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AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO DA EJA 1
Eroni da Conceição Vieira de Lemos2 Rochele Rita Andreazza Maciel- Orientadora 3
Resumo: O presente artigo aborda aspectos relativos ao Paradigma das Tecnologias da Comunicação e Informação, a partir de conceitos fundamentados nos referenciais teóricos de Manuel Castells (2003, 2006), Pierry Lévy (1999) e José Manuel Moran (2003). Considerando que as inovações da tecnologia representam um grande avanço no âmbito sociocultural que se retrata significativamente na educação e apresenta algumas reflexões sobre a utilização desses recursos tecnológicos no contexto da Educação de Jovens e Adultos. Nesse sentido, surgem possibilidades de repensar o ensino de jovens e adultos de forma a romper com concepções pedagógicas em que a escola e as paredes da sala de aula integram o universo do educando à comunidade a que pertence, na sociedade da informação e a outros espaços produtores de conhecimento. Palavras-chave: Educação, Tecnologias da Comunicação e Informação, Educação de Jovens e Adultos.
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade com mudanças tecnológicas constantes e
velozes, que invadem nossas vidas e apresentam novas possibilidades de conexões
com um universo infinito de informações e conhecimentos.
Essas constantes mudanças promovem a integração e interdependência dos
meios tecnológicos que se apresentam como uma unidade, em que o tempo real e
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vinculado ao Projeto Ler e escrever o mundo: a EJA no contexto da educac
com Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. 2 Graduada em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Caxias do Sul; Aluna do Curso de
Especialização em EJA da Universidade de Caxias do Sul; Professora do Ensino Fundamental da Rede
Municipal de Ensino de Caxias do Sul.
3 Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação da Universidade de Caxias do Sul. Docente do Centro
de Ciências da Saúde no curso de Educação Física, Pedagogia – EAD e q j “L
: ç â ”. Coordenadora de projetos da Educação
Básica no Colégio São José (Caxias do Sul).
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os limites temporais e espaciais têm sido suplantados pela disseminação das novas
TICs4. Isso representa um grande potencial de intervenção cultural, social e,
consequentemente, educacional.
O presente artigo é o resultado de uma pesquisa bibliográfica e propõe uma
reflexão acerca dos aspectos relativos às TICs no âmbito da educação. Inicia-se
com algumas reflexões sobre questões referentes ao paradigma inerente às grandes
transformações oriundas da revolução tecnológica no mundo moderno e relaciona
as considerações que evidenciam os desafios, contribuições e possibilidades da
inserção e uso das Tecnologias da Comunicação e Informação na Educação de
Jovens e Adultos.
Assim, a escola torna-se um desafio, representando uma imensa sociedade
tecnológica contemporânea que se propõe capacitar e desenvolver nos educandos
competências para participarem e interagirem no mundo globalizado e tecnológico.
As facilidades de comunicação e informação que existem se traduzem em
mudanças de comportamentos pessoais e sociais que se refletem na escola.Novas
formas de pensar, agir e de se relacionar através das diferentes tecnologias são
introduzidas no cotidiano, tanto dos educadores como dos educandos, em que as
TICs representam um instrumento, ferramenta ou vínculo utilizados para se
comunicarem, trocarem informações e buscas.
Considerando que um dos objetivos basilares da EJA é a inclusão, almeja-
se propiciar o acesso dos educandos às TICs e torna-se cada vez mais relevante no
que diz respeito ao exercício da cidadania e autonomia, uma vez que a educação se
efetiva pela comunicação, interação e rede de relações com o meio social, as
quais, atualmente, não se dissociam da tecnologia.
4 O termo utilizado TICs no texto significa Tecnologias da Comunicação e Informação.
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1. O paradigma das Tecnologias da informação e comunicação
“No mundo em rede, somos forçados a enfrentar o desafio de re-construir nosso "ser" e "estar-no-mundo", e digo isto lembrando-me e concordando com Heiddeger
que não somos seres finalizados, mas sim um leque de possibilidades inesgotáveis. Afinal, nossa identidade sofre as influências de novos códigos cotidianamente, e a
vida como resultado de uma rede dei interações de naturezas diversas, é um fluxo que corre numa velocidade sem precedentes num tempo espaço altamente
tecnológico, e "quem seremos no futuro dependerá de nós mesmos" . (M. CASTELLS)
Na história da humanidade, desde as mais antigas formas de comunicação
gestual e uso da linguagem, até os mais recentes e modernos desenvolvimentos na
área tecnológica digital, a produção, o armazenamento e intercâmbio de informação
e conteúdo simbólico têm sido aspectos centrais da vida social. No mundo moderno,
o surgimento progressivo desta variedade de possibilidades de comunicação e
expansão de informações reflete significativas transformações institucionais, sociais
e no modo de vida dos indivíduos, que passaram a ter acesso a mídias e tecnologias
em qualquer tempo e espaço.
Desta forma, as tecnologias da comunicação e informação digitais fazem
emergir um novo paradigma social, denominado como sociedade da informação ou
sociedade em rede, alicerçada no poder da informação e do conhecimento, como
descreve Castells:
“Sabemos que a tecnologia não determina a sociedade: ela é a sociedade. A sociedade adapta a tecnologia de acordo com as necessidades, valores e interesses daqueles que a utilizam.”... e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas” (2006, p.43)
De acordo com o autor, é possível considerar que a produção do
conhecimento, recurso econômico básico da sociedade, depende da capacidade dos
seus membros de se adaptarem a mudanças, continuando a aprender de forma
autônoma e uns com os outros. Sendo que nesse novo contexto de sociedade, o
fluxo de informações é intenso e se apresenta em constante e permanente
transformação.
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Além disso, é importante compreender que esta nova era das TICs
representa um universo desterritorializado, onde não existem barreiras de tempo e
de espaço para que as pessoas se comuniquem. Uma nova era que oferece
múltiplas possibilidades de aprender, em que o espaço físico da escola, tão
proeminente em outras décadas, neste novo paradigma, deixa de ser o local
exclusivo para a construção do conhecimento e preparação do cidadão para a vida
ativa, considerando que o desenvolvimento da tecnologia representa um processo
histórico que caracteriza diversos entrelaçamentos nas relações sociais.
O paradigma inserido pelas tecnologias da informação, de acordo com
Castells,(2006, p.108), apresenta alguns aspectos relativos ao processo de
transformação social explicitados em quatro características:
- As tecnologias agem sobre a informação e não apenas a informação age
sobre a tecnologia. Existe uma relação simbiótica entre a tecnologia e a informação,
em que uma complementa a outra, fato esse que diferencia a nova era moderna de
transformações das anteriores, em que era dada proeminência a um aspecto em
detrimento de outro.
- A informação é parte integrante da atividade humana, todos os
processos da existência individual e coletiva não são determinados, porém
moldados pelos novos meios tecnológicos, que exercem poder de influência na vida
social, econômica e política da sociedade;
- Todo sistema de relações das novas TICs envolve uma lógica de redes
agregada ao crescente desenvolvimento de interação instituído materialmente em
diversos tipos de organizações que intervêm significativamente no processo de
inovação da atividade humana. É uma característica predominante de um novo
modelo de sociedade, que facilita a interação entre as pessoas, podendo ser
implementada em todos os tipos de processos e organizações, graças as recentes
tecnologias da informação;
- Tecnologias de informação específicas são direcionadas de forma
progressiva para um sistema integrado que não permite que os processos
tecnológicos antigos se discriminem separadamente. Essa característica refere-se
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ao poder de reconfigurar, alterar e reorganizar as informações em que o contínuo
processo de convergência entre os diferentes campos tecnológicos resulta da sua
lógica comum de produção da informação, onde todos os utilizadores podem
contribuir, exercendo um papel ativo na produção deste conhecimento.
É relevante considerar que essas características estão diretamente ligadas
ao processo de democratização do saber, fazendo surgir novos espaços para a
busca e o compartilhar de informações, apontado por Lévy como processo de
“desterritorialização do presente”, visto que não há barreiras de acesso a bens de
consumo, produtos e comunicação. O importante, nessa sociedade, não é a
tecnologia em si, mas as possibilidades de interação que elas proporcionam através
de uma cultura digital.
Assim, o desenvolvimento dos meios de comunicação e informação, a
partir da inovação tecnológica, pode ser entendido em sentido fundamental como
uma reelaboração do caráter simbólico da vida social, uma reorganização dos
processos pelos quais o conhecimento e o conteúdo simbólico são produzidos e
disseminados no mundo social e uma reestruturação dos meios pelos quais os
indivíduos se relacionam entre si.
Dessa forma, os instrumentos que promovem a informação e comunicação
entre as pessoas têm uma dimensão simbólica inexorável, pois se relacionam com a
produção, o armazenamento, a circulação e o acesso a interesses e conhecimentos
que são ou podem se tornar significativos para quem os produzem e para quem os
recebem.
De fato, vive-se em um novo contexto social, advindo do novo paradigma
tecnológico, que propiciou a crescente evolução das TICs e possibilitou a expansão
de uma infinidade de formas de interação, que se multiplicam em torno de interesses
comuns entre uma diversidade de pessoas, abrangendo as mais diversas áreas e
estruturando uma sociedade em rede como resultado da interação entre os recursos
tecnológicos e a organização social do mundo moderno.
Contudo, o desafio é saber de que forma todo essa infinidade de informações
e recursos que não encontram barreiras de tempo e de espaço, poderá contribuir
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para a democratização do conhecimento, visando a aprendizagens significativas na
EJA. Assim, é importante considerar que as novas formas de informação e
comunicação devem ser interiorizadas e incorporadas naquilo que o sujeito já
conhece, de modo a desenvolver a capacidade reflexiva em relação às TICs,
relacionando os seus múltiplos aspectos em função de um determinado tempo e
espaço, com a possibilidade de estabelecer conexões com outros, com
conhecimento e de utilizá-los na sua vida cotidiana.
2. As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação de Jovens e
Adultos
“Nas últimas décadas todas as áreas chave da existência humana têm convergido pra dentro e através da nossa exposição contínua e simultânea (concomitante) ao uso e imersão das e nas tecnologias da comunicação, da informação e da mídia.
Nosso ambiente de mídia tornou-se o local chave através do qual damos sentido ao contexto convergente em que vivemos, trabalhamos e nos divertimos, já que a mídia
nos conecta uns aos outros, ao nosso entretenimento e ao nosso trabalho, tudo ao mesmo tempo.”
(M.DEUZE )
O paradigma tecnológico se manifesta de maneira irredutível no contexto
educacional, colocando a escola frente a um novo e grande desafio emergente
dessa nova sociedade, ou seja, requer que os educadores se tornem capazes de
desenvolver nos educandos competências para participarem e interagirem no
mundo globalizado altamente competitivo, que valoriza o ser flexível, criativo, capaz
de encontrar soluções inovadoras para os problemas cotidianos e futuros.
Por isso, é fundamental entender que a aprendizagem não é um processo
estático, mas algo que deve acontecer ao longo de toda a vida,considerando que as
relações humanas são associadas às inter-relações do indivíduo com o meio em que
está inserido. Essas relações permeiam uma rede de significados e provêm uma
série de elementos constitutivos para a construção de uma identidade do sujeito e
contribuir na formação cultural e social coletiva.
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Isso se torna fundamental ao se tratar da modalidade de ensino de EJA, a
qual é formada por jovens e adultos que não tiveram acesso à escola no tempo
previsto pelo ensino regular, ou não tiveram atendimento às suas necessidades
específicas nesse período. Esses alunos trazem consigo experiências de vida e
diversidades culturais que traduzem as percepções já adquiridas das suas práticas
cotidianas e suas relações com o mundo numa sociedade alicerçada pelas
transformações tecnológicas crescentes.
A Declaração de Hamburgo (V Conferência Internacional sobre Educação de
Adultos, Hamburgo, 1997), ao ampliar a concepção de EJA, insere a necessidade de
considerar os sujeitos educadores e educandos da EJA na multiplicidade de
contextos em que atuam, demandando por parte das políticas públicas o
reconhecimento de suas heterogeneidades e a necessidade de avançar em direção
a propostas que recuperem a diversidade de suas ações. Com isso, as exigências
da crescente complexidade do mundo contemporâneo colocam novos desafios para
a formação dos educadores. Direcionar o foco para as especificidades de
aprendizagem da juventude e dos adultos numa sociedade de incessantes
transformações tecnológicas é voltar o olhar para a complexidade dos processos
educativos com esses sujeitos.
A inserção das TICs na EJA corrobora com o desafio de desenvolver no
educando a capacidade de se tornar capaz de aprender durante e além da
formação escolar, sem a dicotomia entre adquirir conhecimento e aplicar o
conhecimento, o que se pode considerar como necessidade e também como um dos
princípios norteadores da prática educacional nessa nova sociedade da informação,
na construção de um novo paradigma das tecnologias da informação e
comunicação.
3. A utilização das TICs na EJA
Na EJA, bem como no contexto escolar atual, os educadores encontram
dificuldades ao enfrentarem problemas relacionados aos espaços, aos tempos e às
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interferências no uso das novas tecnologias que permeiam o ambiente da escola.
Tais dificuldades se apresentam porque muitas escolas dispõem de recursos
tecnológicos para a prática pedagógica, mas ao mesmo tempo, ainda não sabem
como direcionar a aprendizagem com as ferramentas tecnológicas próprias da
escola com os aparelhos tecnológicos dos alunos que têm possibilidades próprias de
acesso (celulares, câmeras digitais, tablets) entre outros.
Entretanto, na medida em que o educador busca se apropriar dos processos
e formas de inserção das TICs na sua prática de ensino aprende a lidar com a
diversidade, com a abrangência e a rapidez de acesso às informações, bem como
com novas possibilidades de comunicação e interação. Dessa forma, perceberá
alternativas para propiciar novas formas de aprender, ensinar e produzir
conhecimentos constantemente, uma vez que o uso dos recursos tecnológicos
permite sistematizações, mediações e interações continuas essenciais para
desenvolver múltiplas aprendizagens na EJA.
Tais aprendizagens não devem ser consideradas únicas e nem estanques,
mas provisórias e incompletas, sendo que possuem uma relação assimétrica com o
fato de que a EJA deve ser sempre uma educação multicultural, que desenvolva o
conhecimento e a integração na diversidade cultural e social, como afirma Gadotti
(1979). Essa educação deve ser voltada para a compreensão mútua, contra a
exclusão por motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação e,
para isso, o educador deve conhecer bem o próprio meio do educando, pois
somente conhecendo a realidade desses jovens e adultos é que haverá uma
educação de qualidade.
A utilização das TICs exige que o educador conheça o contexto em que o
aluno está inserido, e para que isso aconteça, necessita incorporar os conceitos
relativos às possibilidades de operacionalização dos recursos tecnológicos da
informação, visando interagir no processo de mediação professor x aluno.
Para isso, é necessário efetivar a mediação por meio de um professor que,
além de apropriar-se das condições sócio-históricas, estar atento às necessidades
através das quais os alunos e ele próprio se constituíram e se constituem como
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seres sociais, que ocupam uma posição na sociedade “em rede” no mundo
contemporâneo. Torna-se relevante para uma mediação significativa, ao incorporar o
uso da TICS, que o professor tenha abertura e flexibilidade para repensar sua
prática e as estratégias pedagógicas, com vistas a propiciar ao aluno a construção e
reconstrução do conhecimento. O compromisso educacional do professor é
justamente saber o que, como, quando e porque desenvolver determinadas ações
pedagógicas. E para isso é fundamental conhecer o processo de aprendizagem do
aluno e ter clareza da sua intencionalidade pedagógica, objetivando, assim, explorar
as possibilidades de ensinar e aprender. Sobre ensinar e aprender, Moran destaca
que:
“Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida.” ( 2003,p.29)
Certamente, as dificuldades existentes diante da grande avalanche de
informações no meio escolar e fora dele são relevantes na realidade do processo
educacional atual. Por isso, cada vez mais se faz necessário que educadores se
tornem dispostos a adquirir competências relativas a outras áreas do conhecimento,
diferentes da sua especificidade, especialmente no campo tecnológico, viabilizando
formas de comunicação e interação com o educando, facilitando a compreensão e a
prática da aprendizagem.
Castells (2006) enfatiza que o educador atual, inserido em uma sociedade
na era da informação, necessita estar em permanente estado de aprendizagem e de
adaptação ao novo. Consequentemente, o aperfeiçoamento profissional se faz
necessário, pois a renovação tecnológica é irreversível e, ao ser aplicada à
educação, exige aprendizagens constantes do educador que, cada vez mais, deverá
estar ciente do surgimento/aperfeiçoamento das TICs, antevendo/redimensionando
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seu uso pedagógico e a melhor maneira de mediar a relação aluno- mídia-
construção do conhecimento.
Pode-se afirmar que a aprendizagem pode ser constantemente favorecida
pela incorporação de diferentes TICs (computador, Internet, TV, vídeo...) existentes
na escola à prática pedagógica e a outras atividades escolares nas situações em
que possam trazer contribuições significativas. No entanto, tais recursos
tecnológicos devem ser utilizados de acordo com os propósitos educacionais e com
estratégias adequadas para propiciar ao aluno a aprendizagem, não se tratando
meramente da informatização do ensino, que reduz as tecnologias a meros
instrumentos para instruir o aluno.
Nesse sentido, o educador que tem em seu método de ensino o princípio do
respeito à individualidade, é um facilitador do processo de emancipação do sujeito
da EJA, em que objetiva ampliar o horizonte de possibilidades e promover a inclusão
cidadã deste individuo em um mundo de novas e diversas linguagens , por vezes
universais, que permitem a esse individuo, já excluído de tantas oportunidades na
escola e na sociedade, expandir vínculos de relações e conhecimentos.
Por isso, a inclusão das TICs na EJA se torna necessária e sua acessibilidade
deve ocorrer pela mediação contextualizada do educador, que viabiliza corroborar
de forma significativa no processo de construção de aprendizagens em situações e
momentos de vida diversos. E assim permitir aos educandos ampliar e até mesmo
modificar as formas de percepção do mundo e de organização do conhecimento,
através das novas formas de representação intelectual, cultural e social.
Se ensinar é mais do que transmitir conhecimento, é influenciar para a
mudança de comportamento dos sujeitos, o educador da EJA ocupa um lugar
importante e significativo na inclusão tecnológica e representação social na vida dos
educandos e exerce a função de mediar o processo entre o conhecimento
socialmente produzido e o indivíduo, ou seja,é o professor que coloca o patrimônio
cultural e os recursos de informação e comunicação à disposição dos educandos de
modo que dele se apropriem e, assim, possam atuar como cidadãos críticos e
atuantes na sociedade onde vivem.
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Fica claro que, em função das demandas sociais que se apresentam de
maneira mais salientes na EJA, é preciso que a educação e, mais especificamente,
que a escola e o professor incorporem a tecnologia em seu cotidiano. Sobre isto,
Moran destaca que:
[...] a educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias que facilitem a educação dos indivíduos. Moran (2003, p. 36)
A prática pedagógica necessita buscar e encontrar novas dimensões de
tempos e espaços para elaborar uma série de planejamentos, os quais devem ser
organizados a partir do contexto que permeia o cotidiano de grande parte dos
educandos da EJA, ou seja, num cenário em que as relações acontecem a partir do
uso frequente de plataformas oriundas da comunicação e informação mediadas
pelas novíssimas tecnologias.
O planejamento se torna essencial para viabilizar o uso significativo da TICs
e é fundamental que a gestão escolar se estruture a fim de encontrar possibilidades
de organização de discussões e elaboração de projetos pedagógicos que visem à
problematização e à contribuição de forma apropriada à rede de conexões que já
existe, ou ainda, que venha a se formar. Para que isso aconteça, a gestão escolar,
que já dispõe dos meios virtuais necessários deve utilizá-los como veículos para a
prática de reflexões sobre as diferentes realidades encontradas e para estabelecer
contatos e as trocas de informações com seus colaboradores, os professores. Dessa
forma, é possível encontrar soluções adequadas para que o uso das TICs na EJA
seja efetivamente praticado.
Ao longo dos anos, a formação de professores seguiu uma linha
tradicionalista de ensino, aulas expositivas ou um ou outro recurso diferente, mas
sem grandes novidades A entrada do mundo digital na vida das pessoas obrigou as
faculdades a readequar seus currículos, oferecendo, então, novas maneiras de
aprendizagem.
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Os professores formados antes dessa revolução digital ficaram em
desvantagem em relação aos professores formados a partir daí, cabendo, então a
esses professores mais antigos, a constante busca para atualizar-se, sob pena de
ficarem para trás e serem taxados de ultrapassados, o que, na realidade, ninguém
quer. Como numa escola existem os dois tipos de professores, o “antes” da era da
informática e o “depois”, toma-se conhecimento, portanto, do uso das novas
tecnologias para o ensino. Mesmo esses professores mais atualizados têm certa
dificuldade em aplicar seus conhecimentos adquiridos na universidade, pois não
tiveram aulas suficientes para o total domínio desses recursos, resultando daí em
dúvidas por toda parte! Os professores mais experientes não ficaram alheios a essa
nova demanda de recursos e tentam de todas as maneiras reciclar-se, seja
sozinhos, experimentando aqui e ali, seja fazendo cursos, seja aprendendo com os
próprios alunos o manuseio do computador. Na realidade, o uso das novas
tecnologias no ensino ainda é pouco, porque há muitas dúvidas em como tirar
proveito de tudo isso, desse mundo que nos é trazido para dentro de nossas vidas
através de um click.
O aluno atual pertencente a EJA, na sua grande maioria jovens,
demonstra facilidades de domínio do computador e das novas TICs,e, para ele, o
mundo digital não tem mistérios, acessa sites, redes sociais, jogos e a infinidade de
recursos que há na internet. O grande desafio dos professores é unir esse domínio
que o jovem tem com relação às novas tecnologias ao auxílio à aprendizagem. Muito
se tem feito, grande número de escolas possui laboratório de informática e aparatos
tecnológicos, mas muito é necessário fazer ainda. Como juntar o uso do computador
recursos midiáticos nas aulas e manter o interesse do aluno, motivá-lo em aulas
mais formais, no contato direto professor-aluno?
É inegável que não é mais possível ao professor ficar à parte de todos os
recursos que há. O professor precisa inteirar-se do que tem a sua disposição na
escola onde atua, aprender a manusear distintos aparelhos e elaborar aulas
atrativas, motivadoras e que estejam de acordo com os conteúdos necessários as
diferentes realidades cognitivas de cada totalidade.
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Diante disso o educador do século XXI necessita adequar-se aos
avanços e recursos das TICs a fim de perceber que o discente é sujeito capaz de
transformar a sua realidade. Assim, o educador conseguirá promover a motivação
necessária à aprendizagem, despertando interesses e entusiasmos, abrindo maiores
oportunidades de acesso ao conhecimento durante o processo de aprendizagem.
É notório que as inovações tecnológicas podem contribuir de modo
decisivo para transformar a escola em lugar de exploração de culturas, de realização
de projetos, de investigação e debate. No entanto para que isso se efetive, é
necessário que os princípios metodológicos que permeiam a prática da EJA
assimilem novos enfoques pedagógicos que permitam criar através das TICs novas
formas de ensinar e aprender, bem como integrar o uso dos recursos disponíveis na
escola ao seu compromisso maior de uma formação integral através de um melhor
convívio social e uma atuação e participação cidadã efetiva na sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crescente demanda de ferramentas tecnológicas inseridas numa
nova sociedade, denominada “sociedade em rede”, impõe aos educadores repensar
suas fundamentações metodológicas a fim de proporcionar uma nova visão aos
jovens e adultos e possibilitar que eles se tornem capazes de usar com
racionalidade a tecnologia. Torna-se cada vez mais clara a importância de inovar e
de estimular os educandos e se desvincular da mecanização da aprendizagem.
Diante do problema proposto no artigo, nota-se que, no contexto da
educação, as tecnologias devem ser utilizadas como recursos a fim de estimular o
aluno e dar um suporte ao educador que propicie explorar múltiplas possibilidades
de aprendizagem. As TICs emergem num novo contexto de sociedade, estruturadas
por um paradigma tecnológico que fundamenta a necessidade da inserção e do uso
dos recursos tecnológicos na educação.
Na prática pedagógica da EJA é de grande relevância a contribuição das TICs
para viabilizar as novas possibilidades de construção do conhecimento e considerar
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essa uma modalidade de ensino uma característica fundamental que agrega
diversidades sociais, culturais e cognitivas. Por isso, muitos desafios se descortinam
diante da escola no ensino da EJA, pois o grande avanço de novas tecnologias e a
disponibilidade desses recursos para o desenvolvimento de novas possibilidades na
sistematização do ensino precisa ser reestruturada e adequar-se a essa nova
demanda.
Torna-se necessário integrar o professor e as TICs na prática pedagógica de
forma que o uso dessas tecnologias se torne significativo para a aprendizagem.
Nesse sentido, embora uma parcela de educadores utilize TICs em seu cotidiano
escolar, ainda há uma grande maioria de professores que não se desvinculou de seu
“savoir-faire” tradicional.
Na EJA, as possibilidades de aproveitar as experiências daqueles que têm
uma história de vida, que fazem ou não parte do mercado de trabalho, seja ele
formal ou informal, e que vivenciam a exclusão social, constitui um diferencial que o
professor deve aproveitar para fazer a diferença com a sua ação educativa. Sendo
assim, as TICs se definem como grandes aliadas na construção de aprendizagens e
formação do sujeito como ser pertencente e participante da sociedade no mundo
moderno.
Ao disponibilizar o uso das TICs aos jovens e adultos, viabiliza-se a
construção de uma sociedade includente e que torna possível aproximar questões
do conhecimento escolar da vida cotidiana do aluno.Torna-se possível estimular e
despertar novas formas de representação de seu pensamento e interpretação do
mundo, valorizando as suas vivências, permitindo que descrevam e reescrevam
suas ideias, comuniquem-se e troquem experiências, apesar das diversidades que
trazem consigo, atribuindo novos significados à escola e às suas capacidades de
construção do conhecimento.
Sendo assim, é necessário repensar e redefinir o papel do educador perante
as TICs considerando que aluno e professor têm a informação disponível em tempo
real e que por isso, passam a atuar de forma horizontal diante do conhecimento. E
será esta horizontalidade que irá redefinir as atuações pedagógicas na EJA, visando
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romper as amarras que ainda prendem a maioria dos educadores e os impedem de
desenvolver práticas educativas mais comprometidas com o meio social, cultural e
tecnológico e à formação do homem como ser integral.
REFERÊNCIAS
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