos produtores têm uma área média de apenas 3,26 hectares, a área média dos grandes chega a quase 400 hectares.

Assim, a estrutura agrária dos municípios próximos ou sob a influência de União dos Palmares é, praticamente, a mesma, merecendo des taque Santana do M u n d a ú e Murici , por apresentarem, no Vale, uma configuração da posse da terra com a mais baixa concentração da posse da terra.

254 Fernando José de Lira

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TABELA 6.2 - Litoral Sul - Área Média dos Estabelecimentos Agropecuários por Grupo de Área Total e por Município, 1995/96.

Município

Grupo Área Total

Município Menos de 10 Área Média/Hectare

De 10 a 100 Área

Média/Hectare

Mais de 100 Área

Média/Hectare

Piaçabuçu 3 ,4 27,0 2 6 9 , 9 Penedo 2,6 23 ,9 9 1 6 , 5 Feliz Deserto 2,9 33,6 4 2 3 , 9 Coruripe 3,0 25,7 6 0 1 , 0 Igreja Nova 3 ,0 21 ,8 1 0 6 8 , 1 Barra de S. Miguel 6,8 2 5 , 7 2 8 3 , 3

Lagoas / Municípios Menos de 10 Área Média/Hectare

De 10 a 100 Área

Média/Hectare

Mais de 100 Área

Média/Hectare Marechal Deodoro 3,3 36 ,7 4 3 3 , 5 Coqueiro Seco 2,1 3 3 , 6 1 5 8 , 3 Santa Luzia do Norte 5 , 7 4 3 , 3 1 3 5 , 0 Satuba 1,1 6 5 , 5 4 7 6 , 5 Média Total 3 4 3 3 , 7 4 7 6 , 6

FONTE: IBGE - Censo demográfico, 2000.

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TABELA 6.3 - Vale do Mundaú - Área Média dos Estabelecimentos Agropecuários por Grupo de Área Total e por Município, 1995/96.

Município

Grupo de Área Total

Município Menos de 10 Área Média /Hectare

De 10 a 100 Área Média/

Hectare

Mais de 100 Área Média

/Hectare

Rio Largo 0,75 65,00 1.602,42 Branquinha 3,74 41,66 524,48 Messias 0,50 32,56 491,56 Murici 7,43 50,55 460,01 Satana do Mundaú 3,12 24,54 235,66 -ião José da Lage 4,45 29,82 375,63 União dos Palmares 3,26 24,96 387,41

FONTE: IBGE - Censo demográfico, 2000.

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Os dados observados vêm comprovar que, em todos os municípios das sub-regiões do Litoral Norte, Litoral Sul, Lagoas e Mata Sul, as áreas exíguas dos pequenos produtores foram transformadas em um minifúndio de subsistência, com pouca participação no PIB gerado na região e, nesse sentido, quase toda a riqueza produzida decorre da monocultura da cana-de-açúcar. Em menor proporção da cultura do coco e, muito pouco, das at ividades pesqueira e pecuária mais presentes na Mata Sul.

Essa estrutura agrária muito assimétrica vem sendo motivo de debate desde os anos 30 do século passado, quando a reforma agrária era a principal reivindicação dos pequenos produtores sem terra e dos trabalhadores rurais. Esse debate foi interrompido no período de 1964 a 1985, quando a modernização agrícola, baseada nos princípios da revolução verde, prometia aumentar a produtividade para alimentar as pessoas nas cidades; liberar mão-de-obra para o setor serviços e indústria, bem como fornecer matéria-prima barata para indústria.

A partir de 1985, esse modelo de desenvolvimento entrou em crise e, com a Nova República, em 1986, a questão agrária voltou a ser motivo de preocupação no Brasil, agora é apontada como parte da solução dos graves problemas de desocupação no meio urbano e de fixação do homem no meio rural.

Nessa perspectiva, a partir de 1986 e, principalmente, de 2000, a política de reforma agrária do INCRA, aliada à pressão dos movimentos sociais dos sem-terra, resultou num grande número de ocupações e assentamentos em todo o país e em Alagoas, com predominância na Zona da Mata deste Estado, transformando-se na unidade federativa com o maior número relativo de conflitos de terra do Brasil.

No Litoral Norte, os conflitos estiveram presentes em quase todos os municípios, mas foi em Porto Calvo, Maragogi e São Luiz do Quitunde que os assentamentos surgiram como esperança

258 Fernando José de Lira

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de reforma agrária, com impacto econômico e social bastante favorável, no meio rural e urbano dos municípios.

Esse é um fenômeno novo na região. Segundo a maioria dos entrevistados, os municípios onde estão localizados foram beneficiados, gerando expectativas de melhoria nas condições de vida no campo e nas cidades, podendo, inclusive, resultar numa nova dinâmica econômica baseada na diversificação produtiva. Esse pode ser o caso, por exemplo, de Maragogi que abriga o maior número de famílias.

Apesar da participação de outras atividades na estrutura produtiva na região dos Corais, existe a forte predominância da cana-de-açúcar, de bovinos, coco e avicultura, sendo que a primeira é praticada basicamente em grandes propriedades - propriedades acima de 1000 hectares. O cenário é o mesmo na região do Portal Sul, principalmente na sub-região das Lagoas. A participação de outras atividades na estrutura produtiva na região da Mata sul é inexpressiva, com predominância da cana-de-açúcar, de bovinos e da avicultura, sendo que a primeira é praticada basicamente em grandes propriedades, acima de 1000 hectares.

São Miguel dos Milagres é exceção, pois combina coco, bovinos, aves e suínos. A avicultura é forte em 4 municípios: Barra de Santo Antônio, Japaratinga, Maragogi e Porto de Pedras. A bovinocultura, em Matriz de Camaragibe, Porto Calvo e Passo de Camaragibe, e cana-de-açúcar destaca-se na forma de monocultura, em 9 dos dez municípios. Matriz de Camaragibe e São Luiz do Quitunde têm quase que 100% de sua área agricultável ocupada com cana-de-açúcar. Maragogi, Porto Calvo e São Luiz do Quitunde, os três municípios mais importantes da região, possuem mais de dois terços de sua área agricultável coberta com cana-de-açúcar. (Ver tabelas 6.4 e 6.5).

O coco, que já foi uma cultura importante na região, atualmente está em fase extrativista. A degeneração da planta e a inexistência de pesquisa científica, associadas à ausência de

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 259

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TABELA 6.4 - Litoral Norte - Proporção das principais atividades agrícolas, em área, de 2000.

Município

Em percentagem

Município Coco da Bahia

Cana-de-Açúcar Banana Feijão Milho Mandioca Laranja

Barra Santo Antônio 5,8 93 0,01 0,5 0,2 0,5 0,03 lapardtingti 35,5 57 2 2,6 1,6 1,2 0,3 Maragogi 18,5 76,2 1,6 1,6 0.8 1,2 0,1 Matriz do Camaragibe 0,5 96,8 0,4 0,8 0,5 0,9 0,1 Porto Calvo 3,4 90,8 1,5 1,2 1 1,8 0,3 Porto ilo Peclr.is 18,6 73,9 1 1,9 1,6 2,9 0,1 Paripueira 29,1 bS,3 0,1 0,8 0,3 1,3 0,1 Passe de Cciiii.iragilx' 7,7 89,2 0,2 0,5 0,4 1,8 0.2 São Luiz do Quitunde 0 98,7 0,2 0,3 0,3 0,5 0,1 São Miguel dos Milagres 70,7 19,3 2,3 2,3 1,1 4,2 0,1

FONTE: IBGE - SIDRA.

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técnicas modernas, tornaram a cultura pouco competitiva, e transformando-se quase que numa atividade de subsistência. A tabela 6.5 e 6.6 mostram a baixa importância relativa do coco, quando comparado com a cana-de-açúcar, pois mesmo na década de 90, quando a cana-de-açúcar sofre uma retração importante, o coco também cai, portanto não é capaz de preencher os espaços deixados pela cana-de-açúcar.

Em todos os municípios mais 90% de sua área agricultável é ocupada com cana-de-açúcar. A pecuária é quase uma atividade extensiva, com maior importância apenas em São Miguel dos Campos.

260 Fernando José de Lira

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TABELA 6.5 - LITORAL SUL - Proporção das Principais Atividades Agrícolas de Área Colhida, em 1999.

Município B a n a n a % Cana-de-açúcar % Feijão % Laranja % Mandioca % Milho % Coco % Total Piaçabuçu 0,55 0,00 0,00 0,04 0,13 0,00 99,28 100

100 Penedo 0,21 91,85 0,90 0,12 3,65 0,68 2,60 100 100

Feliz Deserto 0,00 74,02 0,29 0,00 0,04 0,00 25,65 100 Coruripe 0,04 89,24 3,52 0,03 0,11 2,73 4,32 100 Igreja Nova 0,11 64,37 12,67 0,65 12,61 9,47 0,1 1 100 liarra de Saci Miguel 0,08 92,81 0,25 0,00

LaranjaVo 0,34 0,25 6,26 100

Lagoas/Municípios Banana% Cana-de-açúcar% Feijão 0,00

LaranjaVo Mandioca"/) Milho% Coco% Total Coqueiro Seco 7,76 67,47 11,11 0,00 3,08 1,07 9,50 100 Santa Luzia do Norte 1,26 87,87 3,79 0,00 0,00 0,59 6,49 100 Sa tuba 0,10 84,91 3,95 0,00 1,56 0,62 8,84 100 Total 0,17 85,21 3,07 0,07 1,48 2,22 7,76 100 Marechal Deodoro 0,06 90,16 0,14 0,01 0,28 0,04 9,31 100

FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2000- IBGE.

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Tabela 6.6 Mata Sul - Proporção das Principais Atividades Agrícolas da Área Colhida, em 2000 (hec).

Município Total %

Banana %

Cara-de-Acúcar %

Feijão %

Laranja %

Mandioca %

MUho %

Coco %

Boca da Mata 100 0,03 99,04 0 3 0 0,07 0,33 0 Campo Alegre 100 0,07 98,77 0,59 0,02 0,1 0,46 0 Junqueiro 100 0,02 90,94 6,5 0,04 0,4 2,1 0 Roteiro 100 0 9835 0 0 0 0,3 134 Sâd Miguel dos Campos 100 0 96 2 0 0 1 1

FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2000 - IBGE.

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Apenas em Piaçabuçu, o coco apresenta-se como monocultura. Igreja Nova tem suas atividades agropecuárias mais diversificadas e associa cana, feijão, mandioca, milho, bovinos e aves. A avicultura tem uma participação importante em quase todos os municípios, mas é forte em Penedo, Igreja Nova e Barra de São Miguel. Na área das Lagoas, a pecuária é diversificada, com participação moderada da bovinocultura.

Exclusive Piaçabuçu, nos outros municípios, mais de dois terços de sua área agricultável é ocupada com cana-de-açúcar. O coco quase não está presente em Igreja Nova e, nos outros municípios, tem participação próxima de 8%. Essa cultura que já foi importante nas duas sub-regiões, atualmente está em fase extrativista, praticamente como atividade de subsistência, por causa da exploração imobiliária, além da incidência dos demais fatores já registrados em outras áreas.

Apesar da participação de outras culturas na estrutura produtiva do Vale do Mundaú, existe a forte predominância de cana-de-açúcar, de bovinos e de avicultura, sendo que as primeiras culturas são praticadas basicamente em grandes propriedades -com acima de 1000 hectares.

A exceção fica com Santana do Mundaú, que combina fruticultura, bovinos e aves. A avicultura é forte em 3 municípios, a bovinocultura e a cana-de-açúcar são destaques em mais 3. Os municípios de União dos Palmares, São José da Lage e Rio Largo, os três maiores da região, concentram suas atividades agropecuárias em cana-de-açúcar e avicultura. (Ver tabelas 6.7 e 6.8).

Os dados mostram o quão decisivo foi o apoio federal e estadual para cana-de-açúcar no Vale, gerando grande aumento da área cultivada. A pecuária, centrada no gado bovino, ampliou suas pastagens nos últimos 25 anos, quando passou de 34 mil hectares em 1970, para próximo de 50 mil hectares, com crescimento anual de 1,5. Ver tabelas 6.8 e 6.9 e gráficos 6.1, 6.2 e 6.3.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 265

Page 269: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 6.7 - Vale do Mundaú - Proporção das Principais Atividades Agrícolas da Área Colhida, em 1995/96.

Município Total %

Banana

%

Cana-de-Açúcar %

Feijão %

Laranja %

Mandioca %

Milho %

Branquinha 100 0,0 99,98 0,01 0,01 0,0 0,0 Messias 100 0,0 100,00 0,00 0,00 0,0 0,0 São José da Lage 100 0,3 99,28 0,07 0,18 0,1 0,1 Santana do Mundaú 100 17,6 12,50 5,70 52,30 2,5 9,3 Murici 100 0,5 99,40 0,00 0,10 0,0 0,0 Rio Largo 100 0,0 100,00 0,00 0,00 0,0 0,0 União dos Palmares 100 6,6 82,60 2,20 2,10 4.7 1,8

FONTE: Prod. Agrícola Municipal, 2000 - IBGE.

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TABELA 6.8 - Mata Sul - Proporção em Cabeças, das Principais Atividades Pecuárias, em 2000, (%).

Município Total Caprinos Bovinos Aves Asinino e Muares Eqüinos Ovinos Suínos

Boca da Mata 100 2,42 49,61 39,83 3,88 2,28 0,68 1,36 Campo Alegre 100 4 42 39 3 3 2 7 Junqueiro 100 1,12 35,37 60,02 1,2 1,68 1,16 1,84 Roteiro 100 47,52 6,93 0 13,86 17,82 13,86 0 São Miguel dos Campos 100 2,07 48,49 36,57 2,94 2,78 1,43 5,72

FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2000- IBGE.

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TABELA 6.9 - Vale do Mundaú - Proporção em Cabeças, das Principais Atividades Pecuárias, em 1999 (%).

Município Total % Caprinos Bovinos Aves Asininos e Muares Eqüinos Ovinos Suínos

Branquinha 100 3,9 41,2 35,5 7,3 0,3 7,7 4 MESSIAS 1(1(1 3,4 44,8 37,5 3,2 1,4 5,1 4,5 Murici 100 1,4 77,1 10,4 2,2 3,9 2,4 2,6 Saul.ma DO Muiulau 100 0,9 33,9 37, Í 2,2 2,3 1,1 2,2 SÃO JOSÉ da LAGE 100 0,5 14,4 65,7 0,7 R), 1 7,2 6,2 RIO LARGO 100 0,2 0,3 97,6 0,2 0,8 0,2 0,7 UNIÃO DOS PALMARES 100 0,2 1,2 9 1,6 0,2 0,1 0,2 0,6

FONTE: IBGE - PAM, 2000.

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GRÁFICO 6.1 - Crescimento das Atividades Pecuárias.

Produção de

FONTE: Censo demográfico, 2000.

GRÁFICO 6.2 - Atividades Pecuárias - proporção em cabeças.

Caprinos% Bovinos % Aves % Muares % Eqüinos % Ovinos % Suínos %

FONTE: Censo demográfico, 2000.

268 Fernando José de Lira

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GRÁFICO 6.3 - Atividades Pecuárias que mais cresceram e descresceram (n° de cabeças) de 1990/99.

I JDTKCremrr0To% |

FONTE: Censo demográfico, 2000 e 1990.

Quanto às culturas por municípios, notamos quase ausência de fruticultura. A área da Mata Sul e das Lagoas tem relevo, solo e clima muito propícios à cana-de-açúcar e coco-da-baía, mas se pode estimular as agroindústrias voltadas para atender aos turistas, necessitando, por conseguinte, de ações prioritárias para seu estímulo.

Há, também, vantagens comparativas em relação à olericultura, principalmente à horticultura. As grandes várzeas com água abundante o ano todo e a proximidade de seus municípios da cidade de Maceió e Recife garantem um grande mercado à região, que lhe permitiria substituir as elevadas importações que Alagoas faz desses produtos, de outros Estados do Nordeste e até de São Paulo.

Em relação ao milho e feijão, principalmente, as grandes várzeas, com água abundante o ano todo, e a proximidade dos municípios de Boca da Mata e São Miguel dos Campos da cidade

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 269

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de Maceió garantem um grande mercado à sub-região, que lhe permitiria substituir as elevadas importações que Alagoas faz desses produtos.

Alagoas importa mais de 80% dos produtos desse gênero e, portanto, a região tem mercado quase cativo. Para tanto, necessita de estímulos nas formas de assistência técnica, capacitação e crédito, dirigidos preferencialmente aos agricultores familiares.

Os assentamentos, principalmente aqueles localizados em Maragogi, poderiam ser áreas que, dadas as condições necessárias à produção e produtividade, ficariam habilitadas a suprirem essa demanda de importação, todavia sua baixa capacidade produtiva não tem permitido a ocupação desse espaço de demanda reprimida.

Isso pode também ser válido relativamente à pecuária de corte de pequenos animais, como avicultura e ovinos. Observando a tabela 6.3, essa atividade aparece com percentuais importantes em todos os municípios, especialmente em Barra de Santo Antônio. Entretanto essa alternativa de produção agropecuária só é exeqüível para a região, se for praticada na visão de agronegócio.

Como se sabe, nos Corais já existem pequenas iniciativas de diversificação da produção agropecuária, necessitando de estudos económicos, agronômicos, zootécnicos, mercadológicos e tecnológicos para definir as estruturas de governança e estratégias de atuação, no sentido de incentivar sua expansão.

Essa diversificação de produção, no meio rural, gera mais empregos, renda e maior arrecadação de impostos, permitindo uma melhor distribuição de renda e, por conseguinte, tornando as feiras mais dinâmicas e o mercado interno de consumo de produtos agr ícolas e não-agrícolas mais expressivo. Adicionalmente, a diversificação produtiva contribuiria para a melhoria das condições ambientais.

Na tabela 6.10 e no gráfico 6.4, temos a relação das atividades agrícolas que mais cresceram e decresceram no

270 Fernando José de Lira

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período de 1990/99. Nota-se que o coco-da-baía e, principalmente, a cana sofreram queda de 0,05% e 2,2% ao ano, respectivamente. Quanto às outras culturas, todas tiveram crescimento na área colhida, com destaque para a laranja, que teve um incremento de 13,50%. Na tabela 6.11 e no gráfico 6.5, temos a relação das atividades agrícolas que tiveram o maior incremento e aquelas que mais decresceram no período de 1990/ 99. O coco-da-baía e, principalmente, a cana, que reduziram sua produção. Em relação às demais culturas, todas tiveram redução na área colhida, com ressalva para a mandioca que decresceu em 7,15%, e o milho com redução de 3,02%.

É importante observar, nessa tabela, o crescimento registrado pelo milho e feijão, pois Alagoas tem sido grande importador desse produto e o próprio Estado, por ter uma avicultura vigorosa, importa grande quantidade de milho, significando dizer que há um mercado local e estadual pouco explorado.

Na tabela 6.10 e no gráfico 6.4, temos a relação das atividades agrícolas que mais cresceram e decresceram no período de 1990/99. Nota-se que no Vale do Mundaú, com exceção da cana, que sofreu um aumento significativo de 38,5%, do feijão, que teve um incremento de 2,8%, e do milho, que se elevou em 3 , 4 % ao ano, todas as outras culturas tiveram crescimento negativo. Banana, batata-doce e mandioca caíram às taxas elevadas de -5,9%, -9,9% e -9,0%, respectivamente.

A cana-de-açúcar experimentou um decréscimo mais baixo que o dessas culturas. Pelo fato da produção de cana-de-açúcar ter mercado assegurado, mesmo em época de crise, a queda é muito pequena. É importante observar, nessa tabela, o aumento da produção do milho. Alagoas é grande importador desse produto e o próprio Vale, por ter uma avicultura vigorosa, importa grande quantidade dele, significando dizer que há um mercado local e estadual para o milho, podendo haver incremento bem maior na sua produção.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 271

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TABELA 6.10 LITORAL NORTE - Atividades agrícolas que mais cresceram e decresceram no período de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:

Atividade Taxa de Crescimento %

Cana-de-açúcar -2,20 Coco-da-baía -0,05

Banana 1,70 Mandioca 2,40

Milho 8,30 Laranja 13,50 Feijão 16,10

FONTE: IBGE - SIDMA - Censo demográfico, 2000 e 1990.

GRÁFICO 6.4 -Taxa de Crescimento das Atividades Agrícolas % 1990/1999.

9 Cana - de - AçiJcar | O3oco-da-baia • Banem • Mar : • Y - :

• Lara", a • Feijão

FONTE: Dado da tabela 6.10.

272 Fernando José de Lira

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TABELA 6.11 - Litoral Sul 14 - Relação das Atividades Agrícolas que mais cresceram e decresceram (Área Colhida) de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:

Atividade Taxa de Crescimento 1990-99%

Mandioca -7,15 Cana-de-açúcar -2,02

Milho -3,02 Feijão 0

Laranja -1,02 Banana -1,02

Coco-da-baía -3,03

FONTE: IBGE - PAM 2000.

GRÁFICO 6.5 - Decréscimo das Atividades Agrícolas - 1999/90.

FONTE: Dado da Tabela 6.11.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 273

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TABELA 6.12 - Mata Sul - Relação das Atividades Agrícolas que mais cresceram e decresceram (Área Colhida) de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:

Atividade Taxa de Crescimento

1990-99 % Mandioca -9,0

Cana-de-açúcar -0,9 Milho 3,4

Batata Doce -9,9 Feijão 2,8

Laranja 38,5 Banana -5,9

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

TABELA 6.13 - Mata Sul - Relação das Atividades Agrícolas que Mais Cresceram e Decresceram (Área Colhida) de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:

Atividade Taxa de Crescimento 1990-99 %

Mandioca -73,49 Cana-de-açúcar -19,03

Milho 3,37 Batata doce -

Feijão 56,57 Laranja -20 Banana -50

Coco-da-baía 1,98

FONTE: IBGE - PAM. 2000.

Fernando José de Lira

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TABELA 6.14 VALE DO MUNDAÚ - Relação das Atividades Agrícolas que mais cresceram e decresceram (Área Colhida) de 1990 a 2000.

Setor Agrícola:

Atividade Taxa de Crescimento

1990-99 % Mandioca -9,0

Cana-de-açúcar -0,9 Milho 3,4

Batata doce -9,9 Feijão 2,8

Laranja 38,5 Banana -5,9

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

GRÁFICO 6.6 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades Agrícolas que Mais Cresceram e Decresceram ( em Área Colhida) no Período de 1990 a 1999.

BATATAO-XÍ

BANAKA

CANA•Dl i ACUCAR

Fonte: IBGE - PAM, 2000

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 275

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GRÁFICO 6.7- Atividades que mais cresceram e decresceram (área colhida) 1990/99.

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

Na tabela 6.15, temos o comportamento das atividades pecuárias em que os bovinos, ovinos e caprinos têm destaque e aumentaram bastante sua participação. Todavia essas três atividades não estão organizadas na forma de arranjos produtivos ou cadeia produtiva que pudessem gerar cleuters.

No Portal Sul, o destaque foi para caprinos e ovinos que caíram respectivamente -43,9% e -10,64%. As outras atividades pecuárias q u a n d o não reduziram seu rebanho tiveram crescimento medíocre. Ver tabela 6.16.

Na tabela 6.17 e no gráfico 6.8 e 6.9, no Vale o comportamento das atividades pecuárias em que os bovinos, suínos e aves aumentaram bastante sua participação. A presença, na região, de uma fábrica de processamento de leite - a São Domingos - estimulou a criação de gado de leite. Já a localização da granja Carnaúba em União dos Palmares também contribuiu para a elevação na produção de aves. Das atividades pecuárias, a que mais caiu foi a de ovinos, - 7,0% ao ano, pois o estimulo à produção de gado de corte e leite resultou na substituição da produção de ovinos.

276 Fernando José de Lira

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TABELA 6.15 - Litoral Norte - Relação das atividades pecuárias que mais cresceram e decresceram de 1990 a 1999.

Setor Pecuário:

Atividade Taxa de

Crescimento

Suínos 1,10% Eqüinos 2,00% Caprinos 3,50% Bovinos 7,60% Ovinos 12,80%

Aves 1,20% Asininos e Muares 1,30%

FONTE: IBGE-SIDRA.

TABELA 6.16 Litoral Sul - Relação das Atividades Pecuárias que mais cresceram (N° de Cabeças) de 1990 a 1999.

Setor Pecuária:

Atividade Taxa de Crescimento

1990-99% Ovinos -10,64 Eqüinos -1,77 Muares -1,27 Bovinos -2,77

Caprinos -43,9 Suínos 1,03 Aves 0,77

Produção de Leite (litros) -4,47

FONTE: IBGE-PAM. 2000.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 277

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TABELA 6.17 VALE DO MUNDAÚ - Relação das Atividades Pecuárias que mais cresceram e decresceram ( N° de Cabeças) de 1990a 1999.

Setor Taxa de Crescimento Pecuária: Atividade 1990-99 %

Ovinos -7,0 Eqüinos -2,6 Asininos e Muares -2,4 Bovinos 5,9 Caprinos -4,0 Suínos 2,7 Galinha, Frango, Pinto 2,8 Produção de leite (litro) 11,5

FONTE: IBGE - PAM, 2000

278 Fernando José de Lira

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GRÁFICO 6.8 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades Pecuárias que Mais Cresceram e Decresceram (N° de Cabeças) no Período de 1990 a 1999.

• Tx. de Crescimento

11,5

- 1

1 • -4,0

CAPRINOS -7,0

OVINOS

2.7

• 2,8

, • 1 1 1 •

-4,0 CAPRINOS

-7,0 OVINOS

• • -2.6 "2.4

EQÜINOS ASSININOS E

MUARES

SUÍNO GALINHA. FRANGO,

PINTO

BOVINOS PRODUÇÃO DF. LEITE

(litro)

FONTE: IBGE - PAM, 2000.

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GRÁFICO 6.9 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades Pecuárias que Mais Cresceram e Decresceram (N° de Cabeças) no Periodo de 1990 a 1999.

27 2.8

SUÍNO GALINHA BOVINOS HKBUÇKMB FRANGO PINTO LBTE,> ,: :

•IA 2«

-- ! CAPRINOS

GQ0MOS ASSWINOS E

•7.0 CM NOS

FONTE: IBGE - PAM, 2000.

280 Fernando José de Lira

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Considerando a grave crise que a agropecuária sofreu na década de 90, houve uma forte expansão dos bovinos e a cana teve uma pequena diminuição da produção. A explicação para esse comportamento está no fato de que tanto a cana quanto os bovinos são atividades praticadas por grandes produtores com mercado assegurado para seus produtos. No caso da cana-de-açúcar, o estímulo da isenção de pagamento de ICMS que vigora desde 1989, com o famoso acordo dos usineiros, evitou uma crise mais expressiva nessa atividade.

Sabemos a dificuldade de cultivar cana-de-açúcar na região: o seu custo de produção é muito maior nela do que nos tabuleiros costeiros; sua produtividade também é muito baixa e, num cenário de abertura comercial e de forte liberalização de preços, na década de 90, a produção de cana-de-açúcar não encontra, nos Corais, vantagens comparativas que lhe permitam competir com a produção do Sudeste do país ou, até mesmo, com a das áreas de tabuleiros. Portanto, se não fosse a isenção de impostos que beneficiou o setor sucroalcooleiro de Alagoas, a produção de cana, nessa área, teria entrado em crise sistêmica, com queda expressiva.

De acordo com os comerciantes entrevistados, o comércio das cidades da região é muito dependente da época de moagem da cana, que se concentra no período de outubro a janeiro. Fora dessa época, o comércio entra numa fase de letargia, à espera da moagem da nova safra.

6.1 - Emprego e renda Um dos aspectos mais relevantes em todas as sub-regiões

é o elevado grau de desigualdade na distribuição da renda. Dados de 1999, do IBGE, mostram que os 40% mais pobres tinham uma renda média familiar per capita 26 vezes menor que a dos 40% mais ricos. Vê-se, ainda, que os 40% mais pobres tinham uma renda média familiar per capita 31 vezes menor que a dos 10%

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 281

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mais ricos. Em ambos os casos, numa sociedade mais igualitária, o aceitável é que a renda dos mais ricos não seja superior a 8 vezes a renda dos mais pobres.

Esses elevados níveis de concentração da riqueza são, em grande parte, responsáveis, também, pelo baixo nível de renda, altas taxas de analfabetismo da população, analfabetismo funcional da população economicamente ativa e, por conseguinte, elevado grau de pobreza absoluta, de desigualdade de renda, de baixa mobilidade social e de pouca acumulação de capital humano na População em Idade Ativa (PIA).

A elevada concentração da renda resulta: a) da grande discrepância de valores dos salários pagos pelos setores público e privado; b) da elevada concentração da propriedade da terra; c) da ausência de escolas públicas de qualidade; d) da estrutura produtiva; e) da segmentação do mercado de trabalho (via idade, gênero e instrução); f) da concentração e centralização do capital; e, portanto; g) do próprio padrão de desenvolvimento adotado na região.

Quanto a esse padrão de desenvolvimento sabe-se que não priorizou a educação como ins t rumento importante de distribuição, geração e crescimento sustentável da renda, embora, entre os trabalhadores e pequenos produtores rurais e urbanos, a educação seja um grande e importante recurso utilizado na produção, na organização e na gestão dos negócios. Por isso, quanto mais bem distribuído esse recurso no interior da população, principalmente na população economicamente ativa, menor será a desigualdade dos rendimentos do trabalho, e maior a capacidade empreendedora.

Nas sub-regiões do Portal Sul e Lagoas, em 1999, 65,2% do total das pessoas de 15 anos ou mais de idade eram analfabetas. Entre as de 10 anos ou mais, 80% eram analfabetas funcionais, ou seja, não possuem o primeiro grau completo. Especificamente no meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de 51,01% e, no meio rural, de 82,1%.

282 Fernando José de Lira

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Na sub-região dos Corais, esse percentual era de 62,8%, sendo que na faixa de 10 anos ou mais, 79% eram analfabetas funcionais. Especificamente no meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de 50,04% e, no meio rural, de 80,88%.

Na sub-região da Mata Sul, o analfabetismo daquela faixa etária alcançava, em 1999, 68,2%, sendo que na faixa de 10 anos ou mais, 88% eram analfabetas funcionais. No meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de 50,01% e, no meio rural, de 88,1%.

No Vale, os analfabetos de 15 anos ou mais somavam, na mesma época 60,8%, sendo que na faixa de 10 anos ou mais, 80,4% eram analfabetos funcionais. Especificamente no meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de 60,04% e, no meio rural, de 88,88%.

Quanto à taxa líquida de escolaridade da população - relação entre o número de alunos na faixa etária adequada, matrícula em determinado nível de ensino e a população nessa mesma faixa etária, em 1998, era a seguinte; no ensino fundamental e no ensino médio, respectivamente: no Portal Sul e Lagoas, 56,3% e 5,5%; na sub-região dos Corais, 58,3% e 6,5%; na sub-região da Mata Sul, 5 9 , 2 % e 5,4%; no Vale, 6 2 , 1 % e 6,2%. Quando comparadas as taxas do Vale com as do Nordeste e às nacionais, percebe-se que tanto no ensino médio quanto no fundamental essas sub-regiões apresentam taxas abaixo das do Nordeste e do Brasil. No caso nordestino, são de 90,0% e 14,5%; e em âmbito nacional, de 95,3% e 30,8%, respectivamente.

A educação formal da população é importante, pois gera um estoque de conhecimento que proporciona uma nova visão de mundo, possibilitando, assim, novas perspectivas de ocupação. Também permite que o emprego seja pautado em atividades mais agregadoras de valor para os produtos da região, fazendo com que estes deixem de ser cotnmodities para serem resultado do uso do conhecimento acumulado.

A educação também serve de base para uma maior acumulação de capital social, na medida em que os empregados

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 283

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e pequenos empreendedores percebem, mais claramente, a importância da cooperação, da integração horizontal, da inovação tecnológica e da democratização do saber e das informações , que são e lementos-chave para aumento e sustentabilidade da renda dos ocupados.

Também, como vimos, a posse da terra viabilizou e ainda viabiliza a posse de outros meios de produção, contribuindo vigorosamente para a elevada concentração da renda. Considerando que o carro-chefe da economia sub-regional é o setor agropecuário e, nele, as atividades sucroalcooleiras, a alta concentração de renda alcançada no meio rural e, também, nas cidades, gera uma forte heterogeneidade social em toda área.

Portanto, as duas grandes e importantes fontes de desigualdades na distribuição da riqueza gerada são as seguintes: a primeira, e mais importante, é o baixo nível de instrução da população em idade ativa e da população ocupada; a segunda é a posse da terra. Todavia, apesar de esses fatores limitarem a ação dos pequenos empreendedores agrícolas e não-agrícolas, seus efeitos podem ser minimizados através de políticas agrícolas e agrárias que contemplem atividades agrícolas e não-agrícolas, voltadas à realidade dos familiares dos pequenos produtores.

E, por conseguinte, possível, no espaço economicamente pouco dinâmico, a criação de redes de pequenos empreendedores, voltados para os mercados local, regional, nacional e internacional, capazes de gerar uma nova dinâmica econômica que proporcione ocupações e renda em número e níveis muito superiores aos atuais. Para tanto, necessita-se de política agrária mais decisiva, financiamento desburocratizado, assistência técnica de qualidade e treinamentos voltados para cada situação local, baseados na concepção da economia solidária.

A sub-região dos Corais, mesmo demonstrando possuir um grande potencial humano e de recursos naturais, a partir da segunda metade da década de 80 e, principalmente, em toda

284 Fernando José de Lira

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a década de 90, entra em crise profunda. Nos anos 90, o Estado sofre uma crise fiscal grave e reduz sensivelmente a política assistencialista de repasses de recursos, de construção da infra-estrutura básica e de oferta de bens e serviços à população pobre. Por isso, já em 1995, as condições gerais de vida da maioria da população pobre eram bastante adversas. Em 1999, apresentava-se um perfil social dos mais desfavoráveis do Nordeste e do Brasil.

6.2.- Natureza e Realidade das Empresas Nas Sub-Regiões

As empresas formalmente const i tuídas têm grande importância para a economia dessas sub-regiões, cuja dinâmica empresarial depende enorme importância da agroindústria açucareira, pelo fato de empregar 90,2% de todo o pessoal ocupado no setor industrial das sub-regiões do Portal, Lagoas e dos Corais; 98,2% na sub-região da Mata Sul; 99,2% na sub-região do Vale do M u n d a ú . Merecem destaque, também, os produtos intermediários nessas economias, como é o caso dos municípios de Marechal Deodoro e de Campo Alegre.

As tabelas 6.18 e 6.19 mostram o número de empresas locais e pequenas empresas por município estudado. Nota-se que um maior número de empresas está presente nos municípios onde existem usinas de açúcar, indicando uma relação de dependência. No Vale do Mundaú, Murici tem mais destaque por possuir um número importante de empresas; já os municípios de Maragogi, Porto Calvo, Matriz de Camaragibe e São Luiz do Quitunde têm mais destaque por possuir um número importante de empresas.

A tabela 6.19 demonstra que no Litoral Sul, os números confirmam os dados observados, também, nas tabelas 6.18. Os municípios de Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro têm mais destaque por possuírem um número importante de empresas e pessoas ocupadas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 285

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As tabelas 6.18, 6.19, 6.20, 6.21 e 6.22 mostram o número de empresas e pessoas por município estudado. Nota-se a mesma relação de dependência entre o número de empresas existentes e a presença de usinas de açúcar nos municípios. São Miguel dos Campos é um município pólo de desenvolvimento regional e, portanto, possui o maior número de empresas e empregados. Contrariamente, Boca da Mata, Junqueiro e Campo Alegre têm menos empresas, pois, por não serem municípios pólos, quase toda sua economia está diretamente ancorada na produção açucareira. Roteiro é que possui o menor número de empresas, uma atividade agrícola um pouco mais diversificada, mas sua economia é também muito dependente da cana-de-açúcar.

TABELA 6.18 LITORAL NORTE - Número de empresas e pessoas ocupadas, 1999.

N ú m e r o d e P e s s o a s

M u n i c í p i o E m p r e s a s O c u p a d a s

B a r r a d e S a n t o A n t ô n i o 33 309 l a p a r a r i n g a 20 1507

M a r a g o g i 100 1055 M a t r i z d o C a m a r a g i b e 88 1535 P o r t o C a l v o ;„u 2088 P o r t o d e P e d r a s 26 346 P a r i p u e i r a 36 288 P a s s o d e C a m a r a g i b e 28 469 S ã o L u i z d o Q u i t u n d e -» 4052 S ã o M i g u e l d o s M i l a g r e s 13 16 TOTAL 592 11665

FONTE: IBGE.

286 Fernando José de Lira

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TABELA 6.19 LITORAL SUL-Total de Empresas (com CGC) e Pessoas Ocupadas, em 1996.

M u n i c í p i o E m p r e s a s Pessoas O c u p a d a s F i a ç a b u ç u 73 777

P e n e d o •>-.- 5 0 6 9

Feliz D e s e r t o u 202

C o r u r i p e 192 14213

Igreja N o v a 35 2 0 2 0

Barra de S. M i g u e l 72 472

L a g o a s / M u n i c í p i o s E m p r e s a s P e s s o a s O c u p a d a s M a r e c h a l D e o d o r o 2 5 9 5861

C o q u e i r o Seco 19 251

Santa Luzia do N o r t e 34 329

Satuba 88 853

FONTE: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 6.20 VALE DO MUNDAÚ - Total de Empresas e Pessoas Ocupadas, em 1999.

M u n i c í p i o E m p r e s a s P e s s o a s O c u p a d a s

B r a n q u i n h a 19 2 7 2

Messias 6 8 4 4 2

VIurici 9 9 5 9 4

Santana d o M u n d a ú 31 4 2 9

5ão J o s é d a L a g e 1 0 4 4 . - 1 •

Rio L a r g o " 5 6.551

U n i ã o d a s P a l m a r e s 3 4 8 2 . 7 5 3

FONTE: IBGE: Cadastro Geral de Empresas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 287

Page 292: Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas - Fernando José de Lira.pdf

TABELA 6.21 MATA SUL - Total de Empresas e Pessoas Ocupadas, em 1999.

M u n i c í p i o E m p r e s a s Pessoas O c u p a d a s

Boca da Mata 185 4.183

~a:v.l . 98 4 .257

Junqueiro 92 767

Roteiro 15 197

São Miguel dos C a m p o s 315 10 .495

FONTE: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

288 Fernando José de Lira

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Entre os municípios com maior número de empresas de todas categorias está o de Porto Calvo, ocupando o maior número de pessoas.

Quanto ao número de pessoas ocupadas, observa-se na tabela 6.22, que as pequenas e médias empresas empregam mais em Porto Calvo, Maragogi e Matriz de Camaragibe, respectivamente 565,357 e 200 pessoas. Entre os municípios com grandes empresas, os destaques são: Porto Calvo, Japaratinga e Matriz de Camaragibe.

Pela tabela 6.19, vê-se que as pequenas e médias empresas empregam mais em Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro, respectivamente 1228, 390 e 196 pessoas. Esses municípios destacaram-se, também, pelo número de grandes empresas.

Quanto ao número de pessoas ocupadas, observa-se na tabela 6.23 que as pequenas e médias empresas empregam mais em Boca da Mata e São Miguel dos Campos. Grandes empresas ocupam mais em Boca da Mata, São Miguel dos Campos e Campo Alegre. Entre os Municípios com grandes empresas, os destaque são para São Miguel e em menor proporção para Boca da Mata.

Entre os municípios com maior número de empresas está o de União dos Palmares, todavia empregando menos que as empresas de São José da Lage e Rio Largo. Verificando-se os mesmos aspectos na tabela 6.24, vê-se que as pequenas e médias empresas empregam mais em Boca da Mata e São Miguel dos Campos, e as grandes, nessas localidades e em Campo Alegre, com destaque para São Miguel e, em menor proporção, para Boca da Mata.

Nota-se, pela tabela 6.24, que as pequenas e médias empresas empregam mais em União dos Palmares e Rio Largo do que nos outros municípios. Dos que possuem grandes empresas, Rio Largo destaca-se com 18, seguido de União dos Palmares com 15. No Litoral Norte, as duas grandes empresas de Porto Calvo ocupam 73,0% do total dos empregados, e as pequenas e médias absorvem apenas 27%. Mas, contrariamente, é nesse município que as pequenas empresas empregam mais.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 289

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TABELA 6.22 LITORAL NORTE - Número de micro, pequenas, médias e grandes empresas e pessoas ocupadas, em 1999.

Micro Pessoas Pequenas Pessoas Médias Pessoas Grandes Pessoas

Município 1 - 4 O c u p a d a s 5-19 O c u p a d a s 20-99 O c u p a d a s 100 e mais O c u p a d a s

Barra de Santo Antônio 24 34 7 55 1 85 1 1 ',•

(apara tinga 16 22 1 7 1 30 1 1548

Maragogi 86 129 1 81 3 177 2 668

Matriz do Camaragibe 75 102 4 21 3 77 2 1335

Porto Calvo 138 188 19 138 8 239 2 1523

Porto de Pedras 22 26 0 0 2 130 1 l'ii>

Paripueira 26 47 6 61 1 28 1 152

Passo de Camaragibe 22 30 2 1-, 2 113 1 312

São Luiz do Quitunde 54 79 12 105 2 57 2 IS 11

São Miguel dos Milagres 13 16 ü 0 0 0 0 (1

TOTAI. 476 673 60 •18-1 23 936 13 '1674

FONTE-IBGE.

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TABELA 6.23 MATA SUL - Empresas Locais, Segundo a Categoria de Pequenas, Médias e Grandes, em 1996.

Município \'° de Pequenas N" de Médias N° de Grandes Empresas Empresas Empresas (1 a 4 P. O) (5 a 19 P. O) (2li ou Mai- 1'. <>|

Boca da Mata 157 1 1 5 Campo Altftn 75 8 2 luntjueiro 82 7 1 Uulnio : : 1 SAo Miguel dos Campos :?. 60 18

FONTE: IBGE.

TABELA 6.24 VALE DO MUNDAÚ - Empresas Locais, Segundo a Categoria de Pequenas, Médias e Grandes, em 1996.

N.°. de Pequenas N.°. de Médias N.°. de Grandes M u n i c í p i o Empresas Empresas Empresas

(1 a 4 P.O.) ( 5 a 19 P.O.) (20 a mais P. O.) União dos P a l m a r e s

366 41 15

Rio Largo 2o4 55 1> Munci 60 4 1 Branquinha 17 1 1 ião José da Lage 103 4 2

M e j i a s 62 8 2

•Miu . in . i do 26 1 1 MuiuLui 26 1 1

FONTE: IBGE. 1996.

Formação da' riqueza e da pobreza de Alagoas 291

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Na Mata Sul, as 18 grandes empresas de São Miguel ocupam 70,0% do total dos empregados, e as pequenas e médias absorvem apenas 30%. Mas é nesse município que as pequenas empresas empregam mais. No Litoral Sul as dezesseis grandes empresas de Penedo ocupam 75,0% do total dos empregados, e as pequenas e médias absorvem apenas 24,2%. Mas, paradoxalmente, é nesse município que as pequenas empresas empregam mais.

No Litoral Norte, merece destaque Maragogi, que é outro município importante, onde as duas grandes empresas ocupam 65% da força de trabalho municipal, mas as pequenas empresas e médias demandam 34% da mão-de-obra, o que é bastante significativo. Em Japaratinga, 99,8% são ocupados na Prefeitura. Quanto a Matriz de Camaragibe, as duas grandes empresas demandam 86,9% da força de trabalho, enquanto as pequenas e médias têm participação relativa pouco expressiva, de 13,01%, no mercado de trabalho.

Em Marechal Deodoro, que é o mais importante município da sub-região das Lagoas, as dezoito grandes empresas ocupam 90% da força de trabalho municipal, e as pequenas empresas e médias demandam apenas 9,45% da mão-de-obra, número pouco expressivo. Em Coruripe, as quinze grandes empresas ocupam 97,3% de toda a força de trabalho municipal. Sa tuba, nessa sub-região, tem quase toda sua mão-de-obra ocupada trabalhando em grandes empresas.

Na Mata Sul, merece ressalva o município de Junqueiro. Já Roteiro possui o menor número de pequenas e médias empresas e apenas duas grandes, que ocupam quase 100% da sua força de trabalho empregada.

Como quase todas as grandes empresas são usinas de açúcar, fica a indicação de que o ciclo vicioso de subemprego nas plantações de cana, principalmente nos municípios comandados por essas empresas , não permite que a população tenha oportunidades de explorar outras alternativas de ocupação

292 Fernando José de Ura

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humana, exigindo que o trabalhador oferte sua força de trabalho para a usina, ou para as Prefeituras.

À exceção de Marechal Deodoro, na sub-região das Lagoas, ocorre o mesmo fenômeno detectado na Mata Sul, relativo ao setor empresarial e às oportunidades alternativas.

Os dados revelam a idade média das empresas da região. Nela fica claro o fato de que, apesar de a maior parte das unidades terem sido implantadas após 1990 (61,6%), 47,6% dos trabalhadores estão ocupados nas unidades empresariais implantadas até 1969.

A idade média das empresas das duas áreas em estudo, evidenciando que, apesar de a maior parte das unidades terem sido implantadas após 1990 (65%), 70% dos trabalhadores estão ocupados nas unidades empresariais implantadas até 1969.

A idade média das empresas das duas áreas em estudo, observando-se nela fica claro o fato de que, apesar da maior parte das unidades terem sido implantadas após 1990 (65%), 60% dos t r a b a l h a d o r e s estão o c u p a d o s nas u n i d a d e s empresariais implantadas até 1969. Constata-se, portanto, que as empresas implantadas até 1969, em sua maioria, são usinas de açúcar e álcool , de onde se infere o importante papel desempenhado por elas, no tocante à absorção de mão-de-obra. Todavia, o fato de ter aumentado muito a criação de empresas e empregos, na década de 90, pode estar indicando um a m b i e n t e e c o n ô m i c o mais f a v o r á v e l ao p e q u e n o empreendedor.

Quando se analisa o destino das vendas das empresas, chega-se à conclusão de que quase todas as pequenas e médias vendem ou prestam serviços no município ou na região. Já as grandes empresas vendem nos mercados do próprio Estado de Alagoas, dos demais Estados vizinhos e no mercado externo. O movimento dessas empresas é forte indicativo de dinâmica interna própria . Isso mostra que a região é passível de

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 293

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desenvolvimento, bastando, apenas, operar os mecanismos corretos para que ele se processe.

A sub-região do Portal Sul possui um mercado interno interessante que, apesar da restrição da baixa renda per capita fa­mil iar , tem potenc ia l para criação de vár ias pequenas agroindústrias; pequenas empresas de até 2 empregados, nas áreas de serviços domésticos; além de haver espaço para mão-de-obra autônoma qualificada, pois a força de trabalho disponível na região é de baixa qualificação.

Quando analisamos a ocupação de mão-de-obra por setores de atividades, a tabela 6.25 deixa evidente que o setor agrícola é aquele que mais emprega, ocupando 54,4% da mão-de-obra re­gional, seguido dos setores industrial, com 27,5%, e de serviços com aproximadamente 18%.

Procedendo-se à mesma análise na tabela 6.26, fica evidente que o setor agrícola é aquele que mais emprega no Portal Sul. Já nas Lagoas é o público que domina os empregos. O industrial é dominante nos municípios que possuem usinas; o de serviços tem predominância em Marechal Deodoro, Barra de São Miguel e Penedo.

Semelhantemente às demais sub-regiões, na Mata Sul, mostrada na tabela 6.29 fica evidente que o setor agrícola é aquele que mais emprega; o setor industrial é dominante nos municípios que possuem usinas e o setor de serviços, pouco significativo, tem predominância em Boca da Mata e São Miguel dos Campos. E importante salientar que, nessas localidades analisadas do ponto de vista da ocupação da mão-de-obra por setores de atividades, a grande maioria dos empregados nas indústrias são pessoas que trabalham nas usinas de açúcar. A agroindústria do açúcar e álcool e a pecuária absorvem juntas, por sub-região, 82%, 77,8% e 85% da população ocupada, respectivamente.

294 Fernando José de Lira

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TABELA 6.25 LITORAL NORTE - Pessoas ocupadas por setores econômicos e por município, em 2001.

Município Agropecuário % Indústria Serviços Barra de Santo Antônio 416 8 1,1 • : 41,6 Japaratinga 864 33,3 1550 60,0 178 6,7 Maragogi 1871 63,6 111 3,8 962 32,6 Matriz do Camaragibe 1927 56,2 830 24,2 669 19,6 Porto Calvo 3607 63,7 1207 21,3 852 15,0 Porto de Pedras 1453 85,8 1 0,1 240 14,1 Paripueiro 210 43,7 27 5,6 243 50,7 Passo de Camaragibe 1079 69,7 111 7,2 357 23,1 São Luiz do Quitunde 2401 37,2 3285 50,9 767 88,1 São Miguel dos Milagres 271 73.4 4 1,1 94 2? >

i : \i 14099 54,4 71-4 27,5 4664 18,1

FONTE: IBGE - PAM.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 295

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TABELA 6.26 - Proporção de Pessoas Ocupadas na Agropecuária, Indústria, Serviços e Administração Pública, em 2001.

Municípios Agropecuária % Administração Pública %

Indústrias %

Serviços %

Total %

Piaçabuçu 60,90 32,39 1,06 5,65 100 Penedo W.45 15,40 25,07 20,08 100 Feliz Deserto 80,35 18,68 0,00 0,97 100 Coruripe 32,65 6,18 58,53 2,64 100 Igreja Nova 76,58 4,50 18,34 0,58 100 Barra de São Miguel 60,13 ( ) , ( ) ( ) 7,28 32,59 100 Lagoas/Municípios Agropecuária ADM.Pública % Indústrias % Serviços % Marechal Deodoro 13,65 5,10 33,30 47,94 100 Coqueiro Seco 31,79 60,33 1,63 6,25 100 Santa Luzia do Norte M ,81 60,08 2,2" 5,82 100 Sa tuba 44,47 36,00 11,33 8,20 100 Total 41,39 10,30 36,41 11,90 100

FONTE: IBGE - Cadastro Central de Empresas.

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TABELA 6.27 MATA SUL - Pessoas Ocupadas na Agricultura, Indústria, Serviços e Administração PúPlica, em 2001.

Municípios Agrie. %

Adm. Pública %

Indústria %

Serviços %

Total %

Boca da Mata V <> 23,5 4.37 100 Campo Alegre 53,2 31% 2,71 100 lunqueiro '.-•12 4: :•- 16,91 2,3 100 Roteiro 47,43 27,1 21 nS 100 São Miguel dos Campos

54,9 7,34 33,1 4,46 100

FONTE: IBGE - Cadastro Central de Empresas.

TABELA 6.28 LITORAL SUL - Pessoas Ocupadas segundo o Tamanho das Empresas, em 2001.

Pessoas Ocupadas Mun ic íp io Pequenas Empresas Médias Empresas Grandes Empresas

1'iaçabuçu 90 45 642 Penedo 672 556 3841 1 .-li/ 1 Vserto 10 0 192 Coruripe 206 184 13823 Igreja Nova 39 44 1937 barra de São Miguel 82 ; ;•; 276 I .ig. MS Municípios Pequenas Empresas Médias Empresas Grandes Empresas

Marechal Deodoro 297 257 5307 Coqueiro Seco 16 13 222 Santa l.u/.ia do Norte 35 19 275 5a tuba 94 23 736

FONTE: Ministério do Trabalho / RAIS.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 297

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TABELA 6.29 - Mata Sul Pessoas Ocupadas segundo o tamanho das Pequenas, Médias ou Grandes empresas, 2001.

P e s s o a s O c u p a d a s

M u n i c í p i o P e q u e n a s Pessoas O c u p a d a s P e s s o a s O c u p a d a s

E m p r e s a s Medias E m p r e s a s G r a n d e s E m p r e s a s Boca d a Mata 192 155 3.836

C a m p o Alegre 91 47 4.0S9

Junqueiro 99 46 622 Roteiro 17 5 1 7 5

São Miguel dos C a m p o s 3 9 1 506 9 .598

FONTE: Ministério do Trabalho / RAIS.

TABELA 6.30 -Vale do Mundaú - Pessoas Ocupadas segundo o Tamanho das Pequenas, Médias ou Grandes, 2001.

Município Pessoas Ocupadas Pequenas Empresas

Pessoas Ocupadas Média Empresas

Pessoas Ocupadas Grandes Empresas

Branquinha 17 9 246 Messias 70 79 293

ião losé cia Lage 140 31 4.413

Santana do Mundaú 30 30 369 União tios Palmares 400 329 2.024 Víuricí 104 40 450

Rio Largo 399 495 5.657

FONTE: Minitério do Trabalho/ RAIS.

298 Fernando José de Lira

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Os dados demonstram que a indústria de transformação dos municípios onde estão localizadas as usinas ocupa 99,6% dos empregados do setor industrial, 99,6% na tabela 6.31 e 95% na 6.32. Os exemplos mais claros dessa afirmativa são Matriz de Camaragibe, que tem 100% dos empregados ocupados na usina; Coruripe, que tem 91,2% dos empregados ocupados na atividade sucroalcoleira; e Campo Alegre, que tem 83% dos empregados ocupados nessa atividade.

No Vale do Mundaú grandes de União dos Palmares ocupam 73,5% do total dos empregados, e as pequenas e médias absorvem apenas 26,5%. Mas, contraditoriamente, é nesse município que as pequenas empresas empregam mais.

Em Rio Largo, que é outro município importante da região, as dezoito grandes empresas ocupam 86,3% da força de trabalho municipal, e as pequenas demandam apenas 6,1% da mão-de-obra. Merece ressalva São José da Lage, mesmo possuindo apenas duas grandes empresas, elas chegam a demandar 96,3% da força de trabalho do município, enquanto as pequenas e médias têm participação relativa pouco expressiva, de 3,7%, no mercado de trabalho.

Como quase todas as grandes empresas do Vale são usinas de açúcar, fica a indicação de que o ciclo vicioso de subemprego nas plantações de cana, pr incipalmente nos munic ípios comandados por essas empresas, não permite que a população tenha oportunidades de explorar outras alternativas de ocupação humana, exigindo que o trabalhador devote sua força para a usina, ainda em tenra idade, condenando, assim, gerações à falta de estudo e de alternativas de mobilidade social.

À idade média das empresas da região, nela fica claro o fato de que, apesar de a maior parte das unidades terem sido implantadas após 1990 (63,2%), 80,1% dos trabalhadores estão ocupados nas unidades empresariais implantadas até 1969, sendo que estas, em sua maioria são usinas de açúcar e álcool.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 299

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Disso se infere o importante papel desempenhado por elas na região, no tocante à absorção de mão-de-obra. Todavia, o fato de ter aumentado muito a criação de empresas na década de 90 pode estar indicando um ambiente econômico mais favorável ao pequeno empreendedor, conforme se viu nas sub-regiões anteriormente abordadas.

Quanto à ocupação de mão-de-obra por setores de atividades, a tabela 6.31 deixa evidente que o setor agrícola é aquele que mais emprega, ocupando 60,4% da mão-de-obra regional. Os setores industrial e de serviços estão igualados, com aproximadamente 19,8%. Considerando que a grande maioria dos empregados nas indústrias são pessoas que trabalham nas usinas de açúcar, a agroindústria do açúcar e álcool e a pecuária absorvem juntas 80% da população ocupada.

No Vale, a tabela 6.32 demonstra que, na indústria de transformação dos municípios onde estão localizadas as usinas, 99,6% dos empregados do setor industrial ocupam-se nelas. O exemplo mais claro dessa afirmativa é São José da Lage que, contando com apenas uma indústria de transformação, que é a usina Serra Grande, tem 100% dos empregados ocupados nela.

300 Fernando José de Lira

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TABELA 6.31 - Litoral Norte Pessoas ocupadas por atividade econômica, em 2001.

Município Agropecuária 1 xtl.K.ui Mineral

Indústria Transformação

Construção Civil Comercio Serviço ADM.

Pública Barra tic Sanio Amonio 416 0 5 3 29 137 136

MprtMtin.'..' S64 1550 0 18 : : ' 121 ••Ir..;.: •:: is" ; 0 91 20 121 498 Matriz do Camaragibe 1927 0 830 0 116 38 515

Torio Calvo 0 1184 23 323 156 373 Porto de Pedras 1453 0 : 0 lh ¡4 190 Parípueira 210 0 4 23 26 64 153 Passo de Camaragibe 1079 0 111 n 35 10 312

Sao Liiiz do Ouitunde 2401 0 3285 0 107 63 591

Sao Miguel dos 271 0 4 0 9 3 82

: ' : 14099 "Ú65 69 S '0 887 2971

FONTE : IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 6.32 - Vale do Mundaú: Pessoas Ocupadas, na Agricultura, Indústria, Serviços e Administração Pública, em 2001.

Municípios AGR ADM Pública Indústrias Serviços Total Branquinha 1 5 2 9 132 2 14 1677

Messias 5 3 5 71 2 7 314 9 4 9

Mui u i 1 5 8 3 450 25 119 2 1 7 7

Milana .1" M u n d a ú 3 9 3 9 Í59 2 38 4338

3ào José da Lage 2 9 1 8 577 3 8 7 7 146 7518

Rio L a r g o 5 3 1 0 1947 3 3 6 2 977 11596

U n i ã o dos Pahriares 6022 1 1 2 2 959 9 3 8 0

Total 4915 7 4 1 " 25"7 3 7 6 3 5

Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 301

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No setor serviço, a administração pública é a atividade que mais ocupa mão-de-obra em todos os municípios das sub-regiões. São Luiz do Quitunde, por exemplo, chega a ter 591 trabalhadores nessa atividade. Este setor e a agroindústria sucroalcooleira são os dois ramos que empregam o grosso da população economicamente ativa.

No Portal Sul, Piaçabuçu tem grande fração de sua força de trabalho ocupada na prefeitura. Na sub-região das Lagoas, exceto Marechal Deodoro e Barra de São Miguel, os outros municípios têm o setor público como principal empregador.

Institucionalmente bastante cristalizada, a prática de dar empregos públicos em época de eleição engessou os municípios quanto a sua capacidade de investir na região. Por isso, caso a nova lei de responsabilidade fiscal seja aplicada na íntegra, a região poderá ser acometida de um grave problema social. Outro problema limitante do desenvolvimento econômico da região é a dependência do emprego nas usinas, a ponto de o comércio dos seus municípios terem o movimento sazonal de acordo com a época da moagem.

No Litoral Norte , o comércio de mercador ias e os estabelecimentos de prestação de serviços têm uma presença muito importante em Matriz de Camaragibe, Porto Calvo, Maragogi e São Luiz do Quitunde. Nos outros municípios, inclu­sive em Passo de Camaragibe, têm pouca expressão.

Esse comércio marca importante presença na Zona da Mata Sul, principalmente em Boca da Mata, Campo Alegre e São Miguel dos Campos.

No Litoral Sul e Lagoas, esse comércio de mercadorias e os estabelecimentos de prestação de serviços têm uma presença muito forte em Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro.

No Vale do Mundaú, esses setores têm uma presença muito importante em Rio Largo e União dos Palmares. Nos outros municípios, inclusive em São José da Lage, têm pouca expressão.

302 Fernando José de Lira

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No setor serviço, a administração pública é a atividade que mais ocupa mão-de-obra em todos os municípios do Vale. União dos Pa lmares , por exemplo, chega a ter 1.244 trabalhadores no setor público, representando quase 30% de toda sua mão-de-obra ocupada. Em Branquinha, esse percentual alcança 75 ,5% e, em Murici, representa 68%. Portanto a agroindústria sucroalcooleira junto com o setor público são os dois ramos que empregam o grosso da população economicamente ativa.

No Litoral Norte, no setor serviço, as atividades que mais empregam são a educação e a saúde, pois a demanda por esses serviços é muito elevada, com espaço para expansão da oferta, portanto para a geração de novas ocupações qualificadas e semi-qualificadas, pouco presentes na região. Os segmentos de alimentação e transporte, apesar da baixa qualidade, também têm presença significativa, principalmente no município de Maragogi.

Quanto aos segmentos de eletr ic idade, gás, água e telecomunicação, têm uma participação exígua no mercado de trabalho em todas as sub-regiões. As demais atividades do setor serviços são de presença insignificante.

Em relação ao turismo, há uma grande expectativa quanto ao seu potencia l para geração de emprego , a l imentada principalmente por União dos Palmares. Todavia a criação de ocupações, nessa área, exige um grande investimento em infra-estrutura e eventos, não compensando, talvez, o custo do emprego gerado, já que a proximidade dos municípios do Vale com a cidade de Maceió - possuidora de uma infra-estrutura construída - não favorece a permanência da maioria dos turistas por mais de um dia, na região ou, até mesmo, em União dos Palmares.

De todas as sub-regiões, a dos Corais e Litoral Sul são aquelas que mais alimentam expectativas quanto ao potencial turístico para a geração de emprego. Todavia, vêm esbarrando em exigência de grande mvestimento em infra-estrutura e eventos.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 303

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Isso não significa dizer que a atividade turística não deva ser estimulada nessas sub-regiões, mas que o seja dentro de uma estratégia de desenvolvimento regional que incentive um conjunto de outras at ividades , dentre e las a pequena agroindústria.

304 Fernando José de Lira

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Considerações finais Desde o período colônia, aos dias atuais, Alagoas era e

permanece sendo totalmente dependente da atividade açucareira. Assim, quando o preço e a produção de açúcar caem, os meios rural e urbano entram em dificuldades. Dependendo do tempo que essa depressão durar, maior ou menor serão seus efeitos sobre a economia estadual e para o conjunto da sociedade.

Em longos períodos de queda de preços e redução da produção, os reflexos econômicos, financeiros e sociais são graves, pois a receita do Estado, a renda familiar e o número de pessoas empregadas no setor agrícola, no comércio e no setor serviço diminuem significativamente, provocando uma forte letargia na economia local.

Historicamente, o prolongamento da queda de preço e/ ou da estiagem ocasionou elevação na taxa de desemprego e provocou emigração rural. O Estado, sem recursos financeiros, deixa de atender às necessidades básicas das pessoas mais carentes que sentindo-se desamparadas, emigraram para outros Estados, em busca de melhores condições de vida.

Por outro lado, ao longo dos últimos três séculos de cultivo da cana-de-açúcar, nos períodos de preços e clima favoráveis, o avanço da atividade canavieira da zona litorânea em direção ao interior do Estado provocou uma forte mobilidade geográfica da população. Expulsa do seu local de origem, dirigia-se para terras menos férteis, até que a presença da cana pressionasse, novamente, a sua saída para o meio urbano ou em direção a outros Estados.

Portanto, o progresso da atividade canavieira, que se fez na forma de monocultura, de trabalho escravo, ou trabalho livre praticados em grandes latifúndios, quase não deixou espaço físico suficiente para se desenvolver outras atividades agrícolas, que garantissem a fixação do homem no campo, gerando-se um grande excedente de pessoas desocupadas, que aumentava com o processo de modernização da atividade agrícola e expansão do

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latifúndio. O homem foi forçado a emigrar ou a viver nos engenhos e ou usinas, em condições de vida sub-humanas.

Assim, parte significativa da população rural permaneceu no campo, ou se deslocou para o meio urbano, passando a viver nos interstícios dos espaços físicos deixados pela cana, ou de atividades não-agrícolas marginais, cuja renda era, e ainda é, insuficiente para o sustento de sua família.

O caráter de monocultura, o modo de produção e as relações de trabalho e humanas engendradas no latifúndio canavieiro levaram à inevitável concentração de terra, de renda e à emigração, independente dos níveis de preços do açúcar nos mercados nacional e internacional.

Esse modo de produção, com forte concentração de terra, de renda e de relações arcaicas de trabalho, contribuiu para o aumento progressivo da dependência do Estado, relativamente aos resultados alcançados pela atividade canavieira.

À medida que a agroindústria do açúcar ia tendo o domínio das terras férteis do Estado, também ia subordinando as outras atividades agrícolas e não-agrícolas à sua dinâmica econômica, impondo sérias condicionantes ao desenvolvimento estadual.

Nessas condições, o desenvolvimento econômico, social, cultural e político de Alagoas ficou preso à armadilha da monocultura da cana-de-açúcar que, quando estava em crise, tinha reflexos deletérios para toda a sociedade. Ao contrário, quando es tava em situação favorável , sua expansão e produção beneficiavam basicamente poucas famílias, com resultados muito limitados para o restante da sociedade, incapazes, portanto, de promover o bem-estar social.

Numa sociedade marcada pelo alto nível de pobreza e pelo elevado excedente populacional, a concentração da posse da terra e de outros meios de produção resultou em grande concentração de poder político sob o domínio de poucos grandes produtores agrícolas.

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Com esse poder político garantido, sobretudo, com a posse da terra, a elite agrária foi capaz de eleger prefeitos, deputados, senadores e até governadores, exercendo, ainda, poderes para nomear parentes, amigos e pessoas de sua confiança, para funções no Poder Judiciário e cargos nos órgãos federais, com atuação local.

Nesse sent ido , a elite agrária dominante passou a desempenhar papel histórico de agente privado na produção agrícola de cana-de-açúcar e na gestão das ações públicas e políticas do Estado. Assumindo esse duplo papel, não conseguiu separar o público do privado. Os seus interesses se confundiram com as prioridades na atuação do Estado.

Dessa forma, desde o período provincial e, principalmente, após a independência do Estado de Alagoas, a atividade canavieira passou a ser o centro das preocupações das ações dos governadores e de quase todos os políticos regionais. Esses, em aliança com a elite nacional, definiram as políticas públicas em função dos interesses dos senhores de engenhos ou dos usineiros, em detrimento das ações públicas mais amplas, capazes de minorarem o sofrimento da maioria da população.

Nessa perspectiva, a emancipação política da província de Alagoas, separando-se do Estado de Pernambuco, foi parte importante das estratégias de poder da elite agrária local. Com essa separação, Alagoas passou a ser efetivamente administrado por um grupo restrito de pessoas, de origem rural e defensoras dos interesses da atividade canavieira.

Detentoras do poder econômico, a partir da emancipação de 1817, a elite rural passou a ter mais poder político, que utilizou para garantir e ampliar seus privilégios, chegando a moldar as instituições e toda a estrutura estatal de poder, para servir os grandes produtores agrícolas, especialmente os latifundiários, produtores de cana e de açúcar.

Com esse favorecimento, Alagoas passa a ser o paraíso dos senhores de engenho ou dos usineiros. Os privilégios são

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tão amplamente conhecidos que atraem produtores de açúcar de outros estados, principalmente de Pernambuco, os quais, encontrando terra, mão-de-obra e incentivos, estabelecem-se com grande sucesso no novo Estado.

Graças a esses incentivos, subsídios e estímulos, em pouco tempo, a maior fração das terras agricultáveis do Estado foi quase toda ocupada pela cana-de-açúcar, pois, como atividade econômica priori tária , passou a ser o carro-chefe do desenvolvimento econômico.

Assim, a cana-de-açúcar é introduzida em todo o Nordeste, no século XVI, principalmente em Alagoas, onde, encontrando condições naturais e artificiais favoráveis à sua rápida expansão, ocupou quase todas as terras mais férteis e planas do Estado.

Essa expansão, limitada apenas por fatores naturais, inibiu a diversificação das atividades agrícolas e, portanto, restringiu as possibilidades de emprego e renda, capazes de criar um mercado interno rural e urbano, que estimulasse o crescimento do comércio, a implantação de indústrias e agricultura familiar moderna, necessárias ao desenvolvimento endógeno e sustentável.

Portanto, o rápido avanço da monocultura da cana-de-açúcar, feito à base do latifúndio e do trabalho precário, moldou um padrão de desenvolvimento assentado em privilégios, na concentração de renda, da terra e, sobretudo, do poder; fatores socia lmente injustos e causadores de crises profundas e freqüentes. Utilizaram-se os recursos naturais, humanos e o próprio Estado de forma ineficiente. Imobilizaram-se fatores que, em outras condições de uso, representavam instrumentos poderosos de a lavancagem de um outro padrão de desenvolvimento, mais eficiente, socialmente mais justo na distribuição das riquezas produzidas e mais democrático na partilha do poder.

O padrão de desenvolvimento socioeconómico de Alagoas é essencialmente de natureza patronal, com destaque para o

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número de pessoas ocupadas como assalariados temporários, mas as famílias que trabalham por conta própria assumem o segundo lugar, no total dos ocupados.

O núcleo econômico que tradicionalmente sustenta esse padrão é a agricultura, sendo seu principal produto a cana-de-açúcar. O setor industrial é constituído basicamente por usinas açucareiras. As fábricas de beneficiamento de algodão, s isal e f á b r i c a s de tecidos têm p e q u e n a re levânc ia na economia. O setor serviços, a participação do setor público, da pres tação de serviços e o comérc io de m e r c a d o r i a s merecem ser realçados.

A agropecuária, a indústria e o setor serviço são constituídos de um pequeno número de unidades de médio e grande portes, que são exploradas em propriedades com mais de 100 hectares e no setor industrial e de serviço com plantas com mais de 100 empregados.

No período de 1966 a 1985, esse padrão de desenvolvimento foi financiado pelo setor privado mas, principalmente, pelo setor público, pois o seu poder econômico e político definia suas prioridades, como sendo de interesse de todos os produtores de bens e serviços. O crescimento econômico verificado nesse período foi bastante expressivo, com o PIB crescendo à taxa de 9,1 % ao ano, no sub-período de 1970/80; 5,2%, no sub-período de 1980/90, superando as taxas de incremento do Produto do Nordeste e do Brasil.

Mesmo na década de 70 e em metade da década de 80, quando houve aumento bastante significativo da riqueza, o crescimento econômico não gerou condições de vida favoráveis à população, relativamente à renda e, principalmente, à terra, que ficaram concentradas em poder dos 10% mais ricos.

A partir da segunda metade da década de 80, com a crise fiscal do Estado brasileiro e, por conseguinte, com a redução dos subsídios e repasses de recursos federais , o padrão de desenvolvimento começa a demonstrar sua vulnerabilidade e, já no início dos anos 90, mostra-se insustentável, pois a abertura

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comercial e o aprofundamento da crise fiscal do Estado expõem toda a deficiência estrutural do setor produt ivo , muito particularmente do fumo, do coco, do algodão, do milho, da pecuária de leite e das atividades sucroalcooleiras, sendo que, estas últimas ainda são as principais atividades na orientação do processo de desenvolvimento.

Assim, a evolução da estrutura do PIB alagoano, no período de 1985 a 1999, espelha a crise de seu principal produto agrícola. A agropecuária, que contribuía com 26,6% do PIB, em 1985, foi perdendo participação, até atingir 6,5%, em 1993; apresentou nova queda em 1997, chegando, em 1998, a uma participação de 8,4% do produto bruto. A indústria passou de uma participação de 32,3%, em 1985, para 39%, em 1998, e a participação dos serviços subiu de 53,2%, para 56%.

Considerando que, mesmo nesse período de crise, os 10% mais ricos procuram preservar e até aumentar sua participação na renda levando, ainda, em conta a crise financeira crescente do Estado, a população ficou exposta às piores condições de vida e trabalho do Nordeste e do Brasil, chegando, em 2000, a regis­trar uma proporção de 44,43% da população vivendo na condição de indigente, e quase 80% dos ocupados vivendo do trabalho informal, com taxa de desemprego urbano superior a 18%; e, na década de 90, o setor público foi quem mais desempregou trabalhadores com carteira de trabalho assinada.

O elevado número de postos de trabalho informais e de renda baixa foi importante na redução do nível de vida da classe média baixa e, sobretudo, dos ocupados não-qualificados e semiqualificados.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem a Domicílio - PNAD, realizada pelo IBGE, mostram uma queda na população ocupada de Alagoas de 0,1% ao ano, no período de 1992 a 1999. Essa queda se deu por causa da redução do número de postos em empresas com mais de 100 empregados, mas as ocupações por

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conta própria cresceram muito, nos meios rural e urbano, pois, a partir da crise, a agropecuária vem tentando diversificar suas atividades produtivas, com a produção de milho e verduras, a avicultura de corte, a criação de pequenos animais e a expansão de uma nova área de produção leiteira na Zona da Mata.

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