as influências da religião e filosofia antiga grega na construção da doutrina escatológica...
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As influências da religião e filosofia antiga grega na
construção da doutrina escatológica tradicional
católica
"As religiões antigas não são nem menos ricas
espiritualmente nem menos complexas e organizadas
intelectualmente do que as de hoje. Elas são outras".
Jean-Pierre Vernant
O tema é relevante tanto para as pesquisas nas áreas de
filosofia e religião antiga grega, uma vez que a análises
dos textos antigos (Pitagóricos, Orfismo e Platão) possui
grande interesse acadêmico devido a sua influência no
cristianismo primitivo, quanto para a área de teologia
sistemática, especificamente a escatologia moderna,
devido as críticas consistentes feitas pelos teólogos da
libertação ao modelo escatológico tradicional católico,
sobretudo pela presença do platonismo (dualismo corpo-
alma) e temporalismo (espaço-tempo).
Justificativa
Evidenciar as influências da religião antiga grega
(Mistérios de Elêusis, Dionisismo e Orfismo) e de alguns
elementos essenciais do Pitagorismo e de Platão (corpo,
alma, dualismo corpo-alma, imortalidade da alma,
destinos (lugar/estados) escatológicos da alma e
metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma e
seus impactos na construção da doutrina escatológica
tradicional católica.
Objetivo - Geral
Após evidenciar a influência que o cristianismo sofreu
com o helenismo propomos apresentar os problemas
atuais que tal influência causou na estruturação e
definição da doutrina escatológica tradicional católica,
sobretudo a partir das críticas e argumentos dos teólogos
da libertação (Blank, Libânio e Boff), que propõem um
novo modelo escatológico, o da ressurreição imediata.
Objetivo - Específicos
A doutrina cristã católica serviu de elementos da religião antiga
grega e da filosofia antiga grega para construir seus conceitos
escatológicos;
Os diversos fenômenos religiosos da Grécia antiga contribuíram
para a construção da consciência e visão cristã tradicional
católica sobre o escatón;
Os conceitos fundamentais (corpo, alma, dualismo corpo-alma,
destinos da alma no pós-morte e transmigração da alma)
presentes na escatologia tradicional advém das correntes
filosóficas supracitadas;
Possuem fundamento as críticas sobre platonismo e
temporalismo no escatón.
Hipóteses
O método adotado para a busca das respostas a essa
pesquisa, fundamentou-se nos pressupostos de uma
pesquisa exploratória e bibliográfica da literatura
disponível em língua portuguesa, das diversas disciplinas
que contribuem para o tema em questão, isto é:
mitologia, filosofia antiga grega, religião antiga grega,
textos do magistério da igreja e dos teólogos da
libertação (Blank, Libânio e Boff).
Metodologia
As referências bibliográficas utilizadas para embasar essa
pesquisa são: Vernant (2006 e 2008), Gazzinelli (2007),
Reale (1994 e 2012), Barnabé (2011), Sobrinho (2007),
Cullumman (2011), Blank (2000), Libânio (1985), Boff
(1984) e Ratzinger (2005).
Fundamentação Teórica
1) Contextualização sobre mito e religião na Grécia
antiga;
2) Conceitos fundamentais dos principais movimentos da
religião antiga grega, isto é, os Mistérios de Elêusis, o
Dionisismo e o Orfismo.
3) Pitagorismo e de Platão e os seus elementos
essenciais, tais como: o corpo, a alma, o dualismo
corpo-alma, a imortalidade da alma e suas provas, os
destinos (lugar/estados) escatológicos da alma e a
metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma.
Temas que abordaremos
4) A doutrina escatológica tradicional católica e os
problemas atuais enfrentados pela Igreja a partir de
críticas da teologia da libertação (Blank (1935), Libânio
(1932-2014) e Boff (1938)), a cerca da presença do
platonismo (dualismo corpo-alma) e temporalismo
(espaço-tempo) na doutrina escatologia tradicional
católica e qual a sua proposta para um novo modelo
escatológico, baseado na ressurreição imediata.
Temas que abordaremos
A religião grega é uma religião cívica, não há
separação entre vida pública ou privada, entre o social
e o religioso, entre o natural e o sobrenatural, entre o
humano e o divino;
Não existe a necessidade de provar a existência de um
deus e nem que ele se revele;
O culto, o rito e o mito são expressões de honras aos
deuses, que nada mais é do que tudo aquilo que os
homens se espelham, a beleza, a força, a coragem,
uma potência específica, etc.
Mito e Religião na Grécia Antiga
O sacerdote era uma autoridade pública dentro da
sociedade;
Os saberes de cunho divino se dava por meio da
tradição oral das mulheres que contavam as histórias
aos seus filhos e netos e por meio dos poetas através
de seus poemas e das grandes narrativas, sendo este
método um instrumento essencial para a religião
antiga grega, seja por meio dos mitos ou das grandes
teogonias;
O mito tem o mesmo peso que o culto e o rito dentro
da religião antiga grega, e decifrá-lo é um ato/exercício
religioso;
Mito e Religião na Grécia Antiga
O cidadão estabelece uma relação individual com o divino
por meio dos sacrifícios, a sua grande maioria cruento
(sangue), realizados em locais sagrados (templos), porém,
alguns grupos, abolem os sacrifícios com sangue
substituindo por frutas, bolos, vegetais, etc.
O homem grego também consideram os heróis (Aquiles),
como sendo uma raça intermediária entre homens e
deuses, semideuses, portanto, também os cultuam,
religiosamente, isto é, levanta-se estátuas, templos sobre
seus túmulos e visitam-nos como forma de lugar sagrado.
Mito e Religião na Grécia Antiga
Reconhecimentos pela cidade;
Organizados;
Caráter secreto;
Recrutamento aberto (“proselitista”);
O fiel depois de iniciado e dedicando-se aos ritos de
mistérios, teria privilégios no pós-morte;
Aquele que não foi iniciado tem o seu destino incerto no
Hades;
Propunha uma mudança interior (não mudava o estilo de
vida).
Mistérios de Elêusis
Faz parte da religião cívica (possuem suas festas no
calendário grego, porém como datas secundárias);
As mulheres possuem papel fundamental (sacerdotisas);
Voltada ao deus da loucura (“estranho, inapreensível e
desconcertante”);
Possuía transe coletivo (artifício para aproximar homens e o
deus);
Não propõe uma vida ascética, não promete sorte no além,
nem imortalidade da alma, porém, seu foco era diminuir a
distância entre o homem e deus, sem templo, sem
sacerdote, sem acepção de pessoas.
Dionisismo
Não faz parte da religião cívica (está as margens do social);
Não cultua um deus em específico;
Sua tradição baseada em textos sagrados (Museu e Orfeu)
com conteúdo de teogonias, cosmogonias, antropogonias e
escatologia;
Propunha um estilo de vida diferente (ascetismo e
vegetarianismo);
Praticava ritos de cura e purificação da alma;
Tinha uma preocupação do destino da alma após a morte
(lugar/estado) e dava-se dicas do que deveria dizer na
entrada no Hades;
Orfismo
Introduz elementos essenciais em sua doutrina tais como:
dualismo corpo-alma, imortalidade da alma, metempsicose
(transmigração/ reencarnação) da alma e juízo após a
morte que definia o lugar/estado que a alma deveria
habitar;
Introduz destinos após a morte, as almas virtuosas iriam
para a ilha dos bem-aventurados, as injustas para o tártaro
(lugar intermediário) e as incorrigíveis para os castigos
eternos no Hades;
A interpretação dos textos eram verdadeiros
atos/exercícios espirituais.
Orfismo
Seguidores de Pitágoras (560 a.C) e os ensinamentos de sua
escola;
Crença na metempsicose (transmigração/reencarnação) da
alma;
Propunha uma vida ascética, meditação, contemplação, com
controle respiratório (semelhante a Yoga), vegetarianismo e
práticas missionárias para purificação da alma;
Propunha uma melhor sorte no pós-morte a partir da
mudança de vida;
Buscava a sabedoria e aplicação da razão como um
elemento religioso;
Estabelecia claramente o dualismo corpo (inferior) e alma
(superior).
Pitagorismo
Seguidores de Platão (428 a 347 a.C) e os ensinamentos de
sua escola;
Estabelecia a importância de um lugar ultraterreno para a
alma imortal (se a alma foi justa irá para a Ilha dos bem-
aventurados, se viveu algumas injustiças irá para um lugar
de expiação temporário (Tártaro) e se foi completamente
injusta irá para o castigo eterno no Hades);
Trabalhava os elementos essenciais escatológicos, tais
como: corpo, alma, dualismo corpo-alma, imortalidade da
alma, estado/lugar da alma após a morte e
transmigração/reencarnação da alma (metempsicose).
Platonismo
Os textos de Platão (428 a 347 a.C) que abordam a visão
ético-religioso-ascética são: Fédon, Górgias e Fedro, e no
livro X da República;
Defesa da crença na imortalidade da alma e da
importância de se cuidar bem da alma, afirmando que o
pior mal não implicava em sofrer injustiça, mas em
cometê-la, e, portanto, cada ação injusta deixaria uma
ferida na alma, de modo os juízes as reconheceriam e
indicaria o lugar/estado específico no pós-morte.
Platonismo
A doutrina tradicional católica ensina que no ato da
morte termina o tempo reservado para a vida aqui na
terra, o tempo do mérito e do demérito, fim da
peregrinação definitiva (sem reencarnação);
A morte para os gregos era natural e necessária para o
processo de purificação através da metempsicose, para
os judeus sempre foi encarado como um sentido
antinatural, anormal e contrário ao propósito de Deus
(salário do pecado), para os cristãos tem um novo
significado, a partir da morte de Cristo morto e
ressuscitado;
Doutrina Escatológica Tradicional Católica
Modelo escatológico da doutrina tradicional católica:
O modelo tradicional trás alguns problemas do ponto de
vista filosófico, o primeiro sobre a presença do
platonismo, pois após a morte como fica o destino do
corpo e da alma? O segundo sobre o temporalismo,
quanto tempo a alma esperará até o julgamento final?
Doutrina Escatológica Tradicional Católica
Sobre o platonismo a crítica está calcada na distinção do
corpo e alma, e que na morte apenas do corpo morreria, e
alma teria seu destino no pós-morte seguindo o modelo
apresentado anteriormente.
Os teólogos da libertação (Blank (1935), Libânio (1932-2014)
e Boff (1938)), propõem que com a morte do homem,
morreria não só o corpo, mas também a alma uma morte
total (corpo-alma), defendendo o argumento que não há
alma desencarnada e nem corpo sem espírito, e, portanto,
uma novo modelo de julgamento e de ressurreição imediata;
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
Sobre o atemporalismo a crítica é que na dimensão
extra terrena, no lugar/estado do pós-morte (céu,
inferno ou purgatório) as noções de espaço e tempo
não existe mais, então falar de lugar ou de tempo de
purgação é incoerente, pois se o tempo não existe na
dimensão atemporal, qual seria o período de purgação,
ou de espera entre o juízo particular (acontece
imediatamente após a morte) e o juízo final (acontece
em um outro tempo), por isso a proposição de um novo
modelo escatológico faz-se necessário.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
Modelo escatológico da ressurreição imediata:
Com a proposição do modelo da ressurreição imediata não faz
sentido falarmos de um lugar/estado intermediário pois a
ressurreição é imediata, dessa maneira os juízos particular e
final é substituído por um autojulgamento (clarificação),
restando a escolha de estar ou não com Deus.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
O purgatório é, portanto, resignificado, pois a
ressurreição é imediata, para Blank (1935) o
autojulgamento seria o purgatório, para Boff (1938) o
purgatório já se inicia aqui na terra com todas as dores
e os sofrimentos do homem, para Libânio (1932-2014)
o purgatório seria um processo pessoal e histórico, em
que o homem vai superando suas contradições e
egoísmo até o momento final de encontro com Deus na
eternidade;
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
O inferno seria apenas um pressuposto para o
autojulgamento, uma possibilidade, mas que na
verdade estaria vazio;
O céu é a única possibilidade concreta, visto que no
auto julgamento, todo homem, após a clarificação
diante do próprio Deus, escolheria estar com Ele e não
fora Dele;
Esta nova perspectiva resignifica todos os
questionamentos dos homens sobre julgamentos
(particular e final), justiça divina em relação a injustiça
terrena e recompensas baseada em sacrifícios.
As críticas atuais a doutrina escatológica tradicional
Percebemos que a religião antiga grega, através dos
Mistérios de Elêusis, o Dionisismo e o Orfismo, trouxeram
vários elementos escatológicos importantes para o
universo grego que subsidiaram os Pitagóricos e Platão,
para elaborar conceitos como: corpo, alma, dualismo
corpo-alma, imortalidade da alma e suas provas, os
destinos (lugar/estados) escatológicos da alma e a
metempsicose (transmigração/reencarnação) da alma,
elementos estes presentes na doutrina escatológica
tradicional católica e na consciência cristã.
Considerações finais
Nossa pesquisa levantou os problemas atuais enfrentados
pela Igreja a partir de críticas da teologia da libertação ao
modelo tradicional escatológico. Retratou-se, sobretudo a
presença do platonismo e temporalismo, ambos criticamos
pelos teólogos analisados, o que permitiu a proposição de
um novo modelo escatológico, o da ressurreição imediata,
que resignifica os juízos particular e final, os lugares do
pós-morte: céu, inferno e purgatório, abrindo novas
perspectivas de estudos para a filosofia da religião e
escatologia.
Considerações finais
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os
gregos. Trad. Haiganuch Sarian. Editora: Paz e Terra, 2ª
edição, 2008.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia antiga.
Trad. Joana Angelica D´avila Melo. Editora: Martins Fontes,
2006.
GAZZINELLI, Gabriela Guimarães. Fragmentos Órficos.
Editora: UFMG, 2007.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Volume II.
Editora: Loyola, 1ª edição, 1994.
Bibliografia
REALE, Giovanni. Pré-Socráticos e Orfismo. Editora:
Loyola, 2ª edição, 2012.
BERNABÉ, Alberto. Platão e o Orfismo - Diálogos entre
religião e filosofia. Coleção Archai n. 5. Editora:
Annablume, 2011.
Rubens Garcia Nunes Sobrinho - Platão e a imortalidade:
mito e argumentação no Fédon. Editora: EDUFU, 2007.
CASADIO, Giovani e JOHNSTON, Patrícia. Mystic Cults in
Magna Graecia.
Bibliografia
JAUREGUI, Miguel Herrero. Orphism and Christianity in late
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BLANK, Renold, J. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e
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BLANK, Renold, J. Escatologia do Mundo. Projeto cósmico
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BOFF, Leonardo. Vida para além da morte. Editora: Vozes,
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Bibliografia
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cristã: o novo céu e a nova terra. Editora: Vozes, 1985
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CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE. Temi
attuali di escatologia: documenti, commenti e studi.
Editora: Libreria Editrice Vaticana, 2000.
Bibliografia
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ABBAGNAMO, Nicola, 1901. Dicionário de Filosofia. 4ª
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EICHER, Peter. Dicionário de conceitos fundamentais de
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Bibliografia
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1 a 5. - 1ª edição - Lisboa - São Paulo: Editora Verbo,
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COMPÊNDIO DO VATICANO II: Constituições, decretos e
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CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 11ª edição. Editora:
Loyola, 2001.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. 5ª impressão. Editora: Paulinas,
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Bibliografia
OBRIGADO!!!Leandro Nazareth Souto