A REAO AO LIBERALISMO: AS DOUTRINAS SOCIALISTAS

A teoria socialista surge no contexto da Revoluo Industrial. Com o aumento gigantesco da produtividade do trabalho, os homens, mulheres e crianas que se faziam operrios foram levados s condies mais extremas da misria. Todo o modo de vida tradicional do trabalhador foi alterado.

O sistema fabril e a instaurao de dezenas de mquinas privaram os trabalhadores do acesso direito ao que produziam arduamente, tornando-os meros vendedores de fora de trabalho. O processo de industrializao se fez s custas da rigidez, disciplina, crueldade e tortura implantadas como mtodo na relao laboral; o objetivo era sempre o mesmo: maximizar os lucros. A violncia com que se disseminou a mecanizao da produo reduziu o operrio a nada. O capitalismo industrial foi construdo sobre o sofrimento e as privaes da classe trabalhadora.

Os cortios cresciam indefinidamente e muitas revoltas contestavam o novo modo de vida deplorvel. O que se percebia era que uma pequena classe (capitalistas burgueses) explorava economicamente uma enorme massa de trabalhadores, caracterizando-se como injusta tambm a repartio dos produtos; a sociedade dividia-se em classes antagnicas. A luta pela sobrevivncia se debruava em relaes (polticas) de poder: o mais forte oprimia e esmagava o mais fraco, inclusive economicamente. (E a Igualdade??)As doutrinas socialistas se desenvolvem justamente questionando o comportamento e o modo de vida dessas classes antagnicas. As teorias sociais so reaes contrrias ao liberalismo e se insurgem como correntes filosficas distintas; contestam as desigualdades e injustias cometidas durante a implantao do capitalismo industrial. A origem das desigualdades - concordam os tericos - est na propriedade privada dos meios de produo; isso significa dizer que lutar pela justia social lutar contra a propriedade privada.

Importante frisar que as teorias socialistas resultam, como bem lembra Hunt, de uma fuso: resultam da noo liberal de igualdade e do ideal paternalista cristo. Critica-se a desigualdade justamente porque se clama pela igualdade. De que Igualdade se trata? Jurdica tambm, mas DE FATO, plena, total. Ela pode ser aritmtica (proporcionar a cada homem idnticas oportunidades), proporcional (receber na proporo de suas necessidades), de partilha (igual repartio dos meios de produo a cada um de acordo com o seu trabalho) ou coletivista (copropriedade dos meios de produo). O termo (socialismo) prope a primazia do social sobre o individual; entretanto, no foi bem assim que a doutrina se desenvolveu.A noo de que todos os homens so iguais e que, portanto, tm os mesmos direitos fundamentais (inclusive em relao aos meios de produo), bem como o paternalismo, demonstra que o socialismo busca uma espcie de comunho. A fundamentao filosfica seria mais ou menos essa: todo homem deve ser o mantenedor de seu irmo, uma vez que todos os homens so iguais. Utopia? Parece que sim, j que os homens so distintos entre si, porquanto suas necessidades e capacidades so desiguais.H mais uma herana liberal como que marca o socialismo: a liberdade. O socialismo contrrio ao princpio de liberdade econmica, afirmando que no ela no induz equidade na distribuio dos bens de consumo, de modo que a Economia deveria funcionar pela organizao racional dos elementos que a constituem. No deve haver livre concorrncia, mas plano, planificao da Economia est, sim, seria a socializao da Economia. O plano abrange apenas determinado setor da Economia e, para boa parte dos socialistas, deve ser imposto, inclusive por meio da coero (caracterstica autoritria do socialismo marxista).Segundo Hugon, para os socialistas, a socializao da Economia constituiria um meio de se realizar a igualdade de fato: implicaria a limitao ou supresso do direito de propriedade. A histria do socialismo a histria do regime de protesto contra a propriedade privada, principal elemento e direito natural do liberalismo moderno.

Formas de socialismo:

COLETIVISMO: prope a limitao do direito de propriedade e a comunho dos meios de produo.

COMUNISMO: prope a eliminao total do direito de propriedade dos meios de produo e consumo, tornando-os comuns a todos. Seria a ltima etapa do socialismo.

Caractersticas filosficas: Trata-se de uma corrente materialista e determinista; a teoria filosfico-socialista elaborada por Marx ficou conhecida como materialismo-histrico (influncia dos fatos sobre o pensamento). No possui carter cientfico; portanto, no uma cincia, uma doutrina.

O SOCIALISMO PR-MARXISTA (UTPICO):Socialistas utpicos: Robert Owen, Charles Fourier, Louis Blanc, Claude-Henry de Rouvroy, Conde de Saint-Simon (1760-1825), Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865).

Trata-se da corrente socialista desenvolvida ao final do sculo XVIII at a metade do XIX (Frana e Inglaterra). Ainda contm traos e semelhanas do liberalismo; inspira-se no iluminismo racionalista.O socialismo utpico marcantemente espiritualista, humanista e voluntarista. Isso significa dizer que esta viso da sociedade no materialista, nem determinista; ela cr nas potencialidades do homem. voltada ao ideal de justia social e de fraternidade (comunho entre irmos), e privilegia a vontade humana, a escolha e a ao em detrimento dos fatos histricos. A razo capta qual seria a melhor e mais justa organizao econmica possvel; ela guia a vontade, de modo que a ao humana deva ser aquela capaz de transformar a realidade social, no sentido progressista (otimismo).P/ essa corrente filosfica, a sociedade ideal seria aquela em que no h propriedade privada nem lucro. A correo do liberalismo necessria, mas sem a utilizao da violncia e da coero (maioria exceo para Gracchus Babeuf 1760-1797). Esse tema era extremamente discutido poca: o socialismo deveria ser implantado, mas com ou sem o uso da violncia? Por meio de uma ditadura? Etc.Para compreendermos melhor esta corrente, importante observamos brevemente uma sntese dos pensamentos de Saint-Simon e Proudhon.

SAINT-SIMON, filsofo e economista social: Sansimonismo o nome atribudo corrente de pensamento de Saint-Simon e seus seguidores (Auguste Comte foi seu seguidor e secretrio; baseou-se em sua ideia de moral positiva para construir a teoria positivista).O sansimonismo uma doutrina socialista que visa ao estudo dos problemas econmico-sociais do ponto de vista histrico. A histria, p/ Saint-Simon define o futuro e deve ser estudada em seus contextos e em todos os seus aspectos. Alm de histrica, a viso sansimonista construtivista, pois cr que a finalidade do homem no a busca pela felicidade ou liberdade, mas a produo de tudo que til em vida. Observando a Histria, Saint-Simon a julgava como uma sucesso de construes e desconstrues, aes e reaes, num movimento contnuo. Cabia ao sculo XIX o modelo construtivo e foi a esse modelo que ele se dedicou.O modelo construtivo de sociedade ideal aquele que se baseia no trabalho, na cincia, na evoluo e no progresso (Positivista). O progresso o industrialismo (sociedade industrial), modo de produo em que vigoraria o coletivismo, ou seja: a administrao coletiva (pelas massas) e justa da propriedade privada. Seu lema era: A cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo suas obras. A indstria de todos e a moral industrial positiva eram temas sansimonistas.Mesmo implantado o industrialismo coletivista como modo de associao universal, a sociedade ainda seria desigual (direito de sucesso hereditria). O aperfeioamento total deste modelo ideal de sociedade (sistema) se daria com o cristianismo (Saint-Simon acreditava ser uma espcie de messias). A proposta extirpar a desigualdade social. O cristianismo de reforma ou Novo Cristianismo acabaria com a dualidade entre o dominador e o dominado, entre a matria e esprito prope a religio (religio da razo) como o verdadeiro meio de transformao da sociedade.Pierre-Joseph Proudhon (O que a Propriedade?):Amigo de Marx e Bakunin, P. ficou conhecido como o terico do anarquismo. Tambm defendia um modelo de sociedade ideal, distinto das organizaes econmicas europeias. Reformista, Proudhon acreditava que a sociedade ideal deveria pautar-se na JUSTIA, porque esta que visa a resgatar a igualdade e liberdade esperadas, e no mutualismo sistema de trocas geral, em que todos teriam o uso e a posse do bens econmicos, mas no a propriedade. A teoria de Proudhon uma crtica ao liberalismo e ao socialismo, porque enxerga que o grande problema da organizao econmica europeia no nem a produo, nem a repartio dos bens, mas a circulao, o sistema de trocas.Em relao ao liberalismo, critica, tambm, a noo de propriedade privadas; para ele, a propriedade ambgua: um roubo, mas liberdade; justa e injusta simultaneamente; fonte do bem e do mal. (Sistema de contradies econmicas ou filosofia da misria paradoxo do liberalismo). Entretanto, ele critica o autoritarismo socialista, a coero. Nesse sentido, Proudhon se afasta das correntes utpicas iniciais e do sansimonismo, porque defende o direito de sucesso hereditria e a liberdade acima de tudo.

A propriedade justa medida que assegura a liberdade, mas injusta porque no garante a igualdade. Ela garantia, sim, privilgios aos proprietrios e misria aos que nada tm. Neste ponto, aproxima-se, Proudhon, do socialismo. O Estado visa manuteno do direito de propriedade, desigualdade, por isso sua principal funo a coero. Todo Estado tirnico e violento, razo pela qual a justia s seria plena se reduzidas as foras estatais. (Citar livro do Hunt, p. 87/88) O Governo intil, s a justia til, de modo que a ordem econmica absorveria a poltica: eis a anarquia (ausncia total de um soberano proprietrio sinnimo). necessria uma transformao do direito que, de individualista deve se colocar como social, buscando a equidade das relaes. Requer a reforma da propriedade, mas no sua supresso.Em verdade, Proudhon rejeita tanto o capitalismo quanto o comunismo, propondo o mutualismo anarquista como modo de produo: controle dos meios de produo pelos trabalhadores.

Marx rompe como Proudhon e lhe dedica o texto Misria da Filosofia.

"Aquele que puser as mos sobre mim, para me governar, um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo!"

Proudhon; 1849.

Anarquia: o governo de cada um por si prprio. Anarquia ordem.BAKUNIN: Liberdade sem socialismo privilgio, injustia; socialismo sem liberdade brutalidade e escravido.

Assim, sob qualquer ngulo que se esteja situado para considerar esta questo, chega-se ao mesmo resultado execrvel: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porm, dizem os marxistas, compor-se- de operrios. Sim, com certeza, de antigos operrios, mas que, to logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessaro de ser operrios e por-se-o a observar o mundo proletrio de cima do Estado; no mais representaro o povo, mas a si mesmos e suas pretenses de govern-lo. Quem duvida disso no conhece a natureza humana.

A liberdade do homem consiste to somente nisso, de que ele obedea as leis da natureza as quais ele por si prprio reconhece enquanto tais, e no porque elas foram impostas externamente sobre ele por qualquer vontade exterior, humana ou divina, coletiva ou individual.